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1 FACULDADES INTEGRADAS EINSTEIN DE LIMEIRA - FIEL REJANE ROSA DA SILVA ATROFIA MUSCULAR ESPINHAL - AME: CONSIDERAÇÕES MOLECULARES E DIFICULDADES DIAGNÓSTICAS LIMEIRA/SP 2010

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Page 1: TCC - AME 2

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FACULDADES INTEGRADAS EINSTEIN DE LIMEIRA - FIEL

REJANE ROSA DA SILVA

ATROFIA MUSCULAR ESPINHAL - AME: CONSIDERAÇÕES MOLECULARES E DIFICULDADES DIAGNÓSTICAS

LIMEIRA/SP

2010

Page 2: TCC - AME 2

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FACULDADES INTEGRADAS EINSTEIN DE LIMEIRA - FIEL

 

REJANE ROSA DA SILVA

ATROFIA MUSCULAR ESPINHAL - AME: CONSIDERAÇÕES

MOLECULARES E DIFICULDADES DIAGNÓSTICAS

Monografia apresentado a Faculdades Integradas Einstein de Limeira - FIEL, como exigência parcial para obtenção do grau de Bacharelado em Biomedicina.

Orientadora: Profa. Dr (a). Solange Aparecida Rossini de Oliveira.

LIMEIRA/SP 2010

Page 3: TCC - AME 2

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FACULDADES INTEGRADAS EINSTEIN DE LIMEIRA – FIEL

 

TERMO DE APROVAÇÃO

ATROFIA MUSCULAR ESPINHAL - AME: CONSIDERAÇÕES MOLECULARES E DIFICULDADES DIAGNÓSTICAS

REJANE ROSA DA SILVA

Orientador: Prof.ª Drª. Solange Aparecida Rossini de Oliveira

Banca Examinadora: Prof. Dr. Carlos Henrique Brandão de Perdigão Prof.ª. Ms. Carolina Nascimben Matheus

Parecer do Presidente da banca:

Data de aprovação: ____/____/____

Page 4: TCC - AME 2

4

DURANTE ESTE TRABALHO...

As dificuldades não foram poucas...

Os desafios foram muitos...

Os obstáculos, muitas vezes, pareciam intransponíveis.

Muitas vezes nos sentimos só, e, assim, o estivemos...

O desânimo quis contagiar, porém, a garra e a tenacidade

foram mais fortes, sobrepondo esse sentimento, fazendo-

nos seguir a caminhada, apesar da sinuosidade do

caminho.

Agora, ao olharmos para trás, a sensação do dever

cumprido se faz presente e podemos constatar que as

noites de sono perdidas, as viagens e visitas realizadas; o

cansaço dos encontros, os longos tempos de leitura,

digitação, discussão; a ansiedade em querer fazer e a

angústia de muitas vezes não o conseguir, por problemas

estruturais; não foram em vão.

Aqui estamos, como sobreviventes de uma longa batalha,

porém, muito mais fortes e hábeis, com coragem suficiente

para mudar a nossa postura, apesar de todos os

percalços...

Saint Exupèry “O Pequeno Príncipe”:

“Foi o tempo que perdeste com a tua rosa,

que fez a tua rosa tão importante.”

Page 5: TCC - AME 2

5

AGRADECIMENTOS

Quero expressar meus mais sinceros agradecimentos a todos aqueles que, direta ou

indiretamente, me ajudaram para a realização desse trabalho, cada um com sua

importância.

A minha orientadora Profa. Dra. Solange Aparecida Rossini de Oliveira. Por me

compreender e estimular quando pensei que não seria mais capaz, me enriqueceu com

sua ampla sabedoria e me fez visualizar que mesmo a menor estrutura, tem a

importância fundamental e, vital para qualquer organismo poder dar ritmo harmônico à

vida.

A Profa. Dra. Silvana Boldrini Francisco, pelos incessantes esforços em fazer da

Biomedicina nas Faculdades Einstein, um curso de excelência e também pela

indescritível humanização dedicada, aproximando diariamente os objetivos da

concretização e os sonhos da realidade.

Ao Prof. Dr. André Ré, por toda dedicação de seu tempo em buscar as adaptações que

me eram necessárias para cumprir suas aulas. Sua virtude surge dos bons atos e a

sabedoria nasce da mente pura e tranqüila. Para se andar com segurança nos labirintos

da vida humana é necessário que se tenha um guia de sabedoria e virtude. Você foi este

guia para mim.

A Prof. Dra. Andréia, além de uma ótima professora, em todo momento foi amiga e esse

é o ingrediente mais importante na vida.

Page 6: TCC - AME 2

6

A todos os meus professores, que me ensinaram muito mais que teorias, me prepararam

com todo carinho para a vida e, pela contribuição, dentro de suas áreas, para o

desenvolvimento de nossas monografias.

As funcionárias da biblioteca Luisa Jaschke, Sônia Santos, Silmara Fonseca, Ivani

Asbahr.

Aos técnicos dos laboratórios Leandro e Ricardo.

Ao Sandro e suas funcionária da cantina e, principalmente, pela dedicação e empenho

que demonstraram no decorrer de suas atividades para comigo me ajudando a concluir

mais essa etapa da minha vida.

Aos amigos de graduação, em especial, Ana Paula, Angélica Miyuki, Lílian C.

Favaretto, Lílian Regina, Rodrigo B. Novo e a representante de classe Márcia Aguiar,

que esteve sempre presente, deixando muitas vezes seus afazeres, para que nos

mantivéssemos informados de todas as atividades da sala, estando sempre pronta para

nossas dúvidas.

Aos amigos que foram responsável pelo meu transporte até a faculdade, Délio Antunes

de Freitas, Gilberto Egidio e Querubin da Silva.

Em especial às pessoas que mais se dedicam a mim, em todos os momentos, minha

família, André Henrique Baseggio, Aline Ap. Gropo Moreira, Francisco Bellão, José

Page 7: TCC - AME 2

7

Carlos da Silva, Marisa Bellão, Maria Saluti Cescon, Michelle Viera, Marilene Ap. B.

de Toledo, Vanilda Dutra dos Santos.

Aos meus amigos, que muito amo, Alice Guedes Cavasin, Fábio M. C. Tomé, Geraldo

Tin, José Eduardo Heflinger Junior e família, Jorge Tadeu Martins, Marcelo Bravin

Carmello, Marisa Quitério, Mario Luis Cescon, Maria Inês Marques Giongo, Marli J. de

Oliveira, Marcelo Pinto Athayde, Milton César Callef, Rafael Ximenes, Silvio Luis

Gomes e Wandelma Ximenes, pelos momentos de aprendizagem constante e pela

amizade solidificada, ao longo deste trabalho que certamente se eternizará.

A todos os colegas de trabalho e funcionários das Faculdades Integradas Einstein de

Limeira - FIEL, que de alguma forma contribuíram, direta ou indiretamente, para a

realização deste trabalho.

Page 8: TCC - AME 2

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RESUMO

A atrofia muscular espinhal – AME, tem origem genética e caracteriza-se por uma atrofia muscular secundária, com a degeneração de neurônios motores localizados no corno anterior da medula espinhal. Trata-se de uma doença autossômica recessiva ligada ao cromossomo 5, relacionada ao gene da proteína de sobrevivência do neurônio motor (SMN). Desponta como a principal desordem autossômica fatal, depois da fibrose cística, afetando aproximadamente 1 em 10.000 nascimentos. Para o diagnóstico, os pacientes são classificados em AME tipo I, AME tipo II, AME tipo III e AME tipo IV, baseado na idade de início dos sintomas e na evolução clínica. As quatro formas clínicas são causadas por alterações no gene de sobrevivência do neurônio motor (SMN1), que apresenta uma cópia homóloga (SMN2). A ausência de SMN2 não tem conseqüências clínicas e, é encontrada em aproximadamente 5% dos indivíduos normais, mas o número de cópias de SMN2 modula o fenótipo de pacientes com AME. Casais que tiveram uma criança afetada tem 25% de risco de recorrência em cada gravidez subseqüente. As doenças neuromusculares, caracterizam-se por situações decorrentes de problemas localizados na ponta anterior da medula, nos nervos periféricos, nas placas mioneurais ou nos músculos. Para a confirmação do diagnóstico, é feito atualmente análise molecular, que resulta na identificação de ausência do éxon 7 do gene SMN1, pelo quadro clínico, pelos resultados de eletroneuromiografia (ENMG), de biópsia muscular e, pela investigação genética. Hipotonia, paresia, arreflexia, amiotrofia e miofasciculação constituem os sinais clínicos da AME, a qual é uma desordem de difícil diagnóstico e de tratamento clínico ainda incerto.

Palavras-chave: doença neuromuscular, atrofia , AME

Page 9: TCC - AME 2

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LISTA DE ABREVIATURA

AE = Atrofia Espinhal.

AEP = Atrofia Espinhal Progressiva.

AME = Atrofia Muscular Espinhal.

ATP = Trifosfato de adenosina.

CMD = Distrofia Muscular Congênita.

CK ou CPK = creatinofosfoquinase.

DNA = Ácido Desoxirribonucléico.

DMC = Distrofia Muscular do tipo Cinturas.

DMS = Distrofia Miotônica de Steinert.

ENMG = Eletroneuromiografia.

EUA = Estados Unidos da América.

FSH = Distrofia Muscular Facio-Escápulo-Umeral.

KW = Kugelberg-Welander.

mRNA = ácido ribonucléico mensageiro.

NAIP = proteína Inibidora de Apoptose Neuronal.

NT = Neurotransmissor.

RNA = ácido ribonucléico

SMN = Sobrevivência do Neurônio Motor / Survival motor neuron.

SNC = Sistema Nervoso Central.

SN = Sistema nervoso.

SM = Sistema Muscular.

WH = Werdnig-Hoffmann.

WKW = Wohlfart-Kugelberg-Welander.

Page 10: TCC - AME 2

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LISTA DE SIGLAS

AAME = Amigos de Atrofia Muscular Espinhal.

ABRAME = Associação Brasileira de Amiotrofia Espinhal.

CEGH – USP = Centro de Estudos do Genoma Humano - Universidade de São Paulo.

OECD = Organisation for Economic Co-Operation and Development.

OMIM = Online Mendelian Inheritance in Man.

UNICID = Universidade Cidade de São Paulo.

Page 11: TCC - AME 2

11

LISTA DE FIGURA

Figura 1 – Esquema das principais regiões do Sistema Nervoso Central........................19

Figura 2 – Esquema de um neurônio, evidenciando a região axonal...............................21

Figura 3 – Foto ilustrativa de um neurônio motor do corno anterior da medula

espinhal..............................................................................................................................22

Figura 4 – Fotomicrografia das meninges no SNC..........................................................23

Figura 5 - Localização anatômica de cerebelo no SNC...................................................24

Figura 6 - Aspectos histológicos do cerebelo. Detalhe das camadas da substância

cinzenta do cerebelo. Observar presença das células de Purkinje, os maiores neurônios do

corpo..................................................................................................................................25

Figura 7 – Aspectos histológicos do cerebelo. Fotomicrografia da substância cinzenta do

cerebelo, localizada no córtex cerebelar ..........................................................................25

Figura 8 - Aspecto microscópico do cerebelo parecido a uma árvore e seus galhos, daí o

nome “arvore da vida”.......................................................................................................26

Figura 9 – Representação da raiz dorsal ou posterior (sensitiva) e a raiz ventral ou

anterior (motora) na medula espinhal................................................................................28

Figura 10 - Fotomicrografias da medula espinhal. A - Detalhe do canal do epêndima e a

substância branca localizada mais externamente. B-neurônio motores (motoneurônios) da

medula...............................................................................................................................29

Page 12: TCC - AME 2

12

Figura 11 - No esquema, secções em três regiões distintas da medula espinhal e suas

respectivas regiões de controle: Músculos axiais, músculos proximais e distais dos

membros superiores e inferiores.......................................................................................30

Figura 12 - Modificada - Detalhe de uma secção transversal da medula espinhal

indicando as regiões aferentes e eferentes.........................................................................30

Figura 13 – Inervação motora. Unidade motora: o motoneurônio e as fibras musculares

por ele inervadas. Um músculo é controlado por mais de um motoneurônio; possui várias

unidades musculares..........................................................................................................31

Figura 14 - Fotomicrografia do músculo estriado esquelético com várias junções

neuromusculares................................................................................................................32

Figura 15 - Esquema do músculo estriado esquelético e suas membranas conjuntivas. O

encurtamento das fibras musculares gera tensão mecânica nas extremidades que

aplicadas aos ossos, através dos tendões e ligamentos pode estabilizar articulações

(postura) ou move-lo (movimento)...................................................................................33

Figura 16 – Esquema do impulso elétrico e contração muscular.....................................34

Figura 17 - Estrutura de uma molécula de DNA..............................................................35

Figura 18 - Estrutura do gene SNM no cromossomo 5....................................................37

Figura 19 – Mapa genético do lócus da AME. As cópias dos genes SMN estão

localizadas em um segmento duplicado e invertido no cromossomo 5q11.2-q13.3. SMN1

esta localizado na cópia telomérica, enquanto SMN2 está localizado na cópia

Page 13: TCC - AME 2

13

centromérica. Outros genes vizinhos às cópias SMN estão representados. As flechas na

parte inferior indicam a direção de transcrição de cada gene...........................................39

Figura 20 - Genótipo de indivíduos não-afetados e afetados pela

AME..................................................................................................................................40

Page 14: TCC - AME 2

14

LISTA DE TABELA

Tabela 1 – Principais diferença entre AME e DM.........................................................48

Page 15: TCC - AME 2

15

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO..........................................................................................................17

2 MORFOFISIOLOGIA...............................................................................................19

2.1 Sistema nervoso central.......................................................................................19

2.1.1 Cérebro.............................................................................................................20

2.1.2 Cerebelo............................................................................................................23

2.1.3 Medula Espinhal...............................................................................................27

2.2 Sistema Muscular................................................................................................31

2.3 Interação Neuromuscular e Mecanismo da Contração........................................32

3 BASES GENÉTICAS E MOLECULARES DA AME............................................34

3.1 Expressão gênica................................................................................................34

3.2 A genética e a AME............................................................................................36

3.3 Doenças neuromusculares..................................................................................41

3.1.1 Apoptose e Necrose.........................................................................................42

3.4 Atrofia Muscular Espinhal (AME).....................................................................43

3.4.1 Critérios de classificação da AME...................................................................44

3.4.2 Atrofia muscular espinhal Tipo I......................................................................45

3.4.3 Atrofia muscular espinhal Tipo II....................................................................45

3.4.4 Atrofia muscular espinhal Tipo III...................................................................45

3.4.5 Atrofia Muscular Espinhal tipo IV...................................................................46

Page 16: TCC - AME 2

16

4 CRITÉRIOS CLÍNICOS DA AME E DIAGNÓSTICOS......................................46

4.1 Alterações histopatológicas................................................................................49

4.2 Critérios clínicos para testes genéticos em AME...............................................50

4.3 Diagnóstico.........................................................................................................52

4.3.1 Testes genéticos moleculares para doenças neurodegenerativas

hereditárias...........................................................................................................52

4.3.2 Creatinofosfatase.............................................................................................54

4.3.3 Eletromiografia................................................................................................55

4.3.4 Biópsia muscular.............................................................................................55

5 TRATAMENTO.........................................................................................................56

5.1 Perspectivas futuras para o diagnóstico e tratamento da AME............................56

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................................59

7 REFERÊNCIAS..........................................................................................................61

Page 17: TCC - AME 2

17

1 INTRODUÇÃO

Numerosas doenças, das mais diversas etiologias, manifestam-se por hipotonia

ou por atraso no desenvolvimento psicomotor. As lesões do corno anterior da medula,

dos nervos periféricos, das placas mioneurais e, as musculares, conhecidas em conjunto

pelo nome de distúrbios neuromusculares, estão entre estas doenças. As Atrofias

Musculares Espinhais e as Distrofias Musculares são exemplos de doenças

neuromusculares de origem genética (ABRAME, 2010).

As Atrofias Musculares Espinhais podem ser chamadas de atrofia espinhal (AE),

amiotrofia espinhal progressiva (AEP) ou atrofia muscular espinhal (AME). A AME

pertence ao grupo de distúrbios neurogênicos nos quais há degeneração das células da

medula espinhal localizadas no corno anterior, que resulta na atrofia muscular espinhal

(VECHIA, 2009).

Segundo Umphred (2004, p. 421) as distrofias musculares são miopatias

hereditárias caracterizadas por fraqueza muscular progressiva, com substituição gradual

das fibras musculares por tecido fibroso e gorduroso.

Existem quatro tipos de AME: a do tipo I, a do tipo II e a tipo III, ainda em

estudo a tipo IV. Nenhuma tem cura definitiva, no entanto, a fisioterapia, bons

cuidados no acompanhamento clínico e alguns aparelhos ortopédicos ajudam a manter a

independência desses pacientes, a função de seus músculos e a integridade física. A

AME é uma desordem de difícil diagnóstico e de tratamento clínico ainda incerto.

Atualmente a confirmação do diagnóstico é feito análise molecular, a qual

resulta na identificação de ausência do éxon 7 do gene SMN1 (BAIONI, 2010).

Page 18: TCC - AME 2

18

Convém salientar que, nem sempre todas as características típicas serão encontradas nos

pacientes, pois estas dependem do estágio da doença em que cada indivíduo é

encontrado ao ser avaliado (ABRAME, 2010). Devido à carência de informações a

cerca da AME e suas patologias correlatas, o objetivo deste estudo é esclarecer as

características gerais de tal patologia neuromuscular, sob o ponto de vista molecular e

genético, procurando identificar os possíveis diagnósticos e tratamentos.

Esta pesquisa vem de encontro às necessidades de maiores esclarecimentos

sobre a amiotrofia muscular espinhal (AME), visto tratar-se de uma doença rara, com

diferentes fenótipos comportamentais. Espera-se, desta forma, auxiliar os profissionais

da área de saúde e, a comunidade em geral, na busca por informações sobre a AME, em

seus mais variados perfis, colaborando na divulgação de informações científicas, que

possam levar a melhorias, tanto para o seu diagnóstico, quanto para futuros tratamentos.

A metodologia utilizada para este estudo foi a pesquisa descritiva de caráter

bibliográfico, através de consulta ao acervo de bibliotecas de instituições de ensino

superiores, “papers”, bem como, em sites especializados.

Page 19: TCC - AME 2

19

2 MORFOFISIOLOGIA

2.1 Sistema nervoso central

O Sistema Nervoso Central (SNC) divide-se em encéfalo (que contém cerca de

35 bilhões de neurônios) e medula que irá encontrar neurônio motor, fibra eferente

(axônio motor), raiz posterior, gânglio da raiz posterior. O encéfalo corresponde ao

telencéfalo acomodando a substância cinzenta e o córtex, recobre uma grande parte do

centro medular, formado por fibras oxonais que são conhecidas como as substâncias

brancas (hemisférios cerebrais), diencéfalo (tálamo e hipotálamo), cerebelo e, tronco

cefálico, que se divide em: bulbo, situado caudalmente; mesencéfalo, situado

cranialmente; e ponte, situada entre ambos (Figura 1).

Figura 1 – Esquema das principais regiões do Sistema Nervoso Central Fonte: SILVERTHORN (2003).

Page 20: TCC - AME 2

20

O Sistema Nervoso tem a capacidade de receber, transmitir, elaborar e

armazenar informações. No mesmo, existe a chamada substância cinzenta e substância

branca. A substância cinzenta é formada pelos corpos dos neurônios e, localiza-se

internamente à substância branca, que é formada por seus prolongamentos dos

neurônios, localizando-se na porção externa (BURT, 1995; JUNQUEIRA e

CARNEIRO, 2008). As células excitáveis do sistema nervoso são compostas por três

classes de neurônios. Os neurônios aferentes informam o SNC das condições do

ambiente interno e externo, enquanto que os eferentes transportam instruções do SNC

para os órgãos efetores, nomeadamente, músculos e glândulas, obtendo, assim, a

resposta desejada (algum tipo de movimento ou secreção). Os interneurônios são

responsáveis pela integração da informação aferente e formulação de uma resposta

eferente, assim como, todas as funções mentais superiores associadas à mente

(FREITAS et al., 2005).

2.1.1 Cérebro

O cérebro encontra-se dividido em duas partes, hemisférios cerebrais direito e

esquerdo por unidades individuais. Cada hemisfério é composto por uma fina camada

externa de matéria cinzenta, o córtex cerebral, que por sua vez cobre a matéria branca.

Na matéria branca, encontra-se outra região de matéria cinzenta, o núcleo basal. A

matéria cinzenta consiste predominantemente em corpos celulares e as suas dendrites e

células gliais (MOURA et al., 2002).

As células gliais, são responsáveis apenas de alimentar e garantir a saúde do

neurônio onde sua participação é formação das bainhas mielínicas pelas fibras nervosas.

Algumas das células gliócitas são representantes do sistema imunitário no SNC (LENT,

2005).

Page 21: TCC - AME 2

21

Diferentes regiões do cérebro são especializadas à diferentes funções,

controlando a temperatura corpórea, a pressão arterial, a freqüência cardíaca e, a

respiração. Aceita milhares de informações vindas dos nossos vários sentidos

controlando todos nossos movimentos. Nosso cérebro é composto por aproximadamente

100 bilhões de células nervosas denominadas neurônios (Figura 2), como todas as

células, possuem membrana plasmática, envolvendo um citoplasma com organelas e

DNA mitocôndrial. O que difere os neurônios das outras células do organismo é sua

morfologia, que se adaptou a processar informações em umas variedades de tipos

morfológicos GUYTON, 2005; JUNQUEIRA e CARNEIRO, 2008).

Figura 2 – Esquema de um neurônio, evidenciando a região axonal. Fonte: SILVERTHORN (2003).

Segundo Lent (2005, p. 15), “cada neurônio tem um único axônio e, é por ele

que saem as informações eferentes dirigidas às outras células de um circuito neural”.

Axônio é o prolongamento mais longo do neurônio, que transporta mensagens

eletroquímicas (impulsos nervosos ou potenciais de ação) sendo recobertos por uma fina

camada de mielina, que acelera a transmissão de um impulso nervoso (Figura 3)

(GUYTON, 2005).

Page 22: TCC - AME 2

22

Este processo de enviar informação de um axônio a outro é denominado

sinapse e, cada um dos neurônios, recebe milhares de sinapses. Tais informações,

muitas vezes são bloqueadas parcialmente, ou completamente, ou se multiplicam. Isso

significa que esse é um local de decisão no sistema nervoso, onde a informação não

apenas é transferida de uma célula a outra, mas transformada na passagem. Os

neurônios com mielina costumam ser encontrados nos nervos periféricos e, os neurônios

sem mielina, encontram-se no cérebro e na medula espinhal. Os dendritos são pequenos

prolongamentos da membrana plasmática dos corpos celulares do neurônio e realizam

as conexões com outras células, permitindo um grande poder comunicação entre as

células nervosas (GUYTON, 2005; JUNQUEIRA e CARNEIRO, 2008).

Os órgãos do SNC são protegidos pela caixa craniana que protege o encéfalo,

a coluna vertebral e, a medula, com membranas, denominadas meninges (Figura 4),

situadas sob a proteção esquelética. São elas, a dura-máter (externa), a aracnóide

Figura 3 – Foto ilustrativa de um neurônio motor do corno anterior da medula espinhal. Fonte: Fonte: UNICAMP (2010).

Page 23: TCC - AME 2

23

(mediana) e, a pia-máter (interna). Entre as meninges aracnóides e, pia-máter, há um

espaço, preenchido pelo líquido cefalorraquidiano (liquor) (GUYTON, 2005).

Figura 4 – Fotomicrografia das meninges no SNC.

Fonte: JUNQUEIRA e CARNEIRO (2008). 2.1.2 Cerebelo

Encontra-se na parte superior do tronco cerebral e por baixo do lobo occipital

do córtex. Conhecido como o “pequeno cérebro”, é dividido em três partes, o lobo

anterior, lobo posterior e lobo flóculo-nodular, os quais são responsáveis pela

coordenação dos músculos esqueléticos a partir de informações recebidas (Figura 5).

Page 24: TCC - AME 2

24

Suas atividades se relacionam com o equilíbrio e postura corporal, trabalhando

em conexão com o córtex cerebral e o tronco encefálico. O cerebelo é preenchido por

uma substância branca, formando uma região central, com fibras de projeção e axônios

mielínicos das células de Purkinje, que são neurônios diferenciados, presentes no

cerebelo (GUYTON, 2005). O cerebelo e o gânglio basal não influenciam diretamente

os neurônios motores eferentes, mas ambos monitorizam e ajustam as atividades

motoras comandadas pelo córtex motor (MOURA et al. 2005).

O cerebelo é responsável na manutenção de balanço, por movimentos rápidos

e suaves, atividade motora física e do tônus muscular. O gânglio basal é importante na

coordenação de movimentos lentos, na sustentação de movimentos relacionados com

postura e suporte (MARTIN, 1998). Várias fibras nervosas aferentes saem do cerebelo

para o córtex, informando-o sobre as funções citadas acima. No cerebelo existem muitas

fibras de associação, as quais integram informações cinestésicas com outras (MOURA

et al. 2005).

Figura 5 - Localização anatômica de cerebelo no SNC. Fonte: HEIDEGGER, (1974) modificado.

Page 25: TCC - AME 2

25

Segundo Junqueira e Carneiro (2008) no cerebelo é que ficam as células de

Purkinje (Figura 6) que representam os neurônios aferentes do córtex cerebelar.

Portanto, o cerebelo tem uma superfície extensa e revestida de substância

cinzenta por fora, subdividida em camada molecular (a mais externa, camada de células

de Purkinje, intermediária e a camada granulosa, mais interna, que fica próxima da

substância branca (corpo medular do cerebelo). (Figura 7) (MARTIN, 1998).

Figura 6 - Aspectos histológicos do cerebelo. Detalhe das camadas da substância cinzenta do cerebelo. Observar presença das células de Purkinje, os maiores neurônios do corpo. Fonte: UNICAMP (2010).

Figura 7 - Aspectos histológicos do cerebelo. Fotomicrografia da substância cinzenta do cerebelo, localizada no córtex cerebelar. Fonte: UNICAMP (2010).

Page 26: TCC - AME 2

26

Recentes descobertas afirmam que o cerebelo humano está ativo durante uma

grande gama de atividades, não diretamente relacionadas ao movimento. Sofisticados

estudos cognitivos também revelaram que, lesões em áreas específicas do cerebelo,

podem causar impedimentos inesperados em processos não-motores, afetando, em

especial, a rapidez e, a precisão com que as pessoas percebem as informações

sensoriais. Assim como o córtex cerebral humano, o cerebelo abriga uma extraordinária

quantidade de circuitos em um pequeno espaço, dobrando-se muitas vezes sobre si

mesmo (Figura 8) (JUNQUEIRA e CARNEIRO, 2008).

Figura 8 - Aspecto microscópico do cerebelo parecido a uma árvore e seus galhos, daí o nome “arvore da vida”. Fonte: UNICAMP (2010).

Na verdade, o cerebelo humano é muito mais dobrado que o córtex cerebral e,

em vários mamíferos, é a única estrutura encefálica dobrada, formando convoluções. O

cerebelo tem, sem dúvida, uma função importante porque persistiu e aumentou ao longo

Page 27: TCC - AME 2

27

da evolução. Apesar de os biólogos considerarem o crescimento do córtex cerebral uma

característica definidora do grau de evolução do cérebro humano, o cerebelo também

cresceu de forma significativa, aumentando pelo menos três vezes ao longo do último

milhão de anos da história humana, conforme registros fósseis. Mas, talvez, a

característica mais notável do cerebelo é o fato de que ele contém mais células nervosas

individuais, ou neurônios, que o resto do encéfalo. Além disso, a forma como os

neurônios estão interconectados permaneceu essencialmente constante por mais de 400

milhões de anos de evolução dos vertebrados. Deste modo, o cerebelo de um tubarão

possui neurônios organizados em redes quase idênticos às encontradas em humanos

(GUYTON, 2005).

2.1.3 Medula Espinhal

A medula espinhal é a parte mais alongada do SNC e com continuação do

encéfalo, que está no interior da coluna vertebral ao longo do eixo crânio-caudal. Seu

início é na junção do crânio juntamente com a primeira vértebra cervical, terminando

entre a primeira e segunda vértebra lombar. Seu tamanho em um adulto atinge entre 44

a 46 cm de comprimento (Figura 9). A medula funciona como centro nervoso de atos

involuntários e também como veículo condutor de impulsos nervosos.

Page 28: TCC - AME 2

28

Da medula partem 31 pares de nervos raquidianos que se ramificam. Por meio

dessa rede de nervos, a medula se conecta com as várias partes do corpo, recebendo

mensagens e vários pontos e enviando-as para o cérebro e recebendo mensagens do

cérebro e transmitindo-as para as várias partes do corpo. A medula possui dois sistemas

de neurônios: o sistema descendente controla funções motoras dos músculos, regulam

funções como pressão e temperatura e transporta sinais originados no cérebro até seu

destino; o sistema ascendente transporta sinais sensoriais das extremidades do corpo até

a medula e de lá para o cérebro (AFH – ANATOMIA & FISIOLOGIA HUMANA,

2010).

Figura 9 – Representação da raiz dorsal ou posterior (sensitiva) e a raiz ventral ou anterior (motora) na medula espinhal. Fonte: AFH – ANATOMIA & FISIOLOGIA HUMANA (2010).

Page 29: TCC - AME 2

29

Os corpos celulares dos neurônios se concentram no cerne da medula – na

massa cinzenta (Figura 10-B). Os axônios ascendentes e descendentes, na área adjacente

a massa branca. As duas regiões também abrigam células da glia. Dessa forma, na

medula espinhal, a massa cinzenta localiza-se internamente e a massa branca (Figura

10-A) externamente, ao contrário do que se observa no encéfalo (JUNQUEIRA e

CARNEIRO, 2008).

Durante uma fratura ou deslocamento da coluna, as vértebras que

normalmente protegem a medula, podem matar ou danificar as células. Teoricamente, se

o dano for confinado à massa cinzenta, os distúrbios musculares e sensoriais poderão

estar, apenas, nos tecidos que recebem e enviam sinais aos neurônios “residentes” no

nível da fratura (Figura 11).

Figura 10 - Fotomicrografias da medula espinhal. A - Detalhe do canal do epêndima e a substância branca localizada mais externamente. B-neurônio motores (motoneurônios) da medula. Fonte: JUNQUEIRA e CARNEIRO (2008).

A B

Page 30: TCC - AME 2

30

Os nervos que levam informações da periferia do corpo para o SNC são os

nervos sensoriais (nervos aferentes ou nervos sensitivos), que são formados por

prolongamentos de neurônios sensoriais (centrípetos). Aqueles que transmitem impulsos

do SNC para os músculos ou glândulas são nervos motores ou eferentes, feixe de

axônios de neurônios motores (centrífugos). Existem ainda os nervos mistos, formados

por axônios de neurônios sensoriais e por neurônios motores (Figura 12)

SILVERTHORN (2003).

Figura 11 - No esquema, secções em três regiões distintas da medula espinhal e suas respectivas regiões de controle: Músculos axiais, músculos proximais e distais dos membros superiores e inferiores. Fonte: Manual MERCK (2010).

FIGURA 12 - Detalhe de uma secção transversal da medula espinhal indicando as regiões aferentes e eferentes. Fonte: SILVERTHORN (2003) – Modificada.

Page 31: TCC - AME 2

31

2.2 Sistema Muscular

Um tipo diferente de transmissão nervosa ocorre quando um axônio se liga a

uma fibra do músculo esquelético, em uma estrutura especializada chamada de junção

neuromuscular. Um potencial de ação que ocorre nesse local, é conhecido como

transmissão neuromuscular (SOBOTA, 2000).

Em uma junção neuromuscular, o axônio subdivide-se em inúmeros botões

terminais localizados em depressões formadas na placa motora (Figura 13 e 14). A

acetilcolina é o transmissor especial utilizado na junção neuromuscular. Junção neuro-

muscular ou placa motora corresponde a uma sinapse entre o neurônio motor

(motoneurônio) e a fibra muscular esquelética. A sinapse neuromuscular ocorre na

região do sarcolema, denominada placa motora, para onde os neurotransmissores são

liberados.

MÚSCULO

Figura 13 – Inervação motora. Unidade motora: o motoneurônio e as fibras musculares por ele inervadas. Um músculo é controlado por mais de um motoneurônio; possui várias unidades musculares. Fonte: PUCRS (2001).

Page 32: TCC - AME 2

32

2.3 Interação neuromuscular e mecanismo da contração

Hà aproximadamente 212 músculos no corpo humano, sendo 112 na região

frontal e 100 na região dorsal. Cada músculo possui o seu nervo motor, o qual se divide

em muitos ramos para poder controlar todas as células do músculo. Onde as divisões

destes ramos terminam denominam-se placa motora. O sistema muscular é capaz de

efetuar imensa variedade de movimento, onde todas essas contrações musculares são

controladas e coordenadas pelo cérebro (SOBOTA, 2000).

Os músculos são os órgãos ativos do movimento. São eles dotados da

capacidade de contrair-se e de relaxar-se e, em conseqüência, transmitem os seus

movimentos aos ossos sobre os quais se inserem, ossos esses, formadores do sistema

passivo do aparelho locomotor. O movimento de todo o corpo humano ou de algumas

das suas partes - cabeça, pescoço, tronco, extremidades deve-se aos músculos.

De músculos estão, ainda, dotados os órgãos que podem produzir certos

movimentos (coração, pulmões, estômago, intestino, bexiga etc.). Toda a musculatura

do corpo humano pode, portanto, dividir-se em duas categorias: os músculos

esqueléticos (que se ligam ao esqueleto) e os viscerais, que entram na constituição dos

órgãos profundos, para assegurar-lhes determinados movimentos. Os músculos

esqueléticos contribuem, com a pele e o esqueleto, para formar o invólucro exterior do

Figura 14 - Fotomicrografia do músculo estriado esquelético com várias junções neuromusculares. Fonte: UNICAMP (2010).

Page 33: TCC - AME 2

33

corpo, sendo comandados voluntariamente. Os músculos viscerais têm estruturas “lisas”

e funcionam independentemente da nossa vontade (JUNQUEIRA e CARNEIRO, 2008).

A parte mais importante da musculatura é formada por músculos do esqueleto

que são individualizados e fixados em suas extremidades por firmes tendões os quais

podem exercer força sobre os ossos (SCHMIDT, 2003).

Cada músculo varia em tamanho, mas todos estão cobertos por tecido

conjuntivo, o epimisio. O perimísio, é o tecido mais fino, separa grupos de fibras

musculares em fascículos. Cada fibra muscular é coberta de endomísio (Figura 15).

Este tipo de organização do tecido fornece suporte para as células musculares,

vasos sanguíneos e nervos (SILVERTHORN, 2003).

As células musculares são células especializadas que apresentam proteínas

contráteis (actina e miosina). O músculo funciona pela contração e extensão das suas

fibras. A contração muscular ocorre com a saída de um impulso elétrico do sistema

nervoso central que é conduzido ao músculo através de um nervo (Figura 16).

Figura 15 - Esquema do músculo estriado esquelético e suas membranas conjuntivas. O encurtamento das fibras musculares gera tensão mecânica nas extremidades que aplicadas aos ossos, através dos tendões e ligamentos pode estabilizar articulações (postura) ou move-lo (movimento). Fonte: SILVERTHORN (2003).

Page 34: TCC - AME 2

34

3 BASES GENÉTICAS E MOLECULARES DA AME

3.1 Expressão gênica

O termo expressão gênica refere-se ao processo em que a informação

codificada por um determinado gene é decodificada em uma proteína. Teoricamente, a

regulação em qualquer uma das etapas desse processo pode levar a uma expressão

gênica diferencial. Em organismos multicelulares a expressão gênica controlada regula

um programa genético fundamental para o desenvolvimento embrionário e a

diferenciação.

Uma molécula de DNA (Figura 17) consiste de duas fitas anti-paralelas

entrelaçadas em forma de dupla hélice, sendo que de DNA pode conter diversos genes.

A propriedade mais importante dos genes está no fato de que eles codificam proteínas,

as quais possuem diversas funções biológicas. Elas podem ter papel estrutural, como no

caso do colágeno presente nos tendões, ou estar ligadas a atividades regulatórias, como

Figura 16 – Esquema do impulso elétrico e contração muscular. Fonte: FHA – ANATOMIA E FISIOLOGIA HUMANA (2010). Modificada.

Page 35: TCC - AME 2

35

no caso das enzimas, que catalisam diversas reações químicas nas células (BORGES,

2006).

Existe um controle muito eficiente para definir quais genes serão ativados e

quais proteínas serão produzidas em cada tecido. O controle da expressão gênica é feito

pelas seqüências promotoras e pelos genes reguladores, informando o momento e a

intensidade de se expressar (FARAH, 2000).

A expressão acontece em duas etapas: na primeira, denominada transcrição,

um RNA polimerase se liga a uma região do DNA denominada promotora e, inicia a

síntese de um RNA mensageiro (mRNA). O mRNA é similar ao DNA, com exceção de

duas características: é composto por apenas uma fita e possui o nucleotídeo Uracila (U)

no lugar do nucleotídeo Timina (T). Na segunda etapa da expressão, denominada

tradução, é realizada a síntese da molécula de proteína, a partir do mRNA. Cada grupo

de três nucleotídeos do mRNA representa um aminoácido, constituinte de uma proteína

(BORGES, 2006). A análise da expressão dos genes é de grande interesse para as

Ciências Biológicas e para o entendimento de muitas patologias, especialmente, aquelas

do sistema nervoso.

Figura 17 – Estrutura de uma molécula de DNA. Fonte: BORGES (2006).

Page 36: TCC - AME 2

36

3.2 A genética e a AME

O conhecimento do genoma humano pode nós ajudar em muitas descobertas

de doenças. O gene é onde encontramos todas as informações genéticas, componentes

reguladores da transcrição denominados de íntrons e éxons. Os éxons traduzem

seqüências de aminoácidos e os íntrons são partes do DNA intercalados dos éxons.

Cada molécula de DNA é formada por duas cadeias polinucleotídicas enroladas em duas

hélices, constituídas de milhares de nucleotídeos ligados de maneira covalente e em

seqüência. Numa extremidade de cada cadeia da molécula haverá o grupo fosfato,

ligado ao carbono 5’ do açúcar do primeiro nucleotídeo, enquanto na outra extremidade

haverá o grupo fosfato ligado ao carbono 3’ do açúcar do último nucleotídeo. Em 1990

foi mapeado o gene do cromossomo 5q13, e teve a identificação do gene SMN

(KAIMEN-MACIEL, 1998).

No cromossomo 5 é produzida uma proteína de 254 aminoácidos, sendo muito

importante na estrutura dos neurônios motores inferiores, que se iniciam na medula.

Quando menos do que 50% da proteína SNM é produzida, a pessoa terá a doença atrofia

muscular espinhal (AME). Com esse mapeamento foi possível entender e ajudar em

algumas informações da doença AME. Neste gene é possível detectar a gravidade da

doença, pois nele encontram-se dois homólogos, SMN1 e SMN2. Na deleção desse

gene o paciente apresenta algumas fraquezas musculares simétricas. A doença AME é a

perda homozigótica do gene SMN1, esta proteína (SMN) participa de varias vias

celular, incluindo mRNA, participando do crescimento de oxônios participa de várias

vias na célula, incluindo mRNA de transportes (BAIONI e AMBIEL 2010). Sabe-se

que é causada por deleções ou mutações do gene SMN1 (survival motor neuron), que

leva à degeneração dos motoneurônios. As quatro formas clínicas são causadas por

Page 37: TCC - AME 2

37

alterações neste gene de sobrevivência do neurônio motor (SMN1), que apresenta uma

cópia homóloga (SMN2) (FIGURA 18).

Os pacientes com AME varia de 90 a 95% são homozigotos com ausência do

exon 7 devido a uma deleção desse gene ou a uma conversão para SMN2. A ausência de

SMN2 não tem conseqüência clínicas e é encontrada em aproximadamente em 5% dos

indivíduos normais, mas o número de cópias de SMN2 modula o fenótipo de paciente

com AME (GODINHO, 2010).

Nas atrofias acontece a redução de energia das células e perdas das proteínas.

Essa alteração ocasiona fraqueza simétrica e atrofia aos músculos voluntários proximais

dos membros inferiores e superiores, e todo o tronco durante a progressão da doença ou

morte celular, podendo ativar mecanismos de apoptose.

A apoptose é um tipo de morte celular programada de grande importância.

Para exemplificar a importância da apoptose pode-se citar o desenvolvimento de um

Figura 18 - Estrutura do gene SNM no cromossomo 5. Fonte: BAIONI e AMBIEL (2010).

Page 38: TCC - AME 2

38

feto humano, o qual na gestação apresenta seus dedos inicialmente fundidos numa

espécie de nadadeira, e posteriormente as células localizadas entre os dedos morrem e

são eliminados, ficando a mão com os cincos dedos formados (JUNQUEIRA e

CARNEIRO, 2005). A apoptose é essencial na manutenção e desenvolvimento das

células, sendo importante para a eliminação de células indesejadas ou defeituosas.

Durante a apoptose, as células emitem um brotamento citoplasmáticos, que se destacam

da superfície e são rapidamente fagocitadas por macrófagos ou por outras células

(JUNQUEIRA e CARNEIRO, 2005). Este processo biológico também é importante no

desenvolvimento de varias funções vitais, como o reparo de células cancerígenas. Como

conseqüência, a célula altera a integridade da membrana plasmática, aumenta o seu

volume e perde as suas funções metabólicas (GRIVICICH, 2007).

É importante destacar que uma célula atrófica não está morta. Observada

numa situação de atrofia, há uma maior utilização de ATP por unidade de força gerada,

aumentando, assim, a susceptibilidade à fadiga (FERREIRA, 2004). O músculo

atrofiado apresenta maior facilidade de ser lesionado quando tiver que realizar uma

força maior. A creatinofosfoquinase (CK) torna um bom marcador da adaptação do

músculo esquelético ao desuso e, a troponina, tem sido usada como marcador de lesão

do músculo esquelético (GRIVICICH, 2007).

Zanoteli (2004, p. 27) afirmou que dois genes para a AME foram

identificados no cromossomo 5: o SMN e o NAIP (proteína inibidora da apoptose

neuronal). O lócus da AME está localizado no cromossomo 5q11.2-q13.3 este gene

encontra-se em uma região complexa contendo múltiplas cópias de seqüências

repetidas, pseudóginos e seqüências do tipo retrotransposos (Figura 18) (GODINHO,

2010; BAIONI e AMBIEL, 2010). Nesta região existem duas cópias homólogas do

gene SMN. A cópia telomérica, também chamada de SMN1, difere da cópia

Page 39: TCC - AME 2

39

centromérica (SMN2) por apenas 5 pares de base, sendo duas nos exons 7 e 8 (BAIONI

e AMBIEL, 2010).

Godinho (2010) afirma que as duas cópias homólogas diferenciam-se em

apenas cinco trocas de bases na região 3’, sendo uma localizada no íntron 6, uma no

éxon 7, duas no íntron 7 e uma no éxon 8. Os dois genes são transcritos e apesar de

haver trocas de bases dentro da região, nenhuma altera o aminoácidos que são

codificados. As seqüências do lócus da AME, revelam um segmento cromossômico

duplicado e invertido como mostra a figura 19.

A base molecular deste fenômeno é a conversão gênica, uma mutação que

causa a conversão do gene SMN1 para SMN2 ou, vice-versa. Esta mutação pode

acometer o gene SMN inteiro ou apenas parte dele. A ausência do SMN2 não tem

conseqüência clínica, no entanto, se encontra em indivíduos normais. Já em pacientes

Figura 19 – Mapa genético do lócus da AME. As cópias dos genes SMN estão localizadas em um segmento duplicado e invertido no cromossomo 5q11.2-q13.3. SMN1 esta localizado na cópia telomérica, enquanto SMN2 está localizado na cópia centromérica. Outros genes vizinhos às cópias SMN estão representados. As flechas na parte inferior indicam a direção de transcrição de cada gene. Fonte: FARAH (2000).

Page 40: TCC - AME 2

40

com AME, em formas mais brandas, apresentam um número de cópia maiores do gene

SMN2 FARAH, (2000).

Casos de indivíduos com ausência completa da proteína SMN, isto é,

pacientes com AME e que apresentam também ausência do gene SMN2, nunca foram

reportados. Isto porque, provavelmente, esse genótipo seja incompatível com a vida,

podendo a proteína SMN ter um papel essencial durante o desenvolvimento embrionário

(MONANI, 2000; KOLB, 2007; BEATTIE, 2007 apud BAIONI e AMBIEL, 2010) ou

apresentar uma função moduladora na apoptose neuronal (KERR, 2000 apud BAIONI e

AMBIEL, 2010) (FIGURA 20).

Figura 20 - Genótipo de indivíduos não-afetados e afetados pela AME Fonte: GODINHO (2010)

A proteína SMN está amplamente distribuída em todas as células do corpo

(BURGHES, 1097; COOVERT, 1997 apud BAIONI e AMBIEL, 2010). Está presente

tanto no citoplasma quanto no núcleo da célula, sendo que, no núcleo, se une a

Page 41: TCC - AME 2

41

determinadas estruturas envolvidas com a remoção de seqüencias não-codificantes

(íntrons) do pré-RNAm ácido ribonucléico (ribonucleic acid) mensageiro.

Adicionalmente, parece que a SMN também tem participação na regulação da

transcrição e na expressão de determinados genes (BURGHES, 2009; WIRTH, 2006,

apud BAIONI e AMBIEL, 2010).

3.3 Doenças neuromusculares

As doenças neuromusculares constituem um grupo vasto de patologias. Sob a

denominação genérica de doenças neuromusculares, agrupam-se diferentes afecções

decorrentes do acometimento primário da unidade motora, composta pelo motoneurônio

medular, raiz nervosa, nervo periférico, junção mioneural e músculo (REED, 2002).

São doenças que afetam os músculos e nervos periféricos podendo atingir

qualquer músculo em qualquer idade e afetar alguma sensibilidade, como dor e a

temperatura, sendo na maior parte, congênitas. Caracterizam-se por situações

decorrentes de problemas localizados na ponta anterior da medula, nos nervos

periféricos, nas placas mioneurais ou nos músculos. As atrofias Musculares Espinhais e

as Distrofias Musculares são exemplos de doenças neuromusculares de origem genética.

Não raro ocorre confusão em relação a estes dois diagnósticos, porém, devem ser

ressaltados os aspectos típicos que as diferenciam. Convém esclarecer que nem sempre

todas as características típicas serão encontradas, pois, estas dependem do estágio da

doença que cada indivíduo se encontra ao ser avaliado (AAME, 2010).

A fraqueza muscular atinge os músculos da coluna vertebral, dando origem a

inevitáveis escolioses que vão gerar dificuldades respiratórias. Ao nível das

extremidades, surgem deformações que aumentam as dificuldades nos movimentos.

Apesar da fraqueza muscular e deformações articulares, os portadores de doenças

Page 42: TCC - AME 2

42

neuromusculares mantêm na sua grande maioria, um nível intelectual normal

(PASCHOAL et al., 2007). Clinicamente essas doenças apresentam em sua

sintomatologia, fraquezas e hipotrofias musculares, características de doenças do corno

anterior da medula. Algumas das doenças mais comuns são as distrofias musculares,

esclerose amiotrófica, amiotrofias espinhais, além das mitocondriais (mais raras)

(AAME, 2010).

3.1.1 Apoptose e Necrose

A morte das células é um processo fisiológico normal, totalmente regulado.

Mas as células também morrem de modo não-fisiológico, o que causa a maioria das

doenças. A morte é patológica quando a célula é impedida de manter seus processos

vitais por lesões físicas ou químicas causadas por fatores externos, às lesões podem ter

ainda origem biológica, como nas infecções por bactérias ou vírus.

A necrose tem sido descrita como uma via de morte celular associada a

condições lesivas agudas e severas, caracterizando-se por uma extensa lise celular

(MAGALHÃES, 2009). Na necrose a célula incha e as organelas do citoplasma, em

particular as mitocôndrias, são danificadas, mas o núcleo não sofre alterações

significativas. Esse processo acaba impedindo o controle do equilíbrio interno, a água e

alguns íons (em especial sódio e cálcio). A necrose é um tipo de morte na quais as

células sofrem um insulto que resulta no aumento do volume celular, agregação da

cromatina, desorganização do citoplasma, perda da integridade da membrana plasmática

e conseqüente ruptura celular (GRIVICICH, 2007). Assim que a célula morre, ela ainda

não é necrótica, pois esse é um processo progressivo de degeneração. A apoptose é

totalmente distinta da necrose, já que a célula encolhe e começam a aparecer bolhas em

suas superfícies, sem ficar esta repleta de liquido. O núcleo, porém, sofre mudanças

Page 43: TCC - AME 2

43

drásticas, normalmente dispersando a cromatina e formando um ou mais aglomerados

nas bordas internas da membrana nuclear. Isso basta para levar as células à morte. A

apoptose representa uma forma silenciosa de morte da célula, encontrando-se

diariamente envolvida no desenvolvimento e na manutenção da homeostasia tecidual

(MAGALHÃES, 2009). A apoptose pode ser reconhecida por características

morfológicas muito marcantes e coordenadas. De um modo geral, é um fenômeno

bastante rápido, onde uma retração da célula que causa perda da aderência com a matriz

extracelular e células vizinhas. As organelas celulares mantêm a sua morfologia, com

exceção, em alguns casos, das mitocôndrias, que podem apresentar ruptura da

membrana externa. A cromatina sofre condensação e se concentra junto à membrana

nuclear, que se mantém intacta. Os prolongamentos da membrana celular aumentam de

número e tamanho e rompem, originando estruturas contendo o conteúdo celular

(GRIVICICH, 2007). O músculo esquelético tem a capacidade de dar resposta às

exigências funcionais. Se o limite de uma resposta adaptativa, forem ultrapassados,

ocorre uma seqüência de eventos levando à lesão celular muscular, e sofrer uma lesão

irreversível e morte celular. A estrutura e a funcionalidade muscular esquelética são

condicionadas pela atividade proprioceptiva, pela enervação motora, pela carga

mecânica, pela realização de ciclos de estiramento/encurtamento e pela mobilidade das

articulações (FERREIRA, 2004). Quando algum destes fatores é comprometido, a

distrofia desenvolve-se de forma imediata e drástica.

3.4 Atrofia Muscular Espinhal (AME)

As atrofias espinhais progressivas (AEPs) ou atrofia muscular espinhais (AMEs)

constituem um grupo de doenças de caráter genético, que afetam a parte do sistema

Page 44: TCC - AME 2

44

nervoso que controla os movimentos voluntários. São chamadas “espinhais” porque é

na medula espinhal que se concentram a maioria das células nervosas que controlam os

músculos. Ao serem afetadas, elas não enviam os sinais aos músculos que, desta forma,

tendem a se atrofiar. Atrofia é o termo médico para degeneração ou diminuição,

geralmente o que ocorre aos músculos quando não estão ativos. Grande parte das

amiotrofias espinhais são causadas por deficiência de uma proteína nos neurônios

motores chamada SMN. Com a degeneração do nervo, ocorre um comprometimento

secundário dos músculos e, portanto, das atividades por eles desempenhadas como

andar, correr, respirar e até deglutir (UNICID, 2010). A AME, a segunda maior

desordem autossômica recessiva fatal, depois da Fibrose Cística (1:6000), afeta

aproximadamente 1 em 10.000 nascimentos , com uma freqüência de doentes de 1 em

50 portadores. Casais que tiveram uma criança afetada têm 25% de risco de recorrência

em cada gravidez subseqüente (GODINHO 2010).

3.4.1 Critérios de classificação da AME

As Atrofias Espinhais Progressivas (AEPs) são classificadas em três grupos:

tipo I ou Werdnig-Hoffmann (WH), que é a mais severa; tipo II ou forma intermediária;

tipo III ou Kugelberg-Welander (KW) que é a menos grave. Alguns médicos

consideram, também, o tipo 4, uma forma moderada e benigna, que começa na idade

adulta.

Todas as formas são condicionadas pelo mesmo gene, SMN1 quase uma cópia

do gene SMN2, localizados no braço curto do cromossomo 5, numa região denominada

5p13. São responsáveis pela codificação de proteínas. As maiorias dos pacientes têm

deleções no exon sete (ou nos exons sete e oito) do gene SMN1, o que justifica a

diferença da gravidade entre os tipos da doença (GODINHO, 2010).

Page 45: TCC - AME 2

45

3.4.2 Atrofia muscular espinhal Tipo I

A AME tipo I, atrofia muscular espinhal infantil aguda ou Doença de

Werdnig-Hoffmann é a mais comum é a mais grave. Os pacientes com essa forma

clínica começam a manifestar os sintomas antes dos 6 meses de idade, que são:

hipotonia, ausência de controle de movimento de cabeça e tronco superior além de

fasciculações de língua (CONCEIÇÃO, 2008) Estes pacientes não têm capacidade de

sentar-se sem que estejam apoiados e chegam a óbitos até os 2 anos de idade devido às

dificuldades de respiração e alimentação (GODINHO, 2010).

3.4.3 Atrofia muscular espinhal Tipo II

A tipo II, atrofia muscular espinhal infantil crônica, é a forma intermediária

com progressão mais lenta que a tipo I e com prognóstico variável. O início dos

sintomas acontece entre 7 a 18 meses de vida. Tem capacidade de manter-se sentados

sem auxílio e alguns se mantêm em pé com um suporte, sendo comuns os tremores de

mão (ARAÚJO, et al., 2005). Expectativas de vidas são variáveis, podendo chegar à

adolescência ou mesmo a vida adulta. Insuficiência respiratória é um das causas mais

freqüentes de óbitos (CONCEIÇÃO, 2008).

3.4.4 Atrofia muscular espinhal Tipo III

AME tipo III, atrofia muscular espinhal juvenil ou Doença de (WKW)

Wohlfart-Kugelberg-Welander geralmente conseguem caminhar por um tempo alguns

usam cadeira de rodas na infância. Sintomas podem aparecer entre 18 meses de vida até

seus 15 a 18 anos de idade. Expectativas de vida são normais, com produtividade e com

fraqueza muscular mínima. As estimativas da AME são 60% tipo I, 30% tipo II e 10%

tipo III. Caracteriza-se, assim, por uma doença autossômica recessiva, o que significa

Page 46: TCC - AME 2

46

que são necessários dois genes não dominantes, um de cada genitor. A gravidade

fenotípica da AME é bastante variável e o curso da doença é diferente do quadro de

progressão constante visto em outras doenças dos neurônios motores (GODINHO,

2010).

3.4.5 Atrofia Muscular Espinhal tipo IV

AME tipo IV, atrofia muscular espinhal forma adulta o tipo menos grave,

acometendo pessoas apartir dos 35 anos, mesmo sem que tenham apresentado qualquer

tipo de sintomas antes desta fase. A apresentação dos sintomas ocorre de forma lenta e

insidiosa para o completo comprometimento muscular. Com o Tipo IV, os músculos

bulbares (músculos que se utilizam para engolir) e a função respiratória são raramente

afetados (AAME, 2010).

4 CRITÉRIOS CLÍNICOS DA AME E DIAGNÓSTICOS

Como ocorre perda progressiva apenas dos motoneurônios α, a função

prejudicada é apenas a da motricidade, ficando os neurônios sensoriais intactos. Essa

perda de função leva à fraqueza e à atrofia simétrica progressiva dos músculos

voluntários proximais de membros superiores e inferiores e, eventualmente, de

músculos do tronco durante o progresso da doença (WANG, 2007 apud, BAIONI e

AMBIEL, 2010). Vários aspectos clínicos incomuns são observados na AME. Um deles

é o padrão de distribuição da fraqueza muscular, que é mais compatível com uma

desordem miopática do que neurogênica (SUMNER, 2007 apud, BAIONI e AMBIEL,

2010). Os músculos proximais estão mais envolvidos que os distais, as pernas são mais

afetadas que os braços, e estes são mais acometidos do que face e diafragma (WANG e

SUMNER, 2007 apud BAIONI e AMBIEL, 2010). Ou seja, não ocorre uma

Page 47: TCC - AME 2

47

distribuição homogênea da fraqueza e atrofia muscular. Quase sempre, a severidade da

fraqueza está relacionada com a idade de início, sendo que a criança com o tipo mais

grave da doença (AME tipo I) pode parecer normal ao nascimento, mas no decorrer de

poucos meses apresenta fraqueza muscular (WANG, et al., 2007, apud BAIONI e

AMBIEL, 2010). Adicionalmente, o curso clínico da AME para os indivíduos que

sobrevivem além da infância mostra que a perda de força muscular é normalmente mais

notável no início da doença, e depois a potência muscular residual pode se estabilizar

durante meses a anos (SUMNER, SWOBODA, 2007 apud BAIONI e AMBIEL, 2010).

Como as doenças neuromusculares são as principais causas de hipotonia na

infância (DIZ, 2007 apud BAIONI e AMBIEL, 2010) e, dentre elas, as que acometem

as crianças com maior frequência são a AME e as distrofias (DIZ, 2007; REED, 2002

apud BAIONI e AMBIEL, 2010), a Tabela 1 apresenta um resumo dos principais

aspectos que as diferenciam. Contudo, é preciso enfatizar que nem sempre todos os

aspectos aqui descritos estarão presentes nos pacientes, visto que estes variam de acordo

com o estágio da doença em que cada indivíduo se encontra ao ser avaliado. De uma

forma geral, o diagnóstico da AME é dado pela evidência de desnervação muscular,

constatada na eletromiografia e na biópsia muscular (RUSSMAN, 2007 apud BAIONI e

AMBIEL, 2010). Como exame confirmatório, é feito também uma análise molecular,

que é dada pela detecção da ausência do éxon 7 do gene SMN1, independente de sua

classificação clínica (PRIOR, 2007 apud BAIONI e AMBIEL, 2010).

Page 48: TCC - AME 2

48

Aspectos Clínicos AME DM Sintomas Fraqueza Fraqueza

Sinais Atrofia nos músculos, falta de

reflexos profundos, miofasciculações, movimentos involuntários rápidos e discretos dos músculos, como tremores.

Pseudo-hipertrofia da panturrilha, reflexos profundos podem estar normais, diminuídos ou ausentes, de acordo com o grau de fraqueza muscular.

Exames Complementares

Enzimas musculares normais ou reduzidas, eletroneuromiografia neurogênica, biopsia muscular com aspecto atrófico.

Enzimas musculares muito elevadas, eletroneuromiografia miopática, biopsia muscular com aspecto distrófico.

Diagnostico Definitivo Genético com deleção no gene SMN1 localizado no cromossomo 5.

Genético com deleção no gene da distrofina no cromossomo X ou pela demonstração da ausência ou deficiência da distrofina na biopsia (aqui nos referimos apenas as distrofias de Duchenne e Becker, as mais comuns)

Mecanismo da Doença Degeneração das células nervosas localizada no corno anterior da medula espinhal.

Degeneração das células musculares.

Herança Genética Autossômica recessiva (a doença pode se manifestar tanto em meninos quanto em meninas, os pais são ambos portadores e tem risco de 25% em cada gestação de ter um filho com a doença).

Ligada ao cromossomo X (a doença aparece em meninos, às mães são portadoras e tem risco de 50% de ter filhos homens com a doença, sendo o mesmo risco para que suas filhas sejam portadoras).

Tratamento O principal é a fisioterapia. O principal é a fisioterapia (pode ser utilizado corticóide).

Complicações mais Comuns

Problemas respiratórios, escoliose, contratura.

Problemas respiratórios, cardíacos, escoliose e contratura.

Evoluções Naturais da Doença

É uma doença progressiva; de acordo com o tipo da AME, a degeneração é mais ou menos rápida.

É uma doença progressiva; de acordo com a forma da distrofia (Duchenne, Becker, etc.), a degeneração é mais ou menos rápida.

Tabela 1 – Principais diferença entre AME e DM. Fonte: Fonte: BAIONI e AMBIEL (2010).

Page 49: TCC - AME 2

49

4.1 Alterações histopatológicas

A área transversal da fibra diminui, os halos de citoplasma ficam sem

miofibrilas, os núcleos encontram-se mais no centro das fibras e a mitocondrias aparece

menor. Ferreira (2004) afirma que a redução progressiva da razão capilar/fibra

muscular, característica do processo atrófico, pode induzir ou contribuir, pelo menos em

parte, para a degeneração das fibras musculares existentes. As linhas Z ficam

distendidas, diminuindo o volume mitocondrial e do retículo sarcoplasmático. Em

alguns estudos foi observado um aumento de gordura e de fagócitos no espaço entre as

fibras também tem sido associada à atrofia (FERREIRA, 2004). Nas primeiras fases de

atrofia foi encontrada raramente a infiltração de fagócitos, os macrófagos segregam

fatores de crescimento derivado das plaquetas, que vai estimular a atividade mitótica

das células satélites, dando sua reparação nas lesões, que decorre da reposição de carga

(MASTAGLIA et al., 1971 apud ARAÚJO, 2005).

As células satélites têm uma grande atividade mitogênica que de uma forma

contribui para o crescimento muscular e reparo nas fibras musculares danificadas, elas

fundem-se as fibras musculares já existentes ou a outras células satélites vizinhas para

assim ir gerando novas fibras musculares. Segundo Araújo e colaboradores (2005) as

alterações histopatológicas características na AME são a presença de fibras musculares

atróficas, tanto tipo I quanto tipo II, hipertrofia de fibras tipo I ou grupamento de tipos

de fibras. As alterações dadas como características não são observadas apenas em casos

de AME, podendo ocorrer em qualquer processo de denervação ou até mesmo em outras

doenças musculares (BURGHES, A. BEATTIE, C. E., apud BAIONI e AMBIEL,

2010).

São mais sujeitos a erros de interpretação dos achados histopatológicos os

casos de AME tipo 1 e no tipo 3. No neonato, pode ser difícil de diferenciar os achados

Page 50: TCC - AME 2

50

da AME com os da desproporção congênita de fibras (ARAÚJO, 2005). Nas formas de

evolução mais arrastada, a interposição de alterações miopáticas secundárias, como

fibras angulares, núcleos centrais, fendas e desarranjo miofibrilar, aumentam com a

evolução (MASTAGLIA et al., 1971 apud ARAÚJO, 2005).

4.2 Critérios clínicos para testes genéticos em AME

Os critérios clínicos estabelecidos para AME são:

(1) fraqueza muscular simétrica, de tronco e membros, com predomínio proximal, ou de

membros inferiores sobre superiores;

(2) movimentos involuntários de feixes de fibras musculares (fasciculações) da língua e

tremor das mãos (GODINHO, 2010).

O diagnóstico definitivo dos tipos I, II e III de AME nas crianças que atendem

aos critérios clínicos pode ser obtido, além do teste genético molecular, pela

eletroneuromiografia – ENMG e a biópsia muscular. Em um estudo retrospectivo em

lactentes com hipotonia, a sensibilidade da ENMG naqueles que tiveram diagnóstico

final de AME foi de 90% (RUSSELL, AFIFI, ROSS, 1992 apud ATS, 2008). No Brasil,

em crianças acometidas pelos tipos I, II e III, foi relatada uma sensibilidade da ENMG

de 57% e da biópsia muscular de 58%, tendo o teste genético molecular como padrão-

ouro (ARAÚJO, RAMOS e CABELLO 2005 apud BAIONI e AMBIEL, 2010).

A menor sensibilidade da ENMG e da biópsia muscular neste estudo pode

refletir problemas metodológicos, pois, ao contrário do teste genético molecular, a

ENMG e a biópsia muscular foram realizadas em diversos centros, sem padronização

pelos autores (GODINHO, 2010).

Estudos realizados com diferentes grupos étnicos mostraram que cerca de 90-

95% dos indivíduos, na maioria crianças, com diagnóstico clínico dos tipos I, II e III de

Page 51: TCC - AME 2

51

AME apresentam uma deleção11 do éxon 7 em ambas as cópias do gene de

sobrevivência do neurônio motor 1, “Survival Motor Neuron 1”, SMN1, isto é, eles são

homozigotos para esta deleção (WIRTH, 2006; ARAÚJO, RAMOS e CABELLO, 2005

et al., apud BAIONI e AMBIEL, 2010). Contudo, quando crianças com quadros

clínicos mais indefinidos (hipotonia, fraqueza muscular proximal, perda de

deambulação) ou adultos (tipos III e IV) são incluídas, a presença de deleção

homozigótica cai para menos de 50% (MAILMAN, HEINZ e PAPP et al., 2002;

MISHRA, KALITA, KESARI et al., 2004, apud, ATS, 2008). Além disso, cerca de 2-

5% dos indivíduos que preenchem os critérios clínicos de AME apresentam a deleção

do éxon 7 de SMN1 em um único alelo, sendo imprescindível realizar a pesquisa de

mutações pontuais no outro alelo por sequenciamento de DNA para confirmação

diagnóstica, teste que não está disponível no Brasil, sendo oferecido por poucos

laboratórios no mundo (PRIOR e RUSSMAN, 2006 apud GODINHO, 2010).

Por ser uma doença de início na maioria dos casos antes dos 18 meses de idade,

sua prevalência é expressa por 100.000 nascidos vivos. Na Inglaterra, Itália, Alemanha e

EUA, a prevalência é de 4, 8, 10 e 10 por 100.000 nascidos vivos, respectivamente

(PRIOR e RUSSMAN, 2006, apud, ATS, 2008). A prevalência da AME no Brasil não é

conhecida.

O teste genético molecular para AME está disponível em dois centros de

pesquisa do país, localizados no Rio de Janeiro e em São Paulo (ARAUJO, RAMOS e

CABELLO, 2005; C.E.G.H., 2007 apud ATS, 2008). Além disso, o teste molecular para

AME é disponibilizado por três prestadores de serviço privados localizados em

Curitiba, Belo Horizonte e Porto Alegre (GENETIKA, 2010; H. PARDINI, 2007;

VIDA SPÉCIALITÉ, 2007, apud, ATS, 2008).

Page 52: TCC - AME 2

52

Portanto, o teste genético molecular para AME (análise das deleções dos éxons 7

e 8 do gene SMN1), atende ao critério de utilidade clínica, tendo em consideração sua

capacidade em estabelecer o diagnóstico definitivo em cerca de 90-95% das crianças

que atendem aos critérios clínicos, e ao de relevância epidemiológica, pois a prevalência

mundial da AME é de pelo menos 1 em 25.000 nascidos vivos. Contudo a difusão do

teste no Brasil é limitada (ATS, 2008).

O diagnóstico genético-molecular é mais preciso e menos invasivos que os

outros dois exames descritos, porém não está amplamente disponível no Brasil. É

enfatizado que a pesquisa de deleção no gene SMN é capaz de dirimir situações de

dúvida diagnóstica.

Alternativamente, desenvolveram uma técnica de medida da própria proteína

SMN em células mononucleares (linfócitos e monócitos), obtidas de amostras

sanguíneas de pacientes com AME. Como esperado, os níveis da proteína SMN

apresentaram-se significativamente reduzidos nos pacientes em relação aos indivíduos

controles. Os autores enfatizam que esse ensaio poderá ser usado futuramente no

acompanhamento de testes clínicos que buscam aumentar o nível do RNAm e/ou da

própria proteína SMN, mas não seria a melhor escolha para o diagnóstico da AME

(KOLB et al., 2006 apud BAIONI e AMBIEL, 2010)

4.3 Diagnóstico

Por ser uma desordem neurológica de baixa incidência, o diagnóstico da AME é

difícil. Entretanto, pelo fato da AME evoluir progressivamente, a rapidez em se

estabelecer um diagnóstico preciso é imprescindível (AAME, 2010).

Page 53: TCC - AME 2

53

4.3.1 Testes genéticos moleculares para doenças neurodegenerativas hereditárias

A genética humana é um campo do conhecimento que tem tido nos últimos 20

anos um desenvolvimento extraordinário, que resultou no aparecimento de diversas

tecnologias tanto no campo do diagnóstico quanto da terapêutica. Entre estas se

destacam as centenas de testes genéticos para detectar doenças e transtornos

hereditários, que têm atraído à atenção da população e dos profissionais de saúde, com

conseqüente aumento de demanda (AAME, 2010).

Os avanços no campo da genética molecular humana propiciados pelo Projeto

Genoma Humano, conduziam a uma rápida identificação e caracterização dos genes e

das alterações gênicas (mutações) responsáveis pelas doenças humanas (OECD, 2005,

apud, ATS, 2008).

A Base de Dados “Online Mendelian Inheritance in Man” lista 2.238

características físicas e/ou bioquímicas humanas com base molecular conhecida

(OMIM, 2008 apud ATS, 2008). Uma conseqüência da expansão deste conhecimento

científico é o desenvolvimento de testes genéticos moleculares, isto é, testes

diagnósticos baseados na tecnologia de análise de DNA.

Nos Estados Unidos da América (EUA), atualmente estão disponíveis testes

genéticos moleculares para 1.513 doenças, sendo 1.225 testes disponíveis em

laboratórios clínicos especializados e 288 somente em laboratórios de pesquisa (GENE

TESTS, 2008 apud ATS, 2008). O número de testes genéticos moleculares vem

crescendo de forma muito rápida, mas a difusão nos serviços de saúde é muito variável,

mesmo entre os países industrializados. Assim em 2001, quando nos EUA 751 testes

estavam disponíveis, no Reino Unido, na Holanda e na Espanha estavam disponíveis

273, 250 e 214, respectivamente (OECD, 2005 apud ATS, 2008).

Page 54: TCC - AME 2

54

Os testes genéticos moleculares podem ser classificados de acordo com a

finalidade de sua utilização:

(1) testes com finalidade diagnóstica confirmatória, utilizados para confirmar ou excluir

o diagnóstico de uma doença genética em um indivíduo sintomático;

(2) testes com finalidade de triagem pré-natal, neonatal ou para identificação de

portadores assintomáticos de uma doença autossômica recessiva1 ou ligada ao

cromossomo X, que não apresentam risco de desenvolver a doença, mas podem

transmiti-la a sua descendência;

(3) testes preditivos, sejam testes pré-sintomáticos que identificam indivíduos saudáveis

que mais tarde apresentarão uma doença hereditária, sobretudo doenças autossômicas

dominantes de início tardio, ou testes de identificação de susceptibilidade genética a

doenças comuns multifatoriais ou complexas ou testes preditivos de resposta a

medicamentos (CALDERÓN, DE LA BLANCA, 2005 apud ATS, 2008).

Nos últimos anos houve uma ampliação, sem precedentes, do conhecimento a

respeito dos genes associados a doenças neurodegenerativas hereditárias (SAIFI,

SZIGETI, SNIPES et al., 2003 apud ATS, 2008). Os resultados dos testes genéticos

moleculares têm sido integrados aos achados da história clínica, incluindo o padrão de

herança, e dos estudos eletrofisiológicos e histopatológicos para estabelecer o

diagnóstico definitivo, com repercussões no aconselhamento genético e nas informações

a respeito de prognóstico (SZIGETI, NELIS, LUPSKI, 2006 apud ATS, 2008).

4.3.2 Creatinofosfatase

A creatinofosfoquinase (CPK) pode estar normal ou reduzida em até cinco

vezes. A dosagem sérica da CPK pode diferenciar uma doença neurogênica, como é o

Page 55: TCC - AME 2

55

caso da AME, de doenças miopáticas, como as distrofias, nas quais as lesões

musculares fazem com que os níveis da CPK se elevem.

4.3.3 Eletromiografia

Através da eletromiografia, pode-se distinguir se o acometimento é do neurônio

motor, de raízes ou nervos periféricos, da junção mioneural ou da fibra muscular

(REED, 2002 apud BAIONI e AMBIEL, 2010).

A AME possui uma evidência eletrofisiológica de desnervação, com

averiguação intacta de condução dos nervos motor e sensorial (ARAÚJO, RAMOS e

CABELLO, 2005, WIRTH, 2006 apud BAIONI e AMBIEL, 2010). São observados

potenciais de fibrilação no repouso em casos de desnervação, seja ela localizada tanto

no corno anterior quanto no nervo periférico, bem como são ainda encontrados

potenciais de unidade motora de duração e amplitude aumentadas e pode haver redução

da velocidade de condução motora nas formas mais precoces da AME (ARAÚJO,

RAMOS e CABELLO, 2005 apud BAIONI e AMBIEL, 2010).

4.3.4 Biópsia muscular

Em pacientes com AME, podem ser encontradas diversas alterações musculares.

Algumas alterações histopatologicas são características, como a presença de fibras

musculares atróficas, tanto do tipo I quanto do tipo II, hipertrofia de fibras tipo I ou

agrupamento de tipo de fibras (ARAÚJO, RAMOS e CABELLO, 2005; WIRTH, 2006

apud BAIONI e AMBIEL, 2010). Entretanto, essas alterações podem também ser

encontradas em outros casos de desnervação (PONS, et al., 1996 apud BAIONI e

AMBIEL, 2010). Dessa forma, esse tipo de exame não pode ser confirmatório para

AME, e sim mais um dado clínico a ser considerado. Nas formas de evolução mais

Page 56: TCC - AME 2

56

lenta, a interposição de alterações miopáticas secundárias, como fibras angulares,

núcleos centrais, fendas e desarranjo miofibrilar, aumenta com a evolução da doença

(MASTAGLIA, 1971 apud BAIONI e AMBIEL, 2010).

5 TRATAMENTO

Por estarmos diante de uma patologia neurodegenerativa progressiva, a AME

necessita de cuidados especiais, que podem estacionar o progresso da doença e

prolongar a vida do indivíduo. Tais cuidados abrangem principalmente a fisioterapia, já

que infelizmente, ainda não há tratamento farmacológico para a doença (AAME, 2010).

5.1 Perspectivas futuras para o diagnóstico e tratamento da AME

Existem ainda várias incógnitas sobre a AME que precisam ser solucionadas

(WANG, et al., 2007 apud BAIONI e AMBIEL, 2010), preconizam que, em vista dos

avanços terapêuticos recentes, é possível que no futuro a AME possa ser tratada mais

eficientemente em pacientes pré-sintomáticos, diagnosticados tão brevemente quanto o

início do desenvolvimento da doença, bem como que a interrupção do progresso se

inicie antes mesmo de a fraqueza se tornar aparente. Dados preliminares de estudos

eletrofisiológicos que incluem a estimação de unidades motoras em crianças com AME

sugerem que a perda de motoneurônios é mais significante no período pós-natal para a

maioria dos pacientes (SWOBODA et al., 2007 apud BAIONI e AMBIEL, 2010).

Por isso, seria necessário o estabelecimento de exames para diagnóstico

neonatal, ou até mesmo para a detecção pré-natal da AME, a fim de se antecipar o

acesso a cuidados médicos especiais (WIRTH et al., 2006 apud BAIONI e AMBIEL,

2010), relatam que, em famílias com risco de ter uma criança com AME, poderia ser

oferecido um diagnóstico pré-natal através da análise de amostras da vilosidade

Page 57: TCC - AME 2

57

coriônica (10ª e 12ª semana de gestação) ou do fluido amniótico (14ª e 16ª semana de

gestação). No Brasil, o Centro de Estudos do Genoma Humano, na Universidade de São

Paulo (CEGH-USP, apud ATS, 2008), oferece um diagnóstico pré-natal a casais que já

tiveram um filho com AME, já que estes correm uns riscos de 25% em cada gestação de

ter outro filho com a mesma doença. Não se deve interpretar um diagnóstico de doença

genética positivo como fator determinante para se interromper a gestação, e sim apenas

como chave para a introdução de uma terapêutica antes mesmo que o bebê desenvolva

sintomas relacionados com a enfermidade. Assim, também vale comentar que de nada

adianta um diagnóstico pré-natal se não houver uma terapêutica adequada, que tenha

uma resposta positiva sem provocar efeitos colaterais deletérios tanto para a gestante

como para o seu filho. No entanto, isto será possível apenas a partir do momento em

que houver um projeto universal para recém-nascidos, infra-estrutura necessária para

incluí-los em ensaios clínicos, além da regulamentação ética aprovada para tratamento

dessas crianças pré-sintomáticas (OSKOUI, et al., 2008 apud BAIONI e AMBIEL,

2010).

Da mesma forma, a utilização das células-tronco vem sendo estudada como

fonte celular promissora para o tratamento de desordens relacionadas com a perda

dessas células exclusivas, como é o caso da AME (LEE, et al., 2007 apud BAIONI e

AMBIEL, 2010). É importante destacar que existem vários obstáculos que os

pesquisadores devem superar a fim de comprovarem a utilização eficaz das células-

tronco. Dentre eles, podemos citar: a produção de uma grande quantidade de

motoneurônios diferenciados obtidos das células-tronco (NAYAK, et al., 2006 apud

BAIONI e AMBIEL, 2010); a permanência de células parcialmente diferenciadas no

sistema nervoso após seu implante; as células têm que ter a capacidade de estender seus

axônios e criar sinapses; e, por último, todas elas devem resultar em uma recuperação

Page 58: TCC - AME 2

58

funcional significativa (OSKOUI., KAUFMANN, 2008 apud BAIONI e AMBIEL,

2010). Assim, num futuro não tão próximo, as células-tronco poderão ser utilizadas na

recuperação de desordens neuromusculares.

Finalmente, substâncias com ação neuroprotetora (como a cardiotrofina-1)

(LESBORDES, et al., 2003 apud BAIONI e AMBIEL, 2010), bem como a conversão

genética do gene SMN2 em SMN1 (DIMATTEO, et al., 2008 apud BAIONI;

AMBIEL, 2010), também são propostas terapêuticas em estudo.

Page 59: TCC - AME 2

59

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo caracteriza a importância do diagnóstico preciso sobre os

diferentes tipos de AME, viabilizando o acesso de informações importantes à literatura

utilizadas pelos profissionais da saúde, embasado na dificuldade frente aos sintomas nas

doenças neuromusculares, especialmente, a AME.

Em síntese, a AME apresenta uma progressão rápida nos tipos I e II,

acelerando o óbito dos indivíduos acometidos, o que, provavelmente associa a falta de

diagnósticos precisos à brevidade vital.

No entanto, felizmente, ocorrem exceções, como foi explicitado no decorrer

desde trabalho, através das pesquisas e estudos realizados em pacientes com AME tipo

II. A fase inicial de progressão da doença ocorre aos 6 meses de vida e, evolui até os 6

anos, podendo estender-se até os 15 anos, com comprometimentos físicos importantes,

devido à hipotonia, por exemplo, dos músculos respiratórios e esfíncter retal e urinário.

Levando o indivíduo a necessidade de respirador mecânico e, descontroles

eliminatórios, favorecendo a incidência de infecções que aceleram o óbito.

A AME tipo III inicia-se, geralmente aos 15 anos de idade com progressão

rápida entre 5 e 10 anos do inicio. Nessa, o paciente perde a capacidade de deambular

em aproximadamente 12 meses. Diferente da AME tipo IV, que ocorre após os 35 de

idade, de modo que, anteriormente, o indivíduo não apresenta nenhuma evidencia da

doença, mas que possui progressão rápida, evoluindo ao óbito entre 5 e 6 anos. Vale

ressaltar que existem as exceções, especialmente, para pacientes com AME tipo II,

capazes de contradizer a padronização dos sinais da evolução dessa doença.

Baseado nas revisões literária encontrou-se uma família de 7 filhos (6 homens

e 1 mulher), no qual os rapazes foram diagnosticados positivamente para a AME II, dos

quais 3 já ultrapassaram a expectativas de 15 anos e, atingiram os 29 anos, 26 anos e, 24

Page 60: TCC - AME 2

60

anos, com total comprometimento. A mulher dessa prole, com 25 anos, até o momento

não apresentou evidencias de que possa manifestar a doença.

Também foi citado uma paciente que, atualmente conta com 31 anos,

apresentando apenas escoliose e leve hipotonia, sem nenhum comprometimento grave,

com a evolução da doença estacionada desde os 14 anos.

Finalmente, embora a AME, seja uma doença progressiva grave, no Canadá,

está sendo testado um novo tratamento com ácido valpróico, cujo estudo, representa

para muitos acometidos, a esperança de uma melhor qualidade de vida e, o

prolongamento do tempo vital.

Page 61: TCC - AME 2

61

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