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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL CURSO DE GRADUAÇÃO EM ARTES VISUAIS - BACHARELADO MARIANA FLÁVIO DOS SANTOS ARTE E TECNOLOGIA: MAPEANDO UM ESPETÁCULO CAMPO GRANDE 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL

CURSO DE GRADUAÇÃO EM ARTES VISUAIS - BACHARELADO

MARIANA FLÁVIO DOS SANTOS

ARTE E TECNOLOGIA: MAPEANDO UM ESPETÁCULO

CAMPO GRANDE

2016

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MARIANA FLÁVIO DOS SANTOS

ARTE E TECNOLOGIA: MAPEANDO UM ESPETÁCULO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao

curso de Artes Visuais - Bacharelado, da

Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, como

requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em

Artes Visuais.

Orientador: Profº. Renan Carvalho Kubota

CAMPO GRANDE

2016

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MARIANA FLAVIO DOS SANTOS

ARTE E TECNOLOGIA: MAPEANDO UM ESPETÁCULO

BANCA EXAMINADORA

Campo Grande, ____ de _______________ de 2016

___________________________________ Profº Renan Carvalho Kubota

Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

___________________________________ Profª Maria Alice Porto Rossi

Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

___________________________________ Profº Joaquim Sérgio Borgato

Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus que me ajudou a me manter focada neste

projeto e nos momentos de desespero me trouxe a calma para seguir em frente.

Aos meus pais que me apoiam em todas minhas escolhas e em todos os

meus sonhos, que estão sempre comigo me dando força, fazendo de mim quem eu

sou.

A toda minha família, meu irmão, avós, tios, tias e primos, por todo o apoio e

carinho de sempre, e por se alegrarem a cada conquista minha.

Aos meus amigos de Campo Grande que formaram uma nova família de

coração. Que me inspiram como pessoas e como artistas, que me confortam.

Aos meus amigos de Minas Gerais, pela confiança no meu trabalho, amor,

carinho e apoio.

Ao Gabriel Araújo que me apoiou e me ajudou nesse projeto como ninguém,

que quando eu me perdia ele me encontrava, foi meu parceiro, me ajudou com o

transporte da obra, foi um irmão. Agradeço a parceria e a amizade.

Ao Edgar Fernandes e ao Mário Matias pelas gravações dos áudios.

Ao Israel Zayed que me emprestou os DVD do Cirque du Soleil, que foi de

suma importância no projeto.

Ao Profº Renan Carvalho Kubota por ter a calma que eu precisava para me

orientar nesse trabalho, pelo apoio, pelos ensinamentos.

A todos os Professores de Artes Visuais da UFMS, que me prepararam para

esse momento e proporcionaram todo o conhecimento que adquiri durante esses

quatro anos. Sou muito grata.

Ao Profº Joaquim Sérgio Borgato e a Profª Maria Alice Porto Rossi pelas

sugestões e auxílios durante o desenvolver do projeto.

A todos que de forma direta ou indiretamente contribuiram para o

desenvolvimento desse trabalho.

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RESUMO

No presente trabalho de conclusão de curso de bacharelado em Artes Visuais

pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, construo uma obra de arte e

tecnologia no formato de vídeo instalação onde trabalho com a técnica de vídeo

mapping abordando a temático do circo. A obra final foi uma projeção de vídeos

sobre as esculturas de dois bonecos. Onde através da criação de animações

trabalhei a arte circense dentro de sua essência tratando de suas atrações, formas

de apresentação, elementos utilizados em cenas como bolas, fogo, cartas, lenços

entre outros. Assim como explorei aplicação de um trilha sonora para dar mais vida

a obra. Usei como referência alguns artistas que trabalharam com a mesma temática

como Richard Mcdonald e também filmes do espetáculos do Cirque du Soleil,

Truque de Mestre e I’llusionniste. Estes são alguns dos que contribuíram para a

criação deste novo espetáculo.

Palavras-chave: Vídeo mapping. Arte circense. Animações.

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LISTA DE IMAGEM

Figura 1: Lanterna Mágica, 1671. .............................................................................. 12 Figura 2: Gravura Fantasmagoria. ............................................................................ 13 Figura 3: Editor de máscaras VPT, 2012. ................................................................. 18 Figura 4: Projeção no Páteo do Colégio, realizada na Virada Cultural 2010. ............ 19 Figura 5: Sydney Opera House. ................................................................................ 22 Figura 6: Projeção Mapeada Sydney Opera House, do grupo Urbanscreen, 2012... 22 Figura 7: Registro da projeção “Abraço do Cristo” 2, 2010. ...................................... 23 Figura 8: Registro da projeção “Abraço do Cristo”, executada pela Visualfarm, 2010. .................................................................................................................................. 23 Figura 9: Projeção Mapeada do projeto Symbiosis, de Roberta de Carvalho, 2012 . 23 Figura 10: Espetáculo de dança, D.A.V.E, de Klaus Obermaier, 1998-2000. ........... 25 Figura 11: Parte das atrações da Haunted Mansion, na Disneylandia, 1969. ........... 26 Figura 12: Instalação Judy, de Tony Ousler, 1994. ................................................... 27 Figura 13: La famille de saltimbanques,1905, ........................................................... 34 Figura 14: Pintura parte da série Circus de Fernando Botero, 2006 ......................... 35 Figura 15: Pintura parte da série Circus de Fernando Botero, 2006 ......................... 35 Figura 16: Pintura En el circo Fernando, Toulouse-Lautrec, 1888 ............................ 36 Figura 17: Pintura O Circo, Georges Seurat, 1891 .................................................... 37 Figura 18: Escultura Cirque Calder, Alexander Calder, 1926-1931 ........................... 38 Figura 19: Escultura, Uncle Edgar, Kira Shaimanova, 2013-2014 ............................39 Figura 20: Escultura, The Bearded Helena, Kira Shaimanova, 2013-2014 .............. 39 Figura 21: Fotografia, parte do ensaio The Majestic, Francesca Balaguer, 2009 ..... 39 Figura 22: Fotografia, parte do ensaio The Majestic, Francesca Balaguer, 2009 ..... 40 Figura 23: Fotografia, parte do ensaio The Majestic, Francesca Balaguer, 2009 ..... 40 Figura 24: Escultura, parte da série Cirque, Richard Mcdonald, 2010. ..................... 40 Figura 25: Escultura, Transcendence, Richard Mcdonald, 2008. .............................. 41 Figura 26: Escultura, Elena III, Richard Mcdonald, 2010. ......................................... 41 Figura 27: Gravuras na temática do Circo ................................................................. 42 Figura 28: Escultura na temática do Circo ................................................................ 42 Figura 29: Estudo das vistas do Palhaço .................................................................. 43 Figura 30: Estudo das vistas do Mágico .................................................................... 43 Figura 31: Protótipos dos Bonecos ........................................................................... 43 Figura 32: Bloco com as vistas do Mágico desenhadas. ........................................... 44 Figura 33: Esculpindo o Mágico do bloco .................................................................. 44 Figura 35: Esculpindo o Palhaço. .............................................................................. 44 Figura 34: Bloco com as vistas do Palhaço desenhadas. ......................................... 44 Figura 36: Bonecos finalizados ................................................................................. 45 Figura 37: Teste de Mapeamento dos Bonecos ........................................................ 45 Figura 38: Máscara dos Bonecos .............................................................................. 45

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Figura 39: Referencia maquiagem e figurino de Palhaço dentro de um estilo tradicional .................................................................................................................. 46 Figura 40: Referência de Maquiagem e cenário de Palhaço do Cirque du Soleil...... 47 Figura 41: Referencia para o figurino e maquiagem do Mágico. (Kurious – Cirque du Soleil) ........................................................................................................................ 47 Figura 42: Criação dos figurinos fixos dos bonecos no Photoshop. .......................... 48 Figura 43: Uma das mudanças de cores dos figurinos I ........................................... 49 Figura 44: Uma das mudanças de cores dos figurinos II .......................................... 49 Figura 45: Desenhos formados pelo movimento dos acrobatas e trapezistas. ......... 50 Figura 46: Todos os quadradinhos do colete aparecendo e desenhos formados pelo equilibrista na blusa. .................................................................................................. 51 Figura 47: Todos os quadradinhos e todas as bolinhas do colete e do kilt aparecendo. .............................................................................................................. 51 Figura 48: Cena do filme “Truque de Mestre”.I.......................................................... 52 Figura 49: Cena do filme “Truque de Mestre” II ......................................................... 52 Figura 50: Cena do filme “L’Illusionniste”. ................................................................. 53 Figura 51: Parte da animação do Mágico – Cartas ................................................... 53 Figura 52: Parte da animação do Mágico – Cartas e Lenços .................................... 54 Figura 53: Parte da animação do Mágico – Pomba Branca ..................................... 54 Figura 54: Parte da animação do Mágico – Coelho ................................................. 55 Figura 55: Parte da animação do Mágico – Coelho e Varinha Mágica ...................... 55 Figura 56: Parte da animação do Mágico – Pirofagia: malabares ............................. 56 Figura 57: Parte da animação do Mágico – Pirofagia: cuspindo fogo ....................... 56 Figura 58: Animação final – Explosão em partículas ................................................. 57 Figura 59: Edição e Sincronização do áudio Adobe Premiere. ................................. 58

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 9

1. VIDEO MAPPING/PROJEÇÃO MAPEADA E SEUS ANTECESSORES ............. 11

1.1 LANTERNAS MÁGICAS, FANTASMAGORIA E CINEMATOGRAFIA. ............ 11

1.2 VÍDEO MAPPING ............................................................................................ 17

1.2.1 PROJEÇÃO MAPEADA AO AR LIVRE/ARQUITETÔNICA ....................... 21

1.2.2 PROJEÇÃO MAPEADA NO/DO CORPO: INTERATIVIDADE .................. 24

1.2.3 PROJEÇÃO MAPEADA EM OBJETOS: INSTALAÇÕES .......................... 25

1.3 SOFTWARES E EQUIPAMENTOS UTILIZADOS PARA O DESENVOLVIMENTO DAS PROJEÇÕES MAPEADAS ....................................... 27

2. POÉTICAS VISUAIS DO UNIVERSO CIRCENSE ............................................... 29

2.1 CONSTRUÇÃO DE UM NOVO CIRCO: CIRQUE DU SOLEIL........................ 29

2.2 ANÁLISES DO INTERESSE A ARTE CIRCENSE........................................... 30

2.3 EXPRESSÕES ARTÍSTICA ............................................................................. 32

2.4 REFERENCIAS ARTÍSTICAS.......................................................................... 33

3. O CIRCO CHEGOU! – CIRCO VOADOR ............................................................. 42

3.1 A TELA ............................................................................................................. 42

3.2 ANIMAÇÕES E VÍDEOS .................................................................................. 46

3.2.1 PALHAÇO .................................................................................................. 48

3.2.2 MÁGICO .................................................................................................... 52

3.3 TRILHA SONORA ............................................................................................ 57

3.4 ERGUENDO A LONA (MONTAGEM) .............................................................. 59

CONCLUSÃO ........................................................................................................... 60

REFERENCIAS ......................................................................................................... 61

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INTRODUÇÃO

A presente pesquisa de conclusão de curso tem como objetivo aprofundar

meus conhecimentos sobre parte da mídia contemporânea digital através do vídeo

mapping. Apresentada em forma de vídeo instalação, a temática se direciona à

reflexões dos movimentos, cores, luzes e às atrações das artes circenses.

A pesquisa contou com uma busca histórica sobre a projeção, desde seus

primeiros experimentos até os dias atuais; com as referências do Cirque du Soleil e

de artistas plásticos que trabalharam com a temática.

A execução da obra foi realizada através da criação de dois bonecos: um

representando o palhaço e outro o mágico. Os quais serviram de suporte para a

projeção de vídeos e animações criadas a partir da referência de atividades

circenses. Para isso foram utilizados alguns softwares de edição de vídeo, imagem e

áudio, como Adobe Photoshop, Adobe Illustrator, Adobe After Effects, Adobe

Premiere, e Adobe Audition; e para projeção, Resolume Arena.

A organização da pesquisa foi dividida em capítulos em que separadamente

trata-se do vídeo mapping, seguindo da poética visual do circo e por fim o conceito e

a execução da obra final, tratando da forma como o circo foi escolhido como tema e

justificando a escolha do vídeo mapping como forma de representar a temática.

Como todas as ramificações circenses, tratam de uma arte alegre, colorida e

acrobática. Concluí que esse tema seria interessante para aplicar na técnica do

Vídeo Mapping, de forma que a aplicação da luz é necessário dentro da

originalidade circense e é na imagem-luz que a projeção mapeada se fundamenta. O

vídeo mapping também permite Trabalhar com um hibridismo, incluindo: escultura

(suporte onde a animação será projetada), fotografia (para registro deste suporte e

consequentemente o mapeamento) e arte digital (em que entra o vídeo e as

animações criadas).

O trabalho foi desenvolvido de forma que explorasse o conhecimento

adquirido durante o curso de Artes Visuais, com um foco maior na área digital, para

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aprimorar na área e através desta mostrar um novo olhar na forma de fazer esta

arte.

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1. VIDEO MAPPING/PROJEÇÃO MAPEADA E SEUS ANTECESSORES

1.1 LANTERNAS MÁGICAS, FANTASMAGORIA E

CINEMATOGRAFIA.

Instrumentos arqueológicos como a lanterna mágica, são registros históricos

que antecedem o cinema, a mais famosa forma de projeção. A lanterna mágica é

uma caixa óptica que projeta imagens pintadas sobre placas de vidro móveis postas

de forma sequencial (MANNONI, 2003) que alcança sua popularização a partir do

XVIII e é através disso que se desenvolvem diversos experimentos por projeção.

Advinda da câmara escura, a lanterna mágica traz em seus registros alguns

de seus inventores: Athanasius Kircher, Christiaan Huygens, John Reeves e Thomas

Rasmunssen Walgenstein, um dos precursores da fantasmagoria. Ainda segundo

Marcio Mota foi Étienne Gaspard Robertson, no século XVIII que popularizou os

espetáculos de fantasmagoria. Tanto nos espetáculos com a câmara escura quanto

nos fantasmagórico tinham o objetivo de criar ilusões perceptivas, o que levava o

espectador a uma imersão ilusória, nascendo a magia do nome do aparato lanterna

mágica.

A pesquisa em torno das possibilidades de gerar simulacros ou virtualidades

por meio da projeção da materialidade luminosa é antiga. A câmara escura,

no século XVI, foi utilizada para criar os teatros ópticos, “[...] um método de

iluminação capaz de projetar histórias, cenários fictícios, visões

fantasmagóricas. Deixou os domínios da ciência e da astronomia para

mergulhar nos do artifício, da representação, do maravilhoso, da ilusão”

(MANNONI, 2003, p. 37).

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A fantasmagoria é um gênero baseado no ilusionismo, que tinha como forte o

que o próprio nome já diz, os fantasmas, o mundo do além. As projeções eram feitas

através de um aperfeiçoamento da lanterna mágica, onde agora se encontrava com

rodas para que fosse possível um fácil deslocamento pelo local e foi chamado de

“fantascópio”. As apresentações faziam uso de total escuridão para além de fazer

com que o expectador imergisse dentro das obras, faria com que este não visse todo

o maquinário utilizado para construir as ilusões. Os sons eram espalhados pelos

espaços, com uma característica sinistra, e o local era tomado por uma fumaça que

causava a ilusão do caminhar dos fantasmas (MANNONI, 2003).

Paul Philidor, foi o “lanternista” responsável pela estreia dos espetáculos de

fantasmagoria na França e a respeito diz:

“PHANTASMAGORIA, aparição de espectros e invocação das sombras de

pessoas célebres, tal como as realizam os rosa-cruzes, os iluminados de

Berlim, os teósofos e os martinistas. Os que desejam ser testemunhas

destas invocações tenham a bondade de se apresentar a Paul Philidor, à

Rue Richelieu, Hôtel de Chartres, n° 31. Ele realizará essas invocações

duas vezes ao dia, a primeira às cinco horas e meia da tarde e a segunda

às nove horas, à saída dos espetáculos. O preço do ingresso é 3 livres.”

(ROBERTSON apud MANONNI, 2003 P. 156)

Figura 1: Lanterna Mágica, 1671. Fonte: http://www.marcopucci.it/wp-

content/uploads/2014/01/Lanterna-Magica-638x425.jpg

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O cientista-artista Etienne Gaspard Robertson é o maior destaque dentro da

fantasmagoria. Dentre seus feitos para o espetáculo destacam-se o aperfeiçoamento

do sistema sonoro e de projeção. No sistema sonoro o artista faz com que um

sonoplasta espalhe uma voz ecoada, na qual é emitida por assistentes, por vários

cantos do espaço; na projeção utilizou espelhos para a técnica de reflexão de luz.

Planejou apresentações por toda a Europa. Segundo o artista pesquisador Mateus

Knelsen (2010) Robertson pintava as bordas dos círculos de vidro que continham as

imagens, no intuito de tornar as figuras mais presentes, próximas e assustadoras.

Alcançava o objetivo com projeções de imagens sobre-humanas que transitava pelo

espaço e sobre o público.

Knelsen (2010) ainda aponta que Robertson é um dos primeiros artistas a

usar a máscara e a usava juntamente a uma série de experimentações de aparição

da imagem no espaço.

Mannoni (2003) aponta Robert Barker como inovador de outra técnica que

também dialoga com a produção contemporânea de cinemas expandidos, o

dispositivo “Panorama”, que traziam enormes pinturas arquiteturais nas quais definiu

uma proposta básica de que as arquiteturas tivessem uma passagem subterrânea

em que através da escuridão os espectadores perdessem a referência de luz, até

chegarem ao ponto central da obra onde se deparavam com uma sala circular

iluminada que permite o deslumbre de uma enorme paisagem panorâmica.

Figura 2: Gravura Fantasmagoria. Fonte:

https://aguaeazeite.files.wordpress.com/2010/10/fantasmagoria_003.jpg

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Seguindo o trabalho de Barker surgem novos experimentos que segundo

Marcio Mota (2014) vale seu destaque, como a criação de Louis Jacques Mandé

Daguerre e Charles Marie Bouton, o Diorama no qual dava uma sensação de

movimento as tais paisagens.

As produções de panoramas do século XIX utilizavam técnicas de

representação ópticas como perspectiva, profundidade de campo, efeitos de

chiaroscuro, prenunciando as experiências cinematográficas do século XX,

como o Imax, o Omnimax e o cinema de 360º (MANNONI, p. 187).

A época do pré-cinemas foi um tempo de descobertas de aparatos e novas

tecnologias que estendiam da ciência para uma estética de movimento imagético, de

imersão. Acabando por causar problemas no sentido do maquinário a cada

surgimento de uma nova ideia. A geração de técnicas de movimentos mecânicos

levou ao movimento da imagem.

Advindo desses aparatos, surge a cinematografia com novas tecnologias de

captação de imagem dentre elas o cinescópio (1891) de Thomas Edison, o

cinematógrafo (1895) dos irmãos Louis e Auguste Lumière e o bioscópio dos irmãos

Marx e Skladanowsky. Utilizam da linguagem cinematográfica, em que se encontra

sua maior forma de apresentação, desenvolvendo assim suas técnicas de

montagem na construção de narrativas ficcionais. (MOTA, 2014)

Louis Le Prince1 para alguns historiadores é considerado o verdadeiro

inventor do cinema que filmou sequencias de imagens em movimento utilizando uma

câmara de lente única com uma película de papel. Porém quem é oficialmente

reconhecido como inventor são os irmãos Lumière, que criaram além do

cinematógrafo como aparato de projeção, uma câmara portátil para a captação de

imagens em movimento com uma unidade de revelação do filme. (CAMPOS, 2009)

Com relação à projeção, Mateus Knelsen (2010) aponta Raul Griomion-Sanso

no Cineorama (1897)

1 Mais conhecido como Louis Le Prince, Louis Aimé Augustin Le Prince nasceu em Metz, França, no dia 28 de agosto de 1842. Se vê, trabalhando em um experimento de maquinas de imagens em movimento, nas oficinas do Instituto para Surdos de Nova York, onde sua esposa ensinou, e em 1886 ele se candidatou para uma patente americana para uma máquina usando uma ou mais lentes - ilustrando a proposição mais difícil, com lentes de dezesseis mm. A patente foi concedida em Janeiro de 1888, mas foi excluído das reivindicações para máquinas com uma ou duas lentes, como tendo sido já abrangidos por outros.

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Desenvolve um experimento em que sincroniza 10 projetores

cinematográficos, de forma a obter uma imagem única e panorâmica de 300

metros em uma sala circular, simulando a subida de um balão de gás. Nesta

impressionante instalação, Grimoin‐Samson utiliza de outro recurso técnico

bastante utilizado na projeção mapeada: o chamado frame blending, ou a

suavização das arestas da imagem para que, ao se justapor com outras

imagens com o mesmo recurso aplicado, possa‐se formar uma imagem

única a partir de diversos projetores. (p. 9)

Pelo fato da suavização das arestas possibilitarem uma imagem de ficção

espacial devido ao seu tamanho, o Cinéorama assim como os Panoramas são bons

exemplos de experimentos imersivos que antecedem a projeção mapeada com certa

proximidade de objetivos.

Dentro da prática do cinema convencional, suas primeiras projeções não

possuíam local fixo de apresentação, sendo exibidas em locais públicos de

entretenimento, dividindo-se em três categorias: o cinema de atrações, que

aconteciam em feiras, parques de diversões, onde a exibição acontecia paralela a

outros acontecimentos; os nickelodeons (grego: Odeon/Níquel: moeda), locais que

passavam exclusivamente os filmes e os tratavam de forma comercial; e os palácios

de filmes, tratados como um evento cultural. (CAMPOS, 2007)

A mestra em multimídia Patrícia aponta ainda que os nickelodeons foram a

categoria que criou seu próprio público, a população das classes laborais, que

frequentavam o lugar em busca de socialização. A projeção funcionava como um

ambiente. Ao longo do tempo, a audiência das exposições foi crescendo e foi isso

que levou os nickelodeons a serem os responsáveis por estabelecer um padrão na

distribuição cinematográfica. Este público que tinham como objetivo maior a

socialização e não a atenção aos conteúdos projetados, traz uma imagem

semelhante ao vídeo mapping, em que a projeção muitas vezes acontece em locais

que não possuem a função dessa exibição. Além da semelhança pelo controle da

execução das projeções.

Os fabricantes de aparelhos cinematográficos, não faziam somente os

filmes para os seus equipamentos, mas também assumiam o papel de

projeccionistas. Para, além disso, os projeccionistas tinham um controle

criativo sobre uma variedade de elementos que agora chamamos de pós-

produção. (CAMPOS, 2007, p. 10)

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Thomas Edison em suas idealizações sobre o cinema utiliza de uma de suas

invenções, o fonografo (1877) como um caminho para a criação do cinescópio, que

tinha como ideia a capitação do movimento e com isso construiria um espetáculo

completo do sonoro ao visual. “De início, ao contrário do que se pode esperar, o

cinema não procurou imitar o real e dar a essa imitação uma forma real. Em lugar

disso, foi movido por uma crença animista em relação à sobrevivência dos corpos”

(MICHAUD, 2013, p.5). Nesta ideia o autor coloca o animismo como pioneiro das

holografias 3D de artistas e cantores que já morreram apresentadas na

contemporaneidade em tantos lugares do mundo.

As técnicas de vídeo mapping facilitam a corporificação imagética do

espaço. Trata-se de uma área que especula as possibilidades de

agenciamento entre imagem e mundo em um sentido amplo e relacional.

Portanto, o campo da projeção mapeada faz parte do universo do cinema

expandido e, de certa forma, tem contribuído para expandir esse tipo de

cinema. (MOTA, 2014, p. 44)

O autor Gene Yongblood em seu livro Expanded Cinema aponta que o

surgimento da televisão, do vídeo e do computador, causou uma quebra nos

conceitos clássicos e o conceito tradicional de cinema foi desmistificado, nascendo o

chamado Cinema Expandido. A concepção deste conceito nasce da ruptura do

tradicional, no extrapolar a concepção inaugural, utilizando mídias como a música e

o vídeo para modificar a forma de fazer cinema. Uma das formas citadas pelo autor

é a vídeo arte e a arte computacional argumentando que a junção da arte e da

tecnologia expande as possibilidades de ferramentas para o artista. “Cinema

expandido é uma tese radical e política que idealiza a emancipação física e

metafísica do ser humano por via da tecnologia.” (MOTA, p. 50). Essa perspectiva

do cinema sem qualquer limite formal abre caminho para que através da arte e da

tecnologia surjam técnicas como a projeção mapeada, trabalhando a relação da

imagem em movimento com relação ao objeto projetado e seu espaço físico.

Quando dizemos cinema expandido queremos dizer consciência expandida.

Cinema expandido não refere-se a filmes de computador, vídeo de fósforos,

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luzes atômicas ou projeções esféricas. Cinema expandido não é um filme

em tudo: assim como a vida, é um processo de se tornar unidade

permanente do homem histórico para manifestar a sua consciência para

fora da mente, para frente dos olhos. Não se pode mais se especializar em

uma única disciplina e espero, sinceramente, expressar uma visão clara de

suas relações no ambiente. Isso é especialmente verdadeiro no caso das

redes intermídia de cinema e televisão, que agora funcionam, nada mais

nada menos, como o sistema nervoso da humanidade (YOUNGBLOOD,

2001, p. 41, tradução nossa).

1.2 VÍDEO MAPPING

Conhecida como projeção mapeada, o video mapping é uma técnica que

permite a projeções de imagens bidimensionais e tridimensionais em superfícies

volumétricas como prédios, objetos ou pessoas (LESSA, 2012).

A técnica se fundamenta na criação de máscaras de imagens em movimento

ou não, que tem como objetivo limitar a área de projeção sobre uma determinada

superfície. Em uma instalação de vídeo mapping não interativa esta máscara é

criada através de uma análise da área a ser mapeada. Já na instalação de um

projeto interativo só é possível através de programação computacional e sensores, o

que torna possível a modificação da obra por meio do movimento do espectador

(MOTA, 2014). Visto que este trabalho conta com uma instalação não interativa, me

limitarei às mascaras para a instalação não interativa.

Para a criação da máscara utiliza-se de uma imagem matriz (blueprint) para

obter as coordenadas dos limites da superfície de projeção. E é a criação dessas

mascaras que constrói as características estéticas da projeção mapeada, como por

exemplo, o efeito de volume e a quebra da moldura e dos limites da projeção, que

segundo o mestre Marcio Mota (2014) possibilita um aprofundamento na relação

criativa da produção do vídeo que se encontra em um espaço, em uma superfície e

em um tempo diferente.

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A projeção mapeada é produzida em diversas áreas como nas artes visuais,

na dança e no teatro, e são desenvolvidas por diversos profissionais. Como dentro

da área audiovisual a exploração imagética é diversificada, com o mapeamento, é

possível categoriza-lo em: projeção mapeada ao ar livre que são as projeções

arquitetônicas; projeção mapeada em ambientes fechados que são instalações ou

cenários em ambientes fechados; projeção mapeada no/do corpo que são

performance, dança e interatividade (MOTA, 2014).

Uma das principais características dos trabalhos recentes em projeção

mapeada é a multiplicidade de empregos de aparatos, softwares,

combinações entre visualidade e suporte. Esta variedade de possibilidades

implica, consequentemente, em trabalhos com diferentes abordagens, tanto

no âmbito da linguagem como da técnica.

Os trabalhos que ganham maior popularidade tendem a ser aqueles que

exploram o espaço arquitetônico, projeções magnânimas que requerem

produções enormes e que resignificam espaços inteiros (KNELSEN, 2010,

p. 11).

Figura 3: Editor de máscaras VPT, 2012. Fonte: http://www.discombobulate.me/PDF/videomapping_trackers_2012.pdf

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De acordo com as conclusões Marcio Mota (2014) a diversidade de

disciplinas aplicadas dentro da projeção mapeada favorece uma complexa

experimentação na relação ao trabalho com a luz como a perspectiva advinda da

pintura ou a imagem em movimento do cinema:

[...] se intercalam no processo que favorece a criação de

dispositivos audiovisuais que transmutam, misturam e rompem as fronteiras

entre materialidades físicas (suportes topológicos), materialidade luminosa

(luz projetada e suas propriedades comportamentais) e imaterialidades

(imagens projetadas) (MOTA, 2014, p. 55).

Tal fato faz com que essa interdisciplinaridade se encaixe perfeitamente nos

conceitos de cinema expandido (Yongblood) e ainda aponta que a técnica do vídeo

mapping vem sendo utilizada em produções que exploram as próprias

especificidades da projeção luminosa tanto no uso de vários materiais como no

possuir um suporte volumétrico. O autor coloca ainda que o encontro da matéria

luminosa sobre tal superfície volumétrica resulta em um acontecimento mítico, uma

sensação ilusória. Característica esta que o cinema normativo também contempla,

Figura 4: Projeção no Páteo do Colégio, realizada na Virada Cultural 2010. Fonte:

http://www.flickr.com/photos/thiagoamaralcavalcanti/4616558950/sizes/l/in/photostream/

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20

mas de forma diferente, visto que a tela retangular posta de forma centralizada para

o espectador, o afeta diretamente de forma psicológica; enquanto na projeção

mapeada o material escultórico dentro de uma composição espacial da a sensação

de partilha do mesmo espaço e tempo físico dos espectadores.

O rompimento do suporte da tela plana do cinema normativo para o

escultórico, tridimensional dessa nova técnica, não serviu apenas na colocação

espacial, mas também para fortalecer as experimentações no aspecto abstrato, que

poderiam ser trabalhadas de maneira impactante por ser apresentada em suportes

volumétricos, “onde podem ser explorados aspectos de ritmos formais, volumetrias,

cromatismos, luzes e sombras em uma perspectiva escultórica, ‘instalativa’,

espacial” (MOTA, 2014, p. 59).

Segundo Marcio (2014) a ilusão das imagens produzidas e exibidas em

trabalhos de projeção mapeada podem ser analisados de duas maneiras: a primeira

vem do lúdico, do prazer estético da ilusão e a segunda vem do fascínio da

consciência, que se apresenta como algo que a percepção da realidade não

conhece.

Pensar a imagem como algo a ser vivenciado, possuidor de autonomia e de

descontrole semântico, em que se acentua o irracional, o mágico e o

espiritual, de alguma maneira parece nos aferir um estado de

atravessamento. Como se a imagem fosse ela mesma um universo

projetado capaz de nos atravessar e, no atravessamento, nos destituir de

um espaço-tempo seguro, fazendo deste quiasma a guinada

desestabilizadora de um universo íntimo. De alguma maneira, o dispositivo

da projeção mapeada nos possibilita fazer construções

cinematográficas/videográficas de espaços-tempos abertos, nas quais o

índice do tempo-espaço, modelado em superfícies, é um pilar para fundir,

atravessar e romper uma realidade aparente, abrindo para o campo do

lúdico e do fantástico (MOTA, 2014, p. 60-61).

Em obras de video mapping a imagem-luz é trabalhada de diversas maneiras,

com formas geométricas, grafismos, animações, ou simplesmente a luz que revela a

superfície. Sendo assim é um trabalho que ganha seu espaço em diversos meios

profissionais como em shows, peças de teatro e dança, compondo um cenário

desenhado pela luz de projeção. (MOTA, 2014)

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21

O video mapping vem criar uma problematização a mais no mundo das

projeções, pelo fato de não se prender a representação do real e sendo que ainda

conta com a liberdade de suporte, podendo ser projetada em objetos e arquiteturas.

Quanto ao ponto de vista, se na tela plana de cinema é possível passar a sensação

de primeiro e segundo plano, no vídeo mapping o feito é completo sendo que este

conta com um suporte tridimensional (MOTA, 2014). A projeção mapeada conta

ainda com a possibilidade de trabalhos abstratos com a utilização de formas

geométricas que se animam e ganham vida.

1.2.1 PROJEÇÃO MAPEADA AO AR LIVRE/ARQUITETÔNICA

É na projeção ao ar livre que a técnica do vídeo mapping mais conhecida por

sua presença em fachadas de edifícios que de uma forma única cumpre com varias

possibilidades, a criação de contrastes e sombras na estrutura, como fontes de luz

ou projetor de imagem. (MARTINS, 2014)

Um dos primeiros artistas a utilizar o espaço público para a projeção de

vídeo foi o polaco Krysztof Wodikzco. O seu primeiro trabalho data de 1980,

no metro de Toronto, interrompido pelas autoridades por falta de autor-

izações, considerado pela autora, como sendo o início da história do Vídeo

Mapping. (MARTINS, 2014, p.123)

Segundo a pesquisadora Patrícia (2007) a empresa NuFormer Digital é uma

das maiores especialistas no mapeamento de vídeos 3D em edifícios ou objetos.

Basicamente a transformação dos ambientes é feito através da aplicação de um

videoclipe sobre a área mapeada. Sendo possível a criação de diferentes tipos de

efeitos, como a destruição do prédio, uma distorção, rotação. E através do projetor

toda a criação é exibida sob a arquitetura do prédio.

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22

Encontram-se também inserido na projeção mapeada ao ar livre as

intervenções em monumentos e as interferências na paisagem em geral.

A criação da ilusão é algo explorado pela maioria dos profissionais que

trabalham com a técnica do vídeo mapping, principalmente pelos VJ2 (Vídeo

Jokeys). Visto que a base do ilusionismo neste caso vem do forjar uma

materialidade diferente da original. Por exemplo, o mármore ganhar uma aparência

de pele ou de tecido. Um trabalho que vivencia isso é a projeção feita na campanha

Carinho de verdade, que foi feita sobre o Cristo Redentor, onde foram projetados

vídeos da cidade do Rio de Janeiro. A apresentação foi premiada por seu ponto forte

do trabalho onde o cristo se abraça. Para que o efeito funcionasse e os braços

esticados originais do cristo não aparecessem aos olhos do público, refletores foram

direcionados para os olhos das pessoas, o que fazia com que suas pupilas

dilatassem e sob a imagem do cristo só era possível ver o que estava sendo

projetada, uma técnica utilizada por mágicos em shows de ilusionismo (MOTA,

2014).

2 Os VJ são artistas que visam o uso de mixagem de imagens e projeção de vídeos, associado a músicas diversas e animações em tempo real ou simplesmente para a projeção de superfícies mapeadas.

Figura 5: Sydney Opera House. Fonte:

http://beaconholidays.com/beacons/userfiles/image/Australia/SYD%202.jpg

Figura 6: Projeção Mapeada Sydney Opera House, do grupo Urbanscreen, 2012

Fonte: http://www.urbanscreen.com/wp-content/uploads/2012/05/OUT_WORKS_Sydney_08-

830x466.jpg

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23

Ultrapassando os monumentos e os meios arquitetônicos dentro deste meio

de produção imagética, existe o projeto Symbiosis da artista paraense Roberta de

Carvalho. O projeto visa na projeção de fotografias dos rostos das pessoas

originarias do local onde a apresentação ocorrerá. As projeções aconteciam sempre

sobre as copas das arvores.

Figura 8: Registro da projeção “Abraço do Cristo”, executada pela Visualfarm,

2010. Fonte:

http://www.estadao.com.br/fotos/Cristo-Abraco_REP_p.jpg

Figura 7: Registro da projeção “Abraço do Cristo” 2, 2010.

Fonte: http://www.visualfarm.com.br/blog/wp-content/uploads/2011/05/CRISTO-ALTA-

ABRA%C3%87O-OK.jpg

Figura 9: Projeção Mapeada do projeto Symbiosis, de Roberta de Carvalho, 2012 Fonte: http://og.infg.com.br/in/4262675-931-be9/FT1500A/550/cult_symbiosis.jpeg.jpg

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24

Não é por acaso que nessa área há destaque da atuação de grupos e

coletivos que convergem para si profissionais com diferentes qualidades

(músicos, arquitetos, designers, VJs, artistas plásticos, produtores), de

forma a substanciar um corpo técnico-criativo capaz de desenvolver

projetos poéticos e, também, de os articular financeiramente, suprindo as

demandas do mercado. Entre os grupos38 coletivos/empresas podemos

destacar: Urbascreen, Antivj, Units VJ, Visualfarm, Macula, NuForme, Bijari

e Seeper (MOTA, 2014, 85).

1.2.2 PROJEÇÃO MAPEADA NO/DO CORPO: INTERATIVIDADE

As projeções ligadas ao corpo estão sempre ligadas ao uso de sensores para

a captação de movimentos corporais ou sonoros. A interatividade se encontra mais

presente neste tipo de mapeamento, onde o corpo do espectador faz parte da obra.

“As formas de interação vão desde a possibilidade de desenhar, com as mãos [...]

até a possibilidade de se relacionar com objetos, bichos, paisagens e elementos

virtuais” (MOTA, 2014, p. 96).

Também conhecida como body mapping, a projeção sobre é muito utilizado

em espetáculos de dança e performance, onde a coreografia é feita de acordo com o

ocorrerá na projeção e não ao contrário como é o caso dos outros tipos de projeção

mapeada em que a superfície volumétrica que recebe a projeção é algo estático.

O mapeamento do corpo abre caminho para outra possibilidade em que

através de programação computacional e sensores encontra-se a possibilidade do

corpo ser interpretado e ter captura de suas atividades gestuais, o que leva assim a

uma participação interativa maior. É uma técnica também utilizada em

apresentações performáticas.

Quando tratamos de projeção mapeada sobre o corpo de uma pessoa em

movimento temos a necessidade de um cálculo constante de

reordenamento da aparição das imagens projetadas no espaço projetivo do

corpo. Para criar um sistema capaz de interpretar tais informações são

utilizadas câmeras46 específicas de captura de imagem, combinadas a

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25

sensores de profundidade, o que permite uma espécie de escaneamento 3D

dinâmico do espaço, capaz de interpretar dados espaciais de largura, altura

e profundidade de um dado objeto ou corpo humano em um dado ambiente.

(MOTA, 2014, p. 99).

A imagem ao lado

representa um trabalho

desenvolvido pelo diretor,

coreógrafo e compositor Klaus

Obermaier em parceria com o

dançarino Cris Haring, onde o

diretor sem o uso de técnicas de

interatividade, criou um sistema de

projeção de vídeo sobre performers

e cenários.

É nesta categoria de projeção mapeada que os profissionais da área passam

a desenvolver seus próprios softwares para a melhor adequação a seus

determinados projetos.

Produtos que não só fazem parte de nosso cotidiano, mas que também são

verdadeiras plataformas de realidades, afinal, o termo projeção dilata-se em

muitos sentidos, um deles aponta para a ubiquidade das tecnologias, que

projetam na realidade outras modalidades de cinemas interativos, sistemas

de mediações de narrativas que de fato deflagram imagem-relações entre

nossos corpos, o ciberespaço e o mundo. (MOTA. 2014, 104).

1.2.3 PROJEÇÃO MAPEADA EM OBJETOS: INSTALAÇÕES

No campo das videoinstalações, o vídeo mapping é hoje algo muito explorado

pela liberdade de modelar a imagem projetada no espaço, e pelas diversas

Figura 10: Espetáculo de dança, D.A.V.E, de Klaus Obermaier, 1998-2000.

Fonte: http://uncoy.com/images/austriantrance/DAVE_KlausObe

rmaier.jpg

Page 26: Tcc 2015 mariana flavia dos santos

26

possibilidades de objetos como superfície e imagens a serem criadas sobre os

objetos.

A aplicação da projeção mapeada nesta categoria passa pela criação de

personagens, e por dar vida a seres inanimados. Estes pontos vêm referenciar todas

as linhas do cinema na questão estética e na narrativa. Ultrapassando a questão

estrutural do cinema, a projeção e o objeto no vídeo mapping colocam o espaço e o

espectador em uma relação mais próxima. (MOTA, 2014)

Em 1969 a inauguração de Haunted Mansion na Disneylandia, foi a primeira

projeção “instalativa” sobre uma superfície não plana. Era composta por uma cabeça

sem corpo e mais cinco bustos de fantasmas cantantes nas quais foram projetadas,

em 16 mm, filmes das faces dos atores sobre as esculturas.

Tony Oursler foi um destaque no campo das videoinstalações com video

mapping, começa seu trabalho com mapeamento a partir da década de 1990.

Trabalha com temas como sadismo, distúrbios psicológicos, sexualidade, frustração

e crueldades somadas a um humor bizarro e elementos de estranhamento.

Figura 11: Parte das atrações da Haunted Mansion, na Disneylandia, 1969. Fonte: http://projection-mapping.org/the-history-of-projection-mapping/

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27

No trabalho da figura acima Oursler se baseou em sua pesquisa sobre o

distúrbio de múltiplas personalidades. São gestos como chorar, rir e ter tiques

nervosos que o artista utiliza como formas de comunicação quando interpretados

exageradamente, como chorar compulsivamente, que se tornam a oportunidade de

mostrar a alteração emocional.

Dentre esses, a lista artistas que exploram a técnica é grande e se torna cada

vez maior devido a intensa busca de inserção da tecnologia digital dentro da arte

contemporânea e a imensa possibilidade que a projeção mapeada contem, tanto de

criação, quanto ao seu hibridismo no uso de diferentes áreas desde a programação

computacional, as demais áreas das artes como a fotografia, o vídeo e a escultura.

1.3 SOFTWARES E EQUIPAMENTOS UTILIZADOS PARA O DESENVOLVIMENTO DAS PROJEÇÕES MAPEADAS

O equipamento utilizado para o mapeamento é basicamente: um projetor

LED, um laptop e softwares adequados para a produção dos vídeos. Quanto a

Figura 12: Instalação Judy, de Tony Ousler, 1994. Fonte: http://4.bp.blogspot.com/-

PV5XXRWW8zo/TdvJKlcoR4I/AAAAAAAAABk/tX1YCKsvvAI/s1600/instalacao-judy-1994-tecnica-mista-do-videoartista-norte-americano-tony-ousler-1290179303328_560x400.jpg

Page 28: Tcc 2015 mariana flavia dos santos

28

softwares existem vários tipos que facilitam a correção de imagem e o mapeamento.

De acordo com Mateus Knelsen (2012) são: Módulo8, ferramenta especifica para

VJing; Resolume, ferramenta especifica para imagem em tempo real e mapeamento

da projeção; VPT, é uma ferramenta específica para mapeamento de projeção, com

32 layers, presets reconfiguráveis, entrada para duas câmeras e duas ferramentas

de mapeamento: mesh distort e editor de máscaras; MadMapper, é uma ferramenta

específica para mapeamento de projeção, voltada exclusivamente para o uso com o

servidor virtual de vídeo Syphon. Ou seja, não se carregam arquivos de vídeo

diretamente no MadMapper: o gerador de imagens deve ser outro software que

suporte Syphon, como Modul8, Quartz Composer, VDMX, etc. O conceito do

software é simplificar o processo de mapeamento; LPMT (Little Projection Mapping

Tool), é uma ferramenta simples para mapeamento de projeção por meio das duas

técnicas principais de distorção: por Corner Pins ou por Mesh Distort; Quase Cinema, é um projeto do artista e pesquisador brasileiro Alexandre Rangel, e é uma

ferramenta voltada para VJing, mas que pode ser utilizada para mapeamentos

simples utilizando da técnica de máscaras.

Lessa e Cassetari (2012) apontam ainda alguns softwares de animação e

finalização: Adobe After Effects, é extensamente usado em pós-produção de vídeo,

filmes, DVDs e produções da plataforma Flash; e o Cinema 4D, é um programa de

computador comercial multiplataforma para modelagem 3D, texturização, iluminação

e animação e renderização 3D, desenvolvido pela empresa alemã MAXON

Computer.

Em meu trabalho desenvolvo uma apresentação de projeção mapeada que se

insere na categoria de instalação em que produzi os suportes, no qual esculpi dois

bonecos sendo personagens circenses, já que o circo é a temática do trabalho e é

desta temática o próximo capítulo abordará.

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2. POÉTICAS VISUAIS DO UNIVERSO CIRCENSE

2.1 CONSTRUÇÃO DE UM NOVO CIRCO: CIRQUE DU SOLEIL

O chamado novo circo hoje encontra como seu ponto alto o Cirque du soleil3

(circo do sol). Espetáculo que ganha esse nome porque “O sol simboliza juventude,

energia e força” (Guy Laliberté). Descrito como um circo moderno com seus

grandes números performático abrange shows fixos e shows que rodam o

mundo.

Dentre seus artistas estão pessoas das mais diversas nacionalidades e

áreas artísticas. Contam:

[...] com cerca de 400 artesãos e especialistas em todos os

tipos de campos que trazem a vida mais de 25.000 elementos para

nossos shows ao redor do mundo. Cada show começa com inspiração

e ideias de uma equipe criativa. Núcleo composto por um diretor

criativo, escritor e diretor, coreógrafo e designers dos trajes, iluminação

e conjuntos. (SOLEIL, 2015, p.4)

Cada artista compõe com originalidade cada produção e suas presenças são

essenciais para que tudo seja um sucesso. A área do cenário e do figurino são

pontos extremamente importantes dentro da composição dos espetáculos. No

primeiro utilizam as mais diversas tecnologias de projeção cênica para que tudo seja

minuciosamente testado quanto à instalação e a segurança. O segundo conta com

uma equipe de design têxtil que utiliza diversas formas de trabalhar o tecido como

banho de tingimento, serigrafia4 e pintura. Os designers cuidam desses figurinos na

criação de efeitos especiais e texturas, que vão se renovando diariamente. Instalam-

se diversos dispositivos nas roupas para que esses efeitos fiquem ainda mais

interessantes como luzes, baterias e adesivos.

Os espetáculos buscam suas referências no teatro, na própria atividade

circense, no rock, no ballet e na ópera. Encontra-se malabarismo, contorcionismo,

trapezistas e palhaços fazendo um show com roupas extremamente coloridas e

maquiagens que demonstram traços medievais e barrocos. Envolto de um cenário

3 História e Processo criativo retirado deste link: <https://www.cirquedusoleil.com/about/history> 4 Serigrafia ou silk-screen é um processo de impressão no qual a tinta é vazada – pela pressão de um rodo ou puxador – através de uma tela preparada.

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30

que assim como a sua trilha sonora varia de acordo com a temática abordada em

cada show. Eles utilizam a música ao vivo e contam sempre com um compositor

para trabalhar cada espetáculo, e os músicos e cantores ficam com o papel de

executar a trilha sonora ao vivo, sendo capaz de ajustar o tempo ou de improvisar

buscando sempre estar no mesmo ritmo dos artistas no palco.

Guy Laliberte (2015) criador e hoje dono de 95% do Cirque du Soleil diz, por

fim, que seus shows tem sempre o objetivo de aproximar a performance com seu

expectador e faz isso na ausência de um picadeiro e de animais.

Os animais dentro do circo tradicional foi um motivo de atração do público por

muito tempo. Hoje há a proibição do uso de animais em espetáculos, com isso os

circos que mantem os valores tradicionais de apresentação, com a estrutura da lona

e o nomadismo, apresentam seus artistas sob um picadeiro como palco de sua arte.

Dentro dessa estrutura o picadeiro é colocado de forma central envolto de

arquibancadas onde se recebe o público, mantinha os artistas a certa distância de

sua plateia. Neste contexto a intensão de Guy sempre foi que seus espetáculos

buscassem o diferencial na proximidade com seu público. O que considera resultar

em um show em que as pessoas sentem perfeitamente e mais de perto tudo o que o

espetáculo tem a oferecer.

2.2 ANÁLISES DO INTERESSE A ARTE CIRCENSE

Segundo Rosa (2010), o circo é uma manifestação artística que se

desenvolve acompanhando a história das sociedades medievais, modernas e

contemporâneas. Uma arte que nasce no intuito de entreter as pessoas e é assim

que vem em forma de um espetáculo, um mundo lúdico, fantástico em que

encantam os povos desde a Idade Média até os dias de hoje.

Seja sobre uma lona colorida, como nos circos que viajam de cidade em

cidade para encantar com sua arte ou sobre a mais alta tecnologia como é a

aplicada nos grandes shows do Cirque du Soleil, é:

[...] o amor dos artistas pela arte faz com que o circo permaneça vivo de

geração a geração. Neste contexto, o saber e o fazer artísticos, produz

valores culturais, estéticos, ideológicos que emociona e encanta. [...] Neste

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31

contexto o conteúdo dos interesses artísticos está associado às imagens, às

emoções, a busca do belo e do encantamento. (SIMÕES, 2010, p. 1 e 2)

Para esse trabalho, busco a pesquisa da expressão artística circense, a forma

como toda a arte envolvida dentro de um espetáculo (música, dança, teatro,

cenografia, figurino) faz com que as pessoas incluindo eu mesma, se atraia e se

interesse por isso. E então aplicar os fatores de envolvimento pessoal dentro da

montagem da animação, aplicando a minha poética artística da visão de um tema

tão rico visualmente que serão mostradas as pessoas que podem ter passado ou

não pela mesma experiência.

A forma como o circo faz a sua divulgação, o seu convite a população de sua

determinada apresentação, nos circos tradicionais se dão da seguinte forma: “pela

primeira vez”, “jamais vistos antes”, que sejam “incríveis” ou “verdadeiramente

impossíveis”.

Os artistas do circo não executam de fato números impossíveis no

picadeiro, mas antes mostram o impossível, isto é, fazem ver a

impossibilidade do impossível. Assim, os artistas ambulantes fornecem,

periodicamente, aos cidadãos uma oportunidade de confrontar as bases e

os limites da ordem estabelecida e de refletir sobre os limites de sua

personalidade. (CARMELI, 2012, p. 2)

As apresentações circenses contam com uma programação de atrações bem

diversificadas, que faz com que a plateia ria, suspire, se emocione, se assuste, e

isso culturalmente são reações que continuam atraindo pessoas do mundo inteiro

pra espetáculos deste gênero. Isso desde que o circo era a única maneira do povo

grego se divertir na idade Média. “Acompanhando a história da humanidade, vê-se

que os seres humanos, desde os seus primórdios, sempre buscaram formas de

diversão, quer seja em seu ambiente de trabalho, de religiosidade, ou familiar. E

porque não no circo?” (SIMÕES, 2010, p.4).

Pensando no circo como uma forma de diversão é inevitável uma expectativa

de alguma forma de prazer, e essa sensação se inicia desde quando nos

programamos para ir ao circo, já por sua ideia cultural que nos é posta do que

acontece em um espetáculo, com piadas e movimentos performáticos de dança ou

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32

teatro. Além disso, e de toda a carga artística que os espetáculos, ainda te

proporcionam um público que está ali atraído pelo mesmo evento que você, rindo

das mesmas coisas que você. Possibilitando assim, a oportunidade de discutir e

compartilhar da mesma experiência estética e das mesmas sensações.

Outro aspecto interessante que se pode observar, é que, ao ter contato com

o circo, o indivíduo desenvolve novas sensibilidades e tem acesso a novos

valores ou questionamentos de valores vigentes em relação a vivenciar um

programa de riqueza artística e não tão presente em muitas cidades. O

importante é que cada participante potencialize o seu prazer e suas

descobertas pelo contato direto com uma das mais diferentes

manifestações artísticas e cada um ao seu modo desenvolva suas

sensações. (SIMÕES, 2010, p.5)

Em um dos pontos de interesse artístico está a contemplação do belo e o

campo que o domina é o imaginário, as imagens, as emoções e sentimentos, a

busca da beleza, do encantamento. E é neste ponto que o circo se insere.

A conclusão é que atração por essa arte está na experiência visual que a

junção de tantas áreas artísticas proporciona ao público. E como elas são

apresentadas harmoniosamente funcionais dentro deste tipo de espetáculo. É

através desses pontos estéticos que a minha intenção é transmitir para a minha obra

o que o circo possibilita, tanto na execução dela quanto no que ela pretende

significar.

2.3 EXPRESSÕES ARTÍSTICA

O circo é um espaço privilegiado, onde os artistas usam os seus corpos para

expressar vivencias e manifestações de formas não convencionais como: “serrar o

corpo de uma mulher ao meio”, andar por um fio na corda bamba, ficar em posição

invertida de cabeça para baixo, felicitados pela simples emoção de um

transformismo sem fim.

Sobre a liberdade corporal herdada e representada no circo tradicional Baroni

(2006) diz:

Caracterizado por uma falta de forma, o corpo circense multifacetado em

contorções, desaparecimentos ilusionistas com jeito de bichos e sem

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33

parada fixa, percorria dos territórios emocionando, fazendo rir e

surpreendendo plateias que se extasiavam com as peripécias de um corpo

ágil, alegre, com linguagem e expressão próprias resistentes a regras e

normas e, sobretudo com liberdade. (BARONI, 2006, p. 7).

A arte do circo contemporâneo é conhecida como o circo do homem, por ser

totalmente performático.

O espetáculo do circo contemporâneo caracteriza-se por misturar, em

partes iguais, a dança, o circo, o teatro, a técnica, a estética e os elementos

da tecnologia como a luz e som, para a performance de um artista onde,

não basta ser hábil, mas tem que ter algo a contar, e para isso esse novo

modelo requer artistas polivalentes, como por exemplo, malabaristas-

acrobatas, acrobatas-clown, clown-musico, etc., no circo novo não significa

o mais complicado, mais arriscado ou mais sobre-humano, senão o mais

belo, plástico, visual, estético, etc. (BARONI, 2006, p. 10)

A arte circense presente no circo contemporâneo possui um treinamento

técnico de uma disciplina das exigidas em esportes, suas performances possuem

um alto nível técnico dos gestos, mas em seu objetivo final se distancia de seu lado

esportivo e se vê um espetáculo artístico a ser representado e trocado para com o

público.

Portanto, com toda a técnica reforçada dentro deste novo circo é a arte que

prevalece, e toda a técnica que acaba por se adaptar ao estilo artístico.

Como citado na primeira parte deste capítulo o maior representante deste

novo circo é o Cirque du Soleil e para este trabalho é alguns de seus espetáculos e

parte de minha experiência com circos tradicionais e acrobático que usarei para

compor minhas animações. O mundo fantástico, cheios de possibilidades que o circo

inseriu e contribuiu para a minha imaginação serão inseridas na minha obra. Além

de toda a referência visual do próprio Cirque du Soleil, conto com a referência de

artistas plásticos que também já trataram deste mesmo tema.

2.4 REFERENCIAS ARTÍSTICAS

Alguns artistas plásticos dentro da história da arte manifestaram seu interesse

pela temática do circo, atraídos pela espirito da diversão inserida nos espetáculos,

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34

esses artistas o retratam cada um em suas particularidades e estilo. Tais como

Pablo Picasso, Fernando Botero, Toulouse-Lautrec, George Seurat, entre outros.

A obra acima se encontra na passagem da fase azul para a fase rosa, do

artista espanhol Pablo Picasso, momento em que se apaixonou por Fernande Oliver.

Passando de um predomínio dos tons azuis para tons rosados e avermelhados, o

artista começa a se atrair e retratar bailarinos, acrobatas e personagens de circo.

La famille de saltimbanques5 (A família de Saltimbancos, em português), retrata uma

família de saltimbancos em um ambiente triste, imagem na qual o circo tradicional

que contava integrantes apenas membros da família, passava fora dos picadeiros.

Fernando Botero6, artista colombiano, representou o circo em pinturas a óleo

e desenhos, após ir ao México e se deparar com circos populares onde se

identificou exatamente com os espetáculos que viu na sua infância. O próprio artista 5 Informações retiradas do seguinte link: <https://pt.wikipedia.org/wiki/La_famille_de_saltimbanques> 6 Informações retiradas do seguinte link: <https://www.museodeantioquia.co/exposicion/el-circo-fernando-botero/>

Figura 13: La famille de saltimbanques,1905, Pablo Picasso Fonte: http://pedago.iut.univ-lille3.fr/~marie.guebey/wordpress/wp-

content/uploads/2015/11/Les-saltimbanques.jpg

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35

diz: “Ele era pobre e cheia de animais famintos. Todas as suas roupas foram

penduradas nos carros alegóricos usados. Eu encontrei uma grande poesia lá,

conversei com artistas e vi muitas possibilidades para minha pintura.”.

O artista se identifica com o tema não apenas pela lembrança pessoal de sua

infância, mas também por se tratar de algo tão colorido e vivo, assim como já era

seu próprio estilo de pinturas, com seu uso de uma paleta de cores impecável e ao

seu incrível uso do volume. No circo o artista viu uma forma de trabalhar livremente

com suas cores e formas e expressões de alegria e otimismo.

Toulouse-Lautrec7, pintor pós-impressionista, representa o circo, por exemplo,

em sua obra el circo Fernando. Assim como Lautrec, Picasso e Seurat buscaram

nessa temática um refúgio para escapar de problemas sociológicos da época. Nesta

pintura o artista representa uma dançarina desfilando sob um cavalo dominado por

seu adestrador. Mostra um momento típico dos primeiros circos e mantido em alguns

até a proibição do uso de animais. Em que contavam com animais equestres como

uma das maiores atrações.

7 Informações retiradas do seguinte site: <http://valiteratura.blogspot.com.br/2011/02/pintura-pos-impressionista-toulouse.html>

Figura 14: Pintura parte da série Circus de Fernando Botero, 2006

Fonte: http://www.eldiariodeguadalajara.net/wp-content/uploads/2015/12/1Botero.jpg

Figura 15: Pintura parte da série Circus de Fernando Botero, 2006

Fonte: http://www.eldiariodeguadalajara.net/wp-content/uploads/2015/12/1Botero.jpg

Figura 14: Pintura parte da série Circus de Fernando Botero, 2006

Fonte: http://www.artemagazine.it/wp-content/uploads/2015/02/botero-il-circo.jpg

Page 36: Tcc 2015 mariana flavia dos santos

36

Georges Seurat8, pintor francês, pioneiro do movimento pontilhista, teve O

Circo como sua última obra, inacabada, pois acabou por falecer antes finaliza-la.

Dizia que o mais importante em sua obra era o seu método e não sua poesia. Esta

obra em especial apresenta a predominância de cores claras, mas aparecem

também o vermelho, o amarelo e o violeta. Trabalha com um desfoque da plateia

para que os personagens sejam o primeiro plano, como a bailarina mostrando o

equilíbrio, o acrobata que vibra com os saltos que dá e o palhaço observando tudo

expressando sentimento de alegria.

8 Informações retiradas do seguinte site: < http://seuratvisuais.blogspot.com.br/2012/11/o-circo.html>

Figura 16: Pintura En el circo Fernando, Toulouse-Lautrec, 1888 Fonte: https://3d-car-shows.com/wp-content/uploads/2014/11/Henri-de-Toulouse-Lautrec-

Paintings.jpg

Page 37: Tcc 2015 mariana flavia dos santos

37

Alexander Calder, pintor e escultor estadunidense, ficou conhecido por seus

mobiles. Famoso por suas esculturas de grande porte, ele produziu numerosas

figuras de arame, nomeadamente para circos em miniatura.

Sua famosa obra, Cirque Calder9, são modelos de arame que representam as

funções de cada artista circense. Desde contorcionistas a domadores de leões. São

feitos geralmente de arame, madeira, cortiça e tecidos. O artista também fazia

performances de circo durante o tempo que ficou em Paris.

9 Informações retiradas do seguinte site: <https://en.wikipedia.org/wiki/Cirque_Calder>

Figura 17: Pintura O Circo, Georges Seurat, 1891 Fonte: http://2.bp.blogspot.com/-

d2qtjopw3Rs/UK1sVZ1V00I/AAAAAAAAAAg/bTMScj7vcIU/s1600/o-circo-seurat.jpg

Page 38: Tcc 2015 mariana flavia dos santos

38

Kira Shaimanova10, é uma escultora e ilustradora, trabalha com o lado do

circo do horror com mini esculturas. São representações de artistas com

deformidades físicas e esquisitices humanas. Foi inspirada pelos cartazes de circo

do final do século XIX, pela moda vitoriana e cabinet card (um estilo de fotografia

que foi amplamente utilizado para retratos fotográficos após 1870). Criou os

personagens baseados em pessoas reais, que participavam do Freak show (show

de horrores) durante o final de 1800. Trabalha com esculturas caricaturais. Sobre

seu processo a própria artista diz:

Olhe os bastidores para o processo de criação e os muitos detalhes que

entrou em criar esta longa série anual. Os personagens são criados a partir

de argila, os trajes são costurados ou pintado, conjuntos são construídos e,

finalmente, eles são fotografados. Às vezes as pessoas pensam que o meu

trabalho é digital ou criado em um formato diferente de escultura. Eu queria

mostrar que ele está em não criada digitalmente de forma alguma, apenas

um monte de tempo consumindo as mãos no trabalho escultura.

10 Informações retiradas do seguinte site: <http://kirasillustration.blogspot.com.br/>

Figura 18: Escultura Cirque Calder, Alexander Calder, 1926-1931

Fonte: http://whitney.org/image_columns/0058/9133/calder_1140.jp

g?1401809616

Page 39: Tcc 2015 mariana flavia dos santos

39

Francesca Balaguer, fotógrafa residente em

São Francisco, trabalha com a temática circense em

um ensaio feito para Gregangelo Herrera e sua

empresa The Velocity Circus, chamado The

Majestic11. Tratando-se de uma empresa de arte e

entretenimento a artista busca mostrar toda a

dedicação de Gregangelo em seu trabalho, a

fotógrafa diz: “Cada imagem é um esforço para

capturar a magia e majestade de seu mundo, do jeito

que eu experimentei estar em sua presença

inspiradora.”.

11 Informações retiradas do seguinte site: <http://francescabalaguer.format.com/the-majestic>

Figura 21: Fotografia, parte do ensaio The Majestic, Francesca

Balaguer, 2009

Figura 19: Escultura, Uncle Edgar, Kira Shaimanova, 2013-2014

Fonte: http://kirasillustration.blogspot.com.br/2014/0

7/the-making-of-curious-collection-series.html

Figura 20: Escultura, The Bearded Helena, Kira Shaimanova, 2013-2014

Fonte: http://kirasillustration.blogspot.com.br/2014/0

7/the-making-of-curious-collection-series.html

Page 40: Tcc 2015 mariana flavia dos santos

40

Richard Mcdonald12, um escultor

figurativo contemporâneo, conhecido por suas

esculturas em bronze. Em sua série Cirque, o

artista capta e amplia as complexas relações

entre técnica e jogar; atletismo e graça;

imaginação e concepção. O artista aponta a

respeito: “Estes são os tópicos inumeráveis

que se entrelaçam para formar o tecido do

circo; um tecido etéreo que, quando

reinterpretado em bronze, traz consigo um

realismo mágico singular e universal.”. Sua

obra retrata a beleza do corpo humano e do

espirito que o impulsiona. Seu trabalho é feito

da observação de modelos vivos muitas vezes

12 Informações retiradas do seguinte site: <http://richardmacdonald.com/artwork/cirque/>

Figura 23: Fotografia, parte do ensaio The Majestic, Francesca Balaguer, 2009

Figura 22: Fotografia, parte do ensaio The Majestic, Francesca Balaguer, 2009

Figura 24: Escultura, parte da série Cirque, Richard Mcdonald, 2010.

Fonte: http://cdn.inside.vision/wp-content/uploads/2015/01/16_rain_half_life.j

pg

Page 41: Tcc 2015 mariana flavia dos santos

41

dançarinos, artistas e atletas.

Concluo assim, as referências dos artistas que assim como eu, cada um em

suas particularidades se interessaram pelo tema do circo para tratar em suas obras.

Figura 25: Escultura, Transcendence, Richard

Mcdonald, 2008. Fonte:

http://richardmacdonald.com/artwork/cirque/

Figura 26: Escultura, Elena III, Richard Mcdonald, 2010. Fonte: http://richardmacdonald.com/artwork/cirque/

Page 42: Tcc 2015 mariana flavia dos santos

42

3. O CIRCO CHEGOU! – CIRCO VOADOR

A obra nasce de uma paixão nascida na infância que a magia do universo

circense desperta em mim. A instalação recebe o nome de Circo Voador por exibir

movimentos livres e extremamente ligados ao ato de voar. O tema se manifesta

muito forte em toda a minha trajetória pela faculdade. Foi assim que descobri qual a

melhor forma de trabalhar esse tema nesse projeto, passando por experiências com

as mais diversas técnicas.

Procurei explorar neste trabalho final, o que a escultura somado a técnicas de

vídeo e animação digital poderiam me possibilitar uma melhor representação dos

movimentos, das cores, da luz junto à energia de uma trilha sonora referenciada dos

grandes espetáculos do Cirque du Soleil.

3.1 A TELA

Como disse no primeiro capítulo deste trabalho o vídeo mapping é projetado

em uma estrutura tridimensional e neste caso escolhi como tela para essa obra a

escultura de dois bonecos feitos de isopor e revestido de massa PVA. Servindo de

suporte para a projeção fiz a escolha de representar dois personagens distintos e

Figura 27: Gravuras na temática do Circo Fonte: da autora Figura 28: Escultura na temática

do Circo Fonte: da autora

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43

que dessem conta de abordar a maioria das atrações circenses: o palhaço e o

mágico.

Os bonecos foram criados em estilo de escultura chamado toy art, que

aprendi em uma oficina de projeto de extensão, e comecei a criar esboços para

testar a ideia. Conclui que o estilo funcionaria perfeitamente ao tema e como suporte

de projeção por ser uma escultura de poucos detalhes daria mais liberdade a

produção digital.

Logo após os estudos em desenhos, comecei a reproduzi-los em 3D mas em

tamanho menor para ver melhor como ficariam, e para facilitar na hora de extrair a

imagem de um bloco de isopor.

Figura 31: Protótipos dos Bonecos Fonte: da autora

Figura 29: Estudo das vistas do Palhaço Fonte: da autora

Figura 30: Estudo das vistas do Mágico Fonte: da autora

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Então iniciei o processo da escultura final. Escolhi o isopor como material pela

facilidade de manusear o material, pela leveza e pelo baixo custo. Primeiramente

desenhei as vistas nos seis lados do cubo para facilitar na hora de esculpir. A partir

disso comecei a tirar as partes vazias e aos poucos os bonecos foram tomando

forma. Optei pela massa PVA para dar acabamento por deixar a superfície dos

bonecos lisa e não deixá-los muito mais pesado do que eram.

Figura 33: Esculpindo o Mágico do bloco Fonte: da autora

Figura 35: Bloco com as vistas do Palhaço

desenhadas. Fonte: da autora

Figura 32: Bloco com as vistas do Mágico

desenhadas. Fonte: da autora

Figura 34: Esculpindo o Palhaço.

Fonte: da autora.

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45

A partir da conclusão dos bonecos, antes de iniciar a criação das animações e

dos vídeos, fiz um teste das posições do suporte e do projetor. Já iniciando inclusive

o processo do mapeamento do suporte, através da criação das máscaras. Posicionei

os dois bonecos a cerca de 60cm de distância um do outro e a 3,27m do projetor.

Logo em seguida fiz o mapeamento no software Resolume Arena e fotografei o

posicionamento exato dos suporte em relação ao projetor para criar uma máscara

externa no Photoshop.

Figura 37: Teste de Mapeamento dos Bonecos Fonte: da autora

Figura 38: Máscara dos Bonecos Fonte: da autora

Figura 36: Bonecos finalizados Fonte: da autora

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3.2 ANIMAÇÕES E VÍDEOS

Para executar a criação das animações e da imagem dos bonecos, me guiei

através de filmes de referência: “Cirque du Soleil: La Nouba” (2003), “Cirque du

Soleil: Varekai” (2002), “Cirque du Soleil: Saltimbanco” (1994), “Cirque du Soleil:

Outros Mundos” (2012), “O Palhaço” (2011), “Truque de Mestre” (2013) e

“L’Illusionniste” (2010). Na animação do palhaço tentei seguir imagens tanto dos

palhaços tradicionais, como os contemporâneos, mesclei isso através do figurino e

da maquiagem. No mágico desconstruí o seu figurino clássico colocando ele em

trajes que não desse um ar tão sério quanto o tradicional. A ideia veio de um

personagem do Cirque du Soleil que interpreta um inventor de coisas malucas.

Figura 39: Referencia maquiagem e figurino de Palhaço dentro de um estilo tradicional Fonte: http://www.cultura.pe.gov.br/wp-content/uploads/2015/11/cavaco-e-sua-pulga-

adestrada-com-caravana-tapioca-foto-credito-marilia-chalegre.jpg

Page 47: Tcc 2015 mariana flavia dos santos

47

A criatividade do personagem me inspirou a inventar esse novo modelo para

o mágico, com uma cartola sanfonada e uma roupa em formato de losango.

Figura 40: Referência de Maquiagem e cenário de Palhaço do Cirque du Soleil

Fonte: http://www.extracafe.rs/_pu/222/68948200.jpg

Figura 41: Referência para o figurino e maquiagem do Mágico. (Kurious – Cirque du Soleil).

Fonte: http://theeyeopener.com/wp-content/uploads/2014/09/10157335_231295027061048_84621568853115

45450_n.jpg

Page 48: Tcc 2015 mariana flavia dos santos

48

Durante a criação das animações me propus a fazer um roteiro para me guiar

conforme as ideias fossem vindo. A ideia inicial foi de criar uma apresentação dando

as boas-vindas ao público, com cortinas se abrindo e os personagens dando início

ao grande espetáculo. Optando pelo palhaço para dar início a apresentação, o

mágico desaparece.

3.2.1 PALHAÇO

Estabeleci que dentro do boneco do palhaço brincaria com a alteração do

figurino. Colocaria outros personagens circenses brincando dentro dele e conforme

cada brincadeira acontecesse formariam desenhos. Como o palhaço é uma figura

que permanece em cena durante apresentações de trapézio e equilíbrio dentro dos

espetáculos de referência, inseri trapezistas e equilibristas junto à este personagem,

enriquecendo os elementos visuais da animação.

Os figurinos do palhaço mudam para cores alegres e vibrantes que

manifestam a riqueza da paleta de cor presente nas roupas desse personagem.

Figura 42: Criação dos figurinos fixos dos bonecos no Photoshop. Fonte: da autora

Page 49: Tcc 2015 mariana flavia dos santos

49

Mostra como essa figura ao mesmo tempo com aspectos padrões pode ser também

bastante diversa umas das outras.

Os trapezistas aparecem se jogando de um lado ao outro no colete da roupa

do palhaço. Seus movimentos ficam registrados através de desenhos que vão se

formando por onde passam dentro de todo o colete. No kilt do personagem surgem

acrobatas saltando em uma suposta cama elástica onde vão fazendo movimentos

curvos que também formam desenhos de acordo com cada movimento. As cores

Figura 43: Uma das mudanças de cores dos figurinos I Fonte: da autora

Figura 44: Uma das mudanças de cores dos figurinos II Fonte: da autora

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50

aplicadas nos desenhos que se formam foram escolhidas de forma que em um

fundo preto, no caso do projeto na ausência de luz, as cores iluminem o figurino.

Em seguida surgem quadradinhos no colete de cores alternadas, que foi uma

forma de representar o empilhamento de diversos objetos que o equilibrista faz em

espetáculos circenses, que no fim surgem todos os quadradinhos juntos formando

uma nova estampa ao colete. Junto a essa composição, na blusa do palhaço

aparece o equilíbrio na bola, onde um pequeno personagem transita pela blusa

deixando um rastro por onde passa, que também vai formando uma estampa. E por

fim no kilt utilizando a bola como elemento, bolinhas de cores alternadas vão caindo

de cada canto do colete até que elas tomem conta de tudo e forme também uma

nova estampa para o palhaço.

Figura 45: Desenhos formados pelo movimento dos acrobatas e trapezistas. Fonte: da autora

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51

Figura 46: Todos os quadradinhos do colete aparecendo e desenhos formados pelo equilibrista na blusa.

Fonte: da autora

Figura 47: Todos os quadradinhos e todas as bolinhas do colete e do kilt aparecendo. Fonte: da autora

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52

Assim concluo a parte do palhaço, onde trabalhei com tudo que desde o início

me propus: movimento, luz, cor, figurino e maquiagem. E ainda acabei incluindo nele

a participação de outras artes circenses: trapezistas, acrobatas e equilibristas.

3.2.2 MÁGICO

No mágico me propus trabalhar de uma forma diferente pelo fato de já ter

desconstruído a forma do personagem, resolvi trabalhar com instrumentos,

elementos utilizados em truques de mágica. A criação dessa parte foi feita com

referência de dois filmes: Truque de mestre e L’Illusionniste.

Figura 48: Cena do filme “Truque de Mestre”.I Fonte: http://imguol.com/c/entretenimento/2013/07/03/cena-do-filme-

truque-de-mestre-de-louis-leterrier-estrelado-por-jesse-eisenberg-1372824365888_956x500.jpg

Figura 49: Cena do filme “Truque de Mestre” II Fonte: https://maniacosporfilme.files.wordpress.com/2013/07/truque-de-

mestre-7.jpg

Page 53: Tcc 2015 mariana flavia dos santos

53

A partir das referências definidas, na parte do mágico executei da seguinte

forma. Primeiro pensei em quais instrumentos de mágica usaria, e escolhi as cartas,

os lenços, o coelho, a varinha e por último inseri elementos da pirofagia13.

Através das cartas foi possível criar várias formas de animação: a primeira foi

elas se abrindo por todo o corpo do personagem. E a segunda mesclando das cartas

com a ideia de “tirar o lenço debaixo da manga” faço as cartas surgirem através de

cores que definem as cartas simbolizando os lenços. Cumprindo ao mesmo tempo

com dois elementos.

13 Pirofagia nada mais é que a arte de manipular o fogo, engolindo, cuspindo ou passando pelo corpo enquanto o profissional desenvolve movimentos mirabolantes

Figura 50: Cena do filme “L’Illusionniste”. Fonte: http://delhi.afindia.org/wp-content/uploads/2014/10/cinemaseries_june2.jpg

Figura 51: Parte da animação do Mágico – Cartas Fonte: da autora

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54

O próximo elemento é a pomba branca. Cercada de uma trilha sonora de

mistério surge uma grande e majestosa pomba voando de baixo para cima e em

seguida de cima para baixo. Em câmera lenta acompanhando o som ela desaparece

dando espaço para o próximo animal em cena que é o coelho.

O coelho surge através da cartola, que pulando se aproxima. Até que em um

passe de mágica toda a pele do boneco fica peluda. A partir de então o personagem

Figura 52: Parte da animação do Mágico – Cartas e Lenços Fonte: da autora

Figura 53: Parte da animação do Mágico – Pomba Branca Fonte: da autora

Page 55: Tcc 2015 mariana flavia dos santos

55

faz aparecer a sua varinha mágica, para que o truque do coelho seja desfeito. Então

criei um efeito “mágico” no rastro da varinha para dar ênfase no enredo, e sua pele

volta ao normal.

Com suas devidas cores, o mágico inicia suas acrobacias com pirofagia.

Nessa parte criei bolas de fogo onde o personagem brinca como malabares por

algum tempo na ideia de criar uma expectativa. O segundo elemento pirofágico é

Figura 54: Parte da animação do Mágico – Coelho Fonte: da autora

Figura 55: Parte da animação do Mágico – Coelho e Varinha Mágica Fonte: da autora

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56

cuspi de fogo que nasceu pensando em uma boa forma de finalizar a parte do

mágico, com o ultimo sopro gerando seu desaparecimento.

Para finalizar o projeto, fiz um simbolismo de agradecimento, então os

personagens reaparecem e seguindo a referência eles desaparecem em uma

explosão de partícula. O projeto final foi eficaz com relação ao que propus. Trabalhei

Figura 56: Parte da animação do Mágico – Pirofagia: malabares Fonte: da autora

Figura 57: Parte da animação do Mágico – Pirofagia: cuspindo fogo Fonte: da autora

Page 57: Tcc 2015 mariana flavia dos santos

57

com todos os elementos planejados, ampliei meus conhecimentos com relação aos

softwares e ao tema.

3.3 TRILHA SONORA

A trilha sonora foi estudada de acordo com cada sequência de imagem.

Pesquisei músicas temas de circo. Além das músicas de vários espetáculos

diferentes do Cirque du Soleil, contei também com efeitos sonoros em alguns pontos

da animação, como na parte da pirofagia e dos tambores.

Dentre os estudos escolhi Hey Pachuco de Royal Clown Revue; Créature de

Siam, Clouds e Fearsome Flight do espetáculo Kurious (Cirque du Soleil); Flying with

the Birds e Homage to the Rabbits do espetáculo Criss Angel Believe (Cirque do

Soleil). E o efeito sonoro “Barulho de Tambor” e “Bola de Fogo”.

Figura 58: Animação final – Explosão em partículas Fonte: da autora

Page 58: Tcc 2015 mariana flavia dos santos

58

O texto de apresentação dentro de um espetáculo circense, dentre toda a

pesquisa que fiz, me pareceu algo de grande importância e muito presente. Assim,

pedi para dois amigos gravarem as falas para cada um dos bonecos. Baseado nos

roteiros de apresentação que constavam em minhas pesquisas criei:

Palhaço - Boa noite Senhoras e Senhores, bem vindos ao nosso grande

espetáculo!

Mágico – Respeitável público, esta noite vocês passarão por uma experiência

inesquecível.

Palhaço – é isso mesmo. Preparem-se para conhecer o universo mágico do

Grande Circo Voador

Mágico – A magia vai começar...

Então Edgar Fernandes fez a voz do palhaço e Mário Matias fez a voz do

mágico. Para a edição das vozes editei elas no software Adobe Audition, e depois

sincronizei elas ao som e a própria animação pelo Adobe Premiere, e também editei

pontos de alta e baixa do volume entre o som e as vozes.

Figura 59: Edição e Sincronização do áudio Adobe Premiere. Fonte: da autora

Page 59: Tcc 2015 mariana flavia dos santos

59

3.4 ERGUENDO A LONA (MONTAGEM)

A montagem é programada para que aconteça em uma sala escura na

Unidade VIII da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, onde como já citei

antes, os bonecos serão posicionados a uma distância de 3,27m do projetor. Ambos

serão postos no chão.

A baixa iluminação que uma obra de vídeo mapping pede é mais um ponto

favorável a intensificar a minha escolha da técnica. É uma característica dos

próprios espetáculos originais, onde apenas os participantes recebem luz. O que

proporcionará aos espectadores uma vivencia do espetáculo propriamente dita.

A animação foi desenvolvida com uma duração em torno de 10 a 11 minutos.

Na expectativa e disposição de uma verdadeira atração de circo, durante a exibição

serão preparados os espaços para que as pessoas sentem no chão e assistam á

exibição de frente, já que a obra conta com apenas um projetor. O espaço será

organizado de forma que fique agradável ao público.

Através deste projeto, espero mostrar ao público um novo olhar sobre o circo,

transmitindo sua alegria contagiante, seus pontos fortes e todos os seus atrativos.

Espero que as pessoas sintam vendo a apresentação um pouco do que se sente

dentro do ambiente circense, que transmita parte da riqueza técnica que a atividade

proporciona, e também se impressionem com as possibilidades que o vídeo

mapping pode causar.

Page 60: Tcc 2015 mariana flavia dos santos

60

CONCLUSÃO

No desenvolver desse projeto pude me aprofundar nas técnicas de animação

digital e de vídeo, que é algo tão presente no meio da arte contemporânea e

encontrar a melhor forma de apresentar essa técnica que foi o vídeo mapping em

forma de vídeo instalação.

A minha ideia de princípio era de mesclar imagens bi e tridimensionais e tive

que modificar utilizando apenas imagens bidimensionais. Foi uma experiência que

me fez ver que ainda tem muito para pesquisar e aprofundar nessa área. Conclui

que ela foi totalmente desenvolvida em cima de um conhecimento básico da técnica.

Desejo após essa experiência dar continuidade a pesquisas na área para um maior

aprimoramento.

Apesar de saber o básico para a execução do projeto, eu fiquei satisfeita com

o resultado, consegui executar tudo o que me propus fazer. A produção artística e o

trabalho teórico tratam de captar toda a essência circense e transformar em um

trabalho artístico contemporâneo. Cada detalhe deste trabalho foi de extrema

importância. Desde teorizar técnicas e temas a saber lidar com as dificuldade que

apareciam. Tudo, na busca de uma unidade de produção, de cumprir com os

objetivos.

As pesquisas ampliou meu conhecimento tanto sobre o processo de avanço

das tecnologias até alcançar o vídeo mapping quanto sobre as poéticas visuais

circenses. As pesquisas me mostraram como a base teórica estimulam o processo

de criação. E foi através disse tudo que busquei explorar esse pequeno viés da arte

contemporânea explorando não apenas estudos do circo e da técnica como de

cores, composição e ritmo.

Page 61: Tcc 2015 mariana flavia dos santos

61

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