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  • LUIS GUSTAVO DE ASSIS CRISAFULLI

    O BENEFCIO DE APOSENTADORIA POR IDADE DO TRABALHADOR RURAL SOB A VISO DA ADMINISTRAO

    PBLICA E DO PODER JUDICIRIO

    Monografia apresentada ao curso de Graduao em Direito da Universidade Presidente Antnio Carlos UNIPAC, como requisito parcial para obteno do ttulo de Bacharel em Direito. rea de Concentrao: Direito Previdencirio.

    Orientador: Prof. Esp. Christine Candian Cabral Discacciati

    BARBACENA 2011

  • Luis Gustavo de Assis Crisafulli

    O Benefcio de Aposentadoria por Idade do Trabalhador Rural sob a viso da Administrao Pblica e do Poder Judicirio

    Monografia apresentada Universidade Presidente Antnio Carlos UNIPAC, como requisito parcial para a obteno do grau de Bacharel em Direito.

    BANCA EXAMINADORA

    Prof. Esp. Christine Candian Cabral Discacciati Universidade Presidente Antnio Carlos UNIPAC Orientadora

    Prof. Esp. Fernando Antnio Montalvo do Prado Universidade Presidente Antnio Carlos UNIPAC

    Prof. Esp. Nelton Jos Arajo Ferreira Universidade Presidente Antnio Carlos UNIPAC

    Aprovada em ___ / ___ / ___

  • Dedico aos meus pais, ao meu admirvel irmo;

    E aos parentes e amigos de sempre.

  • AGRADECIMENTO

    Agradeo a Deus por sempre iluminar o meu caminho. Agradeo aos meus pais e ao meu irmo por serem meus grandes incentivadores. Agradeo aos meus professores pelos ensinamentos de todos estes anos. Agradeo a Prof. Orientadora Christine Candian Cabral Discacciati pela orientao,

    pela competncia e por ter me ajudado a construir este trabalho. Aos amigos de turma, que estaro sempre em minha memria, por terem tornado esta

    jornada muito mais divertida.

  • O sucesso nasce do querer, da determinao e persistncia em se chegar a um objetivo. Mesmo no atingindo o alvo, quem busca e vence obstculos, no mnimo far coisas admirveis.

    Jos de Alencar

  • RESUMO

    Todo trabalhador tem direito a receber do Estado proteo de situaes como doena, velhice e desemprego, para si mesmo e para sua famlia, independente de qual for sua atividade laborativa. A Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988 igualou os direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, ampliando, assim, a aplicao da Seguridade Social a todo trabalhador brasileiro. Com isso, respeitando as dificuldades que o trabalhador rural enfrenta no seu dia a dia, o benefcio de Aposentadoria por Idade trouxe privilgios a esta espcie de trabalhador, garantindo efetivamente sua proteo e de sua famlia pelo Estado. No obstante os privilgios concedidos, o trabalhador rural dever preencher uma srie de requisitos para receber o benefcio previdencirio de aposentadoria por idade, como, por exemplo, comprovar o efetivo exerccio de sua atividade no campo. Tal procedimento se justifica em razo do setor rural ser um dos motivos do dficit da Previdncia Social. Cabe dizer que a legislao previdenciria vigente indica as formas de comprovao da atividade rural. A partir do momento em que o trabalhador rural, enquadrado em uma das espcies de segurado obrigatrio, especificamente como segurado especial, comprovar o exerccio da atividade rurcola, passar a ter direito a receber o benefcio. Ademais, quanto postulao do benefcio no Poder Judicirio, h uma grande controvrsia acerca da necessidade ou no do prvio requerimento administrativo. Diante do litgio, seja na seara administrativa como na judiciria, em hiptese de dvida sobre qual direito do trabalhador ser aplicado, dever ser sempre observado, no Direito Previdencirio, o princpio do in dubio pro misero, semelhante ao in dubio pro operario do Direito do Trabalho.

    Palavras-chave: Benefcio; Previdencirio; Aposentadoria; Trabalhador Rural.

  • ABSTRACT

    Every worker has the right to receive State's protection from situations such as illness, old age and unemployment, for yourself and your family, regardless of how is their working activity. The Constitution of the Federative Republic of Brazil of 1988 equaled the rights of urban and rural workers, thus expanding the application of Social Security to all Brazilian workers. With that, respecting the difficulties facing rural workers in their day by day, the benefit of Age Retirement brought privileges to this kind of worker, effectively ensuring their protection and of their families by the state. Despite the privileges granted, the rural worker must complete a series of requirements to receive the social security benefit of Age Retirement, how, for example, demonstrate the effective exercise of their activity in the field. This procedure is justified because the rural sector is one of the reasons for the Social Security deficit. It must be said that the social security legislation in force indicates how to demonstrate the rural activity. From the moment the rural worker, framed in a species of compulsory insured, specifically as special insured, prove the exercise of the activity rural area, will have right to receive the benefit. Futher, about the benefit postulation in the Judiciary, there are a great deal of controversy regarding the necessity or not of the preliminary administrative request. Before the dispute, be in the administrative or judicial sphere, in the event of doubt about which rights of worker will be applied, should always be observed, in the Social Security Law, the principle of in dubio pro misero, similar to the in dubio pro operario of the Labour Law.

    Key-words: Benefit; Social Security; Retirement; Rural worker.

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    AGU Advocacia Geral da Unio

    BPC Benefcio de Prestao Continuada

    CCIR Certificado de Cadastro de Imvel Rural

    CEI Cadastro Especfico do INSS

    CF Constituio Federal

    CLT Consolidao das Leis Trabalhistas

    CNPJ Cadastro Nacional de Pessoa Jurdica

    CP Carteira Profissional

    CPC Cdigo de Processo Civil

    CPF Cadastro de Pessoa Fsica

    CTPS Carteira de Trabalho e Previdncia Social

    EC Emenda Constitucional

    FIERD Ficha de Inscrio de Empregador Rural e Dependentes

    FONAJEF Frum Nacional dos Juizados Especiais Federais

    FUNAI Fundao Nacional do ndio

    GFIP - Guia de Recolhimento de FGTS e Informaes Previdncia Social

    IN Instruo Normativa

    INCRA Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria

    INSS Instituto Nacional do Seguro Social

    LOAS Lei Orgnica de Assistncia Social

    OGMO rgo Gestor de Mo de Obra

    PGF Procuradoria Geral Federal

    RGPS Regime Geral de Previdncia Social

  • RPS Regulamento da Previdncia Social

    RPV Requisio de Pequeno Valor

    SDI Seo de Dissdios Individuais

    STF Supremo Tribunal Federal

    STJ Superior Tribunal de Justia

    SUS Sistema nico de Sade

    TNU Turma Nacional de Uniformizao

    TRF Tribunal Regional Federal

    TST Tribunal Superior do Trabalho

  • SUMRIO

    1 INTRODUO ...................................................................................................................12

    2 DA SEGURIDADE SOCIAL .............................................................................................13 2.1 Conceito .............................................................................................................................13 2.2 Objetivos............................................................................................................................14 2.2.1 A Universalidade da Cobertura e do Atendimento..........................................................15 2.2.2 Uniformidade e Equivalncia dos Benefcios e Servios s Populaes Urbanas e Rurais..................................................................................................................................................16 2.2.3 Seletividade e distributividade na prestao dos benefcios e servios...........................16 2. 3 Sade (arts. 196 a 200, CF/88) ........................................................................................18 2.4 Assistncia Social (arts. 203 e 204) ..................................................................................18 2.5 Previdncia Social (arts. 201 e 202).................................................................................19

    3 A CARACTERIZAO DO TRABALHADOR RURAL NOS DIREITOS TRABALHISTA E PREVIDENCIRIO.............................................................................21 3.1 O Trabalhador Rural no Direito do Trabalho...............................................................21 3.1.1 Critrio Celetista..............................................................................................................22 3.1.2 Critrio da Lei n. 5.889/73 ..............................................................................................22 3.1.3 Empregador Rural............................................................................................................24 3.2 O Trabalhador Rural no Direito Previdencirio...........................................................25 3.2.1 Segurado Empregado.......................................................................................................26 3.2.2 Empregado Domstico ....................................................................................................27 3.2.3 Contribuinte individual....................................................................................................27 3.2.4 Trabalhador Avulso .........................................................................................................30 3.2.5 Segurado Especial............................................................................................................30

    4 ASPECTOS GERAIS DO BENEFCIO DE APOSENTADORIA POR IDADE DO TRABALHADOR RURAL ...................................................................................................36 4.1 Noes Introdutrias ........................................................................................................36 4.2 A Aposentadoria por Idade do Trabalhador Rural ......................................................38

    4.3 A comprovao do exerccio de atividade rural ............................................................39 4.3.1 A comprovao perante a Administrao Pblica...........................................................43

  • 5 A POSTULAO DO BENEFCIO NO PODER JUDICIRIO ..................................48 5.1 O processamento da ao previdenciria .......................................................................48 5.2 O prvio requerimento administrativo como condio do acesso ao Judicirio. .......53

    6 O DIREITO PREVIDENCIRIO E O PRINCPIO DO IN DUBIO PRO MISERO..56

    7 CONCLUSO......................................................................................................................59

    REFERNCIAS .....................................................................................................................61

  • 12

    1 INTRODUO

    A Seguridade Social, precisamente a Previdncia Social, seguindo as novas tendncias da sociedade e do ordenamento jurdico, busca atender e garantir um mnimo de dignidade a todos aqueles que exercem atividade remunerada, seja em caso de doena superveniente ou em virtude da idade do segurado.

    A Constituio Federal de 1988, ao tratar dos direitos sociais, equiparou os direitos do trabalhador rural ao do urbano, visando enquadrar o segurado especial em todos os ramos da Previdncia Social, da mesma forma que j era feito com o empregado, o contribuinte individual, o trabalhador avulso e o empregado domstico, tornando-o segurado obrigatrio do Regime Geral de Previdncia Social (RGPS).

    Com fulcro nas premissas apresentadas acima, o presente trabalho busca demonstrar os direitos previdencirios dos trabalhadores que exercem suas atividades laborais no campo, merecedores de ateno especial por estudantes e operadores do Direito.

    Ademais, conceitua-se a Seguridade Social, demonstrando seus objetivos e sua diviso constitucional, explanando seus pilares, quais sejam a Sade, a Assistncia Social e a Previdncia Social, de forma a tornar clara aplicao dos preceitos expostos em toda a Constituio Federal de 1988 em cada um deles.

    Seguindo essa esteira, torna-se importante a conceituao do trabalhador rural no Direito do Trabalho e no Direito Previdencirio, traando alguns pontos harmnicos entre estes ramos do ensinamento jurdico. A partir da definio no Direito Previdencirio, passa-se a caracterizar as espcies de trabalhador rural, nos termos da Lei n. 8.213/91.

    Diante de tais concepes, traz a tona o benefcio da Aposentadoria por Idade, o qual um dos mais pretendidos na seara previdenciria, com vistas a identificar e explicar as formas de comprovao de atividade rural, demonstrando a viso da Administrao Pblica acerca do tema, capaz de justificar a exigncia de um conjunto probatrio extenso.

    Explica-se, ainda, qual o entendimento do Poder Judicirio sobre o assunto, observando as determinaes decorrentes da Constituio Federal, alm das implicaes legislativas, doutrinarias e jurisprudenciais, bem como algumas particularidades ao postular a prestao jurisdicional.

    Por fim, trata-se do princpio do in dubio pro misero, que deve ser sempre observado na seara administrativa ou na judiciria, visando garantir ao trabalhador rural o benefcio previdencirio de maior abrangncia, qual seja, o da aposentadoria em razo de sua idade.

  • 13

    2 DA SEGURIDADE SOCIAL

    A Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988 (CF/88), tambm conhecida como Lei Maior, Carta Magna entre outros nomes, assegura o exerccio dos direitos sociais e individuais, bem como a igualdade e a justia como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos. Em conjunto a tais preceitos, deve-se observar, em especial, o art. 1, inciso IV, da Carta Magna, que traz como fundamentos da Repblica Federativa do Brasil os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa.

    Diante desta anlise introdutria da CF/88, se faz necessrio conceituar os direitos sociais, previstos no art. 6. O melhor conceito extrai-se da doutrina, qual seja:

    Direitos sociais so direitos fundamentais do homem, caracterizando-se como verdadeiras liberdades positivas, de observncia obrigatria em um Estado Social de Direito, tendo por finalidade a melhoria de condies de vida aos hipossuficientes, visando concretizao da igualdade social, e so consagrados como fundamentos do Estado democrtico, pelo art. 1, IV, da Constituio Federal. 1

    De acordo com a doutrina, o rol dos direitos sociais exemplificativo, no esgotando, desta feita, os direitos fundamentais constitucionais dos trabalhadores.

    Conforme redao dada pela Emenda Constitucional n 64/2010, os direitos sociais so a educao, a sade, a alimentao, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurana, a previdncia social, a proteo maternidade e infncia, a assistncia aos desamparados, na forma desta Constituio Brasileira de 1988.

    Com efeito, conclui-se que o direito seguridade social um direito social, nos termos do art. 6.

    Porm, deve-se ressaltar que a seguridade social integra a Ordem Social, tendo o primado do trabalho como base constitucional, e o bem estar social e a justia social como os objetivos (art. 193). disciplinada na Carta Magna no Ttulo VIII, a partir do art. 194.

    2.1 Conceito

    1 MORAES, 2008, p. 193.

  • 14

    A seguridade social compreende um conjunto integrado de aes de iniciativa dos poderes pblicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos sade, previdncia social e assistncia social.

    Seguindo a idia dos doutrinadores da rea previdenciria, pode-se conceituar a seguridade social como o conjunto de medidas destinadas a atender s necessidades bsicas do ser humano. Extrai-se da doutrina o seguinte:

    A seguridade social pode ser conceituada como a rede protetiva formada pelo Estado e particulares, com contribuies de todos, incluindo parte dos beneficirios dos direitos, no sentido de estabelecer aes positivas no sustento de pessoas carentes, trabalhadores em geral e seus dependentes, providenciando a manuteno de um padro mnimo de vida. 2

    Considerando os conceitos acima, o direito da seguridade social visa garantir o mnimo de condio social necessria a uma vida digna, consoante a um dos fundamentos da Repblica, previsto no art. 1, inciso III, da Lei Maior.

    Ademais, importante evidenciar o disposto no art. 195 da CF/88, em que a seguridade social ser financiada por toda a sociedade, direta ou indiretamente, nos termos da lei, seja pelos recursos oramentrios da Unio, Estados, Distrito Federal e Municpios, seja pela instituio de contribuies sociais arcadas pelo empregador/empresa, seja pelo trabalhador e demais segurados da previdncia social, no incidindo sobre aposentadorias e penses, seja sobre a receita de concursos de prognsticos, ou, ainda, arcadas pelo importador de bens ou servios do exterior, ou de quem a lei a ele equiparar.

    2.2 Objetivos

    A seguridade social tem como escopo garantir que no haja diminuio significativa do nvel e da qualidade de vida dos indivduos e das famlias, at onde for possvel evit-la, por nenhuma circunstncia econmica e social.

    Os objetivos da seguridade social so introduzidos mediante princpios que estendem seus efeitos pelas trs reas de concentrao da seguridade, informando as condutas estatais,

    2 IBRAHIM, 2007, p.9.

  • 15

    normativas ou administrativas, de previdncia, assistncia e sade. De acordo com estas premissas, a CF/88, em seu art. 194, pargrafo nico, declara

    que competncia do Poder Pblico, nos termos da lei, a organizao da seguridade social com a observncia obrigatria dos seguintes objetivos:

    I. Universalidade da cobertura e do atendimento; II. Uniformidade e equivalncia dos benefcios e servios s populaes urbanas e rurais;

    III. Seletividade e distributividade na prestao dos benefcios e servios; IV. Irredutibilidade do valor dos benefcios; V. Equidade na forma de participao no custeio;

    VI. Diversidade da base de financiamento; VII. Carter democrtico e descentralizado da gesto administrativa, mediante a gesto quadripartite, com a participao dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e do Governo nos rgos colegiados. 3

    Dentre os objetivos acima descritos, destacam-se a Universalidade da Cobertura e do Atendimento (inciso I), a Uniformidade e Equivalncia dos Benefcios e Servios s Populaes Urbanas e Rurais (inciso II) e a Seletividade e Distributividade na Prestao dos Benefcios e Servios (inciso III).

    2.2.1 A Universalidade da Cobertura e do Atendimento

    A Universalidade da Cobertura e do Atendimento, prevista no inciso I do pargrafo nico, do art. 194, uma caracterstica dos direitos humanos como direito de todas as pessoas. As prestaes derivadas do sistema de seguridade social devem ser destinadas s pessoas que delas necessitem, da forma mais abrangente possvel, participando da proteo social patrocinada pelo Estado.

    Em relao sade, a organizao do sistema nico integrado pelas entidades da Federao no pode apresentar qualquer tipo de discriminao no atendimento. No que tange assistncia social, vedado lei eleger qualquer critrio baseado em caractersticas pessoais.

    Quanto previdncia social, por ser regime contributivo, , a princpio, restrita aos

    3 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm

  • 16

    que exercem atividade remunerada, apesar de no Brasil existir o RGPS (Regime Geral de Previdncia Social), que abrange praticamente todas as categorias profissionais. possvel a filiao at mesmo forma facultativa para aqueles no exeram atividade laboral.

    A universalidade possui dimenses objetiva e subjetiva, sendo a primeira voltada a alcanar todos os riscos sociais que possam gerar o estado de necessidade (universalidade de cobertura), enquanto a segunda busca tutelar toda a pessoa pertencente ao sistema protetivo (universalidade de atendimento).

    2.2.2 Uniformidade e Equivalncia dos Benefcios e Servios s Populaes Urbanas e Rurais

    A Uniformidade qualificada como auxiliar da Universalidade, reconhecendo um valor de igualdade, conforme se extrai do inciso II, do artigo supra mencionado. Este objetivo decorre do princpio da isonomia.

    Como se sabe, o trabalhador rural tinha tratamento diferenciado at o advento da CF/88, a qual determinou o fim deste regramento previdencirio distinto. Desta feita, a uniformidade e a equivalncia procuram superar as diferenas de tratamento s populaes urbanas e rurais no Brasil, de forma a estender aos residentes no campo a mesma amplitude de proteo aos que residem em rea urbana.

    De acordo com a redao do artigo citado, entende-se que as prestaes securitrias devem ser idnticas para trabalhadores rurais e urbanos, no sendo lcita a criao de benefcios diferenciados. De uma forma mais simplificada, a uniformidade diz respeito s contingncias cobertas, significando idnticos benefcios; a equivalncia diz respeito ao valor, em que o critrio de apurao do valor do benefcio deve ser o mesmo.

    2.2.3 Seletividade e distributividade na prestao dos benefcios e servios.

    Este objetivo deve ser tratado como contraposio ao da universalidade, no sentido em que o segundo determina que o Estado procure proteger o homem de grandes riscos sociais, o primeiro busca a ponderao dos critrios de atendimento pela necessidade, procurando dar vantagens aos mais carentes.

  • 17

    Neste sentido:

    O princpio da seletividade aquele que propicia ao legislador uma espcie de mandato especfico, com o fim de estudar as maiores carncias sociais em matria de seguridade social, e que ao mesmo tempo oportuniza que essas sejam priorizadas em relao aos demais. 4

    Com a aplicao desse objetivo, prestaes especficas de sade, previdncia e assistncia social podem ser destinadas de forma diferenciada. Algumas prestaes sero extensveis somente a algumas parcelas da populao, como, por exemplo, o salrio-famlia e, alm disto, os benefcios e servios devem buscar a otimizao da distribuio de renda no pas.

    Portanto, a seletividade fixa o rol de prestaes que sero garantidas aos beneficirios do sistema. J distributividade define o grau de proteo de cada um.

    No obstante os objetivos com previso expressa no art. 194 e seus incisos, da Lei Maior, h de destacar o Principio da Solidariedade, previsto no art. 3, I, da prpria CF/88.

    Trata-se, sem dvida, do princpio de maior importncia de todo o sistema securitrio, no sentido em que traduz o verdadeiro esprito da Previdncia Social, qual seja, a proteo coletiva, em que as pequenas contribuies individuais geram recursos suficientes viabilizando a concesso de prestaes previdencirias em decorrncia de situaes predispostas.5

    A solidariedade a justificativa elementar para a compulsoriedade do sistema previdencirio, pois os trabalhadores so obrigados a contribuir em razo de a contribuio individual ser necessria para a manuteno de toda a rede protetiva, e no para a tutela de um individuo isoladamente.

    , outrossim, pressuposto para a ao cooperativa da sociedade, sendo condio fundamental para a materializao do bem-estar social, com a necessria reduo das desigualdades sociais. Ou seja, possui escopo de atuao mais amplo, alm dos ideais tradicionais do seguro social.6

    4 CUNHA, 1999, p. 39.

    5 IBRAHIM, 2011, p. 65.

    6 ibid, p. 65/6.

  • 18

    2. 3 Sade (arts. 196 a 200, CF/88)

    conceituada no art. 196, CF/88, como direito de todos e dever do Estado, independente de contribuio, qualquer pessoa tem o direito de obter atendimento na rede pblica de sade e tem o escopo mais amplo de todos os ramos protetivos, j que no possui restrio sua clientela protegida.

    A sade garantida mediante polticas sociais e econmicas que visem reduo do risco de doena e, de outros agravos e ao acesso universal e igualitrio a aes e servios para sua promoo, proteo e recuperao.

    O art. 198 da Constituio Brasileira de 1988 estabelece que as aes e os servios pblicos de sade integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema nico (SUS), segue as seguintes diretrizes: descentralizao; atendimento integral; participao da comunidade; gratuidade e universalidade.

    A sade pblica gratuita, isto , tem que ser prestada independentemente de ser o paciente contribuinte ou no da seguridade social, alm de que o atendimento deve ser universal, no havendo possibilidade de excluso de paciente por critrio de renda.

    Cabe ressaltar, por fim, que a rea da sade est sob a gide do Ministrio d Sade. As secretarias estaduais e municipais atuam articuladamente com o SUS Sistema nico de Sade.

    2.4 Assistncia Social (arts. 203 e 204)

    poltica social destinada a prestar, gratuitamente, proteo famlia, maternidade, infncia, adolescncia, velhice e aos deficientes fsicos.

    Ao lado do seguro social previdencirio, o Estado presta tambm assistncia social em certas circunstncias (velhice, doena etc), em carter normalmente geral e de forma voluntria, posto que no retribui, nestes casos, contribuies recebidas. 7

    A assistncia social encontra-se regulamentada pela Lei n 8.742 de 07 de dezembro

    7 FELIPE, 1994, p. 28.

  • 19

    de 1993, conhecida de Lei Orgnica da Assistncia Social (LOAS). As prestaes so divididas em benefcios (pecunirios) e servios (no pecunirios). Dentre os principais benefcios, destaca-se o da Prestao Continuada (BPC),

    previsto no art. 20 da Lei supracitada, em que os deficientes ou idosos que no podem prover a prpria manuteno ou de t-la provida pela famlia tem direito a um salrio mnimo mensal.

    A assistncia social um plano de prestaes sociais mnimas e gratuitas a cargo do Estado para prover pessoas necessitadas de condies dignas de vida. um direito social fundamental e, para o Estado, um dever a ser realizado atravs de aes diversas que visem atender s necessidades bsicas do indivduo, em situaes crticas da existncia humana, tais como velhice e para pessoas portadoras limitaes fsicas.8

    2.5 Previdncia Social (arts. 201 e 202)

    O art. 201 da CF/88, de acordo com a redao dada pelas Emendas Constitucionais n 20/98 e n 47/2005, determina que a previdncia social ser organizada sob a forma de regime geral de carter contributivo e de filiao obrigatria, observados critrios que preservem o equilbrio financeiro e atuarial.

    Referido dispositivo constitucional enumera, em seus incisos, as espcies de benefcios que devem ser garantidos pela previdncia social, visando cobrir os seguintes riscos sociais: incapacidade, idade avanada, tempo de contribuio, encargos de famlia, morte, recluso e desemprego involuntrio.

    Seu objetivo garantir uma proteo securitria mnima e relativamente padronizada condies mnimas de existncia com dignidade. No h pretenso de manter o padro de vida do trabalhador em atividade.

    Ressalta-se que a previdncia social, no que tange aos benefcios previdencirios, j se encontra devidamente regulamentada na Lei n 8.213, de 24 de julho de 1991, que instituiu os Planos de Benefcios da Previdncia Social, bem como o Decreto n 3.048, de 06 de maio de 1999, conhecido como Regulamento da Previdncia Social (RPS).

    8 TAVARES, 2010, p. 16/17.

  • 20

    A previdncia no Brasil divida em dois sistemas: privado e pblico. A previdncia privada um sistema complementar e facultativo de seguro, de

    natureza contratual. Suas normas bsicas esto previstas no art. 202 da CF/88 e nas Leis Complementares n 108 e n 109, ambas de 2001.

    A previdncia pblica caracteriza-se por ser mantida por pessoa jurdica de direito publico, tem natureza institucional, de filiao compulsria e as contribuies tm natureza tributria.

    Este sistema comporta dois regimes bsicos: o RPPS (Regime Prprio de Previdncia Social), destinado aos ocupantes de cargos efetivos (incluindo vitalcios) e militares, mantido pelos entes polticos da Federao, e o RGPS (Regime Geral de Previdncia Social), destinado aos trabalhadores da iniciativa privada e gerido por uma autarquia federal (INSS).

    Importa dizer que, em paralelo aos regimes bsicos, h o regime complementar. O regime complementar ao RGPS privado, enquanto o complementar ao RPPS publico, sendo em ambas as hipteses o ingresso voluntrio, tendo como escopo ampliar rendimento quando da aposentao.

  • 21

    3 A CARACTERIZAO DO TRABALHADOR RURAL NOS DIREITOS TRABALHISTA E PREVIDENCIRIO

    Como se sabe, o direito previdencirio e o direito do trabalho carregam entre si diversas semelhanas, em virtude de ambos se amoldarem no exerccio da atividade obreira, com vistas a proteger o trabalhador durante e aps o perodo em que laborou em determinada profisso.

    Com efeito, a CF/88, mais precisamente em seu art. 7, tratou de igualar os direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, extinguindo, assim, a eterna diferena existente entre estas duas espcies de trabalhadores.

    Este tratamento igualitrio incluiu o segurado especial no rol dos segurados obrigatrios do Regime Geral de Previdncia Social. Garantiu-lhe, desta feita, cobertura a todos os eventos supervenientes que possam e iro lhe ocorrer, como doena, idade avanada, morte entre outros.

    No rol dos direitos do art. 7 cabe destacar o inciso XXIV, que garante o direito aposentadoria, tema a ser debatido e discutido no presente trabalho.

    Ademais, importante observar que o trabalhador rural recebeu alguns benefcios, como, por exemplo, a reduo do tempo necessrio em 05 (cinco) anos para obteno de aposentadoria.

    Embora lhes sejam estabelecidos certos tratamentos especiais, h de reconhecer que esses trabalhadores enfrentam dificuldades para a comprovao do exerccio da atividade no campo, outro assunto ainda a ser abordado.

    3.1 O Trabalhador Rural no Direito do Trabalho

    Conforme explicado acima, a Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988 garantiu aos obreiros do campo os mesmos direitos assegurados aos trabalhadores urbanos, nos termos do art. 7, caput.

    A situao do trabalhador rural, no Direito do Trabalho, conhece duas grandes fases distintas sob qualquer ponto de vista: antes e aps o Estatuto do Trabalhador Rural.

    A caracterizao do empregado rural tem ensejado certa controvrsia.

  • 22

    No obstante apresente os mesmos elementos integrantes da relao de emprego (pessoa fsica, pessoalidade, no-eventualidade, onerosidade e subordinao), os elementos diferenciadores so os responsveis pela aludida controvrsia.

    A dvida surge em face do contraponto entre o critrio celetista que define o empregado rural (art. 7, b, CLT) e o critrio estabelecido pela Lei de Trabalho Rural (art. 2, Lei n. 5.889/73), em que estes no se ajustam inteiramente.

    3.1.1 Critrio Celetista

    O art. 7, b, da Consolidao das Leis Trabalhistas (CLT), os trabalhadores rurais so aqueles que, exercendo funes diretamente ligadas agricultura e pecuria, no sejam empregados em atividades que pelos mtodos de execuo dos respectivos trabalhos ou pela finalidade de suas operaes, se classifiquem como industriais ou comerciais.

    Para o critrio celetista, o trabalhador rural caracterizado de acordo com o mtodo do trabalho desenvolvido por este ou pela finalidade das atividades em que se encontra envolvido. Ou seja, sendo rurcolas tais mtodos ou fins, rurcola seria o trabalhador.

    Este critrio de diferenciao criticado exacerbadamente por no se harmonizar, sem justificativa e necessidade consistentes, ao critrio dominante no Direito ptrio de enquadramento de qualquer espcie de empregado, no sentido em que a sistemtica bsica de determinao de categorias profissionais no Brasil funda-se no segmento de atividade do empregador.9

    3.1.2 Critrio da Lei n. 5.889/73

    O critrio de identificao do trabalhador rural que prevalece hoje no Direito brasileiro o previsto na Lei n. 5.889, de 08 de junho de 1973, distinto do proveniente da CLT.

    Preceitua o art. 2 da Lei supracitada:

    9 DELGADO, 2006, p. 383/384.

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    Empregado rural toda pessoa fsica que, em propriedade rural ou prdio rstico, presta servios de natureza no eventual a empregador rural, sob a dependncia deste e mediante salrio. 10

    O art. 3 do Decreto n. 73.626, de 12 de fevereiro de 1974, possui redao idntica ao do artigo acima citado, tambm caracterizando o trabalhador rural.

    Tal critrio busca se ajustar ao modelo geral de enquadramento obreiro clssico ao Direito do Trabalho no pas, qual seja, o segmento de atividade do empregador.

    Desta forma, ser empregado rural aquele que for vinculado a empregador rural, independentemente de seu mtodo de trabalho ou da finalidade da atividade. O que importa sua classificao como rurcola ou urbano o prprio posicionamento.

    Nesta esteira de entendimento, a Smula n. 196 do Supremo Tribunal Federal (STF), estabelece que ainda que exera atividade rural, o empregado de empresa industrial ou comercial classificado de acordo com a categoria do empregador 11.

    Porm, deve-se ressaltar que a jurisprudncia tem estabelecido uma exceo a este critrio geral. Nas empresas de florestamento e reflorestamento, ainda que sejam consideradas urbanas, os empregados que desenvolvem atividade rural so classificados como rurcolas, conforme a Orientao Jurisprudencial n. 38, da SDI-1, do Tribunal Superior do Trabalho (TST).

    Alm deste critrio, deve ser aferido combinadamente o do local de prestao laborativa, conforme disposio do art. 2 da Lei n. 5.889/73, quando este se refere a labor em imvel rural ou prdio rstico.

    O imvel rural aquele localizado na zona geogrfica rural, exterior s reas urbanas.

    O prdio rstico o imvel geograficamente localizado em rea urbana, mas envolvido com atividades nitidamente agropastoris. Foca-se na natureza da atividade empresarial.

    Diante da anlise destes elementos, conclui-se que o trabalhador rural a pessoa fsica que presta servios a tomador rural, realizando tais servios em imvel rural ou prdio rstico. O empregado rural ser a pessoa fsica que possui todas as caractersticas de qualquer relao de emprego, somadas a estas os elementos da vinculao a um tomador de servios de

    10 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L5889.htm

    11 http://www.stf.jus.br/portal/cms/verTexto.asp?servico=jurisprudenciaSumula&pagina=sumula_101_200

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    carter rural e, tambm, o do exerccio da atividade em imvel rural ou prdio rstico.

    3.1.3 Empregador Rural

    Baseado no que fora explicado no tpico anterior, em que para a configurao tanto do trabalhador rural quanto do empregado rural necessrio identificar a figura do tomador de servios, sendo este como rural, torna-se imprescindvel definir o empregador rural.

    Define o art. 3 da Lei n. 5.889/73 que:

    Considera-se empregador rural, para os efeitos desta Lei, a pessoa fsica ou jurdica, proprietrio ou no, que explore atividade agroeconmica, em carter permanente ou temporrio, diretamente ou atravs de preposto e com auxlio de empregados. 12

    O art. 4 da Lei anteriormente mencionada dispe: Equipara-se ao empregador rural, a pessoa fsica ou jurdica que, habitualmente, em carter profissional, e por conta de terceiros, execute servios de natureza agrria 13.

    Depreende-se que, para a caracterizao do empregador rural, decisiva a explorao de atividade agroeconmica ou a execuo habitual e profissional de servios de natureza agrria. As atividades agroeconmicas compreendem as funes e tarefas agrcolas e pecurias que tenham destinao ao mercado.

    Extrai-se da redao do art. 3, 1, da Lei n. 5.889/73, que o conceito de atividade agroeconmica tambm inclui a explorao industrial em estabelecimento agrrio. Ser considerado rurcola o trabalhador do campo que inicie certo processo de industrializao, sendo que, no entanto, a extenso deste processo de industrializao limitada, sob pena de desqualificao do enquadramento do trabalhador como rurcola.

    Pelo art. 2, 4, do Decreto n. 73.626/74:

    Consideram-se como explorao industrial em estabelecimento agrrio, para os fins do pargrafo anterior, as atividades que compreendem o primeiro tratamento dos produtos

    12 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L5889.htm

    13 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L5889.htm

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    agrrios in natura sem transform-los em sua natureza. 14

    E por fim, destaca-se o art.2, 5, do mesmo Decreto antes mencionado, segundo o qual: [...] no ser considerada indstria rural aquela que, operando a primeira transformao do produto agrrio, altere a sua natureza, retirando-lhe a condio de matria-prima 15.

    3.2 O Trabalhador Rural no Direito Previdencirio

    A partir do conceito exarado pela doutrina trabalhista, pode-se configurar o trabalhador rural no Direito Previdencirio, vez que no h distines entre esta espcie de trabalhador em uma ou em outra matria, apenas deve-se observar a finalidade da caracterizao em cada um dos ordenamentos, que no so inteiramente idnticos.

    Enquanto no Direito do Trabalho, o trabalhador rural visa sua caracterizao com fulcro na relao de trabalho ou empregado, objetivando os seus direitos decorrentes do trabalho exercido, no Direito Previdencirio busca-se os benefcios e o enquadramento nas espcies de segurado obrigatrio no Regime Geral de Previdncia Social (RGPS).

    Os segurados so as pessoas fsicas filiadas ao Regime Geral de Previdncia Social, podendo ser classificados como segurados obrigatrios ou facultativos, dependendo se a filiao for decorrente de exerccio de atividade laboral reconhecida por lei como tal ou no.

    Com efeito, segurado da Previdncia Social, nos termos do art. 9 e seus pargrafos do Decreto n. 3048/99, de forma compulsria, a pessoa fsica que exerce atividade remunerada, efetiva ou eventual, de natureza urbana ou rural, com ou sem vnculo de emprego.

    Os segurados obrigatrios so aqueles que devem contribuir compulsoriamente para a Seguridade Social, com direito aos benefcios pecunirios previstos para a sua categoria e aos servios ao encargo da Previdncia Social.

    A Lei n. 8.213/91, tambm conhecida como Lei de Benefcios, no artigo 11, define os segurados obrigatrios do RGPS, quais sejam o segurado empregado, o empregado domstico, o contribuinte individual, o trabalhador avulso e o segurado especial. Define, ain -

    14 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1970-1979/D73626.htm

    15 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1970-1979/D73626.htm

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    da, quais so as pessoas fsicas que se enquadram em cada espcie de segurado. Diante da definio do art. 11 da Lei de Benefcios, passamos a caracterizar o

    trabalhador rural em cada espcie de segurado do RGPS.

    3.2.1 Segurado Empregado

    Segundo o art. 3 da CLT, empregado a pessoa fsica que presta servios de natureza no eventual a empregador, sob a dependncia deste e mediante salrio.

    A Legislao Previdenciria define o empregado utilizando, a princpio, um conceito genrico, enquadrando-o inicialmente conforme conceito derivado do Direito do Trabalho, para, a seguir, especificar situaes casusticas em relao s quais a previdncia confere o mesmo efeito jurdico.

    O conceito adotado no Direito Previdencirio abrange tanto o trabalhador urbano quanto o rural, que presta servio empresa ou equiparada a esta, em carter no eventual, sob sua subordinao e mediante remunerao.

    O empregado urbano poder ser definido de acordo com o art. 3, da CLT, sendo este a pessoa fsica que presta servios de natureza contnua a empregador, sob dependncia deste e mediante salrio, devendo, obviamente, a atividade laboral ser de natureza urbana.

    Ser empregado rural a pessoa fsica que, em propriedade rural ou prdio rstico, presta servios com continuidade a empregador rural, mediante dependncia e salrio, conforme o art. 2 da Lei n. 5.889/73, sendo que o empregador rural a pessoa fsica ou jurdica, proprietria ou no, que explore atividade agropecuria, em carter permanente ou temporrio, diretamente por meio de prepostos e com auxlio de empregados, nos termos do art. 3, da Lei acima mencionada, j visto anteriormente.

    Por fim, cabe dizer que o empregado rural deve preencher os mesmo requisitos que o empregado urbano para ser considerado empregado, quais sejam, ser pessoa fsica, prestar servios de natureza no eventual, pessoalmente, mediante subordinao e remunerao.

    Assim, atendendo a esses requisitos, o empregado rural tambm ser segurado obrigatrio da previdncia social nessa condio.

    Desta feita, observa-se que o conceito de empregado nas duas disciplinas absurdamente semelhante.

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    3.2.2 Empregado Domstico

    Considera-se empregado domstico a pessoa fsica que presta servios de natureza contnua a pessoa ou a famlia, para o mbito residencial destas, que t atividades sem fins lucrativos, de acordo com o art. 1 da Lei n. 5.859/72 e do art. 11, II, da Lei n. 8.213/91.

    Os pressupostos bsicos dessa relao de emprego so: a natureza contnua, a finalidade no lucrativa, isto , o carter no econmico da atividade, o servio prestado no mbito residencial.

    Importante esclarecer o conceito de mbito residencial. Este no se restringe, exclusivamente, ao espao fsico da residncia da pessoa ou da famlia, mas tambm sua casa de campo, stio, fazenda, inclusive veculos de transporte particular, desde que direcionadas ao bem-estar familiar, sem finalidade lucrativa. Sero todos empregados domsticos.

    Se o servio prestado a pessoa ou a famlia que tm por intuito atividade lucrativa, o prestador de servios vai ser considerado empregado comum, sendo o vnculo empregatcio regido pela CLT.

    Percebe-se que o empregado domstico transforma-se em empregado com certa facilidade, basta apenas que seu empregador venha utiliz-lo em atividade com fins lucrativos ou fora do ambiente familiar, observado o conceito acima exposto.

    Desta forma, aquele que presta servio em fazenda, chcara ou stio, mesmo abrangido pelo conceito de mbito residencial, se houver explorao de atividade econmica com finalidade lucrativa, este deixar de ser domstico e passar a ser empregado rural.

    Pode-se concluir, ento, que a atividade do domstico urbana, mesmo se desempenhada em localidade rstica, desde que no haja finalidade lucrativa. Havendo a finalidade lucrativa, o trabalhador ser considerado como empregado rural, devendo ser inscrito no RGPS como tal, para fins de contribuio e auferio de eventuais benefcios previdencirios, como a aposentadoria por idade.

    3.2.3 Contribuinte individual

    A Lei n. 9.876, de 26 de novembro de 1999, criou a categoria de contribuinte individual, englobando os segurados empresrio, autnomo e equiparado a autnomo.

    O Regulamento da Previdncia Social (RPS) em seu art. 9, V, define os quem so considerados contribuintes individuais:

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    a) a pessoa fsica, proprietria ou no, que explora atividade agropecuria, a qualquer ttulo, em carter permanente ou temporrio, em rea, contnua ou descontnua, superior a quatro mdulos fiscais; ou, quando em rea igual ou inferior a quatro mdulos fiscais ou atividade pesqueira ou extrativista, com auxlio de empregados ou por intermdio de prepostos; ou ainda nas hipteses dos 8o e 23 deste artigo; b) a pessoa fsica, proprietria ou no, que explora atividade de extrao mineral - garimpo -, em carter permanente ou temporrio, diretamente ou por intermdio de prepostos, com ou sem o auxlio de empregados, utilizados a qualquer ttulo, ainda que de forma no contnua; c) o ministro de confisso religiosa e o membro de instituto de vida consagrada, de congregao ou de ordem religiosa; d) o brasileiro civil que trabalha no exterior para organismo oficial internacional do qual o Brasil membro efetivo, ainda que l domiciliado e contratado, salvo quando coberto por regime prprio de previdncia social; e) o titular de firma individual urbana ou rural; f) o diretor no empregado e o membro de conselho de administrao na sociedade annima; g) todos os scios, nas sociedades em nome coletivo e de capital e indstria; h) o scio gerente e o scio cotista que recebam remunerao decorrente de seu trabalho e o administrador no empregado na sociedade por cotas de responsabilidade limitada, urbana ou rural; i) o associado eleito para cargo de direo em cooperativa, associao ou entidade de qualquer natureza ou finalidade, bem como o sndico ou administrador eleito para exercer atividade de direo condominial, desde que recebam remunerao; j) quem presta servio de natureza urbana ou rural, em carter eventual, a uma ou mais empresas, sem relao de emprego; l) a pessoa fsica que exerce, por conta prpria, atividade econmica de natureza urbana, com fins lucrativos ou no; m) o aposentado de qualquer regime previdencirio nomeado magistrado classista temporrio da Justia do Trabalho, na forma dos incisos II do 1 do art. 111 ou III do art. 115 ou do pargrafo nico do art. 116 da Constituio Federal, ou nomeado magistrado da Justia Eleitoral, na forma dos incisos II do art. 119 ou III do 1 do art. 120 da Constituio Federal; n) o cooperado de cooperativa de produo que, nesta condio, presta servio sociedade cooperativa mediante remunerao ajustada ao trabalho executado; p) o Micro Empreendedor Individual - MEI de que tratam os arts. 18-A e 18-C da Lei Complementar n. 123, de 14 de dezembro de 2006, que opte pelo recolhimento dos impostos e contribuies abrangidos pelo Simples Nacional em valores fixos mensais. 16

    Inclui-se ainda como contribuinte individual o cnjuge ou companheiro do produtor que participe de atividade rural por este explorada ( 12, do art. 12 da Lei n. 8.212/91, conhecida como Lei de Custeio, com a redao dada pela Lei n. 11.718/2008).

    So tambm considerados contribuintes individuais o bolsista da Fundao Habitacional do Exrcito, contratado em conformidade com a Lei n. 6.855, de 18 de novembro de 1980, e o rbitro de competies desportivas e seus auxiliares que atuem de conformidade com a Lei n. 9.615, de 24 de maro de 1998.

    O contribuinte individual empresrio ser o titular de firma individual urbana ou ru -

    16 http://www3.dataprev.gov.br/SISLEX/paginas/23/1999/3048.htm

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    ral, o diretor no-empregado, o membro de conselho de administrao em sociedade annima, o scio solidrio em relao s obrigaes da sociedade, o scio-cotista que participe da gesto ou receba remunerao decorrente de seu trabalho em empresa urbana ou rural, e o associado eleito para cargo de direo em cooperativa, associao ou entidade de qualquer natureza ou finalidade, bem como o sndico ou administrador eleito para exercer atividade de direo condominial, desde que recebam remunerao.

    O trabalhador autnomo aquele que exerce, por conta prpria, atividade econmica remunerada de natureza urbana, com fins lucrativos ou no, ou, ainda, o que presta servio de natureza urbana ou rural, em carter eventual, a uma ou mais empresas, sem relao de emprego.

    Alguns trabalhadores, embora no possuindo as caractersticas dos trabalhadores autnomos, eram com eles equiparados, por expressa disposio legal, para fins de recolhimento da contribuio previdenciria, passando, a partir da Lei n. 9.876/99, a serem classificados como contribuintes individuais.

    O trabalhador rural ser contribuinte individual quando prestar servio a uma ou mais pessoas sem vnculo empregatcio, exercendo atividades eventuais, sendo eles: volantes, temporrios ou bias frias, comprovando esta situao por meio da inscrio no INSS e apresentando as contribuies relativas ao perodo trabalhado. Tambm contribuinte individual o produtor rural que explora atividade agropecuria, pesqueira ou de extrao de minerais, com auxlio de empregados. Caso no possuam empregados, sero considerados segurados especiais.

    Impende, ainda, destacar a alnea a, do art. 9, do Decreto n. 3.048/99, acima citado, em que considerado contribuinte individual a pessoa fsica, proprietria ou no, que explora atividade agropecuria, a qualquer ttulo, em carter permanente ou temporrio, em rea, contnua ou descontnua, superior a quatro mdulos fiscais, ou, quando em rea igual ou inferior a quatro mdulos fiscais ou atividade pesqueira ou extrativista, com auxlio de empregados ou por intermdio de prepostos.

    No caso do pargrafo anterior, se o trabalhador exercer atividade agropecuria, individualmente ou em regime de economia familiar, ainda que com o auxlio eventual de terceiros a ttulo de mtua colaborao, em rea inferior a quatro mdulos fiscais, sem o auxlio de empregados, tambm ser considerado segurado especial.

  • 30

    3.2.4 Trabalhador Avulso

    O trabalhador avulso, para efeitos previdencirios, definido no Decreto n. 3.048/99 aquele que, sindicalizado ou no, presta servio de natureza urbana ou rural a diversas empresas, sem vnculo empregatcio com qualquer delas, com intermediao obrigatria do rgo gestor de mo de obra (OGMO), nos termos da Lei n. 8.630, de 25 de fevereiro de 1993, ou do sindicato da categoria.

    So considerados trabalhadores avulsos pelo art. 9, VI, do Regulamento da Previdncia Social:

    a) o trabalhador que exerce atividade porturia de capatazia, estiva, conferncia e conserto de carga, vigilncia de embarcao e bloco; b) o trabalhador de estiva de mercadorias de qualquer natureza, inclusive carvo e minrio; c) o trabalhador em alvarenga (embarcao para carga e descarga de navios); d) o amarrador de embarcao; e) o ensacador de caf, cacau, sal e similares; f) o trabalhador na indstria de extrao de sal; g) o carregador de bagagem em porto; h) o prtico de barra em porto; i) o guindasteiro; e j) o classificador, o movimentador e o empacotador de mercadorias em portos; 17

    Aspecto fundamental na caracterizao deste segurado a prestao de servio intermediada, requisito capaz de diferenci-lo do contribuinte individual. Desta maneira, o rgo gestor coloca-se entre o trabalhador avulso e o requisitante do servio, organizando a prestao do servio, negociando preo, recrutando trabalhadores e repassando a cota individual correspondente.

    Em conformidade com o artigo acima citado, so trabalhadores avulsos os trabalhadores rurais ensacadores de caf e cacau, previsto na alnea e.

    3.2.5 Segurado Especial

    O segurado especial a ltima categoria de segurados obrigatrios enumerado pela

    17 http://www3.dataprev.gov.br/SISLEX/paginas/23/1999/3048.htm

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    legislao, a qual se d destaque. Trata-se da nica espcie de segurado com definio no prprio texto constitucional,

    o qual determina o tratamento diferenciado a ser dado a estas pessoas, conforme determinao do art. 195, 8, CF/88, com redao dada pela Emenda Constitucional n. 20 de 1998:

    O produtor, o parceiro, o meeiro e o arrendatrio rurais e o pescador artesanal, bem como os respectivos cnjuges, que exeram suas atividades em regime de economia familiar, sem empregados permanentes, contribuiro para a seguridade social mediante a aplicao de uma alquota sobre o resultado da comercializao da produo e faro jus aos benefcios nos termos da lei. 18

    A Lei n. 11.718, de 20 de junho de 2008, reformulou o conceito de segurado especial, dando a ele uma definio mais clara e especfica quanto ao seu enquadramento.

    Assim, pela redao da nova lei, o segurado especial a pessoa fsica que reside em imvel rural ou em aglomerado urbano ou rural prximo a ele que, individualmente ou em regime de economia familiar, ainda que com o auxlio eventual de terceiros a ttulo de mtua colaborao, na condio de:

    a) produtor, seja ele proprietrio, usufruturio, possuidor, assentado, parceiro ou meeiro outorgados, comodatrio ou arrendatrio rurais, que explore atividade:

    1. agropecuria em rea contnua ou no de at quatro mdulos fiscais; ou 2. de seringueiro ou extrativista vegetal na coleta e extrao, de modo sustentvel, de

    recursos naturais renovveis, e faa dessas atividades o principal meio de vida; b) pescador artesanal ou a este assemelhado, que faa da pesca profisso habitual ou

    principal meio de vida; e c) cnjuge ou companheiro, bem como o filho maior de 16 anos de idade ou a este

    equiparado, do segurado de que tratam as letras a e b acima, que, comprovadamente, tenham participao ativa nas atividades rurais do grupo familiar.

    E, ainda segundo a nova lei, entende-se por regime de economia familiar a atividade em que o trabalho dos membros da famlia indispensvel prpria subsistncia e ao desenvolvimento socioeconmico do ncleo familiar e exercido em condies de mtua dependncia e colaborao, sem a utilizao de empregados permanentes.

    De acordo com as definies constantes das sucessivas Instrues Normativas (IN)

    18 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm

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    expedidas pelo INSS em matria de procedimentos nas linhas de Benefcios e Arrecadao, so considerados:

    I produtor: aquele que, proprietrio ou no, desenvolve atividade agrcola, pastoril ou hortifrutigranjeira, por conta prpria, individualmente ou em regime de economia familiar;

    II parceiro: aquele que, comprovadamente, tem contrato de parceria com o proprietrio da terra ou detento da posse e desenvolve atividade agrcola, pastoril ou hortifrutigranjeira, partilhando o lucro conforme o ajuste;

    III meeiro: aquele que, comprovadamente, tem contrato com o proprietrio da terra ou detentor da posse e da mesma forma exerce atividade agrcola, pastoril ou hortifrutigranjeira, dividindo os rendimentos auferidos;

    IV arrendatrio: aquele que, comprovadamente, utiliza a terra, mediante pagamento de aluguel, em espcie ou in natura, ao proprietrio do imvel rural, para desenvolver atividade agrcola, pastoril ou hortifrutigranjeira, individualmente ou em regime de economia familiar, sem utilizao de mo de obra assalariada de qualquer espcie;

    V comodatrio: aquele que, comprovadamente, explora a terra pertencente a outra pessoa, por emprstimo gratuito, por tempo determinado ou no, para desenvolver atividade agrcola, pastoril ou hortifrutigranjeira;

    VI condmino: aquele que se qualifica individualmente como explorador de reas de propriedades definidas em percentuais;

    VII pescador artesanal ou assemelhado: aquele que, individualmente ou em regime de economia familiar, faz da pesca sua profisso habitual ou meio principal de vida, desde que:

    a) no utilize embarcao; b) utilize embarcao de at seis toneladas de arqueao bruta, ainda que com o

    auxlio de parceiro; c) na condio, exclusiva, de parceiro outorgado, utilize embarcao de at dez

    toneladas de arqueao bruta; VIII mariscador: aquele que, sem utilizar embarcao pesqueira, exerce atividade

    de captura ou de extrao de elementos animais ou vegetais que tenham na gua seu meio normal ou mais freqente de vida, na beira do mar, no rio ou na lagoa;

    IX ndios em via de integrao ou isolado: aqueles que, no podendo exercer diretamente seus direitos, so tutelados pelo rgo regional da Fundao Nacional do ndio (FUNAI).

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    Sero considerados segurados especiais os integrantes de entidade familiar que exeram a atividade rural, mas o fato de algum dos integrantes no realizar o trabalho em regime de economia familiar no descaracteriza a condio dos demais familiares. Este o entendimento da Turma Nacional de Uniformizao (TNU), em sua smula n. 41, que dispe: A circunstncia de um dos integrantes do ncleo familiar desempenhar atividade urbana no implica, por si s, a descaracterizao do trabalhador rural como segurado especial, condio que deve ser analisada no caso concreto 19.

    Entende-se por grupo familiar o composto pelo cnjuge ou companheiro, pelo filho maior de 16 anos de idade e pelo equiparado a filho, mediante declarao junto ao INSS, tambm maior de 16 anos.

    As pessoas citadas no pargrafo acima devero ter participao ativa nas atividades rurais do grupo familiar, devem provar tambm a atividade rural, para que sejam consideradas seguradas especiais.

    Ademais, importante salientar uma grande inovao da Lei n. 11.718/08. O grupo familiar poder utilizar-se de empregados contratados por prazo determinado ou trabalhador eventual, desde que em pocas de safra, por no mximo de 120 (cento e vinte) pessoas/dia por ano civil, em perodos corridos ou intercalados, ou at mesmo por tempo equivalente em horas de trabalho.

    Cabe ressaltar, ainda, que, em conformidade com o art. 11, 9, da Lei n. 8.213, de 24 de julho de 1991, conhecida como Lei de Benefcios, fica excludo do enquadramento como segurado especial o membro do grupo familiar que possuir outra fonte de rendimento, hiptese em que ser considerado contribuinte individual, exceto se decorrente de:

    I benefcio de penso por morte, auxlio-acidente ou auxlio-recluso, cujo valor no supere o do menor benefcio de prestao continuada da Previdncia Social; II benefcio previdencirio pela participao em plano de previdncia complementar institudo nos termos do inciso IV do 8o deste artigo; III exerccio de atividade remunerada em perodo de entressafra ou do defeso, no superior a 120 (cento e vinte) dias, corridos ou intercalados, no ano civil, observado o disposto no 13 do art. 12 da Lei no 8.212, de 24 de julho de 1991; IV exerccio de mandato eletivo de dirigente sindical de organizao da categoria de trabalhadores rurais; V exerccio de mandato de vereador do Municpio em que desenvolve a atividade rural ou de dirigente de cooperativa rural constituda, exclusivamente, por segurados especiais, observado o disposto no 13 do art. 12 da Lei no 8.212, de 24 de julho de 1991;

    19 https://www2.cjf.jus.br/phpdoc/virtus/listaSumulas.php?PHPSESSID=6ob28avpem0egej98dkcpb5mv4

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    VI parceria ou meao outorgada na forma e condies estabelecidas no inciso I do 8o deste artigo; VII atividade artesanal desenvolvida com matria-prima produzida pelo respectivo grupo familiar, podendo ser utilizada matria-prima de outra origem, desde que a renda mensal obtida na atividade no exceda ao menor benefcio de prestao continuada da Previdncia Social; e VIII atividade artstica, desde que em valor mensal inferior ao menor benefcio de prestao continuada da Previdncia Social. 20

    Ocorrendo estas hipteses, fica excludo dessa categoria o segurado, conforme o art. 11, 10, da Lei n. 8.213/91:

    I a contar do primeiro dia do ms em que: a) deixar de satisfazer as condies estabelecidas no inciso VII do caput deste artigo, sem prejuzo do disposto no art. 15 desta Lei, ou exceder qualquer dos limites estabelecidos no inciso I do 8o deste artigo; b) se enquadrar em qualquer outra categoria de segurado obrigatrio do Regime Geral de Previdncia Social, ressalvado o disposto nos incisos III, V, VII e VIII do 9o deste artigo, sem prejuzo do disposto no art. 15 desta Lei; e c) tornar-se segurado obrigatrio de outro regime previdencirio; II a contar do primeiro dia do ms subseqente ao da ocorrncia, quando o grupo familiar a que pertence exceder o limite de: a) utilizao de terceiros na explorao da atividade a que se refere o 7o deste artigo; b) dias em atividade remunerada estabelecidos no inciso III do 9o deste artigo; e c) dias de hospedagem a que se refere o inciso II do 8o deste artigo. 21

    No entanto, de acordo com o art. 11, 8, da Lei de Benefcios, no descaracteriza a qualidade de segurado especial:

    I a outorga, por meio de contrato escrito de parceria, meao ou comodato, de at 50% (cinqenta por cento) de imvel rural cuja rea total no seja superior a 4 (quatro) mdulos fiscais, desde que outorgante e outorgado continuem a exercer a respectiva atividade, individualmente ou em regime de economia familiar; II a explorao da atividade turstica da propriedade rural, inclusive com hospedagem, por no mais de 120 (cento e vinte) dias ao ano; III a participao em plano de previdncia complementar institudo por entidade classista a que seja associado em razo da condio de trabalhador rural ou de produtor rural em regime de economia familiar; e IV ser beneficirio ou fazer parte de grupo familiar que tem algum componente que seja beneficirio de programa assistencial oficial de governo; V a utilizao pelo prprio grupo familiar, na explorao da atividade, de processo de beneficiamento ou industrializao artesanal, na forma do 11 do art. 25 da Lei no 8.212, de 24 de julho de 1991; e

    20 http://www010.dataprev.gov.br/sislex/paginas/42/1991/8213.htm

    21 http://www010.dataprev.gov.br/sislex/paginas/42/1991/8213.htm

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    VI a associao em cooperativa agropecuria. 22

    Verifica-se que a Legislao Previdenciria, conceito este que deve ser interpretado de forma ampla, de forma a abranger a Lei de Benefcios, Lei de Custeio, Regulamento da Previdncia Social e as Instrues Normativas, define de forma clara quais so as categorias de profissionais que se enquadram como segurado especial, com suas atividades devidamente especificadas.

    A inteno, tanto do legislador quanto da Administrao Pblica, evitar dvida no que tange caracterizao do trabalhador rural como segurado especial, para que um benefcio previdencirio no seja concedido erroneamente. Conseqentemente, diminui de forma considervel o dficit previdencirio.

    22 http://www010.dataprev.gov.br/sislex/paginas/42/1991/8213.htm (ibid)

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    4 ASPECTOS GERAIS DO BENEFCIO DE APOSENTADORIA POR IDADE DO TRABALHADOR RURAL

    4.1 Noes Introdutrias

    Como fora dito alhures, desde o advento da Constituio Federal de 1988, os trabalhadores rurais passaram a ter os mesmos direitos mnimos concedidos aos trabalhadores urbanos, de acordo com o art. 7 da Lei Maior.

    Dentre estes direitos, destaca-se o direito aposentadoria, previsto no inciso XXIV, do artigo acima mencionado.

    O dispositivo constitucional assegurou o direito aposentadoria como um direito de todos os trabalhadores, inclusive aos empregados domsticos, por extenso prevista no art. 7, pargrafo nico, da Constituio Federal de 1988.

    Aposentadoria o direito que tem o trabalhador de passar para a inatividade, isto , parar de trabalhar, recebendo uma quantia chamada proventos e que, em tese, deve garantir-lhe um final de vida tranqilo depois de um perodo de trabalho.

    A aposentadoria pode ser por tempo de servio, por idade ou por invalidez e neste inciso, a CF/88 parece ter admitido qualquer dessas formas.

    Ademais, o art. 201, 7, da Carta Magna, com redao dada pela Emenda Constitucional n. 20/1998, assegurou a aposentadoria no RGPS, nos termos da lei previdenciria, obedecidas as seguintes condies:

    [...]; II sessenta e cinco anos de idade, se homem, e sessenta anos de idade, se mulher, reduzido em cinco anos o limite para os trabalhadores rurais de ambos os sexos e para os que exeram suas atividades em regime de economia familiar, nestes includos o produtor rural, o garimpeiro e o pescador artesanal. 23

    Essa regra de reduo de tempo para o trabalhador rural vale, portanto, tanto para o trabalhador rural empregado, eventual, avulso e segurado especial, bem como para o garimpeiro, o produtor rural e o pescador artesanal que comprovem o exerccio de atividade

    23 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm

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    em regime de economia familiar. importante dizer que esta reduo no se estende ao empregador rural.

    O prazo diferenciado na rea rural tem como justificativa o fato de que o trabalho seria mais rduo, vez que o segurado presta servios a cu aberto, sujeito a sol, chuva, frio e a quaisquer outros eventos naturais, se desgastando mais rapidamente do que outra pessoa.24

    Vislumbra-se, ento, uma das peculiaridades acerca do benefcio de aposentadoria por idade do trabalhador rural, tema do presente trabalho.

    Este benefcio era conhecido como aposentadoria por velhice, assumindo a atual denominao com a edio da Lei n. 8.213/91.

    O segurado empregado, inclusive o domstico, ter direito a aposentadoria por idade a partir da data do desligamento do emprego, quando requerida at 90 dias depois dela ou a partir da data do requerimento, quando no houver desligamento do emprego ou quando for requerida aps o transcurso o prazo de 90 dias.

    Para os demais segurados, o benefcio ser devido a partir da data da entrada do requerimento.

    Estas duas regras esto previstas no art. 49 da Lei n. 8.213/91. Cabe ressaltar que a carncia exigida para a concesso do benefcio de cento e

    oitenta (180) contribuies mensais, exigvel somente para os segurados filiados ao RGPS aps 24/07/1991, data da promulgao da Lei n. 8.213/91, que aumentou este perodo de 60 para 180 meses.

    Para os demais segurados, deve-se obedincia a tabela prevista no art. 142 da Lei n. 8.213/91, a qual leva em conta o ano em que o segurado implementou ou implementar as condies necessrias obteno do benefcio.

    Segundo a Lei n. 10.666, de 8 de maio de 2003, a perda da qualidade de segurado no ser considerada para a concesso de aposentadoria por idade, desde que o trabalhador tenha cumprido o tempo mnimo de contribuio exigido. Nesse caso, o valor do benefcio ser de um salrio mnimo, se no houver contribuies depois de julho de 1994.

    A redao do Enunciado n. 16 da Turma Recursal do Juizado Especial Federal de So Paulo corrobora com esta posio: Para a concesso de aposentadoria por idade, desde que preenchidos os requisitos legais, irrelevante o fato do requerente, ao atingir a idade mnima, no mais ostentar a qualidade de segurado 25.

    24 MARTINS, 2011, p. 349.

    25 http://www.jfsp.jus.br/assets/Uploads/administrativo/GADI/atos/Enunciados-TR-JEF-SP.pdf

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    Cabe ressalvar que, conforme a Instruo Normativa (IN) n. 45, do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), o disposto na Lei n. 10.666/03 e no Enunciado, acima transcrito, s aplicado ao trabalhador urbano.

    4.2 A Aposentadoria por Idade do Trabalhador Rural

    A aposentadoria por idade, que ao lado da aposentadoria por contribuio um dos benefcios previdencirios mais conhecidos, visa a garantir a manuteno do segurado e de sua famlia quando a idade avanada no permite que se de continuidade atividade laborativa. Tem previso legal na Lei n. 8.213/91, arts. 48 a 51, e no Regulamento da Previdncia Social, arts. 51 a 55.

    O benefcio ser concedido ao segurado que atingir os 65 anos de idade, se homem, e 60 anos de idade, se mulher, havendo reduo em 5 (cinco) anos para os trabalhadores rurais de ambos os sexos e para os que exercem atividade em regime de economia familiar, includos os segurados indicados pelo art. 201, 7, inciso II, da CF/88.

    A concesso da aposentadoria do trabalhador rural por idade, prevista no art. 48 da Lei n. 8.213/91, est condicionada ao preenchimento de dois requisitos, quais sejam, a idade mnima de 60 anos para o homem e de 55 anos para a mulher, e a comprovao do exerccio de atividade rural, nos termos do art. 143 da Lei supracitada.

    O art. 143 da Legislao Previdenciria Vigente limitou em quinze anos, a partir de 25/07/1991, o direito do trabalhador rural, enquadrado como segurado obrigatrio do RGPS, de requerer a concesso da aposentadoria por idade, no valor de um salrio mnimo.

    O prazo do art. 143 foi prorrogado por dois anos, pela Medida Provisria n. 312, de 19/07/2006, convertida na Lei n. 11.368/2006 e novamente prorrogado pelo art. 2 da Lei n. 11.718/2008, at 31 de dezembro de 2010.

    Desta feita, o trabalhador rural (empregado e contribuinte individual), enquadrado como segurado obrigatrio do Regime Geral de Previdncia Social (RGPS), pde requerer aposentadoria por idade, no valor de um salrio-mnimo, at 31 de dezembro de 2010, desde que comprove o efetivo exerccio da atividade rural, ainda que de forma descontnua, em nmero de meses igual carncia exigida. Para o segurado especial no h limite de data.

    O trabalhador rural, enquadrado como empregado ou autnomo e o segurado especial, pode requerer aposentadoria por idade, no valor de um salrio-mnimo, durante 17 anos, contados a partir da data de vigncia da Lei, desde que comprove o exerccio de

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    atividade rural, ainda que descontnua, no perodo imediatamente anterior ao requerimento do benefcio, em nmero de meses idnticos carncia deste benefcio.

    oportuno dizer que os requisitos de carncia e idade so cumulativos, pois o direito aposentadoria somente adquirido com o preenchimento de todos os requisitos.

    importante observar, ainda, a Lei n. 10.666/03, em especial o art. 3, que dever ser aplicado com o art. 15 da IN n. 45.

    Ante a necessidade de comprovao do efetivo exerccio de atividade rural, os dispositivos supramencionados determinam que a perda da qualidade de segurado no ser considerada para a concesso das aposentadorias por tempo de contribuio, inclusive de professor, especial e por idade. Esta regra aplicada apenas ao trabalhador urbano.

    Quanto ao trabalhador rural, deve ser destacado o pargrafo nico do art. 15, da IN n. 45, que dispe:

    [...] Pargrafo nico. Aplicar-se- o disposto no caput ao trabalhador rural: I - empregado e trabalhador avulso, referidos na alnea a do inciso I e inciso VI do art. 11 da Lei n 8.213, de 1991, que comprovem a atividade a partir de novembro de 1991, independente da comprovao do recolhimento das contribuies; e II - contribuinte individual e segurado especial, referidos na alnea g do inciso V e inciso VII do art. 11 da Lei n 8.213, de 1991, desde que comprovem o recolhimento de contribuies aps novembro de 1991. 26

    Com efeito, o trabalhador rural possui regramento especial, em que dever comprovar o exerccio da atividade rural no momento em que postular o benefcio. Deve observar sempre o perodo de manuteno do segurado como trabalhador rural.

    4.3 A comprovao do exerccio de atividade rural

    O segurado especial dever comprovar o efetivo exerccio de atividade rural, ainda que de forma descontnua, no perodo imediatamente anterior ao requerimento do benefcio, por tempo igual ao nmero de meses de contribuio correspondente carncia do benefcio pretendido, computado o perodo a que se referem os incisos III a VIII do 9 do art. 11 da

    26 http://www81.dataprev.gov.br/sislex/paginas/38/INSS-PRES/2010/45_1.htm#cp3_s2_sb1

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    Lei de Benefcios. A comprovao feita conforme a apresentao dos documentos previstos no art.

    106 da Legislao Previdenciria Vigente com a redao conferida pela Lei n. 11.718 de 20 de junho de 2008, que so:

    I contrato individual de trabalho ou Carteira de Trabalho e Previdncia Social; II contrato de arrendamento, parceria ou comodato rural; III declarao fundamentada de sindicato que represente o trabalhador rural ou, quando for o caso, de sindicato ou colnia de pescadores, desde que homologada pelo Instituto Nacional do Seguro Social INSS; IV comprovante de cadastro do Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria INCRA, no caso de produtores em regime de economia familiar; V bloco de notas do produtor rural; VI notas fiscais de entrada de mercadorias, de que trata o 7o do art. 30 da Lei no 8.212, de 24 de julho de 1991, emitidas pela empresa adquirente da produo, com indicao do nome do segurado como vendedor; VII documentos fiscais relativos a entrega de produo rural cooperativa agrcola, entreposto de pescado ou outros, com indicao do segurado como vendedor ou consignante; VIII comprovantes de recolhimento de contribuio Previdncia Social decorrentes da comercializao da produo; IX cpia da declarao de imposto de renda, com indicao de renda proveniente da comercializao de produo rural; ou X licena de ocupao ou permisso outorgada pelo Incra. 27

    Alm da apresentao dos documentos previstos no art. 106, a atividade rural pode ser comprovada por meio de prova testemunhal, seja em procedimento administrativo ou judicial. Porm, este meio probatrio no pode ser exclusivo, deve ser acompanhado de incio de prova material, salvo na ocorrncia de motivo de fora maior ou caso fortuito.

    Assim dispe o artigo 55, 3, da Lei n 8.213, de 24 de julho de 1991, verbis:

    A comprovao do tempo de servio para os efeitos desta lei, inclusive mediante justificao administrativa ou judicial, conforme o disposto no art. 108, s produzir efeito quando baseada em incio de prova material, no sendo admitida prova exclusivamente testemunhal, salvo na ocorrncia de motivo de fora maior ou caso fortuito, conforme disposto no regulamento. 28

    Com efeito, para fins de comprovao do tempo de labor rural, o incio de prova ma -

    27 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11718.htm

    28 http://www010.dataprev.gov.br/sislex/paginas/42/1991/8213.htm

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    terial de que trata o artigo citado acima deve ser contemporneo poca dos fatos a provar. S certido de casamento nada prova. apenas uma declarao informando a profisso Deve ser analisada com outros documentos.

    Quanto ao perodo de carncia, o art. 48, 2, da mesma lei, prev que o trabalhador rural deve comprovar o efetivo exerccio de atividade rural, ainda que de forma descontnua, no perodo imediatamente anterior ao requerimento do benefcio, por tempo igual ao nmero de meses de contribuio correspondente carncia do benefcio pretendido, computados os perodos em que o trabalhador estava nas seguintes situaes:

    - exerccio de atividade remunerada em perodo de entressafra ou do defeso, no superior a 120 (cento e vinte) dias, corridos ou intercalados, no ano civil, observado o disposto no 13, do art. 12, da Lei 8.212, de 24 de julho de 1991;

    - exerccio de mandato eletivo de dirigente sindical de organizao da categoria de trabalhadores rurais;

    - exerccio de mandato de vereador do Municpio em que desenvolve a atividade rural ou de dirigente de cooperativa rural constituda, exclusivamente, por segurados especiais, observado o disposto no 13, do art. 12, da Lei 8.212/91;

    - parceria ou meao outorgada na forma e condies estabelecidas no inciso I do 8, da Lei 8.213/91;

    - atividade artesanal desenvolvida com matria-prima produzida pelo respectivo grupo familiar, podendo ser utilizada matria-prima de outra origem, desde que a renda mensal obtida na atividade no exceda ao menor benefcio de prestao continuada da Previdncia Social; e

    - atividade artstica, desde que em valor mensal inferior ao menor benefcio de prestao continuada da Previdncia Social.

    necessrio definir o que forma descontnua para os efeitos legais. So considerados como forma descontnua os perodos intercalados de exerccio de

    atividades rurais, ou urbana e rural, sem que ocorra a perda da qualidade de segurado, e os perodos imediatamente anteriores ao requerimento do benefcio.

    Assim, o segurado poder obter o benefcio ao cumprir os nmeros de meses de trabalho idntico carncia relativa ao benefcio, exclusivamente em atividade rural ou de forma descontnua.

    A carncia do segurado especial, como regra geral e de modo distinto aos demais segurados, contada somente com base no tempo de atividade rural, mesmo sem comprovao de recolhimento. A regra do art. 143, da Lei de Benefcios, estendeu este direito

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    a todos os trabalhadores rurais, mas somente durante 15 (quinze) anos, a partir de 25/07/1991, conforme j dito anteriormente.

    Cabe ressaltar, ainda, que a aposentadoria por idade do trabalhador rural uma das preocupaes do Poder Pblico em matria de Previdncia Social, em face das vantagens oferecidas ao segurado para requerer o benefcio sem que tenha havido de fato trabalho nesta condio.29

    Ademais, h entendimento neste mesmo sentido:

    A Constituio, de certa forma, melhorou a situao do homem do campo, pois no regime anterior havia dois sistemas, um urbano e outro rural, e o atual sistema igual para ambos, ainda assegurando pelo menos um salrio-mnimo ao trabalhador rural, o que no ocorria no sistema anterior em que podia perceber valor inferior. Entretanto, no mais se justifica conceder aposentadoria ao trabalhador rural sem nunca ter contribudo, apenas porque essa pessoa comprove o exerccio da atividade rural em nmero de meses igual carncia do benefcio, mesmo que de forma descontnua (art. 143 da Lei n. 8.213/91). H o inconveniente tambm de que se arrecada pouco no campo para o volume de benefcios em valor que se paga. 30

    As aposentadorias dos trabalhadores rurais sem contribuio tm trazido um alto nmero de fraudes ao Sistema Previdencirio, mas nada impede que o trabalhador rural recolha normalmente a sua contribuio para ter direito a uma aposentadoria comum e igual do trabalhador urbano.

    Fbio Zambitte Ibrahim coaduna com a posio acima destacada, no sentido em que a inteno da Carta Magna evitar fraudes no sistema, com pessoas tendo benefcios precoces em razo de pequeno tempo de atividade rural.31

    Alm do nmero excessivo de fraudes, o setor rural pode ser considerado como um dos grandes responsveis pelo dficit previdencirio, que agravou desde a incluso dos trabalhadores rurais entre o rol dos beneficirios.

    So pagos aproximadamente 30 (trinta) milhes de benefcios entre aposentadoria e penses, divididos em 20 (vinte) milhes para os trabalhadores da rea urbana e 10 (dez) milhes para trabalhadores da rea rural. Trata-se de uma quantidade obviamente estimativa, mas bem prxima do nmero real.

    29 CASTRO, 2011, p. 623.

    30 MARTINS, 2011, p. 350.

    31 IBRAHIM, 2011, p. 593.

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    Deve-se considerar que, indubitavelmente, a arrecadao da rea urbana supera as despesas, ano aps ano. Porm, esta arrecadao no o suficiente para cobrir o dficit causado pelo pagamento feito aos trabalhadores rurais.

    Em razo de todas estas peculiaridades, o procedimento de comprovao, embora extenso e complexo, se justifica, vez que se objetiva frear o nmero de fraudes no sistema previdencirio e reduzir o dficit aos cofres pblicos.

    4.3.1 A comprovao perante a Administrao Pblica

    O Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), autarquia federal vinculada ao Ministrio da Previdncia Social, regulada por meio de instrues normativas.

    Conforme visto no tpico anterior, o setor rural um dos grandes responsveis pelo dficit da Previdncia Social, em virtude de um sistema no contributivo por parte dos trabalhadores rurais.

    Este fato em conjunto ao excessivo nmero de fraudes no sistema so os responsveis pela extensa forma de comprovao da atividade rural por parte do trabalhador do campo.

    As instrues normativas tm o intuito de uniformizar os critrios de aplicao e interpretao da legislao previdenciria, pois facilita a compreenso do contribuinte. Ademais, determinam as diretrizes de atuao de seus servidores no que tange as decises acerca dos benefcios.

    Com isso, alm da Lei n. 8.213/91, tanto a Administrao Pblica quanto o trabalhador rural devem observar as regras contidas na Instruo Normativa (IN) n. 45, de 6 de agosto de 2010.

    A comprovao do exerccio da atividade do segurado empregado, at dezembro de 2010, seja ele urbano ou rural, dever ser feita por um dos documentos previstos no art. 80 da IN 45, com as particularidades previstas em seus 1 e 2, quais sejam:

    I - CP ou CTPS; II - declarao fornecida pela empresa, devidamente assinada e identificada por seu responsvel, acompanhada do original ou cpia autenticada da Ficha de Registro de Empregados ou do Livro de Registro de Empregados, onde conste o referido registro do trabalhador; III - contrato individual de trabalho;

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    IV - acordo coletivo de trabalho, desde que caracterize o trabalhador como signatrio e comprove seu registro na respectiva Delegacia Regional do Trabalho - DRT; V - termo de resciso contratual ou comprovante de recebimento do Fundo de Garantia de Tempo de Servio - FGTS; VI - recibos de pagamento contemporneos ao fato alegado, com a necessria identificao do empregador e do empregado; ou VII - cpia autenticada do carto, livro ou folha de ponto ou ainda outros documentos que podero vir a comprovar o exerccio de atividade junto empresa. 32

    No caso do trabalhador rural poder ser aceita declarao do empregador, comprovado mediante apresentao dos documentos originais que serviram de base para a sua emisso, alm dos documentos acima relacionados, confirmando, assim, o vnculo empregatcio, a qual dever constar:

    I - a qualificao do declarante, inclusive os respectivos nmeros do CPF e do CEI, ou, quando for o caso, do CNPJ; II - identificao e endereo completo do imvel rural onde os servios foram prestados, a que ttulo detinha a sua posse; III - identificao do trabalhador e indicao das parcelas salariais pagas, bem como das datas de incio e trmino da prestao de servios; e IV - informao sobre a existncia de registro em livros, folhas de salrios ou qualquer outro documento que comprove o vnculo. A comprovao da atividade rural para os segurados empregados para fins de

    aposentadoria por idade nos termos do art. 143 da Lei n 8.213/91, at 31 de dezembro de 2010, alm dos documentos j enumerados, desde que baseada em incio de prova material, poder ser feita atravs de declarao fundamentada de sindicato que represente os trabalhadores rurais ou por duas declaraes de autoridades, homologadas pelo INSS.

    Para o segurado empregado, a partir de 1 de janeiro de 2011, sero contados para efeito de carncia os seguintes perodos trabalhados:

    a) at 31 de dezembro de 2010, a atividade comprovada na forma do art. 143 da Lei de Benefcios;

    b) de janeiro de 2011 a dezembro de 2015, cada ms comprovado de emprego, multiplicado por trs, limitado a doze meses, dentro do respectivo ano civil; e

    c) de janeiro de 2016 a dezembro de 2020, cada ms comprovado de emprego, multiplicado por dois, limitado a doze meses dentro do respectivo ano civil.

    32 http://www81.dataprev.gov.br/sislex/paginas/38/INSS-PRES/2010/45_1.htm#cp3_s2_sb1

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    J a comprovao da atividade rural para o segurado contribuinte individual definido na alnea g, inciso V do art. 11 da Lei n 8.213/91, para fins de aposentadoria por idade at 31 de dezembro de 2010, poder ser feita da mesma forma que os segurados empregados, por meio de declarao fundamentada de sindicato que represente os trabalhadores rurais ou por duas declaraes de autoridades, homologadas pelo INSS.

    O contribuinte individual tambm deve observa regra especial para contagem do tempo trabalhado para efeito de carncia a partir de janeiro de 2011, que ser contado da seguinte forma:

    a) para perodos trabalhados at 31 de dezembro de 2010, a atividade comprovada na forma do art. 143 da Lei n. 8.213/91;

    b) para perodos trabalhados a partir de janeiro de 2011, dever ser observado o disposto no inciso II do art. 27 da Lei n. 8.213/91 (primeira contribuio em dia); e

    c) para perodos trabalhados a partir de janeiro de 2011, na ausncia de Guia de Recolhimento de FGTS e Informaes Previdncia Social (GFIP) informada pelo tomador de servio, a prestao de servio dever ser comprovada por meio de contrato de prestao de servios, recibo de pagamento dos servios prestados, podendo ser feita pesquisa em caso de dvida.

    Quanto ao segurado ex-empregador rural, atual contribuinte individual, ser feita por um dos seguintes documentos:

    I - antiga carteira de empregador rural, com os registros referentes inscrio no ex-INPS;

    II - comprovante de inscrio na Previdncia Social (Ficha de Inscrio de Empregador Rural e Dependentes - FIERD ou CEI); III - cdula G da Declarao do Imposto de Renda Pessoa Fsica - IRPF; IV - Declarao de Produo DP, Declarao Anual para Cadastro de Imvel Rural (autenticada pelo INCRA) ou qualquer outro documento que comprove a produo; V - livro de registro de empregados rurais; VI - declarao de firma individual rural; ou VII - qualquer outro documento que possa levar convico do fato a comprovar. importante ressaltar que o segurado dever comprovar o recolhimento. A IN 45, aps demonstrar como forma de comprovao do segurado empregado e

    do contribuinte individual como trabalhadores rurais, tratou de destacar a espcie de segurado obrigatrio com maior ndice de rurcolas, qual seja a do segurado especial.

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    O segurado especial comprovar o exerccio de atividade rural mediante a apresentao dos documentos abaixo, conforme disposio do art. 115:

    I - contrato de arrendamento, parceria ou comodato rural; II - declarao fundamentada de sindicato que represente o trabalhador rural ou, quando for o caso, de sindicato ou colnia de pescadores, desde que homologada pelo INSS; III - comprovante de cadastro do Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria - INCRA, atravs do Certificado de Cadastro de Imvel Rural - CCIR ou qualquer outro documento emitido por esse rgo que indique ser o beneficirio proprietrio de imvel rural ou exercer atividade rural como usufruturio, possuidor, assentado, parceiro ou meeiro outorgado, comodatrio ou arrendatrio rural; IV - bloco de notas do produtor rural; V - notas fiscais de entrada de mercadorias, de que trata o 24 do art. 225 do RPS, emitidas pela empresa adquirente da produo, com indicao do nome do segurado como vendedor; VI - documentos fiscais relativos entrega de produo rural cooperativa agrcola, entreposto de pescado ou outros, com indicao do segurado como vendedor ou consignante; VII - comprovantes de recolhimento de contribuio Previdncia Social decorrentes da comercializao da produo; VIII - cpia da declarao de imposto de renda, com indicao de renda proveniente da comercializao de produo rural; IX - cpia da declarao do Imposto Territorial Rural - ITR; X - licena de ocupao ou permisso outorgada pelo INCRA; ou XI - certido fornecida pela FUNAI, certificando a condio do ndio como trabalhador rural, observado o 1 do art. 132. 33

    Cabe salientar que, para fins de comprovao do exerccio de atividade rural em regime de economia familiar, a apresentao dos documentos referidos no art. 115 no dispensa a apreciao e confrontao dos mesmos com as informaes constantes nos sistemas corporativos da Previdncia Social e dos rgos conveniados.

    Alm dos documentos que devero ser apresentados ao INSS ao requerer o benefcio de aposentadoria por idade, o segurado ser submetido Entrevista, sendo obrigatria a sua realizao, independente dos documentos apresentados, nos termos do art. 134 e seguintes, da IN 45.

    A entrevista elemento indispensvel comprovao do exerccio da atividade rural e da forma como ela foi exercida, inclusive para confirmao dos dados contidos em declaraes sindicais e de autoridades, com vistas ao reconhecimento ou no do direito ao benefcio pleiteado.

    O servidor do INSS, responsvel pela entrevista, dever coletar informaes porme -

    33 http://www81.dataprev.gov.br/sislex/paginas/38/INSS-PRES/2010/45_1.htm#cp3_s2_sb1

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    norizadas sobre a situao e a forma como foram prestadas, levando-se em considerao as peculiaridades inerentes a cada localidade e a atividade exercida.

    Outrossim, o servidor, sob pena de nulidade da entrevista, dever informar o entrevistado sobre as penalidades previstas no art. 299 do Cdigo Penal e, poder formular tantas perguntas quantas julgar necessrio para formar juzo sobre o exerccio da atividade do segurado, objetivando definir a categoria do requerente.

    Dever, por fim, emitir a sua concluso da entrevista, manifestando-se acerca da coerncia dos fatos narrados pelo entrevistado em relao ao exerccio da alegada atividade rural.

    Consoante ao que j fora dito anteriormente, o procedimento de comprovao, embora extenso e at complexo, devidamente justificado, com vistas a reduzir o dficit e nmero de fraudes ao errio e capacitar melhores benefcios aos segurados da Previdncia Social.

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    5 A POSTULAO DO BENEFCIO NO PODER JUDICIRIO

    5.1 O processamento da ao previdenciria

    A aposentadoria por idade um dos benefcios previdencirios mais pretendidos pelos trabalhadores, principalmente os trabalhadores rurais, visto que a aposentadoria por tempo de contribuio s pode ser concedida mediante o pagamento, ou seja, mediante contribuio.

    Como j fora demonstrado anteriormente, a aposentadoria o direito que tem o trabalhador de passar para a inatividade, isto , parar de trabalhar, recebendo uma quantia chamada proventos e que, em tese, deve garantir-lhe um final de vida tranqilo depois de um perodo de trabalho.

    Ao postular o benefcio perante Administrao Pblica, nem sempre o segurado o obtm. A partir deste momento que se d incio ao litgio, no qual se procurar o Poder Judicirio para a soluo da lide.

    E neste sentido, deve-se observar o art. 5, inciso XXXV, da Constituio Federal de 1988: A lei no excluir da apreciao do Poder Judicirio leso ou ameaa a direito 34.

    Normalmente, o segurado procura o rgo da Administrao Pblica competente para os pedidos de benefcios, qual se