sustentabilidade urbanismo euskadi

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Uma análise dos critérios de sustentabilidade aplicáveis ao planeamento urbano basco de 2003. Xosé Manuel Carreira Rodríguez – [email protected] Le città come i sogni sono costruite di desideri e di paure.[ITA72] As cidades são centros de conhecimento e fontes de crescimento e inovação. [LEIP07] INTRODUÇÃO E ENQUADRAMENTO HISTÓRICO Este documento visa analisar criticamente os critérios de sustentabilidade propostos para implementação do planejamento urbano basco apresentados em [EUSK03]. O relatório foi conduzido pelos Jornais Bakeaz sob a direção da arquiteta Isabela Velázquez [GEA]. O principal patrocinador do documento foi o recentemente falecido Sabin Intxaurraga, economista e membro de Eusko Alkartasuna, Conselheiro de Planejamento e Meio Ambiente do Governo Basco, entre 2001 e 2005 [WIKI]. É também muito notável que, ao contrário do que aconteceu em outros governos autonómicos, no governo basco as conselherias do Ambiente e do Território nunca foram separadas. O mundo está a se urbanizar rapidamente e o Relatório Brundtland [BRUNDT87, C. 9] alertou para os perigos inerentes à uma urbanização desordenada. O termo sustentável foi talvez pela primeira vez referido então [BRUNDT87] e foi-se estendendo a partir da área de desenvolvimento a todos os aspetos da atividade humana, enquanto se desvalorizava o significado. Tanto foi assim, que acabou por se tornar um conceito carregado de ambiguidade quando não um conteúdo retórico ou propagandístico. Na primeira década do século XXI estavam a dar-se as condições para o que deu em chamar a crise da bolha imobiliária. Uma lei do solo excessivamente liberal e a falta de financiamento dos municípios, assegura o geógrafo Jordi Borja [RNE15], forçaram uma suba artificial do preço das casas em 288 por cento entre 1997 e 2007, segundo o relatório de [IVIE09]. Quando rebentou a bolha provocou uma crise tão pronunciada que fez com que o nível de desemprego ultrapassasse o 20 por cento. Cinco anos após o início da crise, embora o País Basco tenha sofrido os efeitos devastadores, pelo menos é a comunidade autónoma que melhor tem resistido [FUNCAS13]. URBANISMO ACTUAL E MUDANÇA DE PARADIGMA [EUSK03] assevera que há uma mudança de paradigma no urbanismo. Primeiramente o ambiente passa a ser o vector fundamental do desenvolvimento e a política ambiental é considerada transversal e não sectorial.

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O documento visa analisar criticamente os critérios de sustentabilidade propostos para implementação do planejamento urbano basco em 2003.

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Uma análise dos critérios de sustentabilidade aplicáveis ao planeamento urbano basco de 2003.

Xosé Manuel Carreira Rodríguez – [email protected]

Le cit tà come i sogni sono costruite di desideri e di paure.[ ITA72]

As cidades são centros de conhecimento e fontes de crescimento e inovação. [LEIP07]

INTRODUÇÃO E ENQUADRAMENTO HISTÓRICO Este documento visa analisar cri ticamente os critérios de sustentabilidade propostos para implementação do planejamento urbano basco apresentados em [EUSK03]. O relatório foi conduzido pelos Jornais Bakeaz sob a direção da arquiteta Isabela Velázquez [GEA]. O principal patrocinador do documento foi o recentemente falecido Sabin Intxaurraga, economista e membro de Eusko Alkartasuna, Conselheiro de Planejamento e Meio Ambiente do Governo Basco, entre 2001 e 2005 [WIKI]. É também muito notável que, ao contrário do que aconteceu em outros governos autonómicos, no governo basco as conselherias do Ambiente e do Território nunca foram separadas. O mundo está a se urbanizar rapidamente e o Relatório Brundtland [BRUNDT87, C. 9] alertou para os perigos inerentes à uma urbanização desordenada. O termo sustentável foi talvez pela primeira vez referido então [BRUNDT87] e foi-se estendendo a part ir da área de desenvolvimento a todos os aspetos da atividade humana, enquanto se desvalorizava o significado. Tanto foi assim, que acabou por se tornar um conceito carregado de ambiguidade quando não um conteúdo retórico ou propagandístico. Na primeira década do século XXI estavam a dar-se as condições para o que deu em chamar a crise da bolha imobiliária. Uma lei do solo excessivamente liberal e a falta de financiamento dos municípios, assegura o geógrafo Jordi Borja [RNE15], forçaram uma suba artificial do preço das casas em 288 por cento entre 1997 e 2007, segundo o relatório de [IVIE09]. Quando rebentou a bolha provocou uma crise tão pronunciada que fez com que o nível de desemprego ultrapassasse o 20 por cento. Cinco anos após o início da crise, embora o País Basco tenha sofrido os efeitos devastadores, pelo menos é a comunidade autónoma que melhor tem resistido [FUNCAS13]. URBANISMO ACTUAL E MUDANÇA DE PARADIGMA [EUSK03] assevera que há uma mudança de paradigma no urbanismo. Primeiramente o ambiente passa a ser o vector fundamental do desenvolvimento e a política ambiental é considerada transversal e não sectorial .

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Obviamente as bases do urbanismo em que a maioria dos profissionais da construção fomos educados foram principalmente os princípios da Carta de Atenas [CORBU43] e os Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna de nomeadamente o congresso de 1947 pensado para a reconstrução rápida das cidades europeias após a Segunda Guerra Mundial . Se bem inicialmente o ecologismo esqueceu as cidades como parte do meio ambiente, para [EUSK03] é a pressão ecológica a que agora faz com que conceitos como pegada ecológica, capacidade de carga ou biodiversidade surjam no urbanismo actual mais inovador. Enquanto o urbanismo tradicional dominante estava centrado na rápida produção de imóveis, o novo paradigma de urbanismo deve ter em conta holísticamente o metabolismo da cidade, procurando uma redução ao mínimo da pegada ecológica e reduzindo a ocupação do solo [EUSK03]. Também como cada território é diferente, para garantir a sustentabil idade, após análise dos recursos do território é preciso definir os limites de carga (capacidade de carga) que este poderia suportar. O GRANDE PARADOXO DO URBANISMO Se a aplicação da sustentabilidade tem uma grande dificuldade [BRUNDT87], nas grandes aglomerações urbanas a dificuldade é máxima. O ambiente urbano é difícilmente sustentável pela dependencia externa e porque a urbanização é responsável pela alteração e empobrecimento de processos naturais. Tomando esta abordagem à sua conclusão lógica, pode-se argumentar que a "cidade verde" não é apenas um imposible ou uma contradição, porque a imensa mayoría das atividades são ecologicamente destrutivas. Como diz Valenzuela [VALEN09], transformar a cidade herdada para fazer ecocidades é realmente um objetivo estimulante, mas distante e pode que mesmo inatingível . As melhores fórmulas de intervenção podem ser louváveis mas sempre insuficientes e a maior parte das vezes focadas em tornar a cidade em um lugar forte e melhor para se viver [LEIP07]. Agora bem, apesar das aparências, apesar de que o verde rural posa parecer muito mais em harmonia com a natureza do que uma cidade cheia de arranha-céus, o fato geralmente aceitado em todo o urbanismo, do tradicional [CORBU43] ao mais moderno, é que a vida na cidade compacta tem uma menor pegada ecológica por habitante do que na vila jardim [MOLI12]. Em suma, não é possível continuar a acreditar no crescimento urbano indefinido e sem controle: o projeto de cidade sustentável força-nos a fechar os fluxos de matéria e energia dentro dos próprios espaços urbanos para reduzir a pegada ecológica que a cidade produz tanto no seu arredor como no âmbito planetário. O COMPROMISSO INSTITUCIONAL [EUSK03] exige um compromisso institucional alem do curto prazo e dos interesses partidistas. O sucesso da mudança de modelo de urbanismo

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anteriormente referido depende muito da capacidade de coordenação e integração de intervenções e financiamentos a nível europeu, nacional, autonómico, sub-regional e municipal. É necessário neste sentido a adoção de modelos de geogovernança apontados em [FARI08]. Em um momento de crescente apatia e relutância dos cidadãos em relação às instituições europeias, foi quando do Conselho [CEU00] e da Comissão Europeia [COM01] deram as maiores críticas ao modelo de urbanismo tradicional e os maiores impulsos à inclusão dos critérios ambientais. No Livro Branco sobre governança foram apresentados os assim cinco princípios da boa governança, estensíveis à geogovernança: abertura, participação, responsabilidade, eficacia e coerencia. Tanto [EUK03] como [FARI08] assinalam que poucos critérios mensuráveis (métricas) foram estabelecidos para o controlo e benchmarkig. O País Basco e alguns dos seus concelhos optaram por desenvolver os seus próprios indicadores de sustentabilidade urbana como parte de sua Agenda 21 Local com o problema de partida da escassa e pouco confiável informação numérica para atualizar os inidicadores e torná-los comparáveis. INTEGRAÇÃO NO AMBIENTE NATURAL Não é possível pensar em uma cidade sem pensar sobre a pegada que deixa sobre o território e o ambiente. A expansão na produção de suas periferias, em áreas naturais terras agrícolas, bem como água e poluição do ar não pode estar fora da gestão da cidade. Assim, concordo com [EUSK03] en que ao abordar um problema de crescimento urbano, as políticas devem considerar todas as outras variáveis. Tem que se analisar a capacidade de carga do território e as densidades de concentração urbanas, e promover a diversidade em todos os aspectos: social , económico e ecológico. A diferença entre o rural e o urbano no Norte de Espanha também nem sempre é clara dando lugar a un complexo sistema rurubano ou periurbano. É muito importante assinalar aqui que o termo rural não tem um significado pejorativo na sociedade basca, por exemplo, empresas l íderes como CAF ou Irizar estão localizadas em áreas totalmente rurais. As rivalidades municipais, as instabilidades políticas e os problemas de geovernança [FARI08] estão detrás das tentativas fracassadas de integração do rural e rururbano nos serviçoas das áreas metropolitanas para competir melhor, tal e como propõem a Estratégia de Lisboa e o Comité das Regiões [CEU00] e a Carta de Leipzig [LEIP07]. A expansão urbana com baixa densidade de população (em inglês urban sprawl) é certamente um fenómeno negativo na periferia urbana devido ao aumento da quantidade de terra necessária e ao maior uso do automóvel [MOLI12]. Mais campos agrícolas e habitats de animais selvagens são deslocados per capita. Também mais cobertura florestal é suprimida e substituída por pavimentos impermeáveis, a precipitação é menos eficientemente absorvida, a qualidade e quantidade da água são piores e os riscos de inundação muito maiores.

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O desenvolvimento do rural e a agricultura sustentável são consideradas muitas vezes como termos sinónimos mas o desenvolvimento rural sustentável abarca um leque maior de ações a desenvolver no meio rural e não só as referentes à agricultura. No caso do rural periurbano, a base para conseguir o objetivo da sustentabil idade é a diversificação económica, oferecer serviços urbanos, garantir conectividade ecológica e a biodiversidade, e promover o uso dos recursos naturais conforme a sua aptidão. MODELO DE OPERAÇÃO DA CIDADE [EUSK03] propõe claramente que no planejamento urbano sejam incluidos relatórios sobre o metabolismo da cidade. Com raízes profundas na sociologia, Karl Marx e Friedrich Engels podem ter sido os primeiros a usar a metáfora ao se referir às interações metabólicas que acontecem através do esforço do trabalho físico dos seres humanos a cultivar a terra para seu sustento. A Carta de Atenas [CORBU43] também considerou a cidade como um organismo. Na Espanha a primeira formulação do conceito de metabolismo urbano foi dada pelo Ministério das Obras Públicas e Urbanismo em 1990, após análise realizada sobre o ambiente nas áreas metropolitanas. Conhecer a dinâmica do sistema urbano engloba o conhecimento de fluxos de água e outros materiais, energia, resíduos, a fim de providenciar os aprovisionamentos adequados e a tempo bem como a evacuação e o tratamento de todos os resíduos (sólidos, líquidos e gases), e muitos outros conceitos como os rat ios de uso de infraestruturas e meios de transporte, a durabilidade e eficiência energética dos edifícios, etc.. . Desta forma, poderíamos concluir que, a sustentabilidade das cidades deve constituir benefícios não só para o benefício dos seus utilizadores e qualidade de vida, mas que a utilização de recursos e bens públicos como a água devem estar assentes num consumo equilibrado [EUSK03]. Com a questão da sustentabilidade no centro de muitas das questões ambientais da atualidade, um dos principais usos dos modelos de metabolismo urbano era registar indicadores de sustentabilidade nas cidades e regiões ao redor do mundo tornando mais fácil encontrar padrões saudáveis e desenvolver planos de ação para melhorar o nível de sustentabilidade. Como aponta [VALEN09] também pode ser interessante conhecer a relação entre os fluxos de recursos do metabolismo urbano e os efeitos sociais e econômicos que produzem. O documento [EUSK03] promove um metabolismo urbano circular (en lugar de linear) em que tudo o que vem de fora pode ser reutil izado no sistema de produção, afetando a um âmbito menor porque as necessidades da cidade são obtidas em boa parte dos recursos da mesma cidade e dos seus arredores imediatos. MOBILIDADE SUSTENTÁVEL Uma outra questão importante para [EUSK03] é estudar a mobilidade na cidade identificando as diversas zonas (serviços, habitação, lazer, etc) implementando

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uma rede de transportes que permita uma proximidades dos cidadãos aos diversos locais da cidade sem recurso ao automóvel particular. A mobilidade sustentável é um conceito nascido da preocupação com os problemas ambientais e sociais causados pela generalização durante a segunda metade do século XX de um modelo de transporte urbano baseado no carro part icular. As desvantagens desse modelo, principalmente a poluição do ar, o consumo excessivo de energia, os efeitos sobre a saúde da população ou a saturação das estradas têm causado uma vontade coletiva de encontrar alternativas para ajudar a aliviar os efeitos negativos desse modelo e de conceber um novo modelo de cidade sustentável. A Carta de Atenas [CORBU43] e depois o CIAM da reconstrução europeia [CIAM48] apostaram pelo zoneamento da cidade de acordo com os usos e necessidades da sociedade e isto tivo consequências negativas no excessivo uso do automóvel. Hoje em dia é amplamente aceite que é melhor combinar diferentes usos no mesmo território, embora, por vezes, existam usos conflitantes, por exemplo, residenciais e industriais, por tanto terão de ser analisadas as melhores localizações para eles. Em geral uma mistura de usos do solo poupa tempo e energia por causa da maior proximidade. Os serviços públicos têm de estar localizados em lugares estratégicos para que os utentes tenham um acesso fácil a eles. Os bairros devem ser autossuficientes, não só em termos de serviços públicos, mas também comerciais e de lazer, de jeito que a mobilidade por parte dos cidadãos seja desnecessária. A abordagem que uma cidade como Vitoria-Gasteiz desenvolveu no seu plano de mobilidade urbana é um exemplo para muitas cidades espanholas [TVE12] e um caso de estudo de gestão do trânsito habitual em todas as escolas de engenharia civil . Infelizmente o documento [EUSK03] incide apenas sobre as ações de mobilidade sustentável clássica: reduzir o congestionamento rodoviário, um sistema de transporte mais eficiente para melhorar a competitividade do sistema produtivo, melhorar a integração social dos cidadãos através de uma acessibilidade universal e a promoção de práticas de mobilidade responsáveis por indivíduos sensibilizados para com estes problemas (caminhar, ir de bicicleta ou usar transportes públicos em vez de manejar o carro sempre que possível). O documento [EUSK03] evita entrar neste ponto da mobilidade em alguns dos temas mais contemporâneos e polémicos entre os quais: - Incentivar os aplicativos online para dar boleias (carpooling). - Tributação favorável para os veículos mais eficientes na cidade como carros compactos, elétricos ou híbridos. - Imposto especial sobre os veículos mais poluentes como carros desportivos, SUV e de propulsão diesel como aocntece em várias cidades da Europa do Norte. - Promoção do teletrabalho e o e-government para evitar deslocamentos.

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- Medidas inovadoras para acalmar o tráfico. P.ex. o autarca Atanas Mockus logrou pacificar os agressivos motorista de Bogotá com mimos educativos. - Transporte público subsidiado para os grupos desfavorecidos. - Proibição de acesso em carro ao campus das universidades e outros centros educativos e culturais como acontece no reino Unido. Como o arquiteto Ricardo Aroca aponta [RNE15], por trás do conceito emergente de “smart city” (cidade inteligente) existem lobbies interessados em vender novas TIC, mas claramente o conceito de “smart city” está cheio de possibilidades para fazer a cidade mais sustentável especialmente no que diz respeito a mobilidade e está aqui para ficar. De acordo com a teoria do urbanismo para esta era da informação de Manuel Castells [CAST02], os tempos são chegados para que a cidade em rede online e a cidade em rede offline sejam juntadas em uma nova política urbana para uma cidade comum. REABILITACÃO E RECUPERACÃO DE ÁREAS URBANAS [EUSK03] confia em que actuações como a melhoria física dos espaços públicos, a melhoria da acessibil idade e a reabili tação de edifícios e bairros considerados vulneráveis, pode contribuir para uma maior coesão social e integração para promover a sustentabilidade. Também é importante desmantelar as zonas obsoletas, tais como indústrias abandonadas, reabili tando e recuperado essas zonas. Quando se pense em atribuir novos terrenos para urbanização e crescimento da cidade, podem ser implementadas alternativas à construção de novas habitações tais como a reabilitação das moradas que estão em condições precárias, a demolição de ruínas industriais na cidade para ganhar terreno ou mesmo gravar a posse de segundas residências vazias – ponto confli tivo excluido de [EUSK03]-, para, desse modo, não incentivar a especulação no mercado imobiliário e reduzir o alto custo de uma primeira casa. Assim, a reabilitação evita o consumo de mais solo e outros recursos, compacta a cidade e reduze a demanda de mais mobilidade. CORRESPONSABILIDADE E PARTICIPAÇÃO CIDADÃ Como aponta [EUS03] resulta imprescindível contar com a cidadania e a intel igência coletiva nos processos de decisão urbanos. Entre as várias propostas de mudança apresentadas no Livro Branco para a governança na UE [COM01] destaca o reforço da participação ativa dos cidadãos no debate público. [FARI08] concorda com esta abordagem ao afirmar que a geogovernança deve procura substi tuir o burocrático modelo tradicional por uma gestão inclusiva e participativa da planificação territorial. Neste sentido os processos de agenda Local 21 podem vir a ser um elemento importante. É necessária uma sensibilização e participação social para um uso racional do território. Não basta com informar e garantir transparência, como se

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faz maiori tariamente até agora: uma participação pública ativa nos processos de decisão territorial é necessária. O role do ensino proativo de meninos e jovens e as parcerias público-privadas são assinalados na Carta de Leipzig [LEIP07]. Agora bem, a consulta pública está ocorrendo apenas no final do processo, quando o planejamento já está quase pronto, reduzindo a margem para alterações importantes. Também a participação dos cidadãos no desenho urbano contemporâneo não é a panaceia, mesmo com o empowerment e a capacitação, nomeadamente quando os problemas da dinámica urbana se relevelam muito difíceis. O cidadão de a pé conhece os problemas dele mais nem sempre sabe avaliar com justiça as soluções mais adequadas. Como nos lembra o pedagogo Francesco Tonucci em La città dei bambini [TON05], a cidade não deve ser projetada para o cidadão comum mas para os grupos de cidadãos mais fracos (p.ex. as crianças, as mulheres grávidas, as pessoas em cadeiras de rodas, os idosos, etc…), e talvez por isso, mesmo depois da democrática part icipação popular, muitas das nossas grandes cidades só são confortáveis para adultos que vão de carro a trabalhar. É pena verificar que o documento [EUSK03] não inclui as enormes possibilidades de votação e discussão de plataformas online como Reddit e afins. De acordo com o professor Manuel Castells [CAST02], internet viria a ser a ferramenta perfeita para incentivar a participação dos cidadãos no debate do ordenamento do território desde a sua criação: o espaço e o tempo foram transformados baixo o efeito combinado das tecnologias da informação e por processos sociais induzidos pelo atual tempo de mudanças históricas. Embora muitas autarquias já oferecem linhas diretas via Twitter, a participação através de canais mais atenciosos, como fóruns, blogs e as mencionadas plataformas de voto ainda hoje não têm a relevância política necessária. PLANEJAMENTO URBANO INTEGRADO Para uma adequada gestão do território é imperativo coordenar o planejamento urbano municipal com as soluções de planejamento de supra-municipais para chegar realmente a um urbanismo sustentável. Se bem [EUSK03] aponta critérios comuns para um ordenamento do território basco e confia no papel estruturante das Agenda 21, não indica qualquer quadro formal ou ferramenta própria para coordenação regional simplesmente porque naquela al tura ainda não existia. Nos anos posteriores, o País Basco desenvolveu a ideia dos Planos Territoriais Parcial por Áreas Funcionais [PTP15], uma espécie de compromisso escrito a modo de contrato entre os principais agentes públicos e privados envolvidos. A Carta de Leipzig [LEIP07] incorpora o conceito de desenvolvimento urbano integrado e as seguintes dimensões: ambiental (mobilidade, eficiência energética, gestão de resíduos), social (identidade, coesão, inclusão), económica (poder de atração, investimentos, emprego e inovação) e políticos (serviços, qualidade institucional, participação cidadã, governança e cooperação público-privada). Na carta, em primeiro lugar, pela natureza integradora da própria iniciativa,

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estabelece a necessidade de chegar a acordos com as partes interessadas sobre iniciativas urbanas e, além disso, assinala uma necessidade de incorporar métricas para medir e comparar a eficácia e eficiência das políticas. Joaquín Farinós [FARI08] especifica na definição de geogobernanza dois tipos de coordenação: - Coordenação vertical: coordenação multi-institucional, entendida como o diálogo entre diferentes níveis de governo, com diferentes habilidades, mas que convergem em um terri tório que pode ou não pode estar ligado à coordenação formal, e, por vezes, se sobrepõem no desenvolvimento de polí ticas com impacto territorial para além das responsabilidades de cada instituição. - Coordenação horizontal, em que duas abordagens estão incluídas. Por uma banda, a cooperação territorial ou a coordenação inter-regional, com base no diálogo entre as administrações geralmente com o mesmo nível de competência e com a inter-relação existente de pertencer a um mesmo território em cri térios de proximidade, administrativa, geográfica ou cultural. Por outra banda, refere-se à integração socioeconómica e ambiental intersetorial, nas políticas com impacto territorial a nível intra e interinstitucional. Como foi observado no I Congresso de Urbanismo e Ordenação Territorial do País Basco, realizado em 2008, os PTP foram uma inovação de sucesso para a estratégia de “comarcalização” basca mas com algumas deficiências. Esses planos são ainda muito flexíveis e abertos e, portanto, deixam uma ampla margem de manobra e interpretação para os municípios sem existir ainda um modelo de urbanismo basco compartilhado. Os PTP também não tiveram sempre a necessária participação ou envolvimento dos agentes público-privados, especialmente no que diz respeito aos debates intersectoriais. Finalmente os PTP tambem não incluiam métricas comparáveis como era recomendado na Carta de Leipzig [LEIP07]. CONCLUSÕES A MODO DE RESUMO As cidades do País Basco, como as dos países desenvolvidos, enfrentam o desafio de chegar a ser competitivas em um mundo cada vez mais globalizado garantindo um ambiente mais habitável e equitativo. Cuidar do meio ambiente geralmente envolve a melhoria das condições de vida e de habitabilidade dos espaços e atrai o talento. A coesão social implica uma sociedade mais qualificada e respeitosa com o ambiente urbano, com o que as empresas em uma economia do conhecimento estão mais propensas a implementar o seu negócio na cidade ou investir na área. Vamos ter que cuidar do ambiente construído (edifícios em ruínas, fachadas danificadas, ruas sujas, etc.); o ambiente natural (parques e jardins dentro da área metropolitana, áreas naturais ricas e diversas perto do município, das terras agrícolas, etc); o ambiente económico (diversidade de sectores e empresas, a localização de indústrias em solos compatíveis com a finalidade para a qual se destinam, etc.) e, acima de tudo, o ambiente social, uma vez que o fator humano é o principal motor do desenvolvimento de qualquer sociedade de sucesso.

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Atualmente, o fenômeno participativo com mais interesse, ao meu ver, e o que tem mais hipóteses de sucesso, é o que acontece na internet . A internet é o ágora do nosso tempo. Sem dúvida, este procedimento de debate e colaboração digital pode vir a ser uma verdadeira aceleradora de part icipação cidadã no urbanismo e no governo da polis se é usada com interesses intelectuais genuínos. Embora a perspectiva territorial e ambiental devam ser levadas em conta e as políticas de ordenamento do território e ambientais possam cumprir um papel fundamental em todos os processos de desenvolvimento local sustentável, não são o único fator. O planejamento urbano pode ser considerado estruturante de outras políticas mas deve ser igualmente coordenado com as estratégias económicas, sociais, industriais, de turismo, etc.. . Finalmente, as propostas de [EUSK03] são bem-vindas, mostraram certo sucesso perante a crise da bolha imobiliária espanhola, e devem ser entendidas com as deficiências próprias do momento histórico em que foram feitas; também sem cair em qualquer complacência, porque o horizonte da sustentabilidade urbana está muito longe de ser alcançado.

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[RNE15] La ciudad del Siglo XXI: un reto para el urbanismo. RNE, 2015. http://www.rtve.es/radio/20150115/ciudad-del-siglo-xxi-documentos-rne/1082484.shtml [VALEN09] Valenzuela M., Ciudad y Sostenibilidad el mayor reto del siglo XXI. Lurralde. Inves. espac. 32, p. 404-436. Madrid. 2009. [TON05] Tonucci F. “Fano”. La città dei bambini : un nuovo modo di pensare la città. Ed. Laterza. Bari. Italia. 2005. http://www.lacittadeibambini.org/pubblicazioni/Citta-bambini.pdf [TVE12] Ciudades para el Siglo XXI. TVE, 2012. http://www.rtve.es/alacarta/videos/ciudades-para-el-siglo-xxi/ Vitoria-Gasteiz: http://www.rtve.es/alacarta/videos/ciudades-para-el-siglo-xxi/ciudades-para-siglo-xxi-vitoria-gasteiz-ciudad-para-pasear/1513057/ Bilbao: http://www.rtve.es/alacarta/videos/ciudades-para-el-siglo-xxi/ciudades-para-siglo-xxi-bilbao-ciudad-metales/874600/ Infelizmente a cidade de San Sebastian não tem capítulo na série documental Ciudades para el Siglo XXI. [WIKI] http://es.wikipedia.org/wiki/Sabin_Intxaurraga