sustentabilidade organizacional e suas relaÇÕes … · como demonstrado nos estudos de jabbour e...

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MAYARA FRANCIELLE GONÇALVES SUSTENTABILIDADE ORGANIZACIONAL E SUAS RELAÇÕES COM A GESTÃO ESTRATÉGICA DE PESSOAS: UM ESTUDO DE CASO EM UMA COOPERATIVA AGROINDUSTRIAL

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MAYARA FRANCIELLE GONÇALVES

SUSTENTABILIDADE ORGANIZACIONAL E SUAS RELAÇÕES COM A GESTÃO ESTRATÉGICA DE PESSOAS:

UM ESTUDO DE CASO EM UMA COOPERATIVA AGROINDUSTRIAL

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Londrina 2016

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MAYARA FRANCIELLE GONÇALVES

SUSTENTABILIDADE ORGANIZACIONAL E SUAS RELAÇÕES COM A GESTÃO ESTRATÉGICA DE PESSOAS:

UM ESTUDO DE CASO EM UMA COOPERATIVA AGROINDUSTRIAL

Dissertação apresentada ao Programa de

Pós-graduação - Mestrado em Gestão e

Sustentabilidade - da Universidade Estadual

de Londrina, como requisito para obtenção do

título de Mestre em Administração.

Orientador: Prof. Dr. Silvio Roberto Stefano

Coorientadora: Profa. Dra. Thaís Accioly

Baccaro

Londrina 2016

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Ficha de identificação da obra elaborada pelo autor, através do Programa de

Geração Automática do Sistema de Bibliotecas da UEL

Gonçalves, Mayara Francielle.

Sustentabilidade organizacional e suas relações com a gestão estratégica de

pessoas: um estudo de caso em uma cooperativa agroindustrial / Mayara Francielle

Gonçalves. - Londrina, 2016.

163 f. : il.

Orientador: Silvio Roberto Stefano.

Coorientador: Thaís Accioly Baccaro.

Dissertação (Mestrado em Administração) - Universidade Estadual de Londrina,

Centro de Estudos Sociais Aplicados, Programa de Pós-Graduação em Administração,

2016.

Inclui bibliografia.

1. Gestão de Pessoas - Tese. 2. Sustentabilidade - Tese. 3. Cooperativas - Tese. I.

Stefano, Silvio Roberto. II. Baccaro, Thaís Accioly. III. Universidade Estadual de Londrina.

Centro de Estudos Sociais Aplicados. Programa de Pós-Graduação em Administração. IV.

Título.

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MAYARA FRANCIELLE GONÇALVES

SUSTENTABILIDADE ORGANIZACIONAL E SUAS RELAÇÕES COM A GESTÃO ESTRATÉGICA DE PESSOAS:

UM ESTUDO DE CASO EM UMA COOPERATIVA AGROINDUSTRIAL

Dissertação apresentada ao Programa de

Pós-graduação - Mestrado em Gestão e

Sustentabilidade - da Universidade Estadual

de Londrina, como requisito para obtenção do

título de Mestre em Administração.

BANCA EXAMINADORA

____________________________________

Prof. Dr. Silvio Roberto Stefano

UNICENTRO - Guarapuava - PR

____________________________________

Prof.ª Dr.ª Thaís Accioly Baccaro UEL – Londrina - PR

____________________________________

Prof.º Dr. Márcio Pascoal Cassandre UEM - Maringá - PR

Londrina, 31 de Outubro de 2016.

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AGRADECIMENTOS

Tenho que dizer que sou muito grata a Deus por ter me proporcionado momentos tão

ricos durante esses últimos três anos. Momentos estes, que muitas vezes foram

estressantes ou difíceis, mas também necessários para aprender mais sobre a vida,

as pessoas, o mundo e sobre mim. A experiência do mestrado certamente contribuiu

para o meu desenvolvimento, me guiando por um caminho de reflexão e

conhecimento, muitas vezes cheios de discussões acadêmicas enriquecedoras,

calorosas e polêmicas.

No final, posso afirmar que saio disso tudo mais resiliente, crítica e pronta para o

próximo desafio. E isso, graças a tantas pessoas que contribuíram para esse caminho.

Portanto, agradeço ao meu orientador, Prof. Silvio, e coorientadora, Prof. ª Thaís, por

confiarem em mim e me proporcionarem escrever essa pesquisa em um curto tempo,

mas sem pressão e cobranças. Contexto que me deixou confortável para total

dedicação ao trabalho e para buscar desenvolver o melhor de mim nele. Agradeço à

Cooperativa e aos profissionais entrevistados, que me ajudaram no encaminhamento

da pesquisa de campo sempre com muita simpatia. Obrigada pela parceria na

construção dos resultados deste estudo.

Agradeço aos meus pais, Sônia e Eli, por todo o suporte, seja ele financeiro, emocional

ou um simples “apoio silencioso” nos momentos necessários. Desculpem pelas

ausências constantes e obrigada por todos os seus sábios conselhos. Ao meu

namorado Rafael, amigo de longa data, obrigada pelo incentivo, compreensão e

companheirismo durante esse período e por me mostrar que uma fase ruim pode ser

mais leve e agradável quando se passa a dois. Ao meu grande amigo Nathan, à minha

prima/irmã Aninha e à minha querida tia Neuzeli, que compartilharam comigo

conversas com muitas risadas, filosofias e desabafos. Enfim, Professores, pais, Rafael

e amigos, vocês tornaram todo esse processo mais suportável e com certeza me

ajudaram muito mais do que imaginam. Obrigada por tudo, é por vocês que hoje tenho

essa conquista!

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GONÇALVES, Mayara Francielle. Sustentabilidade organizacional e suas relações com a gestão estratégica de pessoas: um estudo de caso em uma cooperativa agroindustrial. 2016. 163 folhas. Dissertação (Mestrado em Administração) – Programa de Pós-graduação em Administração, Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2016.

RESUMO

Num contexto de demanda por sustentabilidade como o atual, as organizações são constantemente pressionadas por soluções e estratégias que englobem os pilares econômicos, sociais e ambientais. Como demonstrado nos estudos de Jabbour e Santos (2008) e Albuquerque (2002) essas soluções devem apresentar uma mudança significativa nas percepções, prioridades, pensamentos e valores dos indivíduos. Sendo as pessoas e as organizações, agentes centrais na busca pela sustentabilidade, esta pesquisa tem por objetivo compreender como os níveis de sustentabilidade organizacional se relacionam com as práticas de gestão estratégica de pessoas. O modelo teórico escolhido para dar suporte ao instrumento de pesquisa e análise dos resultados foi fundamentado nos trabalhos de Albuquerque (2002) e Van Marrewijk e Werre (2003) que abordam, respectivamente, as práticas de gestão estratégica de pessoas e os níveis de sustentabilidade organizacional. Já os procedimentos metodológicos envolveram um estudo de caso em profundidade em uma cooperativa agroindustrial. Para isso, foram realizadas entrevistas semiestruturadas com profissionais das áreas de sustentabilidade e gestão de pessoas, juntamente com a análise documental dos relatórios de atividades dos últimos dois anos, procedimentos e manuais da cooperativa. A pesquisa em questão mostra-se relevante, pois além de haver poucos estudos que buscam compreender as relações entre os níveis de sustentabilidade organizacional com as práticas de gestão de pessoas, identificou-se a necessidade de verificar se as práticas de gestão de pessoas interferem no nível de sustentabilidade propagado pela organização e se ela pode ser uma facilitadora para que o objetivo estratégico seja alcançado. Diante disso, obteve-se como resultado que o alinhamento estratégico de gestão de pessoas com os objetivos sustentáveis da cooperativa são proporcionais aos níveis de sustentabilidade apresentados. Com isso, pode-se concluir que caso a organização apresente baixos níveis de sustentabilidade, é provável que haja um baixo alinhamento da gestão estratégica de pessoas, revelando que a área interfere nos níveis de sustentabilidade e detém de certa influência para que os objetivos estratégicos da organização sejam atingidos. Palavras-chave: Gestão de Pessoas. Sustentabilidade. Cooperativas.

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GONÇALVES, Mayara Francielle. Organizational sustainability and strategic people management: a case study in an agroindustrial cooperative. 2016. 163 pages. Dissertação (Mestrado em Administração) – Programa de Pós-graduação em Administração, Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2016.

ABSTRACT

In a demand for sustainability context like the present, organizations are constantly

pressed for solutions and strategies covering the economic, social and environmental

pillars. As demonstrated in studies like Jabbour and Santos (2008) and Albuquerque

(2002) these solutions must provide a significant change in perceptions, priorities,

thoughts and values of individuals. As people and organizations are central actors in

the quest for sustainability, this research aims to understand how organizational

sustainability levels relate to the strategic management practices of people. The

theoretical model chosen to support the research instrument and analysis of the results

was based on the work of Albuquerque (2002) and Van Marrewijk and Werre (2003)

which deal, respectively, the strategic people management practices and

organizational sustainability levels. The methodological procedures involve a case

study in depth in an agro-industrial cooperative. For this, it will be carried out semi-

structured interviews with sustainability and peoples management professionals, along

with documentary analysis of the last two years activity reports, procedures and

cooperative manuals. The research in question is shown to be relevant, as well as

there are few studies that seek to understand the relationships between organizational

sustainability levels with people management practices, we identified the need to

check if people management practices interfere in the level of sustainability propagated

by the organization and if it can be a facilitator for the strategic objective is achieved.

Thus, we obtained the result that the strategic alignment of people management with

the cooperative sustainable objectives are presented in proportion to sustainable

levels. So, it can be concluded that if the organization presents low levels of

sustainability, is likely to be a low alignment of strategic people management too,

revealing that this area interferes with the levels of sustainability and has a certain

influence if the strategic objectives of organization are going to be achieved.

Keywords: People Management. Sustainability. Cooperative.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Representação da estrutura da pesquisa ..............................................20

Figura 2 – Correntes do Desenvolvimento Sustentável e da Sustentabilidade ......27

Figura 3 – As abordagens dos sistemas e modelos de Gestão de Pessoas ..........48

Figura 4 – Arquitetura estratégica de Gestão de Pessoas .....................................50

Figura 5 – Modelo de Gestão Estratégica de Pessoas ...........................................58

Figura 6 – Emblema do movimento cooperativista .................................................82

Figura 7 – Evolução da quantidade de leite cru adquirido pelos laticínios - Brasil -

trimestres 2011- 2016 .............................................................................................94

Figura 8 – Ranking e variação anual da quantidade de leite cru adquirido pelos

laticínios - Unidades da Federação – 2º trimestres de 2015 e 2016 .......................96

Figura 9 – Pessoal Ocupado Assalariado – Brasil – Índice Trimestral – 2014-2015

................................................................................................................................98

Figura 10 – Taxas de Admissão, de Desligamento, de Realocação e de Rotatividade

nas atividades industriais – Brasil Dezembro/2015 .................................................99

Figura 11 – Organograma da Cooperativa .............................................................102

Figura 12 – Vendas realizadas por produtos ..........................................................103

Figura 13 – Faturamento da Cooperativa – em milhares de reais ..........................104

Figura 14 – Quantidade de material reciclado (em Kg) ..........................................111

Figura 15 – Receita obtida a partir da venda dos reciclados ..................................112

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Levantamento bibliográfico sobre Sustentabilidade e GP ...................21

Quadro 2 – Objetivos e resultados das principais conferências mundiais ..............24

Quadro 3 – Arquétipos da Sustentabilidade ...........................................................28

Quadro 4 – Motivações, desafios e oportunidades da SO .....................................34

Quadro 5 – Níveis da Sustentabilidade Organizacional .........................................39

Quadro 6 – Níveis da Sustentabilidade Social e Ambiental nas organizações .......42

Quadro 7 – Perfil dos entrevistados .......................................................................71

Quadro 8 – Documentos analisados na pesquisa ..................................................72

Quadro 9 – Definições Operacionais dos conceitos centrais da pesquisa .............76

Quadro 10 – Síntese da estratégia da pesquisa.....................................................77

Quadro 11 – Princípios do cooperativismo .............................................................80

Quadro 12 – Panorama geral do cooperativismo brasileiro (31.12.2015) ..............84

Quadro 13 – Estrutura comum às cooperativas .....................................................85

Quadro 14 – Direitos e deveres do cooperado .......................................................88

Quadro 15 – Diferenças entre as cooperativas e as empresas ..............................89

Quadro 16 – Principais práticas de Sustentabilidade Organizacional da Cooperativa

................................................................................................................................105

Quadro 17 – Custo do transporte e descarte dos resíduos sólidos ........................116

Quadro 18 – Principais práticas de Gestão de Pessoas da Cooperativa ...............120

Quadro 19 – Níveis da Sustentabilidade Organizacional presentes na Cooperativa

................................................................................................................................140

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ACI – Aliança Cooperativa Internacional

BSR – Business for Social Responsability

DS – Desenvolvimento Sustentável

GEP – Gestão Estratégica de Pessoas

GP – Gestão de Pessoas

HPWS – High-Performance Work System

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

OCB – Organização das Cooperativas Brasileiras

ONG – Organização não governamental

RH – Recursos Humanos

SBM – Sustainable Business Model

SHRM – Society for Human Resource Management

SO – Sustentabilidade Organizacional

TBL – Triple Bottom Line

WCED – World Commission on Environment and Development

WWF – World Wide Fund for Nature

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 12

1.1 OBJETIVO GERAL E ESPECÍFICOS .......................................................................... 16

1.2 JUSTIFICATIVA .................................................................................................... 17

1.3 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO ............................................................................. 18

2 REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................. 21

2.1 SUSTENTABILIDADE ............................................................................................. 22

2.1.1 Conferências internacionais e correntes teóricas da Sustentabilidade ...... 22

2.1.2 Sustentabilidade Organizacional: motivações, desafios e oportunidades .. 30

2.1.3 Níveis da Sustentabilidade Organizacional ................................................ 35

2.2 GESTÃO DE PESSOAS ......................................................................................... 43

2.2.1 Evolução histórica de Gestão de Pessoas ................................................. 43

2.2.2 Sistemas e Modelos de Gestão de Pessoas ............................................. 47

2.2.3 Gestão Estratégica de Pessoas ................................................................. 53

2.3 INTEGRAÇÃO ENTRE SUSTENTABILIDADE E GESTÃO DE PESSOAS ........................... 59

3 PERCURSO METODOLÓGICO ......................................................................... 66

3.1 CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA .............................................................................. 68

3.2 ESTRATÉGIA DE PESQUISA ................................................................................... 69

3.3 UNIDADE DE ANÁLISE .......................................................................................... 70

3.4 INSTRUMENTOS DE COLETAS DE DADOS ................................................................ 71

3.5 ANÁLISE DOS DADOS ........................................................................................... 74

3.6 DEFINIÇÕES OPERACIONAIS ................................................................................ 76

4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS ....................................... 78

4.1 O MOVIMENTO COOPERATIVISTA ........................................................................... 78

4.2 CONTEXTO DO MERCADO AGROINDUSTRIAL NO BRASIL .......................................... 91

4.3 A COOPERATIVA ............................................................................................... 100

4.4 SUSTENTABILIDADE E A COOPERATIVA ................................................................ 105

4.5 GESTÃO DE PESSOAS E A COOPERATIVA ............................................................ 119

4.6 AS RELAÇÕES ENTRE A SUSTENTABILIDADE ORGANIZACIONAL E A GESTÃO

ESTRATÉGICA DE PESSOAS ...................................................................................... 132

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 145

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REFERÊNCIAS .......................................................................................................150

APÊNDICE “A” - TECLE ........................................................................................159

APÊNDICE “B” – ROTEIRO PARA ENTREVISTAS .............................................161

APÊNDICE “C” – ROTEIRO DE OBSERVAÇÃO DO DIÁRIO DE CAMPO ..........163

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1 INTRODUÇÃO

O cenário no qual estamos inseridos apresenta uma série de fatores

que nos permitem diagnosticar a necessidade de rever algumas práticas quanto ao

nosso modo de viver, produzir e consumir. Há um constante dilema entre a

continuidade do pensamento capitalista dominante e os questionamentos sociais e

ambientais em relação ao futuro da sociedade, o papel das organizações e dos

indivíduos. Esses fatores vêm impulsionando as discussões e o movimento frente a

um conceito contemporâneo que durante os últimos 40 anos vem ganhando

notoriedade e grande relevância, a sustentabilidade.

Derivada do latim, sustentare, que significa a capacidade de apoiar,

sustentar e manter (O’CONNOR, 2012), a sustentabilidade vem sendo problematizada

de diferentes formas nas diversas áreas do conhecimento (VOS, 2007). Autores como

Baroni (1992); Mebratu (1998) e Redclift (2005) mostram em suas pesquisas o quanto

a definição de sustentabilidade varia de escala, contexto, restrições ideológicas e

aplicação. Um dos conceitos mais disseminados nas esferas políticas, organizacionais

e acadêmicas e muitas vezes tratado como sinônimo de sustentabilidade é o

desenvolvimento sustentável (DS).

O DS permitiu que as discussões sobre a sustentabilidade

ocorressem em âmbito internacional envolvendo diferentes stakeholders. Foi em 1987

que o Relatório Brundtland também conhecido como Our Common Future, oriundo da

Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (WCED), apresentou o

que é hoje o mainstream do termo, conhecido como o desenvolvimento que satisfaz

as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras

de satisfazerem as suas próprias necessidades (WCED, 1987).

Apesar de se apresentar como referência à sustentabilidade, o DS é

um conceito que sofreu várias críticas na academia. Autores como Seghezzo (2009);

Hopwood, Mellor e Geoff O’Brien (2005); Dovers (1996) e Baroni (1992) afirmam que

a ambiguidade, inconsistência e contradições presentes na definição permite que

empresas e governos estejam, aparentemente, em prol da sustentabilidade, mas

muitas vezes sem apresentar qualquer desafio fundamental para o seu curso atual.

Nesse sentido, podemos perceber que o conceito de DS mostra-se como um modelo

de desenvolvimento que muitas vezes prioriza a âmbito econômico em detrimento do

social e ambiental.

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Outra conceituação de DS que demonstra grande influência sobre as

questões que envolvem a sustentabilidade é a de Meadows, Meadows e Randers

(1992), que definem o termo como uma estratégia de desenvolvimento que resulta na

melhoria da qualidade de vida humana e na minimização simultânea dos impactos

ambientais negativos. Com isso, os autores sugerem uma gestão integrada e holística

dos aspectos do desenvolvimento social, crescimento econômico e proteção

ambiental. Essa iniciativa demonstra o início da integração dos pilares ambientais,

sociais e econômicos às estratégias de gestão, que surgiram com mais força a partir

da proposta do Triple Bottom Line – TBL elaborada por John Elkington (1999).

Grande influenciador da sustentabilidade em contexto organizacional,

Elkington (1999; 2004) considera que a sustentabilidade é o fundamento que assegura

que as ações de hoje não limitarão as opções econômicas, sociais e ambientais para

as futuras gerações e entende que as organizações são os grandes gatilhos à

sustentabilidade, de forma que seus desempenhos devem ser embasados,

simultaneamente, nos três pilares. Berkemeyer et al (2011); Van Marrewijk (2003) e

Van Marrewijk e Werre (2003) corroboram com essa afirmação ao postular que as

organizações privadas serão as grandes responsáveis por desencadear o processo

de implementação e ressonância para todos os níveis da sociedade dos conceitos e

valores sustentáveis. Segundo os autores, isso aconteceria pois elas, na atualidade,

têm maior capacidade para influenciar seus stakeholders por meio de seus vastos

recursos monetários e políticos.

No entanto, da mesma forma como as organizações impactam a

sociedade, elas também são altamente vulneráveis às pressões externas. Tendências

incluindo o crescimento das organizações não-governamentais, cooperativas e

movimentos tais como o Occupy Wall Street sugerem que o público já não está mais

satisfeito com as empresas que se concentram unicamente na maximização de lucros

a curto prazo. As pessoas querem corporações que consideram as amplas

necessidades humanas (ELKINGTON, 1999; ECLES; SERAFEIM, 2012).

Devido a isso, há cada vez mais organizações que se revelam

minimamente conscientes dos impactos dos seus negócios nas esferas sociais e

ambientais e, com isso, avançam na definição de estratégias rumo à sustentabilidade,

pois pensam que isso será essencial para a sua sobrevivência em razão da alta

competitividade e para o reconhecimento sobre o caminho adotado gerando bons

efeitos globais (EWEJE, 2011). Essas organizações muitas vezes ocupam o espaço

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de liderança no mercado e não subestimam o potencial de transformar a

sustentabilidade em uma vantagem competitiva.

Porém, uma análise mais profunda sobre a postura dessas

organizações nos permite concluir que a maior parte dessas empresas tem

desenvolvido seus sistemas de gestão sem integrar os três pilares e, assim, fazem

uso somente de iniciativas pontuais como contabilidade de custos e controle dos

níveis de poluição (ELKINGTON, 2004).

Todavia, isso não é suficiente para o desenvolvimento de uma

organização sustentável, pois conforme destaca Stubbs e Cocklin (2008) a busca pela

sustentabilidade em contexto organizacional precisa garantir a transformação do

modelo neoclássico dominante, e não apenas uma suplementação ou ajustes nas

esferas sociais e ambientais. Além disso, os autores concluiram em suas análises que

para uma organização adotar um modelo de gestão sustentável seria necessário

desenvolver suas capacidades estruturais internas, renovar sua cultura e valores e

repensar suas estratégias de negócios, para assim poder colaborar com o alcance da

sustentabilidade pelos seus stakeholders e por todo o sistema no qual ela opera.

Nessa perspectiva, a implementação de novas estratégias é

fundamental para o sucesso de qualquer organização que almeja ser sustentável. De

acordo com Albuquerque (2002) a estratégia organizacional é o conjunto formado pela

missão, visão e valores, juntamente com os objetivos de longo e curto prazo, políticas,

programas e planos de ação, estabelecidos pelos gestores de acordo com os recursos

disponíveis e com as análises interna e externa da organização.

Segundo Zampier, Stefano e Bernardim (2013) a base para a

formulação da estratégia é o processo de planejamento estratégico. Sendo que esse

envolve, normalmente, decisões de alto impacto e a alocação de grande volume de

recursos na busca do melhor caminho para atingir os objetivos globais da

organização. Além disso, trata-se de um processo e não de um plano, uma vez que

existe uma sequência interativa de etapas que permite à organização refletir, discutir

e definir seus propósitos e suas estratégias fundamentais.

Com isso, é compreendido que a proposta de incorporação da

sustentabilidade organizacional (SO) implica mudanças significativas na gestão, de

forma que essa deve considerar os aspectos econômicos, sociais e ambientais nas

decisões e ações organizacionais. Essas mudanças precisam ser balanceadas de

forma que integre os três pilares e os seus trade-offs. Além disso, a SO deve

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possibilitar o alcance dos objetivos organizacionais em diferentes escalas de espaço

e tempo, mantendo a dinamicidade e harmonia sistêmica em uma perspectiva de

longo prazo (ELKINGTON, 2004; DYLLICK; HOCKERTS, 2002; VAN MARREWIJK;

WERRE, 2003).

Seguindo essa perspectiva, as políticas e práticas de gestão de

pessoas podem ter um importante papel no processo de transformação organizacional

direcionada à sustentabilidade, visto que as mudanças necessárias na estratégia, na

gestão, na cultura e nos valores só terão efetividade e legitimidade a partir do

envolvimento das pessoas. Daí a importância e a necessidade de se repensar a

gestão de pessoas, não apenas como campo de conhecimento específico, mas,

sobretudo, porque gente é o elemento vivo e vitalizador da organização (TEIXEIRA et

al, 2005).

Diante desse desafio, a gestão de pessoas necessita alinhar suas

políticas, práticas e estratégias de forma coerente aos objetivos organizacionais.

Ademais, por considerar a sustentabilidade como uma necessidade do contexto social

que, ultimamente, tem interferido diretamente na estratégia dos negócios, ela

precisaria de alguma maneira, manifestar-se no sistema de gestão de pessoas

também (PIRES, 2011).

Estudos como o de Jabbour e Santos (2008) já revelam que a gestão

de pessoas é parte integrante da sustentabilidade organizacional, pois ela apresenta

muito potencial para incluir os postulados da sustentabilidade no âmbito

organizacional, ela é capaz de exigir um enfoque de longo prazo, ela pode promover

a sustentabilidade organizacional em todos os níveis da organização e é eficaz para

atender as necessidades das várias partes interessadas de uma empresa.

Porém, ainda há poucos estudos que discorram sobre as relações

entre a sustentabilidade e a gestão de pessoas (PIRES, 2011), principalmente no

sentido de identificar se há uma relação entre as práticas de gestão de pessoas e os

níveis de sustentabilidade organizacional adotados na empresa. No intuito de

preencher essa lacuna, a presente dissertação inspira-se nos estudos sobre os níveis

de sustentabilidade organizacional e busca suas relações com as práticas de gestão

estratégica de pessoas. Para isso, coloca-se em pauta a seguinte questão: como são

as relações existentes entre os níveis de sustentabilidade organizacional e as

práticas de gestão estratégica de pessoas?

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Essa pesquisa foi desenvolvida em uma cooperativa agroindustrial.

Escolheu-se uma cooperativa, pois os princípios e valores assumidos pelo movimento

cooperativista trazem um modelo socioeconômico muito próximo dos princípios

sustentáveis, buscando o desenvolvimento econômico ao mesmo tempo em que

almeja o bem-estar social e a proteção ambiental. Os números referentes ao

movimento também têm se mostrado muito relevantes, ao passo em que está

presente em mais de 100 países, gera mais de 100 milhões de empregos e possui

cerca de 1 bilhão de cooperados. No Brasil, a região sul é a terceira maior em número

de cooperativas, ficando atrás das regiões sudeste e nordeste. Somente o Paraná

conta com mais de 1000 cooperativas e apresentou no exercício de 2015 um

faturamento de mais de R$ 56 bilhões de reais. Os dados mostram que, mesmo com

a atual recessão da economia, as cooperativas vêm apresentando significativo

crescimento e desenvolvimento, sendo de 11,8% o aumento do faturamento em

relação ao ano anterior (OCB, 2016).

Além disso, autores como Stefano e Alberton (2015) destacam que as

estratégias das cooperativas agroindustriais que visam à sustentabilidade dos

negócios necessitam identificar e desenvolver a missão, visão, valores e

competências específicas para a sustentabilidade, além de buscar desenvolver as

demais áreas de forma alinhada com os seus objetivos estratégicos. Por isso, o

interesse em pesquisar em uma cooperativa do Paraná se faz coerente com o

problema de pesquisa, dado que será possível compreender se há uma relação entre

as práticas de gestão de pessoas e os níveis de sustentabilidade apresentados e quais

são as influências existentes nessa relação.

1.1 OBJETIVO GERAL E ESPECÍFICOS

O presente estudo tem por objetivo geral compreender como os

níveis de sustentabilidade organizacional se relacionam com as práticas de

gestão estratégica de pessoas em uma cooperativa agroindustrial.

Para alcançar o objetivo geral, coloca-se como objetivos específicos:

a) Descrever as práticas de sustentabilidade organizacional e de

gestão de pessoas da cooperativa agroindustrial;

b) Identificar os níveis de sustentabilidade organizacional existentes

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na cooperativa;

c) Identificar se há alinhamento entre a estratégia da

sustentabilidade com as práticas de gestão de pessoas;

d) Discutir como as práticas de gestão de pessoas auxiliam a

cooperativa a atingir o seu objetivo estratégico em relação à

sustentabilidade.

1.2 JUSTIFICATIVA

Como já abordado na introdução, a integração da sustentabilidade

organizacional com a área de gestão de pessoas é recente na literatura. Segundo

estudos internacionais, o tema é relevante e ainda demanda empenho dos

pesquisadores para a sua consolidação (JABBOUR; SANTOS, 2008; HOLBECHE

2004; PIRES, 2011). Algumas revistas de negócios, como Exame e Você S/A, já

apontam ações realizadas em determinadas organizações brasileiras que

demonstram a integração da sustentabilidade à gestão de pessoas o que, segundo o

levantamento bibliográfico presente no segundo capítulo deste trabalho, ainda não

está validado na pesquisa acadêmica, constatação que incentivou a proposta deste

estudo.

Holbeche (2004) relata que há uma relação direta entre as ações e

práticas da área de gestão de pessoas com o alcance dos objetivos estratégicos

definidos pelas organizações. A autora argumenta que se os processos básicos de

gestão de pessoas não estão alinhados com os objetivos estratégicos, a credibilidade

e a relevância da área podem ser colocadas à prova. Diante disso, assume-se a

importância do estudo estratégico da área, uma vez que essa postura pode apresentar

economia de tempo e recursos, além de agregar valor para a organização, de forma

que ela se aproxime cada vez mais dos pressupostos sustentáveis.

Assim, a discussão integrada dos dois temas, sustentabilidade e

gestão de pessoas, pode contribuir para o enriquecimento de cada uma das linhas

teóricas. Com isso, esta pesquisa realiza uma investigação empírica em uma

cooperativa agroindustrial que apresenta em sua missão e valores princípios da

sustentabilidade. A entidade surgiu em 1982 como uma união das cooperativas

agropecuárias do norte do Paraná, que eram voltadas especialmente para a produção

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de leite. Em 1986, a ideia de tornar-se uma indústria se concretizou, apresentando-

se, atualmente, como a maior indústria processadora de leite em pó e in natura do

Brasil. A cooperativa em questão detém um impacto regional muito relevante, tanto

como uma indústria que tem uma proximidade com as questões ambientais e sociais,

e apresenta estratégias para a minimização dos seus impactos negativos, quanto

como uma marca que tem seus produtos reconhecidos e preferidos na região desde

1996 (SITE DA COOPERATIVA, 2016).

Com essa importante participação no mercado, a cooperativa pode

possibilitar à pesquisa insights importantes sobre o contexto no qual ela se insere,

dado que ela é uma indústria que tem em seus produtos uma dependência direta das

questões ambientais, sendo possível compreender se esse cenário é o que propicia

essa relação mais próxima com a sustentabilidade e como as estratégias e práticas

de gestão de pessoas se posicionam diante desse contexto.

Pesquisas desta natureza não foram constatadas no levantamento

bibliográfico inicial, o que indica a relevância deste trabalho, que poderá possibilitar o

conhecimento e a divulgação de práticas e estratégias de gestão de pessoas do

movimento cooperativista em relação à sustentabilidade. Outra contribuição

pretendida por este estudo está relacionada à ordem prática desta discussão. Espera-

se, por meio desta pesquisa, que as organizações e profissionais da área de gestão

de pessoas e sustentabilidade reconheçam nas iniciativas investigadas exemplos de

atuação e formas de integrar os objetivos estratégicos aos objetivos da área.

1.3 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO

Com o propósito de atender à problemática deste trabalho, a estrutura

da dissertação será dividida em cinco grandes capítulos. O primeiro, é a presente

introdução, que tem como intuito explanar sobre a contextualização do tema, o

problema de pesquisa, os objetivos deste estudo e as possíveis contribuições para a

ciência administrativa e para as organizações.

O segundo capítulo é o referencial teórico, que traz as pesquisas e as

contribuições da literatura envolvendo DS e Sustentabilidade, Gestão de Pessoas e,

por fim, a integração dos dois temas para atender ao objetivo nuclear da pesquisa. Ao

detalhar sobre Sustentabilidade, o capítulo descreve as principais conferências que

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discutem o tema, seus autores, as correntes teóricas emergentes desses eventos,

juntamente com seus objetivos e visão. Em seguida, busca-se trazer os principais

desafios e oportunidades da sustentabilidade em contexto organizacional e a

explicação de dois modelos teóricos que relatam os níveis que a sustentabilidade

pode apresentar na organização, sendo os autores Van Marrewijk e Werre (2003) e

Benn, Dunphy e Griffiths (2006) os principais propositores.

Para compreender a temática de Gestão de Pessoas, o segundo

capítulo visa apresentar a evolução histórica da área e os pressupostos dos sistemas

e modelos de gestão de pessoas. Após, apresenta e discute o papel estratégico da

gestão de pessoas no ambiente dinâmico e competitivo das organizações

contemporâneas, além de refletir sobre as formas pelas quais a área pode contribuir

para implementar estratégias organizacionais que visam a sustentabilidade.

Como último tópico do referencial teórico, busca-se integrar os níveis

da SO com suas possíveis práticas de gestão estratégica de pessoas, debatendo

sobre o papel da área de gestão de pessoas como um vetor de mudança estratégica

e suas contribuições para a sustentabilidade nas organizações, como ocorre a

integração da sustentabilidade na estratégia, políticas e práticas de gestão de pessoas

e também sobre qual é o papel da gestão de pessoas na disseminação de valores

voltados à sustentabilidade. Esses pressupostos teóricos e os modelos presentes na

literatura serviram como base para elaborar o instrumento de coleta de dados e

também para posterior análise dos resultados encontrados na pesquisa empírica.

O terceiro capítulo pretende delimitar os procedimentos

metodológicos do estudo, abordando a posição epistemológica do trabalho, a

classificação da pesquisa como qualitativa, sua estratégia como sendo um estudo de

caso, a unidade de análise compreendendo um gestor e dois analistas de uma

cooperativa agroindustrial da região norte do Paraná, os instrumentos de coleta de

dados que englobam a observação direta com as especificações no diário de campo,

a análise documental e o roteiro semiestruturado das entrevistas e, também, como

será realizada a análise dos dados, sendo a partir da análise de conteúdo.

O quarto capítulo visa apresentar os dados e analisá-los conforme a

literatura descrita anteriormente. Para isso, apresenta-se informações sobre o

movimento cooperativista, o contexto do mercado agroindustrial no Brasil,

principalmente nos últimos dois anos, a cooperativa pesquisada, demonstrando os

seus negócios, produtos, estrutura e objetivos, as práticas de sustentabilidade e de

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gestão de pessoas da cooperativa, explicando sobre a forma de organização das

áreas e suas principais ações, e, por fim, as relações entre a sustentabilidade e a

gestão estratégica de pessoas, complementando os dados com a análise dos níveis

de sustentabilidade encontrados e a influência de gestão de pessoas sobre eles.

Para concluir, o quinto capítulo resume os objetivos do trabalho, o que

foi realizado para alcancá-los e os seus principais resultados, trazendo também as

limitações do estudo e proposições para pesquisas futuras. A figura 1 apresenta, de

forma resumida, a estrutura deste estudo.

Figura 1 – Representação da estrutura da pesquisa.

Fonte: Elaborado pela autora, 2016.

• CONTEXTO E RELEVÂNCIA DA PESQUISA

• OBJETIVO GERAL E ESPECÍFICOSINTRODUÇÃO

• SUSTENTABILIDADE ORGANIZACIONAL

• GESTÃO ESTRATÉGICA DE PESSOAS

• INTEGRAÇÃO DOS TEMAS

REFERENCIAL

TEÓRICO

• ESTUDO DE CASO EM UMA COOPERATIVA

• PERFIL DOS ENTREVISTADOS E OS

DOCUMENTOS ANALISADOS

METODOLOGIA

• PRÁTICAS DE SUSTENTABILIDADE

• PRÁTICAS DE GESTÃO DE PESSOAS

• RELAÇÕES ENTRE A SO E GEP

ANÁLISE DOS

RESULTADOS

• RETOMA OS OBJETIVOS DA PESQUISA

• SINTETIZA COMO FORAM ALCANÇADOS E QUAIS

OS SEUS PRINCIPAIS RESULTADOS

CONSIDERAÇÕES

FINAIS

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21

2 REFERENCIAL TEÓRICO

As relações entre as diretrizes estratégicas de sustentabilidade e a

gestão de pessoas qualifica-se como a questão central desta pesquisa. Por ser este

um assunto recente, tanto nas organizações quando na academia, optou-se por iniciar

com um levantamento bibliográfico em bases de dados acadêmicas para uma melhor

compreensão das contribuições que a literatura traz ao tratar dessas temáticas. Para

a seleção dos periódicos e artigos, foram utilizadas referências consolidadas de

pesquisa sobre publicação acadêmica, sendo elas: Periódicos CAPES, Ebsco e

Scielo.

No quadro 1 apresenta-se o banco de dados, as palavras-chave

utilizadas para a pesquisa, a quantidade e o ano de publicação dos arquivos e os

principais autores que pesquisam sobre a integração da Sustentabilidade com a

Gestão de Pessoas - GP.

Quadro 1 – Levantamento bibliográfico sobre Sustentabilidade e GP

Base de dados Palavras utilizadas

Quantidade e ano

dos arquivos

encontrados

Principais autores

que integram os

temas

Periódicos CAPES

Sustentabilidade e

Gestão de Pessoas

69 arquivos

equivalentes aos anos

de 2004 até 2015

Boudreau e Ramstad

(2005)

Wirtenberg et al (2007)

Sroufe; Liebowitz e

Sivasubramaniam

(2010)

Twomey (2010)

Pires (2011)

Schroeder (2012)

Desenvolvimento

Sustentável e

Recursos Humanos

48 arquivos

equivalentes aos anos

de 1998 até 2015

Ebsco Sustainability and

Human Resources

22 arquivos

equivalentes aos anos

de 2005 até 2016

Colbert e Kurucz

(2007)

Wehling (2009)

Harmon; Fairfield e

Wirtenberg (2010)

Liebowitz (2010)

Rimanoczy e Pearson

(2010)

Scielo Sustainability and

People Management

35 arquivos

equivalentes aos anos

de 2003 até 2015

Jabbour e Santos

(2008)

Freitas, Jabbour e

Santos (2009)

Freitas et al (2012)

Fonte: Elaborado pela autora, 2016.

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22

Os resultados desse levantamento bibligráfico fortalecem a

justificativa desse trabalho, mostrando que há uma lacuna no Brasil sobre a integração

dessas temáticas, visto que são incipientes os estudos que integrem a

sustentabilidade com a área de gestão de pessoas. Sendo assim, nas próximas

seções apresenta-se o referencial teórico que subsidia o estudo e, em particular, a

investigação empírica realizada. Por ser uma pesquisa que envolve duas diferentes

abordagens teóricas, e para buscar uma melhor compreensão do problema de

pesquisa, cada uma delas será tratada separadamente e, por fim, será realizada a

integração desses temas e a discussão da literatura descrita.

2.1 SUSTENTABILIDADE

Ao relatar sobre a sustentabilidade, busca-se descrever como surgiu

a preocupação sobre essa temática, de que forma essas discussões tornaram-se

mundiais e quais foram os avanços e contribuições tidos até o momento sobre a

definição do conceito, suas prioridades e suas práticas em contextos sociais,

governamentais e organizacionais. Além disso, descreve-se os desafios e as

oportunidades que as organizações podem enfrentar ao tratar do assunto e pesquisas

que relatam os níveis que a sustentabilidade pode apresentar em contexto

organizacional.

2.1.1 Conferências internacionais e correntes teóricas da Sustentabilidade

Ao refletirmos sobre os conceitos de DS e sustentabilidade, temos

que ter em mente que apesar dos debates serem relativamente recentes, surgindo

com mais veemência a partir de 1972, a preocupação com a sobrevivência e

sustentação do planeta relacionando os aspectos econômicos, ambientais e socias,

já apresentava seus primeiros sinais desde o final do século XVIII. O momento

histórico que percorria aquele período, caracterizado pela Revolução Industrial e

consolidação do capitalismo, permitiu que o economista Thomas Robert Malthus

(1766-1834) observasse que o demasiado aumento populacional, passando de 10

milhões para 800 milhões de pessoas por volta de 1750 (MEADOWS et al 1972), iria

ultrapassar a capacidade produtiva da terra gerando mais fome e miséria do que já se

apresentava na época. Devido a isso, Malthus pode ser considerado um dos

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23

precursores do conceito de DS, pois foi um dos primeiros teóricos a relacionar os

limites ambientais existentes com a possibilidade de um agravamento dos problemas

sociais e econômicos (MEBRATU, 1998).

Passados mais de cem anos da teoria Malthusiana e tendo o

capitalismo desenvolvido técnicas e tecnologias de forma que minimizassem as

pressuposições de Malthus, surge novamente os debates sobre os limites e

problemas ambientais do planeta. Desta vez, foi com o livro de Rachel Carson, Silent

Spring, lançado em 1962, que explorou os problemas ambientais causados pelo uso

desregrado dos pesticidas sintéticos. Elementos estes que foram justamente os que

auxiliaram no acréscimo da produção alimentícia, abortando as hipóteses

Malthusianas, ao mesmo tempo em que prejudicavam o meio ambiente e a saúde dos

seres vivos. Juntamente com a obra de Carson (1962) outros dois livros lançados na

década de 1970 se converteram em mediadores para o debate ambiental, são eles:

The closing circle de Barry Commoner (1971) e o Population resources environment

de Erlich e Erlich (1972). Desde então, os problemas ambientais começaram a ganhar

notoriedade em vários lugares do mundo e, devido à influência dessas obras, inicia-

se um ciclo de eventos com o objetivo de discutir essa problemática

internacionalmente.

Esses eventos internacionais aconteceram em sua maioria em países

desenvolvidos e reuniram uma série de partes interessadas, como governos, líderes

de grandes corporações e cientistas. No início, almejava-se discutir os problemas

relacionados às questões ambientais, que eram constatemente denunciados na mídia

por meio de ONGs, pesquisadores e até líderes políticos. Como, por exemplo, as

ações do Greenpeace, WWF e do candidato à presidência dos EUA nas eleições de

2000, Al Gore, que atingiu um grande público em seu documentário intitulado “Uma

Verdade Incoveniente”, em que denunciava aspectos do aquecimento global e

solicitava medidas urgentes para reduzi-lo.

No entanto, não foram só as questões ambientais que chamaram a

atenção da agenda de discussões internacionais, dado que as consequências no

âmbito social também eram evidentes no cenário contemporâneo. Com isso, as

conferências detinham uma pauta cada vez mais complexa para discutir e decidir

quais seriam as ações necessárias e prioritárias. Além disso, enfrentavam questões

essenciais, como: O que deve ser sustentado? Para quem? E por quanto tempo?

(DOVERS, 1996; SEGHEZZO, 2009; REDCLIFT, 2005).

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24

Ciente desse contexto, não é uma surpresa perceber que essas

conferências, apesar de terem sido importantes para o processo de legitimação do

debate sustentável na agenda da sociedade, muitas vezes não apresentavam grandes

avanços ao tema e ainda abriam espaços para críticas quanto à sua conceituação e

às suas abordagens pragmáticas.

Para expor de forma sintetizada essas principais conferências

mundiais, segue no quadro 2 a apresentação dos objetivos e dos resultados de cada

evento.

Quadro 2 – Objetivos e resultados das principais conferências mundiais

PRINCIPAIS

CONFERÊNCIAS OBJETIVOS RESULTADOS E CONTRIBUIÇÕES

Conferência de

Estocolmo (1972).

Analisar os limites do

crescimento mundial no que

tange ao consumo e

esgotamento de recursos

naturais.

Relatório intitulado Limits to growth ou

Relatório Meadows que alertou sobre a

insustentabilidade do crescimento

econômico, de forma que se ele não

fosse repensado, os problemas

ambientais se agravariam de tal

maneira que iriam ultrapassar as

fronteiras nacionais.

Comissão Mundial

sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento

(WCED, 1987).

Definir os objetivos críticos

que derivam do conceito de

DS.

Elaboração do conceito de DS mais

utilizado, explicitado no relatório Our

Common Future ou Relatório

Brundtland.

Conferência das

Nações Unidas sobre

Meio Ambiente e

Desenvolvimento, Rio-

92 ou ECO-92 (1992).

Discutir sobre as mudanças

climáticas e recomendar a

diminuição das emissões de

dióxido de carbono (CO2) até

o ano 2000 nos mesmos

níveis que se encontravam

em 1990.

Apresentou um documento intitulado

“Carta da Terra” e também aprovou um

plano de ação que definia objetivos e

metas a serem alcançados sobre meio

ambiente e desenvolvimento,

denominado de “Agenda 21”.

8 Objetivos de

Desenvolvimento do

Milênio (ODM, 2000)

Combater a extrema pobreza

e outros problemas da

sociedade.

Como resultado criaram os 8 ODM

também conhecido como “Nosso jeito

de mudar o mundo”, que compreendem:

erradicar a extrema pobreza e a fome,

atingir o ensino básico universal,

promover a igualdade de gênero e

autonomia das mulheres, reduzir a

mortalidade infantil, melhorar a saúde

materna, combater o HIV/AIDS, a

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25

Malária e outras doenças, garantir a

sustentabilidade ambiental e

estabelecer uma parceria mundial para

o desenvolvimento.

Cúpula Mundial sobre

DS ou Rio +10,

Johannesburgo (2002).

Avaliar os acordos e as

práticas realizadas desde a

Rio-92, e discutir sobre os

avanços que foram propostos

na Agenda 21.

Foi apresentado o documento The

Johannesburg Declaration onde há

poucas novidades quanto aos

documentos anteriores, exceto pelo fato

de tratar dos problemas relacionados à

globalização e a má distribuição dos

benefícios e custos a ela associados.

Conferência das

Nações Unidas sobre

DS, ou Rio +20 (2012).

O objetivo principal da Rio

+20 foi a renovação do

compromisso político com o

DS e a sustentabilidade por

meio de dois temas: uma

economia verde no contexto

atual e um quadro

institucional para o DS.

As expectativas quanto à conferência

foram frustradas e, mais uma vez, os

participantes saem de lá com várias

intenções, porém, jogam para os

próximos anos as definições de

medidas pragmáticas que possam

garantir a sustentabilidade.

Fonte: Elaborado pela autora, 2016.

Com base nessas exposições, se nota que esses eventos

internacionais promoveram uma ampla discussão e disseminação da importância e

relevância dos conceitos de DS e sustentabilidade. É ainda por meio dessas

conferências que surgem novas ideias, debates e sobretudo, novos acordos

realizados pelos Estados e seus governos em busca de criar estratégias para

minimizar os danos ambientais e sociais causados pela dimensão econômica.

No entanto, questiona-se aqui a realização de tantas conferências

com avanços ínfimos para a prática, principalmente em nível internacional. Nesse

sentido, Vos (2007) argumenta que enquanto as definições de DS e sustentabilidade

são abundantes, a sua prática é muito limitada. Isso ocorre, possivelmente, porque

conforme estudos de Baroni (1992), Mebratu (1998) e Redclift (2005) não existe um

único conceito ou resposta para o que é a sustentabilidade ou DS, mas sim diversas

definições elaboradas para servir em diferentes épocas e contextos, sendo elas

muitas vezes contraditórias ou excludentes.

Estudos como o de Gladwin, Kennely e Krause (1995); Hopwood,

Mellor e Geoff O’Brien (2005); Vos (2007) e Ketola (2009) exemplificam essas

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constatações, ao trazer em suas pesquisas modelos e exemplos das diferentes

correntes teóricas que se dedicam a conceituar a sustentabilidade e suas práticas.

Hopwood, Mellor e Geoff O’Brien (2005), por exemplo, demonstram em sua framework

conceitual as abordagens presentes nas correntes que discutem o DS combinando

questões socioeconômicas e ambientais de forma conjunta ou separadamente. Entre

as diversas abordagens, os autores as classificam de acordo com as naturezas da

mudança que podem ter. Com isso, eles elencam três categorias de correntes teóricas

sobre as discussões de DS e sustentabilidade.

A primeira serve para manter o status quo, que são ajustes que podem

ser feitos sem quaisquer alterações fundamentais para a sociedade, meios de tomada

de decisão ou relações de poder. Hopwood, Mellor e Geoff O’Brien (2005) afirmam

que esta é a visão dominante de governos e empresas. Os autores ainda comentam

que desenvolvimento, para essas correntes, é identificado como expansão e o

crescimento econômico é visto como parte da solução. Um exemplo demonstrado na

framework é a visão adotada pelos Neoliberais, Banco Mundial e União Europeia.

Já a segunda categoria, conhecida por uma visão reformista,

geralmente aceita que as grandes mudanças na política e no estilo de vida da

sociedade, algumas muito profundas, serão necessárias em determinado

momento. No entanto, se presume que estas podem ser alcançadas ao longo do

tempo dentro das atuais estruturas sociais e econômicas. A chave, segundo essas

correntes, é convencer os governos e as organizações internacionais para introduzir

as reformas necessárias. Como exemplo, podemos verificar as correntes defendidas

pelo Limits to growth (1972) e IUCN (1980).

E, por fim, a última categoria elencada por Hopwood, Mellor e Geoff

O’Brien (2005), tem uma visão transformacional, na qual argumenta que a

transformação da sociedade e/ou as relações humanas com o meio ambiente é

necessária para evitar uma crise e até mesmo um possível colapso. A reforma não é

suficiente para essas correntes, já que muitos dos problemas são vistos como sendo

localizados dentro das estruturas econômicas e de poder da sociedade, visto que

essas estruturas não se preocupam com o bem-estar humano ou com a

sustentabilidade ambiental. Como exemplo de correntes que defendem essa visão,

temos os Eco-fascistas e a Ecologia Profunda.

Hopwood, Mellor e Geoff O’Brien (2005) concluem que na maior parte

do mundo as questões sobre DS e sustentabilidade, apesar de terem grande

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relevância e serem debatidas, não estão no topo da agenda política ainda. Segundo

os autores, até mesmo questões como as alterações climáticas ou a fome em massa

não dominam o noticiário ou o debate político como deveriam. No entanto, os desafios

são tantos e cada vez mais visíveis, que chegará o tempo em que será cada vez mais

difícil excluí-las do debate político, econômico e social global.

Abaixo, segue a figura 2 demonstrando a framework conceitual

proposta pelos autores e os exemplos dos eventos, conferências e movimentos que

se encaixam em cada uma das três categorias.

Figura 2 – Correntes do desenvolvimento sustentável e da sustentabilidade

Fonte: Hopwood, Mellor e Geoff O’Brien (2005, p.41)

Outro estudioso que demonstra em suas pesquisas as diferentes

visões das correntes que discutem o DS e a sustentabilidade é Vos (2007). Com isso,

o autor elabora um quadro semelhante às pressuposições de Hopwood, Mellor e Geoff

O’Brien (2005), porém onde é possível visualizar como essas correntes podem

pertencer a diferentes paradigmas, exemplificados por ele como dominante e nas

versões forte e fraca, e como esses paradigmas se posicionam quanto à alguns

aspectos essenciais para o debate sustentável, como, por exemplo, quanto à

ontologia da natureza, substituição do capital natural, crescimento econômico e

populacional, o papel da tecnologia, equidade social e a participação dos

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stakeholders. No quadro 3 essas ideias são sintetizadas como os arquétipos da

sustentabilidade propostos por Vos (2007).

Quadro 3 - Arquétipos da Sustentabilidade

Categoria/Paradigma PARADIGMA

DOMINANTE VERSÕES SOFT VERSÕES HARD

ONTOLOGIA DA

NATUREZA

Natureza como

matéria-prima para a

economia humana.

Alguns valores

intrínsecos são

reconhecidos na

natureza.

Muitos valores

intrínsecos são

reconhecidos na

natureza.

SUBSTITUIÇÃO DO

CAPITAL NATURAL

A substituição para o

capital natural não

possui limites.

Substituição é possível,

mas não completa.

Não pode haver

diminuições no capital

natural.

CRESCIMENTO

ECONÔMICO Não há limites.

O relacionamento

ganha-ganha é

enfatizado.

É necessário reduzir e

inverter o crescimento.

CRESCIMENTO

POPULACIONAL Não há limites.

O crescimento

populacional deve ser

acompanhado via

compensações per

capita.

Deve retardar o

crescimento e alcançar

meios para seu declínio.

PAPEL DA

TECNOLOGIA

Racionalidade

tecnológica. Ceticismo cauteloso. Ceticismo profundo.

EQUIDADE SOCIAL Guiada pelo

mercado.

Considera conexões

que permitem análises

comparativas.

Deve ser observada a

redistribuição.

PARTICIPAÇÃO

DOS

STAKEHOLDERS

Decisão passada

aos experts.

Processo decisório

participativo.

Democracia como base

da decisão.

Fonte: Traduzido de Vos (2007, p. 336).

Conforme visto no quadro 3, a divisão sobre as visões e os

paradigmas das correntes que se propõem a discutir sobre DS e sustentabilidade

elaboradas por Vos (2007) podem ser facilmente comparadas com a divisão feita por

Hopwood, Mellor e Geoff O’Brien (2005), onde as correntes para manter o status quo

pertenceriam ao paradigma dominante, e as correntes reformistas e transformacional

às versões fraca e forte, respectivamente. Os autores também corroboram em seus

trabalhos sobre a limitação prática dos conceitos sustentáveis. E defendem que ao se

preocupar com a definição de um conceito de sustentabilidade que possa generalizar

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algumas premissas para todos os locais, essas definições devem ser criadas para

servir bem a diferentes épocas e contextos e, o mais importante, elas devem ser

operacionalizáveis através de métricas e indicadores que indiquem o progresso do

caminhar rumo à sustentabilidade (HOPWOOD; MELLOR; GEOFF O’BRIEN, 2005;

VOS, 2007).

Diante de todos esses aspectos, destaca-se a complexidade que

envolve os debates sobre desenvolvimento sustentável e sustentabilidade.

Primeiramente, a falta de um consenso sobre uma definição, e também as dificuldades

de organizar os interessados de forma que o conceito seja coletivamente construído.

Essas questões são complexas, principalmente, porque estão relacionadas com

causas e efeitos que ultrapassam a perspectiva espaço-temporal no qual a sociedade

atual está organizada.

Além disso, essa diversidade de conceituação, presente em todas as

conferências e correntes de pensamento, pode ser entendida tanto como negativa,

pois deixa confuso as práticas necessárias para o acontecimento da sustentabilidade

nas organizações e na percepção de Vos (2007) é na prática que as definições podem

ser aperfeiçoadas, como positiva, dado que a discussão ampla do DS e da

sustentabilidade, de acordo com Baroni (1992), seria o caminho mais fácil e produtivo

para defini-los de forma que ajude a encontrar um melhor modo de organização

quando decisões difíceis são confrontadas. Nesse contexto, alguns autores (BARONI,

1992; VOS, 2007) também advertem para o fato de que, muitas vezes, o DS e a

sustentabilidade são usados como tendo o mesmo sentido, entretanto eles possuem

significados distintos.

Sendo assim, DS refere-se a um modelo de desenvolvimento

envolvendo processos integrativos responsáveis pelas ações necessárias para se

alcançar a sustentabilidade. Já a sustentabilidade é o estágio a ser alcançado, um tipo

ideal, em que a sociedade, ou o fenômeno em questão, se encontram (OSÓRIO,

LOBATO, CASTILLO, 2005). Desta forma, pode-se entender que DS e

sustentabilidade buscam os mesmos objetivos, mas o primeiro deve ser considerado

um processo ou modelo de desenvolvimento capaz de promover o segundo.

Assim, a sustentabilidade pode ser entendida como uma jornada

contínua, e não um destino final. Isso implica que ela se move para o desconhecido,

para uma aventura, e necessita de esforços de todos os segmentos da sociedade para

ocorrer. Nessa perspectiva, destaca-se a importância de grandes organizações

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privadas para a promoção da sustentabilidade, visto que essas organizações

fornecem um papel integralizador no DS, viabilizando recursos financeiros, humanos,

inovação, infraestrutura, tecnologia e também, sendo extremamente influentes nos

âmbitos políticos e sociais. Com isso, e juntamente com a teorização da administração

da sustentabilidade, as grandes organizações privadas seriam capazes de disseminar

os pressupostos do DS e assim, contribuir para sistemas mais sustentáveis de

produção e consumo (ORSATO, 2012), além de garantir a sustenção de sua própria

sobrevivência. Diante dessas considerações, segue no próximo capítulo, as

motivações da sustentabilidade organizacional e seus principais desafios e

oportunidades para as organizações.

2.1.2 Sustentabilidade Organizacional: motivações, desafios e oportunidades

Frequentemente as inovações das organizações são responsáveis

por impactar a qualidade de vida humana. Esses impactos podem ser positivos,

quando se refletem nas mudanças tecnológicas e no constante aumento da

expectativa de vida. Entretanto, também podem ser negativos, quando coexistem e

são desafiados por aspectos externos gerados pelas próprias ações organizacionais,

em particular, o impacto ambiental e a marginalização de países e pessoas que não

se encaixam nos padrões elencados pelo paradigma dominante (FREITAS et al,

2012). Por esse motivo e pressionada por novas demandas, as discussões sobre

sustentabilidade tornaram-se cada vez mais necessária na comunidade empresarial

e, portanto, entender como ela opera, quais são seus principais desafios e quais são

as vantagens para as organizações é cada vez mais um assunto estratégico no

contexto organizacional.

A sustentabilidade, quando considerada de forma incondicional,

questiona a própria existência das organizações, a distribuição da riqueza gerada, a

lógica do incentivo ao consumo, suas relações com o entorno, sua forma de lidar com

os colaboradores e até o futuro da humanidade. Em abordagens mais questionadoras,

a discussão de sustentabilidade aparece até como uma ameaça, em que mais assusta

do que mobiliza as organizações para uma transformação (ESTEVES, 2009).

Diferentemente dessa perspectiva, e no intuito de demonstrar a importância da

organização na busca pelo cenário sustentável e os desafios que podem se tornar

oportunidades durante esse processo, encontra-se pesquisas como de Bazerman e

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Hoffman (1999); Stubbs e Cocklin (2008); SHRM, BSR e Aurosoorya (2011) e Freitas

et al (2012).

Bazerman e Hoffman (1999) elencam os quatro motivos que justificam

o papel central das organizações privadas nos esforços para conquistar a

sustentabilidade. Segundo os autores, as motivações seriam porque elas podem ser

pioneiras em projetos de inovação, desenvolvendo tecnologias que melhorem os

recursos para compreender o desenvolvimento econômico e seus respectivos trade-

offs, e com isso podem se envolver em decisões políticas e regulamentares do

governo, e consequentemente acumular poder, recursos, e conhecimentos sistêmicos

para influenciar não só aspectos econômicos, mas também os ambientais e sociais, e

porque elas podem ser pioneiras em projetos e abrir espaço para novos nichos de

mercado, com produtos e serviços que resolvam problemas sociais e ambientais.

Complementar a essa visão, no estudo de Stubbs e Cocklin (2008) é

desenvolvido um modelo de negócio sustentável, conhecido como Sustainable

Business Model – SBM, onde os conceitos de sustentabilidade moldam as decisões

que as organizações necessitam tomar. O SBM foi elaborado a partir de dois estudos

de caso em organizações que são consideradas líderes em sustentabilidade no

mundo, Interface Inc. e Banco Bendigo. Na análise dos autores, é revelado que as

organizações que pretendem adotar um SBM devem desenvolver suas capacidades

estruturais e culturais para que se alcance a sustentabilidade organizacional, e

também, a sustentabilidade na cadeia de negócios. De acordo com isso, é possível

elencar algumas dificuldades e também oportunidades que podem surgir durante a

busca pela sustentabilidade.

Primeiramente, os desafios abordados no estudo são: a necessidade

de definir os propósitos das organizações em termos mais amplos do que somente os

financeiros, considerando os trade-offs dessa decisão; adotar a sustentabilidade como

uma estratégia de negócios em si e não como um add-on; alinhar as estratégias dos

stakeholders com as estratégias da organização; construir relacionamentos

duradouros e baseados na confiança, relevância, fidelidade, honestidade, integridade,

justiça e equidade; agir de forma cooperativa sendo muitas vezes necessário

compartilhar recursos entre a cadeia de negócios.

Stubbs e Cocklin (2008) demonstram que esses desafios só podem

ser vencidos a partir de mudanças profundas na estrutura e cultura da organização, e

que, se tratados com a devida coerência e comprometimento, podem apresentar

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oportunidades interessantes e vantagens competitivas. Essas oportunidades se

caracterizam por um valor agregado subjetivo ou também como uma economia nos

custos e rendimento para o negócio. Os autores explicam que a mudança cultural

necessária já se inicia desde o recrutamento e seleção, sendo os novos membros

alinhados desde cedo à estratégia da empresa e aos pressupostos da

sustentabilidade, com isso os colaboradores podem servir como fontes essenciais

para a ressonância da cultura sustentável, além de agirem pró-ativamente em suas

atividades e integrarem nessa postura os demais stakeholders. Dessa maneira,

Stubbs e Cocklin (2008) argumentam que é mais fluido o alcance das mudanças

estruturais internas da organização e, consequentemente, dos resultados

sustentáveis. Os autores também revelam que por atrair investidores mais

conscientes, que não investem só pelo aspecto econômico, essas organizações

conseguem oferecer um retorno financeiro menor aos acionistas em troca de

investirem mais em ações e processos para a sustentabilidade, criando-se assim um

ciclo para a propagação e fortalecimento do SBM internamente e na sua cadeia de

negócios.

A pesquisa de SHRM, BSR e Aurosoorya (2011), divulgada na forma

de um relatório realizado a partir de um survey com profissionais de gestão de pessoas

em organizações dos EUA, tem como objetivo obter informações sobre o que as

empresas estão fazendo para balancear os resultados financeiros com o aumento da

qualidade de vida dos seus membros e da sociedade juntamente com as iniciativas

para minimizar os impactos ambientais negativos. Com isso, a pesquisa exibe

considerações importantes sobre as motivações que levam as organizações a

buscarem a sustentabilidade, além das dificuldades e oportunidades encontradas por

elas.

Como as principais motivações, a pesquisa demonstra que a

contribuição para a sociedade, a vantagem competitiva no pilar econômico, as

considerações sobre o meio-ambiente, a economia nos custos de operação e as

questões sobre a saúde e segurança são as principais referências que fazem com que

as organizações considerem e busquem a sustentabilidade. De acordo com o

relatório, quase 75% das empresas pesquisadas buscam a sustentabilidade no

ambiente de trabalho ou nos negócios, sendo que as médias, grandes empresas e as

multinacionais são as mais propensas a se engajarem em práticas sustentáveis.

Embora a maioria se diga preocupada e consciente da importância do

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33

tema, o relatório revela que 28% das empresas ainda não estão engajadas com

nenhum tipo de prática que busca a sustentabilidade, sendo que elas encontram como

seus principais obstáculos os custos para implementar e manter algum programa ou

projeto de sustentabilidade, a dificuldade em medir o retorno sobre esse investimento,

a falta de suporte dos líderes, a falta de conhecimento e a falta de capacidade

estrutural interna. O relatório revela que apesar dos desafios, 5% dessas

organizações se mostraram interessadas ou já tinham planos para iniciar algumas

práticas sustentáveis durante o próximo ano.

SHRM, BSR e Aurosoorya (2011) demonstram que para as

organizações atuais, há cada vez mais a necessidade de tomar decisões de negócios

difíceis e de justificar os gastos com essas decisões. Por isso, as oportunidades de se

investir em sustentabilidade devem estar claras e, principalmente, devem fazer

sentido para a estratégia da organização. Nessa perspectiva, o relatório elenca como

as principais oportunidades e recompensas de se buscar a sustentabilidade: o

aumento da ética e moral dos colaboradores, os processos de negócios mais

eficientes, uma boa e forte imagem pública, o aumento da lealdade e

comprometimento dos colaboradores e o aumento do reconhecimento de marca.

Outras motivações, desafios e oportunidades para se investir em

sustentabilidade são demonstrados no estudo de caso de Freitas et al (2012). Para os

autores, há dois discursos que justificam a implementação de práticas sustentáveis

nas organizações, um primeiro diz respeito às pressões externas, como a comercial,

governamental, as regulamentações e os próprios consumidores. E o segundo,

consiste em pressões internas relacionadas à estrutura da organização, ao ambiente

de trabalho e aos colaboradores. Com isso, o estudo mostra que os desafios para as

empresas se relacionam na tentativa de melhorar a qualidade de vida no trabalho,

melhorar a eficiência dos processos, mensurar os resultados, promover um espaço

para uma comunicação dinâmica e transparente, estabelecer relacionamentos a longo

prazo com os stakeholders, garantir a inclusão e a diversidade social, e manter os

membros e a sociedade envolvidos com os programas que visam à sustentabilidade.

Para os autores, esses desafios também podem ser motivações e oportunidades para

a organização alcançar outros patamares de desenvolvimento, como por exemplo,

elaborar um sistema de comunicação inovativo com os stakeholders ou ainda criar

métricas, ferramentas e indicadores que consigam abranger todas as demandas da

sustentabilidade.

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O quadro 4 sintetiza essas motivações, desafios e oportunidades para

a sustentabilidade organizacional.

Quadro 4 – Motivações, desafios e oportunidades da SO

MOTIVAÇÕES DESAFIOS OPORTUNIDADES

Pressões internas –

estrutura da organização;

ramo de negócio,

ambiente de trabalho e os

colaboradores.

Colocar a sustentabilidade

como estratégia de negócio em

si, saindo do foco somente

financeiro e analizando os

trade-offs dos três pilares.

Vantagem competitiva, liderança

no mercado e boa imagem pública

ao adotar paradigmas integrativos

da sustentabilidade, que incluam a

análise da perspectiva temporal e

os trade-offs.

Recrutar e reter talentos

engajados com a cultura da

sustentabilidade, investindo em

conhecimento especializado e

treinando bons líderes.

Melhorar o clima organizacional,

comprometimento e pró-atividade

dos colaboradores ao alinhar as

expectativas e os objetivos com os

da organização.

Criar instrumentos de avaliação

que possam demonstrar os

custos e o retorno dos

investimentos em SO, incluindo

elementos objetivos e

subjetivos.

Elaboração de indicadores e

ferramentas de avaliação

personalizados para a

organização, de forma que consiga

abranger todas as demandas da

sustentabilidade.

Pressões externas –

mercado, governo, leis,

regulamentações,

sociedade e

consumidores.

Construir relacionamentos a

longo prazo com todos os

stakeholders, alinhando as suas

estratégias com as da

organização.

Fidelização dos consumidores e

fortalecimento e valorização da

marca.

Cooperar, contribuir e engajar

pessoas e organizações para

desenvolverem melhores

práticas nos pilares econômico,

social e ambiental.

Cobrar práticas sustentáveis de

fornecedores e concorrentes,

propagando dessa forma os

conceitos sustentáveis por toda a

cadeia de negócios.

Comunicar de forma inovativa,

dinâmica e transparente as

ações e práticas voltadas à

sustentabilidade.

Desenvolvimento de relatórios de

SO interativos e on-line,

garantindo maior transparência e

agregando mais valor à imagem

da organização.

Fonte: Elaborado pela autora a partir das contribuições de Stubbs e Cocklin (2008); SHRM,

BSR e Aurosoorya (2011) e Freitas et al (2012).

Page 37: SUSTENTABILIDADE ORGANIZACIONAL E SUAS RELAÇÕES … · Como demonstrado nos estudos de Jabbour e ... procedimentos metodológicos envolveram um estudo de caso em ... Quadro 13 –

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Como visualizado no quadro 4, a sustentabilidade nas organizações

apresenta-se como um território compartilhado pelos interesses das empresas e de

seus diferentes públicos – interno e externo. O encontro nesse território estimula as

companhias a buscarem por novos produtos, serviços, processos, mercados, modelos

de negócios, de gestão de comunicação e de informações. Isso significa o processo

de repensar e discutir as estruturas de negócio, suas práticas e cultura, o que não

implica em mudanças superficiais, mas em uma tranformação organizacional

(SAVITZ; WEBER, 2007) apresentando, muitas vezes, mais desafios do que os que

foram apresentados e discutidos até aqui, assim como oportunidades.

Orsato (2012), por exemplo, diz que como qualquer outro aspecto nos

negócios, o gerenciamento da SO é contingente às competências internas e ao

contexto no qual a empresa opera. Nesse cenário, a estrutura da organização, o grau

de rivalidade no mercado, assim como o contexto político e econômico no qual o

negócio está inserido podem influenciar significativamente as probabilidades de um

investimento em SO obter sucesso ou não dentro de uma organização. O autor

argumenta que embora as oportunidades para gerar algum retorno estejam

disponíveis para a maioria das empresas, somente algumas são capazes de elevar

sua competitividade baseada na administração da sustentabilidade que vai além da

conformidade legal. Isso não significa que outras organizações não sejam capazes de

apresentar traços sustentáveis em suas atividades, mas que talvez elas se encontram

em níveis mais baixos de adoção da SO. Com isso, e para aprofundar nos estudos

sobre a sustentabilidade em contexto organizacional, segue no próximo subcapítulo a

discussão sobre os níveis que a sustentabilidade pode apresentar nas organizações.

2.1.3 Níveis da Sustentabilidade Organizacional

A sustentabilidade organizacional é uma prática contínua que

demonstra ser mais eficiente quando é integrada à estratégia da organização. No

entanto, como já mencionado aqui, a transformação necessária para a implementação

da SO na estratégia da empresa não ocorre do dia para a noite, mas caracteriza-se

como um processo desafiador e constante que busca reorganizar as estruturas,

processos e práticas da companhia, assim como sua cultura, visão e valores. Além

disso, o contexto no qual a organização está inserida, sua posição no mercado e seu

ramo de negócio também interferem diretamente nessa mudança para a

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36

sustentabilidade (ORSATO, 2012). Por esse motivo, é improvável que haja modelos

prontos ou uma forma universal de pensar e incorporar a sustentabilidade, cada

organização pode buscar a maneira e o nível mais adequado à sua realidade,

considerando sua estrutura e contexto (PIRES, 2011).

Nessa perspectiva, há estudos que se dedicam a oferecer “tipos

ideais” do que seriam esses níveis para a SO e mostram que o desenvolvimento em

busca da sustentabilidade passa por diferentes etapas e se relaciona com práticas

distintas. Por exemplo, no relatório de SHRM, BSR e Aurosoorya (2011) é

apresentado a curva de maturidade da sustentabilidade nas organizações. De acordo

com a pesquisa, há três fases em que a SO pode estar presente, que são:

conformidade, integração e transformação. Na fase 1, há uma relação de obediência

aos regulamentos e códigos de conduta ambiental e social. Esses documentos, que

frequentemente surgem devido ao ativismo das partes interessadas e a pressão para

a formação de leis, agem como ação obrigatória e regulatória para as organizações,

não representando uma mudança na visão e cultura, mas sim como um custo

necessário para se fazer negócios. SHRM, BSR e Aurosoorya (2011) argumentam

que a fase de conformidade é uma primeira etapa muito importante para a jornada de

qualquer corporação que busca a sustentabilidade, precisamente porque introduz,

mesmo que superficialmente, os aspectos ambientais e sociais na tomada de decisão

organizacional.

Já a fase 2, integração, é a prática de integrar a sustentabilidade para

regular o funcionamento do negócio. Assim, fatores como problemas ambientais,

sociais e governança corporativa são considerados relevantes para as operações de

negócios, pois já são reconhecidos como capazes de gerar mais lucro para as

organizações. Isso ocorre porque cada vez mais clientes e partes interessadas

esperam esse comportamento das empresas e, portanto, consomem e se fidelizam a

elas. O relatório também relata que a consideração dessas fatores tende a minimizar

uma variedade de custos de produção e de funcionamento, ao mesmo tempo em que

proporciona estímulo para a redefinição e criação de novos produtos. Por isso, a fase

de integração é a etapa que começa a dirigir a viabilidade das práticas de

sustentabilidade. Ao fundir-se com os modelos de negócios existentes, a integração é

a etapa vital para chegar à maturidade da sustentabilidade, fase esta, em que muitas

vezes requer que tais iniciativas estejam em pé de igualdade com qualquer outro fator

dominante e de alta prioridade nos negócios.

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Mais impactante, a terceira fase, chamada de transformação, refere-

se ao processo de alterar a principal razão de existência da corporação, para que a

sustentabilidade se torne uma parte fundamental deste motivo. Isto representa a fase

final da curva de maturidade da sustentabilidade e exige que a liderança esteja

ativamente engajada para as possibilidades de mudança inerentes às considerações

ambientais e sociais. SHRM, BSR e Aurosoorya (2011) relatam que a transformação

é uma fase difícil de ser encontrada na prática, precisamente pela razão de que esse

despertar entre a liderança não é um evento comum. Porém, o relatório diz que como

consequência da transformação, as corporações podem criar novos produtos e novos

mercados e colher receitas com uma magnitude muito maior daquela que já é possível

com a fase de integração. E mesmo que esse não seja o objetivo final, a

transformação rumo à sustentabilidade, muitas vezes, garante a liderança de mercado

e outras vantagens competitivas.

Outras pesquisas também se dedicaram a elencar as etapas ou níveis

que a sustentabilidade pode apresentar em contexto organizacional. Esses estudos,

referências para a compreensão da SO, foram desenvolvidos por Van Marrewijk e

Werre (2003) e Benn, Dunphy e Griffiths (2006), e conseguem mostrar de forma mais

detalhada esses níveis e as práticas que os compõem.

Baseando-se nos trabalhos sobre sistemas de valor do professor

Clare W. Graves, desenvolvidos durante a década de 1950 e 1960, Van Marrewijk e

Werre (2003) elaboraram uma matriz da sustentabilidade com o objetivo de apresentar

uma framework da SO em organizações europeias. Inicialmente, os autores

descrevem que um sistema de valor desenvolve uma reação específica aos desafios

e ameaças do ambiente. Esses sistemas são influenciados por tempos históricos,

lugares e circunstâncias sociais, e convidam as organizações a responder às

constantes mudanças de valor de maneira que ela mantenha sua relevância para a

sociedade.

Quando o sistema de valor já não é suficiente para fornecer uma

resposta adequada às circunstâncias do ambiente, há um incentivo de evolução para

outro sistema de valor. A consciência de que o atual padrão de comportamento ou

uma determinada instituição não são mais adequados para resolver um problema,

pode impulsionar uma mudança na percepção da realidade, aumentando a

complexidade para lidar com a situação. Nesse sentido, Van Marrewijk e Werre (2003)

relatam que quanto mais complexo é o sistema de valor, mais liberdade ele tem para

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agir e influenciar o ambiente.

A mudança gradual para um novo sistema de valores facilita novos

padrões de comportamento e a criação de novas instituições em conformidade com o

sistema de valor emergente. Van Marrewijk e Werre (2003) dizem que desafiados por

novas circunstâncias e provocados por novas oportunidades, indivíduos,

organizações e sociedades buscam desenvolver soluções adequadas, criando

sinergia e agregando valor a um nível mais elevado de complexidade. No entanto,

caso a instabilidade gerada pela adoção desse novo sistema de valor não seja

amenizada, ou o ambiente demonstre-se desfavorável e as competências da

organização não cumpram com as especificações exigidas pelo sistema, elas podem

mudar novamente para níveis mais baixos de sistemas de valores.

Van Marrewijk e Werre (2003) argumentam que quando esses valores

são discutidos ou modificados, como acontece no caso da sustentabilidade, as

organizações devem reorganizar seus sistemas, tais como missão, visão, políticas,

tomada de decisão e relatórios, de forma que atenda às novas circunstâncias. Nesse

sentido, os autores entendem que o conceito de SO é amplo e por muitas vezes vago,

sendo entendido como atividades voluntárias da empresa que demonstram a inclusão

de preocupações sociais e ambientais nas operações de negócios e nas interações

com os stakeholders. Com isso, os autores argumentam que a visão de SO como uma

única solução e conceituação para todos deve ser abandonada, para adotar-se

definições mais específicas que correspondam aos níveis de desenvolvimento,

sensibilização e ambição das organizações.

Para os autores, cada organização deve escolher sua própria

ambição e abordagem em relação à sustentabilidade, de forma que esteja alinhada

com a estratégia organizacional, valores e estruturas, oferecendo uma resposta

adequada ao contexto em que atua. Sendo assim, Van Marrewijk e Werre (2003)

relatam que o conjunto de características da SO não será adotado da mesma forma

em todas as organizações, mas ele deve ser adaptado aos diferentes contextos,

sendo que quanto mais complexa a estrutura institucional, mais ambiocioso será o

conjunto de características rumo à SO.

Dos oito sistemas de valores Gravesianos, Van Marrewijk e Werre

(2003) utilizaram seis que demonstraram ser mais relevantes para o contexto da

sustentabilidade organizacional. Com isso, eles criaram uma framework com seis tipos

de organizações em diferentes estágios de desenvolvimento e implementação da SO.

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Segundo os autores, cada dimensão apoia um arranjo institucional específico e pode

ocorrer simultaneamente em contextos organizacionais, ou seja, as organizações

podem apresentar traços e características de duas ou mais dimensões ao mesmo

tempo. Nesse contexto, os autores explicam que nas organizações, muitos desses

valores estão presentes em diferentes graus no comportamento dos indivíduos. No

entanto, um ou dois sistemas de valores tendem a ser refletidos como dominantes na

cultura da empresa.

Uma vez que as organizações enfrentam diferentes circunstâncias e

operam a partir de diferentes sistemas de valores, elas também desenvolverão

diferentes manifestações e dimensões de SO. Essas dimensões podem se manifestar

nesses seis níveis e são diferenciadas como: Pré-SO, Conformidade com a legislação,

Busca pelo lucro, Cuidado com o ambiente, Sinergia e Holística, que seguem mais

detalhados e definidos no quadro 5.

Quadro 5 – Níveis da Sustentabilidade Organizacional

1

Pré-sustentabilidade organizacional

Neste nível, não se observa qualquer ambição para se alcançar a SO. No entanto, algumas

ações rotuladas como sustentáveis podem ser iniciadas quando exigidas por pressões externas

(legislações e exigência dos consumidores). Um monitoramento rígido e constantes

aprimoramentos são necessários a fim de que a empresa possa desenvolver a SO.

2

Sustentabilidade Organizacional em conformidade com a legislação

Neste nível de qualificação, a SO consiste na provisão de bem-estar para a sociedade dentro

dos limites previstos por normatizações legais. Além disso, as organizações precisam responder

a algumas demandas de caridade e reivindicações oriundas de atores sociais diversos. A

sustentabilidade é estimulada por imposições, obrigatoriedades e por ser admitida como um

comportamento correto.

3

Sustentabilidade Organizacional orientada pelo lucro

Este nível de SO é caracterizado por uma integração dos aspectos sociais, éticos e ambientais

junto às operações realizadas pelas empresas, ou seja, junto aos seus processos de tomada de

decisões, desde que tal opção contribua com algum retorno financeiro para a organização. A

SO é estimulada por uma relação direta com o desenvolvimento econômico do negócio. A SO,

portanto, apenas será promovida se for rentável.

4

Sustentabilidade Organizacional consciente

Neste nível, existe um interesse por equilibrar questões econômicas, sociais e ambientais, todas

colocadas em um mesmo patamar de importância. As iniciativas relacionadas a esta SO vão

além das conformidades legais e não se limitam às preocupações sobre os lucros. A SO é

estimulada pelo potencial humano, pela responsabilidade social das empresas e pelo cuidado

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com o planeta.

5

Sustentabilidade Organizacional sinérgica

Este nível de SO busca por soluções funcionais e bem elaboradas que criem valor nos escopos

econômicos, sociais e ambientais. Esta performance é evidenciada por diferentes índices de

desempenhos organizacionais, os quais são conquistados por uma abordagem de ganho mútuo

participada por todos os stakeholders mais relevantes da cadeia de relacionamento da

organização. A SO é estimulada pelo reconhecimento da sustentabilidade como um fenômeno

importante por si só, especialmente por ser compreendida como uma ação inevitável para o

progresso da empresa.

6

Sustentabilidade Organizacional holística

Este nível identifica que a SO está extremamente integrada e embutida em cada um dos

aspectos envolvidos aos processos de gestão e, por isso, visa contribuir para a qualidade,

manutenção e continuação da vida de todos os seres e instituições, tanto no presente quanto

no futuro. A SO é estimulada pelo ato de observar a sustentabilidade como a única alternativa

de resposta à crise do meio ambiente. Assim, cada pessoa e organização possui uma

responsabilidade universal para com todos os outros seres vivos do planeta.

Fonte: Traduzido de Van Marrewijk e Werre (2003, p. 112).

Segundo Van Marrewijk e Werre (2003), os níveis detalhados no

quadro 5, podem ser medidos e identificados a partir de três quesitos: os valores

pessoais dos indivíduos integrantes da organização; os valores fundamentais dentro

da organização e os valores fundamentais da organização ideal (percebida pelos

membros). Feito isso, os autores acreditam que essa matriz dos níveis da

sustentabilidade pode ajudar as organizações a encontrarem uma forma organizada

de se engajar em uma gestão mais sustentável, sendo possível reconhecer o nível

mais adequado ao seu contexto e estrutura.

Outros pesquisadores que se propõem a estudar os níveis da SO são

Benn, Dunphy e Griffiths (2006), que explora os processos de mudança que permitem

que organizações avancem para práticas sustentáveis e englobem estratégias de

negócios que suportem e desenvolvam as capacidades sociais e ambientais. Os

autores argumentam que esta abordagem unificada é necessária para trazer uma

transformação na interpretação da SO e para apoiar os agentes de mudança internos

e externos. Com isso, Benn, Dunphy e Griffiths (2006) elaboram um esquema na

forma de um modelo integrado de fases, para uma melhor compreensão de como as

organizações se movem de estágios conformistas para a realização da

sustentabilidade estratégica.

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41

Benn, Dunphy e Griffiths (2006) relatam que um número crescente de

empresas estão procurando desenvolver ativamente práticas de negócios mais

sustentáveis. Com isso, os autores examinaram as mudanças organizacionais que

podem permitir um progresso das organizações rumo à sustentabilidade, promovendo

justiça no ambiente de trabalho, equidade social e colaboração para a manutenção de

uma bioesfera equilibrada.

O modelo de Benn, Dunphy e Griffiths (2006) indica que a

sustentabilidade social e ambiental são parâmetros inter-relacionados ao longo do

caminho para que se alcance a SO. As seis fases representadas da SO e exibidas na

framework dos autores, apresentam um conjunto de tipos ideais que ajudam as

organizações a definirem seu nível atual de sustentabilidade social e ambiental para,

posteriormente, traçar o seu progresso em direção a uma posição mais sustentável.

Em cada passo desse caminho, novos recursos humanos ou características da

organização permitem uma maior progressão no sentido da SO, ao mesmo tempo em

que aumenta a complexidade das atividades organizacionais.

Os autores relatam que reconhecem as limitações do uso de tipos

ideais, entretanto, adotam essa estratégia, pois ela apresenta duas vantagens. Em

primeiro lugar, permite a comparação entre organizações e diferentes unidades de

negócios. E em segundo lugar, destaca a relação de dependência da sustentabilidade

ambiental para com os recursos humanos e o capital social desenvolvidos pela

organização.

Benn, Dunphy e Griffiths (2006) também argumentam que ao utilizar

o modelo, eles entendem que a organização não progride necessariamente através

de todas as fases em uma trajetória linear. Mas, ao contrário, uma organização pode

pular fases ou até mesmo, conforme já relatado na matriz da sustentabilidade de Van

Marrewijk e Werre (2003), pode apresentar duas ou mais fases simultaneamente.

Com o intuito de demonstrar os níveis da sustentabilidade social e

ambiental elencados pelos autores, segue o quadro 6.

Quadro 6 – Níveis da sustentabilidade social e ambiental nas organizações

Fases Sustentabilidade Social Sustentabilidade

Ambiental

1 REJEIÇÃO

Funcionários e subcontratados

são explorados. As

preocupações da comunidade

O ambiente é considerado

como um bem livre para ser

explorado.

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42

são rejeitadas de imediato.

2 NÃO RESPONSÁVEIS

Fatores financeiros e

tecnológicos excluem

preocupações sociais mais

amplas.

Fatores ecológicos são

excluídos da tomada de

decisão.

3 CONFORMIDADE

A relações laborais e de

segurança estão em

conformidade com os

requisitos legais.

Questões ecológicas que

atraem forte litígio ou ação

da comunidade são

ignoradas.

4 EFICIÊNCIA

Formação técnica e

treinamento de habilidades

interpessoais. Projetos

comunitários e estratégias de

agregação de valor de RH são

buscados somente quando a

relação custo-benefício para a

empresa é garantida.

As questões ambientais são

ignoradas se elas não são

vistas como geradoras de

custos evitáveis ou causas

para o aumento de

ineficiências.

5 ESTRATÉGIA PRÓ-ATIVA

O capital intelectual e social

são usados para desenvolver

vantagens estratégicas

através da inovação em

produtos e serviços.

Estratégias ambientais pró-

ativas, tais como o desenho

de produtos e processos são

vistos como uma fonte de

vantagem competitiva.

6 ORGANIZAÇÃO

SUSTENTÁVEL

As principais metas, tanto

dentro como fora da empresa,

são a busca da equidade e

bem-estar humano.

A empresa trabalha com a

sociedade para a renovação

ecológica e políticas

positivas de

sustentabilidade.

Fonte: Traduzido de Benn, Dunphy e Griffiths (2006, p. 157).

O modelo de Benn, Dunphy e Griffiths (2006), descrito no quadro 6,

demonstra algumas práticas referentes a cada nível de desenvolvimento da SO. Além

disso, os autores destacam que as mudanças significativas que possibilitam às

organizações avançarem para fases mais complexas rumo à sustentabilidade, podem

ser desencadeadas por alterações como: nomeação de nova liderança na

organização, pressão por parte dos stakeholders, nova legislação e crises e flutuações

econômicas.

Destacados até aqui a literatura vigente da sustentabilidade, seus

conceitos e correntes teóricas, conferências mundiais, motivações, desafios,

vantagens e modelos de mensuração da SO, seguimos para o próximo capítulo, que

tem como objetivo tratar de outra área de conhecimento que é central para a proposta

deste estudo, a gestão de pessoas.

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43

2.2 GESTÃO DE PESSOAS

Gestão de pessoas e gestão estratégica de pessoas são dois

conceitos relevantes deste estudo, para os quais, nesta seção, busca-se uma

definição trazendo sua evolução histórica e também uma discussão a respeito dos

sistemas e modelos que as compõem. Além disso, procura-se ressaltar o papel da

gestão de pessoas na disseminação da estratégia organizacional, demonstrando sua

importância em uma organização que prioriza a sustentabilidade.

2.2.1 Evolução histórica de Gestão de Pessoas

A gestão de pessoas – GP, é uma área que tem muito para contribuir

com os resultados finais das organizações. No entanto, diferentemente de outros

setores da empresa, nem sempre é possível mensurar a sua contribuição e influência

na gestão dos negócios. Por esse motivo, muitas vezes a gestão de pessoas foi

reconhecida ao longo do tempo como irrelevante, dispendiosa, incompetente, externa

à realidade do negócio, consumidora de tempo com políticas retóricas e reativa.

Porém, Ulrich (2000) e Fisher (2002) defendem uma perspectiva diferente para a

gestão de pessoas. Segundo os autores, em um contexto de globalização, tecnologia

avançada e de contínua mudança do ambiente organizacional, a área de GP ganha

um novo papel, configurando-se como central para o atingimento das estratégias de

negócios, ao ser a única capaz de capacitar a organização a lidar com as mudanças

e tornar o colaborador um protagonista dessa transformação.

Freitas, Jabbour e Santos (2009) revelam que a gestão de pessoas

mostra-se como uma área em constante evolução, em que, se analisarmos os

diferentes momentos e contextos históricos, serão encontradas diferentes abordagens

e perspectivas para ela, inclusive com nomenclatura diferenciada. Leite e Albuquerque

(2009) argumentam que o início dos pressupostos e da preocupação com a gestão de

pessoas deu-se com o industrial Robert Owen em 1789. Sendo considerado idealista

a partir de 1825, Owen acreditava que era possível um ambiente de trabalho capaz

de amenizar o sofrimento da classe trabalhadora. Assim, ele contribuiu com a

regulamentação das horas de trabalho, a criação de leis específicas para os menores

de idade, a promoção da educação pública, os refeitórios nas fábricas e com o

envolvimento das empresas em projetos que visam o bem da comunidade.

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44

Obviamente, nem todos os industriais pensavam como Owen, sendo

o lucro a todo custo o paradigma predominante na época. Com isso, a diferenciação

entre os objetivos dos trabalhadores e os objetivos dos propritários era gritante. Fato

que deu força para a busca de direitos pelos proletários e estrutura para o início da

gestão de pessoas, ou como reconhecida inicialmente, a administração de pessoal

(FREITAS; JABBOUR; SANTOS, 2009).

Outra influência histórica para a gestão organizacional e de pessoas

remonta, principalmente, à administração científica (1903) de Frederic W. Taylor, que

de acordo com Jamrog e Overholt (2004), apresentou três conceitos que forneceu a

base para a moderna gestão de pessoas: 1) as pessoas selecionadas para o trabalho

devem corresponder, física e mentalmente, com os requisitos da função, assim como,

aquelas que não se enquadram no sistema devem ser excluídas; 2) as pessoas devem

receber treinamento para que o trabalho executado saia de acordo com o

especificado; 3) os trabalhadores deveriam receber incentivos por obedecer aos

procedimentos especificados.

Com isso, é possível visualizar que já no início do século passado, de

modo rudimentar se comparado com o mundo contemporâneo, Taylor aplicou alguns

processos básicos utilizados atualmente na gestão de pessoas, como seleção,

treinamento e remuneração. Apesar das críticas que recebeu, como a separação entre

a concepção e a execução do trabalho, gestão autoritária e pouca comunicação no

ambiente organizacional, o que contribuía para a degradação do fator humano,

apresentando uma visão reducionista do homem como uma extensão da máquina,

Taylor conseguiu destacar-se com suas ideias revolucionárias, sendo reconhecido

pelo seu pioneirismo e espírito empreendedor (FREITAS; JABBOUR; SANTOS,

2009).

Freitas, Jabbour e Santos (2009) argumentam que a partir da

abordagem taylorista, surge no âmbito organizacional e, principalmente, na gestão de

pessoas a estrutura mecanicista. Essa abordagem tem como enfoque o

monitoramento e o controle, por meio de procedimentos padronizados, formalização

do trabalho, grande ênfase na hierarquia, papéis altamente especializados, e

funcionários obrigados a ser eficientes e agir de forma ordenada. Os autores relatam

que por muito tempo, o setor industrial configurou-se a partir da abordagem

mecanicista, na qual consideravam as pessoas como “peças intercambiáveis” dentro

do sistema produtivo (HARRIS, 1999, p.55), sendo que as práticas de gestão de

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pessoas, ou recursos humanos como mais conhecido, eram estruturadas para serem

reativas, consistindo assim, “na minimização do papel de RH na organização”

(KHATRI, 1999, p. 520). Já as organizações que apresentam orientação com menos

ênfase mecanicista, tendem, por consequência, a apresentarem menor padronização

das atividades e dos procedimentos formais e uma maior descentralização das

decisões.

Em seguida, por volta de 1900 e 1920, Jamrog e Overholt (2004)

destacam o nascimento do departamento pessoal. Segundo os autores, o surgimento

dos sindicatos, da Civil Service Commission e a gestão científica nos EUA levou à

criação dos primeiros departamentos de pessoal, em que as organizações

contratavam especialistas para supervisionar áreas relacionadas ao gerenciamento

das pessoas dentro da empresa.

No entanto, foi em 1930 que a gestão de pessoas, com o apoio da

Teoria das Relações Humanas, tem sua base fortalecida, por meio de disciplinas

acadêmicas aplicadas às ciências comportamentais e novas abordagens no ambiente

organizacional. Nesse contexto, a Teoria das Relações Humanas surge para

combater os abusos que eram praticados contra os trabalhadores e foi a partir dela

que se passou a considerar o fator humano na organização do trabalho (FREITAS;

JABBOUR; SANTOS, 2009).

Wood Jr. (1995) destaca que no Brasil, entre 1930 e 1950, surgiu a

fase burocrática de recursos humanos, que é a fase em que o departamento pessoal

visa atender somente às exigências legais. Também nessa época, o principal objetivo

da área de recursos humanos na França e na Itália era garantir o cumprimento das

regras contratuais, em que os trabalhadores eram considerados sujeitos passivos e

geridos de uma forma paternalista, por soldados aposentados e advogados que

exerciam a função de administrador de pessoal.

Sammartino (2002) aponta que entre as décadas de 1940 e 1950 no

Brasil, predominou a intervenção do Estado nas relações trabalhistas, o que exigiu da

área de recursos humanos uma nova forma de atuação, que passou a ser mediadora

na relação funcionário e organização. Foi ainda entre 1950 e 1960, que ocorreu a

implantação da indústria automobilística no país, o que promoveu a preocupação com

a eficiência, o desempenho e a implementação dos subsistemas de RH, fase esta

denominada como Tecnicista por Wood Jr. (1995).

Nesse período, apesar do conhecimento e compreensão de como as

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pessoas se comportam nas organizações, a função de administração de pessoal

ainda era considerada como uma unidade de registros com caráter operacional

(JAMROG; OVERHOLT, 2004). Nesse momento da evolução histórica, a gestão de

pessoas executava somente os processos de recrutamento, seleção, treinamento e

remuneração, apresentando um caráter estritamente técnico (DUTRA, 2008).

Freitas, Jabbour e Santos (2009) relatam que durante a II Guerra

Mundial, iniciada em 1939, houve um aumento considerável da regulamentação

governamental nos negócios, o que disparou igual crescimento na formação do

departamento pessoal em grandes organizações. Os autores afirmam ainda que uma

segunda onda de regulamentação governamental teve seu auge nas décadas de 1960

e 1970, o que resultou no aumento dos trabalhos e das rotinas burocráticas, relativas

ao preenchimento de formulários, arquivamento e gerenciamento de dados e uma

substancial expansão do número de funcionários administrativos.

Wood Jr. (1995) destaca que no período de 1970 e 1980 surgiu a

gerência de RH, que era responsável pela integração dos enfoques administrativo,

estruturalista e comportamental, abordando a área pela primeira vez de forma

sistêmica com os negócios. A partir desse período começou a transição da

administração de pessoal para a administração de recursos humanos

(SAMMARTINO, 2002).

Dutra (2008) denomina que a fase gerencial é o período em que a

gestão de pessoas passa a interferir nos diferentes processos da organização, sendo

requisitada como parceira nos processos de desenvolvimento organizacional. Até o

final da década de 1960, apesar do grande e crescente conhecimento, o profissional

de RH muitas vezes era visto como um escriturário, no entanto, isso mudou a partir

das tendências sociais, demográficas, tecnológicas e econômicas dos anos 1970 e

1980 (JAMROG; OVERHOLT, 2004). As questões sociais e demográficas (como

minorias, mulheres, idosos, imigrantes e trabalhadores sem qualificação) aceleraram

a área de RH a promover a qualidade de vida, gestão da diversidade étnica e cultural,

e a formação e capacitação a fim de responder às críticas do ambiente externo. Esse

processo marcou o início da profissionalização da função de recursos humanos, em

que as pessoas realmente agregavam valor à organização, conferindo-a uma

vantagem competitiva (JAMROG; OVERHOLT, 2004).

Sammartino (2002) e Dutra (2008) destacam que a década de 1980

também marcou o surgimento da gestão estratégica de recursos humanos, o que tem

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sido um dos principais desenvolvimentos na forma de repensar essa área

organizacional. Visto que, nessa fase, as políticas de GP orientam-se explicitamente

em direção à realização dos objetivos estratégicos da organização por meio de uma

concepção que valoriza a pessoa humana como fonte de potencialidades e recursos

estratégicos.

A década de 1990 foi marcada pela grande competitividade entre as

organizações, pelo movimento da globalização, pela evolução da tecnologia da

informação, aumento da consciência socioambiental e pela pressão dos stakeholders

sobre o papel social das organizações (SAMMARTINO, 2002). Esta fase, ainda em

curso, promoveu e vem promovendo grandes mudanças no contexto de gestão de

pessoas, que diante das imposições externas e internas, é obrigada a revisar

constantemente seus sistemas e modelos para adequar-se às questões da atualidade

e às necessidades de seus públicos. Diante disso, segue no próximo subcapítulo uma

apresentação sobre os sistemas e modelos de gestão de pessoas.

2.2.2 Sistemas e Modelos de Gestão de Pessoas

Como visto anteriormente, as últimas décadas testemunharam

mudanças profundas no papel da gestão de pessoas. Tradicionalmente, os gerentes

viam a função de GP como basicamente operacional e técnica. Com isso, o pessoal

de RH se concentrava no gerenciamento de benefícios e de atividades rotineiras,

como folha de pagamento e outras funções operacionais, e não consideravam a

gestão de pessoas participante da estratégia geral da organização. Com o tempo, o

contexto histórico foi se alterando e levou consigo a evolução do papel da área,

refletindo em mudanças nas abordagens e nas nomenclaturas. Pires (2011, p. 29)

argumenta que, se não for tomado o devido cuidado, as alterações de departamento

pessoal, administração de recursos humanos e gestão de pessoas, “podem não

apresentar transformações efetivas no dia a dia das organizações, estando as

diferenças mais no significado e ênfase do que em sua substância”.

Nesse sentido, Fleury e Fisher (1998, p. 91) consideram importante o

entendimento da gestão de pessoas além das fronteiras da própria área. Para as

autoras, vista de forma sistêmica e estratégica, a gestão de pessoas pode ser

"compreendida como um conjunto de políticas e práticas definidas por uma

organização para orientar o comportamento humano e as relações interpessoais no

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ambiente de trabalho".

Foi a partir da década de 1990, que essa nova ênfase sobre a visão

sistêmica e estratégia de negócios e sobre a importância dos sistemas de GP se

desenvolveu. Assim, os pesquisadores e profissionais passaram a reconhecer o

impacto do alinhamento desses sistemas com o esforço de implementação da

estratégia mais ampla da organização – e da avaliação da qualidade dessa

compatibilização a partir de modelos de gestão de pessoas. Embora, haja muitos

modelos de GP atualmente, Becker, Huselid e Ulrich (2001) representam a seguinte

evolução de gestão de pessoas como um ativo estratégico:

Figura 3 – As abordagens dos sistemas e modelos de Gestão de Pessoas

Fonte: Elaborado pela autora a partir de Becker, Huselid e Ulrich (2001).

Becker, Huselid e Ulrich (2001) e Albuquerque (2002) acreditam que

a iniciativa mais poderosa dos gerentes de GP para garantir sua contribuição

estratégica é o desenvolvimento de um sistema de mensuração que demonstre, de

maneira convincente, o impacto de GP sobre o desempenho da empresa. Segundo

os autores, para projetar tal sistema de mensuração, os gerentes de GP devem adotar

uma perspectiva radicalmente diferente, que se concentre no modo como a área pode

desempenhar um papel central na implementação da estratégia da organização. Com

uma arquitetura estratégica adequada, os gerentes de todas as áreas da empresa

serão capazes de compreender exatamente como as pessoas criam valor e como

•A empresa contrata e remunera pessoas, mas não se empenha em atrair os melhores ou em desenvolver colaboradores excepcionais.

Perspectiva do Pessoal

•Trata-se de um primeiro passo no sentido de confiar nas pessoas como fonte de vantagem competitiva, mas ainda não explora integralmente os benefícios de GP como ativo estratégico.

Perspectiva da Remuneração

• Os gerentes seniores veem os empregados como ativo estratégico, mas não investem na reformulação geral dos recursos de GP. Portanto, o sistema de GP é incapaz de alavancar a perspectiva da gerência.

Perspectiva do Alinhamento

•Os executivos veem a área como um sistema embutido dentro do sistema mais amplo da estratégia de negócios. A organização gerencia e mede as relações entre esses dois sistemas e o desempenho da empresa.

Perspectiva de Alto Desempenho

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medir esse processo de criação de valor. Com isso, os primeiros autores relatam que:

... aprender a atuar como parceiros estratégicos não é apenas um meio para

que os profissionais de GP justifiquem sua existência ou defendam suas

funções. Também tem implicações para sua própria sobrevivência e para a

sobrevivência da empresa como um todo (BECKER; HUSELID; ULRICH,

2001, p.19).

Assim, segundo Fisher (2002) e Albuquerque (2002) pode-se alegar

que o fundamento da estratégia de GP criadora de valor, é uma infraestrutura

gerencial que compreenda e seja capaz de implementar a estratégia da empresa.

Normalmente, os profissionais na função de gestão de pessoas deveriam liderar esse

esforço. Isso implica afastar-se da tradicional orientação funcional de muitos gerentes

de RH e compreender, de maneira mais ampla, o papel estratégico que a área deve

desempenhar na organização. De acordo com Becker, Huselid e Ulrich (2001) a

eficácia da área de GP tem duas dimensões essenciais. A primeira, GP técnica, inclui

a prestação dos serviços básicos de RH, como recrutamento, remuneração e

benefícios. A segunda, GP estratégica, envolve a prestação desses serviços de

maneira que respalde diretamente a implementação da estratégia.

Com isso, Ulrich (2000) e Holbeche (2004) revelam que a maioria dos

gerentes de GP é muito eficiente na execução das atividades tradicionais ou técnicas

de RH, mas não muito capaz no fornecimento dos recursos estratégicos de GP. Os

gerentes de RH mostram-se especialmente limitados quanto à sua capacidade de

traduzir a estratégia e os objetivos operacionais da organização em metas factíveis

para a área de gestão de pessoas e de, em seguida, implementar essas metas.

Embora seja exatamente a capacidade de inserir GP dentro do sistema mais amplo

de implementação da estratégia que se revela como a influência mais importante

sobre o desempenho da organização (BECKER; HUSELID; ULRICH, 2001; FISHER

2002; SHRM; BSR; AUROSOORYA, 2011).

Nessa perspectiva, o modelo defendido por Becker, Huselid e Ulrich

(2001), para o sistema de GP, é chamado de High-Performance Work System –

HPWS (Sistema de Trabalho de Alto Desempenho). No HPWS, cada elemento do

sistema de GP destina-se a maximizar a qualidade geral do capital humano em toda

a organização. Para construir e manter um estoque de capital humano talentoso, o

HPWS faz o seguinte:

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... vincula suas decisões de seleção e promoção a modelos de competência

validados; desenvolve estratégias que ofereçam apoio oportuno e eficaz às

habilidades necessárias à implementação da estratégia da organização, e

promulga políticas gerenciais referentes a desempenho e remuneração que

atraiam, retenham e motivem os colaboradores de alto desempenho

(BECKER; HUSELID; ULRICH, 2001, p. 28).

Os itens desta lista talvez pareçam óbvios. Contudo, eles são passos

vitais para a melhoria da qualidade do processo decisório em toda a organização –

algo que faz bastante sentido em termos de negócios, à medida que os modelos

gerenciais tradicionais de comando e controle cada vez mais caem em desuso. Em

síntese, para que GP crie valor, a organização precisa estruturar cada elemento de

seu sistema de gestão de pessoas de maneira que, implacavelmente, enfatize,

respalde e reforce uma força de trabalho de alto desempenho. No sentido de visualizar

isso, Becker, Huselid e Ulrich (2001) elaboram a arquitetura estratégica de GP,

representada na figura 4.

Figura 4 – Arquitetura estratégica de Gestão de Pessoas

Fonte: Adaptado de Becker, Huselid e Ulrich (2001).

Tendo desenvolvido o sistema de gestão de pessoas de maneira

alinhada à estratégia organizacional, é o momento de se definir o modelo adotado

pela área. A importância que o comportamento humano vem assumindo no âmbito

dos negócios fez com que a preocupação com sua gestão ganhasse espaço cada vez

maior na teoria organizacional. É nesse contexto que surge o conceito de modelo de

gestão de pessoas.

Quando esse conceito é estrategicamente orientado, sua missão

A FUNÇÃO DE GP

Profissionais da área de GP com

competências estratégicas

O SISTEMA DE GP

Políticas e práticas de alto desempenho, estrategicamente

alinhadas

O COMPORTAMENTO DOS COLABORADORES

Competências e motivações estrategicamente enfocadas

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prioritária consiste em identificar padrões de comportamento coerentes com o negócio

da organização. A partir de então, deve obtê-los, mantê-los, modificá-los e associá-

los aos demais fatores organizacionais. Analisado no contexto organizacional, o

modelo caracteriza-se assim como uma variável dependente das condições em que

ocorrem os negócios (FISHER, 2002). Somente com o entendimento adequado dos

fatores que determinam essas condições é que se torna possível delinear um modelo

coerente com as necessidades da organização.

De acorco com Fisher (2002), Albuquerque (2002) e Fleury (2002), o

que distingue um modelo de outro são as características dos elementos que os

compõem e sua capacidade de interferir na vida organizacional dando-lhe identidade

própria. O modelo deve assim, por definição, diferenciar a empresa em seu mercado,

contribuindo para a fixação de sua imagem e de sua competitividade. Portanto,

entende-se por modelo de gestão de pessoas “a maneira pela qual uma empresa se

organiza para gerenciar e orientar o comportamento humano no trabalho” (FISHER,

2002, p. 12). Para isso, a empresa se estrutura definindo princípios, estratégias,

políticas e práticas ou processos de gestão. Através desses mecanismos, implementa

diretrizes e orienta os estilos de atuação dos gestores em sua relação com aqueles

que nela trabalham.

O desempenho que se espera das pessoas no trabalho e o modelo

de gestão correspondente são determinados por fatores internos e externos ao

contexto organizacional. Fisher (2002) relata que dentre os fatores internos,

destacam-se o produto ou serviço oferecido, a tecnologia adotada, a estratégia de

organização do trabalho, a cultura e a estrutura organizacional. Quanto aos fatores

externos, a cultura de trabalho de dada sociedade, sua legislação trabalhista e o papel

conferido ao Estado e aos demais agentes que atuam nas relações de trabalho vão

estabelecer os limites nos quais o modelo de gestão de pessoas poderá atuar.

Ulrich (2000), Fisher (2002) e Albuquerque (2002) defendem que, a

rigor, tudo aquilo que interfere de alguma maneira nas relações organizacionais pode

ser considerado um componente do modelo de gestão de pessoas. Segundo os

autores, o comportamento organizacional não é produto direto de um processo de

gestão, mas o resultado das relações pessoais, interpessoais e sociais que ocorrem

na empresa. Gestão de pessoas significa orientação e direcionamento desse

agregado de interações humanas. Nesse sentido, a definição de uma estratégia, a

implementação de uma diretriz com impactos no comportamento dos empregados, a

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fusão ou transferência de uma unidade organizacional ou a busca de nova postura de

atendimento ao cliente são intervenções de gestão de pessoas (FISHER, 2002;

ALBUQUERQUE 2002).

Os componentes formais de um modelo de gestão de pessoas se

definem por princípios, políticas e processos que interferem nas relações humanas no

interior das organizações. Fisher (2002) e Fleury (2002) descrevem que por princípios

entende-se as orientações de valor e as crenças básicas que determinam o modelo e

são adotadas pela empresa. Para os autores, o modelo de gestão deverá não só

segui-los e respeitá-los como também reforçar esses valores na cultura da

organização.

As políticas, por sua vez, estabelecem diretrizes de atuação que

buscam objetivos de médio e de longo prazo para as relações organizacionais. Em

geral, são orientadoras e integradoras dos processos especificamente voltados para

a gestão de pessoas (FISHER, 2002; FLEURY 2002). Os processos são os elementos

mais visíveis do modelo, e boa parte da literatura sobre gestão de pessoas tem-se

dedicado exclusivamente a eles. Para Fisher (2002), os processos são cursos de ação

previamente determinados, não podem ultrapassar os limites dos princípios de gestão

e visam alcançar os objetivos traçados, orientados por políticas específicas. Os

processos são instrumentalizados por uma ou mais ferramentas de gestão que

pressupõem procedimentos específicos. De acordo com o autor, caracterizam-se

como processos de gestão os planos de cargos e salários, de capacitação e de

sucessão, a administração de carreiras e as avaliações de desempenho, de

performance e de pessoal. Pesquisas salariais, de clima organizacional e diagnósticos

de cultura também são exemplos de processos e ferramentas componentes do

modelo.

O importante, quando se fala em processos, é que somente ganham sentido

efetivo num contexto dado, ou seja, o processo depende de um princípio ou

crença que lhe dê conteúdo e direção e de sua capacidade de interferir nas

relações organizacionais. Somente assim um processo poderá cumprir seu

papel de orientar ou estimular o comportamento humano na empresa

(FISHER, 2002, p. 18).

Integra ainda ao modelo de gestão de uma organização o estilo de

gestão dos gerentes diretos das equipes de trabalho, ou seja, a maneira pela qual o

gestor atua ao estabelecer limites ou estimular determinados padrões de

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comportamento (FISHER, 2002). Pela orientação dos processos de capacitação

gerencial ou mesmo da simples divulgação dos perfis de comportamento desejados a

organização procura intervir no estilo gerencial praticado por suas chefias dando

coerência ao modelo.

O que diferencia um modelo de outro são as características de seus

elementos, que se articulam em torno de alguns conceitos-chave, que por sua vez

determinam a forma de operação. Buscando explicitar e entender esses conceitos

articuladores, classificam-se as grandes correntes sobre gestão de pessoas em três

categorias principais, que correspondem a períodos históricos distintos, são elas:

modelo de gestão de pessoas articulado como departamento pessoal, como

administração de recursos humanos e como gestão estratégica de pessoas. Como o

objetivo deste trabalho é relacionar a sustentabilidade organizacional com a gestão

estratégica se pessoas, segue no próximo subcapítulo uma descrição desse modelo

de gestão.

2.2.3 Gestão Estratégica de Pessoas

Toda e qualquer organização depende, em maior ou menor grau, do

desempenho humano para seu sucesso. Por esse motivo, desenvolve e organiza uma

forma de atuação sobre o comportamento que se convencionou chamar de modelo

de gestão de pessoas (FISHER, 2002). O modelo que compreende o objetivo deste

trabalho é o de Gestão Estratégica de Pessoas.

Como relatado no subcapítulo sobre a evolução histórica da área de

GP, a abordagem estratégica para a gestão de pessoas surgiu no início da década de

80, ressaltando o papel da GP no planejamento estratégico da organização e

colocando ênfase, primordialmente, no alinhamento entre a estratégia organizacional

e as estratégias, políticas e práticas de gestão de pessoas. Essas condições,

essenciais para alcançar a excelência organizacional, exigem que a gestão de

pessoas se desloque da posição operacional/técnica tradicional que vinha sendo

praticada até então, para um posicionamento estratégico, que apresenta mais

possibilidades de contribuição para as demandas da contemporaneidade, ao mesmo

tempo em que traz grandes desafios para os gestores da área (TEIXEIRA et al, (2005).

Lepak e Shaw (2008) demonstram que grande parte da literatura de

gestão estratégica de pessoas pode ser classificada em três perspectivas teóricas: a

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universalista, a contingencial e a configuracional. Todas com o mesmo objetivo de

orientar a GP para um bom desempenho organizacional, mas cada qual com ênfase

em uma visão específica sobre sua dimensão estratégica. A perspectiva universalista

vê valor estratégico em cada uma das práticas de GP. Segundo Martín-Alcázar,

Romero-Fernández e Sánchez-Gardey (2005), essa perspectiva apresenta uma

relação linear entre variáveis, identifica a melhor prática, demonstra a capacidade de

desempenho e é generalizável.

Já a abordagem contingencial, argumenta os autores, estabelece uma

relação entre a prática e o desempenho, mas depende de outra variável que é a

contingência e, nesse caso, a melhor prática não ocorre em qualquer circunstância.

Três contingências genéricas são normalmente consideradas pela literatura: a variável

estratégica, variáveis organizacionais (tamanho, tecnologia e estrutura) e fatores

externos à organização (competitividade, macroeconomia e relações de trabalho).

Segundo Lepak e Shaw (2008), a perspectiva contingencial parte do pressuposto de

que um sistema de gestão de pessoas busca certos comportamentos dependendo

das contingências expostas a ele. Na abordagem configuracional, a gestão de

pessoas mantém uma visão sistêmica e coesa, considerando a influência das

variáveis sobre todo o sistema e buscando padrões de relações entre todas as práticas

(LACOMBE, 2005). Essas três perspectivas demonstram as formas pelas quais a

organização administrará seu sistema de GP visando o alcance de objetivos

estratégicos e um melhor desempenho organizacional.

Ao relacionar sustentabilidade com gestão de pessoas, este trabalho

busca enfatizar a perspectiva contingencial. Dado que a diretriz da sustentabilidade

pode ser compreendida como uma variável de contexto que age na estratégia

organizacional e busca influenciar o comportamento dos colaboradores de forma

coerente ao pretendido pela organização. Com isso, entende-se a gestão estratégica

de pessoas como:

... um conjunto integrado de práticas, políticas e estratégias através das quais

as organizações gerenciam seu capital humano, que influencia e é

influenciado pela estratégia do negócio, o contexto organizacional e o

contexto socioeconômico (MARTÍN-ALCÁZAR; ROMERO-FERNÁNDEZ;

SÁNCHEZ-GARDEY, 2005, p. 651).

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Tal definição aponta a integração como importante aspecto da GEP e

reconhece sua importante relação recursiva dentro do contexto organizacional,

econômico, social e ambiental. Nesta concepção, para a GEP estar coerente com as

questões estratégicas da organização, ela deve orientar-se pelas seguintes

premissas:

Valorização dos talentos humanos na empresa, ou seja, trata-se de gerir o

trabalho e as pessoas e não simplesmente recursos ou números; Atração e

manutenção de pessoas de alto potencial e qualificação para o trabalho;

Criação de condições favoráveis à motivação individual e à mobilização dos

grupos em torno das metas organizacionais; Possibilidade de crescimento

funcional e desenvolvimento profissional na própria empresa; Oferecimento

de incentivos vinculados a resultados da atividade empresarial, de

preferência como base grupal ou coletiva; Adaptação das políticas integradas

de recursos humanos à realidade da empresa e ao contexto externo

econômico, social e político na qual atua (ALBUQUERQUE, 1992, p. 26-27).

Segundo Teixeira et al (2005) essas premissas devem seguir e

respeitar uma hierarquia estratégica, na qual se distingue em três grandes níveis

hierárquicos, a gestão estratégica corporativa, a gestão estratégica de unidades de

negócios e a gestão estratégica de área ou processos funcionais. Na gestão

estratégica corporativa, ou no nível institucional, estão as decisões que não podem

ser descentralizadas sob pena de se correr graves riscos de subotimizações. Isso

pode ocorrer, pois segundo os autores, aqueles que atuam em áreas intermediárias

da organização não possuem informações apropriadas para, isoladamente, efetuar as

composições necessárias à maximização dos benefícios do todo, que geralmente

impõem alguns trade-offs ou restrições a unidades de negócios ou funcionais.

No nível das estratégias de negócios, Teixeira et al (2005), relatam

que é onde formula-se a concepção e realiza-se a escolha de alternativas voltadas

para assegurar um desempenho competitivo e autossustentado nas atividades-fim da

organização. O desafio, que os autores destacam, é conceber missões, opções,

objetos e ações para suas unidades, congruentes com a estratégia corporativa e a

disponibilidade de recursos indicada para o conjunto das funções.

E, no nível funcional, trata-se não apenas de consolidar as

necessidades de meios exigidos pela organização e para cada negócio, em particular,

como também de conceber estratégias específicas voltadas para os diferentes

suportes funcionais da organização. Teixeira et al (2005) ainda afirmam que essa

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hierarquia entre os tipos de gestão estratégica deve ser respeitada, para que haja

coerência entre os diversos níveis e, dessa forma, coesão de todo o processo de

gestão.

Wright e Snell (1991) relatam outro papel relevante da gestão

estratégica de pessoas, que é a importância de a área assegurar à organização

competências e comportamentos necessários para realizar suas estratégias. Com

esse intuito, Miles e Snow (1984) consideram que a área de GP deveria ter a

compreensão da linguagem do planejamento estratégico, como missão, visão,

objetivo estratégico e implementação estratégica. Para os autores, somente dessa

forma, a GP estaria capacitada a perseguir os objetivos organizacionais e seus

colaboradores estariam especializados em estrutura, processos, mudanças e

desenvolvimento contínuo.

Nesse sentido, Albuquerque (2002) apresenta duas diferentes

perspectivas para a gestão de pessoas, sendo a de controle e a de comprometimento.

Na estratégia de controle, os colaboradores são vistos como custos e fator de

produção, sendo assim eles devem ser controlados e mandados. Sob essa

perspectiva, pode-se destacar a hierarquia rígida e separação clara entre quem pensa

e quem executa o trabalho, tarefas especializadas e monótonas, baixa autonomia ao

colaborador e uso de incentivos individuais. Por outro lado, a estratégia de

comprometimento considera as pessoas como parceiras do negócio, relacionando

diretamente o comprometimento ao aumento de desempenho. Nessa estratégia, há

uma união entre o fazer e o pensar, com foco no empowerment do colaborador,

atividades desafiantes, decisões compartilhadas e uso de incentivos coletivos

vinculados aos resultados organizacionais. Tais estratégias apresentadas por

Albuquerque (2002) demonstram a forma pela qual as organizações buscam orientar

o comportamento de seus colaboradores, mostrando-se a estratégia de

comprometimento como a mais coerente em uma diretriz voltada à sustentabilidade

(PIRES, 2011).

Ulrich (2000) definiu em seus estudos, quatro papéis para os

profissionais de GP, no qual a atividade é: 1. integrar as estratégias de GP à estratégia

organizacional e, como resultado, a execução da estratégia; 2. o de administração de

infraestrutura da empresa, em que a atividade é de reengenharia dos processos da

organização, tendo como resultado a construção de uma infraestrutura eficiente; 3.

administração da contribuição dos funcionários, que consiste nas atividades de ouvir

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e responder aos funcionários e, como resultado, aumento do envolvimento e das

capacidades dos colaboradores; 4. administração da transformação e da mudança,

em que a atividade é de gerir a transformação e a mudança, obtendo como resultado

a criação de uma organização renovada e competitiva.

O autor lembrou ainda que as chaves para a criação de organizações

competitivas residem no modo como as pessoas são tratadas, os profissionais são

comandados e o trabalho de uma organização é coordenado. As ferramentas para

criar tais organizações provém da redefinição e aprimoramento da gestão de pessoas.

Com isso, fica evidente a capacidade da comunidade de GP criar valor e produzir

resultados para as organizações. Para Ulrich (2000), assumir o papel profissional de

GP significa ir mais além de passar do trabalho operacional para o estratégico.

Sobretudo, significa aprender a dominar tanto os processos operacionais e

estratégicos como o pessoal, aceitando a responsabilidade pela consecução de

resultados e contribuindo, ao mesmo tempo, com o compromisso comum necessário

para obter esses resultados.

Contudo, para transformar as práticas de GP em algo mais que atos

isolados, os gerentes de linha e os profissionais de GP precisam ser capazes de

explicar, conceitualmente, como e por que as práticas de GP produzem seus

resultados e como ela pode interferir nas estratégias de negócio. No sentido de

alcançar isso, apresenta-se um modelo de gestão de pessoas elaborado por

Albuquerque (2002). Esse modelo compreende uma análise dos desafios impostos

pela ambiência de gestão de pessoas, os princípios que fundamentam a gestão

estratégica de pessoas e a sua estrutura.

Segue na figura 5, a estrutura do modelo de gestão estratégica de

pessoas.

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Figura 5 – Modelo de Gestão Estratégica de Pessoas

Fonte: Albuquerque (2002, p. 41)

Albuquerque (2002) explica que a análise dos desafios impostos pelo

contexto no qual a gestão de pessoas está inserida consiste no primeiro passo para a

elaboração e a implementação de um modelo capaz de superar essas dificuldades,

como: aplicar planos estratégicos; dar suporte à competitividade organizacional num

mundo de negócios hipercompetitivo; enfrentar o novo mundo do trabalho com

estratégias adequadas; preparar-se para a gestão do conhecimento do colaborador;

capacitar-se para atuar no âmbito virtual; criar clima propício à negociação; assegurar

maior visibilidade e transparências das suas atividades e, por fim, desenvolver a

capacidade de pesquisa na área de gestão de pessoas.

Diante desses desafios, o modelo de GEP deve assumir alguns

princípios, como: ênfase na interação com o contexto externo e interno da

organização; alinhamento da gestão de pessoas à estratégia corporativa e às

estratégias competitivas das unidades de negócios e às estratégias funcionais;

compatibilidade com a realidade da organização; atuação orientada para o suporte à

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competitividade organizacional; ênfase na gestão de mudanças; ênfase em uma

cultura estratégica; integração de suas estratégias e planos de ação à satisfação dos

stakeholders e avaliação permanente de gestão de pessoas (TEIXEIRA et al, 2005).

Em princípio, com o conteúdo apresentado até aqui, estaria esgotado

a caracterização da gestão estratégica de pessoas, uma vez que se examinou o

alinhamento das estratégias da gestão de pessoas à gestão estratégica da

organização. Entretanto, se considerando que a gestão de pessoas deve ser

concebida e praticada por uma perspectiva de sistema aberto e pretendendo com este

trabalho, relacionar as suas práticas com a sustentabilidade organizacional, segue,

como o último capítulo do referencial teórico, a integração entre esses dois temas,

discutindo nos modelos de SO e de GEP os seus componentes políticos, de estrutura,

as funções estratégicas e as competências essenciais.

2.3 INTEGRAÇÃO ENTRE SUSTENTABILIDADE E GESTÃO DE PESSOAS

O levantamento bibliográfico realizado no início do referencial teórico

demonstrou que, desde 2005, alguns estudos que discutem a relação entre

sustentabilidade organizacional e gestão de pessoas têm sido produzidos. Com isso,

é visível que a sustentabilidade é uma abordagem recente para a teoria da Gestão de

Pessoas, principalmente no contexto brasileiro, visto que grande parte das pesquisas

encontra-se em publicações internacionais.

A literatura aponta a integração entre gestão de pessoas e

sustentabilidade como desafiadora para as organizações. Contudo as pesquisas

revelam iniciativas de alinhamento e reestruturação dos sistemas de gestão de

pessoas. Demonstram ainda uma preocupação com os valores em uso e o

envolvimento dos líderes na integração e atuação da área de maneira estratégica em

uma organização que visa incorporar a sustentabilidade.

Os primeiros autores que buscaram relacionar a sustentabilidade com

a gestão de pessoas foram Boudreau e Ramstad (2005), em um artigo intitulado

"Talentship, talent segmentation and sustainability". Esse trabalho, segue como

referência para a discussão nas próximas pesquisas que buscam relacionar os temas,

principalmente, por entender a sustentabilidade a partir da visão do triple bottom line,

e por enfatizar a contribuição da área de gestão de pessoas para o alcançe dos

objetivos organizacionais.

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Para Boudreau e Ramstad (2005) a integração da gestão de talentos

e sustentabilidade é o que, atualmente, colabora para o sucesso da organização.

Nesse sentido, os autores afirmam que as ações organizacionais devem concentrar-

se nos colaboradores considerados como talentos estratégicos das empresas,

atingindo assim os profissionais que podem exercer maior impacto diante das

decisões e diretrizes da organização.

Os próximos autores a relacionarem os dois temas são Colbert e

Kurucz (2007) que buscam com o seu trabalho compreender o conceito de

sustentabilidade nas organizações e suas implicações para os processos de gestão

de pessoas. Como método, os autores realizaram sessenta e seis entrevistas com

líderes de diferentes posições em organizações reconhecidas como sustentáveis. A

análise apresenta três concepções para a sustentabilidade: equilíbrio operacional,

integração operacional e integração estratégica. Com isso, os autores afirmam que a

área de gestão de pessoas é crítica para a construção de intenção e alinhamento da

sustentabilidade na empresa.

Já Wirtenberg, Harmon e Fairfield (2007) realizaram sua pesquisa em

nove organizações sustentáveis e buscaram identificar os desafios organizacionais

em relação à sustentabilidade e ao papel da gestão de pessoas. Como resultado, os

autores identificaram uma pirâmide com sete qualidades principais para as

organizações sustentáveis, que são divididas em três momentos: inicial ou de

fundação, medição e integração. Sendo assim, as sete qualidades compreendem uma

estratégia central para a sustentabilidade, total apoio dos líderes da organização e

valores sustentáveis profundamente incorporados, no momento inicial; após, a

elaboração de um sistema de métricas e alinhamento de indicadores da

sustentabilidade para o momento de medição; e, por último, a busca do engajamento

dos stakeholders e uma integração holística. Para cada fase, os autores relacionam

com as contribuições da área de gestão de pessoas. Assim, participar da formulação

da estratégia, promover o desenvolvimento de líderes alinhados aos valores

sustentáveis, desenvolver competências, gerenciar talentos, oferecer suporte para

engajar todos os colaboradores e facilitar a colaboração e a integração holísticas são

algumas das responsabilidade de GP, que demonstram o quanto a área pode

colaborar para atingir a sustentabilidade organizacional.

Seguindo essa perspectiva, Jabbour e Santos (2008) apresentam,

pela primeira vez no Brasil, um trabalho teórico que busca as contribuições da gestão

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de pessoas para a sustentabilidade nas organizações. Assim, os autores concluem

que a relação entre GP e sustentabilidade envolve aspectos importantes como a

inovação, a diversidade cultural e o meio-ambiente. Além disso, relatam que a

integração de elementos do triple bottom line leva ao desenvolvimento de um modelo

baseado em uma postura estratégica e central da gestão de pessoas.

No ano seguinte, Freitas, Jabbour e Santos (2009) buscam

sistematizar o processo evolutivo de GP e apresentar um modelo, com cinco

orientações, em que demonstra a evolução da área de gestão de pessoas ao longo

do tempo e as diferenças estratégicas que ela adquiriu a partir dessas mudanças

históricas. Por fim, o modelo chega ao momento atual, no qual a gestão de pessoas

se coloca como central para o alcance da sustentabilidade, por meio de estratégias

inovadoras que reconhecem e valorizam as dimensões econômicas, sociais e

ambientais em suas políticas e práticas.

Wehling et al (2009) busca entender o papel atual e o ideal da gestão

de pessoas e como seus líderes podem contribuir para a transferência de valores

sustentáveis entre organizações, ao fazer um estudo comparativo entre dez

multinacionais alemães e suas subsidiárias brasileiras. A pesquisa demonstra que há

vários níveis de envolvimento e transferências de valores da área de gestão de

pessoas com os programas de sustentabilidade, descritos em cinco categorias, como:

análise racional, framework conceitual, direção, transferência e avaliação. Cada uma

contém suas ações, por exemplo, motivações e benefícios; modelo e terminologia;

responsabilidade na prestação de contas; implementação de mecanismos e

transferência de conhecimentos; e métricas, reconhecimento e relatórios,

respectivamente. Como conclusão, os autores relatam que a transferência de ações

voltadas para a sustentabilidade de um país para outro ainda depende de uma

mudança de larga escala, estratégia, política e transferência das melhores práticas.

Semelhante aos objetivos de Wirtenberg, Harmon e Fairfield (2007),

os autores Sroufe, Liebowitz e Sivasubramaniam (2010) buscam identificar como as

empresas se organizam para integrar e promover a sustentabilidade e qual o papel

das práticas de gestão de pessoas nessa ação. Na pesquisa, os autores realizam um

survey nas organizações de uma região dos EUA e destacam o papel das práticas da

área de gestão de pessoas para a implementação e desenvolvimento da estratégia

de sustentabilidade, discutem os desafios desse processo e revelam que os líderes

são grandes gatilhos para promover a sustentabilidade.

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Assim como Wehling et al (2009), Twomey et al (2010) discutem sobre

os valores em uso e desejados pela organização e a relação deles com a

sustentabilidade. Dentre as recomendações dos autores, a área de gestão de pessoas

deve reconsiderar algumas práticas e alinhá-las aos valores sustentáveis desejados.

Assim, eles desenvolvem uma framework em que elencam seis categorias para a GP,

como: força de trabalho, mudança, plano de carreira, direcionadores, tomada de

decisão, recompensas, impacto e responsabilidade. Essa framework descreve para

cada categoria as práticas sustentáveis de gestão de pessoas em comparação com

as não-sustentáveis. Nesse sentido, tem-se como práticas sustentáveis de GP:

desenvolver talentos para criar oportunidades, realizar uma mudança radical das

práticas e políticas da área, manter um plano de carreira autogerado e amplo, ser

direcionada por valores, pela sociedade e pelas pessoas, tomar decisões com visão

colaborativa, recompensar seus colaboradores beseando-se tanto nos resultados

financeiros quanto nos intangíveis, reconhecer seus impactos internos, externos,

manter o foco no estratégico e ser responsável com todos os seus stakeholders.

A partir de um survey online com gestores de gestão de pessoas e

áreas relacionadas, Harmon, Fairfield e Wirtenberg (2010) verificam como os líderes

auxiliam as organizações a planejar e implementar uma gestão de sustentabilidade.

Dentre os respondentes, 65% eram líderes dos EUA, 15% do Canadá e 20% somando

Ásia e Europa ocidental. Com isso, os autores confirmam que a ação dos líderes

voltados para a estratégia auxilia o avanço das organizações na temática da

sustentabilidade, mesmo que a maioria dos líderes não se sinta confiante em sua

capacidade de mudança e influência. Os autores também destacam que as atividades

comuns de GP, como recrutamento, seleção e recompensa, são mais difíceis de

serem adaptadas à sustentabilidade em relação à eficiência de energia, saúde e

segurança, mas também são capazes de agir estrategicamente e caminhar a práticas

mais sustentáveis.

Rimanoczy e Pearson (2010) realizam um estudo teórico para avaliar

o papel estratégico que a área de gestão de pessoas pode desempenhar no

desenvolvimento e na implementação de um programa de sustentabilidade. Os

autores propõem uma metodologia de aprendizado em ação para os líderes. Assim, é

possível desenvolver competências e incluir aspectos como pensamento sistêmico e

trabalho em equipe no desenvolvimento para a sustentabilidade.

No intuito de desenvolver uma cultura para a sustentabilidade,

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Liebowitz (2010) argumenta sobre a necessidade de mudança em dois aspectos:

primeiro, no pensamento e visão dos líderes, que devem apoiar completamente os

pressupostos sustentáveis e, segundo, uma mudança nos sistemas e processos de

gestão de pessoas. De acordo com o autor, a estratégia para a sustentabilidade só

pode ser confirmada a partir de um recrutamento e seleção de candidatos que apoiem

essa visão, de um processo de orientação e conscientização dos colaboradores já

atuantes, mudanças e continuidade de avaliações de desempenho, remuneração

compatível com os princípios da sustentabilidade e plano de carreira para manter a

sucessão de bons colaboradores.

Corroborando com esses itens, Schroeder (2012) realiza uma

abordagem sobre o estado da arte e da ciência da sustentabilidade estratégica e

discute o importante papel da gestão de pessoas em contribuir para o sucesso da

cultura sustentável. Assim, uma série de áreas-chave da gestão de pessoas em

relação à sustentabilidade estratégica são discutidos, sendo que a importância de uma

abordagem mais pró-ativa por parte dos profissionais de GP é notado.

Segundo o autor, as práticas de gestão de pessoas devem promover

o diálogo, consciência e compreensão da sustentabilidade; a GP deve assumir a

liderança na condução de uma revisão em toda a organização de competências a fim

de identificar pontos fortes bem como aberturas que devem ser tratadas; garantir que

as pessoas certas sejam alocadas para as áreas-chave do desenvolvimento e

implementação da iniciativa sustentável; assegurar que políticas e processos serão

projetados para fornecer à organização a combinação necessária para a sua

estratégia; garantir que os fatores relacionados à sustentabilidade sejam incorporados

em competências organizacionais, individuais e em planos e metas das diversas

áreas; agir como fonte de informação, orientação, exemplo e apoio, colaborando e

comunicando com as partes interessadas internas e externas e garantindo que a

sustentabilidade permaneça firmemente na agenda core business; e, finalmente,

monitorar e medir seus progressos, a fim de destacar e capitalizar em termos de

negócios as suas realizações, revelar áreas onde são necessárias melhorias e

demonstrar o retorno sobre o investimento.

A partir das sínteses sobre as contribuições dos estudos que abordam

os dois temas, é perceptível que a maior parte da escassa literatura sobre gestão de

pessoas e sustentabilidade se divide entre quatro perspectivas de discussão sobre as

temáticas. A primeira como o papel da área de GP quanto à sustentabilidade, a

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segunda sobre quais são suas estratégia, políticas e práticas, a terceira sobre a

característica de GP como disseminadora de valores organizacionais e, a quarta como

o papel dos líderes no processo de legitimação da cultura sustentável.

Na primeira perspectiva, não há uma definição única a respeito do

papel da área. No entanto, os autores convergem ao considerar a gestão de pessoas

como um importante agente diante das transformações organizacionais que a

sustentabilidade demanda, o que vai ao encontro do papel da área como agente de

mudanças proposta por Ulrich (2000). Para Wehling et al (2009), por ter um papel

tradicional em implementar mudanças estratégicas, a gestão de pessoas já está

habituada a concentrar esforços em transformações organizacionais e pode contribuir

da mesma maneira com os programas da sustentabilidade. E ainda, segundo Sroufe,

Liebowitz e Sivasubraminiam (2010), além de manter um papel de agente de

mudança, a gestão de pessoas atua como um parceiro estratégico, que contribui a

partir de duas dimensões, de intenção, ao incentivar a discussão sobre as motivações

da mudança, e outra de alinhamento, ao unir todos na busca pelos mesmos objetivos

(COLBERT; KURUCZ, 2007).

Mesmo no que se refere às políticas e práticas de GP, há divergências

nas constatações dos pesquisadores. Colbert e Kurucz (2007), Wehling et al (2009),

Sroufe, Liebowitz e Sivasubramaniam (2010) e Twomey et al (2010) são convergentes

na defesa de uma mudança que se inicie pelos novos colaboradores. Dentre as

diferentes propostas apresentadas pelos autores, essa seria uma maneira de ganhar

maior efetividade e menor resistência dos membros. Já Boudreau e Ramstad (2005)

discutem a integração da gestão de talentos e sustentabilidade e, nesse sentido,

afirmam que as ações devem concentrar-se nos colaboradores considerados como

talentos estratégicos das empresas, atingindo assim os profissionais que podem

exercer maior impacto diante das decisões e diretrizes da organização.

Ao tratar-se da temática de valores, vale lembrar os aspectos da

cultura organizacional. Quando a sustentabilidade é vista pela organização como um

valor, coloca-se intrinsecamente relacionada à sua cultura, podendo tornar-se um

tema compartilhado no ambiente de trabalho pelos membros da organização.

Segundo Twomey et al (2010), essa mudança de foco e objetivos não torna a

mudança de comportamento um processo simples. Os valores em uso pela sociedade

e organizações atuais, como o individualismo e o consumismo, não são coerentes

com objetivos sustentáveis, que requerem valores relacionados à criatividade,

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inovação e mudança profunda no estilo de vida. Para os autores, a observação das

práticas existentes dentro da organização é uma maneira de avaliar os valores e a

cultura em uso.

Além de novos colaboradores e dos talentos, os líderes também são

citados pela literatura (WEHLING et al, 2009). Assim como a área de gestão de

pessoas, os pesquisadores também compreendem a função dos gestores como

estratégica. Os líderes da organização tornam-se responsáveis pela tradução da

diretriz estratégica de sustentabilidade em seu dia a dia de trabalho e no de suas

equipes. Para Harmon, Fairfield e Wirtenberg (2010) e Sroufe, Liebowitz e

Sivasubramaniam (2010) a sustentabilidade é uma oportunidade para os líderes

desempenharem um papel estratégico e promoverem o desenvolvimento de uma

vantagem competitiva. Assim, eles devem participar ativamente durante a formulação

dos objetivos e planejamento estratégico, para que possam contribuir e legitimar os

pressupostos sustentáveis (JABBOUR e SANTOS, 2008).

Diante dos modelos propostos para os níveis da sustentabilidade

organizacional, para a gestão estratégica de pessoas e a análise da literatura que

aborda os dois temas, tem-se o referencial teórico para realizar a análise dos

resultados encontrados no campo. É importante destacar que esses modelos e as

quatro categorias encontradas na literatura específica servirão como basilares ao

estudo, e é reconhecido a improbabilidade de que todas as possibilidades existentes

no campo empírico se enquadre perfeitamente nas frameworks escolhidas. Porém,

devido aos objetivos do estudo, fazia-se necessário a adoção de referências teóricas.

Portanto, para descrever como se dará a pesquisa empírica, segue no próximo

capítulo as definições metodológicas.

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3 PERCURSO METODOLÓGICO

A metodologia tem por objetivo orientar o trabalho de pesquisa. Com

a expectativa de obter resultados relevantes, é necessário que haja um planejamento

e reflexão sobre os conhecimentos preexistentes. Nesse sentido, ao escolher

determinada metodologia se estabelece um foco para os esforços de pesquisa.

Os cientistas sociais abordam seus temas de pesquisa por meio de

pressupostos implícitos ou explícitos acerca da natureza do mundo social e da

maneira como ele pode ser investigado. De acordo com Godoi e Balsini (2006, p.90)

esses pressupostos ontológicos, epistemológicos e teóricos “determinam a coerência

entre a noção de sujeito e as relações de objeto, e acabam por definir a ‘escolha’

metodológica da pesquisa”.

Os pressupostos de natureza ontológica dizem respeito à verdadeira

essência do fenômeno sob investigação. Burrel e Morgan (1979) explicam que a visão

ontológica pode se dividir em duas perspectivas: realista e nominalista. O realismo

postula que o mundo social externo à cognição do indivíduo, é um mundo real

composto de estruturas concretas, tangíveis e relativamente imutáveis. Para o

realista, o mundo social existe independentemente de uma apreciação dele pelo

indivíduo e tem uma existência que é sólida e concreta como o mundo natural. Em

contraposição, o nominalismo gira em torno do pressuposto de que o mundo social

externo à cognição do indivíduo é construído de nada mais que nomes, conceitos e

títulos que são usados para estruturar a realidade. O nominalista não admite a

existência de qualquer estrutura 'real' para o mundo e acredita que os 'nomes' usados

são criações artificiais cuja utilidade é baseada em suas conveniências como

ferramentas para descrever, dar sentido e negociar com o mundo externo.

Associados com esta questão ontológica, há um segundo conjunto de

pressupostos de natureza epistemológica. Estes são pressupostos sobre as bases do

conhecimento e de como alguém poderia começar a entender o mundo e transmitir

este conhecimento para seus semelhantes em forma de comunicação. Com o objetivo

de criar uma base conceitual sobre os paradigmas epistemológicos, Burrel e Morgan

(1979) elencam 4 paradigmas relacionados com dois conjuntos de variáveis, que são

as perspectivas objetivas e subjetivas, e as perspectivas de regulação e mudança

radical. Com essas categorias os autores construíram os quatro paradigmas

nomeados: funcionalismo (objetivo, regulação); interpretativismo (subjetivo,

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regulação); estruturalismo radical (objetivo, mudança radical) e humanista radical

(subjetivo, mudança radical).

Apresentada essas questões ontológicas e epistemológicas, temos

um terceiro conjunto de pressupostos relacionados com a natureza humana e, em

particular, a relação entre os seres humanos e seu ambiente. Diante disso, os estudos

de Burrel e Morgan (1979) descrevem duas possibilidades de interpretação, que são

o determinismo e voluntarismo. O primeiro vê o homem e suas atividades como sendo

completamente determinadas pela situação ou pelo ambiente em que ele se situa. E

no outro extremo identifica-se a visão voluntarista do homem completamente

autônomo e possuidor de livre arbítrio.

Os três conjuntos de pressupostos apresentados acima têm

implicação direta na natureza metodológica da pesquisa. Cada um têm importantes

consequências na maneira como se tenta investigar e obter conhecimento do mundo

social. Diante desses pressupostos e tendo em vista o objetivo da pesquisa, adota-se

para este trabalho uma visão ontológica nominalista e construtivista, pois segundo

Merriam (1998) a realidade é construída pela interação de indivíduos com o seu

mundo social. Por isso, se entende que as estruturas apresentam-se como

construções sociais que tem por objetivo oferecer sentido para os indivíduos que nela

atuam, e esse sentido é construído coletivamente conforme as narrativas dos sujeitos,

de forma que existem indivíduos com um ‘poder’ de narrar maior do que outros. Com

isso, fica claro que para esta pesquisa a relação da natureza humana com o ambiente

se apresenta como um equilíbrio entre as visões voluntaristas e deterministas. Visto

que o sujeito é capaz de influenciar e ser influenciado pelas estruturas e por outros

sujeitos. Nessa perspectiva, a visão epistemológica da pesquisa segue como sendo

interpretativista, não só devido ao seu objetivo proposto, mas também com o

entendimento de que os fenômenos sociais dependem fortemente da vida social da

organização e da maneira como seus agentes internos interpretam a realidade que

vivem. O pesquisador, de acordo com essa filosofia, é considerado como um sujeito

dessa realidade e não está apartado das propostas de estudo e dos significados

apreendidos e interpretados. Além disso, o interpretativismo também acredita que a

realidade social não tem existência fora da consciência de qualquer indivíduo em

particular, mas sim como uma rede de pressupostos e de significados compartilhados

intersubjetivamente.

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3.1 CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA

Ao longo do tempo, as pesquisas nas ciências sociais foram

marcadas por estudos que valorizavam o método quantitativo, no entanto, a partir da

décado de 1960, a abordagem qualitativa fortaleceu-se como uma possibilidade de

investigação na área (GODOY, 2006). Em geral, a pesquisa quantitativa busca testar

hipóteses estabelecidas a priori e apresentar resultados numéricos, aproximando-se,

segundo Godoi e Balsini (2006), mais da posição funcionalista. Já os métodos

qualitativos emergem de paradigmas interpretativos, com ênfase de pesquisa na

compreensão dos significados e intenções dos atores envolvidos.

Diante disso, e após adotados os pressupostos essenciais para o

desenvolvimento do estudo, fica claro que o método qualitativo apresenta-se como o

mais coerente para as análises da pesquisa, pois, segundo Denzin e Lincoln (1994),

a pesquisa qualitativa estuda o fenômeno em seu ambiente natural, tentando dar

sentido ou interpretá-lo de acordo com seu significado para os sujeitos envolvidos.

Corroborando com essa visão, Goldenberg (2007) destaca que a metodologia

qualitativa é aquela que busca ver o mundo através dos olhos dos atores sociais e

dos sentidos que eles atribuem aos objetos e às ações que desenvolvem.

Segundo Godoy (1995) e Godoi e Balsini (2006) a abordagem

qualitativa apresenta características básicas, como: 1) o ambiente natural é fonte

direta dos dados; 2) há contato direto e prolongado do pesquisador com o ambiente e

a situação investigada; 3) o pesquisador é um instrumento de coleta de dados; 4) a

preocupação-chave é a compreensão do fenômeno a partir da perspectiva dos

participantes; 5) é descritiva; 6) a análise dos dados mantém um enfoque indutivo.

Entre as diferentes estratégias da pesquisa qualitativa, Godoy (1995)

destaca a pesquisa documental, etnográfica e o estudo de caso. Na pesquisa

documental, deve-se compreender os documentos como uma base ampla de

materiais escritos que podem oferecer novas interpretações. Segundo a autora, a

pesquisa documental é apropriada para estudos de longos períodos de tempo e de

identificação de tendências de comportamento de determinados grupos ou fenômeno.

A pesquisa etnográfica é comumente associada à antropologia, mas também tem sido

utilizada tanto nas pesquisas em administração, como em estudos de cultura

organizacional. Essa estratégia abrange a descrição de estruturas sociais,

comportamentos dos indivíduos e grupos. O foco desta pesquisa está no trabalho de

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campo, sendo por meio do contato prolongado a descoberta de significados pelo

pesquisador (GODOY, 1995). Já o estudo de caso caracteriza-se pelo exame

detalhado de um sujeito, uma organização ou uma situação em particular. O objetivo

dessa estratégica, de acordo com Godoy (1995), é aprofundar a descrição dos

fenômenos estudados, sendo que ela tem se tornado típica de pesquisas que

pretendem responder o 'como' e 'por que'. Por isso, para o presente trabalho, o estudo

de caso mostrou-se a estratégia mais adequada, o que será mais detalhado no

próximo subcapítulo.

3.2 ESTRATÉGIA DE PESQUISA

O estudo de caso não refere-se somente a uma escolha

metodológica, mas também a escolha do objeto a ser estudado, que segundo Stake

(1994) pode ser uma pessoa, um programa, uma instituição, uma empresa ou um

determinado grupo de indivíduos que compartilham o mesmo ambiente e a mesma

experiência. Para o autor, a principal diferença entre o estudo de caso de outras

estratégias de pesquisa, é o foco de atenção do pesquisador, que busca a

compreensão de um caso particular em sua complexidade.

Segundo Merriam (1998) o estudo de caso qualitativo compreende a

descrição holística e intensiva de um fenômeno bem delimitado. Nesse sentido, se

nota que essa estratégia de pesquisa está mais voltada à compreensão dos processos

sociais que ocorrem num determinado contexto do que às relações estabelecidas

entre variáveis. De acordo com a autora, os pesquisadores utilizam o estudo de caso

quando desejam compreender uma situação em profundidade, enfatizando seu

significado para os vários envolvidos e buscando insights e interpretações.

Diante disso, a adoção do estudo de caso como estratégia de

pesquisa justifica-se pela sua capacidade de lidar com uma ampla variedade de

evidências, permitindo análises mais profundas sobre determinado fenômeno.

(BRYMAN, 1996; YIN, 2001). Para Hartley (1995) o estudo de caso deve ser utilizado

quando o pesquisador deseja compreender os processos e interações sociais que se

desenvolvem nas organizações, situando-os no contexto histórico – atual e/ou

passado – no qual estão imersos. Também possibilitam uma análise processual,

contextual e, em algumas situações, longitudinal, das várias ações que ocorrem no

interior das organizações e dos significados a elas atribuídos. Além disso, como já foi

Page 72: SUSTENTABILIDADE ORGANIZACIONAL E SUAS RELAÇÕES … · Como demonstrado nos estudos de Jabbour e ... procedimentos metodológicos envolveram um estudo de caso em ... Quadro 13 –

70

mencionado, as questões de pesquisa que utilizam as perguntas 'como' e 'por que'

para investigar fenômenos são mais apropriadas para o método de estudo de caso

(YIN, 2001) e ratificam a intenção deste estudo de compreender como a

sustentabilidade organizacional e a gestão de pessoas se relacionam.

3.3 UNIDADE DE ANÁLISE

A unidade de análise em métodos qualitativos tem por objetivo

delimitar quais e quantos serão os atores sociais que participarão da pesquisa.

Conforme aponta Godoy, "a escolha da unidade a ser investigada é feita tendo em

vista o problema ou questão que preocupa o investigador" (GODOY, 1995, p. 26).

Diante disso, se delimita que o estudo de caso será realizado em uma cooperativa

agroindustrial brasileira que produz, processa e comercializa produtos derivados do

leite. Essa organização possui em seu direcionamento estratégico objetivos que se

aproximam muito dos pressupostos sustentáveis, além de integrar o movimento

cooperativista que também apresenta pressupostos da sustentabilidade como seus

objetivos. Além disso, a organização caracteriza-se como dependente direta de

questões ambientais para a sustentação dos seus negócios, o que pode propiciar à

pesquisa novas descobertas sobre suas motivações e processos, e por isso, ela

mostra-se relevante para o presente estudo.

Os sujeitos da pesquisa foram o gestor administrativo financeiro e dois

analistas da área de gestão de pessoas e meio ambiente. Os indivíduos foram

escolhidos com base no seu conhecimento e atuação dentro da cooperativa, sendo

setores específicos para atingir aos objetivos do estudo e também corroborando com

a estrutura hierárquica gerencial enxuta da cooperativa. As entrevistas foram

realizadas entre os meses de Agosto e Setembro de 2016, com duração média de 60

minutos cada. Após a última entrevista, também foi realizada uma visita técnica à

Estação de Tratamento de Resíduos Líquidos Industriais, às instalações da fábrica,

ao refeitório dos colaboradores e aos respectivos setores administrativos financeiro,

de gestão de pessoas e gestão ambiental. O quadro 7 descreve o perfil dos

entrevistados, envolvendo o sexo, a idade, a formação, o cargo e o tempo de trabalho

na cooperativa.

Quadro 7 – Perfil dos entrevistados

Page 73: SUSTENTABILIDADE ORGANIZACIONAL E SUAS RELAÇÕES … · Como demonstrado nos estudos de Jabbour e ... procedimentos metodológicos envolveram um estudo de caso em ... Quadro 13 –

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Nome fictício Sexo/

Idade Formação Cargo

Tempo na

Cooperativa

Data da

entrevista

Entrevistado 1 Masculino/

45 anos

Graduação em Ciências

Contábeis e Direito. Pós-

graduação em Gestão de

Empresas e de Pessoas.

Gerente

Administrativo

Financeiro

15 anos 17/08/2016

Entrevistado 2 Masculino/

31 anos

Graduação em

Psicologia.

Analista de

Gestão de

Pessoas

7 anos 17/08/2016

Entrevistada 3 Feminino/

25 anos

Graduação em

Engenharia Ambiental

com especialização na

área.

Analista de

Gestão

Ambiental

1 ano e 9

meses 13/09/2016

Fonte: Elaborado pela autora, 2016.

Por meio das entrevistas, foi possível identificar um panorama entre a

formulação da estratégia, o entendimento de sustentabilidade transmitido pela

organização, as práticas sustentáveis que eles apresentam na cooperativa e como

isso afeta as práticas e processos de gestão de pessoas, viabilizando assim o objetivo

deste estudo, que visa compreender as relações entre os níveis de sustentabilidade

organizacional encontrados com as práticas de gestão de pessoas.

3.4 INSTRUMENTOS DE COLETAS DE DADOS

A coleta de dados e seus instrumentos devem permitir ao investigador

captar o maior número de informações no contato com o objeto de pesquisa.

Inicialmente, a investigação do fenômeno realizou-se por meio de pesquisa

bibliográfica com o auxílio de teses, dissertações, livros, publicações periódicas,

revistas e anais de congressos. O levantamento bibliográfico permite ao investigador

alcançar um número de fenômenos e estudos muito maior que sua capacidade de

conhecê-los diretamente e torna-se necessária para a condução de qualquer pesquisa

científica (MARTINS; THEÓPHILO, 2007).

Segundo Yin (2001), um estudo de caso possui diversas evidências,

dentre elas o autor destaca: documentação, registros em arquivos, entrevistas,

observação direta, observação participante e artefatos físicos. Com isso, os

instrumentos que foram utilizados nesta pesquisa como fonte de evidências, serão:

documentos, entrevistas e observação direta sendo descrita no diário de campo.

A análise documental caracteriza-se pela busca de documentação

Page 74: SUSTENTABILIDADE ORGANIZACIONAL E SUAS RELAÇÕES … · Como demonstrado nos estudos de Jabbour e ... procedimentos metodológicos envolveram um estudo de caso em ... Quadro 13 –

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presentes em arquivos privados ou públicos. Assim, este estudo realizou a análise de

documentos como relatórios de atividades, website oficial da cooperativa e

informações de arquivos privados disponibilizados pela organização, além de

relatórios de domínio público sobre o setor agroindustrial no Brasil. Segue no quadro

8, a compilação de documentos analisados nesse estudo.

Quadro 8 – Documentos analisados na pesquisa

Documentos Tipo de documento Acesso ao documento

Relatórios das atividades de

2014 e 2015.

Relatório de 2014 – físico

(cartilha)

Relatório de 2015 – Digital (PDF)

Privado – disponibilizado

pela cooperativa

Manual de Integração. Físico (cartilha) Privado – disponibilizado

pela cooperativa

Manual de Coleta Seletiva. Físico (cartilha) Privado – disponibilizado

pela cooperativa

Procedimentos internos –

Competência, conscientização

e treinamento; Avaliação de

Desempenho.

Físico (impresso) Privado – disponibilizado

pela cooperativa

Website Oficial Digital (site) Público - internet

Relatórios IBGE – Indicadores

e Estatísticas da Pecuária

(Jun/2016); Pesquisa Industrial

Mensal de Emprego e Salário

(Dez/2015).

Digital (PDF) Público - internet

Núcleo de Banco de Dados da

OCB. Digital (site) Público internet

Fonte: Elaborado pela autora, 2016.

Conforme visto no quadro 8, foram analisados 10 documentos ao

todo, incluindo informações privadas e públicas. Entretanto, as evidências

apresentadas por meio de documentos apresentam ao investigador riscos de fontes

distorcidas ou inexatas, e devido a isso, tem-se a importância de buscar outras

técnicas e testar a validade das informações (LAKATOS; MARCONI, 2005).

Nessa perspectiva, as entrevistas serão outra forma de coleta de

dados. As vantagens do uso de entrevistas como instrumentos de coleta de dados

são o maior número de informações que ela possibilita colher, a oferta e a flexibilidade

na busca dos dados, que possiblita a captura da expressão corporal, a tonalidade da

voz e ênfase nas respostas (GIL, 1999). Por outro lado, as desvantagens relacionam-

se à incompreensão das questões, fornecimentos de respostas inadequadas e, entre

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outras, a inabilidade ou incapacidade do entrevistado para responder as perguntas.

Godoi e Mattos (2006) explicam que há três modalidades principais

de entrevista qualitativa: a conversacional, a baseada em roteiro e a padronizada

aberta. Na entrevista conversacional, o dialógo é livre em torno de um tema,

caracterizando-se pelo surgimento de questões ao longo da interação. A baseado em

roteiro mantém um prévio plano de perguntas, mas dá flexibilidade ao pesquisador

para ordenar os questionamentos ao longo da entrevista. Já a entrevista padronizada

e aberta assemelha-se a um questionário com perguntas ordenadas e redigidas, mas

com respostas abertas.

Sendo assim, a presente pesquisa irá utilizar a entrevista baseada em

roteiro ou semiestruturada, apresentada no apêndice “B”. Conforme afirmam os

autores Godoi e Mattos (2006) essa entrevista caracteriza-se pela preparação do

roteiro e possibilita ao entrevistador flexibilidade para ordenar e formular as perguntas

durante o processo. A entrevista também tende a ser focalizada sobre as práticas e

entendimentos da sustentabilidade e suas relações com as práticas e políticas de

gestão de pessoas. Para Sierra (1998) na entrevista focalizada existe um foco ou um

tema de interesse pré-determinado que orienta a conversação e atua como parâmetro

na seleção dos entrevistados.

O roteiro elaborado para a entrevista contém no total 13 questões.

Essas questões visam atender aos objetivos específicos do estudo e às quatro

categorias encontradas na literatura, de forma que buscam levantar as estratégias,

políticas e práticas de sustentabilidade e gestão de pessoas, e como elas se

relacionam. Com isso, será possível compreender o nível da sustentabilidade adotado

na cooperativa e as ações estratégicas de gestão de pessoas, atendendo, ao final, o

objetivo central deste estudo.

Segundo Yin (2001), a entrevista é uma importante fonte para o

estudo de caso, mas também é uma técnica sujeita a vieses, por isso é importante

que o investigador aprenda a usar sua própria pessoa como instrumento de coleta de

dados, por meio da observação, análise e interpretação. Portanto, o presente estudo

também busca realizar uma observação direta, descrita por meio de um diário de

campo. De acordo com Yin (2001), ao visitar o local escolhido para o estudo de caso,

o pesquisador já cria oportunidade para desenvolvimento da observação direta. De

maneira formal, a coleta acontece amparada por protocolos de observação. Por isso,

neste trabalho, busca-se nas entrevistas, visitas à cooperativa e visualização dos

Page 76: SUSTENTABILIDADE ORGANIZACIONAL E SUAS RELAÇÕES … · Como demonstrado nos estudos de Jabbour e ... procedimentos metodológicos envolveram um estudo de caso em ... Quadro 13 –

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espaços de trabalho, evidências complementares à análise que serão destacadas no

diário de campo, conforme segue detalhado no apêndice “C”.

Os diários de campo assumem diversas formas: levantamentos de

dados pré-estabelecidos, experimentos, pesquisas qualitativas e etnográficas,

espontâneos ou feitos por solicitação. Entre as suas vantagens está a possibilidade

de investigação de processos afetivos, cognitivos e sociais em detalhe e no decorrer

do tempo. De forma ampla, diários foram definidos por Patterson (2005, p. 142) como

um "registro pessoal de eventos diários, observações e pensamentos". Ainda segundo

Symon (2004, p. 98) podem ser usados para o registro de "reações, sentimentos,

comportamentos específicos, interações sociais, atividades e/ou eventos", em um

determinado período de tempo. Assim, o diário de campo mostra-se relevante para

este estudo, pois, de acordo com Zaccarelli e Godoy (2010), os aspectos humanos da

gestão de organizações têm muito a ganhar com estudos que utilizam diários, uma

vez que eles fornecem um olhar em profundidade sobre estas questões.

3.5 ANÁLISE DOS DADOS

Na análise de dados foi priorizada a análise de conteúdo, pois se

acredita que ela favoreça o aproveitamento dos resultados brutos da coleta de dados.

De acordo com Laville e Dionne (1999), tal análise consiste em desmontar a estrutura

do resultado obtido e reconstruí-lo da forma mais adequada à extração de significados

relacionados ao objetivo da pesquisa. Para Bardin (1977, p. 42), a análise de conteúdo

representa:

[...] um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por

procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das

mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de

conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis

inferidas) destas mensagens.

Se reconhece que a perspectiva da análise de conteúdo definida por

Bardin (1977) está fundamentada em uma filosofia mais próxima ao funcionalismo e

não, interpretatisva, como a presente pesquisa se posiciona. Em grande parte, a

análise de conteúdo mostra-se com características objetivas, sistemáticas e

quantitativas e é receosa quanto aos aspectos contextuais e interpretativos apontados

Page 77: SUSTENTABILIDADE ORGANIZACIONAL E SUAS RELAÇÕES … · Como demonstrado nos estudos de Jabbour e ... procedimentos metodológicos envolveram um estudo de caso em ... Quadro 13 –

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pelo pesquisador. Entretanto, Hardy, Harley e Phillips (2004) afirmam que, com um

olhar mais sensível às palavras e ao contexto, a análise de conteúdo pode, sim, ser

utilizada dentro de uma metodologia de análise da realidade social.

De acordo com Bardin (1977), a técnica de análise de conteúdo pode

ser reinventada a cada momento, a depender do objetivo pretendido. Corroborando

com essa visão, Laville e Dionne (1999) afirmam não existirem etapas circunscritas

do método, mas, na verdade, um conjunto de vias possíveis para revelação ou

reconstrução do sentido de um conteúdo. Nesta pesquisa, segue-se a sugestão dos

três momentos retratados por Bardin (1977): 1) pré-análise; 2) exploração do material;

3) tratamento dos resultados, inferências e interpretação.

A primeira etapa, de pré-análise, representa a fase em que os dados

são organizados. Realiza-se uma leitura flutuante do material e escolhe-se quais

serão os documentos pesquisados. Aqui o pesquisador conhece os textos e deve

deixar-se "invadir por impressões e orientações" (BARDIN, 1977, p. 97).

Na segunda etapa, nomeada por Bardin (1977) como "exploração do

material", segue-se as recomendações de Laville e Dionne (1999). Nesse momento,

o pesquisador deve preocupar-se com os recortes e a forma de agrupamento das

mensagens, que serão determinantes para a análise e conclusões da pesquisa. Com

isso, optou-se pelo recortes em temas, que representam fragmentos correspondentes

a uma ideia particular. Que são categorizados neste estudo a partir dos "níveis da

sustentabilidade organizacional", "as práticas de gestão de pessoas" e a "relação

entre os níveis e a estratégia de GP".

Como última etapa, tem-se o tratamento e interpretação dos dados. A

abordagem quantitativa da análise de conteúdo fundamenta-se, principalmente, na

frequência de aparição nas mensagens. Já a qualitativa recorre a indicadores não

numéricos para as inferências, por exemplo, a ausência ou mesmo presença de

determinados elementos. Para Bardin (1977) e Laville e Dionne (1999), uma

abordagem não se opõe às outras, ao contrário, podem ser complementares e auxiliar

o pesquisador a extrair significações essenciais à pesquisa.

Diante da combinação das escolhas metodológicas expostas nesta

seção, o próximo subcapítulo aborda as definições operacionais e a síntese da

estratégia da pesquisa.

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76

3.6 DEFINIÇÕES OPERACIONAIS

O quadro 9 traz as definições operacionais dos conceitos centrais

utilizados nesta pesquisa, sendo a sustentabilidade organizacional e a gestão

estratégica de pessoas. Essas definições compreendem uma inter-relação e

reinterpretação dos conceitos elaborados pelos autores apresentados.

Quadro 9 – Definições Operacionais dos conceitos centrais da pesquisa

TERMOS CONCEITO AUTORES

Sustentabilidade

Organizacional

A SO é um conjunto de valores que

considera os aspectos econômicos,

sociais e ambientais nas decisões e

ações da organização. Esses valores

devem estar balanceados de forma

que integre os três pilares e considere

os trade-offs. Além disso, a SO deve

possibilitar o alcance dos objetivos

organizacionais em diferentes escalas

de espaço e tempo, mantendo a

dinamicidade e harmonia sistêmica em

uma perspectiva de longo prazo.

Elkington (2001); Dyllick e

Hockerts (2002); Van

Marrewijk e Werre (2003).

Gestão Estratégica de

Pessoas

A GEP é compreendida como um

conjunto integrado de práticas,

políticas e estratégias por meio das

quais a organização gerencia seu

capital humano, de modo a orientar o

seu comportamento e as relações

interpessoais no ambiente de trabalho.

A partir de uma visão sistêmica, a

GEP influencia e é influenciada pela

estratégia da organização e o contexto

econômico, social e ambiental na qual

está inserida.

Fleury e Fisher (1998);

Albuquerque (2002); Martín-

Alcázar, Romero-Fernández e

Sánchez-Gardey (2005).

Fonte: Elaborado pela autora, 2016.

Por fim, com o objetivo de explicar a estratégia da pesquisa de campo,

o quadro 10 apresenta a relação entre os objetivos geral e específicos deste estudo e

as técnicas de coleta de dados.

Quadro 10 – Síntese da estratégia da pesquisa

OBJETIVO GERAL OBJETIVOS

ESPECÍFICOS O QUE INVESTIGAR? COMO?

Page 79: SUSTENTABILIDADE ORGANIZACIONAL E SUAS RELAÇÕES … · Como demonstrado nos estudos de Jabbour e ... procedimentos metodológicos envolveram um estudo de caso em ... Quadro 13 –

77

Compreender como os

níveis de

sustentabilidade

organizacional se

relacionam com as

práticas de gestão

estratégica de

pessoas em uma

cooperativa

agroindustrial.

Descrever as práticas

de sustentabilidade

organizacional e de

gestão de pessoas da

cooperativa;

Correntes teóricas de

sustentabilidade e

gestão de pessoas,

juntamente com seus

modelos de gestão

encontrados na

literatura e na

cooperativa.

Revisão de literatura,

entrevistas e análise

de documentos.

Identificar os níveis de

sustentabilidade

organizacional

existentes na

cooperativa;

A partir das

contribuições de Van

Marrewijk e Werre

(2003) elencar os

níveis de

sustentabilidade

organizacional

encontrados no

campo.

Análise documental

dos relatórios de

atividades. Análise de

conteúdo das

entrevistas e

observações do diário

de campo.

Identificar se há

alinhamento entre a

estratégia da

sustentabilidade com

as práticas de gestão

de pessoas;

Comparar as práticas,

políticas e estratégias

de gestão de pessoas

com os níveis de

sustentabilidade

organizacional e

verificar se elas são

coerentes com a

estratégia adotada

pela cooperativa.

Tendo como base o

referencial teórico do

trabalho e os dados

coletados nos

documentos,

entrevistas e diário de

campo.

Discutir como as

práticas de gestão de

pessoas auxiliam a

cooperativa a atingir o

seu objetivo

estratégico em relação

à sustentabilidade.

Relacionar as análises

dos dados com as

contribuições da

literatura, buscando

reflexões sobre as

maneiras pelas quais

a cooperativa atinge

determinado nível de

sustentabilidade

organizacional com a

ajuda da gestão de

pessoas.

Tendo como base o

referencial teórico do

trabalho e os dados

analisados.

Fonte: Elaborado pela autora, 2016.

Neste quadro 10 é possível identificar a forma pela qual investigou-se

na pesquisa de campo, que será apresentada no capítulo a seguir.

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4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

A partir dos dados obtidos por meio da pesquisa de campo, tanto por

entrevistas, quanto por documentos públicos e privados - websites, documentos com

os procedimentos da cooperativa e relatórios das atividades anuais dos últimos dois

anos, assim como observação direta por meio do diário de campo, apresenta-se a

seguir os princípios norteadores do movimento cooperativista, o contexto do mercado

agroindustrial no Brasil, a cooperativa pesquisada com sua estrutura, negócios,

produtos e objetivos, as práticas relacionadas à sustentabilidade e gestão de pessoas

e, por fim, as relações entre os níveis da sustentabilidade organizacional encontrados

com a gestão estratégica de pessoas.

4.1 O MOVIMENTO COOPERATIVISTA

Desde tempos remotos, já era de conhecimento dos egípcios, gregos,

romanos, maias, astecas e outros povos, que a cooperação aumentava as chances

de sobrevivência e evolução humana, tanto que, eles viviam em comunidades e se

uniam para caçar, pescar, construir e cultivar. A partir desses exemplos e de teorias

que defendiam a associação de pessoas como solução para problemas sociais – de

pensadores como Roberto Owen (1771-1858) e Charles Fourier (1772-1837) – que os

pioneiros do cooperativismo buscaram inspiração para garantir o bem-estar de suas

famílias em meio a um contexto de crise e dificuldades.

Foi em meados do século XIX, época em que a sociedade passou

pelas mudanças oriundas da chamada “Revolução Industrial”, que a necessidade da

garantia de subsistência impulsionou os primeiros passos para o movimento

cooperativista. Devido à inovação da máquina a vapor, que conseguia produzir mais

e em menos tempo, o trabalho manual humano passou a ser desvalorizado e com

isso aumentou o desemprego. Foi então, que em busca de uma solução para o seu

sustento, 28 trabalhadores ingleses, a maioria tecelões, reuniram suas economias e

criaram um armazém do qual todos eram donos e onde podiam comprar alimentos de

qualidade com baixo custo. Assim, em 21 de dezembro de 1844, nascia na então

cidade de Rochdale (hoje um bairro de Manchester), na Inglaterra, a Sociedade

Rochdale dos Pioneiros Equitativos, a primeira cooperativa formal do mundo (BRASIL

- MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA e ABASTECIMENTO, 2006).

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Com o objetivo de sobreviver, mas sob a orientação de valores éticos

como igualdade, justiça, liberdade, honestidade, transparência, responsabilidade

social e interesse pelos outros, os cooperados de Rochdale abriram caminho para um

movimento que logo se espalhou pela Europa e pelo mundo. Essa considerável

expansão internacional, foi o que deu origem no ano de 1895 a uma entidade com

representação mundial, a Aliança Cooperativa Internacional (ACI), fundada também

na Inglaterra e hoje com sede na Suíça, com a missão de representar, congregar e

defender o movimento cooperativista, divulgar a doutrina e preservar seus valores e

princípios (ACI, 2016).

Apoiados na cooperação solidária como solução para os problemas

socioeconômicos causados pela concentração do capital, os pioneiros do

cooperativismo se basearam também nos valores de autoajuda, que significa que

cada indivíduo pode e deve tentar controlar sua própria vida e, através de ação

conjunta com outras pessoas alcançar seus objetivos; autorresponsabilidade, no

sentido de todos os cooperados assumirem a responsabilidade pela cooperativa;

igualdade, que se manifesta no processo decisório da cooperativa, no qual cada

cooperado tem o mesmo direito a voto; equidade, isto é, os cooperados que participam

da cooperativa de modo idêntico devem ter retorno econômico equivalente e

solidariedade, que é a ação coletiva para satisfazer as necessidades individuais de

cada cooperado desde que coincidente com as necessidades de todos eles. Esses

princípios nortearam a forma de atuação dos pioneiros de Rochdale e, mesmo tendo

sido revistos pela ACI em três ocasiões: 1937, 1966 e em 1995 são, ainda hoje, os

alicerces de todas as cooperativas (OCB, 2016).

Com 172 anos, o cooperativismo já faz parte das instituições

nacionais ao redor do mundo. Trata-se de um movimento universal dos cidadãos em

busca de um modelo mais justo, que permita a convivência equilibrada entre o

econômico, o social e o ambiental. Atualmente, mais de 1 bilhão de pessoas estão

vinculadas a uma cooperativa. Segundo o relatório anual da OCB (2015) esse número

equivale a cinco vezes a população do Brasil ou 14,3% dos habitantes do planeta.

Sendo que, de acordo com a ACI (2016), 95 países também seguem os valores e

princípios do cooperativismo, estes destacados no quadro 11.

Quadro 11 – Princípios do cooperativismo

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1º Adesão

voluntária e livre

As cooperativas são organizações voluntárias, abertas a todas as

pessoas aptas a utilizar os seus serviços e assumir as responsabilidades

como cooperados, sem discriminações sociais, raciais, políticas,

religiosas ou de gênero.

Gestão

democrática e

livre

As cooperativas são organizações democráticas, controladas por seus

cooperados, que participam ativamente na formulação das suas políticas

e na tomada de decisões. Os conselheiros e diretores - eleitos nas

assembleias gerais como representantes dos demais cooperados - são

responsáveis perante estes.

Participação

econômica dos

cooperados

Os cooperados contribuem equitativamente e controlam

democraticamente o capital de suas cooperativas. Os cooperados

destinam os excedentes a finalidades como o desenvolvimento da

cooperativa, eventualmente através da criação de reservas, parte das

quais, pelos menos uma, será indivisível; benefício aos cooperados na

proporção das suas transações com a cooperativa; apoio a outras

atividades desde que aprovadas pela assembleia geral dos cooperados.

4º Autonomia e

independência

As cooperativas são organizações autônomas, de ajuda mútua,

controladas pelos cooperados. Em caso de firmarem acordos com outras

organizações – incluindo instituições públicas – ou recorrerem a capital

externo, devem fazê-lo em condições que assegurem o controle

democrático pelos cooperados e mantenham a autonomia da sociedade.

Educação,

formação e

informação

As cooperativas promovem a educação e a formação de seus

cooperados, dos representantes eleitos, dos gerentes e de seus

funcionários, de forma que estes possam contribuir eficazmente para o

desenvolvimento da cooperativa. Divulgam os princípios de

cooperativismo, e informam a natureza e os benefícios da cooperação

para o público em geral, particularmente para os jovens e os líderes de

opinião.

6º Intercooperação

Para as cooperativas prestarem melhores serviços a seus cooperados e

agregarem força ao movimento cooperativo, devem trabalhar em conjunto

com as estruturas locais, regionais, nacionais e internacionais.

7º Interesse pela

comunidade

As cooperativas trabalham para o desenvolvimento sustentado das suas

comunidades através de políticas aprovadas pelos cooperados. Este

sétimo princípio foi especialmente instituído pelo Congresso da Aliança

Cooperativa Internacional em setembro de 1995.

Fonte: Núcleo de Banco de Dados OCB, 2016.

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81

Considerado tanto uma filosofia como um modelo socioeconômico, o

cooperativismo nasceu com valores universais e, assim, busca com os seus

princípios, se expandir em diferentes territórios, não importando a cultura, a língua ou

o credo. Segundo a OCB (2016), os conceitos que dão identidade ao cooperativismo

são:

Cooperar – unir-se a outras pessoas para conjuntamente enfrentar

situações adversas, no sentido de transformá-las em oportunidade e bem-estar

econômico e social.

Cooperação – método de ação pelo qual indivíduos ou familiares

com interesses comuns constituem um empreendimento. Os direitos são todos iguais

e o resultado alcançado é repartido somente entre os integrantes, na proporção da

participação de cada um.

Sócios – indivíduo, profissional, produtor de qualquer categoria ou

atividade econômica que se associa a uma cooperativa para exercer atividade

econômica ou adquirir bens de consumo e/ou duráveis.

O cooperativismo é um modelo socioeconômico fundamentado na

participação democrática, na solidariedade, na independência e na

autonomia dos que se unem de forma voluntária em prol de um objetivo

econômico e social comum. Sendo assim, no mundo cooperativo, a meta é

atender às necessidades do grupo e garantir o bem-estar de cada integrante.

As pessoas que se reúnem em cooperativas acreditam em um modelo

econômico diferenciado, no qual as decisões são coletivas e os resultados

distribuídos com equidade, conforme a participação de cada um.

Honestidade, transparência, responsabilidade social e preocupação com o

meio ambiente são valores essenciais das cooperativas. A regra de ouro é

buscar resultados economicamente viáveis, ecologicamente corretos e

socialmente justos (BRASIL – MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA

E ABASTECIMENTO, 2006).

Em qualquer parte do mundo, independente dos regimes econômicos

e políticos, as cooperativas seguem esses valores e princípios na busca solidária de

soluções para problemas comuns das pessoas que as integram (OCEPAR, 2016).

Com isso, foi desenvolvida uma imagem que pudesse destacar de maneira simbólica

esses princípios, sendo apresentada na figura 6.

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82

Figura 6 – Emblema do movimento cooperativista

Fonte: OCB, 2016.

O emblema do cooperativismo apresenta um pinheiro que,

antigamente, era tido como um símbolo da imortalidade e da fecundidade, pela sua

sobrevivência em terras menos férteis e pela facilidade na sua multiplicação. O círculo

representa a vida eterna, pois não tem horizonte final, nem começo, nem fim. O verde-

escuro das árvores lembra o princípio vital da natureza. O amarelo-ouro simboliza o

sol, fonte perene de energia e calor. Portanto, a representação do movimento

cooperativista se faz com um círculo abraçando dois pinheiros, que indica a união do

movimento, a imortalidade de seus princípios, a fecundidade de seus ideais, a

vitalidade de seus adeptos. Tudo isto marcado pela trajetória ascendente dos

pinheiros que se projetam para o alto, procurando subir cada vez mais (OCB, 2016).

No Brasil, a cultura da cooperação é observada desde a época da

colonização portuguesa, a qual permaneceu incipiente e foi quase interrompida

durante o escravismo. Entretanto, a necessidade de cooperar emergiu novamente no

Movimento Cooperativista Brasileiro no final do século XIX, estimulado por

funcionários públicos, militares, profissionais liberais e operários, para atender às suas

necessidades. O movimento iniciou-se na área urbana, com a criação da primeira

cooperativa de consumo de que se tem registro no Brasil, em Ouro Preto (MG), no

ano de 1889, denominada Sociedade Cooperativa Econômica dos Funcionários

Públicos de Ouro Preto. Depois, se expandiu para Pernambuco, Rio de Janeiro, São

Paulo, Rio Grande do Sul, além de se espalhar por Minas Gerais (OCB, 2016).

Em 1902, por iniciativa do padre suíço Theodor Amstadt, surgiram as

cooperativas de crédito no Rio Grande do Sul. Já em 1906, nasceram e se

desenvolveram as cooperativas no meio rural, idealizadas por produtores

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agropecuários que eram imigrantes de origens alemã e italiana. Esses imigrantes

trouxeram de seus países a bagagem cultural, o trabalho associativo e a experiência

de atividades familiares comunitárias, e ao chegar ao Brasil encontram dificuldades

de comunicação, adaptação à nova cultura, carência de estradas e de escolas e

discriminação racial. Com isso, o contexto propiciou a criação de laços de coesão e

os motivou a organizar-se em cooperativas, resultando no nascimento de sociedades

culturais e agrícolas. Assim, fundaram suas próprias escolas e igrejas e iniciaram

atividades de caráter cooperativo, como mutirão para o preparo do solo, construção

de galpões, casas, colheitas, entre outros (OCB, 2016).

As cooperativas tiveram sua expansão num modelo autônomo,

voltado para suprir as necessidades dos próprios membros e assim se livrarem da

dependência dos especuladores. Devido ao fortalecimento desse movimento no

Brasil, em 2 de dezembro de 1969, foi criada a Organização das Cooperativas

Brasileiras (OCB). Instituição que é a única representante e defensora dos interesses

do cooperativismo nacional, uma sociedade civil e sem fins lucrativos, com

neutralidade política e religiosa (OCB, 2016).

No início da década de 1970 a Lei 5.5764/71 disciplinou a criação de

cooperativas, determinando para a sua constituição e funcionamento, a existência dos

seguintes órgãos sociais: Assembleia Geral dos Associados; Conselho Fiscal;

Diretoria ou Conselho de Administração. Entretanto, essa lei restringiu a autonomia

dos associados, interferindo na criação, funcionamento e fiscalização do

empreendimento cooperativo. Limitação essa, que foi superada pela Constituição de

1988, que proibiu a interferência do Estado nas associações, dando início à

autogestão do cooperativismo. A partir de então, as sociedades cooperativas,

juntamente com os órgãos próprios de representação, confederações, federações e

centrais, passam a constituir efetivamente o Sistema Cooperativo Brasileiro, já sem a

tutela governamental, assumindo a própria autodeterminação (BRASIL - MINISTÉRIO

DA AGRICULTURA, PECUÁRIA e ABASTECIMENTO, 2006).

Com um grande número de cooperativas, o Brasil começou a ser

reconhecido internacionalmente. Filiou-se à ACI em 1989 e já em 1992, o país

começou a participar da direção da entidade, quando o então presidente da OCB,

Roberto Rodrigues, foi eleito presidente da ACI Américas, o que lhe conferia

automaticamente o cargo de vice-presidente. Após isso, em 1997, Rodrigues foi o

primeiro não europeu a assumir o cargo de presidente mundial da ACI, ocupando a

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função até 2001. Rodrigues é também autor do sétimo princípio do cooperativismo,

que prega o “interesse pela comunidade”, demonstrando grande influência e

comprometimento com os princípios do movimento, fato que também contribuiu para

o desenvolvimento das cooperativas brasileiras (OCB, 2016). O quadro 12 revela o

panorama do cooperativismo no Brasil.

Quadro 12 - Panorama geral do cooperativismo brasileiro (31.12.2015)

RAMO COOPERATIVAS COOPERADOS EMPREGADOS

Agropecuário 1.543 993.564 180.891

Consumo 124 2.958.814 13.919

Crédito 1.060 8.411.574 60.073

Educacional 282 52.069 3953

Especial 8 350 7

Habitacional 283 123.568 945

Infraestrutura 133 973.974 6.363

Mineral 80 74.172 239

Produção 268 12.534 1.932

Saúde 818 245.960 92.181

Trabalho 877 204.340 1.586

Turismo e Lazer 22 1.798 23

TOTAL 5.498 14.052.717 362.112

Fonte: Núcleo de Banco de Dados OCB, 2016.

No quadro 12, destaca-se o ramo agropecuário como o maior em

número de cooperativas e empregados. Esse ramo é composto pelas cooperativas de

produtores rurais ou agropastoris e de pesca, cujos meios de produção pertençam ao

cooperado. O leque de atividades econômicas abrangidas pela agropecuária é

enorme e sua participação no PIB em quase todos os países é significativa. Essas

cooperativas geralmente cuidam de toda a cadeia produtiva, desde o preparo da terra

até a industrialização e comercialização dos produtos. Setor este, que a cooperativa

pesquisada se encontra, sendo filiada às cooperativas de produtores rurais de leite e

responsável pela industrialização e comercialização do produto.

Caracterizado pela informalidade e ao mesmo tempo de grande

relevância para a produção nacional, o ramo agropecuário necessitava de uma

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formação e organização dos trabalhadores de forma que pudesse melhorar e

desenvolver as práticas no campo. Assim como em outros ramos do movimento

cooperativista, o ensino mostrava-se como uma porta para o crescimento e inovação.

Por isso, no ano de 1998 surgia o Serviço Nacional de Aprendizagem do

Cooperativismo (Sescoop), a mais nova instituição do Sistema “S” que veio somar à

OCB com o viés da educação cooperativista. O Sescoop é responsável pelo ensino,

formação profissional, organização e promoção social dos trabalhadores, associados

e funcionários das cooperativas brasileiras, que atualmente possui mais de 500 cursos

e treinamentos em diversas áreas (SESCOOP, 2016).

Como toda forma organizada de gestão, uma cooperativa tem por trás

uma estrutura sólida e bem dividida. Cada pessoa interessada em participar de um

empreendimento como este deve conhecer as formas adequadas de funcionamento,

as determinações legais e todas as características que garantam a condução de

ações, da maneira mais harmoniosa possível. É importante ainda conhecer e entender

a estrutura comum das cooperativas, que abrange:

Quadro 13 – Estrutura comum às cooperativas

Assembleia Geral

Órgão supremo da cooperativa que, conforme o prescrito da legislação

e no Estatuto Social, tomará toda e qualquer decisão de interesse da

sociedade. Além da responsabilidade coletiva que se expressa pela

reunião de todos, ou da maioria, nas discussões e nas deliberações.

A reunião da Assembleia Geral dos cooperados ocorre, nas seguintes

ocasiões:

Assembleia Geral Ordinária

Realizada obrigatoriamente uma vez por ano, no decorrer dos três

primeiros meses, após o encerramento do exercício social, para

deliberar sobre prestações de contas, relatórios, planos de atividades,

destinações de sobras, fixação de honorários, cédula de presença,

eleição do Conselho de Administração e Fiscal, e quaisquer assuntos

de interesse dos cooperados; e

Assembleia Geral Extraordinária

Realizada sempre que necessário e poderá deliberar sobre qualquer

assunto de interesse da cooperativa. É de competência exclusiva da

AGE a deliberação sobre reforma do estatuto, fusão, incorporação,

desmembramento, mudança de objetivos e dissolução voluntária.

Conselho de

Administração

Órgão superior da administração da cooperativa. É de sua

competência a decisão sobre qualquer interesse da cooperativa e de

seus cooperados nos termos da legislação, do Estatuto Social e das

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determinações da Assembleia Geral. O Conselho de Administração

será formado por cooperado no gozo de seus direitos sociais, com

mandatos de duração (no máximo 4 anos) e de renovação

estabelecidos pelo Estatuto Social.

Conselho Fiscal

Formado por três membros efetivos e três suplentes, eleitos para a

função de fiscalização da administração, das atividades e das

operações da cooperativa, examinando livros e documentos entre

outras atribuições. É um órgão independente da administração. Tem

por objetivo representar a Assembleia Geral no desempenho de

funções durante um período de doze meses.

Comitê Educativo, Núcleo

Cooperativo ou Conselhos

Consultivos

Temporário ou permanente, constitui-se em um órgão auxiliar da

administração. Pode ser criado por meio da Assembleia Geral com a

finalidade de realizar estudos e apresentar soluções sobre situações

específicas. Pode adotar, modificar ou fazer cumprir questões,

inclusive no caso da coordenação e programas de educação

cooperativista junto aos cooperados, familiares e membros da

comunidade da área de ação da cooperativa.

Estatuto social

Conjunto de normas que regem funções, atos e objetivos de

determinada cooperativa. É elaborado com a participação dos

associados para atender às necessidades da cooperativa e de seus

associados. Deve obedecer a um determinado padrão. Mesmo assim

não é conveniente copiar o documento de outra cooperativa já que a

área de ação, objetivos e metas diferem uma da outra.

Capital social

É o valor, em moeda corrente, que cada pessoa investe ao associar-

se e que serve para o desenvolvimento da cooperativa.

Demonstração de

Resultado do Exercício

No final de cada exercício social é apresentado, na Assembleia Geral,

o Balanço Geral e a Demonstração do Resultado que devem conter:

Sobras

Os resultados dos ingressos menos os dispêndios. São retornadas ao

associado após as deduções dos fundos, de acordo com a lei e o

estatuto da cooperativa;

Fundo indivisível

Valor em moeda corrente que pertence aos associados e não pode ser

distribuído e sim destinado ao: fundo de reserva para ser utilizado no

desenvolvimento da cooperativa e cobertura de perdas futuras; Fundo

de Assistência Técnica Educacional e Social (Fates); e outros fundos

que poderão ser criados com a Aprovação da assembleia geral.

Fonte: Núcleo de Banco de Dados OCB, 2016.

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Essa estrutura de gestão, comum à maioria das cooperativas, permite

ao movimento cooperativista uma identidade padronizada e diferenciada de outras

organizações. No entanto, mesmo dentro do cooperativismo, as características,

dimensões e objetivos de uma sociedade podem se enquadrar de três diferentes

formas, descritas a seguir:

Singular ou de 1º grau: tem objetivo de prestar serviços diretos ao

associado. É constituída por um mínimo de 20 pessoas físicas. Não é permitida a

admissão de pessoas jurídicas com as mesmas ou correlatas atividades econômicas

das pessoas físicas que a integram;

Central e federação ou de 2º grau: seu objetivo é organizar em

comum e em maior escala os serviços das filiadas, facilitando a utilização recíproca

dos serviços. É constituída por, no mínimo, três cooperativas singulares.

Excepcionalmente, pode admitir pessoas físicas;

Confederação ou de 3º grau: organiza em comum e em maior

escala, os serviços das filiadas. Três cooperativas centrais e ou federações de

qualquer ramo são a quantidade mínima para constituir uma federação.

Nas cooperativas de primeiro grau os cooperados têm igual direito de

voto (cada cooperado, um voto); nas cooperativas de grau superior pode ser instituída

a proporcionalidade de votos, desde que se mantenha a forma democrática da

organização. A cooperativa pesquisada caracteriza-se como uma central ou de 2º

grau, pois apresenta cinco cooperativas singulares que são associadas aos

produtores rurais, não admitindo pessoa física e cada uma com direito a um voto nas

decisões estratégicas.

Devido a essas diferenciações, é importante que cada pessoa que for

se filiar a uma cooperativa esteja consciente do que pretende e quais são as suas

funções e direitos. Para formar uma cooperativa é necessário que os interessados

estejam cientes que eles devem contribuir, por meios dos comitês, conselhos, núcleos

ou comissões, da melhor maneira possível em favor daqueles que recebem a

incumbência da administração da empresa, para que todas as decisões sejam

corretas e representativas da vontade da maioria. Para exemplificar essa relação, o

quadro 14 identifica alguns direitos e deveres do cooperado.

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Quadro 14 – Direitos e deveres do cooperado

DIREITOS DO COOPERADO DEVERES DO COOPERADO

Votar e ser votado; Operar com a cooperativa;

Participar de todas as operações da

cooperativa; Participar das Assembleias Gerais;

Receber retorno de sobras apuradas no

fim do ano; Pagar suas quotas-parte em dia;

Examinar livros e documentos; Acatar as decisões da Assembleia

Geral;

Convocar assembleia, caso seja

necessário; Votar nas eleições da cooperativa;

Pedir esclarecimento aos Conselhos de

Administração e Fiscal;

Cumprir seus compromissos com a

cooperativa;

Opinar e defender suas ideias; Zelar pela imagem da cooperativa;

Propor ao Conselho de Administração,

ou à Assembleia Geral, medidas de

interesse da cooperativa.

Participar do rateio das perdas, se

ocorrerem e das despesas da

cooperativa.

Fonte: Núcleo de Banco de Dados OCB, 2016.

Caso ocorra algum problema, como por exemplo, uma

incompatibilidade entre os objetivos do cooperado com a cooperativa, uma não

representatividade do cooperado nas decisões da cooperativa, ou não cumprimento

de alguns dos deveres do usuário, tanto a cooperativa como o cooperado podem

recorrer a três tipos de ação:

Demissão: o associado de livre e espontânea vontade requer, por

escrito, seu pedido de afastamento da cooperativa, sendo que este não poderá ser

negado pela administração, desde que o associado esteja em dia com as suas

obrigações;

Eliminação: será sempre realizada por decisão e aprovação do

Conselho de Administração, por desrespeito à lei, ao estatuto ou às normas internas

da cooperativa. Os motivos de eliminação devem constar no livro de matrícula;

Exclusão: ocorre por dissolução da pessoa jurídica, por morte da

pessoa física, por incapacidade civil não suprida ou por deixar de atender aos

requisitos estatutários de ingresso ou permanência na cooperativa.

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No intuito de evitar que casos extremos como de demissão e

eliminação aconteçam, os associados necessitam compreender as principais

diferenças entre um empreendimento cooperativo e um empreendimento capitalista.

O cooperativismo é um sistema fundamentado na reunião de pessoas e não no capital,

visa às necessidades do grupo e não do lucro, busca prosperidade conjunta e não

individual. Estas diferenças fazem do cooperativismo a alternativa socioeconômica

que leva ao equilíbrio e justiça entre os participantes. Para demonstrar essas

diferenças, segue o quadro 15.

Quadro 15 – Diferenças entre as cooperativas e as empresas

EMPREENDIMENTO COOPERATIVO EMPRESA MERCANTIL

Sociedade simples, regida por

legislação específica; Sociedade de capital - ações;

Número de associados limitado à

capacidade de prestação de serviços; Número limitado de sócios;

Controle democrático: cada pessoa

corresponde a um voto; Cada ação – um voto;

Objetiva a prestação de serviços; Objetiva o lucro;

Quorum de uma assembleia é baseado

no número de associados;

Quorum de uma assembleia é baseado

no capital;

Não é permitida a transferência de

quotas-parte a terceiros;

É permitida a transferência e a venda

de ações a terceiros;

Retorno dos resultados é proporcional

ao valor das operações.

Dividendo é proporcional ao valor de

total das ações.

Fonte: Núcleo de Banco de Dados OCB, 2016.

Mesmo com essas diferenças, as cooperativas conseguem

movimentar um considerável volume de recursos, por vezes até maior do que

empresas comuns. Como informado no relatório do Ministério do Desenvolvimento,

Indústria e Comércio Exterior (2015), somente em exportações, 222 cooperativas

brasileiras movimentaram US$ 5,3 bilhões, enviando para 143 países. Além disso,

segundo o IBGE (2015) no ramo agropecuário 50% da produção brasileira passa de

alguma maneira por uma cooperativa. Atualmente, o Brasil é o quarto maior produtor

mundial de leite, com 33 bilhões de litros por ano, segundo a Organização para

Agricultura e Alimentação das Nações Unidas (2015). Se estima que desse total, 40%

sejam produzidos ou beneficiados em uma cooperativa.

Com essa expressiva participação no mercado, a OCB (2015) define

o cooperativismo como um movimento solidário, que é capaz de implantar um modelo

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com fortes bases calcadas no conceito de sustentabilidade, ou seja, promover o

desenvolvimento econômico, respeitando o meio ambiente e inserindo o ser humano

na repartição das riquezas geradas no processo.

... descobrimos que nossos valores estão alinhados e interligados ao que as

pessoas apontam como essencial à construção de uma instituição moderna,

inovadora e consciente das suas responsabilidades no mundo

contemporâneo. Somos um movimento que empodera e valoriza o talento de

cada um e soma tudo isso para chegar a um resultado maior e melhor para

todos. Nós valorizamos a construção conjunta, a colaboração, a liderança

coletiva, e fazemos isso prezando pelas três vertentes da sustentabilidade:

social, econômica e ambiental. Em resumo, queremos transformar o mundo

em um lugar mais justo, feliz e equilibrado e com melhores oportunidades

para todos. E como fazer isso? Fortalecendo o cooperativismo (RELATÓRIO

DE GESTÃO OCB, 2015).

No campo político e midiático, o cooperativismo também apresenta

uma imagem positiva. Em 2015, 5 mil notícias sobre o cooperativismo foram

divulgadas na imprensa brasileira. Destas, 92% tiveram caráter positivo, ressaltando

as vantagens e a expansão do modelo de negócios cooperativo. Já na política, 244

deputados e 36 senadores estão compromissados com a causa cooperativista, eles

integram a Frente Parlamentar do Cooperativismo (Frencoop). Uma pesquisa

realizada em 2015, pela OCB, demonstra também que 90,7% dos parlamentares têm

uma visão positiva do cooperativismo, sendo que 22,6% deles são associados a pelo

menos uma cooperativa. Esse índice mostra-se superior ao das maiores bancadas no

parlamento brasileiro: PMDB (14,6%) e PT (12,1%).

Não bastando a boa reputação, o movimento cooperativista precisa

estar atento às regulamentações. Por isso, no ano de 2015 a OBC acompanhou 518

projetos de lei e medidas provisórias no Congresso Nacional. Todos eles impactavam,

de alguma maneira, o desenvolvimento do cooperativismo brasileiro. Somente no

setor agropecuário, mais especificamente para as cooperativas de leite, uma das

principais vitórias foi a aprovação da Lei nº 13.137/2015, que modificou as regras do

PIS e da Cofins. A mudança na legislação trouxe a possibilidade dessas cooperativas

acumularem e compensarem até 50% do total de créditos presumidos do PIS e da

Cofins com outros tributos, como já ocorre com as sociedades empresariais. Até a

edição da lei, as cooperativas se viam em desvantagem competitiva. Por isso, desde

2013, o Sistema OCB atuou pela aprovação da matéria. A lei prevê, ainda, o

ressarcimento desse valor, em dinheiro, no mesmo ano-calendário, entretanto, para

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terem acesso a essa conquista, as cooperativas deverão realizar investimentos em

projeto de assistência técnica, focados em seus produtores, com vista ao

desenvolvimento da qualidade e da produtividade da atividade leiteira, contando com

o apoio do Sescoop. Para aprofundar mais sobre o setor agropecuário, segue no

próximo capítulo o contexto do ramo no país.

4.2 CONTEXTO DO MERCADO AGROINDUSTRIAL NO BRASIL

A agroindústria é o conjunto de atividades relacionadas à

transformação de matérias-primas provenientes da agricultura, pecuária, aquicultura

ou silvicultura. Para cada uma dessas matérias-primas, a agroindústria é um

segmento da cadeia que vai desde o fornecimento de insumos agrícolas até o

consumidor. No entanto, o grau de transformação varia amplamente em função dos

objetivos das organizações agroindustriais. Podendo ter organizações que engloba o

complexo agroindustrial como um todo, ou seja, todos os agentes que fazem parte do

segmento de insumos e fatores de produção (antes da porteira), da produção

propriamente dita (dentro da porteira), do processamento e da transformação até a

distribuição e o consumo (depois da porteira), até organizações que só se dedicam à

transformação e ao processamento de matérias-primas agropecuárias de origem

animal e/ou vegetal (LOURENÇO, 2010).

Em comparação a outros segmentos industriais da economia, a

agroindústria apresenta certa originalidade decorrente de três características

fundamentais das matérias-primas: sazonabilidade, perecibilidade e heterogeneidade.

A sazonabilidade diz respeito aos períodos de entressafra que atingem a produção, a

perecebilidade compreende a necessidade de consumo rápido de alguns produtos e

a heterogeneidade refere-se às características distintas de um produto para outro,

mesmo que tenha sido produzido sob as mesmas condições. Diante disso, Araújo

(2005, p. 93) diz que a agroindústria pode se dividir em dois grupos distintos: a)

agroindústrias não alimentares - como fibras, couros, calçados, óleos vegetais não

comestíveis e outros; b) agroindústrias alimentares - voltadas para a produção de

alimentos (líquidos e sólidos), como sucos, polpas, extratos, lácteos, carnes e outros.

As agroindústrias alimentares, como é o caso da cooperativa

pesquisada, apresentam cuidados muito específicos nos procedimentos industriais

gerais. Isso porque elas têm uma grande responsabilidade sobre a segurança

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alimentar dos consumidores, tendo que garantir que os seus processos ofereçam um

alimento seguro para a população, e por isso devem atender a regulamentações e

padrões de produção mais numerosos, rigorosos e específicos. Já as agroindústrias

não alimentares têm os procedimentos industriais bastante similares aos de indústrias

de outros setores (LOURENÇO, 2010).

O ramo agroindustrial ocupa lugar de destaque no Brasil, constituindo-

se de um segmento que superou grandes desafios nos últimos anos, gerando divisas

e empregos. Com o crescimento das fronteiras agrícolas e a expansão da produção

agroindustrial e, especificamente, com o aumento da importância estratégica da

produção de alimentos para o mercado internacional, o Brasil vem se mostrando

competitivo no que se refere ao agronegócio, em que o país consegue obter mais

produção com menos tecnologias que os países ricos. Na atividade agroindustrial

encontra-se o beneficiamento dos produtos agrícolas, a transformação dos produtos

zootécnicos e dos produtos agrícolas como a cana-de-açúcar em álcool, soja em óleo,

a moagem do trigo etc. Nesse contexto, Lourenço (2010) explica que vários são os

benefícios promovidos pela agroindustrialização, como por exemplo: a) Maior

integração do meio rural com a economia de mercado; b) Especialização da

agricultura com a consequente redução de custos na produção; c) Padronização da

produção; d) Processamento industrial; e) Redução dos índices de perdas pós-

colheita; f) Regularização do abastecimento, por meio da sazonalidade da oferta,

inerente à maioria dos produtos agropecuários.

Sendo assim, a agroindustrialização pode proporcionar a integração

do setor rural com a economia de mercado, além de garantir uma regularização no

abastecimento em períodos de sazonalidade da oferta. Os produtos agropecuários

em sua maioria são produzidos em um único período do ano. Logo, a

agroindustrialização destes produtos pode impulsionar a padronização da produção e

garantir sua oferta durante todo ano, beneficiando o mercado e os consumidores.

Outra vantagem da agroindústria é a possibilidade de promover a especialização da

agricultura, reduzir os índices de perdas pós-colheita e reduzir de custos na produção.

A especialização consiste basicamente em concentrar as atividades da empresa em

determinado segmento de mercado ou na utilização de dada tecnologia, o que agrega

mais conhecimento e diferenciação tanto no mercado interno quanto no externo. Esta

estratégia é muito utilizada por pequenas empresas que buscam, desta forma, ocupar

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os espaços de mercado não ocupados pelos grandes grupos empresariais, como é o

caso dos sucos naturais, água de coco e leite (LOURENÇO, 2010).

Como a cooperativa pesquisada é uma agroindústria que produz leite

e alguns de seus derivados, a Pesquisa Trimestral do Leite realizada pelo Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, traz informações importantes para

compreender o desenvolvimento do setor no Brasil. A pesquisa obteve até 1996

informações sobre a quantidade de leite entregue às indústrias segundo a origem, o

destino segundo a forma de produção e estoques do último dia do mês anterior e do

mês de referência, tendo como unidade de coleta os estabelecimentos que se

dedicavam à atividade de industrialização do leite. Já a partir de 1997 a pesquisa

passou a ser trimestral, levantando informações sobre a quantidade de leite fluido

como matéria-prima entregue às indústrias e a quantidade destinada à

industrialização, inclusive pasteurização, tendo como unidade de coleta todos os

estabelecimentos que se dedicam à atividade e estão sob inspeção federal, estadual

ou municipal.

Segundo o IBGE, no 2º trimestre de 2016 participaram da Pesquisa

Trimestral do Leite 1.191 estabelecimentos, sendo 809 que possuíam o Serviço de

Inspeção Federal (SIF), 906 o Serviço de Inspeção Estadual (SIE) e 276 o Serviço de

Inspeção Municipal (SIM), respondendo, respectivamente, por 92,1%; 7,2% e 0,7%

do total de leite captado. O Amapá foi a única Unidade da Federação que não

participou da apuração por não ter estabelecimento elegível ao universo da pesquisa.

Com isso, para visualizar o contexto do mercado agroindustrial do leite no Brasil nos

últimos anos, segue a figura 7 que mostra a evolução da aquisição trimestral de leite

desde o 1º trimestre de 2011 até o 2º trimestre de 2016.

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Figura 7 - Evolução da quantidade de leite cru adquirido pelos laticínios - Brasil - trimestres

2011- 2016

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Agropecuária, Pesquisa Trimestral do

Leite, 2011.I – 2016.II.

No 2º trimestre de 2016 a aquisição de leite cru feita pelos

estabelecimentos que atuam sob algum tipo de inspeção sanitária - seja ela Federal,

Estadual ou Municipal - foi de 5,17 bilhões de litros. Este número indica quedas de

8,4% sobre a quantidade captada no trimestre imediatamente anterior e de 11,8% em

relação ao 2º trimestre de 2015. Sendo que o recorde de captação na série histórica

ocorreu no 4º trimestre de 2013 (6,54 bilhões de litros).

Historicamente, os 2º trimestres são caracterizados por apresentarem

os menores valores de aquisição trimestral de leite em cada ano. Resultados que

podem ser atribuídos à diminuição das temperaturas e das chuvas, de abril a agosto,

nas principais regiões produtoras de leite, gerando redução da taxa de crescimento

da biomassa vegetal utilizada para alimentação dos rebanhos (predominantemente

pastos), aumento dos custos de produção e, consequentemente, diminuição da

produção de leite (IBGE, 2016).

Pela figura 7, pode-se observar que desde o 2º trimestre de 2011 não

ocorreu captação de leite inferior a registrada no 2º trimestre de 2016. De acordo com

o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada - Cepea (2016), a baixa do

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preço do leite pago ao produtor em 2015 e o aumento dos custos de produção de

janeiro a junho de 2016, desestimularam os produtores a investir na produção,

levando vários deles a optarem por secar as vacas. Como resultado, houve queda na

produção e aumento do preço do leite em todos os elos da cadeia produtiva.

A pesquisa ainda aponta que o preço médio bruto ponderado do leite

pago ao produtor (que inclui frete e impostos) para as sete praças investigadas (GO,

MG, RS, SP, PR, BA e SC) foi de R$ 1,2679/litro no 2º trimestre de 2016. Segundo o

Cepea, esse preço foi 15,1% mais alto do que o preço médio do trimestre

imediatamente anterior e 25,3% acima da média alcançada no 2º trimestre de 2015.

Esses reflexos também se estenderam para o consumidor final. De

acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo - IPCA, de janeiro a

junho de 2016, Leite e derivados apresentaram aumento acumulado de 16,83%. Com

isso, todos os subitens avaliados apresentaram alta no período, como por exemplo:

manteiga (43,82%), leite longa vida (26,70%), leite condensado (15,62%), iogurte e

bebidas lácteas (9,20%), creme de leite (8,55%), leite em pó (6,72%) e queijo (6,10%).

Todos acima do Índice geral de inflação, que para o referido período foi de 4,42%.

Houve também uma considerável queda na captação de leite em nível

nacional, no comparativo dos 2º trimestres 2016/2015, que ocorreu de forma

generalizada nas principais Unidades da Federação produtoras, com exceção a

Rondônia, que apresentou um sutil aumento de 0,1%, conforme é demonstrado na

figura 8.

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Figura 8 - Ranking e variação anual da quantidade de leite cru adquirido pelos laticínios -

Unidades da Federação – 2º trimestres de 2015 e 2016

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Agropecuária, Pesquisa Trimestral do

Abate de Animais, 2015.II e 2016.II.

O IBGE (2016) apresenta que a aquisição de 474,00 milhões de litros

de leite a menos em nível nacional, no comparativo do 2º trimestre de 2016 com igual

período do ano anterior, foi impulsionada por reduções em 22 dos 26 estados

participantes da Pesquisa Trimestral do Leite, com destaque às reduções ocorridas

em Minas Gerais (-124,81 milhões de litros), Rio Grande do Sul (-106,11 milhões de

litros), Goiás (-93,97 milhões de litros), São Paulo (-36,47 milhões de litros) e Paraná

(-29,34 milhões de litros).

Em nível nacional, a maior parte do leite industrializado é processada

por estabelecimentos de grande porte, que representam uma pequena parcela do total

das indústrias lácteas. No 2º trimestre de 2016, 233 estabelecimentos (11,7% do total)

adquiriram mais de 50 mil litros de leite/dia, sendo responsáveis por 80,7% do total de

leite captado. Isso implica que no Brasil, há menor quantidade de indústrias de grande

porte e muitas cooperativas que vendem o seu leite para as maiores consumidoras,

como Nestlé, Vigor, Frimesa, Polengui e entre outras (IBGE, 2016).

No intuito de compreender o contexto da agroindústria no Brasil, não

se pode olhar somente para o volume de matéria-prima processada, preços praticados

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e custos, é necessário também entender e analisar informações sobre o emprego e

salário do setor, principalmente devido ao atual cenário de crise econômica dos

últimos dois anos. Por isso, a Pesquisa Industrial Mensal de Emprego e Salário

realizada mensalmente e publicada anualmente pelo IBGE, mostra-se relevante.

A Pesquisa Industrial Mensal de Emprego e Salário produz

indicadores de curto prazo relativos ao comportamento do emprego e dos salários nas

atividades industriais, sobre pessoal ocupado assalariado, admissões, desligamentos,

número de horas pagas e valor da folha de pagamento em termos nominais (valores

correntes) e reais (deflacionados pelo IPCA), tendo como unidade de coleta as

empresas que possuem unidades locais registradas no Cadastro Nacional de Pessoa

Jurídica - CNPJ, e reconhecidas como industriais pelo Cadastro Central de Empresas

do IBGE.

O relatório da pesquisa demonstra que em dezembro de 2015, o total

do pessoal ocupado assalariado na indústria mostrou queda de 0,6% frente ao

patamar do mês imediatamente anterior, décima segunda taxa negativa consecutiva

no histórico da pesquisa que iniciou em 2002, acumulando nesse período perda de

7,8%. Com isso, o total do pessoal ocupado assalariado recuou tanto no fechamento

do quarto trimestre de 2015 (-7,5%), como no índice acumulado do segundo semestre

do ano (-7,1%), ambas as comparações contra iguais períodos do ano anterior,

conforme mostra a figura 9.

No confronto com igual mês do ano anterior, o emprego industrial

recuou 7,9% em dezembro de 2015, com o contingente de trabalhadores apontando

redução nos dezoito ramos pesquisados, com destaque para as pressões vindas de

meios de transporte (-14,3%), máquinas e aparelhos eletroeletrônicos e de

comunicações (-16,2%), máquinas e equipamentos (-11,3%), borracha e plástico (-

12,7%), vestuário (-9,8%), produtos de metal (-10,5%), minerais não-metálicos (-

9,8%), outros produtos da indústria de transformação (-11,2%), alimentos e bebidas (-

2,2%), produtos têxteis (-9,2%), metalurgia básica (-9,4%), calçados e couro (-5,3%),

papel e gráfica (-3,6%), madeira (-7,9%), indústrias extrativas (-4,4%) e produtos

químicos (-1,9%).

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Figura 9 - Pessoal Ocupado Assalariado – Brasil – Índice Trimestral – 2014-2015

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisa, Coordenação de Indústria.

A figura 9 revela que em bases trimestrais, o pessoal ocupado

assalariado na indústria apontou queda de 7,5% no período outubro-dezembro de

2015, décima sétima taxa negativa consecutiva neste tipo de confronto e a mais

elevada desde o início da série histórica, e intensificou o ritmo de queda frente aos

resultados do primeiro (-4,6%), segundo (-5,9%) e terceiro (-6,8%) trimestres do ano,

todas as comparações contra iguais períodos do ano anterior. A perda de dinamismo

no total do emprego industrial entre o terceiro e quarto trimestres do ano foi

acompanhada por treze dos dezoito setores investigados, exceto na atividade de

alimentos e bebidas (de -2,9% para -1,6%) que registrou o principal ganho de ritmo

entre os dois períodos, porém ainda com perdas como demonstra a figura 10.

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Figura 10 - Taxas de Admissão, de Desligamento, de Realocação e de Rotatividade nas

atividades industriais – Brasil Dezembro/2015

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisa, Coordenação de Indústria.

A taxa de admissão relaciona o número de admissões no mês de

referência da pesquisa com o número total de pessoas ocupadas assalariadas no mês

imediatamente anterior, multiplicado por 100. Representa a percentagem do número

de trabalhadores admitidos no total de trabalhadores. Assim, conforme revela a figura

10, a taxa de admissão do setor de alimentos e bebidas, do qual a cooperativa

pesquisada faz parte, apresenta queda de 1,03% entre os meses de outubro e

dezembro de 2015.

Já a taxa de desligamento relaciona o número de desligamentos no

mês de referência da pesquisa com o número total de pessoas ocupadas assalariadas

no mês imediatamente anterior, multiplicado por 100. Representa a percentagem do

número de trabalhadores desligados no total de trabalhadores. Essa taxa revela que

houve um aumento percentual de 2,33% no número de demissões na indústria de

alimentos e bebidas no último trimestre de 2015. Fato que permanece ininterrupto

desde os três trimestres anteriores.

Comparando as duas primeiras taxas, a realocação é a razão da soma

do número de admissões e desligamentos no mês de referência da pesquisa com o

número total de pessoas ocupadas assalariadas no mês imediatamente anterior,

multiplicado por 100. Diz respeito aos fluxos de entrada e saída de trabalhadores no

mercado de trabalho, ou seja, ao número de pessoas que trocaram de local de

trabalho ou cuja situação empregatícia mudou entre os períodos da pesquisa. Com

isso, é visível que no setor de alimentos e bebidas houve um aumento na taxa de

realocação no último trimestre do ano. Isso ocorreu devido ao aumento da taxa de

desligamento, quando os colaboradores necessitavam de novos postos de trabalho,

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100

revelando que parte desses desempregados conseguiu ser realocada, porém ainda

apresentado 1,03% de diferença no período, ou ainda, 1,03% de colaboradores que

não conseguiram ser realocados no mesmo setor.

Confirmando esse dado, tem-se a taxa de rotatividade do período, que

representa a razão do mínimo entre as admissões e desligamentos no mês de

referência da pesquisa e o número total de pessoas ocupadas assalariadas no mês

imediatamente anterior, multiplicado por 100. Indica, portanto, a percentagem do

número de trabalhadores substituídos por outros no total de trabalhadores.

Observando o setor de alimentos e bebidas, pode-se perceber que a taxa de

rotatividade diminuiu 0,75%, ou seja, corrobora com os dados de que muitos dos

colaboradores desligados não foram recontratados no setor, reflexo também do

aumento da taxa de desemprego no país, que foi de 8,5% para o ano de 2015 segundo

o IBGE (2016).

Com todos esses dados, pode-se concluir que o mercado

agroindustrial no Brasil passa por dificuldades, que podem ter as mais diferentes

origens, como instabilidade pontual no clima, aumento dos custos de produção e

consequente aumento no preço final, greve dos caminhoneiros ou também reflexos

da crise econômica e mercado externo. Entretanto, a força da agroindústria e do

movimento cooperativista demonstra grande potencial ao país. O reconhecimento

internacional, o grande volume de exportações, a garantia de empregos e geração de

renda por meio das cooperativas e a boa imagem do movimento no campo político e

midiático, fez com que, mesmo em um cenário desfavorável, o volume de recursos

movimentados não apresentasse prejuízos maiores aos negócios. Essa

sustentabilidade econômica não poderia ser real se as cooperativas não integrassem

nela as preocupações ambientais e sociais, viabilizando a continuidade e qualidade

da produção pecuária, desenvolvendo novas práticas, tecnologias e conhecimento

para os seus colaboradores.

Para apresentar mais dados sobre as práticas de sustentabilidade na

cooperativa agroindustrial, segue no próximo capítulo informações sobre a

cooperativa pesquisada, apresentando sua missão, valores, negócios, estrutura e

produtos.

4.3 A COOPERATIVA

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101

A cooperativa teve o seu início com a intenção de um produtor de leite

de integrar o sistema cooperativista, unindo cooperativas de diversas atividades,

principalmente aquelas com a atividade leiteira, para então formar uma confederação

na produção de leite em pó. Dessa forma, em 1982, a cooperativa iniciou suas

atividades, sendo incumbida de abastecer o mercado, industrializar os excedentes e

dar segurança ao produtor nos períodos de safra e entressafra (SITE DA

COOPERATIVA, 2016).

De 1982 a 1995, a cooperativa atuou como industrializadora e

comercializadora de leite em pó, trabalhando com o excedente de matéria-prima das

filiadas. A partir de 1995, ela passou a ser somente uma prestadora de serviços para

as filiadas, recebendo e industrializando a matéria-prima, repassando assim, os

gastos e os produtos acabados para cada uma delas. Com essa modalidade a

cooperativa trabalhou até agosto de 1998.

A partir de então, iniciou-se o processo de industrialização e

comercialização novamente, sendo que em maio de 2000, houve a centralização de

todo o processo industrial, onde todos os produtos passaram a ser processados na

sede industrial da cooperativa. Em 2007 ocorreu uma mudança na razão social, que

antes era Confederação passou a ser Central, de acordo com a divisão relatada no

item 4.1, em que declara a cooperativa como central ou de 2º grau.

Assim, a cooperativa é formada pela união de cinco cooperativas

agropecuárias singulares, tendo como cooperados somente pessoa jurídica. As

cooperativas singulares são filiadas aos produtores rurais, admitindo assim pessoa

física, e a área de captação da cooperativa central é responsável pela aquisição da

matéria-prima desses produtores filiados. Após isso, a cooperativa central industrializa

e comercializa o leite e alguns de seus derivados, tendo como missão “Contribuir para

viabilizar a pecuária leiteira com soluções inteligentes que respeitem o meio ambiente

e os colaboradores”, e como valores: ter qualidade em todas as atividades; atender

aos clientes e fornecedores alcançando sua satisfação; valorizar o crescimento do ser

humano, bem como respeitá-lo; buscar sempre a transparência em todas as atitudes;

ser humildes para aprendizagem, correção e ensinamentos; respeitar o meio

Ambiente (SITE DA COOPERATIVA, 2016).

Atuante, principalmente, no sul, sudeste e centro-oeste do país, a

cooperativa reúne ao todo cinco instalações, sendo a matriz localizada em Londrina -

PR e as filiais ou entrepostos distribuídos por Maringá - PR, São Lourenço do Oeste

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– SC, Pato Branco – PR e Cascavel – PR. Em relação ao porte da cooperativa,

segundo a classificação do Sebrae, ela caracteriza-se como médio porte, obtendo ao

todo cerca de 400 funcionários. De acordo com o entrevistado 1, esse número já

chegou a mais de 700 colaboradores, porém devido a atual crise econômica e também

às características de um dos principais produtos da cooperativa, que utiliza grande

mão de obra para seu fabricação, não estar favorável no momento.

...hoje não compensa produzir leite em pó, compensa você importar, então o

pessoal está importando e aí você não consegue ser competitivo com um

importado, e o que acontece, a fábrica fica parada e você tem que cortar mão

de obra, porque é melhor você ficar parado, é mais barato, do que você

produzir e ter prejuízo (ENTREVISTADO 1, 2016).

Essa conjuntura econômica também apresentou reflexos na

estruturação do organograma da cooperativa. Anteriormente, ela se organizava com

quatro gerências, mas em 2015 a Assembleia Geral determinou, após a análise

financeira e comercial, a necessidade da saída de duas gerências. Na figura 11 consta

essa alteração, apresentando o organograma da cooperativa.

Figura 11 - Organograma da Cooperativa

Assembleia Geral

Gerência Comercial

Supervisor Comercial

Analistas Comerciais

Vendedores

Assisentes Comerciais

Auxiliares

Promotores

Gerência Administrativa

Supervisor Administrativo

Analistas Administrativos

Assistentes Administrativos

Auxiliares Administrativos

n/a

Líder Industrial

Técnicos Industriais

Operadores II

Operadores I

Auxiliares Industriais

n/a

Líder de Captação

Agentes de Captação II

Agentes de Captação I

Auxiliares de Campo

Conselho de Administração Conselho Fiscal

Presidência e Vice Presidência

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Fonte: Elaborado pela autora a partir das informações do Entrevistado 2, 2016.

Com essa estrutura de gestão a cooperativa ocupa espaço entre as

maiores indústrias processadoras de leite em pó e in natura do Brasil. Assim como,

produz Leite UHT – Longa Vida, Leite Pasteurizado, Creme de Leite, Manteiga, Bebida

Láctea e Iogurte. Todos esses produtos são divididos em três categorias, duas marcas

para o consumidor final e uma de produtos corporativos que compreendem: leite em

pó 0% lactose; composto lácteo com maltodextrina; soro de leite em pó parcialmente

desminaralizado; leite em pó integral; soro de leite em pó; leitelho em pó; leite em pó

desnatado e ingrediente para ração animal.

Uma grande parte da produção de Leite em pó integral, Soro de leite

em pó e o Soro de Leite em pó parcialmente desminaralizado vai para a exportação,

principalmente, para América Latina. Os outros produtos são comercializados no

mercado interno, tanto para consumidores finais como grandes clientes nacionais, por

exemplo, Nestlé, Vigor, Italac, Polengui, Tirolez, Kerry, Coamo e Frimesa. Para

demonstrar o volume de vendas por produto dos últimos anos, segue a Figura 12.

Figura 12 - Vendas realizadas por produtos

Fonte: Relatório de Atividades da Cooperativa 2014 - 2015.

De acordo com a figura 12, pode-se perceber que o maior volume de

vendas é oriundo do Leite UHT, seguido do concentrado e do leite em pó,

0

10

20

30

40

50

60

2012

2013

2014

2015

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104

respectivamente. Visualiza-se também que o Leite em pó, conforme relatado acima

na fala do Entrevistado 1, teve uma queda acentuada em volume de vendas,

consequente da forte variação nos preços internacionais do produto, saindo de um

patamar de US$ 5.000,00 (a ton) no início de 2014 para US$ 2.200,00 (a ton) no

segundo semestre, o que culminou um alto custo de fabricação em relação ao custo

da importação que outros concorrentes estavam fazendo, e como o seu processo de

fabricação exigia mais mão de obra do que outros produtos, a cooperativa decidiu por

parar a produção e desligar esses colaboradores, evitando um prejuízo pela falta de

demanda do Leite em pó a um preço mais alto do que dos concorrentes, e

possibilitando o investimento em outras plantas de produção.

Mesmo com essa decisão, no exercício de 2015, a meta de

faturamento da cooperativa foi bem abaixo do esperado. Em 2014 foi previsto que

para o próximo ano o faturamento bruto anual seria de R$ 549.623,00 reais,

entretanto, o valor foi de R$ 390.301,00 reais, quase 30% abaixo da expectativa. A

cooperativa relata que essa baixa se deu por 2015 ter sido um ano atípico,

apresentando uma fraca demanda de consumo no mercado interno dos produtos do

varejo, redução ainda maior do preço do leite em pó no mercado internacional, greve

dos caminhoneiros por quase 30 dias, contaminação de uma das máquinas de

produção de UHT obrigando a cooperativa a descartar 1 milhão de litros de leite, além

do impacto da inflação, dos juros, da escassez de crédito, aumento das tarifas de

energia, reajuste dos combustíveis e produtos químicos.

Figura 13 - Faturamento da Cooperativa – em milhares de reais

Fonte: Relatório de Atividades de 2015.

Diante desse cenário tão adverso, a saída foi reestruturar-se à nova

realidade do mercado, reduzindo custos, dispensando pessoal e buscando outros

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meios de lucratividade. Conforme visto na figura 13, para 2016 a expectativa é de

melhora do cenário econômico, principalmente devido à melhora nos preços de UHT

e das mudanças na legislação tributária que foram descritas no item 4.1. Além disso,

os investimentos em algumas práticas de sustentabilidade e nas pessoas também

colaboraram para a redução de custos e para melhorar os processos. Com isso,

seguem no próximo capítulo as práticas de sustentabilidade existentes na cooperativa.

4.4 SUSTENTABILIDADE E A COOPERATIVA

Por meio de entrevistas com os gestores e análise de documentos, foi

possível identificar algumas práticas de sustentabilidade organizacional presentes na

cooperativa, assim como a percepção dos entrevistados sobre o tema. Conforme

relatado pelos entrevistados 1 e 3, e de acordo com o conteúdo presente no website

oficial da cooperativa, o entendimento do conceito de sustentabilidade corrobora com

a definição adotada neste trabalho e defendida por Elkington (1999;2004), em que

entende o tema a partir dos três pilares, econômico, social e ambiental, considerando-

os para suas decisões e ações em diferentes escalas de espaço e tempo, mantendo

a dinamicidade e harmonia sistêmica em uma perspectiva de longo prazo. Nessa

perspectiva, e no intuito de identificar as práticas de sustentabilidade organizacional

de acordo com os seus pilares, segue o quadro 16.

Quadro 16 - Principais práticas de Sustentabilidade Organizacional da Cooperativa

Sustentabilidade

Organizacional Práticas O que compreende?

Econômica

Investimento em novas

tecnologias e equipamentos

industriais

Todo ano a cooperativa destaca as

metas realizadas e as metas a serem

realizadas no próximo período. Ao

analisar esses documentos, percebe-se

uma valorização das metas que

compreendem a automação de

processos industriais, a construção e

adaptações da planta industrial para a

produção de outros derivados do leite e

também investimentos para o aumento

da capacidade da produção atual.

Investimento na certificação

FSSC 22000

Para assegurar a credibilidade e a

qualidade dos produtos e da produção,

a cooperativa passava por diversas

auditorias dos clientes. Com o

investimento na Certificação de

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Sistemas de Gestão de Segurança de

Alimentos, essas auditorias diminuíram,

oferecendo mais segurança e

aumentando as chances de exportação.

A aprovação da FSSC 22000 é recente

na cooperativa e o investimento total

ficou em cerca de R$20.000,00 reais,

mais a consultoria para a certificação.

Venda dos materiais reciclados

Com a implementação da coleta

seletiva em 2012, a cooperativa viu a

oportunidade de recuperar parte da

receita utilizada na compra de matérias-

primas. Com isso, eles separam os

materiais recicláveis e revendem para

cooperativas de catadores de lixo.

Ambiental

Estação de Tratamento de

Efluentes Líquidos Industriais

A cooperativa dispõe, desde a sua

fundação, de uma estação de

tratamento de líquidos vindos do

processo industrial. Essa estação

garante que toda a água descartada no

Ribeirão Cambezinho esteja dentro das

especificações ambientais, não

oferecendo riscos à população.

Coleta Seletiva de Resíduos

Sólidos

Com projeto de implementação desde

2010, somente em 2012 que a

cooperativa conseguiu executar a

coleta seletiva. A ação busca separar o

lixo em seis categorias: papéis;

plásticos; vidros; metais; resíduos

orgânicos; e o que não pode ser

reciclado. Assim, a cooperativa

diminuiu o lixo destinado ao aterro de

resíduos e reaproveita os materiais

recicláveis, economizando no seu

transporte e descarte.

Social

Parceria com o COPATI para

oferecer cursos em escolas

O COPATI é o Consórcio para Proteção

Ambiental da Bacia do Rio Tibagi que

tem como objetivo salvar e preservar a

biodiversidade da região por meio de

projetos de educação ambiental e com

a ajuda de parceiros em pesquisas,

reflorestamentos, projetos em escolas e

outros. A cooperativa auxilia o COPATI

nos projetos de educação infantil, que

visam à conscientização das crianças

por meio de cursos, palestras e visitas

aos rios da região.

Conscientização e

investimentos nos

colaboradores

A cooperativa realizou, nos últimos dois

anos, investimentos para a melhoria

dos espaços de descanso dos

colaboradores. Os espaços contam

com refeitório, bancos, computadores e

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107

televisão. Há, também, na primeira

semana de trabalho, um curso de

integração para os colaboradores, onde

são apresentadas todas as áreas, as

normas e também realizado uma

conscientização ambiental e da

segurança de alimentos.

Outros investimentos são feitos por

meio de treinamentos e incentivos à

formação continuada para alguns

cargos de gestão e técnicos.

Participação e interação com a

comunidade local e produtores

A comunidade local realiza

periodicamente reuniões com

representantes e moradores dos bairros

entorno da cooperativa. Essas

reuniões, algumas vezes contam com a

participação de representantes da

cooperativa, que também publicam

mensalmente matérias sobre a

cooperativa e sobre a conscientização

ambiental no jornal do bairro. Assim

como a cooperativa oferece dicas aos

produtores.

Fonte: Elaborado pela autora a partir das entrevistas e documentos da cooperativa, 2016.

No pilar econômico, uma das primeiras práticas de sustentabilidade

identificadas é o investimento em novas tecnologias e equipamentos industriais. De

acordo com o entrevistado 1, para cada assembleia ordinária realizada com o objetivo

de prestar contas sobre as ações do período, é realizado um levantamento das áreas

da cooperativa para propor novos investimentos e melhorias necessárias. Essas

propostas são elencadas pelo líder de cada setor e, posteriormente, elas são

aprovadas pelo próprio entrevistado 1, que é responsável por toda análise da

viabilidade de custo e rateio. Dessa forma, se aprovada a viabilidade financeira e a

necessidade do investimento, essa meta é encaminhada para a análise da

assembleia, que é composta pelos representantes da cooperativa e das cinco

cooperativas singulares.

A gente vê automação, na medida do possível a gente vai instalando

equipamentos mais modernos para ir diminuindo essa mão de obra mais

pesada, por exemplo, a gente tinha a nossa caldeira, ela era movida a lenha,

uma das caldeiras, a gente tinha que ter serviço braçal, vinha as toras de

madeira aí tinha que ter uma equipe para pegar essas toras e jogar na

fornalha da caldeira, aí a gente eliminou essa caldeira e colocamos uma

caldeira que ela usa pó de serra, o cavaco, então a própria empilhadeira que

pega lá e coloca em uma esteira e a esteira movimenta a caldeira, então só

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aí já diminui bastante o serviço mais pesado, o que melhora no processo

produtivo (ENTREVISTADO 1, 2016).

No relatório de atividades de 2014, pode-se destacar que de 17 metas

propostas, 16 estão relacionadas a algum tipo de melhoria no processo produtivo, por

exemplo: Ampliação da linha UHT em 6.000 litros/hora; Aquisição de um Sistema de

Estocagem – tetra Alsafe LA 30.000; Aquisição de tanques de coleta de leite;

Aquisição de centrífuga para Concentração II; Aquisição de Caldeira Biomassa entre

outros. A única meta que foge a esses padrões é a construção de área de descanso

para os colaboradores, que conforme relatado no quadro 14 se encaixa nas ações de

sustentabilidade social da cooperativa. Das 17 metas aprovadas pela assembleia para

o ano de 2014, somente 8 foram atendidas, incluindo a construção do espaço para os

colaboradores. Com isso, as outras 9 são postergadas para ser realizada no próximo

ano, respeitando o cronograma e a disponibilidade financeira de recursos da

cooperativa.

Dessa forma, no relatório de atividades de 2015, foram destacadas 14

metas, todas elas voltadas à prática de sustentabilidade econômica, buscando a

melhoria e continuidade dos processos industriais e lucratividade da cooperativa. No

entanto, por ter sido um ano atípico e com muitas dificuldades, somente 2 metas foram

cumpridas: aquisição de equipamentos de informática e de um sistema de aeração

com ar difusor – ETE. Já para o ano de 2016, muitas metas foram acumuladas,

incluindo investimentos na planta de Pato Branco, que segundo o entrevistado 1, será

alvo dos próximos investimentos da cooperativa.

...é uma planta que futura a gente vai investir devido à saturação daqui,

logística, todo o nosso foco está indo para essa região, próximo à bacia

leiteira (ENTREVISTADO 1, 2016).

Outra prática de sustentabilidade identificada para o pilar econômico,

é o investimento recente na certificação FSSC 22000. A FSSC 22000 foi desenvolvida

para a certificação de sistemas de gestão de segurança, para organizações da cadeia

de alimentos que processam ou fabricam produtos de origem animal, produtos

vegetais perecíveis, produtos conservados em temperatura ambiente e ingredientes

alimentícios, como aditivos, vitaminas e culturas biológicas, bem como fabricantes de

embalagens. A FSSC 22000 incorpora os elementos de segurança de alimentos já

conhecidos de normas anteriores, tais como ISO 22000:2005, APPCC, BRC e IFS,

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assim como das especificações da PAS 220:2008. Com isso, ela apresenta uma das

abordagens mais abrangentes para sistemas de gestão de segurança de alimentos,

sendo plenamente reconhecida e aceita pela GFSI – Global Food Safety Iniciative e

pela European co-operation or Accreditation (EA).

Ao implementar a FSSC 22000, a cooperativa está adotando uma

padronização para a gestão de risco e comprovações técnicas para a garantia da

qualidade da produção e dos produtos. A certificação tem credibilidade, é

independente, respeitada e foi projetada para prover:

• Maior confiança nos alimentos;

• Menores riscos à saúde;

• Maior proteção às marcas;

• Menores custos com auditorias;

• Melhor gestão da cadeia de fornecedores;

• Maior transparência entre as normas de alimentos;

• Padrões globais que todos reconhecem;

• Auditorias de terceira parte mais eficazes que aliviam a carga de

entidades reguladoras e podem usar a nova norma como um primeiro ponto de

auditoria;

• Redução de custos através da orientação para processos mais

eficientes e auditorias racionalizadas.

Segundo o entrevistado 1 (2016), muitos clientes auditam seus

fornecedores constantemente, com o objetivo de verificar sua qualidade, origem,

respeito à legislação e normas ambientais. Com isso, a partir da certificação essas

auditorias tornam-se desnecessárias, garantindo ao cliente uma segurança maior

sobre as práticas industriais e da segurança de alimentos da cooperativa. Além disso,

a padronização da norma torna mais fácil vender em novos mercados e para novos

clientes, alcançando uma possibilidade de lucratividade maior e, consequentemente,

uma sustentabilidade econômica.

...para você chegar na certificação acho que é 22 mil (reais). Então, é tudo

normas internacionais que você vai adaptando, mais os procedimentos

internos e de cliente, de cada cliente, por exemplo você pega um Walmart,

você pega uma Nestlé, cada um tem suas formas de auditar, mas de uma

forma geral converge sempre para uma coisa só, então se você tem uma

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110

política de gestão de qualidade, você consegue atender todos

(ENTREVISTADO 1, 2016).

A terceira prática relatada no quadro 16, para a sustentabilidade

econômica, diz respeito à venda dos materiais reciclados. Em 2010, a cooperativa

elaborou uma ação educativa visando investir em uma mudança de mentalidade,

como um elo para trabalhar a transformação da consciência ambiental, e também

como forma de refletir sobre as ações individuais e coletivas que afetam o equilíbrio

da vida no planeta. Com isso, eles elaboraram palestras, cursos e cartilhas sobre a

importância e sobre os ensinamentos da coleta seletiva de resíduos sólidos. No

entanto, somente em 2012 que esse projeto começou a ser implementado com mais

força, e a partir desse ano que a cooperativa percebeu uma oportunidade de ganho

com os materiais reciclados.

A entrevistada 3 explica que todo setor realiza a separação do lixo e

após isso o responsável prepara dois tipos de descarte, a montagem em fardos que

compreende os plásticos coloridos, transparentes, tetra pak, papelão e stretch, e a

montagem em bags que contém as embalagens de plástico duro, como garrafinhas

de iogurte, baldes e bobinas em que o plástico vem enrolado. Esse material é

destinado à venda para cooperativas de reciclagem, que são revendidas para outras

indústrias. A figura 14 mostra a quantidade de material coletado nos anos de 2014 e

2015.

0

20.000

40.000

60.000

80.000

100.000

120.000

140.000

160.000

Papelão Tetra Pak Plástico

2014

2015

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111

Figura 14 - Quantidade de material reciclado (em Kg)

Fonte: Relatório de Atividades 2014 – 2015.

No ano de 2014 a quantidade de papelão foi a maior arrecadada,

seguida do tetra pak e do plástico. Já em 2015 a quantidade de tetra pak superou a

de papelão. Segundo a entrevistada 3, isso se deu, pois em 2015 houve uma

contaminação em uma das máquinas da indústria, em que culminou no estouro de

mais de 1 milhão de litros de leite UHT, o que, consequentemente, aumentou

consideravelmente a quantidade de descarte das embalagens.

...começou a coleta seletiva aqui em 2012, mas o finalzinho de 2012, aí 2013

teve os treinamentos e 2014 e 2015 foi o que funcionou de verdade. Só que

daí, por exemplo, quando você pega aqui tetra, é teve uma diferença muito

grande de 2014 para 2015, porque em 2015 a gente teve estouro de leite de

1 milhão de litros porque teve contaminação da máquina. Então, daí isso

causa um aumento muito grande na quantidade tetra. Essa contaminação foi

identificada aqui dentro ainda, e daí a gente não mandou esse produto para

o mercado nada, só que daí precisou fazer o descarte dele (ENTREVISTADA

3, 2016).

Na figura 15, segue o demonstrativo da receita dos materiais

reciclados.

Figura 15 - Receita obtida a partir da venda dos reciclados

Fonte: Relatório de Atividades 2014 – 2015.

R$ 0,00

R$ 5.000,00

R$ 10.000,00

R$ 15.000,00

R$ 20.000,00

R$ 25.000,00

Papelão Tetra Pak Plástico

2014

2015

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112

Em comparação com a figura 14, se percebe que o plástico é o

material mais lucrativo, acumulando menor quantidade em Kg e obtendo o maior valor

de venda, seguido do papelão e tetra pak, respectivamente. A receita da venda desses

materiais é reinvestida no setor de gestão ambiental da cooperativa, que administra

as práticas de sustentabilidade ambiental descritas a seguir. Assim, pode-se dizer que

essa prática de sustentabilidade econômica garante uma parte da autossuficiência

das práticas de sustentabilidade ambiental, demonstrando, dessa forma, a interelação

e dependência dos pilares da sustentabilidade, conforme aponta a literatura de

Elkington (2001); Dyllick e Hockerts (2002); Van Marrewijk e Werre (2003).

Sobre as práticas de sustentabilidade organizacional relacionadas ao

pilar ambiental, a cooperativa apresenta duas: a estação de tratamento de efluentes

líquidos industriais e a coleta seletiva de resíduos sólidos. A estação tem como

objetivo reduzir ou eliminar a carga de poluição do efluente líquido, possibilitando seu

descarte em corpos de água sem causar danos ao meio ambiente nem oferecer riscos

à saúde pública. De acordo com a entrevistada 3, a estação existe desde a fundação

da cooperativa, em 1982, para atender às legislações da Política de Efluentes

Líquidos; CONAMA 357/430-11 e CEMA 040, além da licença de operação do IAP-

PR.

Ter uma estação é uma obrigação, toda indústria que gera um efluente

diferente do doméstico precisa ter uma estação de tratamento, ou se ela não

quiser ter interna, tudo que é efluente líquido ela precisa mandar para uma

estação de tratamento terceirizada. Aí você pagaria por essa destinação

(ENTREVISTADA 3, 2016).

Segundo a entrevistada 3, essa terceirização não compensaria para

a cooperativa, pois é um volume alto movimentado por dia, cerca de 60 m³ por hora,

dificultando e encarecendo a logística, e também pela grande responsabilidade

assumida, caso ocorra algum problema no transporte a cooperativa não teria o

controle sobre o impacto, por isso a construção e manutenção da estação de

tratamento é relevante.

...a água está aqui dentro, você sabe o que está acontecendo, você sabe

como chegou essa água, da onde ela é, qual processo de limpeza é, então

fica, é seu, é sua responsabilidade, você que está cuidando e sabe o que está

acontecendo aqui (ENTREVISTADA 3, 2016).

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No total, a estação é composta por cinco etapas: equalização,

flotador, reator de lodos ativados, decantador e lagoas de estabilização. Na primeira

etapa, a função principal é equilibrar o ph do efluente. Se devido a algum processo de

limpeza na indústria ele está alcalino ou base, será acrescentado pelo operador no

campo de equalização o ácido sulfúrico, agora se ele já vem ácido, o processo deve

ser ao contrário, o operador deve acrescentar a base que é a soda cáustica.

O operador fica 24 horas por dia ali cuidando. Porque é assim, os processos

de limpeza na fábrica hora são com ácido e hora são com base, e isso muda

muito o ph, então se a gente não trabalhar em uma faixa de ph ideal, a gente

não consegue tratar esse efluente, ele vai acabar indo ruim e a estação não

vai dar conta de tratar, a gente precisa corrigir esse ph...(ENTREVISTADA 3,

2016).

Nesse tratamento de nível preliminar, também são utilizadas grades

para reter os resíduos maiores, como plásticos, papéis e impedir que haja danos às

próximas unidades de tratamento, ou até mesmo, para facilitar o transporte do

efluente. Já a segunda etapa é o flotador, responsável pela remoção do maior

constituinte do percentual de gordura do efluente. A entrevistada 3 explica que o

flotador é gravitacional, ou seja, o efluente entra por baixo juntamente com ar, após

isso são adicionados os produtos químicos para a retirada da gordura, que são o

policloreto de alumínio e o polímero. O PAC que é o policloreto de alumínio faz o floco

e o polímero ajuda a crescer esse floco, como o flotador fica em constante movimento

e o floco tende a ser mais denso do que a água, ele vai flutuar. É nesse momento que

o raspador retira esses flocos e permite que a saída do líquido seja embaixo da

gordura, passando para a próxima etapa.

O terceiro processo da estação de tratamento é o reator de lodos

ativados que tem como objetivo remover os nutrientes do efluente que estão acima do

permitido pela legislação para descartar no meio ambiente. Esse sistema, também

conhecido como ACAS, é um reator biológico, aerado, que fica em constante

movimento e que contém várias bactérias que vão remover nutrientes como fósforo,

potássio e nitrogênio, além de óleos e graxas. De acordo com a entrevistada 3, as

bactérias presentes no tanque se aglomeram uma nas outras, formando assim uma

coloração marrom chamada de lodo. Esse lodo fica na parte superior devido à

movimentação do tanque, e realiza o trabalho de retirada dos nutrientes, convertendo-

os em gás carbônico e água antes do efluente caminhar para o decantador.

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114

A quarta etapa, ou decantador, tem como função decantar os lodos

ativados, ou seja, ele permite que as bactérias que se formaram fiquem depositadas

no fundo do decantador para depois voltar ao sistema dos lodos ativados enquanto o

efluente segue, já nos padrões exigidos pela legislação, para a última etapa que são

as duas lagoas de estabilização. A entrevistada 3 argumenta que as lagoas de

estabilização não seria uma exigência, no entanto essa etapa é considerada pois:

...o decantador é um equipamento mecânico, ele pode apresentar falhas, se

caso a gente precise fazer uma manutenção né, ou então dê algum problema

o lodo não decantou direito, a gente tem duas lagoas de estabilização, onde

essa água vai passar por uma e depois pela outra, que, aliás, a gente não

adiciona nenhum produto químico, nada, para a correção, só fica mais um

tempo aqui na estação por precaução, se a temperatura ficou um pouco fora

no montante de água ai acaba corrigindo essa temperatura (ENTREVISTADA

3, 2016).

O efluente, para passar por todas essas etapas, demora cerca de

treze dias. Tempo utilizado também para a cooperativa coletar amostras para o seu

laboratório ambiental próprio, onde são realizadas análises da qualidade do efluente,

bem como no corpo receptor. Dessa forma, eles garantem a eficiência do tratamento

e a manutenção da qualidade do Ribeirão Cambezinho, cumprindo com parte da sua

missão e valores que correspondem à sustentabilidade ambiental.

A outra prática de sustentabilidade ambiental é a coleta seletiva de

resíduos sólidos. Conforme relatado anteriormente, foi um projeto iniciado em 2010,

porém com implementação somente em 2012. A coleta seletiva busca separar a

destinação do lixo de acordo com seis categorias: papéis, plásticos, vidros, metais,

resíduos orgânicos e o que não pode ser reciclado. Os papéis, plásticos, vidros e

metais reciclados são revendidos para as recicladoras, como já foi dito, e os resíduos

orgânicos e o que não pode ser reciclado é encaminhado para o aterro de resíduos

em Sarandi, interior do Paraná.

De acordo com a entrevistada 3, as principais origens dos materiais

reciclados são: as embalagens das matérias primas dos fornecedores, as embalagens

descartadas durante a industrialização e as embalagens retornadas do supermercado,

por diferentes motivos.

...a caixinha de UHT, cada parada da máquina ela libera uma quantidade de

caixinhas, então daí tem esse descarte, por exemplo, leite que ficou fora da

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115

especificação que ele é, que a gente fala que a gente estoura né, daí a

caixinha também vem para cá, revisão do leite, leite que veio do mercado e

não dá mais para ser utilizado, só vai ser seco para fazer ração animal,

também estoura e a caixinha vem para cá, alguma bobina que veio fora de

especificação, a gente também descarta, aí o leite pasteurizado e a bebida é

a mesma coisa, voltou do mercado, ficou fora de especificação, aí a gente

estoura o leite e a embalagem vem para cá (ENTREVISTADA 3, 2016).

Outra ação importante da coleta seletiva é a logística reversa. A

entrevistada 3 relata que os pallets comprados para o armazenamento da produção é

reaproveitado pelo fornecedor quando já não está mais em boas condições, assim

como as bombonas de produtos químicos são devolvidas ao fornecedor, que garante

o descarte ou reaproveitamento do material. No caso das bombonas de produtos

químicos, se elas fossem descartadas pela cooperativa elas deveriam se enquadrar

como resíduos de classe I, ou seja, resíduos perigosos, que são mais caros para o

transporte e descarte, cerca de 420 reais o m³. Com isso, a cooperativa economiza

tanto na compra como na destinação do material. Os valores para transporte e

descarte dos materiais que mais saem da cooperativa seguem no quadro 17.

Quadro 17 - Custo do transporte e descarte dos resíduos sólidos

RESÍDUOS CLASSE II – Não perigosos

Tipo de resíduo Quantidade Periodicidade do descarte Valor

Rejeitos 10 m³ 5 a 6 caçambas por mês R$ 1.200,00

Orgânicos 5 m³ 1 caçamba por mês

Cinzas 10 m³ 3 a 4 caçambas por mês R$ 1.000,00

Total R$ 2.200,00

Fonte: Elaborado pela autora a partir de informações da entrevistada 3, 2016.

Segundo informações da entrevistada 3, a cooperativa mantém um

acordo com o fornecedor Estre, que é o transportador e responsável pelo descarte

correto dos materiais coletados. Conforme relatado, o Estre atua no centro de

gerenciamento de resíduos na cidade de Sarandi e, como é possível visualizar no

quadro 15, cobra R$ 1.200,00 reais a cada 10 m³ recolhidos de rejeitos e orgânicos e

R$ 1.000,00 reais a cada 10 m³ recolhidos de cinzas da caldeira da cooperativa. Ao

calcular com a periodicidade do descarte, obtém-se o valor aproximado de R$

7.200,00 reais para o transporte de descarte dos rejeitos e orgânicos e R$ 4.000,00

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116

reais para as cinzas, totalizando um gasto de R$ 11.200,00 reais por mês para a

cooperativa completar a coleta seletiva.

Ao questionar sobre a principal motivação para essa prática a

entrevistada 3 argumenta que:

A questão da sustentabilidade mesmo, preocupação com o meio ambiente e

fora que tem um retorno também né, porque, por exemplo, antes tudo ia para

aterro, hoje não mais, e que nem a política nacional fala uma destinação

correta e a gente faz, separando a gente consegue fazer essa destinação, o

que é reciclagem a gente manda para a reciclagem, antes lâmpada não ia

para a destinação correta, eletrônico não ia para a destinação correta, hoje a

gente já separa tudo...(ENTREVISTADA 3, 2016).

Com esse relato, consegue-se perceber que apesar do custo de

R$11.200,00 reais com o transporte e descarte dos resíduos, a cooperativa está

economizando muito com a separação do lixo. Todo o material que é revendido para

a reciclagem e que gera uma receita, como demonstrado na figura 15, antes era

descartado no aterro de resíduos, o que gerava um custo de transporte muito maior.

Assim, é visível o quanto ações de sustentabilidade ambiental podem oferecer um

retorno financeiro, ao mesmo tempo em que cumprem com as legislações da ABNT

como a Classificação de Resíduos, Política Nacional de Resíduos Sólidos, Transporte

de Resíduos, além das práticas exigidas para a certificação FSSC 22000.

O pilar social também destaca ações de sustentabilidade

organizacional que, em concordância com o quadro 16, serão descritas como:

Parceria com o COPATI para oferecer cursos em escolas; Conscientização e

investimentos nos colaboradores; e Participação e interação com a comunidade local

e produtores. O COPATI é o Consórcio para Proteção Ambiental da Bacia do Rio

Tibagi, que através da educação ambiental tem como objetivo salvar e preservar a

imensa riqueza natural expressa pela exuberante biodiversidade da região, que

contempla 110 espécies de peixes, 477 espécies de aves, 40 espécies de mamíferos

e 600 espécies de árvores e constitui um dos mais importantes centros de

convergência de espécies animais e vegetais para toda a América Latina. O COPATI

realiza as suas atividades por meio de: pesquisas em parceria com a Universidade

Estadual de Londrina (UEL) para mapear fauna e flora existente na bacia;

Monitoramento da qualidade da água; Projeto de Educação Ambiental Pingo D' Água

em 38 municípios da Bacia; Projeto Jardineira Ecológica; Projeto Momento Ecológico;

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Projeto Dê um Click no Rio Tibagi; Palestras; Capacitação de professores e

funcionários de empresas; Repovoamento do Rio com espécies nativas;

Reflorestamento com 1,5 milhões de mudas; Implantação e formulação da Lei

Estadual de Recursos Hídricos.

Em parceria com a cooperativa, o COPATI realiza palestras e cursos

nas escolas da região sobre conscientização ambiental, visando ensinar e educar as

crianças sobre o uso consciente da água, a importância da coleta seletiva, a proteção

dos rios e da biodiversidade. De acordo com a entrevistada 3, essa parceria já ocorre

há anos, porém, atualmente, não existe nenhum projeto acontecendo na região.

Sobre a conscientização e investimentos nos colaboradores a

cooperativa se revela empenhada, com ações como a construção de um local de

descanso para os trabalhadores, dado que a fábrica funciona 24 horas por dia; curso

de integração na primeira semana de trabalho de cada colaborador; e treinamentos

técnicos e comportamentais para diferentes cargos, além de parcerias e incentivos

para a formação continuada para cargos de gestão e técnicos.

A construção e melhoria do espaço para os trabalhadores foram

realizadas em 2014, contando hoje com refeitório que oferece café da manhã, almoço,

café da tarde e jantar para todos os colaboradores, com refeições balanceadas e

controladas por nutricionista. A área também dispõe de bancos para descanso e

socialização, computadores com acesso à internet e televisão.

Nosso refeitório, por exemplo, toda a comida é igual para todo mundo, não

tem a o fulano vai comer, o diretor vai comer, tem comida separada, o próprio

conselho, quando tem reunião do conselho eles almoçam aqui e comem a

mesma comida, não tem sala reservada, nada separado (ENTREVISTADO

1, 2016).

Segundo o entrevistado 1, a área de convivência com os

colaboradores auxilia na socialização e facilita o processo de conscientização, visto

que eles convivem com diferentes hierarquias e podem assumir posturas pelo

exemplo ou também pela troca de informação e relacionamento mais próximo com

outros colaboradores. Contudo, essa conscientização é mais trabalha durante a

primeira semana de trabalho de cada funcionário, em que a área de gestão de

pessoas, juntamente com os setores de qualidade e segurança do alimento e de

gestão ambiental, faz uma introdução sobre a cooperativa, seu histórico, seus

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118

produtos, os procedimentos, os processos, os benefícios e os direitos e deveres de

cada colaborador. Essas informações são passadas através de palestras, visitas aos

setores e também por meio de uma cartilha que apresenta o manual de integração.

Eles conseguem passar bem essa questão, se for pensar no tripé da

sustentabilidade eles conseguem passar, é claro que quando você entra

assim na integração você não consegue associar isso em um dia, é muita

informação, você fica morrendo de medo por ser tudo novo, mas aí no dia a

dia você percebe que tudo aquilo que eles falaram que envolve questões de

sustentabilidade estão sendo trabalhadas aqui (ENTREVISTADA 3, 2016).

A atenção ao colaborador não é só durante a sua iniciação na

cooperativa. De acordo com o entrevistado 2, o investimento nos colaboradores

acontece continuamente, seja através de treinamentos técnicos e comportamentais

que são identificados no perfil de cada cargo, seja no incentivo à especializações e

MBAs para os gestores e técnicos, ações essas que serão descritas no próximo

capítulo.

Por fim, outra prática de sustentabilidade social por parte da

cooperativa é a participação e interação com a comunidade local e com os produtores.

Segundo a entrevistada 3, há uma interação grande com a comunidade ao entorno,

tanto por participações em reuniões das assembleia de bairro, quanto por publicações

de novidades, propaganda e matérias de conscientização ambiental no jornal local.

A gente tem uma parceria grande com a vizinhança também, na época atrás

tinha toda a questão do mau cheiro na região, a gente ia às reuniões da

comunidade, a gente tem muito contato ainda com o xxx que é o presidente

da associação dos moradores, que eles fazem um jornalzinho, então durante

um bom tempo a gente publicou, todo mês a gente publicava reportagens,

sobre a cooperativa, o que a gente estava fazendo de melhoria, e agora é só

propaganda, porque mudou o nome do jornal, daí para você publicar ficou

muito caro, aí ficou inviável você publicar principalmente nessa época de

crise. Mas a ideia é a gente voltar a publicar também, então a gente publica

normalmente de como economizar água, a gente fez uma melhoria na fábrica

a gente publicava... (ENTREVISTADA 3, 2016).

Em relação aos produtores, a cooperativa é contatada para oferecer

dicas e orientações sobre o processo de plantio, possibilidades de reutilização da

água na produção e na fazenda, sobre descarte de resíduos e entre outros.

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119

...eles sempre estão perguntando o que pode fazer para melhorar, por

exemplo, a produção lá do leite, na questão ambiental sabe, o que eles

podem fazer para melhorar quando eles plantam para a vaca comer lá no

pasto, eles sempre têm procurado o nosso setor para isso também, não fica

só na indústria, lá no campo eles também procuram a gente, para melhorar

lá. Porque querendo ou não acaba melhorando a qualidade do leite que a

vaca produz também, e querendo ou não tem um custo menor para o produtor

(ENTREVISTADA 3, 2016).

Essas práticas de sustentabilidade organizacional demonstram as

tentativas da cooperativa de atender às legislações, garantir um bom produto, sua

continuidade no mercado e também manter um bom relacionamento com os seus

colaboradores e com a comunidade local. Visto isso, o próximo capítulo descreve as

práticas de gestão de pessoas, para, posteriormente, relacionar com a

sustentabilidade e atender ao objetivo do trabalho.

4.5 GESTÃO DE PESSOAS E A COOPERATIVA

Assim como o item anterior, as entrevistas e os documentos

analisados foram as principais fontes de informações para a construção deste

capítulo. Principalmente o entrevistado 2 que, conforme relatado na metodologia, atua

diretamente na área de gestão de pessoas da cooperativa.

Ao analisar o contexto do mercado agroindustrial nos últimos dois

anos, assim como o posicionamento de mercado da cooperativa e suas características

organizacionais por pertencer ao movimento cooperativista, percebem-se diversas

práticas de gestão de pessoas condizentes com o momento econômico vivido, como

por exemplo, o ano de 2015 com diversas demissões, seguindo a tendência de outras

indústrias e mercados, assim como diversas práticas compatíveis com os valores do

movimento cooperativista, sendo os protagonistas a busca pelo desenvolvimento das

pessoas, igualdade e espírito colaborativo. Para descrever melhor essas práticas, no

intuito de detalhá-las posteriormente, segue o quadro 18.

Quadro 18 - Principais práticas de Gestão de Pessoas da Cooperativa

Área de Gestão de

Pessoas Práticas O que compreende?

Gestão de Pessoas

Operacional Contrato de trabalho

Realiza a documentação de rescisão e

contratação dos colaboradores; a definição

da jornada de trabalho; horas extras;

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120

intervalos; e controle do relógio e registro

ponto.

Folha de pagamento

Atividade operacional que controla e

registra os salários, benefícios, taxas e

impostos dos contratos de trabalho de

todos os colaboradores.

Férias Responsável pelo planejamento do

período de férias dos colaboradores.

Escala de revezamento,

faltas, atrasos e repouso

semanal

Controla a falta, atrasos, saídas

antecipadas e repouso semanal dos

trabalhadores.

Gestão de Pessoas

Estratégica

Recrutamento e seleção

Tem por objetivo atender satisfatoriamente

as necessidades das diferentes áreas e

estabelecer os critérios e procedimentos

para realização de recrutamento e

seleções internas e externas na

cooperativa.

Plano de cargos e salários

Instrumento utilizado pela cooperativa com

o objetivo de recompensar os

colaboradores dentro da política salarial de

mercado, com uma cultura de

remuneração justa e equitativa. Constitui

ainda um instrumento que permite à

cooperativa planejar, medir e avaliar o

grau de desempenho e desenvolvimento

do colaborador.

Desenvolvimento de

pessoas

A cooperativa utiliza de diversas

metodologias para o desenvolvimento de

seus colaboradores, contando com

recursos próprios e advindos do Sescoop,

como por exemplo: treinamento interno no

próprio local de trabalho; treinamento

interno na sala de treinamento;

treinamentos externos; palestras; fóruns;

treinamentos comportamentais e culturais;

treinamentos online ou virtual. Além de

avaliação de desempenho e feedbacks.

Benefícios

Benefícios como: uniformes; lavanderia;

restaurante no local de trabalho com todas

as refeições; adiantamento salarial ao

colaborador; setor médico ambulatorial;

ônibus fretado; seguro de vida em grupo

com auxílio funeral; plano de assistência

médica; associação dos colaboradores;

plano odontológico; kit bebê; cartão

alimentação e cartão refeição; e

empréstimo bancário consignado.

Fonte: Elaborado pela autora a partir das entrevistas e documentos da cooperativa, 2016.

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Em entrevista com o gerente administrativo financeiro, é possível

identificar duas vertentes na área de gestão de pessoas, uma voltada para as

atividades operacionais e outra para as ações mais estratégicas de recursos

humanos. Por isso, no quadro 18 há uma divisão entre gestão de pessoas operacional

e estratégica, descrevendo assim as práticas relacionadas ao dia a dia de qualquer

área de gestão de pessoas e aquelas que caracterizam a organização em questão,

pois são voltadas à cultura e valores que a cooperativa detém e acredita, sendo assim

essenciais para o objetivo deste trabalho, que visa compreender como essas práticas

se relacionam ou influenciam na sustentabilidade organizacional da cooperativa.

Na gestão de pessoas operacional, uma das primeiras atividades é a

definição do contrato de trabalho. Essa definição constitui-se como um acordo escrito

entre empregador e empregado, em que são registradas as condições de trabalho que

ambos acordam. Na cooperativa, primeiramente é firmado o contrato de experiência

com dois períodos, sendo o primeiro por 30 dias e o segundo por mais 60 dias. Se o

colaborador tiver bom desempenho nesses três meses e permanecer na cooperativa,

automaticamente o prazo do contrato de trabalho passa a ser indeterminado. Há

também a possibilidade de contratação temporária, que é executado via agência de

emprego. Nesse caso, se houver vaga e o colaborador temporário vier a ser

contratado pela cooperativa, ele ficará isento do contrato de experiência.

A jornada diária de trabalho na cooperativa segue as definições da

CLT Art. 58 e CF/1988 Art. 7º, inciso XIII, em que o máximo de horas trabalhadas é 8

horas, desde que não seja fixado expressamente outro limite e não exceda a 44 horas

semanais. A legislação também relata que a duração normal de trabalho poderá ser

acrescida de horas suplementares ou horas extras em número não excedente a duas

horas. Segundo o Art. 59 da CLT, isso pode ocorrer mediante acordo por escrito entre

empregador e empregado ou mediante contrato coletivo de trabalho. Em relação ao

intervalo entre jornadas, o Art. 66 da CLT reclama que entre duas jornadas de trabalho

deve haver um período mínimo de 11 horas consecutivas para repouso, não podendo

a cooperativa alterar isso. Há também os intervalos para refeições e repouso, em que

todos os trabalhadores cujo horário exceda seis horas diárias é obrigatória a

concessão. Esse intervalo não conta como horas de trabalho e pode durar de 60

minutos a no máximo 2 horas, mediante acordo escrito em convenção coletiva.

Para comprovar esses horários de entrada, saída e intervalos dos

colaboradores, a cooperativa conta com o controle do relógio e registro ponto, que é

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feito por um sensor biométrico. Seu correto apontamento é obrigatório e de

responsabilidade dos trabalhadores, devendo ser feito diariamente quatro vezes ao

dia (entrada expediente – saída refeição – retorno refeição e saída expediente,

conforme horário de trabalho). As horas extras também devem ser registradas no

cartão ponto e o canhoto gerado pelo sistema de registro é considerado legalmente

como um documento, que comprova a entrada e saída do colaborador no seu posto

de trabalho. Esse canhoto fica em poder do trabalhador, sendo de sua total

responsabilidade.

Outra prática muito comum à área de gestão de pessoas, que tem

função operacional, contábil e fiscal, é a folha de pagamento ou holerite. Esse

documento controla a remuneração paga aos colaboradores, assim como todas as

taxas, descontos e impostos decorrentes da federação, do estado e do município, se

for o caso, como por exemplo, PIS/PASEP, FGTS, 13º, INSS, férias, faltas e atrasos,

desconto do vale transporte, contribuição sindical e outros dependendo da

organização e do contrato de trabalho.

Da mesma forma, o controle e gestão do período de férias de cada

colaborador constituem-se como uma atividade operacional da área de gestão de

pessoas. A cada 12 meses de trabalho, o colaborador terá direito a um período de

férias de 30 dias, sendo que todas as vezes que o trabalhador for comunicado para

sair de férias ele deverá apresentar a carteira de trabalho ao setor de gestão de

pessoas para as devidas anotações e documentação. A programação do período é

organizada pela cooperativa, sendo possível algumas vezes conciliá-la aos interesses

do colaborador.

Sobre as folgas, escalas de revezamento, repouso semanal, faltas ou

atrasos e saídas antecipadas a cooperativa discorre o seguinte: é assegurado,

conforme o Art. 67 da CLT, a todo colaborador um descanso semanal de 24 horas

consecutivas, o qual, salvo por motivo de conveniência pública ou necessidade

imperiosa do serviço, deverá coincidir com o domingo, em todo ou em parte. No

entanto, como a cooperativa funciona 24 horas e opera em escala de revezamento, é

determinado, pela portaria nº 417 de junho de 1966, a seguinte normativa:

Art. 2º - Os agentes da fiscalização do trabalho, no tocante ao repouso

semanal, limitar-se-ão a exigir das empresas legalmente autorizadas a

funcionar, nesses dias (domingos e feriados), a organização de escala de

revezamento ou folga, como instituído no parágrafo único do mesmo artigo,

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a fim de que, pelo menos em um período máximo de 7 (sete) semanas de

trabalho, cada empregado usufrua um domingo de folga.

Com isso, é possível concluir que o colaborador tem direito ao

repouso remunerado preferencialmente aos domingos e nos feriados civis e religiosos.

Entretanto, em razão das condições peculiares de certos tipos de atividades, como é

o caso da cooperativa, torna-se indispensável a continuidade dos serviços. Assim, a

escala de folga deve ser elaborada pela gestão de pessoas de maneira que, de sete

em sete semanas, o colaborador tenha pelo menos um domingo de folga. Nos outros

dias trabalhados, os funcionários terão direito à remuneração em dobro, salvo se a

cooperativa estabelecer outro dia de folga.

Em relação aos atrasos e saídas antecipadas, o colaborador

registrará normalmente o seu horário nos relógios pontos. Em caso de consultas

médicas, o funcionário deverá apresentar o atestado ao Setor Médico da cooperativa

em, no máximo, 48 horas após a consulta. Segundo informações do entrevistado 2, a

seção de rotinas trabalhistas da cooperativa só providenciará a remuneração destas

horas mediante a apresentação do atestado do Médico do Trabalho da cooperativa.

Para outras situações, como atrasos e saídas antecipadas sem justificativa, serão

descontadas na folha de pagamento, sendo que a partir da sexta falta sem justificativa

começa a descontar do período de férias.

O manual de integração relata que as faltas justificadas estão

relacionadas ao falecimento de cônjuge, irmão, ascendente e descendente,

autorizados dois dias consecutivos; casamento do colaborador, sendo permitido até

quatro dias; licença paternidade e maternidade, 20 dias e 4 a 6 meses,

respectivamente; para fins de alistamento eleitoral, até dois dias consecutivos ou não;

nos dias em que estiver comprovadamente realizando provas de exame vestibular

para ingresso em estabelecimento de ensino superior; para servir como jurado do

Tribunal do Júri ou quando for convocado para depor em processos.

Essas práticas operacionais são comuns à maioria das áreas de

gestão de pessoas e, na cooperativa, demandam a atenção de um a dois funcionários

do setor, ficando o restante, cerca de três colaboradores, responsáveis pelas práticas

estratégicas de gestão de pessoas, que compreendem o recrutamento e seleção;

plano de cargos e salários; desenvolvimento de pessoas e os benefícios.

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O processo de recrutamento e seleção tem por objetivo atrair

profissionais qualificados para as diferentes necessidades da cooperativa. De acordo

com o entrevistado 2, a requisição de preenchimento de uma vaga, substituição ou

abertura de uma nova posição de trabalho é feita pela diretoria, com o consentimento

da assembleia. A partir desse momento é de responsabilidade da área de gestão de

pessoas, consultar o procedimento de recrutamento e seleção e seguir com as etapas

de análise do perfil de cargo, contendo as competências, habilidades e atitudes

necessárias para cada posição.

...você tem que trazer as pessoas adequadas com o quadro que você tem,

que você possui aqui na empresa, e manter essa pessoa motivada no dia a

dia do trabalho através de políticas. Então, recrutamento é basicamente o

gestor, o líder ele abre uma vaga, sendo substituição ou sendo aumento, esse

controle já sai da diretoria, e aí nós temos, com base nos procedimentos, nós

temos a descrição das atividades, que é o chamado perfil de cargo de todos

os colaboradores entendeu. Então, por exemplo, vou pegar um auxiliar de

produção, lá no perfil de cargo dele tem o CDO que vai entrar o ministério do

trabalho, atividade que ele executa, a descrição do ministério sobre essa

atividade, a descrição das atividades em si, uma descrição detalhada do que

ele faz no dia a dia, então com base nisso que a gente vai tomar a parte para

iniciar o processo de seleção. Na parte de baixo, nós temos as habilidades

que são necessárias... a escolaridade que é exigida para cada cargo, se ele

precisa ter algum curso ou algum treinamento, se ele tem que ter algum

conhecimento específico, e as competências, ou seja, são as habilidades que

ele precisa ter né, ou o CHA, que precisa ter para desempenhar cada

atividade. Então, com base nisso é que nós iniciamos o processo de seleção

(ENTREVISTADO 2, 2016).

O entrevistado 2 afirma que a cooperativa recebe muitos currículos

pessoalmente, pelo website e indicações internas. Segundo ele, dependendo da

quantidade de atividades que precisa ser desenvolvida na área de gestão de pessoas,

no momento em que é solicitada a abertura do recrutamento, há a opção de dois

caminhos: utilizar esses currículos já recebidos ou contratar uma agência que faça a

primeira triagem para depois a cooperativa seguir com as avaliações de perfis e

comportamentos.

Depende da vaga, nós recebemos bastantes currículos internamente aqui, na

portaria, pelo site, então não tem uma regra, e depende também do meu

tempo para estar executando esse processo seletivo. Então, se as atividades

estão mais tranquilas eu consigo fazer por aqui, senão eu peço auxilio da

agência eles me mandam o candidato triado e dentre eles eu vou selecionar,

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utilizo de avaliação e testes psicológicos para ver o perfil realmente, para ver

personalidade e competências específicas (ENTREVISTADO 2, 2016).

A cooperativa também detém de um programa de recrutamento

interno, conhecido como Valor Humano, que tem como objetivo principal oportunizar

o crescimento profissional dos colaboradores dentro da própria cooperativa. Segundo

o entrevistado 2, o recrutamento interno será priorizado sempre com o consenso da

liderança de cada setor e pela disponibilidade da vaga. Assim, caso o colaborador

atenda aos requisitos mínimos exigidos para a função, ele poderá se candidatar para

a vaga em edital e participar de um processo seletivo interno para a nova função. No

entanto, a sua participação não garante a aprovação ou a promoção para a respectiva

vaga.

A segunda prática de gestão de pessoas estratégica, descrita no

quadro 16, é a política de cargos e salários. De acordo com o entrevistado 2, a

remuneração e o plano de carreira da cooperativa é um instrumento utilizado com o

objetivo de planejar, medir, avaliar o desempenho e desenvolvimento dos

colaboradores, assim como, motivá-los e conscientizá-los das possibilidades de

crescimento dentro da cooperativa.

No manual de integração, entregue para todo novo colaborador, há a

descrição dos principais objetivos da política de cargos e salários, que são:

Definir a política salarial da cooperativa, normas e procedimentos;

Respeitar a equidade salarial interna e externa, buscando atrair e

reter profissionais qualificados;

Criar a base para decisões salariais e mecanismos de promoções

internas;

Gerenciar os custos da folha de pagamento;

Favorecer os demais subsistemas de gerenciamento de pessoas

(Avaliação de desempenho, recrutamento e seleção, treinamento,

rotinas trabalhistas etc.);

Contribuir com a melhora do clima organizacional.

O entrevistado 2 relata também a política de promoção de nível, em

que as faixas salariais estabelecidas progridem em três níveis, ou seja, nível I, nível II

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e nível III e, respectivamente, correspondem aos percentuais de 80%, 90% e 100%

do salário médio da classe pesquisada. O nível I está reservado para o salário de

admissão. O nível II para o salário efetivo do cargo após completar 12 meses de

trabalho. Já o nível III está reservado para recompor o salário efetivo do cargo após

completar dois anos de trabalho. Isto, em ambos os casos, somente se o seu ocupante

apresentar total domínio das responsabilidades do cargo assim demonstrado por meio

do processo de avaliação de desempenho.

A avaliação de desempenho em si, faz parte da prática de

desenvolvimento de pessoas, assim como os treinamentos e cursos. No manual de

integração, a cooperativa reconhece que o seu sucesso depende essencialmente da

qualidade e competência de seus colaboradores. Por isso, ela conta com diversas

metodologias e programas de treinamento e desenvolvimento, que visam preparar os

funcionários para o crescimento profissional, promovendo o desenvolvimento

contínuo e alinhando os colaboradores aos desafios e necessidades da cooperativa.

No procedimento interno PGP.SRH.001, que aborda os quesitos

competência, conscientização e treinamento, há a seguinte descrição: as

competências dos colaboradores que executam atividades que afetam o sistema de

gestão são descritas no perfil de cargo, onde são avaliadas as necessidades de

educação, treinamento, habilidade e experiência. Segundo o procedimento, para

comprovar as competências é necessário ter os registros de escolaridade,

treinamentos realizados, habilidade (comprovada pela avaliação de desempenho) e

experiências (comprovada pelos registros na carteira de trabalho) dos colaboradores.

Já a conscientização é repassada a todo colaborador de maneira que

ele consiga enxergar a importância de suas atribuições e de como elas contribuem

para que a organização alcance os seus objetivos estratégicos. De acordo com o

procedimento, a conscientização é repassada de duas formas, através do processo

de integração para os colaboradores novos ou através da avaliação de desempenho

para os colaboradores efetivos. Por último, os treinamentos são realizados sempre

que se verifica a necessidade diante dos requisitos de competências exigidos no perfil

de cargo. Estas exigências são inseridas no Levantamento das Necessidades de

Treinamento (LNT), que é construído juntamente com as gerências e os líderes. A

aprovação para a realização dos treinamentos é feita pela gerência administrativa

financeira a cada 6 meses e a LNT pode ser gerada a partir das seguintes formas:

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Insuficiência na comparação com o perfil de cargo;

Solicitação de gerentes e/ou supervisores das áreas;

Criação de novos métodos e processos de trabalho conforme

necessidades dos sistemas de gestão;

Treinamentos previstos no ano anterior e que não foram realizados;

Informações contidas na Avaliação de Desempenho.

O procedimento PGP.SRH.001 discorre que a avaliação da eficácia

dos treinamentos é feita pelo líder imediato na execução das atividades diárias, além

de item específico da Avaliação de Desempenho. Agora para avaliar os treinamentos

efetuados, há duas formas: se for treinamento efetuado na organização, é aplicado ao

final do curso uma ficha de avaliação, para que os participantes possam avaliar itens

como instrutor, material, organização, pontos fortes e fracos, dentre outros; já para

treinamentos realizados fora da instituição, será aplicada uma prova com valor de 10

pontos, onde a pontuação mínima exigida é de 7 pontos. Caso o colaborador não

atinja essa pontuação, ele será treinado novamente pela mesma instituição. Se ainda

assim, ele não alcançar a pontuação mínima, ele será treinado “in loco” pelo setor da

Garantia da Qualidade e registrado no Atestado de Qualificação. O procedimento

PGP.SRH.001 destaca que esses treinamentos, assim como a conscientização e as

definições de competências para cada cargo, são constantemente verificados e

analisados através de auditorias internas e externas.

Outro procedimento analisado foi o PGP.SRH.008, que descreve

sobre a avaliação de desempenho. No intuito de compreender como ocorre essa

prática na cooperativa, o procedimento traz as seguintes considerações: a avaliação

é realizada por todos os colaboradores com admissão superior a 6 meses e que

interferem no sistema de gestão da segurança de alimentos. Os colaboradores com

admissão inferior a um semestre são avaliados através da Avaliação do Período de

Experiência, no final dos 90 dias do contrato. O procedimento também relata que

existem duas formas de avaliação de desempenho realizadas na cooperativa, uma

por função e outra por metas. A avaliação por função destina-se aos colaboradores

operacionais, auxiliares, operadores, assistentes, analistas e mecânicos, e a

avaliação por metas aos colaboradores analistas, técnicos que desempenham em

suas atividades indicadores de performance, líderes, supervisores e gerentes. Os dois

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tipos de avaliações acontecem em duas etapas: a primeira com o objetivo de preparar

a descrição das principais responsabilidades, habilidades e metas, e a segunda é a

avaliação de desempenho do colaborador através de entrevista.

Segundo o entrevistado 2, a etapa de preparação inicia-se na

conclusão da etapa de avaliação do ano anterior com o preenchimento do Plano de

Desenvolvimento Profissional, contido no Instrumento de Avaliação por função e por

meta, e por meio de treinamentos com base no perfil de cargo. Na preparação da

avaliação por função existem duas possibilidades: a utilização do Plano de

Desenvolvimento Profissional, contido no Instrumento de Avaliação por função, como

referência para a análise, isso para os colaboradores que já participaram da avaliação

no ano anterior; ou para aqueles que entraram depois, será realizada uma orientação

com a apresentação dos instrumentos de avaliação bem como um esclarecimento das

responsabilidades, habilidades (competências comportamentais) e normas contidas

no perfil de cargo, e demais procedimentos da empresa.

O setor de gestão de pessoas informa aos colaboradores que na

realização final da etapa de avaliação por função, eles serão avaliados em 4 critérios:

conhecimento e normas, qualidade do trabalho (forma que o trabalho é entregue),

escolaridade e habilidades (competências comportamentais). Diferentemente, na

preparação da avaliação por metas a área de gestão de pessoas garante que o

colaborador preencha o Boletim de Desempenho registrando as metas estabelecidas

conforme as atividades do cargo, com no mínimo 3 objetivos e no máximo 7. Para

cada meta é relacionado um indicador que mede os resultados sobre a meta indicada,

esses indicadores são ajustados juntamente com o superior imediato do colaborador

avaliado. Segundo o procedimento PGP.SRH.008, o Boletim de Desempenho também

contém as 5 habilidades com base no perfil de cargo e na realização final da etapa de

avaliação, o liderado é avaliado em 2 critérios: painel de metas e objetivos (metas sob

sua responsabilidade); e painel de habilidade da função.

No geral, as avaliações, independente do tipo, ocorrem no primeiro

semestre do ano subsequente às atividades desenvolvidas, e o processo operacional

segue etapas semelhantes. Começa com a área de gestão de pessoas apresentando

às lideranças os instrumentos de avaliações, tanto por função como por metas, a

seguir o líder agenda um horário junto ao setor de recursos humanos para que em

conjunto com o colaborador seja preenchido o Instrumento de Avaliação. Na entrevista

com a área, o colaborador irá elaborar a sua auto avaliação, e o líder fará também a

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avaliação do colaborador nos mesmos quesitos, apresentando o feedback formal e

traçando o Plano de Desenvolvimento Profissional, contido no Instrumento de

Avaliação. De acordo com o entrevistado 2, as avaliações são 180º e todas são

acompanhadas pela área de gestão de pessoas, que documenta os instrumentos de

avaliação e os planos de desenvolvimento, assim como repassa uma via de cada aos

colaboradores.

...a avaliação de 2015 nós estamos quase finalizando, faltam algumas áreas

administrativas somente para a gente avaliar, o resultado foi muito bom. A

avaliação deve ser feita até 6 meses subsequentes ao ano que passou, é

muito funcionário, cada um tem sua rotina então acaba demorando um pouco,

e não é um processo simples a gente não senta o colaborador aqui e fica 5

minutos com ele, a gente vai ver as atividades que ele faz, as normas e regras

que ele precisa cumprir, se a escolaridade dele está condizente com o cargo

que ele está exercendo, se ele está devendo algum tipo de documentação,

se ele teve alguma advertência ou não, e a gente vai avaliar também as

competências dele, como que foi o comprometimento dele naquele ano, como

foi o trabalho em equipe, tem uma série de fatores aí que são avaliados

(ENTREVISTADO 2, 2016).

A última prática, definida no quadro 18, da área de gestão de pessoas

estratégica é os benefícios. Conforme o manual de integração, uma das prioridades

da cooperativa é manter o bem-estar do colaborador, de forma que este desempenhe

seu trabalho com satisfação e alegria. Com esse propósito, a área de gestão de

pessoas busca adequar os benefícios que melhor se enquadram no contexto e perfil

dos colaboradores. Esses benefícios são: uniformes, lavanderia, restaurante no local,

adiantamento salarial, setor médico ambulatorial, ônibus fretado, seguro de vida em

grupo, plano de assistência médica, associação dos colaboradores, plano

odontológico, kit bebê, cartão alimentação e refeição e empréstimo bancário

consignado.

De acordo com o manual de integração, cada colaborador lotado ao

setor de produção recebe três trocas completas de uniformes, que serão lavados na

lavanderia industrial da cooperativa. As normas internas exigem que os uniformes

sejam trocados todos os dias, deixando as roupas utilizadas dentro da caixa de

uniformes sujos no vestiário da empresa. No processo de admissão, o colaborador

adquirirá uma chave para seu armário de uso individual, que no caso de demissão

deverá ser devolvido juntamente com os uniformes no setor de SESMT, segurança e

medicina do trabalho.

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Como relatado anteriormente, outro benefício é o restaurante da

cooperativa, que oferece café da manhã, almoço, café da tarde e janta aos

colaboradores. Segundo o entrevistado 2, o refeitório é administrado por empresa

terceirizada, com variado cardápio elaborado e acompanhado por nutricionista,

oferecendo inclusivo a opção de prato light aos funcionários. Os colaboradores que

quiserem também podem tomar café antes da sua entrada na jornada de trabalho,

sendo liberada a entrada nas dependências da cooperativa, 20 minutos antes.

A cooperativa também oferece no dia 15 de cada mês ou no primeiro

dia útil após esta data, o adiantamento salarial no percentual de 40% sobre o salário

base do colaborador. De acordo com o manual de integração, caso o funcionário não

tenha interesse no adiantamento, ele deverá informar por escrito ao setor de gestão

de pessoas na sua admissão. Outro benefício opcional é o seguro de vida em grupo,

em que sua mensalidade é custeada 50% pela cooperativa e 50% pelo colaborador,

descontado na folha de pagamento. O valor mensal varia de acordo com a tabela

progressiva fornecida pela seguradora e o seguro inclui a família do funcionário. Caso

não haja interesse, ele também deve declarar por escrito ao setor de gestão de

pessoas.

Além desses, também é opcional o plano de assistência médica, que

é um plano ambulatorial com liberação de guias para consultas, exames e pequenas

cirurgias, conforme autorização do setor médico ambulatorial da cooperativa. No caso

de consultas, o setor médico marcará antecipadamente a consulta. Para exames, o

colaborador apresentará o pedido por escrito do médico solicitando ao setor médico.

Em ambos os casos, será retirada a guia junto ao Plano de Assistência Médica e

levada ao médico. Tanto a consulta quanto os exames são cobrados pelo preço da

tabela do plano, acrescido da taxa administrativa de 20%, com isso, os colaboradores

pagam 20% do valor utilizado e em caso de dependentes 40% do valor, debitados em

recibo de pagamento.

Em relação ao setor médico ambulatorial, a cooperativa presta

atendimento na área de medicina ocupacional, preventiva e curativa, compreendendo

serviços como consultas, primeiros socorros e medicação. O serviço de atendimento

médico da cooperativa funciona diariamente das 14h15 às 15h15, contando também

com um grupo salva vidas que está disponível para emergências 24 horas por dia,

além de uma Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA). Nessa comissão

são eleitos anualmente representantes da cooperativa e dos colaboradores para

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serem treinados a prevenir e evitar a ocorrência de acidentes, eles também ficam

responsáveis por investigar e discutir acidentes ocorridos, sugerir medidas de

prevenção, promover anualmente a SIPAT – Semana Interna de Prevenção de

Acidentes do Trabalho, e elaborar o mapa de riscos em conjunto com o setor de

segurança do trabalho.

Outros benefícios opcionais ficam por conta do: vale transporte,

conforme legislação; a associação recreativa, em que o colaborador contribui com

uma mensalidade de 1,5% do salário mínimo, cujo valor é descontado na folha de

pagamento, garantindo a ele utilizar o ambiente de festas da cooperativa, para

churrascos e outros eventos, sendo obrigação do colaborador devolver o local nas

condições anteriores; juntamente com a associação o colaborador tem a opção do

cartão Good Card, que lhe permite comprar em redes conveniadas com desconto em

folha de pagamento e poderá também adquirir produtos da cooperativa na última

semana de cada mês, sendo o limite do cartão de 30% do salário base do colaborador;

a assistência odontológica também se caracteriza como optativa, a partir da

contribuição mensal descontada na folha de pagamento do valor firmado em contrato,

esse valor é reajustado anualmente e uma vez conveniado, o colaborador deve se

manter por um período mínimo de 1 ano; e o empréstimo consignado que é

disponibilizado em parceira com a Caixa Econômica e o Banco do Brasil para

colaboradores que tenham no mínimo 1 ano de cooperativa.

Já os benefícios comuns a todos são: o ônibus fretado, que se desloca

da cooperativa até o centro em diversos horários para levar e buscar os colaboradores

para o trabalho sem custo algum; o kit bebê para o funcionário com filho recém-

nascido; o cartão alimentação, constante na convenção coletiva de trabalho, cujo valor

é pago mensalmente; e cartão refeição para colaboradores da área comercial que

exercem suas atividades foram da cooperativa.

Todas as práticas relatadas até aqui, sobre a área de gestão de

pessoas e as práticas de sustentabilidade, auxiliam a compreender quais as relações

existentes entre elas, as influências dos princípios do cooperativismo, do contexto

socioeconômico, dos valores e cultura da região, dos colaboradores e dos líderes.

Esse repertório será descrito e analisado no próximo capítulo, no qual busca retomar

a literatura vigente relacionando com os dados encontrados no campo, para definir os

níveis de sustentabilidade organizacional, as motivações para a sustentabilidade e as

influências da gestão de pessoas na sustentabilidade e vice-versa, atendendo assim

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ao objetivo geral deste trabalho que é compreender como os níveis de

sustentabilidade se relacionam com as práticas de gestão estratégica de pessoas.

4.6 AS RELAÇÕES ENTRE A SUSTENTABILIDADE ORGANIZACIONAL E A GESTÃO ESTRATÉGICA

DE PESSOAS

Um dos primeiros pontos relevantes para elencar os níveis de

sustentabilidade organizacional é compreender as percepções sobre o tema na

narrativa dos membros da organização. Conforme apontam Van Marrewijk e Werre

(2003), esse quesito pode transparecer os valores pessoais do indivíduo, assim como

os valores fundamentais dentro da organização. Por se tratar de uma indústria que faz

parte do movimento cooperativista, e que, portanto apresenta diferenças estruturais e

conceituais em relação às organizações capitalistas comuns, esperava-se encontrar

em suas práticas e políticas diárias processos autênticos que pudessem destacá-la

de outras empresas. Porém, tanto nas anotações e percepções descritas no diário de

campo, quanto nos documentos analisados e nas respostas dos entrevistados, não

foi encontrada nenhuma ação específica que diferenciasse a cooperativa.

Isso pode ser oriundo de dois motivos: primeiramente, o próprio perfil

dos entrevistados, que apresenta diversidades quanto ao sexo, idade, formação e

tempo de experiência na organização, mas são similares na trajetória profissional,

sendo a cooperativa praticamente o seu primeiro emprego e não obtendo referências

para conseguir comparar com empresas comuns; ou também em razão da

cooperativa se caracterizar como de 2º grau ou central, em que não atua diretamente

com cooperados, mas sim com outras cooperativas. Portanto, a sensação de dono e

a possibilidade de ser cooperado se mantém distante da realidade dos colaboradores,

o que não permite à cultura da organização abraçar totalmente o espírito inicial do

movimento cooperativista, tornando-a mais parecida, tanto em seus objetivos como

em suas atividades, com organizações comuns.

A seguir apresenta-se trechos das respostas dos entrevistados

quando questionados sobre as percepções e diferenças que eles veem sobre a

atuação na cooperativa em comparação com outras organizações.

...não (CONSEGUE COMPARAR), eu trabalhei em uma empresa, mas foi

meu primeiro emprego, eu tinha 15 anos, trabalhei dos 15 aos 18 nessa

empresa como auxiliar de custo, era uma empresa de construção civil, mas

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eu me fiz como profissional mesmo aqui na cooperativa (ENTREVISTADO 1,

2016).

Fiz estágio só, trabalhava com serviços operacionais...não consigo perceber

muita diferença (ENTREVISTADO 2, 2016).

Eu não sei comparar muito, porque eu não trabalhei sem ser no setor

ambiental, sem ser na cooperativa, mas eu vejo assim que aqui pelo menos

tem uma preocupação ambiental muito grande por parte dos cooperados, e

não só o que a gente faz aqui, mas lá no campo também...(ENTREVISTADA

3, 2016).

Devido ao perfil e conhecimento dos entrevistados, pode-se dizer que

cada um representa um pilar da sustentabilidade organizacional. O entrevistado 1 do

pilar econômico, por ser gerente administrativo financeiro, o entrevistado 2 no pilar

social por ser analista de gestão de pessoas e lidar diretamente com os colaboradores,

e a entrevistada 3 representante do pilar ambiental, pois é especialista em gestão

ambiental. Com isso, é visível que a fala da entrevistada 3 é a única que consegue

apresentar algum potencial de diferenciação perante outras empresas e, também, de

sustentabilidade nas práticas da cooperativa, constituindo o pilar ambiental como

destaque em relação às outras organizações.

No entanto, ao analisar as práticas de sustentabilidade ambiental

apresentadas anteriormente, consegue-se concluir que tanto a Estação de

Tratamento de Efluentes Líquidos Industriais, quanto a Coleta Seletiva de Resíduos

Sólidos, são práticas obrigatórias pela legislação às indústrias de médio porte como a

cooperativa. Além disso, como visto no subcapítulo 4.4, há uma receita que é gerada

a partir da venda dos materiais reciclados, gerando uma redução nos custos de

produção e uma vantagem para se manter essa atividade. Já as outras preocupações

ambientais, como o relacionamento com a comunidade e os produtores, para repassar

dicas de como economizar água, energia, reciclar e utilizar os recursos de forma

sustentável, podem ser consideradas uma ação de conscientização, mas também

uma busca por melhorias nos processos de produção, pois se o produtor adotar

práticas sustentáveis a matéria-prima para a indústria virá com mais qualidade e ele

poderá minimizar problemas nos períodos de entressafra, como o ocorrido em 2015,

garantindo assim a sustentabilidade do leite e do negócio da cooperativa.

De acordo com isso, pode-se refletir sobre as motivações da

cooperativa para adotar práticas de sustentabilidade, o que corrobora com dois pontos

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levantados anteriormente: um, de que por depender de matéria-prima que é retirada

do ambiente, a preocupação com a sustentabilidade ambiental seria óbvia para a

manutenção dos negócios; dois, por pressões externas e internas, conforme o quadro

4 descrito no subcapítulo 2.1.2, concordando com os seguintes trechos das

entrevistas:

Olha, hoje é muito difícil à cooperativa continuar como empresa se ela não

fizer a parte de sustentabilidade, com relacionamento com o meio ambiente,

produzir dentro das normas, é praticamente impossível você fazer isso

(MANTER A INDÚSTRIA ATIVA)...(ENTREVISTADO 1, 2016).

...devido à necessidade mesmo (MOTIVAÇÃO PARA IMPLEMENTAR A

SUSTENTABILIDADE). Era uma coisa que tinha que ser uma atividade

específica e não complementar. Ela se tornou uma necessidade dentro da

empresa e para isso a gente tinha que ter um profissional cuidando

especificamente disso, porque se você bobear você vai ter problemas, e

depois para você contornar vai custar caro. Pode culminar até com o

fechamento da empresa se isso não for levado a sério (ENTREVISTADO 1,

2016).

...essa questão ambiental e de sustentabilidade ela pode fechar uma

empresa, e não importa o que uma empresa gera, se gera 400, 500, o que

importa é que está tendo problema e que, o promotor aí ou o juiz fecha

mesmo (ENTREVISTADO 1, 2016).

Sim, os próprios clientes exigem né, o cara que procura uma empresa, ele

não compra produto de uma empresa que polui o meio ambiente, por isso

que a gente é auditado, nas auditorias tudo isso eles vão olhar, vão checar

(ENTREVISTADO 1, 2016).

Como visto nas falas anteriores, as preocupações e as motivações

para se implementar práticas de sustentabilidade foram demandadas primeiramente

pela legislação, após pelos grandes clientes, como Nestlé, Vigor, Italac entre outros.

Isso aumentou o interesse da cooperativa para buscar a certificação internacional,

como a FSSC 22000, o que consequentemente minimizou o número de auditorias e

também reforçou a sua imagem de indústria segura, confiável e com produtos de

qualidade.

Isso aí é exigência de clientes né, então hoje o mercado ele vai cobrando, se

você não tem o certificado você vai perdendo no campo de vendas e

captação. Com a certificação internacional, em empresa de alimentos, por

exemplo, a gente tem bastante auditoria de clientes, então os clientes veem

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aqui, eles querem ver como que está sendo o nosso processo, se o nosso

processo é seguro e tudo mais. Então com essa certificação você acaba

minimizando a quantidade dessas auditorias também, porque uma vez que

você tem um certificado internacional, você tem a comprovação que os seus

procedimentos são bem feitos, são bem executados e possuem controle...

(ENTREVISTADO 2, 2016).

Diante disso, pode-se perceber que diferentemente da pesquisa de

SHRM, BSR e Aurosoorya (2011), os líderes da cooperativa não buscaram a

sustentabilidade genuinamente, por motivações como contribuições para a sociedade,

preocupação ambiental e vantagem competitiva, mas buscaram mudanças a partir do

momento em que a continuidade do negócio foi ameaçada pela legislação e pelo

interesse dos seus clientes.

Contudo, para atender a essa nova demanda e alcançar medidas

mais sustentáveis, a cooperativa necessitou enfrentar alguns desafios, como aqueles

destacados por Stubbs e Cocklin (2008), em que a definição dos propósitos da

organização precisam ser mais amplos do que somente os financeiros, e, no qual, a

organização necessita repensar a sua estrutura e cultura, assim como missão, visão

e valores. Como visto anteriormente, os autores relatam que essas mudanças devem

ser internalizadas pelos colaboradores desde o processo de recrutamento e seleção.

Nesta perspectiva, a cooperativa elaborou o curso de integração, em que documenta

todas as normas, expectativas e valores para os seus novos membros,

conscientizando-os desde cedo sobre a sustentabilidade, enquanto os mais antigos

passam por treinamentos com o mesmo objetivo, para que no final todos estejam

alinhados com a cultura sustentável.

Como resultado, essa situação gerou algumas oportunidades para a

cooperativa, como a criação de uma série de indicadores para medir o desempenho

segundo os novos direcionamentos, a resolução de alguns problemas antigos como a

questão das reclamações dos moradores do mau cheiro gerado pela indústria, e

criatividade e inovação para que novos projetos sejam colocados em prática como,

por exemplo, o novo projeto de reutilização da água. Além disso, a constante

preocupação com os processos industriais permitiu que a cooperativa realizasse

investimentos em maquinários que flexibilizam a produção, aumentando o seu

portfólio de fabricação com outros produtos, como requeijão e creme de leite.

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É um processo bem complexo na verdade, então assim, a gente tem reuniões

quinzenais ou mensais e nós criamos um sistema interno de indicadores, de

conformidades, então a gente trabalha em cima disso...(ENTREVISTADO 2,

2016).

Tivemos (PROBLEMAS COM A COMUNIDADE), até achar o nosso “time”, a

gente teve com a população, em relação ao mau cheiro, a poluição, barulho...

Primeiro a reclamação dos moradores, depois eles procuram os órgãos

competentes, que é a AMA, COMURB, depois vem a procuradoria ambiental

né, então vem essa pressão, todo mundo pressiona. Então a gente viu,

tentamos identificar os problemas e fomos investindo, ou seja, é investimento

constante (ENTREVISTADO 1, 2016).

...a gente tem, a gente está tentando um projeto de reutilização de água, para

tratar e reutilizar no processo (ENTREVISTADO 1, 2016).

Segundo o entrevistado 2, a partir das especificações da norma FSSC

22000, a cooperativa implementou uma série de indicadores para atender às

exigências da certificação em relação à segurança dos alimentos, e ao aproveitar a

implementação de novos processos, criou indicadores que pudessem medir o

desempenho das áreas, principalmente aqueles capazes de avaliar a aderência à

cultura sustentável. Os entrevistados 1 e 3 também relatam sobre a mudança quanto

às reclamações da comunidade local. Segundo eles, anteriormente a comunidade

contestava sobre o mau cheiro da região. Ao verificar a origem desse odor, a

cooperativa identificou que o processo para equilibrar o ph do efluente base, que no

caso era o ácido sulfúrico, ao entrar em contato com o líquido liberava um gás

chamado sulfídrico que é conhecido por ter cheiro de ovo podre, e como o tanque para

equalização era todo aberto esse cheiro se espalhava pela região conforme o vento o

levasse. Então, para resolver essa questão, a cooperativa cobriu o tanque com uma

lona e acrescentou um biofiltro conectado a um tanque de cavaque de madeira

certificada, por onde o gás passa e é absorvido o mau cheiro, liberando um gás inodor

ao ambiente e resolvendo o problema da população. Outra questão que oportunizou

melhorias para a cooperativa, é a reutilização da água, que segundo os entrevistados

1 e 3 está sendo elaborado um projeto para que possa ser testado e implementado já

para o próximo ano.

Apesar desses avanços, ao analisar os relatórios das atividades dos

últimos dois anos, foi possível destacar que das 22 metas estabelecidas para esse

período, somente uma era voltada ao pilar social, enquanto o restante prioriza o

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investimento na produção e novos equipamentos. Isso revela que apesar de haver

práticas e alguns resultados em todos os pilares da sustentabilidade organizacional,

o pilar econômico, com investimentos na fábrica para melhorar a qualidade dos

produtos, a quantidade da produção e a diversificação dos negócios, é prioritário

atualmente para a cooperativa.

Outra parte dos relatórios que revelam essa postura é a mensagem

da diretoria que relata aos cooperados as dificuldades enfrentadas nos anos de 2014

e 2015, como a escassez de matéria-prima, a flutuação do preço de mercado do leite,

a diminuição da demanda e ainda os problemas logísticos e específico como a

contaminação da máquina. Na visão dos diretores, esses problemas serão

minimizados futuramente com investimentos na indústria e redução de custos.

Buscaremos muito fortemente a redução de custos na cooperativa, através

do aumento de parcerias na prestação de serviços e no processamento do

soro de leite em pó. Ambas as estratégias possibilitarão um aumento do

volume industrializado, diluindo os custos de todos os nossos produtos,

contribuindo ainda, com resultados positivos (RELATÓRIO DE ATIVIDADES,

2014).

Isso vai ao encontro dos dados apresentados anteriormente, como a

redução do quadro de funcionários, inclusive alterando a presidência e retirando duas

gerências do organograma. Conforme argumentado por Orsato (2012), o

gerenciamento da sustentabilidade organizacional é contingente às competências

internas e ao contexto no qual a empresa opera, e graças a isso e a todas as

informações apresentadas até aqui, é possível identificar os níveis que a

sustentabilidade apresenta dentro da cooperativa, comparando entre o que ocorre na

prática do dia a dia e o discurso dos entrevistados.

Conforme descrito no referencial teórico, um dos primeiros modelos

teóricos que busca identificar o nível de sustentabilidade organizacional é o

apresentado no relatório de SHRM, BSR e Aurosoorya (2011), em que traz a curva de

maturidade da sustentabilidade nas organizações. Devido aos dados e análises

realizados até aqui, é viável afirmar que a fase de maturação da cooperativa se

constitui na fase 2 ou de integração, pois ela reconhece alguns problemas sociais e

ambientais como relevantes para a operação dos negócios, ao mesmo tempo em que

é cobrada por clientes e pelo estado para tomar essas medidas sustentáveis. Ainda,

de acordo com o relatório, a consideração de fatores que buscam a sustentabilidade

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tende a minimizar os custos de produção e de funcionamento e proporcionar um

estímulo para a criação de novos produtos. Confirmando esse argumento, tem-se o

resultado da cooperativa, que consegue diminuir custos a partir da venda dos

reciclados e, a partir dos investimentos em equipamentos, flexibilizar sua planta de

produção para fabricar novos produtos.

Segundo o relatório de SHRM, BSR e Aurosoorya (2011), o que

impede a cooperativa de avançar para a fase 3 ou de transformação, é que ela não

trata com igualdade os três pilares da sustentabilidade, dando prioridade para

investimentos no pilar econômico e impossibilitando que resultados maiores da

sustentabilidade apareçam no social e ambiental. Nessa perspectiva, ao questionar o

entrevistado 1 se há resistência quanto à adoção de práticas sustentáveis por parte

dos colaboradores ou da diretoria, foi respondido o seguinte:

...não, a resistência não, o problema...você implantar é fácil aqui na

cooperativa, a gente vê que é fácil implantar, o difícil é monitorar e ter

continuidade né, as pessoas, aquele negócio da inércia né, vai depois volta,

se você não tiver controle constante você não tem êxito, porque tudo

acontece em um curto espaço de tempo, não se perpetua, então a maior

dificuldade é a continuidade do negócio (ENTREVISTADO 1, 2016).

A fala do entrevistado 1 reflete diretamente o que foi dito no estudo de

Van Marrewijk e Werre (2003), em que as organizações ao ser desafiadas por novas

circunstâncias buscam desenvolver soluções e promover mudanças. Essas

alterações geram certa instabilidade, pois buscam graus mais altos de complexidade

e um novo sistema de valor. Se essa instabilidade não for amenizada, ou o ambiente

demonstre-se desfavorável e as competências da organização não cumpram com as

especificações exigidas pelo sistema, a organização pode voltar para os níveis de

sistema de valores anteriores. Por isso, segundo Orsato (2012), cada organização

deve escolher o seu nível de ambição, de acordo com as suas condições estruturais

e culturais, e, portanto, se a cooperativa busca níveis mais altos de sustentabilidade,

ela necessita controlar a instabilidade gerada pelas mudanças e manter a

continuidade desse novo sistema de valor.

No intuito de identificar qual sistema de valor prevalece dentro da

cooperativa, o quando 5, descrito no referencial teórico, aborda o estudo de Van

Marrewijk e Werre (2003) que define os níveis de sustentabilidade organizacional. De

acordo com os autores, esses níveis podem ocorrer simultaneamente em contextos

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organizacionais, mas um ou dois sistemas de valores tendem a ser refletidos como

dominantes na cultura da empresa. Para demonstrar os níveis de sustentabilidade

organizacional encontrados na cooperativa, segue o quadro 19.

Quadro 19 – Níveis da Sustentabilidade Organizacional presentes na Cooperativa

ÁREA NO DISCURSO NA PRÁTICA

Gestão

Ambiental

Nível 4 Níveis 2 e 3

Esse nível representa a SO

consciente, em que existe um

interesse por equilibrar questões

econômicas, sociais e ambientais

além das conformidades legais e

das preocupações com o lucro. A

sustentabilidade é estimulada pelo

potencial humano, pela

responsabilidade social e pelo

cuidado com o planeta. Nesse

sentido, a fala da entrevistada 3

relata que há uma preocupação em

sempre melhorar os processos da

cooperativa, tanto internos e

externos, independente das

demandas da legislação e da busca

pelo lucro. Segundo ela, essa

preocupação já vem desde a

diretoria até os colaboradores, e

como exemplo eles têm a atividade

com o COPATI e a comunidade

local.

Os níveis 2 e 3 descrevem a SO em

conformidade com a legislação e orientada

pelo lucro. Para esses níveis a

sustentabilidade é estimulada por

imposições e por ser admitida como um

comportamento correto. Nesse caso, até

existe uma integração das questões sociais

e ambientais nas operações da

organização, mas desde que tal atividade

contribua com algum retorno financeiro ou

pelo menos economia nos custos. Por isso,

ao analisar as práticas de Gestão

Ambiental, chega-se ao níveis 2 e 3, pois a

Estação de Tratamento reflete uma

obrigatoriedade da legislação e a Coleta

Seletiva só foi implementada porque gera

uma economia nos custos. Enquanto

projetos como “Cursos de conscientização

ambiental” para crianças e a comunidade

são realizados esporadicamente.

Gestão de

Pessoas

Nível 3 Níveis 1 e 2

O nível 3 revela a sustentabilidade

organizacional voltada para o lucro.

Como dito anteriormente, este nível

apresenta uma integração dos

aspectos ambientais, sociais e

econômicos nos processos de

tomada de decisão da empresa,

desde que essa opção contribua

com algum retorno financeiro.

Segundo o entrevistado 2, a busca

pela certificação foi um reflexo

desse nível. Com a FSSC 22000 há

uma integração dos pilares

sustentáveis, porém de forma

generalizada e passível de

interpretação por cada

organização. Com isso, a

cooperativa adota “o que” e “da

Os níveis 1 e 2 relatam sobre a pré-SO e a

sustentabilidade em conformidade com a

legislação. Para o nível 1, a organização

não apresenta qualquer ambição para

alcançar a SO, mas ainda pode realizar

algumas ações rotuladas como

sustentáveis se for exigência da legislação

ou dos clientes. Porém, para que essas

ações tenham continuidade, a organização

precisa passar por constantes auditorias de

controle. Já o nível 2 consiste na provisão

do bem-estar social em conformidade com

a lei, assim como algumas demandas de

caridade para melhorar a imagem

organizacional. Visto isso, pode-se dizer

que a área de gestão de pessoas apresenta

um equilíbrio entre esses dois níveis, em

que a parte operacional visa atender à

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maneira” como convém,

priorizando atividades que gerem

retornos financeiros e na produção.

legislação, e a parte estratégica pretende

cumprir com aquilo que foi demandado pela

diretoria a partir do desejo dos clientes

externos e internos, por exemplo, a

certificação internacional e a construção da

área de lazer para os colaboradores.

Geral

(Cooperativa)

Nível 3 Níveis 2 e 3

No discurso geral, o entrevistado 1

revela que a postura da cooperativa

é de sempre buscar renovar e se

adaptar ao novo contexto do

mercado. Ele destaca que a

cooperativa é aberta a mudanças e

flexível em sua hierarquia, dado

que tem consciência de que sem

inovar a indústria não irá crescer e

nem é provável que se mantenha

por muito tempo. Com isso, o nível

3 de SO se sobressai, pois a

tomada de decisão em busca da

sustentabilidade pela diretoria, só é

aprovada se o conselho conseguir

comprovar vantagens para essa

medida. Vantagens competitivas e

financeiras que possam sustentar

os negócios e se possível ampliá-

los.

Não muito diferente do discurso, a prática

revela os níveis 2 e 3 como dominantes na

cultura da cooperativa. O nível 2 que age

com conformidade com a legislação, está

muito presente nas práticas de gestão

ambiental e de gestão de pessoas, assim

como na indústria e nos processos de

segurança e qualidade do alimento. Já o

nível 3, que busca o lucro nas decisões

para a sustentabilidade, se sobressai na

fala dos entrevistados, em que

questionados sobre as motivações e as

preocupações para implementar uma

prática sustentável, descrevem o receio de

perder clientes e a consciência de que essa

prática será “boa” para a cooperativa.

Portanto, aquilo que é bom para a

população e indiferente para a cooperativa

fica em segundo plano.

Fonte: Elaborado pela autora, 2016.

O quadro 19 dispõe de uma divisão por áreas para identificar os níveis

de SO encontrados. Ele revela que cada área específica detém de um discurso,

relatado pela visão dos entrevistados, e uma prática, descrita pelos relatórios de

atividades, os procedimentos, manual de integração e de coleta seletiva e também

pela fala dos entrevistados. Na área de gestão ambiental, se percebe que o discurso

mostra-se diferente da prática. Enquanto o nível 4 se destaca nas respostas da

entrevistada 3, os relatórios revelam que as práticas ambientais somente atendem à

legislação e outras são implementadas pois resultam em uma redução nos custos de

produção. Apesar de o setor ter outras atividades com o intuito de atender à

comunidade e aos produtores, elas não acontecem de forma continuada, não sendo

prioritárias e nem obtendo investimentos. A discrepância entre o discurso e a prática

da área ambiental, pode ser devido à proximidade que a área tem das questões

sustentáveis e pelo conhecimento e formação prévia da entrevistada. Nas falas da

entrevistada 3, é visível o aprofundamento técnico e o grau de conscientização sobre

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a sustentabilidade, não só na sua área de especialização, mas também com o

reconhecimento da relevância de projetos voltados à comunidade e aos produtores.

Aqui, não sei se é porque a gente está dentro da cidade, mas tem uma

preocupação grande da direção de olhar e falar ‘olha, vamos melhorar’, o que

a gente melhorar, melhora, e o que a gente puder fazer, tanto na parte de

preocupação mesmo, mas preocupação com questão da vizinhança e com a

população em si, nós temos que fazer (ENTREVISTADA 3, 2016).

A gestão de pessoas também apresenta divergências quanto aos

níveis de SO presentes no discurso e descritos na prática. De acordo com o

entrevistado 2, a partir da busca pela certificação internacional a área de gestão de

pessoas, juntamente com outras áreas, foi responsável pela leitura e interpretação da

norma, que não define especificamente tudo o que precisa ser realizado em uma

indústria de leite, mas sim para indústrias de alimentos em geral. Com isso, as áreas

responsáveis, após o apoio e aprovação da diretoria, adotam medidas de

sustentabilidade que possam atingir os objetivos estratégicos da cooperativa, que, no

caso dos últimos dois anos, foram a busca pela redução de custos e investimentos na

produção. Na prática, a área de gestão de pessoas é definida como níveis 1 e 2, pois

em relação aos objetivos estratégicos ela não apresenta certa autonomia e influência

relevante. A área em si não detém de muita ambição para a sustentabilidade, a não

ser que isso seja ordenado pela diretoria, e as suas atividades voltam-se somente a

atender à legislação e realizar algumas práticas estratégicas, com o acompanhamento

das vontades externas.

Em geral, os níveis de sustentabilidade organizacional encontrados

na cooperativa correspondem aos níveis 2 e 3, pois conforme destacado no quadro

19, as ações das áreas ambientais, de pessoas e da indústria refletem as obrigações

impostas pela legislação, juntamente com práticas que visam algum tipo de benefício

para a cooperativa, seja ele financeiro ou de competitividade no mercado. Assim, de

acordo com as falas dos entrevistados, pode-se concluir que a percepção dos

colaboradores ao implementar práticas sustentáveis é de que esse comportamento é

o correto e será “bom” para a cooperativa, enquanto que aquelas atividades que não

apresentam a sua contribuição de forma clara, são tratadas como irrelevantes,

implementadas de forma esporádica ou como eventual vitrine para ser utilizada pelo

marketing.

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Essa constatação é visível até pela observação do ambiente de

trabalho. As anotações presentes no diário de campo revelam que tanto a iluminação,

como equipamentos (computadores, ar condicionado), móveis, acabamento do prédio

(pisos, pintura, gesso) são diferentes dependendo do setor de atuação. Na área de

administração financeira, o prédio é novo, próximo da portaria, com decoração no

lounge de entrada contando com água, café e cookies, ar condicionado, gesso

rebaixado com boa iluminação, móveis planejados, piso porcelanato e pintura clara

nas paredes. Já no setor de gestão de pessoas o prédio é mais afastado, estando

próximo dos equipamentos industriais, onde é possível ouvir o barulho da fábrica e

dos caminhões passando. Além disso, não tem ar condicionado, a sala é escura e

conta com piso e móveis antigos. Na área de gestão ambiental é mais afastada ainda,

próxima da Estação de Tratamento, a sala é extremamente pequena, com móveis

simples, mas iluminação clara e uma cozinha para a equipe.

Portanto, pode-se dizer que a disposição do ambiente de trabalho

segue as prioridades de investimentos da cooperativa, demonstrando as áreas que

tem mais influência sobre as decisões e são consideradas essenciais ao negócio. Isso

reflete também a visão que a organização tem dos seus colaboradores, que conforme

relatado pelos autores Becker, Huselid e Ulrich (2001) na figura 3, apresenta-se com

uma perspectiva do pessoal, em que a cooperativa contrata e remunera pessoas, mas

não se empenha em atrair os melhores ou em desenvolver colaboradores

excepcionais. Isso pode ser comprovado através de dois momentos na pesquisa:

primeiro, a incapacidade da área de gestão de pessoas alavancar a posição de

gerência, ainda mais depois de cortar duas gerências que seriam de extrema

importância para a cooperativa, que é a comercial e industrial; e segundo, a partir de

falas dos entrevistados 1 e 2 que argumentam a falta de comprometimento dos

colaboradores mais técnicos, principalmente da indústria e suas posturas

desrespeitáveis com as normas internas, como horários por exemplo, o que dificulta

a confiança e o interesse da cooperativa em investir mais nos colaboradores.

...você pega pessoas mais jovens, elas não gostam de trabalhar no pesado,

tem dificuldade, às vezes você procura pegar uma pessoa mais madura que

é mais responsável, principalmente gente que trabalha aqui no Natal e Ano

Novo...a gente já teve problemas de parar o turno pelo o pessoal não vir

trabalhar (ENTREVISTADO 1, 2016).

...quando o emprego estava no auge a gente tinha muita dificuldade de

contratar, e além da dificuldade de contratar, uma vez que você trazia um

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funcionário para cá, se esse funcionário achasse um emprego aqui do lado

para ganhar 50, 60 reais a mais ele ia, então ele não tinha comprometimento

nenhum. Genericamente tá, não são todos, mas a gente via uma falta de

comprometimento um pouco generalizado nesse sentido. Então, ele faltava

no trabalho, chegava atrasado, porque ele sabia que se ele perdesse esse

emprego, aqui do lado tinha outro para ele, para ele começar amanhã

(ENTREVISTADO 2, 2016).

Essas falas revelam outro ponto da área de gestão de pessoas que o

autor Albuquerque (2002) cita como as perspectivas de controle e comprometimento.

Como visto, a estratégia de controle é a que mais se encaixa na realidade da gestão

de pessoas da cooperativa, onde não há confiança nos colaboradores e nem uma

visão de parceria. Para a gestão de pessoas, os colaboradores devem atuar dentro

de um certo padrão, que não é excepcional, mas somente o suficiente para que o

trabalho seja feito dentro das normas. Com isso, o papel da área é de controlar e

treinar para as expectativas da cooperativa. Além disso, a área não realiza uma leitura

do ambiente, definindo missão e visão conforme o modelo de gestão estratégica de

pessoas de Albuquerque (2002), presente na figura 5, descreve. Inclusive, nem

cooperativa apresenta uma visão, ou seja, os objetivos ou metas para um futuro mais

distante, e sim uma missão que visa somente contribuir para a pecuária leiteira, não

exibindo nenhuma ambição fora disso. O que corrobora com as baixas expectativas

sobre o desempenho dos colaboradores e também com a sua postura de caráter

resolutivo dos problemas, e não preventivo.

Nessa perspectiva, o manual de integração apresenta um tópico

sobre o que a cooperativa espera do colaborador. Segundo o documento, ações como

manter seu ambiente de trabalho limpo e organizado; cuidar da aparência pessoal

com uniformes limpos, passados e dentes e hálito saudáveis; respeitar e colaborar

com os companheiros de trabalho; ser disposto a resolver problemas; ser simpático;

ser responsável com os objetos utilizados; apagar as luzes e desligar equipamentos

caso não estejam sendo utilizados; ser pontual; evitar brincadeiras e posturas

incompatíveis com o ambiente; ser atencioso ao seu trabalho; ter autoestima elevada

e investir em seu autodesenvolvimento, são esperados de cada colaborador.

Diante de toda a análise e a partir das quatro categorias elencadas

através dos estudos que integram a sustentabilidade e a gestão de pessoas, que são:

o papel da área de GP quanto à sustentabilidade; as estratégias, políticas e práticas

de GP em relação à sustentabilidade; a GP como disseminadora de valores

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organizacionais; e o papel dos líderes no processo de legitimação da cultura

sustentável, é possível compreender sobre como a sustentabilidade organizacional se

relaciona com a gestão de pessoas na organização estudada.

Portanto, pode-se dizer que o papel da área de gestão de pessoas

dentro da cooperativa é um reflexo das decisões da diretoria, sendo as suas

estratégias, políticas e práticas somente para atender à legislação e cumprir com

algum processo de forma mais estratégica, porém sem muita autonomia e

investimentos. Já sobre a sua característica como disseminadora de valores

organizacionais, a área de gestão de pessoas da cooperativa se apresenta como

participante desse processo, principalmente por meio do curso de integração e dos

treinamentos técnicos e comportamentais. E, por fim, sobre o papel dos líderes para

a legitimação da cultura sustentável, a área de gestão de pessoas revela-se deficiente,

visto que não apresenta liderança forte e é administrada por meio da gerência do setor

administrativo financeiro, o que posiciona mais distante da possibilidade de

compreender e atender às necessidades específicas da área da forma como aborda

a literatura.

Com isso, os baixos níveis de sustentabilidade organizacional

encontrados corroboram com a dificuldade de abordagens estratégicas na área de

gestão de pessoas, revelando relações consistentes entre ambas as áreas. Isso

significa que, seria improvável à cooperativa apresentar altos níveis de

sustentabilidade com o atual posicionamento estratégico da área de gestão de

pessoas. Da mesma forma que, se a cooperativa investisse na área de gestão de

pessoas com um direcionamento estratégico alinhado aos seus objetivos

sustentáveis, possivelmente ela alcançaria níveis mais altos de SO. Essa constatação

fortalece às argumentações presentes nos estudos científicos, como de Holbeche

(2004), que afirma a importância a área de gestão de pessoas para atender aos

objetivos estratégicos da organização, e de Jabbour e Santos (2008) e Pires (2011),

os quais demonstram a importância da gestão de pessoas no alcance de práticas mais

complexas de sustentabilidade.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo deste estudo foi compreender como os níveis de

sustentabilidade organizacional se relacionam com as práticas de gestão estratégicas

de pessoas em uma cooperativa agroindustrial. Para atender a esse objetivo foi

realizado um estudo de caso em uma cooperativa do norte do Paraná que adota em

sua missão e valores princípios da sustentabilidade. Autores como Jabbour e Santos

(2008), Holbeche (2004) e Pires (2011), revelam que a relevância do tema se dá, pois

o alcance e sucesso dos objetivos estratégicos de uma organização dependem

diretamente das estratégias de gestão de pessoas, e estudos como esses não vêm

sendo realizados no Brasil, visto que entre 15 pesquisas encontrados sobre o tema

somente 2 eram nacionais. Por isso, a discussão integrada dos temas, realizada neste

trabalho, buscou contribuir para o enriquecimento do tema de pesquisa e para o

conhecimento e divulgação de práticas de sustentabilidade e gestão de pessoas

realizadas em organizações cooperativas.

No intuito de atender ao objetivo geral, foi elencado quatro objetivos

específicos sendo: a) descrever as práticas de sustentabilidade organizacional e de

gestão de pessoas da cooperativa; b) identificar os níveis de sustentabilidade

organizacional existentes na cooperativa; c) identificar se há alinhamento entre a

estratégia da sustentabilidade com as práticas de gestão de pessoas; e, d) discutir

como as práticas de gestão de pessoas auxiliam a cooperativa a atingir o seu objetivo

estratégico em relação à sustentabilidade.

O primeiro objetivo específico definido para este trabalho buscou

identificar e descrever as práticas de sustentabilidade encontradas na literatura

vigente e na cooperativa, assim como as práticas de gestão de pessoas descritas nos

estudos científicos e as presentes na organização estudada. Para isso foi realizado

um levantamento bibliográfico em fontes de pesquisa como Periódicos CAPES, Ebsco

e Scielo em busca de artigos que pesquisavam sobre a sustentabilidade, a gestão de

pessoas e artigos que abordavam ambos os temas. Após, esses estudos foram

resumidos no referencial teórico, apresentando desde o início das discussões sobre

sustentabilidade, suas conferências, debates sobre o conceito, práticas adotadas

pelas organizações, correntes teóricas que visavam a legitimação do tema, assim

como as motivações, os desafios e as oportunidades enfrentadas pelas organizações

ao tentarem implementar práticas de sustentabilidade, e também os estudos que

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buscam diferenciar os níveis que a sustentabilidade pode apresentar em contexto

organizacional. Da mesma forma foi realizado sobre o tema de gestão de pessoas,

sendo destacado na fundamentação teórica sua evolução histórica, diferenças de

nomenclaturas e objetivos de cada período histórico, seus sistemas e modelos de

gestão, características e diferenciações, e um aprofundamento no modelo de gestão

estratégica de pessoas. Em seguida, buscou-se identificar as pesquisas que

abordavam os temas simultaneamente, no intuito de definir categorias ou

semelhanças que esses estudos traziam. Com isso, quatro categorias surgiram por

meio da literatura, sendo: o papel da área de GP quanto à sustentabilidade; as

estratégias, políticas e práticas de GP em relação à sustentabilidade; a GP como

disseminadora de valores organizacionais; e o papel dos líderes no processo de

legitimação da cultura sustentável.

Finalizado o levantamento teórico, parte-se para a identificação e

descrição das práticas de sustentabilidade e de gestão de pessoas da cooperativa

analisada. Com isso, foi realizado uma contextualização sobre o movimento

cooperativista, com os seus princípios, forma de organização e direitos e deveres dos

cooperados, assim como uma breve apresentação do contexto agroindustrial no Brasil

nos últimos anos, revelando a quantidade de leite produzido, o número de empregos

que o setor movimenta, o número de cooperativas e cooperados no país. Esse

panorama permitiu comparar a posição da cooperativa de acordo com a realidade do

mercado e da economia no setor. Com isso, foi apresentada a cooperativa com sua

estrutura, negócios, porte, cidades que atua, produtos que fabrica e posicionamento

de mercado. Em seguida, foi possível atender à outra parte do primeiro objetivo

específico, descrevendo as práticas, políticas e estratégias presentes na cooperativa

sobre as àreas de sustentabilidade e gestão de pessoas.

Como resultado, apresenta-se os quadros 16 e 18 que revelam as

práticas de SO de acordo com cada pilar da sustentabilidade e as práticas de GP,

dividas entre operacional e estratégica. Essas informações, juntamente as entrevistas

desenvolvidas e os documentos analisados, possibilitaram uma gama de discussões

e análises que atenderam aos outros objetivos específicos do estudo. Como, por

exemplo, o segundo objetivo de identificar os níveis de sustentabilidade

organizacional existentes na cooperativa. Para esse objetivo, o estudo fundamentou-

se nas proposições de Van Marrewijk e Werre (2003) presentes no quadro 5, que

revela os níveis de SO possíveis em uma organização. Portanto, ao analisar as

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147

práticas de sustentabilidade e de gestão de pessoas e o discurso dos entrevistados,

elencou-se os níveis por áreas, assim como um generalista representando a

cooperativa. Essas conclusões, presentes no quadro 19, revelam que há uma

discrepância entre o discurso dos entrevistados e a prática da cooperativa. Na área

de gestão ambiental, o nível 4 apresentou-se como similar às falas da entrevistada 3,

porém ao conferir com as práticas do setor, se percebe que um nível 2 e 3 se encaixam

mais à realidade da cooperativa. Da mesma forma, a área de gestão de pessoas

também obteve divergências, ao transparecer um nível 3 no discurso e um equilíbrio

entre os níveis 1 e 2 na prática. No geral, a cooperativa apresenta baixos níveis de

sustentabilidade organizacional, tanto no discurso que revela-se como um nível 3,

quanto realmente na prática que demonstra uma semelhança com os níveis 2 e 3.

A partir dessas conclusões, segue-se para os dois últimos objetivos

específicos, que são identificar o alinhamento entre as áreas e discutir sobre a

influência que as práticas de gestão de pessoas têm para que a cooperativa alcance

os seus objetivos sustentáveis. Nessa perspectiva, chegou-se à conclusão de que há

um baixo alinhamento estratégico entre a GP e as estratégias de sustentabilidade da

cooperativa. Isso devido ao fato de que a área de gestão de pessoas não apresenta

autonomia para elaborar estratégias próprias e condizentes com os objetivos da

organização, mas apresenta-se como subordinada das decisões de nível hierárquico

superior. A gestão de pessoas estratégica da cooperativa situa-se somente na

maneira como ela lida com os processos operacionais da área, emergindo um certo

movimento para as práticas de sustentabilidade, porém de forma imposta pela

diretoria. Isso demonstra que, caso os conselhos deixem de considerar as práticas de

sustentabilidade relevantes, há uma possibilidade de que a área de gestão de pessoas

não mantenha o que foi desenvolvido até o momento, e muito menos terá a

oportunidade de se opor a essa decisão. Isso porque, primeiramente, ela não

apresenta uma liderança que conheça profundamente o campo de pessoas e também,

porque a motivação para as ações não partiram da área, não foram internalizadas,

mas somente atendidas.

Essas questões levam à reflexão sobre as relações presentes entre

os níveis de sustentabilidade e a gestão de pessoas. Os dados revelam que os baixos

níveis de SO são influenciados pelo baixo alinhamento estratégico entre as pessoas

da organização. Constatação essa que corrobora com as pressuposições presentes

no referencial teórico, no qual argumentam que seria improvável a cooperativa

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148

apresentar altos níveis de sustentabilidade organizacional, com o atual alinhamento

estratégico de gestão de pessoas (VAN MARREWIJK; WEERE, 2003). Isso não quer

dizer que a cooperativa precise elevar os seus níveis de SO, pois conforme argumenta

Orsato (2012), as organizações devem escolher investimentos e ambições que façam

sentido aos seus objetivos, estrutura e negócios. Porém, por se tratar de uma indústria

que depende de matéria-prima sensível às condições ambientais, seria uma

precaução investir em níveis mais altos de SO, não só nas suas operações, mas,

principalmente, por toda a sua cadeia de stakeholders, garantindo assim um ciclo de

sustentação da pecuária leiteira.

Para finalizar, coloca-se como limitações deste estudo o próprio

método de estudo de caso, que relaciona as descobertas do estudo somente à

cooperativa estudada. Além disso, a pesquisa interpretativa e fenomenológica

reconhece o envolvimento do investigador na interpretação dos dados. Com isso, a

condução da pesquisa de campo e análise por um único pesquisador nesta

dissertação também se torna uma de suas limitações. Já como sugestões para outras

pesquisas, se sugere que investiguem os níveis de sustentabilidade organizacional

em organizações reconhecidas e premiadas como sustentáveis, e não somente

aquelas que documentam o seu interesse em ser sustentável, para que possa haver

mais referências de sucesso sobre práticas de gestão de pessoas e formas de seu

alinhamento estratégico com os objetivos da organização. Sugere-se também que

pesquisem em outras cooperativas que não possuem em suas atividades relações tão

próximas com questões ambientais, como por exemplo, cooperativas de crédito e de

compras, para que seja possível comparar as suas motivações e práticas de

sustentabilidade.

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APÊNDICE “A”

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE ESCLARECIDO – TECLE

Prezado(a) Colaborador(a),

Você está sendo convidado(a) a participar da pesquisa

“Sustentabilidade Organizacional e suas relações com a Gestão Estratégica de

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Pessoas: um estudo de caso em uma cooperativa Agroindustrial”, sob a

responsabilidade de Mayara Francielle Gonçalves, que irá investigar como os níveis

de Sustentabilidade Organizacional se relacionam com as práticas de Gestão

Estratégica de Pessoas.

1. PARTICIPAÇÃO NA PESQUISA: Ao participar desta pesquisa você deverá

participar da entrevista que contêm perguntas abertas e relacionadas ao tema

pesquisado e diretas referentes a alguns dados pessoais. Lembramos que a sua

participação é voluntária, você tem a liberdade de não querer participar e pode desistir,

a qualquer momento, mesmo após ter iniciado a(s) entrevista(s), sem nenhum prejuízo

para você.

2. RISCOS E DESCONFORTOS: No roteiro estruturado utilizado para realização da

pesquisa, o servidor poderá sentir-se constrangido perante as questões. Assim, se

precisar de tratamento por se sentir prejudicado por causa da pesquisa ou sofrer

algum dano decorrente do estudo, o pesquisador se responsabilizará pela assistência

integral, imediata e gratuita, encaminhando o servidor para um serviço de saúde para

atendimento especializado.

3. BENEFÍCIOS: Os benefícios esperados com o estudo é o de beneficiar a

organização, a partir das informações resultantes da pesquisa, possibilitando à

cooperativa compreender como as práticas de gestão de pessoas podem atuar de

forma estratégica, para que os objetivos e metas relacionados à sustentabilidade

sejam alcançados e, consequentemente, possa elevar os níveis de sustentabilidade

organizacional.

4. CONFIDENCIALIDADE: Todas as informações que o(a) Sr.(a) fornecer ou que

sejam conseguidas pelos instrumentos de pesquisa serão utilizadas somente para

este estudo. Suas respostas e dados pessoais ficarão em sigilo e o seu nome não

aparecerá em lugar algum das entrevistas, nem quando os resultados forem

apresentados.

5. ESCLARECIMENTOS: Se tiver alguma dúvida a respeito da pesquisa e/ou dos

métodos utilizados, pode procurar a qualquer momento o pesquisador responsável.

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Nome do pesquisador responsável: Mayara Francielle Gonçalves

Telefone para contato: (43) 8812-3500

Email: [email protected]

6. RESSARCIMENTO DAS DESPESAS: Caso o(a) Sr.(a) aceite participar da

pesquisa, não receberá nenhuma compensação financeira.

7. CONCORDÂNCIA NA PARTICIPAÇÃO: Se o(a) Sr.(a) estiver de acordo em

participar deverá preencher e assinar o Termo de Consentimento Pós-esclarecido que

segue, em duas vias, sendo que uma via ficará com o entrevistado.

===========================================================

CONSENTIMENTO PÓS INFORMADO

Pelo presente instrumento, que atende às exigências legais, o(a) Sr.(a)

______________________________________________________________,

portador(a) da cédula de identidade __________________, declara que, após leitura

minuciosa do TECLE, teve oportunidade de fazer perguntas, esclarecer dúvidas que

foram devidamente explicadas pela pesquisadora, ciente dos serviços e

procedimentos aos quais será submetido e, não restando quaisquer dúvidas a respeito

do lido e explicado, firma seu CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO em

participar voluntariamente desta pesquisa. E, por estar de acordo, assino o presente

termo.

Londrina, ______ de ____________________ de 2016.

____________________________________________

Assinatura do Participante

____________________________________________

Assinatura do Pesquisador

APÊNDICE “B”

ROTEIRO PARA ENTREVISTAS

1) Apresentação e contextualização da pesquisa ao colaborador;

2) Dados categóricos:

Nome:

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Idade:

Formação:

Cargo:

Tempo de trabalho na organização e no cargo:

Trajetória profissional:

3) Conhecendo a cooperativa e o seu mercado:

Como está o contexto do mercado da agroindústria nos últimos três anos?

Qual a atual posição de mercado da cooperativa?

Como se divide as áreas da cooperativa?

Qual o objetivo estratégico da cooperativa?

Como esse objetivo estratégico é definido? Quem participa? Periodicidade?

*solicitar Organograma.

**solicitar os relatórios de atividades/resultados dos últimos 2 anos.

4) Entrevista Semiestruturada:

(PRIMEIRA CATEGORIA – objetivo específico: Descrever as práticas de

sustentabilidade organizacional e de gestão de pessoas; literatura: estratégias,

políticas e práticas de gestão de pessoas)

1. Como surgiu a ideia de implementar ações de sustentabilidade na cooperativa?

2. Como a sustentabilidade está estruturada dentro da cooperativa? Tem uma área

responsável? Quais são suas responsabilidades?

3. Há alguma regulamentação específica quanto à sustentabilidade que a cooperativa

teve/tem que se adequar?

4. Como a área de gestão de pessoas está estruturada na cooperativa?

(SEGUNDA CATEGORIA – objetivo específico: Identificar os níveis de

sustentabilidade organizacional existentes na cooperativa; literatura: níveis da

sustentabilidade organizacional)

5. A sustentabilidade está inserida apenas em setores específicos ou por toda a

cooperativa? Como isso acontece?

6. Quando a cooperativa decidiu inserir a sustentabilidade em suas práticas, ela

buscou verificar como as demais organizações estavam se adequando a esta nova

temática?

7. Houve resistência na inserção da sustentabilidade nas práticas da cooperativa? Se

sim, quais e de onde vieram?

8. Os resultados das ações de sustentabilidade foram percebidos pelos membros da

cooperativa? Explique.

(TERCEIRA CATEGORIA – objetivo específico: Identificar se há alinhamento entre a

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estratégia da sustentabilidade com as práticas de gestão de pessoas; literatura:

modelo de gestão estratégica de pessoas)

9. Você acredita que a responsabilidade social, ambiental e econômica é uma

preocupação constante da cooperativa? Explique.

10. Quais são as responsabilidades da área de gestão de pessoas em relação à

sustentabilidade?

11. As atividades da área de gestão de pessoas tratam com a mesma igualdade de

importância os aspectos sociais, ambientais e econômicos? Se não, algum deles é

trabalhado de maneira diferenciada?

(QUARTA CATEGORIA – objetivo específico: Como as práticas de gestão de

pessoas auxiliam a organização a atingir o seu objetivo estratégico em relação à

sustentabilidade; literatura: papel da área de gestão de pessoas; característica de GP

como disseminadora de valores e o papel dos líderes no processo de legitimação da

cultura sustentável)

12. Em geral, quais são os desafios do envolvimento da gestão de pessoas na

estratégia rumo à sustentabilidade?

13. É possível destacar contribuições específicas da área de Pessoas?

APÊNDICE “C”

ROTEIRO DE OBSERVAÇÃO DO DIÁRIO DE CAMPO

Observar os seguintes itens:

RECEPTIVIDADE: Agilidade na resposta para autorizar a pesquisa; simpatia

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dos colaboradores; se há ou não pressa ou certa ansiedade para responder as

perguntas; tom de voz amigável ou desinteressado.

NÚMERO DE COLABORADORES: Quais áreas têm mais colaboradores

disponíveis; há terceirizações; há uniforme ou algum tipo de identificação.

AMBIENTE DE TRABALHO: Iluminação com lâmpadas econômicas; há

torneiras com temporizador para economia de água; há cartazes para

conscientizar algumas medidas simples de economia de energia, papel e água;

qual o espaço de trabalho; como são os móveis e os equipamentos; limpeza.

SEGURANÇA E CONFORTO: Tem área destinada ao descanso dos

colaboradores; quais são os horários de trabalho e almoço; os colaboradores

utilizam equipamento de segurança; a cooperativa está localizada em um

ambiente seguro de assaltos; qual o principal meio de transporte dos

colaboradores; tem estacionamento no local; ponto de ônibus.

RELAÇÕES COM A COMUNIDADE AO ENTORNO: Devido a atividade

principal da empresa, há mau cheiro na região; qual o estado das instalações

e arquitetura do prédio da cooperativa; por estar próximo a um bairro

residencial, o local oferece algum risco para as crianças ou comunidade.

Anotar demais dúvidas, observações e sensações durante a visita à cooperativa:

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