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IZETE MATOS GERALDO LEITE GILBERTO LUVISOTTO DESVIOS DE QUALIDADE NA FABRICAÇÃO DE CINTOS DE SEGURANÇA Monografia de Conclusão do CEAI - Curso de Especialização em Administração Industrial da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo São Paulo 2008

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IZETE MATOS

GERALDO LEITE

GILBERTO LUVISOTTO

DESVIOS DE QUALIDADE NA FABRICAÇÃO DE

CINTOS DE SEGURANÇA

Monografia de Conclusão do CEAI - Curso de

Especialização em Administração Industrial da Escola

Politécnica da Universidade de São Paulo

São Paulo

2008

2

IZETE MATOS

GERALDO LEITE

GILBERTO LUVISOTTO

DESVIOS DE QUALIDADE NA FABRICAÇÃO DE

CINTOS DE SEGURANÇA

Monografia apresentada à Escola Politécnica da USP

para obtenção do título de Especialista em

Administração Industrial

Área de Concentração: Gestão da Qualidade

Orientador: Prof. Dr. Antônio Cantizani Filho

São Paulo

2008

3º Quadrimestre

3

AGRADECIMENTOS

Agradecemos aos nossos professores da Fundação Vanzolini pelo apoio, dedicação e

paciência nestes 2 anos de curso. Estamos certos de sua contribuição para nosso crescimento

pessoal e profissional.

Aos amigos de estudos e colegas de classe, agradecemos pelo companheirismo e troca

de informações e experiências constantes, de grande valor para o nosso cotidiano e como

fonte inspiradora para o tema deste trabalho.

Agradecemos também aos nossos familiares, que compreenderam nossa ausência e

nosso esforço pela busca de um futuro melhor em nossas carreiras.

E, finalmente, agradecemos as nossas empresas, que contribuíram e apoiaram nossas

atividades estudantis, de forma a agregar valor ao nosso trabalho e a nós mesmos.

4

RESUMO

O trabalho consiste em realizar a análise de um desvio da qualidade no processo de

montagem de componentes para cintos de segurança. Trata-se de um caso real que está

impactando negativamente no resultado da empresa.

Com fundamentação teórica utilizaremos a metodologia e as ferramentas da qualidade

adequadas para investigar e identificar as possíveis causas do desvio da qualidade do

produto/processo e desenvolveremos ações corretivas, preventivas e propostas de melhoria.

O grupo pretende, com base em um estudo aprofundado, demonstrar como identificar

os desvios/problemas, as oportunidades de melhorias e os benefícios trazidos à empresa ao

implantá-las, sanando a ocorrência.

5

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO................................................................................................................... 09

1.1. A História do Cinto de Segurança..................................................................................... 09

1.2. A Empresa......................................................................................................................... 10

1.3. Apresentação do Problema................................................................................................ 10

1.4. Objetivos do Trabalho....................................................................................................... 11

1.5. Relevância do Tema.......................................................................................................... 12

1.6. Estrutura do Trabalho........................................................................................................ 13

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA....................................................................................... 14

2.1. O que é Qualidade............................................................................................................. 14

2.2. Diagrama de Pareto........................................................................................................... 16

2.3. Diagrama de Ishikawa....................................................................................................... 18

2.4. Ciclo PDCA...................................................................................................................... 20

2.5. Lição Ponto a Ponto.......................................................................................................... 22

3. COLETA DE DADOS........................................................................................................ 23

3.1. Identificação do Problema................................................................................................ 23

3.2. Análise da Causa............................................................................................................... 24

3.3. Implantação das Ações..................................................................................................... 28

3.4. Análise de Eficácia das Propostas.................................................................................... 39

4. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS................................................................................... 43

5. CONCLUSÃO..................................................................................................................... 46

ANEXO 1: Ensaio de Compressão nº 000010......................................................................... 47

ANEXO 2: Ensaio de Extração nº 000011.............................................................................. 49

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS..................................................................................... 51

6

LISTA DE FIGURAS

Figura 1.1 – Cinto de Segurança Netuno................................................................................. 11

Figura 2.1 – Diagrama de Pareto............................................................................................. 17

Figura 2.2 – Diagrama de Ishikawa......................................................................................... 19

Figura 2.3 – Ciclo PDCA......................................................................................................... 20

Figura 3.1 – Diagrama de Pareto referente ao Estudo de Caso................................................ 24

Figura 3.2 – Parafuso e Guia Metálica..................................................................................... 25

Figura 3.3 – Diagrama de Ishikawa (Análise dos Problemas no Conjunto do Regulador de

Altura)...................................................................................................................................... 26

Figura 3.4 – Parafuso, Guia Metálica e Guia Plástica.............................................................. 31

Figura 3.5 – Face Interna da Cabeça do Parafuso não encostada no Fundo do Alojamento da

Guia Metálica........................................................................................................................... 32

Figura 3.6 – Face Interna da Cabeça do Parafuso encostada no Fundo do Alojamento da Guia

Metálica.................................................................................................................................... 32

Figura 3.7 – Dispositivo Poka-Yoke (Montagem Incorreta do Subconjunto)......................... 33

Figura 3.8 – Dispositivo Poka-Yoke (Montagem Correta do Subconjunto)............................ 34

Figura 3.9 – Bucha de Recalque.............................................................................................. 34

Figura 3.10 – Máquina de Cravamento das Buchas................................................................. 35

Figura 3.11 – Subconjunto Deslocado (Posicionamento Incorreto)........................................ 35

Figura 3.12 – Subconjunto com Sensor (Posicionamento Correto)......................................... 36

Figura 3.13 – Cabeça do Parafuso fora de Especificação........................................................ 37

Figura 3.14 – Bucha fora de Posição....................................................................................... 37

Figura 3.15 – Especificações do Parafuso............................................................................... 37

Figura 3.16 – Especificações da Bucha................................................................................... 39

Figura 4.1 – Reclamações de Clientes 2008............................................................................ 43

7

LISTA DE TABELAS

Tabela 3.1 – Plano de Ação para resolução do problema do Regulador de Altura dos Cintos de

Segurança............................................................................................................... 29

Tabela 3.2 – Resultados do Plano de Ação implantado para resolução do problema do

Regulador de Altura dos Cintos de Segurança....................................................... 40

Tabela 4.1 – Percentual de Investimentos em relação ao Faturamento Mensal....................... 44

8

LISTA DE SIGLAS

Check-List – Lista de Verificações

Kgf – unidade de medida Kilograma Força

LPP – Lição Ponto a Ponto

min – unidade de medida Minutos

mm – unidade de medida Milímetros

N – unidade de medida Newton

PCP – Planejamento e Controle da Produção

P & D – Pesquisa e Desenvolvimento

PDCA – Método de Gestão baseado em 4 passos: Plan, Do, Check, Act (planejar, fazer,

checar e agir)

SAC – Serviço de Atendimento ao Cliente

Sanc - Solicitação de Análise de Não Conformidade

Top – Limite ou Encosto do Dispositivo

Poka-Yoke – Dispositivo à Prova de Erro

Try out – Teste Pré-Operação

9

1. INTRODUÇÃO

Quando se aborda o tema Qualidade tem-se, como foco principal, as características de

satisfação que um produto ou serviço proporciona aos seus clientes, acionistas, fornecedores e

à sociedade como um todo. Para que esta qualidade seja alcançada, toda cadeia produtiva da

empresa deve estar envolvida, incluindo desde operadores até a diretoria, seja da área de

qualidade ou não.

Em um mercado altamente competitivo, as indústrias se esforçam cada vez mais para

manter o padrão de qualidade dos produtos que fabricam e, até mesmo, superar os padrões

atuais.

Por isso, implantar um sistema de Gestão de Qualidade tem se tornado um requisito

indispensável nas indústrias para que possam estar inseridas competitivamente no mercado.

Isso passa a ser um pré-requisito para a efetivação de negócios, principalmente no mercado

externo.

Avaliando-se o contexto dos impactos gerados por desvios de qualidade na

competitividade das empresas e no mercado consumidor, torna-se clara a importância da

análise e discussão desse projeto.

1.1. A História do Cinto de Segurança

O cinto de segurança é um dos mecanismos mais conhecidos e universais de proteção

de ocupantes de veículos. É inquestionável o poder que esse mecanismo possui de reduzir a

probabilidade de mortes e de lesões graves de um ocupante e, ainda hoje, não há qualquer

outra solução de engenharia que suplante essa proteção.

O aparato foi desenvolvido durante a 2ª Guerra Mundial para evitar a morte de pilotos

de avião, por serem lançados para fora da cabine nos casos de aterrissagens forçadas.

Situações muito semelhantes, guardadas as devidas proporções, ocorriam em casos de colisão

e capotagem de veículos: um alto número de mortes por ejeções de ocupantes. Foi para se

evitar este fato e, por conseguinte, a morte do ocupante, que a indústria automobilística

passou a introduzir em seus produtos, lentamente ao longo da década de 60 e 70, uma

adaptação daquele mecanismo que a experiência da indústria aeronáutica tinha demonstrado

ser adequadamente eficiente.

Esse mecanismo para a retenção dos ocupantes de um veículo em seus assentos

também contribui para reduzir a probabilidade de choque dos corpos dos ocupantes contra a

10

estrutura interna dos veículos (painel de instrumentos, volante e, principalmente, pára-brisa),

nos casos de colisão ou freada brusca. É obrigatório por lei em aeronaves e veículos

automotores, exceto motocicletas, em quase todos os países do mundo. Em 1998 passou a ser

obrigatoriedade em todo território nacional.

Inicialmente, os cintos de segurança envolviam apenas o abdômen do usuário,

permitindo assim que o tronco fosse projetado para frente no momento da desaceleração.

Aperfeiçoados, os equipamentos modernos, chamados de cintos de segurança de três pontos,

cruzam o peito do usuário, proporcionando-lhe maior segurança. Até mesmo os bancos

traseiros já utilizam o novo modelo, não sendo freqüentemente desprezados como antes.

Em alguns automóveis modernos, sobretudo nos países desenvolvidos, uma

campainha soa ininterruptamente enquanto os cintos de segurança não forem afivelados,

obrigando os ocupantes do veículo a usá-los. Em outros, um mecanismo montado ao longo do

batente das portas afivela automaticamente os cintos, assim que estas são fechadas.

1.2. A Empresa

A Tecno Cintos de Segurança Ltda. (nome fictício para salvaguarda da fonte) fabrica

cintos de segurança e também alguns de seus componentes, oferecendo alta qualidade e

produtos em conformidade com as mais rigorosas normas e especificações técnicas,

equipando automóveis, camionetes, caminhões e ônibus que circulam pela Europa, Estados

Unidos, México, Rússia, China, Iran, África do Sul, Austrália e toda a América do Sul.

A empresa, localizada em São Paulo, possui atualmente 1,7 mil colaboradores e está

no mercado há 46 anos, atendendo clientes como Fiat, Renault, General Motors.

Sua produção anual gira em torno de 5 milhões de cintos por ano e no ano fiscal de

2007 registrou um faturamento de R$ 240 milhões.

1.3. Apresentação do Problema

O cenário atual da indústria Tecno Cintos é caracterizado por uma empresa de grande

porte, fabricante de cintos de segurança, que, atualmente, apresenta elevados índices de

reclamação por parte das montadoras devido a problemas com o regulador de altura dos cintos

modelo Netuno (Figura 1.1).

11

Figura 1.1 – Conjunto do regulador de altura. Fonte: Tecno Cintos

O trabalho está baseado em um fato real e ilustra como a devolução dos produtos por

grande parte dos clientes está afetando a competitividade da empresa no mercado, devido aos

altos custos gerados por problemas de qualidade.

De acordo com o número de Sanc’s (Solicitação de Análise de Não Conformidade)

abertas pudemos observar que este desvio, especificamente, deve ser tratado de maneira

rápida para que a qualidade dos produtos e a imagem da empresa sejam preservadas.

1.4. Objetivos do Trabalho

O trabalho foi desenvolvido com o objetivo de sanar o principal e mais crítico desvio

da qualidade encontrado na fábrica de cintos de segurança, Tecno Cintos, observado através

das constantes reclamações de mercado e de devoluções de peças com defeito.

Para isso, realizou-se um estudo / uma análise dos desvios da qualidade relacionados à

fabricação dos cintos de segurança, com base em fundamentos teóricos e algumas das

ferramentas da qualidade conhecidas como Pareto, Ishikawa e PDCA, para a investigação de

causas e a implantação de ações corretivas e proposta(s) de melhoria para resolução do

problema mais impactante.

Demonstraremos a eficácia da metodologia utilizada para a determinação da causa raiz

do problema (causa primária) e o benefício de sua aplicação para empresa, considerando a

redução do tempo gasto para investigação do desvio, a precisão dos resultados devido à

possibilidade de identificação e priorização do problema mais crítico, permitindo o tratamento

dos fatores que o causam e o aumento da confiabilidade do processo.

12

Desta maneira, ajustaremos o processo produtivo gerando uma significativa redução

de perda de produto e, conseqüentemente, de reclamações de mercado, proporcionando a

manutenção da qualidade e garantindo a satisfação dos clientes, a integridade da imagem da

empresa e sua permanência no mercado.

1.5. Relevância do Tema

Desvios de qualidade não podem ser analisados isoladamente, já que repercutem

negativamente em diversas áreas da empresa. Internamente, há aumento de perdas, retrabalho

e reprocesso durante as etapas de fabricação, além do aumento de inspeções e testes a serem

realizados. Estes desvios acabam por elevar o custo do produto, com conseqüente aumento do

preço de venda, o que ocasiona uma redução da competitividade do produto no mercado. Ou

ainda, se os preços são mantidos, há sérios prejuízos financeiros para a empresa.

Os defeitos de qualidade que não são identificados internamente e que chegam aos

consumidores acarretam em impactos externos importantes. Clientes insatisfeitos devido à

presença de desvios de qualidade no produto afetam negativamente as vendas da empresa; há

queda no consumo e, conseqüente, queda do faturamento da empresa. A ocorrência prejudica

a imagem do produto e, principalmente, da empresa, uma vez que o marketing negativo se

alastra mais rapidamente que o marketing positivo.

Portanto, é de fundamental importância para Gestão da Qualidade, realizar análises

embasadas para focar as ações nas reais causas dos problemas, as quais geram os maiores

impactos negativos para empresa. Atacando corretamente a fonte causadora do desvio da

qualidade e priorizando determinadas ações (corretivas e/ou preventivas), evitamos perda de

tempo, dinheiro e desgastes desnecessários e aceleramos o processo de tratamento de desvios.

Por isso, o enfoque deste trabalho e sua importância consistem no uso de ferramentas

que nos levam a realização de uma boa gestão da qualidade, a qual se torna essencial para a

fabricação de produtos dentro dos padrões de qualidade exigidos. A excelência em qualidade

possibilita que as empresas reduzam os índices de erros, perdas, retrabalhos, inspeções e

testes, custos e, até mesmo, prazos de lançamento de novos produtos no mercado. Com isso,

aumentam-se os rendimentos, a capacidade produtiva, o desempenho de entregas

(pontualidade e confiabilidade) e as vendas.

O trabalho identifica as etapas que devem ser percorridas para sanar o desvio de

qualidade mais crítico identificado, problema no regulador de altura do cinto de segurança,

13

item de vital importância para a sobrevivência do negócio e para preservação da vida do

consumidor, quando falamos de segurança.

1.6. Estrutura do Trabalho

O trabalho está dividido em 5 capítulos, os quais apresentam os temas relacionados

abaixo:

� Capítulo 1

- Introdução ao tema do trabalho;

- Apresentação do objetivo e importância do assunto tratado.

� Capítulo 2

- Apresentação de fundamentos teóricos, nos quais o trabalho foi baseado;

- Apresentação das Ferramentas da Qualidade utilizadas para a identificação e o

tratamento de desvios da qualidade.

� Capítulo 3

- Identificação do problema;

- Análise do problema;

- Identificação das possíveis causas;

- Elaboração do plano de ação para saná-las;

- Monitoramento e avaliação das ações implantadas.

� Capítulo 4

- Discussão dos Resultados Finais.

� Capítulo 5

- Conclusão.

14

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1. O que é Qualidade?

O termo Qualidade vem do latim Qualitate e é utilizado em situações bem distintas.

Por exemplo, quando se fala da qualidade de vida das pessoas de um país ou região, da

qualidade da água que se bebe ou do ar que se respira, da qualidade do serviço prestado por

uma empresa, ou ainda, da qualidade de um produto tangível. Como o termo tem diversas

utilizações, o seu significado nem sempre é de definição clara e objetiva.

Por isso, desde o século XX, onde a qualidade se tornou instrumento de

competitividade para a estratégia dos negócios, há várias definições para qualidade que se

expandiram para o século XXI:

- “Propriedade pela qual algo ou alguém se individualiza distinguindo-se dos demais,

importância, valor, distinção, característica essencial, atributo, predicado, particularidade,

excelência, virtude, grau de perfeição, grau de precisão, grau de conformidade a um certo

padrão”;

Dicionário Moderno da Língua Portuguesa, Michaelis On-line. 2008.

- “Satisfação das necessidades do cliente, em primeiro lugar” (Deming, 1960);

(CARVALHO, M. & PALADINI, E., 2005, p. 12).

- “Conformidade com as especificações”. “Prevenir não-conformidades é mais barato

que corrigir ou refazer o trabalho”. “A qualidade é um atributo, uma característica que, por

comparação com um ponto padronizado ou de referência, pode ser considerado correto ou

incorreto, não é uma variável, uma característica que pode ser medida”. (Crosby, 1979);

- “É uma barreira de proteção à vida, é adequação ao uso” (Juran, 1974);

- “Grau de excelência a um preço aceitável” (Bhoh, 1974);

(CARVALHO, M. & PALADINI, E., 2005, p. 9).

- "Corresponde ao mínimo de perdas que o produto confere à sociedade, desde sua

produção" (Taguchi, 1962);

(CARVALHO, M. & PALADINI, E., 2005, p.18).

- “É a composição total das características de marketing, projeto, produção e

manutenção dos bens e serviços, através dos quais os produtos atenderão às expectativas do

cliente” (Feigenbaum, 1983);

(CARVALHO, M. & PALADINI, E., 2005, p.14).

15

- “Capacidade de satisfazer as necessidades, tanto na hora da compra, quanto durante a

utilização, ao melhor custo possível, minimizando as perdas e melhor do que os concorrentes”

(Teboul, 1991);

- “Fazer certo a primeira vez” (Slack, 1993);

- “Atender ao que foi especificado; Conjunto de características de um processo,

produto, organização que lhe conferem aptidão para satisfazer necessidades explícitas ou

implícitas” (ISO 8402:1993);

- “Grau no qual um conjunto de características inerentes que satisfaz a requisitos”

(ISO 9000:2000);

- “Interação da adequação ao padrão, ao uso, ao custo e à necessidade latente” (Shoji

Shiba, 2001);

Diante de tantos conceitos, pode-se concluir que a qualidade não acontece sem

planejamento e, de modo geral, a qualidade de um produto ou serviço pode ser olhada de duas

ópticas: a do produtor e a do cliente. Do ponto de vista do produtor, a qualidade se associa à

concepção e produção de um produto que vai ao encontro das necessidades do cliente. Do

ponto de vista do cliente, a qualidade está associada ao valor e à utilidade reconhecidas ao

produto, estando, em alguns casos, ligada ao preço.

Uma coisa é certa: a qualidade não é unidimensional. Quer dizer, os clientes não

avaliam um produto tendo em conta apenas uma das suas características, mas várias (por

exemplo, a sua dimensão, cor, durabilidade, design, funções que desempenha, etc). Assim, a

qualidade é um conceito multidimensional.

Do ponto de vista da empresa, contudo, se o objetivo é oferecer produtos e serviços de

qualidade, o conceito não pode ser deixado ao acaso, tem de ser definido de forma clara e

objetiva. Isso significa que a empresa deve apurar quais são as necessidades dos clientes e, em

função destas, definir os requisitos de qualidade de seus produtos. Os requisitos são definidos

em termos de variáveis como: comprimento, largura, altura, peso, cor, resistência,

durabilidade, funções desempenhadas, tempo de entrega, simpatia de quem atende ao cliente,

rapidez do atendimento, eficácia do serviço, etc. Cada requisito é, em seguida, quantificado, a

fim de que a qualidade possa ser interpretada por todos (empresa, trabalhadores, gestores e

clientes) exatamente da mesma maneira. Os produtos devem exibir esses requisitos, a

publicidade se faz em torno desses requisitos, o controle de qualidade visa assegurar que esses

requisitos estejam presentes no produto, a medição da satisfação se faz para apurar em que

medida esses requisitos estão presentes e em que medida estes vão realmente ao encontro das

16

necessidades. Todo o funcionamento da empresa gira em torno da oferta do conceito de

qualidade que foi definido.

Controle da qualidade, garantia da qualidade e gestão da qualidade são conceitos

relacionados com o de qualidade na indústria e serviços. Gestão da qualidade é o processo de

conceber, controlar e melhorar os processos da empresa sejam processos de gestão, de

produção, de marketing, de gestão de pessoal, de faturação, de cobrança ou outros. A gestão

da qualidade envolve a concepção dos processos e dos produtos/serviços, envolve a melhoria

dos processos e o controle de qualidade. Garantia da qualidade são as ações tomadas para

redução de defeitos. Controle da qualidade são as ações relacionadas com a medição da

qualidade, para diagnosticar se os requisitos estão sendo respeitados e se os objetivos da

empresa estão sendo atingidos.

Portanto, como satisfação do cliente é intimamente ligada à qualidade, tendo este

impacto direto sobre o desempenho do produto, torna-se essencial a utilização de algumas

ferramentas da administração industrial aplicadas ao monitoramento da função qualidade. As

ferramentas estatísticas para a qualidade têm como objetivo a solução analítica de problemas,

por exemplo. O uso dessas ferramentas auxilia a abordagem de problemas por metodizar a

coleta e a visualização dos dados disponíveis, permitindo uma análise crítica do mesmo. A

maioria delas tem como ponto em comum a visualização gráfica dos dados, o que facilita o

entendimento global da situação e conseqüente tomada de decisão. É o que está estruturado

neste trabalho, onde foram escolhidas algumas ferramentas da qualidade para o Estudo de

Caso na indústria Tecno Cintos.

2.2. Diagrama de Pareto

O Diagrama de Pareto é um gráfico de barras verticais que ordena as freqüências das

ocorrências, da maior para a menor, permitindo a localização dos problemas mais importantes

e a eliminação de perdas. Pode-se também, acompanhar os resultados obtidos pelas ações

tomadas, fazendo um acompanhamento pelo gráfico, verificando a evolução dos problemas.

As barras são dispostas a partir da esquerda para a direita, começando da maior para a menor,

o que permite a priorização dos problemas para determinar qual será abordado inicialmente.

Esta teoria é de grande valia, já que sabemos que as “poucas causas levam à maioria das

perdas, ou seja, poucas são vitais, a maioria é trivial” (Juran, 1974).

17

A partir do topo da barra mais alta do gráfico, traça-se uma linha para mostrar a

medida acumulativa das categorias / problemas. Com isso, visualizam-se quanto às primeiras

duas ou três categorias respondem em relação ao valor total (figura 2.1).

Os problemas podem ser escolhidos com base em dados existentes ou através de

Brainstorming, o qual poderá ser seguido de levantamento de dados que permitem quantificar

aquilo que foi apontado. Deve-se levar em conta que os problemas mais freqüentes nem

sempre são os de maiores custos.

O Diagrama de Pareto também é conhecido como diagrama 80-20, significando que

80% das causas estão concentradas em 20% dos problemas apontados, ou, então, que 80% dos

fatores estudados estão concentrados em 20% das características analisadas. Para facilitar tal

identificação desenha-se o gráfico de freqüência acumulada.

O conceito envolvido na proposta 80-20 pode ser compreendido como uma forma, não

só de identificação dos principais problemas, mas também, quanto à perspectiva de solução

mais rápida do conjunto de problemas analisados, quando poucos respondem pela maioria dos

efeitos detectados.

Em casos onde para se acumular algo próximo aos 80% dos efeitos medidos haja

muitos problemas, deve-se ter em mente que, para que uma redução perceptível e conseqüente

Figura 2.1 Diagrama de Pareto Fonte: Autores

18

melhoria da situação analisada, é necessário atuar em diversas frentes simultaneamente. Do

contrario deve-se aguardar um tempo bem maior para que a redução do conjunto de efeitos

seja percebida.

Os problemas ou características analisadas podem estar listados em grande número,

sendo que muitos são pouco representativos, isto é, surgem com baixa freqüência ou

incidência, e por razões de simplificação do trabalho de compreensão da ferramenta são

agrupados recebendo o título “Outros” (Slack et al., 2002).

2.3. Diagrama de Ishikawa

Conhecido também como Diagrama de Causa e Efeito ou Diagrama Espinha de Peixe

é uma ferramenta gráfica utilizada para o gerenciamento e controle da qualidade em diversos

processos.

Essa ferramenta, proposta pelo engenheiro químico Kaoru Ishikawa, permite

classificar todos os tipos de problemas nas categorias denominadas 5 M´s:

- Método;

- Matéria-prima;

- Mão-de-obra;

- Máquinas;

- Meio Ambiente.

Este sistema permite estruturar hierarquicamente as causas de determinado problema

ou oportunidade de melhoria, bem como seus efeitos sobre a qualidade dos produtos. Permite,

também, estruturar qualquer sistema que necessite de resposta de forma gráfica e sintética

para melhor visualização.

Ishikawa observou que embora nem todos os problemas pudessem ser resolvidos por

essa ferramenta, ao menos 95% poderiam ser, e que, qualquer trabalhador fabril, poderia

efetivamente utilizá-las.

Para a implementação do Diagrama de Ishikawa não há limites. As empresas que

preferem ir além dos padrões convencionais podem identificar e demonstrar em diagramas

específicos a origem de cada uma das causas do efeito, isto é, as causas das causas do efeito.

A riqueza de detalhes pode ser determinante para uma melhor qualidade dos resultados do

projeto. Quanto mais informações sobre os problemas da empresa forem disponibilizadas

maiores serão as chances de livrar-se deles.

19

O diagrama é composto por uma principal horizontal, com a indicação à direita, em

um quadro, do efeito ou sintoma existente, ou seja, o problema apontado. Pode ser elaborado

de forma a indicar os primeiros pontos anotados, e, em seguida, identificar as causas dos

mesmos (classificação do processo), dentro das categorias denominadas 5 M´s.

O diagrama mostra as causas reais dos problemas e sua(s) origem(s) e não aquelas que

aparentam serem óbvias, pois estas, na maioria das vezes, são apenas conseqüências de causas

anteriores.

A estrutura da figura 2.2 é mais comumente utilizada para processos industriais. Em

serviços, as categorias podem ser organizadas como Equipamentos, Políticas, Procedimentos,

Pessoas e Meio Ambiente.

Figura 2.2 Diagrama de Ishikawa Fonte: Apostila Adm. Ind. de Planejamento e Organização da Qualidade

Através do uso da ferramenta acima se deve procurar eliminar as causas primárias e

não os seus efeitos. Para ir o mais longe possível na identificação das causas deve-se

perguntar o porquê de cada uma das causas de 3 a 4 vezes. Identificadas as possíveis causas

devem-se selecionar as mais prováveis ou aquelas que por outros meios indiquem ser as mais

importantes.

MÃO DE OBRA MÉTODO MÁQUINA

MATERIAL MEIO AMBIENTE

PROBLEMA

CAUSA EFEITO

20

É importante lembrar que uma mesma causa primária potencial pode aparecer em

diversos ramos, entretanto, quando de sua solução, deve-se atentar para a seqüência que liga a

causa primária ao problema.

Um dos pontos críticos na elaboração do diagrama é até que ponto ir e quando parar no

aprofundamento do problema. Quando se está sendo superficial demais e quando está

havendo um desvio do problema original? Por isso a sugestão é levar o problema até três a

quatro níveis a partir do problema inicial apontado, ou usar o bom senso do grupo para buscar

soluções para os problemas apontados dentro dos recursos disponíveis (Brassard, 1992).

2.4. Ciclo PDCA

O ciclo PDCA, ciclo de Shewhart ou ciclo de Deming (figura 2.3), é um ciclo de

desenvolvimento que foi introduzido no Japão após a guerra, idealizado por Shewhart e

divulgado por Deming, quem efetivamente o aplicou. O ciclo tem por princípio tornar mais

claros e ágeis os processos envolvidos na execução da gestão da qualidade, dividindo-a em

quatro principais passos (P – Planejamento, D – Execução, C – Verificação e A – Ação).

Figura 2.3 Ciclo PDCA Fonte: Apostila Adm. Ind. de Planejamento e Organização da Qualidade

Esc

olha

o p

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ema

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fique

a escolha

Busque dados e

informações

Analise os efeitos e causas (ishikawa)Gere ações

potenciais

Avalie e selecione

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Verifique as barreiras

e dificuldades

Implemente

Monitore

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e dificuldades

Implemente

Monitore

21

Esta ferramenta é de extrema importância, visto que as empresas precisam promover

as mudanças necessárias em tempo adequado (precisam agir rapidamente na solução de

problemas), a fim de atender às necessidades dos clientes e consequentemente garantir a sua

sobrevivência no mercado.

O ciclo do PDCA é um método de gestão que pode ser utilizado em qualquer empresa

de forma a garantir o sucesso nos negócios, independentemente da área ou departamento

(vendas, compras, engenharia, produção, finanças, etc).

As ferramentas da qualidade consistirão os recursos necessários para a coleta, o

processamento e a disposição das informações necessárias à condução das etapas do PDCA.

O ciclo começa pelo planejamento, em seguida a ação ou conjunto de ações planejadas

são executadas, checa-se se o que foi feito estava de acordo com o planejado, constantemente

e repetidamente (ciclicamente), e toma-se uma ação para eliminar ou ao menos mitigar

defeitos no produto ou na execução. Os passos são os seguintes:

- Plan (planejar) : estabelecer objetivos (metas) e os procedimentos e processos

(metodologias) necessários para o atingimentos dos resultados.

- Do (executar) : realizar, executar as atividades exatamente como foi previsto na etapa

de planejamento (Plano de Ação), algumas vezes tendo necessidade de treinamento. Coletar

dados que serão utilizados na etapa seguinte e que possam fornecer informações sobre a

obtenção da meta.

- Check (verificar) : A partir dos dados coletados na etapa de Execução, avaliar os

resultados alcançados comparando-os com a meta planejada. Monitorar e avaliar

periodicamente resultados e processos, consolidando as informações, eventualmente

confeccionando relatórios.

- Act (agir) : Agir de acordo com o avaliado na etapa anterior. Caso o plano não tenha

sido efetivo, será necessário agir sobre as causas do não atingimento da meta, iniciando-se um

novo giro do PDCA, de forma a melhorar a qualidade, eficiência e eficácia, aprimorando a

execução e corrigindo eventuais falhas. Caso a meta tenha sido alcançada, o plano proposto é

adotado como padrão, estabelecendo os meios para a manutenção dos bons resultados.

Quanto mais informações forem agregadas ao método, maiores serão as chances de

alcance da meta e maior será a necessidade da utilização de ferramentas apropriadas para

coletar, processar, dispor informações durante o ciclo do PDCA.

22

2.5. Lição Ponto a Ponto

O maior desafio dos chefes e gerentes que trabalham em grandes empresas e que têm

muitos funcionários sob sua responsabilidade é elaborar sistemas para alavancar a evolução

das pessoas que trabalham em seu time. Há necessidade de trabalhar com funcionários cada

vez mais qualificados e que apliquem seus conhecimentos no dia-a-dia, agregando valor aos

produtos e serviços. Para que isso ocorra é necessário motivar e incentivar os funcionários e

mostrar a importância do estudo e treinamento.

O objetivo de uma atividade de treinamento é promover e consolidar a mudança

cultural da empresa através do conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes.

A “Lição Ponto a Ponto” ou “Curso de Um Tema” é um recurso de treinamento de

funcionários, utilizado em muitas empresas, que permite o desenvolvimento conjunto do

instrutor e do treinador, possibilitando um aprendizado de maneira rápida, clara e objetiva e

em um curto espaço de tempo.

O treinamento no local de trabalho é um processo que transmite conhecimento de

forma eficaz e de alto desempenho, pois o receptor, ao receber o conhecimento do seu

superior ou colega de trabalho, tem a possibilidade de esclarecer dúvidas e colocar em prática

imediatamente, se for necessário.

Para a elaboração de uma LPP deve-se:

- Identificar o assunto que será abordado na LPP;

- Utilizar recursos de figuras, gráfico, fotos que ilustrem o assunto a ser tratado;

- Não colocar dois assuntos diferentes em uma LPP.

Após a elaboração da LPP deve-se identificar o tema a ser ensinado, o tipo de enfoque,

preencher o nome de quem elaborou e a data de preparação. Geralmente, adota-se um número

seqüencial para o documento e solicita-se a aprovação da chefia.

Finalizando esta etapa, inicia-se a multiplicação de conhecimentos através da LPP. O

instrutor irá habilitar e passar as informações contidas na LPP para o funcionário. A

capacitação deverá ser registrada com um visto do instrutor e do participante, e com a data do

treinamento.

A utilização deste recurso terá como resultado a ruptura da rotina diária de trabalho, o

sentimento do funcionário de capacitar, de ensinar, educar e aperfeiçoar um processo da

empresa.

23

O ideal é desenvolver um cronograma mensal para esta atividade e eleger um

representante a cada novo tema.

3. COLETA DE DADOS

A indústria Tecno Cintos trabalha com o sistema de venda através de apresentações de

protótipos desenvolvidos pela empresa ou conforme solicitação do cliente.

O levantamento de dados na indústria Tecno Cintos foi realizado para identificar o seu

principal problema de qualidade e poder focar a análise e atuação sobre ele. Esse

levantamento foi realizado através do SAC, em conjunto com a Qualidade, onde se registram

as reclamações e se recebem as devoluções de produtos com desvios de qualidade oriundos

das montadoras. As reclamações são classificadas por tipo de problema.

3.1. Identificação do Problema

O melhor indicador externo para avaliar os desvios de qualidade é o percentual de

devoluções em relação ao faturamento. Esse indicador está diretamente relacionado com o

impacto financeiro negativo causado na empresa.

O Diagrama de Pareto (figura 3.1) mostra o número de reclamações recebidas no

período de 2007, de acordo com os problemas relatados. Para este período, pode-se observar

que 65% das reclamações estão relacionadas ao regulador de altura do cinto de segurança,

maior e mais freqüente dos problemas que, juntamente com o segundo, responde pela maioria

dos desvios relatados.

24

Figura 3.1 Reclamações de 2007 Fonte: Tecno Cintos

3.2. Análise de Causa

As montadoras observaram que, no momento da fixação do conjunto do regulador de

altura na carroceria dos veículos, o parafuso de fixação do alterador estava girando ou se

movimentando, parecendo estar solto.

A Tecno Cintos fornece o conjunto do regulador de altura do Netuno desde janeiro

1995, e as primeiras reclamações, conforme registros do setor de atendimento a clientes datam

de 15/06/2005 e vem aumentando consideravelmente nos últimos anos.

A empresa também compra parafusos e buchas para montagens dos conjuntos dos

reguladores de altura da metalúrgica Millenium e produz os demais componentes do conjunto,

como a guia metálica, que tem rebaixo para o alojamento da cabeça do parafuso com o

sistema de trava anti-giro (figura 3.2) para garantir o posicionamento correto no momento da

cravagem do parafuso com a bucha.

RECLAMAÇÕES

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

Problema noregulador dealtura (nãofixação do

parafuso duranteo torque)

Ruído nosistema de fecho

do cinto

Pintura doparafuso fora da

cor padrão

Diferença de corno tecido do

cinto

Pintura da buchafora da cor

padrão

Outros

25

Figura 3.2 Parafuso e Guia Metálica A – Rebaixo para alojamento da cabeça do parafuso. B – Alojamento do sistema de trava do parafuso. C – Sistema de trava do parafuso. Fonte: Tecno Cintos

Para atuar na causa do problema formou-se uma equipe multidisciplinar com o

objetivo de estudar o processo e identificar as possíveis causas de desvio de qualidade do

produto, evidenciado no Diagrama de Pareto: O problema no regulador de altura do cinto de

segurança.

As investigações foram iniciadas através de reuniões da equipe, composta pelos

seguintes setores: Engenharia de Processos, P & D, Qualidade, Produção – Montagem e

Ferramentaria, PCP, Manutenção e Serviço de Atendimento ao Cliente. Esta equipe realizou

um brainstorm identificando as causas que geravam o desvio de qualidade, esquematizando-

as no Diagrama de Ishikawa, conforme figura 3.3.

BA C

BA C

26

Figura 3.3 Diagrama de Ishikawa (Análise dos Problemas no Conjunto do Regulador de Altura) Fonte: Tecno Cintos

Meio Ambiente

Mão-de-Obra Materiais

Métodos e Meios de Medição

Máquinas

Parafuso do Regulador de Altura

girando durante torque

Disposi tiv

o de

p osi cion amen to

inadequado para de te cta r

fa lha na montagem

Fa lta deatenção do o pera dor n a mon ta ge m

Diagrama Ishikawa

Análise dos prob lemas no conjunto do regulador de a ltura

Du reza do

para fu so aba ixo do e speci fi cad o

Ausênc

ia d

e

qualifi

caçã

o do

forn

ecedo

res

Fa lh a na mon ta ge m do

p arafuso co m guia metáli ca

D ispo sitivo d e posi cion amen to da mon ta ge m do para fu so na

guia metáli ca nã o detecta mo ntag em inco rreta.

Nã o fi xação d o para fu so

me smo ap ós a cra va ge m da buch a

Ausên

cia d

e

Progr

ama de

Tre ina

men

to

adequa

do

Desmotiva ç ão

Aus

ênci

a de

re

com

pens

a /

prem

iaçã

o

(re

conh

ecim

ent

o)

Ausência de

pol ítica de

b enefício s

Fal ta de disposi tivo

a prova de erro

Fal ta de parâmetros para r egu lagem

do

curso do ci lindro hidr áulico, respons áve l

pe lo cravamento das buchas

Altera çõ

es cons

tant

es n

o

plan

ejament

o da

produ

ção

C onfl ito entre

o s se to res

C ompri mento d o para fu so

fo ra da esp ecifica ção

Fa lha n aamostrag emDiâmetro extern o

da b uch a fo ra de espe cifica ção

Aus

ência

de

Pro

ced

imen

to

pad

rão

Desg aste dos ferra me ntais

da máq uin a

Fa lha s na

manuten ç ão

preventiva

Al ta n ecessidad e

de re tra balho s

Falha n a i nspe ção

visua l (con tro le do

processo)

Ausência de

p roced imen tos

padrão

Ausên cia d e

Ind ica dore s d a Q ua li dad e

Ausência d e

Proced imen to

pad rão

Altera ção de

p edido s d e

cli en te s

Meio Ambiente

Mão-de-Obra Materiais

Métodos e Meios de Medição

Máquinas

Parafuso do Regulador de Altura

girando durante torque

Disposi tiv

o de

p osi cion amen to

inadequado para de te cta r

fa lha na montagem

Fa lta deatenção do o pera dor n a mon ta ge m

Diagrama Ishikawa

Análise dos prob lemas no conjunto do regulador de a ltura

Du reza do

para fu so aba ixo do e speci fi cad o

Ausênc

ia d

e

qualifi

caçã

o do

forn

ecedo

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Fa lh a na mon ta ge m do

p arafuso co m guia metáli ca

D ispo sitivo d e posi cion amen to da mon ta ge m do para fu so na

guia metáli ca nã o detecta mo ntag em inco rreta.

Nã o fi xação d o para fu so

me smo ap ós a cra va ge m da buch a

Ausên

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Progr

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Tre ina

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Desmotiva ç ão

Aus

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prem

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Ausência de

pol ítica de

b enefício s

Fal ta de disposi tivo

a prova de erro

Fal ta de parâmetros para r egu lagem

do

curso do ci lindro hidr áulico, respons áve l

pe lo cravamento das buchas

Altera çõ

es cons

tant

es n

o

plan

ejament

o da

produ

ção

C onfl ito entre

o s se to res

C ompri mento d o para fu so

fo ra da esp ecifica ção

Fa lha n aamostrag emDiâmetro extern o

da b uch a fo ra de espe cifica ção

Aus

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de

Pro

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Desg aste dos ferra me ntais

da máq uin a

Fa lha s na

manuten ç ão

preventiva

Al ta n ecessidad e

de re tra balho s

Falha n a i nspe ção

visua l (con tro le do

processo)

Ausência de

p roced imen tos

padrão

Ausên cia d e

Ind ica dore s d a Q ua li dad e

Ausência d e

Proced imen to

pad rão

Altera ção de

p edido s d e

cli en te s

27

De acordo com o diagrama apresentado, podemos identificar várias possíveis causas

primárias do problema evidenciado. Analisamos cada uma das causas detalhadamente:

MÁQUINA

1. Falta de dispositivo a prova de erro: A montagem incorreta do parafuso na guia

metálica (componentes do regulador de altura do cinto de segurança) não era detectada na

máquina no momento da cravagem do parafuso com a bucha, ocasionando a folga do parafuso

permitindo seu giro no momento de fixação do alterador.

2. Ausência de Manutenção Preventiva: Alguns ferramentais da máquina apresentam

deformações e desgastes. O Programa de Manutenção Preventiva não está sendo cumprido,

havendo grandes atrasos nos prazos. Não é feita manutenção preventiva nos dispositivos da

máquina.

3. Falta de Parâmetros de Regulagem para o cravamento das buchas: Não há

parâmetros para regulagem de pressão (força exercida para o cravamento do parafuso com a

bucha) no cilindro hidráulico, permitindo que o parafuso fique solto mesmo após o

cravamento.

MATERIAIS

4. Ausência de Qualificação de Fornecedores: Os fornecedores são escolhidos de

acordo com o melhor preço e prazo de entrega. Não há uma auditoria de qualidade para

garantir maior confiança e parceria no fornecimento adequado dos materiais (matérias-

primas).

5. Ausência de Procedimento Padrão de Amostragem: Os materiais fora de

especificação não são detectados, pois não há um procedimento padronizado definido para sua

realização. Escolhem-se, aleatoriamente, as peças e muitos requisitos não são avaliados.

MÃO-DE-OBRA

6. Ausência de Política de Benefícios e de Reconhecimento: Devido à falta de

incentivos, os operadores estão desmotivados e mais propensos a erros no processo de

montagem dos componentes.

7. Ausência de Treinamento adequado para Qualificação de Pessoal: Não há um

programa de treinamento e reciclagem nas operações executadas rotineiramente, permitindo a

utilização errada e/ou modificações equivocadas de funções dos equipamentos.

28

MÉTODOS e MEIOS DE MEDIÇÃO

8. Ausência de Procedimento Padrão para realização do Controle do Processo: Não

há uma metodologia definida para o controle do processo (unidades amostradas em

determinada freqüência), não sendo possível detectar erros durante a manufatura.

9. Ausência de Procedimento Padrão de Indicadores da Qualidade: Não há

indicadores de qualidade que permitam identificar com mais rapidez e foco quais os principais

problemas encontrados no sistema da empresa.

MEIO AMBIENTE

10. Alterações de pedidos de clientes: Ocorrências externas fazem com que o

planejamento de produção remaneje suas ordens de manufatura constantemente,

comprometendo a produtividade e proporcionando conflitos entre os diversos setores, pois

cada um deles tem a sua maneira de ver a situação.

Através desta análise, identificamos os principais pontos que levam ao problema do

regulador de altura do cinto de segurança e podemos planejar a melhor maneira para

solucioná-lo e evitar a incidência de novas ocorrências.

3.3. Implantação das ações

A partir do estudo feito foram levantadas oportunidades de melhorias e elaborado um

plano de ação com as medidas corretivas necessárias (medidas reais, viáveis e com potencial

de implantação) e os setores responsáveis, considerando-se as prioridades. Através do ciclo do

PDCA gerenciamos o plano de ação e a efetiva implantação das melhorias.

O grupo multidisciplinar fez uma listagem de sugestões para sanar as causas

levantadas para o desvio de qualidade do regulador de altura do cinto de segurança Netuno.

As sugestões foram dadas por tipo de problema evidenciado e foram priorizadas de acordo

com o impacto que geram na qualidade do produto.

O Plano de Ação da tabela 3.1 mostra em detalhe cada uma das propostas a serem

implantadas para resolver as 10 causas detectadas pelo Diagrama de Ishikawa. As prioridades

estabelecidas, conforme impactos da não realização da ação sobre a qualidade do produto,

foram classificados como: prioridade 1 (ações imediatas/de curto prazo), prioridade 2 (ações

de médio prazo) e prioridade 3 (ações de longo prazo).

29

Tabela 3.1 Plano de Ação para resolução do problema do Regulador de Altura dos Cintos de Segurança

Causa Ação Proposta Responsável Prioridade

1ª- Falta de Dispositivo a

Prova de Erro

Desenvolver um dispositivo com sistema de poka-yoke (à prova de erros) para a

montagem e cravagem correta do parafuso com a bucha.

Produção -

Ferramentaria 1

2ª- Ausência de Manutenção

Preventiva

Cumprir os prazos determinados pelo Programa de Manutenção Preventiva (revisá-

los, se necessário). Incluir neste programa os dispositivos das máquinas. Manter

peças sobressalentes em estoque.

Manutenção 2

3ª- Falta de Parâmetros de

Regulagem para o Cravamento

das Buchas

Instalar sistema para realizar a regulagem mecânica do cravamento das buchas. Manutenção 1

4ª - Ausência de Qualificação

de Fornecedores

Elaborar Programa de Auditoria nos fornecedores de acordo com critérios exigidos

pela ISO 9000 e por especificações técnicas da Tecno Cintos e realizar as auditorias

externas.

Qualidade 2

5ª - Ausência de Procedimento

Padrão de Amostragem

Elaborar procedimento para realização de amostragem no recebimento dos materiais

fornecidos, seguindo os valores de especificações pré-estabelecidos para as

dimensões da bucha e do parafuso.

Qualidade 1

30

Causa Ação Proposta Responsável Prioridade

6ª- Ausência de Política de

Benefícios e de

Reconhecimento

Estudar a possibilidade de investimentos na qualificação dos profissionais e adotar

uma política de benefícios que incentive a produtividade. RH 2

7ª - Ausência de Treinamento

adequado para Qualificação de

Pessoal

Elaborar um programa de treinamento para os colaboradores (novos treinamentos e

reciclagens), reforçando a utilização da Lição Ponto a Ponto. RH 1

8ª - Ausência de Procedimento

Padrão para realização do

Controle do Processo

Elaborar procedimento para o controle em processo. Qualidade 1

9ª - Ausência de Procedimento

Padrão de Indicadores da

Qualidade

Definir indicadores para avaliar a Qualidade dos produtos fabricados. Qualidade 3

10ª - Alterações de pedidos de

clientes Implantar política de estoque de segurança.

Planejamento

de Produção

(PCP)

1

31

As ações foram acompanhadas ao longo do tempo. Segue, abaixo, um breve histórico

do estudo realizado envolvendo alguns pontos destacados anteriormente no Diagrama de

Ishikawa:

O problema evidenciado, parafuso solto mesmo após o cravamento com a bucha,

vinha superando os limites aceitáveis pelas montadoras.

No início do estudo, a equipe do setor de manutenção acreditava que os problemas

com o cravamento de buchas e parafusos estavam no sistema de prensagem, que é feita por

um cilindro hidráulico de 2500 kgf. A equipe supôs que o cilindro não possuía força

suficiente para cravar a bucha no parafuso e que a solução seria trocá-lo por um cilindro com

carga superior. Isto implicaria em custos elevados devido às alterações necessárias no

equipamento para adaptação deste outro modelo, que possuía dimensões diferenciadas.

Para estudar se o cilindro de 2500 kgf continuava adequado para o cravamento das

buchas nos parafusos foram feitos testes para verificar se este, utilizado desde 1995,

continuava com a mesma carga.

Após a comprovação de que a carga do cilindro permanecia com 2500 Kgf, as peças

devolvidas foram analisadas. Os parafusos foram extraídos das buchas e constatou-se que, na

maioria das reclamações, estes não estavam montados corretamente, ficando com a cabeça

saliente em relação à face da guia metálica, conforme mostra a figura 3.4.

Figura 3.4 Parafuso, Guia Metálica e Guia Plástica A – Cabeça do parafuso saliente B – Face da guia metálica Fonte: Tecno Cintos

32

Nos demais conjuntos, mesmo montados corretamente, o corpo do parafuso não

penetrou na bucha o suficiente para que a face interna de sua cabeça encostasse, com pressão,

no fundo do alojamento da guia metálica, aparentando estar solto, conforme mostram as

figuras 3.5 e 3.6.

Figura 3.5 Face Interna da Cabeça do Parafuso não encostada no Fundo do Alojamento da Guia Metálica. Fonte: Tecno Cintos

Figura 3.6 Face Interna da Cabeça do Parafuso encostada no Fundo do Alojamento da Guia Metálica. Fonte: Tecno Cintos

33

Foram medidos os diâmetros das buchas e dos corpos do parafuso (100 unidades

escolhidas aleatoriamente), verificou-se a média que define a força de aderência e constatou-

se que as medidas estavam de acordo com as solicitadas nos desenhos de produtos.

Foi desenvolvido um dispositivo para a máquina de compressão, para que fossem

realizados testes práticos de cravamento no laboratório da empresa, utilizando-se estas

mesmas peças, que foram divididas em 10 lotes de 10 conjuntos (parafuso e bucha) e

numeradas em pares. Na simulação, limitou-se a carga da máquina em 5000 kgf e acionou-se

o cravamento a uma velocidade de 800,00 mm/min (vide Ensaio de Compressão nº 000010 -

referente ao último lote de 10 peças, em anexo). De acordo com os resultados do Ensaio, o

valor médio de força máxima para o cravamento do conjunto parafuso-bucha foi de 1107 kgf.

Isso significa que a força do cilindro (2500 kgf) era mais do que suficiente para cravar o

conjunto, estava com mais que 100% da carga necessária.

Foi realizada também a extração das buchas dos 10 lotes (vide Ensaio de Extração nº

000011 - referente ao último lote de 10 peças, em anexo). Segundo as normas, a força mínima

de extração das buchas deve ser de 200 kgf. No teste realizado, o valor médio da força de

extração foi de 688,75 kgf, superando em mais de 200% o valor exigido.

Com estes testes práticos de cravamentos e extrações, conclui-se que 100% das

exigências das montadoras são atendidas.

Para resolvermos os problemas de montagens incorretas dos parafusos com sistemas

de travas não alojados corretamente nas guias metálicas, desenvolveu-se um dispositivo com

Sistema de Poka-Yoke, conforme mostram as figuras 3.7 e 3.8, ou seja, um sistema a prova de

erros (Shingo, 1996).

Figura 3.7 Dispositivo Poka-Yoke (Montagem Incorreta do Subconjunto). Fonte: Tecno Cintos

34

Figura 3.8 Dispositivo Poka-Yoke (Montagem Correta do Subconjunto). Fonte: Tecno Cintos

Montou-se o dispositivo na máquina, o try-out foi realizado e acompanhou-se a

produção. Após o cravamento de 107.253 peças verificou-se a ocorrência de quebra da bucha

de recalque do cabeçote, conforme figura 3.9 e 3.10 (componente da parte superior do

dispositivo fixado no eixo do cilindro).

Figura 3.9 Bucha de Recalque. Fonte: Tecno Cintos

35

Figura 3.10 Máquina de Cravamento das Buchas A – Cabeçote. B – Bucha de Recalque. Fonte: Tecno Cintos

Constatou-se que o operador não havia encostado corretamente o subconjunto que foi

cravado, no top do dispositivo, de acordo com a figura 3.11.

Figura 3.11 Subconjunto Deslocado (Posicionamento Incorreto) Fonte: Tecno Cintos

Para evitar quebras, garantir a segurança e preservar a integridade física do operador

adaptou-se, no dispositivo, um sistema de sensor de aproximação (vide figura 3.12) conectado

A

B

A

B

36

ao sistema bi-manual da máquina, impedindo o acionamento do cilindro e o cravamento do

subconjunto fora de posição. Desta maneira, o erro humano estaria eliminado.

Figura 3.12 Subconjunto com Sensor (Posicionamento Correto) A – Sensor de Aproximação B/C – Subconjunto Posicionado Corretamente. Fonte: Tecno Cintos

A produção continuou a ser acompanhada, controlando-se 100% os conjuntos

montados. Foram encontrados dois conjuntos nos quais a bucha se movimentava. Não houve

giro com o torque de 40 N no momento da montagem do alterador, mas a bucha aparentava

estar solta.

Testes de extração das buchas foram executados e constatou-se que os dois conjuntos

estavam montados corretamente, com o sistema de trava do parafuso alojado no rebaixo da

guia metálica. Os resultados de força de extração foram de 608,35 kgf e de 633,70 kgf, dentro

do esperado.

Depois de desmontados, os elementos de cada conjunto (guia metálica, parafuso e

bucha) tiveram suas dimensões inspecionadas. Os rebaixos dos alojamentos das cabeças dos

parafusos nas guias estavam dentro das tolerâncias de medidas de desenho. As espessuras das

cabeças dos parafusos estavam com 0,23mm e 0,24mm, menores que a medida mínima

especificada em desenho de 3+/-0,2mm. Alojados na guia metálica, as superfícies externas

das cabeças dos parafusos, ficaram abaixo da superfície das guias metálicas conforme figura

3.13.

37

Figura 3.13 Cabeça do Parafuso fora de Especificação A – Superfície Externa do Parafuso B – Superfície da Guia Metálica Fonte: Tecno Cintos

Isso impediu o cravamento correto da bucha até encostar-se na face da guia metálica,

pressionando a parte interna da cabeça do parafuso contra o fundo do alojamento, conforme

figura 3.14.

Figura 3.14 Bucha fora de Posição A – Superfície da Bucha. B – Superfície da Guia Metálica. Fonte: Tecno Cintos

A BA B

38

Em reunião com a equipe de Controle da Qualidade, constatou-se que a medida da

espessura da cabeça do parafuso não era item de controle no recebimento, portanto era aceita

do fornecedor a variável de medida não mencionada no desenho de produto.

Para solucionarmos mais este problema, foi elaborado um check-list com os itens

mínimos obrigatórios para o fornecimento de materiais para a Tecno Cintos (que deve ser

apresentado quando da qualificação de um fornecedor) e um procedimento padrão de

amostragem para os materiais recebidos. Além disso, foi adaptado, no dispositivo poka-yoke,

um apoio para recalque, penetrando 0,6mm acima da superfície de apoio da guia metálica,

pressionando a parte interna da cabeça do parafuso contra o fundo do alojamento para

absorver a variável de ± 0,25mm encontrada nas espessuras das cabeças dos parafusos.

Portanto, os fornecedores inspecionados pela Tecno Cintos se comprometeram a nos

entregar peças dentro das variáveis aceitáveis, ou seriam desqualificados para o negócio. E,

além disso, qualquer material com medidas fora do padrão estabelecido que entrasse no

processo produtivo seria detectado pelo dispositivo instalado. A empresa atualizou o desenho

dos componentes do cinto de segurança Netuno conforme figura 3.15 e 3.16, identificando as

medidas do parafuso e da bucha que devem ser fornecidos conforme desenho de produtos.

3.4. Análise de Eficácia das Ações Propostas

Figura 3.15 Especificação do Parafuso Fonte: Tecno Cintos

3 +/- 0,23 +/- 0,2

39

Figura 3.16 Especificação da Bucha Fonte: Tecno Cintos 3.4. Análise de Eficácia das Ações Propostas

Ao avaliar o problema do regulador de altura do cinto de segurança Netuno, observa-

se que são várias as fontes causadoras do desvio e que, muitas delas, estão interligadas.

Os resultados obtidos através da implantação das ações propostas estão descritos na

tabela 3.2.

40

Tabela 3.2 Resultados do Plano de Ação implantado para resolução do problema do Regulador de Altura dos Cintos de Segurança

Causa Ação Proposta Resultado

1ª Desenvolver um dispositivo com sistema de poka-yoke (à prova de

erros) para a montagem e cravagem correta do parafuso com a bucha.

O sistema instalado não permite que o parafuso fique em posição incorreta

no momento da cravagem na bucha, independentemente da habilidade do

operador.

2ª Cumprir os prazos determinados pelo Programa de Manutenção

Preventiva (se necessário, revisá-los); Incluir neste programa os

dispositivos das máquinas; Manter peças sobressalentes em estoque.

O prazo para execução das manutenções preventivas de máquinas e

dispositivos está sendo cumprido rigorosamente e foi feito o estoque de

peças sobressalentes para reduzir o índice de paradas não programadas.

3ª Instalar sistema de regulagem no cilindro Foi instalado o sistema mecânico com rosca e porca na haste do cilindro

para regulagem de pressão.

4ª Elaborar Programa de Auditoria nos fornecedores de acordo com

critérios exigidos pela ISO 9000 e por especificações técnicas da

Tecno Cintos e realizar as auditorias externas.

O programa foi elaborado e seu cronograma está sendo cumprido

adequadamente. Os relatórios das inspeções realizadas registram a

aprovação ou não do fornecedor para conhecimento do setor de Compras,

Planejamento, Qualidade, Produção, etc. As metalúrgicas estão se

adequando às exigências solicitadas para o controle das variáveis: diâmetro

do corpo do parafuso, rosca, dureza; diâmetro interno, rebaixos e

comprimento das buchas; espessuras das cabeças dos parafusos. A Tecno

Cintos também atualizou seus desenhos incluindo todas estas informações

ao fornecedor.

41

Causa Ação Proposta Resultado

5ª Elaborar procedimento para realização de amostragem no

recebimento dos materiais fornecidos, seguindo os valores de

especificações pré-estabelecidos.

O procedimento foi elaborado e permite a detecção de buchas e parafusos

fora de especificação, impedindo-os de chegar até a linha de produção.

6ª Estudar a possibilidade de investimentos na qualificação dos

profissionais e adotar uma política de benefícios que incentive a

produtividade.

Implantada política para fornecimento de cestas básicas anualmente e

pagamento de 50% de cursos destinados à área (ex: cursos técnicos e

superiores)

7ª Elaborar um programa de treinamento para os colaboradores (novos

treinamentos e reciclagens).

O programa foi elaborado com base nas atividades diárias de cada setor /

colaborador e seu cronograma estão sendo cumprido adequadamente, apesar

de alguns atrasos quando há envolvimento de custos e necessidade de

aprovação prévia à realização. A aplicação da Lição Ponto a Ponto tem

diminuído de maneira significativa a incidência de erro humano nas

atividades.

8ª Elaborar procedimento para o controle em processo.

Foi definido um sistema de controle nas próprias folhas de processo (com

freqüência de 1 em 1 hora), o que permite interromper a produção logo ao

se detectar um desvio, impedindo a fabricação de peças com defeitos.

9ª Definir indicadores para avaliar a Qualidade dos produtos fabricados. Percentual de rejeitos em relação à produção total.

10ª Implantar política de estoque de segurança.

Fez-se um estoque de segurança de 20% em relação à média de pedidos

mensais para ter cobertura em caso de alterações drásticas na programação

de produção (pedidos) e/ou eventuais paradas não-programadas.

42

Ao final do prazo para as implantações foi realizado um levantamento da eficácia das

ações comparando-se o status antes e após as melhorias. As ações foram 100% implantadas e

atenderam efetivamente o objetivo em questão.

Após a instalação do dispositivo com sistema de poka-yoke que garantiu a montagem

adequada dos conjuntos parafuso-bucha e seus posicionamentos corretos no momento do

cravamento, foram concluídos dois programas de produção sem nenhuma irregularidade

detectada.

43

4. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Conforme mencionado anteriormente, as ações implantadas foram determinantes para

a solução do problema apresentado. Observou-se uma diminuição drástica nos índices de

reclamações das montadoras e de devoluções de peças com defeito, conforme mostra a figura

4.1. Não houve relatos de não conformidades nem quebras de componentes do dispositivo; o

número de reclamações caiu a zero no início do 2° semestre de 2008.

Nº de Reclamações de Clientes referente ao ano de 2 008

0

50

100

150

200

250

300

350

400

450

500

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Média 1ºsemestre

Jul Ago Set Out Nov Dez Média 2ºsemestre

Figura 4.1 Especificação do Parafuso Fonte: Tecno Cintos

Através do gráfico observa-se que, nos meses anteriores, o índice de desvios do cinto

Netuno chegou à média de 0,8% da produção mensal de aproximadamente 45.000 unidades,

isto é, uma média de 360 unidades defeituosas. Isso representa uma perda significativa em

termos financeiros, já que quando se fala em perda, não se considera somente o custo de

transporte para devolução do produto defeituoso e o custo com retrabalhos que envolvem

materiais e mão-de-obra extra. Há de se levar em consideração também, os danos de imagem

sofridos pela empresa, o impacto negativo nas vendas devido à redução dos pedidos, etc.

Além disso, o trabalho realizado foi fundamental para que houvesse a integração entre

as equipes. Todos os setores participaram e contribuíram para a solução do problema do

regulador de altura do cinto de segurança, gerando uma maior confiança e parceria entre as

44

áreas de Qualidade, Manutenção, Engenharia (P&D), PCP, Produção, Ferramentaria,

incluindo os colaboradores da própria linha de fabricação, não apenas chefes e supervisores.

O fato de todos estarem focados e voltados para a mesma direção reduziu também os conflitos

entre as áreas e proporcionou um ambiente de trabalho mais agradável e produtivo.

As ações que dependiam de aprovação da gerência para serem implantadas foram

todas aprovadas, pois a relação custo x benefício as justificavam. A tabela 4.1 evidencia todas

as ações que dependiam de gastos para a implantação com os respectivos percentuais em

relação ao faturamento mensal.

Tabela 4.1 Percentual de Investimentos em relação ao Faturamento Mensal

Causa Melhorias % em Relação ao Faturamento Mensal

Desenvolver um dispositivo com sistema de poka-yoke

(à prova de erros) para a montagem e cravagem

correta do parafuso com a bucha.

2%

2ª Manter peças sobressalentes em estoque. 3%

3ª Instalar sistema de regulagem no cilindro 1%

Elaborar Programa de Auditoria nos fornecedores de

acordo com critérios exigidos pela ISO 9000 e por

especificações técnicas da Tecno Cintos e realizar as

auditorias externas.

3%

Estudar a possibilidade de investimentos na

qualificação dos profissionais e adotar uma política de

benefícios que incentive a produtividade.

6%

10ª Implantar política de estoque de segurança. 5%

Total de Investimentos 20%

45

Vale lembrar que o valor de 20% do faturamento mensal foi um gasto distribuído entre

os meses de março a junho de 2008, já que a tabela acima mostra o montante total das

despesas.

As demais melhorias propostas e implantadas também tiveram impacto nos custos da

empresa, uma vez que treinamentos e elaboração de procedimentos impactam nas horas

trabalhadas dos colaboradores (horas não destinadas à produção), porém ainda não foi

possível mensurá-las.

46

5. CONCLUSÃO

O fato da redução das reclamações de mercado, referentes ao conjunto do regulador de

altura do cinto de segurança Netuno, proporcionou à empresa uma melhoria significativa no

seu faturamento. Por isso, os estudos e investimentos realizados trouxeram uma grande

recompensa para a empresa, seus clientes e colaboradores, já que o total de perdas nos meses

do 2º semestre foi zero.

Isso significa que o custo para a implantação das melhorias foi menor do que as perdas

por desvios de qualidade. Portanto, fica comprovada a citação de Crosby, 1979: “Prevenir

não-conformidades é mais barato que corrigir ou refazer o trabalho”. Evitar que o desvio

aconteça é mais compensador do que corrigir o desvio depois de ocorrido.

Sem dúvida o trabalho desenvolvido demonstrou claramente esta realidade. As

vantagens aparecem a curto, médio e longo prazo e os impactos na produtividade e

lucratividade ficam muito evidentes.

47

ANEXO 1: Ensaio de Compressão nº 000010

TECNO CINTOSTECNO CINTOSTECNO CINTOSTECNO CINTOS ENSAIO: 000010 DATA: 30/04/2008 HORA: 14:30:01 NORMA: COMPRESSÃO TRABALHO REALIZADO: COMPRESSÃO IDENTIFICAÇÃO: FORÇA DE CRAVAGEM CÉLULA DE CARGA: 5000 kgf PRÉ CARGA (1a. Amostra): 0,00 N PRÉ CARGA(Demais Amostras): 0,00 N VEL. DESLOC.: 800,00 mm/min TEMPERATURA: 25,00°C UMIDADE RELATIVA: 50,00 %

MÁQUINA DE ENSAIO KRATOS (TRCv6109A-USB)

48

Resultados do Ensaio:

MÁQUINA DE ENSAIO KRATOS (TRCv6109A-USB)

49

ANEXO 2: Ensaio de Extração nº 000011

TECTECTECTECNO CINTOSNO CINTOSNO CINTOSNO CINTOS ENSAIO: 000011 DATA: 30/04/2008 HORA: 15:37:03 NORMA: COMPRESSÃO TRABALHO REALIZADO: COMPRESSÃO IDENTIFICAÇÃO: FORÇA DE EXTRAÇÃO CÉLULA DE CARGA: 5000 kgf PRÉ CARGA (1a. Amostra): 0,00 N PRÉ CARGA(Demais Amostras): 0,00 N VEL. DESLOC.: 800,00 mm/min TEMPERATURA: 25,00°C UMIDADE RELATIVA: 50,00 %

MÁQUINA DE ENSAIO KRATOS (TRCv6109A-USB)

50

Resultados do Ensaio:

MÁQUINA DE ENSAIO KRATOS (TRCv6109A-USB)

51

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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