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SUSTENTABILIDADE SOCIOAMBIENTAL DA PRODUÇÃO DE FARINHA DE MANDIOCA EM GUARAQUEÇABA PR Rosilene Komarcheski 1 Valdir Frigo Denardin 2 1 Msc. em Meio Ambiente e Desenvolvimento/Professora Substituta/UFPR, [email protected]. 2 Dr. em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade/Professor (DE)/UFPR, [email protected] .

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SUSTENTABILIDADE SOCIOAMBIENTAL DA PRODUÇÃO DE FARINHA DE

MANDIOCA EM GUARAQUEÇABA – PR

Rosilene Komarcheski1

Valdir Frigo Denardin2

1 Msc. em Meio Ambiente e Desenvolvimento/Professora Substituta/UFPR, [email protected].

2 Dr. em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade/Professor (DE)/UFPR, [email protected] .

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RESUMO

A produção de farinha de mandioca em Guaraqueçaba, litoral norte do Paraná, tem

grande importância socioeconômica e cultural para a população local, mas fatores como

o reduzido desenvolvimento socioeconômico regional e, mais recentemente, as

restrições ao uso da terra trazidas com a criação de unidades de conservação na região,

têm gerado impactos à sua reprodução. Tendo em vista o quadro de crise

socioeconômica que vive a população que desenvolve esta atividade, o presente estudo

teve por objetivo investigar a sustentabilidade socioambiental – através das perspectivas

social, econômica e ecológica – da produção de farinha de mandioca de Guaraqueçaba

nas comunidades de Açungui e Potinga. Para tanto, lançou-se mão de pesquisa

bibliográfica sobre o contexto socioeconômico e ambiental local, seguida de uma

pesquisa de campo, onde foram realizadas visitas às comunidades e entrevistas aos

produtores de farinha. A análise proposta deu-se então através da proposta de

Ecodesenvolvimento, uma perspectiva teórica acerca da sustentabilidade. A partir dos

resultados e discussões pôde-se concluir que as famílias de produtores de farinha destas

comunidades inserem-se no quadro de crise socioeconômica vivida pelo município.

Neste cenário, faltam possibilidades e soluções que os mantenham no campo com

garantias de reprodução socioeconômica e a cultura local, arraigada à produção de

farinha, vê-se ameaçada. Contudo, alguns indícios positivos de transformação começam

a despontar como possíveis alternativas de desenvolvimento local, como o potencial

agroecológico e a organização social promovida que se estrutura nas comunidades.

Palavras-chave: Produção de farinha de mandioca. Guaraqueçaba. Sustentabilidade

socioambiental.

1. INTRODUÇÃO

A região do litoral paranaense tem como característica marcante o ambiente

natural bem preservado, encontrando-se este menos impactado do que o restante do

Estado (ANDRIGUETTO FILHO, 2004), apresentando uma extensão continental,

costeira e estuarina que concentra ambientes variados, como a serra do mar, a planície

costeira, ilhas e manguezais. Possui rica biodiversidade florística e faunística, abrigando

considerável número de espécies endêmicas e ameaçadas de extinção. Suas serras

concentram a maior porção de Floresta Atlântica em seu estado primitivo, sendo

considerada a maior extensão contínua de Floresta Ombrófila Densa remanescente no

país (IPARDES, 2001).

Em contraposição à riqueza natural local, o litoral paranaense é marcado por

um contexto onde os modelos tradicionais de desenvolvimento não obtiveram sucesso,

sendo que no contexto socioeconômico da região são características a desigualdade

social e um panorama de pobreza predominante (ESTADES, 2003; LIMA et al., 1998).

Inserida neste contexto, Guaraqueçaba, situada na região norte do litoral paranaense,

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abriga muitas famílias de pequenos produtores rurais e pescadores artesanais. Dentre

estas, um contingente considerável depende economicamente de atividades

agroindustriais familiares, as quais se dão com formas de organização e produção

específicas ao espaço por elas ocupado. Tais características levam o município a ser

considerado um patrimônio cultural importante, abrigando ainda remanescentes da

“cultura tradicional caiçara3” (IPARDES, 1989).

A partir da década de 1980 foram criadas em Guaraqueçaba diversas unidades

de conservação (UCs), com vistas à redução de impactos e à proteção da riqueza natural

local. Entre os municípios do litoral paranaense, Guaraqueçaba é o que possui a maior

extensão territorial (98% do total) destinada à proteção ambiental por UCs

(DENARDIN et al., 2008).

Com 7.871 habitantes, Guaraqueçaba tem a maior parte (5.188) vivendo no

meio rural, sendo que dos seus 2.315 Km² de extensão 66% é considerada área rural

(IBGE, 2010). O município tem como limites territoriais Campina Grande do Sul e

Antonina, a Oeste, e Paranaguá, ao Sul. É composto por diversas comunidades rurais,

que se distribuem por todo o seu território, dentre as quais se encontram as selecionadas

para o estudo: Açungui e Potinga.

Açungui e Potinga localizam-se às margens da PR 405, estrada de principal

acesso das comunidades do município à sede e ao município de Antonina. Estas

comunidades representam expressivamente a produção de farinha no município,

abrigando mais de 30 famílias de pequenos produtores rurais que realizam a produção

de farinha de mandioca, dos quais 19 foram entrevistados na realização desta pesquisa.

A cultura (material e simbólica) do cultivo da raiz e do fabrico da farinha de

mandioca teve início com os povos indígenas, que já desenvolviam a produção antes da

chegada dos colonizadores portugueses em nossa terra. Relatos de Staden (1548-1555) e

Saint-Hilaire (1978) indicam o processo de produção de farinha realizado por

tupiniquins e a posterior exportação do produto pelo Porto de Paranaguá. Remanescente

desta cultura, a produção de farinha de mandioca é realizada historicamente por muitas

famílias em Guaraqueçaba, sendo que foram identificadas 133 unidades de produção de

farinha no litoral do Paraná, das quais 30 situam-se no município (Denardin et al.

2009a).

3 Termo de origem tupi-guarani, população caiçara deriva da miscigenação de povos e culturas entre

indígenas, portugueses e antigos escravos negros que habitaram a região litorânea do Paraná, São Paulo e

sul do Rio de Janeiro (ADAMS, 2000).

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Inseridas no contexto de precário desenvolvimento local, a atividade de

produção de farinha evidencia a necessidade de se repensar as políticas e projetos

executados na região por outra perspectiva de desenvolvimento, que possibilite a

inclusão desta população num processo endógeno de transformação socioeconômica de

modo a considerar a potencialidade da riqueza natural da região. Nesse sentido, adota-

se aqui, para os fins do presente estudo, o conceito de Ecodesenvolvimento,

desenvolvido por Ignacy Sachs, o qual permite o acolhimento de propostas diversas e

específicas de desenvolvimento localizadas, considerando as peculiaridades de cada

região, das populações e dos modos de vida, suas características culturais, sociais,

políticas e ambientais.

O Ecodesenvolvimento, termo cunhado por Maurice Strong, em 1973, teve seu

conceito desenvolvido por Ignacy Sachs, que o define como:

(...) um estilo de desenvolvimento que, em cada ecorregião, insiste na busca

de soluções específicas para seus problemas particulares, levando em conta

não só dados ecológicos, mas também os culturais, bem como as

necessidades imediatas como as de longo prazo. (...) o ecodesenvolvimento

tenta reagir à moda predominante das soluções pretensamente universalistas e

das fórmulas aplicáveis a qualquer situação. (...) confia na capacidade das

sociedades humanas de identificar seus próprios problemas e apresentar

soluções originais para os mesmos (2007, p. 64).

Tendo em vista os pressupostos do Ecodesenvolvimento e o potencial agrícola

e natural da região de Guaraqueçaba, o presente estudo tem como objetivo realizar

reflexões e apontamentos sobre as dimensões social, econômica e ecológica da

sustentabilidade da produção de farinha de mandioca local, de modo a integrar os

objetivos da conservação à reprodução socioeconômica e cultural da população que

desenvolve a atividade. Além do referencial teórico, foram utilizadas para a pesquisa

informações obtidas em bases de dados secundários e em campo, esta última realizada

através de entrevistas a 19 produtores das comunidades de Açungui e Potinga, guiadas

por um questionário semiestruturado, durante o período de dezembro de 2011 a janeiro

de 2012.

2. SUSTENTABILIDADE DA PRODUÇÃO DE FARINHA DE MANDIOCA EM

GUARAQUEÇABA

2.1. Sustentabilidade social

A sustentabilidade social é vista por Sachs (2000, p. 181) “como a criação de

um processo de desenvolvimento que seja sustentado por uma outra lógica de

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crescimento e subsidiado por uma outra visão do que seja uma boa sociedade”. Para o

autor, a sustentabilidade social deve ter como base os valores primordiais de equidade e

democracia, com destaque para o papel a ser desempenhado pelo Estado, bem como da

fundamental participação política efetiva da sociedade civil na reivindicação e

(re)apropriação de seus direitos (ibidem).

A organização dos agricultores em torno da produção de farinha reflete uma

série de elementos representantes da tradição local. O plantio e a colheita da raiz foram

historicamente envoltos em mutirões e festividades entre as famílias, o que originou

inclusive a tradição do fandango – suas músicas, danças e instrumentos musicais. Os

encontros entre produtores lhes permite dialogar com maior frequência, trocando

informações e saberes sobre a atividade produtiva, se configurando como um espaço de

sociabilidade e trabalho coletivo. Assim, a atividade representa a manutenção do saber e

de uma cultura local, que se expressam na arte de fazer farinha.

A memória material da cultura da farinha de mandioca encontra-se viva nos

artefatos utilizados nas etapas de manufatura do produto4, que, ao longo do tempo, se

transformou em ícone da cultura local no litoral do Paraná. Cada etapa do processo

inclui manejo e artefatos que são passados de geração para geração. (DENARDIN et al.,

2009). Já a prática de mutirões e o tradicional fandango caiçara que os acompanhava,

apesar de bem conhecidos pelos produtores, já não existem mais nas comunidades

visitadas.

A faixa etária média dos entrevistados é de 59 anos de idade, sendo que 12

possuem mais de 60 anos e apenas 3 têm entre 34 e 45 anos. Todos os produtores e seus

cônjuges nasceram em Guaraqueçaba, sendo a maioria na mesma comunidade em que

reside até hoje. O tempo de permanência de uma família na mesma região desencadeia

fortes laços afetivos e vínculos com o local.

As duas comunidades possuem farinheiras comunitárias, implantadas por uma

política do governo Paraná, em 2000, as quais estão sendo restauradas com o apoio do

Programa de Extensão Universitária da UFPR “Farinheiras no Litoral”. A farinheira de

Açungui, após restauração, tem sido utilizada com sucesso, já a de Potinga encontra-se

em processo de restauração.

Dos produtores 16 possuem suas próprias farinheiras, sendo que os demais

utilizam exclusivamente as farinheiras comunitárias, e todos são proprietários das áreas

4A produção de farinha de mandioca segue as seguintes etapas: 1 – plantio da raiz; 2 – colheita; 3 –

descascamento; 4 – ralação; 5 – prensagem; 6 – esfarelamento; 7 – torração; e 8 – embalagem.

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em que vivem e trabalham. Porém, a falta de regularização fundiária das terras é

recorrente entre os produtores locais, o que implica em problemas para a obtenção de

incentivos à realização de atividades rurais pela ausência de documentação legal.

Nas comunidades o acesso à água é improvisado pela própria população, sendo

inexistente a ação pública nesse sentido. E o acesso à madeira, para uso combustível nos

fornos que torram a farinha e reformas de residências e farinheiras, tem sido

impossibilitado pelas restrições ambientais.

A participação social e política nas comunidades têm sido realizadas somente

através das associações de moradores, especialmente em torno da produção de farinha

nas farinheiras comunitárias. É inexistente a participação em conselhos gestores (como

o da APA de Guaraqueçaba), na prefeitura e na câmara municipal, o que denota uma

fraqueza política estrutural nas comunidades.

No município todo o número de postos de saúde, segundo o IBGE (2010), é de

13 unidades, mas para o atendimento da população das duas comunidades têm-se

apenas o Posto de Atendimento Básico de Saúde de Tagaçaba, em comunidade vizinha,

sendo que pacientes em estado grave são levados para atendimento no Hospital da sede

do município – distante cerca de 40 km desta. Com relação à segurança pública nas

comunidades, obtiveram-se apenas informações sobre a atuação da Força Verde, efetivo

da Polícia Militar, não havendo nestas nenhum módulo policial, o que ocorre apenas na

sede do município.

Segundo dados da Secretaria Estadual de Educação (apud IPARDES, 2010), o

município conta com 38 estabelecimentos de ensino e um total de 133 docentes, nos

diversos níveis de escolaridade. Porém, entre estes existe apenas uma creche e uma pré-

escola, situadas na sede de Guaraqueçaba. Somado a isso, o município encontra-se com

um índice de desenvolvimento da educação (IDEB) abaixo dos demais municípios do

litoral paranaense, do Estado e até do índice geral nacional (IDEB/INEP/MEC, 2012)5.

A situação se agrava quando se trata da escolaridade nas comunidades estudadas, onde,

nenhum dos entrevistados concluiu o ensino médio da educação básica, 16 não tiveram

estudo algum e 3 concluíram apenas a 4ª série primária, sendo o grau de escolaridade

dos semelhantemente reduzido. Contudo, o quadro muda radicalmente em relação aos

filhos dos produtores, onde a maioria, principalmente aqueles que migraram para os

centros urbanos, concluíram o ensino médio e alguns até curso superior.

5 IDEB Guaraqueçaba: 3.2; Curitiba: 4.1; Paraná: 4.0; Brasil: 3.9.

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Todos os familiares que migraram para o meio urbano são filhos de produtores

que partiram em busca de estudo, trabalho e renda, ainda jovens. Nas 19 famílias foi

identificado um total de 127 indivíduos, dos quais 63 (de 16 famílias) migraram para o

meio urbano nas últimas décadas. Permanecem no meio rural, predominantemente,

pessoas de idade mais avançada, alguns poucos jovens que vêm dando continuidade ao

trabalho agrícola realizado pelos pais, e pessoas que ainda não atingiram a idade adulta.

Sachs indica que a dimensão social da sustentabilidade deve ser suplantada

pela dimensão cultural, para as quais estabelece as seguintes medidas a serem

alcançadas: equilíbrio entre tradição e inovação; acesso equitativo aos recursos naturais;

justo grau de homogeneidade; distribuição equitativa de renda; pleno emprego, com

produção de meios de subsistência; e autonomia, endogeneidade e autoconfiança

(SACHS, 2000).

De modo geral, em relação a todos os itens listados acima, a sustentabilidade

social da produção e farinha nas comunidades apresenta um panorama precário. A

continuidade das tradições e a possibilidade de inovações, por exemplo, encontra-se em

desequilíbrio, pois, de um lado, a tradição do fazer farinha vem se perdendo, enquanto,

de outro, o acesso à inovação é dificultado. O acesso aos recursos naturais, como a

água, a terra e a madeira, imprescindíveis à manutenção dos produtores e seus

familiares no campo também se mostra precário.

Do mesmo modo, o acesso dos produtores aos serviços públicos básicos de

saúde, segurança e educação encontra-se muito aquém dos níveis desejados, sendo que

nestes casos verifica-se a ausência e ineficiência da atuação do poder público no local,

em todas as instâncias de governo. Ainda no campo dos serviços públicos, pode-se

verificar disparidades inter-regionais no que diz respeito à saúde e educação em

Guaraqueçaba e outras regiões do Estado e do país. No caso da educação, nota-se uma

íntima relação entre os índices escolaridade e a migração dos jovens para centros

urbanos, denotando que o município não tem lhes proporcionado os acessos almejados,

especialmente no que diz respeito à educação, trabalho e renda.

A participação social e política também indicam fraquezas entre os produtores

e comunidades, o que os têm causado empecilhos tanto quanto à manutenção da

atividade de produção de farinha local como ao desenvolvimento de possibilidades de

(eco)desenvolvimento local de modo geral. A participação no Conselho Gestor da APA

de Guaraqueçaba, por exemplo, seria um espaço de importante inserção e participação

na gestão das UCs da região. Por outro lado, o associativismo nas comunidades

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visitadas, que tem relação direta com as farinheiras comunitárias, se configura como um

tipo de inovação tecnológica social local, desenvolvida endogenamente, onde os

produtores têm experimentado possibilidades de fortalecimento coletivo da produção de

farinha e meios de manutenção da reprodução socioeconômica local.

O cenário social da produção de farinha de mandioca nas comunidades

estudadas parece inserir-se no contexto geral de precariedade, isolamento e abandono

social do município, apontando para uma distribuição desigual de bens, serviços e

acessos, seja em nível local (desigualdades entre comunidades rurais e sede municipal -

urbana), regional ou nacional.

2.2. Sustentabilidade econômica

Além dos impactos de ordem distributiva, a racionalidade econômica vigente é

responsável pelo progressivo processo de degradação ambiental, acompanhado de uma

distribuição social desigual dos custos ecológicos. Nesse sentido, Sachs (1986, p. 181)

indica que a sustentabilidade econômica “deve ser viabilizada mediante a alocação e o

gerenciamento mais eficiente dos recursos e de um fluxo constante de investimentos

públicos e privados”. A sustentabilidade econômica implica na eficiência de seus

sistemas econômicos (instituições, políticas e regras de funcionamento), para assegurar

continuamente melhorias sociais de modo equitativo, quantitativa e qualitativamente

(ibidem).

Para o autor, a efetivação da sustentabilidade econômica exige a realização de

ações concretas tanto na dimensão econômica, quanto na política (regional, nacional e

internacional), para as quais estabelece as seguintes medidas a serem alcançadas:

desenvolvimento econômico intersetorial equilibrado; segurança alimentar; capacidade

de modernização do aparato produtivo; implementação de um projeto nacional, pelo

Estado, em parceria com todos os atores; efetividade do sistema das Nações Unidas; e

controle institucional efetivo das mudanças negativas do meio ambiente e proteção

cultural (SACHS, 2000).

Dotado de características indiscutivelmente rurais, Guaraqueçaba tem sua

produção agrícola baseada no cultivo de banana, mandioca, arroz e palmito, onde a

produção de mandioca ocupa lugar de destaque. Dos 527 estabelecimentos agrícolas

recenseadas (IBGE, 2010), existem 171 unidades de produção de mandioca no

município. Andriguetto Filho (2002) verificou que o modelo de agricultura

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desenvolvido em Guaraqueçaba é basicamente tradicional, com baixo nível tecnológico,

baixa diversidade e baixa inserção no mercado.

Os indicadores socioeconômicos do município encontram-se muito abaixo da

média do Estado, como o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), por exemplo,

situa o município na posição 396 entre os 399 municípios do Paraná (IBGE, 2010).

Outro indicador que se destaca é o Produto Interno Bruto (PIB) do município, que se

configura como o 5º menor PIB do Paraná, puxando para abaixo o PIB do Estado e

situando-se muito abaixo do PIB nacional (ibidem).

Dentre os entrevistados, 16 haviam produziram farinha de mandioca no

período de realização da pesquisa. A média anual da produção destes foi de 3.400

Kg/produtor, o que rendeu um lucro médio anual de R$ 3.500,00/produtor, ou seja, em

torno de R$ 289,00 ao mês. A renda obtida com a comercialização de farinha produzida

representa, em média, 30% do total da renda mensal das famílias, indicando que ela atua

como complemento essencial à economia das famílias locais.

Outras atividades rurais que complementam a renda das famílias são realizadas

pelos produtores, como: produção de banana, de palmeira real, de pupunha e arroz,

principalmente. Depois da farinha de mandioca, a banana é o produto com maior

percentual na composição da renda familiar, seguido da palmeira real. A composição da

renda é complementada em alguns casos com valores recebidos pela realização de

trabalhos externos, mas nenhum dos produtores trabalha como assalariado. O que se

configura como renda fixa mensal nas famílias é o valor recebido por aposentadoria,

sendo que apenas 3 dos produtores não tinham em sua família alguém que recebia o

benefício durante a pesquisa, o que indica a dependência econômica local deste auxílio.

A comercialização da farinha é realizada nas próprias comunidades, na sede do

município e em comércios dos municípios de Antonina e Paranaguá. A demanda pelo

produto é abundante na região, porém os produtores têm problemas de comercialização

por falta de transporte e licença sanitária do produto. O transporte de farinha até os

centros de comercialização é realizado predominantemente através do pagamento a

terceiros, sendo que apenas 5 dos entrevistados possuem veículo automotor e outros 4

deixaram de comercializar fora das comunidades por falta de transporte. Outro

empecilho que segue consequente do anterior é o fato de o custo do transporte encarecer

o valor do produto final, implicando na redução da competitividade do produto local

com o de outros municípios e regiões do estado.

Outro fator que tem implicado na redução da produção de farinha nas

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comunidades é a ausência de licença da Agência Nacional de Vigilância Sanitária

(ANVISA) para o funcionamento das farinheiras, o que se faz necessário para a

comercialização do produto no mercado formal. Contudo, neste campo se abrem

possibilidades, mais uma vez despertadas pelas ações realizadas nas farinheiras

comunitárias, onde a de Açungui conquistou a licença, após reformas e apoio do

Programa “Farinheiras”, e a de Potinga encontra-se em fase de obtenção.

Somado aos problemas anteriores, a produção de farinha nas comunidades não

é maior devido à carência de mão de obra, de maquinários agrícolas e de área disponível

para cultivo, o que tem implicado, para 13 dos entrevistados, na carência de raiz de

mandioca para a produção da farinha.

A comercialização de farinha nas comunidades estudadas apresenta uma série

de dificuldades, o que tem levado muitos produtores a deixar a atividade e a outros

tantos tem implicado na redução da produção. Os fatores que têm ocasionado limitações

à produção de farinha refletem disparidades entre regiões, através da reduzida

competitividade de mercado entre o produto local e a farinha produzida em larga escala

e/ou de acordo com as normas da ANVISA, as quais obtêm maior espaço no mercado

de comercialização litorâneo.

Considerando que o meio rural do município possui valores de empregos

formais inferiores aos do meio urbano, conforme dados do IPARDES (2010)6, a

situação de emprego e renda no campo guaraqueçabano é preocupante. A dependência

econômica da aposentadoria pelas famílias indica para um alerta vermelho para a

população que desenvolve a produção de farinha de mandioca.

Segundo a gama de motivos apontados e as inter-relações entre eles, a

produção de farinha por si só não tem garantido a sustentabilidade econômica das

famílias que desenvolvem esta atividade. Porém, é nítido que isso não se dá

exclusivamente por conta da dinâmica econômica interna local, tampouco é devido à

falta de interesse dos produtores, os quais têm demonstrado certa resistência ao

abandono da atividade. O baixo rendimento econômico gerado pela comercialização de

farinha não é suficiente para a adequação tecnológica dos equipamentos de cultivo

agrícola e das unidades de produção e meios de transporte do produto, fatores que

dependem necessariamente de investimentos dos produtores.

6 O nº total de empregos formais no município é de cerca de 695, dos quais a maior parcela (475) se

concentram em atividades vinculadas à administração pública.

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A partir disso, verificamos que a sustentabilidade econômica da produção de

farinha em Guaraqueçaba está muito aquém da efetivação e depende inerentemente da

efetivação da sustentabilidade social. É necessário pensar projetos de desenvolvimento

para Guaraqueçaba que fujam à lógica perversa de crescimento econômico dos países

desenvolvidos, o que pode ser impulsionado, assim como para a sustentabilidade social,

por inciativas públicas. Desse modo, a produção de farinha local pode vir a ser mais

rentável para os produtores que a desenvolvem ao mesmo tempo em que tenha uma

relação não conflituosa com os recursos naturais locais.

2.3. Sustentabilidade ecológica

Para Sachs (2007), a sustentabilidade ecológica aparece como a preservação

dos recursos em si, mas deve ser suplantada pela sustentabilidade ambiental, que diz

respeito à resiliência dos ecossistemas, e pela territorial, que representa a avaliação da

distribuição espacial das atividades humanas e das configurações rurais-urbanas.

Para a sustentabilidade ecológica, assim posta, o autor indica as seguintes

medidas: preservação do potencial do capital natural para produção de recursos

renováveis; limitação do uso de recursos não renováveis; respeito à capacidade de

suporte dos ecossistemas; equilíbrio da configuração rural-urbana; superação de

disparidades inter-regionais; e estratégias sadias para áreas frágeis ecologicamente

(SACHS, 2000).

A produção de raiz de mandioca nas comunidades estudadas é realizada em

pequena escala, em média são utilizados 2,5 alqueires para cultivo de áreas totais das

propriedades com média de 8 alqueires por produtor. O cultivo é realizado em áreas

baixas, respeitando as restrições das UCs e mantendo preservadas as áreas de

preservação permanente (APPs), sem o uso de agrotóxicos. Além disso, a geração de

resíduos provenientes da produção de farinha é reduzida, sendo que os produtores, em

sua maioria, têm os reutilizado nos próprios cultivos agrícolas.

Do processo de agroindustrialização da farinha de mandioca resultam,

basicamente, os seguintes resíduos: cascas da raiz de mandioca, geradas pelo

descascamento; manipueira (ou mandiquera), gerada a partir da prensagem da raiz

ralada; bagaço (ou raspa), gerado a partir do esfarelamento da raiz, após a prensagem.

A manipueira é utilizada pelos produtores em geral com duas finalidades:

como biofertilizante (para enriquecimento de solos); e como bioherbicida (defensivo

agrícola utilizado para o controle de pragas nas plantações). Após ser devidamente

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dosada e diluída, a manipueira é comumente utilizada em cultivos de banana para

eliminação de pragas que afetam as produções. A raspa é utilizada na alimentação

animal, especialmente de galinhas. E a casca é geralmente triturada e retorna aos solos

de cultivo da raiz como fertilizante natural.

Desse modo, tendo em vista a riqueza natural e a proteção ambiental da região,

a produção de farinha de mandioca em Guaraqueçaba tem caminhado para uma

adaptação do sistema produtivo – desde o plantio da raiz até o processamento da farinha

em si, demonstrando o cumprimento da legislação ambiental e demonstrando indícios

de uma vocação agroecológica dos cultivos agrícolas e agroindustrialização local.

Contudo, estas iniciativas “ambientalmente corretas” têm sido tomadas pelos produtores

sem orientações adequadas, ocorrendo especialmente em função das penalidades

(multas e prisões) já sofridas e visualizadas pelos produtores.

Contudo, a criação das UCs na região, que, por um lado propiciaram a

recuperação e proteção de áreas naturais, tem implicado na redução drástica do tamanho

das áreas disponíveis para cultivo agrícola. Somado a isso, a antiga prática de pousio7,

comumente realizada, tornou-se inviável.

Tanto em relação à densidade demográfica quanto ao grau de urbanização o

município apresenta um número muito inferior com relação tanto à média nacional

quanto à do Estado do Paraná8 (IBGE, 2010). Assim, o município se configura

atualmente como a região mais bem preservada do Paraná, pouco urbanizada e pouco

industrializada, o que favorece ao cumprimento dos objetivos da conservação da

natureza.

A proteção de áreas naturais traz inúmeros benefícios à vida na Terra em todas

as suas formas e a existência de áreas verdes é necessária para a manutenção da

qualidade de vida da sociedade humana como um todo. Por outro lado, reduzindo a

escala de observação a regiões como Guaraqueçaba, vemos que a proteção legal de

florestas, além de proporcionar inúmeros benefícios, traz consigo algumas limitações à

reprodução socioeconômica e cultural das comunidades de produtores de farinha

estudadas.

De um modo ou de outro, a proteção ambiental também explicita a necessidade

de contemplar-se a reprodução socioeconômica e cultural das populações tradicionais e

7 Pousio: prática que prevê a interrupção de atividades ou usos agrícolas, pecuários ou silviculturais do

solo por até 10 (dez) anos para possibilitar a recuperação de sua fertilidade (Art. 3º, LEI 11.428, 2006). 8 Densidade demográfica do Parana:52 hab/Km²; do Brasil: 22 hab/Km²; de Guaraqueçaba: 3,9 hab/Km².

Grau de urbanização do Paraná: 85%; do Brasil: 83%; de Guaraqueçaba: 34%.

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de pequenos produtores rurais que habitam estes espaços. A legislação ambiental

brasileira aponta algumas exceções ao trato destas populações no que diz respeito ao

uso da terra e demais recursos naturais9, o que não se mostra viabilizado nas

comunidades estudadas.

A pequena produção de raiz de mandioca realizada em Guaraqueçaba se

contrapõe à agricultura modernizada, que utiliza grande carga de insumos tóxicos

prejudiciais tanto à natureza quanto à saúde humana e que sustenta, ainda que

indiretamente, a desigualdade social em grande medida. Nesse sentido, “abre-se um

debate não só pela injustiça distributiva do sistema econômico, mas pela distribuição

ecológica, entendida como a repartição desigual dos custos e potenciais ecológicos”

(LEFF, 2001, p. 36).

As políticas de conservação da natureza executadas em Guaraqueçaba seguem

os moldes do modelo de desenvolvimento sustentável indicado no Relatório Nosso

Futuro Comum. Assim, as UCs criadas na região não servem apenas para a proteção de

recursos naturais para a população local, mas se configura como um bem comum da

humanidade, que deve ser preservado para as presentes e futuras gerações (CNUMAD,

1991). Desse modo, ocorre em Guaraqueçaba o que Teixeira (2005) intitula de

“naturalização do social”, onde a dimensão social do desenvolvimento (sustentável ou

não) é suplantada pela dimensão ecológica estrita. Ou seja, prioriza-se a conservação da

natureza (em âmbito global) em detrimento da reprodução socioeconômica e cultural da

população local.

Sachs defende que o Brasil deve insistir no desenvolvimento de seu meio rural,

apontando para a possibilidade de um desenvolvimento endógeno, a partir de “dentro”.

Segundo ele, “(...) o desenvolvimento das zonas rurais é essencial para a dinamização

do mercado interno e (...) este deve representar um papel determinante numa estratégia

de desenvolvimento a longo prazo (...)” (2007, p. 398). Desse modo, a produção de

farinha na região pode contribuir para um redimensionamento do “modelo de

desenvolvimento”, através de um projeto de desenvolvimento endógeno (ibidem, 2007).

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A dimensão ecológica da sustentabilidade tem implicado visivelmente em

limitações ao desenvolvimento da atividade agrícola guaraqueçabana e,

9 SNUC (ART. 5º, LEI 9.985, 2000); Código Florestal (ART. 37º, LEI Nº 4.771, 1965); e Lei da Mata

Atlântica (ART. 9º e 26º, LEI 11.428, 2006).

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consequentemente, à produção de farinha de mandioca local. Ao limitar a realização de

tais atividades, inevitavelmente, a dimensão ecológica impõe limites à dimensão

econômica da produção de farinha, pois, com dificuldades de produzir, os produtores

sofrem dificuldades na obtenção de renda da família. Assim, uma ação com fins globais

da sociedade, como é a proteção ambiental, reflete em limitações econômicas à

população que desenvolve a produção de farinha em Guaraqueçaba.

Por um lado positivo, além do valor ambiental para a sociedade local e global, a

dimensão ecológica trouxe um benefício para a população de Guaraqueçaba, que se

reflete inclusive em outras dimensões. Quando as políticas de conservação passaram a

efetivar-se na região, especialmente a partir da década de 1980, atividades voltadas à

exploração intensiva dos recursos naturais locais encontraram fortes restrições. Assim,

muitos dos produtores de farinha têm hoje certa autonomia para o desenvolvimento de

suas atividades, de modo independente das ações dos antigos latifúndios que

predominaram no local.

Como possibilidades de realização de benefícios econômicos para os

produtores de farinha, a partir da dimensão ecológica, desponta a inovação (ou

reinvenção) técnica dos cultivos gerais e da produção de farinha. No cenário de

conservação da natureza local figuram como possibilidades econômicas os cultivos

agroflorestais e orgânicos. A produção de farinha de mandioca pode tanto ser inserida

quanto ser realizada de modo integrado a outras potenciais atividades, o que implicaria

ainda em maior grau de segurança econômica local, visto que, caso uma atividade não

tenha rentabilidade para o produtor em determinado período de tempo, há outras que o

permitam ter.

Por outro lado, o fato de Guaraqueçaba contemplar uma imensa e rica área

protegida leva, direta ou indiretamente, a garantir também a possibilidade da

manutenção de certas características da dinâmica social e tradição cultural da região.

Por esse ângulo, a proteção ambiental pode sim se configurar como parte integrante de

um projeto de ecodesenvolvimento local para Guaraqueçaba. Para tanto, se faz

necessário possibilitar aos produtores e seus familiares condições mínimas de

manutenção da reprodução sociocultural aliadas a uma participação mais efetiva nos

processos de gestão locais, que lhes permitam tomar parte de decisões de gestão do

território bem como lhes conceda autonomia quanto a suas próprias atividades, de modo

integrado aos fins da conservação. Nesse sentido, cabe destacar a importância das ações

do Estado para a promoção do fortalecimento e gestão locais, via políticas públicas

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coerentes e eficientes neste contexto particular.

Desde que devidamente planejado, estimulado e articulado socialmente, os

projetos de conservação em Guaraqueçaba, pela perspectiva do Ecodesenvolvimento,

podem impulsionar o desenvolvimento territorial local de maneira alternativa aos

projetos hegemônicos tradicionais. Nesse sentido, a dimensão ecológica pode ser a mola

propulsora de tais projetos, considerando o potencial natural e agrícola locais.

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