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33
D E VO R A D O R A A arte que solta a voz é a mesma que transforma DESBRAVADORES O protagonismo dos ativistas culturais das bordas da cidade MARGINAL A literatura para além do centro e da academia A retomada dos saraus na metrópole paulista Edição nº. I - 2013 - Distribuição Gratuita

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D E V O R A D O R AA arte que solta a voz é a mesma que

transforma

DESBRAVADORESO protagonismo dos

ativistas culturais das bordas da cidade

MARGINALA literatura para além do

centro e da academia

A retomada dos saraus na metrópole paulista Edição nº. I - 2013 - Distribuição G

ratuita

Page 2: DEVORADORAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4662194.pdf · Também por isso um evento como o sarau fez tanto su- cesso no Brasil Colonial e Imperial até o início do século
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EDIT

OR

IAL

4

Pila

r / E

diçã

o nº

. I

EXPE

DIE

NT

E

É luga

r-co

mum

dize

r qu

e o

bras

ileiro

lê p

ouco

. Que

até

ho

je a

lite

ratu

ra é

priv

ilégi

o de

aca

-dê

mic

os o

u de

artis

tas.

Em m

eio

ao

cres

cim

ento

dos

mei

os d

igita

is, h

á ta

mbé

m q

uem

dig

a qu

e é

ques

tão

de te

mpo

par

a o li

vro

impr

esso

aca-

bar.

Pois

bem

, Pila

r ve

io a

qui p

ara

desm

entir

tud

o iss

o. E

, m

ais

im-

port

ante

, par

a m

ostr

ar q

ue h

á um

a m

udan

ça

imin

ente

. Q

uem

es

acos

tum

ado

a disp

arar

clic

hês s

obre

a

liter

atur

a no

Bra

sil

vai r

epen

sar

conc

eito

s, a

part

ir de

ago

ra.

Cla

ro,

há u

ma

ques

tão

histó

ri-ca

que

não

dev

e se

r ig

nora

da. P

or

sécu

los,

os b

rasil

eiro

s fo

ram

cau

sa

e ef

eito

de

um si

stem

a ed

ucac

iona

l in

efici

ente

. O

m

erca

do

edito

rial

por a

qui s

empr

e so

freu

com

a fa

lta

de le

itore

s, o

que

deix

ou a

impr

es-

são

de q

ue li

tera

tura

não

é bo

m n

e-gó

cio.

Tod

os e

sses

fat

ores

infl

uen-

ciam

, at

ualm

ente

, o

julg

amen

to

que o

bra

silei

ro fa

z sob

re o

ass

unto

. M

as o

jorn

alism

o es

tá a

í par

a de

s-m

istifi

car c

once

itos.

Nes

se se

ntid

o,

ir a

cam

po é

repe

nsar

a h

istór

ia.

Anto

nio

Can

dido

já d

izia

que

a lit

erat

ura

se a

dapt

ou m

uito

bem

ao

Bras

il ao

per

miti

r, e

mes

mo

forç

ar,

a pr

eem

inên

cia

da

inte

rpre

taçã

o po

étic

a, d

a de

scriç

ão s

ubje

tiva,

da

técn

ica

met

afór

ica

sobr

e a

inte

rpre

-ta

ção

raci

onal

, a d

escr

ição

cie

ntífi

-

ca, o

esti

lo d

ireto

. Na

impo

ssib

ili-

dade

de

leitu

ra, o

bra

silei

ro “o

uvia”

lit

erat

ura.

Tam

bém

por

iss

o um

ev

ento

com

o o

sara

u fe

z ta

nto

su-

cess

o no

Bra

sil C

olon

ial e

Impe

rial

até

o in

ício

do

sécu

lo 2

0. A

pesa

r de

nun

ca te

r dei

xado

de

exist

ir, t

al

man

ifesta

ção

artís

tica

aos

pouc

os

foi p

erde

ndo

forç

a, a

pon

to d

e so

ar

estr

anha

par

a gr

ande

par

te d

os b

ra-

silei

ros a

tual

men

te. P

orém

, há

uma

mud

ança

em v

oga.

Os s

arau

s vol

ta-

ram

e e

stão

dife

rent

es. A

ntes

restr

i-ta

à el

ite, a

reun

ião

liter

ária

gan

hou

ares

mod

erno

s e

se e

stabe

lece

u em

ou

tros l

ugar

es.

A re

vista

Pi

lar,

no

enta

nto,

o va

i fica

r re

strita

aos

sar

aus.

O

prin

cipa

l obj

etiv

o de

sta p

ublic

ação

é

estim

ular

a f

orm

ação

de

leito

res

e pr

omov

er h

ábito

s de

leitu

ra, d

e-m

onstr

ando

qu

e o

conh

ecim

en-

to p

ode

mod

ifica

r a

soci

edad

e e

tran

sform

ar p

esso

as.

O n

ome

da

revi

sta

é um

a ho

men

agem

a u

ma

das

pers

onag

ens

que

fizer

am p

arte

de

sse

trab

alho

de

cam

po. T

ula

Pila

r Fe

rrei

ra –

que

esta

mpa

nos

so p

er-

fil –

é o

sím

bolo

des

sa m

issão

. Em

-pr

egad

a do

més

tica,

enc

ontro

u na

po

esia

um

a fo

rma

de e

xpre

ssar

suas

in

quie

taçõ

es ar

tístic

as e

de m

udar

o

rum

o de

sua

histó

ria.

Além

de

Pila

r, há

mui

tas

histó

-ria

s de v

ida p

reen

chen

do as

pág

inas

a seg

uir.

De g

ente

que

viu

na l

itera

-tu

ra u

ma f

orm

a de d

esco

bert

a. M

as

não

só is

so, h

á de

sdob

ram

ento

s de

toda

esp

écie

na

revi

sta: d

e co

mo

o ci

nem

a se

apr

oprio

u da

lite

ratu

ra

para

faz

er c

ampe

ões

de b

ilhet

eria

, co

mo

a in

tern

et e

stá m

odifi

cand

o a

form

a co

mo

escr

itore

s e

leito

res

inte

rage

m, a

lém

da

man

eira

com

o a

esco

la e

stá e

nsin

ando

as

cria

nças

em

ter

mos

de

liter

atur

a. C

laro

, há

tam

bém

abo

rdag

ens e

spec

iais

sobr

e os

sara

us: q

uem

pat

roci

na,

de q

ue

form

a ta

is ev

ento

s in

fluen

ciam

no

enga

jam

ento

pol

ítico

dos

jov

ens,

com

o sã

o as

reun

iões

lite

rária

s Bra

-sil

afo

ra.

Além

di

sso,

um

a m

a-té

ria e

spec

ial s

obre

Fre

itas V

alle

, o

senh

or d

a V

ila K

yria

l, vi

sa p

resta

r um

a ho

men

agem

hist

óric

a ao

anfi

-tr

ião

de u

m d

os sa

raus

mai

s pre

sti-

giad

os d

e Sã

o Pa

ulo,

nas

prim

eira

s dé

cada

s do

sécu

lo 2

0.

A lit

erat

ura

é o

mot

e da

rev

ista

Pila

r, m

as n

ão é

excl

usiv

idad

e. T

o-da

s as f

orm

as d

e art

e ser

ão co

ntem

-pl

adas

, de

algu

ma

form

a, p

ara

dar

voz

a um

a da

s mel

hore

s qua

lidad

es

do se

r hum

ano:

ext

rair,

con

strui

r e

ver b

elez

a no

mun

do e

nas

pes

soas

. Pa

rafra

sean

do o

mes

tre M

acha

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de

Assis

: vem

con

osco

, lei

tor!

Cíntia

Ferr

eira

Edit

ora-

chef

e

Cam

ila R

eimbe

rg

Cín

tia F

erre

iraJé

ssica

Via

naEs

téph

ane R

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Mar

cela

Fre

gone

zi

Edit

ora-

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eEd

itor

a ex

ecut

iva

e de

text

o

Dia

gram

ador

a e

Ed

itor

a d

e im

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Edit

ora

de te

xto

Rev

isor

a

Stock Sxchng

Camila Reimberg

Cas

sio C

lemen

teD

esig

ner

log

omar

ca P

ilar

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SUM

ÁR

IO

6

Pila

r / E

diçã

o nº

. I P

ilar /

Edi

ção

nº. I

7

40

CO

NV

ER

NC

IA

Um

esc

ritor

a c

ada

cliq

ue

Nov

os e

scri

tore

s e n

ovas

m

ídia

s: a

esc

rita

men

os

solit

ária

44U

m e

stím

ulo

a m

ais

Con

tato

com

aut

ores

de

peri

feri

a po

de in

cent

ivar

al

unos

a c

onhe

cer

obra

s cl

ássi

cas

47Pa

pel,

imag

ens,

sons

e im

agin

ação

Ada

ptaç

ões b

em su

cedi

das p

ara

o ci

nem

a dã

o no

va c

ara

aos

rom

ance

s

50Be

st-sel

lers d

a pe

rifer

iaM

ovim

ento

s lit

erár

ios

prop

orci

onam

inte

raçõ

es

tran

sfor

mad

oras

ent

re le

itor

es

e au

tore

s 20

PO

R T

S D

A C

OR

TIN

A

Do

pala

nque

par

a cá

Ati

vist

as c

ultu

rais

leva

m a

lit

erat

ura

para

os q

uatr

os

cant

os d

a ci

dade

24U

ma

caus

a se

m

patro

cíni

os

Sara

us d

e Sã

o Pa

ulo

fom

enta

m

enga

jam

ento

pol

ític

o do

s jo

vens

10

AL

ÉM

DO

S V

ER

SO

S

Nos

mor

ros,

viel

as

e pa

ssar

elas

A p

oesi

a co

mo

elem

ento

de

tran

sfor

maç

ão so

cial

12M

udan

ça q

ue v

em

em ri

mas

Mod

a, c

ultu

ra e

art

e pr

oduz

idas

pel

os m

orad

ores

da

per

iferi

a de

São

Pau

lo

14

VO

O L

ITE

RIO

Os e

vent

os a

rtís

tico

s que

vão

al

ém d

as fr

onte

iras

pau

lista

nas

Aqui

, ali

e ac

olá

26

PE

RF

IL Tula

Pila

r Fe

rrei

ra: u

m

exem

plo

de c

omo

a le

itur

a po

de a

rreb

enta

r co

rren

tes

Da

vass

oura

à

cane

ta

32

NA

ES

TA

NT

E

Res

surg

imen

to d

a lit

erat

ura

mar

gina

l mos

tra

mud

ança

s nas

pr

átic

as d

e le

itur

a

Ger

ação

m

imeó

graf

o do

pr

esen

te

52

SA

LA

DA

PO

ES

IA

Um

pou

co d

a lit

erat

ura

de C

arol

ina

Peix

oto,

K

lebe

rNun

es, M

ano

Ril,

K

apot

h M

c e

Die

l

Olh

a a

rima

36 Qua

tro

obra

s par

a vo

aden

trar

nos

mar

es d

o ce

nári

o lit

erár

io a

lter

nati

vo

Para

mer

gulh

ar

nas m

arge

ns54

ME

RIA

A h

istó

ria

do m

ecen

as Jo

de F

reit

as V

alle

no

cená

rio

da

Bel

le É

poqu

e Pa

ulis

tana

O h

omem

da

vila

08

EX

TR

AS

Apre

nder

no

amor

18A

luta

pel

a bi

blio

dive

rsid

ade

38Li

tera

tura

no

univ

erso

dig

ital

Por

Serg

io C

ohn

Por

Mau

rem

Kay

naPo

r Th

ais P

olim

eni

58A

arte

-vid

a da

an

tropo

fagi

a pe

rifér

ica

Por

Ren

ato

de S

ouza

A

lmei

da

60

DIÁ

RIO

Os b

asti

dore

s da

prod

ução

da

pri

mei

ra e

diçã

o da

revi

sta

Pila

r

De

lá p

ara

Arquivo Ruivo Lopes

Alessandro Kusuki

Morgue File

Muriel Xavier

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ALÉ

M D

OS

VER

SOS

8

Pila

r / E

diçã

o nº

. I

Apren

der no

amor

Car

a lim

pa,

mic

rofo

ne

na

mão

e u

m te

xto

de c

riaçã

o pr

ópria

. Não

, não

é um

a ap

rese

nta-

ção

de st

and-

up, m

as t

ambé

m t

em

sido

mot

ivo

de

mui

tos

com

entá

-rio

s de

uns

ano

s pr

a c

á: s

ão o

s sa

raus

da

per

iferia

. Em

sua

mai

oria

com

foc

o na

lit

erat

ura,

os

sa

raus

da

pe

rifer

ia

– de

aco

rdo

com

Ser

gio

Vaz,

da

Coo

perif

a –

estim

ulam

não

ape

-na

s a

form

ação

de

escr

itore

s, m

as,

prin

cipa

lmen

te, a

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ação

de

lei-

tore

s. Pa

rtic

ular

men

te,

em m

inha

pe

squi

sa p

ara

escr

ever

este

tex

to,

iden

tifiqu

ei-m

e m

uito

co

m

esse

pr

oces

so d

e fo

rmaç

ão d

e pú

blic

o.

Ingr

esse

i na

área

cul

tura

l por

mei

o de

um

curs

o de

teat

ro e,

tend

o co

n-ta

to d

ireto

com

o p

alco

, pas

sei a

ser

pres

ença

ass

ídua

nas

pla

teia

s de

di-

vers

as m

anife

staçõ

es a

rtíst

icas

. Dia

de

sses

, tiv

e qu

e sa

ir do

ani

vers

ário

de

um

a am

iga

ante

s que

cor

tass

em

o bo

lo,

para

me

enco

ntra

r co

m

uma

outr

a am

iga

que

esta

va c

he-

gand

o do

Rio

de

Jane

iro. Q

uand

o fu

i m

e de

sped

ir do

nam

orad

o da

an

iver

saria

nte,

justi

fique

i de

form

a ge

ral:

“É q

ue e

u te

nho

outro

com

-pr

omiss

o…”,

mas

ele

não

titu

beou

ao

rep

licar

: “Te

m, t

em…

Tem

ou-

tro t

eatro

, né?

”. É

, des

se r

ótul

o de

pl

atei

a fie

l eu

não

vou

me

desv

in-

cula

r tão

ced

o!Pa

ra o

filó

sofo

fra

ncês

Mic

hel

Maff

esol

i, au

tor d

o liv

ro A

Rep

úbli-

ca d

os B

ons

Sent

imen

tos,

“dev

emos

re

torn

ar à

cultu

ra p

rofu

nda,

nat

iva,

qu

e é

a ún

ica

a ga

rant

ir o

futu

ro”.

E

ele

com

plem

enta

: “é

prec

iso c

riar

um la

bora

tório

de

idei

as n

ão m

ais

foca

do so

bre a

econ

omia

e a d

imen

-sã

o po

lític

a, m

as n

aqui

lo q

ue c

ons-

titui

o le

nçol

freá

tico

de t

oda

vida

soci

al:

o im

agin

ário

, ci

men

to a

u-tê

ntic

o do

esta

r ju

nto”

. Nad

a m

ais

adeq

uado

do

que

um s

arau

, qu

e co

loca

as

ques

tões

da

com

unid

a-de

em

foco

por

mei

o da

art

e e

que

tran

sform

a o

públ

ico

rum

o à

ação

, fa

zend

o-o

valo

rizar

, crit

icar

e, c

on-

sequ

ente

men

te, a

gir s

obre

a pr

ópria

sit

uaçã

o. N

os sa

raus

, a co

mun

idad

e é

o de

staqu

e e

ela

é liv

re p

ara

fala

r so

bre

o qu

e qu

iser,

desd

e as

açõ

es

dos

polít

icos

na

regi

ão a

té o

s di

le-

mas

do

ser h

uman

o.Sa

raus

ta

mbé

m

caus

am

polê

-m

ica

e in

fluen

ciam

a p

olíti

ca. E

m

2012

, ano

em

que

a P

refe

itura

de

São

Paul

o fe

chou

div

erso

s sar

aus d

e pe

rifer

ia –

que

não

fora

m re

aber

tos

nem

com

o a

poio

de

gran

des

no-

mes

da

míd

ia, c

omo

Mar

celo

Tas

, Em

icid

a e

Xic

o Sá

–,

a Se

cret

aria

da

Cul

tura

do

gove

rno

do E

stado

la

nçou

seu

prim

eiro

edita

l de A

poio

a

Sara

us, c

om u

m t

otal

de

41 in

s-cr

itos e

doi

s pro

jeto

s con

tem

plad

os

no v

alor

de

R$

40 m

il. A

gora

em

*É p

ublic

itár

ia,

sóci

a-di

reto

ra

da C

ult

Cul

tura

Mar

keti

ng,

colu

nist

a d

o Jo

rnal

iris

mo,

pa

ulis

tana

, ti

ete,

gem

inia

na,

vici

ada

em

tea

tro,

cap

pucc

ino

e W

i-fi.

2013

, os

núm

eros

aum

enta

ram

e

o e

dita

l (fi

naliz

ado

em

2 d

e o

u-tu

bro)

ter

á 1

5 p

roje

tos

con

tem

-pl

ados

pel

o m

esm

o v

alor

.O

s sa

raus

da

perif

eria

ens

inam

al

go n

o qu

al t

odos

dev

eria

m a

cre-

dita

r, m

as q

ue m

uito

s ain

da to

rcem

o

nariz

par

a es

se j

eito

Pol

lyan

na

de s

er: s

im, é

pos

sível

apr

ende

r no

am

or (

e, s

im,

Crio

lo,

exist

e am

or

em S

P). O

am

or n

ão é

ape

nas

um

tem

a co

mum

nas

poe

sias

apre

sen-

tada

s nos

sara

us d

a pe

rifer

ia o

u em

to

dos

os o

utro

s. El

e ta

mbé

m s

im-

boliz

a a

es

sênc

ia

dos

sar

aus

na

part

icul

arid

ade,

po

lêm

ica,

sin

ce-

ridad

e e

tra

nsfo

rmaç

ão d

os q

ue

dele

s par

ticip

am.

Stock Xchng

Por

Tha

is P

olim

eni*

Page 6: DEVORADORAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4662194.pdf · Também por isso um evento como o sarau fez tanto su- cesso no Brasil Colonial e Imperial até o início do século

Pila

r / E

diçã

o nº

. I

1

110

Pila

r / E

diçã

o nº

. I

ALÉ

M D

OS

VER

SOS

Mudan

ça que

vem

em ri

mas

No

loca

l em

que

nas

cera

não

dav

a par

a obt

er in

-flu

ênci

as li

terá

rias,

mas

, sim

, infl

uênc

ias o

pe-

rária

s de

velh

os tr

abal

hado

res,

cach

acei

ros e

ave

ntur

ei-

ros

que

debu

lhav

am a

s m

ãos

e os

bra

ços

na v

ibra

ção

da en

xada

, cav

ouca

ndo

terr

a ar

dilo

sa p

ara

o pl

antio

de

grão

s, a

fim d

e ab

rand

ar a

misé

ria. N

essa

épo

ca, n

ão

exist

iam

bib

liote

cas e

inte

lect

uais

pela

s red

onde

zas,

os

amig

os d

e su

a ge

raçã

o, v

ez o

u ou

tra,

surg

iam

com

um

liv

ro n

a m

ão, d

aque

les

estil

os fa

roes

te. A

s m

oças

cui

-da

dora

s dos

afa

zere

s dom

éstic

os, p

or su

a ve

z, ta

mbé

m

apar

ecia

m c

om re

vista

s de

foto

nove

las.

Fo

i nes

se c

enár

io d

o se

rtão

da

Para

íba

que

o m

eni-

no Jo

sé S

arm

ento

se a

paix

onou

pel

a lit

erat

ura.

Dep

ois

de a

pren

der a

ler a

os 1

4 an

os c

om a

aju

da d

e um

a pr

i-m

a le

trad

a, o

gar

oto

não

paro

u m

ais e

reso

lveu

, tem

-po

s de

pois,

enf

rent

ar p

apel

e c

anet

a. S

eus

prim

eiro

s po

emas

, em

form

a de

letr

a de

mús

ica,

imita

vam

seu

s ca

ntor

es p

refe

ridos

da

MPB

. TV

não

exi

stia.

“M

uita

s

veze

s dei

xava

de j

ogar

bol

a com

os a

mig

os d

e estr

ipul

ia

pela

s que

brad

as d

o se

rtão

par

a fic

ar d

e olh

o ar

rega

lado

nu

m li

vro

ou n

uma

revi

sta d

e fo

tono

vela

da

casa

de

umas

prim

as q

ue s

abia

m le

r. D

essa

form

a, d

esco

bri a

le

itura

e a

esc

rita”

, con

ta.

No

iníc

io d

os a

nos

1980

, já

mai

or d

e id

ade

e an

siand

o po

r m

elho

res

cond

içõe

s de

vid

a, S

arm

ento

m

igro

u pa

ra S

ão P

aulo

. Pa

ssou

a d

ivid

ir um

qua

rto

de c

ortiç

o co

m m

ais d

ois a

mig

os n

o Bi

xiga

e a

rrum

ou

empr

ego

com

o ilu

min

ador

de

ci

nem

a em

um

a pr

odut

ora

de v

ídeo

s.

CID

AD

E N

O P

APE

L

Mor

ador

de

cida

de g

rand

e, a

ssal

aria

do e

poe

ta.

A in

quie

taçã

o e

a en

ergi

a qu

e vi

brav

am e

m S

arm

ento

o

fizer

am p

rodu

zir u

ma

trilo

gia

sobr

e trê

s ba

irros

de

São

Paul

o. O

intu

ito d

as o

bras

era

nar

rar

ao le

itor

as

prob

lem

átic

as

das

mor

adia

s d

a ci

dade

e o

s m

otiv

os d

o se

u cr

es-

cim

ento

des

orde

nado

. As

dua

s pr

imei

ras,

O r

oman

ce

Para

isópo

lis

– C

amin

ho

de V

ida

e de

Mor

te e

Bix

iga

– um

Cor

tiço

dos

Infer

nos

são

o r

etra

to d

esse

s do

is ba

irros

sob

o p

rism

a do

s se

us

mor

ador

es.

o úl

timo

“filh

o”,

com

o el

e pr

óprio

cha

ma

seu

livro

, Ân

gela

– u

m J

ardi

m n

o Ve

rmelh

o,

cruz

a a

linha

tên

ue q

ue s

epar

a a

perif

eria

e o

Cen

tro.

Atua

lmen

te,

Sarm

ento

te

m

outro

s pr

ojet

os

enga

tilha

dos

para

gan

har

vida

no

bran

co d

o pa

pel.

Todo

s po

ssui

ndo

a tem

átic

a for

te d

e disc

utir

ques

tões

hi

stóric

as e

os d

ilem

as d

a soc

ieda

de.

A vo

ntad

e de

lev

ar l

itera

tura

pa

ra a

s pe

ssoa

s ta

mbé

m a

tingi

u M

arah

Men

ds e

Hug

o Pa

z. M

o-ra

dore

s da

per

iferia

de

São

Paul

o,

envo

lvid

os

no

univ

erso

lit

erár

io

por

mei

o da

s pa

rtic

ipaç

ões

em s

a-ra

us e

col

etân

eas,

cogi

tara

m a

pos

-sib

ilida

de d

e ex

pand

ir a

poes

ia d

e m

odo

itine

rant

e em

esp

aços

pou

co

ocup

ados

pel

o ve

rso.

“Po

esia

par

a qu

em q

uer v

er, o

uvir

e se

ntir

é el

e-m

enta

r. Pa

ra q

uem

não

viv

e ou

o

conv

ívio

é li

mita

do, d

e fa

to é

um

de

safio

”, d

iz M

arah

.

“PO

ESIA

É D

A H

OR

A”

Ambo

s in

icia

ram

o p

roje

to s

o-ci

ocul

tura

l “Po

esia

é d

a H

ora”

, em

20

10, n

a es

cola

Kei

zo I

shih

ara,

no

Buta

ntã,

com

um

a tu

rma

da E

du-

caçã

o de

Jov

ens

e Ad

ulto

s (E

JA).

Para

aux

iliar

na

didá

tica,

os

poet

as

leva

vam

par

a a sa

la d

e aul

a liv

ros d

e po

esia

e in

strum

ento

s mus

icai

s. O

s al

unos

era

m in

cent

ivad

os a

pro

du-

zirem

seus

pró

prio

s tex

tos.

Em 2

012,

os

poet

as r

eceb

eram

m

ais u

m d

esafi

o. R

ealiz

ar u

m sa

rau

na C

asa

de A

colh

ida

da B

arra

Fun

-da

par

a m

orad

ores

em

situ

ação

de

rua.

O c

onvi

te p

artiu

da

gesto

ra d

e pr

ojet

os so

ciai

s e as

siste

nte s

ocia

l da

époc

a, S

ílvia

Lim

a. A

li, f

orta

lece

-ra

m a

lianç

as, l

evar

am le

itura

, art

e e

mús

ica p

ara u

m p

úblic

o co

m p

ouco

ac

esso

à c

ultu

ra e

ao

entre

teni

men

-to

. “A

cheg

ada

do p

roje

to só

vei

o a

acre

scen

tar,

porq

ue a

dim

ensã

o do

en

volv

imen

to fi

cou

mai

or”,

con

ta

a as

siste

nte

soci

al. S

egun

do e

la, a

l-gu

ns p

roje

tos s

ocia

is se

per

dem

pel

a bu

rocr

acia

exi

stent

e na

pol

ítica

de

acol

him

ento

ins

tituc

iona

l e

pelo

fa

to d

e a

popu

laçã

o ne

stas

cond

i-çõ

es se

r “flu

tuan

te e

imed

iatis

ta”.

Em

bora

enf

rent

em m

uita

s di

fi-cu

ldad

es, o

s poe

tas p

rete

ndem

leva

r a

poes

ia c

ada

vez

mai

s pa

ra a

s po

-pu

laçõ

es e

xclu

ídas

. A

liter

atur

a ta

mbé

m t

rans

for-

Nar

rativ

as li

terá

rias c

omo

a po

esia

pode

m fu

ncio

nar c

omo

elem

ento

de t

rans

form

ação

so

cial a

o se

apro

xim

arem

daq

ueles

que

viv

em à

mar

gem

da

socie

dade

mou

a vi

da d

e Mel

Dua

rte.

Esc

rito-

ra d

esde

os 8

ano

s, te

ve o

prim

eiro

co

ntat

o co

m a

s es

trofe

s na

esc

ola,

po

r mei

o da

leitu

ra d

e ve

rsos

e tr

o-va

s in

fant

is. O

inc

entiv

o à

leitu

ra

aind

a cr

ianç

a fo

i de

cisiv

o. “

Ache

i aq

uilo

div

ertid

o, c

omec

ei e

não

pa-

rei m

ais”

, con

ta.

Mor

ador

a da

zon

a su

l de

São

Pa

ulo,

aos

18

anos

pas

sou

a fre

-qu

enta

r a

cena

lite

rária

dos

sar

aus,

até

cria

r co

rage

m p

ara

apre

sent

ar

poes

ias d

e su

a au

toria

, até

ent

ão e

s-co

ndid

as e

lidas

apen

as p

ara p

esso

as

mui

to p

róxi

mas

. A

reaç

ão d

o pú

-bl

ico

foi p

ositi

va e

, daí

em

dia

nte,

M

el n

ão p

arou

mai

s. “E

u so

u um

a pe

ssoa

mui

to se

nsív

el, o

bser

vo e

ab-

sorv

o m

uito

tudo

o q

ue se

pas

sa a

o m

eu re

dor,

prin

cipa

lmen

te q

uand

o o

assu

nto

são

as r

elaç

ões

entre

as

pess

oas.

Amor

, sen

sual

idad

e e

a de

-lic

adez

a de

ssas

rel

açõe

s co

mpõ

em

mui

to a

min

ha e

scrit

a”, d

iz.

Hoj

e, c

om 2

4 an

os, M

el é

rosto

co

nhec

ido

nos

sara

us e

ins

pira

ção

para

ou

tros

escr

itore

s, co

mo

o in

icia

nte

Mur

ilo S

dc,

que

teve

o

prim

eiro

con

tato

com

a p

oesia

por

m

eio

do r

ap.

“Ouv

i m

uito

que

se

qui

sess

e se

r bo

m t

eria

que

ler

ba

stant

e, e

foi a

í que

me

inte

ress

ei

e co

mec

ei

a le

r os

es

crito

res

mar

gina

is”, r

elat

a.C

om a

ven

da d

os s

eus

livro

s, M

el é

uma d

as p

ouca

s esc

ritor

as q

ue

cons

egue

m t

irar

o su

stent

o ap

enas

da

poe

sia. S

egun

do el

a, é

impo

rtan

-te

que

o jo

vem

sej

a in

serid

o a

esse

m

undo

dos

livr

os, d

os s

arau

s, pa

ra

que

ele

apre

nda

a im

port

ânci

a da

ex

pres

são

e do

aut

ocon

heci

men

to.

“Foi

-se

o te

mpo

em

que

a li

tera

tu-

ra e

ra a

lgo

chat

o e

cans

ativ

o, h

oje

tem

os u

m c

enár

io c

ompl

etam

ente

di

fere

nte

gera

ndo

ótim

os e

scrit

o-re

s e c

oloc

ando

o p

ovo

pra

pens

ar.

“Com

o já

diss

e M

ario

Qui

ntan

a,

‘os

livro

s nã

o m

udam

o m

undo

, qu

em m

uda

o m

undo

são

as p

esso

-as

’”, c

oncl

ui.

Por

Jés

sica

Via

na

Arquivo Pessoal

Mel

Dua

rte

esc

reve

des

de o

s 8

ano

s e

freq

uent

a sa

raus

de

sde

os

18

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12

P

ilar /

Edi

ção

nº. I

Pila

r / E

diçã

o nº

. I

1

3

ALÉ

M D

OS

VER

SOS

Nos m

orros,

viela

s e pa

ssarel

as

A in

augu

raçã

o da

m

oda,

se

gund

o G

illes

Lip

ovet

sky

– fil

ósof

o fra

ncês

, aut

or d

e Im

pério

do

Efêm

ero

– da

ta d

a m

etad

e do

culo

14.

Priv

ilégi

o de

alg

uns

no

iníc

io, a

mod

a foi

se to

rnan

do ac

es-

sível

, na

med

ida

em q

ue a

soc

ie-

dade

se

mod

erni

zava

. Atu

alm

ente

, es

tá p

rese

nte

até

nos

luga

res

mai

s sim

ples

. Nes

se se

ntid

o, u

ma

regi

ão

se d

esta

ca: h

á um

luga

r on

de a

co-

mun

idad

e es

tá c

onse

guin

do g

erar

a

próp

ria r

enda

por

mei

o de

con

fec-

ções

de r

oupa

s, ar

tesa

nato

s e o

utro

s be

ns c

ultu

rais.

MU

DA

AS

NO

CEN

ÁR

IO

“São

Pau

lo,

zona

sul

, es

se é

o

luga

r.” Q

uem

and

a pe

la A

veni

da

Com

enda

dor S

anta

na, n

o ba

irro

de

Cap

ão R

edon

do,

depa

ra-s

e co

m a

fra

se e

stam

pada

na

pare

de d

e um

a da

s lo

jas

mai

s ba

dala

das

da r

egiã

o;

cria

da p

elo

rapp

er e

esc

ritor

Fer

réz,

em m

eado

s de

1999

, com

o re

spos

-ta

à o

nda

de v

iolê

ncia

cre

dita

da

ao b

airr

o, a

1D

ASU

L fo

rtal

ece

a co

mun

idad

e na

luta

pel

a co

nqui

s-ta

de

mel

hore

s co

ndiç

ões

de v

ida.

“T

odos

som

os u

m só

pel

a zo

na su

l,

é es

se o

sign

ifica

do”,

afir

ma

o ag

i-ta

dor c

ultu

ral.

A id

eia

de c

riar a

1D

ASU

L su

r-gi

u co

mo

alte

rnat

iva

ao u

so d

e gr

i-fe

s se

m r

epre

sent

ativ

idad

e na

per

i-fe

ria. “

Som

os u

ma

mar

ca q

ue c

ria

e pr

oduz

cul

tura

de

perif

eria

com

fo

co n

a tr

ansfo

rmaç

ão s

ocia

l. É

uma

mar

ca d

e au

toge

stão,

pro

du-

zida

na p

erife

ria p

ara

ser

usad

a na

pe

rifer

ia”, e

xplic

a Fe

rréz

. A

grife

tam

bém

está

eng

ajad

a em

pro

jeto

s so

ciai

s po

r m

eio

do

Insti

tuto

1D

ASU

L,

o q

ual

cria

e

man

tém

ões

soc

iais

com

a

Os b

airr

os q

ue co

mpõ

em a

per

iferia

da

zona

sul d

e São

Pau

lo p

ropa

gam

tend

ência

s de

mod

a, cu

ltura

e ar

te p

rodu

zida

s pelo

s pró

prio

s mor

ador

es

O sí

mbo

lo d

a mar

ca é

uma c

oru-

ja, q

ue s

igni

fica

sabe

doria

. “U

ma

form

a de

dize

r que

esta

mos

gl

orifi

cand

o a

sabe

doria

de

rua”

, con

ta. A

pesa

r de

a m

arca

ser

pro

-du

zida

na p

erife

-ria

, o

idea

lizad

or

não

tem

o in

tuito

de

firm

ar a

pena

s id

eias

lig

adas

à

regi

ão.

“É u

ma

roup

a de

con

tex-

to h

istór

ico

para

to

do m

undo

, não

te

m p

úblic

o es

pe-

cífic

o. O

foco

é a

es-

tam

pa d

a rou

pa”,

defi

ne.

TEN

DÊN

CIA

NA

CA

BEÇ

A

Mui

tas

core

s e

reta

lhos

esta

m-

pam

a c

abeç

a de

Mic

helle

Fer

nan-

des

pela

s ru

as d

a “q

uebr

ada”

. El

a –

que

tinha

um

em

preg

o es

táve

l e

bem

rem

uner

ado

em u

m e

scrit

ó-rio

de

desig

n de

inte

riore

s – n

ão se

se

ntia

com

plet

a.

Saiu

da

empr

esa

e nã

o qu

is m

ais

cont

inua

r em

um

“p

adrã

o es

tabe

leci

do p

ela

mas

sa”.

Re

solv

eu a

rrisc

ar. N

asci

a, d

essa

for-

ma,

a B

outiq

ue d

e K

rioul

a.

Aci

ma,

a m

ilita

nte

pale

stin

a Le

ila K

hale

d é

um d

os

pers

onag

ens q

ue e

stam

pam

as

cam

iset

as d

a m

arca

Cha

vo

Cal

leje

ro. A

o la

do, M

iche

lle

Fern

ande

s, q

ue d

eixo

u em

preg

o es

táve

l par

a cr

iar

a B

outi

que

de K

riou

la

“Se

mpr

e es

tive

envo

lvid

a em

ões

ligad

as à

cul

tura

afro

-bra

-sil

eira

. Qua

ndo

me

vi d

e-se

mpr

egad

a,

perc

ebi

naqu

ilo a

opo

rtun

i-da

de d

e d

esen

vol-

ver

um

trab

alho

qu

e e

stive

sse

di-

reta

men

te

liga-

do

às

min

has

orig

ens

e qu

e pu

dess

e le

var

a

outr

as

pe

ssoa

s um

po

uco

mai

s de

conh

ecim

en-

to”,

con

ta.

Hoj

e, a

m

arca

pr

oduz

ce

rca

de 1

50 tu

rban

tes p

or m

ês,

além

de

brin

cos

e ac

essó

rios,

todo

s c

om

trab

alho

s d

e r

esga

te

da c

ultu

ra a

fro.

Assim

com

o M

iche

lle, M

arile

ne

Raq

uel

e o

poe

ta L

evi

de S

ouza

, vu

lgo

Fuz

zil,

fizer

am d

a v

olta

às

orig

ens

uma

insp

iraçã

o. C

riado

res

da

mar

ca

Dee

anto

gíri

a q

ue

signi

fica

“ad

iant

ar

um

lado

” –

dize

m

ser

con

tra

sup

ersti

ções

e

neg

ativ

idad

es,

prin

cipa

lmen

te

para

o

dia

a d

ia d

as p

erife

rias

da c

idad

e. A

mas

cote

da

grif

e é

um

gat

o p

reto

. A

mar

ca b

usca

o fo

rtal

ecim

ento

da

iden

tidad

e ne

gra

dent

ro d

a co

-m

unid

ade.

“As p

esso

as q

uere

m c

oi-

sas n

ovas

no

sent

ido

de cr

iativ

idad

e e d

e alg

o co

m o

qua

l ela

s se i

dent

ifi-

quem

. A p

erife

ria es

tá fa

zend

o a s

ua

mod

a ”,

ava

lia R

aque

l.

Por

Jés

sica

Via

na

e es

tam

os

edor

ia

esar

o- - e- es

-de

fine.

silei

ra.Q

sem

pna

q d v d tom

arc

de15

0

ON

G

Inte

rferê

ncia

, a

Ed

itora

Se

lo

Povo

, o

Se

lo

fono

gráfi

co

1DAS

UL,

e

o p

roje

to E

nsai

aço,

no

qua

l gr

upos

mus

icai

s e

fãs

do

hip

hop

se

reún

em,

uma

vez

por

m

ês,

para

com

part

ilhar

pro

duçõ

es

mus

icai

s e e

xper

iênc

ias.

“MEN

INO

RU

EIR

O”

Cria

do n

o G

raja

ú de

sde a

infâ

n-ci

a, L

eona

rdo

Med

ina

tinha

ver

da-

deira

pai

xão

pel

os d

esen

hos e

pin

-tu

ras.

Dur

ante

dez

ano

s tra

balh

ou

com

o ta

tuad

or, m

as s

empr

e es

teve

lig

ado

às q

uestõ

es s

ocia

is. C

urso

u a

facu

ldad

e d

e H

istór

ia,

pass

ou

a le

cion

ar,

mas

nun

ca a

band

onou

o

des

ejo

de

con

fecc

iona

r as

pró

-pr

ias r

oupa

s. Em

20

12,

Med

ina

deci

diu

expr

essa

r o

que

sent

ia

tam

bém

na

for

ma

de s

e ve

stir,

poré

m,

as

roup

as j

á pr

oduz

idas

por

mar

cas

popu

lare

s tin

ham

apel

o m

uito

mai

s co

mer

cial

do

que

ideo

lógi

co.

O

prof

esso

r, en

tão,

com

eçou

a p

egar

fo

tos d

e pes

soas

que

ele c

onsid

erav

a re

leva

ntes

pa

ra

a hi

stória

e

esta

mpo

u em

cam

iseta

s. N

asci

a a

Cha

vo C

alle

jero

, que

, em

ess

ênci

a,

signi

fica

“men

ino

ruei

ro”.

Célio Henrique Fernandes Campos

Divulgação / 1DASUL

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VO

O L

ITER

ÁR

IO

14

P

ilar /

Edi

ção

nº. I

Pila

r / E

diçã

o nº

. I

1

5

Aqui,

ali e

aco

Even

tos d

estin

ados

a p

rom

over

man

ifesta

ções

artís

ticas

, prin

cipal

men

te a

lit

erat

ura,

gan

ham

espa

ço em

mui

tos E

stado

s bra

sileir

os

Dem

onstr

ar q

ue le

r é al

go in

tere

ssan

te e

pode

ser

mui

to d

iver

tido.

Cria

r um

esp

aço

onde

a p

o-es

ia p

ossa

ser r

evel

ada

ao v

ivo

pelo

s pró

prio

s cria

dore

s co

m a

“lib

erda

de li

vre”

de q

ue fa

lava

Art

hur R

imba

ud.

Con

tinua

r um

a pr

átic

a fa

mili

ar d

e re

unir

pess

oas p

ara

cant

ar, d

ança

r e

“tira

r ve

rsos

”. R

osel

i San

tos,

no R

io

Gra

nde

do

Sul

, W

ilmar

Silv

a, e

m M

inas

Ger

ais,

Edua

rdo

Torn

aghi

, no

Rio

de

Jane

iro. D

istan

tes

geo-

grafi

cam

ente

, enc

ontr

aram

um

a m

esm

a fo

rma

de d

ar

vazã

o e h

omen

agea

r a li

tera

tura

. A so

luçã

o en

cont

rada

po

r el

es é

com

part

ilhad

a aq

ui e

m S

ão P

aulo

por

per

-so

nalid

ades

com

o Sé

rgio

Vaz

e B

inho

. Sej

a em

um

bar

Por

Cín

tia

Fer

reir

a

Morgue File

na p

erife

ria d

a cap

ital p

aulis

tana

ou

em u

m q

uios

que

na b

eira

da

Prai

a do

Lem

e, n

o R

io d

e Ja

neiro

, tod

os

estã

o pr

otag

oniza

ndo,

cad

a um

a

seu

mod

o, u

m re

sgat

e na

form

a de

fru

ir p

rodu

ções

lite

rária

s, n

ão s

ó de

aut

ores

con

sagr

ados

, m

as d

o vi

zinho

tam

bém

: o

sara

u n

ão é

um

fen

ômen

o n

ovo,

mas

os

es-

paço

s o

nde

estã

o f

unci

onan

do

atua

lmen

te

serv

em

para

m

ostr

ar

que

a

liter

atur

a te

m

bem

m

ais

fãs d

o qu

e as

pes

soas

imag

inam

.

CA

FÉ E

LIT

ERAT

UR

A

Rose

li Sa

ntos

e a

lgun

s am

igos

cr

iara

m u

m p

roje

to p

ara

ince

nti-

var

a le

itura

, es

peci

alm

ente

ent

re

jove

ns,

e de

scob

rir n

ovos

tal

ento

s ar

tístic

os. O

Sar

au c

om C

afé

nas-

ceu

em j

ulho

de

2003

, no

esp

aço

da C

afet

eria

Sab

or C

afé

e Li

vrar

ia

Nov

a Let

ra, e

m T

aqua

ra, R

io G

ran-

de d

o Su

l. D

eu t

ão c

erto

que

está

co

mpl

etan

do d

ez a

nos,

cont

a co

m

uma

gran

de p

artic

ipaç

ão d

a co

mu-

nida

de e

pro

mov

e vi

sitas

às e

scol

as

e fe

iras d

o liv

ro, e

m v

ário

s mun

icí-

pios

do

Esta

do.

Real

izado

sem

pre

na

últim

a q

uint

a-fe

ira

de

cada

m

ês, o

pro

jeto

inte

rcal

a bl

ocos

de

leitu

ra c

om m

úsic

a.

Nes

sa d

écad

a de

exi

stênc

ia, R

o-se

li co

nta

que

a fa

lta d

e ve

rbas

e

de a

poia

dore

s cu

ltura

is fo

i um

dos

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16

P

ilar /

Edi

ção

nº. I

Pila

r / E

diçã

o nº

. I

1

7

VO

O L

ITER

ÁR

IOArquivo Pessoal

Ros

eli S

anto

s (no

cen

tro,

de

lilás

) re

aliz

a há

dez

ano

s o S

arau

com

C

afé,

em

Taq

uara

, no

Rio

Gra

n-de

do

Sul

desa

fios

enfre

ntad

os d

uran

te a

tra

-je

tória

. N

o en

tant

o, n

enhu

m d

os

cria

dore

s do

pro

jeto

pen

sou

em

desis

tir.

“Qua

lque

r ev

ento

cul

tu-

ral v

olun

tário

, com

o o

noss

o, e

xi-

ge m

uita

per

sistê

ncia

e d

edic

ação

. Es

tam

os h

á de

z an

os e

m a

tivid

ade

porq

ue g

osta

mos

do

que

faze

mos

e

porq

ue v

emos

no

ince

ntiv

o à

lei-

tura

um

a gr

ande

miss

ão”,

afir

ma.

Ro

seli

expl

ica

que

atua

lmen

te c

on-

ta c

om a

poia

dore

s cul

tura

is co

mo

a C

hoco

lata

ria G

ram

ado,

a C

afet

eria

Sa

bor C

afé,

O B

otic

ário

, a L

ivra

ria

Nov

a Le

tra,

ent

re o

utro

s, m

as q

ue

o pr

ojet

o co

ntin

ua i

ndep

ende

nte,

se

m q

ualq

uer

inte

rferê

ncia

de

ter-

ceiro

s. C

ontin

ua n

o m

esm

o es

paço

, ho

je já

é tr

adic

iona

l na

com

unid

a-de

e e

xtra

polo

u os

lim

ites

do m

u-ni

cípi

o.

“Par

a n

ossa

su

rpre

sa,

a ca

da e

ncon

tro f

omos

cria

ndo

for-

tes

vínc

ulos

, no

vas

amiza

des

e, o

m

ais

impo

rtan

te,

desp

erta

ndo

o

hábi

to d

a le

itura

e o

gos

to p

ela

mús

ica

em p

esso

as d

e to

das a

s ida

-de

s”, c

onta

Ros

eli.

PELA

DA

NO

LEM

E

Doi

s an

os m

ais

jove

m q

ue o

sa

rau

de R

osel

i, o

Terç

as P

oétic

as,

idea

lizad

o p

or

Wilm

ar

Silv

a,

é re

aliza

do,

sem

anal

men

te,

nos

jar-

dins

inte

rnos

do

Palá

cio

das

Arte

s, em

Bel

o H

orizo

nte (

MG

). “D

uran

-te

as q

uase

500

ediç

ões,

Terç

as P

oé-

ticas

pôd

e se

r vist

o co

mo

um lu

gar

de h

ibrid

izaçã

o da

poe

sia,

tend

o co

mo

espe

lho

o le

itor

ao v

ivo

em

funç

ão d

e se

u ca

ráte

r ra

dica

lmen

te

ante

nado

com

as

vang

uard

as h

is-tó

ricas

”, e

xplic

a Si

lva.

Alé

m d

e or

-ga

niza

dor

do s

arau

, el

e é

tam

bém

ap

rese

ntad

or, d

ireto

r e ro

teiri

sta d

o pr

ogra

ma

de p

oesia

sono

ra T

ripof

o-ni

a, g

anha

dor d

o pr

êmio

Roq

uette

--P

into

, em

201

0, fu

ndad

or e

edito

r da

Ano

me

Livr

os.

A ce

rca d

e 500

qui

lôm

etro

s dal

i, ou

tro a

tivist

a cu

ltura

l ta

mbé

m r

e-so

lveu

pro

mov

er p

oesia

, só

que

na

prai

a. A

tor

fam

oso

na d

écad

a de

19

50,

Edua

rdo

Torn

aghi

dec

idiu

abrir

um

esp

aço

para

que

as

pes-

soas

pud

esse

m s

e ex

pres

sar

“com

o tro

ca, e

não

com

o ex

ibiç

ão”.

Con

-tin

uaçã

o de

um

a tr

adiç

ão fa

mili

ar,

a Pe

lada

Poé

tica

é re

aliza

da to

das a

s qu

arta

s-fe

iras

em u

m q

uios

que

na

Prai

a do

Lem

e, n

o R

io d

e Ja

neiro

. “N

a m

inha

infâ

ncia

, nos

ano

s 50

, nã

o ha

via

a m

ultid

ão d

e op

ções

de

laze

r qu

e ho

je e

xiste

, ent

ão e

ra c

o-m

um q

ue a

s pe

ssoa

s se

reu

niss

em

para

cria

r s

uas

pró

pria

s o

pçõe

s. Re

uniõ

es p

ara

cant

ar, d

ança

r, ‘ti

rar

vers

os’,

etc”

, con

ta.

O e

vent

o é

uma

inic

iativ

a qu

e fu

ncio

na d

e fo

rma

inde

pend

ente

e

leva

ess

e no

me

pela

ess

ênci

a de

-m

ocrá

tica

que

poss

ui. “

Na

pela

da,

assim

com

o na

s e

scol

as d

e sa

mba

, a

expe

riênc

ia é

tra

nsm

itida

na

tro-

ca p

raze

rosa

e l

údic

a. Q

uero

cria

r es

se c

lima

de b

rinca

deira

cria

tiva

no t

rato

da

pala

vra.

Um

ant

ídot

o pa

ra a

form

a dur

a com

o a l

itera

tura

é,

em

ger

al,

intro

duzid

a na

esc

ola

form

al”,

afir

ma T

orna

ghi.

LTIP

LAS

LÍN

GU

AS

Em u

ma

das

visit

as q

ue f

ez a

poes

ia,

algu

ns i

ndep

ende

ntes

, ou

-tro

s nã

o. “

Afina

l, es

tam

os f

alan

do

de u

m B

rasil

mes

tiço

de c

orpo

in-

teiro

. E M

inas

Ger

ais,

desd

e a

sua

orig

em, t

em a

poe

sia c

omo

a na

tu-

reza

de

sua

alm

a”, d

efen

de.

Apes

ar d

e nã

o co

nhec

er p

esso

-al

men

te n

enhu

m sa

rau

na p

erife

ria

de S

ão P

aulo

, Ros

eli v

ê se

mel

han-

ças

entre

ess

es e

vent

os e

o S

arau

co

m C

afé.

“Sã

o pr

oduç

ões

inde

-pe

nden

tes

e, n

orm

alm

ente

, vol

un-

tária

s, co

m g

ente

disp

osta

a ag

itar o

ce

nário

cul

tura

l no

qual

estã

o in

se-

ridas

. Ac

ho l

indo

este

mov

imen

to

dos s

arau

s”, d

iz.

BR

ASI

L-P

OR

TU

GA

L

O c

enár

io d

os s

arau

s in

depe

n-de

ntes

dev

e pa

rte

do s

eu c

resc

i-m

ento

a u

ma

das

agre

gado

ras

dos

tem

pos

atua

is: a

int

erne

t. F

oi e

la

a re

spon

sáve

l por

“ap

rese

ntar

” um

po

eta

lá d

e Po

rtug

al a

um

sar

au

inde

pend

ente

de

São

Paul

o. P

or

mei

o do

blo

g de

Jos

é C

alla

do,

os

cria

dore

s do

Gru

po E

dito

rial B

eco

dos

Poet

as t

iver

am c

onta

to c

om a

po

esia

do

escr

itor

e co

nseg

uira

m

prom

over

o la

nçam

ento

de

um d

os

livro

s del

e aq

ui n

o Br

asil.

C

alla

do c

onta

que

Por

tuga

l en-

frent

a pr

oble

mas

sem

elha

ntes

aos

do

Bra

sil n

o qu

e di

z re

spei

to a

o tr

ato

com

a p

oesia

e o

inve

stim

en-

to p

úblic

o ne

sse

seto

r. N

o en

tant

o,

os s

arau

s po

r lá

têm

tid

o um

bom

de

senv

olvi

men

to e

ele

par

ticip

a de

al

guns

. “Te

nho

anda

do p

or e

scol

as,

cent

ros

cultu

rais

e ou

tros

fóru

ns

e, t

al c

omo

aí,

por

bare

s. Re

cen-

tem

ente

, fiz

um

a m

ostr

a (c

omen

-ta

da)

dos

meu

s vi

deop

oem

as n

um

bar e

já e

stou

conv

idad

o pa

ra m

ais

duas

”, d

iz. A

pesa

r de

nunc

a te

r co-

nhec

ido

o sa

rau

do B

eco

dos P

oe-

tas

– “O

Atlâ

ntic

o co

ntin

ua a

ser

um

gra

nde

obs

tácu

lo”

–, C

alla

do

cons

egue

ava

liar

o su

cess

o d

essa

s in

icia

tivas

pel

os v

ídeo

s qu

e ac

essa

so

bre

o a

ssun

to.

Talv

ez e

m u

ma

futu

ra v

iage

m

para

o B

rasil

, o p

oeta

pos

sa v

isita

r o

Sara

u co

m C

afé d

e Ros

eli,

conh

e-ce

r o

Terç

as P

oétic

as d

e Si

lva

ou ir

at

é a p

raia

par

ticip

ar d

e um

a Pel

ada

Poét

ica.

Que

m sa

be ir

à C

oope

rifa,

no

Sar

au d

o Bi

nho,

ou,

fina

lmen

-te

, co

nhec

er o

Bec

o do

s Po

etas

. M

esm

o di

stant

e ge

ogra

ficam

ente

, C

alla

do j

á po

de v

er p

ela

inte

rnet

qu

e a

hera

nça

traz

ida

pelo

s pa

trí-

cios

par

a o

Bras

il te

m s

ido

bem

cu

idad

a po

r aq

ui,

por

gent

e qu

e am

a lit

erat

ura,

com

o Ro

seli.

“Te

-nh

o ce

rtez

a de

que

o s

arau

sob

re-

vive

ria in

depe

nden

tem

ente

de

nós,

late

jand

o em

cad

a le

itor,

em c

ada

refle

xão,

em

cad

a le

tra

de m

úsic

a aq

ui in

terp

reta

da, n

a bo

a vo

ntad

e e

no in

com

ensu

ráve

l am

or c

om q

ue

nos

doam

os e

que

rec

ebem

os e

m

troca

. Só

por

isso,

já t

eria

val

ido

a pe

na. S

ó po

r iss

o, o

sara

u já

não

nos

pe

rten

ce. É

de

todo

s e d

e ca

da u

m,

para

sem

pre”

, con

clui

.

Arquivo Pessoal O T

erça

s Poé

tica

s, id

ealiz

ado

por W

ilmar

Silv

a, o

corr

e se

man

alm

ente

nos

jard

ins

inte

rnos

do

Palá

cio

das A

rtes

, em

MG

São

Paul

o, T

orna

ghi t

eve

a op

ortu

-ni

dade

de

conh

ecer

um

pou

co d

o ce

nário

dos

sar

aus

inde

pend

ente

s re

aliza

dos

nas

perif

eria

s da

cap

ital

paul

ista.

Visi

tou

o Sa

rau

do B

inho

, po

r m

eio

do C

olet

ivo

Mal

oque

i-ris

ta, p

arce

iro d

o Pe

lada

Poé

tica.

“É

inte

ress

ante

que

o p

rota

goni

smo

do

mov

imen

to p

oétic

o em

São

Pau

lo

este

ja n

a pe

rifer

ia. N

o R

io e

stá e

s-pa

lhad

o em

tod

os o

s ba

irros

, em

o Pa

ulo,

mes

mo

com

esp

aços

no

Cen

tro, o

mai

or vi

gor m

e par

ece e

s-ta

r na

perif

eria”

, ava

lia. J

á o

fund

a-do

r do

Ter

ças

Poét

icas

, que

este

ve

na C

oope

rifa,

rel

atou

que

“se

ntiu

as

voz

es e

m m

últip

las

língu

as b

ra-

silei

ras”

. Silv

a co

nta

que

em M

inas

G

erai

s ex

istem

out

ros

proj

etos

de

Page 10: DEVORADORAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4662194.pdf · Também por isso um evento como o sarau fez tanto su- cesso no Brasil Colonial e Imperial até o início do século

PO

R T

S D

A C

OR

TIN

A

18

P

ilar /

Edi

ção

nº. I

A lut

a pela

bibli

odiver

sidade

Qua

l mer

cado

edi

toria

l nós

qu

erem

os p

ara

o Br

asil?

É co

mum

, qua

ndo

se d

iscut

e o

livro

no

País,

que

o d

ebat

e se

res

-tr

inja

a e

statís

ticas

de

cres

cim

ento

, a

prob

lem

as d

e so

brev

ivên

cia

de

curt

o pr

azo,

e nã

o ab

arqu

e a b

iblio

-di

vers

idad

e e

outr

as d

eman

das

de

fund

o. E

m c

onse

quên

cia,

viv

emos

du

as r

ealid

ades

bas

tant

e di

vers

as:

a do

s nú

mer

os e

a d

as l

etra

s. As

-sim

, em

bora

201

3 te

nha

mar

cado

um

recu

o de

ven

das d

e liv

ros,

após

al

guns

ano

s de

len

to c

resc

imen

-to

, seg

undo

pes

quisa

da

Fund

ação

In

stitu

to d

e Pe

squi

sas

Econ

ômic

as

(Fip

e), e

ncom

enda

da p

ela

Câm

ara

Bras

ileira

do

Livr

o e

pelo

Sin

dica

to

Nac

iona

l dos

Edi

tore

s de

Livr

os, a

s an

álise

s ofic

iais

costu

mam

apr

esen

-ta

r um

cen

ário

pos

itivo

do

noss

o m

erca

do e

dito

rial.

Será

?Va

le o

lhar

com

mai

s cal

ma.

Em

pr

imei

ro lu

gar,

é um

mer

cado

ain

-da

mui

to m

ovid

o pe

la c

ompr

a go

-ve

rnam

enta

l. Pi

or, p

ela

com

pra

de

livro

s di

dátic

os e

par

adid

átic

os,

e nã

o aq

uisiç

ão d

e ac

ervo

s de

bibl

io-

teca

s. Em

seg

undo

luga

r, o

cres

ci-

men

to d

e m

erca

do a

lard

eado

pel

as

esta

tístic

as e

stá m

uito

cen

trad

o em

liv

ros

best-

seller

s, pe

lo c

resc

imen

to

do m

erca

do e

vang

élic

o e

dos l

ivro

s de

au

toaj

uda.

N

as

outr

as

área

s, co

mo

livro

s aca

dêm

icos

e de

cultu

ra

bras

ileira

, a d

imin

uiçã

o de

tira

gem

é s

into

mát

ica d

o po

uco

inte

ress

e de

vend

as. S

e, a

té a

déc

ada

de 1

990,

a

tirag

em i

nici

al n

essa

s ár

eas

era

de 3

mil

exem

plar

es, h

oje,

com

as

nova

s tec

nolo

gias

de

impr

essã

o so

b de

man

da, m

uita

s vez

es n

ão c

hega

a

300

exem

plar

es.

Esse

é u

m d

os p

rinci

pais

garg

a-lo

s do

negó

cio

do li

vro:

o c

resc

ente

di

vórc

io e

ntre

a p

rodu

ção

e o

con-

sum

idor

. C

om a

s no

vas

tecn

olo-

gias

, e

tam

bém

com

as

inic

iativ

as

públ

icas

de

ince

ntiv

o vo

ltada

s par

a a

prod

ução

e n

ão p

ara

o ac

esso

do

públ

ico,

mui

tos

livro

s sã

o re

aliza

-do

s se

m a

o m

enos

alc

ança

rem

as

livra

rias.

Os

núm

eros

são

sur

pre-

ende

ntes

nes

se s

entid

o: e

m 2

012,

se

gund

o da

dos

da p

esqu

isa, f

oram

ed

itado

s cer

ca d

e 50

mil

títul

os n

o-vo

s no

Bra

sil. U

ma

livra

ria g

rand

e po

ssui

em

esto

que

apro

xim

ado

de

20 m

il tít

ulos

, se

ndo

que

15 m

il de

stes

são

perm

anen

tes,

e ap

enas

5

mil,

rota

tivos

. Ou

seja

, con

tand

o co

m o

s im

port

ados

, po

dem

os d

i-ze

r qu

e m

enos

de

10%

dos

liv

ros

prod

uzid

os n

o Br

asil

cons

egue

m

ser

colo

cado

s ef

etiv

amen

te n

as l

i-vr

aria

s. E

esta

s, em

bora

fiqu

em c

om

uma

parc

ela

alta

do

preç

o de

cap

a (e

ntre

40%

e 5

0%)

e pe

guem

os

livro

s em

con

signa

ção,

estã

o qu

e-br

ando

um

a a

um

a. E

nqua

nto

as

gran

des r

edes

cre

scem

ince

ntiv

adas

po

r alto

s rec

urso

s púb

licos

, em

pres

-ta

dos a

juro

s bai

xos,

as li

vrar

ias p

e-qu

enas

e d

e ru

a nã

o so

brev

ivem

à

conc

orrê

ncia

do

mei

o di

gita

l e à

fal-

ta d

e in

cent

ivos

e le

itore

s e fe

cham

su

as p

orta

s. Al

ém d

isso,

as

baix

as t

irage

ns e

ve

ndas

im

pulsi

onam

o p

reço

par

a ci

ma,

afa

stand

o ai

nda

mai

s o

lei-

tor.

Para

se te

r um

a id

eia,

um

a br

o-ch

ura

norm

al d

e 24

0 pá

gina

s, co

m

tirag

em d

e 3

mil

exem

plar

es,

tem

cu

sto d

e im

pres

são

em to

rno

de R

$ 4.

Re

aliza

da

sob

dem

anda

, es

se

custo

se

ap

roxi

ma

ou u

ltrap

assa

R

$ 10

. O

im

pact

o no

pre

ço fi

nal

do li

vro

é al

tíssim

o. O

livr

o di

gita

l tr

ará

mud

ança

s pa

ra e

sse

cená

rio?

Não

é

pos

sível

sa

ber,

em

bora

pe

squi

sas

mai

s re

cent

es i

ndiq

uem

qu

e o

im

pact

o d

o li

vro

dig

ital

não

dev

a s

er

tão

alto

co

mo

o

espe

rado

ant

erio

rmen

te.

O q

ue fa

zer e

ntão

? Eu

apos

taria

em

ince

ntiv

ar li

vrar

ias d

e ru

a pe

las

cida

des d

o Br

asil,

sabe

ndo

que m

ais

do q

ue p

onto

s co

mer

ciai

s el

as s

ão

espa

ços

de c

ultu

ra e

fom

enta

dora

s de

leitu

ra, c

riand

o, as

sim, u

ma r

ede

de d

istrib

uiçã

o qu

e pe

rmiti

sse

o es

coam

ento

da

prod

ução

edi

toria

l br

asile

ira. S

e es

sas l

ivra

rias,

em tr

o-ca

do

ince

ntiv

o pú

blic

o, ti

vess

em a

ob

rigaç

ão d

e te

r pa

rte

do se

u ac

er-

vo a

dqui

rido

de p

eque

nas e

méd

ias

edito

ras,

seria

um

a gr

ande

conq

uis-

ta p

ara

a bi

blio

dive

rsid

ade.

poet

a,

edit

or

da A

zoug

ue

e c

riad

or d

a A

zoug

ue

Edit

oria

l. É

aut

or d

e O

So

nhad

or I

nson

e (2

010)

.

Por

Ser

gio

Coh

n*

Stock Xchng

Page 11: DEVORADORAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4662194.pdf · Também por isso um evento como o sarau fez tanto su- cesso no Brasil Colonial e Imperial até o início do século

20

P

ilar /

Edi

ção

nº. I

Pila

r / E

diçã

o nº

. I

2

1

PO

R T

S D

A C

OR

TIN

A

Uma c

ausa s

em pa

trocín

ios

Ince

ntiv

os cu

ltura

is aj

udam

a

prop

agar

gru

pos q

ue le

vam

a

liter

atur

a pe

los q

uatro

cant

os d

a cid

ade d

e São

Pau

lo, m

as tr

abal

ho

inde

pend

ente

ain

da é

mai

oria

Um

gru

po d

e at

ivist

as c

ultu

rais

inte

ress

ado

em

prom

over

ativ

idad

es n

os b

airr

os m

ais c

aren

tes

e, e

m a

lgun

s ca

sos,

na p

rópr

ia v

izinh

ança

. N

orm

al-

men

te, e

ssa é

a gê

nese

de g

rand

e par

te d

os sa

raus

inde

-pe

nden

tes r

ealiz

ados

na

cida

de. F

oi a

ssim

que

Reg

ina

Tiek

o co

meç

ou a

pro

mov

er e

vent

os d

essa

esp

écie

em

um

bar

no

bairr

o do

Bix

iga,

na

zona

cen

tral

de

São

Paul

o, n

o an

o de

200

8. D

o ba

r m

igro

u pa

ra a

Pra

ça

Dom

Orio

ne,

Fran

klin

Roo

seve

lt e

Cen

tro C

ultu

ral

Lam

parin

a d

o B

rasil

, na

Con

sola

ção,

loc

al o

nde,

at

ualm

ente

, rea

liza

o En

cont

ro d

e U

topi

as. S

em a

poio

de

em

pres

as o

u do

gov

erno

, o sa

rau

reún

e as

mai

s di-

vers

as tr

ibos

nas

noi

tes d

e te

rça

da c

apita

l pau

lista

. A

inic

iativ

a cha

mou

a at

ençã

o da

Sec

reta

ria d

e Cul

-tu

ra d

o Es

tado

. Reg

ina

foi c

onvi

dada

par

a le

var o

seu

sara

u pa

ra u

ma d

as 1

05 b

iblio

teca

s da c

idad

e, n

a reg

ião

de P

ari.

O S

arau

na

Adel

pha,

rea

lizad

o m

ensa

lmen

te

na B

iblio

teca

Ade

lpha

Fig

ueire

do, é

par

te d

o pr

ojet

o

“Vei

a, V

enta

nia

e Li

tera

tura

Per

iféric

a”, q

ue c

onsis

te

em l

evar

sar

aus

para

bib

liote

cas

de S

ão P

aulo

a fi

m

de in

cent

ivar

a co

mun

idad

e a d

esfru

tar d

esse

s esp

aços

. Al

ém d

o En

cont

ro d

e U

topi

as, g

rupo

s co

mo

o Sa

rau

do B

inho

, C

oope

rifa,

Sar

au d

a Br

asa,

Mes

quite

iros,

entre

out

ros,

tam

bém

par

ticip

am d

o pr

ojet

o.

No

mes

mo

ano

em q

ue R

egin

a in

icio

u se

u tr

aba-

lho

com

sar

aus,

outro

gru

po d

e po

etas

, ed

ucad

ores

, pr

odut

ores

cul

tura

is e

mús

icos

da

regi

ão d

o Ip

irang

a co

meç

ou s

ua a

tuaç

ão p

or m

eio

do C

olet

ivo

Perif

ati-

vida

de.

Os

orga

niza

dore

s já

pro

mov

eram

ativ

idad

es

cultu

rais

para

a c

omun

idad

e em

div

erso

s loc

ais,

até

se

esta

bele

cere

m n

o Ba

r do

Bon

é, n

a V

ila d

as M

ercê

s. Al

ém d

este

sar

au, o

col

etiv

o pr

omov

e en

cont

ros

em

esco

las,

CEU

s, en

tre o

utro

s. An

a Fo

nsec

a, in

tegr

ante

do

gru

po, e

xplic

a qu

e o

cole

tivo

cont

ou c

om o

aux

ílio

do P

rogr

ama

de V

alor

izaçã

o de

Ini

ciat

ivas

Cul

tura

is (V

AI)

por

dois

anos

con

secu

tivos

. O V

AI é

um

pro

-

Mar

co B

oy c

oman

da so

m e

m

ediç

ão d

o Sa

rau

Lite

raru

a;

mov

imen

to re

cebe

ince

ntiv

o da

m

arca

Bla

ck S

oul

jeto

da

Se

cret

aria

M

unic

ipal

de

Cul

tura

de

São

Paul

o, q

ue te

m p

or

obje

tivo

fom

enta

r aç

ões

cultu

rais

bene

ficia

ndo

jove

ns d

as p

erife

rias

de S

ão P

aulo

.Ap

esar

do

apoi

o go

vern

amen

tal

dura

nte

esse

per

íodo

, An

a ex

plic

a qu

e gr

ande

par

te d

as a

ções

do

co-

letiv

o fo

i rea

lizad

a de

for

ma

inde

-pe

nden

te.

Segu

ndo

ela,

o c

olet

ivo

nunc

a te

ve a

poio

de

nenh

uma

ins-

titui

ção

priv

ada

e, e

m 2

013,

por

ex

empl

o, t

ambé

m n

ão c

onse

guiu

ap

oio

de n

enhu

m ó

rgão

gov

erna

-m

enta

l. “E

stam

os n

ós p

or n

ós m

es-

mos

”, r

esum

e. A

na a

inda

diz

que,

ap

esar

de

reco

nhec

er a

impo

rtân

cia

do d

inhe

iro p

ara

cons

egui

r mel

ho-

rar a

infra

estr

utur

a e

faci

litar

a p

ro-

duçã

o de

ben

s cul

tura

is, is

so n

ão é

o m

ais i

mpo

rtan

te. “

O e

quip

amen

to

mai

s car

o, v

alor

izado

e im

port

ante

, se

m d

úvid

a ne

nhum

a, é

a d

edic

a-çã

o do

s int

egra

ntes

à c

ausa

, por

que

Camila Reimberg

Camila Reimberg

para

nós

, a d

issem

inaç

ão d

a cu

ltura

na

per

iferia

é u

ma

caus

a”, a

firm

a.

LAD

O B

O p

atro

cíni

o a

prod

uçõe

s cu

l-tu

rais,

no

enta

nto,

não

é s

impl

es.

Des

ta m

anei

ra,

mui

tos

sara

us s

ão

dese

nvol

vido

s po

r aq

uele

s qu

e “a

cred

itam

na a

rte,

poe

sia, m

úsic

a e

na c

ultu

ra c

omo

form

a de

tran

sfor-

maç

ão s

ocia

l”,

conf

orm

e de

fend

e o

orga

niza

dor

do E

lem

ento

Sar

au,

Lean

dro

Sant

os D

omin

gos.

Um

do

s or

gani

zado

res

do

A Pl

enos

Pul

mõe

s, C

arlo

s G

aldi

no,

apon

ta q

ue o

s sar

aus,

em g

eral

, não

m p

atro

cina

dore

s. Se

gund

o el

e,

“que

m c

olab

ora

para

a p

rodu

ção

dos

sara

us s

ão o

s ap

oiad

ores

ind

i-vi

duai

s”,

ou s

eja,

as

pess

oas,

os

poet

as q

ue d

ivul

gam

o ev

ento

e fo

r-ta

lece

m c

ompa

rece

ndo”

. D

amás

io

Mar

ques

, gr

adua

do

Por

Cam

ila

Rei

mber

g, C

ínti

a Fe

rrei

ra,

Esté

phan

e R

anni

e J

éssi

ca V

iana

em L

etra

s pe

la U

nive

rsid

ade

Ibira

-pu

era

e um

dos

cria

dore

s do

sar

au

Sobr

enom

e Li

berd

ade,

na

zona

sul

de

São

Pau

lo,

expl

ica

que

a ún

ica

parc

eria

que

tem

é c

om o

Rel

icár

io

Rock

Bar

, que

ced

e o

espa

ço p

ara

a re

aliza

ção

do e

vent

o. D

esta

ma-

neira

, ele

inf

orm

a qu

e o

enco

ntro

ac

onte

ce g

raça

s à

vont

ade

das

pes-

soas

em

div

ulga

r se

us t

raba

lhos

e

à co

labo

raçã

o do

s am

igos

. “C

ada

um c

ontr

ibui

com

o po

de: e

quip

a-m

ento

de

áudi

o, f

otog

rafia

, ap

re-

sent

ação

. É re

alm

ente

o am

or à

arte

qu

e m

ove

e dá

con

diçõ

es p

ara

que

o ev

ento

se e

strut

ure

e ac

onte

ça d

a fo

rma

com

o es

tá”,

exp

lica.

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22

P

ilar /

Edi

ção

nº. I

Pila

r / E

diçã

o nº

. I

2

3

PO

R T

S D

A C

OR

TIN

A

Man

o R

il: a

tivi

sta

cult

ural

que

pr

omov

e ev

ento

s em

Em

bu-

Gua

çu, e

xtre

mo

sul d

a ci

dade

proj

etos

cul

tura

is. O

atu

al c

oord

e-na

dor d

o pr

ogra

ma,

Ren

ato

Souz

a,

expl

ica

que

o cr

itério

par

a es

colh

a do

s sar

aus c

onte

mpl

ados

é c

riter

io-

so, m

as b

em a

cess

ível

: “Es

ses

pro-

jeto

s pa

ssam

por

pro

cess

o de

ava

-lia

ção,

no

qual

exist

e um

a com

issão

fo

rmad

a po

r gen

te d

o go

vern

o e

da

soci

edad

e civ

il qu

e ava

lia, m

as se

m-

pre

tent

ando

faze

r um

a di

vers

idad

e cu

ltura

l da

cid

ade.

Tan

to e

m t

er-

mos

de

lingu

agem

com

o ta

mbé

m

de lo

caliz

ação

geo

gráfi

ca”.

U

m d

os m

otor

es p

ara d

ifusã

o de

pr

oduç

ões c

ultu

rais

na c

idad

e ve

m,

algu

mas

vez

es, d

as e

mpr

esas

. Mui

-ta

s de

las

apoi

am o

s no

vos

proj

etos

e,

po

r co

nseq

uênc

ia,

cons

egue

m

abat

imen

tos

nas

cobr

ança

s fis

cais.

O

pod

er p

úblic

o ut

iliza

os

cham

a-do

s inc

entiv

os fi

scai

s par

a fom

enta

r

o in

vesti

men

to p

rivad

o no

set

or

cultu

ral.

Os

prin

cipa

is in

strum

en-

tos

fede

rais

ness

a lin

ha s

ão a

Lei

Ro

uane

t e

a Le

i do

Aud

iovi

sual

, qu

e po

ssib

ilita

m

finan

ciam

ento

s co

m a

líquo

tas

de a

batim

ento

va-

riáve

l (em

mui

tos

caso

s de

100

%)

e te

tos q

ue v

aria

m d

e 3%

a 6

% d

o im

posto

de

rend

a. N

o ca

mpo

fede

-ra

l, d

e a

cord

o c

om

dado

s d

o M

inist

ério

da

Cul

tura

, es

se t

ipo

de i

ncen

tivo

tem

sid

o c

resc

ente

-m

ente

apr

ovei

tado

. Ex

empl

o di

sso

é o

prog

ram

a “R

umos

”, o

rgan

izado

pel

o In

stitu

-to

Itaú

Cul

tura

l. H

á 16

anos

, o p

ro-

jeto

pos

sibili

tou

açõe

s ar

tístic

as e

cu

ltura

is qu

e atin

gira

m u

m p

úblic

o de

mai

s de 5

,1 m

ilhõe

s de p

esso

as e

sele

cion

ou 1

.130

art

istas

, pes

quisa

-do

res e

pro

duto

res.

O i

nteg

rant

e do

gru

po d

e ra

p Pe

nsam

ento

Neg

ro e

um

dos

or-

gani

zado

res

do S

arau

Pen

sam

ento

, M

auríc

io S

anto

s, co

nhec

ido

com

o M

ano

Ril,

diz

gosta

r de

ser

ind

e-pe

nden

te.

“Qua

ndo

você

peg

a di

-nh

eiro

de

algu

ém p

ara

inve

stir

em

um p

roje

to, a

quel

a pes

soa o

u gr

upo

vai

se s

entir

no

dire

ito d

e in

terv

ir no

que

voc

ê va

i fal

ar”,

exp

lica.

M

arqu

es, o

rgan

izado

r do

Sobr

e-no

me

Libe

rdad

e, p

ontu

a qu

e, e

m

caso

do

surg

imen

to d

e pa

rcer

ias,

será

im

port

ante

dei

xar

expl

ícita

a

inde

pend

ênci

a do

sar

au q

uant

o ao

fo

rmat

o e

cont

eúdo

. “D

essa

form

a,

pens

o q

ue

não

ser

ia

nega

tivo,

po

is s

e u

m

patro

cíni

o n

ão

for

vant

ajos

o, s

impl

esm

ente

o d

esca

r-ta

rem

os”,

def

ende

.

AP

OIO

DO

S G

RA

ND

ES

Mot

ivad

o a

dar a

poio

a u

m p

ro-

jeto

de

caus

a so

cial

, qu

e fa

vore

ce

quem

não

tem

pod

er a

quisi

tivo

e ac

esso

à c

ultu

ra, o

pro

prie

tário

da

loja

Bla

ck S

oul,

Sérg

io C

ampi

ani,

pass

ou a

pat

roci

nar o

Sar

au L

itera

-ru

a, n

o C

ampo

Lim

po.

Entre

tan-

to,

o ap

oio

não

é fin

ance

iro,

mas

em

mat

eria

l (c

omo

faix

as,

boné

s, ca

mise

tas e

ade

sivos

). “I

sso

ajud

a a

ter

uma

cons

olid

ação

das

mar

cas”

, ex

plic

a el

e.Pa

ra o

ativ

ista

cultu

ral o

rgan

iza-

dor d

o Li

tera

rua,

Mar

cos A

lexa

ndre

do

Nas

cim

ento

, ou

sim

ples

men

te

Mar

co B

oy, “

o pa

trocí

nio

é pos

itivo

, m

as m

arca

não

é o

intu

ito d

a cu

l-tu

ra, p

ois n

ão tr

az m

uito

ben

efíc

io

à co

mun

idad

e”. A

lém

do

ince

ntiv

o da

Bla

ck S

oul,

o sa

rau

cont

ou, e

m

2013

, co

m a

ver

ba r

eceb

ida

pelo

VA

I. D

inhe

iro co

m o

qua

l, in

form

a M

arco

Boy

, pôd

e inv

estir

na c

ompr

a da

apa

relh

agem

de

som

do

sara

u.

A de

stina

ção

de v

erba

s por

par

te

do V

AI te

m si

do u

ma

das a

ltern

ati-

vas e

ncon

trad

as p

or m

uito

s org

ani-

zado

res

para

dar

pro

sseg

uim

ento

a

O p

roje

to v

isa a

abr

ir ed

itais

nas

área

s de

pro

duçã

o ar

tístic

a ou

de

refle

xão

sobr

e a

cultu

ra. E

ncer

rada

s as

insc

riçõe

s, um

a eq

uipe

ava

lia a

s pr

opos

tas e

sele

cion

a a

idei

a ga

nha-

dora

. Dep

ois d

e difu

ndir

os re

sulta

-do

s, é d

ada u

ma f

orm

ação

por

mei

o de

curs

os e

ofici

nas e

, em

algu

ns ca

-so

s, o

insti

tuto

pre

mia

com

aju

da

finan

ceira

os c

andi

dato

s. Se

gund

o a

coor

dena

dora

de

Com

unic

ação

do

insti

tuto

, Bár

bara

Bon

fim, o

pro

je-

to te

m c

omo

obje

tivo

dar l

iber

dade

de

cria

ção

para

os

ativ

istas

cul

tu-

rais.

“Po

rque

o a

rtist

a, o

age

nte,

o

cole

tivo

ou o

pen

sado

r sa

be q

ual é

a

mel

hor f

orm

a pa

ra se

u tr

abal

ho e

pa

ra se

rela

cion

ar co

m o

s int

erlo

cu-

tore

s, os

crit

ério

s são

móv

eis,

livre

s, nu

nca r

eduz

idos

em su

as co

mpl

exi-

dade

s”, c

oncl

ui.

O R

elic

ário

Roc

k B

ar c

ede

o es

paço

par

a a

real

izaç

ão d

o sa

rau

Sobr

enom

e Li

berd

ade,

no

Gra

jaú

Alessa Ferreira de Melo

Alessa Ferreira de Melo

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24

P

ilar /

Edi

ção

nº. I

Pila

r / E

diçã

o nº

. I

2

5

PO

R T

S D

A C

OR

TIN

A

O ce

nário

: u

m b

ar n

a zo

na

sul

de S

ão P

aulo

. A

data

: um

a qu

arta

-feira

de j

ulho

de 2

013,

di

a de

jogo

de

fute

bol n

a te

levi

são.

An

unci

ado

pelo

s or

gani

zado

res

do

sara

u d

a C

oope

rifa,

o p

oeta

Hel

-be

r La

disla

u d

á o

seu

reca

do:

“A

form

ação

de

um

a m

á e

duca

ção

e

uma

saúd

e pre

cária

é o

refl

exo

de

uma

clas

se so

cial

igno

rada

, o

san-

gue

no m

orro

esco

rren

do n

a ca

lçada

, o

mesm

o sa

ngue

que

esco

rria

na

senza

la e

são

os

mesm

os v

ampi

ros

suga

ndo

e dan

do r

isada

”. É

o fi

nal

do p

oem

a A

ntôn

io,

de s

ua a

uto-

ria,

que

narr

a a

viol

ênci

a po

licia

l co

ntra

o p

ai d

e um

recé

m-n

asci

do,

no c

amin

ho d

e v

olta

par

a c

asa.

A

exp

ress

ão

dura

, a

ent

ona-

ção

firm

e d

o p

oeta

e o

silê

ncio

do

blic

o d

uran

te

a d

ecla

ma-

ção

dem

onstr

avam

qu

e a

quel

as

pala

vras

esta

vam

pro

voca

ndo

alg

o na

s pe

ssoa

s. E

stava

ali

o e

xem

plo

de q

ue a

poe

sia p

oder

ia m

esm

o se

r um

ato

pol

ítico

. A

con

testa

-

ção

dos

ver

sos

de A

raúj

o é

alg

o pr

esen

te

tam

bém

na

po

esia

de

m

uito

s ou

tros

frequ

enta

dore

s do

s sa

raus

da

ci

dade

. O

m

icro

fone

ab

erto

– a

lgo

car

acte

rístic

o d

es-

tes e

vent

os –

voz

a qu

em e

stava

ac

ostu

mad

o a

som

ente

ser

ouv

ido

dura

nte

as

elei

ções

.

MIL

ITÂ

NC

IA F

EMIN

INA

“O sa

rau

tem

um

a fun

ção

soci

al.

É o

tipo

de in

icia

tiva

aber

ta e

de-

moc

rátic

a, fo

rmad

ora,

é u

m e

spaç

o de

des

envo

lvim

ento

da

cida

dani

a.

É um

a es

péci

e de

mili

tânc

ia. M

eu

part

ido

é a

cultu

ra.”

Que

m d

iz iss

o é

Regi

na T

ieko

, pro

duto

ra c

ultu

ral

e ca

ntor

a, o

rgan

izado

ra d

os s

arau

s En

cont

ro d

e U

topi

as, n

a C

onso

la-

ção,

e S

arau

da

Adel

pha,

no

Pari.

Se

u tr

abal

ho c

om s

arau

s co

meç

ou

em 2

008.

De

lá p

ara

cá n

ão p

arou

m

ais a

mili

tânc

ia.

Os

enco

ntro

s pr

omov

idos

por

Re

gina

são

rea

lizad

os n

o ce

ntro

, m

as e

vent

os d

esta

esp

écie

mui

to

ultr

apas

sara

m

as

front

eira

s g

eo-

gráfi

cas e

hoj

e são

real

izado

s em

vá-

rios

pont

os d

a ci

dade

, at

é m

esm

o na

s re

giõe

s pe

rifér

icas

. Um

del

es é

o

Col

etiv

o Pe

rifat

ivid

ade,

que

atu

a de

sde

2008

na

regi

ão d

o Ip

irang

a pr

omov

endo

at

ivid

ades

cu

ltura

is,

dent

re e

las

o sa

rau.

Ana

Fon

seca

é

part

icip

ante

do

Col

etiv

o de

sde

2011

. “E

ncon

trei

a re

laçã

o qu

e qu

eria

en

tre

cultu

ra

e m

ilitâ

n-ci

a re

alm

ente

qua

ndo

fiz p

arte

do

Col

etiv

o Pe

rifat

ivid

ade”

, ex

plic

a.

Para

ela

, os s

arau

s con

trib

uem

par

a ge

rar

espa

ços

cultu

rais

em l

ugar

es

care

ntes

de

educ

ação

de

qual

idad

e,

área

s de

laz

er,

entre

tan

tos

outro

s be

nefíc

ios.

“Os s

arau

s mos

tram

que

pa

ra se

faze

r um

a as

sem

blei

a cu

ltu-

ral e

mes

mo

polít

ica

não

prec

isa d

e ho

ra, e

spaç

o e

loca

l pre

dete

rmin

a-do

”, a

valia

.

NA

MA

RA

...

O s

arau

dia

loga

com

a p

olíti

ca.

Mas

e qu

ando

acon

tece

o co

ntrá

rio?

Sent

indo

a ne

cess

idad

e de f

omen

tar

a lite

ratu

ra e

tam

bém

de “

traz

er u

m

níve

l de

con

scie

ntiza

ção

mai

or d

a re

alid

ade”

, o

coor

dena

dor

do N

ú-cl

eo d

e Li

tera

tura

do

Cen

tro C

ul-

tura

l da

Câm

ara

dos

Dep

utad

os,

Mar

co A

ntun

es L

obo,

pro

mov

e,

há 1

1 an

os, s

arau

s lit

erár

ios,

ofici

-na

s e c

lube

s de

leitu

ra n

a C

âmar

a e

reco

nhec

e a

impo

rtân

cia

dos s

arau

s

real

izado

s nas

per

iferia

s das

gra

ndes

ci

dade

s, nã

o so

men

te d

e Sã

o Pa

ulo.

El

e le

mbr

a qu

e Br

asíli

a, R

io G

ran-

de d

o Su

l, Pa

raná

e M

inas

Ger

ais

tam

bém

pos

suem

eve

ntos

do

tipo.

“O

s sar

aus s

ão b

oas i

nici

ativ

as p

or-

que

favo

rece

m a

soci

edad

e, c

olab

o-ra

m p

ara

que

as p

esso

as d

eixe

m a

co

ndiç

ão d

e an

alfa

betis

mo

func

io-

nal e

m q

ue ta

ntos

viv

em”,

ava

lia.

... E

NA

ESC

OLA

Espa

ço d

e fo

rmaç

ão d

e le

itore

s po

r exc

elên

cia,

a e

scol

a te

m so

frido

co

nsta

ntes

crít

icas

pro

voca

das

pela

pr

ecar

izaçã

o do

ens

ino,

form

a-çã

o do

cent

e e v

iolê

ncia

. Mas

na

Es-

cola

Esta

dual

Jor

nalis

ta F

ranc

isco

Mes

quita

, situ

ada

no e

xtre

mo

leste

de

São

Pau

lo, n

o ba

irro

Jd. V

erôn

ia,

uma v

ez p

or m

ês, a

luno

s e p

rofe

sso-

Do pa

lanque

para

Os s

arau

s rea

lizad

os em

São

Pau

lo tê

m fo

men

tado

mui

to m

ais d

o qu

e m

anife

staçõ

es ar

tístic

as; a

cont

estaç

ão p

olíti

ca é

outro

fato

r pre

sente

nest

es ev

ento

s

Por

Cín

tia

Fer

reir

a

Rod

rigo

Cir

íaco

: des

de 2

009

prom

oven

do e

vent

os e

m e

scol

a da

zon

a le

ste

de S

ão P

aulo

Estéphane Ranni

Marcio Salata

res s

e ju

ntam

par

a ca

ntar

, dec

lam

ar

poem

as, a

ssist

ir a

víde

os e

par

tici-

par d

e ofi

cina

s. É

o Sa

rau

dos M

es-

quite

iros,

idea

lizad

o pe

lo p

rofe

ssor

de

Hist

ória

Rod

rigo

Cirí

aco.

N

o úl

timo

sába

do d

e ca

da m

ês,

os p

artic

ipan

tes c

omeç

am o

eve

nto

com

um

cor

tejo

: alu

nos e

pro

fess

o-re

s sae

m à

s rua

s con

vida

ndo

as p

es-

soas

a pa

rtic

ipar

em d

o sa

rau.

Meg

a-fo

ne e

tam

bore

s nas

mão

s, al

unos

e

prof

esso

res e

ntoa

m a

os q

uatro

can

-to

s qu

e o

que

está

oco

rren

do n

os

sara

us é

mai

s do

que

man

ifesta

ção

artís

tica.

É t

rans

form

ação

pol

ítica

na

bas

e.

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PER

FIL

26

P

ilar /

Edi

ção

nº. I

Pila

r / E

diçã

o nº

. I

2

7

Da va

ssoura

à can

eta

Tula

Pila

r Fer

reira

: um

exem

plo

de co

mo

a lei

tura

pod

e ar

rebe

ntar

corr

ente

s

Aos 7

ano

s de

idad

e, m

orad

ora

de u

ma

fave

la

em B

elo

Hor

izont

e, T

ula

Pila

r Fe

rrei

ra tr

o-co

u a

inf

ânci

a p

elo

trab

alho

em

cas

as d

e fa

míli

a.

Des

de c

rianç

a, d

epar

ou-s

e c

om o

rac

ismo

abe

rto,

es

canc

arad

o d

e pe

ssoa

s qu

e im

punh

am q

ue o

s ne

-gr

os n

ão t

inha

m o

dire

ito d

e so

nhar

. Po

r iss

o, d

es-

se p

erío

do e

la re

sgat

a ap

enas

três

ano

s de

aleg

ria, n

os

quai

s, ao

lad

o d

a m

ãe,

Antô

nia,

e d

as s

ete

irmãs

, pô

de se

r fel

iz na

pob

reza

. Alé

m d

a sab

edor

ia d

os e

nsi-

nam

ento

s da

mãe

, o

trab

alho

dom

éstic

o m

odifi

cou

de c

erta

form

a o

desti

no d

a pe

rson

agem

des

ta h

istó-

ria.

Afina

l, m

esm

o co

m o

s grit

os d

e “i

sso

não

é pa

ra

Por

Ca

mil

a R

eim

ber

g

Rodrigo Ciríaco

você

” o

u “e

ssa

negr

inha

até

ago

ra

não

fez n

ada”

, bus

cou

conh

ecim

en-

to e

info

rmaç

ão p

or m

eio

dos l

ivro

s qu

e as

pat

roas

com

prav

am p

ara

os

filho

s – q

ue, a

liás,

pouc

os e

xem

pla-

res a

caba

vam

lido

s por

este

s. D

este

m

odo,

co

m

o a

nsei

o de

sab

er m

ais

da v

ida,

a le

itura

se

torn

ou a

lgo

simila

r com

o n

ome

da

pequ

ena

Pila

r. O

s liv

ros l

he tr

ouxe

-ra

m sa

bedo

ria e

insp

iraçã

o pa

ra e

s-cr

ever

alg

uns t

exto

s, qu

e as

pat

roas

ac

abav

am p

or r

asga

r. N

a es

cola

, as

boas

not

as in

com

odav

am a

s ou

tras

m

ães,

pois

seus

filh

os,

bran

cos,

ti-

rava

m n

otas

infe

riore

s às d

ela.

Mas

, em

def

esa,

don

a An

tôni

a di

zia:

“As

min

has

cria

nças

são

tão

int

elig

en-

tes

com

o a

s out

ras”

. Po

rém

, ao

s 14

ano

s, a

pob

reza

obr

igou

Pila

r a

aban

dona

r a e

scol

a pa

ra tr

abal

har.

A R

ETO

MA

DA

O r

etor

no d

e T

ula

Pila

r Fe

r-re

ira a

o u

nive

rso

dos

liv

ros

acon

-te

ceu

no

pro

gram

a d

o G

over

no

de E

duca

ção

de

Jove

ns e

Adu

ltos

(EJA

). S

egun

do

ela,

o

con

heci

-m

ento

a r

esga

tou.

“Tu

do a

quilo

qu

e t

inha

m m

e ti

rado

na

min

ha

infâ

ncia

vol

tou

com

for

ça.

Tudo

m

uito

m

ágic

o:

Quí

mic

a,

Físic

a,

Ingl

ês...

Fiz

vário

s cur

sos.

O m

un-

do m

e in

tere

ssa”

, rel

ata.

Atu

alm

en-

te e

stá e

studa

ndo

Foto

grafi

a.O

resg

ate

à es

crita

, por

ém, d

eu-

-se

fora

da

esco

la: e

m u

m sa

rau.

Pi-

lar

cont

a qu

e fic

ou c

urio

sa a

o ve

r as

pes

soas

fal

ando

ao

mic

rofo

ne

em u

m b

ar e

m T

aboã

o da

Ser

ra,

onde

pas

sou

a re

sidir

qua

ndo

se

mud

ou p

ara

São

Pau

lo.

Cur

iosa

, ch

amou

sua

filh

a, S

aman

tha,

par

a

entr

ar n

o lo

cal.

Ass

im,

em 2

003,

co

nvid

ada

por

Mar

co P

ezão

, co

-nh

eceu

o S

arau

da

Coo

perif

a.

Pila

r se

torn

ou p

oeta

. Se

gund

o Pi

lar,

o sa

rau

foi

o m

otiv

ador

par

a qu

e el

a, p

or f

azer

ap

rese

ntaç

ões

com

dan

ça,

gosta

r de

atua

r, en

volv

er p

alav

ras e

expr

es-

sões

, se

torn

asse

um

a ar

tista

, poi

s o

even

to d

eu a

ela

a c

hanc

e de

mos

-tr

ar tu

do o

que

sabe

faze

r. “É

isso

o

que

eu q

ueria

ser

sem

pre

e as

pes

-so

as m

e tir

aram

a o

port

unid

ade

em M

inas

. O sa

rau

abriu

as p

orta

s pa

ra e

u m

e de

scob

rir,

para

bro

tar

o q

ue

esta

va

aqui

de

ntro

, qu

e flo

resc

eu e

que

a c

ada

dia

tem

se a

flora

do m

ais”

, con

ta.

Com

a o

pini

ão d

e qu

e nã

o é

prec

iso se

r gra

duad

o pa

ra se

r int

eli-

gent

e e

capa

z, Pi

lar d

eu à

col

etân

ea

de su

as p

oesia

s o n

ome

de P

alav

ras

Inac

adêm

icas.

“O tí

tulo

do

livro

se

dá p

ela a

cade

mia

não

acei

tar o

s me-

nos

favo

reci

dos,

os a

nôni

mos

, por

ac

har q

ue p

orqu

e a g

ente

tem

a pe

le

escu

ra,

não

é n

ada.

Meu

con

he-

cim

ento

é

da

rua

, eu

po

sso

ir

para

qua

lque

r lu

gar

no m

undo

”,

diz

a e

scrit

ora.

Para

lelo

ao

sara

u, “

em u

m d

ia

mág

ico”

, Pila

r ini

ciou

con

tato

com

a

Revi

sta O

cas”,

vol

tada

à c

ultu

-ra

. O

pro

duto

é u

ma

publ

icaç

ão

Chaia Dechen

Sens

ualid

ade

em v

erso

s: a

pr

inci

pal t

emát

ica

da p

oeta

é

volt

ada

ao e

roti

smo

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28

P

ilar /

Edi

ção

nº. I

Pila

r / E

diçã

o nº

. I

2

9

PER

FIL

Na

pági

na a

o la

do, p

erfo

rman

ce

em a

pres

enta

ção

do g

rupo

R

aizA

rte,

org

aniz

ado

pela

art

ista

bim

estr

al

da

Org

aniza

ção

Civ

il de

Açã

o So

cial

, in

stitu

ição

da

so-

cied

ade

civi

l sem

fins

lucr

ativ

os, é

pa

rte

de u

m p

roje

to s

ocia

l vo

lta-

do a

pes

soas

adu

ltas

sem

em

preg

o.

11 a

nos,

a re

vista

circ

ula

pela

s ru

as d

e Sã

o Pa

ulo

e R

io d

e Ja

nei-

ro c

omo

um in

strum

ento

de

gera

-çã

o de

rend

a ao

s ven

dedo

res,

que

a co

mpr

am p

or R

$ 1

e a

vend

em p

or

R$

4. O

lucr

o fic

a co

m o

ven

dedo

r, se

m i

nter

med

iário

s. C

om a

ven

da

da r

evist

a, P

ilar

cons

egui

u pa

gar

a dí

vida

do

alug

uel

onde

mor

ava

e al

imen

tar

os fi

lhos

. Al

ém d

isso,

a

artis

ta co

nta

que t

eve m

ais r

espe

ito

com

a s

ua

liter

atur

a,

pois

foi

o pr

imei

ro

órgã

o qu

e pu

blic

ou u

m

trab

alho

del

a. “N

unca

mai

s pre

cise

i m

e ac

orre

ntar

a n

ada”

, diz

a po

eta.

EVO

LUÇ

ÃO O

RG

ÁST

ICA

A pr

imei

ra p

oesia

que

Pila

r es

-cr

eveu

e d

ecla

mou

no

sara

u es

guar

dada

em

um

cof

re:

torn

ou-s

e um

teso

uro.

Com

o te

mpo

, com

e-ço

u a e

scre

ver p

oesia

s mai

s eró

ticas

, co

m a

s qu

ais,

segu

ndo

ela,

os

ho-

men

s di

ziam

que

as

suas

mul

here

s fic

avam

env

ergo

nhad

as.

Atua

lmen

te,

ela

real

iza u

m s

a-ra

u e

rótic

o c

om o

Rai

zArt

e, p

ro-

jeto

do

qua

l se

us fi

lhos

, Pe

dro

e

Dan

dara

, fa

zem

pa

rte.

Pi

lar

diz

ver

gent

e e

ntra

ndo

com

tim

idez

e

sain

do

com

de

poim

ento

s i

n-cr

ívei

s do

eve

nto.

“A

reaç

ão d

as

pess

oas

é m

uito

int

eres

sant

e, e

las

perd

em a

tra

va”,

con

ta.

A ar

tista

dec

lara

que

alg

umas

pe

ssoa

s di

zem

se

insp

irar

nela

. E

rela

ta q

ue u

m d

os a

grad

os c

riativ

os

que

rece

beu

foi

de u

ma

senh

ora,

Dan

dara

, a fi

lha

caçu

la, v

ê na

m

ãe o

exe

mpl

o de

nun

ca d

esis

tir

do q

ue s

e qu

er

com

cer

ca d

e 60

ano

s: “M

eu m

a-rid

o m

orre

u e

eu n

unca

mai

s tiv

e ou

tro h

omem

, m

as h

oje

eu g

ozei

co

m a

sua

poes

ia”. D

este

mod

o, P

i-la

r ac

redi

ta e

star

cola

bora

ndo

com

a

vida

das

pes

soas

, com

a sa

úde

de-

las,

“por

que

poes

ia é

viv

er”,

afir

ma.

A am

iga,

co

lega

de

tr

abal

ho

e ta

mbé

m v

olun

tária

na

Revi

sta

Oca

s”,

Car

olin

a Sa

ntos

Ba

rbos

a,

grad

uada

em

Rád

io e

TV,

des

crev

e o

trab

alho

de P

ilar c

omo

uma “

evo-

luçã

o or

gásti

ca”.

Pa

ra o

s filh

os d

a po

eta,

o fa

to d

e

a mãe

escr

ever

poe

sias e

rótic

as é

fas-

cina

nte.

Sam

anth

a diz

que o

s tex

tos

são

intr

igan

tes

e in

spira

dore

s. “É

al

go in

usita

do e

sur

pree

nden

te, e

u ad

oro

e pu

blic

o ta

mbé

m”,

con

ta. J

á Pe

dro

Luca

s di

z ac

redi

tar

que,

as-

sim c

omo

a po

esia

, o s

exo

é vi

da.

“Ent

ão, p

ra m

im, e

la é

um

a po

eta

que

fala

da

vida

de

form

a di

reta

.”

A B

ASE

DE

TU

DO

Num

a pa

ssag

em d

e ce

rca

de 3

0 an

os n

o liv

ro d

e su

a hi

stória

, apó

s

ter

deix

ado

a vi

da d

e do

més

tica,

Pi

lar

não

quer

not

ícia

s de

sua

s ex

--p

atro

as. M

ãe so

lteira

de t

rês fi

lhos

, Sa

man

tha,

25,

Ped

ro L

ucas

, 16

, e

Dan

dara

, de

7 an

os, e

com

seu

s “e

tern

os 2

9 an

os d

e id

ade”

, car

re-

ga u

m s

orris

o ab

erto

no

rosto

, ou,

co

nfor

me

se l

embr

a d

as p

alav

ras

da m

ãe, d

ona

Antô

nia,

já f

alec

ida,

pr

ocur

a se

por

tar

com

alti

vez

e

com

bril

ho n

a fa

ce o

nde

che

ga.

“Ela

é g

uerr

eira

”, a

firm

a Sa

man

-th

a. P

ilar c

riou

seus

três

filh

os c

om

a aus

ênci

a pat

erna

, poi

s ele

s a ab

an-

dona

ram

grá

vida

. En

treta

nto,

da

mes

ma

man

eira

que

Pila

r diz

que

o pa

i nu

nca

fez

falta

, su

a fil

ha m

ais

velh

a de

clar

a qu

e, m

esm

o ac

han-

do a

figu

ra p

ater

na i

mpo

rtan

te,

a

ausê

ncia

del

e nã

o a

impe

diu

de se

r al

guém

. Par

a Pe

dro

Luca

s, o

pai t

er

“aba

ndon

ado

o ba

rco”

foi c

ovar

dia.

par

a Pi

lar,

sobr

am o

s elo

gios

: “O

que

ela

rep

rese

nta

na m

inha

vi

da? O

nom

e de

la j

á diz!

É q

uem

m

e su

stent

a fin

ance

iram

ente

, em

o-ci

onal

men

te. N

ão é

só m

inha

mãe

, é

min

ha m

elho

r am

iga”

, diz

Pedr

o.

“O m

elho

r que

ela m

e deu

foi d

isci-

plin

a, sa

be? S

aber

cheg

ar, s

aber

sair.

(..

.) E

resp

eita

r tud

o e

todo

s.”

Dan

dara

, a

caçu

la,

vê e

m P

ilar

o e

xem

plo

de

nun

ca d

esist

ir do

qu

e se

que

r. Já

a m

ais

velh

a a

de

scre

ve c

omo

um

a gr

ande

m

ãe,

insp

iraçã

o,

forç

a,

com

o u

ma

amig

a a

mad

a. “

Ela,

par

a m

im,

é a

bas

e d

e tu

do”.

Chaia Dechen

Zá Lacerda

“Até

os j

oelh

os sã

o de

seja

dos

Ah!

Joel

hos d

e pu

ra se

duçã

o!N

um c

ruza

r de

per

nas,

até

pro

voca

m e

reçã

o.”

Trec

ho d

o po

ema

Form

as F

emin

is, d

e Pila

r, re

tirad

o do

livr

o Pa

lavr

as In

acad

êmic

as

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NA

EST

AN

TE

32

P

ilar /

Edi

ção

nº. I

Pila

r / E

diçã

o nº

. I

3

3

Geraç

ão mim

eógraf

o do

presen

te

Apesa

r das

difi

culd

ades

enco

ntra

das n

a fo

rmaç

ão d

e um

púb

lico

leito

r, re

ssurg

imen

to d

a de

nom

inad

a lit

erat

ura

mar

gina

l mos

tra q

ue a

s prá

ticas

de l

eitur

a, a

os p

ouco

s, est

ão m

udan

do

A re

pree

nsão

à liv

re m

anife

staçã

o m

arco

u a d

éca-

da d

e 19

70. A

lém

das

con

sequ

ênci

as p

olíti

cas

que

a di

tadu

ra m

ilita

r tro

uxe

para

o B

rasil

, o p

erío

do

tam

bém

dei

xou

rastr

os n

a lit

erat

ura.

A g

eraç

ão m

i-m

eógr

afo

– co

mo

ficou

con

heci

da –

drib

lou

a ce

nsur

a po

r m

eio

da d

ifusã

o de

obr

as d

e fo

rma

clan

desti

na.

Por c

ircul

ar à

mar

gem

do

criv

o da

s edi

tora

s, ga

nhou

a

alcu

nha

de li

tera

tura

mar

gina

l. At

ualm

ente

, ap

ós a

dem

ocra

cia

ter

expu

lsado

a

dita

dura

par

a os

livr

os d

e H

istór

ia, o

gên

ero

liter

ário

or

igin

ado

há 4

0 an

os c

ontin

ua in

fluen

cian

do a

s nov

as

gera

ções

. D

esta

vez

, no

ent

anto

, lit

erat

ura

mar

gina

l qu

er d

izer

outr

a co

isa e

mor

a em

out

ro lu

gar.

Cria

da

à m

arge

m c

omo

form

a de

dar

voz

a q

uem

não

pod

ia

ter o

pini

ões,

mig

rou

para

as p

erife

rias d

a ci

dade

e e

stá

repr

esen

tand

o a

gora

nov

os e

scrit

ores

que

vee

m d

e pe

rto

os

dile

mas

da

de

sigua

ldad

e s

ocia

l qu

e,

ao

cont

rário

da

dita

dura

mili

tar,

con

tinua

m p

rese

ntes

e

faze

ndo

estr

agos

. Lo

nge

das

bibl

iote

cas

e liv

raria

s da

cid

ade,

con

vi-

vend

o co

m u

m s

istem

a ed

ucac

iona

l ine

ficie

nte,

mo-

rado

res d

as p

erife

rias d

a ca

pita

l pau

lista

cru

zam

pel

as

ruas

da

cida

de c

om s

eus

escr

itore

s fa

vorit

os. E

les

es-

tão

vivo

s e

os r

epre

sent

am: F

erré

z, Sé

rgio

Vaz

, Alla

n Sa

ntos

da

Rosa

, Sac

olin

ha, A

less

andr

o Bu

zzo.

Jov

ens

escr

itore

s que

enc

ontr

aram

na

escr

ita u

ma

man

eira

de

luta

r pe

los d

ireito

s da

soci

edad

e, a

mpl

ifica

r o

alca

nce

da p

rópr

ia v

oz e

tam

bém

fala

r de

amor

.

Entre

es

ses

novo

s es

crito

res,

estã

o aq

uele

s qu

e su

aram

a c

ami-

sa p

ara

publ

icar

o p

rimei

ro l

ivro

. É

o ca

so d

e G

uido

Cam

pos,

que

perm

anec

eu l

avan

do b

anhe

iro d

e fá

bric

a po

r um

ano

e q

uatro

me-

ses

para

efe

tivar

seu

son

ho.

Com

o

dinh

eiro

do

Segu

ro D

esem

pre-

go, a

plic

ou p

arte

do

valo

r rec

ebid

o no

pro

jeto

lite

rário

. Em

ago

sto d

e 20

13, n

o la

nçam

ento

do

livro

Selv

a D

’Ped

ras,

era

poss

ível

ver

esta

mpa

-do

o n

ome

de G

uido

. Son

ho re

ali-

zado

. Cur

sand

o Te

olog

ia e

atu

ando

co

mo

cons

ulto

r em

um

cen

tro d

e de

pend

ente

s quí

mic

os, G

uido

lem

-br

a que

não

teve

apoi

o de

nen

hum

a ed

itora

na s

ua p

ublic

ação

de e

strei

a.

“É a

lgo

inde

pend

ente

des

de a

pri-

mei

ra l

inha

esc

rita

até

a fe

sta d

e la

nçam

ento

”, e

nfat

iza.

O i

nter

esse

de

Cam

pos p

or li

tera

tura

com

eçou

em

199

5 co

m o

rap.

As l

etra

s pro

-du

zidas

o fi

zera

m s

e in

tere

ssar

por

po

esia

, “m

esm

o sa

bend

o qu

e já

fa-

zia p

oesia

”. N

asci

a al

i sua

lite

ratu

ra

mar

gina

l. Pa

ra o

dou

tor

em L

etra

s pe

la

Pont

ifíci

a U

nive

rsid

ade

Cat

ólic

a do

Rio

de

Jane

iro,

Paul

o Ro

bert

o To

nani

, a li

tera

tura

mar

gina

l atu

al

é iss

o m

esm

o: u

ma p

rodu

ção

liter

á-ria

feita

pel

os au

tore

s que

estã

o fo

ra

dos

cent

ros

hege

môn

icos

. “É

im

-po

rtan

te o

bser

var a

pró

pria

orig

em

do d

iscur

so: d

e on

de e

sses

aut

ores

es

tão

fala

ndo?

Ele

s es

tão

fala

ndo

a pa

rtir

de u

m lu

gar e

spec

ífico

, estã

o es

crev

endo

de

dent

ro d

a pr

ópria

pe

rifer

ia e

, na

mai

oria

dos

cas

os,

sobr

e el

a”, e

xplic

a.

Apes

ar d

o cr

esci

men

to d

este

gê-

nero

lite

rário

, o

espa

ço d

estin

ado

pela

s ed

itora

s ao

s no

vos

conj

unto

s de

esc

ritor

es a

inda

é r

estr

ito. M

ui-

tos d

eles

edita

m su

as o

bras

. “O

pro

-bl

ema

da c

ircul

ação

da

obra

lite

rá-

ria e

da in

exist

ênci

a de

polít

icas

de

ince

ntiv

o à

cr

iaçã

o lit

erár

ia

não

fica

restr

ito a

pena

s ao

s aut

ores

pe-

rifér

icos

, alc

ança

todo

s os e

scrit

ores

em

form

ação

”, afi

rma o

espe

cial

ista.

C

om e

spaç

o re

strito

nas

edi

to-

ras,

a lit

erat

ura

mar

gina

l, no

enta

n-to

, co

meç

a a

cham

ar a

tenç

ão d

os

mei

os ac

adêm

icos

no

Bras

il e n

o ex

-te

rior.

Um

a de

ssas

inte

ress

adas

em

Gui

do C

ampo

s tra

balh

ou p

or

um a

no e

qua

tro

mes

es e

m u

ma

fábr

ica

para

lanç

ar o

pri

mei

ro

livro

conh

ecer

mai

s sob

re o

ass

unto

, Lu-

cía T

enni

na re

solv

eu e

mba

rcar

par

a o

Bras

il ap

ós te

rmin

ar a

gra

duaç

ão

em L

etra

s na

Arg

entin

a. “

Esta

va

mui

to c

ansa

da d

os p

apos

da

críti

ca

sobr

e as

mes

mas

tem

átic

as e

pre

ci-

sava

sair

da c

adei

ra e

estu

dar c

oisa

s vi

vas.”

Res

olve

u fa

zer M

estr

ado

em

Antro

polo

gia S

ocia

l e se

apai

xono

u.

O in

tere

sse p

elas

man

ifesta

ções

lite

-rá

rias,

prin

cipa

lmen

te as

bra

silei

ras,

veio

log

o de

pois.

Fez

pós

-gra

dua-

ção

em C

ultu

ra B

rasil

eira

e a

ssist

iu

Por

Cín

tia

Fer

reir

a e

Est

épha

ne R

anni

Arquivo Pessoal

Kelly Ramos

“A p

alav

ra é

viv

a e

não

pode

ser

mor

ta p

or n

ossa

s id

eolo

gias

.” Gui

do C

ampo

s, esc

ritor

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34

P

ilar /

Edi

ção

nº. I

Pila

r / E

diçã

o nº

. I

3

5

NA

EST

AN

TE

a u

m

sem

inár

io

que

a

mar

cou

para

sem

pre.

O

tem

a er

am a

s C

ultu

ras

Pe-

rifér

icas

, e

a a

ula

foi

min

istra

da

pela

pro

fess

ora

Hel

oísa

Bua

rque

de

Hol

land

a. “

Nes

se d

ia e

u de

scob

ri o

mun

do d

a lit

erat

ura

mar

gina

l e

não

pare

i de

proc

urar

coi

sas

a re

s-pe

ito”,

lem

bra.

Ass

im, “

desc

onsid

e-ra

ndo

toda

s as c

rític

as”,

via

jou

para

o Pa

ulo

para

pes

quisa

r. Ai

nda

é ce

do, m

as m

uito

s aca

dêm

icos

– a

s-sim

com

o Lu

cía

– já

reco

nhec

em a

im

port

ânci

a de

ste g

êner

o lit

erár

io.

ESPA

ÇO

NA

CA

DEI

RA

“Tod

a lit

erat

ura

tem

val

or. N

ão

há r

azão

par

a en

tre o

s no

vos

escr

i-to

res

não

have

r ge

nte

da m

elho

r qu

alid

ade.”

Que

m d

iz iss

o é

o pr

e-sid

ente

da

Acad

emia

Pau

lista

de

Letr

as (

APL)

, An

tôni

o Pe

ntea

do

Men

donç

a. S

egun

do e

le, a

pesa

r de

não

have

r re

striç

ão p

or p

arte

dos

es

crito

res,

há a

inda

um

des

conh

e-ci

men

to d

eles

a r

espe

ito d

a AP

L.

Men

donç

a acr

edita

que

nad

a im

pe-

de q

ue fu

tura

men

te u

m es

crito

r pe-

rifér

ico

poss

a oc

upar

um

a ca

deira

na

Aca

dem

ia.

“Sim

, ac

redi

to,

por

que

não

pode

ria?

Se e

le s

e ca

ndi-

data

r e ti

ver c

urríc

ulo,

com

cer

teza

se

rá e

leito

”, a

firm

a. N

o en

tant

o,

Lucí

a ai

nda

vê r

esist

ênci

a do

s m

eios

lit

erár

ios

trad

icio

nais.

“E

u so

fri, a

liás,

um m

onte

de

situa

ções

pou

co f

elize

s po

r co

nta

do m

eu o

bjet

o de

es

tudo

. Pen

so q

ue m

uito

s cr

ítico

s lit

erár

ios

aind

a se

jul

gam

num

pat

amar

m

ais a

lto e

m q

ue p

odem

fa

lar

‘isto

aqu

i é

bom

, ist

o aq

ui é

ruim

’”, a

valia

.

Já G

uido

Cam

pos

é ot

imist

a a

esse

res

peito

e a

cred

ita q

ue o

qua

-dr

o ao

s po

ucos

está

mud

ando

. “A

prop

osta

não

pod

e se

r de

alg

o fe

-ch

ado.

Sen

ão ca

ímos

no

que s

empr

e te

ntam

os c

omba

ter:

na e

xclu

são.

Ex

clus

ão é

exc

lusã

o, n

ão i

mpo

rta

se e

la p

arte

do

rico

ou d

o po

bre.

A

pala

vra

é vi

va e

não

pod

e s

er

mor

ta p

or n

ossa

s id

eolo

gias

”, d

iz o

esc

ritor

. No

dia

do l

ança

men

to

do s

eu p

rimei

ro li

vro,

em

27

de a

gosto

, ao

ser

per

gun-

tado

sob

re o

“f

rioz

inho

na

bar

riga”

, tã

o co

mum

na

s estr

eias

, re

spon

deu:

“A

cho

que

vai

dar

cer-

to, é

alg

o fe

i-to

par

a o

bem

, en

tão

não

va

i da

r er

rado

.” As

nhec

em a

lit

erár

io.

RA alor

. Não

vos

escr

i-a

mel

hor

o é

o pr

e-au

lista

de

Pent

eado

ap

esar

de

part

e do

s de

scon

he-

da A

PL.

ada i

mpe

-cr

itor p

e-a

cade

ira

dito

,po

r se

can

di-

m c

erte

za

enta

nto,

cia

dos

onai

s. e

de

por

de

s

pem

27

de a

gosto

, ao

ser

per

gun-

tado

sob

re o

“f

rioz

inho

na b

arrig

a”,

tão

com

umna

s estr

eias

,re

spon

deu:

“A

cho

que

vai

dar

cer-

to, é

alg

o fe

i-to

par

a o

bem

, en

tão

não

va

i da

r er

rado

.” As

Pres

iden

te d

a A

PL

diz

que

o di

álog

o es

trut

urad

o e

form

al

da A

cade

mia

com

a

liter

atur

a pe

rifé

rica

ai

nda

não

ocor

reu

influ

ênci

as l

iterá

rias

de C

ampo

s –

biog

rafia

s de

Mar

tin L

uthe

r K

ing,

M

alco

m X

e G

andh

i –

dão

pis-

tas

do t

om c

onci

liado

r d

e q

uem

co

nviv

e no

s do

is m

eios

e s

abe

que

não

há m

al n

enhu

m e

m d

ialo

gar

com

as d

ifere

nças

.

O Q

UE

ELES

LEE

M

Com

o to

do n

ovo

gêne

ro, é

pos

-sív

el o

bser

var

influ

ênci

as d

e ou

tras

es

cola

s lit

erár

ias,

com

o o

Mod

er-

nism

o. U

m d

os c

riado

res d

o Sa

rau

da C

oope

rifa

e at

ual

coor

dena

dor

do sa

rau

A Pl

enos

Pul

mõe

s, M

arco

An

tôni

o Ia

doci

cco

– vu

lgo

Mar

co

Pezã

o –

intit

ula-

se “

poet

a da

per

i-fe

ria”

e afi

rma

que

lê se

mpr

e e

que

os

poet

as

trad

icio

nais

são

obrig

atór

ios.

“O

Mod

er-

nism

o e

stá p

rese

nte

em

toda

lite

ratu

ra,

na p

erifé

rica

tam

-bé

m.

É im

poss

ível

se

r e

sque

ci-

do.

Som

os c

ontin

uida

de d

ele”

. A

prin

cipa

l i

nfluê

ncia

do

es

crito

r é

Sol

ano

Trin

dade

, qu

e f

az

da

poes

ia e

da

art

e u

m s

ervi

ço d

e tr

ansfo

rmaç

ão so

cial

. Já

par

a o

grad

uado

em

Let

ras

e at

ivist

a cu

ltura

l Ad

emiro

Alv

es,

o Sa

colin

ha, o

inte

ress

e pe

la li

tera

tu-

ra m

argi

nal

veio

prim

eiro

, gr

aças

à

frequ

ênci

a co

nsta

nte

em s

arau

s. D

epoi

s se

inte

ress

ou p

or e

scrit

ores

tr

adic

iona

is.

Seu

rom

ance

, G

ra-

duad

o em

Mar

gina

lidad

e, fo

i ind

i-ca

do ao

prê

mio

Jabu

ti, em

200

5. O

qu

arto

livr

o, E

staçã

o Te

rmin

al, t

eve

com

o in

spira

ção

José

Lin

s do

Rego

. “E

u co

stum

o di

zer q

ue e

u o

roub

ei

do Jo

sé L

ins d

o Re

go, p

or m

eio

do

livro

Fog

o M

orto

”, d

etal

ha.

Saco

linha

diz

escr

ever

par

a a

co-

mun

idad

e per

iféric

a com

o o

bjet

ivo

de cr

iar n

ovos

leito

res,

aum

enta

ndo

assim

o c

ircul

o vi

cios

o de

lite

ratu

-

ra. Q

uant

o m

ais p

rátic

as d

e le

itura

, m

ais

gent

e in

tere

ssad

a em

esc

reve

r ta

mbé

m. “

Esta

mos

viv

endo

a ép

oca

do m

oder

nism

o na

per

iferia

, que

é

para

dar

voz

aos

exc

luíd

os. N

unca

ho

uve t

anta

gen

te es

crev

endo

, tan

ta

gent

e le

ndo

na

per

iferia

co

mo

agor

a”, a

firm

a.

Para

a e

scrit

ora

Jéss

ica

Balb

ino,

es

te g

êner

o po

de se

r defi

nido

com

o “a

voz

da

perif

eria”

. El

a, q

ue a

pre-

sent

a w

orks

hops

sobr

e lit

erat

ura

pe-

rifér

ica

e cu

ltura

mar

gina

l, re

vela

qu

e os

esc

ritor

es d

a pe

rifer

ia n

ão

estã

o re

prod

uzin

do o

Mod

erni

smo,

m

as, s

im, f

azen

do o

que

foi

neg

a-do

a e

les.

“É q

ue à

s ve

zes

é m

uito

di

fícil

para

a el

ite co

nceb

er e

imag

i-na

r que

pre

tos,

pobr

es e

per

iféric

os

leem

, esc

reve

m e

edi

tam

seu

s pr

ó-pr

ios l

ivro

s, m

as is

so é

um

a re

alid

a-de

”, a

firm

a. O

sara

u, n

esse

sent

ido,

é

o es

paço

ond

e es

ses

escr

itore

s são

ou

vido

s e o

s liv

ros g

anha

m v

ida

na

boca

dos

poe

tas.

Domínio Público

“Nun

ca h

ouve

tant

a ge

nte

escr

even

do, t

anta

gen

te

lend

o na

per

iferi

a co

mo

agor

a”.

Saco

linha

, escr

itor

O r

oman

ce E

staç

ão T

erm

inal

, de

Sac

olin

ha, f

oi in

spir

ado

na

obra

Fog

o M

orto

, de

José

Lin

s do

Reg

o, a

o la

do

Arquivo Pessoal

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36

P

ilar /

Edi

ção

nº. I

NA

EST

AN

TE

Ao ab

rir B

elved

ere,

a im

-pr

essã

o qu

e fic

a é

de

que

Cha

cal a

cabo

u de

se

sent

ar

a um

a m

esa

de b

ar p

ara

cont

ar

suas

hist

ória

s. Lo

nge

de t

raze

r aq

uela

asp

erez

a do

s po

emas

sé-

rios,

o es

crito

r m

ostr

a a

leve

za

de q

uem

peg

a as p

alav

ras n

o ar

e fa

z um

vers

inho

aqui

, out

ro ac

o-lá

, des

pret

ensio

sam

ente

.U

m d

os m

ais r

epre

sent

ativ

os

poet

as

da

liter

atur

a m

argi

nal

da d

écad

a de

197

0 –

quan

do

poes

ia

mar

gina

l sig

nific

ava

a pr

oduç

ão

arte

sana

l da

s ob

ras

por

mei

o do

s m

imeó

graf

os –

R

icar

do C

arva

lho

de D

uart

e, o

C

haca

l, pu

blic

ou s

eu p

rimei

ro

livro

, Mui

to P

raze

r, Ri

card

o, e

m

1971

. A

part

ir da

í, su

rgira

m

Preç

o da

Pa

ssage

m,

Amér

ica,

Qua

mpé

rius,

Olh

os

Verm

elhos

, N

ariz

Ani

z, B

oca

Roxa

, D

rops

de

Ab

ril,

Com

ício

de

Tudo

,

Letra

Elét

rika

e A

Vida

é C

urta

pa

ra s

er P

eque

na.

Belv

eder

e é

a

col

etân

ea

dess

es

poem

as

e m

ais

algu

ns i

nédi

tos.

Na

obra

, or

gani

zada

pe

la

Cos

ac

Nai

fy,

a in

fluên

cia

de

poet

as

mod

erni

stas

com

o O

swal

d de

An

drad

e é

uma

cons

tant

e das

poe

sias d

e Cha

cal.

Com

o, p

or ex

empl

o, q

uand

o el

e co

nvid

a a

pala

vra

a “d

esca

nsar

em

paz

” qu

ando

ela

per

der

o se

ntid

o (B

em-v

inda

). Es

se é

o t

eor

de B

elved

ere:

brin

cade

ira

de p

alav

ras,

narr

a-çã

o do

cot

idia

no,

sens

ação

de

esta

r con

vers

ando

com

um

am

i-go

, na

mes

a do

bar

, à b

eira

da

prai

a. O

leito

r ex

trai

da

obra

a

leve

za d

e qu

em q

uer

cont

inu-

ar a

bat

er p

apo.

O d

iálo

go d

e al

gum

as h

oras

com

Cha

cal t

er-

min

a co

m o

poe

ta a

grad

ecen

do

“pel

a te

nsão

di

spen

sada

”.

se

mpr

e o

mom

ento

em

que

a

conv

ersa

tem

que

find

ar. C

omo

di

z o

poet

a: “

Já q

ue é

pro

ibi-

do p

isar

na g

ram

a, o

jei

to é

de

itar

e ro

lar”

.

Par

a Br

isa,

do p

oeta

e

cria

dor

do m

ovim

ento

So

bren

ome

Libe

rdad

e, N

i Br

i-sa

nt, t

orna

-se

uma

intro

spec

ção

de s

entid

os e

sen

timen

tos.

Por

mei

o da

s pal

avra

s, o

baia

no q

ue

mig

rou

para

São

Pau

lo p

ropo

r-ci

ona

ao le

itor u

m c

onvi

te à

re-

flexã

o. E

ntre

tant

o, em

par

te d

os

poem

as,

não

espe

re e

ncon

trar

cl

aram

ente

o

signi

ficad

o do

s ve

rsos

pos

tos

ao l

ongo

das

94

pági

nas

da o

bra

– é

nece

ssár

io

mer

gulh

ar n

as id

eias

do

escr

itor

para

des

envo

lver

as

suas

pró

-

pria

s opi

niõe

s. N

essa

via

gem

, re

gada

a c

rític

as so

ciai

s, ilu

stra-

ções

, con

to d

e cas

os e

pelo

amor

à

Flor

a,

filha

do

auto

r, Br

isant

de

senv

olve

a s

ua i

mpr

essã

o da

vi

da.

Rom

ário

, se

u co

nter

râ-

neo,

que

o d

iga.

Em

Am

izad

e, Br

isant

com

part

ilha

com

Flo

ra,

por

mei

o de

um

a ca

rta,

o q

ue

um “b

ahia”

pod

e sig

nific

ar a

um

siste

ma

que

proc

ura

“ape

rtad

o-re

s de

bot

ões”

par

a tr

abal

har

a pa

rtir

de g

esto

s de

máq

uina

s.Al

ém d

isso,

Par

a Br

isa m

os-

tra

que

“sen

tir m

edo

é se

r hu

-m

ano”

, ins

tiga

a pr

ocur

ar c

ons-

tela

ções

nos

olh

os d

aque

les

ao

seu

redo

r e o

fará

grit

ar, e

m u

ma

gang

orra

do

topo

do

Ever

est:

cora

gem

, cor

agem

e c

orag

em!

Com

um

tex

to á

gil

e se

co,

com

posto

por

dos

es f

orte

s de

real

idad

e, p

erpl

exid

ade e

revo

lta,

Ferr

éz tr

az a

o le

itor,

em C

apão

Pe-

cado

, o r

etra

to d

o co

tidia

no v

ivid

o no

bai

rro

de C

apão

Red

ondo

, zon

a su

l de

São

Paul

o. A

obr

a co

nsag

rou

o es

crito

r no

gêne

ro li

tera

tura

mar

-gi

nal.

Rae

l é

o pe

rson

agem

prin

-ci

pal

da h

istór

ia.

Apai

xona

-se

por

Paul

a, n

amor

ada

de M

atch

erro

s, se

u am

igo.

A n

arra

tiva

seria

mai

s um

rom

ance

, não

foss

em o

s per

so-

nage

ns a

pres

enta

dos

em t

orno

do

amor

do

casa

l. A

viol

ênci

a pe

rcor

re

as p

ágin

as d

o liv

ro,

reve

land

o um

ba

irro

cujo

álc

ool,

tráfi

co d

e dr

ogas

e

mor

te d

e co

lega

s são

cen

as c

orri-

quei

ras,

que p

erpa

ssam

as p

esqu

isas

esta

tístic

as d

os ó

rgão

s de

segu

ranç

a e

tele

jorn

ais.

É ne

ste c

enár

io q

ue se

en

cerr

a a

leitu

ra, c

omo

uma

espé

-ci

e de

rote

iro d

e do

cum

entá

rio, n

o qu

al h

istór

ias s

ão v

istas

e m

ostr

adas

de

den

tro d

este

uni

vers

o.

His

tóri

a co

ntad

a de

de

ntro

Tod

o o

amor

, ang

ústia

, pro

-te

sto e

sonh

o de

um

gar

oto

estã

o ex

posto

s em

ver

sos

no l

ivro

Fe

licid

ade

Bras

ileira

. A

cada

lin

ha

escr

ita,

o es

crito

r M

árci

o R

icar

do

nos f

az q

uere

r ler

as p

oesia

s seg

uin-

tes.

São

187

pági

nas

que

faze

m o

le

itor

sorr

ir e

refle

tir. O

poe

ta te

m

em su

as p

oesia

s um

vas

to c

onhe

ci-

men

to d

as p

alav

ras e

é e

sse

tale

nto

que

pren

de e

faz q

uere

r ler

até

a ú

l-tim

a pá

gina

. São

rela

tos d

a ad

oles

-cê

ncia

no

Gra

jaú,

ond

e m

ora,

poe

-sia

s em

hom

enag

em à

mãe

, ver

sos

de a

mor

e a

té s

obre

pol

ítica

, um

a de

las,

com

o su

gesti

vo n

ome

de P

o-lit

icam

ente

Pol

ítico

.

Gar

oto

poli

tiza

doC

orag

em!

Poet

a da

con

vers

a

Por

Cín

tia

Ferr

eira

Por

Cam

ila

Rei

mbe

rg

Por

Jéss

ica

Via

na

Por

Est

éph

ane

Ran

ni

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CO

NV

ERG

ÊNC

IA

38

P

ilar /

Edi

ção

nº. I

Litera

tura n

o univ

erso d

igital

É poss

ível

que

voc

ê já

tenh

a se

pe

rgun

tado

alg

uma

vez:

afi-

nal,

para

que

ser

ve a

leitu

ra?

Cas

o te

nha

a so

rte

de g

osta

r de

ler,

talv

ez

não

se im

port

e com

a re

spos

ta, m

as

cons

ider

e que

a le

itura

é m

uito

mai

s qu

e di

vers

ão o

u pa

ssat

empo

. Alé

m

de n

os o

fere

cer r

otas

de f

uga p

ara o

s di

ssab

ores

do

cotid

iano

e m

ultip

li-ca

r no

ssas

exp

eriê

ncia

s in

divi

duai

s (s

eja

pela

inje

ção

de c

onhe

cim

ento

ou

pel

as p

ossib

ilida

des

inco

ntáv

eis

da fi

cção

), le

r nos

dá m

atér

ia-p

rima

para

pen

sar.

Recu

rso

útil

em q

ual-

quer

cam

po d

a vid

a – d

o tr

abal

ho à

disc

ussã

o de

rela

cion

amen

tos.

A afi

rmaç

ão d

e qu

e nu

nca

se

leu

(ou

escr

eveu

) ta

nto

com

o ne

s-se

s tem

pos d

e in

tern

et já

está

gas

ta,

mas

é p

onto

de

part

ida

para

olh

ar-

mos

out

ros

aspe

ctos

des

sa r

ealid

a-de

. Alé

m d

o ac

esso

a c

onte

údo

de

qual

idad

e e

grat

uito

(tod

o o

acer

vo

de o

bras

em

dom

ínio

púb

lico

do

Proj

eto

Gut

enbe

rg,

por

exem

plo)

te

mos

hoj

e a

opor

tuni

dade

rea

l de

qual

quer

cid

adão

pub

licar

sua

pro-

duçã

o in

tele

ctua

l – s

eja

técn

ica

ou

liter

ária

. Não

se tr

ata

mai

s do

fenô

-m

eno

dos

blog

s, vi

ceja

m h

oje

pla-

tafo

rmas

de a

utop

ublic

ação

capa

zes

de p

rovo

car

prof

unda

s m

udan

ças

no u

nive

rso

edito

rial (

na v

erda

de, a

re

volu

ção

já c

omeç

ou).

Isso

sig

ni-

fica

que

um a

utor

com

plet

amen

te

desc

onhe

cido

pod

e ed

itar

e pu

bli-

car

sua

obra

e, s

e tr

abal

har

mui

to

em to

das a

s eta

pas –

da

ediç

ão à

di-

vulg

ação

–, a

lcan

çará

o se

u pú

blic

o e

pode

rá a

té g

anha

r al

gum

din

hei-

ro. N

ão é

um

cam

inho

gar

antid

o,

mas

um

a ch

ance

par

a os

que

se d

is-põ

em a

inv

estir

mui

to e

sforç

o em

id

eias

bem

estr

utur

adas

.E

há a

inda

mai

s. A

lingu

agem

pr

atic

ada

na w

eb,

som

ada

aos

re-

curs

os t

ecno

lógi

cos

e ao

int

eres

se

de p

rofis

siona

is e

curio

sos

de d

i-ve

rsas

áre

as d

o co

nhec

imen

to, e

stá

ense

jand

o a

cria

ção

de f

orm

atos

di

stint

os d

e lit

erat

ura.

Sem

ent

rar

no m

érito

da

utili

dade

ou

do v

alor

de

corr

ente

do

acré

scim

o de

out

ros

elem

ento

s à a

rte

da p

alav

ra, i

sso

de

fato

está

aco

ntec

endo

.A

inte

graç

ão c

om f

erra

men

tas

de p

rogr

amaç

ão, o

uso

de

imag

ens

e/ou

son

s, o

hipe

rtex

to, a

s na

rrat

i-va

s vi

a re

des

soci

ais

são

uma

real

i-da

de e

pas

sara

m, i

nclu

sive,

a se

r es-

*É e

scri

tora

, eng

enhe

ira

flore

stal

, ba

ila fl

amen

co e

apa

ixon

ada

pela

pa

lavr

a co

mo

mat

éria

-pri

ma

para

a v

ida.

Esc

reve

con

tos,

pu

blic

a te

xtos

em

col

etân

eas,

re

vist

as e

por

tais

de

liter

atur

a na

web

, alé

m d

e ap

osta

r na

pu

blic

ação

“so

lo”

em e

-boo

k de

sde

2010

.

Por

Mau

rem

Kay

na*

tuda

das.

Espa

nha,

Fra

nça,

Nor

uega

e

Bras

il po

ssue

m li

nhas

de

pesq

uisa

de

dica

das à

lite

ratu

ra d

igita

l.Tu

do i

sso,

por

ém,

faz

sent

ido

não

pelo

asp

ecto

tec

noló

gico

, mas

pe

la o

port

unid

ade d

e ace

sso

à lei

tu-

ra e

mes

mo

à pr

oduç

ão e

scrit

a qu

e ge

ra. A

inda

que

boa

par

te d

a lei

tura

e

dos

text

os g

erad

os n

esse

con

tex-

to p

ossa

ser c

lass

ifica

da p

or m

uito

s cr

ítico

s com

o su

perfi

ciai

s (e

não

se

pode

neg

ar q

ue a

leitu

ra on

-line

não

fa

vore

ce a

nece

ssár

ia co

ncen

traç

ão),

alim

ento

um

a po

rção

de

otim

ismo

– de

ntre

os t

anto

s e-le

itore

s e e

-es-

crito

res

dess

e m

omen

to i

nund

ado

por

tant

os e

stím

ulos

, al

guns

fa-

rão

bom

us

o d

as

ferr

amen

tas

e

usuf

ruirã

o do

s ga

nhos

ine

rent

es à

le

itura

pro

fund

a.

Image Base

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40

P

ilar /

Edi

ção

nº. I

Pila

r / E

diçã

o nº

. I

4

1

CO

NV

ERG

ÊNC

IA

zado

s fo

ram

esc

ritos

par

a se

rem

im

pres

sos,

poré

m d

evid

o a

ques

-tõ

es d

e cu

sto fo

ram

par

a a

inte

rnet

. Se

gund

o el

e, h

á um

futu

ro p

rom

is-so

r em

term

os d

e lit

erat

ura

digi

tal.

“Rea

lmen

te l

er u

m r

oman

ce n

um

disp

ositi

vo d

esse

s é p

ior d

o qu

e le

r em

pap

el. M

as h

á ou

tro ti

po d

e li-

tera

tura

que

é f

eito

esp

ecia

lmen

te

para

as m

ídia

s dig

itais,

e lo

go m

ais

vere

mos

tam

bém

os l

ivro

s did

átic

os

mig

rare

m

para

es

sa

plat

afor

ma”

, ex

plic

a. A

lite

ratu

ra “g

enui

nam

ente

di

gita

l” a

inda

é u

m p

roje

to, m

as h

á ou

tra

ferr

amen

ta q

ue, a

tual

men

te,

é am

plam

ente

util

izada

pel

os n

ovos

es

crito

res:

o bl

og.

PLA

TAFO

RM

A D

E ES

CR

ITA

Gui

lvan

Mira

gaya

era

um

ass

í-du

o fre

quen

tado

r de s

arau

s qua

ndo

reso

lveu

cria

r um

blo

g pa

ra d

ivul

-ga

r seu

s tex

tos e

m 2

012.

Atu

alm

en-

te, é

blo

guei

ro d

o Li

tera

ttus e

Neo

Li

tera

ttus.

Form

ado

em L

etra

s pel

a U

nive

rsid

ade

Band

eira

nte

de S

ão

Paul

o (U

niba

n),

Mira

gaya

apo

nta

uma

dife

renç

a de

ler e

m m

ídia

s di-

gita

is: “

No

impr

esso

voc

ê po

de c

o-lo

car

um m

arca

dor

e le

r de

pois.

O

digi

tal

prec

isa d

e en

ergi

a pa

ra r

o-da

r. Se

cai

a lu

z ou

que

ima

o co

m-

puta

dor n

ão te

m c

omo

ler.

O li

vro

só p

reci

sa d

e um

luga

r ilu

min

ado.

Te

m e

sse

peso

”, a

nalis

a.A

gran

de r

evol

ução

na

liter

atu-

ra p

rom

ovid

a pe

la in

tern

et é

apr

o-xi

mar

leito

r e

escr

itor.

Isso

é o

que

de

fend

e o g

esto

r da C

asa d

as R

osas

, Fr

eder

ico

Barb

osa.

Par

a el

e, a

po-

pula

rizaç

ão d

a in

tern

et é

boa

prin

-ci

palm

ente

par

a a

poes

ia,

gêne

ro

que

vive

à m

ercê

do

eliti

smo

das

edito

ras.

Sua

apos

ta n

a lit

erat

ura

digi

tal

está

ger

ando

bon

s re

sulta

-do

s: se

u sit

e pe

ssoa

l co

m p

oem

as

publ

icad

os j

á ch

egou

a m

ais

de 1

milh

ão d

e ac

esso

s. N

o ca

so d

o im

-pr

esso

, a h

istór

ia é

outr

a. “E

u te

nho

oito

livr

os p

ublic

ados

. Des

ses o

ito.

um

vend

eu

20

mil

exe

mpl

ares

, qu

e é

um

re

cord

e ab

solu

to d

e po

esia

. Mas

dos

out

ros

exem

plar

es

há m

ais o

u m

enos

mil

vend

idos

. Se

for

som

ar t

udo,

ach

o qu

e nã

o dá

30

mil

exem

plar

es v

endi

dos”

, con

ta

Barb

osa.

BEC

O V

IRT

UA

L

A di

ficul

dade

de

conc

retiz

ar o

so

nho

do l

ivro

im

pres

so t

ambé

m

bate

u à

port

a de

Már

cio

Mar

celo

do

Nas

cim

ento

Sen

a. E

m 2

007,

o

escr

itor

esta

va d

esan

imad

o co

m o

s

Mar

celo

Spa

ldin

g de

senv

olve

pr

ojet

os d

e lit

erat

ura

digi

tal

com

uti

lizaç

ão d

e al

gori

tmos

de

prog

ram

ação

e h

iper

text

o

Um es

critor

a cad

a cliq

ue

Hou

ve u

m t

empo

em

que

a l

eitu

ra e

ra u

ma

ativ

idad

e es

senc

ialm

ente

ind

ivid

ual.

Poré

m,

o cr

esci

men

to e

a e

volu

ção

da in

tern

et e

stão

cria

ndo

nova

s fo

rmas

de

vive

ncia

r a

liter

atur

a, in

clus

ive

com

o

surg

imen

to d

e no

vas

mod

alid

ades

lite

rária

s, pe

nsa-

das e

spec

ialm

ente

par

a as

pla

tafo

rmas

dig

itais.

Hip

er-

text

os,

anim

açõe

s m

ultim

ídia

s, co

mpa

rtilh

amen

to,

inte

rativ

idad

e. E

stas

ferr

amen

tas

estã

o m

odifi

cand

o a

form

a de

con

tar h

istór

ias e

traz

endo

nov

os d

esafi

os. A

w

eb 3

.0 es

tá m

udan

do a

form

a com

o as

pes

soas

inte

ra-

gem

com

os l

ivro

s e se

us a

utor

es.

O d

outo

r em

Lite

ratu

ra, p

rofe

ssor

de

Líng

ua P

or-

tugu

esa n

a Lau

reat

e Int

erna

tiona

l Uni

vers

ities

(Uni

rit-

ter)

e ed

itor d

o po

rtal

Lite

ratu

ra D

igita

l, M

arce

lo S

pal-

ding

, ac

redi

ta q

ue e

scre

ver

no m

eio

digi

tal v

ai a

lém

de

que

stões

esté

ticas

. “An

tes o

aut

or p

ensa

va m

uito

na

ilustr

ação

e n

o de

sign,

ago

ra o

pro

jeto

lite

rário

fina

l te

m m

uito

mai

s pos

sibili

dade

s”, a

firm

a. P

ara S

pald

ing,

o au

tor

de li

vros

dig

itais

tam

bém

dev

e te

r um

bom

pl

anej

amen

to p

ara q

ue h

aja i

nter

ação

mul

timíd

ia co

m

a hi

stória

que

está

send

o co

ntad

a.

Os p

roje

tos L

itera

tura

Dig

ital,

Min

icont

os C

olor

idos

e

Hip

erco

nto

– um

Estu

do em

Ver

melh

o fo

ram

idea

liza-

dos

por

ele.

O o

bjet

ivo

é pr

oduz

ir um

a lit

erat

ura

ge-

nuin

amen

te d

igita

l, im

poss

ível

de

ser

repr

oduz

ida

no

pape

l, co

m e

feito

s son

oros

e a

pos

sibili

dade

de

o le

itor

esco

lher

as c

enas

do

cont

o, a

ltera

ndo

o fim

da

histó

ria

depe

nden

do d

a se

leçã

o. O

pro

fess

or d

iz qu

e ut

iliza

al-

gorit

mos

de

prog

ram

ação

e h

iper

text

o.

Para

o e

spec

ialis

ta, o

esc

ritor

tem

um

can

al d

ireto

co

m o

seu

leito

r. “R

ealm

ente

, o o

fício

de

escr

ever

se

torn

ou m

enos

solit

ário

, ago

ra o

escr

itor o

u o

jorn

alist

a re

cebe

algu

ns re

cado

s, al

guns

feed

back

s do

seu

públ

ico,

o

que

dá m

uito

mai

s se

gura

nça

e in

cent

ivo

para

que

co

ntin

ue p

rodu

zindo

”, a

valia

. Sp

aldi

ng le

mbr

a ai

nda

que

mui

tos

livro

s di

gita

li-

A te

cnol

ogia

aux

ilia

na p

rom

oção

de n

ovos

escr

itore

s e a

form

a de

escr

ever

se to

rna

men

os so

litár

ia, g

raça

s à in

tera

ção

e ao

com

part

ilham

ento

Por

Cín

tia

Fer

reir

a e

Est

épha

ne R

anni

Stock.Xchng

Arquivo pessoal

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42

P

ilar /

Edi

ção

nº. I

Pila

r / E

diçã

o nº

. I

4

3

CO

NV

ERG

ÊNC

IA

ACA

DEM

IA O

N-L

INE

Con

teúd

o co

labo

rativ

o,

auto

publ

icaç

ão,

blog

ueiro

s co

mpe

tindo

com

crít

icos

li-

terá

rios

e se

ndo

cobi

çado

s pe

las

edito

ras,

e-bo

oks,

edi-

tora

s m

igra

ndo

para

pla

ta-

form

as d

igita

is, r

edes

soc

iais

liter

ária

s. N

unca

se le

u ta

nto,

ce

rto?

Err

ado.

A d

outo

ra e

m

Letr

as e

pro

fess

ora

da U

ni-

vers

idad

e de

San

ta C

ruz

do

Sul

(UN

ISC

), An

a C

láud

ia

Mur

ani

Dom

ingo

s, ac

redi

ta

que

o le

itor a

tual

– a

pesa

r de

circ

ular

por

um

a va

rieda

de

de te

xtos

– te

m ca

da v

ez m

ais

dific

ulda

de d

e con

cret

izar e

s-se

s te

xtos

, de

lê-lo

s em

pro

-fu

ndid

ade.

“É

que

a pr

átic

a le

itora

tem

-se

restr

ingi

do a

ce

rta

horiz

onta

lidad

e, t

ípic

a do

s tex

tos n

a in

tern

et, e

pro

-vo

ca q

ue o

lei

tor

nave

gue,

de

slize

, po

r m

uito

s te

xtos

, se

m i

dent

ifica

r su

as b

orda

s –

gêne

ro,

obje

tivo,

fun

ção,

ef

eito

, et

c.”,

expl

ica.

Seg

un-

do e

la,

a pr

átic

a da

lei

tura

ve

rtic

al –

con

cent

rada

e p

ro-

fund

a – é

cada

vez m

enor

. No

enta

nto,

o p

rofe

ssor

e do

utor

em

Let

ras,

Pedr

o Pi

res B

essa

, ac

redi

ta q

ue a

inte

rnet

pos

sa

ser

vant

ajos

a pa

ra a

lite

ratu

-ra

. “Q

uand

o be

m u

tiliza

da, a

in

tern

et d

á ace

sso

a tod

o tip

o de

lite

ratu

ra e

à su

a m

anip

u-la

ção,

alg

o ja

mai

s so

nhad

o an

tes

dess

e fa

to”,

re

ssal

ta.

Se

gund

o e

le,

a

liter

atur

a

hoje

já t

raz

mar

cas

da i

n-te

rnet

que

o p

odem

se

r

desc

arta

das.

Res

ta s

aber

se

na

s pró

xim

as d

écad

as a

web

fa

rá a

s pe

ssoa

s cu

rtire

m a

id

eia,

lite

ralm

ente

.

inte

rnet

é a

for

ma

mai

s pr

átic

a e

rápi

da d

e se

con

quist

ar o

s le

itore

s, fa

cilit

ando

par

a os

aut

ores

a in

tera

-çã

o c

om

o le

itor”

, ex

plic

a.

Ela

cont

a qu

e es

tá se

mpr

e bu

scan

do se

re

cicl

ar, a

cess

ando

pal

estr

as e

víd

e-os

de

outro

s es

crito

res,

adqu

irind

o liv

ros

e pr

estig

iand

o o

lanç

amen

to

de n

ovos

tale

ntos

. Em

bre

ve, l

ança

rá u

ma

anto

lo-

gia

de c

ircul

ação

mun

dial

, co

m a

pa

rtic

ipaç

ão d

e de

z po

etas

da

Aca-

dem

ia B

rasil

eira

de

Letr

as (

ABL)

e

da U

BE P

aulis

ta,

dire

tam

ente

da

Albâ

nia

para

o m

undo

. “G

raça

s à

inte

rnet

, o m

undo

virt

ual e

stá sa

in-

do p

ara

o m

undo

real

”, d

iz.

Mui

tas

disc

ussõ

es c

erca

m a

li-

tera

tura

das

pla

tafo

rmas

dig

itais.

Sp

aldi

ng a

cred

ita q

ue a

int

erne

t ve

io c

ompl

emen

tar

form

atos

tra

-di

cion

ais.

“Qua

ndo

surg

iu o

cin

e-m

a, m

uito

s ac

hara

m q

ue a

caba

ria

o te

atro

. Dep

ois,

quan

do s

urgi

u a

tele

visã

o, a

char

am q

ue a

caba

ria o

dio.

Qua

ndo

surg

iu a

fot

ogra

fia,

acha

ram

que

aca

baria

a p

intu

ra.

Nad

a di

sso

acon

tece

u, o

tea

tro,

o rá

dio

e a

pint

ura

se tr

ansfo

rmar

am

com

o su

rgim

ento

de

nova

s for

mas

de

art

e, m

as n

ão a

caba

ram

”, d

efen

-de

. Se

gund

o el

e, p

esso

as q

ue n

ão

gosta

m d

e le

r ou

que

leem

sup

er-

ficia

lmen

te v

ão c

ontin

uar

fugi

ndo

dos p

roje

tos l

iterá

rios,

tant

o no

pa-

pel q

uant

o no

com

puta

dor.

E es

sa é

uma

real

idad

e q

ue t

anto

a l

ite-

ratu

ra i

mpr

essa

qua

nto

a d

igita

l ai

nda

com

part

ilham

.

obstá

culo

s en

frent

ados

par

a pu

bli-

car

seus

tex

tos

e, p

rinci

palm

ente

, pa

ra la

nçar

seu

prim

eiro

livr

o, C

asa

de P

edra

. N

a ép

oca,

a m

oda

em

term

os d

e re

de s

ocia

l era

o O

rkut

hoje

tão

ant

iqua

do q

uant

o us

ar

mul

let c

omo

cort

e de

cab

elo.

Sen

a pe

nsou

em

seu

son

ho d

e pu

bli-

car

uma

obra

e o

lhou

a p

ágin

a do

O

rkut

abe

rta:

nas

cia

o Be

co d

os P

o-et

as, u

ma

com

unid

ade

cria

da p

ara

que

os a

utor

es p

udes

sem

com

par-

tilha

r sua

s exp

eriê

ncia

s e m

anus

cri-

tos.

A id

eia

deu

tão

cert

o qu

e vi

-ro

u re

de s

ocia

l, ag

rego

u po

etas

do

Ork

ut e

hoj

e es

tá p

rese

nte

não

na i

nter

net:

o pr

ojet

o vi

rou

tam

-bé

m e

dito

ra d

e liv

ros.

O G

rupo

Edi

toria

l Be

co d

os

Poet

as E

scrit

ores

– q

ue c

omeç

ou

com

doi

s liv

ros –

já a

judo

u m

uito

s es

crito

res

a re

aliza

rem

o s

onho

da

publ

icaç

ão.

“Hoj

e,

com

os

do

is qu

e es

tão

send

o la

nçad

os,

são

71

obra

s”,

cont

a Se

na.

Atua

lmen

te,

o sit

e co

ntab

iliza

3

milh

ões

de

visu

aliza

ções

des

de s

ua c

riaçã

o, d

e ac

ordo

com

o id

ealiz

ador

do

grup

o.

SON

HO

S N

A R

EDE

Reco

nhec

er a

im

port

ânci

a da

in

tern

et p

ara

a lit

erat

ura

foi

o ca

-m

inho

que

o i

deal

izado

r do

Bec

o do

s Po

etas

enc

ontro

u pa

ra v

iabi

-liz

ar s

ua l

itera

tura

e a

dos

out

ros.

Isso

é o

que

faz,

atua

lmen

te, a

po-

eta

e es

crito

ra L

ucél

ia G

omes

, que

é t

ambé

m m

embr

o da

Uni

ão B

rasi-

leira

dos

Esc

ritor

es (

UBE

) do

Nú-

cleo

Pau

lista

de

Pern

ambu

co. U

ma

de s

uas

atrib

uiçõ

es é

faz

er c

onta

to

e di

vulg

ação

da

cultu

ra li

terá

ria d

o Br

asil

no e

xter

ior.

“Atu

alm

ente

, a

Cri

ador

da

rede

soci

al e

edi

tora

B

eco

dos P

oeta

s, M

árci

o Se

na

acre

dita

que

futu

ram

ente

o

celu

lar

será

o n

ovo

supo

rte

para

a

liter

atur

a

Camila Reimberg

O G

rupo

Edi

tori

al d

o Se

na, q

ue

com

eçou

com

o pá

gina

do

Ork

ut,

já la

nçou

71

obra

s

Camila Reimberg

Page 23: DEVORADORAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4662194.pdf · Também por isso um evento como o sarau fez tanto su- cesso no Brasil Colonial e Imperial até o início do século

44

P

ilar /

Edi

ção

nº. I

Pila

r / E

diçã

o nº

. I

4

5

CO

NV

ERG

ÊNC

IA

Um es

tímulo

a m

ais

Gra

de cu

rricu

lar d

as es

cola

s esta

duai

s e m

unici

pais

de S

ão P

aulo

não

cont

empl

a lit

erat

ura

mar

gina

l; po

rém

, o co

ntat

o co

m a

utor

es da

per

iferia

pod

e fun

ciona

r com

o in

cent

ivo

para

que

os a

luno

s con

heça

m o

bras

clás

sicas

O Es

tado

de

o Pa

ulo

é co

mpo

sto p

or 5

,1 m

il es

-co

las,

send

o 1,

8 m

il de

las

pert

en-

cent

es à

capi

tal.

Com

o pa

rte d

e um

ci

clo,

no

qual

toda

cria

nça

tem

di-

reito

ao

estu

do, e

m 2

013,

985

mil

novo

s al

unos

for

am m

atric

ulad

os

nesta

s in

stitu

içõe

s, co

mpo

ndo

o at

ual c

enár

io d

e 1,

2 m

ilhão

de

pes-

soas

mat

ricul

adas

no

Esta

do.

A fi

m d

e at

ingi

r o

obj

etiv

o de

es

timul

ar

a p

rátic

a d

a l

eitu

ra,

além

das

mat

éria

s co

mpo

stas

na

grad

e cu

rric

ular

de

ens

ino,

a S

e-

cret

aria

da

Edu

caçã

o d

o E

stado

de

São

Pau

lo d

esen

volv

e o

pro

je-

to S

ala

de

Lei

tura

. C

riado

em

200

9, o

pro

gram

a é

desti

nado

a a

luno

s do

6º a

o 9º

ano

do

ensin

o fu

ndam

enta

l, en

sino

mé-

dio

e ed

ucaç

ão d

e jo

vens

e a

dulto

s. D

e ac

ordo

com

a r

elaç

ão l

iber

ada

pela

Sec

reta

ria –

util

izada

a p

artir

de

201

2 –,

den

tre o

s 189

livr

os d

is-po

nibi

lizad

os p

ara

o p

roje

to,

40

são

per

tinen

tes

à d

iscip

lina

Lín

-gu

a P

ortu

gues

a.

Apes

ar d

e pr

ojet

os c

omo

este

, a

aber

tura

par

a a

liter

atur

a m

argi

nal

nas e

scol

as a

inda

não

faz

part

e do

s pl

anos

do

Esta

do. D

ifere

ntem

ente

da

pro

duzid

a na

déc

ada

de 1

970,

a

qual

era

ass

im d

enom

inad

a po

r ser

tr

ansm

itida

cla

ndes

tinam

ente

, po

r m

eio

de fo

lhet

os v

endi

dos

de m

ão

em m

ão, a

den

omin

ação

lite

ratu

ra

mar

gina

l re

tom

ada

na d

écad

a de

19

90 t

em o

utro

des

taqu

e: s

e re

fe-

re à

pro

duçã

o de

art

istas

adv

indo

s da

per

iferia

que

enc

ontr

aram

na

escr

ita u

m a

mpl

ifica

dor p

ara

expo

r id

eias

, pe

nsam

ento

s e

cotid

iano

,

além

de

busc

ar, p

or m

eio

da a

rte,

o

reco

nhec

imen

to so

cial

.Se

gund

o a

Secr

etar

ia d

e Ed

uca-

ção,

por

se

trat

ar d

e um

nov

o fo

r-m

ato

de t

exto

, não

exi

stem

pro

je-

tos e

spec

ífico

s par

a ap

rove

itam

ento

de

sta li

tera

tura

nas

esc

olas

. As

sim,

o gr

ande

pal

co d

este

gên

ero

liter

á-rio

tem

out

ro n

ome:

sara

u.

O o

rgan

izado

r do

Sar

au L

itera

-ru

a, q

ue a

cont

ece

no C

ampo

Lim

-po

, zon

a su

l de

São

Paul

o, D

árci

o Lu

iz Am

éric

o Si

lva,

co

nhec

ido

com

o G

rafit

e, de

fend

e qu

e aq

uilo

qu

e é en

sinad

o na

esco

la n

ão co

ndiz

com

o q

ue a

s pe

ssoa

s vi

vem

. Com

iss

o, S

ilva

afirm

a qu

e pr

ocur

a, p

or

mei

o do

sar

au, d

esen

volv

er o

pen

-sa

men

to c

rític

o da

s pe

ssoa

s, po

is,

segu

ndo

ele,

não

é d

o in

tere

sse

das

insti

tuiç

ões

de e

nsin

o ab

rir e

spaç

o de

refle

xão

nas e

scol

as.

De

acor

do c

om o

pro

fess

or d

e Fi

loso

fia e

poe

ta L

aude

cir

Silv

a,

dife

rent

emen

te d

as e

scol

as,

os s

a-ra

us s

ão a

ltam

ente

pol

itiza

dore

s, po

is ex

igem

das

pes

soas

um

gra

u de

co

nsci

ênci

a e

de m

ilitâ

ncia

. D

este

m

odo,

ele

diz

que

tais

even

tos

são

exce

lent

es e

spaç

os d

e fo

rmaç

ão e

fa

zem

com

que

, a

part

ir de

um

a cr

ítica

da

situa

ção

em q

ue v

ive,

o

alun

o co

mec

e a ex

igir

mai

s do

loca

l on

de e

stá in

serid

o.

UM

IM

PU

LSO

À L

EIT

UR

A

Már

io d

e An

drad

e, L

ygia

Fa-

gund

es

Telle

s, Fe

rnan

do

Pess

oa,

Shak

espe

are,

Lu

is Fe

rnan

do

Ve-

ríssim

o,

Car

los

Dru

mm

ond

de

Andr

ade,

ent

re o

utro

s, sã

o au

tore

s cu

jas

obra

s es

tão

nas

prat

elei

ras

da

Sala

de

Leitu

ra. E

ntre

tant

o, a

leitu

-ra

vol

untá

ria d

e su

as o

bras

se

dá a

pa

rtir

do c

onta

to c

om a

utor

es p

eri-

féric

os, a

os q

uais,

por

inic

iativ

a de

al

guns

pr

ofes

sore

s, o

s a

luno

s já

co

meç

am a

ser a

pres

enta

dos.

Em m

aio

de 2

013,

os

estu

dan-

tes

da E

. E.

Pro

fa.

Cla

rice

Seik

o Ik

eda

Cha

gas,

loca

lizad

a no

bai

r-ro

Cid

ade

Dut

ra, z

ona

sul d

e Sã

o Pa

ulo,

co

nhec

eram

a

liter

atur

a m

argi

nal d

e Re

gina

ldo

Ferr

eira

da

Silv

a,

conh

ecid

o po

pula

rmen

te

com

o Fe

rréz

, aut

or d

e C

apão

Pec

a-do

e M

anua

l Prá

tico

Con

tra o

Ódi

o,

entre

out

ras

obra

s. O

enc

ontro

se

deu

por m

eio

de u

ma

parc

eria

com

Por

Cam

ila

Rei

mber

g

Divulgação / Reginaldo Ferreira da Silva

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46

P

ilar /

Edi

ção

nº. I

Pila

r / E

diçã

o nº

. I

4

7

CO

NV

ERG

ÊNC

IA

o Se

sc I

nter

lago

s, ta

mbé

m d

a re

-gi

ão

sul

da

cida

de

e,

a p

artir

de

ssa

opor

tuni

dade

, a

esco

la p

as-

sou

a pr

omov

er s

arau

s. Se

gund

o a

prof

esso

ra d

e Lí

ngua

Por

tugu

esa

e co

orde

nado

ra d

o pr

ojet

o Sa

la d

e Le

itura

da

esco

la, M

arci

Ter

reng

ui

Vie

ira, a

ntes

des

ta v

isita

, os a

luno

s da

ins

titui

ção

desc

onhe

ciam

este

fo

rmat

o lit

erár

io. “

Eles

não

sabi

am

que

aqui

lo é

lite

ratu

ra”,

mas

, po

r m

eio

do e

ncon

tro,

expl

ica

ela,

os

alun

os fo

ram

apro

xim

ados

de o

bras

cl

ássic

as, c

omo

as d

e M

acha

do d

e As

sis, s

endo

esti

mul

ados

a le

r mai

s. C

omo

com

plem

enta

a t

ambé

m

prof

esso

ra d

e Lín

gua

Port

ugue

sa d

a Re

de P

úblic

a Es

tadu

al e

Mun

icip

al

de S

ão P

aulo

e a

ssíd

ua p

artic

ipan

-te

do

Sara

u da

Coo

perif

a, E

liane

D

onize

ti M

artin

s, “a

lite

ratu

ra p

e-rif

éric

a ap

roxi

ma

os e

duca

ndos

da

leitu

ra e

, a p

artir

del

a, e

les

pode

m

part

ir pa

ra o

s cl

ássic

os”.

Seg

undo

El

iane

, os

alu

nos

se

ide

ntifi

cam

co

m

este

form

ato

liter

ário

por

que

se v

eem

nel

e e

assim

ent

ende

m a

fo

rma

com

o é

escr

ito.

Intro

duzir

a p

alav

ra “

obrig

ató-

rio”,

no

enta

nto,

pod

e fu

ncio

nar

de f

orm

a co

ntrá

ria,

com

o le

mbr

a El

iane

. “Le

r por

obr

igaç

ão n

ão es

ti-m

ula

leitu

ra, p

elo

cont

rário

, pod

a”,

aval

ia.

Já M

arci

diz

acre

dita

r qu

e,

com

o p

rofe

ssor

mui

to p

reoc

upad

o co

m a

apo

stila

, a a

bert

ura

para

os

sara

us n

as e

scol

as f

unci

ona

com

o um

pro

jeto

de

ensin

o à

part

e.

PELA

CAU

SA

Entre

os

pr

ofes

sore

s da

s in

s-tit

uiçõ

es,

enco

ntra

m-s

e, a

lém

de

mes

tres,

poet

as.

Clá

udio

C

ákis,

prof

esso

r de

Hist

ória

, faz

par

te d

a As

soci

ação

Cul

tura

l Li

tera

tura

no

Bras

il, q

ue, d

e ac

ordo

com

ele

, “é

form

ada

por

pess

oas

com

uns

que

gosta

m d

e le

r e

esc

reve

r os

mai

s va

riado

s gên

eros

lite

rário

s”.

Cák

is co

nta

que

o sa

rau

Lite

ra-

tura

Nos

sa

acon

tece

m

ensa

lmen

te

há d

ois

anos

, se

ndo

que,

atu

al-

men

te, o

eve

nto

é re

aliza

do d

entro

da

s es

cola

s. Se

gund

o el

e, o

pro

jeto

ac

onte

ce s

em a

poio

do

Gov

erno

. “F

azem

os is

so p

or n

ossa

con

ta, n

os

torn

amos

esc

ritor

es, p

oeta

s, co

rde-

lista

s, co

ntist

as p

orqu

e a

liter

atur

a tr

ansfo

rmou

no

ssas

vi

das,

send

o as

sim, p

assa

mos

ess

a op

ortu

nida

de

adia

nte,

a o

utra

s pes

soas

”, re

lata

. Pa

ra C

ákis,

a l

itera

tura

é u

ma

válv

ula

de

esc

ape.

“C

om

ela,

a

drog

a e

a c

rimin

alid

ade

per

dem

es

paço

na

men

te d

o jo

vem

oci

o-so

, hi

pera

tivo

e se

m p

ersp

ectiv

a.”

Segu

ndo

ele

, a

lite

ratu

ra é

um

a fe

rram

enta

de

tr

ansfo

rmaç

ão

e,

por

mei

o d

ela,

é

pos

sível

pr

o-ta

goni

zar

e

dar

nov

os

rum

os

à pr

ópria

hist

ória

.

O p

oeta

e c

onta

dor

de

hist

ória

s Clá

udio

Cák

is re

aliz

a sa

raus

itin

eran

tes

“Ler

por

obr

igaç

ão n

ão e

stim

ula

a le

itur

a, p

elo

cont

rári

o, p

oda.

Prof

a. d

e Lín

gua

Port

ugue

sa, E

liane

Mar

tins

Fabiana Menassi

Rom

ance

s gan

ham

vid

a na

s tela

s dos

cine

mas

mun

diai

s por

meio

de

adap

taçõ

es be

m-su

cedi

das

Qua

ntas

vez

es v

ocê

já o

uviu

al

guém

dize

r que

não

gos

-to

u de

det

erm

inad

o fil

me

porq

ue

não

segu

iu fi

elm

ente

a h

istór

ia d

os

livro

s? O

u aq

uele

que

diz

pref

erir

o liv

ro a

o fil

me?

Ada

ptar

hist

ória

s pa

ra a

tel

a nã

o é

tare

fa f

ácil,

exi

ge

um b

om r

otei

ro e

mui

ta e

sper

teza

po

r par

te d

o di

reto

r.

Um

bom

trab

alho

de

com

puta

-çã

o g

ráfic

a, u

ma

sele

ção

reno

ma-

da d

e el

enco

e in

vesti

men

tos

pesa

-do

s ga

nhar

am v

ida

nas

inú

mer

as

adap

taçõ

es

da

liter

atur

a p

ara

o

cine

ma

nos

últi

mos

ano

s. A

lgun

s tr

abal

hos

peca

m e

m e

xage

ros,

fu-

gind

o co

mpl

etam

ente

da

ess

ênci

a co

ntad

a n

os

livro

s, o

utro

s m

a-ni

festa

m m

undo

s fa

ntás

ticos

, tã

o re

ais

que

até

os

leito

res

mai

s fa

-ná

ticos

se

surp

reen

dem

. Se

gund

o o

cine

asta

Leo

nard

o C

urci

no,

as a

dapt

açõe

s sã

o um

a fo

rma

que

a in

dústr

ia d

o ci

nem

a en

cont

rou

para

min

imiza

r os

pos

-sív

eis f

raca

ssos

de

bilh

eter

ia a

o lo

n-go

do

tem

po,

com

o um

a fó

rmul

a m

ágic

a de

su

cess

o.

“Ger

alm

ente

cer

to. S

e vo

cê p

egar

os

últim

os

gran

des

cam

peõe

s de

bi

lhet

eria

, va

i ver

qu

e a

m

aior

ia

é a

dap-

taçã

o lit

erár

ia o

u de

qua

drin

hos.

As

pess

oas

vão

ao

ci

nem

a p

ara

ver

um

a h

istór

ia q

ue j

á c

onhe

-ce

m ‘

ganh

ando

vid

a’. I

sso

é b

om,

mas

tem

os q

ue ir

e de

ixar

de l

ado

as

com

para

ções

” re

ssal

ta.

Já p

ara

o ro

teiri

sta e

adm

inis-

trad

or d

o bl

og S

obre

Rot

eiros

e R

o-te

irista

s, M

auríc

io

Fern

ande

s, a

s ad

apta

ções

são

cond

ensa

das p

ara

os

cine

mas

, pr

inci

palm

ente

por

um

fa

tor

dete

rmin

ante

: o

tem

po.

“É

difíc

il e

ncon

trar

pes

soas

que

es-

teja

m

disp

osta

s a

as

sistir

a

um

fil

me

que

ext

rapo

le d

uas

hora

s e

mei

a”,

cont

a.

Atua

lmen

te,

boa

pa

rte

das

Por

Jés

sica

Via

na

Papel

, image

ns, so

ns e i

magin

ação Warner Bros / Divulgação

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48

P

ilar /

Edi

ção

nº. I

CO

NV

ERG

ÊNC

IA

Os r

oman

ces d

e N

icho

las S

park

s fo

ram

ada

ptad

os p

ara

o ci

nem

a e

tran

sfor

mar

am o

s liv

ros e

m

best

-sel

lers

Divulgação

PASS

OS

LAR

GO

S

A bo

a fa

se d

o ci

nem

a br

asi-

leiro

tem

dem

onstr

ado

que

as

adap

taçõ

es s

ão u

ma

form

a in

-te

ress

ante

de

cont

ar h

istór

ias n

a te

lona

. La

nçad

o em

199

7, p

or

Paul

o Li

ns,

o liv

ro C

idad

e de

D

eus f

oi ad

apta

do p

ara o

cine

ma

pelo

dire

tor F

erna

ndo

Mei

relle

s e

fez

mui

ta g

ente

vol

tar

a ve

r

prod

uçõe

s na

cion

ais.

“Há

um

tem

po e

u vi

a as

pes

soas

dize

ndo

assim

: ‘o

lha,

cui

dado

com

ess

e fil

me

porq

ue é

nac

iona

l’. H

oje,

ao

con

trár

io,

as p

esso

as e

stão

com

enta

ndo

e se

int

eres

sand

o m

ais

por

film

es b

rasil

eiro

s”, d

iz o

prod

utor

da

edito

ra d

e ví

deos

Pr

ismag

em, B

runo

Oku

bo. N

o en

tant

o, a

pesa

r do

suc

esso

das

ad

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ções

, o d

ireto

r da

Aca

de-

mia

Inte

rnac

iona

l de C

inem

a,

Fran

thie

sco

Balle

rini,

ress

alta

qu

e o

mer

cado

de

cine

ma

ain-

da é

fec

hado

par

a aq

uele

s qu

e es

crev

em: o

s rot

eiris

tas.

“É

im-

port

ante

ate

ntar

par

a o

trab

alho

de

rot

eiris

ta a

ntes

de

qual

quer

co

isa.

Não

tem

os f

estiv

ais,

edi-

tais

e ve

rba

públ

ica

sufic

ient

es

para

todo

s os t

alen

tos s

erem

de-

senv

olvi

dos”

, exp

lica.

adap

taçõ

es p

ara

o m

eio

audi

ovisu

al

é d

e e

scrit

ores

am

eric

anos

, qu

e,

em m

uito

s ca

sos,

não

são

popu

la-

res e

não

pos

suem

trad

ução

par

a o

port

uguê

s. Po

rém

o c

enár

io m

uda

quan

do s

ão a

dapt

ados

. Fo

i as

sim

que

Nic

hola

s Sp

arks

se

torn

ou f

a-m

oso

no B

rasil

. Pr

imei

ro v

iera

m

os fi

lmes

Um

Am

or P

ara

Reco

rdar

e

Diá

rio d

e U

ma

Paix

ão, d

epoi

s su

as

obra

s vira

ram

best

-selle

rs no

Paí

s. En

treta

nto,

as

adap

taçõ

es n

ão

atra

em o

púb

lico

para

com

pras

de

livro

s ou

par

a o

hábi

to d

e le

itura

. D

e ac

ordo

com

a jo

rnal

ista

e ed

i-to

ra-c

hefe

do

port

al N

úcle

o do

Ci-

nem

a, L

etíc

ia A

lass

ë, a

s ada

ptaç

ões

aum

enta

m o

int

eres

se d

o pú

blic

o ap

enas

par

a de

term

inad

os a

utor

es.

“Que

m n

ão g

osta

de

ler,

vai

co-

nhec

er a

hist

ória

por

mei

o d

o fil

-m

e e

par

ará

por

aí.

Har

ry P

otte

r é

um

exe

mpl

o c

láss

ico,

milh

ares

de

es

pect

ador

es

dos

oito

fil

mes

nu

nca

enc

osta

ram

um

de

do

no

livro

”, a

nalis

a.

Page 26: DEVORADORAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4662194.pdf · Também por isso um evento como o sarau fez tanto su- cesso no Brasil Colonial e Imperial até o início do século

Pila

r / E

diçã

o nº

. I

5

150

Pila

r / E

diçã

o nº

. I

CO

NV

ERG

ÊNC

IA

Na

pági

na a

o la

do, g

rupo

de

amig

os p

rest

igia

lanç

amen

to

de li

vro

de C

arol

ina

Peix

oto.

A

baix

o, N

i Bri

sant

, em

edi

ção

do

sara

u So

bren

ome

Libe

rdad

e

Em 1

6 de

julh

o de

201

3, n

o de

corr

er d

o sa

rau

Subu

r-ba

no C

onvi

cto,

que

aco

ntec

e no

ba

irro

do

Bixi

ga,

regi

ão c

entr

al

de S

ão P

aulo

, A

less

andr

o Bu

zo,

orga

niza

dor

do e

vent

o, c

ham

ou

a at

ençã

o do

púb

lico

ao f

ato

de

que

a liv

rari

a, t

ambé

m p

or e

le

cond

uzid

a e

que

leva

o m

esm

o no

me

do s

arau

, di

fere

ntem

ente

do

s te

mpo

s de

esc

ola

do a

rtis

-ta

, pos

suía

ob

ras

de

esc

rito

res

hoje

vi

vos

e

que,

po

rtan

to,

deve

m s

er v

alor

izad

os.

“Até

po-

dem

os p

edir

um

aut

ógra

fo n

o liv

ro”,

br

inco

u,

rem

eten

do-s

e ao

fa

to

de q

ue

as

prod

uçõe

s po

stas

à v

enda

no

loca

l sã

o d

e ar

tist

as p

erifé

rico

s.

Para

o e

duca

dor

e ag

ente

cul

-tu

ral

Rui

vo L

opes

, a

prod

ução

Best-

seller

s da p

erifer

ia

Mov

imen

tos l

iterá

rios r

ealiz

ados

na

cidad

e pro

porc

iona

m in

tera

ções

entre

lei

tore

s e a

utor

es qu

e mot

ivam

açõ

es de

tran

sform

açõe

s soc

iais

nunc

a ti

vera

m v

oz e

nun

ca f

o-ra

m e

scut

ados

, de

fato

. A

esc

olha

de

freq

uent

ar d

e-te

rmin

ados

lu

gare

s,

entr

e el

es

o sa

rau,

pod

e co

nfer

ir, d

e ac

or-

do c

om a

pro

fess

ora

asso

ciad

a da

Uni

vers

idad

e de

São

Pau

lo

(USP

),

Dra

. M

aria

da

G

raça

Ja

cint

o Se

tton

, um

a es

trat

égia

pa

ra a

dqui

rir

pres

tígi

o e,

por

-ta

nto,

mai

s val

or so

cial

às p

esso

-as

. Seg

undo

ela

, a a

ssid

uida

de a

ev

ento

s de

sta

natu

reza

pod

e fa

-ze

r que

os f

requ

enta

dore

s de

tais

espa

ços

adqu

iram

sta

tus,

uma

iden

tida

de. A

lém

dis

so, p

ode

es-

tim

ular

a in

spir

ação

e c

riaç

ão, o

qu

e ac

aba

por

influ

enci

ar a

pro

-du

ção

cultu

ral.

“Mas

ir u

ma

únic

a ve

z con

fere

mui

to p

ouco

pre

stíg

io”,

pon

tua

a pr

ofes

sora

, ob

serv

ando

que

o

valo

r so

cial

tid

o no

s sa

raus

não

é

imed

iato

e d

epen

de d

o lu

gar

onde

cad

a pe

ssoa

se

enco

ntra

e

tem

com

o m

odel

o. D

esta

ma-

neir

a, s

egun

do e

la,

fre

quen

tar

even

tos

pro

mov

idos

na

per

ife-

ria

e n

a r

egiã

o c

entr

al

da

ci-

dade

pod

e co

nfer

ir p

rest

ígio

de

man

eira

s di

stin

tas.

CO

NST

RU

ÇÃ

O C

OL

ET

IVA

A

pulv

eriz

ação

de

ev

ento

s de

sta

orde

m,

segu

ndo

a ac

adê-

mic

a,

é ex

trem

amen

te

valio

sa

e po

de t

raze

r tr

ansf

orm

açõe

s à

estr

utur

a so

cial

. “Q

ualq

uer

mu-

danç

a in

divi

dual

é m

uito

peq

ue-

na

ness

e g

rand

e o

cean

o q

ue

são

os

grup

os s

ocia

is”,

pont

ua

a es

peci

alis

ta.

Para

Lop

es, o

s sa

raus

são

um

“t

erri

tóri

o d

e e

ncon

tro”

e c

ons-

troe

m

laço

s q

ue

mot

ivam

as

pe

ssoa

s a

cru

zar

a c

idad

e p

ara

part

icip

ar d

e en

cont

ros

poét

i-co

s em

reg

iões

opo

stas

às

suas

, de

clam

ando

tex

tos

de a

mig

os e

, m

uita

s ve

zes,

ten

do o

pró

prio

au

tor

ali,

ouvi

ndo

e ap

laud

indo

a

leit

ura.

Bri

sant

cha

ma

a at

ençã

o pa

ra o

fat

o de

que

é n

eces

sári

o qu

e as

pes

soas

sai

bam

que

pos

-su

em a

lgo

impo

rtan

te a

ser

dit

o e

que

o po

der

nos

sara

us n

asce

, ju

stam

ente

, da

con

stru

ção

cole

-ti

va.

“Um

a co

isa

é vo

cê f

alar

o

seu

nom

e. O

utra

coi

sa é

qua

ndo

você

fal

a em

nom

e de

cem

, de

du

zent

os”,

def

ende

. D

esta

ma-

neir

a, e

le d

iz q

ue h

á m

uito

mai

s ch

ance

s de

ser

esc

utad

o, d

e se

r le

vado

em

con

side

raçã

o, p

ois

“o

pres

tígi

o es

tá e

m a

ndar

junt

o”.

Afin

al,

conf

orm

e re

lata

Bi-

nho,

con

duto

r do

Sar

au d

o Bi

-nh

o, q

ue a

cont

ece

na r

egiã

o de

Ta

boão

da

Serr

a e

Cam

po L

im-

po,

zona

sul

da

cida

de,

“um

a an

dori

nha

só n

ão fa

z ve

rão,

mas

po

de a

cord

ar o

ban

do t

odo”

.

Renata Armelin

Por

Cam

ila

Rei

mber

gm

argi

nal

torn

ou p

ossí

vel

a le

i-tu

ra d

e liv

ros

de p

esso

as v

ivas

e

amig

as. S

egun

do e

le, a

par

tir

da

repe

rcus

são

do l

ança

men

to d

a re

vist

a Li

tera

tura

Mar

gina

l, de

-se

nvol

vida

pel

o ra

pper

e e

scri

tor

Ferr

éz, n

os a

nos

2000

, as

pess

o-as

for

am m

otiv

adas

a e

scre

ver,

decl

amar

e p

ublic

ar s

eus

text

os,

torn

ando

-se

“bes

t-se

llers

da

pe-

rife

ria”

. “

Todo

m

undo

fic

a-va

fel

iz

quan

do

algu

m

amig

o la

nçav

a u

m

livro

ain

da

é as

sim

”, o

bser

va L

opes

. Se

rvir

-se

das

pala

vras

pa

ra

tran

smit

ir i

deia

s nã

o é,

por

ém,

priv

ilégi

o de

esc

rito

res.

U

tili-

zar

as

cor

das

voc

ais

para

fal

ar

da

próp

ria

rea

lidad

e, s

egun

do

Ni

Bris

ant,

poe

ta,

cria

dor

e or

-ga

niza

dor

do

mov

imen

to

So-

bren

ome

Libe

rdad

e, q

ue o

corr

e no

Gra

jaú,

zon

a su

l da

cid

ade,

pr

opor

cion

a vi

da

à lit

erat

ura.

“É

tem

po d

e sa

ber

quem

são

os

noss

os”,

def

ende

. D

esta

man

eira

, a

publ

icaç

ão

de m

ater

iais

pro

duzi

dos

por

tais

arti

stas

con

tem

porâ

neos

, seg

un-

do B

risa

nt,

“ger

a um

a ca

ptaç

ão

cole

tiva

, se

ja

no

pref

ácio

, no

te

xto

de o

relh

a, c

om r

esen

ha”.

DE

SAB

AFO

Bris

ant

salie

nta

que

o sa

-ra

u, a

tual

men

te,

é o

prin

cipa

l m

eio

de d

ivul

gaçã

o, f

omen

to e

cr

iaçã

o de

lit

erat

ura

mar

gina

l. O

poe

ta e

xplic

a qu

e, a

ntes

de

tudo

, o e

vent

o é

um “

desa

bafo

”,

pois

espa

ço p

ara

aque

les

que

Renata Armelin

Page 27: DEVORADORAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4662194.pdf · Também por isso um evento como o sarau fez tanto su- cesso no Brasil Colonial e Imperial até o início do século

SALA

DA

PO

ESIA

52

P

ilar /

Edi

ção

nº. I

Pila

r / E

diçã

o nº

. I

5

3

Ele

gosta

da

noite

. Ela

am

a a

luz d

o di

aEl

e to

rce

pro

São

Paul

o. E

la to

rce

pro

Cor

inth

ians

Ele

apre

cia

vinh

o. E

la to

ma

cerv

eja

ambo

s são

da

bala

da e

qua

se n

unca

vão

à ig

reja

Ele

sonh

a. E

la é

no c

hão

Ele

diz q

ue é

nec

essá

rio. E

la fa

la q

ue é

ilus

ãoEl

e tr

ansa

. Ela

diz

que

faz a

mor

El

e an

da la

rgad

o. E

la te

m u

m e

stilo

sedu

tor

Ele

se a

cha

e El

a se

sent

eEl

e di

z que

é v

erda

de. E

la fi

nge

que

se c

onve

nce

Ele

é ci

umen

to. E

la d

iz qu

e “n

em li

ga”

Ele

é ob

serv

ador

. E E

la é

per

suas

iva

Ele

é br

anco

. E E

la é

neg

raEl

e co

stum

a se

r rísp

ido.

Ela

é d

elic

ada

e m

eiga

Ele

é av

oado

. Ela

tudo

per

cebe

Se

Ele

que

r tem

que

esp

erar

, se

Ela

quer

já c

onse

gue.

..El

e de

seja

her

deiro

s. El

a va

i com

cau

tela

El

e qu

er jo

go d

e Pl

aysta

tion

e El

a, jo

go d

e pa

nela

Ele

é ca

nal d

e es

port

e. E

la d

e no

vela

Ela

jant

a à

luz d

e ve

la. E

le p

ão c

om m

orta

dela

Ele

film

e de

com

édia

. Ela

film

e de

rom

ance

Ele

erra

. Ela

per

doa

e te

mai

s um

a ch

ance

Ele

escu

ta. E

la é

que

m d

iscut

e El

e ce

rto

pede

des

culp

as. E

la e

rrad

a sa

i im

pune

Ele

atira

no

escu

ro. E

la n

ão c

onfia

em

sort

eEl

e vi

ve in

tens

amen

te. E

la te

m m

edo

da m

orte

Ele

curt

e ra

p. E

la p

ira e

m L

ady

Gag

aEl

a va

i ao

show

e p

aga.

Ele

não

col

a ne

m d

e gr

aça

São

o fe

rro

e o

ímã,

a á

gua

e o

óleo

O a

mor

e o

ódi

o, a

pel

e e

os o

ssos

.Pr

omet

eram

mud

ar e

que

m ir

á co

nfro

ntá-

los?

Afina

l pro

mes

sa é

dúv

ida

e be

ijos n

ão sã

o co

ntra

tos..

.

*Kap

oth

Mc:

25 a

nos,

letra

s e

voca

l; D

iel:

18 a

nos,

com

posit

or, i

ntér

pret

e e im

prov

isado

r de r

imas

.Ri

maí

stas:

grup

o qu

e re

aliz

a sh

ows e

pal

estra

s sob

re h

ip

hop,

técn

icas d

e rim

as e

elabo

raçã

o de

poe

sias.

Bênç

ão m

ãe...

To

da v

ez q

ue es

cuto

essa

intro

duçã

o do

s Rac

iona

is Le

mbr

o-m

e: n

unca

hav

ia p

edid

o a

bênç

ão p

ra

senh

ora.

D

escu

lpa

pelo

atr

aso,

a s

enho

ra s

abe;

eu

sem

pre

perd

i a h

ora

Agor

a va

i: be

nção

mãe

!

Mes

mo

sem

solic

itar,

sem

pre

me

sent

i abe

nçoa

do.

No

mês

de

julh

o se

ria c

ompl

etad

o m

ais

um

aniv

ersá

rio

Se e

m d

ezem

bro

de 2

009

A se

nhor

a nã

o tiv

esse

nos

dei

xado

. N

aque

la te

rça-

feira

à n

oite

O

cor

ação

de

mãe

que

sem

pre

se p

reoc

upa

Man

dou-

me

embo

ra

Pois

esta

va d

e m

oto

e ia

cai

r “m

ó” c

huva

Na

desp

edid

a, p

ara

não

ter e

ngan

os

Olh

ei n

os te

us o

lhos

E

diss

e:

Mãe

, eu

te a

mo.

Aman

hã c

edo

eu v

olto

, tá

Não

sei p

or q

ue

Mas

na

saíd

a do

hos

pita

l C

omec

ei a

cho

rar

Eu n

o co

ntro

le d

a m

oto

Se fo

rman

do a

tem

pesta

de

Lágr

imas

cai

ndo

Lá se

foi a

mal

andr

agem

.

No

aman

hece

r da

quar

ta-fe

ira

Acel

erei

Pa

ra v

er n

o le

ito

A m

inha

gue

rrei

raPo

rém

, não

dei

xara

m

Impe

dira

m-m

e “A

guar

de u

m in

stant

e, se

nhor

” D

izia

a at

ende

nte

Nen

hum

luga

r é

tão

lindo

Tão

atra

ente

Tão

conv

idat

ivo

e hi

pnot

izan

teC

omo

o te

u ol

har

Qua

ndo

enco

ntro

nel

e tu

do q

ue p

rocu

roE

sem

pre

enco

ntro

...Eu

me

perc

oE

nada

mai

s faz

sent

ido

A n

ão se

r se

gui-

laO

fert

ar-t

e a

alm

aE

amar

-te

para

sem

pre.

..

*38

anos

, esc

reve

de

sde

os

10.

Atua

lmen

te

man

tém

o b

log

Poem

a pa

ra S

empr

e.

A g

arga

nta

seca

ao le

mbr

ar a

mad

eira

,a

lam

a, o

frio

,o

aban

dono

e o

des

caso

que

abri

gava

m so

rris

os,

brilh

o no

s olh

os,

uniã

o e

resi

stên

cia.

A v

ida

é um

moi

nho.

*É p

oeta

, ped

agog

a e a

gent

e cul

tura

l. É

auto

ra d

o liv

ro B

ola,

Láp

is e

Pape

l e in

tegr

ante

do

colet

ivo

Poet

as

Ambu

lant

es,

que

real

iza

inte

rven

ções

poét

icas n

os tr

ansp

orte

s púb

licos

de S

ão P

aulo

.

Moi

nho

Por

Car

olin

a Pe

ixot

o*

Em

teu

olh

arPo

r K

lebe

r N

un

es*

Prom

essa

é d

úvid

aPo

r K

apot

h M

c e

Die

l* (

Rim

aíst

as)

O T

roco

Por

Man

o R

il*

1, 2

, 3, 4

hor

as

Aí já

é d

emai

s N

ão te

m q

uem

agu

ente

“Moç

a, a

cabo

u a

paci

ênci

a Q

uero

ver

min

ha m

ãe a

gora

”,

“Rap

az, n

ão p

ode

Ela

está

na

emer

gênc

ia”

Às 1

4 ho

ras

Eu p

erdi

a m

eu e

xem

plo

De

vitó

ria

Com

um

a pa

rada

car

dior

resp

irató

ria.

A m

inha

mãe

tinh

a o

dom

D

e pr

eenc

her t

odos

os e

spaç

os

Nun

ca d

esist

iu, n

unca

nos

dei

xou

na m

ão

Nem

se li

mito

u po

rque

tinh

a um

mar

ca-p

asso

Para

esc

reve

r a h

istór

ia to

da

Seria

m fo

lhas

e fo

lhas

de

poes

ia

Toda

mãe

tem

um

pou

co d

e m

agia

.

Três

mes

es d

epoi

s, no

qua

rto

211.

Se

m a

mea

ças d

e ab

orto

N

aque

le m

omen

to, e

u da

va o

troc

o

No

Hos

pita

l Ger

al d

e Ita

pece

rica

Nas

ce a

May

ara,

min

ha fi

lha.

A se

nhor

a se

foi,

mãe

, no

quar

to 2

08

Coi

ncid

ênci

a ou

não

Q

uem

ent

ende

?Su

a ne

ta n

asce

u no

qua

rto

em fr

ente

.

O tr

oco.

..

*É v

ocal

ista

do G

rupo

de

rap

Pens

amen

to N

egro

, po

eta,

com

posit

or,

orga

niza

dor

do S

arau

Pen

sam

ento

e

inte

gran

te

do

Mov

imen

to

Cul

tura

l So

bren

ome

Libe

rdad

e. A

poesi

a O T

roco

foi p

ublic

ada n

a ant

olog

ia

Sobr

enom

e Li

berd

ade

– An

tes d

e se

r um

man

ifesto

, em

sete

mbr

o de

201

3.

Page 28: DEVORADORAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4662194.pdf · Também por isso um evento como o sarau fez tanto su- cesso no Brasil Colonial e Imperial até o início do século

MEM

ÓR

IA

54

P

ilar /

Edi

ção

nº. I

Pila

r / E

diçã

o nº

. I

5

5

Gaú

cho

de A

legr

ete,

nas

cido

em

187

0, Jo

sé d

e Fr

eita

s Va

lle,

filho

do

conh

ecid

o pe

cuar

ista

Man

uel d

e Fr

eita

s Va

lle e

de

Luísa

Firm

ino

Jacq

ues,

no a

uge

dos 1

8 an

os m

igra

ra p

ara

a m

etró

pole

pau

lis-

tana

, a fi

m d

e cu

rsar

Dire

ito n

a tr

adic

iona

l Fac

ulda

de

de D

ireito

do

Larg

o Sã

o Fr

anci

sco.

Naq

uela

épo

ca,

jove

ns d

e fa

míli

as r

icas

vin

ham

par

a a

cida

de c

om a

fin

alid

ade

de e

studa

rem

num

a da

s uni

vers

idad

es m

ais

conc

orrid

as e

reno

mad

as d

o m

undo

. Por

lá, p

assa

ram

no

bres

ilus

tres q

ue se

firm

aram

hist

oric

amen

te n

a vid

a po

lític

a e

soci

al d

o Pa

ís.

Os

barõ

es d

o ca

fé p

assa

ram

a c

onstr

uir

pala

cete

s na

reg

ião

da r

ecém

-cria

da A

veni

da P

aulis

ta. A

ssim

, o

redu

to d

eles

influ

enci

ava a

econ

omia

da c

idad

e. S

e por

um

lado

o ca

fé fo

i pre

curs

or d

a des

lanc

hada

eco

nôm

i-ca

pau

lista

na,

por

outro

, o

mec

enas

Jos

é de

Fre

itas

Valle

foi

o r

espo

nsáv

el p

ela

bell

e épo

que p

aulis

tana

. O

ent

ão p

oeta

, ad

voga

do,

sena

dor

e pr

ofes

sor

com

prou

um

a ch

ácar

a na

Rua

Dom

ingo

s de

Mor

aes,

Vila

Mar

iana

, zon

a su

l da

capi

tal,

e a

batiz

ou d

e V

illa

Kyr

ial.

O p

rinci

pal o

bjet

ivo

de V

alle

era

tran

sform

ar o

lo

cal n

um r

edut

o de

cul

tura

. E c

onse

guiu

. O g

rand

e e

prin

cipa

l sal

ão d

a V

illa

Kyr

ial s

e to

rnou

pon

to d

e en

cont

ro d

e ar

tista

s de

todo

s os g

êner

os.

A es

crito

ra e

auto

ra d

e Vill

a Ky

rial –

Crô

nica

da

Bel-

le Ép

oque

Pau

lista

na, M

arci

a C

amar

gos,

fez

um re

sga-

te h

istór

ico

dos e

vent

os p

rom

ovid

os p

or F

reita

s Val

le.

“No

salã

o, h

avia

reu

niõe

s se

man

alm

ente

ou

men

sal-

men

te, n

as q

uais

a el

ite d

aque

la é

poca

tinh

a co

stum

es

para

reafi

rmar

seus

val

ores

. A p

rogr

amaç

ão er

a var

iada

, ha

via

mús

ica

eru

dita

, po

esia

, lit

erat

ura,

jog

os, d

an-

ças.

Enfi

m,

uma

dive

rsid

ade

de c

ostu

mes

”, r

esum

e.

Aos s

arau

s do

sen

ador

com

pare

ciam

poe

tas

e a

rtis-

tas

reno

mad

os.

A fre

quên

cia

nes

ses

salõ

es p

ossib

ili-

tava

que

as p

esso

as a

dqui

risse

m m

aior

sta

tus e

um

a

O hom

em da

Vila

Com

a in

tenç

ão d

e mar

car u

m re

duto

par

a a

vida

cultu

ral d

a cid

ade,

o m

ecen

as J

osé

de F

reita

s Val

le ev

iden

ciou

o qu

e fico

u co

nhec

ido

por b

elle

épo

que

paul

istan

a

Est

épha

ne R

anni

Domínio Público

À e

sque

rda,

no

alto

, Már

io d

e A

ndra

de p

osa

ao

lado

de

um g

rupo

de

mod

erni

stas

na

esca

dari

a da

V

illa

Kyr

ial.

À d

irei

ta, r

etra

to d

e Fr

eita

s Val

le

Acervo Marcia Camargos

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56

P

ilar /

Edi

ção

nº. I

MEM

ÓR

IA

cultu

ra,

algo

que

não

exi

stia

na

époc

a. E

ra i

mpo

rtan

te a

s pe

ssoa

s fre

quen

tare

m

a c

asa

de

Fre

itas

Valle

”, c

onta

Cam

argo

s. Pa

ra o

dire

tor

do I

nstit

uto

His-

tóric

o e

Geo

gráfi

co d

e Sã

o Pa

ulo,

Jo

rge

Pim

ente

l Cin

tra,

a im

port

ân-

cia

do m

ecen

as v

ai a

lém

do

cená

rio

cultu

ral:

“Res

gata

r a

cont

ribui

ção

dess

a pe

rson

alid

ade

é im

port

an-

te já

que

Va

lle

foi

o p

rom

otor

de

reun

iões

que

fort

alec

iam

não

amiza

des,

mas

tam

bém

idei

as e

m-

pres

aria

is e

polít

icas

”, a

valia

. A

hist

ória

, no

en

tant

o,

não

foi j

usta

com

Fre

itas V

alle

. A au

tora

mai

or i

dent

ifica

ção

com

o p

oder

. Fr

eita

s Va

lle é

um

nom

e de

re-

levâ

ncia

no

cená

rio c

ultu

ral.

Para

re

fletir

sob

re e

ste a

spec

to,

basta

le

mbr

ar q

ue e

le p

atro

cino

u a

pri-

mei

ra e

xpos

ição

do

pint

or r

usso

La

sar S

egal

l. N

a re

sidên

cia

dele

, es-

crito

res c

omo

João

do

Rio

, Coe

lho

Net

o e O

lavo

Bila

c se h

ospe

dava

m.

Além

da

cont

ribui

ção

aos

artis

tas

men

os f

avor

ecid

os d

o Br

asil.

“O

sa

lão

era u

m es

paço

de v

isibi

lidad

e,

o ce

nário

em

que

ele

se e

xibi

a, e

m

que

rea

firm

ava

o

seu

sta

tus

e

sua

pos

ição

, o

seu

po

der.

Era

qu

ase

uma

secr

etar

ia i

nfor

mal

da

A b

iógr

afa

pesq

uiso

u em

font

es

prim

ária

s par

a es

crev

er a

hi

stór

ia d

e Fr

eita

s Val

le

de V

illa

Kyria

l con

ta q

ue en

cont

rou

dific

ulda

des p

ara

pesq

uisa

r so

bre

o as

sunt

o. E

que

bas

icam

ente

as p

es-

quisa

s fo

ram

fei

tas

em fo

ntes

pri-

már

ias,

com

o fa

mili

ares

, ar

quiv

os

pess

oais,

etc

. “N

ingu

ém o

con

he-

cia,

ge

nte

esp

ecia

lizad

a n

a á

rea

artís

tica,

estu

dios

os,

pouc

os id

en-

tifica

m o

nom

e de

Fre

itas V

alle

e

a im

port

ânci

a qu

e el

e tev

e”,

desa

-ba

fa.

Para

Cin

tra,

ess

a p

erso

nali-

dade

só p

ode

ser e

nten

dida

em

sua

époc

a e

por i

sso

a co

mpa

raçã

o co

m

algu

ém n

os d

ias a

tuai

s não

é fá

cil.

N

esse

sen

tido,

Fre

itas

Valle

foi

um

dos

sím

bolo

s de

seu

tem

po. A

be

lle ép

oque

de

São

Paul

o, tã

o m

ol-

dada

pel

a fra

nces

a, en

alte

cia o

bel

o,

as a

rtes

, a p

az. O

sen

ador

da

Vill

a K

yria

l foi

o h

omem

que

exp

ress

ou,

de ce

rta f

orm

a, es

sa h

istór

ia.

“Ach

o qu

e a

popu

laçã

o de

São

Pau

lo e

do

Bras

il de

ve m

uito

ao

Frei

tas

Valle

. U

ma h

omen

agem

é um

ato

de le

m-

bran

ça, d

e re

afirm

ação

de

valo

res e

de

mem

ória

. É

mai

s do

que

faz

er

uma

lem

bran

ça sa

udos

ista,

é a

pro-

veita

r ess

a op

ortu

nida

de e

apre

nder

um

pou

co m

ais

sobr

e es

se p

assa

do

rece

nte”

, fina

liza

Cam

argo

s.

“Pou

cos c

onhe

ciam

o n

ome

do

Fre

itas

Val

le e

a

impo

rtân

cia

que

ele

teve

.”

Mar

cia C

amar

gos,

auto

ra d

a ob

ra em

hom

enag

em à

Val

le

Arquivo Pessoal

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58

P

ilar /

Edi

ção

nº. I

Pila

r / E

diçã

o nº

. I

5

9

MEM

ÓR

IA

pert

ence

ntes

ao

m

ovim

ento

de

lit

erat

ura

peri

féri

ca o

u, c

omo

no-

mea

do p

ela

revi

sta

Car

os A

mig

os,

de l

itera

tura

mar

gina

l. Es

sas

edi-

ções

com

enta

vam

a p

rodu

ção

li-te

rária

de

escr

itore

s co

mo

Sérg

io

Vaz,

Fer

réz,

Sac

olin

ha, A

less

andr

o Bu

zo, A

llan

da R

osa,

entr

e out

ros.

Sérg

io V

az é

um

dos

fund

ado-

res

da C

oope

rativ

a C

ultu

ral

da

Perif

eria

(Coo

perif

a) q

ue se

reún

e se

man

alm

ente

em

um

bot

eco

na

zona

sul

de

São

Paul

o, o

nde

rea-

liza

um fa

mos

o sa

rau.

Foi

um

dos

id

ealiz

ador

es d

a Se

man

a de

Art

e M

oder

na d

a Pe

rife

ria.

Seu

Man

i-fe

sto

da

Antr

opof

agia

Pe

rifé

rica

, em

ref

erên

cia

ao M

anife

sto A

n-tr

opof

ágic

o de

Osw

ald

de A

ndra

-de

de

1928

, re

sum

e a

insp

iraçã

o qu

e le

vou

à or

gani

zaçã

o da

Sem

a-na

, apo

ntan

do d

entr

e ou

tras

coi

-sa

s qu

e “a

per

iferia

nos

une

pel

o am

or,

pela

dor

e p

ela

cor.

Dos

be

cos

e vi

elas

de v

ir a

voz

que

grita

con

tra

o sil

ênci

o qu

e no

s pu

ne.

Eis

que

surg

e da

s la

deira

s um

pov

o lin

do e

inte

ligen

te g

alo-

pand

o co

ntra

o p

assa

do.

A f

avor

de

um

fut

uro

limpo

, pa

ra t

odos

os

bra

silei

ros”

.Le

ndo

todo

o s

eu m

anife

sto

e ob

serv

ando

a f

orm

a co

mo

os d

i-fe

rent

es c

olet

ivos

e a

grup

amen

-to

s ut

iliza

m a

pal

avra

per

iferi

a,

é pe

rcep

tível

que

ela

ass

ume

um

sent

ido

para

alé

m d

aque

la q

ue é

de

signa

da c

omo

uma

rela

ção

de

dist

ânci

a ge

ográ

fica

a pa

rtir

de a

l-gu

m c

entr

o. A

exp

ress

ão a

ssum

e um

con

junt

o de

rep

rese

ntaç

ões

simbó

licas

que

con

greg

a as

pect

os

rela

cion

ados

à c

lass

e, à

etn

ia,

ao

luga

r de

mor

adia

e à

con

diçã

o de

jo

vem

na

met

rópo

le.

Embo

ra S

érgi

o Va

z te

nha

mai

s de

40

anos

, o

públ

ico

maj

oritá

-rio

dos

sar

aus

da C

oope

rifa

e da

s ou

tras

ões

dese

nvol

vida

s po

r di

vers

os c

olet

ivos

per

iféric

os d

a

Na

pági

na a

o la

do, q

uadr

o ex

post

o em

um

a da

s edi

ções

do

Sara

u da

Ade

mar

, na

zona

sul d

e Sã

o Pa

ulo,

evi

denc

ia a

influ

ênci

a m

oder

nist

a na

art

e da

per

iferi

a

cida

de é

for

mad

o po

r pe

ssoa

s jo

-ve

ns,

com

ida

de d

e at

é 29

ano

s. O

s gr

upos

id

entifi

cado

s co

mo

cultu

ras

juve

nis

não

rece

bem

ess

a tit

ulaç

ão p

or s

erem

con

stitu

ídos

in

tegr

alm

ente

de

jove

ns, m

as p

or

tere

m u

ma

cara

cter

ístic

a qu

e va

i di

alog

ar,

sobr

etud

o, c

om a

ju-

vent

ude.

É o

cas

o do

s m

ovim

en-

tos

punk

ou

hip

hop.

Ess

e ta

lvez

se

ja u

m d

os m

otiv

os p

elos

qua

is ou

tros

jov

ens

de c

lass

e m

édia

se

apro

xim

am

dess

es

even

tos.

Por

mai

s que

haj

a di

fere

nças

na

situa

-çã

o so

cioe

conô

mic

a e

étni

ca e

ntre

es

tes

e aq

uele

s qu

e es

tão

prom

o-ve

ndo

as a

tivid

ades

na

perif

eria

, o

fato

de

sere

m jo

vens

par

ece

ser

uma

port

a de

ent

rada

que

os

tor-

na c

úmpl

ices

em

um

jeito

pró

prio

de

exp

erim

enta

r a c

idad

e.A

ant

ropo

fagi

a pe

rifé

rica

par

e-ce

com

er t

oda

a ob

ra d

e ar

te d

a cu

ltura

cul

ta,

aurá

tica,

tra

nsfo

r-m

ando

-a e

m a

rte-

vida

, a

part

ir da

exp

eriê

ncia

cot

idia

na d

e qu

em

a pr

oduz

. A

pro

duçã

o pe

rifér

ica

não

é pr

atic

ada

apen

as p

ara

que

se

alca

nce

o re

conh

ecim

ento

pes

soal

de

sua

cria

ção

(que

, ob

viam

ente

, di

z re

spei

to à

pró

pria

con

diçã

o hu

man

a), m

as p

ara

que

tenh

a um

us

o, t

anto

par

a qu

em c

ria c

omo

para

que

m a

con

som

e. E

ess

e us

o é,

sobr

etud

o po

lític

o, c

ontr

a o

ar-

tista

surd

o-m

udo

e a

letr

a qu

e nã

o fa

la –

com

o afi

rma

o M

anife

sto d

e Va

z – e

a fa

vor d

a ar

te, d

a po

esia

e da

pal

avra

que

fala

, que

den

unci

a,

que

anun

cia.

*É M

estr

e em

Ant

ropo

logi

a,

prof

esso

r da

Fac

ulda

de P

aulis

ta

de S

ervi

ço S

ocia

l e c

oord

enad

or

do In

stit

uto

Paul

ista

de

Juve

ntud

e. A

tual

coo

rden

ador

do

Pro

gram

a VA

I.

Art

igo

com

plet

o no

site

Le M

onde

Dip

lom

atiq

ue B

rasi

l.

Estéphane Ranni

uma

cul

tura

ou

arte

de

peri

feri

a.

A p

artir

de

mea

dos

da d

écad

a de

199

0, c

om o

boo

m d

o m

ovi-

men

to h

ip h

op, a

regi

ão c

omeç

ou

a se

r vi

sta

por

mui

tos

jove

ns c

om

sent

imen

to

de

orgu

lho,

o

que

prov

ocou

, in

clus

ive,

o i

nter

esse

do

s de

cla

sse

méd

ia e

alta

. C

om

a m

úsic

a do

s R

acio

nais

MC

’s,

por

exem

plo,

a z

ona

sul p

asso

u a

ser

com

enta

da p

elos

jov

ens,

des-

pert

ou c

urio

sidad

e em

que

m n

ão

a co

nhec

ia e

cer

ta v

aida

de p

ara

quem

vivi

a, p

ois

o pa

ís to

do

tom

ou c

onhe

cim

ento

da

sua

que-

brad

a. D

a m

esm

a fo

rma,

com

o

suce

sso

de a

lgun

s gr

upos

de

pa-

A ex

pres

são

cultu

ra d

e pe

ri-

feri

a é

algo

que

pas

sou

a se

r ut

iliza

do m

uito

rec

ente

men

-te

, se

ja n

os m

ovim

ento

s so

ciai

s ou

nas

pes

quisa

s ac

adêm

icas

. N

a dé

cada

de

1980

, Ed

er S

ader

ha-

via

enco

ntra

do n

essa

reg

ião

novo

s pe

rson

agen

s po

lític

os q

ue o

rgan

i-za

vam

mov

imen

tos

soci

ais

dive

r-so

s; M

agna

ni a

chou

o c

irco,

o

fute

bol

de v

árze

a, o

s vi

olei

ros

e ou

tras

form

as d

e la

zer;

e,

algu

ns

anos

dep

ois,

Hel

ena

Abr

amo

se

depa

rou

com

os

jo

vens

pu

nks.

Mes

mo

com

to

das

ess

as

pecu

-lia

ridad

es,

nos a

nos

1980

ain

da

não

era

co

mum

a

refe

rênc

ia

a

A art

e-vida

da an

tropof

agia p

erifér

ica

gode

, co

mo

o N

egrit

ude

Juni

or,

lider

ado

por

Net

inho

de

Paul

a,

torn

ou-s

e co

mum

enc

ontr

ar p

es-

soas

ves

tindo

cam

iseta

s co

m o

s di

zere

s 10

0% C

ohab

, 100

% z

ona

leste

, ent

re o

utro

s. N

o in

ício

do

milê

nio,

des

pon-

tara

m a

lgun

s es

crito

res,

mor

ado-

res

das

perif

eria

s de

São

Pau

lo,

que

ficar

am

conh

ecid

os

com

o

Por

Ren

ato

Sou

za d

e A

lmei

da*

Stock Xchng

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DIÁ

RIO

60

P

ilar /

Edi

ção

nº. I

Pila

r / E

diçã

o nº

. I

6

1

A inex

periê

ncia

ger

a fa

tos e

n-gr

açad

os. O

sar

au n

a C

asa

das

Rosa

s es

tava

mar

cado

par

a co

-m

eçar

às 1

9 ho

ras.

Poré

m, d

as q

ua-

tro i

nteg

rant

es,

duas

esta

vam

fla-

nand

o pe

la L

ivra

ria C

ultu

ra,

para

co

mpr

ar u

m li

vro

para

a fa

culd

ade.

Ao

ver

em u

ma

lista

de

pres

ença

e

desc

obrir

em q

ue o

sar

au s

ó ac

eita

-va

insc

riçõe

s até

o in

ício

do

even

to

(era

m 1

8h45

), as

dua

s in

tegr

ante

s qu

e es

tava

m n

a C

asa

das R

osas

não

tiv

eram

dúv

ida:

liga

ram

par

a as

ou-

tras

dua

s:–

Venh

am r

ápid

o ou

voc

ês n

ão

vão

cons

egui

r ent

rar n

o sa

rau!

!!

Ao o

uvire

m a

fra

se i

mpe

rativ

a,

as m

oças

não

tiv

eram

dúv

ida:

me-

lhor

cor

rer.

Elas

cor

rera

m,

liter

al-

men

te, c

erca

de

2 qu

ilôm

etro

s par

a ch

egar

em a

tem

po n

o sa

rau.

Ac

ostu

mad

a a se

rvir

com

o pa

lco

para

a c

orre

ria p

aulis

tana

de

quem

es

tá s

empr

e at

rasa

do p

ara

o tr

aba-

lho,

nes

se d

ia,

a Av

enid

a Pa

ulist

a vi

u du

as

men

inas

de

sesp

erad

as,

corr

endo

com

o lo

ucas

, tu

do p

ara

não

perd

er o

sar

au.

Ao c

hega

rem

es

bafo

ridas

por

lá, e

las

perc

eber

am

o eq

uívo

co. S

im, o

sara

u co

meç

aria

às

19h

, mas

a ta

l da

insc

rição

era

para

poe

tas.

Faze

r rep

orta

gens

de f

ôleg

o co

mo

as q

ue co

mpõ

em a

revi

sta “

Pila

r” n

ão é

tare

fa fá

cil;

pelo

cam

inho

sobr

am h

istór

ias d

e difi

culd

ades,

mal

-ent

endi

dos,

doses

extra

s de c

ansa

ço

e (po

r que

não

?) at

é um

pou

co d

e hum

or

Alg

umas

dec

isões

são

bem

co

mpl

icad

as.

Com

o, p

or

exem

plo,

esc

olhe

r no

mes

de

edito

-ria

s par

a um

a rev

ista q

ue, a

té en

tão,

exi

stia

na c

abeç

a da

s ide

aliza

do-

ras.

O l

ocal

esc

olhi

do p

ara

faze

r ta

is de

finiç

ões –

um

dos

par

ques

da

Bibl

iote

ca M

ário

de

Andr

ade,

no

Cen

tro –

no

enta

nto,

foi

ins

pira

-do

r. C

erca

das

de n

atur

eza,

em

um

cl

ima

que

mal

lem

brav

a a

met

ró-

pole

agi

tada

de

sem

pre,

as

quat

ro

men

inas

se

sent

aram

em

um

dos

ba

nqui

nhos

e d

ivag

aram

por

hor

as

tent

ando

defi

nir

nom

es c

riativ

os

para

a r

evist

a. D

eu c

erto

. Tod

as a

s

edito

rias

fora

m c

riada

s ne

sse

dia.

Po

rém

a di

vaga

ção

foi l

onge

, mui

to

long

e, t

ão l

onge

que

um

a da

s in

-te

gran

tes,

depo

is de

hor

as d

e óc

io

cria

tivo,

diss

e:–

Nos

sa!!!

As o

utra

s ol

hara

m,

curio

sas.

E el

a co

ntin

uou:

– Es

sas

árvo

res.

Dev

em s

er v

e-lh

as, n

é? S

erá

que

elas

vie

ram

an-

tes d

a bi

blio

teca

ou

a bi

blio

teca

foi

cons

truí

da e

m v

olta

del

as?

Toda

s se

ent

reol

hara

m e

pen

-sa

ram

a m

esm

a co

isa:

era

mes

mo

hora

de

final

izar a

reun

ião

e ir

para

ca

sa d

esca

nsar

.

Para

dar

cont

a de

ta

ntas

en

trev

istas

pr

evist

as p

ara

as m

atér

ias,

as q

uatr

o m

enin

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oram

lo

nge.

Pas

sara

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ias i

ntei

-ro

s and

ando

de

lá p

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cá,

de u

m sa

rau

para

o o

utro

, pr

ogra

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do u

ma

ida

a G

uaru

lhos

, in

do a

té S

u-za

no,

perc

orre

ndo

a pé

o

trec

ho in

teiro

da

Sé a

Hi-

gien

ópol

is. F

oi a

ssim

que

um

a de

las

– ap

ós i

r pa

ra

Tabo

ão d

a Se

rra

e vo

ltar

para

a C

onso

laçã

o –

pas-

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, m

uito

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, no

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da

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. E is

so d

entr

o do

sar

au, n

a im

inên

cia

de

mai

s um

poe

ma.

É c

laro

qu

e fo

i am

para

da,

incl

u-siv

e po

r um

dos

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revi

s-ta

dos,

mas

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fico

u co

m

a im

pres

são,

nes

se d

ia, d

e qu

e jo

rnal

ismo

é um

a co

i-sa

mui

to so

frid

a.

30/7

/13

Har

d N

ews

Em u

ma

das

prim

eira

s vi

sitas

aos

sar

aus,

foi

poss

ível

pe

rceb

er q

ue s

air

ante

s do

fina

l do

eve

nto

pode

ser

be

m a

ntip

átic

o. M

orad

oras

do

extr

emo

sul d

e Sã

o Pa

ulo,

as

inte

gran

tes a

trav

essa

ram

a c

idad

e pa

ra c

onhe

cer

um sa

rau

na

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nor

te. P

orém

, não

pod

endo

fica

r at

é o

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odas

fora

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intim

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as p

elo

mes

tre d

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imôn

ias a

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r por

mai

s tem

po.

Com

o iss

o nã

o fo

i pos

sível

, o c

urad

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o ev

ento

que

est

ava

naqu

ele

mom

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anu

ncia

ndo

uma

apre

sent

ação

de

sam

ba,

disp

arou

: “Q

uem

não

gos

ta d

e sa

mba

, bom

suje

ito n

ão é

. Ou

é ru

im d

a ca

beça

ou

doen

te d

o pé

!”N

ão e

ra p

elo

sam

ba. E

ra m

edo

de

per

der

o ôn

ibus

.

15/9

/12

- Se

m g

inga

do

Arquivo Pessoal Jessica Viana

Aba

ixo,

qua

ndo

tudo

com

eçou

: C

ínti

a Fe

rrei

ra, C

amila

R

eim

berg

, Jés

sica

Via

na e

Es

téph

ane

Ran

ni e

m v

isit

a à

Cas

a da

s Ros

as n

o di

a 24

/3/1

3

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Estéphane Ranni

Foto

s exp

osta

s no

Rel

icár

io R

ock

Bar

, no

Gra

jaú,

zon

a su

l de

São

Paul

o. O

est

abel

ecim

ento

é p

alco

do

sara

u So

bren

ome

Libe

rdad

e de

sde

a cr

iaçã

o do

mov

imen

to,

em 2

012.

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