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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO AMAPÁ - CEAP
ADOÇÃO INTERNACIONAL: UMA ABORDAGEM DE ACORDO COM O ESTATUTO DACRIANÇA E DO ADOLESCENTE.
ANA CLÁUDIA SILVA
MACAPÁ - AP2008
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ANA CLÁUDIA SILVA
ADOÇÃO INTERNACIONAL: UMA ABORDAGEM DE ACORDO COM O ESTATUTO DACRIANÇA E DO ADOLESCENTE.
Monografia apresentada como requisitoparcial para obtenção da graduação nocurso de Direito pelo Centro de EnsinoSuperior do Amapá _ CEAP.
Profº. Orientador: Elias Salviano.
MACAPÁ2008
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ANA CLÁUDIA SILVA
ADOÇÃO INTERNACIONAL: UMA ABORDAGEM DE ACORDO COM O ESTATUTODA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE .
Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado e aprovado em suaforma final pelo Colegiado de Direito do CEAP, em ____/_________/_____.
1 - __________________________________________________PROFº. ORIENTADOR
2 - __________________________________________________MEMBRO DA BANCA EXAMINADORA
3 - ______________________________ ____________________MEMBRO DA BANCA EXAMINADORA
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A minha querida e eterna irmã Ana CleideSilva, nesta página de evocação, a minhahomenagem e saudade. In Memoriam.
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AGRADECIMENTOS
A Deus, pela dádiva da vida, e pela oportunidade de tornar meu sonho em
realidade, trazendo-me a certeza de que posso todas as coisas naquele que me fortalece.
Aos meus pais, Manoel Antônio da Silva e Maria Cicera Silva, pelo amor e carinho
que me educaram e por acreditarem em meus nos meus sonhos e me auxiliarem que eles
se tornassem realidade.
Ao meu Irmão André Henrique, por ser o meu porto seguro, meu equilíbrio, minha
tranqüilidade nos momentos mais turbulentos e de fazer parte desse sonho que agora
realizo.
A minha cunhada pelo carinho e amizade a mim depositado ao longo dessa
caminhada.
Ao meu namorado pela força e incentivo, nos momentos difíceis dessa jornada.
Ao meu estimado professor orientador Elias Salviano, que me conduziu com
sabedoria, paciência e amizade, pa ra a elaboração desta obra.
Aos meus amigos de vida, que em todos os momentos me apoiaram e colaboraram
para a conclusão do curso.
À minha turma, em especial aos meus amigos (as) de curso Adilamar Coutinho
Castro e Leila Danielle Cordeiro e Marlon Nery da Costa, que comigo compartilharam
momentos inesquecíveis, durante todos esses anos de curso, o meu muito obrigada pelo
carinho, amizade e respeito.
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“O Filho por natureza ama - se porque éfilho, o filho por adoção é filho porque seama”.
Padre Antônio Vieira.
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RESUMO
O presente trabalho tem como propósito analisar o instituto da AdoçãoInternacional de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente lei nº 8.069 /90,discorrendo primeiramente sobre a evolução histórica, conceitos, natureza jurídica, bemcomo a função social do instituto da adoção. O sistema metodológico utilizado para aelaboração do texto se sustenta em pesquisas bibliográficas em doutrinas, artigos derevistas, textos e artigos publicados na internet, jurisprudências e legislações pertinentesao tema. Também será analisado, passo a passo, da adoção no ECA como suasformalidades, seus procedimentos, ou seja , quais os caminhos a serem percorridos parase adotar uma criança, ou um adolescente.É por fim, concluir que o procedimento deAdoção Internacional no Brasil se faz necessário, como forma de mitigar o número decrianças e adolescentes que se encontram em situação de abandono em instituições decaridade seja por serem órfãos, ou mesmo porque indesejados por seus genitores,ficando privadas da convivência familiar.O estudo deixa claro que a adoção internacionalé um fato jurídico que vem levantando discussões doutrinárias, exigindo da legislaçãopátria, uma transformação para melhor atender os interesses do menor.
PALAVRAS - CHAVES: adoção internacional, criança, adolescente e família.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.................................................................................................. ...............091 ADOÇÃO.........................................................................................................................111.1 A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO INSTITUTO DA ADOÇÃO............. .........................111.2 CONCEITO DE ADOÇÃO.......... ................................................................................131.2.1 O adotante............................................................................................................. 151.2.2 O adotado...... ........................................................................................................ 161.3 NATUREZA JURÍDICA...............................................................................................171.4 A FUNÇÃO SOCIAL DA ADOÇÃO............................................................................18
2 ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE................................ 20
2.1 A ADOÇÃO NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL BRASILEIRA DE 1988..... ...................202.2 A ADOÇÃO NO CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO.... ......................................................222.3 ADOÇÃO A BRASILEIRA...........................................................................................232.4 A ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE LEI Nº
8.069/90.............................................................................................................................252.4.1 Requisitos Relativos ao Adotamento........................................................ ............262.4.1.1 Requisitos Relativos ao Adotando....................................................................... 262.4.1.2 Idade do adotando.............................................................................................. 262.4.1.3 Consentimento dos pais ou do Representante Legal.......................................... 272.4.1.4 Consentimento do adotando............................................................................... 272.4.2 Requisitos Relativos ao Adota nte..........................................................................282.4.2.1 Idade do adotante e a diferença de idade entre adotante e adotando.............. 282.5 ESTÁGIO DE CONVIVÊNCIA E DO RELATÓRIO SOCIAL......................................292.6 OUTROS ASPECTOS DA ADOÇÃO NO ESTATUTO..............................................322.6.1 Adoção por casais divorciados ou separados judicialmente...........................322.6.2 Adoção Póstuma........................................ .......................................................... 322.7 COMPETÊNCIA PARA PROCESSAR E JULGAR....................................................33
3 ADOÇÃO INTERNACIONAL........................................................................... ........... 35
3.1 CONCEITO DE ADOÇÃO INTERNACIONAL............................................................353.2 A CONVENÇÃO DE HAIA...........................................................................................35
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3.3 O PAPEL DOS CEJAI’ S........................................................................................... 373.4 O PROCESSO DE ADOÇÃO INTERNACIONAL.......................................................393.5 OS EFEITOS DECORRENTES DA ADOÇÃO INTERNACIONAL...............................413.5.1 Efeitos relativos ao estado pessoal do adotado...................................................413.5.1.1 Nome............................................................................................................ ...... 413.5.1.2 Nacionalidade e Cidadania................................................................................. 423.6 A EXCEPECIONALIDADE DE COLOCAÇÃO EM FAMÍLIA ESTRANGEIRA..... .....433.7 CRIME DECORRENTE DA ADOÇÃO INTERNACIONAL..........................................443.7.1 Tráfico de Crianças.............................................................................................. 45CONSIDERAÇÕES FINAIS........... ...................................................................................46REFERÊNCIAS......... ........................................................................................................48
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INTRODUÇÃO
Discorrer sobre a questão da adoção, é uma tarefa árdua uma vez que se
sabe que tal procedimento, na grande maioria precede uma situação de abandono.
Sobretudo num país como o Brasil onde grande parte da sociedade pode ser
considerada abandonada, relegada à miséria devido a um modelo econômico
historicamente concentrador de rendas, injusto e desumano.
Durante muito tempo, a função social da adoção era dar filhos a quem a
natureza não dera. Com o advento do Estatuto da Criança e do Adolescente, em
1990, os menores abandonados brasileiros foram agraciados com um i nstituto que
trata a adoção de maneira generosa e protecionista, com isso à adoção deixou de
privilegiar o interesse dos pretendentes à adoção e sobrepôs ao melhor interesse da
criança e do adolescente a qualquer outro interesse. Logo, a função social do
instituto deixou de ser a de dar uma criança para uma família e passou a ser a de
dar uma família a uma criança.
Assim, o instituto da adoção é de grande relevância para o Direito de Família,
uma vez que, o instituto propicia uma possibilidade de vida em fa mília para as
crianças e adolescentes que se encontram sem lar, abandonadas tanto socialmente
como psicologicamente, isentas de políticas sociais capazes de estimular o seu
desenvolvimento psicofísico e de proporcionar uma melhor qualidade de vida para
os mesmos.
A adoção, neste contexto, torna -se uma questão prioritária assumindo um
caráter social. Afinal, é um dos instrumentos que mais têm condições de modificar a
condição de vida de uma criança, com isso impedindo que nossos menores, sejam
abandonados, esquecidos em instituições.
O que se almeja com este trabalho, é demonstrar a necessidade da Adoção
Internacional frente ao mundo globalizado em que vivemos, como uma forma eficaz
de minimizar o grande número de menores abandonados no Brasil, proporcionand o -
o uma melhor qualidade de vida em outro país.
O capítulo inicial aborda um breve estudo da evolução histórica do instituto da
adoção desde a idade média até as mudanças do mundo moderno, por conseguinte
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apresenta alguns conceitos sobre adoção, adotante e adotado, demonstrar – se - á
também sobre a natureza jurídica da adoção, e por fim uma abordagem sobre a
função social do instituto da adoção.
O segundo capítulo tratou da adoção na Constituição Federal do Brasil, no
Estatuto da criança e do Adolescente e, subsidiariamente no Código Civil Brasileiro,
enfatizando os dispositivos legais pertinentes ao tema, fazendo uma abordagem à
competência para processar e julgar a ação para que seja deferida a adoção de uma
criança.
No terceiro capítulo, discuti – se a questão da adoção internacional, indicando
seus aspectos gerais, tais como: a legislação pertinente (a convenção de Haia), o
papel da Comissão Estadual Judiciária da Adoção Internacional (CEJAI);
Excepecionalidade de colocação em família estrangeira, os e feitos decorrentes da
adoção internacional relativos ao estado pessoal do adotado e por fim, os crimes
decorrentes da adoção internacional, com ênfase ao tráfico de crianças.
Conclui-se o trabalho com algumas considerações pessoais acerca da
adoção, advertindo que a adoção apresenta -se somente como uma alternativa e não
como uma solução para a problemática social, assumindo um papel de extrema
relevância social, tornando-se inquestionável a sua importância, quer seja no âmbito
privado – quando viabiliza a satisfação da família adotiva –, quer seja no âmbito
público quando integra a criança ou o adolescente em uma família.
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1- ADOÇÃO
1.1- A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO INSTITUTO DA ADOÇÃO
O instituto da adoção tem suas raízes encontradas no Código de Hamurab i,
(artigos 185 a 193), e no Código de Manu que disponha que: “ Aquele a quem a
natureza não deu filhos, pode adotar um para que as cerimônias fúnebres não
cessem”.
De acordo com Passetti (2000, p. 21):
A origem da adoção deve ser buscada nas práticas relig iosas dos povosantigos sem lugar a dúvidas. Não obstante a origem da instituição de umponto de vista mais jurídico pode ser encontrado no Código do Hamurabi,este criado no século XX antes da era cristã e foi nos povos assírios ebabilônios onde primeiro surgiu. Posteriormente com o transcurso do tempo,dita prática se fez universal. Igualmente, outro setor da doutrina atribui suaorigem aos povos Judeus, argüindo o fato histórico da adoção feita por Joséna pessoa do Jesus.
Na antiguidade o instituto da adoção era utilizado como uma forma de
perpetuar o culto doméstico. Assim, a necessidade de perpetuar o culto doméstico
foi o principio do direito da adoção entre os antigos. Com isso a adoção servia como
forma de zelar pela conservação da família, pela c ontinuidade da religião doméstica,
pela não cessação das ofertas fúnebres, pelo repouso dos antepassados.(VENOSA,
2005).
Todavia, a doutrina brasileira, busca dados bíblicos ou até mesmo lendários,
como subsídio para indicar os primeiros casos de adoção. D entre eles, podemos
mencionar Putifar adotando José do Egito; a adoção de Teseu Hipólito, mencionada
por Sofocles em Fedra; Rômulo e Remo, que foram adotados por uma loba e depois
por Faustulo e Aca Laurentia. (FIGUEIRÊDO, 2006).
O Livro sagrado também faz referência à adoção, foi quando Jacó adotando
Efraim e Manassés, que eram filhos do seu filho José (Gênesis). Na bíblia podemos
encontrar também, o que seria para alguns, a primeira alusão documentada de uma
Adoção Internacional, no qual Termulos, filha d o faraó egípcio, adotando Moisés, a
quem havia encontrado às margens do rio Nilo.
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Na sociedade hebraica, existia uma espécie de adoção, esta denominada de
o Levirato, no qual tinha como fim perpetuar o nome do homem sob o suposto de
não ter deixado descendência, de maneira que tal pessoa conservava o direito a
progenitura e ao patrimônio.
Os egípcios consagraram dentro de suas práticas e usos a figura da adoção.
Nossa primeira fonte segue sendo a Bíblia para exemplificar, posto que no livro do
Êxodo no segundo capítulo, relata-se como Moisés depois de ter sido um menino
enjeitado foi adotado pela filha do Faraó, uma vez já crescido. Esta passagem
bíblica nos mostra os dois sentidos que tinha a instituição em estudo para os
egípcios; a qual primeiro era para suprir a carência de descendente principalmente
homem nos lares – haja vista que eram estes últimos os chamados a perpetuar o
nome de seus pais (adotivos) – e em segunda medida, mostra -nos como serve a
adoção como meio para ajudar a lhes garantir um ampar o aos necessitados e aos
menos favorecidos dentro da própria sociedade com todos os direitos e deveres de
qualquer filho legítimo.
Enquanto isso na Grécia, também existia o instituto da adoção, sobretudo
com o objetivo de coletar e render culto às almas do s mortos de maneira que se
perpetuasse o culto familiar. Nem todas, mas algumas das cidades estadas gregas
não conheceram a adoção como tal. No caso dos espartanos, estes não chegaram a
conhecer adoção como instituição de amparo aos necessitados porque em virtude
das leis do Licurgo, o Estado não servia ao indivíduo, mas o contrário.
Entretanto, em cidades estado como a célebre Atenas, a instituição gozou de
amparo jurídico e de grande importância e transcendência. Havia, ainda, um termo
específico (poitos) para denominar o filho adotivo e ao sucessor testamentário.
Foi em Roma onde se mais desenvolveu o instituto da adoção, com a
finalidade de proporcionar prole civil àqueles que não tinham filhos consangüíneos.
Mais tarde, com Justiniano, foi simplificada a adoção, o pai natural e o adotante
compareçam com o filho na presença do magistrado e expressavam a disposição de
o primeiro entregar o filho e o segundo de adotá -lo.
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No direito Romano, o instituto da adoção teve três formas, a saber, a adoptio
per testamentum, destinada à produção de efeitos post mortem do testador,
condicionada à confirmação da cúria, a adoptio ad rogatio , na qual o adotado
desligava-se de sua família de origem e tornava -se herdeiro do culto do adotante e,
por fim havia a datio in adoptionem, caracterizada pela entrega de um incapaz em
adoção, em virtude da qual o adotante o recebia in potestate, com a anuência de
seu representante, iniciando-o, desde logo, nos cultos aos deuses domésticos.
A adoção continuou sendo praticada durante a invasão dos bárbaros,
motivada pela vontade de perpetuar no adotado os feitos e bravura do adotante. No
direito germânico era utilizada como forma de suprir a ausência de testamento.
Durante a idade das trevas o instituto foi pouco disseminado, em virtude de
sua inadaptação aos costumes daquele tempo, uma vez que, ao contrário do que se
via em Roma, pela adoção não se transmitiam os títulos nobiliárquicos, cujo critério
era do jus sanguinis, salvo expresso consentimento Monárquico.
Ao longo dessa análise pela evolução histórica da adoção, percebemos que
desde os primórdios até os dias atuais o abandono de crianças é uma realidade que
ainda persistem até hoje.
1.2 - CONCEITO DE ADOÇÃO
Embora todas as alterações que o instituto da adoção vêm sofrendo ao lon go
da sua evolução histórica brasileira, o seu conceito jurídico não sofreu grandes
modificações, uma vez que é unânime na concepção dos doutrinadores: adotar é
uma modalidade artificial de filiação pela qual se aceita como filho, de forma
voluntária e legal, um estranho no seio familiar.
A palavra adoção possui o sentido etimológico de origem latina, adoptio, que
significa dar seu próprio nome a, pôr um nome em e, em linguagem mais corriqueira,
significa a acolhida de alguém. Em nossa compreensão é o ato j urídico que cria
entre o adotante e adotando uma relação de parentesco, gerando vínculo fictício de
paternidade e de filiação, trazendo para sua família uma pessoa que lhe é estranha
na condição de filho.
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Referindo – se ao instituto da adoção Diniz (2005, p. 484), diz que:
(...) a adoção vem a ser um ato jurídico e solene pelo qual, observados os
requisitos legais, alguém estabelece, independentemente de qualquer
relação de parentesco consangüíneo ou afim, um vínculo fictício de filiação,
trazendo para a sua família, na condição de filho, pessoa que geralmente
lhe é estranha.
A adoção visa ter como filho legítimo quem não o é por natureza. Não se
aceita que alguém seja adotado como natural. A adoção é, portanto, um vínculo de
parentesco civil, em linha re ta, estabelecendo, entre adotante e adotando uma
relação de paternidade e filiação civil, onde tal posição será definitiva e irrevogável,
para todos os efeitos legais. Sendo assim, o adotado desliga - se de qualquer
vinculo com os pais biológicos.
Neste sentido merece destaque o seguinte posicionamento acerca do aludido
assunto, que define adoção como: “a adoção é uma ficção jurídica que cria o
parentesco civil. É um ato jurídico bilateral que gera laços de paternidade e filiação
entre pessoas para as quais tal relação inexiste naturalmente”. (WALD apud
LIBERATI, 2003, p. 18).
Para Silva (apud GATELLI, 2003, p. 27):
(...) a adoção, seja nacional ou internacional será sempre conceituada comoo instituto jurídico por meio do qual alguém (adotante) estabelece comoutrem (adotado) laços recíprocos de parentesco em linha reta, por força deuma ficção jurídica advinda da lei.
Dessa maneira, a adoção é um meio de amparo para o menor que se
encontra abandonado, desprovido de um ambiente familiar, proporcionando - o ao
adotado um crescimento saudável, bem como a inclusão em uma nova família de
maneira definitiva e com todos os vínculos de filiação. Afinal, quando nos referimos
em adoção, falamos em vida, em crianças e adolescentes que têm pela frente um
destino bifurcado e que, por falta de opção, se enveredam pelos tortuosos caminhos
da miséria ou são agraciadas pela adoção, seja por um casal nacional ou
estrangeiro.
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Portanto, a adoção é vista como um importante mecanismo de ordem social,
uma vez que permite que pessoas venham a ter filhos, quando impossibilitadas por
meios naturais, com isso permitindo ao menor abandonado condições dignas de
vida, tendo em vista que a família natural e o Estado, estes constitucionalmente
incumbidos de garantir o respeito e a dig nidade da criança e adolescente, não o
fizeram.
O instituto da adoção tem como intuito primordial, conceber um lar a crianças
necessitadas e abandonadas em face de várias circunstâncias, como a orfandade, a
pobreza, o desinteresse dos pais biológicos e os desajustes sociais que
desencadeiam no mundo atual. A adoção objetiva proporcionar as crianças e
adolescentes desprovidos de família um ambiente de convivência mais humana,
onde outras pessoas irão satisfazer ou atender aos pedidos afetivos, materiais e
sociais que um ser humano necessita para se desenvolver dentro da normalidade
comum, sendo de grande interesse do Estado que se insira essa pessoa em estado
de abandono num ambiente familiar homogêneo e afetivo.
1.2.1 - O Adotante
É o agente que impulsiona o ato, ou seja, é aquele que através da
manifestação de sua vontade, dá inicio ao processo da adoção. Haja vista, que tal
manifestação de vontade, é de fundamental importância para o instituto da adoção,
pois só assim o instituto cumpre seu papel peran te a sociedade.
Vale ressaltar, que o Estado do adotando deveria dá ao adotante todo o
incentivo bem como informações e um tratamento mais digno àqueles que
demonstram interesse em adotar, já que o número de adotantes interessados na
adoção é imperceptível perante a quantidade de crianças abandonadas à espera de
um lar, e de uma família.
De acordo com Gatelli (2003, p. 28):
(...) os interessados, quando estrangeiros, ao contrário do adotando, sãoprovenientes de países ricos da Europa e América do Norte (F rança,Alemanha, Itália, Estados Unidos etc.), que buscam encontrar, além dasfronteiras de seu Estado, o que a natureza lhes negou.
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A adoção internacional é vista, como um comércio, pois existem pessoas os
chamados pseudo – adotante que tiram proveito, do instituto com a finalidade de
obter lucros, vantagens econômicas, dos adotantes. Com isso invertendo o papel da
adoção.
Nesse contexto afirma Gatelli (2003, p. 28):
(...) o pseudo – adotante vale- se do valor econômico de sua moeda e dacobiça dos agentes para obter lucros com o ato de adotar, desenvolvendo,paralelamente às adoções propriamente ditas e bem – intencionadas, umcenário negro e assustador da adoção intern acional.
Com isso, o adotante (nacional ou estrangeiro), precisa preencher diversas
condições a fim de ratificar sua aptidão para o ato, para só assim concretizar a
adoção. Sendo assim, é indispensável uma maior integração entre os países
envolvidos no processo de adoção internacional, desejando assim, identificar e
diferenciar o adotante dos pseudo - adotantes, estes devem ser punidos por denegrir
o instituto de grande relevância no direito de família.
1.2.2 - Adotado
Podemos conceituar o adotado como uma pessoa que em decorrência de
uma situação fática, encontra – se em condições de adotamento. (GATELLI, 2003).
Com isso o adotando deverá preencher critérios para obter os requisitos da
adoção, são eles concomitantemente; o critério da idade e o abandono. Conforme
preceitua o art. 40 do ECA, é considerado para a realização das adoções pl enas no
Brasil e na Argentina, a idade de 18 anos incompletos, sendo um fator
determinante. E o outro critério seria o abandono, tendo em vista que é complexa
sua comprovação devido à subjetividade. Vale lembrar que o onde existe uma
situação de abandono, surge à possibilidade de adoção.
Em vista disso, a criança bem como o adolescente à adoção, tem que na
condição de adotando, obter os requisitos acima supracitados (idade e o abandono),
para só então esperar uma família para serem adotados.
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1.3 - NATUREZA JURÍDICA
Durante muito tempo, a natureza jurídica do instituto da adoção e debatida no
meio jurídico, doutrinadores bem como juristas divergiam entre ser um contrato ou
um ato solene unilateral criado por lei de ordem pública.
Segundo Liberati (2003, p. 21- 22):
É grande o número de juristas que consideram a adoção como um negóciojurídico de natureza contratual. Entendem eles que o ato é bilateral tendo oseu termo no mútuo consenso das partes. Outros doutrinadores comoClóvis Bevilaqua e Pontes de Mi randa entendem que a adoção é um atosolene. Já Tito Fulgêncio prefere considerar o instituto como uma filiaçãolegítima criada por lei.
A respeito dos argumentos daqueles que defendem ostentar a adoção com
caráter contratual, parece-nos, diante da nova sistemática introduzida pelo Código
Civil de 2002, que é inequívoca a natureza institucional do ato, posto que
dependente, em quaisquer de suas formas, de expresso pronunciamento judicial,
que traz como grave conseqüência, dentre outros efeitos, o rompimen to das
relações parentais entre o adotando e sua família de origem.
Não obstante alguns reconheçam a existência de traços negociais na adoção,
o cunho contratual não é suficiente para a aclarar a natureza jurídica do instituto,
notadamente em razão da ausê ncia de plena capacidade ao menor para consentir
com o ato, não podendo o juiz, tutor ou mesmo curador designado, substituí -lo
nesse particular e para essa finalidade, diante a indisponibilidade do direito em
questão.
A par da eventual incapacidade do ado tado, a lei atual exige a efetiva
participação do poder público, através do Estado Juiz, para a concessão de toda e
qualquer adoção, seja entre adultos, ou mesmo quando o ato envolve criança ou
adolescente.
Segundo Albergaria, o conceito de instituição j urídica é mais condizente com
o estado democrático de direito (1995, p. 100):
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(...) no Estado Democrático de Direito, a adoção define -se como umainstituição jurídica de ordem pública com a intervenção do órgãojurisdicional, para criar entre duas pessoa s, ainda que estranhas entre elas,relações de paternidade e filiação semelhantes às que sucedem na filiaçãolegítima.
Nesse contexto, tem – se a natureza jurídica da adoção como um instituto de
ordem pública, em que a presença do Estado – Juiz é indispensável, não apenas
para homologar o acordado entre as partes, mas também atuando como poder de
Estado.
1.4 - A FUNÇÃO SOCIAL DA ADOÇÃO
Existe uma enorme divergência entre os doutrinadores, uma vez que a
maioria desses estudiosos defende o posicionamento de que o instituto da adoção é
uma prática assistencialista, ou seja, uma forma filantrópica baseada na
necessidade de satisfazer interesses de casais que não podem ter filhos, ou que
gostariam de adotar uma criança por gratidão ou piedade.
Para Liberati (2003, p. 24):
Quem pensa em adotar para fazer ato benemérito ou filantrópico, ou queprocura na adoção um meio de ‘ preencher o vazio e a solidão do casal’, ouporque um ou ambos os interessados são ‘ estéreis’, ou ‘ para fazercompanhia a outro filho’, ou porque ‘ ficou com pena ou compaixão dacriança abandonada’, ou para dar ‘ continuidade à descendência ou aosnegócios da família ‘, ou por outros motivos desse naipe, estácompletamente alienado e alijado do verdadeiro sentido da adoção.
A nobre jurista Diniz elucida (2005, p. 346):
A adoção é uma instituição de caráter humanitário, que tem por um lado,por escopo dar filhos àqueles a quem a natureza negou e por outro ladouma finalidade assistencial, constituindo um meio de melhorar a condiçãomoral e material do adotado.
Vale ressaltar que Wilson Donizeti Liberati defende um posicionamento
controvertido em relação às idéias de Maria Helena Diniz, haja vista que
concordamos com o pensamento daquele, uma vez que, o instituto da adoção não
deve ser praticado por caridade, compaixão, e nem mesmo como uma “válvula de
escape” para manter um casamento, ou para fazer companhia ao filho único. Tendo
em vista, que a criança a espera de uma família para ser adotada não quer receber
compaixão, pois isso ela já t eve demais na instituição onde permaneceu.
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A criança ou adolescente adotado, não pode e nem deve se sentir no
ambiente familiar “ajudada”, ou ainda como se ali estivesse “de favor”. Deve sim,
crescer rodeada de amor, proteção, sem preconceito.Os pais adot ivos não devem
oferecer apenas casa, comida, saúde, escola, pois assim o adotante estaria fazendo
um ato humanitário.
Contudo, a adoção tem como primordial objetivo atender as necessidades de
uma criança em estado de abandono, proporcionado – a uma família, bem como
uma vida digna em um novo lar, onde ela se sinta acolhida, protegida, segura e
amada.
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2 - ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
2.1 - ADOÇÃO NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988
Com o advento da Constituição Federal de 1988, ocorreu um grande marco
de conquistas para o instituto da adoção na sociedade brasileira. O Constituinte
brasileiro, observando a relevância da proteção à criança, tratou da adoção na
constituição, desta forma abrindo o caminho para o nascimento de leis que
regulassem posteriormente o instituto da adoção de maneira especifica.
A CF, diante disso, tem um importante papel uma vez que foi a partir daí que
os princípios da dignidade da pessoa humana, da igualdade, da liberdade entre os
sujeitos, dentre outros princípios, consagraram -se na sociedade brasileira.
Contudo, a carta magna de 88, proporcionou importantes avanços para tal
instituto, tais como: a previsão constitucional da adoção; a obrigatoriedade da
intervenção do Poder Público; previsão de r egras diferenciadas para a adoção
internacional; a igualdade absoluta entre filhos adotivos e biológicos; e a proibição
de qualquer designação discriminatória relativa à filiação, passando todos os filhos a
gozarem dos mesmos direitos, inclusive os sucessó rios.
No que tange, tais avanços, podemos notar que, o instituto da adoção foi
mencionado pelo legislador constituinte brasileiro em diferentes passagens do texto
constitucional.
Vejamos o que diz o art. 227, § § 5º e 6º:
§ 5º. A adoção será assistida pe lo Poder Público, na forma da lei, queestabelecerá casos e condições de sua efetivação por parte deestrangeiros. (grifo nosso).
§ 6º. Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção,terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas q uaisquer designaçõesdiscriminatórias relativas à filiação.
Após o entendimento do art 227 § 5º, percebe – se que no Brasil, a adoção de
crianças e adolescentes, é vista como uma modalidade da colocação em família
substituta, no qual poderá ser concedida a nacionais e a estrangeiros, sejam estes
últimos residentes ou não. Todavia, é dever do Estado dar prioridade à manutenção
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dos laços familiares da criança, colocando – se a adoção como medida excepcional.
(art. 101 da Lei 8.069/90).
Percebe – se, no artigo 227 § 6º, que a constituição surgiu para igualar os
filhos adotivos aos de sangue, havidos ou não da relação do casamento. É filho
aquele que, na sucessão hereditária, esta em igualdade de direitos perante os filhos
legítimos, não importando se o adotado é menor ou maior de idade. Com isso
podemos dizer que a terminologia “filho adotado” continua sendo utilizada para fins
de estudos e entendimento, sendo proibidos quaisquer referências ou observações
sobre a origem do ato nas certidões de registros, refer entes à filiação.
A constituição no caput do artigo 227 aborda os direitos inerentes à criança e
o adolescente, deixando claro que passa a ser dever da família, da sociedade e do
Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direi to à
vida, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, colocando -
os a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência,
crueldade e opressão. Deixando claro que tais direitos e necessidades são
prioritários, uma vez que a criança e o adolescente são seres vulneráveis e
portadores de necessidades especiais, em virtude da condição em que se
encontram, de pessoas ainda em processo de desenvolvimento de suas
potencialidades físicas e emocionais.
De acordo com Gatelli (2003. p, 71):
A adoção por estrangeiros, antes da Constituição Federal de 1988, queprevê a possibilidade dessa adoção em seu art. 227, § 5º, era usualmentepraticada no Brasil através de duas formas: a) a primeira, por escriturapública sem qualquer intervenção da autoridade judiciária, quando setratava de adotando que estivesse sob o pátrio poder; b) a segunda, demenor em situação irregular, sob a intervenção e depende ndo dobeneplácito judiciário, uma vez que se realizava de acordo com o járevogado Código de Menores da época, o qual permitia, em seu art. 20, aadoção de menores, em situação irregular, por estrangeiros.
Todavia, a adoção por escritura pública foi abol ida do nosso ordenamento
jurídico, pois o instituto da adoção não permite, atualmente a utilização de escritura
pública no processo de adoção, uma vez que, os adotantes se faziam representar
por procuradores com poderes especiais para o ato. A expressa ved ação tem por
22
fundamento a exigência de no mínimo um contato entre os pais adotivos e o menor
que se pretende inserir na família substituta, a fim de se aferir à adaptabilidade das
partes envolvidas.
Com o fim de viabilizar o disposto na Constituição, impe dindo que o texto
constitucional se constituísse em letra morta, em 1990 entrou em vigor a lei 8.069
dispondo sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente, que passou a disciplinar a
adoção de crianças e adolescentes, enquanto o Código Civil de 1916 passav a a
reger a adoção de maiores de dezoito anos. Situação que persistiu até em meados
de 2002, quando entrou em vigor o novo Código Civil, que também legislou sobre a
adoção, permanecendo a dualidade de regimes.
2.2 - A ADOÇÃO NO CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO
O presente Código Civil disciplinou sobre o instituto da adoção nos artigos
1.618 a 1.629, trazendo algumas alterações a respeito da adoção de crianças e
adolescentes. No entanto, se comparado às disposições do Estatuto, o Código Civil
de 2002 não traz relevantes modificações ao instituto, transcrevendo apenas alguns
de seus dispositivos, sem, contudo, abrangê -lo na sua totalidade, permanecendo o
Estatuto, por sua especialidade e completude, a regulamentar o instituto.
Dentre as alterações, que a nova lei do Código civil trouxe podemos destacar:
a) a alteração da idade mínima para adotar, que passou de 21 anos (ECA, art. 42)
para 18 anos (CC, art.1.618); b) a revogabilidade do consentimento dos pais ou
representante legal até a publicação da sentença constitut iva de adoção (CC,
art.1.61, § 2º; c) o ressurgimento da famigerada condição de infante exposto,
situação jurídica inexplicada pelo novo código (CC, art.1.624); d) a obrigatoriedade
de processo judicial para a adoção de maiores de 18 anos (CC, art.1.623, p arágrafo
único).
Segundo Liberati (2003, p. 33):
(...) não se pode dizer que o novo Código Civil disciplinou totalmente oinstituto da adoção, operando – se a revogação de todo o capítulo sobre aadoção, disposto no Estatuto. Na verdade, o novo Código rep risou váriosartigos do Estatuto, provando que a lei estatutária já estava adequada aoscomandos internacionais sobre a adoção e que o Código Civil já nasceráabsoleto. O legislador faria melhor se deixasse à adoção de crianças eadolescentes ser regida somente pelo Estatuto.
23
Na verdade, com a promulgação do novo código civil de 2002, esperava – se
que o mesmo iria trazer profundas mudanças no tocante ao instituto da adoção,
porém as expectativas geradas foram frustradas, uma vez que, o CC apenas veio
disciplinar o que já preceituava o ECA. Com isso o estatuto, é aplicado de forma
subsidiária ao código civil por ser uma lei especial.
Em 2002 foi elaborado o Projeto de lei n. 6.960 propondo a alteração de
alguns artigos do Código Civil. Uma das finalidades do referido projeto era incorporar
ao novo Código Civil os dispositivos do Estatuto que versam sobre a adoção, para
assim, existir apenas um diploma legal regulando a adoção que versaria sobre a
adoção de criança e adolescente e também de maiores. Porém, tal projeto não
obteve êxito e acabou sendo arquivado. Entretanto, parece mais coerente que o
instituto da adoção permaneça disciplinado no Estatuto que tem como finalidade
fundamental o princípio do melhor interesse da criança e do adolescente, sendo,
portanto, superior ao Código Civil que trata do instituto de forma genérica.
2.3 - ADOÇÃO À BRASILEIRA
A adoção à brasileira conhecida também como adoção irregular ou simulada,
é um ato ilegal que consiste em registrar uma criança em nome de outrem, como s e
ela fosse filho natural.
Muita das vezes, o registro de nascimento é feito com o consentimento da
mãe que “doa” o filho aos novos pais.
A idéia de se promover uma adoção ilegal, está diretamente ligada à
insegurança do adotante, ou até mesmo a esquiva a um processo judicial de
adoção, que na maioria das vezes é demorado e dispendioso. Ou até mesmo com o
intuito de se ocultar à criança a sua verdadeira origem.
Vejamos o que nos mostra Lamenza (2008, p. 05):
Havendo a caracterização da “adoção à brasile ira”, na totalidade dos casossuspeitos os “pais” confessam a autoria do ilícito nas entrevistas feitas pelosSetores Técnicos da Vara da Infância e Juventude – não raro vêmacompanhados de advogados para evitar a busca e apreensão das crianças“adotadas” e / ou pleitear a regularização do caso.
24
No entanto, essa pratica de adoção à brasileira, advém de um ilícito penal,
tipificado no art. 242 do Código Penal Brasileiro, ”dar parto alheio como próprio;
registrar como seu o filho de outrem; ocultar recém – nascido ou substituí – lo,
suprimindo ou alterando direito inerente ao estado civil”.
É, na realidade, uma fraude do registro dessa criança. Até a lei nº 6.898 de
30/03/1981, este ato constituía crime de falsidade ideológica em assentamento de
registro civil, tipificado no artigo 299, parágrafo único do Código Penal Brasileiro.
A doutrina e a jurisprudência costumavam entender, na antiga tipificação, que
não havia o crime quando o falso registro era realizado por motivo nobre, isto é,
quando, com esse registro, se visava o bem da criança. Não era tipificado como
crime por faltar elemento subjetivo do tipo do art. 299, pois não havia o dolo
específico de prejudicar o interesse do menor, e sim beneficia – lo.
Ainda que a intenção dos declarantes seja a melhor possível, e apesar do
perdão judicial, esse ato continua sendo considerado crime e, portanto, não deve ser
estimulado. É mais seguro procurar um advogado para a devida orientação sobre o
processo judicial de adoção, ao invés de correr o risco de responder a um processo
criminal no futuro.
A adoção à brasileira é muito praticada por estrangeiros, pois muita das
vezes, estes têm “pressa” para voltar ao seu país de origem, uma vez que o trâmite
processual do processo de adoção e demorado, com isso preferindo a concretizar
este ato nobre que é a adoção de maneira ilegal.
Com o surgimento das Comissões Estaduais Judiciárias de Adoção
Internacional (CEJAI’S), a adoção á brasileira, não tem sido muito aplicada
atualmente, uma vez que as comissões bem como os Juiz ados têm proporcionado
um processo idôneo, com garantias de que, quando o adotante estrangeiro retornar
ao seu país de origem, possa com segurança e tranqüilidade, iniciar o processo de
validação da sentença brasileira.
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2.4 - A ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIAN ÇA E DO ADOLESCENTE LEI Nº
8.069/90
O Estatuto da criança e do adolescente lei nº 8.069/90 surgiu como uma
forma de regulamentar os direitos infanto – juvenis, que a constituição trouxe,
reunindo um conjunto de normas com a finalidade primordial de proteg er crianças e
adolescentes de toda e qualquer forma de discriminação, violência, negligencia,
crueldade, exploração e opressão (CF, art. 227).
O ECA pode ser considerado como o segundo grande marco de conquistas
importantes no âmbito da infância e da juve ntude no Brasil, uma vez que, a
constituição foi o primeiro, sendo também responsável pela instauração de um novo
paradigma no que diz respeito à adoção. Ao corrigir falhas dos sistemas anteriores e
avançar em alguns aspectos, o Estatuto passou a represent ar um passo importante
para o que é considerado o maior desafio brasileiro: as crianças carentes,
desassistidas e abandonadas do país.
A adoção na tentativa de imitar a natureza e tendo em conta as sérias
conseqüências do ato de adotar, sobretudo em razão da irrevogabilidade do
instituto, o legislador do Estatuto da Criança e do Adolescente estabeleceu uma
série de normas rígidas a serem observadas para o deferimento da adoção,
excepcionando, inclusive, a adoção por estrangeiro, como medida excepcional a fi m
de garantir, tanto quanto possível, à criança e ao adolescente a manutenção de seus
vínculos com a pátria mãe.
A adoção é tratada pelo estatuto da Criança e do Adolescente nos artigos 39
a 52, estabelecem as normas destinadas a regulamentar às relações jurídicas nas
quais os adotandos sejam crianças (até 12 anos de idade) ou adolescentes (entre 12
e 18 anos de idade). Haja vista que, quando se tratar de adoção de maiores de 18
anos ou nascituro, a análise deverá ser remetida aos arts. 1.618 e seguintes d a Lei
nº 10.406/2002 (novo Código Civil Brasileiro), utilizando – se subsidiariamente a Lei
8.069/90 que ditará os requisitos e procedimentos que envolvem o processo de
adoção inclusive, internacional.
26
O estatuto, de forma inovadora, garantiu às crianças e aos adolescentes
tornarem-se sujeitos de direitos, titulares de direitos próprios, dotados de
individualidade e autonomia, além detentores de todos os direitos fundamentais
próprios da pessoa humana. Dentre esses direitos próprios da criança do menor
pode-se mencionar o direito de serem criados e educados em família, seja ela,
natural ou substituta.
Com isso, torna-se evidente a importância do novo perfil que o Estatuto trouxe
para a vida das crianças e dos adolescentes, abandonando o caráter assistenc ial da
legislação menorista e transformando – se em um instrumento eficaz de proteção
integral à infância e juventude.
Diante do exposto passaremos a analisar, os requisitos que são impostos ao
adotante e ao adotado no estatuto da criança e do adolescente .
2.4.1 - Requisitos relativos ao adotamento
2.4.1.1 - Requisitos Relativos ao Adotando
2.4.1.2 – Idade do adotando
Conforme estabelece o artigo 40 do Estatuto da criança e do adolescente, ao
requerer a adoção, o adotando deve estar com no máximo dezoito anos de idade.
Todavia, caso o pedido de adoção seja feito no dia imediato após o adotando
completar dezoito anos, deverá ser obedecida às regras do Código Civil Brasileiro e
não as do estatuto, já que com o advento do novo Código Civil a maioridade passou
para 18 anos conforme preceitua o art. 5º do referido código, derrogando o artigo
mencionado acima do ECA. Vale lembrar que o adotando maior de dezoito anos
poderá ser adotado, desde que esteja sob a guarda ou tutela dos adotantes.
Contudo, é importante salientar que o limite de idade para o pedido de
adoção, uma vez já estando o adotado sob a guarda ou a tutela do adotante, é
imprescindível que esse pedido seja feito antes do adotando completar vinte e um
anos de idade, haja vista que após essa idade nin guém, poder está sob a guarda ou
tutela de outrem.
27
2.4.1.3 - Consentimento dos pais ou do Representante Legal
Em virtude da adoção extingui quaisquer laços do adotando com a família
consangüínea, salvo os impedimentos matrimoniais, os pais ou representante legal
da criança ou do adolescente, necessita manifestar seu consentimento para que
ocorra a adoção, e o que dispõe o artigo 45 do ECA.
Entretanto, conforme preceitua o § 1º do artigo 45 do estatuto bem como o
artigo 1.621, § 1º do Código Civil, o consen timento poderá ser dispensado, desde
que, os pais do adotando sejam desconhecidos no foro da adoção ou que tenham
sido destituídos do poder familiar. No que condiz ao consentimento, este e
fundamental uma vez que, trata – se da renúncia voluntária do poder familiar.
Se houver comprovação que se trata de infante exposto que se encontra em
situação de risco, por não ter meios para sobreviver, ou em ambiente hostil,
sofrendo maus - tratos, ou de menor abandonado cujos pais sejam desconhecidos,
estejam desaparecidos, ou tenham perdido o poder familiar, sem nomeação de tutor,
será dispensado o consentimento tanto do menor quanto do representante legal.
Com isso o Estado assistirá ou representará, devendo o juiz nomear um curador ad
hoc.
Não havendo consentimento dos pais ou do representante legal, o juiz
decidirá, com base no interesse do que seja melhor para o adotando menor. Em se
tratando de adotando maior, o julgador se baseará nas melhores relações pessoais.
2.4.1.4 - Consentimento do adotando
Para que a adoção se concretize, de acordo com o art. 28 § 1º, bem como o
art. 45§ 2º do Estatuto se faz necessário o consentimento do adotando, caso ele
seja maior de doze anos de idade, se o adotando for absolutamente incapaz caberá
ao pai, tutor ou curador o conse ntimento. Sendo assim, essa anuência um pré –
requisito, uma vez tornando – se passíveis de nulidade os processos que correrem
com a ausência dessa formalidade.
28
No entanto, torna – se imprescindível o consentimento do adotando maior de
doze anos, pois nesta idade o adolescente já tem algumas concepções formadas,
com isso sendo importante sua aceitação para integrá – lo em uma nova família.
Portanto, e de grande importância que o Estado – Juiz ouça o adotando. Já
que este é o maior interessado na adoção, f azendo do se necessário, portanto, que
lhe favoreça melhores condições em uma família estruturada.
2.4.2 - Requisitos Relativos ao Adotante
2.4.2.1 - Idade do adotante e a diferença de idade entre adotante e adotando
De acordo com o art.42, caput, do ECA : “ Podem adotar os maiores de vinte
e um anos, independentemente do estado civil ”. Entretanto, com a vigência do novo
Código Civil que estabeleceu a maioridade aos dezoito anos, tal artigo foi derrogado,
podendo interpreta – lo da seguinte maneira: “Podem adotar os maiores de dezoito
anos, independentemente do estado civil ”.
Tanto o atual Código Civil quanto o Estatuto da Criança e do Adolescente
impõem que a diferença de idade entre adotando e adotante seja de 16 anos (CC.
Art.1.619; ECA, art. 42, § 2ª); O Fundamento dessa determinação imposta pelo
Estatuto, no que se refere à diferença mínima de idade entre os protagonistas da
adoção, condiz a um propósito de tornar o instituto da adoção semelhante à
paternidade natural de uma família, ficando restrito a possibilidade da lei conceder
um filho de idade igual ou superior a do pai, ou da mãe, pó ser imprescindível que o
seja mais velho para que possa desempenhar cabalmente o exercício superior do
poder familiar.
Com o passar dos tempos, o processo de adoção s ofreu grandes
transformações, uma delas, foi no que diz respeito a tal diferença de idade, pois a
legislação brasileira em tempos atrás estabelecia a idade mínima para se adotar,
que era de cinqüenta anos, e ainda por pessoas sem filhos.
Quando a lei impõe essa diferença de idade entre adotante e adotado, o
objetivo maior é instituir um ambiente de respeito e austeridade, resultando como
29
uma ascendência natural de pessoa mais idosa sobre outra mais jovem, como
acontece na família natural, entre pais e filho s. (MONTEIRO, 2002).
Granato (2006, p. 80) complementa:
(...) nossa lei não estabelece idade máxima para o adotante e nemdiferença máxima de idade entre adotante e adotado, o que é censecrado:lamenta – se apenas que o legislador não tenha estabelecido, em contra –partida, limite máximo de idade entre adotante e adotado. Em outros paísesa adoção somente poderá se concretizar se não houver diferença muitogrande de idade entre adotante e adotado. No Brasil infelizmente, isso nãoocorre, o que implica dizer que, em tese um casal octogenário pode adotaruma criança recém – nascida sem que haja restrições legal. Ora, se adoçãotem em mira imitar a natureza como repetidas vezes dissemos nesteestudo, causa estranheza o fato de a lei não obstá – la, antes permitindo – apessoas que, em razão da idade, mais estariam para avós do quepropriamente para pais dos adotados.
Por conseguinte, não há na legislação um limite Maximo de idade do
adotante, todavia a lei apenas exigirá que a diferença entre adotante e adota do seja
de, no mínimo 16 anos de idade.
Importante lembrar que, o julgador poderá deferir o pedido de adoção, mesmo
que não exista tal diferença de idade, tendo em vista, que a adoção apresenta
benefícios para o menor, proporcionando a este uma melhor qual idade de vida, uma
vez que o objetivo primordial do instituto é o bem – estar do adotando.
O interesse da criança ou do adolescente deve ser sobrepor a todo e
qualquer interesse diverso que possa estar presente na efetivação de uma adoção,
visto que o objetivo desse instituto é o de proporcionar ao menor uma vida familiar e
um futuro melhor.
2.5 - ESTÁGIO DE CONVIVÊNCIA E DO RELATÓRIO SOCIAL
O Estágio de convivência é um período experimental em que o adotado
convive com os adotantes, com intuito de avaliar a adaptação daquele à família
substituta, afastando assim, adoções precipitadas que geram situações irreversíveis
bem como sofrimento para todos os envolvidos na relação. Convém salientar que, o
estágio e de suma importância para que seja deferido o pedid o de adoção por
estrangeiro, uma vez que o instituto da adoção tem caráter irrevogável.
30
Segundo o entendimento de Tavares (2002, p. 57):
(...) o estágio de convivência propícia condições de conhecimento mútuoentre que aqueles que se preparam para a séria e grave vinculação familiar,completa e definitiva. Destina – se ao deferimento dos atributos possíveis,compatibilidades. O período dessa observação deve durar enquantoconveniente à sua finalidade, questão de fato a ser decidida pelo Juiz emcada caso concreto.
O Estatuto determina em seu artigo 46 e seus parágrafos a realização do
estágio de convivência (adotante e dotado), deixando a critério do Poder Judiciário a
fixação do prazo que deve durar, tendo em vista que, ninguém melhor do que o Juiz
da causa, para saber sobre a realidade dos fatos que gravitam em torno do processo
de adoção.
A necessidade da prática do estágio recebe no § 1º, duas exceções,
destinadas aos adotantes nacionais: se a criança não tiver mais de um ano de idade;
e se a criança já estiver na companhia do adotante por tempo suficiente que possa
avaliar o liame afetivo constituído pela convivência.
De acordo com Fiqueirêdo (2006, p. 96):
(...) o estágio de convivência, é algo indispensável, pois a criança menor deum ano facilmente se apegará a quem lhe der carinho e alimento, todaviahá de voltar à atenção para os adotantes, acreditando que é preciso ver odesempenho, na prática, do exercício da partenagem / maternagem.
Preceitua o § 1º do artigo 46 do ECA:
(...) o estágio de convivência poderá ser dispensado se o adotando não tiver,mas de um ano de idade ou se, qualquer que seja a sua díade, já estiver nacompanhia do adotante durante tempo suficiente para se poder avaliar àconveniência da constituição do vinculo .
Nota – se que, o legislador dispensou o estágio de convivência, quando o
adotando já se encontrar sob a guarda do pretenso adotante, sendo irrelevante a
idade, procurou estender assim, a todos dos adotados, desde que nacional.
Já o parágrafo 2º do artigo supracitado, pre vê o estágio de convivência da
adoção por estrangeiros, devendo este em caso de adoção internacional ter
cumprimento no território nacional, sendo de no mínimo quinze dias para crianças de
até dois anos de idade, e de no mínimo trinta dias quando se tratar de adotando
31
acima de dois anos de idade. Todavia, a principal distinção entre o estágio realizado
na adoção por nacionais e na por estrangeiros, se dá pela impossibilidade do
estrangeiro realizar o estágio na sua residência, ou seja, no seu pais de origem ,
dando oportunidade ao adotando de se adaptar ao clima, língua, costumes,
ambiente familiar, cultura etc.
Como se vê, o legislador conferiu aos estrangeiros, condições diferenciadas
das dos nacionais quando o assunto é adoção. Com isso, a lei nesse determ inado
instituto tratou desigualmente pessoas com as mesmas intenções, ou seja,
considerou as adotantes nacionais pessoas mais confiáveis, uma vez que dispensou
o estágio de convivência a adotantes brasileiros. É exigindo ao adotante estrangeiro
o tal estágio, como maneira de impedimento ao deferimento do pedido de adoção.
Podemos afirmar que, o estágio de convivência e de grande importância, quer
para o interessado nacional ou estrangeiro. Haja vista que o direito a adoção na
legislação brasileira, é igual para todos, não importando a nacionalidade dos
interessados.
Conforme preceitua o artigo 167 do Estatuto, o magistrado a requerimento
das partes ou do ministério público, determinará a realização de uma inspeção Com
o estágio de convivência, é elaborado um relatório social pela equipe
interprofissional de técnicos e auxiliares do juiz, bem como psicólogos, psiquiátricas,
assistentes sociais, estes no estágio desempenham a função de acompanhamento,
para no término do estágio elaborar uma avaliação da convivê ncia observada, com
isso tendo o julgador elementos consistentes que auxiliaram na decisão do processo
de adoção.
De acordo com o artigo 151 do ECA, a equipe interprofissional, tem como
atribuições, fornecer subsídios por escrito, mediante laudos, ou verb almente, na
audiência, e bem assim desenvolver trabalhos de aconselhamento, orientação,
encaminhamento e outros, tudo sob a imediata subordinação à autoridade judiciária
competente.
Embora ser de grande importância, o laudo social, este não é documento
obrigatório que deve ser juntado no processo de adoção, visto que, na falta deste
32
não ensejará nulidade do processo. Uma vez que o relatório social pode ser
verbalmente apresentado em audiência.
2.6 - OUTROS ASPECTOS DA ADOÇÃO NO ESTATUTO
2.6.1- Adoção por casais divorciados ou separados judicialmente
Podem adotar conjuntamente os judicialmente separados e os divorciados,
desde que provem que o estágio de convivência com o adotando iniciou antes da
separação da sociedade conjugal, e estipulem desde logo o pedi do sobre a guarda e
o direito de visitas (art. 42 § 4º do ECA e o artigo 1.626 parágrafo único do CC).
Vale ressaltar que, o legislador brasileiro apenas contemplou a adoção por
casais divorciados nacionais, se omitindo quando a adoção se tratar de adotant es
estrangeiros.
Percebe – se que o legislador ao conceder a adoção para os casais
divorciados ou separados judicialmente agiu corretamente, uma vez que, o instituto
da adoção visa proporcionar uma família para a criança que não tem. Com isso,
sendo deferindo o pedido de adoção para os casais separados judicialmente, o
instituto irá cumprir sua finalidade.
2.6.2 - Adoção Póstuma
Conforme estabelece os artigos 42, § 5º do ECA e o artigo 1.628 do novo
Código Civil, em verbis “ a adoção poderá se deferida ao adotante que, após
inequívoca manifestação e vontade, vier a falecer no curso do procedimento, antes
de prolatada a sentença”. “os efeitos da adoção começam a partir do trânsito em
julgado da sentença, exceto se o adotante vier a falecer no curso do proc edimento,
caso em que terá força retroativa à data do óbito”.
Cumpre – nos salientar, que o legislador, em uma clara manifestação de
amparo aos iminentes direitos do adotado, disciplinou a hipótese do evento morte
durante o processo de adoção. Assim, criou -se a chamada “adoção póstuma” ou
post mortem‚ prevista nos artigos mencionados acima. Pelo primeiro dispositivo,
caso o adotante venha a falecer no curso do processo, a adoção ainda assim poderá
33
ser deferida, desde que seja à vontade do adotante antes de sua morte. Já pelo
segundo dispositivo, entende – se que o adotante ao falecer antes do trânsito em
julgado da sentença, os efeitos da adoção retroagirá à data do óbito, começando
deste ponto, e não mais do trânsito em julgado da sentença.
Nesse sentido Liberati esclarece (2003, p.113):
(...) uma pessoa decidiu adotar uma criança, preparou – se psicológica eemocionalmente para recebe –lá e construiu sonhos de paternidade. Viajoupara outro país, apenas com a esperança e a fotografia da criança que aaguardava para integrar uma nova família. Tantos desencontros, tantademora; enfim, o encontro. O amor foi à primeira vista. Inicia – se oprocesso e o estágio de convivência. Por um capricho da natureza, vêdestruída aquela oportunidade, interrompida bruscamen te pela morte.
A adoção póstuma permitiu que se completasse, após a morte do adotante,
ocorrida no curso do processo de adoção, o respectivo processo, uma vez que já
havia o desejo do adotante falecido em receber uma criança. Tal previsão legal
oferece reais vantagens ao adotando, tanto morais como econômicas, posto que se
garantam os direitos sucessórios, conforme disposto no § 6º, do art. 47 do ECA.
Contudo, o legislador agiu brilhantemente, quando conferiu o direito de adotar
àquela pessoa que faleceu após ter praticado os atos processuais necessários para
a realização do ato jurídico no processo de adoção, com isso não restando
alternativa para o juiz, senão julgar procedente o pedido.
2.7 - COMPETÊNCIA PARA PROCESSAR E JULGAR
O primeiro passo, antes de iniciar o processo de adoção, é conhecer qual
será o juízo competente para julgar e processar a ação de adoção.
Para Figueirêdo a competência internacional e definida como (2006, p. 80):
(...) se trata de delimitação da jurisdição em relação ao espaço físi co, com adefinição do limite espacial da jurisdição em face da soberania do Estado,em razão da impossibilidade de tornar efetivos os julgados em outros paísese do risco de conflitos internacionais. Disso decorre a aplicação de regras,seja de competência concorrente/cumulativa, seja de competência exclusiva/ privativa.
No que diz respeito à competência para processar e julgar o pedido de
adoção internacional, o ECA em seu artigo 147, prescreve que “a competência será
34
determinada pelo domicílio dos pais ou responsável, o lugar onde se encontrar a
criança ou adolescente, à falta dos pais ou responsável” . Todavia esse dispositivo,
não se limita apenas á adoção internacional, sendo aplicado a todo tipo de
procedimento oriundo do estatuto.
Vale lembrar que, havendo mudança do domicílio dos adotandos depois de
iniciado o processo de adoção, a competência não se desloca para o juízo da nova
residência dos adotandos, devido ao principio da perpetuação da jurisdição. Sendo
assim, o processo deve ter desfecho no próprio juízo em que foi iniciado.
O artigo 148, inciso III do ECA, preceitua que o Juiz competente para julgar as
ações de adoção bem como os pedidos de destituição do pátrio poder se caso a
criança ou adolescente estiver sob situação de risco, é competê ncia do Juízo da
Infância e da Juventude.
Agora adentrando na instância processual da Adoção, seja ela, nacional ou
internacional, verifica – se que o Juiz competente para análise do processo de
adoção com base no Estatuto da Criança e do Adolescente é o da Infância e
Juventude ou aquela a quem esta atribuição é dada. Nada é esclarecido quanto ao
Juízo competente acerca de adoção dos maiores de 18 anos. Entretanto, nestes
casos, seria de se concordar que qualquer juiz de competência cível teria poderes
para julgar tal processo.
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3 - ADOÇÃO INTERNACIONAL
3.1 - CONCEITO DE ADOÇÃO INTERNACIONAL
A adoção por estrangeiro, disseminada como adoção internacional ou
transnacional é um instituto jurídico de ordem pública que tem por finalidade
conceder a uma criança ou adolescente em estado de abandono a possibilidade de
se ver como membro de uma família (substituta), no qual o domicilio se dá em outro
país, restando – lhe assegurados o bem – estar e a educação, desde que
obedecidos às normas do país do adota ndo e do adotante.
Para Sznick, (1993, p. 443 - 444) a adoção internacional é definida como:
A adoção internacional, ou seja, à procura de crianças brasileiras porestrangeiros vem crescendo muito nos últimos anos. Daí surgirem. Ao ladodos interessados diretos, várias intermediações, quer individuais quer até depessoas jurídicas, através de agências de intermediação; como,especialmente por parte dos adotantes, há os bens intencionados nos quefazem a intermediação. Em regra, muitos não só são mal intencionados(visando lucro e vantagens pessoais com a adoção), mas até formandoverdadeiras quadrilhas para o cometimento de crimes – já que os lucros sãograndes e em moeda estrangeira – como seqüestro de recém-nascidos namaioria das vezes, nas próprias maternidades, ou, então, em locaispúblicos; outros crimes ainda não são praticados como estelionatosenganando as mães com possíveis internações ou, ainda, quando adoçõesescondendo que as crianças são destinadas ao exterior; falsificação dedocumentos, especialmente do menor.
O instituto da adoção internacional tem caráter eminentemente humanitário,
uma vez que torna possível a um criança ou adolescente desamparado ter um lar
saudável e uma família. A excepcionalidade assinalada pela lei não deve servir de
entrave para sua concretização. O escopo do legislador, ao criar inúmeros requisitos
e declará-la exceção, foi buscar coibir práticas ilícitas e fraudulentas tão comuns no
passado e que persiste até os dias atuais, tais quais o tráfico de menores.
3.2 - A CONVENÇÃO DE HAIA
Em 29 de maio de 1993, na Cidade de Haia, foi concluída, a Convenção
sobre Cooperação Internacional e Proteção de Crianças e Adolescentes em Matéria
de Adoção Internacional. Inspirada na Convenção das Nações Unidas sobre os
direitos das crianças de 20/11/89.
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Para Costa (apud FIQUEIRÊDO, 2006, p. 50):
A Convenção de Haia de Direito Internacional Privado Relativa à Proteçãode Crianças e à Colaboração em Matéria de Adoção Inte rnacional, de 29 demaio de 1993, pode ser considerada a primeira Convençãoverdadeiramente internacional a regular a adoção, instituto que de há muitoultrapassou as fronteiras regionais, para torna – se um fenômeno de efetivointeresse mundial.
Tal convenção é de grande importância para o ordenamento jurídico, uma vez
que prever uma cooperação mútua entre o país em que se realiza o processo
adotivo, o país onde vive o menor, denominado de país de origem e o país do
adotante, denominado país de acolhimento , para onde irá o menor, com isso
garantindo que as adoções internacionais sejam feitas no interesse superior da
criança e com respeito a seus direitos fundamentais, assim como, prevenindo o
seqüestro, bem como o tráfico de crianças. Com isso, o Brasil rat ificou a mencionada
convenção e apenas permite a adoção internacional com a intervenção das
entidades conveniadas.
A Convenção de Haia foi aprovada pela Assembléia Geral da ONU em 20 de
novembro de 1989, quando se comemoravam os trinta anos da Declaração
Universal dos Direitos da Criança de 1959. A convenção tem como propósito, de
estabelecer um sistema de cooperação entre os países, assim minimizando os
abusos, e assegurando os interesses do menor no processo de adoção e garantindo
o reconhecimento das adoções efetivadas sob a égide da Convenção.
A Convenção em análise estabelece, em seu preâmbulo princípios básicos
voltados à proteção especial da criança, ressaltando ao final, a importância da
cooperação internacional para uma melhor condição de vida, par a o adotando em
outro país.
Para que ocorre uma adoção internacional é necessária à existência de uma
Autoridade Central e Organismos Credenciados cooperando entre si, como forma de
assegurar e proteger os interesses do adotado, com isso possibilitando ta mbém a
troca de informações de caráter geral para que a convenção possa ser aplicada
corretamente.
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O Decreto lei nº 3.174 de 16.09.1999, em cumprimento ao artigo 6º da
Convenção de Haia, determinou que “cada Estado contratante designará uma
Autoridade Central encarregada de dar cumprimento às obrigações pela
Convenção”.Vale lembrar que, no âmbito dos Estados federados e do Distrito
Federal são de responsabilidade da CEJAI o cumprimento de tais obrigações.
Entretanto, essas autoridades, cooperando entre si, tomarão medidas pertinentes
para que a adoção internacional seja concretizada apenas quando houver interesse,
segurança e proteção à criança.
Por fim, a Convenção de Haia, veio regulamentar a adoção internacional, uma
vez que há uma enorme preocupação, em razão do tráfico de crianças e com a falta
de mecanismos de proteção legal para a criança adotada em matéria de adoção
transnacional. Todavia, a Convenção em si, não é capaz de alcançar todos os
desígnios nela preceituados, sendo imprescindível que os país es membros da
convenção tenham suas legislações modernizadas, para só assim fortalecer os
controles internos, para melhor atender a interesses mútuos de países nos quais
consolidam habitualmente adoções internacionais.
3.3 - O PAPEL DOS CEJAI’S
A CEJAI (Comissão Estadual Judiciária de Adoção Internacional) é um
auxiliar do poder judiciário, composto por desembargadores e juízes de direito,
procuradores e promotores de justiça, psicólogos, sociólogos, pedagogos,
assistentes sociais, advogados, médicos e outr os. A comissão passou a existir como
uma forma de combater ou pelo menos amenizar os diversos desvios de finalidade
do instituto da adoção, principalmente a internacional.
De acordo com Liberati (2003, p. 138):
(...) a comissão tinha como missão e finalida de colocar a salvo as criançasdisponíveis para a adoção internacional, como forma de evitar – lhes anegligência, a discriminação, a exploração, a violência, a crueldade eopressão.Além de perseguir os superiores interesses da criança, aComissão procura manter intercâmbio com outros órgãos e instituiçõesinternacionais de apoio à adoção, estabelecendo com elas um sistema decontrole e acompanhamento dos casos apresentados e divulgando suasatividades.
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Portanto, a CEJAI tem como intuito proteger as crianç as e os adolescentes
brasileiros, buscando diminuir o tráfico internacional, impedindo que os estrangeiros
adotem e saiam do país irregularmente e descumprindo a legislação brasileira.
Com leitura do artigo 52 do Estatuto da Criança e do Adolescente, a ado ção
internacional poderá ser condicionada a um estudo prévio de uma CEJA. Tal
comissão fará um estudo e fornecerá o laudo informando se o adotante preenche ou
não os requisitos para a adoção internacional, esse documento servirá de base para
a instrução do processo de adoção.
A partir da Convenção Relativa à Proteção das Crianças e à Cooperação em
matéria de Adoção Internacional, foi deliberado que cada estado brasileiro deveria
ter uma CEJAI, já que o estatuto foi omisso em seu artigo 52, não impondo essa
obrigação, deixando o livre arbítrio a cada Estado a implantação das Comissões
Estaduais Judiciárias de Adoção.
Desta feita, foi editado o Decreto 3.174 de 16.09.1999 que regulamentou o
cumprimento de criação das CEJAI’S, estabelecendo que:
(...) ficam designados como Autoridades Centrais no âmbito dos Estadosfederados e do Distrito Federal, as comissões Estaduais Judiciárias deAdoção, previstas no art. 52 da Lei 8.069, de 13 de junho de 1990, ou osórgãos análogos com distinta nomenclatura, aos quais com pete exercer asatribuições operacionais e procedimentos que não se incluam naquelas denatureza administrativa, a cargo da Autoridade Central Federal, respeitadasas determinações das respectivas leis de organização judiciária e normaslocais que a instituíram.
Neste sentido, a Comissão Estadual Judiciária de Adoção passou a ser um
órgão de existência obrigatória, com vinculação do poder Judiciário, uma vez que
sua atuação é indispensável para um legítimo processo de adoção.
A Comissão surgiu no ordenament o jurídico, como forma de habilitar uma
pessoa estrangeira interessada em adotar uma criança brasileira, analisando as
condições sociais e psicológicas bem como a estabilidade conjugal e a idoneidade
dos adotantes.
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Destarte, as CEJAI’S têm sido de grande importância, uma vez que orienta e
auxilia os interessados estrangeiros à adoção, para que estes venham colaborar
nesta edificante missão de amparar nossas crianças e adolescentes abandonados.
3.4 - O PROCESSO DE ADOÇÃO INTERNACIONAL
Para que a adoção por estrangeiros seja efetuada, faz -se necessário,
primeiramente, que a criança já tenha sua situação jurídica definida. Isso significa,
na prática, que já possua sentença transitada em julgado com a decretação da
perda do poder familiar (quando devem ser resp eitados os ritos próprios, por
exemplo, direito ao contraditório, ampla defesa, defesa técnica, etc., considerando
que o pátrio poder é personalíssimo), ou que seus pais tenham falecido e agora
esteja sob a guarda do Estado.
O casal que deseja adotar uma criança brasileira deverá cumprir
determinados regulamentos, como a apresentação de documentação de estudo
psicossocial dos postulantes; habilitação específica do casal para aquela criança ou
adolescente; documentos pessoais ( comprovação de estar o casal e strangeiro
devidamente habilitado para a adoção segundo as leis de seu país, mediante
declaração expedida pela autoridade competente; certidão de nascimento e
casamento; declaração de rendimentos; cópia reprográfica dos passaportes; prova
de saúde física e mental; certidão de habilitação do CEJA ou CEJAI; autorização
expedida no país de origem, para a realização de adoção de brasileiros; declaração
de ciência de que a adoção é totalmente gratuita, irrevogável e irretratável ) e
encaminhamento de solicitação de adoção via instituição conveniada, sendo que
todos os dados devem ter autenticação consular.
Importa ressaltar que todos os requisitos são relevantes para que a justiça
brasileira tenha um controle sobre esta modalidade de adoção, mesmo porque o
controle passível de ser realizado é este controle prévio vez que, deferido o pedido e
atravessadas as fronteiras internacionais, fica inviável qualquer interferência no
sentido de se revogar a adoção ou desfazer qualquer outro efeito inerente ao
instituto.
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Estabelecidos todos os trâmites, os estrangeiros ficam habilitados a proceder
com a adoção.
O juiz, da Vara da Infância e Juventude, ao receber a ação, deverá solicitar
que uma equipe técnica específica coordene todo o complexo processo de
aproximação e adaptação da criança e dos requerentes. Estabelecidos estes
passos, ocorrerá a determinação da liberação, ainda em caráter provisório, a partir
de "termo de estágio de convivência".
Tendo em conta que o Estatuto da Criança e do Adolescente, posto
abandonando a doutrina da situação irregular, fez forte e certa a opção pela teoria
da proteção integral, incluindo, nessa linha de entendimento, expressa previsão no
sentido de que a adoção somente se deferirá quando apresentar reais vantagens
para o adotando, além de fundar-se em legítima motivação.
Após a conclusão do estágio de convivência, o magistrado constatando o
laudo junto aos autos, será dado vista ao representante do Ministério Público.
Tendo em vista que a sentença que concede a adoção é definitiva de caráter
irrevogável, após o seu trânsito em julgado. E esta sentença pode ser de natureza
declaratória e constitutiva, ou seja, declara extinto o poder familiar dos pais
biológicos e constitui novo vínculo de filiação entre o adotante e adotado, havendo
inclusive o cancelamento do registro e determinação de expedição de um nono
registro, não constando na certidão do novo registro qualquer observação sobre a
natureza do ato nem tão pouco a paternidade/ maternidade biológica.(art.47 do
ECA).
A partir da intimação da sentença, do representante do Ministério Público e
dos requerentes, inicia-se o prazo para o trânsito em julgado, pois, a saída do
adotando do território nacional só será autorizada depois de consumada à adoção.(§
4ºdo art.51 do ECA).
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3.5 - OS EFEITOS DECORRENTES DA ADOÇÃO INTERNACIONAL
3.5.1 - Efeitos relativos ao estado pessoal do adotado
3.5.1.1 - Nome
Antes a Lei nº. 8.069/90 e o atual Código Civil, não era admissível a alteração
completa da filiação sangüínea, com repercussão, in clusive nos avós. O art. 47, § 1º
do ECA traz: “A inscrição consignará o nome dos adotantes como pais, bem como o
nome de seus ascendentes”. O art. 1.627 do atual Código Civil permite até trocar o
nome do adotado: “A decisão confere ao adotado o sobrenome do adotante,
podendo determinar a modificação de seu prenome, se menor, a pedido do adotante
ou do adotado”.
A legislação permitiu a mudança do prenome do adotado, através das
indicações constantes na sentença, na qual é a fonte formal do novel vínculo
paternal nascido com a adoção, uma vez que, é efeito do instituto da adoção a
mudança de filiação. Com isso, os nomes dos adotantes constaram na certidão de
nascimento do adotando, como sendo os pais, e seus ascendentes, como avós.
O artigo 47 § 5º do Estatuto da Criança e do Adolescente dispõe que: “a
sentença conferirá ao adotado o nome do adotante e, a pedido deste, poderá
determinar a modificação do prenome”. Percebe – se que, só ocorrerá à mudança
do prenome do adotando, se o adotante requerer ao magi strado que proferiu a
decisão, todavia se o adotante se omitir, o menor permanecerá com o prenome de
sua família de origem.
Segundo LIBERATI (2003, p. 181):
(...) a transmissão do nome de família para os italianos e espanhóis é oprimeiro efeito que surge com a decretação da adoção; quando o adotandoadquire o status de filho legítimo do adotante, assume e transmite o nomede família. O art. 267, item 3, do Código Civil suíço, também dispõe sobre amodificação do prenome do adotado: “ um novo prenome poder á ser dado àcriança, quando da adoção”. O art. 357 do Código Civil francês dispõe: “Aadoção confere à criança o nome do adotante e, em caso de adoção pordois esposos, o nome do marido. A pedido do ou dos adotantes, o tribunalpode modificar os prenomes da criança”.
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Portanto, podemos concluir que, muitos países adotam em sua legislação que
a transmissão do nome bem como sua mudança emana do efeito primordial da
adoção, no qual, é uma constituição do vínculo de filiação, isto é, o adotado torna –
se filho legitimo do adotante, com isso acabando com qualquer vinculo com sua
família biológica.
3.5.1.2 - Nacionalidade e Cidadania
O principal efeito pertinente à adoção internacional é aquele relativo à
nacionalidade e cidadania do adotado, uma vez que este é u m fator relevante na sua
vida e a de sua família adotiva.
Contudo, e bom conceituar a nacionalidade e a cidadania, uma vez que tais
definições podem ser confundidas, ou até mesmo, compreendida de maneira
diferente.
Vejamos o entendimento de Silva (apud L IBERATI, 2003, p. 210):
(...) a nacionalidade é um vínculo ao território estatal por nascimento ounaturalização. A cidadania qualifica os participantes da vida do estado, é umatributo político decorrente do direito de participar no governo e direito deser ouvido pela representação política. Cidadão, no direito brasileiro, é oindivíduo que seja titular dos direitos políticos de votar e ser votado e suasconseqüências. Nacionalidade é conceito mais amplo do que cidadania, e épressuposto desta, uma vez que só o titular da nacionalidade brasileirapode ser cidadão.
Vale ressaltar que, a ser outorgada a adoção, o adotado não passa
automaticamente, a ter a mesma nacionalidade dos pais adotivos, nem tampouco
adquire a cidadania estrangeira. Tal aquisição ocorr e, quando os adotantes
providenciem um requerimento na justiça especializada de seu país, visando dar
eficácia à sentença proferida no Brasil, salientando que a sentença aqui proferida é
terminativa e constitutiva de mérito, com isso tendo, efeito no país de origem do
adotante.
Verifica-se, então, que a obtenção da cidadania e da nacionalidade depende
excepcionalmente, dos preceitos constitucionais e jurídicos do país de origem dos
adotantes.
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Com o advento do 3º Princípio da Declaração Universal dos Direi tos da
Criança, fez com que surgisse a preocupação dos povos em atribuir a nacionalidade
ao menor, dispondo o dispositivo: “Desde o nascimento, toda criança terá direito a
um nome e a uma nacionalidade”. Com isso, vários países consagraram em suas
legislações tal princípio, é o exemplo do art. 267 a (2) do Código Civil suíço: “A
criança menor adquire a cidadania dos pais adotivos, em lugar e em substituição do
local de seu direito de cidadania anterior”. Já o código Civil italiano, preceitua: “o
menor de nacionalidade estrangeiro adotado por casais de cidadania italiana adquire
o direito a tal cidadania”.
Já, na Noruega, o ato n.8, de 28.2.86 artigo 14, regulamenta: “ a
nacionalidade do adotando não será alterada na adoção”. Essa vedação disposta
nesse dispositivo, também é aplicada na Alemanha e na Romênia. Enquanto que em
outros países como a China, Irlanda, Japão, Polônia, conferi ao adotando a
nacionalidade do adotante.
É de fundamental relevância, que as autoridades de cada país estabeleçam
procedimentos, para inserir uma outra nacionalidade diferente da sua de origem ao
adotando, uma vez que, essa diferença de nacionalidades pode comprometer a
convivência do menor no ambiente familiar. Tendo em vista, que a adoção equipara
– se à filiação legítima para todos os efeitos legais.
Por fim, não podemos afirmar que o instituto da adoção é um meio de alcance
da cidadania ou da nacionalidade. Todavia, esta depende, exclusivamente, do
estabelecido na legislação do país de acolhida, ou seja, a manutenção ou a
mudança da nacionalidade do adotado é um efeito que necessita do direito público
interno de cada país.
3.6 - A EXCEPECIONALIDADE DE COLOCAÇÃO EM FAMÍLIA ESTRANGEIRA
A legislação brasileira dispõe no artigo 31 do Estatuto da Criança e do
Adolescente: “a colocação em família substituta estrangeira constitui medida
excepcional, somente admissível na modalidade de adoção”. Desta feita, a adoção
internacional é considerada uma medida excepcional.
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Todavia, analisando o dispositivo do artigo citado, a colocação em fa mília
substituta estrangeira apenas ocorrerá, depois de esgotadas todas as possibilidades
de permanência da criança na família biológica ou quando não houver interessado
nacional na adoção. Com isso, não encontrando a criança uma alternativa possível
de colocação familiar dentro de seu próprio país, não se pode priva – la de encontrar
o seu bem – estar junto de uma família estrangeira.
Apesar disso, não devemos falar que há uma distinção entre nacional e
estrangeiro, mas sim uma maneira de proteger a cultu ra, a nacionalidade e a etnia
da criança ou adolescente fazendo com que ela permaneça no seu país de origem.
Diante disso esclarece Carvalho; Ferreira (2004, p. 74):
(...) conforme o ECA deve – se dar prioridade à manutenção dos laçosfamiliares da criança, colocando – se a adoção como medida excepcional. Aadoção internacional será, portanto, mais excepcional ainda. Independentedo mérito destas famílias estrangeiras o certo é que cabe à sociedadebrasileira encontrar alternativas de amparo e afeto para su as crianças.
A colocação em família substituta seja nacional ou estrangeira, deve ser
encarada como um remédio subsidiário, para o desamparo da criança. Sua
excepcionalidade, como recurso jurídico frente às diversas situações que conduzem
ao abandono dos menores, acarreta à priorização da família de origem.
Percebe – se, no entanto, que a medida de colocação em família substituta é
excepcional, em todas as modalidades, seja ela, a guarda, a tutela e a adoção. Vale
ressaltar que, o adotante estrangeiro só p oderá fazer uso da adoção, lhe sendo
vedada às outras modalidades. Tais restrições que existem em relação aos
interessados estrangeiros não fluem da lei, mas do cumprimento da política de
atendimento da criança, sendo assim visando coibir práticas ilícitas e fraudulentas
tão comuns no passado e que ainda hoje existem, tais quais o tráfico de menores.
3.7 - CRIME DECORRENTE DA ADOÇÃO INTERNACIONAL
A adoção internacional é considerada no âmbito do direito de família um tema
de grande complexidade e polêmic a, uma vez que envolve questões de caráter
humanitário, preconceitos e equívocos. Já que para muitos estudiosos o instituto da
adoção internacional se defronta com os crimes decorrentes de tal adoção.
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3.7.1 - Tráfico de Crianças
O tráfico de crianças, sobretudo as de pouca idade, tem sido alvo de uma
constante preocupação para vários países. Todavia, o envio ilegal de crianças para
o exterior não condiz com a adoção; aquela é considerada uma conduta criminosa;
esta é uma atitude legal. (LIBERATI, 2003).
A existência do hediondo tráfico de crianças, para fins comerciais
(prostituição, exploração sexual, pornografia, matrimônio, mão – de – obra barata,
mendicância, roubo e outras atividades ilícitas), está diretamente associado com a
prostituição infanto juvenil, pois organizações criminosas buscam nos países
subdesenvolvidos crianças e adolescentes oriundas de famílias pobres e
desorganizadas, a fim de serem utilizados para t ais fins comerciais. Diante do crime
organizado, não se pode descartar a possibilidade do tráfico até mesmo para fins de
transplante de órgãos.
Para Thomaz; Minnicelli (2002, p. 91):
(...) o tráfico de crianças é ilegal, torna impossível a fiscalização de pós –colocação e do desenvolvimento bio -psico – social da criança, promove aretirada ilegal da criança do país, leva crianças para países beligerantes eem interminável contenda com noções vizinhas, afrontando, a todaevidencia, o interesse maior de segu rança das crianças. A adoçãointernacional, por seu turno, que é revestida de ilegalidade, é feita semprepor meio da participação de uma autoridade jurídica garantidora da boacondução das formalizações, permite a fiscalização da adaptação dacriança ao novo lar e ampara a criança com segurança. A diferença maior,todavia, entre ambos ( adoção internacional e tráfico de crianças) está emque este privilegia os pais adotivos, em cujo interesse tudo é feito, enquantoaquela considera o bem – estar das crianças, analisa os dois ladosinteressados da questão e privilegia ambos.[
Com a Convenção de Haia, busca – se coibir o tráfico de crianças,
promovendo meios de preservar as adoções internacionais focalizando o interesse
da criança e garantindo seus direitos constitucionais.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Instituto da Adoção Internacional tem sua regulamentação maior na
Constituição Federal como também no Estatuto da Criança e do Adolescente.
No entanto, antes da promulgação do ECA a adoção internacional era vis ta
na seara do Direito de Família como um comércio, no qual pessoas tiravam proveito
do instituto para fins lucrativos, tais como , o tráfico de crianças para a exploração da
prostituição infantil, como também para transplante de órgãos.
Com a evolução dos tempos, percebeu-se a necessidade de leis que,
tivessem como intuito proteger a criança e o adolescente, garantido o princípio da
dignidade da pessoa humana, como forma de regulamentar as adoções
internacionais, uma vez que, muitos estrangeiros vinham ao Brasil e levava os
menores sem o devido processo legal. Com isso surgiu o ECA com a finalidade de
regulamentar a adoção, seja ela nacional ou estrangeira.
Dessa forma, o Estatuto assegurou que toda criança tem o direito de ser
criada e educada em uma família natural e, quando esgotados os recursos de
manutenção com a família de origem, tem o direito à família substituta. Nesses
moldes a adoção, além de ser uma espécie de família substituta, apresenta -se como
uma alternativa de viabilizar a criança e ao ad olescente, desprovidos de um lar, a
convivência familiar e comunitária, capaz de promover -lhes a dignidade da pessoa
humana.
A adoção por família estrangeira é um fato jurídico polêmico, quase sempre
envolto de discussões doutrinárias, a nosso vê não impo rta se a criança permanece
ou não no seu país de origem, o importante e a sua inserção no seio de uma família
onde e garantida a sua segurança e seu bem – estar.
Entretanto, a adoção internacional não deve ser discriminada, sob pena de se
criar um nacionalismo preconceituoso e prejudicial ao desenvolvimento de nosso
país.Haja vista, que a adoção tem um caráter humanitário uma vez que a mesma
possibilita que crianças e adolescentes abandonados, sem quaisquer esperanças de
um futuro promissor, pertençam a u m lar e integrem uma família, transmutando, de
forma inconteste, a realidade de tantos infantes abandonados em abrigos, quando
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não nas ruas, que assola nosso país há décadas. Daí a existência da adoção
internacional, a qual vem ganhando força considerável nas últimas décadas, com
fundamento no direito constitucional assegurando e conferido às crianças o direito
de pertencer à uma família.
Ao longo da pesquisa concluímos que a adoção internacional se faz
necessária, uma vez que o abandono de menores vivendo em condições miseráveis
é uma realidade no Brasil, sendo assim essa modalidade de adoção é um meio
alternativo, para muitos menores, no qual não podemos ignorar o fato de
estrangeiros procurarem crianças brasileiras para serem adotadas, reconhecendo –
as legalmente como filhos, inserindo – as, no seio de uma família, possibilitando
condições dignas e oferecendo oportunidades que jamais teriam em nosso país.
Destarte, um dos principais motivos que conduz a interpretação da
possibilidade jurídica da adoção p or estrangeiros é considerar que essa adoção
atende ao princípio do melhor interesse na exata medida que retira as crianças e os
adolescentes das ruas ou das instituições e os insere em um lar.
Após todas as considerações realizadas, percebe -se a impropriedade de se
continuar pensando com preconceitos, com idéias conservadoras. Ao jurista cabe
pensar conceitos jurídicos, fundamentos jurídicos capazes de direcionar a sociedade
à igualdade, ao respeito às diferenças, à justiça. E a nós pensar que as criança s
abandonadas necessitam de amor, carinho e de uma vida digna seja, e m seu país
de origem ou em um país estrangeiro.
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______. Decreto 3174, de 16 de setembro de 1999. Designa as AutoridadesCentrais encarregadas de dar cumprimento às obrigações impostas pela ConvençãoRelativa à Proteção das Crianças e à Cooperação em Matéria de AdoçãoInternacional, institui o Program a Nacional de Cooperação em Adoção Internacionale cria o Conselho das Autoridades Centrais Administrativas Brasileiras. Diário Oficial[da República Federativa do Brasil]. Brasília, 16 set. 1999.
______. Lei n° 10406 de 10 de janeiro de 2002. Dispõe sobre o Código Civil.
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