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a b ú a c a c a M a d a P r i ó e d d a e s m er a r d age m T&C Amazônia FUCAPI Ano I - Número 1II - Dezembro de 2003 . ISSN - 1678-3824 Publicação Quadrimestral da FUCAPI - Fundação Centro d Análise, Pesquisa e Inovação Tecnológica. O Desafio do Desenvolvimento Sustentável na Amazônia Charles Clement Adalberto Val José Arnaldo de Oliveira Biopirataria desafia o Brasil a Tomar conta da Amazônia Reportagem A Biodiversidade no Estado do Acre: Conhecimento Atual, Conservação e Perspectivas Moisés de Souza Marcos Silveira Maria Rosélia Lopes Lisandro Vieira Edson Guilherme Armando Calouro Elder Morato P ó de s erra g e m d a madeir a M u ir ap ir a ng a Estratégias do governo para resgatar a economia e preservar os recursos naturais do Estado Entrevista com Virgilio Viana ,Secretário de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Estado do Amazonas C a v a a c o b d ú e a s c er a ra g c e m d a a madeira da M P ó de s e rr ag e m d a ma d e i r a R o x i n h o , t a m b é m c h a m a d a d e V i o l e t a . a b ú i r a u G a d a r i e d a m a d m e g a r r e s C e a v d aco a P d a l m m e e g i r a a r r d e s o e T d u c o u c m a v ã a . C P ó d e s e r ra g e m d e P a u R a i nh a

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Biodiversidade e Exploração Sustentável

No próximo número, T&C Amazônia estará privilegiando o tema Biodiversidade, discutindo idéias, conceitos, iniciativas ou projetos que sejam capazes de contribuir para a transformação da realidade econômica regional, sem dissociá-la da premissa da sustentabilidade.

Uma lista não exaustiva de assuntos de especial interesse para essa edição contempla:

Relato de iniciativas envolvendo comunidades ao redor de projetos econômicos bem sucedidos, que utilizem recursos da biodiversidade como matéria-prima;

Apresentação de resultados de pesquisas que comprovem o potencial dos recursos da biodiversidade amazônica;

Descrição de casos reais e proposição de mecanismos para o combate à biopirataria;

Iniciativas para a preservação e proteção intelectual do conhecimento tradicional;

Preservação e manejo sustentável de espécies amazônicas;

Discussão da legislação existente e de projetos em tramitação;

Discussão do aparente antagonismo entre ocupação e soberania nacional sobre a Amazônia frente à necessidade de preservação;

Proposição de elementos de uma agenda positiva para a inserção da biodiversidade no desenvolvimento econômico sustentável, com especial ênfase à importância do Centro de Biotecnologia da Amazônia CBA e sua possível relação com as grandes corporações das indústrias farmacêutica e de cosméticos;

Avaliação dos resultados de intervenções de organizações não governamentais na realidade de comunidades locais.

Convidamos os interessados a submeterem suas contribuições, devidamente formatadas no padrão estabelecido pela revista, sob a forma de artigos ou comunicados técnicos, através do endereço eletrônico [email protected].

Todas as contribuições apresentadas serão avaliadas por uma equipe de profissionais especializados que colaboram com a revista, através de sistema blind review.

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M ad aP rió e d dae s me r ar dag em

T&CAmazônia

FUCAPI

Ano I - Número 1II - Dezembro de 2003 . ISSN - 1678-3824Publicação Quadrimestral da FUCAPI - Fundação Centro de

Análise, Pesquisa e Inovação Tecnológica.

O Desafio do DesenvolvimentoSustentável na AmazôniaCharles ClementAdalberto ValJosé Arnaldo de Oliveira

Biopirataria desafia o Brasila Tomar conta da Amazônia Reportagem

A Biodiversidade no Estado do Acre: Conhecimento Atual,Conservação e PerspectivasMoisés de SouzaMarcos SilveiraMaria Rosélia LopesLisandro VieiraEdson GuilhermeArmando CalouroElder Morato

Pó de serragem da madeira Muirapiranga

Estratégias do governo para resgatar aeconomia e preservar os recursos naturais do Estado Entrevista com Virgilio Viana ,Secretário de Meio Ambientee Desenvolvimento Sustentável do Estado do Amazonas

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E D I TO R I A L

No atual estágio evolutivo da sociedade, o conhecimento

tem alcançado o status de principal propulsor da

produtividade e, conseqüentemente, do desenvolvimento

econômico. Contribui de modo efetivo para a construção

de uma realidade para a qual tem sido cunhado o termo

sociedade do conhecimento.

A conquista de um nível superior de qualidade de vida

para uma parcela cada vez mais significativa de cidadãos – um

objetivo a ser coletivamente perseguido – não é um desafio a ser

sobrepujado apenas pela ampliação da capacidade da

sociedade de gerar ou absorver conhecimento. É necessário,

sobretudo, disseminá-lo, permitindo a sua disponibilização e

uso ampliados, estimulados por esse compromisso com a

construção do bem comum.

A mesma perspectiva que impõe ao conhecimento uma

performance econômica, catapulta ao desempenho de um novo

papel – agora de protagonistas – as variáveis informação,

tecnologia e aprendizado.

Associada a uma crescente codif icação do

conhecimento, observa-se uma demanda por soluções cada vez

mais arrojadas para a transmissão dos grandes volumes de

informação. Com isto, ampliam-se as redes de comunicação,

que por sua vez provocam a sofisticação dos requisitos técnicos

vigentes. Estas são as características do ambiente no qual tem

germinado a sociedade da informação.

A sociedade do conhecimento acelera o metabolismo da

sociedade da informação, e vice-versa. A informática é um

instrumento crucial para ambas.

Tomando parte nessa estimulante discussão, T&C

Amazônia dedica o espaço desta edição a uma diversificada

combinação de relato de projetos, apresentação de idéias e

opiniões, contribuições através de textos técnicos. Um mosaico,

em escala reduzida, representando as inúmeras possibilidades

de abordagem do amplo alcance da informática. Um tema

sempre atual, renovado, e talvez por isso mesmo inesgotável.

O propósito deste volume está fundamentalmente

voltado ao fomento de uma discussão que, justamente por essa

amplitude, exigirá sequência em edições futuras.

E T&C Amazônia não se furtará a oferecer espaço a esses

desdobramentos.

Os editores.

SUMÁRIO

ENTREVISTAEstratégias do Governo para Resgatar a Economia e Preservar os Recursos Naturais do EstadoVirgílio Viana........................................ 02

REPORTAGEMBiopirataria Desafia o Brasil a Tomar Conta da Amazônia.............................07

De Espécies a EspeciariasCláudio Ruy Vasconcelos da Fonseca, Maria de Fátima Mendes Acácio Bigi....16

O Desafio do Desenvolvimento Sustentável na AmazôniaCharles R. Clement, Alberto L. Val, José Arnaldo de Oliveira...............................21

REPORTAGEMA Pesquisa de Elementos da Biodiversidade na Amazônia.............32

Recursos Hídricos Urbanos - Proposta de um Modelo de Planejamento e Gestão Integrada e Participativa no Município de Manaus - AMAndréa Viviana Waichman, João Tito Borges...................................................39

Biodiversidade no Estado do Acre: Conhecimento Atual, Conservação e PerspectivaMoisés B. de Souza, Marcos Silveira, Maria Rosélia M. Lopes, Lisandro Juno S. Vieira, Edson Guilherme, Armando M. Calouro, Elder F. Morato.......................44

Redes Solidárias e Mercado Justo: Alternativas para a Planetaridade SustentávelMaria Katherine Santos de Oliveira, Regina Melo..........................................56

Industrialização Orientada para o Mercado Interno “versus” Industrialização Substitutiva de Importação + Industrialização Orientada para as ExportaçõesAntônio José Botelho............................60

Alternativas Sustentáveis de Gestão Ambiental na Construção Civil em ManausMaciel, Jussara Socorro Curi, Nogueira, Vicente Paulo Queiroz..........................67

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Estratégia do Governo para Resgatar a Economia e Preservar os Recursos Naturais do Estado

T&C Amazônia, Ano 1, no 3, Dez de 20032

ESTRATÉGIAS DO GOVERNOPARA RESGATAR A ECONOMIA EPRESERVAR OS RECURSOSNATURAIS DO ESTADO

Declarando-se comprometido com aefetiva implantação de um modelo econômicoque promete resgatar não só a dignidade dasobrevivência no interior do Estado, como a éticae as relações da geração atual com as geraçõesfuturas, o secretário de Meio Ambiente eDesenvolvimento Sustentável do Governo doAmazonas, VirgílioViana, aposta da posiçãoestratégica do Estado, que é o menosdegradado, e do País - o primeiro no rankingmundial dos países com maior cobertura deflorestas, para estabelecer parceriasinternacionais e assim incentivar a inovaçãotecnológica e uma maior acesso dos produtoreslocais ao mercado justo.

Nesta entrevista à T&C Amazônia,Virgílio Viana descreve os caminhos do projetoZona Franca Verde e fala também comopretende estimular o desenvolvimento,garantindo, ao mesmo tempo, a preservaçãoambiental no Amazonas, que já conta com umárea protegida, correspondente ao território totalda Costa Rica ou da Suíça. Ele não só acreditaque isto é possível, como afirma ter naspopulações tradicionais da Região os seusmaiores aliados.

T&C Amazônia - O que é o programaZona Franca Verde (ZFV) e em que contextoele se insere?

VV - É um programa de desenvolvimentosustentável que tem os tripés convencionais dasustentabilidade econômica, social e ambiental.

QUEM É VIRGÍLIO VIANA

Ph.D. formado pela Universidade de Harvard,professor da Esalq/USP e secretário de MeioAmbiente e Desenvolvimento Sustentável doEstado do Amazonas (SDS).

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3T&C Amazônia, Ano 1, no 3, Dez de 2003

Estratégia do Governo para Resgatar a Economia e Preservar os Recursos Naturais do Estado

Uma preocupação com a ética e as relaçõesda nossa geração com as gerações futuras. Elese insere num contexto de um Estado que é omaior do Brasil, é o menos degradado e é, depoisdo Brasil, o segundo lugar no rankinginternacional de cobertura de floresta tropicais.É um Estado que tem uma posição estratégicanão só para o Brasil como para o mundo.

Possuímos uma área superior àexistente na República Democrática do Congo,segundo colocado no ranking mundial dospaíses com maior cobertura de florestastropicais. O Brasil é o primeiro colocado. Porisso, essa posição estratégica do Amazonasprecisa ser utilizada com inteligência,transformando essa riqueza em oportunidadepara a melhoria da qualidade de vida,especialmente dos segmentos maisempobrecidos da população.

Além disso, o Programa Zona FrancaVerde foi concebido com a missão de enfrentaros descaminhos sociais e ambientais queacompanham o Amazonas desde o pós-cicloeconômico da borracha, no início do séculopassado, aliados aos desafios proporcionadospelas imensas distâncias, heterogeneidades,dificuldades logísticas e custos de transportedo maior Estado brasileiro. O resultado dissocriou grandes bolsões de pobreza eanalfabetismo, com fortes identidades culturais,sociais e étnicas.

T&C Amazônia - Quais os projetosque a Secretaria do Meio Ambiente estádesenvolvendo como prioritários entre osinúmeros que compõem o Zona FrancaVerde?

VV - São projetos direcionados paraações multisetoriais, de caráter transdiciplinar

e que envolvem articulações de quinzesecretarias em torno de programasmesorregionais, algumas dessas açõesdesenvolvidas pela própria Secretaria do MeioAmbiente e Desenvolvimento Sustentável. Umadelas está relacionada com o estímulo aomanejo florestal de pequena escala, onde nósjá tivemos um número muito grande de açõesfeitas. Há também o estímulo aoetnodesenvolvimento dos povos indígenas pormeio do planejamento participativo com ascomunidades indígenas. O licenciamentoambiental, o estímulo à produção de borrachae da castanha, enfim, são diversas realizações,como a educação ambiental, em parceria coma Seduc e outras diversas parcerias comsecretarias de Governo. Além disso, podemosincluir a criação de novas unidades deconservação no Estado.

As prioridades do programa incluemações emergenciais de melhoria de saúde eeducação, combinadas a ações de melhoria dasegurança alimentar, de manejo sustentável derecursos florestais e pesqueiros, além daproteção ambiental. A estratégia é baseada numenfoque de cadeia produtiva, direcionado pararesolver os gargalos identificados pelos atoressociais e agentes econômicos envolvidos.Esses desafios são diversos: regularizaçãofundiária, crédito, assistência técnica,tecnologias de produção e gestão apropriadas,infra-estrutura de transporte, energia ecomunicação; dentre outros.

T&C Amazônia - O Governo doAmazonas é reconhecido por seucompromisso com a conservação ambiental.De que maneira a Secretaria do MeioAmbiente e Desenvolvimento Sustentávelpretende estimular o desenvolvimento e ao

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Estratégia do Governo para Resgatar a Economia e Preservar os Recursos Naturais do Estado

T&C Amazônia, Ano 1, no 3, Dez de 20034

mesmo tempo garantir a manutenção dosrecursos naturais da Região?

VV - Estamos promovendo aconservação dos recursos naturais criandonovas unidades de conservação com um totalde 4, 2 milhões de hectares de áreas protegidasno Estado, o que equivale mais ou menos aotamanho da Costa Rica ou Suíça. Estamostambém estimulando o uso sustentável dosrecursos naturais por meio de uma nova lei deincentivos fiscais que promove a produçãosustentável e desestimula o desmatamento euso predatório da floresta.

Medidas de ordenamento ambiental elazer começam a ser implementadas com apoiode parcerias internacionais junto às reservas dedesenvolvimento sustentável, florestasestaduais, reservas extrativistas, parquesestaduais e outras unidades de conservação,pelo Ipaam e Florestas do Amazonas.

T&C Amazônia - Como o Estado doAmazonas pretende incentivar a inovaçãotecnológica de forma a se ampliar o lequedos produtos amazônicos? Alguma interfacecom as instituições de ensino e pesquisa?

VV - A inovação tecnológica éfundamental e para isso o Governo do Amazonasvia Secretaria de Ciência e Tecnologia e daFapeam vem desenvolvendo diversosprogramas. Um deles é o Programa Ciência eSustentabilidade, voltado exatamente pararesolver os gargalos tecnológicos das cadeiasprodutivas relacionadas com o desenvolvimentosustentável, e aí se encaixam a produçãoflorestal, pesqueira e a agropecuária. Então,esta é a forma de parceria com as instituiçõesde pesquisa do Estado e essa construção

institucional da área de ciência e tecnologia sedeu somente agora. Um exemplo prático dissoé a parceria com a FUCAPI, com quem estamosimplementando um programa de apoio ao PóloMoveleiro de Itacoatiara, incorporando tecnologiade design e fabricação de móveis, emcolaboração com o SENAI, SEBRAE, prefeitura,empresas privadas (Mil Madeiras e Gethal) eassociações de produtores locais.

T&C Amazônia - Qual o papel que aFapeam vai desempenhar no incentivo àinovação? Que estratégias o Governo doAmazonas pretende adotar para consolidara marca Amazônia, a nível internacional?

VV - A Fapeam já vem desempenhandoum papel muito importante no que diz respeitoà inovação tecnológica uma vez que ela é ainstituição responsável por isso. E o Governodo Amazonas tem a intenção de fortaleceraquilo que é sua logomarca original, o nomeAmazonas. E isso está sendo feito por meio daassociação do estado e das políticas de governocom o desenvolvimento sustentável. Uma facedisso é o estímulo às empresas que são doEstado, para que elas associem os seusprodutos a este programa.

T&C Amazônia - Os produtosamazônicos, embora bastante demandadosno mercado internacional, acabamesbarrando nos padrões de exigência dequalidade. De que forma o Governopretende certificar a qualidade dos produtosamazônicos e não só a procedência deles?

VV - Nós pretendemos usar acertificação como uma estratégia central daspolíticas de Governo. Inclusive na própria lei de

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5T&C Amazônia, Ano 1, no 3, Dez de 2003

Estratégia do Governo para Resgatar a Economia e Preservar os Recursos Naturais do Estado

incentivos fiscais inserimos o reconhecimentoda certificação como algo que merece umtratamento diferenciado. Nós estamostrabalhando com sistemas de certificação quesão aceitos no mercado tanto nacional quantointernacional, e nós queremos fazer com que acertificação se dê dentro dos mais exigentespadrões de qualidade que hoje são aceitos nomundo.

T&C Amazônia - Que canais oupossibilidades de acesso ao mercado justoo programa do Governo do Estado pretendeimplantar?

VV - O mercado justo cresce bastante.O Estado já tem acesso a isso e o melhorexemplo seria a exportação de guaraná dosindígenas saterês maué, na região de Maués,para a Itália, que consegue um preço muito su-perior ao praticado no mercado normal. Nósestamos trabalhando com diversas parceriasnacionais e internacionais, com objetivo deacessar o mercado justo ou mercado solidário.Existem outros projetos que estão emdiscussão como o cacau, a madeira, o cipó evários outros.

T&C Amazônia - A imagem que obrasileiro tem no mercado internacional éde que não tem consciência ecológica e nãosabe cuidar da Amazônia. O senhor acha queeste pode ser um empecilho ao acesso aomercado justo? Qual a estratégia para sereverter a negatividade dessa imagem?

VV - Não diria que a imagem é assim. Aimagem de que o brasileiro não tem consciênciaambiental, talvez, não seja apropriada para asociedade brasileira como um todo. Nós temos

sim, segmentos que promovem isso e que,aliás, promoveram a destruição da mataatlântica brasileira. Mas nos temos também, emuitas vezes isso passa despercebido,populações indígenas, pescadores e ribeirinhosque conservam a cobertura florestal. É funda-mental que a comunidade nacional einternacional de outros países veja nestaspopulações tradicionais os aliados maisimportantes para a promoção e a conservaçãoda Amazônia.

T&C Amazônia - E quanto à proteçãodos produtos decorrentes do incentivo àinovação e dos muitos que já estão nomercado? Qual a política para as patentes?

VV - É fundamental fazer com que estesprodutos tenham a sua proteção devida comoforma de incentivo ao desenvolvimento de novastecnologias e novos processos. É muitoimportante considerar o direito autoral daspopulações indígenas e tradicionais quepossuem um saber muito valioso e que,freqüentemente, não é adequadamente valoradoe recompensado pelos sistemas de produçãodo mundo.

T&C Amazônia - Para produzir econcorrer nos mercados nacional einternacional e também para ter visibilidadenas estatísticas de geração de empregos,os pequenos fabricantes precisam estarformalizados. De que maneira acontecerá oincentivo à legalização?

VV - A legalização está sendo feita pormeio de vários programas. Um deles é o ProjetoCidadão que estimula o acesso àdocumentação dos indivíduos. Além disso, nósestamos trabalhando com o objetivo de agilizar

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Estratégia do Governo para Resgatar a Economia e Preservar os Recursos Naturais do Estado

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as ações de legalização de todos os agenteseconômicos, especialmente, na área ambiental.O incentivo aos pequenos produtores é um dospontos estratégicos do programa de Governo.Um deles é o cartão Zona Franca Verde, que éum programa de crédito desburocratizado quevai de R$ 200 a R$ 3 mil para o cidadão quenormalmente está à margem do sistema. Nãotem conta bancária, não possui garantias paraempréstimos e precisa de pequeno aporte derecursos para melhorar sua capacidade deprodução.

T&C Amazônia - De que forma asecretaria do Meio Ambiente quer combatera Biopirataria, uma vez que sabemos que acriação de uma legislação específica parapreencher o vácuo jurídico que existe emrelação à preservação ambiental é funda-mental, mas não é tudo? Que outrasmedidas serão tomadas?

VV - Ao nosso ver a melhor forma decombater a biopirataria é estimulando o usosustentável da nossa biodiversidade. É muitodifícil fazer com que tenhamos sucesso apenascom as ações de polícia e de fiscalização. Nósprecisamos fazer com que a nossabiodiversidade seja usada, em primeiro lugar,por nós mesmos. Para isso precisamos termuita competência e muita qualidadetecnológica e capacidade de gestão empresarialde pequenos, médios e grandes negócios,especialmente aqueles voltados para o usosustentável da biodiversidade.

A implementação do desenvolvimentosustentável do Amazonas não é o desafio deum Governo apenas, mas sim, da sociedadetoda. Sem isso nosso futuro e o dos nossosfilhos e netos estará comprometido. Precisamos

construir uma ampla rede de parcerias, acimade interesses partidários, vaidades individuaise visões coorporativas.

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Biopirataria Desafia o Brasil a Tomar Conta da Amazônia

BIOPIRATARIA DESAFIA OBRASIL A TOMAR CONTA DAAMAZÔNIA

Com 5 milhões de hectares,correspondentes à metade de todo o TerritórioNacional, e uma bacia hidrográfica queconcentra um terço de toda água doce existenteno planeta, a Amazônia Brasileira está sendoalvo de uma escalada crescente por seusrecursos naturais, devido à ação dos chamadosbiopiratas, em sua maioria turistas epesquisadores estrangeiros, que fazem ocontrabando das riquezas da fauna e da floraamazônica, movimentando mundialmente US$20 bilhões / ano e constituindo a que hoje já éa terceira atividade ilícita do planeta, graçassobretudo ao interesse da indústria químico -farmacêutica internacional em conhecer eabsorver como matéria-prima as 20 milespécies botânicas e as mais de 100 milespécies de bichos, vertebrados, invertebradose microorganismos da Região.

Apesar de tão rica e por isso mesmoexaltada no mundo inteiro, entretanto, aBiodiversidade Amazônica continua a ser umdesafio para todos que por ela se interessam .Os pesquisadores que se dedicam a estudar adiversidade da vida na Região, se ressentemde que até agora somente 1% de todo opotencial amazônico seja conhecido e que, porfalta de fundos de amparo à pesquisa, o Brasil,muitas vezes, tenha que comprar de fora umatecnologia desenvolvida a partir de uma amostrafurtada da sua Amazônia. Nesta reportagem,eles são uníssonos ao afirmar que a falta deuma política nacional estratégica para orientar

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Biopirataria Desafia o Brasil a Tomar Conta da Amazônia

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as ações de Ciência e Tecnologia, a falta deinteresse e investimentos em pesquisa no Brasile a incapacidade, também brasileira, de setransformar conhecimento em inovação são osprincipais fatores para que o interesseinternacional recaia de forma cada vez maisacentuada sobre a Região, embora ainexistência de uma legislação que permita punira biopirataria também seja uma dificuldade aser vencida.

O BRASIL PRECISA ASSUMIR OCOMANDO E DEFINIR AS REGRASPARA O INTERCÂMBIO

Para se combater a biopirataria é precisoque se compreenda cada um dos fatores quecontribuem para a sua existência, ou seja, aconsciência internacional cada vez mais clarasobre as múltiplas possibilidades oferecidas pelavida na Amazônia; a inexistência de uma políticanacional estratégica para Ciência e Tecnologia;o interesse crescente pelos conhecimentostradicionais, que reduzem o tempo e o custodas pesquisas científicas; a defasagem brasileiraem pesquisa, desenvolvimento e produção; afalta de uma legislação que regule a exploraçãodos recursos naturais e, ainda, a exclusãosocial. A opinião é do pesquisador e professorda Universidade Federal do Amazonas,Frederico Arruda, recentemente nomeadotambém o presidente do Grupo de Trabalho deAssessoria e Articulação – GTAA, criado pelaAssembléia Legislativa do Estado para aformulação de um Anteprojeto de Lei paradisciplinar o acesso aos recursos genéticos doAmazonas.

Frederico Arruda explica queconsiderando-se a grande extensão do cinturãode biodiversidade existente ao longo da linha doequador, a possibilidade de se encontrarem

recursos genéticos e modelos moleculares quevenham a beneficiar a indústria químico -farmacêutica é enorme. Segundo ele, o “grandecaldeirão” em que a Natureza trabalha ao longode tantos anos, gerando e mantendo a vida ,apesar da agressão das devastações, éinimitável até pelo mais moderno e bemequipado laboratório do mundo, e que por estemotivo torna-se, cada vez mais, foco daatenção mundial, que tem a biopirataria apenascomo uma de suas facetas.

O INTERESSE INTERNACIONAL

Quase tão atraente quanto a diversidadeda vida na Amazônia para os grandeslaboratório internacionais - segundo ele - sãoos conhecimentos tradicionais, que embora jánão sejam os mesmos, devido à grande erosãocultural sofrida ao longo dos últimos anos, aindasão muito expressivos e determinantes quantose trata de economizar tempo e reduzir custosnas pesquisas científicas. “Mexer no caldeirãoque a Natureza criou custa caro, frente a enormediversidade” – afirma o professor – e é aí queos conhecimentos tradicionais, que na suaopinião já deveriam, há muito, ter sidoequiparados em importância às outras formasde conhecimento e ao conhecimento científico,tornam-se ainda mais valiosos econsequentemente interessantes para osfinanciadores da biopirataria. “O binômio grandeextensão de biodiversidade X conhecimentotradicional é irresistível para quem sabetransformar conhecimento em inovação” -destaca.

Outro aspecto de fundamentalimportância que o Brasil precisa corrigir paraefetivamente combater a Biopirataria – na opiniãode Arruda - é a exclusão social, que vitima a

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9T&C Amazônia, Ano 1, no 3, Dez de 2003

Biopirataria Desafia o Brasil a Tomar Conta da Amazônia

grande maioria da sociedade brasileira e quepode ser considerada um fermento para o tráficode recursos genéticos e modelos moleculares.Ele explica que os excluídos da Amazôniaperderam o mítico, a cosmovisão e até o sentidode beleza dos conhecimentos tradicionais, masnão perderam o conhecimento em si, real eobjetivo, até porque para sobreviver precisamaplicá-lo diariamente e assim tornam-secúmplices da biopirataria, que passa a tirarproveito destes excluídos, da mesma forma queo narcotráfico do Rio de Janeiro usa aquelesque vivem nos morros cariocas.

O foco do interesse internacional pelaAmazônia associado à realidade social do Paíse à total inexistência de uma política nacionalestratégica para as atividades de Ciência eTecnologia, voltada toda a biomassa brasileira,incluindo não só a Amazônia, mas também MataAtlântica, Serrado e Alagados, tornam-se fataispara estimular os biopiratas e as indústrias queos patrocinam, sobretudo considerando-se queeles são muito melhores que os brasileirosquanto se trata de pesquisa, desenvolvimentoe produção. Segundo Frederico Arruda,enquanto o Brasil não adotar uma estratégia derelacionamento internacional em relação àbiodiversidade amazônica, a biopirataria vaicontinuar a existir, a despeito de todas as açõespunitivas que se queira adotar, até porque como avanço tecnológico as amostras queinteressam aos grandes laboratórios podem serenviadas por meios virtuais e livres de qualquertipo de fiscalização. “As medidas punitivas sãoimportantes e precisam existir, mas não sãodecisivas “- arremata.

ESTATÉGIA PARA PESQUISA,DESENVOLVIMENTO E PRODUÇÃO

O professor da Universidade do

Amazonas é categórico ao afirmar que umapolítica estratégica de C&T é fundamental edecisiva , pois jamais o Brasil conseguirávencer sozinho o desafio de conhecer eexplorar de forma sustentável a biodiversidadeamazônica. A estratégia, portanto, a seradotada, segundo ele defende, é a deintercâmbio em pesquisa, desenvolvimento eprodução com os países do Primeiro Mundo,que “é o que vai abrir caminho também paraque possamos usufruir de uma repartição justae equitativa sobre a exploração dos recursosgenéticos nacionais, como se apregoa nosmeios jurídicos”. Para Frederico Arruda, arealidade atual pode ser lida da seguinte forma: o Brasil tem a Amazônia, mas não a conhecee nem dispõe de recursos para conhecê-la emuito menos explorá-la, enquanto o PrimeiroMundo dispõe dos recursos, reconhece o valorda Amazônia, mas não possui a Amazônia ecomo o Brasil não tem política, nem Lei pararegular e disciplinar a exploração da Região, oúnico meio do acesso internacional torna-se abiopirataria. Essa realidade, segundo FredericoArruda, é um contra-senso. Na opinião dele, oBrasil precisa assumir o comando e determinaras regras .

Ao definir uma política estratégica deC&T o País vai estimular – segundo o professor- também os investimentos de empresasidôneas que têm interesse de investir naAmazônia, mas que por não terem umadefinição clara de seus direitos e deveres,abandonam a idéia e lançam - se em outrasinvestidas, bem distantes daqui. “ O Brasil perdepor todos os lados” – enfatiza Arruda. Nestesentido ele destaca também a importância dese implementar uma legislação que discipline oacesso aos recursos genéticos brasileiros, umavez que, no seu entendimento, a MP 2186 -16

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Biopirataria Desafia o Brasil a Tomar Conta da Amazônia

T&C Amazônia, Ano 1, no 3, Dez de 200310

de 2000, além de inibir a pesquisa básica, nadaacrescenta de efetivo para o controle dabiopirataria. “Sem definição de como aexploração deve ser feita, acaba-se por ter queconviver com ela de forma ilícita e desordenada,além de perderem-se os investimentos idôneos“- destaca.

LEGISLAÇÃO EM BLOCO

Especificamente sobre legislação, oprofessor apregoa a implementação de umalegislação geral para o acesso à biodiversidadeamazônica e a ela se relacionando um conjuntode leis estaduais, que contemplem aspeculiaridades de cada Estado. Ele recomendaainda que na legislação a ser adotadanacionalmente estejam previstos acordos comos demais países amazônicos, justamente paragarantir uma coerência legislativa da Amazôniacomo um todo frente às negociaçõesinternacionais. Frederico Arruda enfatiza queimplementar a legislação é fundamental tambémpara se criar e consolidar uma consciêncianacional e internacional sobre a importância dafauna e da flora amazônicas.

OS GANHOS PARA O AMAZONASComo presidente do GTAA, grupo de

trabalho que elaborou o anteprojeto que Lei paradisciplinar o acesso à Biodiversidade noAmazonas, Frederico Arruda explica que aproposta dispõe também sobre a proteção dopatrimônio genético , o conhecimento tradicionalassociado e a repartição de benefícios, noâmbito estadual, e que se aprovada em formade Lei trará ganhos bastante significativos. Entreeles, ele destaca um inédito sistema de registrodo conhecimento tradicional, que coloca nasmãos do Estado a responsabilidade pela guardadeste conhecimento, bem como de assegurar

os direitos das populações detentoras desteconhecimento. Para Frederico Arruda estedispositivo é importante não só no presentecomo também no futuro próximo e distante, poispossibilita o resgate das bases, hoje perdidas,da cultura tradicional. No anteprojeto propostopelo GTAA o conhecimento tradicional étambém equiparado ao conhecimento científico.

Outro benefício contemplado noanteprojeto, que Frederico Arruda destaca comode especial importância, é o que determina quepara acessar a biodiversidade no Estado doAmazonas, quer para fins de pesquisa, querpara fins comerciais, os interessados terão,obrigatoriamente, que estabelecer um acordode parceria com pelo menos uma dasinstituições locais de ensino, pesquisa edesenvolvimento, que por sua vez deverãoestar devidamente credenciadas. Ele explicaque esta é uma importante garantia paraassegurar que o conhecimento sobre abiodiversidade esteja em nossas mãos, ou seja,para “evitar que outros saibam mais sobre anossa região do que nós mesmos” – arremata.

Concluindo a sua análise, FredericoArruda arremata que o combate efetivo àbiopirataria passa por um ciclo de fatores queinteragem entre si , como ele destacou, e queao invés de se debater contra uma realidadeirrefutável o que o Brasil precisa fazer éaumentar a sua competência como detentordas riquezas amazônicas, ditar as regras eassumir o comando de um amplo intercâmbiointernacional para fins da preservação e daexploração responsável da Amazônia.

Biopirataria deve ser vista comooportunidade para inovação

Para Charles Clement, pesquisador do

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Biopirataria Desafia o Brasil a Tomar Conta da Amazônia

Inpa na área de botânica, a biopirataria precisaser vista como um sinal do mercado ou umaoportunidade para se redirecionar a pesquisacientífica no Brasil, que ainda peca por valorizarprojetos totalmente desconectados da demandamercadológica e que por isso mesmo, em suamaioria, acabam por não obter aplicabilidadeprática. Sobretudo quando se trata de pesquisassobre a biodiversidade amazônica, segundoCharles Clement, transformar conhecimentoem inovação continua sendo um desafio quesó pode ser vencido com a união da culturacientífica e tecnológica, geradora doconhecimento, à cultura empreendedora,geradora das idéias inovadoras. Para defendero seu ponto de vista, entretanto, o botânico dizser necessário considerarem-se uma série defatores e, sobretudo a magnitude do universoao qual se referem as pesquisas na Amazônia.

Para Clement, a afirmação de que ofuturo da Amazônia está ligado à suaBiodiversidade, idealizada como o “ouro verde”e difundida como fonte inesgotável de riquezas,não passa de um sonho, uma vez que para sefazer uma afirmação é necessário que seconheça a realidade a que ela se refere e nocaso da Amazônia o conhecimento ainda é , enão se pode afirmar que um dia deixará de ser,um grande desafio. Para fundamentar airrefutável amplitude bioamazônica, opesquisador se socorre da legislação que definebiodiversidade como a “variabilidade deorganismos vivos de todas as origens,compreendendo, dentre outros, ecossistemasterrestres, marinhos e outros ecossistemasaquáticos e os complexos ecológicos de quefazem parte; incluindo ainda a diversidadedentro das espécies e dos ecossistemas”.

A partir do que afirma MP 2186-16 de2000, ele destaca os grandiosos números da

biodiversidade amazônica, que reúne cerca de180 línguas indígenas nativas, 5 a 7 mil animaisvertebrados, 15 a 20 mil espécies de plantassuperiores, 20 a 100 mil microorganismos, e 1a 10 milhões de animais invertebrados. Emcontrapartida, o pesquisador informa quesomando-se o conhecimento científico aoconhecimento tradicional, acumulados ao longode 10 mil anos de investimentos financeiro evivencial , não se chegou ainda a 1% deconhecimento da biodiversidade amazônica, jáincluindo as plantas medicinais que eleconsidera as “vedetes” do interesse e donoticiário internacional.

Para ilustrar o quanto é complexo de falarda bioamazônia, Charles Clement enfatiza quesomente 100 espécies comestíveis sãoatualmente conhecidas e que destas apenasduas, milho e mandioca, se tem em domínio eisto porque sempre formaram a base daalimentação indígena. Ele cita também osanimais, entre os quais apenas o pato seconseguiu domesticar até hoje. Analisandotodos os dados que apresenta, o pesquisadorconclui que qualquer afirmação categóricasobre a biodiversidade amazônica nãocorresponde à realidade, uma vez que não sesabe ainda o que ela, efetivamente, nos ofereceou desafia a conhecer e usufruir. Clementcomenta que “por traz da arrogância da nossaciência, temos muito mais a aprender do que aafirmar”.

A FALTA DE INVESTIMENTOS

Prosseguindo em sua análise sobre apotencial biodiversidade amazônica e asdificuldades que se precisa ultrapassar paraconhecê-la, Charles Clement destaca a falta

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de investimentos públicos em pesquisa ,informando que os grandes laboratóriosinternacionais, que movimentam cerca de 350bilhões de dólares por ano, investem mais empesquisa e desenvolvimento do que o Ministérioda Ciência e Tecnologia do Brasil tem investidoaté hoje. Ele fala de 300 a 350 milhões dedólares para obtenção de um só remédio, o quejustifica o enorme interesse no acesso aoconhecimento tradicional indígena, tambémfruto de pesquisa, observação eexperimentação. O pesquisador explica que nométodo científico, que se baseia nasindagações fundamentais de se a substânciapoder fazer efeito e em seguida de se ela nãofaz mal à saúde, são necessárias cerca de 300mil amostras de uma planta para se chegar auma média de 10 mil para serem efetivamenteestudadas, enquanto com a união comconhecimento científico com o conhecimentotradicional, que já sabe por experiência pelomenos a primeira resposta para as duasindagações científicas, as pesquisas já partemdas 10 mil amostras úteis, proporcionando umaeconomia de 5 a 10 anos em termos de tempode pesquisa e cerca de 50 % na redução doscustos. Neste sentido ele acredita que o Centrode Biotecnologia da Amazônia - CBA possa vira dar uma grande contribuição se efetivamentese dedicar a estudar os fitofarmacos, quedispensam o conhecimento específico sobrecada uma de suas substâncias e apresentamcomo desafio apenas a interação delas, o quepode reduzir significativamente o valor e o tempode retorno dos investimentos em pesquisa.“Mesmo assim, entretanto, afirma, pesquisar abiodiversidade dos recursos naturaisamazônicos ainda é um desafio também eminvestimentos financeiros. A pergunta que elesubmete à avaliação de todos é a de que se

com todos os investimentos feitos ao longo de10 mil anos não conseguimos conhecer 1% danossa biodiversidade, quantos mais serãonecessários até que possamos afirmar quepode existir exploração sustentável para abiodiversidade amazônica?

“O desafio é enorme e precisamosentender que sem esforços efetivos, seráimpossível vencê-lo “- afirma Charles Clement,acrescentando que sempre que houver umpotencial não conhecido e portanto nãoexplorado em um determinado lugar, haverá, namesma proporção, pessoas de outros lugaresempenhadas em assumir esta exploração, o queexplica a tão denunciada biopirataria naAmazônia. Para exemplificar o espaço vazioque existe entre a potencialidade amazônica eo conhecimento que se tem dela, CharlesClement contabiliza que existem hoje 590grupos de pesquisa, dos quais 4% deencontram no Brasil e dos quais apenas ametade se dedica a pesquisar a biodiversidadeamazônica, como a Fiocruz, por exemplo, quepor não estar situada na Amazônia, na verdadepesquisa apenas componentes da Região.Paralelamente a esta falta de grupos depesquisa localizados na Amazônia, opesquisador entende que a situação se acentuapela grande concorrência que se registra emtorno dos insuficientes recursos do CNPQ, quea cada 8 mil projetos apresentados , sóconsegue financiar cerca de 800, entre elesalguns projetos do Inpa, que por sua vez muitasvezes fica sem dinheiro até para alimentar osseus peixes-boi.

A POBREZA DA PESQUISA NO BRASIL

“A verdade - afirma Charles Clement – éque para se fazer pesquisa os interesses e os

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investimentos precisam ser reais e efetivos e oque acontece hoje no Brasil é o inverso disso.Segundo ele, as instituições de pesquisa daAmazônia, como Inpa, Goeldi, Embrapa e asuniversidades possuem recursos apenas parase manterem como instituições e registram umdéficit muito grande também em relação aosalários dos seus melhores cérebros e por istomesmo estão perdendo-os para o Sul, Sudesteou países do Primeiro Mundo, dotados de umapredisposição muito maior de investir empesquisa amazônica. Este fator, segundoClement, faz com que o nível da pesquisacientífica no Brasil tenha perdido competência,ao longo da última década, prejudicando aindamais a qualidade e a confiabilidade doconhecimento que se tem sobre abiodiversidade regional e assim tambémacentuando o interesse internacional e aconsequente biopirataria.

CONHECIMENTO ALIADO ÀS IDÉIAS

Para Clement, para se combater abiopirataria é preciso em primeiro lugar revertera imagem negativa que se tem sobre ela. Paraele, que a vê apenas como a expressão dademanda do mercado internacional, os sinaisda biopirataria estão sendo desprezadosenquanto deveriam ser aproveitados paraorientar a direção das pesquisas. Neste sentido,ele cita o caso da aranha caranguejera, que temhoje demanda comprovada no mercadointernacional e por isso mesmo deveria estartambém no foco de atenção dos pesquisadores.Clement afirma que a biopirataria nasce nogrande vazio que existe entre a comunidade deciência e tecnologia e o mercado e assim sópode ser evitada com investimentos empesquisa, porém orientados pela demanda domercado, ou seja, pelo empreendedorismo.

Aqui no Amazonas, em especial, temosmuita biodiversidade e pouco empreendedores,e menos ainda os que efetivamente seinteressam pela biodiversidade. Para opesquisador, a maior causa dessadesproporção é a visão que se formou, viciadana Zona Franca de Manaus, ao longo dosúltimos 30 anos. Na opinião do pesquisador, aZona Franca eliminou as atividadesempreendedoras do interior do Estado, que éonde se concentra a biodiversidade, eenquadrou o empreendedorismo da capital aocomércio e somente agora que o modelocomeça a dar sinais e não mais corresponderàs expectativas de desenvolvimento, todoscomeçam a voltar a enxergar novos caminhosde empreendedorismo no Estado. Ele afirmaque ao se comparar a atual realidade econômicado Amazonas e do Pará, que não sofreuinfluência do modelo Zona Franca, percebe-selá as iniciativas empreendedoras locais sãobem mais acentuadas.

Charles Clement explica também quemuito se fala da bioripataria internacional, masque na verdade existe também a biopiratarianacional, que nada mais é do que oaproveitamento de resultados de pesquisadesperdiçados aqui e aproveitados pelas praçascentrais do País. Como exemplos ele cita ocubiu, que foi estudado pelo Inpa durante 25 anose que hoje é altamente comercializado comomanã no Sul; o guaraná, cujo grande produtornacional é a Bahia; e a pupunha para palmito,que o próprio Clement pesquisou e que hoje éaltamente utilizada no Sudeste, enquanto naAmazônia continua a ser comida apenas comofruto cozido. “O sentido também é deapropriação de um conhecimento gerado e nãoaproveitado. Portanto, o problema não é abiopirataria e sim o nosso descaso com o

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potencial que temos à nossa frente, ou seja, anossa falta de empreendedorismo” - afirma,destacando ainda que o primeiro biopiratainteressado no Brasil foi Pedro Alvares Cabral.

Para ele, portanto, o desenvolvimento daAmazônia passa, necessariamente, pelaassociação da geração do conhecimento, razãode ser das instituições de ensino e pesquisa, àgeração de idéias, que deveria ser a principaltarefa das instituições de pesquisa edesenvolvimento e que decorre da leitura quesó uma visão empreendedora pode fazer dossinais que vêm do mercado. A partir da parceriaentre o talento do pesquisador e o talento doempreendedor, Charles Clement apregoa arenovação do sangue das instituições locais,investimentos com retorno previsível, doutoresatuando em incubadoras de empresas e oempreendedorismo como matéria curricular doscursos de Biotecnologia.

SENSIBILIZAÇÃO E LEGISLAÇÃOPRECISAM CAMINHAR JUNTAS

Lúcia Rapp Py Daniel, pesquisadora doInpa na área de piscicultura e membro doConselho de Gestão do Patrimônio Genético –CGEN do Ministério do Meio Ambiente, sugere,em face da complexibilidade da questão, umasensibilização nacional e internacional capaz decriar consciência sobre a importância de seconservar a fauna e a flora de uma região oupaís, uma vez que os casos de biopirataria quetêm se registrado atualmente são através deturistas estrangeiros, que estão fora do rigor dalei.

Ela explica que a legislação que o Brasilmontou para regular o acesso e a remessa dopatrimônio genético, através da MP 2186-16, de23 de agosto de 2000, e que criou o próprioConselho que ela integra, recai principalmente

sobre as grandes empresas internacionais defármacos e extratos e sobre os pesquisadores,que por viverem de pesquisa se sentiramprofundamente injustiçados. Neste sentido, elafaz questão de destacar que apesar de todosos empecilhos que a MP tem causado àcomunidade científica nacional e internacional,que desde 2001 tem muitas de suas atividadescongeladas ou atuando na ilegalidade, alegislação, por outro lado, obriga ospesquisadores a encararem de frente problemasque há muito tempo vinham sendo adiados.Como ganho mais importante ela cita anecessidade de compromisso e muitaresponsabilidade das atividades de pesquisa emrelação à biodiversidade brasileira, deixandoclaro que propostas de uso ou conservaçãodevem obedecer sempre a critérios que geremrepartição de benefícios e reconhecimento. Paraexemplificar a importância da inovação jurídica,Lúcia Py Daniel relembra o caso da seringa,exportada para a Malásia pelos ingleses emapenas algumas sementinhas e que acaboutransformando aquele país no principalexportador mundial da borracha, sem que oBrasil recebesse qualquer benefício destemercado.

Casos como o da seringa - segundo apesquisadora- acontecem há muito tempo noBrasil e com prejuízos incalculáveis à economiae à biodiversidade nacional e se ressentiram dafalta de uma legislação pertinente. Ela explicaque desde 2001, o CGEN, com base na MP2186-16, delibera e normatiza todos osprocedimentos ligados ao acesso e à remessade informação genética proveniente deorganismos biológicos e do conhecimentotradicional, proveniente de comunidades locaise indígenas, encontrados no território brasileiro,seja para fins de pesquisa ou para fins

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comerciais. A maior dificuldade, entretanto,segundo a pesquisadora, é que a biopiratariapode expressar-se de forma clara, naapreensão de uma material vivo sendocontrabandeado num aeroporto, quanto podeser críptica, na forma de um extrato vegetalpatenteado e exportado para laboratóriosestrangeiros, sem que sequer se tomeconhecimento.

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De Espécies e Especiarias

T&C Amazônia, Ano 1, no 3, Dez de 200316

DE ESPÉCIES E ESPECIARIASCláudio Ruy Vasconcelos da Fonseca*Cláudio Ruy Vasconcelos da Fonseca*

Maria de Fátima Mendes Acácio Bigi**

Diversidade biológica deve ser entendidacomo fonte global, que precisa ser indexada,usada e, sobretudo, conservada (Wilson, 1988).O avanço científico e tecnológico que leva aosurgimento de novas formas de usos dosrecursos genéticos, a explosão demográfica,especialmente nos países em desenvolvimento,a qual degrada e polui os ecossistemas, e aindaa perda de espécies causada por destruiçãonatural dos habitats têm pressionado a que seveja a conservação como assunto urgente.

Publicações indicam que estão descritase devidamente guardadas nos museus domundo cerca de 1,6 milhões de espécies (Stork,1997) - incluindo todos os grupos de organismosvivos - e destas, 41.000 são vertebrados,250.000 são plantas vasculares e briófitas,750.000 são insetos. O restante consiste emum complexo de invertebrados, fungos, algas emicrorganismos. Os taxonomistas(pesquisadores que descrevem e nomeiam adiversidade) concordam que o trabalho dedescrever está muito aquém do necessário,considerando que as estimativas moderadasapontam para cinco milhões de espécies emtoda Biosfera. O ritmo atual de descrições denovas espécies é de aproximadamente 8.355/ano e, nesta velocidade, seriam necessáriosseis séculos para concluir o inventário da biotaterrestre (Martin Piera, 1997).

Por que devemos conhecer e atribuirnomes às espécies? Nomes são rótulos.Rótulos são palavras, seqüências de símbolosque são usados em lugar de algo complexo querequereria muitas palavras para descrever

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De Espécies e Especiarias

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(Thompson, 1997). Assim, descrever asespécies e atribuir nomes significa ganhar emtempo e espaço, uma vez que ao invés deusarmos longas explicações, apenas utilizamos

os nomes. O nome científico é único ereconhecido em qualquer lugar, enquanto queo nome comum varia, dificultando oreconhecimento. Os nomes, portanto, são aschaves primárias para o acesso à informaçãobiológica e, no momento em que crescem asatividades e as expectativas brasileiras nadireção da engenharia e princípios tecnológicosnas ciências da vida, torna-se necessárioempreender um esforço nacional no sentido deformatar um programa para inventariar a biota.

Não somente os três níveis de governodevem perceber essa necessidade, mas o setorprodutivo que usa como fonte de matéria primaa diversidade, também precisa entender serimprescindível aportar recursos para inventariar.A biota transforma-se em assunto de segurançanacional, considerando que novosconhecimentos sobre certos recursos naturaissão essenciais para a sobrevivência humanaem situações nas quais o país se desequilibrapor força de calamidades.

As instituições de pesquisas naAmazônia acumularam, durante o séculopassado, acervos biológicos que constituemverdadeiros testemunhos da diversidade local.Tais coleções têm tido maior significado noâmbito do trabalho científico, mas, começahaver mudança provocada pela construção deum novo espaço tecnológico e produtivo quecoloca as coleções frente a novos desafios àssuas potencialidades. Esses desafios ainda nãoestão completamente compreendidos, por forçadas indefinições do processo biotecnológico naregião. No caso das coleções, a pesquisa“básica” por elas representada deve, juntamente

com a ainda incipiente bioindústria, conseguirconstruir um espaço gerador de determinaçõesem que esta própria pesquisa precisa deimediato construir a sua própria aplicabilidade.A pesquisa por espécies potencialmente úteisà indústria de base tecnológica deverá fomentaruma sinergia entre as pesquisas básicas,taxonômicas - até agora o produto maisexpressivo gerado pelas coleções – edesenvolvimento tecnológico e industrial. Otrabalho do taxonomista se amplia para atendera demanda industrial pelos nomes dasespécies, sua distribuição geográfica e suasrelações de parentesco com outras espécies.

Aqui começa a surgir a necessidade deassociação entre as instituições de pesquisa eo setor produtivo no sentido de ampliar acapacidade inventariante das coleções quepoderão facilitar a busca por novos genes úteispara humanidade. Embora não haja a culturado investimento em pesquisa edesenvolvimento por parte do empresariado,deve-se começar a pavimentar essa avenida,onde o cientista gera conhecimento que poderáser englobado pelas indústrias de basetecnológica e estas, por seu turno, favorecemcom insumos financeiros a pesquisa.

A importância econômica dabiodiversidade é indiscutível, é fonte primária dematéria - prima para alimentos, remédios,vestuários, moradias e turismo. Mas há muitoainda por fazer, se considerarmos que das250.000 plantas conhecidas e catalogadas nosmuseus, apenas de 5 a 15 por cento têm sidoexaminadas para um ou dois tipos de atividades(Baladrin et al., 1985; Enriquez, 2001). Aoresgatarmos a historicidade do interesse dahumanidade por substâncias bioativas,podemos citar a exaustiva busca no período daIdade Média pelas especiarias (substâncias

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De Espécies e Especiarias

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aromáticas, com supostos efeitos medicinais,e mesmo afrodisíacas) que detinham alto valorde mercado, sendo inclusive utilizadas comomoeda. A busca pelas especiarias representouum marco histórico, uma vez que contribuírampara o desenvolvimento de sociedades enações, e motivaram, mesmo de forma indireta,a conquista e o descobrimento de novas terras.

Os recursos genéticos podem sertransformados em “commodity”, ainda que sejade valor indireto, tal qual ocorre com osmedicamentos produzidos pela indústriafarmacêutica, a qual sintetiza substânciasproduzidas primariamente pela natureza. Poroutro lado, à diversidade pode ser atribuído valorcomo amenidade, se melhora a qualidade devida da população de alguma forma nãomaterial, como por exemplo, o embelezamentode uma área por paisagismo, o benefício de umpasseio de barco em um dos belos lagosamazônicos, ou ainda o deleite contido numpasseio pelas trilhas de um bosque.

Há, no entanto, o valor moral. Asespécies têm valor moral como fonte derecursos que influencia aos homens no quetange ao seu sistema de valores. Ecossistemaspodem ser vistos como entidades cooperativasonde energia está constantemente fluindo intrae interespécies, uma analogia que ajuda nacompreensão dos fluxos dinamizadores dasociedade humana.

A medida que o tempo passa, novosconhecimentos surgem em todas as áreas eisto pode levar a novas “commodities”, ou novosníveis de apreciação estética e moral, os quaisainda não nos são possíveis apreciar.

O maior desafio é usar os recursos deforma sustentável, mas como utilizar semprovocar diminuição da variabilidade genética?Esta questão tem sido discutida, mas as

indefinições ainda persistem. No casoamazônico restam ainda duas outras questões:(i) devemos esperar o avanço do conhecimentosobre a dinâmica das espécies para obviamenteutilizá-las como alavanca econômica ou (ii)devemos explorar a diversidade biológicaenquanto a estudamos?

A julgar pela história relacionada àpesquisa científica na região amazônica e nomundo, a tendência tem sido a da exploraçãoeconômica concomitante com pesquisacientífica, uma vez que os problemas exigemsoluções e não esperarão para mostrar seusefeitos somente quando se tenha acompreensão da dinâmica dos ecossistemas.É neste contexto que deve ser encaixada aparticipação das instituições de pesquisa. Opapel de orientação que a ciência produzida naregião assume é crítico considerando aobrigação da conservação que o dever moralimpõe. Além disso, a conservação dadiversidade significa a continuidade da produçãode bens de consumo com incremento dasoportunidades para a sociedade amazônida.Assim, conservar e utilizar é uma equação quesomente será resolvida através da sinergiaentre setor produtivo e pesquisa, onde o primeiroestimula causando indução, recebendo, emsentido contrário, orientação e tecnologia.

Para o Estado do Amazonas obviamenteo seu patrimônio genético é o seu maisimportante diferencial. Esforços no sentido deinfluir na produção de ciência, tecnologia einovação começam a ser sentidos nos meiosdecisórios locais. A construção do Centro deBiotecnologia da Amazônia (CBA) foi umademonstração de visão futurista voltada para overde. A escolha de Manaus para sediar o CBAreveste-se de significado especial para o Estadoque passa a liderar uma nova postura

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desenvolvimentista constituindo-se no farol quenorteará a construção de uma sólida baseeconômica onde o extrativismo ecomercialização de produtos in natura, cedemlugar à exportação de bens de consumo comalto valor agregado. O CBA deverá ser oanimador dos novos rumos em pesquisasestimulando a produção de tecnologias àsinstituições locais, além de provocar o aumentoda conectividade entre elas, reduzindo o cenáriode fragmentação no qual há, em muitassituações, superposição de atividades.

A criação de uma cultura de produçãode conhecimento através do funcionamento deuma rede de laboratórios e de pesquisadoresjá está em andamento, através de projetosgerenciados pela Organização SocialBioamazônia (Associação Brasileira para o Usosustentável da Biodiversidade da Amazônia,credenciada pelo Governo Federal, através deDecreto Presidencial, em 18 de março de 1999,para colaborar com a implantação do CBA),com recursos oriundos do Banco da Amazôniae Petrobrás. Isto deverá estimular uma novafase na pesquisa na qual o aproveitamento dopotencial de cada qual deverá acontecer apleno. Uma das ferramentas para essa novafase é a montagem de um banco de dadosrelacional para a sistematização de toda ainformação sobre a biodiversidade amazônica,objetivando melhorar e incrementar o seuconhecimento para auxiliar na implantação deatividades industriais de base tecnológica.

O papel de uma Organização Social(OS), com sua agilidade e flexibilidade comoente de caráter privado, não pode serconsiderado como trivial quando se vislumbraum pólo de bioindústrias. Bionegócios exigemum ambiente de gestão onde capacitação evelocidade são características fulcrais,

considerando que há febril concorrência, no nívelmundial, rumo às patentes.

BIBLIOGRAFIA

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* Cláudio Ruy Vasconcelos daFonseca - Diretor Adjunto da Bioamazônia;Doutorado em Ciências Biológicas (Zoologia)pela USP; Foi gerente do PROBEM/MMA;Pesquisador titular do MCT/INPA; ProfessorUEA.

** Maria de Fátima Mendes AcácioBigi - Diretora Geral da Bioamazônia;Doutorado em Ciências Biológicas (Zoologia)pela UNESP; Foi Pró-Reitora de Pesquisa ePós-Graduação da UFAC e Coordenadora doMestrado em Biotecnologia da UEA

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O Desafio do Desenvolvimento Sustentável na Amazônia

O DESAFIO DODESENVOLVIMENTOSUSTENTÁVEL NA AMAZÔNIA

Charles R. Clement* Adalberto L. Val**

José Arnaldo de Oliveira***

Três notícias têm dominado asmanchetes da mídia nacional tratando daAmazônia em 2003. A taxa de desmatamentoaumentou a níveis históricos em 2002/3 –durante uma recessão econômica, quando eraesperado um recuo. A soja está ‘invadindo’ aAmazônia e é acusada de ser a vilã da históriado desmatamento, mas ao mesmo tempo é aheroína das exportações. Os biopiratas estãoroubando a biodiversidade da Amazônia, tirandoa oportunidade do Brasil se desenvolver combase neste recurso natural.Concomitantemente, a retórica dos governosfederal e a maioria dos estaduais é a favor dodesenvolvimento sustentável, sempre com aimplicação de que a floresta precisa ser mantidade pé. A demanda pela manutenção da florestaé explícita nas declarações do MMA e da maioriadas ONGs que representam os povos dasflorestas na Amazônia, bem como das ONGsambientalistas internacionais.

A força dos mercados globalizados e aspolíticas dos governos para estimular taismercados têm sido acusadas de serem ascausas básicas da perda de biodiversidade(Wood et al. 2000) e do desmatamento(Schneider et al. 2000). Ou seja, os sinais dosmercados nacional e internacional, dosministérios e estados, e da sociedadecontinuam a ser contrastantes, quando nãoconflitantes. Considerando estes contrastes, évalido afirmar que existem dúvidas sobre a

Desenho: Saulo Raphael Milhome de Almeida - 10 anosProjeto Gráfico da Infografia: Designer Narle Teixeira

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possibilidade de desenvolvimento sustentávelna Amazônia. Aliás, pelas políticas contrastantesde diferentes ministérios ainda não está claro oque o Brasil pretende fazer na Amazônia, qualdeveria ser o primeiro passo para planejar seudesenvolvimento – sustentável ou não. Esperamostrazer um pouco de luz para esta discussão eapontar detalhes que não têm recebidosuficiente atenção ainda, mesmo sendo eladesagradável para alguns atores.

QUESTÃO DE ESCALA

O Prof. Aziz Ab’Saber ponderou queduas escalas são fundamentais quando sepensa na Amazônia (AmazonTech2003,Manaus, 27.09.03): a geográfica, pois aAmazônia tem escala continental, com múltiplosestados e ministérios envolvidos na sua gestão;e a temporal, pois sustentabilidade é função dotempo. Por ser de escala continental, todas asdimensões da Amazônia representam mega-números.

A Amazônia Legal cobre aproximadamente5.000.000 km², o que representa cerca de 60%do Brasil. Desta área, a Floresta Amazônicacobre em torno de 3.300.000 km², o querepresenta 40% do Brasil. Ao redor de18.000.000 de Brasileiros vivem nessa região,sendo que 68% em centros urbanos e 32% nazona rural. A Amazônia Legal abriga, ainda, amaioria da população indígena brasileira, quesoma ao redor de 256.000 pessoas que falamentre 170 e 180 línguas. Estes foram osprimeiros povos da Amazônia e tem os seusdireitos poucas vezes respeitados pelasociedade nacional. Em alguns casos sãoignorados ou mesmo considerados um entravepara o desenvolvimento. Por outro lado, quandofalamos de desenvolvimento sustentável, a

posição acerca da importância desse gruposocial é, por via de regra, clara e positiva. A razãoé simples: os povos indígenas criaram a maioriado conhecimento tradicional sobre abiodiversidade, que a Convenção sobre aDiversidade Biológica (CDB e suatransformação em lei brasileira – MP 2186)afirma ser importante para alcançar o tãodesejado desenvolvimento sustentável.

Por ser grande e tropical, a Amazôniacontém uma mega biodiversidade que nãoencontra paralelos no planeta. Seguindo a CDB,a biodiversidade deveria ser considerada em trêsníveis: os ecossistemas, as espécies que osocupam, e os genes que determinam ascaracterísticas das espécies. A Amazôniabrasileira contém quatro grandesecossistemas: as florestas densas com1.900.000 km²; as florestas não densas com1.600.000 km²; os cerrados com 700.000 km²;e as várzeas com 200.000 km², áreas essasaproximadas. Pelo menos 600.000 km² já sãoantropizados. Em termos de espécies, existementre 5 e 7 mil espécies de animais vertebrados,15 e 20 mil espécies de plantas superiores, 20e 100 mil espécies de microorganismos, e 1 e10 milhões de espécies de animaisinvertebrados. O que mais impressiona é amagnitude de nossa ignorância sobre estesecossistemas e espécies! Sobre os genes, nemfalaremos.

A escala sócio-econômica é tambémessencial quando se analisa desenvolvimento.A Amazônia Legal já é responsável pelaprodução de 20% da soja nacional, tem 11% dorebanho bovino, 13,5% da produção mineral equase 7% do Produto Interno Bruto (PIB)(Novaes 2002). O impacto destes números érepresentado pelos 15% dos ecossistemasnaturais alterados. Contudo, os 7% do PIB não

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O Desafio do Desenvolvimento Sustentável na Amazônia

têm oferecido muitos benefícios para o povo da

região, pois a Amazônia concorre com o

Nordeste para os piores Índices de

Desenvolvimento Humano do Brasil. A razão dos

poucos benefícios é que o Brasil investe pouco

na Amazônia, tratando a região mais como

“colônia” do que como parceiro legítimo das

outras regiões do país. O pouco investimento é

especialmente visível em termos de Ciência e

Tecnologia (C&T), onde a média histórica oscila

em torno de 2% dos investimentos federais em

C&T. O CNPq afirma que serão 4% em 2003,

que ainda é pouco, muito pouco. Tão pouco que

podemos afirmar que a Amazônia paga para

outras partes do Brasil fazerem C&T!!

E na escala temporal – Quanto tempo é

suficiente? Uma geração? Lawrence et al.

(2001) projetaram que as políticas dos governos

federal e estaduais expostas no programa

“Avança Brasil” causarão o desmatamento de

25% da floresta até 2020. Em termos gerais o

programa “Brasil, um País de Todos” (PPA 2004-

7) é muito similar ao “Avança Brasil”. Que tal

quatro gerações? Cox et al. (2000) projetaram

que o atual modelo de desenvolvimento mundial

causará o desmatamento de 100% das

florestas amazônicas fora das Unidades de

Conservação (UC) até 2080, e que grande parte

das UCs será comprometida pela invasão de

fogo nas suas bordas cada vez mais

inflamáveis. Se a floresta de pé representa

sustentabilidade, é evidente que os países e

agências mundiais que propagam o atual

modelo são hipócritas, pois conclamam o Brasil

a manter sua floresta, quando o modelo não

paga por sustentabilidade. E o governo

brasileiro? Qual é sua posição?

O QUE É DESENVOLVIMENTOSUSTENTÁVEL?

O Dicionário Aurélio (1985) definedesenvolvimento como sendo “O estágioeconômico, social e político de umacomunidade, caracterizado por altos índices derendimentos dos fatores de produção, i.e., osrecursos naturais, o capital e o trabalho.” E aescala geográfica? A comunidade é Tefé,Amazonas, Brasil, América do Sul ou o mundo?No mundo moderno, uma comunidade nãopode alcançar o desenvolvimento sustentávelem isolamento. A implicação é que o Brasilprecisa pensar o assunto de forma holística –tanto no nível internacional, como nacional eregional, em sintonia entre os governos federale estaduais.

A definição clássica de sustentabilidadevem da Comissão Mundial sobre o Ambiente eo Desenvolvimento (1987): “Atender asnecessidades da geração atual semcomprometer a habilidade de gerações futurasem atender as suas necessidades.” Nossospolíticos pensam em termos de gerações? Enossos empresários? E os técnicos de nossosministérios? Se não aprendem a pensar assim,o desenvolvimento sustentável não serápossível, pois este tipo de desenvolvimentorequer muito mais planejamento por exigirequidade entre gerações.

Um exemplo do não pensar de formaholística é a relação entre a Amazônia e o Brasilcentral em termos climáticos. Se a previsão deCox et al. (2000) tornar-se realidade, haveráimplicações climáticas: a Amazônia virarácerrado (Walker et al. 1995). Salati & Nobre(1991) estimaram que a Amazônia repassa 588mm chuva/ano ao Brasil central, onde o Cerradorecebe atualmente entre 1200 e 1800 mm chuva/

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ano; ou seja, a Amazônia contribui de formasignificante para a chuva no Cerrado. Se aAmazônia virar cerrado, receberá chuva similarao intervalo do Cerrado atual e repassarámenos umidade para o Brasil central, e oCerrado atual poderá secar tanto que nãosustentará a agricultura de grãos, que é a basede sua atividade econômica hoje, bem comodas exportações que mantém o superávitcomercial. Devido a outras influênciasclimáticas ao longo do próximo século demudanças, o INPE ainda não afirma que oCerrado atual será mais seco (Carlos A. Nobre,2003, com. pess.), mas é uma possibilidade queo governo federal não pode ignorar. Quaisministérios estão atentos a esta possibilidadehoje? Quais estão se preparando para umCerrado mais seco?

Além de a chuva atender a agriculturado Cerrado, a mesma chuva abastece os riosque originam - se no Brasil central, incluindo oParaguai/Paraná, o São Francisco, o Tapajós,o Xingu, e o Tocantins/Araguaia. A influência dadiminuição das chuvas oriundas da Amazôniano norte do Brasil central é mais certa do queno sul do Brasil central, já que o norte realmenteé parte da bacia amazônica. O que acontecerácom a vazão do rio Tocantins, que abastece ahidroelétrica de Tucuruí? Lúcio Flávio Pinto(2002) divulgou que a hidrelétrica de Belo Montesofrerá de deficiência de vazão do rio Xingudurante 4 ou 5 meses por ano e não geraráexcedentes de energia como atualmenteconfigurado; isto sem considerar odesmatamento na Amazônia. E se ascabeceiras do rio Xingu forem desmatadas?Aliás, já estão sendo desmatadas a uma taxaacelerada. Tudo isto, sem falar do incrementono assoreamento dos rios, que sempreacompanha o desmatamento. Quais Ministérios

estão atentos a essa possibilidade hoje?Estes exemplos sugerem que o

desenvolvimento sustentável da Amazôniadeveria ser feito com a floresta de pé, comodeclara o MMA e os povos da floresta, pois nãoé apenas a Amazônia que está em jogo, mas oBrasil central também. No entanto, o programa“Brasil, um país de Todos” não reconhece istoem termos de investimentos, somente emtermos retóricos. O MMA toma isto comopressuposto, mas o MMA não é um ministérioimportante nas decisões econômicas dogoverno federal, onde outras decisõesdemonstram claramente uma predisposição emfavor do atual modelo de desenvolvimentomundial. Ou seja, existe uma forte contradiçãono governo federal (sem mencionar osestaduais!) entre a retórica e o investimento,quando se trata da Amazônia.

O DESAFIO DO DESENVOLVIMENTOSUSTENTÁVEL

Partindo da pressuposição de que odesenvolvimento sustentável da Amazôniaexigirá que a floresta seja mantida de pé efuncionando, encontramos um grave problema:não sabemos como fazer isto e gerar ocrescimento econômico. Não existe um acervode conhecimento de C&T disponível que atendaesta demanda, dada a escala da Amazônia. Écerto que existem muitas idéias e até muitasexperiências bem sucedidas, mas todas sãoem escala pequena. Afinal, quantas toneladassão necessárias para abastecer os mercadosde castanha do Brasil, de óleo de castanha doBrasil, de óleo de andiroba, de raíz demuirapuama, etc.? Embora os números sejamincertos, todos são muito menores do queprecisamos para mudar os índices de

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desenvolvimento humano na Amazônia,especialmente no interior onde estes índices sãouma vergonha nacional.

Pior que isto, nenhum país do mundotem feito algo parecido! Afinal, Homo sapiensdepende de agricultura e a definição deagricultura é o cultivo dos campos. Todas associedades humanas bem sucedidas foram esão agrícolas, e todas as nações bemsucedidas, hoje e no passado, foram agrícolase defendem vigorosamente sua agricultura –veja as discussões sobre subsídios agrícolasna OMC e na ALCA. Portanto, não existe ummodelo que o Brasil pode seguir para odesenvolvimento sustentável da Amazônia coma floresta de pé. O Brasil vai precisardesenvolver este novo modelo. Vai precisarousar na busca de novos modelos, novasconcepções.

Além do fato de que o Brasil ainda nãodecidiu o que pretende fazer na Amazônia, oBrasil ainda não entendeu o que precisará fazerse realmente quer o desenvolvimentosustentável da Amazônia com a floresta de pé.A tão propalada falta de planejamento nacionalainda não foi resolvida, ao contrário da retóricado ministério encarregado por este setor. Odesenvolvimento sustentável foi relegado aoMMA, em lugar de ser assumido pelaPresidência e todos os principais ministérios,começando com os da Fazenda, doPlanejamento, das Minas e Energia, dosTransportes, da Agricultura, para mencionarapenas aqueles com maiores investimentos emfavor do modelo atual insustentável. As questõesde escala geográfica e temporal precisam serinternalizadas pelos ministérios, pelos estadose pelos países da Amazônia.

O planejamento integrado precisaenfrentar os custos da Amazônia (que são

similares aos custos do Brasil, mas comcaracterísticas típicas do subdesenvolvimentoagudo), além de amenizar os custos do Brasilna Amazônia. A Amazônia precisa de umprograma de investimento em infra-estrutura,mas este programa precisa tomar odesenvolvimento sustentável como base e nãocomo retórica. Este programa precisa ter a C&Tcomo peça fundamental, e com muito mais queos 3-4% dos investimentos na área, previstospelo atual governo. Ressalte-se que nãoconhecemos o necessário, ainda, e o tempo écurto, dadas as previsões de Lawrence et al.(2001) e Cox et al. (2000), porque osinvestimentos não gerarão retornos imediatos.Os investimentos brasileiros são maisimportantes, ainda, quando reconhecemos queo mercado global raramente paga pelasustentabilidade.

O caso da soja é emblemático da faltade planejamento em prol de uma Amazôniasustentável (Clement & Val 2003). Diversosministérios trabalharam de forma integrada emapoio a esse agronegócio, organizando infra-estrutura de escoamento – a hidrovia doMadeira, o porto de Itacoatiara etc. – e acessoa capital. Ao mesmo tempo, estes ministériosnão resolveram os custos do Brasil no centro-oeste e no sudeste, criando uma lógicainexorável para a expansão da soja rumo aAmazônia. Igualmente importante, apoiaram aP&D que gerou variedades e sistemas deprodução para a soja entrar na Amazônia. Oavanço da soja na Amazônia mostra claramenteque P&D geram resultados!! Embora muitocriticado na época, o cenário de Lawrence etal. (2001) está se concretizando com essaexpansão e continuação da maioria das políticasdo “Avança Brasil”. Tudo continua acontecendosem que a intervenção do MMA tenha efeito

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importante! Isto demonstra claramente que nãose pode relegar o desenvolvimento sustentávelao MMA – precisa ser de todos os ministérios,começando no topo do governo!

Mais grave ainda é que, embora nãosustentável, o modelo atual funciona! Ou seja,mesmo com a falta de planejamento nacional,o sistema aplicado à região demonstrouresultados econômicos e são justamente estesresultados que dificultam provar que o sistemaestá errado (Novaes 2002). Entretanto, osistema não estará errado se o Brasil tiverdecidido sem alardes transformar Amazônia emcerrado para se tornar uma potência agrícola.No entanto, ao que nos consta, esta decisãonunca foi explicitamente assumida como políticanacional, de forma que podemos afirmar queum sistema funcionando, e bem, está erradopara a Amazônia – se o Brasil deseja manter afloresta de pé e as chuvas caindo normalmenteno Brasil central. É uma decisão política, e umadas mais importantes que este governo podetomar.

Aí vem mais uma questão: se não a soja,o que? A resposta geralmente é: a biodiversidadeda Amazônia. Se esta resposta for válida por sisó, o desmatamento não estaria acontecendona taxa atual, nem o povo da Amazônia estariadefrontando-se com alguns dos piores índicesde desenvolvimento humano do Brasil. Tem sidoobservado, com muita razão, que a diversidadeda própria floresta mina sua conservação devidoa sua baixa densidade econômica (May et al.2002). Ou seja, a diversidade exuberante dafloresta amazônica não combina com o atualmodelo de desenvolvimento mundial, que ébaseado em monocultivos de todos os tipos.Considerando esta limitação, a biodiversidadetem potencial para contribuir para odesenvolvimento sustentável da Amazônia?

O DESAFIO DA BIODIVERSIDADE

Antes de ver se a biodiversidade tempotencial para contribuir com o desenvolvimentosustentável da Amazônia, precisamos ver o queé ‘potencial’? De novo, segundo o DicionárioAurélio (1985): potencial. adj. 1. Respeitante apotência. 5. Filos. Que está em potência.Seguindo a sequência: potência. s. 11. Filos.Caráter do que pode ser produzido, ou produzirse, mas que ainda não existe (itálicoadicionado). Ou seja, a biodiversidade por si sónão vale nada, o que explica a sua continua perdaem todo o mundo.

Como transformar potencial em produtono mercado e especialmente em lucro? Doisfatores são essenciais: empreendedores – comimaginação e com capacidade empresarial; einvestimentos – primeiro em C&T para produzirinformações necessárias, segundo em P&Dpara garantir qualidade e completar a cadeia deprodução, terceiro em produção,processamento e comercialização. A ONU jádemonstrou que o Brasil é um paísexcepcionalmente rico em empreendedores,embora a capacidade empresarial da maioriadesses empreendedores seja baixa. Mudar estequadro requer investimento, e a estrutura parafazer isto existe – o SEBRAE e suas instituiçõesirmãs, estão entre elas. Então, o que realmenteestá faltando são investimentos em C&T, P&De nas cadeias de produção. Como notamosacima, o Brasil não investe na sua “colônia”, oque ajuda a explicar porque a biodiversidade daAmazônia tem contribuído pouco até estemomento.

Quais são as opções econômicasoriundas da biodiversidade que mereceminvestimento e quais são as conseqüênciasdeste investimento? Acreditamos que existem

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seis grupos de opções (ordenado pelo tamanhodo acervo de conhecimento, ainda queescasso): agricultura e pecuária; madeira;ecoturismo; produtos florestais não madeireiros;carbono; genes que codificam funções úteis naindústria farmacêutica e afins.

Agricultura & Pecuária – Os povosindígenas domesticaram pelo menos 100espécies de plantas na região, pelo menos umade enorme importância: a mandioca. A maioriadas outras são fruteiras. No entanto, mesmocom fruteiras, a opção por este grupo resultaráem mais desmatamento, embora com fruteirasuma cobertura semi-florestal possa serreconstruída. Se for agronegócio, é bom paraos donos, mas salário mínimo para todos osoutros atores. Se for agricultura familiar, oproblema será expandir a presença dasinstituições de P&D e de extensão para atenderuma população dispersa na escala geográfica.O Pronaf está começando a planejar e aexecutar ações nessa direção e pode ajudar amudar os índices de desenvolvimento humanoem algumas localidades. É importante frisar quenão existe outro ‘commodity’ entre as plantas jádomesticadas da região, o que significa queprecisaremos trabalhar muitas espécies paragerar resultados.

Madeira – A FAO estimou que existepelo menos US$ 1 trilhão de estoque em pé naAmazônia, mas a maioria das espécies não temmercado. Madeira é o exemplo clássico para aobservação de May et al. (2002), já que asespécies com valor para o mercado estãodispersas na floresta, com baixa densidade,comprometendo o retorno econômico. O manejosustentável é viável? Schneider et al. (2000)afirma que é, mas a maioria absoluta damadeira da Amazônia é vendida no mercadointerno, que quer madeira barata e não se

importa se vem do manejo sustentável ouresulta da destruição da floresta. Kahn (2002)sugeriu que mecanismos e políticasgovernamentais poderiam mudar esta equação,mas sua adoção dependerá de trabalhointegrado de diversos ministérios. Se adensidade econômica da floresta for aumentada– o que é sacrilégio para muitos ambientalistas– a equação poderá melhorar. Como no casodo agronegócio, o manejo florestal geralmenteé bom para os donos, mas salário mínimo paratodos os outros. O Promanejo está começandoa planejar e executar manejo comunitário, quetem potencial para mudar os índices dedesenvolvimento humano em algumaslocalidades, mas não atende nem a demandado mercado interno.

Ecoturismo – A contemplação dabiodiversidade seguramente é sustentável, masrequer infra-estrutura de boa qualidade ecapacitação de todos os atores na sua cadeiade produção. Mesmo quando todos estiveremcapacitados, o ecoturismo é bom para osdonos, mas levará um salário mínimo para todosos outros.

Produtos Florestais Não Madeireiros– Estes são a base da proposta da Zona FrancaVerde, do governo do Amazonas, e o sonho dasONGs, mas é justamente a opção onde oacervo de conhecimento é mais escassa e aquestão de escala geográfica é maisimportante. Estes produtos incluem as plantasmedicinais, aromáticos, óleos etc. que têmnichos de mercado de grande apelo popular,mas cujas escalas são sempre pequenas. Paraque estes produtos desempenhem um papelimportante, precisaremos que sejamconhecidos rapidamente e que sejamdesenvolvidos, isto é, o processo implica emmuita C&T e muito mais P&D. Podemos fazer?

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lógica.Genes – Na era da biotecnologia que

está se iniciando, esta opção toca naimaginação de muita gente, desde acomunidade de C&T até as empresas de basebiotecnológica nacional e internacional. Emboraessencial para o Brasil, não sabemos se oprocesso oferece os “altos índices derendimentos dos fatores de produção, i.e., osrecursos naturais, o capital e o trabalho” quesão os fundamentos da definição dedesenvolvimento, quando aplicado à Amazônia.A razão é simples: uma vez identificado eisolado o gene de interesse, este gene serávendido ao comprador que pagar mais – umadas leis do capitalismo, que não será facilmenterevogada! Isto explica por que as ONGs daAmazônia não são entusiastas do modelo debioprospecção atual. Ao mesmo tempo, isto nãoquer dizer que o Brasil não deva seguir estecaminho – deve, mas com os olhos bemabertos.

No entanto, a era da bioprospecção nasflorestas tropicais poderia estar se encerrandoainda em sua fase nascedoura, e por duasrazões: compostos bioativos são encontradosem todo o mundo e a era genômica poderia criarcompostos bioativos altamente enfocados.Recentemente foi proposto que o genomahumano aponta para o fato de que um númerolimitado de genes codifica para um grandenúmero de proteínas e, portanto, a probabilidadede se encontrar genes úteis em nosso quintal émaior do que a originalmente imaginada (Tulp& Bohlin 2002). No caso, nosso quintal équalquer terreno baldio no primeiro mundo. Ouseja, as florestas tropicais talvez não sejamimprescindíveis para a indústria farmacêutica.A mesma lógica vale para a outra razão, com ogenoma apontando para a proteômica e esta

Claro, mas não com os minguadosinvestimentos atualmente disponíveis paraAmazônia neste setor.

Estes produtos têm, ainda, um porém:seu sucesso implica em agricultura (Homma1992). A razão é a mesma do caso de madeira– a baixa densidade econômica destes produtosna floresta. Quando a demanda por um dessesprodutos cresce, a tendência é iniciar o manejona floresta, seguida por sua introdução emparcelas agroflorestais ou mesmo pomares e,finalmente, a transferência da cultura para forada Amazônia. A história da Amazônia é repletade exemplos nesse sentido, alguns dos quaisbons para outras partes do Brasil ou mesmopara o exterior, como é o caso clássico daseringa, mas todos deixaram um vazio naAmazônia. É possível reverter essa tendência?Provavelmente não, mas criando cadeias deprodução sustentáveis, com tecnologiasavançadas e adequadas, e agregando valor aosprodutos regionais ainda na região, comorecomendou recentemente a Ministra MarinaSilva, certamente ajudará a manter a maiorparte do lucro na Amazônia, por mais tempo.Mesmo com essas limitações, esses produtosteriam um papel importante na mudança dosíndices de desenvolvimento humano em muitaslocalidades.

Carbono – Esta opção tem sidoamplamente discutida por nosso colega doINPA, Phillip M. Fearnside, mas requer que ogoverno do Brasil assuma a decisão denegociar a inclusão da floresta de pé noProtocolo de Kyoto, o que hoje não está nosplanos. Ainda, mecanismos de direcionarbenefícios ao interior da Amazônia precisam serdesenvolvidos. Nesta direção, o Fundo deDesenvolvimento da Amazônia proposto peloSenador Jefferson Péres seria uma opção

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O Desafio do Desenvolvimento Sustentável na Amazônia

para o remédio – sem necessidade debiodiversidade tropical. A implicação também ésimples: ou o Brasil faz por conta própria, ou asoportunidades que estes genes representamnão serão realizadas. No caso da genômica, oBrasil já está investindo e até a Amazônia estárepresentada – a UFAM, a UFPA e o INPA foramparceiros do genoma do Cromobacteriumviolaceum. Contudo, lamentavelmente, projetosdeste porte ainda tem repercussões sociaisreduzidas, pois o foco é neste caso, e em váriasoutras iniciativas, apenas na disponibilidade domaterial biológico.

Então, a biodiversidade tem potencialpara apoiar o desenvolvimento sustentável daAmazônia? Claro que tem, mas os atuaisinvestimentos não conseguirão mudar o quadroa curto prazo; a médio prazo não haverá maisfloresta de pé e não haverá a biodiversidadecomo hoje.

INVESTINDO NA AMAZÔNIA

A atualidade dos investimentosbrasileiros na Amazônia Legal é compatível comseu status de “colônia”. Existem seis centrosda Embrapa, três institutos do MCT, duasUniversidades Federais de grande porte e oitode médio a pequeno porte. Todas as Instituiçõesestão sofrendo de falta de investimento e decontingenciamento, e não estão em condiçõesde gerar a informação necessária para apoiar odesenvolvimento sustentável desejado navelocidade necessária. Além disso, em muitoscasos as Instituições tem representado basesavançadas de coleta de material biológico paraas Instituições de outras partes do país – vide aorientação para a colaboração Norte-Sul pormeio dos fundos setoriais, por exemplo. Emboraos números pareçam similares aos de outras

regiões do país em termos de densidade porestado, é preciso lembrar que a Amazônia Legalrepresenta 60% do Brasil, tem perto de 10% desua população e contribui com cerca de 7% doPIB. Mais uma vez a questão de escala entraem jogo, e a escala do investimento é muitomenor que a escala do desafio – muito maior.

Este desencontro entre escalas ficamais evidente ainda quando examinamos onúmero de grupos de pesquisa. Seguindo olevantamento de 2002 do CNPq, o Brasil tem15.158 grupos, dos quais apenas 590 estão naAmazônia. Ou seja, 3,9% dos grupos depesquisa estão trabalhando com 60% do país.

Considerando que a biodiversidade é tidacomo o grande potencial da Amazônia e até doBrasil, é válido perguntar quantos dos gruposde pesquisa trabalham com algum aspectodiretamente ligado à biodiversidade. Usando abase de dados do CNPq, é válido afirmar queas grandes áreas do conhecimento – Saúde,Biológicas e Agrárias – trabalham com abiodiversidade, embora seja possível que maisalguns grupos também trabalhem. Do universodos grupos, 41,5 % trabalham com algumaspecto da biodiversidade, sendo que Saúderepresenta 16,6%, Biológicas representa 14%,e Agrárias representa 10,9%. Na Amazônia,45,9% dos grupos trabalham combiodiversidade, sendo que Saúde tem 61 grupos,Biológicas tem 110 e Agrárias tem 100 grupos,o que representa 1,78% dos grupos de pesquisado Brasil trabalhando com a biodiversidade naAmazônia!! Precisa ser reconhecido que outrosgrupos também trabalham com a biodiversidadeda Amazônia, mas não trabalham na Amazônia.

O futuro dos grupos está na formaçãode novos recursos humanos. Considerando queos grupos são formados por um doutor líder eum grupo de doutores, mestres, graduados e

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técnicos, a formação de novos doutores é umparâmetro importante para avaliar o futuro dosgrupos de pesquisa. Seguindo o mais recentelevantamento da CAPES, em 2002 os gruposde pesquisa formaram 6.843 novos doutores,sendo que 38 (0,5%) foram formados naAmazônia! É intrigante, mas apenas num anoo país formou 10 vezes mais doutores do que ototal daqueles existentes hoje na Amazônia,sendo que apenas no ano passado mais de2.000 doutores estavam desempregados ousub-empregados na região sudeste. Por si só,estes números indicam que é preciso conceberurgentemente uma política para fixação derecursos humanos na Amazônia. O que essesnúmeros nos dizem? É possível que a políticade fixação de recursos humanos do governofederal por meio de bolsas de estudo não sejaatrativa. Pesquisadores bolsistas são “bóiasfrias” da ciência moderna.

Estes números irrisórios resultam deinvestimentos passados e atuais!Historicamente, 3% dos investimentos em C&Te P&D federais são para Amazônia, ao mesmotempo em que a Amazônia gera ao redor de 7%do PIB brasileiro. Estes números demonstramclaramente que a Amazônia paga para outrasregiões do Brasil fazerem C&T e P&D. Agoraque mostramos os números, algum leitor aindatem dúvidas? Ao longo da última década, pelomenos, todos os governos afirmaram que aAmazônia é importante e que C&T é o caminhodo desenvolvimento do Brasil. Há claramenteum desencontro entre essa retórica e a prática.

CONCLUSÕES

Será que os autores estão apelando parao apocalipse? É ditado popular que o mundomuda mais rapidamente hoje que antigamente.No início do século 20, falou-se que demoraria

séculos para o desmatamento da Mata Atlântica– levou 50 anos! Lawrence et al. (2000) foramseveramente criticados por suas previsões,mas conforme a soja avança, parece que elestinham razão. Detalhes aqui e detalhes alipodem ser criticáveis, mas a tendência é atransformação da Amazônia em cerrado. Épossível reverter esta tendência? Claro, masrequer que o governo decida o que pretendefazer da Amazônia. Se pretende odesenvolvimento sustentável com a floresta depé, como querem os povos da florestaamazônica, muitos brasileiros, os cientistas epessoas do mundo afora, então é necessáriomudar a forma como o governo trata o assunto,e iniciar um programa de investimento naAmazônia, como parte integral do Brasil,inclusive e, principalmente, investimentos emC&T para viabilizar um futuro com a floresta depé. Em sendo a opção o modelo dedesenvolvimento atual, com a florestatransformada em cerrado, precisa assumir estapostura e, ainda, investir para viabilizar estemodelo. Não é mais possível ter um discursoretórico e outro plano de investimentos.

REFERÊNCIAS

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* Charles R. Clement é pesquisador doDepartamento de Ciências Agronômicas doINPA desde 1977. Formou-se em biologia em1973 na University of Connecticut, fez mestradoem biologia e genética em 1986 na Universidadde Costa Rica, e doutorado em horticultura egenética em 1995 na University of Hawaii.Concentra seus estudos na prospecção, uso,conservação, história e biogeografia dosrecursos genéticos de fruteiras nativas daAmazônia, com ênfase em pupunha.

**Adalberto Luís Val, 46 anos, épesquisador do INPA desde de 1981. Estuda asadaptações dos peixes da Amazônia àsmodificações do meio ambiente. Doutorou-seem 1986. Em 1992 concluiu seu pós-doutoradono Canadá. Publicou mais de 80 trabalhos emperiódicos nacionais e estrangeiros; cerca de20 capítulos de livros e oito livros, entre os quaisse destaca “Fishes of the Amazon” publicado pelaSpringer Verlag, Alemanha. Atual em váriassociedades científicas no Brasil e no exterior. Tem

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participado de comições de trabalho entre asquais: Comitê de Ecologia e Limnologia do CNPq,Comissão de Ciências Biológicas I da CAPES,Comissão de Avaliação das condições de ofertados cursos de Biologia do MEC, Comitê deAdministração do IDS Mamirauá e do Comitê doPrograma de Bolsas da Fundação Ford para açõesafirmativas. Em 2000, na Inglaterra, foi concluídona Legião de Honra da American Fisheries Society,Physiology Section e, em 2002, recebeu aComenda da Ordem Nacional do Mérito Científico.Acredita que a ciência é uma atividade social comfins sociais.

**José Arnaldo de Oliveira, cientistasocial pela Universidade Estadual de Campinascom especialização em informação ecológicapela Escola Superior de Propaganda eMarketing. Atualmente coordena a área decomunicação e campanhas do Grupo deTrabalho Amazônico (Rede GTA), onde esteveem 2002 coordenando a campanha Amazôniana Rio + 10, com eventos preparatórios para aConferência Mundial para o DesenvolvimentoSustentável em Joanesburgo.

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A Pesquisa de Elementos da Biodiversidade na Amazônia

A PESQUISA DE ELEMENTOS DABIODIVERSIDADE NA AMAZÔNIA

A inovação, que garante sustentabilidadeaos investimentos, é desafio em um país semcompromisso como o Brasil. A afirmação é dopesquisador Ednaldo Nelson da Silva, vicediretor do Instituto Nacional de Pesquisas daAmazônia – Inpa, para quem a exploraçãosustentável da Amazônia depende de maiorinvestimento em pesquisa sobre abiodiversidade e de competência para setransformar o conhecimento gerado eminovação. Ele informa que a Amazônia, quecorresponde a 60% do Território Nacional e ondevivem cerca de 20 milhões de pessoas, éresponsável por 7% do PIB brasileiro e noentanto apenas 1% de todos os recursosinvestidos em pesquisa no Brasil sãodestinados à Região, quando o que se poderiaesperar era que houvesse pelo menoscorrespondência entre a capacidade deproducão e os investimentos em pesquisa, aexemplo de tantos outros países.

O vice diretor do Inpa explica que emtodos os demais países a pesquisa é realizadapela iniciativa privada, que emprega a grandemaioria dos doutores e que, ao contrário, noBrasil 90% da pesquisa científica concentra-senas instituições públicas, gerando um espaçomuito grande a ser preenchido entre a geraçãodo conhecimento e a transformação dele eminovação. Isto justifica, segundo ele, asinvestidas da Biopirataria e a apropriação doconhecimento gerado na Amazônia, semqualquer participação lucrativa das praças deorigem. Como exemplo ele cita tecnologiascomo a do “fishburger” e da “bananaship”,

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desenvolvidos pelo Inpa, mas sócomercializadas sob forma de produtos depoisque a Unicamp passou a utilizar oconhecimento. A verdade – afirma EdnaldoNélson, é que no Brasil “nem o poder público,nem a iniciativa privada estão sabendo seapropriar do conhecimento gerado pelasinstituições de pesquisa para gerar emprego,renda, enfim, desenvolvimento”. Trata-se, navisão dele, de um problema decontextualização, uma vez que o Inpa e asdemais instituições trabalhariam voltadas parasi e que o governo, por sua vez, nada faria paraintegrá-las à iniciativa privada.

SOLUÇÕES COM EMBASAMENTOCIENTÍFICO

Em resposta a acusações que elepróprio cita de que o Inpa não coloca produtosno mercado, ele explica não ser esta a missãoda instituição e nem a formação de seuspesquisadores. O vice diretor explica queexistem duas linhas de geração doconhecimento : a que gera produtos paraexportação a partir do conhecimento dabiodiversidade e a que gera conhecimento paraproporcionar desenvolvimento e melhorqualidade de vida, em que o Inpa atuaprioritariamente. Para ele, quando se trabalhagerando conhecimento para o desenvolvimento,precisa-se encontrar soluções efetivamentebaseadas no conhecimento científico, de formaa se garantira sustentabilidade delas e nãosimplesmente importar-se tecnologias , quepodem vir a ser muito bem sucedidastemporariamente, mas que declinam logodepois. Como exemplo ele cita o Chile, que estáfazendo sucesso internacional - segundo ele,com os dias contados - como exportador desalmão, a partir de tecnologia importada. Outro

exemplo bem mais próximo, segundo o vicediretor do Inpa, é o dos treze plantadores de sojaem Humaitá, que investiram em um “pacotetecnológico” e que agora se vêem em falência,por falta de respaldo científico.

Além da escassez de recursos para apesquisa científica, o pesquisador cita comooutro problema estruturalmente sério para queo Brasil possa vencer o desafio da inovação, aforma de se fazer planejamento a cada quatroanos, por razões eleitoreiras. “Enquanto nospaíses bem sucedidos – afirma - o tempo dosplanejamentos para pesquisa é determinado porcritérios científicos, no Brasil os orçamentos depesquisa são determinados a cada mandato, oque inviabiliza a pesquisa científica, uma vezque o repasse dos recursos é interrompido eque se perdem experimentos. “Qual dos últimosgovernos lançou uma política nacional de ciênciae tecnologia para a Amazônia?” - pergunta - edestaca: “Dizer que a Amazônia é prioritária éapenas um sinal, pois a realidade se faz mesmocom investimentos”.

Com base em todos os pontos quelevantou, Ednaldo Nelson esclarece que o Inpa,desde março do ano passado, reavaliou, parase adaptar ao desafio da inovação, o seuposicionamento estratégico e redirecionou a suaatuação para incubadoras de empresas,difusão do conhecimento que gera, estímulo aoconhecimento sobre propriedade intelectual enegócios e sintonia com os programasgovernamentais, sobretudo com o programaZona Franca Verde, do governo estadual.

Quanto aos projetos que estão sendodesenvolvidos pelo Inpa em direção aodesenvolvimento sustentável, ele destaca omanejo de florestas naturais e a recuperaçãodas áreas degradáveis; o conhecimento e autilização dos peixes da Amazônia; a utilização

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dos produtos florestais, estudo dos genomasanimais e vegetais; aproveitamento doconhecimento indígena e estudo das áreasalagáveis. Segundo Ednaldo Nelson, estesprojetos têm grande potencial para proporcionarmelhores condições de vida para ascomunidades e desenvolvimento para Regiãoe estão disponíveis. Sobre as áreasdegradáveis, ele explica que não se precisariaderrubar nem mais uma árvore na Amazôniase aproveitássemos as áreas já sacrificadas.Quanto ao estudo dos peixes, ele destaca asinúmeras possibilidades de industrialização docouro para a fabricação de bolsas; dos ossospara produzir farinha, e da própria carne. Odesperdício é enorme - afirma - tanto dosnossos peixes quanto da nossa vegetação.Quanto ao conhecimento indígena, ele afirmaque o Inpa reconhece a sua dívida para com ohomem amazônico e que para revertê-la criouo Núcleo de Pesquisa em Ciências Humanas eSociais. O homem é objeto de atenção do Inpatambém no estudo sobre as florestas alagadas,várzeas e igapós, onde precisa-se garantir asubsistência o ano inteiro.

O COMPORTAMENTO DA SAÚDE E DADOENÇA NA AMAZÔNIA

A preocupação com a qualidade de vidae saúde do homem amazônico também é umadas principais preocupações da FundaçãoOswaldo Cruz – Fiocruz, que embora só tenhainstalado a sua Unidade Técnico - Científica paraa Região em junho de 2003, em Manaus,desenvolve pesquisas e estudos sobre abiodiversidade amazônica há mais de dez anos,nas áreas de biodiversidade em saúde, ensinoe sociodiversidade.

Na busca de conhecimento sobre ohomem amazônico, a Fiocruz se desafia a

entender as variações sócio-epidemiológicas esócio-antropológicas do processo saúde/doença e ainda os significados histórico-culturais do mesmo processo nas maisdiversas etnias que habitam a região. Comoexplica o vice diretor da instituição na Amazônia,Sérgio Bessa Luz, a Fiocruz começa a pensarna Amazônia não só como natureza, mastambém como sociedade, reconhecendo queos recursos a serem estudados não advêm sóda fauna e da flora, mas também da cultura dospovos amazônicos. Dentre os 26 projetosdesenvolvidos na área de sociodiversidade, eledestaca o Observatório de Situações de Saúde,uma metodologia que visualiza e controla ocomportamento das doenças em relação aoscostumes culturais; e os Estudos Sócio -Antropológicos da Saúde, através do qualpesquisa o comportamento humano diante dasdoenças, entre eles, por exemplo, o porquê de26% das pessoas que se tratam de hanseníaseacabarem por abandonar o tratamento. Outraimportante pesquisa da instituição é a queinvestiga o consumo da bebida alcóolica entreos indígenas. Com todas essas investigações,a Fiocruz espera poder, a médio e longo prazo,formatar uma base de conhecimento sobre aspopulações indígenas, afro-descendentes,ribeirinhos e moradores das periferias dosgrandes centros.

Na área de biodiversidade em saúde, ospesquisadores da Fiocruz desenvolvem estudosbiológicos e biomédicos direcionados àprodução de informações e tecnologias quecontribuem para o controle das doençasprevalecentes e para promover o equilíbrio dasaúde ambiental da Amazônia. Neste sentido,uma inovação a ser destacada é a da tecnologiapara o diagnóstico molecular de doenças comomalária, oncocercose, leishmaniose e até

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dengue. O vice diretor e também coordenadorda área de Biodiversidade em Saúde explicaque o diagnóstico a partir do DNA é um processorevolucionário e especialmente importante parapacientes assintomáticos, que atualmentesofrem muitos dias até que se possa confirmara enfermidade que os acomete, e muitas vezcom conseqûencias irreversíveis.

A Fiocruz Amazônia atua também na áreade Ensino em Saúde, preparando e capacitandoos recursos humanos necessários para odesenvolvimento dos seus projetos e de outrosde Saúde Pública. Para 2004, a instituiçãoprogramou o primeiro Mestrado em SaúdePública da Região e diversas especializaçõescomo Saúde Mental, Saúde da Mulher,Antropologia de Saúde, Sistema de Informaçãoem Saúde, entre tantas outras.

A ESCASSEZ DO CONHECIMENTOBÁSICO

Em abordagem sobre as dificuldades defazer pesquisa em uma região tão desafiantequanto a Amazônia e sobre quais as inovaçõesobtidas ao longo de tantos investimentos nabusca do conhecimento sobre a Região, Sérgioda Luz destaca que freqüentemente ospesquisadores são cobrados a potencializarconhecimentos para que sejam obtidosresultados mais rápidos. Entretanto, a premissabásica para qualquer país desenvolveratividades de inovação tecnológica é possuiruma forte base de capacitação científica empesquisa básica.

Segundo ele, na área da saúde ainovação tecnológica dependefundamentalmente da pesquisa básica. Nodesenvolvimento de vacinas ou de diagnósticosmais precisos, pouco avanço pode serconseguido sem conhecimentos básicos dos

mecanismos imunológicos envolvidos naresposta às infecções. Ainda segundo SérgioLuz, a grande vantagem que os países doPrimeiro Mundo possuem em relação a paísescomo o Brasil está, justamente, no suporte quecontruíram em pesquisa básica. Comoexemplo, ele comenta que no caso da Aids,todos os avanços e resultados aplicáveis quese conseguiu até hoje são devidos aos estudosbásicos de pesquisadores que se dedicaramdurante anos e anos a entender os retrovirus.“Se já não se tivesse essa base, com certezaaté hoje estaríamos buscando o que fazer “ -destaca.

O vice diretor da Fiocruz Amazôniaconclui que “embora exista um arcabouçocientífico muito importante para que a inovaçãotecnológica aconteça, é necessário existir umapolítica específica que contemple a pesquisabásica, no Brasil” e que só a partir daí o Paíspoderá elevar a sua competência em inovação.Coleções Biológicas são depositários do produtode pesquisa em sistemática, fisiologia egenética microbiana de material biológico.Assim, as Coleções Biológicas possuempotenciais valores científicos, ecológicos,educacionais, sociais e econômicos. Nessecontexto, a Região Amazônica tem grandedestaque no cenário Mundial pela suabiodiversidade. A Fiocruz está consolidando noEstado do Amazonas o seu mais novo CentroRegional de Pesquisa que tem desenvolvidodentro de suas áreas de atuação linhas depesquisa em entomologia, bacteriologia,micologia e biotecnologia. Todas essas linhasde pesquisa apresentam como eixo agregadora estruturação de uma Coleção Biológica comobjetivo de preservação e conservação dosrecursos biológicos e genéticos gerados atravésde suas áreas de atuação. A potencialidade de

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uma Coleção Biológica deve ser destacada,ainda, nos aspectos relacionados com osprodutos provenientes da utilização do acervobiológico tendo em vista que o mercado Mundialindica que a Biotecnologia é o setor maispromissor, superando inclusive a indústriatecnológica. Hoje, a maioria das decisões depolíticas públicas se baseia em consideraçõeseconômicas. Assim, a Coleção Biológica buscademonstrar como estratégia que tem potencialvalor econômico e que a sua utilização érelevante na sua implementação, ou seja,apregoa ser imprescindível o reconhecimentodo valor econômico das Coleções.

COMPETÊNCIA TECNOLÓGICA COMOESTRATÉGIA PARA PRESERVAÇÃO

Para a Embrapa Amazônia Ocidental,que tem por missão viabilizar soluçõestecnológicas para o agronegócio na região,visando ao desenvolvimento sustentável, aBiodiversidade da Amazônia é um campo abertopara pesquisas, geração de conhecimento edesenvolvimento de competência tecnológica.Atuando na Amazônia desde 1973, a instituiçãocomemora agora o maior banco genético deguaraná do mundo, garantindo a perenizaçãoda espécie, que seus técnicos e pesquisadoresconsideram finalmente domesticada epreservada.

Segundo o Chefe Adjunto de P&D daEmbrapa Amazônia Ocidental, José JaksonXavier, a instituição se diferencia das outrasinstituições de pesquisas que se debruçamsobre a biodiversidade regional, por buscarsoluções efetivas para melhorar a qualidade devida da população e orientar suas pesquisas pornecessidades ou demandas mercadológicas.Na opinião dele esse é um dos fatores que maistêm contribuído para o sucesso das pesquisas

da Embrapa. Ele destaca que a agriculturapredominante na Amazônia está centrada napequena produção familiar, caracterizada porbaixa remuneração do produtor, e que ainstituição vê na inclusão social do pequenoagricultor um dos seus maiores desafios. Paratanto, a Embrapa apoia o desenvolvimento daagricultura familiar, adequando tecnologias esistemas de produção e manejo à realidaderegional. O acesso do produtor às tecnologiasé efetivado por ações de transferênciarealizadas em parcerias com instituições comoSebrae e Idam, entre tantas outras.

Destacando que a preservação dosrecursos genéticos da Amazônia também é umadas principais diretrizes, José Jackson Xavierdefende que a maneira mais efetiva de sepreservar é conhecer e orientar a exploração apartir deste conhecimento e não se deixar deusufuir do que a natureza tem a nos oferecer.Ele explica que a biodiversidade tem porcaracterística possuir uma elevadamultiplicidade de espécies, mas emcontraponto possuir também uma baixaquantidade de cada uma das suas espécies eque, portanto, para se garantir uma exploraçãosustentável é necessário que se tenha o domíniodo conhecimento sobre essas espécies paraque se possa garantir a subsistência delas e,ao mesmo tempo, a sustentação do consumo.Como exemplo, ele cita os casos do óleo daandiboba e do pau rosa, que estão sendoexplorados indiscriminadamente, correndo orisco de se extinguirem, e que, no entanto, emnada têm interferido na qualidade de vida dapopulação.

O guaraná, em contrapartida, quesegundo o Chefe Adjunto de P&D da Embrapa,até 30 anos atrás era apenas extrativo, agorapropicia a sobrevivência de milhares de famílias,

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A Pesquisa de Elementos da Biodiversidade na Amazônia

graças aos avanços obtidos através dapesquisas em biologia molecular desenvolvidaspela Embrapa. Hoje, a instituição já passou decultivo de sementes para a produção de clones,capazes de elevar em pelo menos dez vezes orendimento de cada espécie.

Outra característica da biodiversidadeque, segundo o pesquisador da Embrapa,dificulta a exploração sustentável da Amazônia,é que o solo é muito rico fisicamente, porémmuito pobre quimicamente, exigindoconhecimento e tecnologias também para o seucultivo. Para tanto, a Embrapa tem desenvolvidoavançados sistemas de manejo do solo e deplantas e também do tratamento de pragas edoenças, características do alto grau deumidade na Região.

PRIORIDADES REGIONAIS

Além do guaraná, a Embrapa dedica-seprioritariamente ao conhecimento edesenvolvimento de tecnologias para aexploração sustentável de outras espécies,como a mandioca, arroz, feijão, milho e soja etambém às chamadas espécies florestais,através de um projeto de zoneamento ecológico.Sobre as espécies florestais , José JacksonXavier enfatiza, mais uma vez, que a Embrapase dedica a atender necessidades do mercado,mas sempre visando à preservação e destacao caso do município de Iranduba, aonde o setoroleiro consome um número muito grande demadeiras para queima, o que pode causardanos à preservação. Para solucionar aquestão, os técnicos da Embrapa estãodesenvolvendo estudos para obter emquantidade suficiente para o consumo dasolarias uma madeira de alto valor calórico. “Aodisponibilizarmos esse resultado, estaremos,mais uma vez, preservando os recursosgenéticos naturais”– destaca o Chefe Adjuntode P&D da Embrapa.

Ainda falando de prioridades,JoséJackson Xavier destaca o programa demelhoramento da banana, visando ao aumentode sua resistência e qualidade e também oprojeto de recuperação da seringueiras,dizimadas na década de 70 pelo microciclo ulei,que atacava as folhas e impedia a produção dolátex, pondo fim, inclusive, ao Probor, umprograma que o governo federal à épocadesenvolvera para reabilitar a cultura daseringueira na Amazônia. Hoje, ressalta opesquisador, a Embrapa já dispõe da tecnologiado tricomposto, que une as raízes de uma plantaao tronco de outra e à copa de uma terceira,formando uma só espécie. “Se hoje existir umnovo Probor – afirma José Jackson Xavier -poderemos fazer renascer a cultura da borrachana Amazônia”.

A Embrapa dedica-se muito também aoconhecimento e desenvolvimento detecnologias para a exploração do dendê, para oquê já possui o maior banco de hemoplasmada América Latina, e um campo experimentalde 420 hectares. O potencial de produçãoimediato chega a 4 milhões de sementes/ano,podendo, com o incremento ao programa demelhoramento, alcançar a marca de 8 milhõesde sementes/ano, suficientes para aimplantação de 40 mil hectares de dendezais/ano. Outra prioridade é a piscicultura, uma vezque o consumo per capita de peixes diminuiumuito na região, em razão da escassezprovocada pela ação antrópica. Um quadrosemelhante, segundo José Jackson Xavier, aoque aconteceu na China e que hoje se alimentabasicamente de peixes graças à mesmaestratégia que a Embrapa está utilizando paraa Amazônia, ou seja, as tecnologias depiscicultura em tanque escavado e em rede. AEmbrapa está transferindo essas tecnologiasdiretamente aos produtores.

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Recursos Hídricos Urbanos - Proposta de um Modelo de Planejamento e Gestão Integrada e Participativa no Município de Manaus - Am

CIÊNCIA ASSOCIADA À PROMOÇÃODO DESENVOLVIMENTO

O Centro de Biotecnologia da Amazônia,criado pelo governo do Brasil em parceria coma comunidade científica e o setor privado parapromover o desenvolvimento sustentável daAmazônia e tornar-se referência nacional einternacional em conhecimento e tecnologiasobre a biodiversidade da região, ainda está emfase de estruturação, embora já disponha de12 mil m2 de área construída, onde integram-se 26 laboratórios, central de produção deextratos, incubadoras de empresas, alojamentospara pesquisadores e instalações administrativas ede apoio à pesquisa.

Segundo o coordenador de implementaçãodo Centro, Imar César de Araújo, a assinaturade um acordo entre os ministérios do MeioAmbiente, Ciência e Tecnologia e Desenvolvimento,Indústria e Comércio, costurado para o próximomês, pode garantir o repasse da verbanecessária para que o CBA dê início àcontratação de recursos humanos qualificadose inicie, finalmente, as suas atividades depesquisa e inovacão tecnológica. Ele explica queo governo anterior, na proximidade do final demandato, optou por não mais tomar decisõesrelativas à implementação do centro, e o governoatual apenas em setembro último retomou asdiscussões sobre o modelo de gestão a seradotado para a instituição, o que provocouatrasos e poderia ter inviabilizado totalmentequalquer iniciativa. Isso só não aconteceu, explicao coordenador, porque a Suframa, através deuma parceria com a Pepsi e a Fucapi, garantiua verba necessária para desenvolver um projetode estruturação do CBA, desenvolvido ao longode todo este ano de 2003. A estruturação do CBAcontempla o planejamento e o relacionamentoda instituição com os seus parceiros e com omercado,incluindo análise da oferta da comunidade

científica e da demanda mercadológica;instalação de intranet para link direto com oslaboratórios associados, definição dosprocedimentos a serem adotados para o acessoà biodiversidade e compra e instalação deequipamentos e seus complementos.

O coordenador afirma ainda que asdificuldades têm sido grandes, mas que quandoo Centro de Biotecnologia da Amazônia estiverefetivamente em funcionamento vai“revolucionar todo o atual processo de geraçãode conhecimento sobre a biodiversidadeamazônica”. Ele faz esta afirmação baseado noperfil do CBA, que ele considera eficiente,moderno e competitivo, por associar a geraçãodo conhecimento às atividadesempreendedoras e à bioindústria, e assimgerando a competência que o Brasil precisapara transformar dinheiro em conhecimento etecnologia e conhecimento e tecnologia emdinheiro, completando assim o ciclo dodesenvolvimento sustentável .

Para tanto, o coordenador deimplementação explica que uma das atuaçõesmais significativas do CBA será justamente ade colocar a pesquisa a serviço do mercado.Ele explica que “o Brasil é um país bom detransformar dinheiro em ciência e ruim detransformar ciência em dinheiro”, ou seja, quenão completa o ciclo de desenvolvimento e queenquanto esta competência não fordesenvolvida, não se tem desenvolvimentosustentável. Ele afirma ainda ser precisoabandonar as pesquisas baseadas apenas nasidéias do pesquisador e orientando novaspesquisas a partir da demanda do mercado.Como exemplo ele comenta que muitaspesquisas podem ser boas para a ciência emsi, mas apresentam pouca valia para apromocão do desenvolvimento que o Brasil tantoprecisa.

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Recursos Hídricos Urbanos - Proposta de um Modelo de Planejamento e Gestão Integrada e Participativa no Município de Manaus - Am

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RECURSOS HÍDRICOS URBANOS- PROPOSTA DE UM MODELODE PLANEJAMENTO E GESTÃOINTEGRADA E PARTICIPATIVANO MUNICÍPIO DE MANAUS - AM.

Andréa Viviana Waichman*João Tito Borges**

INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas a RegiãoAmazônica passou a ser motivo de um grandeinteresse por parte do governo na tentativa desua incorporação ao modelo dedesenvolvimento econômico nacional e de suaocupação. Desta forma, o governo desenhouum conjunto de programas e planos visando aoestabelecimento, em nível nacional, de umequilíbrio geopolítico interno.

Uma das estratégias adotadas foi a deimplantação de grandes projetos industriais quese constituiriam em pólos de crescimento emtorno dos quais iriam surgir centros motores daeconomia regional. Assim, atraídos por umapolítica de incentivos fiscais, diversos projetosforam implantados a partir do final da décadade 60. Uma das características destes projetosfoi a alta tecnologia empregada, o alto grau deorganização na exploração dos recursosnaturais e o grande volume de produção.

Um dos primeiros projetos implantadosna região foi a Zona Franca de Manaus, criadaem 1967, por meio do Decreto-Lei n.o 288, cujoobjetivo foi desenvolver um pólo industrial,comercial e agrícola no Estado do Amazonas,servindo de pólo de desenvolvimento para aAmazônia Ocidental. Entre 1970 e 1974 foraminvestidos 523 milhões de dólares para ainstalação de 321 projetos. Embora criada em

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Recursos Hídricos Urbanos - Proposta de um Modelo de Planejamento e Gestão Integrada e Participativa no Município de Manaus - Am

1967, a Zona Franca de Manaus somentecomeçou a funcionar em 1972, ocasião daconclusão das obras do Distrito Industrial.

A instalação da Zona Franca de Manausgerou um movimento migratório que levou a umrápido crescimento populacional nos principaiscentros urbanos da região. Este processoaumentou a pressão poluidora sobre ossistemas hídricos urbanos, com impactos quese evidenciam no contexto ecológico,econômico e social, refletindo-se na perda dequalidade de vida, prejuízos econômicos emudanças drásticas nas características dosecossistemas e da paisagem de Manaus. A ZFMse constituiu num pólo atrativo de mão de obrabarata acentuando o fluxo migratório fazendocom que a população passasse de 283.685habitantes em 1970 a 1.403.796 em 2000. Estecrescimento demográfico, e a conseqüenteexpansão urbana, não foram acompanhados deinvestimentos em obras de infra-estrutura,principalmente no setor de saneamento básico.

A área do Distrito Industrial de Manauspossui um ordenamento para uso e ocupaçãodo solo sendo que a Resolução 520 daSUFRAMA (Superintendência da Zona Francade Manaus) traz disposições sobre o controleda poluição.

Enquanto as áreas destinadas àimplantação das indústrias foram planejadaspara prover a infra-estrutura e serviçosadequados para o seu funcionamento, asmoradias dos trabalhadores foramestabelecendo-se na periferia da cidade, semnenhum planejamento. A classe menosfavorecida estabeleceu-se em áreas menosvalorizadas para suas moradias, entre elas, asmargens dos igarapés. Ressalta-se o fato deque o sistema de tratamento de efluentesunitário (tratamento de todos os efluentes em

uma só estação) previsto no projeto inicial deinstalação do Distrito Industrial não foraexecutado. No ano de 2003, o que existem sãosistemas de tratamento de efluentes sob aresponsabilidade das próprias empresas, o quepropicia uma maior dificuldade de fiscalizaçãoe controle por parte dos órgãos de controleambiental.

Além de estarem sendo utilizados paramoradia da população de baixa renda sobresuas superfícies, os igarapés de Manaus seconstituem em lixeiras e receptores de esgotossanitários e industriais (Figura 1). Nestecontexto, a bacia do Igarapé do Quarenta,compondo grande parte de sua área dentro dodistrito industrial, é uma das bacias urbanasmais degradadas no município (Figuras 2 e 3).Essa degradação é resultado do desmatamentode suas margens com posterior ocupação porpalafitas e conjuntos residenciais, lançamentode lixo, esgotos sanitários e da carga despejadapelas indústrias.

Os governos municipal e estadual vêmimplementando ações que se concentramprincipalmente na retirada de resíduos sólidosdos igarapés e na canalização dos leitos.Porém, esta medida não tem sido suficiente,pois, em pouco tempo o cenário volta a ser omesmo devido à descontinuidade das ações,evidenciando, portanto, a necessidade de ummodelo de gestão integrado e participativo dosrecursos hídricos urbanos que seja adequadoà realidade local e replicável ao nível regional.

PROPOSTA PARA O PROBLEMAAPRESENTADO

A partir do problema exposto, um grupode pesquisadores da Universidade doAmazonas (UFAM), juntamente com aFundação Centro de Análise, Pesquisa e

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Recursos Hídricos Urbanos - Proposta de um Modelo de Planejamento e Gestão Integrada e Participativa no Município de Manaus - Am

mananciais de água doce e garantir a suaexistência para as futuras gerações. Esseprocesso só é possível a partir do envolvimentoda sociedade e do estado nas diferentesinstâncias de planejamento do desenvolvimentoe de elaboração de políticas públicas para osetor. Além disto, a água pode ser vista pelasociedade de várias formas, dependendo donível de decisão, influência e necessidades dosdiferentes grupos sociais. Entender essasdiferentes percepções é relevante porque elascondicionam a maneira de se realizar oplanejamento e gestão dos recursos. Sendoassim, a água pode ser tratada como umamercadoria (commodity), uma necessidadesocial e de sobrevivência humana ou umrecurso estratégico ou ecológico.

O planejamento e a gestão não podemser vistos como a organização prévia e rígidados diversos recursos disponíveis em funçãode objetivos e metas estabelecidas porinstituições e técnicos. Ao contrário, deve surgirda interação dos atores sociais, coordenandoos esforços e em função de objetivosestabelecidos em comum. Assim, a criação domodelo e sua implantação se darão a partir daampla participação da sociedade. Esta é umadas lições que foram aprendidas depois dosinsucessos na gestão de recursos hídricos nasúltimas décadas, onde a população localsomente pagava pelo uso, pela degradaçãorealizada ou pela recuperação de áreasimpactadas. Para o sucesso da gestão seránecessário que todos os usuários reconheçamque a participação não é simplesmente umanova forma de discutir as mesmas soluções,mas sim, um fórum no qual deve-se incentivara proposição de novas estratégias para garantira conservação dos recursos hídricos.

Isto não é muito fácil, pois o processo

participativo não implica em deliberações oudiscussões isoladas. Ele demanda umaprofunda mudança na postura de gestão, ondeos tomadores de decisão se aproximam dasociedade e consideram suas necessidades,vivências e experiências. A participação implicano trabalho conjunto para o estabelecimento decritérios, para o manejo sustentável,identificando prioridades e superando entraves.

A equipe técnica do projeto que estácoordenando o processo de planejamento vemrealizando as articulações institucionais eidentificando os diferentes atores sociais quedevem fazer parte do processo, como asassociações de moradores, associaçõesindustriais e comerciais, sindicatos, liderançasformais e informais, prefeituras municipais,órgãos públicos estaduais e federais. Aarticulação entre os diferentes atores deverágerar um processo de cooperação e de arranjoinstitucional que permitirá o fluxo contínuo deinformações, de trocas de serviços e de apoiomútuo. Entende-se que a cooperaçãoimplementada possibilitará o intercâmbio desaberes, a valorização de habilidades, enfim ainstituição de um rico processo de crescimento,onde cada entidade em sua esfera se fortaleçana força coletiva e se exercite um avanço noexercício da excelência e da participação cidadã.

O modelo de gestão vislumbrado deveter na informação a matéria-prima essencialpara o planejamento, a formulação de políticase a tomada de decisão. Desta forma, as metasestabelecidas no projeto incluem a identificaçãodos usuários com a definição de seus principaisproblemas e prioridades e a coleta de dadosqualitativos (qualidade da água) e quantitativosdos recursos hídricos (dados de vazão, áreainundada e outros) em escala temporal eespacial, de dados sócio-econômicos e da

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A Biodiversidade no Estado do Acre: Conhecimento Atual, Conservação e Perspectiva

recursos hídricos, sendo um deles o projeto “Ummodelo de planejamento e gerenciamento derecursos hídricos urbanos para cidadesamazônicas” do Fundo Setorial de RecursosHídricos do MCT. Universidade Federal doAmazonas.E-Mail: [email protected]

**João Tito Borges – Doutor em EngenhariaCivil, na área de concentração em Saneamentoe Ambiente pela UNICAMP. Professor do CESF-FUCAPI nos Cursos de graduação na disciplinade Gestão Ambiental e funcionário do CETAF(Centro Tecnológico Ambiental da FUCAPI) eprofessor em cursos de especialização naUFAM, UTAM e Nilton Lins.E-Mail: [email protected]

avaliação dos impactos provocados pelasformas de ocupação. Essas informaçõesdeverão ser atualizadas e disponibilizadasatravés de uma rede integrada pelos diferentesagentes sociais envolvidos, viabilizando suamanutenção.

O processo de criação do modelo irápromover a integração dos diversos usuáriospara a análise dos problemas e elaboração dassoluções possíveis. O grande desafio, após acriação do modelo será o envolvimento dosdiferentes setores na implementação e nomonitoramento das ações propostas.

Conclusão

A gestão dos recursos hídricos e arevitalização de bacias urbanas de Manausdevem ser baseadas na criação de uma novaconsciência de interação entre os elementoscomportamentais e tecnológicos, haja vista aforte identidade simbólica do povo amazônicocom a água. Desta forma, a identificação dosinteresses dos diferentes setores e aincorporação das oportunidades e limitaçõesdos ambientes, da sociedade e da economia,são princípios que estão sendo consideradosno processo de elaboração do modelo deplanejamento e gestão integrada e participativados recursos hídricos, que promovam amelhoria da qualidade de vida da população e arecuperação dos igarapés, reintegrando-os àpaisagem urbana.

*Andréa Viviana Waichman – Doutora emBiologia Aquática e Pesca Interior pelo INPA.Desde 1995 vem pesquisando os impactosantrópicos nos igarapés de Manaus. Coordenavários projetos relacionados à gestão de

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A Biodiversidade no Estado do Acre: Conhecimento Atual, Conservação e Perspectiva

A BIODIVERSIDADE NOESTADO DO ACRE:CONHECIMENTO ATUAL,CONSERVAÇÃO EPERSPECTIVAS

Moisés B. de Souza*

Marcos Silveira**

Maria Rosélia M. Lopes***

Lisandro Juno S. Vieira****

Edson Guilherme*****

Armando M. Calouro******

Elder F. Morato*******

ACRE: UMA FRONTEIRA BIOLÓGICA EGEOGRÁFICA NO SUDOESTE DAAMAZÔNIA.

O Estado do Acre está localizado noextremo oeste do Brasil, em uma área detransição entre a Cordilheira andina e as terrasbaixas amazônicas, e inserido, ou próximo, de umdos mais importantes Refúgios Florestais doPleistoceno, o “Refúgio do Leste do Peru-Acre”proposto por HAFFER (1969, 1974), VANZOLINI& WILLIAMS (1970), PRANCE (1973), BROWNet al. (1974), contudo não corroborado por RANZI(2000).

A Amazônia sul-ocidental, em territóriobrasileiro é caracterizada pela presença de riosbarrentos e meândricos, com cursos instáveis eterreno relativamente plano, exceto em partes dabacia do alto Juruá, cuja topografia mais acidentadarevela morros, rochas, cachoeiras e pequenasmontanhas de até 600 m, em função daproximidade dos Andes.

O clima no Acre é caracterizado por umamédia pluviométrica anual que varia entre 1.600mm e 2.750 mm, e pela duração da sazonalidade.No Acre, o déficit hídrico pode se prolongar por

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até cinco meses na região leste, diminuindoprogressivamente no sentido Sudeste-Noroeste(ACRE, 2001). Com uma estação secapronunciada, o leste do Estado revela afinidadesflorísticas fortes com o Brasil Central e asformações peri-Amazônicas mais secasinvestigadas por PRADO & GIBBS (1993),enquanto no extremo noroeste, mais úmido, háafinidades com os Andes e demais partesperiféricas da Amazônia ocidental.

Até hoje, o Acre ainda é considerado umEstado isolado do resto do país, onde omelhoramento das estradas é um sonhoregional, tanto do lado brasileiro como dos ladosperuano e boliviano na Amazônia Sul-Ocidental.Com os investimentos do Programa AvançaBrasil, o trecho acreano da BR-317, que ligaráo Brasil aos portos do Pacífico, está concluído(BROWN et al., 2002). No entanto, existe umapreocupação por parte da comunidade localsobre os possíveis impactos sociais eambientais que essas obras possam causar naregião, uma vez que a rodovia cruza um “hotspot”, e praticamente inexistem estudos sobreos possíveis impactos.

Embora as mudanças nos padrões de usoda terra venham provocando a fragmentaçãoflorestal, especialmente no leste do estado, dos152.581.388 km2 (NÃO SERIAM m2 ?), o Acreainda mantém 90% da sua cobertura florestal empé, e parte de sua área pertence à União, o quefavorece o estabelecimento de mecanismos deconservação (ACRE, 2001).

A FLORA E A FAUNA EM NÚMEROS

Resultados do Zoneamento Ecológico-Econômico do Estado do Acre (ACRE, 2001), noseu componente “Indicativos para Conservaçãoda Biodiversidade”, apontam que mais da metadeda superfície do estado tem importância “extrema”

e “muito alta” para proteção da biodiversidade(ACRE, 2001). O Acre também é indicado comoregião prioritária para levantamentos biológicos, ecomo “hot spot” para diversos grupos, por causada alta diversidade e de endemismos estreitos(CONSERVATION INTERNATIONAL, 1991;DINNERSTEIN et al., 1995).

A alta diversidade biológica no Estado doAcre pode ser resultante da interação de umconjunto de fatores bióticos e abióticos, como:origem e história geológica da região; mudançasclimáticas no passado; mecanismos de geraçãodessa diversidade ao longo do tempo;heterogeneidade ambiental; características dascondições climáticas atuais (pluviosidade,umidade, temperatura, e sazonalidade).

As informações sobre diversidade florísticado Acre oriundam originam-se de levantamentosefetuados por especialistas botânicos, cujasamostras estão depositadas no Herbário daUniversidade Federal do Acre e, ainda, do Bancode Dados da Flora do Acre.

Estudos sobre o inventário taxonômico dabiodiversidade de algas no estado do Acre sãoincipientes, raros e estão concentrados nacomunidade fitoplanctônica. Embora suaficoflórula seja exuberante e extremamentediversificada, o que pode ser comprovado pelapresença de representantes de todos os filos algaise considerável número de classes (VAN DENHOEK et al., 1997), ainda é muito poucoconhecida.

No vale do Juruá, ARCHIBALD & KING(1985) identificaram 73 espécies para o rio Moa eLopes (dados não publicados), 56 espécies parao rio Juruá. No vale do rio Acre, KEPPELER et al.(1999a, 1999b), identificaram 35 espécies para olago Amapá, e LOPES & BICUDO (2003), 98espécies para o lago Pirapora. Além disso, LOPES(dados não publicados) vem realizando um

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A Biodiversidade no Estado do Acre: Conhecimento Atual, Conservação e Perspectiva

inventário taxonômico apurado para o Estado e,até o momento, foram identificadas e catalogadas436 espécies de algas fitoplanctônicas e perifíticas,coletadas nos açudes e nos ecossistemas queformam a planície de inundação do rio Acre.

O conhecimento da composição florísticados ecossistemas do Acre, incluindo as coleçõeshistórias do botânico alemão Enest Ule, realizadasem 1901 e 1910, foi resgatado e estásistematizado no Banco de Dados da Flora doAcre (www.nybg.org/bsci/acre), gerenciado hámais de 13 anos pelo convênio entre aUniversidade Federal do Acre (UFAC) e o New YorkBotanical Garden (NYBG).

O banco de dados registra quase 20.000amostras botânicas incorporadas à coleção doHerbário da UFAC e, desse total, estima-se queexistam no Acre aproximadamente 4.000espécies vegetais, significando que a cada cincoplantas coletadas na região, uma representa umnovo registro para a base de dados.

O conhecimento da flora do Acre estádistribuído geograficamente de forma irregular,uma vez que a bacia do Rio Acre no leste, e a doAlto Juruá no noroeste, receberam maioresinvestimentos, sendo que esta última concentra amaioria das coletas botânicas efetuadas no estado(DALY & SILVEIRA 2002). Em função disso, existeuma lacuna, ou “buraco negro” (SILVEIRA et al.,1997) no conhecimento florístico na região dabacia do Rio Purus, que apenas recentementepassou a ser alvo de expedições botânicas.

Apesar da quantidade de coletas teraumentado nos últimos anos (SILVEIRA, 2003), amédia de 15 coletas em 100 km2 ainda érelativamente baixa quando comparada com maisde 85 plantas coletadas em 100 km2 na AmazôniaEquatoriana (RENNER et al., 1990), e mais de 30espécies em 100 km2 na região do Chocó, naColômbia (FORERO & GENTRY, 1989).

Na busca pelo aumento do número dascoletas botânicas e da qualidade dasdeterminações, especialistas mobilizados para oAcre nos últimos 30 meses, através do convênioUFAC/NYBG, coletaram cerca de 8.000 amostras.Isso representa um impacto notável para oconhecimento da flora regional, pois o herbáriolevou pouco mais de 20 anos para incorporar17.000 amostras, e cresceu quase 40% emmenos de três anos (SILVEIRA, 2003). Nessesúltimos 30 meses foram descobertas 32 espéciesnovas de plantas, o equivalente a mais de umaespécie nova por mês. Além da descoberta deum número crescente de espécies novas para aciência, análises de distribuições levantam umnúmero cada vez maior de espécies endêmicasestreitas (DALY, 2003).

O Acre abriga 75 espécies de briófitas, 152de pteridófitas e seis de gimnospermas (Zamia eGnetum), e constitui um centro de diversidadepara as palmeiras, abrigando mais espécies quea Bolívia inteira, e pelo menos 70% da flora depalmeiras da Amazônia ocidental (HENDERSON,1995). Para a Amazônia, o Acre também é ricoem Myrtaceae, Araceae terrestres, e Pteridófitas.

Além dos dados florísticos, informaçõesde 14 amostras de um hectare estabelecidas emdiferentes tipos de floresta no Acre (SILVEIRA &DALY, dados não publicados), também ajudam nacompreensão dos padrões de diversidade, e nodesenvolvimento de modelos sobre densidade ediversidade arbóreas para a Amazônia (TERSTEEGE et al., 2003). Para os padrõesAmazônicos, as florestas no Acre são pobres oupodem apresentar riqueza intermediária deespécies. A Floresta aberta com bambus dogênero Guadua, por exemplo, abriga um númeroinferior a 100 espécies arbóreas por hectare(SILVEIRA, 2001). Em determinadas Florestasabertas com palmeiras, no entanto, é possível

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A Biodiversidade no Estado do Acre: Conhecimento Atual, Conservação e Perspectiva

encontrar até 201 espécies por hectare (SILVEIRA& DALY, dados não publicados), um valor não tãoelevado em relação àqueles encontrados emManaus (OLIVEIRA & MORI, 1999), Iquitos no Peru(BALSLEV et al., 1987), e Cuyabeno no Equador(VALENCIA et al., 1994), mas superior à riquezadocumentada em mais de 50% dos inventáriosrealizados na Amazônia.

No que diz respeito à fauna, o Acre tambémapresenta uma diversidade alta de espécies, e talconhecimento está associado às coleções dereferência mantidas pela UFAC (entomológica,paleontológica, herpetológica, fauna aquática eamostras taxidermizadas de espécimes daavifauna e da mastofauna), e às informaçõescongregadas em um Banco de ReferênciasBibliográficas sobre a fauna do estado (ACRE,2001).

Os animais da fauna regional somam3.581 espécies, com destaque para a avifauna,anurofauna e mastofauna. No Acre é possívelencontrar cerca de 30% dos sapos, rãs epererecas existentes no Brasil, 50% da avifaunae cerca de 40% dos mamíferos brasileiros. Emfunção da proximidade dos Andes, o Acre tambémé uma região de diversidade alta de borboletas.

O conhecimento sobre a ictiofauna deágua doce da região Neotropical, a menosconhecida entre as regiões zoogeográficas domundo (MOYLE & CECH, 1982), aponta para2.400 espécies (MENEZES, 1996; LOWE-McCONNELL, 1999), dentre as quais cerca de1.300 estão presentes na Amazônia, muitasdestas endêmicas. Os inventários no Acre sãopouco expressivos, uma vez que a região éconsiderada como “Área de muito altaimportância” para a conservação da biota aquática(cerca de 70% da área do estado do Acre),segundo o Seminário Consulta de Macapá(CAPOBIANCO et al., 2001). e o esforço de

amostragem é restrito a duas áreas (Alto rio Juruáe Bacia do rio Acre).

BEGOSSI et al. (1999) registraram 102espécies no Alto Juruá, sendo essas espéciesdistribuídas nos gêneros Characiformes (7famílias; 40 espécies), Siluriformes (9 famílias;51 espécies), Gymnotiformes (2 famílias; 3espécies), Perciformes (2 famílias; 6 espécies)e Pleuronectiformes (1 espécie). Baseados noconhecimento de populações tradicionais e emamostragens, CUNHA et al. (2002) registraramcerca de 130 espécies de peixes no Alto Juruá.Trabalhos realizados por BRITSKI et al.(informação pessoal) na bacia do rio Acreindicaram a existência de pouco mais de umacentena de espécies. Estudos de VIEIRA (2003)na bacia do Riozinho do Rola, afluente do rioAcre, revelaram 38 espécies de peixes, muitasdestas já incluídas nos inventários de BRITSKIet al. (op. cit.), BEGOSSI et al. (1999) e CUNHA& ALMEIDA (2001). Dados do ZoneamentoEcológico-Econômico – ZEE (ACRE, 2001)contabilizam 251 espécies de peixescatalogadas para o Acre, representando 8,4%do total de espécies de peixes registradas para oBrasil. Dada a grande variedade de ecossistemase habitats existentes no Acre, acredita-se que onúmero de espécies de peixes deve ser muitomaior do que aquele apresentado pelo ZEE(ACRE, 2001). O conhecimento da fauna deanfíbios do Acre ainda é muito incipiente, mas osuficiente para afirmarmos que este é um doslocais de maior diversidade de anfíbios doplaneta (SOUZA, 2003). Atualmente, sãoconhecidos em torno de 5.500 espécies deanfíbios no mundo (FROST, 2002). Mais de1.700 destas espécies vivem na América do Sule o Brasil é o país com a maior diversidade:517 espécies (LEWINSOHN & PRADO, 2002).Um grande número dessas espécies ocorre na

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A Biodiversidade no Estado do Acre: Conhecimento Atual, Conservação e Perspectiva

floresta Amazônica. No Acre, foram registradasaté o presente momento 126 espécies, 32gêneros e 10 famílias representantes dasordens: Anura: Bufonidae (5), Centrolenidae (1),Dendrobatidae (10), Hylidae (57),Leptodactylidae (40), Microhylidae (8), Pipidae(2) e Ranidae (1); Caudata: Plethodontidae (1)e Gymnophiona: Caeciliidae (1). Destas, 19espécies ainda não tiveram a taxonomia a nívelespecífico precisamente definida, sendo quemuitas destas podem representar novosregistros para a ciência, três são tidas comoendêmicas para o Acre, e 14 espéciesrepresentam o primeiro registro para o Brasil(SOUZA, 2003).

A fauna de anfíbios do Acre é constituídapor espécies adaptadas a ambientes abertos eflorestados; apresentam ampla variedade deestratégias reprodutivas, sendo que a maioriadepende de corpos d’água para a reprodução. Háespécies com distribuição na região tropical dasAméricas, espécies com ampla distribuição naBacia Amazônica, espécies restritas à Alta BaciaAmazônica, espécies com distribuição nas regiõesandina e subandina, além de espécies comdistribuição nas regiões central e sudeste do Brasil(SOUZA, 2003).

Considerando que os levantamentosherpetológicos no Acre são preliminares e commaior esforço de amostragem na parte oestedo Estado (bacia do rio Juruá), espera-se que oconhecimento da riqueza de espécies deanfíbios no Estado possa aumentarsignificativamente nos próximos anos.

O território brasileiro, com todos os seusbiomas, possui cerca de 1.677 espécies de aves(LEWINSOHN & PRADO, 2002; SICK, 1997),sendo que destas, aproximadamente 1.000ocorrem na Amazônia (CAPOBIANCO, 2001;HAFFER, 1990). No Acre, que é considerado

um centro de endemismo avifaunístico,registra-se cerca de 723 espécies de aves, umnúmero expressivo que reflete a altabiodiversidade da Amazônia, se comparado, porexemplo, com o total de aves registradas parao cerrado sul-americano que é cerca de 759espécies (SILVA, 1995), bioma este que possuiuma área quase 10 vezes maior do que a doEstado do Acre. De acordo com D. C. ORENapud CAPOBIANCO (2001), na Amazôniaexistem 283 espécies de aves consideradasraras ou com distribuição geográfica restrita.Dentre estas observamos queaproximadamente 100 ocorrem no territórioacreano, ou seja, 35% de todas as espéciesconstantes na referida lista, sendo que asúnicas espécies da família Psophiidae eMomotidae, as três espécies da família Rallidaee quatro das cinco espécies da famíliaGalbulidae presentes, já foram registradas nasflorestas do Estado do Acre.

Considerando que os levantamentosornitológicos no Acre estão, a exemplo dosoutros grupos animais citados, tambémincipientes . Contudo , é provável que a riquezade espécies de aves no território acreanoaumente significativamente nos próximos anosa partir de novos estudos. Atualmente, estãodisponíveis na literatura dados de levantamentosrealizados na bacia do rio Juruá (NOVAES,1957, 1958; WITTAKER & OREN, 1999;WITTAKER et al., 2002) e na bacia do rio Acre(PINTO & CAMARGO, 1954; GUILHERME,2001), estando a região central, bacia dos riosPurus e Tarauacá, desconhecida em relação asua ornitofauna. Este fato levou ornitólogos eambientalistas, durante o Seminário Consultade Macapá/1999 a indicarem esta parte doEstado como uma área prioritária para futurosinventários deste grupo biológico (MMA, 2002;

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A Biodiversidade no Estado do Acre: Conhecimento Atual, Conservação e Perspectiva

CAPOBIANCO, 2001).Os mamíferos do Acre foram pouco

inventariados, sendo a maioria das coletaspontuais e decorrentes de estudos que não tinhamcomo objetivo estimar a biodiversidade, mas simembasar estudos de auto-ecologia ou referentesaos efeitos da caça de subsistência (ACRE, 2001).Em conseqüência disso, determinados grupostaxonômicos foram negligenciados,especialmente aqueles que refletem a riquezafaunística, como os quirópteros e os pequenosmamíferos (marsupiais e roedores). No restantedo Estado, especialmente entre o Rio Tarauacá eo Rio Iaco, levantamentos faunísticos para avaliara biodiversidade são ainda necessários.

No Parque Nacional da Serra do Divisor,foi realizado um levantamento sobre a riqueza demamíferos, enfocando a mastofauna e aquiropterofauna (SOS AMAZÔNIA, 1998;CALOURO, 1999), e confirmada a ocorrência demais de 100 espécies, uma diversidade alta demamíferos em comparação com dados de outrasUnidades de Conservação da Amazônia,considerando-se o fato de que os pequenosmamíferos não foram inventariados.

De modo geral, a riqueza de mamíferosno Acre é elevada, estimada em 209 espécies(ACRE, 2001). Essa estimativa precisa ser revistacom levantamentos específicos, já que ela ébaseada em citações existentes na literatura.Tendo isso em vista, essas espécies se distribuempelos seguintes grupos taxônomicos: Artiodactyla(4), Carnivora (18), Cetacea (2), Chiroptera (103),Lagomorpha (1), Marsupialia (16), Perissodactyla(1), Primates (20), Rodentia (33), Sirenia (1) eXenarthra (10).

Dentre os invertebrados, atençãoespecial merece o Filo Arthropoda, e dentrodesse, a Classe Insecta. Eles constituem omaior agrupamento animal existente em termos

de diversidade e biomassa. Baseado emestudos nas América Central e do Sul, ERWIN(1982) estimou que o número de espécies deartrópodos existentes na região Tropical deveser aproximadamente 30 milhões. A biomassade insetos sociais nas florestas tropicais doBrasil, por exemplo, excede 7 vezes a de todosos vertebrados (LaSALLE & GAULD, 1995).

De interesse especial dentro da ClasseInsecta é a ordem Hymenoptera, que inclui asformigas, vespas, abelhas e formas diminutasdenominadas vespas parasitóides. Essesinsetos exibem considerável variação emforma, comportamento e função nosecossistemas terrestres.

Mais da metade das espécies de vespaspertence às famílias Pompilidae, Crabronidae eVespidae. Não existem estimativas do número totalde vespas para o Brasil, devido à carência deestudos taxonômicos e sistemáticos. SegundoAMARANTE (2002), devem existir no Brasil, só dasfamílias Crabronidae e Sphecidae, cerca de 633espécies; no Acre foram registradas 40 espéciesde Crabronidae e Sphecidae (AMARANTE 2002),porém, AMARANTE (informação pessoal), afirmaque existem na região 100 a 200 espéciesdescritas desse grupo.

Apesar das poucas coletas, os resultadospreliminares que começam a ser publicadosapontam para uma grande diversidade comelementos novos ou de ocorrência restrita. Porexemplo, AZEVEDO et al. (2002) citam o registro,em apenas 12 dias de amostragem, de 102espécies de vespas da família Bethylidae coletadasno Parque Nacional da Serra do Divisor (PNSD).Destas, a maioria deve ser constituída porespécies novas. Desse total, pelo menos 10espécies do gênero Apenesia foram recentementedescritas por AZEVEDO & OLIVEIRA (2002).Nesse mesmo levantamento rápido, MORATO &

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A Biodiversidade no Estado do Acre: Conhecimento Atual, Conservação e Perspectiva

PASSOS (1998) coletaram cerca de 85 espéciesde 40 gêneros de vespas solitárias e sociais.

Outro grupo que merece destaque é aguilda constituída por vespas e abelhas solitáriasque nidificam em cavidades preexistentes.MORATO (em prep.) coletou 40 espécies naFazenda Experimental Catuaba, município de RioBranco, valor superior ao obtido por MORATO &CAMPOS (2000) nas áreas do projeto “DinâmicaBiológica de Fragmentos Florestais” (PDBFF) (24espécies), ao norte de Manaus. Foram coletadasna Reserva Catuaba, 29 espécies de abelhasdessa guilda, sendo algumas delas novas para aciência, e uma delas recentemente descrita(MOURE, 2003). Esse número é superior aosobtidos em outros locais da Amazônia (MORATO& CAMPOS, 2000).

Em se tratando de insetos, um outro grupode grande interesse são os Lepidoptera(borboletas e mariposas). BROWN & FREITAS (2002), registraram 1.620 espécies para a regiãodo alto rio Juruá, mas há indícios de que o númeropoderá chegar a 2.000. Esses primeiros resultadossugerem que a fauna desses grupos de insetostêm uma grande diversidade no Estado do Acre.

ÁREAS PROTEGIDAS

A aplicabilidade das informações sobre abiodiversidade redunda em voz ativa nas políticasambientais no Acre, uma vez que tais informaçõestêm causado um impacto positivo em açõesrelacionadas com o desenvolvimento deestratégias de conservação e de manejo dosrecursos naturais. Os levantamentos dabiodiversidade efetuados nos últimos anos no Acresubsidiaram a elaboração do ZoneamentoEcológico-Econômico, do Plano de Manejo doParque Nacional da Serra do Divisor, do Plano deDesenvolvimento das Reservas ExtrativistasChico Mendes e Alto Juruá e, mais recentemente,

da Peça de Defesa de Criação do ParqueEstadual do Alto Chandless e de uma Unidade deProteção Integral na região das Campinaranas doSudoeste da Amazônia.

Antes da implementação do ZEE, as áreasprotegidas no Acre representavam menos de 30%de sua superfície. Porém, com a criação das novasUCs, e incluindo as Terras Indígenas, o total deáreas protegidas passa a corresponder a 47,8%do estado, ou 7.825.035 hectares (5.657.889hectares em UCs).

Como resultado da implementação doZEE e do cumprimento dos indicativos do“Workshop Estudos da Biodiversidade no Âmbitodo ZEE/AC”, a expansão do atual Sistema deUnidades de Conservação (UCs) Estadualcausará um impacto no Sistema Nacional deUnidades de Conservação (SNUC). Uma parte doAcre forma o Corredor Biológico Oeste daAmazônia, considerado o de maior prioridade paraa conservação da biodiversidade e manutençãode serviços ambientais, e seu fortalecimentocomplementará o SNUC, possibilitando ainterligação com o corredor Norte. A criação deuma rede de áreas protegidas manterá amostrasrepresentativas da biodiversidade, podendo seestender para além das fronteiras nacionais.

Os dados básicos sobre os organismosnormalmente estão associados às coleçõescientíficas de referência, que oportunizam oacesso à identidade e às informações sobre alocalidade, ambiente, características morfológicas,hábitos, etc., das espécies amostradas, e aliincorporadas. Contudo, anos de investimento emrecursos humanos e financeiros podem estarcomprometidos, devido à falta de infra-estruturapara a manutenção, organização e criação decoleções científicas.

Considerando a imensa diversidade deecossistemas e habitats, pode-se afirmar que os

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A Biodiversidade no Estado do Acre: Conhecimento Atual, Conservação e Perspectiva

esforços empreendidos na busca doconhecimento da biodiversidade no Acre sãopouco representativos. Tal fato decorreprincipalmente da falta de incentivos para a fixaçãode pesquisadores e para a pesquisa sobrebiodiversidade na região amazônica. BÖHLKE etal. (1978), por exemplo, afirmaram que o númerode espécies de peixes da América do Sul poderiaser elevado em mais de 40% se as amostragensfossem intensificadas e geograficamente melhordistribuídas. Para o Acre pode-se esperar umaumento significativo no número de espéciesconhecidas, caso haja a implementação deprogramas regulares de amostragem. Tal fatoindica a grande importância da aplicação derecursos para a pesquisa da biodiversidade doAcre e mais incentivos à fixação de especialistasnas instituições públicas de ensino e/ou pesquisa.

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56 T&C Amazônia, Ano 1, no 3, Dez de 2003

Redes Solidárias e Mercado Justo: Alternativa para a Planetariedade Sustentável

****LISANDRO JUNO S. VIEIRA - PesquisadorVisitante com Bolsa do Programa Especial deEstímulo à Fixação de Doutores – PROFIX(CNPq) na Universidade Federal do Acre.Bacharel em Ciências Biológicas pelaUniversidade Federal do Rio Grande do Norte;Mestre em Ecologia e Recursos Naturais pelaUniversidade Federal de São Carlos; Doutor emCiências – Ecologia e Recursos Naturais pelaUniversidade Federal de São Carlos. Desde de1988 realiza pesquisas em ecologia de peixese ecologia de ecossistemas aquá[email protected]*****EDSON GUILHERME – Professor doDepartamento de Ciências da Natureza daUFAC. Licenciado em Ciências Biológicas pelaUniversidade Federal do Acre; Mestre emCiências Biológicas (ornitólogo) pelo Instituto dePesquisas da Amazônia – INPA / UniversidadeFederal do Amazonas – [email protected]******ARMANDO M. CALOURO - ProfessorAssistente do Departamento de Ciências daNatureza da UFAC. Mestre em Ecologia pelaUniversidade de Brasília - UNB. Doutorando emCiências – Ecologia e Recursos Naturais pelaUniversidade Federal de São [email protected]*******ELDER F. MORATO - ProfessorAssistente do Departamento de Ciências daNatureza da UFAC. Mestre em entomologia pelaUniversidade Federal de Viçosa, MG.Doutorando em ecologia, Conservação e Manejode vida silvestre pela Universidade Federal deMinas Gerais - UFMG. Desde 1988 trabalha combiologia e ecologia de vespas de comunidade sde vespas e abelhas na Região Amazô[email protected]

*MOISÉS BARBOSA DE SOUZA - Professor

Adjunto do Departamento de Ciências da

Natureza da UFAC. Graduado em Ciências

Biológicas com especialização em Ecologia da

Amazônia pela Universidade Federal do Acre

(UFAC); Mestre em Ciências Biológicas –

Zoologia, pela Universidade Federal do Paraná

(UFPR); Doutor em Ciências Biológicas –

Zoologia, pela Universidade Estadual Paulista

(UNESP) Campus de Rio Claro – SP. Desde

1987 realiza pesquisa sobre comportamento,

ecologia e sistemática de anfíbios e répteis na

Região Amazônica brasileira e de países

vizinhos.**MARCOS SILVEIRA - Professor Adjunto do

Departamento de Ciências da Natureza da

UFAC. Licenciado e Bacharel em Ciências

Biológicas pela Universidade Estadual de

Londrina, Mestre em Ciências Biológicas-

Botânica pela Universidade Federal do Paraná,

Doutor em Ecologia pela Universidade de

Brasília. Desde 1992 desenvolve estudos sobre

a diversidade florística e a dinâmica dos

ecossistemas florestais. Atualmente é

Coordenador do Programa de Pós-Graduação

em Ecologia e Manejo de Ecossistemas-

Mestrado da UFAC. [email protected]***MARIA ROSÉLIA M. LOPES – Professora

Adjunto do Departamento de Ciências da

Natureza da UFAC, Mestre e Doutora em

Ciências Biológicas (Área de Concentração

Botânica) pela Universidade de São Paulo.

Realiza pesquisas sobre Taxonomia de Algas

Continentais, Limnologia e Ecologia do

Fitoplâncton . É lider do grupo de pesquisas em

Ecologia e Manejo de Ecossistemas e Recursos

Aquáticos/CNPq. Vice-Coordenadora do

Programa de Mestrado em Ecologia e Manejo

de Recursos Naturais da UFAC. [email protected]

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57T&C Amazônia, Ano 1, no 3, Dez de 2003

Redes Solidárias e Mercado Justo: Alternativa para a Planetariedade Sustentável

REDES SOLIDÁRIAS EMERCADO JUSTO:ALTERNATIVAS PARA APLANETARIEDADESUSTENTÁVEL

Maria Katherine Santos de Oliveira*Regina Melo**

Uma utopia coletiva. Assim muitosautores definem as redes solidárias espalhadasao redor do mundo e o intercâmbio do comérciojusto, através de uma economia popular –iniciativas que germinaram, especialmente nonorte da Europa, há 40 anos, e que vêm trazendoperspectivas promissoras para a prática dodesenvolvimento ecologicamente sustentado ea manutenção do planeta.

As redes solidárias e o comércio justosão peças de um mesmo quebra-cabeças, quetraz em sua montagem a construção de umanova visão sistêmica da vida, como nos propõeo físico Fritjof Capra, baseada nos princípiosholísticos, e representam a preocupação degrupos e pessoas com o desenvolvimento dascomunidades locais, práticas de conservaçãoe equilíbrio dos ecossistemas.

Segundo o Centro de Apoio à EconomiaPopular Solidária (CAEPS), de Passo Fundo(RS), cabe às redes a estratégia de conectarempreendimentos solidários de produção,comercialização, financiamento, consumidorese outras organizações populares (associações,sindicatos, ONGs, etc.) em um movimento derealimentação e crescimento conjunto,autosustentável, antagônico ao capitalismo e depromoção ao bem - viver de todos.

As redes são responsáveis porestabelecer princípios de cooperação equalidade, tomada de consciência, relação

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58 T&C Amazônia, Ano 1, no 3, Dez de 2003

Redes Solidárias e Mercado Justo: Alternativa para a Planetariedade Sustentável

eqüitativa entre homens e mulheres e oprocesso de intercâmbio do comércio justo cominstituições e entidades, entre as quais estãoas organizações de produtores, consumidores,agências de certificação, centrais de comprasou importadores do comércio justo, lojas decomércio justo, distribuidoras e postos devenda.

COMÉRCIO JUSTO E SOLIDÁRIO

O Comércio Équo e Solidário é uma redede comercialização alternativa ao comérciotradicional, o qual considera nas negociaçõesvalores éticos, incluindo aspectos sociais eecológicos.

A profissionalização do Comércio Justocriou a primeira certificação de produtoseticamente justos e ecologicamentesustentáveis em 1988, na Holanda. A partirdessa iniciativa, começaram a surgir,principalmente na Europa, diversasexperiências nacionais de certificação com oselo do comércio justo (fair label), certificaçãoorgânica e de qualidade, que também realizama importação e promoção dos produtos decooperativas, associações e pequenosprodutores dos paises do sul. A EFTA (EuropeanFair Trade Association), a IFAT (InternationalFederation of Alternative Trade) e a RELACC(Red Latinoamericana de ComercializaciónComunitaria) são exemplos de organizaçõesque promovem o comércio justo e solidário nomundo.

Todas essas iniciativas se uniram, em1997, à FLO – International (Fair TradeLabellining Organizations International) paraestabelecerem um selo de comércio justointernacional. A partir de então, elas trabalhamem colaboração para facilitar a exportação das

organizações e a promoção de pequenosprodutores, com o objetivo de minimizar adistribuição desigual de bens e serviços entreos hemisférios Norte e Sul.

Com isso, a rede de Comércio Justo vemapresentando propostas aos diversos órgãosdo Comércio Internacional. Na União Européia,o parlamento aprovou a Resolução A4-198/98sobre a promoção do Comercio Équo e Solidárioem 27/7/1998. Além disso, estão sendopensados sistemas que promovam a inserçãode critérios de responsabilidade social nasavaliações das certificadoras contratadas pelasindústrias e empresas de serviços.

Apesar da maioria das relaçõescomerciais entre os excluídos e incluídos aindaserem do tipo ganha-perde, têm-se algunsdados que já começam a fazer a diferença: naEuropa, o comércio justo e solidário vemcrescendo 5% ao ano; o faturamento emvendas dos produtos do comércio justoalcançou, em 1994, o valor de 205 milhões deEuropean Currency Unit-ECU (Posteriormentedenominada Euro, a unidade monetária comumda União Européia). Atualmente, existem naEuropa mais de 3.000 lojas de comércio justo,45.000 pontos de venda e contato comaproximadamente 800 organizações deprodutores do hemisfério Sul. Dentre os paísesparticipantes da rede de comércio justodestacam-se, em valores absolutos deconsumo: Alemanha, com 80,5 milhões;Holanda, com 33 milhões, e Suíça, com 30milhões de ECU. É importante citar que na Suíçao comércio justo e solidário é responsável poraproximadamente 10% do faturamento de mel,5% das vendas de café e 13% das vendas debanana.

Apesar de minoritário, quandocomparado ao comércio internacional

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Redes Solidárias e Mercado Justo: Alternativa para a Planetariedade Sustentável

DESAFIOS PARA OS CIDADÃOS DOPLANETA.

O primeiro passo para se estabeleceruma economia solidária, pautada nos princípioséticos de igualdade e respeito mútuos – umdesafio para que as redes solidárias construam,também na Amazônia, uma utopia coletivapromissora, é que se comece, então, aquestionar: O que “eu” consumo, promove oComércio Équo Solidário? Afinal de contas todosos seres da espécie humana vivem no mesmoplaneta. Ou será que não?

tradicional, a força do Comércio Justo consisteno fato do beneficio econômico, os direitos dostrabalhadores e o respeito pelo meio ambientecaminharem de mãos dadas. O movimento decomércio justo e solidário demonstra que acomercialização e a produção estão à serviçodas pessoas.

Atualmente, o conceito de comércio justovem se ampliando com a incorporação docomércio justo interno. A perspectiva é de queo desenvolvimento integrado e autocentradopasse a operar a partir da escala local e regional.Cabe aos governos a regulamentação domercado de acordo com critérios ambientais esociais, bem como a proposição de um contextojurídico para o comércio justo, além, é claro, deconsumidores esclarecidos e conscientesquanto aos atuais padrões de produção econsumo.

A EXPERIÊNCIA DA FUCAPI.

Em Manaus (AM), a Fundação Centro deAnálise Pesquisa e Inovação Tecnológica(FUCAPI), através do Centro TecnológicoAmbiental (CETAF) abraçou a proposta da Redede Produção Sustentável, com aresponsabilidade tecnológica de trabalhar aperspectiva do mercado justo, com a inclusãodas populações locais marginalizadas noprocesso de construção de um modeloeconômico sustentável.

Pautada em quatro diretrizes, a Rede deProdução Sustentável tem o compromisso deestabelecer: uma economia solidária – paracomercializar produtos em mercados quevalorizem o capital sócio-ambiental (mercadojusto); o progresso social – através dofortalecimento social das organizações deprodutores; a adequação tecnológica – com obeneficiamento descentralizado e utilização de

tecnologia apropriada e adaptada à realidadelocal; e o retorno ambiental – comdesenvolvimento, implantação de critérios demanejo sustentável e proteção dos recursosnaturais. Atualmente, a Rede possui projetos-pilotos nos municípios de Maués, Autazes,Manacapuru e Manaus.

Comerciante 35%

Distribuidor 18%

Imposto 22%

Transporte 13%

Imposto 5%

Produtor 7%

Hemisfério Norte 88%

Hemisfério Sul 12%

Distribuição do faturamento obtido com a venda de bananas no hemisferio Norte4.

Fonte: FERNÁNDEZ, Amália,LÓPEZ, Montse. Comercio justo, consumo responsable. Barcelona: Intermón, 2000

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Industrialização Orientada para o Mercado Interno “versus” Industrialização Substitutiva de Importações...

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Bibliografia sugerida:

1. MANCE, Euclides André. A revoluçãodas redes. Rio de Janeiro: Vozes, 1999.

2. MANCE, Euclides André. Comoorganizar redes solidárias. Rio deJaneiro: DP&A, 2003.

3. GADOTI, Moacir. Pedagogia daTerra. São Paulo: Petrópolis, 2000.

4. SENILLOSA, Ignácio de. RelacionesNorte-Sur: conceptos clave.Barcelona: Intermón, 1998.

5. Various organizadores. El desafío delcomercio justo. Bélgica:EFTA, 2003.

6. Magazine Ethical Consumer.Manchester: ECRA Publishing, October/November 2003.

7. Magazine New Consumer. Edinburgh:New Consumer Limited, October/November 2003.

* Maria Katherine Santos de Oliveira- Coordenadora do programa Rede de ProduçãoSustentável do CETAF-FUCAPI.

** Regina Melo - Jornalista e Assessorade comunicação do programa Rede deProdução Sustentável da FUCAPI.

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Industrialização Orientada para o Mercado Interno “versus” Industrialização Substitutiva de Importações...

INDUSTRIALIZAÇÃO ORIENTADAPARA O MERCADO INTERNO“VERSUS” INDUSTRIALIZAÇÃOSUBSTITUTIVA DEIMPORTAÇÕES, MAISINDUSTRIALIZAÇÃO ORIENTADAPARA AS EXPORTAÇÕES

Antônio José Botelho*

RESUMOA Suframa administra o Projeto ZFM,

estruturado na lógica da substituição deimportações. Os recursos financeiros que gera,devem ser aplicados em sua totalidade para aconstrução de uma política industrial orientadapara o mercado interno.

Introdução

Fundamentalmente, o Projeto ZonaFranca de Manaus (ZFM) representou, e aindarepresenta, a industrialização local a partir dasubstituição de importações, agoracomplementada com a orientação para asexportações. Aquela melhor caracterizada nadécada dos anos oitenta, esta na dos anosnoventa, ambas do século passado.

No sentido da construção de um pontode inflexão para o Projeto ZFM, enquantoplataforma de oportunidades para a AmazôniaOcidental, impõe-se a tese de que a lógica dodesenvolvimento regional, orientação ideológicada Comissão Econômica para a América Latina(CEPAL), deve, progressivamente, cederespaço para a nova utopia da humanidadeencarnada no conceito de desenvolvimentosustentável (Botelho, 2003). Aquele, um conceitoestruturado a partir da introdução, em espaços

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técnicos, ou foram formados pela CEPAL,instituição a serviço da construção dodesenvolvimento econômico dos países daAmérica Latina, ou pelo Centro de Treinamentopara o Desenvolvimento Econômico e Social(CENDEC), do Instituto de PesquisaEconômica Aplicada (IPEA), instituição nacionalque, de certa forma, seguia aquela orientaçãometodológica, porque também tinha seustécnicos formados naquela CEPAL. Inclusive,o próprio CENDEC veio, por diversas vezes, ao“chão institucional” da Suframa repassarconhecimento concernente ao desenvolvimentoregional.

Argumentos

Para tanto, toma-se a percepção de quea CEPAL trabalha segundo pressupostos queretroalimentam o processo de hegemoniapertinente à relação centro-periferia, conformeexpresso na contracapa do livro “Dialética dosTrópicos: o pensamento colonizado da CEPAL”(Bautista Vidal e Vasconcellos; 2002): “Não seconcebem teorias de desenvolvimento sem adimensão autônoma da produção tecnológica,base da valorização comparativa dos fatoresnacionais (locais-regionais) da produção. Omodelo econômico da CEPAL visou a substituirimportações com o uso de pacotestecnológicos de corporações estrangeiras.Ademais, essas teorias “descolaram” darealidade física, subordinando-se às finanças eà moeda de referência, ente abstrato que ignoraa natureza, a ciência (portanto descolada daacademia), a ecologia e o trabalho, agindo nointeresse arbitrário da oligarquia externaemissora. Enquanto o país substituíaimportações, industrializava-se pela atraçãode corporações estrangeiras...” (acréscimos

periféricos, portanto, de industrialização tardia,de políticas públicas de desenvolvimentoconcebidas exogenamente; este, estruturado apartir de concepções locais, mediante adoçãode tecnologias apropriadas. Há toda umareflexão filosófica neste ponto de inflexão, namedida em que dever-se-ia alterar, ou pelomenos complementar a lógica da substituiçãode importações, pela de substituição deexportações, onde o fulcro estratégico estásimbolizado pela oportunidade de se “cantar nomundo a aldeia local”. Na realidade, esta é aoportunidade histórica do Projeto ZFM, namedida em que, com os recursos financeiroseficientemente gerados com a produçãoindustrial delimitada por capital e tecnologiaexógenas, cuja apropriação dos lucros se dápor outras sociedades nacionais, poder-se-áelaborar uma política industrial que oportunizea elevação da cultura amazônica em forma denovos produtos e processos, criações queinserirão competitiva e inteligentemente emdefinitivo a industrialização local no contexto daeconomia globalizada, cujos lucros apropriadoslocalmente, retroalimentarão o sistema para suatransição para a sociedade da informação,quando a sustentação da economia passará aestar centrada não mais majoritariamente naprodução industrial, mas na produção doconhecimento.

O grande desafio, entretanto, é aceleraro ajustamento do modelo mental do chãoinstitucional da Superintendência da ZonaFranca de Manaus (Suframa) para o conteúdoconceitual do desenvolvimento sustentável.Também pudera. Senão todos, mas certamenteos principais homens de comando daorganização ou que estiveram próximos dassucessivas administrações superiores ao longode sua história, além da maioria de seus

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entre parênteses e negrito meus).Adicionalmente, os autores advogam, naspáginas 11 e 12 que “a chamada “tecnologiaexterna” (exógena como tenho escrito emminhas reflexões) é o principal meio decondicionamento e subjugação, mediante o qualse molda e se controla a estrutura produtivanacional para subordiná-la a interesses externos.Isso acarreta graves conseqüências para odesenvolvimento, especialmente em setoresestratégicos, com efeitos diretos sobre aeducação em geral e as universidades emespecial. Essa “tecnologia” engendra novotipo de colonianismo, que atingeprofundamente a estrutura de produção, demodo subjugador, como jamais imaginou omercantilismo colonial do século dezenove, queoperava por ação externa no contexto dosmercados e das alfândegas” (acréscimo entreparênteses e negrito meus).

Por sinal, bem recentemente no âmbitoda atual revisão regimental, perdeu-se aoportunidade histórica de registrar no chãoinstitucional a lógica do desenvolvimentosustentável, quando não autorizou denominaro Programa de Interiorização da Suframa comaquela insígnia, preferindo o já surrado conceitode desenvolvimento regional, embora aindaconsignado na Constituição Federal de 1988,no Capítulo que trata das desigualdadesregionais, para denominar a Coordenação Geralpertinente (Botelho, 2003). Desconsiderando,ainda, que a Suframa adota o conceito dedesenvolvimento sustentável como pilarestratégico desde 2001. Embora, a Suframaainda não esteja com condições objetivas paraaprovar negócios sustentáveis junto ao ideárioda interiorização, certamente, entretanto, seriaum excelente passo para a sua conscientizaçãoinstitucional, além de buscar solucionar o óbice

com o estabelecimento de parcerias, como porexemplo, com o Programa Nacional deAgricultura Familiar (PRONAF) (Botelho, 2001).

Portanto, configura-se a necessidade dese superar os esforços institucionais daSuframa de atração de investimentos, com ainadiável construção de um ambienteeconômico que faça emergir empresas locais.Tal decisão, certamente, será convergente àdiretriz vinculada ao desenvolvimentosustentável e à substituição de exportações, apartir da construção de uma política industrialorientada para o mercado interno, conformeexpressa a peça de candidatura de Lula,denominada de “O Lugar da Amazônia noDesenvolvimento do Brasil”, página 10: “Aproposta é substituir, por exemplo,... aexportação de matéria-prima biológica porconhecimento associado à biodiversidade,assegurados os direitos das comunidadestradicionais. Isso significa que precisamos nostransformar em sociedades baseadas no usodo conhecimento mais do que das commoditiesou de produtos manufaturados”.

O que se espera é que a Suframasurpreenda, adotando uma postura, umatrajetória institucional que não esteja nem àdireita nem à esquerda, mas simplesmente àfrente, como, por sinal, exigirá a evolução doconceito de desenvolvimento sustentável. Suaprática, entretanto, até agora, está centrada,rigorosamente, no ícone da exportação, cujosímbolo é o Projeto Everglade, um “armazémalfandegado” a ser instalado no Porto deEverglades, na Flórida (E.U.A.), exatamentepara facilitar, sobretudo, as exportações (eimportações de insumos) high tech do PóloIndustrial de Manaus (PIM), sob título de logísticaintegrada. Portanto, uma trajetória institucionalainda distante da lógica complementar (assim,

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não-excludente) de desenvolvimentosustentável estruturada na substituição deexportações, estratégia intrínseca do GovernoLula para a Amazônia.

Para estabelecer instrumentos paradiscussão, para ampliar as oportunidades doProjeto ZFM para uma política industrialorientada para o mercado local-regional,sinaliza-se reflexões de Rattner (1998, p. 41),quando afirma que a IndustrializaçãoSubstitutiva de Importações (ISI) avançou noBrasil: “... eliminando muitos produtoresnacionais e transformando a estrutura industrialcom a predominância de poderosos oligopóliose, finalmente, da importação de tecnologias nãoapropriadas, cujos efeitos redutores de empregoe geradores de evasão de moeda estrangeira,sob a forma de pagamento de dividendos, lucrose royalties se fariam sentir a médio prazo”.

Ora, não se desconhece que aoperacionalização do Projeto ZFM dá-se a partirde capital e tecnologia exógena e que Manaus,ou que a região não consome mais de 10% (dezpor cento) de sua produção, além do fato,segundo o PNUD, de que Manaus conta hojecom quase 600 (seiscentos) mil indivíduos nalinha da pobreza, cenário, portanto, convergentecom a análise que aquele autor fez da opçãode industrialização que o país adotou durante asegunda metade do século passado (Botelho,2003).

Mas, vejamos o que Rattner (1998, p. 42)reflete sobre a Industrialização Orientada paraas Exportações (IOE), na medida de sua adoçãopelo Brasil: “Na ausência de um eficienteplanejamento macroeconômico e sob a pressãode produzir para alimentar o fluxo deexportações, a estrutura industrial sofreu umaprofunda falta de integração intra e intersetorial(local/regional), especialmente com agricultura;

A importação, sem maiores restrições, detecnologias produziu enclaves, freqüentementedesvinculados da economia local e regional,criando obstáculos para um futurodesenvolvimento industrial, mais racional eorganizado” (negrito e acréscimos entreparênteses meu).

Ora, Manaus e a região não estãonecessariamente ilesas de sofrer deficiênciasnos seus mercados, na medida em que osprodutos high tech do PIM não têm sinergia nemcom a nossa cultura nem com a nossaacademia, embora seja possível construir essaaderência. Por outro lado, as Contas Regionaisacusaram que a opção high tech determinou odeclínio da atividade agrícola do Estado doAmazonas, embora ela possa ser retomada.Evidentemente que se corre o risco de se perderempreendimentos como o da Pronatus,AmazonErvas, Magama, Phitofarma, que,efetivamente, deveriam estar sendo “carregadasno colo” do poder público, mediantedisponibilização de crédito fácil, medianteutilização do poder de compra do Estado, alémde receber prioridades explícitas para osinvestimentos de P&D visando a inovações emseus chãos de fábrica (Botelho, 2003).

Mas, o que Rattner (1998, p. 58) advogana sua política industrial orientada para omercado interno, o que converge para a lógicada política industrial de substituição deexportações do Governo Lula para a Amazônia,estruturada, obrigatoriamente, nodesenvolvimento sustentável, inicialmente frenteaos pressupostos político-econômicos, estásinalizado assim: “A teoria das “forçasprodutivas” apresentada por Friedrich Listpolemiza contra o argumento das “vantagenscomparativas” desenvolvido pelos clássicos(aqui representando a força dos incentivos

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fiscais). Para List, desenvolver as forçasprodutivas significa a construção deencadeamentos ou circuitos econômicoscoerentes, dentro do território nacional(desenvolvimento das cadeias produtivas daspotencialidades regionais agregando valor,portanto, substituindo exportações). Paraconseguí-lo, seria indispensável proteger asatividades de indústrias “nascentes” (Pronatus,AmazonErvas, etc. como já dito) das pressõesda economia mundial. O isolamento temporárioa ser implantado exigiria um forte Estadonacional, capaz de assegurar o êxito dasaspirações populares por mais independênciae auto-suficiência.” (acréscimos entreparênteses meus).

Em linhas gerais, a política industrialorientada para o mercado interno de Rattner(1998, p. 59) está assim definida: a) Umaumento contínuo da produção agrícola,melhorando a alimentação das populaçõescarentes e suprindo as matérias-primas à agro-indústria (além de evitar evasão de divisas); b)A produção industrial de bens de consumoacessíveis à massa da população (portanto,compatível com a estrutura salarial local-regional); c) A fabricação de bens de produçãopara a agricultura e para a indústria; bensintermediários e de capital pesado; d) Aformação e ampliação constante da infra-estrutura de consumo coletivo, nas áreas desaneamento, transporte coletivo,comunicações, educação, saúde, habitação,etc. (acréscimos entre parênteses meus).

Ao nível geral, Rattner (1998, p. 82)acrescenta a seguinte perspectiva específica:a) A agro-industrialização e a produção dealimentos (com insumos amazônicos); b) Aconstrução habitacional e a infra-estruturaurbana básica, com expansão dos setores de

bens e serviços de consumo coletivo (cominsumos amazônicos substituindo importaçõese exportações); c) Vestuário e calçados (cominsumos amazônicos substituindo exportações– utilização do couro vegetal, por exemplo); d)Medicamentos (na lógica da biotecnologia,portanto, com insumos amazônicossubstituindo exportações); e) Papel e celulose(talvez anacrônico para a região); f)Equipamentos e bens de capital, para todos ossetores acima mencionados (sem falar dasiniciativas locais de turismo e piscicultura, porexemplo) (acréscimos entre parênteses meus).

Às elaborações de Rattner, este autoradicionaria cinco medidas, a serem adotadas,fundamentalmente, pelo Governo do Amazonas(Zona Franca Verde – trata-se de um Programade Desenvolvimento Econômico para o interiordo Estado estruturado no conceito dedesenvolvimento sustentável), com o apoiointegral da Suframa (Programa deInteriorização), contidas na política industrial dosE.U.A. proposta pelo seu Secretário de TesouroAlexander Hamilton em 1791, adiantetranscritas: a) veto à exportação de matérias-primas necessárias às manufaturas (relativo àbiopirataria); b) subsídios pecuniários parafomentar indústrias (relativo desenvolvimento deempresas com capital local-regional); c)prêmios para recompensar algumasuperioridade ou excelência especial (quandoas empresas locais conseguirem conquistar omercado externo, cantando no mundo a nossaaldeia, como fazem os produtos high tech doPIM); d) isenção tarifária para as matérias-primas das indústrias (desagravar literalmentenossos insumos para a produção por parte deempresas com capital local-regional); e)fomento de novos inventos e descobertas eintrodução dos que sejam feitos em outros

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países, particularmente, os referentes àmaquinaria (especialmente na lógica dabiotecnologia) (acréscimos entre parêntesesmeus).

Como se vê, o Projeto ZFM está naesteira da lógica da industrialização adotadapelo Brasil, que redundou numa perspectiva deum projeto de estado em detrimento de umprojeto de sociedade, na medida em que há umainequívoca simetria entre a política industrial desubstituição de importações e de orientaçãopara as exportações do governo brasileiro coma política industrial dirigista do Projeto ZFM.Entretanto, o Brasil e o Amazonas têm umaoportunidade histórica ímpar, com o GovernoLula, quiçá dialético de esquerdaprogressivamente imprimindo alternativasinteligentes, para transformarem os seus perfisde industrialização local-nacional, o quesomente será possível com o que Rattnerchama de “dissociação seletiva”, que rompecom o status quo pertinente aos defensores daISI e IOE, invertendo o grau de prioridade política,absolutamente necessário para determinar umapolítica industrial (e também tecnológica porquecaminham juntas) orientada para o mercadointerno, indiscutivelmente convergente para apolítica industrial de substituição de exportaçõesdo Governo Lula, sinalizada para a Amazônia.Deve estar registrado que Rattner não nega asubstituição de importações nem asexportações, mas propõe uma forte inversão deprioridades, exatamente como se entendeinadiável para o Projeto ZFM, enquantofinanciadora de negócios sustentáveis naregião.

CONCLUSÃO

Para finalizar, ratifica-se, com base napresente reflexão, a oportunidade história da

Suframa ampliar sua participação na lógica dainteriorização do desenvolvimento em basessustentáveis, priorizando esforços institucionaisfrente à rota já consolidada da aprovação deprojetos industriais estruturados com capital etecnologia exógenas, na medida em que em seudiscurso político, os elementos fundamentaisestão centrados na lógica da exportação e doadensamento da cadeia produtiva dos produtoshigh tech do PIM, em detrimento de todo umuniverso de oportunidades que os recursosfinanceiros da Suframa favorecem para odesenvolvimento endógeno, autóctone,estruturado na cultura e nos insumosamazônicos, buscando uma inserçãointernacional inteligente, assegurado o consumolocal-regional, cujas decisões de investimentopertinentes devem sair da esfera político-parlamentar para a técnico-estratégico. Aliás,não estaríamos fazendo nada além de ajustar,talvez, a organização pública federal maisimportante da Amazônia Ocidental, que é aSuframa, aos desígnios do Governo doPresidente Lula da Silva para a Amazônia.

Veja-se exemplos bem recentes queconvergem para o conceito de desenvolvimentoendógeno, autóctone. A Revista Amazônia:oportunidades & negócios, de abril/maio de2003, traz nas páginas 32 a 35 quatro bonsexemplos: 1. O couro látex, que começa a serusado na fabricação de roupas, sapatos,jaquetas, casacos, bolsas e outros acessórios,está revitalizando a região de Machadinho doOeste em Rondônia e mantendo os seringueirosna floresta das reservas extrativistas,proporcionando uma renda superior à do tempoem que produziam apenas a borracha. Osucesso do produto originou a marca Tecidosda Floresta; 2. No Município de Xapuri, Acre, foicriado o Pólo de Indústrias Florestais de Xapuri

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Alternativas Sustentáveis de Gestão Ambiental na Construção Civil em Manaus

sócio-culturais próprias.

REFERÊNCIAS BIBLIBOGRÁFICAS:

1. BOTELHO, Antônio José, pequenaslascas: reflexões junto ao modelo mental doprojeto zfm, Manaus, 2003;

2. ANTÔNIO JOSÉ, Projeto ZFM: vetorde interiorização ampliado! Manaus, 2001;

3. HAMILTON, Alexander, Relatório sobreas Manufaturas, Sociedade Ibero-americana,Rio de Janeiro, 1995.

4. RATTHER, Henrique, PolíticaIndustrial: Projeto Social, Editora Brasiliense,São Paulo, 1988;

5. VIDAL, J. W. Bautista e Vasconcellos,Gilberto F., Dialética dos Trópicos: opensamento colonizado da CEPAL, Instituto doSol, Brasília, 2002;

*Antonio José Botelho - Especialistaem Ciência Política e Mestre em Engenharia deProdução, ocupa cargo de Assessor Especialna Suframa.

(PIFLOX), uma iniciativa que busca industrializaras matérias-primas retiradas da floresta deforma racional, permitindo a regeneração dasespécies, apoiando empreendimentossustentáveis baseados nos diversos usos dosrecursos florestais da região ao alto Acre earticulando todas as cadeias produtivas; 3. Nocoração da selva amazônica, 33 mulheres daAssociação Vida Verde da Amazônia (AVIVE),em Silves, Amazonas, estão mudando suasvidas e de suas famílias através de umaatividade lucrativa e ecologicamente correta, afabricação e venda de sabonetes de glicerina,feitos com essência de plantas amazônicascom alto poder aromático e curativo, como opau-rosa, preciosa, crajiru e babaçu; e 4. OSebrae/RR e ex-garimpeiros da Serra doTepequém, em Roraima, estão mostrando queé possível promover o desenvolvimentosustentável na Amazônia. As crateras criadaspor anos de exploração do garimpo de diamantenaquela área estão sendo transformadas emtanques para piscicultura.

Portanto, a Amazônia deve pensargrande como seu território, como o seupotencial hídrico, biológico e mineral, grandecomo seu povo que haverá de demonstrar aoBrasil e ao mundo sua capacidade dedesenvolvimento autóctone. Nesta estratégia,devemos, apenas e tão somente, persistir,perseverar, insistir porque, por outro lado,estamos começando pequeninos frente àprodução high tech do PIM. Mas, com a decisãopolítica, pode-se antever os tecidos da floresta,os sabonetes glicerinados, os móveis comdesign amazônicos e os hambúrgueres depeixe ganhando o mundo, consolidado, comojá dito, o consumo local-regional, que promoveráa formação e circulação de capital na região ea cultura da inovação a partir de exigências

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Alternativas Sustentáveis de Gestão Ambiental na Construção Civil em Manaus

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ALTERNATIVAS SUSTENTÁVEIS

DE GESTÃO AMBIENTAL NACONSTRUÇÃO CIVIL EMMANAUS

Maciel, Jussara Socorro Cury *Nogueira, Vicente Paulo Queiroz **

RESUMO

As atividades da construção civil

necessitam de mudanças em seu estilo, a fim

de propiciar uma melhoria na organização do

espaço urbano, do ponto de vista das práticas

de gestão e do desenvolvimento da qualidade

ambiental urbana. Parte-se da hipótese que a

internalização de práticas de gestão ambiental

na construção civil contribui para um melhor

gerenciamento dos aspectos ambientais e

minimização dos impactos. Este artigo

apresenta uma metodologia para a investigação

de alternativas sustentáveis de gestão ambiental

baseada em algumas situações ocorridas em

Manaus, relatadas como estudos de caso. Os

parâmetros selecionados para investigação do

presente estudo tiveram como pressupostos os

princípios do desenvolvimento sustentável e os

aspectos levantados no processo de

licenciamento ambiental. Estudos de caso

foram realizados em cinco obras distintas, com

empreendimentos de diferentes portes,

licenciados ambientalmente ou não,

comparando os procedimentos em relação à

sua gestão ambiental. Os resultados

apresentados destacam o desempenho

ambiental das obras estudadas, onde os

aspectos ambientais são os principais tópicos

de análise.ABSTRACT

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Alternativas Sustentáveis de Gestão Ambiental na Construção Civil em Manaus

Activities from civil construction need achange in their style, so as to improve urbanspace organization, incorporating theenvironmental management practices anddevelopment. It was assumed from the start thatthe internalization of environmental managementpractices in the civil construction contributes toa better management of environmental aspectsand minimization of impacts. This articlepresents a methodology to investigatesustainable alternatives in civil constructionbased on situations observed in Manaus. Thesustainable development and aspects taken intoaccount in the process issuing environmentalpermits determined the parameters to beinvestigated in this study. Case studies werecarried out in five distinct construction sites, withdifferent levels of complexity, licensed or not,comparing the procedures from theenvironmental management. The resultspresented highlight the environmentaldevelopment of the construction sites, where theenvironmental aspects are the main topic ofanalysis.

PALAVRAS-CHAVE

Construção civil; impactos ambientais;desenvolvimento sustentável.

KEY WORDSEnvironmental impact; Civil

Construction; Environmental Management.

1. INTRODUÇÃO

Ao longo dos anos, os recursos naturaistêm sido extensivamente explorados pelohomem, porém a questão ambiental tornou-se,nas últimas décadas, objeto de estudo epreocupação em razão de um quadro

problemático, no que diz respeito à qualidadeambiental das grandes cidades.

Dentre as indústrias que utilizam emdemasia os recursos naturais, destaca-se osetor da construção civil que, pois além de serresponsável por grande desperdício de materiale energia, também colabora com a degradaçãoambiental, devido à má gestão dos recursosnaturais, tais como água e solo.

Em Manaus, os problemas ambientais,também podem ser notados por meio dodesmatamento excessivo, da poluição doscursos d’água e da falta de um planejamentourbano na cidade.

A construção civil interage com o meioambiente, muitas vezes provocando impactosambientais, gerados pelo o consumo demateriais, locação do empreendimento e atégeração de resíduos.

Esta pesquisa teve como objetivoanalisar os procedimentos e técnicas utilizadaspela construção civil no planejamento einstalação da obra, confrontando os mesmosprocedimentos com os princípios de gestão elegislação ambiental. Outra finalidade destetrabalho é propor um instrumento demensuração e comparação entre as empresasda construção de diferentes naturezas emrelação ao desempenho ambiental dos seusempreendimentos.

2. MATERIAL E MÉTODO

A pesquisa foi realizada com olevantamento bibliográfico e coleta de dados. Acoleta de dados ocorreu por meio de estudosde caso, usando-se para o levantamento dasinformações questionários e fotografias. Foramselecionadas cinco obras, de diferentes portes,tipos, com características de intervenção

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distintas, licenciadas ou não, a fim de identificaros aspectos individuais relativos à intervençãoambiental.

Para compor o check list dolevantamento das informações, foram utilizadosalguns princípios de sustentabilidade e asexigências legais utilizadas no licenciamentoambiental, considerando, como aspectos deintervenção, a mudança da paisagem com odesmatamento, a utilização da faixa depreservação permanente, a aquisição demateriais, a geração de efluentes e os resíduossólidos, assim como a sua destinação.

De posse das informações e dadoscoletados por meio de estudos de casos, taislevantamentos foram consolidados e analisadospara compor uma tabela de peso, a qual tem ointuito de demonstrar a eficiência ambiental decada obra. Foram analisadas, também, asalternativas utilizadas em cada empreendimentopara minimizar os impactos ambientais dasintervenções provocadas.

Os portes das obras selecionadasseguiram a classificação de acordo com oquadro 1.

Todos os aspectos ambientais possuem

pontuação variando de 1 (um) a 4 (quatro),conforme quadro 2, a seguir:

A eficiência ambiental é expressa pelaquantidade de impactos causados por umaatividade industrial ao meio ambiente. A eficiênciaambiental de um projeto depende das condiçõesde conforto ambiental, assim como dasalternativas propostas para minimizarem osimpactos ao ambiente. Neste quadro, quantomenor o grau, menor é a eficiência ambientaldo empreendimento.

3. ESTUDOS DE CASO.

3.1 ESTUDO DE CASO 1: Obra residencial depequeno porte não licenciada ambientalmente.

QUADRO 2 – Conceito Ambiental

QUADRO 1 – Classificação de obra por porte

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A construção trata de um multifamiliarcom três pavimentos, totalizando uma áreaconstruída de 1.728 m², composta por 52apartamentos no estilo compacto, com quarto,sala, cozinha e banheiro. A obra está emandamento, sendo que os dois primeirospavimentos já foram edificados.3.2. ESTUDO DE CASO 2: Obra industrial depequeno porte, não licenciada, em empresa nãocertificada.

Trata-se de uma reforma em um galpãode área igual a 980m² e cuja área total construídaé de 1.564m². Houve aproveitamento do galpãoprincipal e remanejamento de suasdependências internas. Há uma construtoradiretamente envolvida e uma equipe técnicaacompanhando a obra.

3.3. ESTUDO DE CASO 3: Obra residencialde grande porte licenciada ambientalmente.

O empreendimento trata-se de ummultifamiliar com 19 pavimentos, sendo que 18andares possuem 2 apartamentos e um éreservado para área de play ground. A área doterreno é de 3.000m² e a área construída total éde 10.320m². A obra encontra-se emandamento, sendo que a parte estrutural já foiconcluída.

3.4. ESTUDO DE CASO 4: Obra residencialde médio porte licenciada ambientalmente.

A área do terreno é de 4.100m², oempreendimento trata-se de um multifamiliarcom 4 blocos de apartamentos com 2 andares,totalizando 38 apartamentos. A obra está na faseinicial de limpeza de terreno e de movimento deterra, que, aliás, será em grande quantidade,tendo um volume aproximado de 1.200 m³, pois

há um grande desnível ao fundo do terreno.

3.5. ESTUDO DE CASO 5: Obra comercial eresidencial de grande porte licenciadaambientalmente.

Trata-se de um empreendimentoresidencial, médico e comercial, composto portrês torres, cada uma destinada a um tipo deserviço. Os três edifícios, separadamente,possuem 18 pavimentos, sendo que adisposição interna está sendo dividida em 10escritórios ou apartamentos por andar.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO.

As informações coletadas nas obrasestudadas, em sua maioria, possuíamcaracterísticas semelhantes, tais como: aproximidade do curso d’água, submissão aoprocesso de licenciamento, produção deresíduos sólidos e desmatamento.

Dentre os dados apresentados,observou-se, por meio da pontuação adotadano quadro 1, que a obra nº 4 obteve o melhordesempenho ambiental e que a obra nº 1apresentou um desempenho ambiental nãosatisfatório.

Os aspectos levantados na obra nº1 nãoatenderam aos requisitos mínimos necessáriosao processo de licenciamento, por isso, talempreendimento não foi licenciado. Apesar deser uma construção de pequeno porte, houveconsiderável agressão ao meio ambiente, emrazão da má utilização da faixa de preservaçãopermanente, do lançamento de efluentes nãotratados e da disposição imprópria dos resíduossólidos da construção.

De acordo com o Código Florestal (LeiFederal nº4.771/65), apenas as obras nº2 e nº3obedecem à disposição da faixa de preservação

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permanente. Porém, a obra nº2 não ocupou aárea para construção, mas despejou parte doentulho da obra nesta área. A obra nº3 retiroutoda a camada vegetal existente no local, paraposteriormente implantar um projetopaisagístico, o que de fato não ocorreu.

O mesmo ocorre quanto à presença decurso d’água. A faixa de preservaçãopermanente foi utilizada em benefício doempreendimento, sendo que, na obra nº 5, foiutilizado o princípio de natureza compensatória.Na obra nº 4 houve intervenção pública no quediz respeito à tubulação do curso d’água e aárea ao seu entorno foi desmatada.

O tratamento de efluentes utilizado tevecomo fator decisivo seu alto custo. Porém, aObra nº 5 só decidiu pela estação de tratamentode efluentes devido à pressão dos órgãosambientais e da sociedade.

Atualmente, a adoção de projetospaisagísticos é uma decisão facultativa, poiscabe ao empreendedor a sua implantação. Este

fato ocorre devido à não imposição legal, comopor exemplo, no Código de Obras, não exigindoa preservação de uma área mínima devegetação existente no local. Desta forma,como reflexo, apenas dois empreendimentos,dos cinco estudados, tiveram interesse emadotar área verde e projeto paisagístico, comoé o caso da obra nº 4 e da obra nº 5.

No aspecto relacionado à aquisição dematerial, o custo do material ainda éconsiderado o mais importante, seguido pelaqualidade. Apenas na obra nº5, a certificaçãodo material foi levada em consideração, naescolha e aquisição do material.

A exemplo do que ocorreu nas obras nº4e nº5, práticas voltadas à qualidade ambientalbeneficiam a empresa, principalmente quantoà valoração do empreendimento. Além dalocalização escolhida, a qualidade ambientaltambém torna o empreendimento mais atrativopara os futuros moradores.

QUADRO 3 – Desempenho Ambiental das obras analisadasAspecto

1. Mudança da paisagem

2. Presença de curso d'água e interferências

3. Seleção na aquisição de

material

4. Planejamento Ambiental

5. Tratamento de efluentes

Efluentes sem tratamento serão lançados no curso d'água

1

Não houve planejamento ambiental

1

Utilizou a faixa de preservação permanente

1

Obra 1

Pequena área desmatada

3

O custo do material é importante

1

Obra 2 Obra 3 Obra 5Obra 4

Pequena área desmatada

3

Grande área desmatada

1

Não houve desmatamento

4A faixa de preservação permanente não foi utilizada

4O custo do material é importante

1Estudos da área para uma melhor locação

2

Grande área desmatada

1Utilizou a faixa de preservação permanente

1

Estação de tratamento de esgoto

4

Fossa e sumidouro

2

Não houve planejamento ambiental

1

Não houve planejamento ambiental

1

Fossa e sumidouro

2

coletivos

Custo, qualidade e proveniência do material

3

sãoimportantes

Custo, qualidade e certificação ambiental são importantes

4Planejamento em função das exigências do licenciamento

3

8. Licenciamento Ambiental

Grau

6. Destinação de entulho e

reciclagem7. Destinação para

área verde ou projeto

paisagístico

15

Obra não licenciada ambientalmente

110

Obra não licenciada ambientalmente

1

Não houve destinação

1

Entulho é lançado em área imprópria

1

Entulho é lançado em área imprópria

1Não houve destinação

1

Fossa e filtro, com monitoramento

3

Destinação de área verde (pequena)

3

Entulho é reciclado

4Há intenção de projeto paisagístico

1

Entulho é destinado, mas não reciclado

2

18

Obra licenciada ambientalmente

4

Igarapé existente é tubulado

3Custo e qualidade do material

2

sãoimportantes

A faixa de preservação permanente não foi utilizada

4

Obra licenciada ambientalmente

4

Obra licenciada ambientalmente

4

Há projeto paisagístico

3

Entulho é destinado, mas não reciclado

2

2224

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS.

As atividades da construção civil emManaus desempenham um papel importante naeconomia da cidade. Porém, poucasconstrutoras possuem um plano ambientalefetivo, em relação à aquisição de materiais,concepção de projetos, tratamento de efluentese na própria intervenção da paisagem.

As obras estudadas, neste trabalho,demonstram algumas diferenças entre osempreendimentos, sendo que os licenciadosapresentaram um melhor desempenhoambiental, com base no modelo adotado. Estefato esclarece que os procedimentos adotadosno licenciamento facilitam o controle ambientaldos empreendimentos em atividade deimplantação e operação.

Ainda de acordo com os estudos de caso,quanto maior o porte da obra, mais exigênciaspara adequação do empreendimento sãorequeridas pelos órgãos ambientais. Aosempreendimentos de grande e médio portedeste estudo foram exigidas medidas queminimizassem os impactos ambientais.Contudo, os empreendimentos de pequenoporte não licenciados continuam provocandoseus efeitos sem qualquer medida mitigadorapara conter seus impactos.

Os impactos ambientais da construçãocivil, em sua maioria, são causados porintervenções não planejadas ambientalmente.Muitos construtores só modificam seus projetosou alguma atuação em obra quando sãoexigidos pelos órgãos fiscalizadores.

O modelo de análise de desempenhoambiental proposto neste trabalho destaca osaspectos ambientais reconhecidos nosprincípios de desenvolvimento sustentável e naspráticas de vistoria no processo de

licenciamento, e que, portanto, poderia serutilizado e adaptado para o próprio processo delicenciamento.

Atualmente, a legislação ambiental nãoobriga os pequenos empreendimentos daconstrução civil a estarem sujeitos aolicenciamento ambiental. Contudo, como foi vistono modelo proposto, são os pequenosempreendimentos que menos cumprem osprincípios de gestão ambiental e até mesmo, aprópria legislação ambiental.

Portanto, há necessidade, por parte dosconstrutores, da utilização de novas tecnologiase da incorporação de conceitos, como o respeitoaos recursos naturais durante o processo detomada de decisão, assim como cabe aosórgãos ambientais adotar medidas de controleambiental relacionadas aos empreendimentosde pequeno porte e dar continuidade aoprocesso de licenciamento ambiental dosempreendimentos de médio e grande porte dosetor da construção civil.

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JOHN, V. M. Desenvolvimento

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sustentável, construção civil, reciclagem etrabalho multidisciplinar. [Artigo técnico], 2000– disponível em: www.reciclagem.pcc.usp.br,acesso em 01/10/01.

MANAUS, CÓDIGO DE OBRAS DOMUNICÍPIO. Lei nº 1.208, de 25.03.75. Manaus– AM, 166 p.

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RIBEIRO, E. R; FALCOSKI, L. A. N.Desempenho ambiental: Delimitaçãoconceitual como subsídio à elaboração deinstrumentos para avaliação de impactosambientais em áreas urbanas. In: NUTAU, SãoPaulo. Artigo técnico. São Carlos, 7p, 1998.

SECOVI/SP – SINDICATO DASEMPRESAS DE COMPRA, VENDA, LOCAÇÃOE ADMINISTRAÇÃO DE IMÓVEIS DE SÃOPAULO. A indústria imobiliária e a qualidadeambiental: subsídios para odesenvolvimento urbano sustentável – SãoPaulo: PINI, 102p, 2000.

*Jussara Socorro Cury Maciel - Eng.Civil, Mestranda de Ciências Ambientais eSustentabilidade na Amazônia da UniversidadeFederal do Amazonas. e-mail:[email protected]

**Vicente Paulo Queiroz Nogueira-Eng. Civil, Dr.; Professor Titular do Depto deHidráulica da Universidade Federal doAmazonas. e-mail: [email protected]

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PROJETO PARA APROVEITAMENTO DO GÁS NATURAL DE URUCU CUMPRE IMPORTANTE ETAPA

O Centro de Ciências do Ambiente da Universidade do Amazonas concluiu o Estudo Prévio de Impacto Ambiental EPIA que embasa a proposta da Petrobrás de construção, no Estado do Amazonas, de um gasoduto de 400 km que terá o desafio de transportar gás natural desde o Terminal Solimões, no município de Coari, onde se encontra uma das principais usinas de gás natural do País, até a Refinaria de Manaus. A próxima etapa é a submissão do estudo às audiências públicas, nas quais será discutido junto às sedes de todos os municípios envolvidos, visando à posterior aprovação pelo Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas Ipaam.

O Gasoduto, que atravessará os municípios de Codajás, Anori, Anamã, Caapiranga, Manacapuru e Iranduba, poderá ser a solução para que Manaus possa usufruir dos benefícios do gás natural. As conclusões do Estudo Prévio de Impacto Ambiental realizado pela Ufam, em parceria com a Universidade Estadual do Amazonas UEA , Embrapa e com as Universidades federais do Rio de Janeiro, São Paulo e Viçosa, incorporam todas as recomendações relevantes de organismos internacionais e da legislação brasileira sobre a necessidade de preservação do meio ambiente. A conclusão, segundo Alexandre Rivas, Diretor do Centro de Ciências do Ambiente da Ufam, aponta para a viabilidade da construção do gasoduto, que causará danos ambientais menores se comparados com os provocados pelas hidrelétricas, embora atente também para o alto grau de responsabilidade da obra, que por sua característica linear, atravessará vários ecossistemas.

O estudo prevê o compromisso a ser assumido pela Petrobrás, de adotar medidas compensatórias ao ambiente natural em si e às populações, e recomenda diversos programas que visam a inserir o gasoduto no contexto do desenvolvimento sustentável.

Dentre os programas sugeridos estão o monitoramento ambiental, o resgate e o salvamento do patrimônio arqueológico e da memória indígena, a prevenção à erosão, a geração de energia em pequenas comunidades, o apoio às comunidades e a educação ambiental.

Além dos benefícios da geração de emprego e renda nos municípios envolvidos, uma inserção significativa do gás natural na matriz energética proporciona uma diminuição na pressão sobre o ambiente, não só em virtude da substituição do combustível hoje consumido - muito mais poluente - mas também pela redução do consumo de lenha no interior, sobretudo nas padarias e olarias.

NOTÍCIA T&C

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Biodiversidade e Exploração Sustentável

No próximo número, T&C Amazônia estará privilegiando o tema Biodiversidade, discutindo idéias, conceitos, iniciativas ou projetos que sejam capazes de contribuir para a transformação da realidade econômica regional, sem dissociá-la da premissa da sustentabilidade.

Uma lista não exaustiva de assuntos de especial interesse para essa edição contempla:

Relato de iniciativas envolvendo comunidades ao redor de projetos econômicos bem sucedidos, que utilizem recursos da biodiversidade como matéria-prima;

Apresentação de resultados de pesquisas que comprovem o potencial dos recursos da biodiversidade amazônica;

Descrição de casos reais e proposição de mecanismos para o combate à biopirataria;

Iniciativas para a preservação e proteção intelectual do conhecimento tradicional;

Preservação e manejo sustentável de espécies amazônicas;

Discussão da legislação existente e de projetos em tramitação;

Discussão do aparente antagonismo entre ocupação e soberania nacional sobre a Amazônia frente à necessidade de preservação;

Proposição de elementos de uma agenda positiva para a inserção da biodiversidade no desenvolvimento econômico sustentável, com especial ênfase à importância do Centro de Biotecnologia da Amazônia CBA e sua possível relação com as grandes corporações das indústrias farmacêutica e de cosméticos;

Avaliação dos resultados de intervenções de organizações não governamentais na realidade de comunidades locais.

Convidamos os interessados a submeterem suas contribuições, devidamente formatadas no padrão estabelecido pela revista, sob a forma de artigos ou comunicados técnicos, através do endereço eletrônico [email protected].

Todas as contribuições apresentadas serão avaliadas por uma equipe de profissionais especializados que colaboram com a revista, através de sistema blind review.