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1. ORIGEM DA CULTURA DA TANGERINEIRA, IMPORTANCIA NO MUNDO E NO BRASIL Prof Dr. Otto C arlos Koller ' Prof Dr. Gilmar Schaferl 1.1. Origem e das tangerineiras Existem fortes indfcios de que as plantas cftricas se tenham originado no sudeste da Asia, numa regiao bastante ampla, que se estende des de 0 leste da Arabia ate as Filipinas e do Himalaia ate a Indonesia. As tangerineiras (Citrus reticulata Blanco) se originaram na China e sudeste da Asia. Algumas variedades ja haviam sido introduzidas no Japao, antes da era das grandes navega<;6es, onde foram descritas em 1.178, porem na Europa, segundo Tolkowsky, citado por Webber et al. (1967), as tangerineiras so foram introduzidas em 1805 , na Inglaterra. Da In- glaterra as tangerineiras foram levadas para Malta e depois elas foram introduzidas na Sicflia. Em princfpio, as tangerinas sao as frutas mais saborosas do genero Citrus. Sendo assim, e surpreendente que elas somente tenham sido introduzidas na Europa mais de mil anos depois das cidreiras, limoeiros e laranjeira azeda. Nao se sabe ao certo, qual foi 0 motivo disso . Como uma hipotese, para que isso tenha acontecido, 0 fato talvez possa ser atribufdo a maior perecibilidade das tangeri- nas, em rela<;:ao aos frutos de outras, especies cftricas. Por terem casca mais fragil do que ados lim6es, cidras e laranjas azedas, por serem mais doces e menos acidas , as tangerinas se degradam com maior rapidez, e por isso, provavelmente, nao suportavam 0 transporte a longas distancias , por vias terrestre e marftima (navios movidos a vela), numa epoca em que nao se dispunha de equipamentos e das atuais tecnicas de conserva<;ao pos-colheita . No Brasil varias especies de plantas cftricas foram introduzidas primeira- mente no Estado da Bahia, pelos padres Jesuftas , poucas decadas apos 0 descobri- 1. Eng. Agr. Dout or em Agronomia, Professor Convidado da Fa culdade de Agronomia da UFRGS ; Boisista de Produtividade de Pesquisa nfvel lA do CNPq . 2. Eng . Agr. Doutor em Fitotecnia, Boisista P6s-DoutoradoJllllior do CNPq. 13

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1. ORIGEM DA CULTURA DA TANGERINEIRA, IMPORTANCIA NO

MUNDO E NO BRASIL

Prof Dr. Otto Carlos Koller' Prof Dr. Gilmar Schaferl

1.1. Origem e dissemina~ii.o das tangerineiras

Existem fortes indfcios de que as plantas cftricas se tenham originado no sudeste da Asia, numa regiao bastante ampla, que se estende des de 0 leste da Arabia ate as Filipinas e do Himalaia ate a Indonesia. As tangerineiras (Citrus reticulata Blanco) se originaram na China e sudeste da Asia. Algumas variedades ja haviam sido introduzidas no Japao, antes da era das grandes navega<;6es, onde foram descritas em 1.178, porem na Europa, segundo Tolkowsky, citado por Webber et al. (1967) , as tangerineiras so foram introduzidas em 1805 , na Inglaterra. Da In­glaterra as tangerineiras foram levadas para Malta e depois elas foram introduzidas na Sicflia.

Em princfpio, as tangerinas sao as frutas mais saborosas do genero Citrus. Sendo assim, e surpreendente que elas somente tenham sido introduzidas na Europa mais de mil anos depois das cidreiras, limoeiros e laranjeira azeda. Nao se sabe ao certo, qual foi 0 motivo disso . Como uma hipotese, para que isso tenha acontecido, 0 fato talvez possa ser atribufdo a maior perecibilidade das tangeri­nas, em rela<;:ao aos frutos de outras, especies cftricas. Por terem casca mais fragil do que ados lim6es, cidras e laranjas azedas, por serem mais doces e menos acidas , as tangerinas se degradam com maior rapidez, e por isso, provavelmente, nao suportavam 0 transporte a longas distancias , por vias terrestre e marftima (navios movidos a vela), numa epoca em que nao se dispunha de equipamentos e das atuais tecnicas de conserva<;ao pos-colheita .

No Brasil varias especies de plantas cftricas foram introduzidas primeira­mente no Estado da Bahia, pelos padres Jesuftas , poucas decadas apos 0 descobri-

1. Eng. Agr. Doutor em Agronomia, Professor Convidado da Faculdade de Agronomia da UFRGS; Boisista de Produtividade de Pesquisa nfvel lA do CNPq. 2. Eng . Agr. Doutor em Fitotecnia, Boisista P6s-DoutoradoJllllior do CNPq.

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mento (Webber et al. 1967) . Entretanto, as tangerineiras foram introduzidas bern mais tarde, existindo referencias de que, no infcio do seculo XX, por volta de 1930 ja se cultivava a 'Mexeriqueira do Rio' no Estado do Rio de Janeiro (Moreira & Moreira, 1991). Contudo, durante muitos anos a produc;:ao de laranjas era bern rna is importante, por isso existem poucas referencias sobre 0 cultivo de tangerineiras, cujo comercio se restringia ao mercado interno.

Das poucas referencias disponfveis , existe a de Vasconcellos (1929), sobre uma exposic;:ao de laranjas, tangerinas, limas, limoes e pomelos, feita nesta epo­ca, na cidade de Sao Paulo . No Rio Grande do SuI e possfvel que a introduc;:ao tenha ocorrido junto com a de laranjas, em 1860, atraves de sementes trazidas por imigrantes ac;:orianos (Dornelles , 1967; Dornelles, 1980). Neste Estado elas deram origem as cultivares de bergamoteiras Taquari e Cal.

1.2. Utilidade das tangerinas e das tangerineiras

As tangerineiras sao plantadas e cultivadas porque 0 homem percebeu nelas e em seus frutos caracterfsticas importantes . Inegavelmente a maior impor­tancia reside no otimo sab~r de seus frutos, que sao ricos em vitamina C, proprios para 0 consumo-fresco , por serem geralmente faceis de descascar, possufrem go­mos que podem ser facilmente separados uns dos outros, sem rompimento da membrana que os separa e nem derramamento de suco.

As tangerinas tam bern se prestam para a extrac;:ao industrial de suco, natu­ral ou concentrado. Alem disso, elas tern uma serie de outras utilidades , possibili­tando que do suco, da casca e da polpa , sejam preparados produtos de confeitaria e licores, existindo dezenas de receitas para preparo de bolos, cucas, doces e licores (Kuhn et al, 2006) . Da casca de frutos verdes sao extrafdos oleos essenciais , que sao utilizados para diversas finalidades , principalmente em industrias de cos­meticos.

o bagac;:o das tangerinas maduras , resfduo da extrac;:ao industrial de suco e oleos essenciais, e utilizado para preparo de rac;:ao, para alimentac;:ao de bovinos e iscas atrativas para controle de formigas. A rac;:ao tem tanto valor nutritivo e comercial, que 0 maior volume produzido pelas industrias de suco e exportado para a Europa .

As folhas sao muito utilizadas na medicina popular, para preparo de cha com propriedade calmante ou tranqiiilizante . Das folhas tam bern podem ser ex­trafdos oleos essenciais para elaborac;:ao de cosmeticos. Finalmente, da arvore, a madeira que e dura, fornece lenha de elevado valor calorffico, para uso em fogoes, lareiras, caldeiras, secadores e preparo de carvao vegetal.

Quanto ao valor nutritivo, as tangerinas apresentam 10 a 20% do seu peso fresco em materia seca , que e constitufda por carboidratos (glicfdios) , acidos orga­nicos , protefnas, gorduras, fibras e diversos minerais. Dependendo da variedade ou cultivar, as tangerinas podem ter composic;:ao semelhante a de laranjas , apre­sentada na Tabela 1.1 (Erickson, 1968) .

Aproximadamente 70 a 80% dos solidos soluveis totais (SST) presentes nos frutos sao constitufdo por carboidratos, compreendidos por monossacarfdeos

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(glicose e frutose), oligossacarfdeos (sucrose) e polissacarfdeos como celulose, amido, hemicelulose e pectinas (Davies & Albrigo, 1994).

As tangerinas, comparadas com frutas de outras especies, contem pouca gordura, em geral menos de 0,3 g.l OOg-1 e 0 teor de carboidratos pode variar de 10 a 14% (Sartori et al 2007), portanto, elas sao pouco energeticas, podendo, a criterio de recomenda<;ao medica, ser consumidas por pessoas que necessitam fazem dieta alimentar.

Tabela 1.1. Composic;ao de laranjas da cultivar Valencia

Componentes Parte comestfvel Suco Casca

g(100g-l}

Acido cftrico 0,75 1,02 0,29

Cinzas 0,48 0,34 0,78

Gorduras 0,30 0,29 0,23

Agua 85,23 87,11 72,52

Protefnas 1,13 1,00 1,53

Glucfdeos redutores 4,69 4,99 5,56

Sacarfdeos 4,41 3,73 1,99

Carboidratos totais 9,10 9,72 7,55

S61idos soluveis totais 13,06 12,59 15,69

mg(100g-l }

Vitamina C 39,5 43,5 136,5

Biotina 0,001 0,005

Carotenoides 3,4 32,8 9,9

Calcio 36,7 9,5 161,0

Ferro 0,8 0,3 0,8

Magnesio 11,5 11,3 22,2

F6sforo 21,8 19,5 20,8

Potassio 173,0 163,0 212,0

S6dio 1,3 0,7 3,0

EnxOfre 11,5 8,5 21,0

Fonte: Adaptado de Erickson (1968)

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1.3. Importancia social

AIE~m das tangerinas serem frutas saborosas e nutritivas, e importante sali­entar que 0 cultivo de pomares de tangerineiras desempenha destacado papel economico e social, como sera visto a seguir. No Brasil, segundo dados do lBGE (2007), a area cultivada com tangerineiras em 2005 foi de 61.315 hectares. Consi­derando-se que, dependendo da forma de manejo dos pomares , envolvendo ra­leio de frutos, podas de frutifica<;ao e, do grau de mecaniza<;ao dos pomares , pode­se considerar que e necessaria uma pessoa para 0 cultivo de dois hectares, isto significa que a cultura da tangerineira deve estar proporcionando aproximada­mente 30.000 empregos diretos no Brasil. Trata-se de pessoas que, com seus familiares, estao fixadas no meio rural, com 0 seu sustento ligado diretamente a produ<;ao de tangerinas.

Contudo , alem de promover 0 sustento de urn grande numero de pessoas na produ<;ao, a cultura da tangerineira proporciona trabalho e sustento a urn ele­vado numero de outras pessoas, que atuam em atividades correlatas, como no transporte, nas diversas redes de distribui<;ao e comercializa<;ao das frutas, em industrias de sucos e oleos essenciais, bern como na produ<;ao e comercializa<;ao de maquinas, equipamentos , ferramentas, embalagens, fertilizantes e diversos outros insumos utilizados na cadeia produtiva, desde 0 pomar, ate que as tange­rinas, e/ou seus subprodutos, cheguem ao consumidor.

E muito importante considerar esses aspectos , porque na atual situa<;ao de carencia de empregos, os governos brasileiros tern concedido incentivos a deter­minadas industrias ou empresas, nas cidades, para gerar ou manter empregos, em numero proporcionalmente bern menor do que e gerado por diversas atividades agrfcolas, como a citricultura e a fruticultura em geral.

1.4. Evolu~iio da produ~iio mundial de tangerinas

Na tabela 1.2 sao apresentados dados da FAO (2007), que permitem avali­ar a evolu<;ao das produ<;oes dos 16 pafses maiores produtores mundiais de tan­gerinas, nos anos de 1990, 2000 e 2006.

Pode-se observar que a produ<;ao aumentou 46% na decada de 1990 a 2000, e, de 2000 a 2006 0 aumento da produ<;ao de tangerinas foi de 32%. Nos mesmos perfodos a produ<;ao de laranjas aumentou respectivamente 35% e 4%, evidenciando que a produ<;ao mundial de tangerinas cresce gradativamente com maior intensidade que a de laranjas. Isso po de ser decorrente de uma tendencia, que existe atualmente pelo maior consumo de produtos naturais, principalmente de frutas frescas.

Verifica-se que 0 Brasil, atualmente 0 maior produtor mundial de laranjas, e apenas 0 3° produtor mundial de tangerinas. Tambem se po de verificar que nos ultimos 16 anos a produ<;ao de tangerinas vem tendo um crescimento assombro ­so na China, da ordem de 227%, correspondente a 14% por ano. Deve-se salientar que a produ<;ao atual de laranjas da China e da ordem de 1.700 mil toneladas; nao se sabe bem a que atribuir essa produ<;ao de tangerinas sete vezes maior do que a

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Tabela 1.2. Palses maiores produtores de tangerinas (1.000 toneladas). com dad os da FAO (2000) para 0 ano de 1990 e da FAO (2008) para os anos de 2000 e 2006.

ANOS

PAISES 1990 2000 2006

China 3.483 6.755 13.240

Espanha 1.576 1.802 2.000

Brasil 661 903 1.233

Japao 1.653 1.143 842

Turquia 345 560 791

Ira 493 676 702

Tail~mdia 600 650 670

Egito 257 481 665

Argentina 447 656 660

Paquistao 418 493 639

Coreia 993 563 620

Italia 386 593 590

Marrocos 225 531 454

Estados Unidos 326 585 417

Mexico 80 314 337

Peru 41 132 171

Outros pafses 531 1.410 1.563

Prodl1(;:ao mundial 12.515 18.247 25.595

Fonte: FAO (2000) e FAO (2008).

de laranjas. Talvez os motivos estejam relacionados a presenc;:a da doenc;:a cancro cftrico, a qual as tangerineiras em geral sao menos suscetfveis do que as laranjei­ras; alem disso, e possfvel tambem que ° consumo de frutas frescas tenha recebi­do maior prioridade do que a produc;:ao industrial de sucos.

Na Asia 0 japao tam bern se salienta como grande produtor de tangerinas. Porem, a tendencia da produc;:ao japonesa e de diminuir ou de estabilizar, devido aos altos custos de produc;:ao e a escassez de terras. Tradicionalmente 0 japao produz mais tangerinas do que laranjas. Isso pode ser atribufdo ao maior valor comercial das tangerinas, mas se deve muito mais a presenc;:a da doenc;:a denomi­nada cancro cftrico, a qual as laranjeiras, em geral, sao bern mais suscetfveis do que as tangerineiras. Pelo mesmo motivo, as variedades de tangerineiras cultiva-

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das no Japao se restringem ao grupo das Satsumas (Citrus unshiu Marc), que sao muito resistentes , quase imunes, ao cancro dtrico.

Outros pafses nos quais a prodw;:ao de tangerinas tern alcanc;:ado expressi­vo crescimento sao a Espanha, 0 Ira, 0 Egito, a Turquia , a Italia e 0 Marrocos, sendo que a produc;:ao da maioria desses pafses esta voltada para 0 abastecimento do Mercado Comum Europeu, em frutas frescas .

No continente americano a Argentina sempre ocupou lugar de destaque , exportando frutos para a Europa, mas, nos ultimos anos a produc;:ao de tangerinas vern aumentando bastante no Mexico e no Peru.

1.5. Situa~ao e perspectivas da cultura de tangerineiras no Brasil

Atraves dos dados da FAO, apresentados na tabela 1.2, pode-se observar que a produc;:ao brasileira de tangerinas aumentou significativamente nos ultimos anos, alcanc;:ando 1.270 mil toneladas em 2006, com crescimentos da ordem de 37% da decada de 1990 a 2000 e 13% nos anos de 2001 a 2006. Nos mesmos perfodos , a produc;:ao brasileira de laranjas aumentou apenas 30% de 1990 ao ana de 2000 e, de la para ca, estabilizou, ou ate decaiu.

A estagnac;:ao da produc;:ao brasileira de laranjas esta muito relacionada com 0 que acontece no estado de Sao Paulo , que e responsavel por cerca de 85% da produc;:ao brasileira. Tendo em vista que a maior parte das laranjas se destina as industrias de suco, estas freqi.ientemente estabelecem baixos prec;:os aos produ­tores . Tambem, conforme relatado por Koller (2006) , naquele Estado a diminuic;:ao do entusiasmo dos citricultores , com 0 cultivo de laranjeiras, pode ser atribufda a ocorrencia de alguns anos consecutivos de secas, mas tam bern se deve ao surgimento de doenc;:as graves, como: 0 declfnio que desde 1970 vinha causado anualmente a morte de mais de 10% das laranjeiras enxertadas so bre limoeiro 'Cravo'; 0 cancro dtrico, cujo controle , por erradicac;:ao, causou a eliminac;:ao de milhares de arvores; a c1orose variegada, controlada pela eliminac;:ao de pomares contaminados com menos de 4 anos de idade, e podas de ramos afetados em plantas adultas . Alem disso, em 1999 surgiu a doenc;:a morte subita (MS) que tern dizimado grande numero de pomares ou talhoes de laranjeiras enxertadas sobre limoeiro 'Cravo' e para culminar, em marc;:o de 2004 foi constatada a presenc;:a do "greening", cujo controle provavelmente requerera a erradicac;:ao de muitos po­mares. Todos esses fatores fazem com que alguns citricultores se dediquem a outras culturas de menores riscos e/ou mais rentaveis, com 0 atualmente esta acontecendo com a substituic;:ao de pomares de laranjeiras, pelo plantio de cana de ac;:ucar, para produc;:ao de alcool.

Dentro deste contexto, alguns citricultores diminuem 0 cultivo de laran­jais e passam a produzir tangerinas, que sao resistentes ou tolerantes a diversas doenc;:as . As tangerinas sao melhor remuneradas nos mercados de fruta-fresca, podem ser exportadas e, em ultimo caso , podem ser destinadas as industrias de suco, quando os prec;:os forem satisfat6rios.

Atraves dos dados apresentados na tabela 1.3 pode-se observar que 0 es­tado de Sao Paulo e 0 maior produtor de tangerinas, respondendo por aproxima-

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damente 45% da produc;:ao brasileira. seguindo-se. como grandes produtores. 0

Parana. 0 Rio Grande do Sui e Minas Gerais . A produc;:ao dos demais estados e bern menor.

Desde 2001 a 2006 a produc;:ao de tangerinas aumentou 145 mil tonela­das. sendo que isso se deveu principalmente ao crescimento da produc;:ao nos estados de Minas Gerais e Parana. Entretanto. nos estados de Sao Paulo e Rio Grande do Sui. que sao grandes produtores. nao houve progressos. Nem sempre isso se deve a efetivas estagnac;:6es ou diminuic;:6es de produc;:ao . tanto assim que em 2004 Sao Paulo produziu 611.212 toneladas. 0 Rio Grande do Sui 174.746. A questao pode estar relacionada com anos de alternfmcia de produc;:ao . ou a pro­blemas de amostragem. nos levantamentos de dados estatfsticos. tendo em vista

Tabela 1.3. EvolLU;ao da prodll~ao brasileira de tangerinas e estados maiores prodlltores. de 2001 a 2006.

Anos

Estados 2001 2005 2006 Produc;:ao (toneladas)

Sao Paulo 594 .366 546.325 564.359

Parana 204.842 264 .708 280 .888

Rio Grande do SuI 173.968 170.776 172.807

Minas Gerais 43.988 119.790 125.219

Rio de Janeiro 42 .045 41.687 41.121

Espfrito Santo 16.706 15.350 16.088

Parafba 8 .374 11.966 13 .326

Sergipe 4.869 10.981 12.720

Goias 9.393 11.294 11 .042

Bahia 5.859 10 .351 9.321

Santa Catarina 7 .167 7.300 5.845

Pernambuco 1.099 8 .100 4.267

Distrito Federal 2.392 2.446 2.258

Ceara 1.505 2.211 2.220

Acre 1.417 2.083 2.032

Para 3.132 1.707 1.134

Outros Estados 47.918 5 .524 5.461

Brasil 1.125.052 1.232.599 1.270.108

Fonte: IBGE (2008).

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que somente a partir de 2001 0 IBGE passou a avaliar a massa de frutos produzi­dos. Antes a produc;:ao era avaliada pelo numero de frutos.

o maior volume de tangerinas produzidas no Brasil e absorvido pelo mer­cado interno de frutas-frescas. Sabe-se que, quando ha escassez de laranjas, as industrias de sueos adquirem tangerinas, para produc;:ao e venda de sueo. Porem 0

sueo de tangerinas tambem pode ser misturado ao sueo de laranja, em pequena porcentagem. Alem disso, 0 suco de tangerinas pode entrar na composic;:ao de refrigerantes. Entretanto, nao foi possfvel obter dados sobre a quantidade de tan­gerinas que e utilizada em industrias.

As tangerinas tambem rendem divisas para 0 Brasil atraves de exportac;:6es de frutas frescas (Tabela 1.4), para os pafses listados na tabela 1.5. Tambem certa quantidade de sueo e exportada para outros pafses, mas nao ha dados sobre 0

volume (provavelmente inclufdo no suco de laranja). Com relac;:ao a exportac;:ao de frutas-frescas, pelos dados da tabela 1.4, ve­

rifica-se que, desde 1990 para ca, houve progressos, mas 0 volume e 0 valor das exportac;:6es ainda podem ser considerados incipientes face ao grande potencial que 0 Brasil possui, relacionado com clima, solo, baixo custo de produc;:ao e urn solido mercado interno, capaz de absorver boa parte da produc;:ao, quando, por motivos diversos, pode diminuir temporariamente 0 volume exportado. Entretan­to, diante dos pafses maiores exportadores, 0 Brasil ocupa 0 tfmido lugar de 22° colocado .

Por outro lado, e interessante registrar que, sendo 0 maior produtor mun­dial de frutas cftricas e 0 terceiro maior produtor de tangerinas, segundo dados estatfstieos do Ibraf (2007), em 2005 0 Brasil importou 1.054 toneladas de tange­rinas, com urn dispendio de US$ 253.575,00. Urn estudo realizado sobre essa questao, por Senna (2007), evidenciou que as tangerinas importadas pelo Brasil sao provenientes principalmente do Uruguai e, tam bern da Espanha, obtendo pre-

Tabela 1.4. Exportac;:oes Brasileiras de Tangerinas

ANOS Toneladas Valor (US$ 1.000)

1990 4 .624 1.418

1995 7.932 3.242

2000 12 .032 4.977

2001 17.257 6.697

2002 19.554 7.015

2003 18.311 6.197

2004 18.014 8.192

2005 12.474 6.255

Fonte: Fonte: FAO (2008)

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Tabela 1.5. Exportat;oes brasileiras de tangerinas em 2006, par pais de destino.

Palses de destino Toneladas Valor (US$ FOB)

Canada 3.141 1.924.470

Indonesia 2.133 965.440

Reino Unido 1.090 522.174

Palses Baixos (Holanda) 758 487.320

Arabia Saudita 598 304.300

Filipinas 500 184.666

Emirados Arabes Unidos 438 220.570

Vietna 289 137.240

Russia 287 205.167

China 240 106.272

Cingapura 219 100.574

Italia 170 132.555

Ucrania 144 71.640

Portugal 144 63.648

Coveite 141 67.850

Malasia 120 53.808

Bahrein 97 42.650

Alemanha 81 50.959

Bangladesh 77 27.067

Estados Unidos 43 18.270

Franc;:a 0,5 939

Espanha 0,2 74

Total 5.688 10.711.949

Fonte: SecexlDatafruta-lbraf (2008).

c;:os relativamente altos. Assim sendo, nem 0 nosso mercado interno esta conveni­entemente explorado, havendo espac;:o, nas grandes cidades, para a venda de fru­tos de boa qualidade a clientes de born poder aquisitivo, os quais raramente ques­tionam prec;:os, desde que 0 produto seja efetivamente de boa qualidade e bern apresentado.

De urn modo geral, no Brasil nao foram desenvolvidas tecnologias apro­priadas para a produc;:ao de frutas cftricas de mesa. Dois motivos devem ter contri­bUldo muito para isso, quais sejam: em primeiro lugar 0 nosso consumidor se

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habituou a ser pouco exigente no consumo de frutas cftricas, devido ao baixo poder aquisitivo da maioria assalariada e, quanta a menor parcela da populac;:ao bern aquinhoada, por inexistencia de alternativas, devido a baixfssima oferta de frutos de boa qualidade . 0 outro fator determinante foi que na citricultura brasi­leira, por motivos 6bvios, a prioridade foi a produc;:ao de laranjas para produc;:ao e exportac;:ao de suco, que nao requer frutos de boa qualidade, mas sim elevada produtividade. Por isso a produtividade dos pomares assumiu a prioridade nas pesquisas, ensino e extensao, em detrimento do cultivo de tangerineiras, que requer a produc;:ao de frutos de melhor qualidade.

Com muito merito, ha mais de setenta anos, 0 estado de Sao Paulo detem a lideranc;:a brasileira em tecnologia sobre a produc;:ao de citros, que foi absorvida, com maior ou menor intensidade, pelos demais estados. Assim, ate bern poucos anos, sao muito raros os trabalhos de pesquisa sobre sistemas e intensidades de poda, raleio de frutos, uso de reguladores de crescimento e sobre introduc;:ao, selec;:ao, criac;:ao e avaliac;:ao do potencial de variedades de citros para produc;:ao de frutas frescas de boa qualidade.

Felizmente, nos anos mais recentes ja estao sendo realizados diversos es­tudos neste sentido, pOI"que os citricultores estao avidos em conhecimentos sobre essas quest6es. Por outro lado, embora tardiamente, ja existe 0 interesse cada vez maior de desenvolver a citricultura, para produc;:ao de frutas-frescas, em estados que possuem climas e microclimas adequados para a melhoria da qualidade. Exem­plos neste sentido se verificam em Sao Paulo (expansao da citricultura para 0

sudeste do estado e pesquisas com variedades sem semente), Minas Gerais e a Bahia ja estao desenvolvendo a citricultura em regi6es de maior altitude (casca mais colorida e sabor mais apurado), no Rio Grande do Sui se plantam grandes areas com variedades sem sementes, se pratica a citricultura familiar e organica e se adota as praticas de poda e raleio de frutos.

Apesar destes poucos registros de progresso, existe muito por fazer, com relac;:ao ao manejo de pomares; controle de doenc;:as e pragas; cuidados na colhei­ta; manuseio, classificac;:ao, embalagem, conservac;:ao e comercializac;:ao dos fru­tos.

Com relac;:ao a exportac;:ao de tangerinas para outros paises, alem de me­lhorar a qualidade e a tecnologia de comercializac;:ao, 0 Brasil enfrenta outros problemas, dentre os quais se destacam as barreiras fitossanitarias estabelecidas por diversos paises, para impedir a entrada de frutas cftricas produzidas no Brasil. Neste sentido, diversos estados brasileiros estao contaminados por doenc;:as quaren­tenarias, como a pinta preta (Pl7yllostictina citricarpa Petrock) e 0 cancro cftrico [Xantl7omonas axonopodis pv. Citri (Hasse) Votorien et.al], cuja introduc;:ao varios pafses produtores de citros tentam evitar, impedindo a importac;:ao de frutos pro­venientes de pafses contaminados.

No caso de exportac;:6es de tangerinas para pafses do Mercado Comum Europeu, por exemplo, como Reino Unido, Paises Baixos, Alemanha e Franc;:a (Ta­bela 1.5), 0 Brasil enfrenta serias dificuldades, embora os paises citados, e diver­sos outros, nao tenham condic;:6es climaticas favoraveis ao cultivo de citros, por­que os citricultores espanh6is, muito bern organizados, exercem forte vigilancia e freqUentemente rechac;:am remessas de frutas cftricas brasileiras, desembarcadas

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na Holanda, alegando que, eventualmente, algumas frutas com les6es sejam urn grave risco para a citricultura da Espanha (distante varias centenas de quilome­tros), atualmente 0 maior exportador de tangerinas (Tabela 1.6).

Apesar desses percalc;:os, a Argentina e 0 Uruguai, tecnica e comercialmen­te melhor organizados, sao grandes fornecedores do mercado europeu, nos me­ses de maio, a setembro, quando ocorre a entressafra nos paises produtores de frutas cftricas no hemisferio norte, como Espanha, Italia, Grecia, Turquia e Marro­cos .

Tabela 1.6. Palses maio res exportadores de tangerinas (toneladas).

ANOS

Paises 1995 2000 2005

1. Espanha 1.107.973 1.320.188 1.512.618

2. China 177.861 202.710 380.874

3. Marrocos 160.667 159.325 302.454

4. Turquia 115 .848 141.476 246.337

5. Holanda 59.340 64.315 101. 173

6. Africa do SuI 25.070 58.689 85.510

7. Paquistao 36.813 79.089 78.914

8. Argentina 27.038 24.567 71.395

9. Italia 29.256 82 .186 61.438

10. Belgica 31.418 25.118 38.801

11. Uruguai 18.806 19.204 38.047

12. Grecia 16.300 32.745 37.960

13. Franc;:a 31. 150 34.562 34.213

14. Israel 22.455 24.261 32.404

15. Chi pre 1.479 14.400 31.130

16. Peru 21 1.587 29.245

17. Ira 25 47.414 24.129

18. Australia 11.006 26.784 23 .028

19. Estados Unidos 33.019 40.043 21. 788

20. Chile 782 7.688 21.247

21. Alemanha 22.289 10.712 18.034

22. Brasil 7.932 12.032 12.474

Fonte: FAO (2008) .

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A entressafra de produc;:ao de frutas cftricas nos palses do hemisferio norte , onde em geral a populac;:ao possui poder aquisitivo alto, e uma otima oportunida­de para exportac;:ao de tangerinas produzidas no Brasil, que esta situado no he­misferio suI, onde a safra se concentra mais, justamente nos meses de abril a novembro. Entretanto, para que a exportac;:ao se torne posslvel e necessario supe­rar os empecilhos de ordem fitossanitaria e produzir frutos de boa qualidade.

ConC\uindo, pode-se considerar que, se conseguir manter sob controle a proliferac;:ao de doenc;:as e insetos-praga, 0 Brasil possui boas perspectivas para manter e expandir sua posic;:ao de grande produtor de tangerinas e de tornar-se urn grande exportador, com base nos seguintes fatores:

- Existem extensas areas de solos e c\imas propfcios para 0 cultivo e produc;:ao de tangerinas de boa qualidade;

- 0 custo de produc;:ao, em gera\, e menor do que 0 de outros pafses concorrentes ;

- Existem possibilidades de superac;:ao de problemas fitossanitarios e ou­tros empecilhos de exportac;:ao;

- 0 Leste Europeu, a Russia e diversos paises da Asia deverao, em futuro proximo, aumentar 0 consumo de tangerinas, como ate a propria China, em meses de entressafra;

- Existem possibilidades de melhorar a qualidade dos frutos produzi­dos, objetivando a exportac;:ao, principalmente para 0 hemisferio norte, no perfodo de entressafra de outros pafses , produtores e fornecedores.

As principais ameac;:as residem na possibilidade de surgimento de novas doenc;:as, de dificil controle, como tern ocorrido com a tristeza dos citros, deC\fnio , c\orose variegada e, mais recentemente, a morte subita e 0 "greening", que po­dem comprometer ou elevar 0 custo de produc;:ao.