tcc contÁbeis

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CENTRO UNIVERSITÁRIO FUNDAÇÃO SANTO ANDRÉ FACULDADE DE CIÊNCIAS ECONOMICAS E ADMINISTRATIVAS BACHARELADO EM CIÊNCIAS CONTABEIS E ATUARIAIS A EVOLUÇÃO DAS TÉCNICAS CONTÁBEIS E AS EXIGÊNCIAS PARA COM OS SEUS PROFISSIONAIS POR EVERTON BIOZOTTI DA SILVEIRA FERNANDA GUERRA DE TOLEDO PINHEIRO LUCIA ELIZABETE DA SILVA BELTRANO PIERRE JOSÉ DE LUNA MARIA RENATA ESTEVES ROQUE LOURENÇÃO TÂNIA CRISTINA BLANCO NOGUEIRA Santo André, SP. 2012

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TCC CONTABEIS

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Page 1: TCC CONTÁBEIS

CENTRO UNIVERSITÁRIO FUNDAÇÃO SANTO ANDRÉ FACULDADE DE CIÊNCIAS ECONOMICAS E ADMINISTRATIVAS

BACHARELADO EM CIÊNCIAS CONTABEIS E ATUARIAIS

A EVOLUÇÃO DAS TÉCNICAS CONTÁBEIS E AS EXIGÊNCIAS

PARA COM OS SEUS PROFISSIONAIS

POR

EVERTON BIOZOTTI DA SILVEIRA

FERNANDA GUERRA DE TOLEDO PINHEIRO

LUCIA ELIZABETE DA SILVA BELTRANO

PIERRE JOSÉ DE LUNA MARIA

RENATA ESTEVES ROQUE LOURENÇÃO

TÂNIA CRISTINA BLANCO NOGUEIRA

Santo André, SP.

2012

Page 2: TCC CONTÁBEIS

CENTRO UNIVERSITÁRIO FUNDAÇÃO SANTO ANDRÉ FACULDADE DE CIÊNCIAS ECONOMICAS E ADMINISTRATIVAS

BACHARELADO EM CIÊNCIAS CONTABEIS E ATUARIAIS

A EVOLUÇÃO DAS TÉCNICAS CONTÁBEIS E AS EXIGÊNCIAS

PARA COM OS SEUS PROFISSIONAIS

POR

EVERTON BIOZOTTI DA SILVEIRA n° 21981

FERNANDA GUERRA DE TOLEDO PINHEIRO n° 22876

LUCIA ELIZABETE DA SILVA BELTRANO n° 22728

PIERRE JOSÉ DE LUNA MARIA n° 21961

RENATA ESTEVES ROQUE LOURENÇÃO n° 18681

TÂNIA CRISTINA BLANCO NOGUEIRA n° 21977

Trabalho de Conclusão de Curso,

apresentado à Faculdade de Ciências

Econômicas e Administrativas do Centro

Universitário Fundação Santo André,

como exigência parcial para obtenção do

grau de Bacharel em Ciências Contábeis.

Orientador: Prof Me. Marcos Aurélio da

Silva

Santo André, SP.

2012

Page 3: TCC CONTÁBEIS

FICHA CATALOGRÁFICA

Sic Silveira, Everton Biozotti da

A Evolução das Técnicas Contábeis e as Exigências para com os seus Profissionais. Everton Biozotti da Silveira/-- Santo André, 2012.

96fl.

Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Ciências Contábeis) – Faculdade de Ciências Contábeis e Econômicas, Centro Universitário Fundação Santo André, Santo André.

Bibliografia Orientação de: Marcos Aurélio da Silva

1. Evolução da Contabilidade. 2. Técnicas Contábeis

3. Contabilidade Globalizada

Page 4: TCC CONTÁBEIS

“Dedicamos este trabalho a todos aqueles que, de alguma maneira,

contribuíram na nossa caminhada até aqui, nos apoiando nos momentos

difíceis e nunca medindo esforços para nos ajudar. A todos aqueles que

amamos e são nossa fonte de inspiração, o nosso muito obrigado!”

Page 5: TCC CONTÁBEIS

"A educação não transforma o mundo. Educação muda pessoas. Pessoas transformam o mundo."

Paulo Freire

“O sucesso é ir de fracasso em fracasso sem perder o entusiasmo.” Winston Churchill

Page 6: TCC CONTÁBEIS

AGRADECIMENTOS

Agradecemos primeiramente a Deus, do Qual nada seríamos sem a fé

que Nele depositamos.

Aos nossos pais, irmãos, companheiros (as) e a todas as nossas

famílias, que com muito carinho e apoio, não mediram esforços para que

chegássemos nesta etapa de nossas vidas.

Ao professor Marcos Aurélio pela paciência na orientação e incentivo

que tornaram possível a conclusão deste trabalho.

A todos os professores do curso, tão importantes na nossa vida

acadêmica e no nosso desenvolvimento.

Aos nossos amigos e colegas, pelo convívio, apoio, compreensão e

amizade.

Page 7: TCC CONTÁBEIS

Silveira, Everton Biozotti da. A Evolução das Técnicas Contábeis e as exigências

para com os seus profissionais. 138fl. Dissertação (Graduação em Ciências

Contábeis e Atuariais – Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas) —

Centro Universitário Fundação Santo André, Santo André, 2012.

RESUMO

Este trabalho oferece um estudo diferenciado da contabilidade,

sendo possível acompanhar em sua evolução, o aperfeiçoamento

das técnicas contábeis ao longo de sua história, assim como as

tendências ao qual essa ciência se insere no mundo globalizado.

Será agregada ao público interessado pela leitura desta síntese, a

utilização da técnica contábil pelos povos antigos, como eram feitos

seus registros e a representatividade de suas funções.

Acompanhamos como a contabilidade se tornou fundamental para o

controle patrimonial e como ajudou no desenvolvimento das

primeiras civilizações.

Destacamos a contabilidade no Brasil, tendo por início a

contabilidade pública trazida pela família real Portuguesa, passando

pelas mudanças do perfil do contador, deixando de ser um simples

guarda-livros, tornando-se um profissional que passa a tomar

decisões importantes para o desenvolvimento organizacional.

A globalização fez com que a contabilidade passa-se a ter um

papel social e as organizações destacaram em suas demonstrações

o quanto se devolve para a sociedade em recursos, emprego e

benfeitorias através do Balanço Social, com programas de

responsabilidade social.

A contabilidade hoje é uma das matérias que mais se destacam em

meio ao cenário global, devido a sua importância, pois em apenas

uma folha é permitido dizer a situação patrimonial de uma

organização.

Palavras Chaves: Evolução da Contabilidade, Técnicas Contábeis,

Contabilidade Globalizada.

Page 8: TCC CONTÁBEIS

Silveira, Everton Biozotti da. A Evolução das Técnicas Contábeis e as exigências

para com os seus profissionais. 138fl. Dissertação (Graduação em Ciências

Contábeis e Atuariais – Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas) —

Centro Universitário Fundação Santo André, Santo André, 2012.

ABSTRACT

This work offers a differential study of accounting, being able to

follow about their evolution, the improvement of accounting

techniques throughout the history, as well as trends to which this

science is part of the globalized world. Will aggregate the audience

interested in reading this summary, the use of technical accounting

by ancient people, as their records were made and

representativeness of their duties. We track how accounting became

central to the control sheet and how it helped in the development of

the first civilizations.

Featuring accounting in Brazil, with the top public accounting

brought by the Portuguese royal family, through the changes of the

profile of the counter, no longer a mere bookkeeper, becoming a

professional who comes to making important decisions for

organizational development .

Globalization has made the accounting is to have a social role and

the organizations highlighted in its financial returns to be how

society resources, employment and improvements through Social

with social responsibility programs.

Accounting today is one of the subjects that stand out amid the

global scenario, due to its importance, because in just a leaf is

allowed to say the financial situation of an organization.

Key Words: Evolution of Accounting, Technical Accounting,

Accounting Globalized.

Page 9: TCC CONTÁBEIS

SIGLAS E ABREVIAÇÕES

a.C > Antes de Cristo

ABRASCA > Associação Brasileira das Companhias Abertas

AICPA > American Association of Public Accountants

APIMEC NACIONAL > Associação Nacional dos Analistas e

Profissionais de Investimento de Mercado de Capitais

BOVESPA > Bolsa de Valores de São Paulo

CFC > Conselho Federal de Contabilidade

CFE > Conselho Federal de Educação

COFINS > Contribuição para Financiamento da Seguridade Social

CPC > Comitê de Pronunciamentos Contábeis

CRC > Conselho Regional de contabilidade

CVM > Comissão de Valores Mobiliários

DFC > Demonstração de Fluxo de Caixa

DOAR > Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos

ECD > Escrituração Contábil Digital

EFD > Escrituração Fiscal Digital

FECAP > Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado

FIPECAFI > Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais

e Financeiras

IBRACON > Instituto Brasileiro de Contadores

IFAC > International Federation of Accoutants

IFRS > International Financial Reporting Standards

IN > Instrução Normativa

IRPJ > Imposto de Renda Pessoa Jurídica

PAC > Programa de Aceleração do Crescimento

PIS > Programas de Integração Social

RFB > Receita Federal do Brasil

RTT > Regime Tributário de Tributação

SPED > Sistema Público de Escrituração Digital

USP > Universidade São Paulo

Page 10: TCC CONTÁBEIS

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Ilustração 1 – Hieróglifos feitos pelos escribas .......................................... 18

Ilustração 2 – Tábua de barro de 2040 a.C ............................................... 21

Ilustração 3 – Tábua de madeira romana .................................................. 23

Ilustração 4 – Vela latina ........................................................................... 25

Ilustração 5 – Leonardo Fibonacci ............................................................. 27

Ilustração 6 – Luca Paciolli ........................................................................ 31

Ilustração 7 – Página de livro diário de julho de 1709 ................................ 37

Ilustração 8 – Livro Diário do Século XIX .................................................. 40

Ilustração 9 – Balanço Patrimonial de 1906 ............................................... 41

Ilustração 10 – Livro-diário alemão de 1.933 ............................................. 43

Ilustração 11 – Visconde de Cairú ............................................................. 47

Ilustração 12 – Evolução do ensino da contabilidade no Brasil.................. 53

Ilustração 13 – Anuncio de vaga para guarda livros .................................. 56

Ilustração 14 – Anúncio para vaga de escriturário ..................................... 56

Ilustração 15 – Antiga Estrutura do Balanço Patrimonial ........................... 62

Ilustração 16 – Balanço Patrimonial conforme lei 11941/09 ...................... 68

Page 11: TCC CONTÁBEIS

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................... 13

I – A EVOLUÇÃO DA CONTABILIDADE NO MUNDO .............................. 15

1.1 Surgimento da Contabilidade e suas formas de escrituração .............. 15

1.2 Os Egípcios ......................................................................................... 17

1.3 Os Gregos ........................................................................................... 19

1.4 Os Romanos........................................................................................ 20

1.5 O Desenvolvimento das Partidas Dobradas ........................................ 28

1.6 Escola Administrativa ou Lombarda .................................................... 37

1.7 Escola Personalista ............................................................................ 38

1.8 Escola Controlista ............................................................................... 38

1.9 Escola Norte Americana ..................................................................... 39

1.10 Escola Neocontista ........................................................................... 41

1.11 Escola Alemã .................................................................................... 42

1.12 Moderna Escola Italiana ................................................................... 44

1.13 Escola Patrimonialista ...................................................................... 44

II – EVOLUÇÃO DA CONTABILIDADE NO BRASIL DESDE O IMPÉRIO ATÉ OS DIAS ATUAIS .............................................................................. 46

2.1 Contabilidade no Brasil ........................................................................ 46

2.2 Momentos marcantes na Contabilidade Brasileira ............................... 49

2.2.1 Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado ( FECAP ) ......... 51

2.2.2 Conselho Federal de Contabilidade e Conselho Regional de Contabilidade ( CFC e CRC) ................................................................... 52

2.3 O Perfil do Contador ............................................................................ 52

Page 12: TCC CONTÁBEIS

2.3.1 Guarda livros .................................................................................. 55

2.3.2 A transformação da profissão contábil ............................................ 56

2.3.3 Áreas de atuação do contador ........................................................ 59

2.3.4 Ética do contador ............................................................................ 61

2.4 Antiga estrutura do Balanço Patrimonial .............................................. 62

2.5 Contabilidade como Ciência Social ..................................................... 63

2.6 Princípios Contábeis ............................................................................ 63

2.7 Profissionais contábeis dignos de notoriedade .................................... 67

2.7.1 Alberto Almada Rodrigues .............................................................. 67

2.7.2 Antônio Lopes de Sá ....................................................................... 68

2.7.3 Francisco D’Áuria ........................................................................... 68

2.7.4 Frederico Hermann Júnior .............................................................. 69

2.7.5 Hilário de Franco ............................................................................ 69

2.8 A Contabilidade e a Ciência Econômica .............................................. 70

2.9 A Contabilidade e a Administração ...................................................... 70

2.10 A Contabilidade e os Tributos ............................................................ 71

III – TENDÊNCIAS E PROJEÇÕES DAS TÉCNICAS CONTÁBEIS .......... 72

3.1 Tendências e novos paradigmas da Contabilidade Contemporânea Globalizada ............................................................................................... 72

3.2 Lei 11639 / 07 ...................................................................................... 75

3.3 Lei 11491 / 09 ...................................................................................... 77

3.4 Comitê de Pronunciamentos Contábeis ( CPC ) .................................. 78

3.5 Contabilidade digital no Brasil .............................................................. 80

3.6 Sistema Público de Escrituração Digital ( SPED )................................ 82

3.6.1 Nota Fiscal Eletrônica ( NF-e ) ........................................................ 84

Page 13: TCC CONTÁBEIS

3.6.2 Escrituração Contábil Digital ( ECD ) .............................................. 85

3.6.3 Escrituração Fiscal Digital ( EFD ) .................................................. 86

3.7 Novo profissional contábil .................................................................... 88

3.8 Contabilidade Socioambiental ............................................................. 90

3.8.1 O CFC e a Responsabilidade Social ............................................... 91

3.8.2 Balanço Social ................................................................................ 92

CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................... 97 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................ 100

Page 14: TCC CONTÁBEIS

13

INTRODUÇÃO

A problemática do objeto de nosso estudo procura evidenciar, de forma

abrangente, o escopo da evolução da técnica contábil, partindo de uma

investigação que abarca os primórdios da civilização, transcorrendo pelo

período Brasil colônia, e por fim chegando ao contexto contemporâneo.

A metodologia utilizada engloba uma revisão bibliográfica fundamentada

em obras de grandes estudiosos da área contábil, pesquisas em órgãos

de classe e sítios relacionados ao tema proposto, através de artigos e

publicações.

Nosso objetivo é demonstrar como evoluíram as técnicas contábeis

utilizadas em cada período da história e como a profissão se consolidou

na sociedade, sendo um profissional de grande importância para o

desenvolvimento das sociedades e das tecnologias sempre presentes.

Primeiramente, apresentamos a história da contabilidade, tão antiga

quanto à história da civilização, onde sempre houve a necessidade de

proteção e controle sobre aquilo que o homem possuía, demonstrando

as técnicas rudimentares utilizadas das escritas egípcias ao

desenvolvimento das partidas dobradas. Destaca-se a importância no

período antigo como na era cientifica e suas escolas que influenciaram

os estudos da contabilidade.

Posteriormente, abordamos a chegada dos Portugueses ao Brasil com

sua necessidade de registros sobre riquezas e bens, surgindo o

profissional chamado guarda-livros. A profissão no país foi evoluindo e

necessitando de mais conhecimentos e estudos, surgindo às primeiras

escolas direcionadas a contabilidade e ao comércio que crescia.

Com isto surgiram as primeiras normas, leis e sindicatos para

regularizar e proteger o profissional da contabilidade, como a Comissão

Valores Mobiliários, fortalecendo e dando credibilidade a profissão. Um

momento notório foi a implantação da nova Lei das Sociedades

Anônimas e a publicação das Normas Brasileiras de Contabilidade,

primordial para a profissional contábil.

Finalmente, analisamos os novos paradigmas da contabilidade, sua

adequação a globalização e a evolução tecnológica, apresentando as

leis que trarão a padronização de uma contabilidade única por todo o

Page 15: TCC CONTÁBEIS

14

mundo, como também o papel do profissional e seu atual desempenho

na organização, agindo como tomador de decisões gerenciais e sua

preocupação social na sociedade.

As principais características de nosso estudo representam um

levantamento geral da história da Contabilidade no mundo e no Brasil,

focando principalmente as técnicas contábeis e a qualidade dos

registros, tanto quanto a transformação do profissional dentro desta

evolução até os dias atuais.

Page 16: TCC CONTÁBEIS

15

I – A EVOLUÇÃO DA CONTABILIDADE NO MUNDO

1.1 Surgimento da Contabilidade e suas formas de escrituração

A Contabilidade, sendo uma ciência que resume, registra e interpreta

os fenômenos que afetam as situações financeiras, econômicas e

patrimoniais de qualquer entidade, surgiu com os primórdios da

civilização, na época em que os homens primitivos representavam seus

patrimônios (rebanhos, metais e outros bens) através de desenhos e

gravações.

O surgimento da Contabilidade pode ser explicado pela necessidade de

suprir as limitações da memória humana, através de um processo de

classificação e registro, permitindo recordar facilmente as correntes

variações de determinadas grandezas, para que em qualquer momento

pudesse saber sua dimensão.

Os primeiros vestígios arqueológicos da contabilidade ocorreram antes

do aparecimento da escrita, cerca de 8.000 anos antes da era cristã,

através de fichas de barro, sendo notável o surgimento de um sistema

para registro de localização de mercadorias, seus proprietários e direitos

respectivos, como também possíveis dívidas surgidas através de

transferências.

As fichas contábeis, antecessoras e propulsoras da escrita e da

contagem no sentido abstrato, foram utilizadas abundantemente,

representando as mercadorias em transações comerciais, transferindo

fichas de barro como ilustração da entrada e saída física de ativos.

Percebe-se a Contabilidade na cultura de vários povos, tais como os

egípcios, os árabes, os sumérios, os hititas e os romanos, sendo os

últimos responsáveis pelas escalas decimais. Antes da criação dos

Page 17: TCC CONTÁBEIS

16

números a contagem dos animais era realizada utilizando pedras, ou

ainda uma contagem simples com os dedos das mãos.

Segundo Lopes de Sá (2007 p. 37) a historia da contabilidade divide-se

em quatro períodos distintos:

“ ...1º Período – Historia Antiga ou Contabilidade Empírica que vai de

cerca de 8.000 anos atrás, até 1202 da era cristã”. Neste período,

registravam-se os fatos contábeis na Suméria, Egito, e em outros países,

terminando esse período quando do aparecimento do LiberAbaci, de

Leonardo Fibonaci, o Pisano;

2º Período – História Média ou da Sistematização da Contabilidade, que

vai do ano de 1202 a 1494. Nesse período da evolução da Contabilidade, os

registros contábeis assumiram atitudes sistemáticas já no ano de 1494,

tendo como marco a publicação da obra de Luca Paciolo, na cidade de

Veneza (Itália), o seu famoso tratado intitulado Summa de Arithmetica,

geometria ProportionietProportionalita, iniciando uma nova era para a

contabilidade científica.

3ºPeriodo – História Moderna ou da Literatura da Contabilidade, que vai

do ano de 1494 a 1840. Segue a fase da literatura com centenas de obras

em todo o mundo, todas de teor prático, terminado com a obra “La

contabilitá applicata alle amministrazione private epubliche”.

4º Período – Historia Contemporânea ou Cientifica da Contabilidade, do

ano de 1840 até aos nossos dias, onde surge as Doutrinas Contábeis, em

seu surgimento da evolução.”

Como toda ciência, a ciência contábil evoluiu fixada em alguns

alicerces. Estes, ao longo de sua evolução, foram de tamanha

relevância, tornando-se distintos e primordiais, permitindo o

conhecimento das etapas de seu crescimento e desenvolvimento.

Como exemplo disto, o conceito do numeral zero, descrito pela primeira

vez na obra Al-jabr, ou Álgebra, pelos árabes, representou um

conhecimento que se expandiu e culminou no método de partidas

dobradas. Acredita-se que por volta do ano de 2.300 a. C., os hindus já

faziam uso do “0”, o que tornou este povo um forte conhecedor da

matemática, dissipando esse conhecimento para os povos com quem

realizavam transações comerciais.

Page 18: TCC CONTÁBEIS

17

Assim, com base em tantas evidências, não podem restar dúvidas de

que contemporaneamente à evolução das civilizações, a Contabilidade

foi se manifestando, ainda que de forma empírica, dentro desse mesmo

contexto evolutivo, e cada civilização que abarcou parte de sua evolução

tornou-se uma referencia intelectual de seu tempo, abrindo assim, uma

oportunidade para o desenvolvimento de novos conhecimentos.

1.2 Os Egípcios

A civilização egípcia originou-se a mais de 5.000 anos a. C. Os egípcios

eram muito desenvolvidos para a época, já possuindo uma legislação

própria para o comércio e para o funcionamento de seus bancos. A

contabilidade pública já podia ser observada, tendo como objetivo

controlar o patrimônio da família real, assim como também era presente

na organização política. Talvez isso possa justificar o desenvolvimento

econômico deste povo, considerado uma das civilizações mais

prósperas da época.

O Egito representa um dos povos que mais registraram a sua historia.

Os escribas, assim denominados os responsáveis pelas escritas nas

pirâmides para controle, eram de papel fundamental, pois

demonstravam a responsabilidade de fiscalização e registro das

mutações do patrimônio real.

Eles eram divididos em categorias, tendo atividades administrativas e

contábeis distintas, assim como responsabilidades muito bem definidas,

dependendo de cada tarefa realizada. Também eram responsáveis por

controlar a agricultura, agropecuária e guarda de tesouros, fiscalizando

os camponeses com o objetivo de registrar os montantes produzidos.

Page 19: TCC CONTÁBEIS

18

Entre os principais tipos de escriba, havia os escribas agrários, assim

denominados por serem responsáveis pela escrituração e registro das

produções agrícolas. Os escribas responsáveis pela escrituração dos

depósitos, registravam, contavam e armazenavam os produtos colhidos

e produzidos. Havia também os escribas de tesouraria, responsáveis por

salvar a guarda dos tesouros e recolhimento dos tributos, além de

guardar os objetos pessoais de valores dos faraós e realizarem o

registro das movimentações.

Ilustração 1: Hieróglifos feitos pelos escribas Fonte: Portal Info Escola

Nas escritas egípcias, nos chamados hieróglifos registrados nas

pirâmides, havia uma conta denominada “A Casa das Contas”, cuja

função era registrar a fiscalização e os impostos recolhidos.

Para Lopes de Sá (2007 p. 25):

“... uma prova inequívoca do avançado estágio da contabilidade egípcia está

apresentada nos registros do livro de contas da corte real de Tebas, ao fim do

Reino Médio, onde a escrituração contábil era realizada por processo

matricial diário, evidenciando as origens dos recursos da Casa Real.”

Page 20: TCC CONTÁBEIS

19

1.3 Os Gregos

Na história da civilização grega, podemos encontrar vestígios da

contabilidade. Neste período marcado por guerras, os controles dos

bens conquistados e riquezas geradas eram indispensáveis. Podemos

observar a contabilidade através dos coletores de impostos,

denominados Mastroi ou Colocretai, pois já havia a arrecadação,

recolhimento e prestação de contas do tesouro público.

Além dos cobradores de impostos, havia os revisores de contas,

denominados Logistas, Logigestes ou Logotetas, que tinham como

função rever e recontar as operações realizadas. Esse serviço

geralmente era realizado por escravos, já que o pensamento da época

levava-se a pensar que por punições físicas, podia-se confiar na

fidedignidade de suas informações prestadas.

D’Áuria (História do Pensamento Contábil, 2ª edição 2007 pg. 25) cita

em sua obra que:

“O exame das contas dos gregos era realizado pelos EUTIMOS e

LOGISTAS, semelhantes aos contadores de hoje. Nota-se que a função

desses profissionais, em número de dez, era semelhante a dos atuais

membros do tribunal de contas.”

Em Athenas, uma das cidades mais prospera do período, existia o

templo chamado Delfos, que representava uma instituição bancária,

emitindo títulos de crédito aceitos em diversas praças, facilitando o meio

de troca. Para a eficiência dessas operações, era indispensável a

aplicação da contabilidade e controle, garantindo assim o retorno.

Não apenas as instituições bancárias da época possuíam esse controle

contábil, mas também as contas públicas possuíam essa apuração, pois

Page 21: TCC CONTÁBEIS

20

em 325 a.C. , Aristóteles dava ao senado poder de administrar as

contas públicas, realizado pelos Poletas.

Os Poletas realizavam a escrituração, sendo obrigados a prestarem

contas utilizando-se de registros perante a um tribunal com mais de 500

membros, podendo ser comparado a nossa controladoria de hoje. Estes

registros também eram feitos com pedras, com a finalidade de serem

mostradas para conferência pública em geral. Além dos Poletas, havia

também os Apodectas, com o papel de realizar a baixa das contas,

justificando o motivo de seu encerramento, já que havia um controle

rigoroso para isto, garantindo que o dinheiro recebido fosse entregue

corretamente aos seus interessados, onde qualquer erro dado por falta

era punido com a morte.

Segundo Lopes de Sá (2009 p. 63):

“A contabilidade dos templos e a do Estado, na Grécia, era indispensável,

e a Pública era gravada em estrelas de mármore, e estas colocadas em

praças que tomassem conhecimento das entradas e das saídas do

dinheiro”.

1.4 Os Romanos

Roma foi uma das civilizações mais grandiosas de sua época, tendo

dominado diversos países. Uma ferramenta que facilitou a sua ascensão

econômica foi o controle sobre suas operações. Grande parte de sua

arrecadação era investida em seus exércitos, a fim de garantir o domínio

dos povos já conquistados e realizar novas conquistas.

Os primeiros registros eram escritos em tábuas de madeira, sendo

posteriormente gravados em mármore. Quando essas contas

apresentavam um grau de importância maior, era necessário elaborá-las

Page 22: TCC CONTÁBEIS

21

em lâminas de cobre. Para que essas escrituras não fossem perdidas,

foi criada uma espécie de arquivo denominado Tabularium, que

guardavam essas tábuas. Em caso de erro na escrita, este era corrigido

imediatamente, equivalente a uma espécie rudimentar de estorno.

Ilustração 2: Tábua de barro de 2040 a.C Fonte: Wikipédia

Os romanos apresentavam uma organização administrativa admirável,

com cargos e funções muito bem definidas, a fim de conseguir controlar

o patrimônio público. Podemos então afirmar que seria um controle

público ou Contabilidade Pública, não tendo a finalidade que hoje se

apresenta em gerar estabilidade social, mas apenas com o intuito de

garantir os investimentos e o fortalecimento do império. Dentre os

cargos existentes, havia os Scribis, que apresentavam

responsabilidades no que diz respeito à contabilidade geral e os

Tabularis, que organizavam uma espécie de relatório, com as contribuis

(tributos) devendo estas ser encaminhadas para os Susceptores ou

Perceptores.

Também havia os Imperadores, mantendo vários escritórios

administrativos, os Primicerius Numerarium, que podiam ser chamados

Page 23: TCC CONTÁBEIS

22

de contadores chefes, com a responsabilidade de acompanhar os

trabalhos realizados, os Ratiocinatores , os contadores do príncipe e os

Rationalis Summarum, responsáveis pela guarda e movimento das

riquezas e tributos arrecadados;

Essas divisões faziam parte de uma grande estrutura administrativa,

que seguia uma rigorosa hierarquia, criando assim um processo de

conferência das transações realizadas, muito próximo aos que

empresas possuem hoje, que definem as atividades, cargos e

responsabilidades a fim de fortalecer o processo e evitar erros.

Se fizermos uma avaliação profunda, podemos observar uma

similaridade com o processo de auditoria, uma vez que esses

“funcionários” prestavam contas de seus registros, mostrando que o

controle e o registro contábil foram fundamentais para o

desenvolvimento econômico dessa civilização. Obviamente tal controle

era feito de um modo arcaico, porém, em sua época, era muito eficiente.

Roma, no que se refere a sua contabilidade pública, realizava outras

funções administrativas bem parecidas com as praticadas atualmente.

Os Escribis emitiam recebidos de todos os pagamentos de tributos e

havia um cargo, parecido com o de um tesoureiro, chamado de Questor,

cujo objetivo era entregar os recibos aos contribuintes que realizavam o

pagamento dos tributos.

Esses registros eram feitos em um livro chamado de Codexadversaria,

que representa o atual livro caixa, registrando as entradas e saídas de

dinheiro, que após a apuração eram transferidos para um livro que pode

ser comparado ao livro caixa geral, denominado Codex Accepti et

Expensi.

Page 24: TCC CONTÁBEIS

23

Posteriormente, esses dados eram transferidos para uma espécie de

livro razão, chamado de Codex Tabulae, e havia também um livro

exclusivo para anotar os empréstimos e juros recebidos denominado de

Calendarium. Assim, os registros eram arquivados no Tabularium,

também chamado de baú.

Ilustração 3: Tábua de madeira Romana Fonte: Wikipédia

Roma seguiu uma estrutura de controle muito similar a nossa, não se

limitando apenas aos registros. Os auditores da época, chamado de

Questores, além de conferir se as contas e registros estavam corretos,

também avaliavam os valores concedidos por empréstimos, verificando

se estavam dentro do limite de crédito.

Já naquela época, era comum deparar-se com fraudes e desvios de

recursos, o que se tentava evitar efetuando este processo de

conferência, justificando o porquê de boa parte desses controles serem

efetuados utilizando-se de mão de obra escrava, facilitando o controle

dos registros.

Page 25: TCC CONTÁBEIS

24

Segundo Lopes de SÁ (2009 p. 63) registra-se que:

“A queda do Império Romano, ocorrida no século V da nossa era, deu lugar

a um período de lentos progressos no Ocidente, mas de evoluções no

Oriente, em relação á Historia da Contabilidade, operando como se fosse

um retorno do destino. Com a queda do Império Romano não se extinguiu o

que já se acrescentava aos progressos de conhecimentos contábeis, mas,

com o declínio da riqueza, na Europa, foi inevitável isso ocorrer no ocidente;

todavia com a evolução no mundo árabe, prosseguia e a daria a este

condição de contribuir para o desenvolvimento no campo da contabilidade.”

A Arábia apresentou uma forte contribuição para a evolução do conceito

do numeral zero, dando por início a criação do Corão em 610, o que

levou a originar uma das maiores religiões nos dias de hoje, o Islã,

movimento religioso que se dissipou rapidamente pela Europa, Ásia e

Oriente Médio.

Mais adiante, ocorreu um fato que transformou a contabilidade: Houve a

primeira transferência de capital, podendo os recursos de o antigo

Império Islã ser transferidos para a sua recém-fundada cidade, Bagdá.

Assim, foi criado nessa cidade um grande centro de conhecimento, o

qual possibilitou que chegasse a Índia a descoberta do conceito zero.

Os exércitos de Alexandre o Grande chegavam à Índia, e nesse

momento houve uma considerável troca de conhecimento, o que mais

tarde resultou na construção de uma escola com os estudos voltados

para a Astrologia, tal ciência que fascinava os Gregos e os Indianos.

Nesta mesma escola foi criada a primeira obra sobre álgebra, pelo

bibliotecário Califa, cuja obra levava o nome de Al-JabrWa´lMugabala,

palavra que originou o termo Álgebra. O conceito zero foi levado a

varias nações com a expansão do comercio e da exportação entre os

povos.

Page 26: TCC CONTÁBEIS

25

Os séculos das descobertas, ocorridas entre os anos de 751 até 1492,

puderam ser assim nomeados graças a uma fábrica de papel capturada

na China, a qual logo se transformou em uma metrópole de exportação.

No século IX, também na China, ocorreu a descoberta pólvora. Em

1180 foi descoberta na Europa, uma invenção chinesa que a auxiliava

na navegação e que se tornou obrigatória pelo Rei Ricardo. A bússola

foi primordial para o avanço das navegações e para o crescimento do

comércio entre as nações, aumentando o fluxo de importações e

exportações.

Os povos passaram a poder se comunicar, trocando experiências e

conhecimentos. Outra contribuição também para as navegações, que

mais tarde seria fundamental para descoberta da América, foi a Vela

Latina, que também facilitava a negação, pois não precisava de vento

apenas na popa, podendo ser utilizada contra o vento.

Ilustração 4: Vela latina Fonte: Baú de Macau

No ano de 1202 ocorreram publicações importantes, as quais levaram a

denominação da Era da Contabilidade Medieval. Neste período,

estudava-se bastante a matemática, como seus pesos e medidas, o que

possibilitou o conhecimento para controle e administração do patrimônio

nas atividades econômicas de agricultura e comércio.

Page 27: TCC CONTÁBEIS

26

Este avanço trouxe prosperidade e acúmulo de riquezas, mas também

facilitava a propagação de doenças. No ano de 1.347, alguns grupos de

marinheiros trouxeram consigo uma doença conhecida como peste

negra ou peste bubônica, que se espalhou rapidamente pela Europa,

dizimando mais de um terço de sua população.

Ainda neste período, houve a escassez de mão de obra e,

consequentemente, a elevação salarial, fazendo com que os

trabalhadores do campo, fundamentais para o sistema econômico

vigente na época feudal, começassem a migrar do campo para os

centros comercias, em buscando salários mais atrativos. Assim iniciou-

se o declínio do feudalismo.

Após estas transformações, a contabilidade passou por um período de

estagnação, também descrito por alguns autores como período

estacionário, já que a contabilidade devido às crises políticas e

econômicas, ocorridas entre os anos de 476 até 1492, não apresentou

evoluções consideráveis. Sendo uma ciência que rege da disciplina, a

contabilidade neste momento não ganhou espaço para se desenvolver,

devido a guerras e disputas políticas, além do aumento da diversidade

étnica.

Muitos dos livros publicados sobre contabilidade não eram circulados,

devidos a sua escrita manual, o que tornava os livros mais caros e

também pela forte influência religiosa da época, que tinha um controle

muito forte, nas questões científicas e literárias. Alguns autores afirmam

que a próprio vaticano nessa época possuíam mais de seiscentos livros

em seus arquivos literários sobre receitas e despesas.

Page 28: TCC CONTÁBEIS

27

Um dos escritores de grande importância antes de Luca Pacioli , foi o

Italiano Leonardo Fibonacci, que viveu entre os anos de 1175 a 1250, na

cidade de Pisa na Itália. Ele escreveu um livro chamado Liber Abaci no

ano de 1202, que logo passou a ter influências sobre os registros

contábeis.

Ilustração 5: Leonardo Fibonacci Fonte: Science Photo

Várias empresas comercias na época fizeram a sua utilização de modo

cauteloso, devido ao medo de perseguição pela igreja, mas sem dúvida,

esta foi uma obra importante que nos mostra a importância na utilização

dos números arábicos na escrita contábil, não mais adotando os

numerais romanos, o que facilitou a contabilização de registros duplos,

tornando-se mais tarde o nosso crédito e débito.

Os seus estudos mostravam que essa substituição facilitava a adoção

do número zero, tornando os cálculos mais eficientes e precisos durante

a escrituração, que obtinha foco nas receitas e despesas, não como nos

nossos dias, mas apenas como registro e controle.

Outra contribuição de extrema importância não apenas para a

contabilidade, mas também para vários outros segmentos, tanto

científicos e literários, foi à invenção da Prensa de Gutenberg, o que

facilitou a impressão em massa de livros, descaracterizando um pouco o

Page 29: TCC CONTÁBEIS

28

processo manual, e que nessa época aumentou a circulação de livros,

tornando a cidade de Veneza o centro mundial da imprensa. Desse

modo, o chamado pai da contabilidade, Luca Pacioli, encontrou um

editor para a sua obra “Summa de Aritmetrica”, que revolucionou a

contabilidade.

1.5 O Desenvolvimento do Sistema das Partidas Dobradas

O surgimento do sistema das Partidas Dobradas começou a dar sinais

nos séculos XIII e XIV, juntamente com o inicio da Revolução Comercial,

havendo neste período um profundo desenvolvimento econômico entre

cidades do norte da Itália, como Florença, cidade totalmente agrícola e

feudal que já possuía um sistema de contabilidade voltado para o

controle do proprietário.

Com a chegada deste desenvolvimento econômico criou-se um Centro

Cosmopolita de banqueiros e comerciantes, tornando-se o maior centro

comercial de toda a Europa. Com este crescimento, surgiu a

necessidade de se criar métodos contábeis mais eficazes e gerar mais

conhecimentos a todos sobre como administrar e comercializar mais

produtos, documentando todo o acúmulo de bens e riquezas.

A prática do sistema das partidas dobradas tem indício de sua utilização

já no século XIII, onde se encontrou trabalhos de um funcionário da

cidade de Gênova de controle de caixa, entre outras contas, formando

um ciclo contábil de um ano disposto em contas para apresentação à

comunidade, criando-se a responsabilidade sobre os negócios públicos.

Page 30: TCC CONTÁBEIS

29

Segundo Lopes de Sá (2009, p.112):

“ Embora existam elementos que comprovem a prática do aludido sistema

no século XIII, período este de importante influência para a evolução, como

foi já referido, parece que a partida dobrada se firmou no século XIV. O

poderio de Gênova, Veneza, Milão, Florença, especialmente, espelhou-se

em peças contábeis já com rigor em partidas duplas, quer nos ramos

industriais, comerciais e bancários, quer nos entes governamentais.”

Embora nesta época não tenha havido obras da doutrina contábil com

os conceitos referidos, encontram-se vários escritos que demonstram

esta prática das partidas dobradas e aprimoramento na classificação

dos fatos patrimoniais. A consciência do lucro obtido como acréscimo de

um capital trouxe a criação da conta Capital e, consequentemente, a

criação de contas devedoras que sustentassem este Capital, tanto

quanto suas variações com contas de resultado.

Outros manuscritos encontrados no século XIV revelam débitos e

creditos colocados em parágrafos de forma vertical, evidenciando o uso

das partidas dobradas desde 1.335. Em Florença, outro manuscrito

datado entre 1.330 e 1.340 apresenta um sofisticado sistema de partidas

dobradas, independente das outras regiões. Lopes de Sá (2009, p.113)

comenta em sua obra que:

“Embora naquela época, na Itália, não existissem ainda obras contábeis

doutrinárias que se dedicassem a desenvolver os conceitos referidos,

todavia, no campo da escrituração das aziendas já se operavam relevantes

aprimoramentos na classificação dos fatos patrimoniais. Sobre a prática do

comércio, entretanto, surgiram escritos, como, o já referido manuscrito, sob o

título de Pratica della Mercatura, de data incerta, redigido provavelmente

entre 1.332 e 1.345 por um preposto dos empresários Bardi, Francesco di

Balduccio ‘Pegolotti’.”

Page 31: TCC CONTÁBEIS

30

Entre 1.332 e 1.345 foram encontrados manuscritos de autoria de

Francesco di Balduccio ‘Pegolotti’, que estaria a serviço de uma

empresa chamada Bardi. Estas escriturações já apresentavam a

utilização das partidas dobradas, mas não houve um desenvolvimento

de matérias doutrinarias sobre o método utilizado. Demonstravam que já

se utilizava esse processo de contabilização anterior a essas datas, ou

seja, nas primeiras décadas do ano de 1.300.

Outro registro foi de uma empresa chamada “Del Bene” (1.318 -1.324),

a qual possuía uma escrita contábil voltada para custos, por partida

dupla, em um livro denominado “Libro Nero”.

Coloca-se que há dois grandes fatores para o desenvolvimento das

partidas dobradas: a necessidade de um controle de capital e do lucro,

devido ao intenso comércio que surgia, e a necessidade de um controle

cambial, já que neste período surgiam moedas diferenciadas para cada

país, levando a necessidade de melhores registros, o que era feito

através do método das partidas dobradas de modo eficaz.

Podemos comprovar este trabalho na obra de Tommaso Zerbi,

intitulado “Razão do Banco Giussano”, entre 1.356 e 1.358, com

registros de dever e haver e levantamento de balanços. Temos a Itália

como forte influência nessa formação de técnicas de contabilidade, mas

há indícios de outras regiões com o uso das partidas dobradas, como a

França.

Page 32: TCC CONTÁBEIS

31

Ilustração 6: Luca Pacioli Fonte: Museu Contábil

Apenas no século XIV se encontra uma obra dedicada a toda técnica já

utilizada e aplicada há muito tempo. A obra foi “Summa de Aritmetrica,

Geometria, Proportioni et Proportonalita” (Súmula de Aritmétrica,

Geometria, Proporções e Proporcionalidade) impressa em 1494, período

da invenção do alemão Gutemberg sobre o sistema de impressão.

Lopes de Sá (2009, p.119) descreve a obra de Pacioli como:

“A Summa é um volume em “fólios” com 616 páginas (308 fólios), sendo o

primeiro livro “impresso” que trata de assuntos matemáticos e contábeis (não

é a primeira obra contábil, porque muitas outras se produziram antes, mas, é

a primeira que foi impressa). Divide-se em segmentos básicos: Aritmética e

Álgebra. Subdivide-se em distinctiones. As distinctiones estão divididas em

tractatus. O segundo segmento é o de Geometria. Divide-se, também, em

distinctiones. As distinctiones dividem-se em capitula. No primeiro segmento,

Distinctione Nona, Tractatus XI, está o tractatus de computis et scripturis que

o Frei dedicou à difusão das “partidas dobradas.”

Luca Pacioli não foi o criador das técnicas contábeis, mas foi o primeiro

a divulgar a doutrina e seus conhecimentos adquiridos, através da

descoberta da impressão neste período. A contabilidade já utilizava a

partidas dobradas, débito e credito, determinando lucros e perdas,

havendo cada vez mais a necessidade do comércio que se solidificava

de se registrar corretamente suas contas para ter uma visão exata de

seus negócios.

Page 33: TCC CONTÁBEIS

32

Depois de Pacioli, surgiram outros estudos da contabilidade, os quais

também mostravam em seu conteúdo as experiências do cotidiano,

evidenciando especialmente o processo de escrituração, apresentando

seus registros através de um sistema de contas, com o objetivo de

registrar uma dívida a receber ou a pagar, ou seja, o registro do haver e

do dever.

Segundo Eldon S. Hendriksen (1999, p.45) em sua obra:

“Débitos e Créditos: Mas, por que especificamente a escrituração por

partidas dobradas? O conceito de dualidade frequentemente utilizado para

justificar as partidas dobradas apenas exige que sejam reconhecidos dois

lados de cada transação. Isto poderia ser com igual facilidade feito numa

única coluna, usando sinais positivos e negativos, quanto em duas colunas

com débitos e créditos. Por exemplo, ao se usar caixa para adquirir

estoque, por que não simplesmente colocar um número positivo na coluna

estoque e um número negativo na coluna caixa numa planilha? Porque falar

de debitar uma conta e creditar outra? Porque toda essa maquinaria

complexa? O fato curioso é o de que, embora os inventores da

contabilidade dispusessem de conceitos tais como moeda, capital próprio e

despesas, não dispunham de números negativos! Havia a noção de

números negativos, mas, ainda em 1.544, matemáticos como o alemão

Michael Stifel os consideravam absurdos e fictícios. Na verdade, não foram

utilizados em matemática antes do século XVII. As contas sob a forma de T

foram desenvolvidas, portanto, para indicar aumentos de um lado e

reduções de outro. O saldo era obtido por uma técnica de “subtração por

oposição”, ou como dizia Pacioli, verificando-se “se o crédito foi superado

por seu débito”. Em outras palavras, toda a maquinaria de débitos e créditos

é uma solução engenhosa para um problema inexistente!”

Após este período importantíssimo, com a publicação da obra de

Pacioli, em 1.494, encontramos um longo período em que os estudos

das técnicas de contabilidade sofreram uma estagnação, mas houve

uma grande consolidação e divulgação das técnicas estudadas por todo

o mundo.

Também neste período encontramos as grandes navegações utilizadas

para explorações de novas terras e riquezas. Devido às necessidades

financeiras para financiamento dessas grandes viagens, surgiram as

Page 34: TCC CONTÁBEIS

33

empresas de capital conjunto, antecessoras as atuais sociedades por

ações. Um grupo de pessoas se reunia para financiar esses

empreendimentos, estabelecendo os direitos da participação de cada

componente deste grupo, sendo proporcionais a cada investimento feito

que fosse reembolsado quando do resultado final dessas explorações.

Dessa situação veio o termo “participação de liquidação”.

Uma das primeiras empresas de Capital conjunto foi a “Companhia das

Índias Orientais” na Inglaterra, em 1.600. A contabilidade teve papel

fundamental neste período, mostrando-se bastante complexa, e

substituindo a participação de liquidação por participações permanentes

no capital, com prática nos cálculos de lucros e perdas no final de cada

ano e não mais a cada viagem.

Esse período de consolidação da doutrina contábil evidenciou métodos

desenvolvidos que solidificaram a contabilidade. Os mais importantes

seriam a avaliação de ativos, considerando, além do preço pago na

aquisição, os custos que ocorreriam durante esta aquisição, o

surgimento do início de um sistema de depreciação e o entendimento do

capital social como valor inicial de uma entidade, sendo necessário

contabilizar seus resultados obtidos no período neste grupo de contas.

A partir do século XVI é observada a busca por um progresso

intelectual, iniciada por Ângelo Pietra em sua obra “Indirizzo dela

Economi”, onde apresenta uma melhor qualidade técnica e objetividade

dos métodos contábeis, especialmente com intenções doutrinárias. Este

estabeleceu “oito dimensões” ou etapas, para que um fato patrimonial

pudesse ser estabelecido como contábil: apresentando débito, crédito,

tempo ocorrido do fato, valor, qualidade ou características, quantidade,

preço e ordem.

Page 35: TCC CONTÁBEIS

34

Em sua obra, Ângelo buscou explicar as funções de débito e crédito

para a contabilidade, que se traduz em conceitos diferenciados a leigos,

como se pode verificar até hoje. Pietra também observou que a

contabilidade deveria se adaptar aos ramos diferentes encontrados na

sociedade, cada qual com “fenômenos específicos” varáveis com seu

campo de atuação.

Classificou as atividades em três categorias: de produção, financeira e

idealística ou não lucrativa. Segundo Lopes de Sá (2009, p.129):

“Transcendendo, pois, exclusivamente a prática de registrar e a aspectos de

técnica de negócios, percebe-se que o enfoque de Pietra foi deveras o de

um doutrinador, em certas partes a isto até transcendendo o campo técnico

e pré-científico para alcançar o da Ètica, como o fez no Capítulo 10,

evocando aspectos de lealdade, sinceridade e precisão no trato dos

registros.”

Também dedicou atenção ao estudo do valor contábil, com a

preocupação da moeda ao local que adota a escrita contábil,

necessitando de cálculos e constantes avaliações contábeis ao “preço

corrente” (preço de mercado e suas variações). Para Lopes de Sá

(2009, p.130):

“A qualidade com que o assunto foi tratado no campo do valor representou

um expressivo e vultoso avanço em relação à obra de Paciolo, sendo uma

inequívoca passagem do campo apenas informativo (de registros e

demonstrações) àquele conceptual e doutrinário, fruto, também de evoluções

que no comércio se refletiam mudando tradições.”

Ângelo Pietra foi também pioneiro em elucidar sobre o Princípio da

Competência, na correlação entre despesa e receita em cada exercício

apurado, e no Princípio de Prudência, onde colocava os preços nas

apurações, adotando os valores que deveriam ser mais comuns e

menores praticados no mercado, para não haver uma avaliação contábil

com valores exagerados.

Page 36: TCC CONTÁBEIS

35

Tratou em sua obra também do uso dos livros auxiliares, sugerindo um

Livro Controlador Geral e Livros de Resumos, e do conceito de

“exercício” associado à responsabilidade daqueles que cuidavam do

patrimônio, limitando para doze meses. Lopes de Sá (2009, p.134)

comenta que:

“Embora o maior conteúdo da obra esteja dedicado à matéria de registros, a

parte que a mesma contém de doutrina autoriza considerá-la de altíssimo

valor perante a História da Contabilidade, como um dos mais expressivos

passos rumo à ciência, inovadora em matéria de desenvolvimento

doutrinário e extraordinariamente superior à de Pacioli e às demais do

século XVI.”

Nos séculos seguintes encontramos autores estudando a contabilidade

em sua forma, através de contas específicas e relevantes no período,

correlacionando-a a Administração e o Direito. A contabilidade passou a

ser vista como doutrina, e com a busca da excelência nos estudos,

caminhou em direção a ser vista como uma ciência humana.

Neste período, outro autor cuja obra foi de grande importância foi

Giuseppe Forni, que apresentou a “primeira orientação matemática das

contas” e disciplinas normativas acrescentadas na evolução contábil.

Giuseppe classificou as funções das contas e dos fenômenos

patrimoniais, sendo possível verificar em sua obra uma ordem precisa

de informações e com exemplos de lançamentos e quadros

demonstrativos, distinção entre contas operacionais e não operacionais

e uma qualidade exemplar do “Balanço de Resultados”, sendo todo este

trabalho realizado no período de 1.788 à 1.789, influenciado por sua

escola matemática, que durante anos ensinou a contabilidade.

Houve uma grande expansão literária a partir do século XVII, saindo de

seu reduto na Itália, e expandindo para outros países as doutrinas

Page 37: TCC CONTÁBEIS

36

contábeis, tais como França, Estados Unidos, Brasil, Suécia, Polônia,

Portugal, Alemanha, Espanha e Inglaterra.

A partir da primeira metade do século XIX, a Contabilidade é

reconhecida como uma “ciência social” através da escola francesa,

sendo dado um grande passo para o mundo intelectual e científico. A

Contabilidade passou a ser vista não somente como um medidor

matemático de riquezas, mas como uma ciência capaz de explicar e

elucidar os fenômenos patrimoniais existentes. Para Lopes de Sá (2009,

p.159):

“Sejam, todavia, quais tenham sido os fatores externos que ajudaram tal

avanço cultural, o fato é que a intelectualidade contábil já estava

suficientemente amadurecida pelo período pré-científico que ocorreu do

século XVI até o início do século XIX”.

Este período pré-científico terminou com grandes conquistas nas linhas

metodológicas rumo às doutrinas, surgindo às escolas de pensamentos

e delimitando o campo de estudo ou objeto específico a ser estudado.

Segundo Lopes de Sá (2009, p.163):

“Na última década do século XIX já não era mais possível confinar a

Contabilidade ao campo apenas da informação e todos os acenos feitos

haveriam de construir (como de fato construíram) o arcabouço do que viria a

ser a Moderna Contabilidade.”

“O conhecimento contábil, considerada a evolução que havia suportado, foi

inserido como matéria de curso superior nas Universidades, permitiu a

regulamentação da profissão de Contador ensejando, também, o

aparecimento de organizadas entidades de classe contábil.”

Page 38: TCC CONTÁBEIS

37

Ilustração 7: página de livro diário de julho de 1709 Fonte: WikiBooks

1.6 Escola Administrativa ou Lombarda

A Escola Administrativa surgiu em 1.840, com a publicação da obra de

Francesco Villa, iniciando-se o período científico da Contabilidade. Além

de Francesco Villa e sua importância neste período, tivemos outros

pensadores, como Antonio Fonzig, o primeiro professor de

Contabilidade.

A administração tornou-se importante nos estudos de contabilidade,

não apenas nos estudos matemáticos com apresentação de valores,

mas possibilitando estudos científicos como a viabilidade de um

empreendimento, retorno de capital investido, projeção de um novo

produto no mercado, etc. Este escola abordou aspectos como a

avaliação do ativo permanente ao mercado, desvinculação da

contabilidade como apenas a números e cifras o controle como objetivo

da contabilidade.

Page 39: TCC CONTÁBEIS

38

1.7 Escola Personalista

A Escola Personalista surgiu em 1.867 com a obra de Francesco

Marchi. Além dele como iniciador desta escola, tivemos como principais

pensadores Giuseppe Cerboni e Giovanni Rossi. Suas principais

características eram o direcionamento das informações registradas e

analisadas e a personificação das contas, onde deveriam ser expostas a

pessoas interessadas, físicas ou jurídicas. Os proprietários deviam estar

incluídos no processo de escrituração em contas personificadas.

Dentre as doutrinas estudadas nesta escola, a que mais se destacou foi

a Logismografia, relacionada à Economia, Administração e

Contabilidade. Estas relações apresentavam dois sistemas de

escrituração: o Sistema Patrimonial, com objetivo de elaborar Balanços

Patrimoniais com o uso das contas do proprietário e de terceiros, e o

Sistema de Escrituração, cujo objetivo era elaborar um Balanço de

Previsões ao financeiro, havendo uma conta do proprietário e outra do

administrador.

1.8 Escola Controlista

Esta escola surgiu em 1.880, com a apresentação do trabalho de Fabio

Besta, intitulado “La Ragioneria”. Este trata do controle que deveria

haver no patrimônio ou administração da entidade. Ainda neste período,

temos a contabilidade como a ciência do controle econômico, composta

pelo registro contábil e o estreitamento com o trabalho econômico.

A Contabilidade como um controle econômico possuiu características

como o registro contábil dos fatos ocorridos da administração econômica

e a construção do trabalho econômico, representando a revelação em

partidas dobradas dos fatos administrativos em conexão com critérios de

controle na escrituração contábil.

Page 40: TCC CONTÁBEIS

39

Segundo Lopes de Sá (2009, p.222):

“Pode-se dizer que Contabilidade, enquanto observada sob aspecto teórico,

estuda e enuncia as leis do controle econômico nas aziendas de quaisquer

naturezas, oferecendo normas oportunas para serem seguidas a fim de que

o controle se torne eficaz, persuasivo e completo; no aspecto prático, ela é

aplicação ordenada das referidas normas.”

Observa-se que o objeto da administração econômica de uma entidade

é a sua riqueza, mas para saber o valor exato desta riqueza é

necessário um acompanhamento, o qual a contabilidade atua

registrando os fatos administrativos através de escriturações com

registros e em livros adequados. Para um perfeito registro é necessário

que sejam criadas contas especificas para aquela entidade.

Besta separou a Contabilidade em vários ramos de acordo com

estudos, como Contabilidade Geral, aplicada a parte comum a todos, e a

Contabilidade Aplicada, de acordo com as características específicas da

entidade.

Além de Fabio Besta como pensador deste período, temos também

compartilhando destas ideias Vittorio Alfieri, Carlo Ghidiglia, Pietro

Rigobon e Pietro D’Alvise.

1.9 Escola Norte Americana

A Escola Norte Americana surgiu em 1.887, com a criação do AICPA

(American Association of Public Accountants), que trabalhou na

qualificação da informação contábil, padronização da contabilidade e

dividiu a contabilidade em financeira e gerencial. A Contabilidade

Financeira com direta participação das associações profissionais, que

vinham se desenvolvendo, trouxe conhecimento teórico e prático para

Page 41: TCC CONTÁBEIS

40

esta disciplina. Já a Contabilidade Gerencial crescia, trazendo

informações importantes e internas para a tomada de decisão.

Outra grande característica desta escola é o desenvolvimento e

reconhecimento da profissão do contador, com a criação das

associações profissionais, que trouxeram uma padronização da prática

contábil. Os pensadores desta escola tiveram sua importância mais

diretamente ligada à criação destas associações, juntamente com seus

estudos para conseguir que fosse seguido um padrão na contabilidade,

entre eles Charles Ezra Sprague, Henry Rand Hatfield, William Andy

Paton, Ananias Charles Littleton, Carman George Blough, Maurice

Moonitz, entre outros.

Ilustração 8: Livro-diário do século XIX Fonte: WikiBooks

Page 42: TCC CONTÁBEIS

41

Ilustração 9: Balanço Patrimonial de 1906 Fonte: WikiBooks

1.10 Escola Neocontista

Em 1.880, na França, foi realizado um Congresso de Contadores, onde

foi obtido um consenso sobre a padronização dos balanços patrimoniais.

Neste período surgiu na França a Escola Neocontista, combatendo o

personalismo das contas, sendo defendida na escola personalista

principalmente por Giuseppe Cerboni, adotando o valor, juntamente com

Jean Dumarchey, como principal base para a Contabilidade.

A Contabilidade tinha como papel acompanhar as modificações que

ocorriam no patrimônio de uma entidade, com objetivo de apresentar

sua composição de contas e valores. Contas do ativo (ou positivas) e do

passivo (ou negativas), e a situação líquida (diferenciais ou abstratas)

dos valores econômicos, não se usando mais os termos dever e haver,

adotando palavras sinônimas como entrada e saída.

Page 43: TCC CONTÁBEIS

42

As principais regras desta escola fixam a elaboração do Balanço,

baseado na fórmula A = P + S (Ativo = Passivo + Situação Líquida),

onde a disposição das contas deveria basear-se no ativo, no grau de

disponibilidade, e no passivo, no de exigibilidade.

Para a interpretação destas disposições, os neocontista impuseram

algumas regras para esses fatos, caracterizados como modificativos e

permutativos. Os fatos modificativos apresentam o aumento do valor

patrimonial com lucro, débito em uma conta concreta e um crédito em

uma conta abstrata e a diminuição do valor patrimonial com prejuízo,

crédito em uma conta concreta e débito em uma conta abstrata. Os fatos

permutativos apresentam a alteração na composição do ativo ou do

passivo, originando um débito na conta que sofre variação positiva e um

crédito na conta que sofre uma variação negativa, assim como a

alteração na composição do capital próprio, originando um crédito na

conta que sofre uma variação positiva e um débito na conta que sofre

uma variação negativa.

1.11 Escola Alemã

Surgiu em 1.919, com a publicação da obra de Eugen Schmalenbach

sobre o Balanço Dinâmico, onde houve a necessidade de novos estudos

da doutrina contábil, devido ao crescimento do mercado financeiro,

indústrias e crises sociais como períodos de guerra e pós-guerra.

Dividiu-se em dois estudos especificamente. O estudo da constituição e

vida de uma empresa trouxe um caminho administrativo e gerencial a

ser seguido, juntamente a registros que forneciam informações para a

gestão da empresa. O outro estudo se concentrou no sistema de

Page 44: TCC CONTÁBEIS

43

cálculo, se dividindo em escrituração, cálculo de custos, orçamentos e

estatística, esta última sendo uma disciplina mais aplicada. Temos as

contas de ganhos e perdas como um papel importante para o resultado

do período, diferenciando a demonstração do resultado do exercício do

balanço patrimonial.

Outra característica desta escola vem da Contabilidade de Custos,

colocada como fundamental para verificar o comportamento da empresa

e fixar seus preços no mercado.

Ilustração 10: Livro-diário alemão de 1.933 Fonte: WikiBooks

Page 45: TCC CONTÁBEIS

44

1.12 Moderna Escola Italiana

Surgiu em 1.922 à Moderna Escola Italiana, com a economia aziendal

proposta por Gino Zappa. Para esta escola, o fenômeno principal em

uma empresa é o seu resultado. A Contabilidade como uma economia

aziendal é considerada uma ciência da administração econômica, a qual

estuda a doutrina da gestão, a constituição e harmonização do

organismo pessoal da entidade e a contabilidade para demonstrar os

resultados desta gestão.

Nesta escola, ocorreu a mudança na visão de um sistema patrimonial,

onde se considerava em suas variações o resultado do período como a

soma dos lucros e prejuízos, objetivando demonstrar o patrimônio da

empresa. Começou-se a ver o patrimônio não como sendo o principal no

sistema de resultados. As operações são complementares e uma

depende da outra nesta apuração. O resultado do exercício pode ser um

aumento ou uma diminuição do patrimônio (capital) em um determinado

período.

1.13 Escola Patrimonialista

A Escola Patrimonialista foi criada em 1.926, e defendia que a

contabilidade é a ciência que estuda o patrimônio, à disposição das

aziendas, em aspectos estáticos e dinâmicos, tanto quanto suas

variações.

O estudo do patrimônio compreende três partes: a Estática patrimonial

(equilíbrio financeiro e funcional), a Dinâmica patrimonial (obtenção e

emprego de capital) e a Revelação patrimonial (princípios que regulam a

representação do patrimônio).

Page 46: TCC CONTÁBEIS

45

Para os patrimonialistas, a Contabilidade é uma ciência que deve ter

leis e princípios próprios, que estudem e interpretem os fenômenos

patrimoniais além da apresentação destes fenômenos. Lopes de Sá

(2009, p.361) coloca em sua obra que:

“... a Contabilidade é uma ciência enquanto estuda uma ordem de

fenômenos patrimoniais, isto é, aqueles através dos quais se manifesta o

modo de ser e de comportar-se dos fatos inerentes à riqueza administrada,

isto é, o patrimônio aziendal;

Que a Contabilidade tem suas próprias leis, enuncia os seus juízos

científicos e procede nas suas indagações com os métodos próprios às

ciências: indutivos e dedutivos de qualquer natureza e, em particular, se

vale dos métodos contábeis e estatísticos para individuar e levantar, expor

os fenômenos patrimoniais, interpretando os resultados de tais indagações

e os representando como um complexo de conhecimento que lhe é

peculiar;”

Assim, dividiram o patrimônio em contas do ativo, do passivo e contas

diferenciadas.

Page 47: TCC CONTÁBEIS

46

II EVOLUÇÃO DA CONTABILIDADE NO BRASIL DESDE O IMPÉRIO

ATÉ OS DIAS ATUAIS

2.1 Contabilidade no Brasil

Com a colonização do Brasil veio também o desenvolvimento trazido

pelos portugueses, e em função disso os comerciantes buscaram

formas de controle com intuito de se tornarem cada vez mais ricos. A

história da contabilidade demonstra o avanço das ciências contábeis no

Brasil, a qual se divide em quatro partes distintas, associando as

personalidades que marcaram essas fases.

Na primeira fase, D.João VI, Príncipe Regente de Portugal, ao chegar

ao Brasil em 1808 instaurou o Erário Régio – órgão este criado pelo

Marquês de Pombal no século XVIII, com intuito de centralizar a receita

e despesa do dinheiro público e com isso implantou-se aqui o método

das partidas dobradas, processo este já utilizado em Portugal.

Marco importante também neste período foi o Código Comercial

Brasileiro de 1850, regulamentando o sistema de escrituração contábil.

Visconde de Cairú foi um forte inspirador para algumas medidas do

monarca tais como: abertura dos portos, criação do Banco do Brasil,

instituição do seguro, instalação da impressão régia, criação de uma

aula de Economia, no Rio de Janeiro, e expedição do famoso Alvará

criador do Erário Régio, em que determinava a escrituração do Tesouro

Público (1832 a 1840).

De 1840 a 1905, reinou o caos na contabilidade pública do Brasil,

bastando mencionar em que 1914, estávamos por fazer balanços de oito

exercícios financeiros da República.

Page 48: TCC CONTÁBEIS

47

Ilustração 11 : Visconde de Cairú Fonte: Portal Algo Sobre

A segunda fase, período moderno que divulga a escrituração e

contabilidade científica, se destaca pela condensação e divulgação dos

sistemas clássicos e internacionais, especialmente o italiano. Em 1850,

o Brasil já tinha regulamentado as operações de comércio e o sistema

de escrituração contábil através do Código Comercial Brasileiro.

No final do século XIX, os precursores da Contabilidade científica e

racional foram os tratadistas, Horário Berlinck e Carlos de Carvalho.

Nesta época, no comércio do Rio de Janeiro, praticava-se com empenho

a contabilidade por competentes guarda-livros.

A terceira fase tinha a sua frente Frederico Hermann Júnior (1896 -

1946), o qual estabeleceu a orientação da Escola da Economia Azienda

de Zappa, que injetou nas organizações modernas um pensamento

econômico-contábil, reconhecendo assim a contabilidade como Ciência

do Patrimônio.

Page 49: TCC CONTÁBEIS

48

Para Lopes de Sá (1997, p.153) apud Hermann Jr.

“Contabilidade é a ciência que estuda o patrimônio à disposição das

aziendas, em seus aspectos estáticos e em suas variações, para enunciar,

por meio de fórmulas racionalmente deduzidas, os efeitos da administração

sobre formação e a distribuição dos créditos”.

Outro fator para o aperfeiçoamento do processo contábil foi o

desenvolvimento da indústria manufatureira e do comércio. Configurou-

se com o código de contabilidade de 1922: a contadoria geral da

República e as Normas Financeiras e de Contabilidade dos Estados e

Municípios de 1940 a 1941, fixando as bases da nova organização

financeira e contábil do país. A partir de 1931 houve a regulamentação

do ensino técnico.

A quarta fase foi marcada por D’Áuria (1884 -1958), o qual se ocupou

da filosofia da Contabilidade como ciência pura. Em 1916 foi editado o

primeiro livro com o título de “A letra de câmbio na Contabilidade” que

estabeleceu parte da definição da contabilidade como ciência do

patrimônio, como campo de estudo da estática e da dinâmica

patrimonial.

Em 1948, a sua obra magna “Primeiros Princípios de Contabilidade

Pura”, baseou a introdução da contabilidade pública brasileira do

sistema patrimonial, embora mais tarde optasse por classificar a

contabilidade como Ciência Social, pois o patrimônio é objeto de estudo

de outras ciências.

A formação profissional do contador no Brasil originou-se da proposta

do Governador Francisco Xavier de Mendonça Furtado, em 1754, que

foi a criação de uma aula de comércio, tendo a supervisão da Junta de

Lisboa.

Page 50: TCC CONTÁBEIS

49

Durante o período de 1840 a 1905, sobressaiu apenas o guarda-livros,

e mais a frente no período de 1900 a 1931, iniciava a cultura contábil

formada por contadores. Assim adveio o período da consolidação

profissional (1931 a 1954). Contribuíram para o crescimento da

contabilidade brasileira os Institutos de contabilidade, o Registro dos

contabilistas, a Classe dos contabilistas, os Sindicatos, a Federação de

contabilidade e o Conselho Federal de Contabilidade.

2.2 Momentos marcantes da Contabilidade Brasileira

O professor Dr. Alberto Almada Rodrigues relata algumas datas

importantes para o resgate histórico da contabilidade brasileira em sua

monografia intitulada “A História da profissão contábil e das instituições

de ensino de ciência contábil no Brasil até 1905”. Alguns destes

momentos:

Em 1530 surge a primeira alfândega no Brasil em São Vicente, para

seu desenvolvimento necessitava-se de controles contábeis.

Em 1548 é criada a Primeira Repartição Fiscal do Brasil, por Tomé de

Souza.

No ano de 1549 são criados os armazéns alfandegários e o registro do

primeiro contador geral das Terras Brasileiras, Gaspar Lamego.

Em 1591, Felipe II, rei da Espanha, cria o Conselho de Fazenda, em

substituição da mesa dos Valores da Fazenda.

Em 1649 é criada a Companhia Geral do Comércio do Brasil e em

1679, através da Carta Régia, de 16 de julho, manda edificar a Casa de

Contos, com intuito de fiscalizar as receitas e despesas.

Page 51: TCC CONTÁBEIS

50

No ano de 1682, foi criada a Companhia do Comércio do Estado do

Maranhão, e em 1.694, a casa da Moeda na Bahia.

Já em 1755, é criada a Companhia Geral do Comércio do Grão-Pará e

Maranhão, no dia 6 de junho.

Em 1756, o alvará de 13 de novembro trata da escrituração do Livro

Diário, possível gênese da Aula de Comércio, fato ocorrido em Portugal.

Em 1761, é criada a Repartição do Real Erário, em Portugal, através da

Carta de lei que institui a escrituração por partidas dobradas para a

contabilidade pública de Portugal. A introdução desta Carta de lei é

resultante da necessidade de divisão das rendas, ou seja, quem

pertencer a cobrança dos direitos e rendas, é obrigado a trazer ao

Tesouro Geral todos os produtos dos seus recebimentos sob pena de,

não o fazendo, assumirem, porventura, os prejuízos das quantias não

recebidas em tempo pelo Tesouro Público.

O Erário Régio foi criado no Brasil, em 1808, foram nomeados quatro

contadores gerais para as quatro repartições, sendo pessoas com

ciência do cálculo mercantil e experientes na arrumação dos livros por

partidas dobradas. Cada contador tinha às suas ordens quatro

escriturários para escrever nos livros mercantis e por partidas dobradas.

No ano de 1770 ocorreu a primeira regulamentação do profissional

contábil, sendo registrada a matrícula dos guarda-livros na Junta de

Comércio de Lisboa.

Em 1808, ocorreu à primeira menção oficial à escrituração e relatórios

contábeis feitas pelo Príncipe Regente D.João VI ao Reino Unido de

Portugal, Brasil e Algarves, que é o princípio das partidas dobradas.

Page 52: TCC CONTÁBEIS

51

Segundo Lopes de Sá (1998, p.109):

“Para que o método de escrituração e fórmulas de contabilidade de minha

real fazenda não fique arbitrário a maneira de pensar de cada um dos

contadores gerais, que sou servido criar para referido Erário: - ordeno que a

escrituração seja mercantil por partidas dobradas, por ser a única seguida

pelas nações mais civilizadas, assim pela sua brevidade, para a manejo de

grandes somas, como por ser mais clara e a que menos lugar dá a erros e

subterfúgios, onde se esconde a malícia e a fraude dos prevaricadores”.

Com a vinda da Família Real de Portugal foi criado o primeiro Banco do

Brasil, objetivando funcionar como banco emissor, sendo encerrado em

1809.

2.2.1 Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP)

A Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP), fundada

em 02 de junho de 1902, detém a mais antiga certificação de utilidade

pública do Brasil desde 1915. A instituição também foi a primeira a abrir

os cursos de Economia (1934) e Contabilidade (1939) no país.

Esse período teve como aspectos relevantes a intervenção da

legislação no desenvolvimento contábil e a influência das escolas

italianas. Em 1964 o professor José Carlos Boucinhas introduziu o

método de ensino contábil, seguindo a linha norte americana baseada

no livro “Introductory Accounting”, influenciada por algumas empresas

de auditoria e multinacionais anglo americanas.

Page 53: TCC CONTÁBEIS

52

2.2.2 Conselho Federal de Contabilidade e Conselho Regional de Contabilidade (CRF e CRC)

Em 1946 ocorreu a criação dos Conselhos Federal de Contabilidade e

Regional de Contabilidade, através do decreto da lei 9.295 de 27 de

maio de 1946, uma autarquia especial de caráter corporativo, sem

vínculos com administração pública Federal, o qual possui

representantes em todos estados federativos e distritos, composto por

27 conselheiros e 27 suplentes efetivos.

Em seus objetivos, buscam promover e desenvolver a profissão

contábil, primando à ética relacionada à qualidade da prestação de

serviço, fiscalização de profissionais, organizações atuando com um

fator de proteção da sociedade contábil e fortalecendo a imagem do

sistema CFC/CRC dos profissionais com participação política e social,

emitindo normas Brasileiras de Contabilidade, Auditoria e Perícia que

abrangem a parte profissional que regulamenta a atuação da prática dos

contabilistas dentro do código de ética profissional.

2.3 O Perfil do Contador

O decreto n° 20.158, de 30.06.1931, regulamentou a profissão de

contador no Brasil e reorganizou o ensino comercial, dividindo-o nos

níveis propedêutico, técnico e superior. O propedêutico exigia o mínimo

de doze anos para ingresso e realização de exames adimensionais. No

técnico, dividiu o ensino comercial em ramificações: secretário, guarda-

livros e administrador-vendedor, com duração de dois anos e atuário e

perito contador, com duração de três anos. A análise da grade curricular

revela a oferta de disciplinas contábeis aplicadas aos negócios

mercantis, industriais, agrícolas e bancários.

Page 54: TCC CONTÁBEIS

53

A escola de comércio nomeou o primeiro professor de contabilidade no

Brasil: José Antônio Lisboa, regulamentado pelo decreto de lei nº

9295/46, de 27 de maio 1946, e posteriores resoluções

complementares. Conforme SILVA e Martins:

“A formação profissional do contador no Brasil iniciou no século XVIII, com

o surgimento da aula de comércio, que mais tarde corresponderia à

academia que hoje se denomina faculdade, ou escola superior. No século

XX surgiram os cursos de contabilidade nas escolas de comércio”. (Silva &

Martins)

Ilustração 12: Evolução do ensino da contabilidade no Brasil Fonte: Revista Contabilidade e Finanças

Em 1946, nasceu em São Paulo a primeira Faculdade de Ciências

Econômicas e Administrativas, na Universidade de São Paulo, e logo foi

instituído o curso de Ciência Contábil e Atuarial, hoje conhecido como

USP.

Page 55: TCC CONTÁBEIS

54

Foi no decreto da Lei 7.988, de 22.09.1946, que se buscou melhoria e

qualidade de ensino para profissão, criando-se cursos de capacitação e

aprimoramento das técnicas exigindo uma formação na educação. Essa

lei enfatizou os cursos de contabilidade superior, em que são formados

contadores, devendo estes desenvolver altos estudos de contabilidade,

de organização e de economia das instituições estatais, sociais e das

empresas industriais, bancarias, de seguros e do comércio em geral,

com intuito de preparar profissionais aptos para o desempenho de

funções de direção nas grandes empresas, instituições públicas e

particulares e as de peritos forenses, fiscais de seguros, fiscais de

sociedades anônimas e outros que lhe serão outorgados com grande

soma de respeito pela legislação comercial e financeira vigente.

Foram definidas as categorias profissionais pelo Decreto Lei

8191/1945:

“Guarda-livros, Atuário, Contadores, Peritos – contadores e bacharéis

seriam agrupados em duas categorias, técnicos em contabilidade para

técnicos em contabilidade. Os guarda-livros com diplomas passaram a

serem substituídos por técnicos em contabilidade e bacharéis para o de

nível superior, contadores, atuários e perito-contador”.

Outras mudanças no ensino superior de contabilidade ocorreram em

função da lei 4.024/61, a qual fixa algumas diretrizes e bases da

educação nacional e criou o CFE (Conselho Federal de Educação). Os

atributos eram fixar a duração do curso e formação para os profissionais

regulamentados em lei.

A posição do conselho Federal de Educação é implantar um currículo

mínimo que deverá revestir de dupla característica de sobriedade e

flexibilidade.

Page 56: TCC CONTÁBEIS

55

A ideia era implantar o currículo mínimo e uniformizar um padrão para

todo país, que contribuirá para reduzir as deficiências relacionadas às

matérias que compõem a educação nacional, ministradas em todos os

cursos de ciências contábeis, considerando como experiência

acadêmica, trazendo para a profissão a metodologia, técnicas e normas

para serem seguidas pelos profissionais.

2.3.1 Guarda livros

Esses profissionais chamados guarda-livros tinham como objetivo

passar informações e demonstrar a situação financeira do patrimônio do

cliente ou da empresa. O sistema de registro era muito simples e o

profissional tinha grande relevância para a organização, desenvolvendo

inúmeras tarefas dentro da empresa, como: escrituração,

correspondência, contratos e distratos, preenchimento de cheque,

pagamentos e recebimentos. Como se observa, esta rotina não era

muito diferente da rotina do contabilista de hoje, pois ele era um

prestador de serviços assim como o guarda livros responsável pela

escrituração mercantil das empresas comerciais, sendo que o contador

geral atuava na área pública na mesma época.

Porém a maneira de se contabilizar é totalmente diferente, já que neste

período tudo era realizado de modo manuscrito. Em função disso havia

alguns pré-requisitos essenciais para exercer essa profissão, além do

conhecimento e grau de instrução, era essencial ter boa caligrafia, para

facilitar o entendimento de quem o lesse. Hoje em dia, esse processo

todo é informatizado.

Page 57: TCC CONTÁBEIS

56

Abaixo seguem algumas ofertas de emprego, disponíveis neste

período. Isso apenas faz ressaltar a evolução dos tempos e as

exigências pré-estabelecidas pelo mercado.

Ilustração 13: Anúncio para a vaga de guarda livros Fonte: Jornal do Commercio, Rio de Janeiro 23/01/1850.

Ilustração 14: Anúncio para a vaga de escriturário Fonte: Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, 13/10/1835

2.3.2 A transformação da profissão contábil

Em função da economia, houve algumas alterações na contabilidade,

consequentemente pelo crescimento das empresas. Com a formação de

conglomerados, decorrente da evolução da informática e principalmente

com a abertura do capital das empresas, as ações foram destinadas a

negociação na bolsa de valores. A abertura de capital fez com que as

empresas de auditoria (auditorias independentes) viessem a ter maior

relevância, consequentemente ampliando a qualidade e a confiabilidade

das informações contábeis.

Com a lei 6.835/76 os auditores independentes do Brasil, que passaram

a ser registrados pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários),

Page 58: TCC CONTÁBEIS

57

anteriormente eram registrados pelo Banco do Brasil, mas no final de

2004, mediante o prévio exame de qualificação técnica, passaram a ser

registrados pelo CNAI (Cadastro Nacional de Auditores Independentes)

do CFC (Conselho Federal de Contabilidade).

Entre as leis que fixaram as normas no Brasil está a Regulamentação

do Imposto de Renda (Decreto 3.000/1999) e a Lei das Sociedades por

Ações (lei 6.404/76). Além do CFC existem outros órgãos que tem a

prerrogativa legal de traçar normas de padronização contábil, são eles:

Bacen (Banco Central do Brasil), a CVM (Comissão de Valores

Mobiliários), a SRF (Secretaria da Receita Federal), a SUSEP

(Superintendência de Seguros Privados), a Secretaria de Previdência

Complementar do Ministério da Previdência e Assistência Social, a ANS

(Agência Nacional de Saúde Complementar), entre outros.

Uma das alterações importantes foi realizada pelo Banco Central, que

por designação do CMN, substituiu em sua área de atuação o tradicional

Livro Diário pelo Livro de Balancetes Diários e Balanços. Neste, são

informados para cada uma das contas dos Planos Padronizados o seu

saldo anterior, os totais diários dos lançamentos efetuados a débito e a

crédito e o saldo no final do dia. Essa alteração foi realizada com intuito

de facilitar as fiscalizações das instituições SFN (Sistema Financeiro

Nacional). O Congresso Nacional aprovou a lei sugerida pelas nossas

autoridades fazendárias, isso com o intuito de tornar obrigatória a

escrituração do Livro Razão contábil (art. 259 do RIR/99), com as

características do livro diário, porém escriturado por contas.

Em decorrência das alterações a contabilidade passou a ser vista como

um sistema de informação sofisticado, ocasionando aprimoramento das

Demonstrações Contábeis, vista pelos leigos como Demonstrações

Page 59: TCC CONTÁBEIS

58

Financeiras, com a finalidade de tirar de evidência a atuação dos

contadores.

Inicialmente, das Demonstrações Contábeis faziam parte apenas o

Balanço Patrimonial e a Demonstrações do Resultado. Em seguida

foram introduzidos outros demonstrativos complementares, entre eles a

Demonstração de Lucros e Prejuízos Acumulados (demonstrando

claramente os eventuais lucros e prejuízos acumulados), a

Demonstração de Origens e Aplicação de Recursos (demonstra a

eficiência financeira da administração), a Demonstração das Mutações

do Patrimônio Líquido (demonstra a evolução do patrimônio) e as Notas

Explicativas (que fornecia informações complementares sobre a

contabilização e a auditoria, sobre métodos e critérios utilizados e sobre

determinados elementos patrimoniais). Foi introduzido ainda o Relatório

da Administração, o Parecer dos Auditores Independentes, as

Demonstrações Contábeis Consolidadas e as Demonstrações Contábeis

em Moeda Constante (para os períodos altamente inflacionados). Para

os auditores independentes ainda são solicitados ao menos três

relatórios circunstanciados:

a) O de auditoria, o qual expressa à opinião do auditor sobre as

demonstrações contábeis, assim como as notas explicativas,

inclusive quanto às normas contábeis emanadas do Conselho

Monetário Nacional e do Banco Central do Brasil;

b) O de avaliação da qualidade e adequação do sistema de controles

internos, a qual expressa à opinião do auditor sobre os controles

internos, sobre os sistemas de processamento eletrônico de dados

e de gerenciamento de riscos, apontando as deficiências

identificadas;

Page 60: TCC CONTÁBEIS

59

c) O de descumprimento de dispositivos legais e regulamentares, o

qual deve expressar a opinião do auditor sobre as contingências

que tenham, ou que venham a ter, reflexos relevantes nas

demonstrações contábeis ou nas operações da entidade auditada.

Os documentos intitulados “Demonstração” deveriam ser referidos

como Demonstrativos, pois demonstração é o ato de se demonstrar algo

e demonstrativo é o local ou instrumento onde se faz a demonstração ou

local apropriado para demonstrar.

Com a evolução os contadores passaram à especialização em

contabilidade, visando à gerência, os custos, a auditoria, a análise

financeira, a perícia contábil, a consultoria financeira e tributária, a

análise de sistemas de informações computadorizados, o cargo de

agente de fiscalização e, entre outras especializações, o contador

passou a ser controlador ou “controller”, que tem como função auxiliar

diretamente os administradores das grandes empresas, e ocorreu

depois de sancionada a Lei de Responsabilidade Fiscal, de assistência

direta aos administradores públicos.

2.3.3 Áreas de atuação do contador

As áreas de atuação do contador incluem habilidades de tomada de

decisões frente aos agentes econômicos, em pleno cumprimento de sua

responsabilidade, além de prestar contas perante a sociedade.

No seu perfil específico, deve-se exercer a ética e proficiência para as

atribuições que são prescritas através da legislação. Entre suas

competências estão à visão sistêmica, holística, raciocínio lógico, crítico

analítico, solução de problemas, elaboração de relatórios, desempenho,

eficiência e articulações de informações contábeis.

Page 61: TCC CONTÁBEIS

60

O contabilista desenvolve o seu trabalho para a sociedade,

empresários, entidades socioculturais, filantrópicas, governos (Federal,

Estadual e Municipal), investidores e judiciários, somando ao todo cerca

de 500.000 profissionais, entre técnicos de contabilidade e contadores.

O contabilista pode atuar em várias áreas diferentes:

Na Perícia Contábil, o perito atua em sentenças judiciais e arbitrais que

estão pautadas em laudos técnicos, propiciando o rigor da investigação,

a independência, confiabilidade de cálculos, opiniões sobre

controvérsias, lucro cessantes, impugnações fiscais e avaliação do

patrimônio líquido.

Na Auditoria, o profissional com a formação em nível superior em

ciências contábeis após o exame de suficiência poderá emitir o parecer.

Na área fiscal o contabilista é o profissional mais adequado para

realizar a fiscalização de contribuintes ou de contas de contribuintes

públicos, o que exige o domínio do conhecimento das normas contábeis,

fiscais, trabalhistas, previdenciárias, societárias e administrativas.

No que se refere à Gestão de Empresas, os contabilistas são

conhecedores profundos de finanças, custos e fluxo de caixa.

Na Gestão Pública o profissional contábil tem conhecimentos em

orçamento público e repudia as gastanças, corrupção e desperdícios do

dinheiro público.

No ramo atuarial a estatística está relacionada com a teoria e o cálculo

de seguros. O atuário designa o contabilista especializado à técnica dos

seguros (previdenciários patrimoniais e riscos complexos).

Na Consultoria o contabilista oferece um leque de soluções para

problemas de grande complexidade, questões sociais, orçamentárias e

Page 62: TCC CONTÁBEIS

61

mercado, na instituição privada, governamental e filantrópica que

ocorrem nas suas atividades.

A respeito do ensino, as universidades e centro profissionalizantes

necessitam de professores de conhecimentos contábeis para ministrar

aulas em várias disciplinas, formando novos profissionais no mercado,

exigindo conhecimento em contabilidade rural, contabilidade de custo,

contabilidade governamental e as demais disciplinas que envolvem o

conhecimento nesta área.

Finalmente na Pesquisa, temos um profissional que se dedique as

pesquisas contábeis, deixando um legado de conhecimento para as

futuras gerações.

2.3.4 Ética do contador

O profissional deve exercer com zelo, diligência, honestidade,

capacidade técnica, observando toda a legislação vigente, princípios da

contabilidade e normas brasileiras, com intuito de resguardar os

interesses de seus clientes ou empregados, dignidade e independência

profissional, guardando sigilo sobre o que souber em razão do exercício,

sendo lícito no âmbito do serviço público, zelando pela sua competência

exclusiva na orientação técnica dos serviços.

No âmbito geral, a competência dependerá do profissional, seguindo a

rigor a ética no contexto acima, tornando o profissional um ser digno de

exercer esta profissão de tão grande mérito.

Page 63: TCC CONTÁBEIS

62

2.4 Antiga estrutura do Balanço Patrimonial

Com o crescimento e complexidade das operações e negócios, houve a

necessidade de reclassificar as contas no Balanço Patrimonial e

distinguir os ativos e os passivos de curto prazo dos de longo prazo.

Assim o Balanço Patrimonial, de conformidade com as NBC (Normas

Brasileiras de Contabilidade), ficou subdividido em:

ATIVO PASSIVO

ATIVO CIRCULANTE Disponibilidades

Créditos

Estoques

Despesas antecipadas

Outros valores e Bens

REALIZAÇÃO A LONGO PRAZO

ATIVO PERMANENTE Investimentos

Imobilizado

Imobilizado de Arrendamento

Diferido

PASSIVO CIRCULANTE

EXIGÍVEL DE LONGO PRAZO

(PASSIVO NÃO CIRCULANTE)

PATRIMÔNIO LÍQUIDO Capital

Reservas

Lucros ou prejuízos acumulados

Ilustração 15: Antiga Estrutura do Balanço Patrimonial Fonte: Portal da Contabilidade

No Patrimônio Líquido, em Lucros e Prejuízos Acumulados, também

estão as Contas de Resultados Credores (Receitas) e as Contas de

Resultado Devedoras (Despesas).

Com a convergência das normas brasileiras às normas internacionais

de contabilidade, ocorreram modificações na estrutura das

Demonstrações Contábeis. Em decorrência desses motivos foram

realizadas as mencionadas alterações da lei 6.404/76 – Lei das

Sociedades por Ações – Capítulo XV e seguintes.

Page 64: TCC CONTÁBEIS

63

2.5 Contabilidade como Ciência Social

A contabilidade como Ciência Social consiste em uma metodologia

racional nos patrimônios das empresas, buscando a certeza em nível

qualitativo semelhante as demais ciências, por consequência criando

método, técnicas, sistema no aspecto contábil, sabendo que o

instrumento principal é o patrimônio, este definido em bens, direitos e

obrigações, que pertence a uma ou mais pessoas, constituído por uma

sociedade, privada ou púbica.

Pode-se entender o patrimônio como objeto de outras ciências sociais,

como direito, economia, administração e a contabilidade, buscando

entender no sentido mais amplo possível, as possíveis variações através

da ação do homem, direta e indiretamente sobre a natureza patrimonial.

2.6 Princípios Contábeis

Os princípios contábeis representam a essência das doutrinas e as

teorias da ciência aplicada em todo universo da contabilidade, no

sentido de ciência social.

O objeto de estudo da contabilidade é o patrimônio, o que atribui ao

contador da entidade a incumbência de gerar informações de utilidade

para as tomadas de decisões.

Passar informações de valores, medidas, comparando com outras

informações similares, demonstrando análise financeira e confrontando-

as com as informações anteriores, são fatores baseados nos princípios

contábeis e determinantes para o gerenciamento das empresas.

Pela resolução CFC nº 750/1993 sobre os princípios de contabilidade:

Page 65: TCC CONTÁBEIS

64

Sobre o Princípio da Entidade, conforme o Artigo 4º:

“O princípio da entidade reconhece o patrimônio como objeto da

contabilidade e afirma a autonomia, a necessidade da diferenciação de um

patrimônio particular no universo dos patrimônios existentes,

independentemente de pertencer a uma pessoa ou um conjunto de pessoas,

uma sociedade ou instituição de qualquer natureza ou finalidade, com ou sem

fins lucrativos, por consequência, nesta acepção, o patrimônio não se

confunde com aqueles dos seus sócios ou proprietários, no caso de

sociedade ou instituição”.

Segundo o Princípio da Entidade, a empresa tem autonomia de tomar

sua própria decisão, mas não se pode confundir o patrimônio da

empresa com o patrimônio dos sócios e dos proprietários, já que as

demonstrações contábeis são consolidadas, mantendo sua própria

autonomia patrimonial. A consolidação se refere às demonstrações

contábeis, mantendo-se em observância dos princípios fundamentais de

contabilidade no âmbito de natureza econômico-contábil da sua

estruturação, assim como as demonstrações contábeis consolidadas

apresentam posição financeira, resultados das operações, as origens de

aplicações e recursos, fluxos financeiros e valor informativos para os

usuários.

Os responsáveis pela entidade não devem misturar suas despesas

pessoais com as despesas e custos da empresa. Esse princípio tem

como principal função separar as contas pessoais das contas da

entidade.

O Princípio da Continuidade informa, de acordo com o Art. 5º que:

“ A continuidade ou não da entidade, bem como sua vida definida , devem

ser consideradas quando da classificação e avaliação das mutações

patrimoniais, quantitativas e qualitativas.”

§1º A continuidade influencia o valor econômico dos ativos e, muitos casos, o

valor ou vencimentos dos passivos, especialmente, quando a extinção da

Entidade tem prazo determinado, previsto ou previsível.

§2º A observância do princípio da continuidade é indispensável à correta

aplicação do princípio de competência por efeito de relacionar-se diretamente

á quantificação dos componentes patrimoniais e a formação do resultado, e

de se constituir dado importante para aferir a capacidade futura de geração

de resultado.

Page 66: TCC CONTÁBEIS

65

Este princípio avalia as mutações do patrimônio, influenciando os

efeitos do ativo e do passivo e a formação do resultado da empresa em

razão ao valor econômico dos bens.

Como exemplo disto, podemos citar a queda no poder aquisitivo da

população, o que provoca redução no consumo dos bens, as mudanças

de política governamental, que influencia diretamente o volume das

exportações relacionado com a produção da entidade, o problema

interno, devido ao envelhecimento tecnológico dos seus processos ou

produtos, falta de capital, incapacidade administrativa, etc., e as causas

naturais ou fortuitas que afetam a manutenção da entidade no mercado,

devido a incêndios, ausência de matéria-prima, desperdícios, entre

outros.

O princípio da continuidade determina as condições da entidade de se

manter no mercado, ou seja, se por alguma razão a entidade não

possuir condições de saldar suas dívidas, a mesma precisa rever sua

situação financeira para tentar reverter, ou se for o caso, encerrar suas

atividades.

Referente ao Princípio da Oportunidade, segundo ao Art. 6º:

“ O princípio da oportunidade refere-se, simultaneamente, à tempestividade e

à integridade do registro do patrimônio e das suas mutações, determinando

que este seja feito de imediato e com extensão correta, independente das

causas que as originaram.

Parágrafo único. Como resultado da observância do princípio da

Oportunidade:

I – Desde que tecnicamente, o registro das variações patrimoniais deve ser

feito mesmo na hipótese de somente existir razoável certeza de sua

ocorrência;

II – O registro compreende. Os elementos quantitativos e qualitativos,

contemplando os aspectos físicos e monetários;

III – O registro deve ensejar o reconhecimento universal das variações

ocorridas no patrimônio da entidade em um período de tempo determinado,

base necessária para gerar informações úteis ao processo decisório da

gestão”.

Page 67: TCC CONTÁBEIS

66

Aqui se observa a fidedignidade das informações, no momento que o

patrimônio sofre variação, ou seja, toda a informação representa

fielmente a precisão, objetividade e a transação do evento que ocorreu.

Referente ao Princípio do Valor Original, descrito no Art. 7º:

“O componente do patrimônio deve ser registrado pelo valor original da

transação com o mundo exterior, expresso a valor presente na moeda do

país, que serão mantidos na avaliação da variação patrimonial posterior,

inclusive quando configurarem agregação ou decomposição no interior da

entidade.”

Este princípio informa que o valor do componente patrimonial deve ser

quantificado em valor de moeda nacional, prevalecendo à moeda do

país em qualquer transação estrangeira, e esse valor deve ser ajustado

segundo a sua perda que implica a modificação do valor original. Isto

estabelece que a contabilidade seja processada em uma única moeda,

com a finalidade de dar consistência aos registros, dando assim maior

confiabilidade aos relatórios contábeis.

No Princípio da Competência, conforme o Art. 9º:

“As receitas e as despesas devem ser incluídas nas apurações de resultados

dos períodos em que ocorrem, sempre simultaneamente quando se

relacionarem, independentemente a recebimento ou pagamento.”

O princípio de competência esta ligado diretamente com variações

patrimoniais modificando o montante do patrimônio líquido,

denominadas qualitativas ou permutativas, quantitativas ou

modificativas.

As variações qualitativas implicam na existência de alterações no

patrimônio, mas permanece o patrimônio líquido inalterado, enquanto as

modificativas alteram o patrimônio líquido, como receita e despesas.

O princípio de competência não está relacionado com o recebimento de

uma receita ou pagamento de uma despesa no período, mas com o

reconhecimento das receitas e despesas geradas no período. Com isto,

devemos sempre observar quando esta despesa ou receita foi atribuída,

ou seja, quando evidentemente foi reconhecida.

Page 68: TCC CONTÁBEIS

67

Finalmente no Princípio da Prudência, descrito no Art. 10º:

“O princípio da prudência determina a adoção do menor valor para

componentes do Ativo e maior para o uso do Passivo, sempre que se

apresentem alternativas igualmente válidas para a qualificação das mutações

patrimoniais que alterem os patrimônios líquidos.”

Deve ser observado quando existem um ativo ou um passivo já

escriturado por determinado valor original, ao surgir dúvida de qual a

alternativa deve ser calculado um o novo valor, deve sempre optar pelo

maior valor para do ativo e menor valor para o passivo. Como exemplo

disto, a provisão para créditos de liquidação duvidosa constitui a

aplicação ou duplicata a receber, existindo um grau de risco de não

recebimento.

2.7 Profissionais contábeis dignos de notoriedade

Esses notórios colaboradores do pensamento contábil citados a seguir

participaram da evolução contábil no Brasil, deixando um legado de

conhecimento e luta para a classe dos profissionais da contabilidade,

fortalecendo uma corrente de pensamento sólido para a profissão

contábil, com normas e princípios que devem ser seguidos por todos

que desenvolvem a atividade.

2.7.1 Alberto Almada Rodrigues

Pesquisador gaúcho, contribuiu com a história da contabilidade

brasileira, sendo graduado em contabilidade Atuária em 1942. Publicou

várias obras importantes em economia, finanças e seguros, sendo

fundador e ex-presidente do IBRACON - Instituto Brasileiro de

Contadores (ex- instituto Brasileiro de Auditores Independentes).

Page 69: TCC CONTÁBEIS

68

Alberto criou a primeira empresa de leasing no Brasil e a legislação do

Banco Central, tendo implantado a educação contínua na classe.

Também foi pioneiro na matéria da arbitragem no Brasil, focando o

abuso do poder econômico, fusão, cisão e incorporação de empresas.

2.7.2 Antônio Lopes de Sá

Mineiro de Belo Horizonte, nascido em 9 de abril de 1927 e falecido 7

de junho de 2010, foi Contador, Economista e Técnico em

administração. Publicou mais de 160 livros técnicos e científicos,

tornando-se detentor da Medalha do Mérito Contábil João Lyra,

concedida pelo conselho Federal de Contabilidade.

Lopes de Sá foi presidente do IPAT (Instituto de pesquisa do complexo

universitário), membro da Academia de Ciências Econômica e

Financeira, membro honorário do Internacional Reearch Institute e teve

inúmeras obras destacadas em cursos de auditoria, dicionários de

contabilidade, planos de contas, perícia contábil, história geral e das

doutrinas da contabilidade.

2.7.3 Francisco D’Áuria

D’Áuria foi contador geral da República e Secretário da Fazenda do

Estado de São Paulo. Exerceu numerosas funções na administração

financeira, foi membro da comissão de partidas dobradas do Tesouro

Nacional, fundador da revista Brasileira de Contabilidade, diretor do

Tesouro Nacional do Estado de São Paulo, presidente do sindicado do

contabilista de São Paulo, Contador do departamento de Café e

professor da escola de Comércio Álvares Penteado e contribuiu com 23

Page 70: TCC CONTÁBEIS

69

obras de contabilidade e matérias afins. Defendeu a tese “Deduzir uma

teoria da Contabilidade”, formulando um novo modelo de Balanço e das

Demonstrações. Nascido em 16 de julho de 1884 em São Paulo e

falecido em 06 de fevereiro de 1958.

2.7.4 Frederico Hermann Júnior

Diplomado pela Escola de Comércio Álvares Penteado em 1917 como

perito contador, Hermann Júnior em seguida participou da Fundação do

Instituto Paulista de Contabilidade de São Paulo. Foi fundador e

presidente do sindicado de contabilista de São Paulo, tendo fundado

com os colegas a primeira firma de serviços contábeis e razão social,

dando origem às firmas. Foi professor consagrado, publicou a sua

primeira obra Tratada de Contabilidade Industrial e outras contribuições.

Nasceu em 03 de setembro de 1896 e falecido em 18 de maio de 1946.

2.7.5 Hilário de Franco

Paulista da cidade de Itapira, Hilário de Franco faleceu em 22 de

dezembro de 2000. Foi contador, economista e administrador, com

vários cursos de especialização e pós-graduação, tendo lecionado em

várias disciplinas de contabilidade de diversas faculdades e Escolas

comerciais do Brasil e Exterior.

Publicou inúmeros artigos técnicos em revistas brasileiras de

contabilidade e na revista Paulista de contabilidade, sendo dirigente do

sindicato, da federação dos Contabilistas do Estado de São Paulo,

Instituto Brasileiro de Contabilidade (IBRACON), Associação

Interamericana de Contabilidade, IFAC (International Federation of

Page 71: TCC CONTÁBEIS

70

Accoutants), assim como foi membro da academia Brasileira de

Ciências Contábeis e da Academia Brasileira de Ciências Econômicas e

Administrativas.

2. 8 A Contabilidade e a Ciência Econômica

De acordo com Vetter & Missagia (2009, p.3):

“A ciência econômica estuda fatos relacionados a riquezas e a contabilidade

estuda os fenômenos econômicos da sua produção e do consumo em

relação a cada individuo ou junção de indivíduos, ocupa-se do problema do

capital, consubstancial ao patrimônio das aziendas.”

As empresas planejam as metodologias econômicas a serem seguidas

extraindo fonte de informação da contabilidade. Na Macroeconomia, a

contabilidade fornece toda informação pública que possa acompanhar a

execução orçamentária dos programas do governo, municipal, estadual

ou federal, realizados através de relatórios como a elaboração do

orçamento, que consiste em previsão de receita e fixação de despesa.

Para prepará-lo, necessitamos de números históricos da contabilidade.

2.9 A Contabilidade e a Administração

A contabilidade fornece relatórios correspondentes a vários assuntos,

com intuito de beneficiar o gestor na tomada de decisões. Entre estes

relatórios podemos citar o de rotatividade de produto, aplicações

financeira, análise das demonstrações, fornecimentos de dados para

política da empresa, fluxo de caixa, estoque, imobilizado, capital de giro,

clientes diversos, clientes inadimplentes, supercapitalização,

Page 72: TCC CONTÁBEIS

71

subcapitalização, fornecedores, gastos efetuados, empregados, escala

da empresa, fenômeno patrimonial etc.

2.10 A Contabilidade e os Tributos

A contabilidade controla o patrimônio das entidades públicas e privadas.

É necessário que o profissional conheça tributos, pois o tributo faz parte

da obrigatoriedade da empresa para com o governo, declarando os seus

impostos e contribuições sociais, deduzindo e criando créditos para

empresa dentro das normas legais, seguindo de princípios, decretos e

leis, sempre com atenção nas mudanças da legislação seguindo a carta

magna (constituição).

É importante salientar as intensas mudanças legislativas, as quais são

constantes nos impostos. A legislação comercial na lei 6404/76,

mostrando grande avanço sobre a sociedade por ações, com a

finalidade de padronizar normas internacionais com a lei 11.638/07,

criada pelo Comitê de Pronunciamento Contábil (CPC), resolução CFC

nº 1.055/05.

Isto objetivava melhoras acadêmicas, governamentais e iniciativa

privada, desenvolvida em função das necessidades internacionais das

normas contábeis centralizando as normas de natureza democrática.

Page 73: TCC CONTÁBEIS

72

III – TENDÊNCIAS E PROJEÇÕES DAS TÉCNICAS CONTÁBEIS

3.1 Tendências e novos paradigmas da Contabilidade

Contemporânea Globalizada

A evolução do homem e da sociedade como um todo é resultado,

principalmente, de estudos, pesquisas, descobertas e revoluções. Do

mesmo modo se apresenta a Contabilidade, pois ela está presente tanto

na vida pessoal como nos negócios empresariais e, nesse sentido,

configura-se como uma ciência de vital importância para o

desenvolvimento da sociedade.

Conforme já visto em capitulo anterior, a contabilidade surge como um

mero instrumento de expressão simbólica, fruto de uma sociedade

incipiente, e com decorrer dos anos vai agregando valores de uma nova

sociedade em constante amadurecimento.

Assim, sendo uma ciência em constante evolução e tendo como

propósito suprir as necessidades de informações, a Contabilidade

também se tornou fundamental para a entidade no que diz respeito à

tomada de decisões, sofrendo mudanças como curso normal do

desenvolvimento econômico, político, cultural, social e cientifico.

A globalização, com suas constantes mudanças na economia, atinge

diretamente as empresas, as pessoas e a própria Contabilidade,

trazendo com ela o desafio contábil de se adequar e proporcionar a

melhor forma de prestar informações úteis, rápidas e eficientes aos

usuários, criando novas técnicas de identificação e mensuração dos

eventos econômicos e financeiros que afetam as mudanças no

patrimônio das organizações.

Page 74: TCC CONTÁBEIS

73

Juntamente com a globalização, a informática se tornou um conceito

presente, e hoje são muitos os benefícios trazidos pela Tecnologia da

Informação. Isto possibilita ao contabilista alcançar informações

confiáveis, que em um curto espaço de tempo provocam mudanças

positivas, evitando tomadas de decisões prejudiciais ao

desenvolvimento organizacional.

As organizações também já não precisam se restringir apenas ao seu

ambiente físico, pois a tecnologia avançou de tal modo que no meio

empresarial não existe mais limite de fronteiras para a comunicação e,

consequentemente, a troca de informações. A partir da difusão dos

meios de comunicação, deu-se o desenvolvimento de novas

ferramentas gerenciais, as quais impuseram novos comportamentos,

que até tempos atrás eram vistos como inviáveis.

A informação passou a ser um dos principais ativos da empresa,

alterando um modelo patrimonialista que perdurou por muitos anos.

Inicia-se a era do conhecimento e aprendizado constante, de modo que

somente sobreviverá às intempéries de um mercado dinâmico, aquele

que antever os efeitos futuros de uma decisão presente.

Graças ao advento da Internet, a transmissão das informações passou

a ser instantânea, otimizando significativamente todos os

procedimentos e possibilitando sua atualização constante.

As funções tradicionais da Contabilidade, tais como a escrituração,

elaboração, divulgação, análise e controle dos dados contábeis, foram

afetadas profundamente em suas metodologias. Não obstante, existem

inúmeros softwares integrados na área contábil, principalmente

envolvendo operações básicas.

Page 75: TCC CONTÁBEIS

74

Levando isso em consideração, é necessário que um contabilista ouse

em conhecer, desenvolver e utilizar os recursos tecnológicos mais

atuais, inclusive softwares especiais e inteligentes para a área contábil.

O futuro da contabilidade continuará na dependência do

desenvolvimento da sociedade e de sua forma de adequação aos novos

conceitos inseridos nas novas necessidades que irão surgir.

Dentre essas necessidades a serem resolvidas está à padronização

mundial dos preceitos e normas contábeis, juntamente com o

aprimoramento da linguagem contábil para o melhor entendimento do

usuário, e até mesmo a padronização mundial da própria profissão

contábil, conseguindo com isso facilitar a relação comercial e a interação

entre toda e qualquer empresa do mundo.

Em se tratando da globalização da Ciência Contábil podemos traçar um

norte repleto de perspectivas, e podemos ainda vislumbrar

possibilidades e probabilidades. Motivadas pela competição e pelo

objetivo de manter a liderança e os lucros, as corporações devem

acompanhar o progresso contábil, com responsabilidade e consciência,

adaptando-se às mudanças produtivas, gerenciais e técnicas.

Neste contexto de mudanças, a contabilidade, que tem como objeto

precípuo de estudo a informação patrimonial, deixa de ser vista como

uma tarefa meramente burocrática e passa a assumir posição de

destaque na condução das atividades de administração empresarial,

pois passa a ser elemento crucial no processo de tomada de decisão,

oferecendo informações úteis, tempestivas e fidedignas.

Diante deste contexto de mudanças incessantes, a contabilidade

brasileira sofreu na ultima década uma enorme reestruturação. A seguir

Page 76: TCC CONTÁBEIS

75

serão demonstrados os principais avanços e algumas perspectivas da

contabilidade brasileira.

3.2 Lei 11638/07

A lei 11638/07 deu o primeiro grande passo rumo à harmonização da

legislação contábil interna com os padrões internacionais consignados

no IFRS Esse processo deu-se com uma grande alteração estrutural da

antiga lei 6404/76, onde se observou a inserção de conceitos mais

objetivos, demonstrações mais transparentes, com uma maior amplitude

do objeto da empresa, favorecendo a visibilidade do mercado brasileiro

perante os investidores externos, os quais passaram a incluir nosso país

em suas agendas de investimento.

É de se ressaltar que a lei 11638/07, embora tenha o seu papel

significativo, ela, por si só, não seria capaz de reformular de forma

exaustiva um arcabouço normativo tão denso e complexo como nosso,

portanto, neste contexto, tomam corpo as instituições que estudam e

regulam a contabilidade tais como a CVM, CPC, FIPECAFI, entre

outras.

No contexto das inovações estruturais e formais podemos destacar a

Substituição da DOAR pelo DFC, a qual passa a demonstrar de maneira

mais clara a capacidade da empresa em gerar recursos de caixa. Neste

mesmo ritmo de alterações temos a criação do grupo “intangível” que

segrega os bens incorpóreos do imobilizado.

No patrimônio líquido teve a criação da conta Ajustes de Avaliação

Patrimonial. Observa-se que tanto nas alterações do imobilizado, quanto

Page 77: TCC CONTÁBEIS

76

estas alterações do PL,aumentou-se a capacidade de avaliação do

potencial patrimonial da entidade.

Houve também o cerceamento do uso do “Ativo Diferido” e “Resultado

de Exercícios Futuros”, possibilitando uma ótica mais tempestiva e

realista do resultado; testes periódicos de recuperabilidade de alguns

componentes patrimoniais, atendendo ao principio da prudência; e a

obrigatoriedade da apresentação da Demonstração de Valor Adicionado,

a qual tem objetivo de mostrar ao mercado e à sociedade como um todo

à distribuição da riqueza gerada pela empresa.

Outra mudança, objeto de debates calorosos, é a ampliação do campo

de atuação da Auditoria, antes restrita às Sociedades Anônimas, que

agora passa a ser obrigatória nas Sociedades Limitadas de grande

porte, cujo Ativo Total seja superior a 240 milhões de reais ou Receita

Bruta superior a 300 milhões de reais.

Neste contexto, o instrumento da transparência adquire ênfase e inicia

um processo de benefícios em cadeia onde todos participam: o Governo

aumenta sua arrecadação pela maior fiscalização da Auditoria; esta, por

sua vez, expande o seu campo de atuação; já as empresas auditadas

aumentam sua credibilidade perante o mercado, que por sua vez atrairá

novos investidores. Em suma, perfaz um ciclo que se torna vital para

processo de convergência contábil, o qual se torna indispensável

àqueles que almejam os patamares mais altos de desenvolvimento

econômico.

Page 78: TCC CONTÁBEIS

77

3.3 Lei 11941 / 09

Oriunda da medida provisória 449/08, a lei 11941/09, assim como a lei

11638/07, instituiu novos procedimentos de cunho contábil e inovações

estruturais no campo das demonstrações contábeis.

Dentre os avanços, o mais significativo foi o Regime de Tributário de

Transição, o qual tratou de criar os ajustes tributários necessários à

implementação das leis ora citadas, de modo a afastar efeitos tributários

negativos decorrentes do período de transição, até que se estabeleça

um instrumento normativo que regulasse de maneira definitiva esta

questão. Assim dispõe o art. 15 da lei 11941/09:

“Art. 15. Fica instituído o Regime Tributário de Transição – RTT de

apuração do lucro real, que trata dos ajustes tributários decorrentes dos

novos métodos e critérios contábeis introduzidos pela Lei no 11.638, de 28

de dezembro de 2007, e pelos arts. 37 e 38 desta Lei. “.

O RTT teve sua aplicabilidade de maneira opcional para o biênio 2008-

2009 - vedada a aplicação a um único ano – abarcando os principais

tributos, tais como IRPJ, PIS, COFINS. Em 2010 passou a ser

obrigatório às empresas submetidas ao Lucro Real e Lucro Presumido.

O presente instituto possui, de maneira sintética, a seguinte sistemática:

Primeiramente, apura-se o resultado antes do IRPJ utilizando-se os

critérios e diretrizes propugnadas pela lei das S/A, levando em

consideração os novos conceitos adicionados pela 11638/07 e

11941/09. Em seguida realizam-se os ajustes específicos e temporários

(diferidos) do RTT na apuração do lucro líquido, os quais deverão ser

escriturados na parte B do LALUR para que haja a recomposição destes

ajustes em momento posterior. Por fim, realizam-se os demais ajustes

inerentes a apuração do Lucro Real, como as adições, exclusões e

compensações, para que tenhamos a base para tributação do IRPJ.

Page 79: TCC CONTÁBEIS

78

ATIVO PASSIVO

ATIVO CIRCULANTE

ATIVO NÃO CIRCULANTE Realizável a longo prazo

Investimentos

Imobilizado

Intangível

PASSIVO CIRCULANTE

PASSIVO NÃO CIRCULANTE

PATRIMÔNIO LíQUIDO

Capital Social

Reservas de capital

Reservas de Lucros

Ajustes de Avaliação Patrimonial

Ações em tesouraria

Prejuízos acumulados

Ilustração 16: Balanço Patrimonial de acordo com a lei 11941/09 Fonte: Portal de Contabilidade

3.4 Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC)

O Comitê de Pronunciamentos Contábeis, idealizado pela resolução

CFC 1055/05, é formado pela união de esforços dos principais

organismos engajados no desenvolvimento e harmonização das práticas

contábeis, são eles:

Associação Brasileira das Companhias Abertas - ABRASCA

Associação Nacional dos Analistas e Profissionais de Investimento

de Mercado de Capitais - APIMEC NACIONAL

Bolsa de Valores de São Paulo - BOVESPA

Conselho Federal de Contabilidade - CFC

Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e

Financeiras - FIPECAFI

Instituto dos Auditores Independentes – IBRACON

Além da necessidade de harmonização aos padrões internacionais, o

CPC surge da necessidade de se existir um órgão central para a

Page 80: TCC CONTÁBEIS

79

produção normativa e da necessidade se estabelecer uma relação mais

clara de representatividade.

Possui, conforme a resolução 1055/05, objetivo precípuo:

“O estudo, o preparo e a emissão de Pronunciamentos Técnicos sobre

procedimentos de Contabilidade e a divulgação de informações dessa

natureza, para permitir a emissão de normas pela entidade reguladora

brasileira, visando à centralização e uniformização do seu processo de

produção, levando sempre em conta a convergência da Contabilidade

Brasileira aos padrões internacionais”.

Inicia-se, pois, um ciclo de estudos interorganizacionais, com um

debate qualificado acerca dos temas pendentes, os quais demandam

uma reflexão mais apuradas.

Por ser um órgão autônomo, o seu processo deliberativo já foi instituído

no ato de criação, sendo assim, atualmente as decisões são tomadas

pelo voto de 2/3 de seus membros.

Os resultados de suas deliberações são expressos em Orientações,

Interpretações e Pronunciamentos Técnicos, sendo estes os de maior

visibilidade e normatividade.

Atualmente conta-se com 43 pronunciamentos técnicos, os quais

versam minuciosamente a respeito de temas complexos, estruturais e

em alguns casos, de certa forma, controversos, tais como: Estrutura

para Elaboração das Demonstrações Contábeis (CPC 00), Ativo

Intangível (CPC 04), Ajuste a Valor Presente (CPC 12), Estoques (CPC

16), Provisões (CPC 25), entre outros temas. Portanto buscam dirimir

quaisquer divergências, conflitos interpretativos e outros óbices que

venham travar a dinâmica de harmonização dos processos contábeis.

Page 81: TCC CONTÁBEIS

80

3.5 Contabilidade digital no Brasil

Um dos principais caminhos da área contábil nos próximos anos é a

tendência mundial de padronização das Normas Contábeis

Internacionais, conhecidas como International Financial Reporting

Standards (IFRS), que é considerada essencial para facilitar a

comunicação e a relação comercial entre as companhias em qualquer

localidade do mundo.

A tendência da padronização de normas adveio do Mercado Comum da

Europa, e ganhou forças nos últimos anos. Vários países das Américas

e da Ásia já aderiram à IFRS. O Brasil está inserido neste processo

desde o final de 2007, com a edição da Lei 11.638, que, como já visto,

apresentou mudanças radicais em suas regras contábeis.

A nova contabilidade brasileira, alinhada às normas internacionais de

contabilidade, pretende ser um marco na história contábil do país. Tendo

a intenção de unificação da linguagem contábil brasileira com a

linguagem contábil internacional, o Brasil optou por modificar suas

normas contábeis, ao padrão já utilizado ou em vias de passar a ser

utilizado na maioria dos países do globo.

O objetivo brasileiro é tornar a contabilidade nacional inteligível aos

olhos dos investidores estrangeiros, facilitando o fluxo crescente de

capitais internacionais para a nossa economia. Com um grau maior de

subjetividade por parte do contabilista na elaboração de demonstrativos

contábeis e possuindo um menor apego a regras engessadas, sobre

como fazer lançamentos contábeis de maneira prática, as normas tem

como objetivo possibilitar uma contabilidade mais próxima da essência

econômica das transações, tornando-se mais precisa e útil no processo

de tomada de decisões.

Page 82: TCC CONTÁBEIS

81

Contudo, este processo exige uma grande mudança de postura por

parte dos nossos profissionais de contabilidade, já que a própria

contabilidade brasileira sempre foi muito atrelada às questões fiscais. A

Secretaria da Receita Federal vem ao longo do tempo impactando

fortemente neste meio, através da edição de normas fiscais apoiadas

em regras de contabilização que, por vezes, conflitam com as práticas

mais aceitas de contabilidade.

Um exemplo objetivo dessa influência é o Decreto 1.598/77, que alterou

a legislação do imposto de renda, inserindo diversas regras que

continuam a determinar a forma como se faz contabilidade no Brasil,

com vistas a regulamentar a Lei 6.404/76, a chamada lei das sociedades

por ações, em seus aspectos tributários.

A partir da adoção das novas normas de contabilidade no Brasil, os

contabilistas devem passar a elaborar demonstrativos alinhados a elas,

sendo passíveis de usufruir dos mencionados benefícios de adoção

dessa contabilidade que se pretende fixar de maneira mais relevante.

Desse modo, podemos vislumbrar com este raciocínio, um papel de

grande importância para os Sistemas de Informação nas empresas.

Podendo ser cruciais para a mudança de postura mencionada, esses

sistemas auxiliam a quebrar o paradigma da necessidade de elaboração

de demonstrativos contábeis para fins diversificados.

Os contabilistas procuram, na maior parte do tempo, atender as mais

diversas obrigações acessórias dos órgãos fiscais e reguladores, e sem

o apoio da Tecnologia da Informação, dificilmente devem conseguir

condições de sofisticar a forma como fazem contabilidade.

Com a evolução constante, a tecnologia, em uma massificação

crescente, possibilita que as organizações tenham condições,

Page 83: TCC CONTÁBEIS

82

economicamente, de ter acesso aos Sistemas de Informação, podendo

eficientemente produzir demonstrativos contábeis para fins diversos, por

meio da prévia parametrização de condições e critérios de

contabilização de determinadas transações.

Com a percepção deste cenário, surgiu o Sistema Público de

Escrituração Digital (SPED), cujo qual foi instituído pelo Decreto nº

6.022/07 como parte do Programa de Aceleração do Crescimento do

Governo Federal (PAC 2007-2010), objetivando uma aproximação na

relação entre o fisco e os contribuintes, através da informatização de

processos.

3.6 Sistema Público de Escrituração Digital (SPED)

Ao longo dos anos, adquirimos uma cultura no que se refere à gestão

do país e uma tendência estritamente tributária. Os profissionais da

contabilidade, ao passar do tempo, acabaram por abandonar a Ciência

da Contabilidade em sua essência, dando um enfoque quase

substancial à apuração e recolhimento de tributos.

Assim, considerando a complexidade tributária e o peso impulsionado

por ela nas organizações e nos empreendedores, a preocupação com

os custos e de como se recolher menos tributo de maneira legal, (elisão

fiscal) ou ilegal (evasão fiscal), deixou-se de lado a única ferramenta

capaz de mensurar a rentabilidade dos empreendimentos, das

empresas e dos negócios.

Foi introduzido no país pelo SPED (Sistema Público de Escrituração

Digital), bem como as IFRS que levou às novas normas brasileiras de

contabilidade, um cerco fiscal, resgatando a necessidade da prática

contábil, visando a Ciência que ela representa com uma qualidade

capaz de proteger o empresário, o empreendedor e os usuários da

Page 84: TCC CONTÁBEIS

83

contabilidade com informações precisas, evitando problemas futuros por

inconsistências que podem gerar autuações.

Para Lopes de Sá, 2009 (p.27):

“Tal procedimento visou modernização da sistemática do cumprimento das

obrigações acessórias (livros contábeis, livros fiscais e notas fiscais)

transmitidas pelos contribuintes às administrações tributárias e aos órgãos

fiscalizadores, mas também ensejou quebra do sigilo econômico”

O SPED trata-se de uma solução tecnológica que oficializa os arquivos

digitais das escriturações fiscal e contábil dos sistemas empresariais

dentro de um formato específico e padronizado. Surgiu a partir da

necessidade de integrar as informações prestadas pelos contribuintes

com o fisco brasileiro e da possibilidade de conceber um projeto

eminentemente digital com a eliminação do mundo fiscal em papel.

De modo geral, consiste na modernização do sistema atual de

cumprimento das obrigações acessórias, transmitidas pelos

contribuintes às administrações tributárias e aos órgãos fiscalizadores,

utilizando-se da certificação digital para fins de assinatura dos

documentos eletrônicos, garantindo assim a validade jurídica dos

mesmos apenas na sua forma digital.

Segundo a Receita Federal, o SPED tem como objetivos, entre outros:

a) Promover a integração dos fiscos, mediante a padronização e

ao compartilhamento das informações contábeis e fiscais,

respeitando as restrições legais.

b) Racionalizar e uniformizar as obrigações acessórias para os

contribuintes, com o estabelecimento de transmissão única de

distintas obrigações acessórias de diferentes órgãos

fiscalizadores.

Page 85: TCC CONTÁBEIS

84

c) Tornar mais célere a identificação de ilícitos tributários, com a

melhoria do controle dos processos, a rapidez no acesso às

informações e a fiscalização mais efetiva das operações com o

cruzamento de dados e auditoria eletrônica.

A maioria dos contribuintes se utiliza dos recursos de informática

atualmente para efetuar a escrituração fiscal e a escrituração contábil.

As imagens em papel simplesmente reproduzem as informações

procedentes do meio eletrônico. A facilidade de acesso à escrituração,

ainda que não disponível em tempo real, amplia as possibilidades de

seleção de contribuintes e, quando da realização de auditorias, gera

expressiva redução no tempo de sua execução.

O SPED, introduzido no país por alguns setores da economia desde

janeiro de 2008, agrupa duas áreas distintas da contabilidade: a Fiscal

através da Nota Fiscal Eletrônica (NF-e) e da Escrituração Fiscal Digital

(EFD), e a Contábil, através da Escrituração Contábil Digital (ECD).

3.6.1 Nota Fiscal Eletrônica ( NF-e )

A Nota Fiscal Eletrônica define-se como um documento emitido e

armazenado por modo eletrônico, substituindo às notas fiscais

impressas. Ao realizar a transação sujeita à emissão de nota fiscal, ao

invés da geração de uma nota em papel, são criados registros nos

bancos de dados do contribuinte e das Receitas Federal e Estadual.

Simultaneamente, é possível gerar um “Conhecimento de Transporte

eletrônico”, documento virtual a ser transmitido tanto para a

transportadora como para os postos de fiscalização, além de objetivar

também que isso traga uma diminuição das filas de caminhões nas

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85

divisas Estaduais. Este procedimento ampara a circulação de

mercadorias e a prestação de serviços, e tem sua autenticidade jurídica

verificada por assinatura digital do emitente.

Existem duas versões da nota eletrônica: a NFS-e (Nota Fiscal

Eletrônica de Serviços), onde sua funcionalidade e obrigatoriedade

dependem das legislações municipais e sua emissão dos sites das

respectivas prefeituras; e a NF-e (Nota Fiscal Eletrônica de mercadorias)

onde a emissão deve ser efetuada por meio de sistemas e previamente

autorizada pelo fisco.

3.6.2 Escrituração Contábil Digital ( ECD )

A ECD (Escrituração Contábil Digital) serve de fonte de informações

contábeis ao fisco acerca de determinada empresa. Abrange os livros:

diários, razões, balancetes, balanços, e fichas de lançamento.

Foi instituída pela IN RFB 787 de 19/11/07, e sofreu alteração pela IN

RFB 926 de 11/03/09, determinando obrigatoriedade em relação a fatos

ocorridos a partir de 1º de janeiro de 2008 às empresas que sofrem

acompanhamento diferenciado, e em relação a fatos ocorridos a partir

de 1º de janeiro de 2009 a todas as empresas tributadas pelo lucro real,

bem como entrega anual pelos obrigados, passiveis de multa se

descumprido o prazo.

O Governo disponibilizou um plano de contas referencial (padrão), ao

quais todos os contribuintes necessitam se adaptar, evitando possíveis

divergências, tais quais como uma denominação errada de rubricas

contábeis. Uma vez acertado o padrão, os Balanços são analisados por

um Programa Validador e Assinador, e a partir daí podem ser

Page 87: TCC CONTÁBEIS

86

transmitidos para os bancos de dados da Receita. Após a recepção, a

Receita comunica à Junta Comercial competente, que confirmará a

validade dos livros contábeis.

Vale ressaltar que neste processo, o papel do profissional conhecedor

da contabilidade será de suma importância, tanto no acompanhamento e

gerenciamento da implantação, como na orientação das áreas de

suporte (financeiro, faturamento, fiscal, etc.) e na análise do resultado.

3.6.3 Escrituração Fiscal Digital ( EFD )

A EFD (Escrituração Fiscal Digital) foi instituída pelo Convênio ICMS

146 e vem substituir diversas obrigações fiscais apresentadas ao fisco

pelas instituições, devendo ser entregue mensalmente, desde 2009,

com respectiva assinatura digital, por todos os contribuintes de ICMS e

IPI. É gerada a partir do sistema próprio da empresa e também depende

do PVA.

Os contribuintes irão remeter, também de forma padronizada, as

informações de interesse da Receita Federal, que disponibilizará para as

Secretarias Estaduais.

A EFD é o subprojeto do SPED mais detalhado, contendo uma grande

variedade de regras. As informações entregues devem ser por demais

minudenciadas, de interesse principal para a arrecadação, e tem como

objetivo simplificar processos e reduzir obrigações acessórias. Para

alcançar tal objetivo é necessário que os órgãos fiscalizadores, órgãos

reguladores e as empresas sempre estejam comprometidos e arquem

com os custos da implantação esperando a geração de resultados

positivos.

Page 88: TCC CONTÁBEIS

87

Pode-se observar que o SPED só é possível através do Certificado

Digital (CD), sendo utilizado para assinar digitalmente toda a

documentação eletrônica enviada pela internet. Sem o funcionamento

do CD, a Receita não teria fundamento jurídico para garantir que a

documentação foi realmente enviada pelo contribuinte não podendo, por

exemplo, processá-lo em caso de fraude ou sonegação. Por

conseguinte, pode-se determinar como benefícios do SPED:

Para o contribuinte: Diminuição burocrática, atendendo a Receita

Federal e Estadual, sem necessitar de comparecimento “in loco” na

repartição, simplificando as escriturações, de modo a obedecer ao

padrão através dos softwares, além da facilidade de armazenamento,

com acesso direto à Receita, em caso de necessidade de alteração;

Para a Receita: Informações tributárias recentes e detalhadas;

facilidade para armazenamento, tratamento e cruzamento de

informações tributárias (o que certamente culminará no aumento da

arrecadação);

Para a área ambiental: Estima-se uma diminuição considerável na

quantidade de papéis estocados com o decorrer da implantação total da

estrutura do SPED;

Para o Brasil: Poderá ter uma economia mais dinâmica, um governo

menos burocrático, uma carga tributária mais equânime, além do meio-

ambiente mais preservado.

O SPED é uma nova era para todas as empresas, sem distinção. Os

impactos são sentidos em todas as áreas, desde a infraestrutura

tecnológica, passando pelos processos e procedimentos, pela

comunicação e até a evolução cultural das pessoas.

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88

Para a concretização das mudanças da chamada “realidade virtual”,

evidentemente, requer um aparato de máquinas e programas,

almejando assim que os objetivos sejam alcançados tanto pelo Fisco,

como para as empresas.

As corporações devem investir em uma nova adequação, adquirindo

equipamentos e técnicas, aperfeiçoando seus conhecimentos por meio

de treinamentos, acompanhando as novas diretrizes das autoridades

fiscais, e, caso seja necessário, rever seus conceitos e princípios.

3.7 Novo profissional contábil

A profissão contábil, embora antiga e muito tradicional, não alcançou o

status de profissão nobre, assim com a Advocacia, Medicina,

Engenharia, etc. Uma das causas que justificam este “feito” é a de que a

sociedade tem uma visão distorcida do contabilista, resumindo-o a um

“fazedor de contas”, “o cara que abre firma” ou àquele cidadão que

realiza declaração de imposto de renda (com suas respectivas fraudes).

É verdade que estas, com exceção às fraudes, são as funções que

estão no escopo das atividades do contador, entretanto são funções

acessórias.

Há algum tempo o profissional contábil era conceituado como aquele

realizava controle patrimonial e fornecia informações à alta

Administração e a todos outros interessados nas atividades da

organização, o que já deixa evidente o quão já era equivocada e

minimalista visão da sociedade para com o contador.

Atualmente, em meio a um contexto econômico dinâmico, com

alterações profundas nas legislações societárias, atrelados à

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89

solidificação da era da informação, o profissional que era o produtor de

informação, passa a compor a cúpula tomadora de decisão. Passa a ser

um profissional com competências multidisciplinares, que deve

desenvolver características, tais como liderança, criatividade, ousadia,

aperfeiçoamento constante e, principalmente, deve estar antenado ao

ambiente externo, antes restrito ao seu campo de atuação.

Esta alteração no perfil do contador passa, inclusive, a ser objeto de

reestruturação em âmbito acadêmico, objetivando uma grade curricular

que produza um profissional voltado ao empreendedorismo e à Gestão

empresarial.

Outro fato relevante que evidencia a ascendência da importância do

papel do contador é a obrigatoriedade do Exame de Suficiência

realizado pelo CFC, como condição necessária ao exercício da

contabilidade. Trata-se de um instrumento de controle necessário ao

controle de qualidade dos profissionais, antes restrito apenas aos

advogados, e que trará ganhos substanciais às Organizações.

Há também uma forte tendência que a contabilidade passe a contribuir

cada vez mais com outras questões, antes inimagináveis no campo de

atuação contábil, como a questão ambiental, responsabilidade social,

inserindo-se de uma forma mais visível no campo das ciências

humanas, a qual sempre pertenceu.

Talvez, futuramente, a profissão contábil atinja o patamar que merece.

Fica, a cada dia, mais evidente que está inserida de forma mais efetiva

no rol das profissões do presente que estão em constante ascensão,

impondo-se como uma função cada vez mais indispensável e

necessária na vida da sociedade e na continuidade das organizações.

Page 91: TCC CONTÁBEIS

90

3.8 Contabilidade Socioambiental

No mundo contemporâneo, pode-se perceber a evolução de inúmeras

transformações de ordem política, econômica, social e cultural que,

consequentemente, adaptam-se aos novos modelos de relações entre

instituições e mercado, organizações e sociedade.

Como já abordado no início deste capítulo, com as atuais tendências de

relacionamento, nota-se a crescente aproximação do interesse das

organizações com os da sociedade, buscando obter a capacidade

necessária para o cumprimento de objetivos compartilhados. A chamada

Responsabilidade Ambiental é um conjunto de atitudes, individuais ou

empresariais cujas ações são voltadas para o desenvolvimento

sustentável do planeta.

Também neste contexto, a Responsabilidade Social é um conceito

através do qual as empresas tomam suas decisões, tendo uma base

voluntária e estratégica, visando contribuir para uma sociedade mais

justa e um ambiente mais limpo, sem ter a necessidade de descartar

seus objetivos econômicos. Tais atitudes devem levar em conta o

crescimento econômico atrelado à proteção do meio ambiente, visando

também às gerações futuras, garantindo assim a sustentabilidade.

A Contabilidade Socioambiental, enfim, é instrumento utilizado pelas

instituições para atuar em suas estratégias de Responsabilidade Social,

uma vez que não se atém apenas aos resultados financeiros expressos

em seus balanços, mas inova na formulação de um balanço

socioambiental que leva as organizações a avaliar e administrar, de

modo planejado, a sua contribuição à sociedade.

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91

Este entendimento é o mesmo de Lopes de Sá (2009, p.168):

“ Sendo a Contabilidade a ciência da riqueza das células sociais, como

consequência lógica, está esta assumindo a responsabilidade de tratar

desses assuntos ligados aos fenômenos ambientais ligados a natureza.”

Por meio da Contabilidade Socioambiental, empresas e entidades

criadas objetivando lucro, obtêm maior produtividade e retorno

financeiro, obtendo uma sensibilidade maior para gerir as questões

socioambientais, atuando, portanto, de forma sistêmica nas

organizações, e interagindo com todos os seus setores, melhorando seu

posicionamento estratégico.

3.8.1 O CFC e a Responsabilidade Social

A Classe Contábil desenvolve suas ações de responsabilidade

socioambiental por intermédio do programa de Responsabilidade

Socioambiental, lançado em 2007, o qual amplia a participação política,

social e ambiental dos contabilistas e dos funcionários do sistema

CFC/CRCs.

O CFC integrou-se a esta iniciativa, criando e executando ações de

responsabilidade socioambiental em sua missão de promover o

desenvolvimento da profissão contábil e de atuar como fator de proteção

da sociedade, por meio da ação de práticas ambientais e sociais como:

Elaboração do Balanço Social;

Gestão de resíduos gerados nas atividades internas, como a

coleta seletiva dos resíduos gerados;

Consumo consciente de energia, água e materiais de expediente

(papel, copos descartáveis etc.);

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92

Campanhas do agasalho e de brinquedos;

Doação de resíduos recicláveis (papel, copos descartáveis e

garrafinha de água mineral), aumentando o ciclo de vida desses

produtos.

Com base nessas ações, o Projeto Ações de Sustentabilidade

Ambiental do CFC difunde ações de sustentabilidade social e ambiental

junto às organizações governamentais e não governamentais. A

implantação de critérios ambientais no CFC apresenta-se como modelo

aos Conselhos Regionais de Contabilidade (CRCs) e é levada aos

contabilistas, por meio de palestras e cartilhas, visando à ampla

conscientização socioambiental.

3.8.2 Balanço Social

Com a crescente demanda pela prática do accountability empresarial,

que institui a prestação de contas com a sociedade, países como a

França, através da criação do “Bilan Social” (balanço social) em 1972, e

Reino Unido, com o pacote instrumental do “Corporate Report”

(relatório corporativo) em 1975, iniciaram o que seria a contabilidade

social nas empresas. Tal prática, aos poucos, seria adotada

mundialmente em paralelo ao crescimento do poder de aferição e

cobrança típicas da imprensa investigativa moderna.

No Brasil, o movimento de apoio à responsabilidade social, ganhou

impulso a partir dos anos 90, sendo consequência do surgimento de

várias organizações não governamentais, assim como do crescimento

não igualitário dos anos do chamado “milagre econômico”.

Page 94: TCC CONTÁBEIS

93

Diante da ineficiência do Estado em suprir nossas severas demandas

sociais, as empresas atuam cada vez mais de forma proativa,

incorporando um discurso social mais justo. Por essas razões, em face

de uma crescente cobrança por transparência, não basta hoje atuar de

forma responsável, sendo necessário mostrar resultados. Por isso,

empresas demonstram seu desempenho social em relatórios

corporativos das mais diversas formas e modelos. Conforme Lopes de

Sá, 2009 (p.161):

“A expressão composta “Contabilidade Social” tem sido usada para

expressar o estudo do já referido movimento circulatório de riquezas entre a

célula social (azienda) e a sociedade, visando a evidenciar os aspectos de

tal interação, mas sem esconder a forte preocupação da empresa em

denunciar a sua função perante a sociedade”

O Balanço Social é um mecanismo utilizado pelas empresas para

tornarem públicas as suas intenções e compromissos, visando à

transparência de suas ações no exercício da responsabilidade social

corporativa (RSC), trazendo informações qualitativas e quantitativas.

Relatório de Sustentabilidade Empresarial, Balanço Social Corporativo,

Relatório Social e Relatório Social-Ambiental são outros nomes

utilizados pelas organizações, especialistas e acadêmicos para designar

o material informativo sobre a situação da organização em relação a

questões sociais e ambientais.

Quanto ao formato do que se convencionou chamar “Balanço Social”,

este pode ser o mais variado. Balanços Sociais modernos podem contar

com edições luxuosas, de impressionante impacto visual, a dados

quantitativos simples que sucintamente retratam a performance

socioambiental da empresa.

Page 95: TCC CONTÁBEIS

94

De modo geral, a lógica atrás dos relatórios socioambientais é simples.

As entidades devem prestar contas não só aos seus acionistas, mas

agora o espectro de “stakeholders” é muito mais amplo e consumidores,

empregados, e até outros atores sociais, como sindicatos e ONGs,

estão dentro da esfera de interesse do mundo empresarial.

O balanço social pode ter ainda como norteador à incorporação de

indicadores de desempenho ou desenvolvimento social, procurando

demonstrar a eficiência das estratégias e ações realizadas pela

organização. Estes indicadores podem ser humanos, físicos e

monetários.

Existem algumas metodologias ou modelos para a publicação do

Balanço social, tais como:

Inventário social: listam as ações tomadas pela organização,

relativas ao contexto social;

Relatório social: é promulgado verbalmente, de acordo com os

objetivos e as tomadas de ações relativas ao contexto social;

Contabilidade de Gestão de Pessoas: atribuem valores monetários

aos dispêndios com gestão de pessoas (treinamentos e qualidade de

vida no trabalho);

Relatório de custos: lista todos os dispêndios relativos a

Responsabilidade Social;

Abordagem do Valor Agregado: realiza uma avaliação em relação

ao valor agregado das ações voltadas para a Responsabilidade

Social e repasse deste valor agregado para os seus “stakeholders”;

Page 96: TCC CONTÁBEIS

95

Balanço de lucros e perdas sociais: equaciona os benefícios e

custos relacionados com a Responsabilidade Social sobre o

denominador comum de valores monetários.

Atualmente algumas empresas já estão divulgando o Balanço Social, o

que é extremamente louvável, pois denota o interesse que estes grupos

têm de prestar contas à sociedade de suas atividades, bem como das

consequências delas.

A contabilidade social consegue fornecer informações mais específicas

e analíticas dos que as oferecidas pelas outras demonstrações

contábeis, sendo que o balanço social tem uma inspiração específica,

apresentando informações especiais e de natureza social, tratando de

uma ótica diferente da natureza econômica, contabilizando o que as

empresas agregam ou acrescentam ao ambiente onde se localiza e

mostrar a sociedade de forma especial, retratando as exigências

específicas que antes não eram cogitadas e seus efeitos patrimoniais e

sociais.

Nessa atuação o profissional não somente analisa, através de

planejamento e políticas públicas ambientais para demonstrar os danos

causados ao meio-ambiente por uma indústria, como também

desenvolve uma pesquisa relacionada à responsabilidade social de

empresas brasileiras, contabilizando quantas empresas contribuem

socialmente, o quanto gastam em relação ao seu lucro e em que áreas

se destinam os recursos aplicados ou investidos nos rumos sociais do

país.

Manter a qualidade de vida e possibilitar que os recursos naturais

estejam disponíveis para gerações futuras é um desafio que compete a

todos. Essa é questão do problema ambiental que afeta a sociedade,

Page 97: TCC CONTÁBEIS

96

atraindo a atenção das pessoas pela valorização da qualidade de vida e

pela percepção das consequências do descaso com o meio ambiente,

assim como os prejuízos que causam a comunidade, comprometendo a

sobrevivência da humanidade em longo prazo.

Page 98: TCC CONTÁBEIS

97

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A história da contabilidade se funde e caminha juntamente com a

história da humanidade. O homem tomando consciência do sentido da

palavra posse, poder, bens, riqueza percebeu a necessidade de haver

uma técnica ou uma forma de registro de controle de tudo que lhe

pertencia, desde a contagem de animais com ajuda de pedras e

desenhos até o marco da contabilidade com o surgimento da utilização

das partidas dobradas.

De inicio temos as civilizações egípcias, romanas, gregas foram criando

suas próprias técnicas de registro para quantificar suas riquezas. Com o

comércio e troca cambial, o volume foi se multiplicando notou-se a

necessidade de técnicas mais efetivas que proporcionassem melhor

controle de registros.

Com a evolução matemática, a descoberta do zero e o advento das

grandes navegações em busca de novos comércios, novos métodos de

controle e registro foram descobertos, havendo na época alguns estudos

específicos, mas nada que fosse divulgado, devido a essas obras se

apresentarem manuais.

Com a descoberta do sistema de impressão gráfica, surgiram à

oportunidade de difundir as técnicas já utilizadas há tempos, as

chamadas partidas dobradas. A obra publicada por Luca Pacioli foi à

primeira divulgação deste método contábil, e partir deste momento

apresentou-se um período de grande progresso e desenvolvimento

intelectual, influenciando todo o mundo com um modelo de escrituração

para o controle e análise do patrimônio.

Vieram às escolas europeias, a qual se destaca a italiana e seus

estudos específicos e direcionados. A contabilidade foi influenciada

durante muito tempo por essas escolas, e na primeira metade do século

XIX esta ciência foi reconhecida não com foco apenas matemático, mas

como uma Ciência Social, devido à percepção de sua forma analítica.

Inicia-se um período pré-científico buscando informações e

conhecimentos para construção das doutrinas e normas que regulassem

a profissão.

Page 99: TCC CONTÁBEIS

98

Hoje somos influenciados principalmente pela escola americana, que

ganhou força com o advento da globalização, exercendo grande

influencia quanto ás normas e padrões contábeis a serem seguidos,

buscando uma padronização de apresentação da contabilidade em todo

o mundo econômico.

Num segundo foco temos no Brasil, a contabilidade surgindo com a

colonização portuguesa, que trouxe seus métodos utilizados para o

controle de riquezas do governo e dos próprios comerciantes que se

utilizam dos serviços dos guarda-livros. Surgiu também o contador geral

que atuava na área pública responsável pela escrituração mercantil.

A profissão foi se transformando e solidificando com associações e

escolas nacionais, que surgiram para preparar e proteger os

profissionais, normas e procedimentos da profissão, buscando a ética,

seus princípios e qualidade em suas prestações de serviços. A

contabilidade foi se tornando útil também para outras áreas como

administrativa, econômica que necessitavam de suas informações,

possibilitando análises e tomada de decisões baseadas em fatos

contábeis registrados.

Apresentamos alguns personagens da história da contabilidade como

Hilário Franco, Antonio Lopes de Sá, Frederico Hermann Jr, Francisco

D’Auria que contribuíram para o aprimoramento intelectual da

Contabilidade no Brasil e também criação e normas de órgãos de suma

relevância para a profissão.

No terceiro capitulo abordamos a tecnologia como primordial para

contabilidade, que se apresenta como uma ciência em constante

evolução, hoje buscando estar incorporada a globalização, trazendo

novas normas e leis internacionais, buscando integrar a análise e a

linguagem de todas as contabilidades do mundo.

Demonstramos que a evolução dos procedimentos contábeis possibilita

desenvolver com mais critério e objetividade a aplicação dessa ciência

nos mais diversos estilos e modalidades, adaptando-se sempre que

necessário, acompanhando os avanços financeiros e socioeconômicos

no controle e orientação da atividade contábil.

Page 100: TCC CONTÁBEIS

99

As nossas ilustrações vem como uma ideia visual de como as técnicas

era utilizada e seus personagens ilustres.

Buscamos resgatar neste trabalho a história e prática que foi utilizada

nos primórdios e o que se deve utilizar em nossos dias. Acreditamos ter

contribuído para um melhor entendimento desta constante evolução.

O Profissional de contabilidade deve estar sempre buscando se integrar

a essas mudanças, possuí um leque de opções de atuação aberto no

mercado e na sociedade.

Page 101: TCC CONTÁBEIS

100

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