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1 Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba - Emepa, e-mail: [email protected] 1 Elson Soares dos Santos 1 Jorge Cazé Filho 1 José Teotônio de Lacerda 1 Rêmulo Araújo Carvalho A cultura do inhame (Dioscorea sp.) apresenta importância social e econômica significativa para a Região Nordeste do Brasil, principalmente para os estados da Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Bahia e Maranhão, por constituir um bom negócio agrícola em função do alto consumo pela população. As túberas de inhame possuem excelente qualidade nutritiva e energética, sendo ricas em vitaminas do complexo B (tiamina, riboflavina, niacina, adermina), carboidratos (amido principalmente), minerais e propriedades medicinais, além de apresentarem baixos teores de gorduras. No Nordeste, constitui alternativa agrícola potencial para ampliar o consumo no mercado interno e atender a demanda do mercado externo, bem como fonte de renda para os pequenos e médios agricultores familiares. Essa planta se desenvolve, satisfatoriamente, em clima tropical quente e úmido, sob condições de regime pluvial de 1.000 a 1.600 mm anuais, com temperatura ótima diária de 24 a 39 ºC e umidade relativa do ar de 60 a 70%. Produz bem em solos de textura arenosa e média, profundos, bem drenados e arejados, férteis e ricos em matéria orgânica, com pH de 5,5 a 6,0 (Santos, 1996, 2002a; Santos et al., 2006). Apesar da importância dessa cultura para a região, a sua produtividade continua baixa, em torno de 11.000 kg -1 ha decorrente de fatores como: , indisponibilidade de material propagativo de boa qualidade, alto nível de infecção de doenças fúngicas (Curvularia e Phytophthora), uso indiscriminado de agrotóxicos, alta incidência e severidade de fitonematóides no solo e nas túberas- semente, uso inadequado de fertilizantes químicos e baixo nível tecnológico dos produtores rurais. Para aumentar a produtividade dessa cultura é fundamental se praticar um manejo cultural eficiente, considerando os aspectos relacionados ao plantio, ao crescimento e desenvolvimento da planta, à condução da cultura (fertilização, tratos culturais e controle fitossanitário) e às colheitas. Também se faz necessário estruturar a cadeia produtiva, promover melhoria dos sistemas de produção, da qualidade do produto, oferta constante e preços competidores, na busca de maior retorno econômico. Este artigo tem como objetivo divulgar conhecimentos e tecnologias alternativas para produção de sementes de boa qualidade, controle de fitonematóides e de doenças fúngicas fertilização orgânica, visando aumento de produção, melhoria da qualidade do produto e preservação ambiental. Tecnol. & Ciên. Agropec., João Pessoa, v.1, n.1, p.31-36, set. 2007 31

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Page 1: Tca06 Inhame Prod

1 Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba - Emepa, e-mail: [email protected]

1Elson Soares dos Santos

1Jorge Cazé Filho

1José Teotônio de Lacerda1Rêmulo Araújo Carvalho

A c u l t u r a d o i n h a m e (Dioscorea sp.) apresenta impor tância socia l e

econômica significativa para a Região Nordeste do Brasil, principalmente pa ra o s e s t ados da Pa ra íba , Pernambuco, Alagoas, Bahia e Maranhão, por constituir um bom negócio agrícola em função do alto consumo pela população. As túberas de inhame possuem excelente qualidade nutritiva e energética, sendo ricas em vitaminas do complexo B (tiamina, riboflavina, niacina, adermina), carboidratos (amido principalmente), minerais e propriedades medicinais, além de apresentarem baixos teores de gorduras. No Nordeste, constitui alternativa agrícola potencial para ampliar o consumo no mercado interno e atender a demanda do mercado externo, bem como fonte de renda para os pequenos e médios agricultores familiares.

Essa planta se desenvolve, satisfatoriamente, em clima tropical quente e úmido, sob condições de regime pluvial de 1.000 a 1.600 mm anuais, com temperatura ótima diária de 24 a 39 ºC e umidade relativa do ar de 60 a 70%. Produz bem em solos de textura arenosa e média, profundos, bem drenados e arejados, férteis e ricos em matéria orgânica, com pH de 5,5 a 6,0 (Santos, 1996, 2002a; Santos et al., 2006).

Apesar da importância dessa cultura para a região, a sua produtividade continua baixa, em torno de 11.000 kg

-1ha decorrente de fatores como: ,

indisponib i l idade de mater ia l propagativo de boa qualidade, alto nível de infecção de doenças fúngicas (Curvularia e Phytophthora), uso indiscriminado de agrotóxicos, alta i n c i d ê n c i a e s e v e r i d a d e d e fitonematóides no solo e nas túberas-s emen te , u s o i n ad eq u ad o d e

fertilizantes químicos e baixo nível tecnológico dos produtores rurais. Para aumentar a produtividade dessa cultura é fundamental se praticar um manejo cultural eficiente, considerando os aspectos relacionados ao plantio, ao crescimento e desenvolvimento da planta, à condução da cultura (fertilização, tratos culturais e controle fitossanitário) e às colheitas. Também se faz necessário estruturar a cadeia produtiva, promover melhoria dos sistemas de produção, da qualidade do produto, oferta constante e preços competidores, na busca de maior retorno econômico.

Este artigo tem como objetivo divulgar conhecimentos e tecnologias alternativas para produção de sementes de boa qualidade, controle de fitonematóides e de doenças fúngicas fertilização orgânica, visando aumento de produção, melhoria da qualidade do produto e preservação ambiental.

Tecnol. & Ciên. Agropec., João Pessoa, v.1, n.1, p.31-36, set. 2007 31

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O i n h a m e é u m a p l a n t a m o n o c o t i l e d ô n e a , d a f a m í l i a Dioscoreaceae, herbácea, trepadeira, pertencente ao gênero Dioscorea, com cerca de 600 espécies, sendo as mais importantes as que produzem túberas comestíveis: Dioscorea cayennensis, Dioscorea rotundata, Dioscorea alata, Dioscorea trifida e Dioscorea esculenta (Santos et al., 2006)

A cultivar inhame da Costa ( D i o s c o r e a c a y e n n e n s i s ) é recomendada para o plantio comercial, enquanto a cultivar inhame São Tomé (Dioscorea alata) é plantada em menor escala. Outras cultivares poderiam ser exploradas, na busca de material resistente a doenças e a fitonematóides.

ESPÉCIES E CULTIVARES

MULTIPLICAÇÃO VEGETATIVA

A multiplicação vegetativa é um aspecto relevante dentro do sistema de produção de inhame, uma vez que está d i r e t a m e n t e a s s o c i a d a a o estabelecimento do número de plantas e poderá comprometer, seriamente, a produtividade. O inhame pode ser multiplicado vegetativamente por túberas-semente inteiras, partidas e mudas obtidas por várias técnicas:

“Capação” - Técnica tradicional utilizada para produção de túberas-semente, por meio de uma colheita aos 210 dias . Consis te em cavar lateralmente os matumbos ou c a m a l h õ e s , d e s c o b r i n d o cuidadosamente a túbera e separando-a da planta por um corte exatamente no p o n t o d e l i g a m e n t o e n t r e a protuberância e a túbera comestível, mantendo-se algumas raízes da planta. Retira-se a túbera comercial para consumo e enterra-se a planta novamente, a qual emitirá novas raízes e produzirá túberas menores e arredondadas, que podem ser colhidas cerca de 90 dias após a "capação”. Devem-se realizar beneficiamento e armazenamento adequados, em lugar livre de excesso de umidade, com

temperatura ideal, bem ventilado, visando à boa conservação e repouso fisiológico das túberas-semente.

Minitúberas - Este método consiste em seccionar a túbera-semente inteira de boa qualidade, em três partes: basal, mediana e distal; em seguida, cada parte será seccionada no sentido vertical, em pedaços de 50 a 70 g, os quais podem ser denominados de minitúberas. O plantio das minitúberas deve ser realizado em sementeiras ou canteiros. Quando as mudas atingirem um crescimento vegetativo de 20-30 cm (30 a 60 dias após o plantio) podem ser transferidas para o local definitivo (campo). Essa técnica proporciona uniformidade do estande, redução nos custos de produção pelo uso de menor quantidade de túberas-semente, maior quantidade de túberas comerciais e sementes produzidas em função do estande.

Micropropagação - Técnicas alternativas para propagação in vitro de plantas, quando se pretende manter o g e n ó t i p o d a p l a n t a - m ã e , a homogeneidade do material vegetal propagado, e obter plantas precoces e livres de doenças (Cazé Filho, 2002).

Com o propósito de viabilizar a clonagem do inhame (Dioscorea sp.), desenvolveram trabalho de pesquisa, no Laboratório de Cultura de Tecidos Vegetais da Emepa, onde estudaram os efeitos dos meios de culturas e dos reguladores de crescimento sobre a micropropagação. A clonagem do inhame in vitro foi possível nos meios de culturas de Murashige & Skoog (1962) MS, MS modificado e suplementados com cinetina (0,5; 1,5;

-12,5; 3,5 mg L ) e ácido indolbutírico

Superadensamento - Técnica alternativa que consiste em plantar pedaços de túberas-semente de 50 a 100 g da cultivar inhame-da-costa, no espaçamento 20 x 20 cm (250.000

-1plantas ha ) ou 25 x 25 cm (160.000 -1plantas ha ), em canteiros com

dimensões de 1,20 m de largura e comprimento de tamanho variável. Eliminar as túberas-semente que a p r e s e n t a r e m s i n t o m a s d e fitonematóide da casca-preta. Realizar adubação orgânica básica e uniforme por canteiro. O ponto de colheita ocorre quando as plantas alcançam à maturação, caracter izada pela senescência das folhas.

Processo natural - As túberas originárias da colheita do inhame, aos 270 dias após o plantio, com peso até 700 g devem ser selecionadas como sementes, sendo denominadas de sementes “lisas” ou “inhaminhos”. Quando provenientes de cultivos bem conduzidos essas pequenas túberas constituem um material de partida de excelente qualidade para uso nos plantios subseqüentes. Entretanto, sua produção é pequena e insuficiente para atender à demanda por sementes de boa qualidade.

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-1(0,1 mg L ), e com cinetina (1,0; 2,0; -13,0 mg L ) e benzilaminopurina (1,0;

-12,0; 3,0 mg L ). A tuberização in vitro foi conseguida em meios de culturas suplementados com cinetinas, aos 120-159 dias após a inoculação dos explantes.

Apesar dos resultados obtidos, ainda, não satisfazerem as expectativas de sua clonagem, em larga escala, novas pesquisas serão desenvolvidas, na busca de obter material propagativo com características agronômicas desejáveis. As diferentes técnicas de cultivo in vitro de órgãos ou tecidos vege t a i s desempenham pape l importante na micropropagação ou regeneração de espécies de plantas que se deseja trabalhar (Santos et al., 2006b).

ESPAÇAMENTO EÉPOCA DE PLANTIO

Espaçamento

Nos cu l t i vos de s eque i ro , recomendam-se os espaçamentos de

-11,20 x 0,60 m (13.889 plantas ha ) para sistemas mecanizados e 1,20 x 0,80 m

-1(10.417 plantas ha ) ou 1,00 x 0,80 m

-1(12.500 plantas ha ) para plantios não mecanizados. Nos cultivos irrigados,

-11,20 x 0,50 m (16.667 plantas ha ) ou -11,00 x 0,50 m (20.000 plantas ha ).

Época de plantio

O plantio deve ser efetuado em época que possibilite à cultura

condições climáticas favoráveis, desde a emergência das plantas até a fase de florescimento, que é o período mais crítico da cultura. Entretanto, o fator que mais condiciona a escolha da época de plantio para o inhame é a disponibilidade hídrica, no período de crescimento da planta.

Na Região Nordeste do Brasil, o cultivo do inhame é conduzido irrigado e em regime de sequeiro. Para o cultivo irrigado, normalmente, o plantio é realizado nos meses de setembro e outubro, época de baixo regime pluvial, cons iderado insuf ic iente para promover o franco crescimento das plantas. Os cultivos de sequeiro são ainda os mais comuns em toda a região, estando na dependência direta das primeiras chuvas que, geralmente, ocorrem nos meses de janeiro a março, período que normalmente é realizado o plantio.

PRÁTICAS DE CULTIVO

Preparo do solo

Fazer aração e gradagem com antecedência ao plantio, incorporando plantas daninhas e restos de culturas ao solo. Próximo à época de plantio, efetuar nova aração e gradagem.

Plantio

O plantio pode ser feito em matumbos ou camalhões . Os matumbos são feitos com enxada manual, no tamanho de 0,40 x 0,40 x 0,40 m e os camalhões com enleiradeira tracionada por trator. Nos dois sistemas, no alto e no centro da cova, a 10 cm de profundidade, deve ser plantada a túbera-semente de boa qualidade (sem podridão verde, isentas de sintomas de nematóides da casca preta, de meloidogynose, sem danos mecânicos ou causados por pragas e doenças), de variedade comercial de potencial produtivo e expressão econômica.

Controle de plantas daninhas

Realizar capina manual à enxada sempre que necessário. A cobertura

Proliferação/alongamento de gemas de inhame cultivadas in vitro, em meio MS suplementado com 1,5 mg/L Kin

morta é recomendada entre fileiras de plantas, com uma boa camada de palhas, restos de culturas, capim seco, logo após o plantio. O consórcio com culturas leguminosas é uma boa prática.

Tutoramento

Prática necessária para orientar o crescimento e desenvolvimento vegetativo da planta, por ser uma espécie trepadeira e de caule herbáceo.

a) Tutoramento tradicional - Colocar, ao lado da planta, uma vara de 1,80 m de comprimento e 2,5 cm de diâmetro, no plantio ou quando a planta atingir 30 a 40 cm de altura, para enrolamento do ramo principal, evitando assim o seu quebramento ou contato direto com o solo, que pode provocar a queima da ponta do ramo, afetando o seu desenvolvimento. Sistema agressivo ao meio ambiente, pelo uso de varas.

b) Espaldeiramento - Alternativa para substituição do sistema de varas. Usar estacas de 2 a 2,20 m de comprimento, no distanciamento de 8 a 10 m, em linhas de 50 m, e um fio de arame 12 liso galvanizado em torno de 1,20 a 1,40 m de altura do solo. As linhas de arame devem ser localizadas entre duas fileiras de plantio, sendo o crescimento das plantas orientado por um barbante até o arame da espaldeira. Sistema benéfico para a preservação ambiental.

Fertilização orgânica

Na fertilização orgânica podem ser utilizados estercos de curral, dejetos de aves e outros materiais. Recomendam-

-1 -1se 12 t ha de esterco de curral ou 4 t ha

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PRAGAS E DOENÇAS

Largata-da-folhagem

A lagarta da folhagem (Pseudo plusia oo) da ordem Lepidóptera e família Noctuidae é a principal praga nos cultivos de inhame. É um lepidóptero de coloração verde-claro, medindo de 25 a 35 mm de comprimento, possuindo uma linha clara, branco-amarelada em toda a extensão lateral-mediana do corpo. É facilmente notada pelos cortes irregulares e arredondados entre as nervuras do limbo foliar e pelo acúmulo de excrementos de cor negra, em forma de bolotas sobre as folhas e o solo.

Os adultos são mariposas de hábitos noturnos, de coloração marron pardacenta, com duas manchas brancas e brilhantes, de formas irregulares e arredondadas, em cada asa anterior.

As fêmeas depositam os ovos sobre as folhas, que servem como alimentos durante o desenvolvimento das lagar tas , produzindo or i f íc ios irregulares, cortes e rendilhamento do limbo foliar, provocando sérios prejuízos à cultura. É encontrada principalmente no estádio inicial de crescimento da planta, alimentando-se avidamente dos ramos e folhas das plantas. A época do aparecimento desta praga em lavoura de inhame está

condicionada às chuvas, nos cultivos não irrigados ou à irrigação por aspersão, nos cultivos irrigados. Os efeitos danosos do ataque da praga são verificados pela destruição do limbo da folha e, portanto, diminuição da fotossíntese, determinando um subdesenvolvimento das túberas e, c o n s e q u e n t e m e n t e , b a i x a produtividade.

Broca do caule do inhame

A broca do caule do inhame (Xystus arnoldi) atacando a cultura foi constatada pela primeira vez, no Estado da Paraíba. Todavia, não é muito comum o seu aparecimento nos cultivos conduzidos na mesorregião da Mata Paraibana, zona produtora dessa Dioscoreacea.

O adulto é um pequeno besouro de coloração preto brilhante e de a p r o x i m a d a m e n t e 4 m m d e comprimento e 3,5 mm de largura. Os machos apresentam um par de espinhos prosternais, recurvados e pontiagudos e uma profunda cavidade de 0,5 mm de diâmetro entre as duas patas anteriores. A larva da broca é de cor branco-leitosa, com cabeça escura e apresentando fortes mandíbulas bem desenvolvidas (Lopes et al., 1988). Quando ocorre o ataque dessa praga, observa-se o secamento progressivo do ramo p r i n c i p a l a c i m a d o c o l o , comprometendo o crescimento da plana e acarretando até sua morte.

Saúvas cortadeiras

As saúvas cortadeiras (Atta laevigatta) constituem uma espécie de formiga per tencente à ordem Hymenoptera e família Formicidae, tendo ampla distribuição geográfica. Estas formigas causam danos consideráveis nos plantios de inhame, principalmente, em plantas novas, chegando a quebrar o seu ramo principal e causar a sua morte.

A formação do formigueiro ocorre na época das chuvas. Os machos e as fêmeas realizam o acasalamento no ar e a fêmea fecunda, cai no solo, livrando-se das asas e iniciando a construção do sauveiro.

Em condições de armazenamento do inhame, pode-se registrar a incidência de algumas pragas atacando as túberas comerciais e sementes, em maior ou menor proporção, como broca da túbera, cochonilhas (Pseudococus sp.). Sugere-se como método de controle, um processo adequado de armazenamento.

Doenças

Pragas

Queima-da-folhagem ou pinta-preta

Doença causada pelo fungo Curvularia eragrostidis (Menezes, 1988), responsável por grandes prejuízos à cultura do inhame, na Região Nordeste do Brasil. A presença do patógeno afeta seriamente a plantação, provocando a formação de manchas mais ou menos circulares e necróticas nas folhas e hastes da planta. Ocorre em regiões com alta umidade relativa do ar e com chuvas freqüentes, normalmente, do quarto ao sexto mês do plantio. No início do ciclo vegetativo, sua infecção pode destruir a folhagem e comprometer inteiramente a produção.

O uso de plantas medicinais com propriedades antibióticas, assim como, o uso de plantas ricas em taninos despontam como uma alternativa ecológica de grande potencial de aplicação em um programa integrado de controle de doenças de plantas. Extratos de alho (Allium sativum) e gengibre (Zenziber officinale), como também de plantas cultivadas ricas em taninos como a acácia negra (Acacia mearnsii) estão sendo testadas pela Emepa na forma de pulverizações semanais na concentração de 5% no controle dessa doença.

de esterco de aves, aplicados, no plantio, sempre evitando contato do esterco com a túbera-semente por meio de uma camada de terra sobre o resíduo orgânico. Quando os resíduos não estão bem curtidos, devem ser aplicados 15 a 20 dias antes do plantio.

A pulverização foliar orgânica é uma boa alternativa, servindo também para o controle de pragas e doenças. A solução orgânica pode ser preparada com produtos sólidos (estercos) e líquidos (urina), diluídos em água durante 72 horas, no mínimo, tempo necessário para fermentação desses materiais. As aplicações da solução orgânica na concentração de 1% podem ser efetuadas aos 60, 90, 120 e 150 dias após o plantio.

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Casca-preta ou Casca-seca

Doença também conhecida como casca-seca causada pelo nematóide Scutellonema bradys, altamente limitante para o cultivo do inhame, afetando o valor comercial do produto. As sementes e túberas comerciais atacadas apresentam na superfície externa da casca uma podridão seca, preta ou marrom, visível a qualquer escarificação.

Meloidoginoses

As meloidoginoses do inhame são doenças causadas por nematóides do gênero Meloidogyne. Duas espécies desse gênero incidem com maior freqüência sobre o inhame, no Nordeste do Brasil: Meloidogyne incognita e Meloidogyne arenaria, apresentando alta incidência e severidade nas áreas de produção, ocasionando, em muitos casos, elevados prejuízos à produção e à comercialização.

O Meloidogyne incognita é o nematóide mais encontrado, que provoca danos ao sistema radicular, com a formação de inúmeras galhas (partes hipertrofiadas) dentro das quais vive como parasito sedentário. Túberas parasitadas por Meloidoginose apresentam pequenos tumores superficiais ou galhas irregularmente distribuídas sobre suas cascas, chegando a cobrir toda a extensão das mesmas. Uma proliferação anormal de r a í z e s s e c u n d á r i a s ( “ t ú b e r a s cabeludas”) e “bolba” são sintomas freqüentes nas túberas, também, parasitadas por este nematóide. Observações sintomatológicas em inhame também foram feitas por outros autores (Acosta & Ayala, 1975; Moura & Freitas, 1983).

A incorporação de culturas a r m a d i l h a s c o m o : c r o t a l a r i a (Crotalaria juncea e spectabilis), m u c u n a - p r e t a ( S t i z o l o b i u m a t e r r i m u m ) , f e i j ã o - d e - p o r c o (Canavalia ensiformis), feijão-guandu (Cajanus cajan), feijão lab-lab (Dolichos lab-lab), cravo-de-funto (Tagetes erecta) e de manipueira de mandioca, bem como a consorciação com essas espécies promovem controle eficiente de fitonematóides do solo, de infecção nas raízes de inhame, da vegetação daninha, além de servir como adubo verde e excelente fonte de nitrogênio para melhorar a fertilidade do solo.

A incorporação dos adubos verdes deve ser realizada noventa dias após o plantio, na floração. As plantas devem ser cortadas com roçadeira e incorporadas com grade, ao solo. Trinta dias depois, realizar o plantio do inhame. Recomendam-se, ainda, um bom preparo do solo; arações e gradagens com antecedência ao plantio; plantar túberas-semente s a d i a s ; u t i l i z a r s o l o s n ã o contaminados; evitar excesso de umidade no solo, principalmente após 210 dias do plantio. Em consorciação, essas espécies devem ser plantadas entre fileiras de inhame, após o plantio.

Coração oco do inhame - defeito fisiológico induzido pelo fornecimento irregular de água, solos muito férteis com excesso de adubação nitrogenada e

Deformações - as deformações ocorrem durante a fase de tuberização do inhame sob condições desfavoráveis aos tubérculos, como: preparo inadequado do solo, temperaturas altas, falta de oxigenação nas raízes, práticas culturais mal feitas (capinas e amontoas) e retardamento da colheita. Essas deformações podem ser controladas por meio de um bom preparo do solo (arações profundas, gradagem), tratos culturais bem conduzidos, colheita na época ideal, evitando retardamento da mesma, manter o solo com teor adequado de matéria orgânica para o movimento da água e do ar.

Defeitos fisiológicos e Deformações

deficiência de boro no solo (Santos, 1996). Caracteriza-se pela presença de uma cavidade irregular no centro do tubérculo de coloração marron-escuro.

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COLHEITA EPRODUTIVIDADE

A época de colheita é determinada por ocasião do amarelecimento das folhas e secagem dos ramos que indicam o final do ciclo vegetativo, aos nove meses após o plantio. Quando o negócio é produção de sementes, realiza-se uma colheita antecipada, aos 210 dias após o plantio, pela técnica tradicional da “capação”.

A produtividade, nos cultivos de sequeiro, bem conduzidos, varia de

-112.000 a 15.000 kg ha ; nos cultivos irrigados, também, bem conduzidos,

-1atinge 20.000 a 25.000 kg ha .

CONSIDERAÇÕES FINAIS

wO cultivo do inhame em sistema tecnificado promove incremento de produção e produtividade; melhor qualidade do produto e preservação ambiental, possibilitando maior oferta para atender os mercados consumidores, conseqüentemente, incrementando o retorno econômico para o agricultor; além de gerar emprego e mais renda na Região.

Para viabilizar a exploração dessa cultura, com incremento de produção e resultados econômicos satisfatórios para os produtores, sugerem-se estruturar a cadeia produtiva, fortalecer os atuais sistemas de produção, potencializar o uso das recomendações técnicas disponíveis, ampliar as pesquisas e desenvolver tecnologias p a r a s i s t e m a s d e p r o d u ç ã o agroecológicos.

wA capacitação e atualização dos agricultores, bem como a organização dos serviços de apoio, nos Estados produtores dessa Dioscoreácea, são fundamentais para o desenvolvimento sustentável da cultura na Região.

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