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Preparado por: Ana Júlia Perrotti-Garcia, Roberta Lopes e Telma de L. São Bento Ferreira - 2/2007 Tarefa baseada na teoria de aprendizagem TBL (Task-Based Learning) APLICAÇÃO Disciplina: Português para Estrangeiros Público-alvo: alunos adultos Nível de conhecimento do idioma: Intermediário Tarefa: Expressar sua opinião sobre a seca do nordeste em um blog, sentindo-se parte da solução de um problema social do Brasil, usando o idioma português para expressar suas opiniões e idéias. Corpus: Site FUNAGUAS. Criado em 11/10/2007 Habilidades: compreensão escrita, expressão oral, capacidade de assistir a um vídeo, depreender as idéias principais e expressar suas opiniões. Instituição: aula particular WARM UP Debate com os alunos 1- Em sua opinião atualmente quais são os problemas ambientais que envolvem o Brasil? 2- Como esses problemas afetam o modo de vida das pessoas?

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Preparado por: Ana Júlia Perrotti-Garcia, Roberta Lopes e Telma de L. São Bento Ferreira - 2/2007

Tarefa baseada na teoria de aprendizagem TBL (Task-Based Learning) APLICAÇÃO Disciplina: Português para Estrangeiros Público-alvo: alunos adultos Nível de conhecimento do idioma: Intermediário Tarefa: Expressar sua opinião sobre a seca do nordeste em um blog, sentindo-se parte da solução de um problema social do Brasil, usando o idioma português para expressar suas opiniões e idéias. Corpus: Site FUNAGUAS. Criado em 11/10/2007 Habilidades: compreensão escrita, expressão oral, capacidade de assistir a um vídeo, depreender as idéias principais e expressar suas opiniões. Instituição: aula particular

WARM UP Debate com os alunos

1- Em sua opinião atualmente quais são os problemas ambientais que envolvem o

Brasil?

2- Como esses problemas afetam o modo de vida das pessoas?

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3- No seu país, há problemas ambientais semelhantes? Quais?

ATIVIDADE 1 IMPACTO AMBIENTAL VOCÊ IRÁ ASSISTIR A UM TRECHO DE UM DOCUMENTÁRIO S OBRE O IMPACTO

AMBIENTAL DOS DESMAT AMENTOS E DA EXPANSÃ O DA MONOCULTURA DA SOJA NO

CERRADO PIAUIENSE (6:32-8:27)

EM GRUPOS , RESPONDA:

QUAIS SÃO AS CONSEQÜÊ NCIAS DO DESMATAMENT O?

COMO ESTÁ SENDO INTEN SIFICADO O PROCESSO DE DESERTIFICAÇÃO DOS

CERRADOS?

APRESENTEM SUAS CONCLUSÕES PARA OS DEMAIS GRUPOS E PROCUREM CHEGAR

AOS PONTOS COMUNS EN TRE OS GRUPOS .

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ATIVIDADE 2 TRABALHANDO COM LINHAS DE CONCORDÂNCIA

A Analise as linhas a seguir e complete a tabela, usando os termos sublinhados:

N Concordance

1 êmicos; 180 espécies de répteis; 150 espécies de anfíbios; 1200 espécies de peixes nos rios e lagos e em torno de 67 mil inverte

2 e multiforme. Há aproximadamente 40 milhões de anos, algumas espécies vegetais conseguiram um tipo especial de ramificação.

3 as sócio-ambientais graves, desde a desertificação e extinção de espécies, a favelização da vida nas cidades. Com ela repete-se

4 sente na BIBLIOGRAFIA. Uma lista de apenas 32 (trinta e duas) espécies botânicas, que inclui 1 (uma) espécie da Caatinga (Myr

5 s da flora atratoras da avifauna original”. Perguntamos, ainda: 1) Espécies frutíferas de qual flora? Da flora do cerrado local? Ou d

6 ode encontrar em apenas 30 hectares de cerrado? De 60 até 180 espécies... São nessas ocasiões que a gente fica a perguntar:

7 soja é pra vender aos ricos. 3 - Os cerrados e a preservação de espécies nativas: Estudos feitos recentemente (2001) pelo agri

8 de da flora e da fauna dos cerrados. Veja alguns exemplos de espécies da flora dos cerrados, muitas delas quase em extinção

9 essos ecológicos essenciais, bem como o manejo ecológico das espécies e ecossistemas. É amplo o quadro de proteção, o qu

10 ma das mais ricas do mundo; 13. Completa falta de respeito por espécies em extinção tanto da flora como da fauna; 14. Forte pr

11 cies, se o método for de PARCELAS... Vocês sabem quantas espécies pequenas (ervas) diferentes a gente pode encontrar em

ANIMAIS VEGETAIS INDETERMINADO

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B. Analise as linhas de concordância abaixo e procure completar os espaços com um dos termos do quadro a seguir:

Doutor em Economia de um parque o princípio da

os processos de de um ponto modelo de Gestão

social e respeito dos estudos de programas de Educação

N Concordance

1 respeito. Prescreve o art. 225 ______________ proteção ambiental, considerando o meio ambiente um “bem

2 to não seja aproveitada para a criação ______________ ambiental... Os oitizeiros da Paissandu, quanta ago

4 amento da empresa, apesar ______________ impacto ambiental (EIA) e o relatório de impacto ambiental (

10 , mitigar ou compensar ______________ degradação ambiental que ocorrem na macro-região, corroboram

16 grônomo, professor da UFCE, ______________ Ambiental e dos Recursos Naturais – José de Jesus

18 í, propomos a implantação de um ______________ Ambiental tecnicamente formulado que seja discutid

20 ssários para a realização de justiça ______________ ambiental em seu seio. Tudo começou com a notí

21 anas e rurais, de eficientes ______________ Ambiental, com o treinamento e valorização dos Pro

23 entam ainda outras vantagens, ______________ de vista ambiental. A presença dos tocos nas áreas irá poss

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C. Entre os três blocos a seguir, em qual TODAS as linhas seriam melhor completadas com “assim”? E com “porque”? E com “portanto”? BLOCO A:

1 rra da ordem de aproximadamente 1,50 toneladas por hectare, ________menor do que a registrada pelo Censo Agropecuário

2 de 135,12 mil toneladas, em uma área de 62,36 mil hectares, ________com uma produtividade da terra da magnitude de 2.1

3 portam bem os regimes de estiagens, sendo plantas xerófilas, ________. A paisagem de cerrados se complementa com a pre

4 no principio do desenvolvimento sustentável, confiamos nós e, ________, benefícios econômicos, sociais e de minimização de

5 Capítulo especial para tratar do Meio Ambiente, integrando-se, ________, na evolução do Direito Constitucional moderno, que

6 ranhenses contabilizados no Censo Agropecuário de 1995/96, ________antes das últimas emancipações. Para estimar os ín

7 a, geram poucos postos de trabalho para os maranhenses, e, ________, tem um forte conteúdo de exclusão social. Estes fat

BLOCO B:

1 Estado do Piauí de pelo menos 150 milhões de reais. Isto ________foi concedido à multinacional isenção total por um

2 , e ela deve ser orientada para a direção da sua instalação, ________antes de tudo, como bem diz parte do título deste

3 giões do País. A empresa quer usar a qualquer custo a lenha ________não tem compromisso com o meio ambiente, com

4 duras penas, fazendo o que a obrigação exige e aprouver, ________se não fizer, ta na rua e escafeder-se é a solução;

5 esvinculação com o meio ambiente são vazias, podres. E ________ainda há tempo, acordem! George Andrade – Profº

6 é que não há como fugir a essa condenação/constatação, ________se existe uma área deste país não incorporada efet

7 a inconseqüente. Mas que é tempo de saberem, isto é, até ________nos desleixos das suas falas, reconhece-se que Te

8 o fazer parte da pauta diária da sua operacionalização, até ________, qualquer empresa que hoje em dia não incorpora e

BLOCO C:

1 convexo, morros testemunhos e amplos e estreitos vales fluviais, ________como extensas áreas der cultivos muito próxima das bord

2 o do tamanho e da área de influência da bacia do rio ou ribeirão. ________nos rios maiores e nas bacias mais amplas encontramos

3 órgãos de controle ambiental, seja da SEMAR, seja do IBAMA, ________como do Ministério Público Federal e Estadual. Sua imp

4 ue não temos parque industrial de monta para uma preocupação, ________, resta-nos observar que contribuímos para esta elevação

5 erviu de gancho para a nossa fala de hoje. Poderia ser outro... ________, os cerrados do Piauí, em extensão aos cerrados do Nor

6 ade das formações regionais, presença de rios e vegetação ciliar ________como proximidade da sede do município e facilidade de a

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7 , havia sintomas de esgotamento físico em dois dos viajantes e, ________, o previsto transcurso pelo rio Parnaíba de Guadalupe a A

8 rasileiros. O Índice de Pobreza é estimado a partir de privações. ________na sua composição entram o percentual de domicílios qu

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ATIVIDADE 3 CONSOLIDANDO OPINIÕES

A. Leia os relatos (Anexo) e pergunte ao seu colega

a) Você conhece alguém que viveu essa experiência?

b) Conhece algum outro lugar que vivencie esse mesmo problema?

B. Em duplas, liste possíveis soluções para o problema da seca.

C. Relate à sala a opinião de seu colega e as possíveis soluções levantadas por ambos.

D. Vocês já utilizaram blogs. Esse gênero é muito divulgado atualmente. Os relatos

que você leu foram retirados de um blog. Visite o blog e responda a questão da sessão

bate-papo.

http://forum.sociedade.blog.uol.com.br/arch2007-09-30_2007-10-06.html#2007_10-

05_13_54_11-8953204-0

SECA – Possíveis

soluções

Investimento do

governo

............ ...............

Parar

desmatamentos e

queimadas

Construção de

barragens

................ ..............

Reflorestamento

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E- Na próxima aula, vamos comparar as respostas, portanto, não deixe de escrever

sua opinião no blog!!!!!

SOCIEDADE

05/10/2007

O que poderia ser feito para atenuar os efeitos da seca?

O problema da seca afeta dezenas de municípios no Brasil. O governo federal trabalha na distribuição de água, em um processo que inclui a coleta do produto, tratamento e fiscalização. O abastecimento não é feito de porta em porta. O que você acredita que poderia ser feito para atenuar os efeitos da seca no Brasil?

Bate-papo UOL: problemas brasileiros

(Anexo)

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O veterano: Alcides Gomes de Sousa

MAIS FOTOS DE ALCIDES

São Raimundo Nonato Área: 2.428 km2 População (2007): 30.466

Murilo Garavello Enviado especial do UOL Em Santa Luz (PI)

"Estou indo", repete, a cada duas frases, como um mantra, Alcides Gomes de Sousa, morador da zona rural de São Raimundo Nonato (PI). Indo para onde? Com os dedos grossos e calejados de uma vida na roça,

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aponta para o céu. Apesar de se dizer próximo da morte, o agricultor de 85 anos é capaz de cultivar feijão e mandioca e, com ajuda de uma bengala, caminhar ao menos 500 metros sem maiores dificuldades. Também é ele quem cuida das cinco vacas, cerca de 30 ovelhas e 20 cabras que possui. "Não, não são minhas. São de Deus", afirma, transparecendo um certo ideal de comunhão que aplica no dia a dia: vizinhos entram e saem para usar água do barreiro formado em sua propriedade; todos os anos, distribui entre 10 e 20 sacos de feijão que não usa. Neste ano, colheu muito pouco. "Mas consigo o de beber e o de comer. O que mais posso querer?". A seca hoje o incomoda pouco. Munido de uma cisterna, não sabe o que é falta d'água há oito anos. Meio século atrás, a situação era muito mais dramática. "Lá pra 1950, eu andava oito dias de jumento pra buscar comida", lembra. Conta que ia a cidades do vale do Gurguéia para efetuar trocas: entregava sal para receber arroz e feijão. E viajava de volta, mais oito dias, para alimentar a família.

O migrante: Adail de Jesus Santos

MAIS FOTOS DE ADAIL

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São Raimundo Nonato Área: 2.428 km2 População (2007): 30.466

Murilo Garavello Enviado especial do UOL Em São Raimundo Nonato (PI)

Há dez anos, quando começa a temporada de estiagem, em março, a mulher de Adail, Lenicélia, já sabe: mais cedo ou mais tarde, o marido aceitará uma oferta de trabalho em outro Estado e deixará São Raimundo Nonato por meses para levantar dinheiro para ela e os filhos Alan, 7, e Alex, 8. A última empreitada foi em Maurilândia (Goiás), onde esteve de julho a setembro de 2007 cortando cana. As condições dos serviços não são das mais atraentes: Adail paga as passagens de ida e de volta, não conta com nenhum direito ou garantia trabalhista e tem suas refeições descontadas compulsoriamente do que recebe no fim do mês. Mas o trabalhador de 33 anos não vê solução melhor: "Nunca encontrei emprego em São Raimundo (Nonato)". Na ausência do marido, mesmo tendo de cuidar dos filhos, dos sete porcos e de algumas galinhas, Lenicélia alistou-se como voluntária na Associação das Mulheres Produtoras Rurais da Comunidade Boi Morto para ajudar a construir cisternas. Quando voltou, Adail pediu a ela que não participasse do serviço. Machismo? "Não, não. Ela precisava me ajudar a buscar água e cuidar dos nossos filhos". Ele foi atendido.

A "exilada": Adenora Paes Landim da Silva

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MAIS FOTOS DE ADENORA

DEPOIMENTO DE ADENORA

Santa Luz Área: 1.187 km2 População (2007): 5.294

Murilo Garavello Enviado especial do UOL Em Santa Luz (PI)

Dormir não é tarefa fácil para Adenora, 46 -precisa ingerir "remédio controlado". A perspectiva de ter de ouvir barulho de motos e conversas na rua de terra onde mantém uma pequena casa na periferia da zona urbana de Santa Luz, no sul do Piauí, fez com que sua família fosse a última entre 150 a deixar o Baixão Novo, comunidade rural que dista mais ou menos 30 quilômetros do centro da cidade e tornou-se inóspito depois que a represa do local secou. Normalmente, só vem à cidade para "fazer a feira", ou seja, comprar produtos no supermercado. "Faz 24 anos que eu moro lá. É onde estão todas as minhas coisas, onde trabalho para me sustentar. É muito mais sossegado", diz. "Fiquei até quando pude. Mas já tava passando sede". Além de ter de ser obrigada a deixar o local onde mora, neste ano Adenora enfrenta uma seca "pior do que nos outros anos". Com o marido, plantou milho, arroz, feijão e mandioca. "Não conseguimos colher nada, não. Nada, nada". Sem colheita para vender, os R$ 95 que recebe do Bolsa Família têm de ser suficientes para sustentar seis pessoas. "Apertando, dá. De vez em quando vendo uma galinha para inteirar".

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A quilombola: Amanda Rodrigues dos Santos

MAIS FOTOS DE AMANDA

São Raimundo Nonato Área: 2.428 km2 População (2007): 30.466

Murilo Garavello Enviado especial do UOL Em São Raimundo Nonato (PI)

Assim como o marido, Raimundo Gregório dos Santos, 76, Amanda nasceu, criou-se e jamais deixou a comunidade do Boi Morto, em São Raimundo Nonato, que ainda não foi reconhecida como área remanescente de quilombo, mas possui dezenas de herdeiros dessa tradição. Com o pai, Amanda, 59, aprendeu a fazer esteiras de palha de banana, cestos e panelas de barro. Não

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tenta vender, produz para a família. Que é numerosa: chegou a dividir espaço, em sua casa, com outras 16 pessoas, entre filhos e netos. Atualmente, cuida e educa alguns netos -duas de suas filhas moram e trabalham na cidade. Apesar de gostar de crianças, reclama da falta de segurança para alimentá-las. "Nunca dá para ter certeza do que vamos fazer no dia seguinte", diz. A convivência com a seca, ao menos, está mais fácil. Há cinco anos, possui em casa uma cisterna e, assim, água para beber e cozinhar não falta mais. E é possível comer melhor: "antes eu tinha de cozinhar com água amarela. O feijão ficava preto que parecia carvão", lembra.

A mãe abandonada: Joana de Jesus Sousa Assis

MAIS FOTOS DE JOANA

DEPOIMENTO DE JOANA

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São Raimundo Nonato Área: 2.428 km2 População (2007): 30.466

Murilo Garavello Enviado especial do UOL Em São Raimundo Nonato (PI)

Joana mora em São Raimundo Nonato (PI) e é uma vítima da seca. E, principalmente, da baixa oferta de empregos decorrente dela. Há quase sete anos, o filho Adílson, hoje com 29 anos, viajou ao Mato Grosso para cortar cana. Voltaria após alguns meses. Sumiu. Nunca mais deu notícias à mãe. "Um conhecido" contou a Joana, há alguns meses, que encontrou Adílson no Mato Grosso. "Ele me disse que parecia que ele estava meio fora da mente, olhava para o chão, não falava coisa com coisa". Outro filho mudou-se para Brasília há cinco anos. Este ela sabe que está bem. "Mas nunca mais apareceu por aqui". O marido, Valdemar, 53, tampouco está. Em junho, emprestou dinheiro de um agiota a juros de 10% e foi à capital federal para atuar como pedreiro em uma obra. "Ele diz que a empresa não pagou. Não me mandou nenhum centavo". Agora, é cobrada pelo agiota. E fez outras dívidas para alimentar a filha Ivoneide, 28, e uma neta de 13 anos -ambas têm retardo mental e, por isso, "não conseguem trabalho". Joana diz procurar "bicos" como diarista, mas nem sempre consegue. Mantém-se apenas com o Bolsa Família, de R$ 65. "Passamos precisão demais", resume.

A assentada: Luísa Lopes Martins

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MAIS FOTOS DE LUÍSA

São Braz do Piauí Área: 604 km2 População (2007): 4.284

Murilo Garavello Enviado especial do UOL Em São Braz do Piauí (PI)

O rosto exibe as marcas deixadas por mais de meio século de labuta debaixo do sol na lavoura. O estômago sofre com a água turva de um açude semi-seco onde a reportagem do UOL encontrou um pássaro morto. A memória faz com que reviva a morte de três de seus cinco filhos ainda no parto. Como muitos dos nordestinos afetados pela seca, Luísa não tem muitas facilidades na vida. Aos 69 anos, ainda luta para ter uma propriedade na comunidade de Clemente, em São Braz do Piauí. Há um ano, ao lado de Agostim, seu marido há 46 anos, construiu uma casa no local, disputado por uma associação de trabalhadores a que o casal pertence e por um vereador de São Braz, de quem Luísa reclama ter recebido ameaças e xingamentos. "Eu nunca tinha ouvido alguns palavrões que ele falou". Reclamar, entretanto, não parece fazer parte da índole de Luísa. Enquanto manipula um caju, extraindo a castanha -principal fonte de renda dela e de Agostim hoje-, se diz feliz. "Tenho quase tudo o que quero". E revela sonhos não muito ambiciosos: "Só quero que Deus me dê com o que viver até o resto da minha vida. E que eu viva muitos anos ainda".

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O vendedor de água: Orlando Ribeiro de Sousa

MAIS FOTOS DE ORLANDO

São Raimundo Nonato Área: 2.428 km2 População (2007): 30.466

Murilo Garavello Enviado especial do UOL Em São Raimundo Nonato (PI)

Água em domicílio. É este o serviço prestado por Orlando Ribeiro de Sousa, 41, a alguns idosos da remota São Victor, uma comunidade de São Raimundo Nonato desprovida de água encanada, castigada pela falta de chuva. Todos os dias, "de manhã e de tarde", Orlando entra e sai de uma buraco, enchendo galões e colocando-os

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em um carrinho, que depois arrasta pelas ruas do povoado. Para receber quatro galões de cerca de quatro litros cada, as pessoas que têm dificuldades de locomoção pagam R$ 1,50 ao vendedor. O tambor de 20 litros custa R$ 3. "Sei quem normalmente quer, antes de vir para cá, já deixo combinado", afirma. "Não dá pra ficar andando de bobeira, à toa, debaixo deste sol". Orlando diz faturar enrte "R$ 15 ou R$ 16 nos dias bons, R$ 11 nos dias ruins". E, claro, ele é um dos clientes do próprio serviço. "A última carrada é sempre para mim", define o criativo trabalhador autônomo.

O "bicho do mato": Raimundo Pereira

MAIS FOTOS DE RAIMUNDO

São Raimundo Nonato Área: 2.428 km2 População (2007): 30.466

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Murilo Garavello Enviado especial do UOL Em São Raimundo Nonato (PI)

Contra as privações e o sofrimento, bom humor e auto-ironia. Raimundo Fernandes, 49, é do tipo que provoca risadas apenas com um olhar. E sorri ao fim de cada frase, como quando define-se: "Sou meio bicho do mato, sabe?", ao explicar porque destoa dos homens de sua geração na comunidade Boi Morto, em São Raimundo Nonato, e não migra para outros Estados em busca de empreitadas temporárias. "Na seca, só sobra eu, mesmo". E o que faz, durante a seca, quando plantar é inútil e não há o que colher? "Com o que perco mais tempo o dia inteiro é buscar água. Pego aquele coitado daquele cavalo e vou pra cá e pra lá atrás de água", conta, explicando que obtém água de quatro lugares diferentes, cada uma para uma função: beber, dar aos animais, tomar banho ("na verdade, é uma água poluída, não dá pra dizer que você fica banhado, não"), usar nas pequenas obras que faz. Como a maior da água que consegue é salgada, há meses sofre com um corte profundo no dedo que não cicatriza. "É sal demais, a pele num dá conta, fica rachada". Raimundo também cuida dos animais. Dos que sobraram. "Os fracos morrem de fome, da água ruim. Já perdi umas 12 ovelhinhas neste ano. Também, não cai um pingo desde fevereiro". De procurar trabalho, desistiu: "e tem quem pague?". Para sustentar a mulher e os filhos, R$ 80 do Bolsa Família. É suficiente? "Dá apertado. De vez em quando, mato uns animaizinhos pra comer".

O agente de saúde: Vilson Paes Landim

MAIS FOTOS DE VILSON

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São Raimundo Nonato Área: 2.428 km2 População (2007): 30.466

Murilo Garavello Enviado especial do UOL Em São Raimundo Nonato (PI)

Um agente de saúde apanhando uma água amarelada para beber? Situação imposta pela seca a Vilson Paes Landim, único responsável pela saúde das pessoas da comunidade São Victor, em São Raimundo Nonato. Vilson admite: "essa água pode dar coceira, sim. O mato acaba soltando uma substância que deixa a água ruim". Para amenizar a possibilidade de contrair "vermes de vários tipos, como a solitária", o agente costuma adicionar cloro antes de beber. Entretanto, não consegue distribuir o produto para todos os habitantes. "A regional (vinculada ao governo do Estado) tem enviado muito pouco cloro". Como o bairro está a mais de 30 quilômetros do centro da cidade, se algum dos habitantes precisar de socorro urgente, estará em apuros. "Não tenho remédio para quase nada. E para ir à cidade, só fretando uma caminhonete". Preço? "R$ 100". O comerciante João Batista, que ouve a conversa e é o dono do veículo, diz, com sarcasmo: "Ou paga, ou a família paga, ou morre". Em que pesem as dificuldades, Vilson orgulha-se ao proclamar a diminuição dos casos de diarréia. "Ensinei quase todo mundo a fazer soro caseiro -e eles aprenderam".

O vaqueiro aposentado: José Dias de Miranda

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MAIS FOTOS DE ZÉ PIZA

São Raimundo Nonato Área: 2.428 km2 População (2007): 30.466

Murilo Garavello Enviado especial do UOL Em São Raimundo Nonato (PI)

Perguntar por José Dias de Miranda no bairro São Victor, em São Raimundo Nonato, é perder tempo. Para encontrar o vaqueiro de 69 anos que costuma entoar o "reisado" (canto tradicional dos condutores de boi nordestinos), é necessário saber o apelido, "Zé Piza". Viúvo há oito meses, o pai de 10 mulheres e 3 homens já arrumou outra mulher, esta 29 anos mais jovem do que ele. A ousadia do vaqueiro não se restringe à vida amorosa. Para comprar cavalo ou realizar serviços em sua roça, pega dinheiro emprestado e deixa o cartão com o qual saca o salário mínimo a que tem direito como aposentado nas mãos do credor. "Ele (o comerciante de quem emprestou R$ 1.200) ia sacando, R$ 380, todo mês, e descontando da dívida, até eu não dever mais nada. Depois disso, me devolveu o cartão", conta, afirmando confiar na idoneidade do comerciante para o cálculo e a cobrança dos juros. "Foi uma idéia minha, mesmo. Não teve problema".