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APROVEITAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS ORGÂNICOS GERADOS POR
INDÚSTRIA QUÍMICA ATRAVÉS DO TRATAMENTO DE VERMICOMPOSTAGEM
CELINA CAVALCANTI CARVALHO
Supervisora: PROFESSORA ARMINDA SACONI MESSIAS
RECIFE
2012
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO - UNICAP
CENTRO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA - CCT
CURSO DE ENGENHARIA AMBIENTAL
PROJETO FINAL DE CURSO II
PROFESSOR VALDEMIR ALEXANDRE
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CELINA CAVALCANTI CARVALHO
APROVEITAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS ORGÂNICOS GERADOS POR
INDÚSTRIA QUÍMICA ATRAVÉS DO TRATAMENTO DE VERMICOMPOSTAGEM
A aluna acima citada entrega este Trabalho de Conclusão
de Curso ao professor Valdemir Alexandre como parte do
requisito para nota do 2º GQ da disciplina Projeto Final de
Curso II, sob a orientação da professora Arminda Saconi
Messias.
RECIFE
2012
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RESUMO
Este trabalho tem por objetivo analisar a viabilidade da utilização da
vermicompostagem para tratamento dos resíduos sólidos orgânicos produzidos nas
áreas de jardinagem e refeitório de uma indústria química, localizada em Recife-PE.
Para avaliação do desempenho foi levado em consideração análises dos substratos
iniciais e dos compostos finais, visando à comparação dos resultados. Através
dessas comparações é possível demonstrar que os vermicompostos foram
estabilizados, e poderão ser utilizados como adubos orgânicos em solos. Os
vermicompostos que apresentaram melhor eficiência na comparação dos resultados
foram o GCA e GCB.
Palavras-chave: material orgânico, vermicompostagem, adubos orgânicos.
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ABSTRACT
This paper aims to examine the feasibility of using vermicompost for treatment of
organic solid waste produced in the areas of gardening and dining room of a
chemical industry located in Recife-PE. To evaluate the performance was taken into
account analyzes of the initial substrates and final compounds in order to compare
results. Through these comparisons it can be shown that vermicompost were
stabilized, and can be used as organic fertilizers in soils. The vermicompost that
have better efficiency in the comparison of the results were the GCA and GCB.
Keywords: organic solid waste, vermicomposting, organic fertilizers.
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Cascas de frutas e verduras.....................................................................17
Figura 2 - Aparas de grama......................................................................................17
Figura 3 - Colônia de minhoca vermelha da califórnia utilizada...............................18
Figura 4 - Recipientes com os dois tipos de combinações.......................................19
Figura 5 - Comparativos entre características físico-químicas entre substratos e ver
micompostos produzidos e o padrão estabelecido...................................................21
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Análises físico-químicas dos compostos iniciais.......................................20
Tabela 2 - Análises físico-químicas dos vermicompostos e valores padrões...........20
Tabela A.1 - Planilha de Gerenciamento de Resíduos Sólidos Akzonobel................25
Tabela A.2 - Mapeamento de resíduos Akzonobel....................................................26
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LISTA DE ABREVIAÇÕES
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas
CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente
SISNAMA – Sistema Nacional do Meio Ambiente
ETE – Estação de Tratamento de Efluentes
ITEP – Instituto de Tecnologia de Pernambuco
UFPE – Universidade Federal de Pernambuco
SEMA – Secretária de Meio Ambiente
MAPA – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
I.N – Instrução Normativa
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SUMÁRIO
1.INTRODUÇÃO........................................................................................................09
2.REVISÃO BIBLIOGRÁFICA...................................................................................10
2.1.Resíduos Sólidos.................................................................................................10
2.2.Vermicompostagem.............................................................................................13
3.MATERIAL E MÉTODOS.......................................................................................17
4.RESULTADOS E DISCUSSÃO..............................................................................20
5.CONCLUSÕES.......................................................................................................22
6.REFERÊNCIAS.......................................................................................................23
.
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1. INTRODUÇÃO
Atualmente o termo sustentabilidade está presente em todas as esferas da
sociedade. A adequação da natureza às necessidades humanas é uma linha tênue
que deve ser respeitada para não resultar nos dois desvios igualmente
preocupantes: impedimento do desenvolvimento humano e destruição da natureza.
O ambiente deve ser pensado como a principal força produtiva para a humanidade.
Dessa forma, os grandes setores produtivos da sociedade começam a adequar suas
atividades, visando um menor prejuízo ambiental.
A proposta desenvolvida no presente trabalho é a demonstração da viabilidade da
utilização da vermicompostagem como tratamento para os resíduos sólidos
produzidos pela indústria química Akzonobel, unidade Recife. Diminuindo o custo
com destinação final deste tipo de resíduo e contribuindo para a redução do passivo
ambiental da indústria.
As etapas executadas consistiram em: levantamento dos tipos de resíduos
produzidos na unidade fabril, delimitação dos resíduos sólidos orgânicos que podem
ser utilizados no projeto, análise físico-química dos resíduos propostos para o
experimento, proposição dos tratamentos viáveis para a vermicompostagem, análise
físico-química do vermicomposto e comparação dos resultados iniciais e finais, para
avaliação do experimento.
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2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1. Resíduos Sólidos
A revolução industrial, o aumento da complexidade das sociedades, o crescimento
econômico e o desenvolvimento tecnológico, sem dúvida, acrescentaram vários
benefícios ao homem e aos grupos sociais. Entretanto, aliado a estas mudanças, ao
crescimento populacional e aos novos comportamentos de consumo, tem-se
verificado vários efeitos colaterais que desencadeiam problemas de ordem
econômica, social e ambiental. Destacam-se, neste caso, os problemas ambientais,
especificamente a geração de resíduos sólidos, um dos principais agentes de
degradação do ambiente e de redução da qualidade de vida do homem (SANTOS,
2002). De acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT, resíduos
sólidos são resíduos nos estados sólidos e semi-sólidos, que resultam de atividades
da comunidade, de origem: doméstica, de serviços de saúde, comercial, agrícola, de
serviços e de varrição. Consideram-se também resíduos sólidos os lodos
provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em
equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como determinados
líquidos, cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de
esgotos ou corpo d'água, ou exijam para isso soluções técnicas e economicamente
inviáveis em face à melhor tecnologia disponível (ABNT, 1987).
São vários os tipos de resíduos que são gerados todos os dias, em torno das
diversas atividades, sejam elas domésticas, públicas, comerciais ou industriais. Hoje
a humanidade vive o que alguns pesquisadores da área denominam de “a era dos
descartáveis” que veio a aparecer no Brasil há poucos anos com a chegada
atrasada da terceira revolução industrial ou tecnológica no país. Nesse sentido se
apresenta com urgência o estudo de técnicas de acondicionamento, coleta,
transporte e destino final dos resíduos sólidos produzidos por essa geração
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consumista, assim como a revisão da durabilidade dos produtos, e o formato das
embalagens, que inadequadas e volumosas como são tem uma parcela de
contribuição considerável nos impactos ambientais. Um dos problemas que afligem
os centros urbanos, mas que infelizmente passam despercebidos pela população, é
o destino final dos resíduos domésticos, comerciais e hospitalares (CARDOSO,
2004). O gerenciamento integrado dos resíduos sólidos é de fundamental importância para
a qualidade de vida de uma comunidade, bem como para o desenvolvimento
sustentável da sociedade, pois gerencia de maneira adequada os resíduos sólidos
produzidos por ela, proporcionando benefícios sociais, econômicos e ambientais,
bem como evitando consequências negativas originadas pela falta do mesmo
(DEBORTOLI, 2006). Segundo a resolução CONAMA nº 06, no processo de licenciamento ambiental de
atividades industriais, os resíduos gerados ou existentes deverão ser objeto de
controle específico. As indústrias geradoras de resíduos com orientação do órgão de
controle ambiental do Estado ou da Secretaria de Meio Ambiente - SEMA, em
caráter supletivo, deverão apresentar ao órgão ambiental competente, informações
sobre a geração, características e destino final de seus resíduos (BRASIL,1988): I - indústrias metalúrgicas com mais de 100 (cem) funcionários;
II - indústrias químicas com mais de 50 (cinqüenta) funcionários;
III- indústrias de qualquer tipo grupo 00 a 30 com mais de 500 (quinhentos)
funcionários;
IV- indústrias que possuem sistemas de tratamento de água residuárias do processo
industrial;
V- indústrias que gerem resíduos perigosos como tais definidos pelos órgãos
ambientais competentes.
Os resíduos sólidos industriais e urbanos merecem cada vez mais atenção de
especialistas e do poder público dos países que se dedicam ao trabalho de melhoria
da qualidade ambiental.Todos os países, não importando sua localização ou seu
“status” internacional, produzem milhões de toneladas por dia de resíduos, o que
justifica a obrigatoriedade da criação de mecanismos que produzam a
conscientização, o desenvolvimento e a implantação de novas tecnologias para
reverter este quadro. A aplicação de tecnologias apropriadas e ecológicas, com a
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redução da utilização de recursos naturais, de desperdício, da geração de resíduos
e poluição, é uma ação de prioridade mundial (MOTHÉ, 2007).
A existência de uma política pública destinada à regulação do gerenciamento de
resíduos sólidos é essencial para qualquer sociedade que se pretenda sustentável.
A lacuna legislativa até então existente em nosso País dava margem a grandes
distorções na solução deste grave problema. Com efeito, a ausência de uma lei,
regulando uma política nacional de resíduos sólidos, deixava os entes federados
com razoável liberdade para definir prioridades, estabelecer restrições e incentivos a
atividades empreendedoras. Tal liberdade acabou por provocar certo desequilíbrio
entre os procedimentos adotados em distintos municípios e estados da federação.
Oportunamente, portanto, foi publicada a Lei n. 12.305/2010, que instituiu a Política
Nacional de Resíduos Sólidos, dispondo sobre seus princípios, objetivos e
instrumentos. Foram definidas as diretrizes relativas à gestão integrada e ao
gerenciamento de resíduos sólidos; às responsabilidades dos geradores e do poder
público e aos instrumentos econômicos aplicáveis. (SIQUEIRA, 2011).
Na Política Nacional de Resíduos Sólidos, define-se destinação final ambientalmente
adequada como destinação de resíduos que inclui a reutilização, a reciclagem, a
recuperação e o aproveitamento energético ou outras destinações admitidas pelos
órgãos competentes do SISNAMA – Sistema Nacional do Meio Ambiente, do SNVS
– Serviço Nacional de Vigilância Sanitária, entre elas a disposição final que observa
normas operacionais específicas, de modo a evitar danos ou riscos à saúde pública
e à segurança, e a minimizar os impactos ambientais adversos (FADINI, 2001).
Também, torna os fabricantes e os importadores responsáveis pela destinação
ambientalmente adequada aos produtos e às embalagens reunidos ou devolvidos,
sendo o rejeito encaminhado para a disposição final ambientalmente adequada, na
forma estabelecida pelo órgão competente do SISNAMA e, se houver, pelo plano
municipal de gestão integrada de resíduos sólidos (BRASIL, 2010).
Diversos estudos apontam caminhos alternativos para minimizar os efeitos da
geração e descarte dos resíduos sólidos urbanos. Técnicas como a reutilização, a
reciclagem e a compostagem têm sido incentivadas como alternativas de destinação
destes materiais. Esses métodos buscam dar um tratamento final aos resíduos,
menos impactante ao ambiente e à sociedade (NASCIMENTO, 2007)
A participação das indústrias nas políticas de resíduos é já uma realidade em alguns
países, quer por conscientização dos empresários, quer por força da pressão da
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opinião pública cada vez mais atenta a estas questões do ambiente, quer por
imperativos legais. A utilização de estratégias de preservação ambiental tem mesmo
sido utilizada como rótulo de marketing de determinadas empresas para ganharem
fatias de mercado nos países cuja legislação ambiental é muito apertada e exigente
(RUSSO, 2003).
A reciclagem e o tratamento assumem o segundo nível de prioridade na hierarquia
da política de resíduos sólidos da União Européia, após a redução e a reutilização.
No Brasil, ao mesmo tempo em que a reciclagem é um passo importante na busca
por uma economia mais sustentável, ela é um fator econômico para famílias de
baixa renda. Esse aspecto social da reciclagem no Brasil diferencia a situação
substancialmente de outros lugares. Mas isso não quer dizer que a produção de lixo
seja uma estratégia para a redução da pobreza (STRAUCH, 2008).
Todos os sistemas produtivos dão origem a vários tipos de resíduos orgânicos, os
quais, corretamente manejados e utilizados, revertem-se em fornecedores de
nutrientes para produção de alimentos e condicionadores das propriedades físicas,
químicas e biológicas do solo. Por outro lado, quando inadequadamente
manuseados e tratados, esses resíduos constituem-se em fonte de contaminação e
agressão ao ambiente (KONZEN,1999).
2.2 Vermicompostagem
O uso de minhocas para converter substâncias biodegradáveis em compostos
orgânicos usados com fins agrícolas foi denominado de vermicompostagem ou
composto de vermes. Em condições controladas as minhocas podem consumir, com
elevada rapidez, quase que qualquer substancia orgânica, inclusive resíduos
industriais de difícil decomposição, como serragem, sobra de papeis, casca de
cereais etc. Ao final do processo, produzem um composto que pode ser aplicado
diretamente na agricultura como adubo ou no condicionamento de solos exauridos
quimicamente (LIMA, 1995).
O adubo orgânico produzido pelas minhocas é conhecido como vermicomposto ou
húmus de minhoca. As minhocas mais utilizadas nesse processo são a Vermelha da
Califórnia (Eisenia foetida e E. andrei) e a noturna africana (Eudrilus eugeniae). A
primeira espécie possui algumas características próprias, como capacidade de viver
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em cativeiro, poder reprodutivo alto, ser rústica e voraz. Essa espécie fica próxima
da superfície, só descendo para o interior do canteiro buscar alimento quando acaba
a matéria orgânica da superfície. O papel das minhocas nesse processo é promover
e acelerar a maturação do composto. Quando o vermicomposto está pronto, as
minhocas tendem a ficar mais lentas pela falta de alimento, e o vermicomposto
apresenta uma aparência escura, uniforme, inodora, leve e solta (ETTER, 2008).
A transformação da matéria orgânica, resultante da ação combinada das minhocas e
da microflora que vive em seu trato digestivo, é conhecida como vermicompostagem.
O termo vermicompostagem é usado para o processo de transformação biológica de
resíduos orgânicos, onde as minhocas atuam acelerando o processo de
decomposição (AQUINO et al,1992).
Como atividade comercial, a minhoca serve de isca viva para pesca esportiva ou
para alimentar peixes, aves, suínos e rãs. Entretanto, é do ponto de vista agrícola
que a minhoca vem ganhando importância. Produtora de um composto orgânico
denominado vermicomposto ou húmus de minhoca, este se constitui um excelente
adubo que pode ser utilizado em floricultura e paisagismo, horticultura, fruticultura,
viveiros, projetos de recuperação de áreas degradadas, projetos de reflorestamento
e como suplemento de ração animal (RICCI,1996).
O tratamento de compostagem e a ação das minhocas alteram, quantitativa e
qualitativamente, a composição das substâncias húmicas dos materiais orgânicos. O
material mais estabilizado, isto é, com carbono na forma humificada, apresenta
como vantagens maior capacidade de troca de cátions, maior retenção de umidade
e mineralização mais lenta (AQUINO et al,1992).
É importante entender que o material mais estabilizado funciona bem como
condicionador do solo e libera nutrientes de forma mais gradual, não podendo pois
atender à expectativa dos que buscam a aplicação do vermicomposto apenas para o
rápido fornecimento de nutrientes. Uma das diferenças, no processo de produção,
entre compostagem convencional e vermicompostagem é a redução da espessura
da pilha, a fim de evitar que sejam atingidas temperaturas acima de 35 °C que
inviabilizaria a sobrevivência das minhocas. Além disto, a vermicompostagem
dispensa o revolvimento do material orgânico, que é realizado pelas minhocas
(AQUINO et al,1992).
As minhocas atuam triturando os resíduos orgânicos, liberando um muco que facilita
o trabalho dos microrganismos decompositores, acelerando o processo de
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humificação e promovendo o desenvolvimento de uma grande população de
microrganismos, que torna o vermicomposto de melhor qualidade quando
comparado ao composto tradicional (RICCI,1996).
A maioria dos produtores de vermicomposto utiliza a espécie Eisenia foetida,
conhecida vulgarmente como minhoca vermelha da Califórnia ou minhoca do
esterco. Esta preferência deve-se a sua habilidade em converter resíduos orgânicos
pouco decompostos em material estabilizado, extraordinária proliferação e rápido
crescimento. As minhocas são hermafroditas, o que significa que apresentam órgão
reprodutor masculino e feminino no mesmo individuo. No entanto necessitam de dois
indivíduos para que ocorra a reprodução. (AQUINO et al.,1992)
A técnica de vermicompostagem é, comumente, utilizada na estabilização dos
resíduos orgânicos provenientes das atividades urbanas e rurais, produzindo um
fertilizante orgânico (húmus de minhoca) que pode ser utilizado na agricultura. Os
vermicompostos adicionam nutrientes e matéria orgânica ao solo, melhorando suas
propriedades (SUSZEK et al., 2007)
Os resíduos que possuírem uma relação C/N entre 20 e 30 fornecerão o nitrogênio
necessário para a reprodução microbiana, não havendo imobilização nem
mineralização significativa no início do processo. Se a relação C/N for maior,
significa que os microrganismos buscarão outras fontes de N para satisfazer a
demanda, e consumirão formas de nitrogênio que estão disponíveis para as plantas,
resultando em uma imobilização líquida e podendo causar uma deficiência
temporária de nitrogênio para as plantas. Se, por outro lado, a relação C/N for
menos que 20-30, haverá um excesso de N no resíduo, que será mineralizado e
desprezado pelos microrganismos, permanecendo disponível para as plantas já num
primeiro momento (AZEVEDO,1994).
O processo de humificação que é acelerado pelas minhocas tem como produto final
um material quimicamente estável (vermicomposto). Os resíduos utilizados pela
vermicompostagem podem ser de origem biológica ou industrial, resultando num
vermicomposto com diferentes características (RODDA, 2003).
De acordo com Brasil (2009) os fertilizantes orgânicos simples, mistos, compostos e
organominerais serão classificados de acordo com as matérias-primas utilizadas na
sua produção em:
I - Classe “A”: fertilizante orgânico que, em sua produção, utiliza matéria-prima de
origem vegetal, animal ou de processamentos da agroindústria, onde não sejam
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utilizados, no processo, metais pesados tóxicos, elementos ou compostos orgânicos
sintéticos potencialmente tóxicos, resultando em produto de utilização segura na
agricultura;
II - Classe “B”: fertilizante orgânico que, em sua produção, utiliza matéria-prima
oriunda de processamento da atividade industrial ou da agroindústria, onde metais
pesados tóxicos, elementos ou compostos orgânicos sintéticos potencialmente
tóxicos são utilizados no processo, resultando em produto de utilização segura na
agricultura;
III - Classe “C”: fertilizante orgânico que, em sua produção, utiliza qualquer
quantidade de matéria-prima oriunda de lixo domiciliar, resultando em produto de
utilização segura na agricultura; e
IV - Classe “D”: fertilizante orgânico que, em sua produção, utiliza qualquer
quantidade de matéria-prima oriunda do tratamento de despejos sanitários,
resultando em produto de utilização segura na agricultura.
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3.MATERIAL E MÉTODOS
O projeto foi iniciado em agosto de 2012, com pesquisas teóricas, apresentação do
projeto à Empresa e liberações burocráticas internas para utilização dos resíduos
nas pesquisas.
Foram utilizadas cascas (legumes, frutas e verduras) - Figura 1 e aparas de grama -
Figura 2, como substratos. A coleta ocorreu em 02 de outubro de 2012 e deu-se em
duas áreas da empresa: a) no refeitório – onde foram coletadas as cascas - e b) nos
jardins – onde foram coletadas as aparas de gramas. Apesar de o refeitório produzir
restos de comidas diariamente, não foi possível utilizá-los no experimento, pois não
há separação entre restos de feijão, arroz, macarrão e a proteína animal (carne
bovina, frango ou peixe). De acordo com Leite (2011) não é aconselhável a
utilização de proteína animal, como substrato, pois as minhocas não possuem boa
receptividade a tal substrato, o que o leva a apodrecer atraindo ratos e insetos,
colocando em risco a condução da vermicompostagem.
Figura 1 – Cascas de frutas e verduras Figura 2 – Aparas de grama
Foram elaborados dois tipos de combinações com os resíduos disponíveis, em duas
repetições, para avaliação do resultado final. Foram estas:
Grama - A (GA)
Grama - B (GB)
Grama e Cascas - A (GCA)
Grama e Cascas - B (GCB)
A montagem do experimento deu-se em 03 de outubro de 2012. Os recipientes
utilizados para instalação do experimento foram quatro bacias de plástico com 50 cm
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de diâmetro e 20 cm de altura cada, permitindo a distribuição horizontal do substrato
de maneira uniforme. Esses recipientes precisaram ser largos o suficiente para que
as minhocas pudessem compostar os resíduos e para que fosse possível
acompanhar visualmente o andamento do experimento.
A espécie de minhoca utilizada foi a Vermelha da Califórnia (Eisenia foetida)
adquirida na ETE – Curado em Recife-PE, ilustrada na Figura 3. Foi comprado 1kg
de minhoca, e distribuído nos recipientes. O custo das minhocas foi de R$ 40,00.
Figura 3 - Colônia de minhoca vermelha da califórnia utilizada
Os recipientes foram protegidos com tela fina para evitar a aproximação de ratos,
pássaros e formigas, conforme Figura 4. Os recipientes foram colocados em área
coberta e ventilada, sem exposição direta ao sol. Foi realizada rega em dias
alternados nos experimentos GA e GB, já que se trata de um substrato bastante
seco. Nos experimentos GCA e GCB foram realizadas regas semanais, pois as
cascas liberam líquidos, possibilitando que estes substratos estivessem sempre mais
úmidos em relação aos dos experimentos GA e GB. O experimento durou 47 dias.
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Figura 4 – Recipientes com os dois tipos de combinações
As análises físico-químicas dos substratos e do vermicomposto final, foram
realizadas por laboratórios regulamentados. A determinação da relação C/N foi
realizada pela Central de Química Analítica da UFPE e as determinações de pH e
condutividade elétrica pelo ITEP.
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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A caracterização físico-química dos substratos iniciais foi realizada para que fosse
possível comparar com os resultados obtidos no vermicomposto, e demonstrar a
eficiência do método. Esta caracterização está apresentada na Tabela 1. Tabela1 – Análise físico-química dos compostos iniciais
Substratos Iniciais Variável Grama Casca
C (%) 30,21 40,46 N (%) 1,67 1,55 C/N 18 26 pH 5,83 4,41 CE (mS/cm) 8,86 32,7
Na Tabela 2, estão apresentados os resultados obtidos pela análise dos
vermicompostos em comparação ao padrão estabelecido na I.N 25 - MAPA para
vermicomposto, ressaltando que nesta não possui especificação sobre CE.
Tabela 2 – Análises físico-químicas dos vermicompostos e valores padrões MAPA
Vermicompostos Variável GA GB GCA GCB Padrões
C (%) 14,13 16,38 10,65 11,48 10 (mín) N (%) 0,84 0,97 0,83 0,85 0,5 (mín) C/N 16,7 16,79 12,78 13,5 14 (máx) pH 7,2 7,17 9 9,14 6 (mín) CE (mS/cm) 2,42 2,37 15,57 16,18 sem especificações
Através da comparação dos resultados obtidos, verifica-se uma diminuição dos
percentuais de C e N, entre os substratos iniciais e os vermicompostos finais. A
diminuição dessas variáveis, consequentemente resulta na diminuição da relação
C/N.
O pH dos substratos iniciais eram ácidos, e após a vermicompostagem aumentou
para todos os vermicompostos se localizando entre 7 e 9. Já a CE diminuiu em
relação à amostra inicial de grama e os vermicompostos resultantes desta. Este
índice encontra-se entre 15 e 16 mS/cm, nos vermicompostos GCA e GCB (cascas
+ grama).
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A Figura 5 compara os resultados obtidos e os padrões estabelecidos para o
vermicomposto, conforme legislação. Os resultados obtidos para os vermicompostos
GA e GB, estão acima do limite máximo estabelecido pela legislação no parâmetro
C/N, demonstrando que os vermicompostos ainda não estão totalmente
estabilizados. As análises de GA e GB foram satisfatórias no parâmetro pH, se
localizando na neutralidade. Quanto a CE houve uma diminuição dos valores para
os dois experimentos (GA e GB).
Figura 5 - Comparativos entre características físico-químicas entre substratos e vermicompostos
produzidos e o padrão estabelecido
Percebe-se pelas determinações realizadas que os melhores resultados obtidos
foram dos vermicompostos referentes ao GCA e GCB, onde houve a maior
diminuição da relação C/N em relação ao substrato inicial, mantendo-se abaixo de
14, ou seja, dentro do padrão especificado pela I.N 25 – MAPA. Todos os demais
parâmetros analisados também enquadram os vermicompostos GCA e GCB, dentro
do estabelecido pela legislação, demonstrando uma estabilização dos resíduos
através do tratamento de vermicompostagem.
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5. CONCLUSÕES
Os fertilizantes orgânicos (GCA e GCB) obtidos nos experimentos de
vermicompostagem podem ser classificados como vermicomposto classe A ou C, de
acordo com a classificação da Instrução Normativa nº 25, de 23 de Julho de 2009 –
MAPA.
A proposta de realizar o tratamento dentro da própria Unidade se demonstrou viável.
Pois, além de extinguir a despesa com tratamento externo (aterro sanitário), os
resultados obtidos demonstraram que é possível utilizar o produto final do
tratamento – vermicomposto – na área verde da Empresa, diminuindo também o
custo com a compra de adubos orgânicos.
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6. REFERÊNCIAS
AQUINO, A.M; ALMEIDA,D.L; SILVA,V.L. Utilização de minhocas na estabilização de resíduos orgânicos: vermicompostagem. Rio de Janeiro – RJ, 1992. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR 10004: resíduos sólidos, 1987, 3p. AZEVEDO, A.C. Matéria orgânica do solo.Santa Maria – RS, 1994. BRASIL. Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010. Política Nacional de Resíduos Sólidos. 2010. Capítulo III, Seção II. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução normativa Nº 25. 23 de Julho de 2009. Brasília – DF.
BRASIL. RESOLUÇÃO CONAMA n. 006, de 5 de junho de 1988. Artigo 2º.
CARDOSO, Oséias.Gestão dos resíduos sólidos urbanos do município de Campo Mourão/PR. 2004. Maringá – UEPR, 2004. DEBORTOLI, Rafael. Análise do tratamento dos resíduos sólidos e dos benefícios ambientais e econômicos da coleta seletiva: o caso dos catadores de Biguaçu – SC. 2006. Florianópolis – UFSC, 2006. ETTER, Anderson; GONÇALVES, S.S; TEIXEIRA,Guilherme. Vermicompostagem do lodo da ETE. São Leopoldo – RS, 2008.
FADINI, Pedro Sérgio. Lixo: desafios e compromissos, 2001. Disponível em: http://qnesc.sbq.org.br/online/cadernos/01/lixo.pdf. Acesso em 05 de Março de 2012.
KONZEN, Egidio Arno. Estabilização de resíduos orgânicos em processos de compostagem e vermicompostagem, 1999. Disponível em: http://ainfo.cnptia.embrapa.br / digital/bitstream/item/30900/1/ct-12.pdf. Acesso em 10 de Maio de 2012.
LEITE, D.F.M. Avaliação do uso e operação de composteira caseira que utiliza vermicompostagem. São Paulo – SP,2011. LIMA, L.M.Q. Lixo:Tratamento e Biorremediação. 3 ed. São Paulo:Hemus;1995. MANO, E.B.; PACHECO, E.B.A.V.; BONELLI, C.M.C. Meio ambiente, poluição e reciclagem. 2.ed-São Paulo: Blucher, 2012. MOTHÉ, Cheila Gonçalves. Gerenciamento de resíduos sólidos industriais, 2007. Disponível em: www.revistaanalytica.com.br/ed_anteriores/27/art02.pdf. Acesso em 05 de Março de 2012.
24
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POÇO, Elaine. Como alavancar a sustentabilidade nas oportunidades de negócios, 2012. Disponível em: http://one.akzonobel.intra/bu/113_40/functions/sus/Pages/default.aspx. Acesso em 05 de Março de 2012.
RICCI, Marta dos Santos Freire. Manual de vermicompostagem,1996. Disponível em: http://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/23262/1/Ricci-doc-31.pdf. Acesso em 10 de Maio 2012. RODDA, M.R. Caracterização e avaliação do uso agrícola de humatos de vermicomposto. Seropédica – RJ, 2003. RUSSO, M.A.T. Tratamento de resíduos sólidos. 2003. Coimbra – Universidade de Coimbra, 2003.
SANTOS, Esmeraldo Macedo. Resíduos sólidos urbanos: uma abordagem teórica da relevância, caracterização e impactos na cidade de Natal/RN. 2002. Natal – UFRN, 2002. SIQUEIRA, Lyssandro. Dos princípios e instrumentos da Política Nacional de Resíduos Sólidos, 2011. STRAUCH, Manuel. Gestão de recursos naturais e resíduos. São Leopoldo-RS, 2008. SUSZEK,M.; SAMPAIO,S.C.; SUSZEK,F.L.; MALLMANN,L.S.; SILVESTRO, M.G. Aspectos físicos e químicos de vermicompostos produzidos a partir de esterco bovino e compostos de resíduos verdes urbanos.Viçosa-MG, 2007.
Tabela A.1 – Planilha de Gerenciamento de Resíduos Sólidos Akzonobel
ANEXO DO FORMULÁRIO PARA SOLICITAÇÃO DE LICENCIAMENTO AMBIENTAL - EMPREENDIMENTOS INDUSTRIAIS
PLANILHA DE GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS Ano Base: 2009
Razão Social AkzoNobel LTDA
CNPJ/CPF 60.561.719/0094-22
GERAÇÃO ARMAZENAMENTO TRATAMENTO DESTINO FINAL
Cód. Resíduo17
Quantidade Gerada
(mês)
Unidade de Medida 1 Código 6
Temporário
(S/N) Código 16 Quantidade
INTERNO EXTERNO
Cód. Destino Final 16 RESÍDUO Quantidade
CNPJ/CPF
Transportador
CNPJ/CPF
Receptor
K081 28,02 5 S01 S T02 28,02 LODO 28,02 05283183/0001-13 SYBOLUS
10656452/0044-10 VOTORANTIM R03
FID00 0,045 5 S01 S T02 0,045 EPI 0,045 05283183/0001-13 SYBOLUS
10656452/0044-10 VOTORANTIM R03
K078 2,36 5 S01 S R09 2,36 SOLVENTE 2,36 01948381/0001-06 TECSIL
01948381/0001-06 TECSIL R09
FI144 2,30 5 S06 S R12 2,30 EMB. VAZIA 2,30 01948381/0001-06 TECSIL
01948381/0001-06 TECSIL R12
D040 50,00 6 S08 S T02 50,00 AMBULAT. 50,00 01568077/0001-25 SERQUIPE
01568077/0001-25 SERQUIPE T02
A003 1,04 5 S01 S T02 1,04 PÓ VARRED. 1,04 05283183/0001-13 SYBOLUS
10656452/0044-10 VOTORANTIM R03
A001 5,02 5 1.1.1
S
S T16 5,02 REFEITÓRIO 5,02 01459413/0001-00 ELLUS
08165091/0002-08 CTR CANDEIA B02
A006 3,32 5 S06 S RI18 3,32 PAPEL 3,32 01948381/0001-06 TECSIL
01948381/0001-06 TECSIL RI18
A207 1,56 5 S06 S RI18 1,56 PLÁSTICO 1,56 01948381/0001-06 TECSIL
01948381/0001-06 TECSIL RI18
A117 0,01 5 S01 S RI18 0,01 VIDRO 0,01 01948381/0001-06 TECSIL
01948381/0001-06 TECSIL RI18
A009 0,7 5 S02 S RI16 0,7 MADEIRA 0,7 01948381/0001-06 TECSIL
01948381/0001-06 TECSIL RI16
A107 0,25 5 S02 S RI15,RI16 0,25 BOMB. PLAS 0,25 10809408/0001-62 10809408/0001-62 RI15, RI16
A004 1,44 5 S02 S RI18 1,44 METAL SUCATA 1,44 01948381/0001-06
TECSIL 01948381/0001-06
TECSIL RI18
26 Tabela A.2 – Mapeamento de resíduos Akzonobel