tac 25 junho 2013
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SERVIÇO PÚBLICO FEDERALMINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO PARÁCURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM SANEAMENTO AMBIENTAL
ANNELISE MACHADO DA SILVAHELLAYNE CAROLINE PACHECO FERREIRA
PROJETO SANITÁRIO ECOLÓGICO SECO: EFICÁCIA, EFETIVIDADE E PROMOÇÃO DA SAÚDE
BELÉM2013
INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO PARÁ CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM SANEAMENTO AMBIENTAL
ANNELISE MACHADO DA SILVAHELLAYNE CAROLINE PACHECO FERREIRA
PROJETO SANITÁRIO ECOLÓGICO SECO: EFICÁCIA, EFETIVIDADE E PROMOÇÃO DA SAÚDE
Trabalho Acadêmico de Conclusão de Curso apresentado ao Colegiado Específico do Curso Superior de Tecnologia em Saneamento Ambiental do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Pará – IFPA, como requisito para obtenção do Grau de Tecnólogo em Saneamento Ambiental, sob orientação da Profª. Dra. Cezarina Maria Nobre Souza.
BELÉM2013
2
INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO PARÁ CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM SANEAMENTO AMBIENTAL
ANNELISE MACHADO DA SILVAHELLAYNE CAROLINE PACHECO FERREIRA
PROJETO SANITÁRIO ECOLÓGICO SECO: EFICÁCIA, EFETIVIDADE E PROMOÇÃO DA SAÚDE
Data da Defesa: ___/___ /___
Conceito: ________________
Banca Examinadora
___________________________________________Profª. Dra. Cezarina Maria Nobre Souza, IFPA
(Orientadora)
__________________________________________Prof
Examinador Interno
____________________________________________Prof
Examinador Externo
3
Aos nossos familiares e amigos, que estiveram sempre ao nosso lado nos apoiando em todos os momentos de nossas vidas, e que nos ajudaram a realizar esta conquista.
4
AGRADECIMENTOS
À toda nossa família, especialmente nossos pais, que contribuíram de alguma
forma para que pudéssemos alcançar nossos objetivos.
À nossa orientadora Professora Cezarina Maria Nobre Souza, que apesar de
tudo, nunca desistiu de nós. Muito obrigado pela sua paciência em todos esses
anos, sua boa vontade e pelos seus ensinamentos.
À FAPESPA, que nos ajudou financiando esta pesquisa com bolsa de
iniciação científica.
Por último e não menos importante, à toda turma de Tecnologia em
Saneamento Ambiental do ano de 2009, pela contribuição mútua com nossos
estudos e projetos.
5
“(...) A força decisiva terá de vir do nosso interior, onde se depositou a bagagem de nossa vida”.
Lya Luft
(Pensar é Transgredir, 2004, p.72)
6
RESUMO
Este estudo se propôs a avaliar o Projeto Sanitário Ecológico Seco, implantado em
Belém, na ilha Jutuba, do ponto de vista de sua eficácia objetiva; de sua efetividade
subjetiva e da Promoção da Saúde. Para essa finalidade, se realizou entrevistas
com usuários, assim como pesquisas documentais e bibliográficas. Os resultados
obtidos indicam que a intervenção não alcançou eficácia objetiva e efetividade
subjetiva; e também não se alinha à proposta de um saneamento alicerçado na
Promoção da Saúde. Foram propostas recomendações com o objetivo de corrigir os
indicativos de ineficácia e não efetividade, realizando ações mais profundas e
efetivas de educação ambiental; exames parasitológicos do material compostado;
estabelecimento de parcerias para o fornecimento da serragem e da cal; dentre
outros.
PALAVRAS-CHAVE: Saneamento, Sustentabilidade, Sanitário Ecológico Seco,
Eficácia, Efetividade, Promoção da Saúde
7
ABSTRACT
This study is proposed to evaluate the Ecological Dry Sanitation Project deployed in
Belém, on the island Jutuba, from the point of view of its effectiveness objective; his
subjective effectiveness and health promotion. For this purpose, were done
interviews with users, as well as documentary and bibliographic research. The results
obtained indicate that the intervention did not reach the effectiveness objective and
subjective effectiveness also; and does not line up to the proposal for sanitation
based on health promotion. Recommendations were proposed in order to correct the
inefficiency and indicative of not effectiveness, performing actions deeper and
effective environmental education; parasitological examinations of composted
material; partnerships for the supply of sawdust and lime, among others.
KEYWORD: Sanitation, Sustainability, Ecological Dry Sanitation, Efficiency,
Effectiveness, Health Promotion.
8
LISTA DE FIGURAS
1 Localização geográfica da Ilha de Jutuba...................................................... 21
2 Pirâmide etária da ilha Jutuba, ano 2010....................................................... 22
3 Distribuição de renda familiar, ilha Jutuba, ano 2010...................................... 23
4 Perfil da escolaridade dos moradores da Ilha Jutuba, ano 2010..................... 24
5 Imagem dos sanitários antes da aplicação do projeto..................................... 27
6 SES implantado na ilha de Jutuba, ano 2010.................................................. 28
7 Húmus Sapiens, IPEC-Góias, Brasil................................................................ 29
8 Vaso sanitário com separadores de dejetos.................................................... 30
9 Coletor de urina e a chaminé na parte de trás do sanitário............................. 31
10 Modelo do sanitário ecológico seco na ilha de Jutuba.................................... 32
11 Kit de construção do sanitário ecológico seco................................................. 33
12 Percentual de pessoas com sintomas digestivos na ilha de Jutuba................ 52
13 Percentual de pessoas com sintomas circulatórios na ilha de Jutuba............. 52
9
LISTA DE TABELAS
1 População feminina distribuída por ocupação na ilha de Jutuba de 2008 a
2010)............................................................................................................ 22
2 População masculina distribuída por ocupação na ilha de Jutuba de 2008
a 2010............................................................................................................ 23
3 Número de domicílios, número de moradores das ilhas, média de tempo
de moradia por domicílio em anos e média de morador por domicilio na
ilha de Jutuba no ano de 2010....................................................................... 24
4 Distribuição percentual das famílias por situação de residência, segundo características selecionadas..........................................................................
25
5 Roteiro de perguntas destinadas aos usuários para avaliação da eficácia
objetiva e da efetividade subjetiva da intervenção......................................... 45
6 Roteiro de perguntas destinadas aos usuários para avaliação da
intervenção do ponto de vista da Promoção da Saúde................................. 46
7 Roteiro de perguntas destinadas aos idealizadores/executores da
intervenção para avaliação da intervenção do ponto de vista da Promoção
da Saúde e da efetividade subjetiva.............................................................. 47
8 Percentual de moradores que se queixam de doenças nas ilhas Jutuba,
Nova e Urubuoca, por doenças..................................................................... 50
9 Ideias centrais das respostas à pergunta 1 (Como está a ocorrência de
doenças intestinais na comunidade depois da implantação do
projeto?)......................................................................................................... 53
10 Ideias centrais das respostas à pergunta 2 (O que é ter saúde para
você?)............................................................................................................ 54
11 Ideias centrais das respostas à pergunta 3 (O que é ter higiene para
você?)............................................................................................................ 55
10
12 Ideias centrais das respostas à pergunta 4 (Qual a importância do
ambiente para você?).................................................................................... 56
13 Ideias centrais das respostas à pergunta 5 (O que você acha dos direitos e
deveres que você tem como cidadão?)......................................................... 57
14 Ideias centrais das respostas à pergunta 6 (Como você produz o
adubo?).......................................................................................................... 58
15 Ideias centrais das respostas à pergunta 7 (Qual o destino que você dá ao
adubo que produz?)....................................................................................... 58
16 Resumo da Avaliação da Eficácia Objetiva................................................... 59
17 Ideias centrais das respostas à pergunta 11 (Como ficou sua vida depois
do projeto, em termos de facilidades e dificuldades)..................................... 60
18 Resumo da Avaliação da Efetividade Subjetiva............................................. 62
19 Ideias centrais das respostas à pergunta 1 (Qual o objetivo do projeto
Sanitário Ecológico Seco?)............................................................................ 63
20 Ideias centrais das respostas à pergunta 2 (Como está sendo o
funcionamento do projeto desde que foi implantado?).................................. 64
21 Ideias centrais das respostas à pergunta 3 (Que pessoas e instituições
atuaram no processo de implantação do projeto?)........................................ 64
22 Ideias centrais das respostas à pergunta 4 (Como você ficou sabendo do
projeto?)......................................................................................................... 65
23 Ideias centrais das respostas à pergunta 5 ( Que orientações você
recebeu sobre o funcionamento do sanitário ecológico seco? Quem
orientou?)....................................................................................................... 66
24 Ideias centrais das respostas à pergunta 6 (Quem foi o responsável pelo
projeto na época da implantação? Quem é responsável
atualmente?).................................................................................................. 66
11
25 Ideias centrais das respostas à pergunta 7 (Quais as facilidades e
dificuldades que você, idosos e crianças têm no dia-a-dia para fazer uso
do vaso sanitário implantado pelo projeto?).................................................. 67
26 Ideia central da resposta à pergunta 1 (Qual o objetivo do projeto Sanitário Ecológico Seco?)...........................................................................................
68
27 Ideia central da resposta à pergunta 2 (Como está sendo o funcionamento
do projeto desde que foi implantado?)........................................................... 69
28 Ideia central da resposta à pergunta 3 (Que pessoas e instituições
atuaram no processo de implantação do projeto?)........................................ 70
29 Ideia central da resposta à pergunta 4 (Como foi a tomada de decisão
para a implantação do projeto?).................................................................... 70
30 Ideia central da resposta à pergunta 5 (Como e quais foram as ações de
educação realizadas?).............................................................................. 71
31 Ideia central da resposta à Pergunta 6 (Quem foi o responsável pelo
projeto na época da implantação? Quem é responsável atualmente?)......... 72
32 Ideia central da resposta à pergunta 7 (De onde foi adotada a tecnologia
implantada? Quem foi o responsável pelo projeto na época da
implantação?)................................................................................................. 72
33 Resumo da Avaliação do Ponto de Vista da Promoção da Saúde................ 73
12
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO........................................................................................... 15
2 OBJETIVO................................................................................................. 17
2.1 OBJETIVO GERAL.................................................................................... 17
2.2 OBJETIVO ESPECÍFICOS........................................................................ 17
3 JUSTIFICATIVA........................................................................................ 19
4 REVISÃO DA LITERATURA.................................................................... 21
4.1 CARACTERIZAÇÃO DA ARÉA DO ESTUDO.......................................... 21
4.1.1 Indicadoredemográficos............................................................................ 21
4.1.2 Indicadores socioeconômicos.................................................................... 22
4.1.3 Indicadores habitacionais.......................................................................... 23
4.1.4 Indicadores educacionais.......................................................................... 24
4.1.5 Indicadores Epidemiológicos..................................................................... 25
4.1.6 Indicadores de Saneamento...................................................................... 25
4.2 TECNOLOGIA SANITÁRIA E ECOLÓGICO A SECO.............................. 28
4.2.1 Aspectos Gerais........................................................................................ 28
4.2.2 Funcionamento e operação....................................................................... 30
4.2.3 Vantagens limitações................................................................................ 32
4.3 AVALIAÇÃO DA EFICÁCIA E EFETIVIDADE DE POLÍTICAS E
AÇÕES....................................................................................................... 36
4.4 SAÚDE, AMBIENTE, HIGIENE, POLITÍCA, SANEAMENTO E
CIDADANIA............................................................................................... 38
4.5 SANEAMENTO E PROMOÇÃO DE SAÚDE............................................. 40
13
5 METODOLOGIA........................................................................................ 43
6 RESULTADOS E DISCUSSÃO................................................................ 49
6.1 AVALIAÇÃO DA EFICÁCIA OBJETIVA.................................................... 49
6.1.1 Perfil Epidemiológico Local........................................................................ 49
6.1.2 Percepções dos usuários sobre saúde, higiene, ecologia e cidadania...... 54
6.1.3 Avaliação do rendimento das famílias após o projeto SES....................... 57
6.1.4 Resumo da avaliação da eficácia.............................................................. 59
6.2 AVALIAÇÃO DA EFETIVIDADE SUBJETIVA............................................ 60
6.2.1 Percepções da população usuária sobre o impacto do projeto em sua vida............................................................................................................
60
6.2.2 Percepções dos idealizadores/executores sobre o impacto do projeto na Vida dos usuários....................................................................................... 61
6.2.3 Resumo da Avaliação da Efetividade Subjetiva......................................... 61
6.3 AVALIAÇÃO DO PONTO DE VISTA DA PROMOÇÃO DA SAÚDE.......... 62
6.3.1 Percepções dos usuários........................................................................... 63
6.3.2 Percepções dos idealizadores/executores................................................. 68
6.3.3 Resumo da Avaliação do Ponto de Vista da Promoção da Saúde............ 73
7 CONCLUSÃO............................................................................................ 75
8 RECOMENDAÇÕES.................................................................................. 76
9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................... 78
APÊNDICE 81
ANEXO 83
1. INTRODUÇÃO
14
No mundo, pode-se observar constantemente a triste realidade da ocupação
humana em lugares onde não há condições adequadas e saudáveis. Esse fato
atinge o Brasil de maneira grave, uma vez que é precária a estrutura de saneamento
no País.
Mas, apesar das grandes dificuldades, estão sendo realizadas intervenções
com objetivo de transformar essa realidade e fazer com que a população possa não
só viver, como também conseguir isso de maneira mais saudável. A construção de
sanitários ecológicos secos é uma alternativa usada para promover essas mudanças
de vida na população.
Considerando as dificuldades enfrentadas nas ilhas do entorno de Belém em
relação à precariedade sanitária, a Cáritas Metropolitana de Belém (CAMEBE)
implantou o projeto Sanitário Ecológico Seco (SES) nas ilhas Jutuba, Urubuoca e
Nova, no período compreendido entre abril de 2008 e 2010, com os objetivos de
diminuir a incidência de doenças causadas pela falta de saneamento na
comunidade; promover a educação da população em relação à saúde, higiene,
ecologia e cidadania; promover melhores condições de higiene para as famílias
beneficiadas; contribuir para o aumento da renda familiar através da venda do adubo
orgânico produzido (CAMEBE, 2008).
Levando em conta a relevância de tal projeto e sua replicação prevista para
outras ilhas, o presente estudo visa a analisar especificamente o projeto implantado
em Jutuba, a partir de aspectos relacionados à sua eficácia e efetividade, assim
como à teoria da Promoção da Saúde.
Dessa forma, trata-se de um estudo avaliativo conduzido a partir,
basicamente, dos referenciais teóricos propostos por Figueiredo e Figueiredo (1986),
Souza, Freitas e Moraes (2007) e Souza e Freitas (2009), e cuja metodologia incluiu
15
pesquisa bibliográfica e entrevistas com usuários dos sanitários ecológicos e
profissionais que fazem parte do corpo de voluntários da Cáritas.
Nas seções seguintes, são apresentados em detalhes os objetivos (seção 2)
e justificativas do trabalho (seção 3); a revisão da literatura (seção 4); a metodologia
(seção 5); os resultados obtidos e sua análise (seção 6) e, finalmente as
recomendações julgadas relevantes às futuras intervenções (seção 7).
2. OBJETIVOS
16
2.1. OBJETIVO GERAL
Avaliar o projeto SES implantado em Belém, na ilha Jutuba, do ponto de vista:
de sua eficácia objetiva, ou seja, se os resultados alcançados são iguais,
superiores ou inferiores aos objetivos propostos;
de sua efetividade subjetiva, isto é, se, na percepção da população usuária,
os resultados alcançados se adéquam aos seus desejos, aspirações e
demandas;
da Promoção da Saúde (PS), ou seja, se sua forma de planejamento,
implantação e gestão, a tecnologia utilizada, sua sustentabilidade ao longo do
tempo e a participação da população local se alinham ao perfil de um
saneamento alicerçado no ideário da Promoção da Saúde.
2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Da avaliação da eficácia objetiva:
identificar o perfil epidemiológico da população local em relação a doenças
ligadas aos dejetos;
identificar a percepção de usuários sobre saúde, higiene, ecologia e cidadania;
avaliar a contribuição da intervenção para o aumento da renda das famílias
usuárias com a venda de adubo;
propor ações corretivas, caso os resultados indiquem ineficácia;
propor ações preventivas para que as possíveis dificuldades identificadas para
ao alcance da eficácia sejam evitadas em futuras intervenções.
Da avaliação da efetividade subjetiva:
17
identificar a percepção de usuários sobre o impacto do projeto em sua vida;
identificar a percepção de membros da Cáritas que atuaram como
idealizadores/executores da intervenção sobre o impacto do projeto na vida
dos usuários;
comparar as percepções de usuários e idealizadores/executores;
propor ações corretivas, caso os resultados indiquem não-efetividade;
propor ações preventivas para que as possíveis dificuldades identificadas
para ao alcance da efetividade sejam evitadas em futuras intervenções.
Da avaliação do ponto de vista da Promoção da Saúde:
identificar percepções de usuários e idealizadores/executores a respeito da
intervenção a partir de aspectos relevantes para a Promoção da Saúde, tais
como a forma de planejamento, implantação e gestão do projeto, a tecnologia
utilizada, sua sustentabilidade ao longo do tempo, a participação da
população local, dentre outros;
propor ações que contribuam para que a intervenção a atual e as futuras
intervenções possam contemplar as ideias de Promoção da Saúde.
3. JUSTIFICATIVA
18
Como já dito, o projeto SES foi implantado pela Cáritas em Jutuba e em
outras ilhas com o fim de atender aos seguintes objetivos: diminuir a incidência de
doenças causadas pela falta de saneamento na comunidade; promover a educação
da população em relação à saúde, higiene, ecologia e cidadania; promover melhores
condições de higiene para as famílias beneficiadas; contribuir para o aumento da
renda familiar através da venda do adubo orgânico produzido (CAMEBE, 2008).
Assim, é relevante avaliar se tal programa teve eficácia, efetividade e como
pode ser compreendido do ponto de vista do ideário da Promoção da Saúde
considerando que seus objetivos são significativos para a população local no que diz
respeito a sua saúde e sua qualidade de vida; que a Cáritas pretende estendê-lo
para outras ilhas, e que Jutuba foi a primeira ilha a recebê-lo e onde se supõe que já
tenha passado a fazer parte da vida cotidiana dos moradores beneficiados.
Quanto à eficácia, segundo Figueiredo e Figueiredo (1986), acerca de uma
ação ou política é importante avaliar se as metas traçadas foram alcançadas e em
que medida isto se deu. A esse parâmetro, os autores dão o nome de eficácia
objetiva, conforme apresentado na seção 4.3 (Avaliação da eficácia e efetividade de
ações e políticas), o que, no presente caso, consiste em avaliar se houve redução
da incidência de doenças ligadas aos dejetos após a intervenção; se as ações de
educação ambiental contribuíram para uma percepção ampliada de saúde, higiene,
ecologia e cidadania por parte da população; se as condições de higiene locais
sofreram impacto positivo; se houve aumento da renda familiar em decorrência da
venda do adubo produzido.
No que tange à efetividade, Figueiredo e Figueiredo (1986) afirmam que é
significativo avaliar o impacto de uma ação ou política, enquanto propiciadoras de
mudanças, sobre as condições de vida da população-alvo. No presente caso, esse
19
parâmetro foi avaliado a partir de sua dimensão subjetiva, conforme apresentado na
seção 4.3 (Avaliação da Eficácia e Efetividade de ações e políticas), com base na
percepção da população local e dos membros da Cáritas, enquanto idealizadores e
executores das ações, em relação à melhoria da qualidade de vida após a
intervenção.
Finalmente, em relação à avaliação do ponto de Promoção da Saúde –
ideário apresentado na seção 4.5 (Saneamento e Promoção da Saúde) – sua
relevância é destacada por Souza, Freitas e Moraes (2007), ao considerarem que tal
ideário constitui suporte consistente e capaz de fortalecer as ações de saneamento
em seus impactos sobre a saúde pública e ambiental. No presente caso, a avaliação
consistiu em analisar os possíveis pontos de convergência e de afastamento entre o
projeto e o ideário.
4. REVISÃO DA LITERATURA
20
4.1 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
Jutuba, com 1.700 hectares de extensão territorial (CAMEBE, 2008), é uma
das 39 ilhas que compõem a região insular do município de Belém. A Figura 1, a
seguir, indica sua localização.
Figura 1: Localização geográfica da ilha JutubaFonte: Google Earth (2011)
Duarte e Silva (2011), em estudo realizado com dados de 2010,
identificaram o perfil da população da ilha Jutuba, por meio de indicadores
demográficos, socioeconômicos, habitacionais, educacionais, epidemiológicos e de
saneamento, os quais são apresentados nas subseções a seguir.
4.1.1- Indicadores Demográficos
Segundo Duarte e Silva (2011), a ilha de Jutuba apresenta população de 182
habitantes, sendo 105 homens e 77 mulheres. Entre os homens, a faixa etária
predominante está compreendida entre 15 e 25 anos. Entre as mulheres, predomina
a faixa etária entre 11 e 14 anos. São menos numerosos os habitantes que estão
entre 1 e 4 anos de ambos os sexos, e também os idosos, como mostra a Figura 2,
a seguir.
21
Belém/Continente
Jutuba
Figura 2: Pirâmide etária da ilha Jutuba, ano 2010Fonte: Duarte e Silva (2011)
4.1.2- Indicadores Socioeconômicos
De acordo com os dados de Duarte e Silva (2011), a maior parte da
população feminina de Jutuba trabalha em casa (categorizada como “do lar”),
alcançando percentual de 46,51%, conforme a Tabela 1, a seguir. Em segundo lugar
aparece a ocupação de pescadora com 13,95%.
Tabela 1: População feminina distribuída por ocupação na ilha de Jutuba de 2008 a 2010 Ocupação Proporção da população feminina (%)
Saúde 2,33
Pescadora 13,95
Comércio 0
Do lar 46,51
Extrativista 0
Outros 9,3
Fonte: Duarte e Silva (2011)
22
Quanto à população masculina, sua ocupação principal é a pesca, conforme
mostra a Tabela 2.
Tabela 2: População masculina distribuída por ocupação na ilha de Jutuba de 2008 a 2010Ocupação Proporção da população masculina
Feminina (%)
Pesca 77,94Extrativismo 1,47
Outros 7,35
Ignorado 13,24
Fonte: Duarte e Silva (2011)
No que tange à renda familiar, a Figura 3, a seguir, indica que há prevalência
da faixa salarial correspondente a menos de um salário mínimo, seguida da faixa
compreendida entre um e dois salários.
Figura 3: Distribuição de renda familiar, ilha Jutuba, ano 2010Fonte: adaptado de Duarte e Silva (2011)
4.1.3- Indicadores Habitacionais
De acordo com Duarte e Silva (2011), a ilha de Jutuba possui os seguintes
dados habitacionais:
23
Tabela 3:Número de domicílios, número de moradores das ilhas, média de tempo de moradia por domicílio em anos e média de morador por domicilio na ilha de Jutuba no ano de 2010
Nº de domicílios Nº de moradores Média do tempode moradia por
domicilio em anos
Média de moradores/domicíli
o
79 182 25,75 2,3Fonte: Duarte e Silva (2011)
Na ilha há predominância de palafitas, que são casas de madeira suspensas
por colunas que asseguram sua sustentação em um nível acima das águas da Baía
de Guajará, de modo a não serem inundadas no período de cheia (DUARTE E
SILVA, 2011).
4.1.4- Indicadores Educacionais
Segundo Duarte e Silva (2011), a ilha de Jutuba possui uma única escola
com organização multisseriada, atendendo do 2º ao 5º ano do ensino fundamental,
que funciona dentro de uma igreja, em precárias condições físicas e pedagógicas.
Porém, em visita in loco realizada no âmbito do presente trabalho, as pesquisadoras
constataram a existência de outra escola de ensino fundamental, localizada do outro
lado da ilha, mais ampla e menos precária que a já citada. A Figura 4, a seguir,
apresenta o perfil de escolaridade da população da ilha.
Figura 4: Perfil da Escolaridade dos moradores da ilha de Jutuba, ano 2010Fonte: Duarte e Silva (2011)
24
Segundo Duarte e Silva (2011), é prevalente, com percentual de 77,02%, o
grau de escolaridade relativo ao ensino fundamental; muito próximos se
apresentaram os percentuais de analfabetos (6,21%) e daqueles que cursam o
ensino médio (5,59%); alcançam o percentual de 10,56% aqueles que cursam
ensino técnico, pessoas que sabem ler e escrever, porém nunca estudaram e
ignorados,os quais foram contabilizados na categoria “outros”; é muito baixo (0,62%)
o percentual relativo aos possuidores de escolaridade em nível superior.
4.1.5- Indicadores Epidemiológicos
Duarte e Silva (2011) construíram indicadores epidemiológicos que
interessam a este estudo, uma vez que um dos objetivos aqui almejados, conforme
indicado na seção 2 (Objetivos), é identificar o perfil epidemiológico da população
local em relação a doenças ligadas aos dejetos.
Exatamente por essa razão, os mesmos são apresentados na seção 6
(Resultados), subseção 6.1.1 (Identificação do perfil epidemiológico).
4.1.6- Indicadores de Saneamento
A Tabela 4, a seguir, sumariza o perfil da ilha quanto ao saneamento básico.
Tabela 4: Distribuição percentual das famílias por situação de residência, segundo características selecionadas
Características % na ilha de JutubaProcedência da água para beber
Chuva 50,94
Poço ou Nascente 32,08
Rio 3,77
25
Outros 1,89
Ignorado 11,32
Tratamento da água para beber
Filtração 5,66
Cloração 20,75
Filtrada e Clorada 0
Fervura 1,89
Sem tratamento 13,21
Ignorado 3,77
Destino do lixo
Queima 81,13
Queima e enterra 0
Rio 1,89
Céu aberto 3,77
Outros 9,43
Ignorado 13,21
Destino dos Dejetos
Fossa Séptica 9,43
Fossa Negra 58,49
Banheiro Ecológico 1,89
Céu aberto 18,87
Ignorado 1,89
Fonte: Duarte e Silva (2011)
Os dados da Tabela 4 revelam que na maioria das residências de Jutuba
(50,94%) a água utilizada para beber é proveniente da chuva. Isto se dá, segundo
26
Duarte e Silva (2011), por conta da utilização do sistema de captação e tratamento
de água de chuva implantado pela CAMEBE no local.
Quanto ao destino do lixo, os dados mostram que há prevalência da queima
(81,13%). Compõe esse material tanto o lixo produzido no local quanto o
transportado do continente pelas marés, conforme observação feita por estas
pesquisadoras. São restos de comida, garrafas plásticas e latas, os quais ficam à
deriva às margens da Baía do Guajará ou acumulam-se no solo inundável, debaixo
das casas, onde animais domésticos criados pelos moradores, como porcos e aves
costumam procurar alimento.
No que diz respeito à destinação dos dejetos, a maior parte da população
(58,49%) utiliza a fossa negra, o que contribui para a poluição do solo e das águas
dos rios e igarapés locais.
A Figura 5, a seguir, revela a situação em que se encontravam os sanitários
utilizados pelos moradores, antes da implantação do projeto SES.
Figura 5: Imagem dos sanitários antes da aplicação do projetoFonte: CAMEBE (2008)
A implantação do citado projeto teve início em 2008 com a realização de
palestras de educação ambiental sobre temas ligados à saúde, higiene e cidadania e
27
também voltadas ao treinamento dos moradores para o uso do sanitário. Nesse
período, foi implantado em apenas uma residência o primeiro SES da ilha, sendo
chamado de sanitário piloto, mostrado na Figura 6. Em 2010, um total de 54
sanitários foram entregues à comunidade para o atendimento dos 128 habitantes da
ilha.
Figura 6: SES implantado na ilha de Jutuba, ano 2010Fonte: CAMEBE (2008)
4.2 - TECNOLOGIA SANITÁRIO ECOLÓGICO
4.2.1- Aspectos Gerais
Essa tecnologia é simples e econômica que não utiliza água. Consiste em
um processo bioquímico que gera como produto final um adubo rico em nutrientes, a
partir das fezes. Também é produzido por um processo de transformação da ureia
em amônia um inseticida natural a partir da urina.
Denominada de “húmus sapiens”, essa tecnologia compreende um sistema
integrado de aproveitamento dos dejetos constituído de sanitários compostáveis e
um minhocário, conforme mostra a Figura 7, que ilustra o sistema adotado pelo
Instituto de Permacultura e Ecovilas do Cerrado – IPEC, localizado no município de
28
Pirenópolis, no Estado de Goiás. As experiências desenvolvidas nesse Instituto
revelam que o emprego dessa tecnologia também propicia a implantação de eco-
centros, que são espaços criados para demonstrar a viabilidade dos princípios da
permacultura (cultura permanente), com a função de desenvolver e adaptar soluções
para problemas relacionados à ocupação humana em regiões onde o sistema de
saneamento básico é precário, principalmente em áreas rurais (IPEC, 2005).
Figura 7: Humus sapiens, IPEC – Goiás, BrasilFonte: IPEC (2005)
Apesar de recente no Brasil, onde ficou conhecida justamente por meio do
IPEC, não se trata de uma inovação, mas de um conjunto de adaptações
tecnológicas suscitadas pela preocupação com o ambiente, que se tornou crescente
com o passar dos anos. Instituições dos Estados Unidos, Inglaterra, Canadá,
Suécia, Noruega, Nova Zelândia e Austrália já desenvolvem essa tecnologia
(ALVES, 2009), além de outras que atuam em países como Chile, Finlândia, México,
Peru e Zimbábue e região da Palestina (BANHEIRO SECO ECOLÓGICO, 2010).
Para Alves (2009), o discurso sustentável e a bandeira de conservação
ambiental que envolvem essa tecnologia impulsionaram o surgimento, em alguns
países, de empresas especializadas na produção de sanitários ecológicos secos
29
pré-fabricados e padronizados, com denominações de “drytoilet”, “compostingtoilet”,
“ecologicaltoilet” e “el baño ecológico seco”.
Trata-se de algo que atende as necessidades do homem e melhora sua
relação com a natureza, assegurando saúde pública, empoderamento comunitário e
preservação ambiental (BANHEIRO SECO ECOLÓGICO, 2010).
4.2.2- Funcionamento e Operação
Internamente o SES é composto por duas câmaras separadas entre si: uma
coleta a urina e a outra coleta as fezes.
A Figura 8, a seguir, ilustra o vaso sanitário.
Figura 8: Vaso sanitário com separadores de dejetosFonte: CAMEBE (2008)
A urina, coletada na câmara da frente do vaso, é conduzida para uma
garrafa do tipo PET (politereftalato de etila) com auxílio de uma mangueira. Durante
3 dias, em um recipiente fechado a urina se transforma em amônia (ureia natural). É
recomendado para cada 1 litro de preparo de urina 100 litros de água para a
pulverização a cada 15 dias (RECEITAS AGROECOLÓGICAS, 2011). A figura 9, a
30
seguir, mostra a localização do coletor de urina e do tubo de ventilação também
existente.
Figura 9: Coletor de urina e a chaminé na parte de trás do sanitárioFonte: CAMEBE (2008)
As fezes são coletadas na câmara de trás, onde devem ser adicionadas cal
e serragem. Esse conteúdo é depositado em outro compartimento, denominado
câmara de armazenamento e compostagem, localizado embaixo do sanitário. Nessa
câmara a cal e a serragem são responsáveis por neutralizar odores e acelerar a
compostagem, ao final da qual há formação de uma mistura fermentada de restos
orgânicos, rica em húmus e microrganismos, e que pode ser utilizada como
fertilizante para o solo (MARTINS, 2007 APUD CETESB, 2007).
Quando a câmara de compostagem de um vaso está cheia, ela é selada,
enquanto outro conjunto de vaso sanitário e câmara de compostagem passam a ser
utilizados (processo de alternância). Assim, os resíduos devem ficar em
compostagem durante seis meses. Decorrido esse tempo, os resíduos compostados
são removidos, tornando a câmara ativa novamente (CAMEBE, 2008). Ao serem
removidos esses resíduos podem ser conduzidos a um minhocário, onde vira
húmus, composto utilizado como adubo. A Figura 10, a seguir, mostra o modelo do
31
SES implantado pela CAMEBE em Jutuba. Ressalta-se que nessa ilha o sanitário
implantado não contém o minhocário.
Figura 10: Modelo do sanitário ecológico seco na Ilha de JutubaFonte: CAMEBE (2008)
4.2.3- Vantagens e Limitações
De acordo com Martins (2007), podem–se citar vantagens e desvantagens
da tecnologia SES.
A) Vantagens
São consideradas as seguintes vantagens:
Economia de água e recursos financeiros
Com o sistema SES não ocorre um desperdício de água e, quando instalado
em locais abastecidos por rede pública, influencia diretamente na diminuição dos
custos de forma geral.
Simplicidade na construção
Sua construção é simples, pois, como foi dito anteriormente, o SES não
necessita de instalações hidráulicas. Além disso, Martins (2007) afirma que pode ser
32
construído em diversos modelos, em alvenaria ou madeira, e também com materiais
ecológicos como adobe (técnica de construção natural em que são fabricados blocos
a partir da mistura de barro, palha e água), superadobe (técnica de construção em
que sacos ou tubos de polipropileno preenchidos com terra são empilhados e
socados para dar formação a uma parede estrutural) ou taipa. A única exigência
para o bom funcionamento é que a câmara de compostagem seja impermeabilizada.
No caso de Jutuba, foram disponibilizados para os moradores kit’s para a
construção (Figura 11). Cada um possuía os equipamentos necessários para a
construção de um sanitário ecológico: dois vasos sanitários, tampa para lacrar os
vasos e a câmara de compostagem.
Figura 11: Kit de construção do sanitário ecológico secoFonte: CAMEBE (2008)
Fonte de adubo e inseticida
Uma das principais vantagens do SES é a capacidade, como já dito, de
produzir adubo rico em nutriente a partir das fezes, permitindo a reutilização do
material como composto orgânico, auxiliando na economia de adubos químicos,
assim como também o aproveitamento da urina para a produção de inseticida
natural.
33
Divulgação de sistema de saneamento alternativo e ecológico
A eficiência do sistema implantado em um local poderá incentivar outras
comunidades do entorno a utilizarem a tecnologia. Além disso, é positivo incentivar
comunidades a criar estratégias para solucionar seus problemas, de modo a se
tornarem menos dependentes dos serviços das entidades governamentais
(MARTINS 2007), sem que isso, contudo, venha a diminuir a responsabilidade do
governo quanto à oferta de serviços como o de saneamento.
Tecnologia simples e fácil de ser replicada
Trata-se de uma tecnologia simples, e o modelo implantado em Jutuba não
foge à regra. Sendo utilizada corretamente, é capaz de gerar resultados efetivos,
como economia de água e capital, geração de renda, entre outros, tornando-se fácil
de ser introduzida em outras localidades onde haja ausência de serviços de
saneamento, principalmente em zonas rurais.
Além das vantagens a que Martins (2007) se refere, há outras como a
redução do contato humano com doenças contagiosas que são causadas pela
ingestão de água e alimentos contaminados ou pelo contato feco-oral; a prevenção
da contaminação de mananciais pelo lançamento de esgotos “in natura”, o que
contribui para a salubridade ambiental.
B) Limitações
São consideradas as seguintes limitações para o SES:
34
Demanda por ações de educação
Para que o SES funcione corretamente buscando alcançar a
sustentabilidade das ações, é necessário que se tenha alguns cuidados no seu uso
como: não deixar de lacrar o segundo vaso sanitário com a tampa para que este não
seja utilizado até que se passem seis meses de uso do primeiro vaso ou que esteja
com seu volume útil ocupado; não jogar água ou qualquer tipo de material inorgânico
(absorventes higiênicos e papel higiênico, por exemplo) dentro do vaso sanitário,
pois estes podem comprometer a qualidade do material a ser compostado. O
tratamento de compostagem do material orgânico requer tempo e conhecimento
técnico para que assim este não ofereça riscos à saúde da população e ao ambiente
(MARTINS, 2007).
Necessidade de adição de material orgânico seco
De acordo com Alves (2009) existem pré-requisitos para o funcionamento
adequado do processo de compostagem (fermentação) dos dejetos humanos. Um
deles é a necessidade de adição de materiais orgânicos secos como folhas de
árvores, serragem, papel, entre outros, ricos em nitrogênio e carbono. Esses aditivos
absorvem a água presente nos dejetos, eliminando o mau cheiro pela dessecação
do material.
Outro pré-requisito informado por Alves (2009) é a adição da cal. Esta, por
ser um composto orgânico alcalino, elimina a presença de microrganismos
patogênicos.
35
Disponibilidade de tempo
O processo de compostagem dos dejetos necessita de um período de
maturação que pode ser de seis a oito meses. Ao final, espera-se terem ocorrido
todos os processos bioquímicos, resultando em um produto limpo, organicamente
estabilizado e pronto pra ser usado como adubo (ALVES, 2009).
Aceitação cultural
Por ser uma tecnologia distante da convencional, pode-se encontrar uma
barreira cultural para sua aceitação, principalmente nas sociedades urbanas, pois
nas zonas rurais é possível encontrar menos resistência. Por isso, Martins (2007)
sugere que, antes de implantar a tecnologia em uma comunidade, deve-se verificar
se há possibilidade de aceitação de tal tecnologia.
4.3 – AVALIAÇÃO DA EFICÁCIA E EFETIVIDADE DE AÇÕES E POLÍTICAS
Figueiredo e Figueiredo (1986) consideram que a eficácia de uma ação ou
política pode ser avaliada utilizando-se dois parâmetros: as metas a serem
alcançadas e os meios estabelecidos no âmbito dessa ação ou política, para o
alcance das metas.
No caso do primeiro parâmetro (avaliação de metas), os autores propõem o
conceito de eficácia objetiva, a partir da concepção de que as metas atingidas
podem ser iguais, superiores ou inferiores às propostas. Para Figueiredo e
Figueiredo (1986), verificar o sucesso ou o fracasso (eficácia ou não eficácia) de
uma ação consiste em analisar se a diferença entre a meta atingida e a proposta
está dentro de um limite tolerável.
36
Quanto ao segundo parâmetro (avaliação dos meios), os autores propõem
os conceitos de eficácia moral e eficácia instrumental. A eficácia moral está ligada à
avaliação da moralidade executória de uma ação ou política e apresenta como
critérios a eficácia administrativa e a contábil, utilizando-se das auditorias como
modelos analíticos de aferição. Já a eficácia instrumental baseia-se no critério de
eficácia funcional, cujos modelos analíticos de aferição estão voltados para verificar
se os meios e a metodologia de realização da ação ou política estão de acordo com
o que foi previamente estabelecido.
Conforme os objetivos definidos para este trabalho, apresentados na seção
2 (Objetivos), no que concerne à eficácia, somente foi avaliada a eficácia objetiva do
projeto em estudo.
Ao se referir à avaliação da efetividade de uma ação, Figueiredo e
Figueiredo (1986) destacam três dimensões a considerar: a objetiva, a subjetiva e a
substantiva.
Para os autores, a efetividade objetiva tem como critério verificar
quantitativamente a mudança das condições de vida de uma população em
decorrência da ação ou política em avaliação, comparando-se o antes e o depois da
execução dessa ação ou política.
A efetividade subjetiva visa a conferir a percepção da população a respeito
dos resultados alcançados em decorrência da ação em avaliação e se os esses
estão adequados aos seus desejos e demandas.
A efetividade substantiva tem por fim aferir mudanças qualitativas nas
condições sociais de vida da população-alvo da ação ou política sob avaliação.
37
Conforme os objetivos definidos para este trabalho, apresentados na seção
2 (Objetivos), no que concerne à efetividade, somente foi avaliada a efetividade
subjetiva do projeto em estudo.
4.4 – SAÚDE, AMBIENTE, HIGIENE, SANEAMENTO E CIDADANIA
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a definição mais
adequada para saúde está associada ao bem-estar físico, mental e social e não
apenas à ausência de doença. Nesse sentido, os chamados fatores determinantes
da saúde são categorizados em quatro grupos: estilo de vida, ambiente, organização
dos cuidados e biologia humana (HORTALE ET AL ., 1999).
Buscando discutir a saúde, contudo, apenas na perspectiva da doença, a
influência do saneamento na prevenção das mesmas, ainda que não se limite a isto,
conforme o que se discute na seção 4.5 (Saneamento e Promoção da Saúde), é
flagrante. Isto porque as intervenções em saneamento contribuem para a promoção
de práticas higiênicas, tanto do ambiente físico, como também no que diz respeito à
higiene pessoal de cada indivíduo, o que contribui para evitar doenças (SOUZA,
FREITAS E MORAES, 2007).
Dentre as doenças ligadas à carência de saneamento estão aquelas
causadas por parasitas intestinais. Os tipos mais comuns dentre estes são os
helmintos como os nematelmintos Ascaris lumbricoides e Trichuristrichiura e os
ancilostomatídeos Necatoramericanus e Ancylostomaduodenale. Já entre os
protozoários, destacam-se a Entamoebahistolytica e a Giardialamblia.
Os danos que os enteroparasitas podem causar aos seus portadores
incluem, entre outros agravos, a obstrução intestinal (Ascaris lumbricoides), a
desnutrição (Ascaris lumbricoides e Trichuristrichiura), a anemia por deficiência de
38
ferro (ancilostomatídeos) e quadros de diarréia e de deficiência de absorção de
nutrientes (Entamoebahistolytica e Giardialamblia), sendo que as manifestações
clínicas são usualmente proporcionais à carga parasitária (FERREIRA ET AL.,
2000).
O reconhecimento de que a higiene contribui para saúde não está restrito
aos pesquisadores e profissionais de saúde; é notório também no seio da população
em geral. Nesse sentido, Remor et al. (2009), pesquisando sobre noções de práticas
higiênicas entre mães de crianças frequentadoras de uma creche pública em Porto
Alegre (RS), constatou que as mesmas de fato detêm essas noções.
Contudo, esses autores relatam também outro aspecto relevante a
considerar: é que entre a teoria e a prática, o discurso socialmente valorizado como
politicamente correto e a ação correspondente há grande distância. Em outras
palavras isto quer dizer que, ao observar o precário estado de higiene em que se
encontravam as crianças filhas dessas mulheres, percebia-se o quanto seu saber
sobre a importância da higiene estava distante de sua prática.
Assim, simplesmente conhecer determinados princípios, regras e
procedimentos parecer não ser suficiente para produzir uma ação promotora de
saúde. Faz-se necessário que esse conhecimento esteja vinculado a outro fator: o
exercício da cidadania.
A cidadania se traduz pelo reconhecimento de direitos e deveres, pela
consciência do cidadão quanto à suas obrigações e pela luta para que o justo e o
correto sejam colocados em prática (BRASIL, 2012). Em um processo de
empoderamento (SOUZA, FREITAS E MORAES, 2007), indivíduos e coletivos se
capacitam para alterar as condições em que vivem, inclusive seus hábitos e estilos
de vida, impactando sua saúde positivamente.
39
4.5 – SANEAMENTO E PROMOÇÃO DA SAÚDE
O ideário da Promoção da Saúde (PS) nasceu no Canadá, em maio de 1974
a partir do lançamento do documento conhecido como A new perspective on the
health of canadians, conhecido também pelo nome de Informe Lalonde , por parte do
Ministério da Saúde daquele país (BUSS, 2006 apud FURTADO, 2012).
Desde sua proposição, ao longo dos anos vem recebendo contribuições
oriundas de conferências internacionais que buscam discutir a respeito, com
destaque para a primeira dessas conferências, ocorrida em 1986, na cidade de
Ottawa, no Canadá.
A Carta de Ottawa, documento final resultante dessa Conferência, define
que a PS se propõe a oferecer aos povos os meios necessários para beneficiar sua
saúde e obter um maior controle sobre ela.
Conforme Stachtchenko e Jenicek (1990), a PS se baseia na relação
indivíduo-ambiente, compreendendo a saúde como determinada pelas escolhas das
pessoas e seu envolvimento com o ambiente, combinando, assim, as
responsabilidades individuais com as sociais pelo seu bem-estar.
A PS compreende a saúde como sendo uma fonte de riqueza para a vida,
um recurso para o progresso de cada indivíduo, tratando-se, assim, de um conceito
positivo, acima da doença.
A partir da ótica da Promoção da Saúde, Souza, Freitas e Moraes (2007),
construíram um conceito de saneamento como sendo:
uma intervenção multidimensional que se dá no ambiente (considerado em suas dimensões física, social, econômica, política e cultural), visando à saúde (entendida como qualidade de vida; erradicação da doença pelo combate integral às suas causas e determinantes), por meio da implantação de sistemas de engenharia associada a um conjunto de ações integradas. (SOUZA, FREITAS E MORAES, 2007, p.371).
40
Segundo os autores, não se trata somente de uma intervenção no meio
físico; atua também sobre outras dimensões ambientais como a social, a política, a
econômica e a cultural. Portanto compreende ações educativas socioambientais
para os usuários dos sistemas de engenharia implantados; um conjunto de políticas
que estabeleçam direitos e deveres dos usuários e dos responsáveis pela
implantação; uma estrutura capaz de gerenciar todas as ações, levando em conta
princípios de sustentabilidade, adaptação ao contexto em que são realizadas e
democratizadas.
Para caracterizar as práticas de saneamento fundamentadas na Promoção
da Saúde, Souza e Freitas (2009) estabeleceram sete categorias temáticas a partir
das quais definem o saneamento. São elas: 1) objetivos dos projetos; 2)
preocupação quanto à sustentabilidade das ações e benefícios; 3) articulação entre
políticas, instituições e ações; 4) modelo de intervenção; 5) estratégias de ação; 6)
executores dos projetos; 7) modelo de gestão.
Quanto à primeira categoria, para os autores, o objetivo do saneamento,
segundo a Promoção da Saúde, é mais do que a implantação de seus sistemas de
engenharia, é proporcionar o funcionamento pleno e duradouro desses sistemas,
com acessibilidade para todos, trazendo mudanças na situação dos indivíduos e do
ambiente.
Na segunda categoria, os autores tratam da sustentabilidade dos sistemas,
levando em conta que os objetivos descritos na primeira categoria devem ser
atingidos ampla e permanentemente ao longo do tempo, dentro do horizonte de
projeto estabelecido.
A terceira categoria, para os autores, refere-se à articulação entre políticas,
instituições e ações, uma vez que a área de saneamento deve se articular com as
41
outras áreas ligadas aos determinantes de saúde, quais sejam: sociais, econômicos,
culturais, étnico-raciais, psicológicos e comportamentais.
Segundo a quarta categoria, relativa ao modelo de intervenção, as ações de
saneamento, para os autores, devem ser pautadas pela participação técnica
(profissionais da área) e não técnica (população alvo e outros atores sociais),
assumindo perfil participativo e intersetorial, o que se reflete fortemente na sua
apropriação por parte dessa população alvo.
No que tange à quinta categoria, como estratégias de ação, o saneamento,
para os autores, deve-se adotar abordagens facilitadoras que proporcionem a
capacitação da comunidade, ou seja, seu empoderamento (obtenção de poder
técnico e consciência política por parte dos indivíduos e da comunidade). Nesse
sentido, as ações de educação ambiental e sanitária devem abandonar as práticas
voltadas para “moldar” a população em seus hábitos e estilos de vida.
Na sexta categoria, os autores tratam da responsabilidade pela execução
dos projetos, ações e serviços de saneamento, que deve ser compartilhada entre
todos os atores sociais envolvidos, ou seja: engenheiros, gestores das organizações
e instituições relacionadas aos setores de saúde e ambiente, população, etc.
A sétima categoria aborda o modelo de gestão, que, para os autores, deve
ter caráter adaptativo não apenas no que se refere à adaptação de tecnologias às
condições físicas do ambiente onde serão implantadas. Para, além disso, devem
levar em conta os aspectos sociais e culturais, principalmente ao atender
populações isoladas, indígenas e tradicionais.
42
5. METODOLOGIA
A metodologia empregada compreendeu a realização de pesquisa
bibliográfica e de entrevistas.
Para avaliação da eficácia objetiva foi identificado, por meio de revisão
bibliográfica, o perfil epidemiológico local em relação a doenças ligadas aos dejetos.
Não foi possível realizar pesquisa documental nos sistemas oficiais de informação
em saúde, tais como o Sistema de Informação de Mortalidade (SIM); o Sistema de
Informação de Agravos de Notificação (SINAN) e o Sistema de Informação de
Atenção Básica (SIAB), uma vez que, conforme ratifica Souza (2012), tais
documentos não dispõem de dados sobre Jutuba.
Com a finalidade de complementar as informações sobre a ocorrência das
doenças mencionadas, foram também realizadas entrevistas com 11 moradores
usuários dos sanitários ecológicos implantados na ilha. A composição dessa
amostra se deu de forma aleatória dentre o universo dos usuários do sistema,
buscando-se aprofundar o estudo sem a pretensão de esgotá-lo quantitativamente.
Assim, foram entrevistados quatro homens e seis mulheres, de idade entre
24 a 68 anos. Dentre eles, nove não completaram o ensino fundamental, sendo
somente dois aqueles que conseguiram fazê-lo. As mulheres asseguram sua
subsistência como donas de casa e pescadoras e os homens estão voltados apenas
à atividade da pesca, ambos alcançando renda abaixo de um salário mínimo.
Além disso, essas entrevistas possibilitaram identificar as percepções
desses usuários sobre saúde, higiene, ecologia e cidadania (temas das ações de
educação desenvolvidos no projeto), assim como permitiram que fosse avaliado se
houve aumento de renda das famílias em decorrência da venda do adubo produzido.
Com relação a este tópico da avaliação, foi investigado também o grau de
43
conhecimento dos entrevistados a respeito dos procedimentos para a produção do
adubo, como também do inseticida. Sobre este último produto, igualmente foi
investigado se seu aproveitamento é realizado conforme orientado pela Cáritas.
Tais entrevistas igualmente foram úteis para a avaliação da efetividade
subjetiva. Além disso, para alcançar esse objetivo, foi realizada uma entrevista com
um diácono voluntário da Cáritas formado em economia e que atuou como
idealizador/executor da intervenção.
Quanto à avaliação do projeto do ponto de vista da Promoção da Saúde,
foram realizadas entrevistas com os usuários e com idealizadores/executores da
intervenção, as quais estiveram relacionadas com as categorias temáticas
propostas, Souza e Freitas (2009), a respeito de um saneamento alicerçado na
Promoção da Saúde (subseção 4.5).
Todas as entrevistas realizadas foram gravadas em áudio e desenvolveram-
se ao longo de um diálogo informal entabulado entre as pesquisadoras e cada
entrevistado. Na oportunidade, foi solicitado aos mesmos que assinassem um Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), apresentado no Apêndice, em
atendimento à legislação brasileira, o qual já havia sido aprovado pelo Comitê de
Ética em Pesquisa com Seres Humanos do Instituto Evandro Chagas, conforme o
Parecer 017/2011 (Anexo).
Nas entrevistas foram utilizados roteiros com perguntas, apresentados nas
Tabelas de número 5, 6 e 7. As respostas então obtidas foram transcritas e
analisadas.
A Tabela 5, a seguir, apresenta o roteiro de perguntas direcionadas aos
usuários para avaliação da eficácia objetiva, sendo a pergunta 1 voltada para
identificação do perfil epidemiológico; as perguntas de 2 a 5 direcionadas para
44
identificação das percepções sobre saúde, higiene, ecologia e cidadania; as
perguntas de 6 a 10 destinadas a avaliar o aumento de renda pela venda de adubo e
a produção de inseticida.
O mesmo roteiro foi utilizado para avaliação da efetividade subjetiva por
meio da pergunta 11, que busca revelar percepções dos usuários sobre o projeto em
estudo.
Tabela 5: Roteiro de perguntas destinadas aos usuários para avaliação da eficácia objetiva e da efetividade subjetiva da intervenção
Pergunta Objetivo da pergunta 1- Como está a ocorrência de doenças
intestinais na comunidade depois da
implantação do projeto?
Saber se, para o entrevistado, houve
alteração do perfil epidemiológico das
doenças infecto-parasitárias após a
intervenção
2 - O que é ter saúde para você? Identificar a noção de saúde dos
entrevistados como reflexo das ações
educativas realizadas
3 - O que é higiene para você?
Identificar a noção de higiene dos
entrevistados como reflexo das ações
educativas realizadas
4 - Qual a importância do ambiente
para você?
Identificar a noção de ambiente dos
entrevistados como reflexo das ações
educativas realizadas
5 - O que você acha dos direitos e dos
deveres que você tem como cidadão?
Identificar a noção de cidadania dos
entrevistados como reflexo das ações
educativas realizadas
6 - Como você produz o adubo? Saber se o entrevistado conhece e
executa os procedimentos para a
produção de adubo
7 - Qual o destino que você dá ao
adubo que produz?
Saber se efetivamente o adubo
produzido é vendido
45
8 - Quanto dinheiro você ganha com a
venda do adubo que produz?
Quantificar o aumento da renda familiar
em decorrência da venda de adubo
9 - Como você produz o inseticida?
Saber se o entrevistado conhece e
executa os procedimentos para a
produção de inseticida
10 - Qual o destino que você dá ao
inseticida que produz?
Saber se efetivamente o adubo
produzido é aproveitado
11 - Como ficou sua vida depois do
projeto em termos de facilidades e
dificuldades?
Saber se, para o entrevistado, houve
melhora de sua qualidade de vida após
o projeto
A Tabela 6, a seguir, mostra o roteiro de perguntas direcionadas aos usuários
para a avaliação da intervenção do ponto de vista da Promoção da Saúde.
Tabela 6: Roteiro de perguntas destinadas aos usuários para avaliação da intervenção do ponto de vista da Promoção da Saúde
Pergunta Objetivo da pergunta
1- Qual o objetivo do projeto Sanitário
Ecológico Seco?
Avaliar o projeto sob a ótica da
categoria “objetivo dos projetos”
2 - Como esta sendo o funcionamento
do projeto desde que foi implantado?
Avaliar o projeto sob a ótica da
categoria “sustentabilidade das ações e
benefícios”
3 - Que pessoas e instituições atuaram
no processo de implantação do
projeto?
Avaliar o projeto sob a ótica da
categoria “estratégias empregadas”
(educação sanitária e ambiental)
4 - Como você ficou sabendo do
projeto?
Avaliar o projeto sob a ótica da
categoria “executores dos projetos”
(responsabilidade pelas ações)
5 - Que orientações você recebeu
sobre o funcionamento do sanitário
ecológico seco? Quem orientou?
Avaliar o projeto sob a ótica da
categoria “modelo de gestão”
(adaptabilidade das ações)
6 - Quem foi responsável pelo projeto Avaliar o projeto sob a ótica da
46
na época da implantação? Quem é o
responsável atualmente?
categoria “executores dos projetos”
(responsabilidade pelas ações)
7- Quais as facilidades e dificuldades
que você, idosos e crianças têm no dia-
a-dia para o uso do vaso sanitário
implantado pelo projeto?
Avaliar o projeto sob a ótica da
categoria “modelo de gestão”
(adaptabilidade das ações)
A Tabela 7, a seguir, apresenta o roteiro de perguntas direcionadas aos
idealizadores/executores da intervenção para a avaliação da intervenção do ponto
de vista da Promoção da Saúde. A oitava pergunta foi utilizada para avaliação da
efetividade subjetiva (percepção dos idealizadores/executores sobre o impacto do
projeto na vida dos usuários).
Tabela 7: Roteiro de perguntas destinadas aos idealizadores/executores da intervenção para avaliação da intervenção do ponto de vista da Promoção da Saúde e da efetividade subjetiva
Pergunta Objetivo da pergunta
1- Qual o objetivo do projeto Sanitário
Ecológico Seco?
Avaliar o projeto sob a ótica da
categoria “objetivo dos projetos”
2 - Como está sendo o funcionamento
do projeto desde que foi implantado?
Avaliar o projeto sob a ótica da
categoria “sustentabilidade das ações e
benefícios”.
3 - Que pessoas e instituições atuaram
no processo de implantação do
projeto?
Avaliar o projeto sob a ótica da
categoria “articulação intersetorial de
políticas, instituições e ações”
4 - Como foi a tomada de decisão para
a implantação do projeto?
Avaliar o projeto sob a ótica da
categoria “modelo de intervenção”
(participação técnica e não técnica nas
decisões)
5 - Como e quais foram as ações de
educação realizadas?
Avaliar o projeto sob a ótica da
categoria “estratégias empregadas”
(educação sanitária e ambiental como
47
estratégia)
6 - Quem foi o responsável pelo projeto
na época da implantação? Quem é
responsável atualmente?
Avaliar o projeto sob a ótica da
categoria “executores dos projetos”
(responsabilidade pelas ações)
7 - De onde foi adotada a tecnologia
implantada?
Avaliar o projeto sob a ótica da
categoria “modelo de gestão”
(adaptabilidade das ações)
8 - Quais as facilidades e dificuldades
que as pessoas têm no dia-a-dia para o
uso do vaso sanitário implantado pelo
projeto?
Saber se, para o entrevistado, houve
melhora da qualidade de vida dos
usuários após o projeto
48
6. RESULTADOS OBTIDOS E DISCUSSÃO
A seguir são apresentados em conjunto os resultados obtidos e a discussão
referente a cada um dos três eixos de avaliação da intervenção em estudo: eficácia
objetiva; efetividade subjetiva; Promoção da Saúde.
6.1 - AVALIAÇÃO DA EFICÁCIA OBJETIVA
A seguir são apresentados o perfil epidemiológico local; as percepções dos
usuários sobre saúde, higiene, ecologia e cidadania; a avaliação do rendimento das
famílias após o projeto, aspectos esses considerados para avaliação da eficácia
objetiva.
6.1.1- Perfil Epidemiológico Local
Este aspecto foi avaliado por meio da revisão da literatura científica existente
a respeito e da realização de entrevistas com usuárias.
A revisão da literatura constou do estudo de três trabalhos identificados
sobre essa temática: Duarte e Silva (2011), Santos (2011) e Souza (2012).
Duarte e Silva (2011), em seu trabalho, construíram dois indicadores
epidemiológicos que interessam a este estudo, apesar de também resultarem de
dados de outras duas ilhas próximas à Jutuba (ilhas Nova e Urubuoca): percentual
de moradores que se queixam de doenças; serviços de saúde acessados pelos
moradores.
Quanto ao percentual de moradores que se queixam de doenças, a Tabela
8, a seguir, apresenta os dados obtidos pelos autores em 2010 (embora só tenham
sido publicados em 2011), mas também dados que os mesmos reportam terem sido
identificados em estudo anterior, realizado em 2008. Nos dois casos, a coleta
49
dessas informações se deu por meio de entrevistas, durante as quais foi aplicado
pelos autores um questionário para os moradores das três ilhas (Jutuba, Nova e
Urubuoca).
Tabela 8: Percentual de moradores que se queixam de doenças nas ilhas Jutuba, Nova e Urubuoca, por doenças
Doenças Moradores que se queixam de
doenças (%)
Hipertensão Arterial 4,96
Diabetes 1,38
Alergia 0,55
Dores Articulares 1,65
Anemia 1,65
Artrite 0,55
Asma 1,38
Colesterol 1,38
Dores (de Cabeça, de Dente e de
Coluna)
2,20
Acidente Vascular Cerebral 0,28
Epilepsia 0,28
Rubéola Congênita 0,28
Pneumonia 0,28
Falta de Ar 0,28
Hematêmese 0,28
Cálculo Renal 0,28
Glaucoma Congênito 0,28
Hérnia de Disco 0,28
50
Hipertireoidismo Congênito 0,28
Problemas Sanguíneos 0,28
Reumatismo 0,83
Úlcera 0,28
Verminoses 0,28
Total 20,11
Fonte: Duarte e Silva (2011)
Para os autores, deve-se levar em conta a possibilidade de o viés de
memória ter atuado como fator influenciador das respostas dadas pelos moradores
durante o preenchimento do questionário no decorrer das entrevistas, resultando em
um indicador que deve ser analisado com o devido cuidado.
Essa ressalva de fato pode ter procedência, haja vista o percentual de 0,28%
relacionado a queixas por conta de verminoses, morbidade de interesse para este
trabalho e que supostamente deve ser prevalente na ilha pelas condições sanitárias
e ambientais existentes.
Em relação aos serviços de saúde acessados pelos moradores, a análise
dos dados de Duarte e Silva (2011) revela que estes se deslocam por grandes
distâncias em busca de atendimento. Os serviços mais procurados são a Unidade
Básica de Saúde (UBS) da ilha de Cotijuba, a UBS de Icoaraci e a UBS de Santo
Antônio (localizada em Icoaraci), havendo também casos em que buscam
atendimento particular.
Outro trabalho consultado foi o de Santos (2011), que avaliou clinicamente
53 moradores da ilha, os quais compareceram, no dia previamente marcado, a uma
51
das duas unidades escolares existentes no local, onde foram realizadas consultas
médicas. Para cada paciente, foi aplicado um protocolo referente à história clínica,
sinais e sintomas apresentados. Os resultados foram classificados em função da
natureza dos sintomas identificados: neurológicos e sensoriais; digestivos;
circulatórios; respiratórios; músculo-esqueléticos; de pele e anexos.
Atendendo ao objetivo deste trabalho, são apresentados, nas Figuras 12 e
13, os resultados que, segundo a análise da própria autora, compõem o perfil
epidemiológico de doenças ligadas aos dejetos humanos.
Figura 12: Percentual de pessoas com sintomas digestivos na ilha de Jutuba Fonte: Santos (2011)
Figura 13: Percentual de pessoas com sintomas circulatórios na Ilha de Jutuba Fonte: Santos (2011)
52
Segundo Santos (2011), a análise de sintomas como dor abdominal (o
segundo mais prevalente, atingindo 28,30% dos pacientes), diarreia (7,55% dos
pacientes) e palidez cutaneomucosa (16,98% dos pacientes) revela possível
ocorrência de enteroparasitismo em função das precárias condições de saneamento
básico locais.
Finalmente, o terceiro trabalho consultado foi o de Souza (2012), que
realizou estudos na ilha por meio de exames laboratoriais de material fecal coletado
de 98 moradores (53,84 % da população da ilha).
Os resultados revelaram a presença de quatro espécies de parasitas: a
Giardia lamblia (42 ocorrências = 42,85% dos moradores examinados), o Ascaris
lumbricoides (11 ocorrências = 11,22% dos moradores examinados), o
Tricocephalus trichiurus (1 ocorrência = 1,02% dos moradores examinados), e a
Entamoeba histolytica (25 ocorrências = 25,51% dos moradores examinados).
Relativamente às entrevistas com moradoras usuárias, a Tabela 9, a seguir,
apresenta as respostas obtidas a partir da pergunta 1(Como está a ocorrência de
doenças intestinais na comunidade depois da implantação do projeto?) do roteiro
apresentado na Tabela 5.
Tabela 9: Ideias centrais das respostas à pergunta 1 (Como está a ocorrência de doenças intestinais na comunidade depois da implantação do projeto?)
Nº de Respondentes Ideias centrais das respostas
5 Não houve mais ocorrência de doenças
intestinais
6 A ocorrência de doenças intestinais
diminuiu
Discutindo os dados obtidos, observa-se a existência de dois grupos de
resultados que divergem entre si. No primeiro grupo, têm-se os dados de Duarte e
53
Silva (2011) e as informações obtidas a partir das entrevistas, os quais revelam
baixa ocorrência de verminoses. No outro grupo estão os dados Santos (2011) e de
Souza (2012), que indicam ocorrência de enteroparasitismo.
Apesar da divergência, deve-se ressaltar que a suspeita de Duarte e Silva
(2011) de que seus resultados estivessem alterados pelo viés de memória parece ter
sido confirmada. Mesmo considerando que os dados desses autores foram
coletados em 2010 e que os exames parasitológicos foram realizados em 2012, pela
precariedade continuada das condições ambientais locais, acredita-se que o quadro
de enteroparitoses já era bem preocupante em 2010, embora tendo merecido pouco
destaque por parte dos entrevistados.
6.1.2- Percepções de Usuárias sobre Saúde, Higiene, Ecologia e Cidadania
A partir das entrevistas realizadas com base no roteiro apresentado na
Tabela 5 (perguntas de 2 a 10), foram identificadas percepções, a seguir relatadas,
sobre cada um dos quatro temas em destaque.
Em relação à percepção sobre saúde (pergunta 2 – O que é ter saúde para
você?), a Tabela 10, na sequência, apresenta as ideias centrais das respostas
obtidas.
Tabela 10: Ideias centrais das respostas à pergunta 2 (O que é ter saúde para você?)Número de respondentes Ideias centrais das respostas
4 É ser uma pessoa saudável e feliz
2 É não adoecer
1 É não sentir dor
1 É estar se sentindo bem
54
1 É ser assistido por alguém
1 É cuidar do lugar em que se mora
1 É fundamental
Pelas respostas, verificou-se que cinco dos entrevistados percebem a saúde
de ponto de vista abstrato, e três, de forma mais concreta. No primeiro caso,
associam-na à felicidade e à sensação de proteção pelos cuidados recebidos de
outrem. No segundo, à ausência de doença e dor e ao sentimento de físico de bem-
estar.
Essa dissociação entre mental e físico denota distanciamento de uma visão
mais ampla e holística de saúde, proposta pela OMS, ao considerá-la como estado
de bem-estar físico, mas também mental e social, conforme apresentado no item 4.4
(Saneamento, Saúde, Ambiente e Cidadania). Consequentemente, esse fato pode
fazer supor que as ações educativas realizadas no âmbito do projeto em estudo não
foram suficientes para que a população pudesse construir uma opinião mais acurada
sobre o tema.
Relativamente à percepção sobre higiene (pergunta 3 - O que é higiene para
você?), a Tabela 11 a seguir, apresenta as ideias centrais das respostas obtidas.
Tabela 11: Ideias centrais das respostas à pergunta 3 (O que é ter higiene para você?)Número de respondentes Ideias centrais das respostas
7 É sinônimo de limpeza
4 É fundamental
55
Verificou-se que dos 11 entrevistados, sete consideram que higiene é
sinônimo de limpeza e quatro, que é algo fundamental. Todos afirmaram ter cuidado
com o lugar em que vivem, relatando que procuram sempre conservá-lo limpo.
Essas percepções convergem para o que Remor et al. (2009) relatam em
seu trabalho, conforme apresentado no item 4.4 (Saneamento, Saúde, Ambiente e
Cidadania), quando se referem à importância que suas entrevistadas informaram dar
à higiene.
56
Da mesma forma, repete-se aqui o fato de que, comparando-se as respostas
com as precárias condições de higiene observadas na ilha (higiene pessoal e
ambiental), pode-se supor que os entrevistados buscaram muito mais relatar
percepções que julgaram ser socialmente aceitáveis e esperadas pelas
pesquisadoras (inclusive por terem sido veiculadas pelas ações de educação
ambiental desenvolvidas pela Cáritas), do que revelar o que realmente aplicam em
sua prática cotidiana.
No que tange à percepção sobre ambiente (pergunta 4 - Qual a importância
do ambiente para você?), a Tabela 12, na sequência, apresenta as ideias centrais
das respostas obtidas.
Tabela 12: Ideias centrais das respostas à pergunta 4 (Qual a importância do ambiente para você?)Número de respondentes Idéias centrais das respostas
4 É muito bom
4 É estar limpo
3 É alegre e saudável
Observa-se que as respostas dos entrevistados se referem ao bem-estar e à
limpeza relativos ao ambiente. Contudo, como discutido na análise das respostas
sobre higiene (pergunta 3), essa importância relatada não se constata na prática,
levando em conta as precárias condições de higiene do ambiente que as cerca.
Em relação à percepção sobre cidadania (pergunta 5 - O que você acha dos
direitos e dos deveres que você tem como cidadão?), a Tabela 13, a seguir,
apresenta as ideias centrais das respostas obtidas.
57
Tabela 13: Ideias centrais das respostas à pergunta 5 (O que você acha dos direitos e deveres que você tem como cidadão?)
Número de respondentes Ideias centrais das respostas
5 Os direitos estão sendo atendidos
6 Os deveres estão sendo cumpridos
As respostas de todos os entrevistados giraram exclusivamente em torno do
projeto em estudo, sem alcançar uma percepção mais ampla de direitos e deveres
de cidadania, como exposto no item 4.4 (Saúde, Ambiente, Higiene, Saneamento e
Cidadania). Das 11 respostas, cinco demonstraram que, no que se refere aos seus
direitos, consideram que estes estão sendo atendidos com a implantação do projeto;
outros seis julgam que seus deveres estão sendo cumpridos, uma vez que realizam
a limpeza do sanitário e do ambiente.
58
6.1.3- Avaliação do Rendimento das Famílias após o projeto SES
Conforme explicado na seção 5 (Metodologia), foram avaliados os
procedimentos para produção de adubo, o ganho obtido a partir de sua venda, assim
como as ações desenvolvidas para produção do inseticida. A partir das entrevistas
realizadas com base no roteiro apresentado na Tabela 5 (perguntas de 6 a 10),
foram obtidos os resultados a seguir relatados.
Sobre os procedimentos necessários à produção de adubo (pergunta 6 -
como você produz o adubo?), a Tabela 14, na sequência, apresenta as ideias
centrais das respostas obtidas.
Tabela 14: Ideias centrais das respostas à pergunta 6 (Como você produz o adubo?)Número de respondentes Ideias centrais das respostas
5 Adubo não produzido (tempo de
maturação ainda não alcançado)
3 Adubo não produzido (sanitário não
utilizado efetivamente)
3 Jogando cal, serragem e retirando após
seis meses com uso de enxada ou pá
As respostas revelam que cinco entrevistados não haviam retirado o
composto da câmara, pois o tempo necessário à maturação não teria sido alcançado
ainda; outros cinco informaram que efetivamente não utilizam o sanitário, dai não
terem produzido adubo; três relataram já ter feito a retirada do material utilizando
uma enxada ou pá.
59
A respeito do destino dado ao adubo produzido (pergunta 7 - Qual o destino
que você dá ao adubo que produz?), a Tabela 15, a seguir, apresenta as ideias
centrais das respostas obtidas.
Tabela 15: Ideias centrais das respostas à pergunta 7(Qual o destino que você dá ao adubo que produz?)
Número de respondentes Ideias centrais das respostas
5 Ainda não produziram o adubo
3 Não produzem adubo, pois não utilizam
o sanitário
3 Depositam no solo
60
As respostas revelam que os três entrevistados que já haviam feito a retirada
do material de uma das câmaras não venderam o produto; lançaram-no ao solo,
próximo às árvores.
No que se refere ao ganho pecuniário com a venda do adubo (pergunta 8 -
Quanto dinheiro você ganha com a venda do adubo que produz?), constata-se pelas
respostas obtidas que não há ganho algum, uma vez que nenhum usuário vendeu o
produto.
Relativamente à produção de inseticida (pergunta 9 - Como você produz o
inseticida?) e ao destino dado ao mesmo (pergunta 10 - Qual o destino que você dá
ao inseticida que produz?), as respostas dos 11 entrevistados revelam que nenhum
deles o produz e que, além disso, descartam a urina no ambiente por não saberem o
que fazer com ela.
6.1.4- Resumo da Avaliação da Eficácia Objetiva
A Tabela 16, a seguir, apresenta o resumo dos resultados obtidos sobre a
avaliação da eficácia objetiva do projeto em estudo.
Tabela16: Resumo da Avaliação da Eficácia ObjetivaAspecto avaliado Ideias centrais das respostas
Perfil epidemiológico Há ocorrência de enteroparasitoses
Percepções sobre saúde É ausência de doença e dor
Percepções sobre higiene É algo fundamental
Percepções sobre ambiente É ter bem-estar e viver em local limpo
Percepções sobre cidadania Estão sendo efetivados os direitos e os deveres
Rendimento das famílias com a venda do adubo
É nulo até o momento
61
Considerando o exposto, a eficácia objetiva do SES se mostra
comprometida, uma vez que todos os aspectos investigados não alcançaram os
objetivos propostos.
6.2 - AVALIAÇÃO DA EFETIVIDADE SUBJETIVA
62
As percepções de usuários quanto ao impacto do projeto em sua vida e as
percepções de idealizadores/executores quanto ao impacto do projeto na vida dos
usuários – as quais constituem os dois aspectos considerados para avaliação da
efetividade subjetiva – são apresentados a seguir.
6.2.1- Percepções de Usuários sobre o Impacto do Projeto em sua Vida
A partir das entrevistas realizadas com base no roteiro apresentado na
Tabela 5 (pergunta 11- Como ficou sua vida depois do projeto em termos de
facilidades e dificuldades?), foram obtidas diferentes respostas cujas ideias centrais
são relatadas na Tabela 17, a seguir.
Tabela 17: Ideias centrais das respostas à pergunta 11 (Como ficou sua vida depois do projeto em termos de facilidades e dificuldades?)
Número de respondentes Ideias centrais das respostas
5
Não há nenhuma dificuldade; só
depende de adaptação
4
O sanitário deixou de ser utilizado
devido à falta de serragem e cal
2
O sanitário ainda não foi utilizado devido
à falta de serragem e cal
Com base nas respostas, é possível identificar que, em função de
dificuldades para obtenção da cal e da serragem, dois dos entrevistados ainda não
utilizaram o sanitário e quatro deixaram de usá-lo. Além disso, outros cinco
afirmaram que não têm dificuldades para o uso da instalação e que se trata de uma
questão de adaptação, pois, depois de acostumados, tudo se tornará mais prático,
sem precisar dar descarga, sem odores, etc.
63
Analisando essas últimas cinco respostas a partir do que se pôde observar
ao visitar a ilha, e mais particularmente as casas dos usuários entrevistados, é
possível concluir que, também neste caso, é válida a argumentação de Remor et al.
(2009), citada na seção 4.4 (Saúde, Ambiente, Higiene, Saneamento e Cidadania),
pois o discurso proferido não se coaduna com a realidade observada.
6.2.2 – Percepções de Idealizadores/Executores sobre o Impacto do Projeto na Vida
dos Usuários
A partir da entrevista realizada com um diácono, voluntário da Cáritas Belém,
de acordo com o roteiro apresentado na Tabela 7 (pergunta 8 - Quais as facilidades
e dificuldades que as pessoas têm no dia-a-dia para o uso do vaso sanitário
implantado pelo projeto?), foi possível identificar suas percepções acerca do projeto.
O entrevistado referiu-se à ocorrência de possíveis dificuldades criadas
pelos próprios moradores quanto ao funcionamento correto do sanitário, a despeito
das informações que receberam, como mostrado na transcrição a seguir:
As dificuldades que podem ser encontradas são causadas por eles mesmos em relação ao uso (coleta no tempo correto e a destinação final dos compostos). Demos informação, fizemos um acompanhamento para o uso correto.
6.2.3 – Resumo da Avaliação da Efetividade Subjetiva
A Tabela 18, a seguir, apresenta o resumo dos resultados obtidos sobre a
avaliação da efetividade subjetiva do projeto em estudo, tendo em vista as
percepções de usuárias sobre o impacto do projeto em sua vida e as percepções de
um idealizador/executor sobre o impacto do projeto na vida dos usuários.
Tabela 18: Resumo da Avaliação da Efetividade SubjetivaSujeitos das percepções Ideias centrais das respostas
64
Usuárias Foi prejudicado pela dificuldade na
obtenção da cal e da serragem
Executor/idealizador Pode ter sido prejudicado por
dificuldades próprias dos usuários, uma
vez que a Cáritas forneceu instruções
adequadas
Analisando as respostas obtidas, constata-se que ambas referem-se às
dificuldades encontradas pelos usuários para obtenção de cal e serragem. A
serragem era fornecida para a população por meio de doações de uma madeireira
em Icoaraci, contudo, segundo os usuários, a dificuldade de deslocamento, os
impossibilitou de buscá-la. Quanto à cal, não foi reabastecida pelos usuários, por
não terem condições financeiras de obter o produto.
6.3 – AVALIAÇÃO DO PONTO DE VISTA DA PROMOÇÃO DA SAÚDE
A seguir, é apresentada a avaliação do projeto do ponto de vista da
Promoção da Saúde, a partir de cada uma das sete categorias temáticas discutidas
na seção 4.5 (Saneamento e Promoção da Saúde), tendo como base as respostas
obtidas por meio das entrevistas com usuários e com idealizadores/executores do
projeto.
6.3.1- Percepções de Usuários
A partir das entrevistas realizadas com base no roteiro apresentado na
Tabela 6 (perguntas de 1 a 7), foram obtidos os resultados a seguir relatados.
Sobre a categoria objetivo dos projetos (pergunta 1 - Qual o objetivo do
projeto Sanitário Ecológico Seco?), a Tabela 19, na sequência, apresenta as ideias
65
centrais das respostas obtidas.
Tabela 19: Ideias centrais das respostas à pergunta 1 (Qual o objetivo do projeto Sanitário Ecológico Seco?)
Número de respondentes Ideias centrais das respostas
7 Melhorar qualidade de vida de todos os
moradores
4 (não souberam informar)
As respostas revelaram que quatro dos entrevistados não souberam explicar
ou de fato não sabiam qual teria sido o objetivo do projeto, enquanto que sete
afirmaram que o objetivo foi trazer melhores condições de vida para a comunidade.
Ao se reportarem a melhores condições de vida para a comunidade, esses
entrevistados podem estar revelando que, de seu ponto de vista, o projeto teve por
fim proporcionar mudanças na situação de cada morador local e no ambiente do
qual fazem parte, o que, segundo Souza e Freitas (2009), conforme apresentado na
seção 4.5 (Saneamento e Promoção da Saúde), se aproxima de uma visão de
saneamento associada à Promoção da Saúde.
A respeito da categoria preocupação quanto à sustentabilidade das ações e
benefícios (pergunta 2 - Como está sendo o funcionamento do projeto desde que foi
implantado?) a Tabela 20, abaixo, exibe as respostas obtidas.
Tabela 20: Ideias centrais das respostas à pergunta 2 (Como está sendo o funcionamento do projeto desde que foi implantado?)
Número de respondentes Ideias centrais das respostas
3 Não está sendo usado pela falta de
serragem e cal
8 Está em uso
66
As respostas esclarecem que dos 11 usuários entrevistados, oito estão
usando o sanitário e três não, em função da falta de serragem e cal. Levando esse
dado em conta, não é possível dizer que o projeto teve a sustentabilidade de suas
ações e benefícios assegurada ao longo do tempo. Nesse sentido, a intervenção se
afasta de uma concepção de saneamento alicerçada na Promoção da Saúde.
Referente à categoria articulação entre políticas, instituições e ações
(pergunta 3 - Que pessoas e instituições atuaram no processo de implantação do
projeto?), a Tabela 21, a seguir, relata as ideias centrais das respostas obtidas.
Tabela 21: Ideias centrais das respostas à pergunta 3 (Que pessoas e instituições atuaram no processo de implantação do projeto?)
Número de respondentes Ideias centrais das respostas
6 A Cáritas
3 O Padre
2 (não souberam informar)
As respostas revelaram que seis entrevistados consideram a Cáritas como
sendo a instituição que atuou na implantação do projeto; três afirmaram ter sido o
Padre, cuja paroquia encampa a ilha, o responsável pelo projeto; dois nada
souberam informar a respeito.
Percebe-se, assim, que a maior parte dos entrevistados considera que a
iniciativa partiu de uma instituição religiosa, representada pela Cáritas ou o Padre;
que não há envolvimento com outras instituições e nem com o governo.
Esta não articulação não se confirma na verdade, como será explicado na
sequencia, na discussão da pergunta 3 da Tabela 7, dirigida aos
idealizadores/executores (Que pessoas e instituições atuaram no processo de
implantação do projeto?). Mas, observa-se que, do ponto de vista das usuárias,
tratou-se de uma ação particular do movimento católico no Pará, diferentemente do
67
perfil das intervenções lastreadas na Promoção da Saúde, as quais buscam atuar
em rede.
Relativamente à categoria modelo de intervenção (pergunta 4 - Como você
ficou sabendo do projeto?), que busca avaliar a participação de técnicos e da
população no processo, a Tabela 22, a seguir, relata as respostas obtidas.
Tabela 22: Ideia central das respostas à pergunta 4 (Como você ficou sabendo do projeto?)Número de respondentes Ideia central das respostas
11 Por meio de palestras (reuniões) realizadas na ilha ministradas pela Cáritas e pelo Padre
As respostas revelam que houve participação técnica, por parte da Cáritas e
do pároco local, por meio das orientações repassadas em palestras (reuniões),
sobre a operação e a manutenção do SES.
A participação da população, contudo, se restringiu a estar presente nessas
reuniões, pois não houve um processo de discussão sobre sua realidade local,
crenças e valores, com vistas à construção de um rol de alternativas para a solução
dos problemas, como propõe a Promoção da Saúde. No presente caso, a solução foi
única – o SES – e, além disso, não foi construída coletivamente, o que se reflete,
como visto na seção 4.5 (Saneamento e Promoção da Saúde), sobre a capacidade
de apropriação da intervenção por parte da população.
Sobre a categoria estratégias de ação (pergunta 5 - Que orientações você
recebeu sobre o funcionamento do sanitário ecológico seco? Quem orientou?), a
Tabela 23, abaixo, apresenta as ideias centrais das respostas obtidas.
Tabela 23: Ideias centrais das respostas à pergunta 5 (Que orientações você recebeu sobre o funcionamento do sanitário ecológico seco? Quem orientou?)
68
Número de respondentes Ideias centrais das respostas
10 Orientações da Cáritas sobre usar serragem e cal e retirar o adubo e a urina após 6 meses
1 (não soube informar)
As respostas indicam que os entrevistados participaram de ações de
educação ambiental que proporcionaram a eles orientações técnicas sobre o uso do
sanitário, porém um não soube informar. Entretanto, o processo de empoderamento
não foi desencadeado, visto que a comunidade não se apropriou da intervenção,
assumindo responsabilidades. Isto se afasta de uma perspectiva lastreada na
Promoção da Saúde, uma vez que, segundo esse ideário, a estratégia de educação
não se reduz apenas à oferta de treinamento à comunidade.
Sobre a categoria executores dos projetos (pergunta 6 - Quem foi o
responsável pelo projeto na época da implantação? Quem é responsável
atualmente?), a Tabela 24, na sequência, apresenta as respostas obtidas.
Tabela 24: Ideias centrais das respostas à pergunta 6 (Quem foi o responsável pelo projeto na época da implantação? Quem é responsável atualmente?)
Número de respondentes Ideias centrais das respostas
8 O Diácono e a Cáritas foram os responsáveis. Atualmente é a Cáritas
3 (não souberam informar)
As respostas revelam que oito dos entrevistados apontam determinado
diácono como o responsável pela implantação, juntamente com a Cáritas e, como
responsável atual, somente a Cáritas. Outros três entrevistados nada souberam
informar a respeito.
69
Considerando que as unidades do SES foram entregues à comunidade em
2010, seria esperado dizerem que, atualmente, eles próprios são os responsáveis
pela continuidade do projeto. Assim, esse posicionamento de não assunção da
responsabilidade sobre a intervenção se afasta de um saneamento alicerçado na
Promoção da Saúde.
Sobre a categoria modelo de gestão (pergunta 7 - Quais as facilidades e
dificuldades que você, idosos e crianças têm no dia-a-dia para fazer uso do vaso
sanitário implantado pelo projeto?), a Tabela 25, a seguir, expõe as ideias centrais
das respostas obtidas.
Tabela 25: Ideias centrais das respostas à pergunta 7 (Quais as facilidades e dificuldades que você, idosos e crianças têm no dia-a-dia para fazer uso do vaso sanitário implantado pelo projeto?)
Número de respondentes Ideias centrais das respostas
4 Não há nenhuma dificuldade
3
Houve dificuldade de ensinar as crianças a não usar água no vaso, mas já foi superada
3 A dificuldade é a falta da serragem e da cal
1 A dificuldade é com a limpeza do vaso
para remover maus odores
Segundo as respostas, quatro entrevistadas afirmaram não ter nenhuma
dificuldade ao usar o SES; três informaram sua dificuldade inicial – e já superada –
de ensinar as crianças a não usar água no sanitário; três referem como dificuldade a
falta de serragem e cal; uma revela sua dificuldade por conta da falta da cal para
remover maus odores do vaso.
Pelas respostas, pode-se supor que o SES é uma tecnologia que se adaptou
às necessidades de sete das usuárias entrevistadas, ou, ao contrário, elas é que se
70
adaptaram a ele. No entanto, quatro outras revelaram que essa adaptação não
ocorreu, pois não conseguiram solucionar o problema da falta de serragem e cal.
Assim, o caráter adaptativo de uma intervenção baseada na Promoção da
Saúde, no que se refere aos aspectos físicos, sociais e culturais do ambiente,
atendendo populações indígenas e tradicionais, no presente caso, ficou
comprometido, pela falta de cal e serragem.
6.3.2 – Percepções de Idealizadores/Executores
A partir da entrevista realizada com um voluntário da Caritas, com base no
roteiro apresentado na Tabela 7 (perguntas de 1 a 7), foram obtidos os resultados a
seguir relatados.
Sobre a categoria objetivo dos projetos (pergunta 1 - Qual o objetivo do
projeto Sanitário Ecológico Seco?), a Tabela 26, a seguir, apresenta a ideia central
da resposta obtida.
Tabela 26: Ideia central da resposta à pergunta 1 (Qual o objetivo do projeto Sanitário Ecológico Seco?)
Ideia central da resposta
Beneficiar a saúde da população e o ambiente
A resposta revela que o entrevistado considera que o objetivo do projeto foi
produzir benefícios para a saúde da população local, assim como para o ambiente.
Isto pode ser correlacionado à ideia de proporcionar melhores condições de
vida para a população o que revela uma percepção que se aproxima de uma visão
de saneamento alicerçada na Promoção da Saúde, de acordo com Souza e Freitas
(2009), conforme apresentado na seção 4.5 (Saneamento e Promoção da Saúde).
71
Sobre a categoria sustentabilidade das ações e benefícios (pergunta 2 -
Como está sendo o funcionamento do projeto desde que foi implantado?), a Tabela
27, a seguir, apresenta a ideia central da resposta obtida.
Tabela 27: Ideia central da resposta à pergunta 2 (Como está sendo o funcionamento do projeto desde que foi implantado?)
Ideia central da resposta
Está sendo acompanhado pela Cáritas
De acordo com a resposta obtida, há, por parte da Cáritas, um
acompanhamento do funcionamento do SES. Contudo, essa resposta, em si, não
permite concluir que, para o entrevistado, o projeto tem mantido a sustentabilidade
de suas ações e benefícios ao longo do tempo.
Isto porque, levando em conta que, para ele, o projeto pode ter sido
prejudicado por dificuldades próprias dos usuários, conforme a ideia central da
resposta que deu à pergunta 8 do roteiro apresentado na Tabela 7 (avalia sua
percepção sobre o impacto do projeto na vida dos usuários), é possível, então,
concluir que o projeto tem sido acompanhado, inclusive nas dificuldades que
apresenta e que o prejudicam em seu funcionamento e produção de benefícios ao
longo do tempo.
Dessa forma, a intervenção se afasta de uma percepção de saneamento
associada à Promoção da Saúde.
Sobre a categoria articulações entre políticas, instituições e ações (pergunta
3 - Que pessoas e instituições atuaram no processo de implantação do projeto?), a
Tabela 28, a seguir, apresenta a ideia central da resposta obtida.
72
Tabela 28: Ideia central da resposta à pergunta 3 (Que pessoas e instituições atuaram no processo de implantação do projeto?)
Ideia central da resposta
A Cáritas, o BASA e o IBAMA
Segundo o entrevistado, a Cáritas foi a instituição responsável, bem como o
BASA, em relação ao financiamento, e o IBAMA, por conta da doação de madeira
ilegal apreendida.
Observa-se, assim, que houve articulações interinstitucionais que, inclusive,
envolveram dois órgãos públicos, o que se aproxima da ideia de um saneamento
alicerçado na Promoção da Saúde.
Sobre a categoria modelo de intervenção (pergunta 4 - Como foi a tomada
de decisão para a implantação do projeto?), a Tabela 29, a seguir, apresenta a ideia
central da resposta obtida.
Tabela 29: Ideia central da resposta à pergunta 4 (Como foi a tomada de decisão para a implantação do projeto?)
Ideia central da resposta
A partir de visitas do Arcebispo de Belém à ilha
A resposta revela que a decisão da implantação do projeto foi tomada a
partir do momento em que o então Arcebispo de Belém visitou a ilha e observou que
os moradores lançavam seus dejetos no terreno por meio de fossas negras, o que
provocava um ciclo de contaminação na região.
Assim, com o objetivo de trazer melhorias para os moradores, a Cáritas se
propôs a implantar o SES. Durante o processo de implantação, houve a participação
técnica por meio da atuação dos profissionais voluntários da Cáritas e do pároco
73
local, os quais foram responsáveis pelas ações educativas (palestras) que
informaram os moradores sobre como operar o SES.
A ação participativa da população, todavia, ficou restrita a estar presente
nessas palestras, pois não houve uma discussão sobre a realidade local com vistas
à construção de alternativas para solucionar os problemas, de acordo com a
Promoção da Saúde. Somente houve a apresentação de uma única alternativa: a
implantação do SES.
Sobre a categoria estratégias de ação (pergunta 5 - Como e quais foram as
ações de educação realizadas?), a Tabela 30, a seguir, apresenta a ideia central da
resposta obtida.
Tabela 30: Ideia central da resposta à pergunta 5 (Como e quais foram as ações de educação realizadas?)
Ideia central da respostaTrabalho de conscientização na educação, na formação, no uso e na manutenção
De acordo com a resposta do idealizador/executor foram desenvolvidas
ações de conscientização e educação que proporcionaram a capacitação da
população beneficiada quanto ao uso e à manutenção do SES.
Contudo, na prática, cruzando essa resposta com as respostas das usuárias
às perguntas 4 (Como você ficou sabendo do projeto?) e 5 (Que orientações você
recebeu sobre o funcionamento do sanitário ecológico seco? Quem orientou?) do
roteiro exibido na Tabela 6, tudo indica que tais ações se limitaram ao treinamento
da comunidade, pois, não contribuíram, de fato, para o processo de empoderamento
local, como ações de Promoção da Saúde.
Sobre a categoria executores dos projetos (pergunta 6 - Quem foi o
responsável pelo projeto na época da implantação? Quem é responsável
74
atualmente?), a Tabela 31, a seguir, apresenta a ideia central da resposta obtida.
Tabela 31: Ideia central da resposta à pergunta 6 (Quem foi o responsável pelo projeto na época da implantação? Quem é responsável atualmente?)
Ideia central da resposta
Os responsáveis na época da implantação eram o engenheiro civil e o diácono. Atualmente é o engenheiro civil
Segundo a resposta, na implantação do SES, dois voluntários da Cáritas, um
deles com formação em engenharia civil, assumiram a responsabilidade de executar
e supervisionar o projeto. Atualmente, o responsável é o engenheiro civil.
De acordo com a categoria abordada, a PS ressalta que a execução dos
projetos e suas responsabilidades devem ser divididas entre todos os atores sociais
envolvidos. No entanto, não foi mencionada a participação da população nas
respostas obtidas, inclusive quanto à responsabilidade atual.
Sobre a categoria modelo de gestão (pergunta 7 - De onde foi adotada a
tecnologia implantada?), a Tabela 32, a seguir, apresenta a ideia central da resposta
obtida.
Tabela 32: Ideia central da resposta à pergunta 7 (De onde foi adotada a tecnologia implantada?)Ideia central da resposta
Adotada do município de Abaetetuba.
A resposta revela que a Cáritas tomou conhecimento da existência do SES
por meio da diocese do município de Abaetetuba, onde está em curso uma
experiência com essa tecnologia.
Certamente, a inciativa de implanta-la em Jutuba levou em conta sua
adaptabilidade às condições físicas do meio mas, e quanto aos aspectos sociais e
culturais da comunidade? Estaria ela devidamente adaptada para uso por parte de
senhoras de idade e crianças, por exemplo? E a comunidade estaria disposta a
75
assumir responsabilidades quanto à operação e à manutenção corretas, inclusive
alterando seus hábitos? Estas são perguntas que uma intervenção lastreada na
Promoção da Saúde deve incorporar, desenvolvendo estratégias de educação para
o empoderamento individual e coletivo, o que não se verificou efetivamente na
intervenção em estudo. Em visitas às casas das usuárias, foi possível encontrar
em uso vasos sanitários com descarga, o que indica que a apropriação da
tecnologia não se verificou de fato.
6.3.3 - Resumo da Avaliação do Ponto de Vista da Promoção da Saúde
A Tabela 33, a seguir, apresenta o resumo dos resultados obtidos sobre a
avaliação do projeto em estudo na perspectiva da Promoção da Saúde, tanto do
ponto vista das usuárias, quanto dos idealizadores/executores.
Tabela 33: Resumo da Avaliação do Ponto de Vista da Promoção da SaúdeCategoria avaliada Avaliação dos usuários Avaliação dos
idealizadores/executores Objetivo dos projetos Melhorar qualidade de
vida dos moradoresBeneficiar a saúde da população e o ambiente
Preocupação quanto à sustentabilidade das ações e benefícios ao longo do tempo
Sustentabilidade não assegurada ao longo do tempo pela falta de cal e serragem
Sustentabilidade não assegurada ao longo do tempo pela falta de cal e serragem
Articulação entre políticas, instituições e ações
Ação particular do movimento católico no Pará, tendo a Cáritas como executora, com o apoio da paróquia local
Ação da Cáritas em conjunto com o BASA e o IBAMA
Modelo de intervenção(participação técnica e não técnica nas decisões)
Participação somente técnica; participação da população restrita a estar presente nas reuniões realizadas
Participação somente técnica; participação da população restrita a estar presente nas reuniões realizadas
76
Estratégias de ação(educação sanitária e ambiental como estratégia)
Orientações técnicas transmitidas em reuniões por parte da Cáritas sobre operação e manutenção do sistema
Ações de conscientização, educação e formação para capacitar a população quanto ao uso e manutenção do sistema
Executores dos projetos(responsabilidade pelas ações)
Cáritas e Diácono responsáveis pela implantação; Cáritas responsável atualmente
Engenheiro civil e diácono responsáveis pela implantação; Engenheiro civil responsável atualmente
Modelo de gestão(adaptabilidade das ações)
Comprometida pela falta de cal e serragem (nem todas as usuárias usam o sistema)
Comprometida pela não observância de hábitos e aspectos culturais das usuárias e pela fragilidade das ações educativas para empoderamento
Analisando o exposto, pode-se dizer que:
na percepção das usuárias e dos idealizadores/executores, a categoria
objetivos dos projetos se alinha com uma visão de saneamento proposta pela
PS;
há divergência entre a percepção das usuárias e a dos
idealizadores/executores quanto à categoria articulação entre políticas,
instituições e ações: segundo a visão destes pode-se considerar uma
aproximação da PS; a visão daquelas sugere afastamento da PS;
na percepção das usuárias e dos idealizadores/executores, todas as demais
categorias se afastam de uma visão de saneamento proposta pela PS.
7- CONCLUSÃO
Dentro dos limites desta investigação, os resultados obtidos indicam que o
projeto Sanitário Ecológico Seco, em Jutuba, não alcançou a eficácia objetiva, uma
77
vez que todos os aspectos investigados não alcançaram os objetivos propostos.
Analisando a efetividade subjetiva, os resultados se mostraram insatisfatórios,
pois há dificuldade na obtenção da cal e da serragem, materiais indispensáveis para
o uso do SES.
Quanto à avaliação do ponto de vista da Promoção da Saúde, os resultados
indicam que na percepção dos usuários e dos idealizadores/executores, a categoria
objetivo dos projetos do SES, se alinha com uma visão de saneamento proposta
pela PS. Quanto à categoria articulação entre políticas, instituições e ações, há
divergência, no ponto de vista dos idealizadores/executores pode-se considerar uma
aproximação da PS e na percepção dos usuários propõe afastamento desta. No
entanto, todas as demais categorias se distanciam de uma visão associada na PS,
sugerindo que, em termos gerais, a intervenção não se coaduna com a perspectiva
de um saneamento alicerçado no ideário da PS.
Tais indicativos, apesar de serem contrários ao que usuários e
idealizadores/executores desejariam, não podem ser encarados como fonte de
desestímulo. Ao contrário, considera-se que constituem parâmetro que poderá
nortear de forma segura ações corretivas da intervenção já realizada, mas também,
e principalmente, as ações futuras que venham a ser implementadas em outras
localidades tão ou mais carentes que Jutuba.
Com essa finalidade, é que se apresenta, na seção seguinte, um conjunto de
recomendações julgadas oportunas.
8 - RECOMENDAÇÕES
Com o objetivo de corrigir os indicativos de ineficácia e não-efetividade,
recomenda-se:
78
a realização de ações mais aprofundadas e efetivas de educação ambiental
para despertar o interesse e a compreensão da população em geral, desde
crianças até os mais idosos, sobre questões relacionadas à sustentabilidade,
permacultura (cultura permanente) e ecologia. Citam-se como exemplos, a
criação de cartilhas, a realização de oficinas de aprendizagem e orientação
para produção e venda do adubo e do inseticida, entre outros. Essa iniciativa
seria um estímulo à utilização do sanitário ecológico, uma vez que os
moradores teriam consciência sobre a responsabilidade do seu papel na
gestão do projeto. Aqui é importante falar dos aspectos de construção
conjunta de alternativas para os problemas da comunidade e de
empoderamento
o monitoramento periódico da fase de compostagem para produção do adubo
para avaliar seu desenvolvimento correto
a realização de exames parasitológicos do material compostado, a fim de
avaliar a eficácia do processo;
o estabelecimento de parcerias com madeireiras próximas ou qualquer outro
fornecedor de serragem;
fornecimento de cal através de doações realizadas por instituições
governamentais ou pela Cáritas
a integração do sistema a um minhocário para a produção de húmus e o
posterior uso dele na agricultura (o minhocário integrado à caixa de
compostagem teria a função de eliminar completamente qualquer risco de o
composto estar contaminado por agentes patogênicos);
estabelecimento de parcerias com agricultores próximos às ilhas para a
venda do adubo produzido
79
a instalação de um modelo de vaso sanitário mais confortável, adequando
inovações ou buscando semelhanças com os assentos de um vaso comum.
9 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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funcionamento. Florianópolis: Santa Catarina, 2009.
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1986.
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utilizando princípios da permacultura. Florianópolis-SC, 2007.
PHILIPPI. J. R. A; MALHEIROS, T. F. Saneamento saúde e ambiente:
fundamentos para um desenvolvimento sustentável. Integrando homem e meio
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preventivistas e da Promoção da Saúde. Saúde Sociedade. São Paulo:EDITORA
DO LIVRO. v. 16, n. 3, pag. 125-137, 2007.S FOR REVISTA ESPEC.
SOUZA, C. M. N; FREITAS, C. M. O saneamento na ótica de profissionais de
saneamento-saúde-ambiente: promoção da saúde ou prevenção de doenças?
Revista de Engenharia Sanitária e Ambiental. Rio de Janeiro: v. 13, n. 1, p. 46-
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Discurso de usuários sobre uma intervenção em saneamento: uma análise na
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SOUZA, C.M.N; FREITAS, C.M; MORAES, L.R.S. Discursos sobre a relação
saneamento-saúde-ambiente na legislação: uma análise de conceitos e
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www.arq.ufsc.br/arq5661/trabalhos_2004-1/arq_terra/superadobe.htm (Acessado em
13/07/2012).
82
BANHEIRO seco e ecológico. Blog Spot. Disponível em: www.
banheirosecoecologico.blogspot.com.br (Acessado em: 19/09/2010).
BRASIL. Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH). Brasil.gov.br.
Disponível em: www.brasil.gov.br/sobre/cidadania/direitos-do-cidadao (Acessado em
17/08/2012).
HABITAÇÂO. ecocentroIPEC. Disponível em:
www.ecocentro.org/vida-sustentavel/habitacao (Acessado em 02/06/2012).
HUMUS SAPIENS_IPEC. ecocentroIPEC. Disponível em:
www.ieham.org/html/docs/ (Acessado em 24/07/2011).
RECEITAS AGROECOLÓGICAS. Consórcio Lambari. Disponível em:
http://www.consorciolambari.com.br/index.php?
option=com_content&view=article&id=79&Itemid=56 (Acessado em 18/06/13)
APÊNDICE
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Projeto Sanitário Ecológico Seco: eficácia, efetividade e Promoção da Saúde
Você está sendo convidado(a) a participar do projeto de pesquisa acima
citado. O documento abaixo contém todas as informações necessárias sobre a
pesquisa que estamos fazendo. Sua colaboração neste estudo será de muita
83
importância para nós, mas se desistir a qualquer momento, isso não causará
nenhum prejuízo a você.
Eu, _________________________________________, residente e domiciliado na
_________________________, RG ____________ e CPF_________________,
nascido(a) em _____ / _____ /_______, abaixo assinado(a), concordo de livre e
espontânea vontade em participar como voluntário(a) da pesquisa “Participação e
Controle Social no saneamento básico: proposição de tecnologias de apoio”.
Estou ciente de que:
I) O objetivo da pesquisa é avaliar o projeto Sanitário Ecológico Seco, a partir das
idéias de Promoção da Saúde;
II) Os dados necessários para alcançar esse objetivo serão coletados mediante
entrevistas norteadas por um roteiro básico;
III) Minha participação neste projeto consiste em responder às perguntas que me forem
dirigidas durante a entrevista e contribuirá para acrescentar à literatura dados referentes ao
tema, direcionando as ações voltadas para a promoção da saúde e não causará nenhum
risco a minha integridade física, psicológica, social e intelectual;
IV) Tenho a liberdade de desistir ou de interromper a colaboração neste estudo no
momento em que desejar, sem necessidade de qualquer explicação;
V) A desistência não causará nenhum prejuízo a minha pessoa;
VI) Não receberei remuneração e nenhum tipo de recompensa nesta pesquisa, sendo
minha participação voluntária;
VII) Os resultados obtidos durante este estudo serão mantidos em sigilo;
VIII) Concordo que os resultados sejam divulgados em publicações científicas, desde que
meus dados pessoais não sejam mencionados;
IX) Caso eu desejar, poderei pessoalmente tomar conhecimento dos resultados parciais
e finais desta pesquisa.
( ) Desejo conhecer os resultados desta pesquisa
( ) Não desejo conhecer os resultados desta pesquisa
Belém, ______, de ____________ de 2011
Declaro que obtive todas as informações necessárias, bem como todos os esclarecimentos
quanto às dúvidas por mim apresentadas.
______________________________________
84
Entrevistado
______________________________________
Entrevistador
_______________________________________
Cezarina Maria Nobre Souza
Pesquisadora Responsável
Telefones para contato:
Instituição executora da pesquisa: Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Pará – 91 32011770
Pesquisadora Responsável: Cezarina Souza - 91 8882-2022
85
ANEXO
PARECER DE APROVAÇÃO EMITIDO PELO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA
COM SERES HUMANOS DO INSTITUTO EVANDRO CHAGAS
86