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Estilos de vida e informação sobre alimentação e nutrição: Impacto da pandemia causada pelo Covid-19 Lifestyles and food and nutrition information: Covid-19 Impact Osvaldo Filipe Saraiva Teixeira ORIENTADO POR: Prof.ª Doutora Cláudia Afonso COORIENTADO POR: Dr.ª Maria Antónia Pereira Ferreira TRABALHO DE INVESTIGAÇÃO 1.º CICLO EM CIÊNCIAS DA NUTRIÇÃO | UNIDADE CURRICULAR ESTÁGIO FACULDADE DE CIÊNCIAS DA NUTRIÇÃO E ALIMENTAÇÃO DA UNIVERSIDADE DO PORTO TC PORTO, 2020

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Estilos de vida e informação sobre alimentação e nutrição: Impacto da pandemia causada pelo Covid-19 Lifestyles and food and nutrition information: Covid-19 Impact

Osvaldo Filipe Saraiva Teixeira ORIENTADO POR: Prof.ª Doutora Cláudia Afonso COORIENTADO POR: Dr.ª Maria Antónia Pereira Ferreira TRABALHO DE INVESTIGAÇÃO 1.º CICLO EM CIÊNCIAS DA NUTRIÇÃO | UNIDADE CURRICULAR ESTÁGIO FACULDADE DE CIÊNCIAS DA NUTRIÇÃO E ALIMENTAÇÃO DA UNIVERSIDADE DO PORTO

TC PORTO, 2020

i

Resumo e Palavras-Chave

Introdução: O local de trabalho deve ser encarado como um local privilegiado de

promoção de estilos de vida saudáveis na população.

Objetivos: Caraterizar os estilos de vida e informação sobre alimentação. Avaliar

o impacto da pandemia no estado de saúde e autoperceção do mesmo.

Métodos: Participaram no estudo um total de 152 (28%) de 550 colaboradores

através de questionário online que incluía informação sociodemográfica, estilos

de vida e seus determinantes impostos pela covid-19 com impacto na

autoperceção do estado de saúde, IMC entre outros. Foram incluídas questões

sobre o consumo das refeições dentro do horário de trabalho, com enfoque

especial às realizadas em locais da responsabilidade da Autarquia. Foi realizado

um modelo de regressão logística binária, calculado o Exp β e respetivos intervalos

de confiança a 95%.

Resultados: A amostra é quase, 3/4 do sexo feminino (71,1%) com elevado nível

de escolaridade (95%). Na sua maioria dos participantes considera-se “saudável”

(80,6%), sendo que a doença mais vezes reportada foi a depressão (20%) e 40%

aumento de peso. Com a pandemia, 41% da amostra referiu diminuir a prática de

atividade física e só 12% reportou melhorias relativamente ao sono. 17,4% da

amostra referiu ter melhorado os seus hábitos alimentares e 15,5% reportou o

oposto. Identificou-se ainda, um aumento do IMC com significado estatístico,

associado às alterações negativas reportadas durante a pandemia causada pela

Covid-19 (Exp ß =1,180 e IC 95%: 1,020 – 1,366).

Conclusão: Destaca-se a necessidade de promover programas de intervenção de

promoção de estilos de vida saudáveis na Autarquia de forma a inverter aumento

de peso observado.

ii

Palavras-chave: Promoção de saúde; hábitos alimentares; intervenção alimentar;

alimentação no local de trabalho; impacto da Covid-19.

iii

Abstract and Keywords

Introduction: The workplace should be seen as an important place to promote

population healthy lifestyles.

Objectives: Evaluate health lifestyles and food/nutrition information. Assess the

pandemic impact on health status and self-perceived health condition.

Methods: A total of 152 (28%), among 550 employees participated in an online

questionnaire to gather data on sociodemographic characteristics, lifestyles and

health determinants imposed by covid-19 with impact on self-perceived health

condition, IMC and others. It was also asked about the usual place were meals take

place during worktime with special attention to those made in city hall facilities.

It was used a binary logistic regression and calculated the Exp β with 95%

confidence interval.

Results: Female individuals were approximately ¾ of the sample (71,1%) with

higher education levels (95%). Most respondents assumed to be healthy (80,6%)

although they reported medical diagnosed Depression (20%) and about 40%

increased weight. During pandemic situation, 41% reported a decrease in physical

activity and only 12% stated better night sleep. Only 17,4% reported better health

habits while 15,5% assumed otherwise. It was identified an increased BMI, with

statistical significance, associated to negative behaviors during Covid-19 (Exp ß

=1,180 e IC 95%: 1,020 – 1,366).

Conclusion: The findings highlighted the need to implement nutritional

interventions in the referred workplace to reverse the weight gain.

Keywords: Health promotion; eating habits; nutritional intervention; eating in

workplace; Covid-19.

iv

Lista de abreviaturas, siglas e acrónimos

AF - Atividade Física

CMG – Câmara Municipal de Gondomar

IMC – Índice de massa corporal

OMS – Organização Mundial de Saúde

v

Sumário

Resumo e Palavras-Chave ................................................................... i

Abstract and Keywords .................................................................... iii

Lista de abreviaturas, siglas e acrónimos ............................................... iv

1. Introdução ................................................................................. 1

2. Objetivos .................................................................................. 2

3. Metodologia ............................................................................... 3

4. Resultados ................................................................................. 6

5. Discussão ................................................................................. 11

6. Conclusões ............................................................................... 13

Agradecimentos ............................................................................ 14

Referências ................................................................................. 15

1

1. Introdução

De acordo com a Organização Mundial da Saúde o local de trabalho é num local

privilegiado para a promoção de estilos de vida saudáveis, uma vez que nele se

passa uma parte considerável do tempo(1).

Em média os portugueses trabalham 35,8h por semana(2) e durante este período

de tempo podem estar sujeitos à oferta alimentar disponibilizada nos locais de

trabalho, assim sendo estes locais podem-se revelar como uma janela de

oportunidade de forma a promover(3, 4) e influenciar hábitos alimentares

saudáveis(5). Uma das formas que a população em geral encontrou para suprimir

este contexto foi através do recurso a refeições trazidas de casa, que apesar de

ser poder ser uma boa opção, levanta outras questões práticas no que se refere

ao tempo despendido e ao prévio planeamento necessário, sendo muitas vezes

uma opção conveniente(6). Importa assim promover conhecimentos sobre

alimentação que se traduzam em comportamentos mais saudáveis.

A forma como lidamos com a informação, a literacia alimentar é preponderante

para estimular e perpetuar hábitos alimentares saudáveis(7-9), com reflexo direto

nas intenções, nas escolhas e na compra de alimentos e bebidas integrantes dos

nossos hábitos alimentares(10).

Por outro lado, estar informado não é premonitório absoluto de ser capaz de, por

si só, seguir uma alimentação e estilos de vida saudáveis, a auto perceção do

estado de saúde(11, 12), as preferências(13, 14) e os determinantes ambientais(15, 16)

são exemplos de outros fatores que necessitam estar devidamente reconhecidos

pelo indivíduo de forma a compreender como se associam aos seus hábitos e

comportamentos alimentares e assim intervir no sentido de ser possível assegurar

o melhor cumprimento das recomendações alimentares(17).

2

Na perspetiva da saúde comunitária, salientam-se dois pressupostos

objetivamente capazes, pelo modelo que lhes deu origem, moderar, melhorar e

ou conduzir os colaboradores às escolhas certas, sendo eles modelos de

intervenção comunitária da modificação da procura e da oferta, ou por transmitir

conhecimentos à população modificando a procura(18, 19) ou regulando e taxando a

oferta de acordo com o objetivo(20). Torna-se assim importante e ao mesmo tempo

prudente, recolher inicialmente informações referentes às características da

população a intervir(21) e aprofundar os conhecimentos e aspetos relevantes e

impactantes sobre a mesma que nos permita as abordagens mais assertivas (22, 23).

Salientando que o trabalho acontece no momento em que o mundo atravessa um

grande problema saúde pública devido à presente pandemia causada pela Covid –

19, tornando-se imprescindível auscultar a população, ainda que de forma

generalista, sobre alguns aspetos que possam ter causado alterações nos estilos

de vida e dos hábitos alimentares dos colaboradores da Câmara Municipal de

Gondomar (CMG) e o impacto que estas alterações podem e causam de forma

negativa nos determinantes para a saúde.

2. Objetivos

Caraterizar aspetos relativos aos estilos de vida dos colaboradores da CMG,

compreender o seu interesse por temáticas da alimentação/nutrição, assim como

avaliar o recurso e a satisfação com os bares e cantinas da responsabilidade da

CMG.

Avaliar o impacto da pandemia na autoperceção do estado saúde, peso corporal,

prática de atividade física (AF), número de horas de sono e hábitos alimentares.

3

Identificar os fatores associados às alterações no estado de saúde dos

colaboradores imposto pela Covid-19.

3. Metodologia

População e Amostra

De um total de 550 colaboradores, participaram no estudo 152 colaboradores,

perfazendo 28% do total dos colaboradores da CMG.

Métodos

Previamente foi efetuada uma revisão da literatura de modo a perceber qual a

melhor linha metodológica a seguir para dar cumprimento aos objetivos

estabelecidos, mais especificamente que informações seriam importantes integrar

no tipo de questionário a aplicar.

Elaborou-se um questionário estruturado de aplicação direta e para a finalização

do mesmo, foi realizado um estudo piloto em 3 adultos para testar o seu

fraseamento, compreensão e duração.

O questionário foi aplicado com recurso à plataforma online Google Forms da

U.Porto, garantindo assim a segurança dos dados recolhidos, o link para

preenchimento do mesmo foi enviado, via email dinâmico, a todos os

colaboradores da CMG, pela Senhora Vereadora do Pelouro da Coesão Social.

Importa referir, que este trabalho correspondeu a um repto lançado pela mesma,

ao Núcleo da Saúde deste Departamento, onde se insere o estagiário.

Questionário:

4

O questionário apresentado no Anexo A, foi adaptado da tese de licenciatura em

Ciências da Nutrição de Cláudia Pessoa(21) apresentado em 2019 e é constituído

pela seguinte informação:

- Sociodemográfica (sexo, idade, habilitações literárias, categoria profissional);

- Sobre o estado de saúde (autoperceção do estado de saúde, fatores com maior

influência na saúde, peso e altura reportados pelo próprio e a presença de

patologia(s)), No que se refere ao peso e altura, posteriormente procedeu-se ao

cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC), que foi categorizada de acordo com os

critérios da Organização Mundial de Saúde (OMS)(24);

- Sobre estilos de vida (prática de AF e hábitos tabágicos e número de horas de

sono). Para comparar os resultados encontrados no que concerne a atividade física

com os valores recomendados, recorreu-se ao preconizado pela OMS, 150 minutos

de atividade de intensidade moderada por semana ou 75 minutos de atividade

vigorosa por semana ou, ainda, uma combinação equivalente das duas

anteriores(25). Quanto às horas de sono utilizou-se como referência as

recomendações do National Sleep Foundation(26), 7 a 9 horas;

- Sobre procura de informação sobre alimentação: se existia esse interesse, onde

procuravam esta informação e quais os temas que suscitavam mais interesse por

diferentes áreas da nutrição;

- Sobre o local onde realizavam as suas refeições no período de trabalho (pequeno-

almoço, lanches e almoço) e a sua composição;

- Sobre o uso das estruturas fornecedoras de refeições/alimentos da CMG (bares

ou cantina), sua opinião sobre os mesmos e foi recolhida a sua opinião sobre a

forma como a CMG poderia melhorar a oferta de forma a dar cumprimento à

prática de uma alimentação saudável (questão em aberto).

5

- Sobre o impacto pandemia causada pela Covid-19 na autoperceção do estado de

saúde, no peso corporal, na prática de AF, no número de horas de sono e nos

hábitos alimentares.

De forma a ser possível analisar de forma sumária os desfechos em saúde causados

pela pandemia da Covid-19, criou-se uma nova variável. Os desfechos foram

categorizados da atribuindo uma pontuação negativa (-1) a desfechos favoráveis

e uma pontuação positiva (+1) a desfechos negativos, aos que referiram manter

os seus hábitos pontuou-se com “0”:

- Autoperceção do estado de saúde: se melhoraram (-1), se piorarem (+1)

- Peso: se aumentaram (+1), se diminuíram (-1)

- AF: se aumentaram (-1), se diminuíram (+1)

- Horas de sono: se aumentaram (-1), se diminuíram (+1)

- Hábitos Alimentares: se melhoram (-1), se pioraram (+1)

Posteriormente, foi criado uma variável correspondente às somas dos

comportamentos supracitados de forma a proceder à sua dicotomização.

Aos comportamentos com pontuação negativa foi atribuído o valor “0” e “1” para

quem apresentava valores se soma positivos. Pela soma das variáveis, quem

obteve a pontuação “0”, não foi considerado para a análise estatística, pois

significava que em nada se alterarem os seus hábitos.

Análise estatística dos dados:

A análise estatística dos dados recolhidos foi realizada no programa Statistical

Package for Social Sciences (SPSS), versão 26.0. Procedeu-se à análise descritiva

das variáveis do questionário através da frequência das observações estatísticas

6

(medidas de tendência central). Avaliou-se a distribuição da normalidade das

variáveis cardinais através do teste Kolmogorov-Smirnov.

De forma a identificar as variáveis independentes associados comportamentos

negativos associados à pandemia COVID 19, foi realizado um modelo de regressão

logística binária, tendo sido calculado o Exp β e respetivos intervalos de confiança

a 95%. O modelo foi construído com recurso às seguintes variáveis: sexo

(dicotómica), idade (contínua), categoria profissional (categórica), se considera a

alimentação determinante da saúde (dicotómica), IMC (continua), se é fumador

(dicotómica), se tem por hábito pesquisar sobre alimentação e nutrição

(dicotómica) e se faz refeições considerando os recursos disponíveis pela CMG

(dicotómica).

Para esta regressão foram rejeitados 3 participantes que não tinham respondido a

perguntas relacionadas com o outcome estudado (2 em relação à prática de AF e

1 relativamente ao peso). Rejeitou-se a hipótese nula quando p < 0,05.

4. Resultados

Caraterização da amostra

A amostra apresenta uma mediana de idade de 47 anos (IIQ=12), e 71,1% é do sexo

feminino.

Foi encontrada uma prevalência elevada do nível de escolaridade elevado (56,6%)

e quanto à categoria profissional foram na sua maioria, técnicos superiores e

assistente/coordenadores técnicos. Quando questionados em relação à

autoperceção de saúde, cerca de 60% dos participantes declararam sentirem-se

saudáveis. Relativamente ao peso, cerca de metade dos colaboradores

7

apresentava excesso de peso (pré-obesidade e obesidade) sendo o índice de massa

corporal (IMC) médio da amostra de 25,28 Kg.m-2 (d.p.=3,376).

A alimentação foi o fator mais referido pelos participantes como tendo influência

na saúde (41,3%), seguido da prática de AF (26,5%), a combinação destas duas

reúne o consenso de 45,2% da amostra. De destacar que 67 % dos colaboradores

referiu pesquisar sobre alimentação, sendo a internet o local privilegiado para a

procura (80,8%) (Tabela 1).

No que diz respeito às patologias que os colaboradores mais reportam, a de maior

incidência foi a depressão (20%), seguida da hipertensão arterial (13%), doenças

gastrointestinais (10%) e hipotiroidismo com (6,5%).

Em 32,9% da amostra verificou-se não praticar qualquer AF. Os locais preferenciais

para a prática de AF reportados foram ao ar livre e no ginásio. Relativamente aos

hábitos tabágicos, 15,5% é fumador e 7% de forma ocasional. Em média, pelos que

fumam, são reportados 12,3 cigarros/dia (d.p.=6,2). Relativamente às horas de

sono, a amostra descreve que em média dorme 6,7h/dia (d.p.=0,9).

Tabela 1. Caracterização sociodemográfica e dos estilos de vida dos colaboradores CMG

Variáveis Amostra

(n=152) Variáveis

Amostra

(n=152)

Sexo n (%)

Feminino

Masculino

108 (71,1)

44 (28,9)

Atividade Física n (%)

Cumpre Recomendações

Não Cumpre

86 (56,2)

66 (43,1)

Idade mediana (IIQ) 47 (12)

Hábitos tabágicos n (%)

Fumador

Não fumador

34 (22,2)

118 (77,1)

Escolaridade n (%)

Ensino básico 2º ciclo

1 (0,7)

Categoria Profissional n (%)

Assist. Operacional/ Encarregado

11 (7,2)

8

Ensino básico 3º ciclo

Ensino secundário

Ensino Pós-secundário não Superior

Ensino Superior

3 (2)

57 (37,5)

5 (3,3)

86 (56,6)

Assist. Técnico/Coord. Técnico

Técnico Superior

Informático/Policial/Fiscal

Dirigente

53 (34,9)

58 (38,2)

13 (8,6)

17 (11,2)

IMC n (%)

Peso normal

Pré-obesidade

Obesidade grau I

Obesidade grau II

72 (47,4)

66 (43,4)

13 (8,6)

1 (0,7)

Informação sobre Alimentação n (%)

Internet

Consulta com Nutricionista ou

Dietista

Livros

84 (80,8)

35 (33,7)

33 (31,7)

Fatores que influenciam a saúde n

(%) *

Alimentação

Atividade física

Fatores genéticos

Excesso de peso

Fumar

128

(41,3)

82 (26,5)

32 (10,3)

21 (6,8)

19 (6,1)

Temas de maior interesse n (%)

Culinária Saudável

Alimentação mediterrânea

Nutrição no desporto

*

120 (80,3)

41 (27)

35 (23)

Horas de sono n (%)

Cumpre Recomendações

Não Cumpre

137 (90,1)

15 (9,9)

Autoperceção estado de saúde n (%)

Nem saudável nem doente

Saudável

Muito saudável

36 (23,7)

90 (59,2)

26 (17,1)

Refeições da responsabilidade

CMG n (%)

Sim

Não

83 (54,2)

69 45,1)

*cada colaborador podia indicar mais do que uma opção.

Durante a pandemia, grande parte dos colaboradores considerou que manteve os

comportamentos questionados, porém destaca-se que 40,6% considera ter

aumentado de peso, 41% diminuiu a prática de AF, e uma proporção idêntica da

amostra referiu ter melhorado ou piorado os seus hábitos alimentares (Tabela 2).

Tabela 2. Impacto da Covid 19 na autoperceção do estado de saúde, no peso, na prática de atividade física,

no número de horas de sono e nos hábitos alimentares

Melhorou n (%) Igual n (%) Piorou n (%)

9

Autoperceção do estado de saúde 18 (11,6) 125 (80,6) 12 (7,7)

Peso 20 (12,9) 72 (46,5) 63 (40,6)

AF 21 (13,5) 68 (43,9) 64 (41,3)

Horas de sono 19 (12,3) 94 (60,6) 39 (25,2)

Hábitos Alimentares 27 (17,4) 101 (65,2) 24 (15,5)

Antes do confinamento, 73,5% tomavam o pequeno almoço e 43% almoçavam em

casa e apenas 14% almoçavam na cantina. No que se refere ao lanche, 25% da

amostra, refere que o realiza no bar da CMG. As sugestões indicadas pelos

colaboradores relativas à oferta alimentar fornecida nos locais afetos à CMG, são

as apresentadas na Tabela 3, previamente organizadas por temas afins. Nesta

questão, 37,3% da amostra não referiu qualquer sugestão.

Tabela 3. Sugestões indicadas pelos colaboradores relativas a melhorias a

implementar aos bares e cantinas CMG

n (%)

Sem opinião 57 (37,3)

Introduzir a venda/disponibilizar fruta 22 (14,4)

Introduzir mais sopas e saladas (vegan n=4) 19 (12,4)

Introduzir refeições e alimentos mais saudáveis (sem especificar) 16 (10,4)

Satisfação com os serviços 8 (5,2)

Melhorar a confeção e as quantidades servidas (quantidade a mais aos almoços) 6 (3,9)

Ação direta dos responsáveis (formação) 3 (1,96)

*a soma das percentagens é superior a 100, pois os inquiridos podiam referir mais do que uma hipótese de escolha.

O resultado da regressão logística encontra-se descrito na Tabela 4. A análise não

ajustada demonstrou que o sexo masculino parecia estar associado a uma menor

10

probabilidade de ter comportamentos negativos pela pandemia, porém após

ajuste para as restantes variáveis incluídas no modelo esta associação deixou de

ter significado estatístico (Exp ß =0,414 e IC 95%: 0,156 – 1,092). Encontrou-se

apenas uma relação com significado estatístico positivo entre os comportamentos

negativos e o IMC, pelo que os colaboradores com maior IMC reportaram mais

comportamento negativos (Exp ß =1,180 e IC 95%: 1,020 – 1,366).

Estas variáveis independentes preveem 23% da dependente (R2 Nagelkerke =

0,234), comportamentos negativos reportados na pandemia causada pela Covid-

19.

Tabela 4. Identificação de fatores associados a comportamentos negativos causados pela pandemia

Covid-19

Variáveis Exp ß não ajustado

(IC 95%)

p Exp ß ajustado (IC 95%)

p

Sexo (Feminino) Masculino

1 0,401

(0,185 – 0,871)

0,021 1 0,412

(0,156 – 1,092)

0,074

Idade (anos) 1,017 (0,982 – 1,055)

0,343 1,006 (0,954 – 1,061)

0,813

Categoria profissional (Assistente Operacional) Assist. Técnico/Coordenador. Dirigente Informático/Policial/Fiscal Técnico superior

1

0,316 (0,060 – 1,665)

1,125 (0,127 – 9,943)

0,179 (0,026 – 1,228)

0,196 (0,038 – 1,020)

0,174

0,916

0,080

0,053

1

0,188 (0,019 – 1,836)

0,796 (0,052 – 12,216)

0,205 (0,013 – 3,246

0,103 (0,010 – 1,022)

0,151

0,870

0,261

0,052

Seleciona a alimentação como fator determinante para a saúde (Não) Sim.

1

1,676 (0,673 – 4,170)

0,267

1

2,154 (0,613 – 7,561)

0,231

IMC (Kg/m2) 1,110 (0,986 – 1,251)

0,085 1,180 (1,020 – 1,366)

0,026

Hábitos tabágicos (Não) Sim

1 0,980

(0,422 – 2,274)

0,962

1 1,202

(0,381 – 3,794)

0,753

Procurar informação sobre nutrição /alimentação. (Não)

1

1

11

Sim 0,600 (0,279 – 1,292)

0,192 0,430 (0,161 – 1,152)

0.93

Faz alguma refeição em locais da responsabilidade CMG (Não) Sim

1

1,194 (0,592 – 2,408)

0,621

0,986 (0,409 – 2,377)

0,975

5. Discussão

O objetivo do presente estudo foi, o de compreender em que circunstancias e de

que forma a pandemia decretada por Covid-19, nomeadamente o isolamento físico

social teve impacto nos estilos de vida de um modo geral e sobre os hábitos

saudáveis em particular nos colaboradores de uma autarquia. De acordo com a

literatura são os indivíduos do sexo feminino(27, 28) que mais razões têm para se

preocupar com a nova realidade(29), de onde resultam algumas semelhanças, em

certos aspetos, aos períodos de férias(30) onde o aumento de peso corporal é uma

realidade(31), no presente estudo 40,6% referiu ter aumentado de peso. Outra

caraterística da nossa sociedade que se revela de extrema importância para os

resultados, é o facto da população portuguesa ter uma alta prevalência de excesso

de peso, no caso seis em cada dez portugueses são pré obesos ou obesos(32), e que

este fator coloque ainda mais pressão ou seja exponencial ao facto ou

premonitória de um ciclo vicioso daqueles que já se encontravam em excesso de

peso(33). De forma geral podemos estabelecer uma relação homóloga à observada

na nossa amostra pela prevalência de ambos critérios e dessa forma explicar o

facto de ser, o IMC, a variável com significado estatístico associada aos desfechos

negativos durante a pandemia causada pela Covid-19. Por outro lado, e sendo

também uma limitação do estudo, é a baixa prevalência de indivíduos do sexo

masculino a participarem no estudo, provavelmente por este facto não foram,

aqui, encontradas associações com os desfechos negativos durante a pandemia

que pode favorecer o achado anterior, uma vez que o modelo de a regressão

12

logística foi ajustado para as variáveis como o IMC e a prática de AF que

normalmente são menos prevalentes nos homens(34-36).

Da análise dos dados recolhidos, foi notório a elevada prevalência do número de

horas de sono abaixo das recomendações, mais uma vez, sobreponível ao que

acontece em férias(37). Evidente é também a prevalência da depressão(35), como a

doença mais vezes diagnosticada (20%) no presente estudo a par do que acontece

com outros estudos com objetivos idênticos (21) (22%), muitas vezes acentuada em

situações de isolamento(33). Duas situações diferentes mas com desfechos

idênticos, mais do que ficar em casa ou a ausência das habituais rotinas, é a forma

como ambas situações atuam como facilitador da alteração dos padrões e dos

hábitos alimentares(31).

Uma limitação deste estudo prende-se pelo facto de a amostra ser pouco

representativa relativamente às habilitações literárias, o que nos inviabiliza poder

inferir para a população de colaboradores da CMG, ainda que esta amostra

represente 28% do total dos colaboradores desta autarquia. Porém neste estudo,

não sendo obrigatório a participação no mesmo, por certo foram os colaboradores

mais interessados nas temáticas que o integraram, logo é possível que existam

colaboradores que necessitam de promover a sua literacia alimentar(38, 39) que

foram excluídos desta análise, colaboradores esses onde a aplicação das

metodologias e das estratégias alimentares são manifestamente mais necessárias.

No entanto, apesar da amostra ser constituída por 96% de indivíduos com o ensino

secundário e superior e que, 67% tem por hábito fazer pesquisas na internet, onde

80% das pesquisas dizem respeito à culinária saudável, ainda assim a nossa amostra

apresenta 20% dos participantes que fumam e 43% que não cumprem as

orientações para a prática de AF, o que por um lado nos alerta para alguma

13

desinformação(40) que persiste e que pode influenciar os mais iludidos pelas

novidades que poderão distanciar-se da informação basilar(41). Mais ainda, com a

elevada autoperceção do estado de saúde que a amostra declara, não seja de todo

ideal, o que as pessoas mais identificam como sendo saudável.

6. Conclusões

Deste estudo concluiu-se que os colaborados da CMG que manifestaram interesse

no questionário, são detentores de categorias profissionais mais altas,

nomeadamente dirigentes e que afirmaram fazer refeições em locais da CMG com

alguma frequência, ressalvando a existência do interesse e confiança. Nesta

população os colaboradores maioritariamente definem-se como saudáveis ainda

que parte considerável apresente excesso de peso e sedentarismo. Existe interesse

e preocupação pelas temáticas da nutrição/alimentação, sendo a internet o local

de eleição para a sua procura. No que se refere às sugestões enunciadas pelos

participantes para a melhoria da oferta alimentar em locais afetos à CMG,

destaca-se pelo seu caracter frequente, a intenção de ter uma oferta mais

saudável.

Relativamente à pandemia, não é reconhecido na autoperceção do estado de

saúde o inegável impacto da situação pandémica, pelo que esta se mantém,

mesmo quando é incontestável que os hábitos alimentares se alterem, que a

prática de AF diminua e dê lugar a um manifesto aumento do IMC.

14

Agradecimentos

Obrigado à Beatriz Teixeira por aquele último empurrãozinho.

15

Referências

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ANEXOS

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ANEXO – QUESTIONÁRIO: ESTILOS DE VIDA E INFORMAÇÃO SOBRE ALIMENTAÇÃO

E NUTRIÇÃO: IMPACTO DA PANDEMIA CAUSADA PELA CIVID 19

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