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1 FACULDADES UNIFICADAS DE FOZ DO IGUAÇU – UNIFOZ CURSO DE DIREITO JOÃO FELIPE CASCO MIRANDA DIREITO CIVIL IV

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FACULDADES UNIFICADAS DE FOZ DO IGUAU UNIFOZCURSO DE DIREITOJOO FELIPE CASCO MIRANDA

DIREITO CIVIL IV

FOZ DO IGUAU/PR2016JOO FELIPE CASCO MIRANDA

DIREITO CIVIL IV

Trabalho apresentado disciplina de Direito Civil IV, como requisito parcial de avaliao bimestral do Curso de Graduao em Direito das Faculdades Unificadas de Foz do Iguau UNIFOZ.Prof. Ms. Guilherme Martins Hoffmann

FOZ DO IGUAU/PR2016

SUMRIO

INTRODUO.............................................................................................................61 PRIMEIRA PARTE 04/02/2016.................................................................................71.1 NEGCIO JURDICO.............................................................................................71.2 BILATERAL............................................................................................................81.3 RELAO JURDICA OBRIGACIONAL..............................................................101.4 FUNO SOCIOECONMICA............................................................................102 SEGUNDA PARTE 18/02/2016..............................................................................122.1 AUTONOMIA........................................................................................................122.1.1 Autonomia e funo social do contrato.............................................................132.2 OBRIGATORIEDADE...........................................................................................162.2.1 Clusula rebus sic stantibus...........................................................................172.3 CONSENTIMENTO..............................................................................................172.4 RELATIVIDADE....................................................................................................182.5 BOA-F................................................................................................................193 TERCEIRA PARTE 25/02/2016..............................................................................213.1 NEGOCIAES PRELIMINARES/TRATATIVAS/FASE DE PUNTUAO........213.1.1 Contratos preliminares, o pactum de contrahendo.........................................233.2 PROPOSTA..........................................................................................................233.3 ACEITAO.........................................................................................................243.4 RETRATAO DO PROPONENTE E DO ACEITANTE.....................................253.5 MOMENTO DA CONCLUSO DO CONTRATO.................................................253.6 LUGAR DA CELEBRAO DO CONTRATO......................................................273.7 EMENTAS DE ACRDOS ACERCA DA PROPOSTA E ACEITAO............274 QUARTA PARTE 03/03/2016.................................................................................314.1 INTERPRETAO CONTRATUAL......................................................................314.2 CLASSIFICAO DOS CONTRATOS................................................................324.2.1 Quanto aos efeitos obrigacionais......................................................................324.2.2 Quanto aos efeitos patrimoniais........................................................................344.2.2.1 Contratos onerosos comutativos e aleatrios................................................344.2.3 Quanto ao relacionamento entre os contraentes..............................................364.2.4 Quanto forma..................................................................................................364.2.5 Quanto designao........................................................................................364.3 QUESTES RELATIVAS CLASSIFICAO DOS CONTRATOS...................375 QUINTA PARTE 10/03/2016...................................................................................425.1 EXTINO NORMAL DO CONTRATO...............................................................425.2 EXTINO ANORMAL DO CONTRATO.............................................................435.2.1 Causas anteriores ou contemporneas.............................................................445.2.1.1 Necessidade do pronunciamento judicial da resoluo por intermdio da clusula resolutiva......................................................................................................455.2.1.2 Da mora do devedor.......................................................................................495.2.2 Causas supervenientes.....................................................................................505.3 EXCEO DO CONTRATO NO CUMPRIDO...................................................515.3.1 Garantia de execuo.......................................................................................525.4 QUESTES RELATIVAS EXCEO DO CONTRATO NO CUMPRIDO......536 SEXTA PARTE 24/03/2016....................................................................................576.1 ARRAS.................................................................................................................576.2 VCIO REDIBITRIO...........................................................................................596.3 EVICO.............................................................................................................616.4 QUESTES RELATIVAS AOS INSTITUTOS SUPRA ABORDADOS................636.4.1 Primeiro caso.....................................................................................................636.4.2 Segundo caso....................................................................................................656.4.3 Terceiro caso.....................................................................................................667 STIMA PARTE 31/03/2016...................................................................................677.1 EFEITOS DO CONTRATO RELATIVAMENTE A TERCEIROS..........................677.1.1 Estipulao em favor de terceiro.......................................................................677.1.2 Promessa de fato de terceiro............................................................................687.1.3 Contrato com pessoa a declarar.......................................................................687.2 EMPTIO SPEI E EMPTIO REI SPERATAE....................................................687.3 COMPRA E VENDA.............................................................................................697.4 QUESTES ACERCA DA COMPRA E VENDA..................................................708 OITAVA PARTE 07/04/2016...................................................................................748.1 TROCA.................................................................................................................748.2 DOAO..............................................................................................................748.3 QUESTES ACERCA DO CONTEDO EM GERAL..........................................75CONSIDERAES FINAIS.......................................................................................79

INTRODUO

Trata-se de trabalho acadmico complementar realizado por meio de reviso bibliogrfica, no intuito de preencher os requisitos necessrios para a obteno da aprovao da matria Direito Civil IV. Assim, foram abordados os assuntos passados em sala de aula, de forma cronolgica, realizando-se pesquisas complementares, bem como se resolvendo questes acerca dos temas tratados.O trabalho aborda os temas da teoria geral do negcio jurdico contratual, iniciando-se seus princpios basilares e norteadores. Aps, buscamos uma viso acerca do caminho percorrido pelas partes para, finalmente, o pacto ganhar vida. Com sua ascenso, vimos como o ato deve ser interpretado, em caso de eventuais problemas que possam surgir, suas consequncias em relao s partes e a terceiros e algumas garantias legalmente estabelecidas, as quais tm como escopo proteger a efetivao do negcio e os direitos da parte inocente em caso de inexecuo.Finalmente, examinamos, de forma breve, as figuras da compra e venda, arrematando o presente ensaio com a doao e a troca.

1 PRIMEIRA PARTE 04/02/2016

A primeira parte do trabalho acadmico complementar (TAC) tem como foco as caractersticas fundamentais e elementos basilares do contrato, buscando uma compreenso adequada acerca do objeto de estudo sob o qual nos debruaremos durante todo o perodo.

1.1 NEGCIO JURDICO

indiscutvel que tudo o que nos circunda tem uma origem, um princpio, um momento desencadeador de consequncias, na mais ampla aplicao do vocbulo ex nihilo nihil fit. Tais fenmenos so denominados como fatos, que, dependendo do contexto no qual se encontram, importaro, ou no, para o direito. Isso implica na existncia de fatos que o legislador, em tese, considerou importante, por intermdio de um juzo de valorao, e, por tal motivo, ganharam relevncia no ordenamento jurdico que regula as atividades humanas[footnoteRef:1]. [1: GONALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: parte geral. 6. ed. rev. e atual. So Paulo: Saraiva, 2008. v. 1. p. 276.]

Por outro lado, existem fatos que so irrelevantes, no causando nenhum desdobramento no mbito jurdico, sendo ignorados pelo direito.Assim, a subdiviso entre fatos e fatos jurdicos lato sensu surge, enquadrando-se, neste ltimo, todo e qualquer acontecimento que seja relevante para o direito, desdobrando-se em consequncias jurdicas, como o nascimento, a modificao, a proteo ou a extino de prerrogativas. Em outras palavras, o fato jurdico lato sensu ser o desencadeador dos direitos subjetivos.Isso quer dizer que a norma regula situaes genricas, amplas e abstratas (direito objetivo), sendo que o fato jurdico, ao se enquadrar nas situaes previstas por ela, acaba por se desdobrar em uma circunstncia especfica, restrita e concreta, criando uma situao jurdica individual.O fato jurdico lato sensu o elemento que d origem aos direitos subjetivos, impulsionando a criao da relao jurdica, concretizando as normas jurdicas. Realmente, do direito objetivo no surgem diretamente os direitos subjetivos; necessria uma fora de propulso ou causa, que se denomina fato jurdico[footnoteRef:2]. [2: DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: teoria geral do direito civil. 25. ed. rev. atual. e ampl. So Paulo: Saraiva, 2008. v.1. p. 371.]

Quanto classificao dos fatos jurdicos, no h como negar as divergncias e controvrsias doutrinrias, ainda que sutis[footnoteRef:3]. Contudo, tal fenmeno pode ser satisfatoriamente delineado da seguinte maneira: a) fatos jurdicos naturais: advm das foras da natureza, gerando efeitos jurdicos independentemente da vontade e interferncia humana; b) fatos jurdicos humanos: desdobram-se das atividades e condutas dos indivduos; b.1) atos jurdicos ilcitos: geram efeitos involuntrios/no queridos; b.2) atos jurdicos lcitos: produzem consequncias voluntrias/queridas. [3: DINIZ, op. cit., v.1. p. 372-373; GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil: parte geral. 13. ed. So Paulo: Saraiva, 2011. v. 1. 332-333; GONALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: parte geral. 6. ed. rev. e atual. So Paulo: Saraiva, 2008. v. 1. p. 277-278.]

Prosseguindo s divises pertinentes, os atos jurdicos lcitos abrangem, precipuamente: a) os atos jurdicos stricto sensu: causadores de efeitos jurdicos pr-determinados pela ordem normativa, invariveis, ficando em segundo plano a interveno e vontade das partes; e b) os negcios jurdicos: ato de autonomia privada, com o qual o particular regula por si os prprios interesses. Por outras palavras, o ato regulamentador dos interesses privados[footnoteRef:4], criando-se, em sntese, lei entre as partes, sendo o contrato o seu inconfundvel exemplo. [4: DINIZ, op. cit., v.1, p. 426.]

1.2 BILATERAL

Os negcios jurdicos podem ser classificados quanto manifestao de vontade/nmero de declarantes em unilaterais e bilaterais/plurilaterais.O contrato um negcio jurdico, em regra, bilateral ou plurilateral. Quer dizer que, para se formar, necessrio a existncia de duas ou mais vontades que se contrapem, indo de encontro ao princpio norteador do instituto que o de fazer lei entre as partes (ato regulamentador de interesses privados). Em outras palavras, as parcelas contratantes acordam que se devem conduzir de determinado modo, uma em face da outra, combinando seus interesses, constituindo, modificando ou extinguindo obrigaes[footnoteRef:5]. [5: DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: teoria geral das obrigaes contratuais e extracontratuais. 31. ed. So Paulo: Saraiva, 2015. v. 3. p. 31]

O contrato no esquizofrnico, sendo necessrio a interao de indivduos, dotados de determinados interesses que, em tese, podero ser atingidos por intermdio da elaborao do negcio jurdico contratual. Em apertada sntese, trata-se de acordo entre duas ou mais pessoas para um fim qualquer[footnoteRef:6]. [6: RIZZARDO, Arnaldo. Contratos. 6. ed. rev. Rio de Janeiro: Forense, 2005. p. 6.]

Ainda, a bilateralidade ou plurilateralidade podem ser caracterizadas pelos benefcios e encargos s partes. Havendo reciprocidade de vantagens e nus, configura-se a bilateralidade sinalagmtica. A contrario sensu, existindo proveito somente a um dos polos, e incumbncias ao outro, caracteriza-se a bilateralidade simples (contratos benficos ou gratuitos).Curiosa a situao do autocontrato ou contrato consigo mesmo. Pode ser compreendida como exceo regra de que, para se constituir o contrato, necessria a existncia de duas manifestaes de vontades contrapostas. Entretanto, entendo que, em verdade, trata-se apenas de uma constituio contratual envolvendo representao, por intermdio de instrumento procuratrio, no deixando de existir o mnimo exigido de duas vontades, sendo, portanto, uma contratao normal. Vejamos.Tradicional exemplo doutrinrio para elucidar o tema tratado, seria o de uma pessoa deixar poderes especficos outra para realizar a venda de um bem. Assim, o indivduo, dotado de poderes para alienar o objeto do outorgante, realiza a compra. Nesse caso, ocorre que o outorgado manifestou duas vontades jurdicas diversas e, portanto, configurou-se validamente a bilateralidade contratual, ou seja, agiu por si e como representante.

1.3 RELAO JURDICA OBRIGACIONAL

O negcio jurdico contratual uma relao jurdica consistente em um vnculo entre os polos envolvidos, regulamentado pelas regras e preceitos oriundos da ordem normativa, excluindo deveres alheios ao direito, como o de gratido ou cortesia, visto que o devedor pode ser compelido a realizar a prestao[footnoteRef:7]. [7: DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: teoria geral das obrigaes. 30. ed. So Paulo: Saraiva, 2015. v. 2. p. 45.]

A relao jurdica obrigacional consiste no direito de o credor exigir do devedor uma prestao de dar, fazer ou no fazer, sob pena de responsabilidade patrimonial por parte do polo passivo. Desta forma, o contrato representa uma das fontes das obrigaes, sendo, portanto, um fato jurdico que suscita o direito de exigir o cumprimento de determinada prestao que, neste caso, foi compactuada pelas partes.

1.4 FUNO SOCIOECONMICA

O contrato meio pelo qual os indivduos envolvidos buscam efetivar seus mais variados interesses. certo que os contratos devem respeitar e estar em conformidade com a ordem normativa (Constituio e normas infraconstitucionais) por uma questo de hierarquia. Mormente ao se considerar que so as leis que regem e do validade aos contratos. Isso nos leva a uma dificuldade em definir o que seria a funo social e econmica do instituto em epgrafe. Seria, ento, o simples respeito ordem normativa? Algo mais profundo que isso, mas que, ao mesmo tempo, se confunde com a submisso ao ordenamento jurdico. Vejamos.O conjunto de normas brasileiras tem em seu pice uma Constituio classificada como analtica e social, a qual tem como princpios fundamentais, esculpidos em seu art. 3, construir uma sociedade livre, justa e solidria, garantir o desenvolvimento nacional, erradicar a pobreza e diminuir as desigualdades sociais, bem como promover o bem geral. Assim, todo o direito de Pindorama ser norteado, em tese, por tais circunstncias, influenciando, consequentemente, o instituto contratual, traduzindo-se em sua funo social e econmica.Desta feita, o contrato no pode ser utilizado como um instrumento arbitrrio, excessivamente oneroso e desproporcional. Isso levando em considerao que suas consequncias no se limitam s partes contraentes, mas, sim, sociedade como um todo. Nesse sentido so os ensinamentos de Carlos Roberto Gonalves[footnoteRef:8]: [8: GONALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: parte geral. 6. ed. rev. e atual. So Paulo: Saraiva, 2008. v. 1. p. 281.]

Cumpre a esta altura relembrar que o exerccio da autonomia privada no tem mais o carter individualista que norteou o Cdigo Civil de 1916. O novo diploma afastou-se dessas concepes para seguir orientao compatvel com a socializao do direito contemporneo, cuja diretrizes foram traadas na Constituio de 1988, especialmente no tocante funo social da propriedade e ao respeito dignidade da pessoa humana.O princpio da funo social e econmica do contrato finda em uma limitao aos princpios da autonomia e da obrigatoriedade contratual. Assim, por motivos metodolgicos, seguindo a ordem de abordagem dos temas em sala de aula, trataremos de forma mais completa do princpio em epgrafe no prximo captulo do presente trabalho.

2 SEGUNDA PARTE 18/02/2016

O negcio jurdico contratual um mecanismo extremamente importante para a sociedade. Nesse sentido, flagrante a necessidade de princpios norteadores para a sua constituio. Assim, tais elementos guiaro a formao do contrato para que se tenha a maior segurana e efetividade possveis, tendo em vista que o contrato regula os interesses particulares. Mormente ao se considerar que tal instituto no gera efeitos somente inter partes. Ao contrrio, desdobra-se como verdadeiro efeito domin dentro do mbito social, atingindo, direta ou indiretamente, todos os indivduos que convivem em sociedade.Portanto, passamos a dissertar, brevemente, acerca dos princpios contratuais, intimamente relacionados com as caractersticas fundamentais e elementos basilares tratados no primeiro captulo.

2.1 AUTONOMIA

Trata-se de princpio fundante da liberdade contratual, consistindo no direito de estipular conforme a vontade das partes, fixando o que bem entenderem, com o intuito de alcanar determinado fim.Depreende-se de sua anlise, basicamente, trs elementos: a) liberdade de (no)contratar; b) com quem contratar e; c) como (forma) e o que contratar (objeto)[footnoteRef:9]. Todavia, perceptvel a limitao da autonomia privada, a qual tem o compromisso com o ordenamento jurdico que, por sua vez, norteado pelo bem comum. [9: DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: teoria geral das obrigaes contratuais e extracontratuais. 31. ed. So Paulo: Saraiva, 2015. v. 3. p. 41-42.]

Conforme brevemente dissertado, a elaborao de contratos no atual estgio do direito brasileiro deve observar certas finalidades, eis que as consequncias de tal instituto se desdobram em toda a sociedade. Ascende, desta forma, a funo social do contrato, regida pela supremacia da ordem pblica (dirigismo estatal).

2.1.1 Autonomia e funo social do contrato

A noo de autonomia que se aplica no atual momento histrico est intimamente relacionada com o fim do Estado Absolutista Monrquico e o surgimento dos Estados Liberais. Isso pois os Estados da modernidade eram caracterizados pela imensa concentrao de poder, pelo latente autoritarismo e, como consequncia, pela falta de liberdade que os indivduos estavam submetidos.Aps alguns eventos revolucionrios, surge o Estado Liberal, que tem seu pressuposto filosfico na doutrina dos direitos naturais. Tal corrente explica que prerrogativas derivam de leis no postas pela vontade humana e que precedem qualquer formao de grupo social, devendo o Estado respeit-las e proteg-las. Quer dizer que o liberalismo funda os limites do poder com base em uma ideia geral e hipottica sobre a natureza humana, dispensando verificao emprica e histrica[footnoteRef:10]. [10: BOBBIO, Norberto. Liberalismo e democracia. So Paulo: Brasiliense, 2013. p. 11-12.]

Com fulcro nessa ideia, o Estado Liberal marcado pela sua mnima interveno nas atividades realizadas pelos indivduos, inclusive na elaborao de contratos, muito por conta dos traumas oriundos dos Estados Absolutistas Monrquicos. Logo, originou-se um verdadeiro imprio da vontade das partes. Por isso, o contrato considerado como o acordo de vontades livres e soberanas, insuscetvel de modificaes trazidas por qualquer outra fora que no derive das partes envolvidas. Induziu a to alto grau a liberdade de pactuar, que afastou quase completamente a interferncia estatal[footnoteRef:11]. [11: RIZZARDO, Arnaldo. Contratos. 6. ed. rev. Rio de Janeiro: Forense, 2005. p. 19.]

Entretanto, o Estado Liberal se mostrou ineficaz em diversos aspectos, desdobrando-se em inmeros conflitos, desigualdades e insegurana no mbito social. Desta feita, contemporaneamente, prevalecem os ideias do chamado Estado Social, onde, segundo as lies de Antonio Carlos de Arajo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e Cndido Rangel Dinamarco[footnoteRef:12]: [12: CINTRA, Antonio Carlos de Arajo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cndido Rangel. Teoria geral do processo. 31. ed. rev. e ampl. So Paulo: Malheiros, 2015. p. 60.]

Ao Estado se reconhece a funo fundamental de promover a plena realizao dos valores humanos, isso deve servir, de um lado, para pr em destaque a funo jurisdicional pacificadora como fator de eliminao de conflitos que afligem as pessoas ou grupos e lhes trazem angstia; de outro, para advertir os encarregados do sistema quanto necessidade de fazer do processo um meio efetivo para a realizao da justia. O ente estatal passou a agir positivamente na sociedade com o fim ltimo de pacificao. Nesse vis, a autonomia sofreu mitigaes, precipuamente quando estiverem presentes interesses metaindividuais ou interesse individual coletivo relativo dignidade da pessoa humana[footnoteRef:13]. Entretanto, a autorregulamentao no foi obliterada, sendo um dos princpios norteadores do instituto contratual. [13: DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: teoria geral das obrigaes contratuais e extracontratuais. 31. ed. So Paulo: Saraiva, 2015. v. 3. p. 43.]

Tal tendncia desembarcou em terrae basilis, onde o princpio da funo social do contrato est positivado no Cdigo Civil, em seu art. 421. Tal norma infraconstitucional se baseia, por sua vez, nos incisos XXII e XXIII, do art. 5, da Carta Magna, a qual versa sobre a funo social da propriedade.Logo, o contrato, como instituto social dotado de tamanha importncia, regulamentador de interesses privados, sendo uma das engrenagens para a circulao de riquezas e o consequente crescimento econmico, no pode ser transformado em um instrumento para atividades abusivas, causando dano parte contrria ou a terceiros[footnoteRef:14]. [14: REALE, Miguel. Funo social do contrato. Disponvel em: . Acesso em: 29 de fev. 2016.]

Assim, conclui-se pela predominncia da destinao social e pelo prevalecimento do interesse pblico sobre o proveito, benefcio e ganho estritamente particular que o ato de contratar possa gerar. Consequentemente, deixa de preponderar, v.g., clusulas consideradas abusivas, desproporcionais e desarrazoadas, que maculam valores superiores, como o da habitao ou moradia, o que trata da vida, da sade, da formao, do respeito, da dignidade[footnoteRef:15]. [15: RIZZARDO, Arnaldo. Contratos. 6. ed. rev. Rio de Janeiro: Forense, 2005. p. 21.]

As atenuaes so impostas pela atuao positiva do Estado, delineando princpios norteadores (normas de ordem pblica), bem como possibilitando a reviso dos atos, por intermdio do Poder Judicirio, a fim de que se respeite a funo social do contrato e, consequentemente, se proteja a paz social. Tal conduta denominada dirigismo estatal[footnoteRef:16]. [16: DINIZ, op. cit., v. 3. p. 44-45.]

O direito tende a uma constante socializao de suas normas. Os estipulantes assumem cada vez mais uma posio de igualdade legal, o que importa, com frequncia, na interveno do Estado para refrear a excessiva autonomia de vontade[footnoteRef:17]. [17: RIZZARDO, Arnaldo. Contratos. 6. ed. rev. Rio de Janeiro: Forense, 2005. p. 33.]

Indagamos, anteriormente, se a funo social do contrato seria o simples respeito ordem normativa. Constata-se algo mais profundo que isso. O exame da adequao funo social do contrato no se limita a tal controle de ilicitude, sendo que a atuao interpretativa dever constatar se a relao econmica entre os particulares atende concreta e substancialmente aos valores constitucionais[footnoteRef:18]. A regulamentao legal do contrato est contida no princpio da supremacia da ordem pblica, mais amplo e abstrato[footnoteRef:19], sendo um dos meios pelos quais a funo poder ser identificada. [18: GONALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: contratos e atos unilaterais. 7. ed. So Paulo: Saraiva, 2010. v. 3. p. 32.] [19: RIZZARDO, op. cit., p. 33.]

Outrossim, a funo social do contrato no deve ser concebida como uma exceo um direito absoluto, mas, sim, como uma elementar que integra tal prerrogativa e o norteia. Em outras palavras, a funo social do contrato no uma exceo ao direito de contratar. Ao contrrio, ela intrnseca ao prprio direito de contratar[footnoteRef:20]. [20: GONALVES, op. cit., p. 26.]

Por fim, a autonomia privada como autorregulamentao de interesses s se justificaria se o contrato corresponder a uma funo considerada socialmente til pelo ordenamento[footnoteRef:21]. Quer dizer que a abrangncia da autonomia contratual dever ser interpretada de forma global, no se restringindo, to somente, s partes envolvidas. [21: DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: teoria geral das obrigaes contratuais e extracontratuais. 31. ed. So Paulo: Saraiva, 2015. v. 3. p. 44.]

A autonomia pode ser compreendida, em apertada sntese, como a margem de escolha dada pelo Direito. Configura-se em situaes onde se pode atuar conforme a sua vontade, desde que no macule os preceitos do ordenamento jurdico, bem como no ultrapasse o mbito de autodeterminao possibilitado.

2.2 OBRIGATORIEDADE

O princpio da obrigatoriedade contratual, traduzido por intermdio do brocardo pacta sunt servanda, vai de encontro ideia de que a confeco do contrato, figura harmonizadora de vontades, tem como efeito imediato a criao de lei entre as partes. Tal entendimento se respalda no fato de que, conforme salienta Maria Helena Diniz[footnoteRef:22]: [22: DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: teoria geral das obrigaes contratuais e extracontratuais. 31. ed. So Paulo: Saraiva, 2015. v. 3. p. 48.]

O contrato, uma vez constitudo livremente, incorpora-se ao ordenamento jurdico, constituindo uma verdadeira norma de direito, autorizando, portanto, o contratante a pedir a interveno estatal para assegurar a execuo da obrigao porventura no cumprida segundo a vontade que a constituiu. O contrato dever ser cumprido na exata medida em que foi elaborado, eis que fruto da livre manifestao da vontade dos particulares nele envolvidos. O princpio da obrigatoriedade significa, portanto, verdadeira garantia efetivao dos pactos, atuando, preliminarmente, de forma coercitiva, pressionando psicologicamente as partes e, em segundo plano, de maneira coativa, imputando responsabilizao patrimonial quela parte que no cumprir o combinado injustificadamente.A obrigatoriedade sinnimo de segurana, paz e harmonia social, pois cria nos indivduos a certeza de que a avena ser cumprida, reforando, assim, os princpios de probidade e boa-f que devem nortear todo e qualquer fato jurdico humano. Tal segurana extremamente relevante, pois os contratos so instrumentos pelos quais a economia circula e, desse modo, conditio sine qua non para o progresso e crescimento da comunidade[footnoteRef:23]. [23: RIZZARDO, Arnaldo. Contratos. 6. ed. rev. Rio de Janeiro: Forense, 2005. p. 25-26.]

Claro que, quando dissertamos que dever ser cumprido na exata medida dos termos contratados, levamos em conta que, conforme esboado nos tpicos anteriores, relativos autonomia e funo social do contrato, as clusulas no podero macular os preceitos de ordem pblica, como os princpios da socialidade, da boa-f, da proporcionalidade e da dignidade da pessoa humana, sintetizados pelo princpio da equivalncia contratual.Assim, o princpio da obrigatoriedade restringido da mesma forma que a autonomia contratual, no sendo, portanto, absoluto. Deve-se observar os preceitos maiores, impostos pelo dirigismo estatal.

2.2.1 Clusula rebus sic stantibus

Alm dos preceitos limitadores que se aplicam autonomia e, concomitantemente, obrigatoriedade, supramencionados, tem-se a clusula rebus sic stantibus, que dimensiona, precipuamente, o princpio da obrigatoriedade em epgrafe. Vejamos.Tal clusula consiste na possibilidade de o Poder Judicirio interferir nos contratos, realizando revises e, em ultima ratio, resolvendo-os. Por consistir em tamanha mitigao obrigatoriedade, a clusula s ser permitida e aplicada com fulcro na teoria da imprevisibilidade. Em outras palavras, o judicirio intervir em circunstncias excepcionais/extraordinrias, resumidas no caso fortuito ou oriundo de fora maior, que impossibilitem a previso de excessiva onerosidade no cumprimento da prestao, requerendo a alterao do contedo da avena, a fim de que se restaure o equilbrio entre os contraentes[footnoteRef:24], com o intuito de evitar enriquecimento ilcito em prol de uma parte, e gastos desproporcionais outra. [24: DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: teoria geral das obrigaes contratuais e extracontratuais. 31. ed. So Paulo: Saraiva, 2015. v. 3. p. 49.]

2.3 CONSENTIMENTO

O consentimento das partes se revela como um elemento existencial dos contratos. Conforme j elencado, o contrato um negcio jurdico essencialmente bilateral. Impossvel, portanto, a existncia de um contrato que, quanto a sua formao, no seja, minimamente, constitudo de duas vontades.O acordo de vontades das partes contratantes se traduz como requisito de validade e, concomitantemente, pressuposto da existncia do instituto[footnoteRef:25]. [25: DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: teoria geral das obrigaes contratuais e extracontratuais. 31. ed. So Paulo: Saraiva, 2015. v. 3. p. 56.]

O fenmeno contratual se perfaz, em regra, to somente pela conformao, harmonizao e unio das vontades dos contraentes, as quais podero se manifestar livremente, sem forma pr-definida.Assim, tem-se a livre forma para a constituio dos contratos, os quais so denominados de consensuais, onde as vontades das partes podero se manifestar por intermdio dos mais variados meios de comunicao.Exceo regra da livre forma so os contratos ditos solenes. Em tais casos, a lei, de forma expressa e impositiva, especificar o(s) meio(s) pelo(s) qual(is) as vontades tero de se manifestar, sob pena de nulidade.

2.4 RELATIVIDADE

O negcio jurdico contratual fonte de obrigaes, as quais consistem, por sua vez, em prestaes de dar, fazer e/ou de no fazer. Nesse vis, surge um questionamento: quem est obrigado a tais prestaes?As obrigaes originrias da elaborao dos contratos so relativas, em regra, apenas s partes contraentes, visto que no aproveita nem prejudica terceiros, vinculando exclusivamente as partes que nele intervieram[footnoteRef:26]. [26: Ibid. p. 50.]

Contudo, interessante salientar que tal princpio comporta excepcionalidades. Sem o vis de aprofundamento, ao menos por ora, lembrando a ordem cronolgica de abordagem do contedo em sala de aula, depreende-se da legislao as estipulaes em favor de terceiros (arts. 436 a 438 do Cdigo Civil), bem como o caso dos herdeiros universais, onde, neste ltimo, as obrigaes contradas pelo de cujus sero transmitidas aos herdeiros no limite da herana (art. 1.792 do Cdigo Civil).

2.5 BOA-F

Trata-se de princpio vinculado ao relacionamento das partes contraentes. Em se tratando de fonte de obrigaes, as partes devem agir para que tais prestaes sejam devidamente cumpridas, no atuando uma em detrimento da outra, a fim de impossibilitar a execuo do que devido. Em sntese, o atuar das partes deve ser regado pela honestidade, transparncia e lealdade, eis que a contratao um instituto que se baseia em um vnculo de confiana entre os particulares. A boa-f pode ser traduzida em um padro de conduta, no agir com probidade, podendo ser constatada nos moldes da fico jurdica chamada de homem mdio[footnoteRef:27]. Ou seja, o que geralmente se espera da outra parte, cumprindo os nus aos quais se vinculou, na forma como foi compactuada. [27: GONALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: contratos e atos unilaterais. 7. ed. So Paulo: Saraiva, 2010. v. 3. p. 54.]

Constatamos, desde j, a imensa carga axiolgica que o princpio da boa-f carrega. Isso pois, o que seria homem mdio? O que geralmente se espera da outra parte? Necessrio verdadeiro aprofundamento filosfico-jurdico para se ter uma noo satisfatrio do instituto em epgrafe. Contudo, ante ao espao em que dissertamos, deixamos claro que no h a necessria sofisticao terica acerca do tema.Aps as necessrias ressalvas acerca do tema, damos continuidade sua anlise, dentro de uma perspectiva, conforme dito, superficial. Portanto, a boa-f como ser concebida como verdadeira norma de conduta, como os contraentes devem se conduzir na relao contratual. Preceitos que devero ser observados nas fases pr e ps-contratuais.Tais elementos supramencionados configuram a chamada boa-f objetiva. Importante trazer colao outro aspecto da boa-f, a qual denominada de subjetiva/psicolgica. Tal prisma se volta aos pensamentos do contraente, de acreditar estar agindo conforme o direito, seja por uma crena ou ignorncia. Ter plena convico de que sua conduta legal, estando respaldada pelo ordenamento jurdico. A boa-f subjetiva atua como proteo em prol daqueles que creem, de forma errnea, ou seja, que incidem em erro, que esto atuando corretamente[footnoteRef:28]. [28: GONALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: contratos e atos unilaterais. 7. ed. So Paulo: Saraiva, 2010. v. 3. p. 55-56.]

3 TERCEIRA PARTE 25/02/2016

Aps dissertarmos de forma breve acerca das caractersticas essncias que circundam o instituto do contrato, bem como sobre os seus princpios basilares e fundamentais, passamos anlise da estruturao propriamente dita do contrato. Assim, a terceira parte do trabalho acadmico ter como escopo o exame os pressupostos e requisitos para a constituio vlida do contrato.Podemos levantar, a ttulo de cognio sumria, que, para a formao vlida do contrato, deve-se observar os preceitos do art. 104 do Cdigo Civil[footnoteRef:29]. Depreende-se, de sua anlise, requisitos de ordem subjetiva, objetiva e formal. [29: Art. 104. A validade do negcio jurdico requer: I - agente capaz; II - objeto lcito, possvel, determinado ou determinvel; III - forma prescrita ou no defesa em lei. Cdigo Civil. Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Disponvel em: . Acesso em: 20 de mar. 2016.]

Subjetivamente, a constituio contratual necessita de: a) duas ou mais vontades; b) exteriorizadas livremente por indivduos capazes; c) que se harmonizam, formando uma uniformizao de vontades. No plano objetivo, a obrigao contratual dever ser dotada de: a) objeto lcito; b) possvel ftica e juridicamente; c) determinado(vl); d) e economicamente relevante[footnoteRef:30]. [30: DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: teoria geral das obrigaes contratuais e extracontratuais. 31. ed. So Paulo: Saraiva, 2015. v. 3. p. 38.]

A formalidade versa sobre as formas de manifestao das vontades, que sero, em regra, livres, devendo a lei requerer expressamente forma especfica.

3.1 NEGOCIAES PRELIMINARES/TRATATIVAS/FASE DE PUNTUAO

A constituio do contrato ocorre pela contraposio, harmonizao e uniformizao de, no mnimo, dois polos distintos, por intermdio da proposta e da aceitao, ascendendo a fora vinculativa. Tem-se, assim, um dos elementos indispensveis para a sua formao, qual seja, o consentimento. Contudo, existem casos em que o contrato no nascer de forma espontnea, sendo precedido de uma fase anterior a sua formao propriamente dita. Assim, denota-se verdadeiro caminho contratual. Tal momento denominado de negociaes preliminares, tratativas ou fase de puntuao, que nada mais so do que conversaes prvias, sondagens e estudos sobre os interesses de cada contratante, tendo em vista o contrato futuro, sem que haja qualquer vinculao jurdica entre os participantes[footnoteRef:31]. [31: DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: teoria geral das obrigaes contratuais e extracontratuais. 31. ed. So Paulo: Saraiva, 2015. v. 3. p. 61.]

Assim, em regra, no haver nenhuma responsabilizao em face daquele que, na fase pr-contratual, desistir do negcio e interromper prontamente as tratativas. Tal ocorre pela inexistncia de proposta concreta, no tendo o contrato iniciado seu processo constitutivo[footnoteRef:32]. Mesmo quando surge um projeto ou minuta, ainda assim no h vinculao de pessoas[footnoteRef:33]. [32: Ibid. p. 61.] [33: GONALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: contratos e atos unilaterais. 7. ed. So Paulo: Saraiva, 2010. v. 3. p. 71. ]

Em regra, pois possvel a responsabilizao aquiliana, extracontratual ou, especificamente, pr-contratual. Mormente ao se considerar o disposto nos arts. 186 e 927 do Cdigo Civil[footnoteRef:34]: [34: Cdigo Civil. Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Disponvel em: . Acesso em: 20 de mar. 2016.]

Art. 186. Aquele que, por ao ou omisso voluntria, negligncia ou imprudncia, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilcito.Art. 927. Aquele que, por ato ilcito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repar-lo. Pargrafo nico. Haver obrigao de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.Os dispositivos legais se encontram em consonncia com o princpio da boa-f objetiva, autorizando a responsabilizao por perdas e danos a ttulo de culpa lato sensu. A despeito das negociaes preliminares no terem fora vinculativa, pelo princpio da boa-f, os negociantes tm o dever jurdico de agir com honestidade, transparncia e lealdade, no devendo criar uma expectativa idnea de realizao do contrato outra parte, a qual, por essa circunstncia, realizar despesas, bem como deixar de contratar com terceiros, v.g.3.1.1 Contratos preliminares, o pactum de contrahendoOs contratos preliminares, previstos nos arts. 462 a 466 do Cdigo Civil, so mecanismos de segurana que as partes escolhem para a efetivao posterior do contrato propriamente dito. Seria a formao de um contrato, com fora vinculativa obrigao de fazer um contrato; tem como objeto a formao de um contrato. Ou seja, realiza-se um contrato a fim de constituir outro contrato com contedo pr-determinado, chamado de definitivo. O pactum de contrahendo determinar o contedo do futuro contrato definitivo, exceto quanto forma, contendo todos os seus requisitos essenciais. Outrossim, no havendo clusula expressa de arrependimento, qualquer das partes poder exigir a celebrao do definitivo, assinando prazo para tanto, sob pena de o juiz suprir a vontade do inadimplente (arts. 463 e 464 do Cdigo Civil).Portanto, flagrante a situao de que os contratos preliminares no se tratam de meras tratativas sem fora vinculativa, tendo em vista sua natureza preparatria, delineando os contornos do futuro contrato definitivo, originando direitos e deveres s partes, vinculando-as obrigao de fazer o contrato final[footnoteRef:35]. [35: DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: teoria geral das obrigaes contratuais e extracontratuais. 31. ed. So Paulo: Saraiva, 2015. v. 3. p. 63.]

3.2 PROPOSTA

Conduta deflagradora do processo de formao do contrato. Difere-se das negociaes preliminares por vincular, em regra, aquele que apresenta (irretratvel), pela inteno de provocar o aceite da outra parte, pela especificidade e pela definitividade das clusulas oferecidas.A proposta constituda de elementos suficientes que possibilitem a imediata aceitao pelo outro polo, bastando um simples aceite para a configurao do contrato.Contudo, existem casos em que a obrigatoriedade da proposta no ser absoluta. O Cdigo Civil, em seus arts. 427 e 428[footnoteRef:36], incisos, excepciona expressamente a obrigatoriedade, originando a proposta denominada precatria. Vejamos. [36: Cdigo Civil. Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Disponvel em: . Acesso em: 20 de mar. 2016.]

Art. 427. A proposta de contrato obriga o proponente, se o contrrio no resultar dos termos dela, da natureza do negcio, ou das circunstncias do caso.Art. 428. Deixa de ser obrigatria a proposta: I - se, feita sem prazo a pessoa presente, no foi imediatamente aceita. Considera-se tambm presente a pessoa que contrata por telefone ou por meio de comunicao semelhante; II - se, feita sem prazo a pessoa ausente, tiver decorrido tempo suficiente para chegar a resposta ao conhecimento do proponente; III - se, feita a pessoa ausente, no tiver sido expedida a resposta dentro do prazo dado; IV - se, antes dela, ou simultaneamente, chegar ao conhecimento da outra parte a retratao do proponente.Assim, a legislao civil relativiza a vinculao da proposta, seja por circunstncias que dela resultam, como clusulas expressas ou prazos determinados, ou mesmo na ocorrncia de retratao.

3.3 ACEITAO

Trata-se da manifestao de vontade da parte que foi dirigida a proposta, a qual concorda na plenitude de seus termos. Assim, surge o consentimento, com a uniformizao de vontades (fecho do ciclo consensual). Outrossim, pela aceitao que o relacionamento contratual tem o seu incio, criando direito e obrigaes s partes nele envolvidas[footnoteRef:37]. [37: DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: teoria geral das obrigaes contratuais e extracontratuais. 31. ed. So Paulo: Saraiva, 2015. v. 3. p. 76.]

Para perfazer a relao contratual, o aceite dever ser conclusivo, aderindo integralidade da oferta, bem como tempestivo, observando as peculiaridades do caso, quais sejam: entre presentes, entre ausentes, com prazo pr-determinado ou no.Outrossim, o Cdigo Civil, nos termos do art. 430[footnoteRef:38], protege o aceitante nas situaes entre ausentes, onde a exteriorizao de vontade ocorre por intermdio de meio de comunicao mediato (exemplo: cartas fsicas e/ou virtuais). Assim, em situaes imprevistas, quando a manifestao chega intempestivamente ao conhecimento do proponente, aquele que realiza a proposta dever comunicar imediatamente o aceitante, sob pena de responsabilizao por perdas e danos. [38: Art. 430. Se a aceitao, por circunstncia imprevista, chegar tarde ao conhecimento do proponente, este comunic-lo- imediatamente ao aceitante, sob pena de responder por perdas e danos. Cdigo Civil. Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Disponvel em: . Acesso em: 20 de mar. 2016.]

3.4 RETRATAO DO PROPONENTE E DO ACEITANTE

direito do ofertante se arrepender do ato perpetrado, possibilitando-o de se retratar, retirando a oferta, desde que tempestivamente. Segundo o art. 428, IV, do Cdigo Civil, o proponente dever se retratar preliminarmente ao conhecimento da oferta pela outra parte, ou no mesmo instante. Assim, juridicamente a oferta no ter existido, no tendo o processo de formao da relao contratual se deflagrado e, desta feita, no ter fora vinculativa e obrigatria, bem como eventual responsabilizao pela retirada.Na mesma perspectiva atua o instituto da retratao quanto ao aceitante. Conforme o art. 433, no haver aceite se a retratao for concomitante ou prvia ao conhecimento do aceite por parte do proponente.

3.5 MOMENTO DA CONCLUSO DO CONTRATO

O contrato ser formado aps a unio das vontades dos contratantes. Contudo, de bom alvitre ressaltar o momento especfico em que tal fuso ocorre, precipuamente nos contratos inter absentes.Em apertada sntese, existem correntes que entendem que o contrato se perfaz no momento em que o ofertante tem conhecimento, toma cincia do aceite. Fundamenta no sentido de que o contrato no poder existir sem que as partes tenham conhecimento das vontades externadas (teoria da informao/cognio). Por outro lado, h aqueles que acreditam que o consentimento se aperfeioa e, como consequncia, o contrato, no momento em que o oblato/aceitante manifesta sua aquiescncia (teoria da agnio/declarao). Tal corrente comporta subteorias. A primeira versa que basta a formulao da reposta (subteoria da declarao propriamente dita). A segunda entende que a resposta formulada dever ser enviada (subteoria da expedio). E, por fim, a terceira compreende que a resposta formulada e enviada, dever chegar at o ofertante, sendo dispensvel que ele a leia (subteoria da recepo)[footnoteRef:39]. [39: DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: teoria geral das obrigaes contratuais e extracontratuais. 31. ed. So Paulo: Saraiva, 2015. v. 3. p. 81-82.]

Pela anlise dos arts. 430 e 434, caput, ambos do Cdigo Civil, conclui-se que a teoria adotada foi a da agnio/declarao na modalidade expedio, salvo nos casos dos incisos do art. 434, onde a modalidade a da recepo. Divergente o entendimento de Carlos Roberto Gonalves[footnoteRef:40]. O autor fundamenta que a possibilidade de retratao, prevista no art. 433, bem como as excees do art. 434, ambos do Cdigo Civil, desfiguraram a teoria da expedio. In verbis: [40: GONALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: contratos e atos unilaterais. 7. ed. So Paulo: Saraiva, 2010. v. 3. p. 81-82.]

Observa-se que o novo diploma estabeleceu trs excees regra de que o aperfeioamento do contrato se d com a expedio da resposta. Na realidade, recusando efeito expedio se tiver havido retratao oportuna, ou se a resposta no chegar ao conhecimento do proponente no prazo, desfigurou ele a teoria da expedio. Ora, se sempre permitida a retratao antes de a resposta chegar s mos do proponente, e se, ainda, no se reputa concludo o contrato na hiptese de a resposta no chegar no prazo convencionado, na realidade o referido diploma filiou-se teoria da recepo, e no da expedio.O entendimento do autor supramencionado faz sentido, eis que, de fato, no h nenhum bice retratao, seja do proponente ou do aceitante, desde que dentro do lapso temporal determinado por lei. Outrossim, tal posicionamento tem relevncia quanto abordagem do lugar da celebrao do contato, objeto de anlise do prximo tpico.

3.6 LUGAR DA CELEBRAO DO CONTRATO

O Cdigo Civil, em seu art. 435, preceitua que h de se considerar celebrado o contrato no local em se houve a proposta; no local em que a proposta foi expedida (entre ausentes) ou conhecida (entre presentes). O dispositivo legal entra, aparentemente, em conflito com o momento (tempo) da consumao do instituto contratual, ao menos para aqueles que adotam a teoria da agnio/declarao na modalidade expedio.Maria Helena Diniz[footnoteRef:41], ao dissertar sobre o tema, explica que h, to somente, duas perspectivas que so analisadas quanto formao do instituto em epgrafe, os quais adotam critrios distintos. Ou seja, quanto ao tempo, a teoria da expedio da resposta impetrada e, quanto ao lugar, o local em que se deu a oferta. [41: DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: teoria geral das obrigaes contratuais e extracontratuais. 31. ed. So Paulo: Saraiva, 2015. v. 3. p. 84.]

O lugar do contrato se mostra importante nos casos de consignaes internacionais, para se auferir o direito de qual Estado soberano ser aplicado.

3.7 EMENTAS DE ACRDOS ACERCA DA PROPOSTA E ACEITAO

Explique e justifique as decises abaixo, sustentando-as nos dispositivos legais aplicveis. A - CONTRATO FORMAO PROPOSTA ACEITAO. Em regra, a proposta de contrato tem a natureza de vinculante, apresentando-se como unilateralmente irrevogvel. 01. Entretanto, se a proposta j nasce precria, por ocorrer um dos motivos ressalvados no art. 427 do Cdigo Civil, ela deixa de ser vinculativa, no obrigando o proponente. 02. A proposta de oferta pblica por agente financeiro de imvel a ser objeto de financiamento imobilirio pelo SFH, embora j contenha os elementos essenciais a formao do contrato, 03. sempre dependera, por sua natureza, do exame das condies da aceitao de terceiro, no significando, por isso, proposta vinculante. 04. No basta a aceitao que o oblato concorde com os termos da proposta. 05. A aceitao deve se adequar plenamente aos seus termos, visto que no se aceita, discordando por menor que seja o dissenso (art. 431 do Cdigo Civil). 06. Qualquer alterao, mesmo acessria, passa a qualificar a aceitao como nova proposta, se reiniciando etapa para o consentimento e a formao do contrato. No formao contratual. Proposta no obrigatria a que adira aceitao com alterao, no significa jamais formao de contrato. 07. Apelao improvida. (Apelao Cvel n 589077106, Primeira Cmara Cvel, Tribunal de Justia do Rio Grande do Sul, Relator: Tupinamb Miguel Castro do Nascimento, julgado em 06/03/1990).Justificativas: trata-se de proposta que se enquadra nas excees regra da vinculao e obrigatoriedade da conduta deflagradora da constituio da relao contratual. Aplica-se o art. 427 do Cdigo Civil, o qual dispe as ocasies em que a proposta ser precatria/relativa, estando, dentre elas, a natureza do negcio.Outrossim, tem-se a ausncia de aceitao no caso, eis que no correspondente integralidade da oferta. Aplica-se, portanto, o art. 431 do Cdigo Civil.B - LOCAO Alienao do imvel locado. Direito de preferncia do locatrio sua aquisio. 01. Violao inexistente. Proposta de venda do imvel por preo vista realizada pelo locador ao inquilino. 02. Aceitao deste no correspondente aos termos da oferta. 03. Hiptese em que houve evidente contraproposta por parte do locatrio, no sendo o ofertante obrigado a aceit-la. Indenizao no devida. Aplicao do art. 431 do Cdigo Civil. (2 TACSP Ap. 247.628-1 3 C. - Rel. Juiz Costa e Trigueiros J> 20.12.1989) (RT 651/118).Justificativas: observa-se a ausncia de aceitao, tendo em vista a no aderncia integral aos termos da proposta. Desta feita, a relao contratual no se constitui.C - CONTRATO DE COMPRA E VENDA PROPOSTA. RECUSA COMISSO DE CORRETAGEM INEXIGILIBIDADE. O contrato de corretagem, sendo um contrato acessrio, vincula-se ao contrato principal. 01. No aperfeioado o contrato principal, no subsiste o acessrio. A simples assinatura de uma opo preliminar de compra e venda de imvel (art. 427 do Cdigo Civil) no obriga o policitante, 02.enquanto no aceita pelo oblato. 03. O negcio subjacente, pois, s se aperfeioa com a aceitao. 04. No concretizado o negcio de compra e venda, se faz indevida a comisso de corretagem. Em consequncia, a nota promissria emitida e representativa da aludida comisso resta sem suporte ftico de sua origem. 05. Deciso. Negado provimento. Unnime. (TARS AC. 183.046.077 1 CCiv. Rel. Juiz Lio Czar Schmitt J. 11.10.1983).Justificativas: para a formao do vnculo contratual, imprescindvel o consentimento das partes. Em outras palavras, necessrio que haja o aceite acerca da proposta efetuada, para, aps, ascenderem as obrigaes contratuais.No caso em tela, vemos que a clusula acessria da corretagem no se perfaz, em virtude da no constituio do contrato principal. Consequentemente, o acessrio se encontra ausente de pressuposto ftico, eis que o contrato sequer existiu.D JCCB - COMPRA E VENDA CONTRATO NO APERFEIOADO. 01. Ao declaratria da existncia de venda e compra de mvel, 02. em leilo. 03. Contrato que no chegou a existir, faltando a integrao de vontades. 04. Lano no aceito pelo leiloeiro, que recebeu os valores condicionalmente, 05. por estarem abaixo do preo estipulado pelo comitente. Mera proposta, dependente de aceitao que no houve. 06. Ao improcedente. Deciso mantida (art. 431 do Cdigo Civil). (1 TACSP Ap. 570.708-2 1 C. Rel. Des. Elliot Akel J. 16.05.1994) (JTACSP 147/59).Justificativas: havendo a proposta, a parte dever aceit-la nos termos que foi apresentada. Existindo aceite com modificaes, est constituda nova proposta, a qual dever ser aceita pela outra parte. Tal circunstncia no encontra respaldo no caso em anlise. Como desdobramento da falta de consentimento, da uniformizao de vontades, o contrato no chega a ser constitudo.E JCCB CIVIL DESCUMPRIMENTO DE PROPOSTA DEVER DE REPARAR OS PREJUZOS DA EMERGENTES. 01. I Nos termos do art. 427 do Cdigo Civil, a proposta vincula o policitante. 02. O seu descumprimento injustificado determina-lhe o dever de indenizar ao oblato pelos prejuzos da advindos. 03. II Escusando-se a CEF, injustificadamente, de conceder financiamento para aquisio de txi, nas condies que pops, 04. H de reparar o taxista pelo prejuzo que esse experimentou, ao ter que obter financiamento comum, mais oneroso, para cumprir o contrato de compra do veculo, confiado na subsistncia da referida proposta. (TRF 2 R. AC 90.02.10638-6 RJ 3 T. Rel. Des. Fed. Arnaldo Lima DJU 03.09.1992).Justificativas: existindo manifestao de vontade externalizada e dirigida outra parte, o proponente estar vinculado aos seus termos. Assim, no poder, de forma unilateral, retirar as condies propostas, sob pena de responsabilizao patrimonial. O acrdo demonstra situao em que o proponente retira sua proposta fora das situaes previstas pelo art. 427 e 428 do Cdigo Civil. Logo, a proposta externalizada no era relativa ou precatria, revestindo-se obrigatoriedade.

4 QUARTA PARTE 03/03/2016

A quarta parte do trabalho versa, de forma breve, acerca da hermenutica contratual, bem como da classificao dos contratos, contendo, ao final, questes relacionadas.

4.1 INTERPRETAO CONTRATUAL

O negcio jurdico contratual, fonte de direitos e obrigaes entre, em regra, queles que compactuam, passvel de originar circunstncias duvidosas como consequncia de clusulas ambguas. Assim, necessria a existncia de tcnicas e princpios interpretativos, os quais nortearam o dar sentido nesses casos.Em sntese, temos trs casos que merecem relevncia. O primeiro versa sobre o prevalecimento da vontade em detrimento da forma, conforme o art. 112 do Cdigo Civil. Assim, a regra geral que, ao interpretarmos o contrato, devemos tentar reconstruir, dentro do possvel, o ato volitivo dos contraentes. Em outras palavras, a vontade real dos contraentes, entre aquele que realizou a proposta e aquele que aceitou.Contudo, quando no for possvel auferir, de forma satisfatria, a vontade das partes na contratao, eventual clusula ambgua, ou lacuna no contrato, ser interpretada conforme o art. 113 do mesmo diploma legal. Desta forma, a boa-f objetiva e os usos e costumes locais sero utilizados para dar condies de cumprimento negcio.A segunda situao relevante est relacionada com os contratos benficos ou gratuitos, onde apenas uma das partes tem que arcar com os nus advindos da contratao, enquanto a outra beneficiada. O art. 114 da legislao civil versa que ser aplicada interpretao restritiva, no sentido de que vedado a extenso de seus efeitos, superando o que est expresso.Por fim, temos a situao em que no possvel negociar as clusulas da proposta, configurando-se em contratos de ou por adeso. Em tais circunstncias, eventuais nebulosidades sero interpretadas em favor do aderente, conforme previso expressa do art. 423 do Cdigo Civil.

4.2 CLASSIFICAO DOS CONTRATOS

Os contratos podem ser classificados e compreendidos conforme as mltiplas perspectivas de anlise que o jurista se propuser a examinar. A ttulo exemplificativo, trazemos colao a forma como dois autores esquematizam a classificao contratual. Vejamos.Maria Helena Diniz classifica os negcios jurdicos contratuais em: a) considerados em si mesmos; a.1) quanto natureza da obrigao; a.2) quanto forma; a.3) quanto designao; a.4) quanto ao objeto; a.5) quanto ao tempo de execuo; a.6) quanto pessoa do contratante; b) reciprocamente considerados; b.1) principais; b.2) e acessrios[footnoteRef:42]. Carlos Roberto Gonalves, por sua vez, faz a seguinte sistemtica: a) quanto aos efeitos; b) quanto formao; c) quanto ao momento de sua execuo; d) quanto ao agente; e) quanto ao modo por que existem; f) quanto forma; g) quanto ao objeto; h) e quanto designao[footnoteRef:43]. [42: DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: teoria geral das obrigaes contratuais e extracontratuais. 31. ed. So Paulo: Saraiva, 2015. v. 3. p. 95.] [43: GONALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: contratos e atos unilaterais. 7. ed. So Paulo: Saraiva, 2010. v. 3. p. 89-90.]

Percebe-se grande similitude entre as classificaes supra. Assim, buscaremos, de forma sinttica e sem pretenses doutrinrias, abordar os prismas mais importantes, no exaurindo-os, buscando conciliar as classificaes dos doutrinadores mencionados.

4.2.1 Quanto aos efeitos obrigacionais

Preliminarmente, cumpre observar que s se pode falar em unilateralidade do contrato em relao aos efeitos. Isso tendo em vista uma das caractersticas existncias do instituto, qual seja, o consenso. Lembramos que o contrato no um negcio esquizofrnico, necessitando de, no mnimo, duas vontades que se harmonizam. Desta feita, existem vertentes doutrinrias que preferem designar os contratos com prestaes a cargo de uma s parte e contratos com prestaes correspectivas[footnoteRef:44]. [44: DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: teoria geral das obrigaes contratuais e extracontratuais. 31. ed. So Paulo: Saraiva, 2015. v. 3. p. 96.]

Assim, feita a necessria ressalva, os benefcios e os encargos oriundos do negcio podem estar a cargo de um s dos polos, oportunidade em que o contrato ser unilateral, ou com prestaes a cargo de uma s parte, ou serem correspectivos aos contraentes, caracterizando o contrato bi/plurilateral quanto aos efeitos. Maria Helena Diniz bem sintetiza a diferena entre os efeitos, dissertando que os contratos unilaterais, apesar de requererem duas ou mais declaraes volitivas, colocam um s dos contraentes na posio de devedor, ficando o outro como credor. Ao contrrio dos bilaterais, que, continua a autora, tem por caracterstica principal o sinalagma, ou seja, a dependncia recproca de obrigaes[footnoteRef:45]. [45: Ibid. p. 96.]

Outrossim, para a configurao de um contrato bilateral, no necessrio que todas as obrigaes sejam revestidas pelo sinalagma, que sejam recprocas. Em verdade, basta que as principais o sejam. Assim, possvel haver obrigaes acessrias que incumbem a apenas um dos contraentes, no deixando, entretanto, o contrato de ser bilateral quanto aos efeitos[footnoteRef:46]. [46: GONALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: contratos e atos unilaterais. 7. ed. So Paulo: Saraiva, 2010. v. 3. p. 91.]

Ainda acerca da classificao quanto aos efeitos do contrato, tem-se uma categoria intermediria, denominada de bilateral imperfeito. Assim denominado o unilateral que, por circunstncia acidental, ocorrida no curso da execuo, gera alguma obrigao para o contratante que no se comprometera[footnoteRef:47]. Em sntese, o contrato nasce unilateral, contudo, por circunstncia superveniente, torna-se bilateral. Aplica-se, nesse caso, as disposies relativas ao contrato unilateral. [47: Ibid. p. 92.]

4.2.2 Quanto aos efeitos patrimoniais

Quanto aos efeitos patrimoniais, os contratos podem ser classificados como onerosos ou gratuitos ou benficos.Para compreendermos as diferenas entre um e outro, podemos utilizar o mesmo raciocnio empregado na classificao quanto aos efeitos obrigacionais. Em outras palavras, colocamos em epgrafe a reciprocidade. Vejamos.Os contratos sero onerosos quando haver reciprocidade de ganho e sacrifcio patrimonial entre os contraentes. Em outra perspectiva, sero gratuitos quando apenas uma das partes se beneficiar patrimonialmente com a constituio do contrato, enquanto a outra se encarrega, sozinha, da desvantagem patrimonial. Consequentemente, na maioria dos casos, os contratos unilaterais sero gratuitos/benficos, onde apenas uma parte obtm vantagens sem nenhuma contraprestao. A contrario sensu, os contratos bilaterais sero onerosos, com sacrifcios e benefcios recprocos. Na maioria dos casos, pois existem contratos unilaterais onerosos (mtuo feneratcio/oneroso - com juros), bem como bilaterais gratuitos (procurao).Outrossim, os contratos onerosos se dividem em comutativos e aleatrios. O primeiro consiste em prestaes certas e definidas, podendo os benefcios e as incumbncias serem antevistas ou avaliadas no momento do ajuste pelas partes. Diverso do que ocorre com os contratos aleatrios, caracterizado pela incerteza, dvida e impreciso das vantagens e encargos, as quais dependem de fato faturo, do acaso, impossibilitando, desta feita, estimao prvia. Como exemplo do contrato aleatrio, podemos citar o seguro.

4.2.2.1 Contratos onerosos comutativos e aleatrios

O contrato comutativo se caracteriza pela possibilidade das partes constatarem, desde a formao do vnculo, as vantagens e desvantagens oriundas do negcio, sendo certas e determinadas.Em sentido contrrio, os contratos aleatrios so dotados de riscos intrnsecos, onde no possvel averiguar as vantagens e desvantagens de pronto, seja de uma ou de ambas as partes. Isso levando em considerao que a prestao do contrato se subordina a evento futuro (no necessariamente, podendo ser evento j ocorrido, mas ignorado ou desconhecido pelas partes) casual, refletindo-se na existncia ou na quantidade do que foi combinado. Cumpre salientar que a incerteza do fato que subordina as prestaes dever incidir sobre ambas as partes, ou seja, ambos os polos tero dvidas acerca do acontecimento ou no do evento subordinante[footnoteRef:48]. [48: DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: teoria geral das obrigaes contratuais e extracontratuais. 31. ed. So Paulo: Saraiva, 2015. v. 3. p. 101-104.]

Nesse sentido, esclarecedoras so as palavras de Maria Helena Diniz[footnoteRef:49]: [49: Ibid. p. 102.]

Cada um deles se encontra adstrito a pagar sem nada receber, ou a receber sem nada pagar, ignorando, desde o momento da formao do contrato, de quem ser a vantagem e de quem ser a perda. Se a lea ficar a cargo exclusivo de um dos contraentes, nulo ser o negcio, pois inadmissvel a celebrao desse contrato por uma das partes na certeza de ganhar.Ainda, existe a possibilidade de o contrato ser tipicamente comutativo, mas, diante de circunstncias especficas, torna-se aleatrio. Desta maneira, ascende o chamado contrato acidentalmente aleatrio. A doutrina elenca, basicamente, duas ocasies em que haver a modalidade de contrato acidentalmente aleatrio: a) quando versarem acerca de coisas futuras, existindo risco quanto sua existncia e sua quantidade; b) e quando versarem acerca de coisas existentes, contudo, expostas e sujeitas ao risco de perdimento, danificao ou depreciao.Consignamos que, em virtude de o trabalho seguir a ordem cronolgica dos assuntos abordados em sala de aula, trataremos, de forma mais completa e minuciosa, dos contratos acidentalmente aleatrios, concomitantemente ao contrato de compra e venda esperada.

4.2.3 Quanto ao relacionamento entre os contraentes

Os contratos podero ser compreendidos em uma perspectiva que aborda o relacionamento das partes. Havendo paridade de armas, equivalncia de poderes quanto constituio contratual, teremos o denominado paritrio. Aqui, a negociao ampla e livre aos dois polos. Contudo, quando apenas um deles tem esse poder, restando ao outro o simples aceite ou no aceite, o contrato ser por adeso, onde as clusulas so pr-determinadas e imodificveis.

4.2.4 Quanto forma

Em regra, os contratos so livres, no solenes, se constituindo com a simples uniformizao das opinies (proposta e aceitao). Sero solenes, formais, apenas quando a lei expressamente requerer determinados requisitos. Outrossim, existem os contratos reais que, para se formarem, dependem da entrega da coisa (tradio).

4.2.5 Quanto designao

Existem contratos que possuem denominao e regulamentao legal, estando taxados no ordenamento jurdico (nominados/tpicos). Mas, ante complexidade do mundo contratual, regente dos interesses privados, os contraentes podero criar figuras contratuais que no estejam expressamente previstas no Cdigo Civil ou na legislao extravagante, desde que cumpridos os princpios gerais da autonomia, obrigatoriedade, consentimento, relatividade e boa-f (inominados/atpicos).

4.3 QUESTES RELATIVAS CLASSIFICAO DOS CONTRATOS

Marque V para verdadeira e F para falsa, justificando.1 (F) Todo contrato bilateral quanto aos seus efeitos, bem como quanto sua formao;Justificativas: os contratos, quanto aos seus efeitos, podero ser caracterizados como unilaterais, desde que as incumbncias do negcio fiquem a cargo de uma das partes, e as vantagens outra. Contudo, quanto sua formao, os negcios jurdicos contratuais sempre sero, no mnimo, bilaterais, ante necessidade da convergncia de duas manifestaes de vontades.2 (F) Os contratos unilaterais produzem efeitos apenas com a vontade de uma das partes;Justificativas: conforme dissertado, os contratos, quanto sua formao, pressupem a uniformizao de, no mnimo, duas vontades. Assim, mesmo que no contrato apenas uma das partes arque com as prerrogativas, e a outra com os nus, para surtir efeitos, necessrio a convergncia das vontades dos polos.3 (V) Os contratos sinalagmticos so bilaterais quanto aos seus efeitos;Justificativas: os contratos bilaterais so dotados de prestaes correspectivas, tambm chamados de sinalagmticos.4 (F) Os contratos unilaterais, quanto sua formao, no apresentam contraprestaes;Justificativas: quanto formao, os contratos necessitam do dilogo de, no mnimo, duas vontades. Esse fato pode ser entendido como uma contraprestao de vontades, pois originam vnculo obrigacional.A questo estaria certa se estivesse relacionada com os efeitos do contrato. Pois, de fato, os contratos considerados unilaterais se caracterizam pela inexistncia de contraprestao.5 (V) Em regra, os contratos onerosos so bilaterais quanto aos efeitos, no entanto, existem contratos unilaterais onerosos;Justificativas: de fato, existem contratos onerosos unilaterais, como o mtuo feneratcio/oneroso - com juros.6 (V) Nos contratos gratuitos, no obstante a gratuidade, em regra, h sacrifcio patrimonial;Justificativas: os contratos, como fonte de circulao de riquezas, trabalham com os bens aferveis patrimonialmente. Assim, mesmo que apenas uma das partes tenha benefcios, sem nenhuma contraprestao, a outra ter sacrificado parte de seu patrimnio para tanto.7 (V) A equivalncia imediata das prestaes possvel ser auferida nos contratos comutativo;Justificativas: os contratos bilaterais onerosos comutativos se caracterizam pela possibilidade de aferir, detectar e reconhecer de pronto as vantagens e incumbncias do vnculo contratual.8 (F) No havendo a certeza quanto as prestaes derivadas de um acordo aleatrio, este denomina-se bilateral imperfeito;Justificativas: os contratos bilaterais onerosos aleatrios se caracterizam, a contrario sensu dos cumulativos, pela impossibilidade de os contraentes identificarem os benefcios e nus do vnculo de pronto, os quais esto vinculados a evento futuro, em regra, e incerto.Os contratos bilaterais imperfeitos consistem em um meio termo entre os contratos unilaterais e bilaterais quanto aos efeitos. Explico. O contrato nasce unilateral, sendo que apenas uma das partes arca com os benefcios e a outra com as incumbncias, na questo obrigacional. Contudo, por circunstncias acidentais, no curso da execuo, ascende obrigao para um dos polos, o qual preliminarmente no se comprometeu[footnoteRef:50]. [50: GONALVES, Carlos Roberto. Direito das obrigaes, parte geral: contratos. 13. ed. So Paulo: Saraiva, 2011. (Coleo sinopses jurdicas; v. 6, t. I). p. 37.]

A questo falsa, pois mistura duas perspectivas diversas de classificao dos contratos.9 (F) Por contratos nominados, entende-se somente aqueles que encontram catalogados no Cdigo Civil;Justificativas: contratos nominados, ou tpicos, so aqueles que esto catalogados na legislao, no estando adstritos ao Cdigo Civil.10 (F) Os contratos inominados, assim se denominam por possurem princpios contratuais prprios, distintos dos contratos nominados;Justificativas: contratos inominados, ou atpicos, so aqueles que no se encontram catalogados na legislao. Observa-se que os nominados e inominados obedecem aos mesmos princpios gerais do instituto contratual, no havendo peculiaridades ou divergncias quanto a isso. Ou seja, submetem-se aos princpios da autonomia, da obrigatoriedade, do consentimento, da relatividade e da boa-f.11 (V) Os contratos reais, em regra, so unilaterais e gratuitos;Justificativas: contratos reais so aqueles que, para se concretizarem, necessitam, alm do consentimento das partes, da entrega da coisa. Geralmente so unilaterais, tendo em vista que a entrega da coisa por uma parte gera a obrigao outra de devolver.12 (V) Os contratos no solenes, ou consensuais, para sua formao exigem apenas a fuso da vontade das partes;Justificativas: regra geral para a formao do vnculo contratual o consentimento das partes. Os contratos solenes so expressamente elencados pela lei. 13 (F) Os contratos reais, para sua formao, no exigem a vontade das partes;Justificativas: todo e qualquer tipo de contrato, para sua formao, depender do consentimento das partes, da uniformizao de vontades, do encontro de, no mnimo, dois atos volitivos. Os contratos reais no fogem a tal axioma, apenas detm a peculiaridade da entrega da coisa para se constiturem. 14 (F) Tendo a forma como sendo imprescindvel para sua substncia, os contratos denominam-se substanciais e abstratos;Justificativas: a questo vai contra a premissa de que os contratos se perfazem com o simples consentimento das partes, em detrimento da forma como exteriorizada.15 (F) Todo contrato subsiste de forma autnoma, pois no h contrato acessrio;Justificativas: os contratos podem ser considerados em si mesmos e de forma reciproca, ocasio em que existiro por conta de outro negcio jurdico principal. 16 (F) Est-se diante de um contrato sucessivo quando se visualiza a entrega da coisa mediante o recebimento do preo;Justificativas: os contratos sucessivos so classificados quanto ao momento de execuo. Caracterizam-se no tpico parcelamento, quando o cumprimento se d por atos reiterados, no se consumando de pronto.17 (V) Os contratos mercantis diferenciam-se dos civis por apresentarem causas e objetos distintos;Justificativas: os contratos mercantis so dotados de causa e objetos distintos, sendo tratados pelo direito comercial, o qual afere princpios compatveis com a celeridade do mundo dos negcios, bem como para se alcanar o lucro. 18 (F) Os contratos individuais diferenciam-se dos coletivos por apresentarem apenas um integrante em cada polo;Justificativas: trata-se de classificao quanto ao agente. Os coletivos caracterizam-se pela manifestao de vontade de grande nmeros de indivduos de determinada classe por pessoas jurdicas, uma em cada polo do negcio. Diferente dos individuais, onde as vontades no so representadas por uma nica pessoa, mas, sim, individualizadas, de per si.19 (F) Presente um monoplio de direito ou de fato, que causa a preponderncia de um dos contraentes, pode-se classificar o contrato como solidrio;Justificativas: havendo preponderncia de uma parte sobre a outra, teremos o chamado contrato de adeso, onde a vontade de uma das partes se resume no aceite ou na recusa, no havendo margens para negociao dos termos propostos.20 (F) Os contratos de adeso, ou paritrios, excluem a possibilidade da livre conveno das clusulas contratuais.Justificativas: o contrato poder ser de adeso ou paritrio, nunca de forma concomitante, pois um exclui o outro. Conforme dissertado, o de adeso exclui a possibilidade da negociao das clusulas, ao contrrio do paritrio, onde as partes se encontram p de igualdade.

5 QUINTA PARTE 10/03/2016

O contrato nasce com a uniformizao de vontades, desenvolve-se e se extingue, como todo negcio jurdico. A conveno no eterna, ao contrrio, tem por caracterstica intrnseca sua natureza a temporalidade, podendo ser extirpada de vrias maneiras, normais ou anormais, e em vrios momentos, anteriores, contemporneas ou supervenientes prpria formao do vnculo.

5.1 EXTINO NORMAL DO CONTRATO

Convencionado o contrato, a forma tpica de extirp-lo o cumprimento de suas clusulas, com as partes realizando as condutas que lhes so obrigatrias. Assim, o contrato estar extinto com sua execuo, seja ela instantnea, diferida ou continuada[footnoteRef:51]. [51: GONALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: contratos e atos unilaterais. 7. ed. So Paulo: Saraiva, 2010. v. 3. p. 176.]

Acerca do ciclo vital tpico da conveno entre as partes, esclarecedoras so as palavras de Arnaldo Rizzardo[footnoteRef:52], que bem sintetiza e descreve o perodo de vida do negcio jurdico em epgrafe. Vejamos. [52: RIZZARDO, Arnaldo. Contratos. 6. ed. rev. Rio de Janeiro: Forense, 2005. p. 201.]

H o seu nascimento, quando as partes criam o vnculo em torno de uma obrigao ou prestao; desenvolvendo-se na medida em que vai sendo executado. Ambos os sujeitos da relao atendem os deveres, cada qual realizando os atos a que se comprometeu. Trata-se da execuo normal, e, assim, chegando ao seu final, a extino opera-se de forma tambm normal. Termina a relao criada porque desempenhada a conduta de vinha imposta. Uma vez satisfeito o objeto, no mais perdura, e esvaiu-se a sua existncia. Deu-se o que os romanos chamavam de solutio, que leva ao fim natural, com o que libera-se o devedor e d-se a satisfao do direito do credor.A execuo atestada, provada, por intermdio da quitao, direito do devedor. Sendo-lhe negada ou oferecida de forma irregular, possibilitado ao devedor reter o pagamento ou consign-lo, sem incorrer em mora[footnoteRef:53]. [53: DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: teoria geral das obrigaes contratuais e extracontratuais. 31. ed. So Paulo: Saraiva, 2015. v. 3. p. 177.]

Importante destacar que, nem sempre, a extino da obrigao e do contrato sero contemporneas. Isso levando em considerao a diferena dos objetos de um e de outro.O contrato tem como objeto o conjunto de relaes que envolvem o vnculo jurdico entre as partes. A obrigao tem como objeto uma prestao de dar, fazer ou no fazer. Assim, o objeto contratual abrange o da obrigao, mas no se restringe a ela, podendo, contudo, em muitos casos, se confundirem.No prprio objeto do contrato est inerente o objeto da obrigao. Esta, em verdade, o seu objeto. Visa ele a constituio, a modificao ou a extino da ltima. Em consequncia, absorve o objeto da mesma, que se coloca na situao de objeto mediato[footnoteRef:54]. [54: RIZZARDO, Arnaldo. Contratos. 6. ed. rev. Rio de Janeiro: Forense, 2005. p. 133.]

Em outras palavras, o contrato visa a formao, modificao ou extino de um direito de natureza obrigacional. A obrigao, que objeto do contrato, por sua vez, visa uma prestao. A diferena ganha relevncia no mbito da extino contratual. Entendo que, conforme os tipos de extino adotados, quais sejam, instantnea, diferida ou continuada, o momento de dissoluo do contrato e da obrigao sero diversos. Exemplificando, trazemos baila o contrato de locao. O objeto da obrigao identificado como a prestao de dar a quantia monetria (prestao pecuniria) e a contraprestao de posse do imvel. Extingue-se a obrigao com o pagamento regular. Contudo, o vnculo obrigacional permanece, tendo em vista que o modo de sua extino continuado, no se exaurindo com o pagamento de uma prestao, mas, sim, de todas as parcelas relativas ao lapso temporal de utilizao do bem.

5.2 EXTINO ANORMAL DO CONTRATO

Os contratos podero ser dissolvidos por intermdio de causa distinta da execuo, preliminares, contemporneas ou supervenientes formao do prprio contrato. Denominam-se, assim, as causas atpicas ou anormais de resoluo contratual.5.2.1 Causas anteriores ou contemporneas

A extino dos contratos poder advir da falta de preenchimento dos requisitos essncias do negcio jurdico, dispostos no art. 104 do Cdigo Civil. Logo, no havendo adequao aos elementos: a) subjetivos, relacionados aos agentes que perfazem os polos do negcio; b) objetivos, incidentes acerca da licitude, possibilidade e determinao do objeto sobre o qual o negcio ir se debruar; c) e formais, atinentes ao modo pelo qual as manifestaes de vontades so expostas, lembrando que a regra a forma livre, constituindo-se o contrato com a simples uniformizao de vontades, no havendo necessidade de forma pr-determinada, salvo quando a lei dispuser em contrrio.A falta de um dos requisitos supramencionados poder acarretar a nulidade total, com efeitos ex tunc, retroagindo at a data da constituio maculada do contrato, como se ele no tivesse existido, ou parcial, oportunidade em que os efeitos sero ex nunc, deixando o contrato de existir a partir da declarao de nulidade.Assim, tendo em vista que na ocorrncia de nulidade relativa, tambm denominada de anulabilidade, o contrato subsiste e produz efeitos at ser declarado incuo, Maria Helena Diniz bem salienta que, por tal razo, essa categoria no deve ser considerada entre o rol de dissoluo contratual. A autora explica que a constatao de sua constituio defeituosa no retira sua validade jurdica, tanto que produz efeitos ex nunc, no retroagindo sua formao, mormente ao se constatar que permanecer eficaz at que a ao que tem como escopo a nulidade no for julgada procedente[footnoteRef:55]. [55: DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: teoria geral das obrigaes contratuais e extracontratuais. 31. ed. So Paulo: Saraiva, 2015. v. 3. p. 178.]

Outrossim, o Cdigo Civil, em seus arts. 474 e 475, dispe acerca da clusula resolutiva. Trata-se de circunstncia em que o inadimplemento de uma parte d, ao outro polo da relao, a prerrogativa de extinguir o contrato. No obstante a possibilidade de t-la expressamente (art. 474), ocasio em que poder ser denominada de pacto comissrio expresso[footnoteRef:56], observa-se que todo contrato bilateral ou sintagmtico compreender a clusula resolutiva tcita/implcita (art. 475), dando a faculdade do polo lesado de requerer a resoluo do contrato ou de exigir o cumprimento do convencionado, acrescidos de perdas e danos em ambas as situaes[footnoteRef:57]. [56: GONALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: contratos e atos unilaterais. 7. ed. So Paulo: Saraiva, 2010. v. 3. p. 179.] [57: DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: teoria geral das obrigaes contratuais e extracontratuais. 31. ed. So Paulo: Saraiva, 2015. v. 3. p. 179.]

As precpuas diferenas entre a clusula resolutiva expressa e a tcita, residem nos fatos de que: a) havendo clusula resolutiva expressa, o contrato ser extinto automaticamente, ou seja, de pleno direito, no havendo faculdade entre a resoluo ou exigir o cumprimento; b) havendo clusula resolutiva tcita, a resoluo depender de interpelao judicial, possibilitada a escolha entre resolver ou exigir o cumprimento do convencionado, sempre acrescidos, nos dois casos, de perdas e danos.Por fim, consigna-se o direito de arrependimento. Quando houver clusula expressa, o contrato poder ser extinto unilateralmente, desde que nos termos convencionados (dentro do prazo, se houver). Trata-se, em verdade, da situao das arras penitenciais, descrita no art. 420 do Cdigo Civil, onde algo dado como garantia ao cumprimento contratual e, ocorrendo o arrependimento, a coisa ter funo indenizatria.

5.2.1.1 Necessidade do pronunciamento judicial da resoluo por intermdio da clusula resolutiva

Conforme a doutrina de Carlos Roberto Gonalves[footnoteRef:58], seja expressa ou tcita, a resoluo dever ser judicialmente pronunciada. [58: GONALVES, op. cit. p. 181.]

Em ambos os casos, tanto no de clusula resolutiva expressa ou convencional, como no de clusula resolutiva tcita, a resoluo deve ser judicial, ou seja, precisa ser judicialmente pronunciada. No primeiro, a sentena tem efeito meramente declaratrio e ex tunc, pois a resoluo d-se automaticamente, no momento do inadimplemento; no segundo, tem feito desconstitutivo, dependendo de interpelao judicial.Isso pois vedado o uso da fora para o exerccio das prprias razes, as quais se tornaro arbitrrias, quando houver tal circunstncia. Logo, necessrio provocar o Estado-juiz para que, com sua conduta, os efeitos esperados sejam obtidos. Assim, quando houver clusula resolutiva expressa, no ser necessrio declarar a resoluo contratual, sendo requerida do Estado uma conduta no vis de executar as perdas e danos da oriundas. Em sentido contrrio, sendo tcita, a resoluo dever ser declarada para, aps, serem executados o que de direito.Tal observao vai de encontro ao tipo de ao adotada, e o processo aplicvel, as sentenas, sendo que as resolues de conflitos por parte do Estado-juiz, podero ser de diversas naturezas. Contudo, sempre estaro relacionadas com a ao e o processo. Vejamos, de forma breve, algumas consideraes pertinentes.A ao de conhecimento da origem ao processo de conhecimento, tambm denominado de processo declaratrio em sentido amplo, onde o Estado convocado a dizer quem tem razo. Logo, busca-se uma sentena de mrito, que ter diversas extenses, culminando em uma sentena meramente declaratria, condenatria ou constitutiva. Aplica-se, nesse caso, clusula resolutiva tcita.A Sentena meramente declaratria: busca-se que o juiz declare a existncia do direito, retirando-o do mbito abstrato e genrico, tornando-o concreto e especfico. No obstante, o autor tambm poder requerer a declarao da inexistncia de direito. Assim, em sendo julgado procedente a demanda que requer a declarao de existncia, ter-se- sentena meramente declaratria positiva. Em sendo julgado improcedente, configura-se em sentena meramente declaratria negativa. Outrossim, em sendo a demanda de declarao de inexistncia de direito, a sentena ser positiva.B Sentena condenatria: o pedido tem como escopo o reconhecimento do direito, bem como a aplicao de sano ao ru. Julgada procedente, a sentena ter natureza condenatria. Observa-se que a natureza da sano dplice. Preliminarmente, tem-se a de natureza material, relativa ao pedido mediato, como, por exemplo, o pagamento de danos materiais e morais. Entretanto, no se exaure em tal circunstncia. A sentena condenatria julgada procedente reveste o autor do direito de acesso execuo forada. Observa-se que a sentena condenatria, quando comparada com as demais, a nica que participa do estabelecimento, a favor do autor, de um novo direito de ao (ao executiva, ou executria), que o direito tutela jurisdicional executiva[footnoteRef:59]. [59: CINTRA, Antonio Carlos de Arajo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cndido Rangel. Teoria geral do processo. 31. ed. rev. e ampl. So Paulo: Malheiros, 2015. p. 339.]

No mbito civil, as aes condenatrias esto relacionadas com obrigaes, traduzidas em prestaes de dar, fazer ou no fazer. Assim, quando ascende a mora, o inadimplemento ou a leso, contudo, no dotadas de liquidez e certeza, busca-se a tutela jurisdicional por intermdio de ao de conhecimento, ou, mais especificamente, ao de prestao, para, justamente, impor a prestao ao ru.C Sentena constitutiva: o pedido mediado recai acerca da criao, modificao ou extino de direitos, findando em uma situao jurdica nova. Trabalha-se com o direito potestativo, diferenciando-se substancialmente da sentena condenatria no mbito civil. Assim nos explica Fredie Didier Jnior[footnoteRef:60]: [60: DIDIER JNIOR, Fredie. Curso de direito processual civil: introduo ao direito processual e processo de conhecimento. 14. ed. ver. ampl. e atual. Salvador: JusPodivm, 2012. v. 1. p. 234.]

Direito potestativo o poder jurdico conferido a algum de submeter outrem alterao, criao ou extino de situaes jurdicas. O sujeito passivo de tais direitos nada deve; no h conduta que precise ser prestada para que o direito potestativo seja efetivado. O direito potestativo efetiva-se no mundo jurdico das normas, no no mundo dos fatos, como ocorre, de modo diverso, com os direitos a uma prestao. A efetivao de tais direitos consiste na alterao/criao/extino de uma situao jurdica, fenmenos que s se operam juridicamente, sem a necessidade de qualquer ato material (mundo dos fatos). Exemplifica-se. O direito de anular um negcio jurdico um direito potestativo; essa anulao dar-se- com a simples deciso judicial transitada em julgado, no ser necessria nenhuma outra providncia material, como destruir o contrato, por exemplo.Assim, constata-se desnecessidade de execuo, eis que, a sentena que reconhea um direito potestativo j o efetiva com o simples reconhecimento e implementao de nova situao jurdica almejada[footnoteRef:61]. [61: Ibid. p. 234.]

Outrossim, destacam-se hipteses que em a constituio da relao dever, necessariamente, passar pelo crivo do poder judicirio (processos constitutivos necessrios), e outras em que, quando no possvel pelo acordo de vontades, recorre-se funo jurisdicional (processos constitutivos no necessrios)[footnoteRef:62]. [62: CINTRA, Antonio Carlos de Arajo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cndido Rangel. Teoria geral do processo. 31. ed. rev. e ampl. So Paulo: Malheiros, 2015. p. 340.]

Observa-se nova tendncia doutrinria em se acrescentar, ao bojo das aes supramencionadas (declaratria, condenatria e constitutiva), as denominadas aes mandamentais e executivas lato sensu. Ascende a classificao quinria das sentenas de procedncia no processo de conhecimento, retirando do bojo da sentena condenatria pura todo e qualquer provimento que desdobre mudanas no mundo concreto[footnoteRef:63]. [63: WAMBIER, Luiz Rodrigues (Coord.). Curso avanado de processo civil: teoria geral do processo e processo de conhecimento. 10. ed. rev., atual. e ampl. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. p.173.]

Antonio Carlos de Arajo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e Cndido Rangel Dinamarco[footnoteRef:64] bem sintetizam a diferena contida na nova classificao ao dissertarem que: [64: CINTRA, op. cit. p. 341.]

(...) em contraposio condenatria pura, porquanto a mandamental e a executiva lato sensu no demandam processo de execuo ex intervallo o mandamento contido na primeira e a eficcia da segunda so atuados no prprio processo em que houve o conhecimento e julgamento do meritum causae. (...) Todas as sentenas que declararem a existncia de obrigao a ser cumprida pelo ru comportariam efetivao sine intervallo, ou seja, mediante prosseguimento do mesmo processo no qual proferidas, sem a apresentao de uma petio inicial, sem citao do demandado e porquanto sem um processo executivo distinto e autnomo (sine intervallo).Vejamos algumas consideraes:D Sentena mandamental: ao impetrada tem como escopo obter uma ordem judicial, um mandamento, em face de rgo pblico e/ou particulares. A sentena mandamental, de per si, est apta a gerar efeitos concretos. Isso pois, independe de fase executiva. Podemos dizer, assim, que possui fora auto executiva. Nesse aspecto resido sua primordial distino quanto a sentena condenatria. Outrossim, sua no observncia pode culminar em sanes, bem como caracterizar o delito de desobedincia.E Sentena executiva lato sensu: visa materializar, trazer para o plano concreto, o previsto em ttulo executivo judicial (sentena condenatria e declaratria). A diferena da sentena condenatria pura reside no mbito cvel, mais uma vez, na desnecessidade de se criar novo processo para que a execuo se realize. uma concatenao de atos, ocorridas no mesmo processo.

5.2.1.2 Da mora do devedor

Outrossim, cumpre salientar algumas observaes acerca da mora. Isso pois haver diferentes modos do inadimplemento ascender. E, como visto alhures, o inadimplemento poder ser causa de extino do contrato. Mora o no cumprimento da obrigao no lugar, tempo e modo contratados, sendo que a obrigao no perdeu sua utilidade. Logo, a mora se constitui em um inadimplemento parcial.A mora poder ser do devedor ou do credor. Damos destaque mora do devedor. A mora solvendi, debendi ou debitoris subdividida em ex re e ex persona (art. 397 do Cdigo Civil).A ex re est relacionada com obrigaes positivas, lquidas e com prazo determinado para serem cumpridas. Assim, decorrido o termo final in albis, constitui-se em mora o devedor independentemente de qualquer atuao do credor. Aplicar-se-, portanto, a regra dies interpellat pro homine, ou seja, o termo interpela em lugar do credor, pois a lex ou o dies assumiro o papel de intimao[footnoteRef:65]. [65: DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: teoria geral das obrigaes. 30. ed. So Paulo: Saraiva, 2015. v. 2. p. 422.]

Ao contrrio, a ex persona est ligada s obrigaes em prazo certo. Logo, o credor dever atuar positivamente, cientificando formalmente o devedor, constituindo-o em mora.

5.2.2 Causas supervenientes

Posteriormente criao do vnculo contratual, a extino poder ser verificada por ocasio de resoluo. Assim como a clusula resolutiva, a resoluo dar-se- pela inadimplncia, pelo no cumprimento do pactuado. Em apertada sntese, resoluo se configu