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RESUMO "MAS AFINAL, O QUE É EDUCAÇÃO FÍSICA?: UM EXEMPLO DO SIMPLISMO INTELECTUAL" O trabalho expõe uma crítica às concepções idealistas que se constituem em referências para o autor do artigo "Mas afinal, o que é Educação Física?" e procura responder aos problemas, de ordem filosófica, episte- mológica, metodológica e política, levantados pela pergunta. As contribuições das autoras surgem da radicalização da crítica a partir marco teórico e metodológico materialista- histórico-dialético. Em texto recente, apresentado pelo professor Adroaldo Gaya, em aula inaugural ministrada na ESEF/ UFRGS, intitulado "Mas afinal, o que é Educação Física?", o autor nos acena com a volta ao simples, como caminho para encontrar respostas ao que, afinal, seja Educação Física. Por solicitação do editor da revista Movimenta estamos apresentando este primeiro texto de uma série, com o objetivo de instigar reflexões mais profundas sobre o tema, onde explicitaremos elementos para contestar uma definição de Educação Física elaborada idealisticamente. (Lenine, 1982). Não é nova, no seio da intelectualidade, a utilização de recursos desmobilizadores da reflexão e do debate político e ideológico, como os de "colocar como referência a própria ausência de referências", ou de "voltar ao simples" (Freitas, 1991), assim desconhecendo, ingenuamente e sem sutilezas, as relações sociais subjacentes à produção do conhecimento e à prática pedagógica. A definição de Educação Física, apresentada por Gaya em sua aula inaugural ESEF/UFRGS, setembro/ 1993, tem como ponto de partida a recorrência cultural ao simplismo - próprio das tendências onde prevalece a incerteza, a volta ao passado, a busca de raízes étnicas - para sistematização do conhecimento, produzido sobre o assunto. Essa recorrência pode ser exemplificada e reconhecida no seu texto quando apresenta a produção do conhecimento a partir de referências regionais como: França - Le Boulch, J., Parlebas, P. ; Espanha - Cadigal, J.M., Pedraz, M. V., Moreno, J.H., Lopez, J. R.; países de língua inglesa - Brooks, G.A.,-Henry, MF.M., Rarick,G.L, Park, R. J., Newell, K. M., Renson, R., Higgins, J.R., Brooke, J. D., Whitting, H. T. A, Katch, F. I., Sabbo, D. G. H., Glas-seford, R. G.; Alemanha - Haag, H., Grupe, O., Kirch, A., Willimczik, K., Meinberg, E.; na ex RDA- Bauersfeld, K. H., Adam, Y.; Dinamarca - Eichberg, H.; Portugal - Sérgio, M., Sobral, F., Proença, J., Bento, O., Constantino, J. M., Marques, A.; Brasil - Oliveira, V. M., Medina, J..P. S., Da Costa, L. P. Santin, S., Faria Júnior,A., Teixeira, LA, Tani, G., Canfield, J. T., Do Carmo, A. A, Bracht, V., Lovisolo, H., Farinatti, P. T. V. (2) Na sua análise, Gaya Recife, 30 de Novembro de ! 993. (1) , Mas, afinal, o que é Educação Física?: um exemplo do simplismo intelectual Celi Nelza Zulke Taffarel Micheli Ortega Escobar Especial . Temas Polêmicos ............................

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Page 1: Taffarel - Escobar 1994

RESUMO

"MAS AFINAL, O QUE ÉEDUCAÇÃO FÍSICA?: UMEXEMPLO DO SIMPLISMOINTELECTUAL"

O trabalho expõe umacrítica às concepções idealistasque se cons t i tuem emreferências para o autor doartigo "Mas afinal, o que éEducação Física?" e procuraresponder aos problemas, deordem fi losóf ica, episte-mológica, metodológica epolít ica, levantados pelapergunta. As contribuições dasa u t o r a s s u r g e m d aradicalização da crítica a partird ó m a r c o t e ó r i c o emetodológico materialista-histórico-dialético.

Em tex to recen te ,apresentado pelo professorAdroaldo Gaya, em aulainaugural ministrada na ESEF/UFRGS, intitulado "Mas afinal,o que é Educação Física?", oautor nos acena com a volta aosimples, como caminho paraencontrar respostas ao que,afinal, seja Educação Física.

Por solicitação do editorda revista Movimenta estamosapresentando este primeirotexto de uma série, com oobjetivo de instigar reflexõesmais profundas sobre o tema,onde explicitaremos elementospara contestar uma definiçãode Educação Física elaboradaidealisticamente. (Lenine,1982).

Não é nova, no seio daintelectualidade, a utilização derecursos desmobilizadores dareflexão e do debate político eideológico, como os de "colocarcomo referência a própriaausência de referências", ou de"voltar ao simples" (Freitas,1991), assim desconhecendo,ingenuamente e sem sutilezas,as relações sociais subjacentesà produção do conhecimento eà prática pedagógica.

A definição de EducaçãoFísica, apresentada por Gayaem sua au la inaugura lESEF/UFRGS, setembro/1993, tem como ponto departida a recorrência culturalao simplismo - próprio dastendências onde prevalece ai n c e r t e z a , a v o l t a a o

passado, a busca de raízesétnicas - para sistematizaçãodo conhecimento, produzidosob re o assun to . Essar e c o r r ê n c i a p o d e s e rexemplificada e reconhecida noseu texto quando apresenta aprodução do conhecimento apartir de referências regionaiscomo: França - Le Boulch, J.,Parlebas, P.; Espanha -Cadigal, J.M., Pedraz, M. V.,Moreno, J.H., Lopez, J. R.;países de língua inglesa -Brooks, G.A.,-Henry, MF.M.,Rarick,G.L, Park, R. J., Newell,K. M., Renson, R., Higgins, J.R.,Brooke, J. D., Whitting, H. T. A,Katch, F. I., Sabbo, D. G. H.,Glas-seford, R. G.; Alemanha -Haag, H., Grupe, O., Kirch, A.,Willimczik, K., Meinberg, E.; naex RDA- Bauersfeld, K. H.,Adam, Y. ; D inamarca -Eichberg, H.; Portugal - Sérgio,M., Sobral, F., Proença, J.,Bento, O., Constantino, J. M.,Marques, A.; Brasil - Oliveira, V.M., Medina, J..P. S., Da Costa,L. P. Santin, S., Faria Júnior, A.,Teixeira, L A, Tani, G., Canfield,J. T., Do Carmo, A. A, Bracht, V.,Lovisolo, H., Farinatti, P. T. V. (2)

Na sua análise, Gaya

Recife, 30 de Novembro de ! 993.

(1)

,

Mas, afinal, o que éEducação Física?:

um exemplo do simplismo intelectual

Celi Nelza Zulke Taffarel

Micheli Ortega Escobar

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encontra duas tendênciasnos estudos. A primeira,predominante, considera aEducação Física como umac iênc ia re la t i vamen teautônoma e uma disciplinaacadêmica e/ou científicaq u e a l i m e n t a d u a sperspectivas: uma quepretende colocar, em umú n i c o e s p a ç o d einvestigação, as diferentesformas de expressão dacultura corporal, tais como aciência da motricidadeh u m a n a , c i ê n c i a d omovimento, ciências doexercício, cinesiologia oucineantropologia, a psico-cinética ou a praxiologia eoutra que pretende a criaçãode um espaço capaz deabarcar toda e qualquerdisciplina científica que, dealguma forma, trate dequestões referentes aodesporto como práticac o r p o r a l e m o t o r aespecífica, tal como asciências do desporto ec i ê n c i a s d o t r e i n odesportivo.

A segunda tendência,cética quanto a hegemoniado conhecimento científicoque entende a EducaçãoFísica como filosofia dacorporeidade e, também,a p r e s e n t a d u a sperspectivas: a primeira ,existencialista, configura aEducação Física no discursofilosófico da corporeidade,dando ênfase ao lúdico, àsexualidade, às práticasalternativas de expressãocorporal; e a segunda,culturalista, que prevê areconstrução da EducaçãoFísica na ótica do lazer, dosjogos populares e tradicio-nais.

A posição do autor,expressa na citação "(...) É

necessário voltar às coisassimples, à capacidade deformular perguntas simples(...)" (Santos, 1991, p.6), oconduz a esta análisesimplista e reducionista dofenômeno. Os autoresmencionados a princípio;não mereceram sua críticarigorosa, nem do ponto devista da hermêutica deRicoueur.

A limitação da possibilidadecrítica de Gaya, ao analisarestas tendências, pode serexplicada pela ausência dacategoria "atividade", nosentido marxista, explicativadas mudanças trazidas pelom o d o d e p r o d u ç ã ocapitalista - por exemplo, eentre outros - à atividadelúdica do homem, que deveser entendida como todaatividade humana, a qual

T o d a v i a ,argumentações como as deGaya e dos autores que eleanalisa de forma simplista,exp l i cam-se pe la nãoconsideração da EducaçãoFísica como produção nãom a t e r i a l q u e , e mdeterminados estágios epela influência de certosfatores próprios do sistemacapitalista, sofre o mesmoprocesso de privação dassuas qualidades sensíveissofr ido pela produçãomaterial.

"(...) o absurdos o c i a l d e q u e oprocesso vivo daa p r o p r i a ç ã o d anatureza pelo homeme das relações sociaisp o r e l a m e d i d a sassumem a forma dep r o p r i e d a d e s d eobjetos mortos. Aatividade viva doshomens é absorvida,por assim dizer, pors e u s p r ó p r i o sprodutos, que por essemecanismo absurdosão promovidas aquase-su je i tos dasociedade, enquantoos homens, seusc r i a d o r e s , s ã odegradados a merosacessórios)...)"-(Kurz,1992, p.240).

"aparece como um sistema

incluído no sistema de

relações da sociedade. A

a t i v i d a -

de humana não existeem abso lu to fo radestas relações. (...)Quando se analisa aatividade temos quea s s i n a l a r q u e aatividade objetiva geranão somente o caráterobjetivo das imagens,s e n ã o t a m b é m ao b j e t i v i d a d e d a snecessidades, dase m o ç õ e s e d o ssentimentos". (Leo-ntiev, 1979, p.l 1-14).

"A definição de

Educação Física,

apresentada por

Gaya, tem conto

ponto de partida a

recorrência cultural

ao simplismo para

sistematização do

conhecimento

produzido sobre oassunto ".

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G a y a e s u a sreferências não levam emc o n t a a r e l a ç ã o d odesenvolvimento geral dasociedade e da sua basematerial como determinanteda "qualidade" da produçãoda cultura corporal, que, emum modo de produçãocapitalista, sobrepõe aocaráter lúdico das atividadesa v i o l ê n c i a , acompetitividade exacerbada,a estimulação por drogas,enfim, os subprodutos dacultura dos "esportes dealtos rendimentos".

Admitimos que aspergun tas podem sers i m p l e s , m a s , p a r arespondê-las, precisamos depensamentos complexos;nisto filósofos europeusconcordam, a exemplo deE d g a r M o r i n ( 1 9 8 6 ) ,defensor da necessidade damudança do modo depensar.

À pergunta: "O que éEducação Física? Seráciência, ou será filosofia?" oa u t o r , e m s e upronunciamento durante aaula inaugural, respondecoma definição, "(...) aEducação Física é umad i s c i p l i n a n o r m a t i v a "(1993:7), alegando que "(...)as demais tendências queinferem a possibilidade dereduzir a Educação Físicaexclusivamente a umaciência, ou a uma filosofia,acabam por destruí-la de seureal significado social e, maisdo que isto, apontam para adescaracterização de nossaidentidade profissional".Argumenta que á EducaçãoFísica é consubstanciadanuma pedagog ia comobjetivos formativos, nãop o d e n d o r e s u m i r - s e

A princípios científicos efilosóficos, senão que a umaf u n d a m e n t a ç ã o e u mconjunto de valores e tendocomo re fe rênc ia umaaxiologia.

A o i n f e r i r q u e a"Educação Física é umaprática de intervenção nomundo concreto", enquantoque a filosofia não assumeesta prerrogativa, Gayadesconsidera, totalmente, osreferenciais da dialéticamate r ia l i s ta h i s tó r i ca ,cometendo um equívocoteórico seríssimo que anulaseu esforço acadêmico deracionalizar a análise sobre oque é a Educação Física.

A "intervenção nomundo concreto" não estálimitada ao mundo dasaparências. A prática daEducação Física em si nãogarante a intervenção noreal, visto que esta práticapode-se dar de maneiraa l i e n a d a e p e l a

apreensão do real a partir derepresentações, a exemploda forma como o esporte éconsiderado na escola,a b o r d a d o c o m o u m aatividade abstrata - como umtrabalho cujo dispêndio def o r ç a v a i a l é m d a snecessidades concretas - esem avaliar a qualidadedestrutiva da socializaçãos u b j a c e n t e a e s s aconcepção*.

Não ficam por aqui osequívocos teóricos. O autormenciona que a prática daEducação Física efetua-sesegundo princípios advindosdo conhecimento científico, eque estes fundamentos de-t e rm inam sua p ráx i s .De scon s id e ra q ue a sdeterminações da práticasocial da Educação Física,em última instância, nãoadvêm de "fundamentos"pré-concebidos, mas depossibilidades, históricasp a r a e l a c o l o c a d a s .Desconsidera, ainda, que omovimento do pensamentopara apreender esta práticasocial pode-se dar em basespré-conceituais, pré-científi-c a s , a t r a v é s d erepresentações, ou combases conceituais querevelam a essência, as leisinternas do fenômeno.

É este "movimento dopensamento", demonstradopelos raciocínios de Gayaq u e a p o n t a p a r a anecessidade de uma novaracionalidade (Edgar Morin1986, Gorz 1993). Oidealismo é insuficientep a r a a p r e e n d e r o sf e n ô m e n o s s o c i a i sconcretos.

N a s a g a d o sequívocos teóricos o autoradmite

"Argumentaçõescomo as de Gaya edos autores que eleanalisa, explicam-se

pela nãoconsideração daEducação Física

como produção nãomaterial que, em

determinadosestágios, sofre o

mesmo processo deprivação das suas

qualidadessensíveis sofridopela produção

material".

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que"(...) nesse quadro ondeconve rgem con teúdosdiversos (da bio log ia,antropologia, sociologia,psicologia, etc.) configura-seum espaço multidisciplinaronde se percebe umaprofunda ausência deobjetivos e objetos comuns,f i cando, des ta fo rma,destituídas de uma definiçãoe p i s t e m o l ó g i c a emetodológica capaz deresponder às necessidadesinerentes aos intervenientesda Educação Física". Comesta afirmação, o autorcomete dois enganos. De uml a d o , r e p o r t a e s s e sinteresses ao plano abstratodas disciplinas, ignorandoc o m p l e t a m e n t e o sinteresses humanos e declasse na prática social deEducação Física e, do outrol a d o , a b o r d a amultidisciplinaridade a partirde "objetivos comuns",desconsiderando o processode trabalho concreto ondeocorre a produção deconhecimento, o qual éhistoricamente determinadoe configura interesses dec l a s s e s a n t a g ô n i c a spresentes no modo deprodução e de reproduçãoda vida capitalista.

G a y a d e m o n s t r adesconhecer, ou relega porescolha pessoal, a teoriad i a l é t i c a m a t e r i a l i s t ahistórica de produção eapropr iação socia l doconhecimento, por istoadmite que "enquanto noâmbito do conhecimentocientífico se discute asdefinições de seus objetosteóricos, ou seja, enquantoos discursos científicosprocuram responder aoscritérios inerentes aos juízos

epistemológicos, a práticada Educação Física enfrentao desafio que, entretanto, secoloca ao homem concreto".

Sustenta a EducaçãoF í s i c a c o m o p r o j e t opedagógico, afirma que á"Educação" e parte doconceito de Educação geral,c o m o s e n d o o " ( . . . )d e s e n v o l v i m e n t o d ap e r s o n a l i d a d e ,d e s e n v o l v i m e n t o d a sc a p a c i d a d e s f í s i c a s ,mo to ras , i n te lec tua i s ,afetivas e morais dos sereshumanos, visando suaatuação na sociedade". Ficaa q u i e v i d e n t e u m aconcepção de Educaçãocompletamente superada,porque idealizada, fora doc o n t e x t o d a e s c o l acapitalista em cujo interiorconfrontam-se interesseshegemônicos e emergentesque a colocam em tensãoentre dois pólos: propiciar aemancipação humana oufavorecer a alienação,d e t e r m i n a d o s p e l o smovimentos

sociais organizados e pelarea l idade con jun tu ra l .(Duarte, 1 992). Isto énegado, demonstrando,mais uma vez, seu raciocínioidealista.

O exame crítico dopensamento de Gaya nosp õ e d e r e l e v o s u aconcepção de filosofia e deciência, baseadas emrepresentações do real. Aoestabelecer dicotomia entreciência e filosofia, sendoesta última reduzida àsabstrações de um discursoespeculativo de cunhoaxiológico, o autor recusa afilosofia da práxis e cai nalógica de raciocínio, utilizadapelos autores que eleanalisa. Estabelece cisões ef r a g m e n t a ç õ e s q u ee x p r e s s a m , n o s e up e n s a m e n t o , a sfragmentações instaladas naprodução do conhecimentono modo capitalista. Afirmaque o que faz interagir aciência e a filosofia é aEducação Física "na ação dee n s i n a r, n a a ç ã o d econduz i r " , conc lu indo,equivocadamente, que aação pedagógica seriacapaz de concretizar ain te ração ax io log ia xepistomologia. Aposição deGaya nos parece ser a de

"(...)Um abstratosujeito cognoscente,d e u m a m e n t ep e n s a n t e , q u eexamina a realidadeespeculativamente"(Kosik, 1976, p. 9-33).

A radicalização dacompreensão dia lét icamate r ia l i s ta h is tó r i ca ,e n q u a n t o t e o r i a d oc o n h e c i m e n t o , n o sp o s s i b i l i t a a p o n t a r oe q u í v o c o d a s d e n o -m i n a ç õ e s - t e r -

"Ao estabelecerdicotomia entre

ciência e filosofia,sendo esta última

reduzida àsabstrações de um

discursoespeculativo de

cunho axiologico, oautor recusa a

filosofia da práxise cai na lógica de

raciocínio,utilizada pelosautores que ele

analisa ".

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minologias - empregadaspelos autores citados porG a y a e q u e b u s c a mdelimitar objetos de estudopara a Educação Física taiscomo "movimento humano,psico-cinética, ciências doe s p o r t e ; c i ê n c i a s d odesporto e motricidadehumana", colocados nomarco referencial dasconcepções idealistas e dar e f e r ê n c i a c i e n t i f i c aempírico-analítica, hermêu-tica e fenomenológica. Nelasfica evidente um recorrer àsciências humanas e sociaissomente para legitimar umaperspect iva f i losóf ico-c i e n t í f i c a s u p e r a d a ,esgotada, que é o idealismoe o método empírico-analítico de pesquisa.

Gaya deixa evidenteneste texto, não admitir queo fazer científico se dádentro de determinadasrelações históricas quecaracterizam a ciênciaenquanto: a) força produtiva- pois quando incorporadaaos processos produtivosaumenta a produtividade, orendimento, a mais-valia,assegurando a acumulaçãodo capital e as condiçõesque o perpe tuam; b)dominação política - poisquando incorporada àsociedade industrial, àmodernidade e à pós-modernidade, por umapolítica de racionalidadec i e n t í f i c o - t e c n o l ó g i c aassumida pelo Estado,determina condições devida, processos de trabalho,de acesso a bens culturaiscomo educação, saúde,segurança; c) ideologia -pela sua subjunção aosinteresses das classesdominantes, mediatizadospelo Estado e expressos

em leis, planos e diretrizesg o v e r n a m e n t a i s eadministrativas (Sobral,1988).

Nas reflexões deGaya sobre o que éEducação Física estasdimensões da ciência sãoignoradas. Repete, assim,em sua análise, os enganosdo que se propõe a analisar.

Completa o quadro deequívocos - de teses falsasporque sustentadas empseudo-conceitos e eraformas fenomênicas - aEducação Física entendidacomo uma Pedagogia, noâmbito de um projetoantropológico. Afirma oautor: "Devemos ter claroque a Educação Física éuma intervenção no realconcre to a par t i r deobjetivos práticos". Absurdoteórico. Já manifestamosque a intervenção no realestá na dependência daqualidade da práxis social,h is tor icamente deter -

Minada no marco deprodução da vida e segundointeresses de classe. Negara necessidade imperiosa deabarcar a complexidadeque traz em si a tentativa dedefinição de EducaçãoFísica é, no mínimo, umarecorrência cultural ao"misticismo". Com isto nãoc o n s t r u í m o s n e m opresente digno, nem ofuturo promissor.

Nossa expectativa é ade que os brasileiros queestejam estudando naEuropa, e Estados Unidosreconheçam as "sucatascientíficas idealistas" quelhes são oferecidas. Nossoreceio é que estas "sucatas"q u e b r e m o b r i orevo luc ionár io desseshomens de valor.

Não vamos cometer oequívoco histórico de, maisuma vez, "trocarmos nossoouro por espelhos".

"Negar anecessidadeimperiosa de

abarcar acomplexidade que

traz em si atentativa dedefinição de

Educação Física é,no mínimo, uma

recorrênciacultural ao

'misticismo'. Comisto não

construímos nem opresente digno, nem

o futuroPromissor”

REFERÊNCIASBIBLIOGRÁFICAS

Trabalho,Educação e Prática Social.

i

A formação doindivíduo e a objetivação do gêneroh u m a n o

VI Encontrode Didática e Prática de Ensino

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GAYA,Adroaldo C.Porto Alegre,

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RICOUEUR, P.Ideologias. 3 ed. Rio de Janeiro,FranciscoAves, 1988

1. ecorrência cultural é abordadacomo sendo o encaminhamento dedemandas historicamente forjadas eque buscam ser atendidas, tanto porsujeitos coletivos, de acordo com suasp o s s i b i l i d a d e s d e a c e s s o adeterminados bens historicamenteproduzidos. Assim como para osindivíduos que vivem em paísesindustrialmente desenvolvidos, ainformática possibilita lidar com a"realidade virtual", os indivíduos quevivem onde prevalecem formaseconômicas pré-capitalistas recorremao misticismo e ao "miticismo" para lidarcom dados da realidade. O que .osaproxima é que a lógica de raciocinarsobre a realidade é baseada empseudopreconce i tos , ou se ja ,representações da realidade. A lógicaque os rege.é a da alienação, alienaçãoesta drasticamente acentuada nocapitalismo avançado. Ver a respeitodeste fenômeno humano, social,psicológico e político a obra .BOTTOMORO, T, Ed.Dicionário dopensamento Marxista. Rio de Janeiro,Zahar, 1983.

Estes são os autores analisados por

Gaya e referenciados no seu texto. .

Educação física, filosofia, ciências,idealismo, materialismo histórico-didático.

Agenda.

Dialética do concreto.

c o l a p s o d amodernização.

Materialismo Empiro-criticismo:

Activvidad,Conciencia,

Para sair do século

de Estudos Pedagógicos,

Interpretação e

NOTAS

UNITERMOS

a

e

!

!

CELI NELZAZULKE TAFFAREL.

MJCHELI ORTEGA ESCOBAR.

Professora Adjunta do Departamento deEducação Física do Centro de Ciências daSaúde da Universidade Federal dePernambuco. Doutora em Educação,UNICAMP.

Professora Adjunta do Departamento deEducação Física do Centro de Ciências daSaúde da Universidade Federal dePernambuco. Mestranda em Educação,UNICAMP.

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