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MESTRADO EM GESTÃO INTEGRADA DE ORGANIZAÇÕES CONVÊNIO UNEB/UNIBAHIA FRANCISCO SALLES MARQUES DA SILVA SUSTENTABILIDADE AGROECOLÓGICA DA CULTURA DE SISAL ORIENTADOR: Prof. Dr. Cezar Ernesto Detoni, Ph.D. Salvador – Bahia 2004

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MESTRADO EM GESTÃO INTEGRADA DE ORGANIZAÇÕES

CONVÊNIO UNEB/UNIBAHIA

FRANCISCO SALLES MARQUES DA SILVA

SUSTENTABILIDADE AGROECOLÓGICA DA CULTURA DE SISAL

ORIENTADOR: Prof. Dr. Cezar Ernesto Detoni, Ph.D.

Salvador – Bahia 2004

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FRANCISCO SALLES MARQUES DA SILVA

SUSTENTABILIDADE AGROECOLÓGICA DA CULTURA DE SISAL

Dissertação apresentada ao Mestrado em Gestão Integrada das Organizações, promovido pela Unidade Baiana de Ensino, Pesquisa e Extensão –UNIBAHIA, em convênio com a Universidade do Estado da Bahia–UNEB, como um dos requisitos para a obtenção do Grau de Mestre em Gestão Integrada de Organizações

ORIENTADOR: Prof. Dr. Cezar Ernesto Detoni, Ph.D.

Salvador – Bahia 2004

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Revisão e Formatação: Vanda Bastos

Ficha catalográfica

S586 SILVA, Francisco Salles Marques da Sustentabilidade Agroecológica da Cultura de Sisal/ Francisco Salles Marques da Silva.- Salvador, 2003. 90f. il. Dissertação de (Mestrado) em Gestão Integrada das Organizações, Unidade Baiana de Ensino Pesquisa e Extensão – UNIBAHIA / Universidade do Estado da Bahia-UNEB. 1 Agricultura – Bahia 2 Cultura do Sisal – Bahia 3 Agroecologia 4 Indústria de Fibras 5 Sisal I Título

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FRANCISCO SALLES MARQUES DA SILVA

SUSTENTABILIDADE AGROECOLÓGICA DA CULTURA DE SISAL

Dissertação apresentada ao Mestrado em Gestão Integrada das Organizações, promovido pela Unidade Baiana de Ensino, Pesquisa e Extensão – UNIBAHIA, em convênio com a Universidade do Estado da Bahia – UNEB, como um dos requisitos para a obtenção do Grau de Mestre em Gestão Integrada das Organizações. Área de concentração: Gestão Social das Organizações

DATA DE APROVAÇÃO: Salvador, 17 de Junho 2004.

EXAMINADORES:

1 NOME: Prof(a). Dr(a). CEZAR ERNESTO DETONI

ORIENTADOR / UNIBAHIA

ASSINATURA: __________________________________________ 2 NOME: Prof. Dr. JOSE CARLOS ALVES PINHEIRO

EXAMINADOR / UNIBAHIA

ASSINATURA: _________________________________________ 3 NOME: Prof. Dr JUAN TOMAS AYALA OSUMA

EXAMINADOR / UEFS

ASSINATURA ___________________________________________

SALVADOR 2004

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A meu pai, o vaqueiro, José Marques (in memoriam).

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AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus pela graça da vida e por tudo que me tem concedido. Durante este trabalho tive momentos de dificuldades e incertezas, mas Nele encontrei forças e coragem para prosseguir até o fim. A meu orientador, Cezar Ernesto Detoni, Ph.D. que, com simplicidade e objetividade, fez com que o rumo fosse encontrado, assim como pelas contribuições feitas durante o desenvolvimento deste trabalho. Aos Professores Doutores, Cezar Ernesto Detoni, Juan Tomas Ayala Osuma e José Carlos Alves Pinheiro, participantes da Banca Examinadora, suas observações enriqueceram este trabalho. A minha mãe, Analice, que, mesmo de longe, silenciosamente, torcia pelo meu sucesso. A minha esposa, Maria Clenice, pela paciência e compreensão nos momentos de mau humor e pelo incansável incentivo nos momentos de dificuldades. Às minhas filhas, Anna Cecilia e Patricia, pelo carinho recebido e especialmente a Claudia Fabiane, pelas noites que passamos juntos na elaboração de tabelas e gráficos. Às minhas irmãs, Ofélia e Virgínia, pelo desafio e compromisso de representar a figura do “Guru”. Aos demais irmãos, Joselice, Glória, Pinho, Epitácio, Leo e Edu, pelo exemplo de união e garra para superar os desafios. Aos colegas de trabalho, Paulo Moura, Claúdio e Loula, pelo apoio e compreensão. Aos trabalhadores da cultura de sisal, o mano Pinho, e os amigos Bina, Nene e Marcel, que descreveram em detalhes a labuta dessa atividade. Finalmente, a todas as demais pessoas que, direta ou indiretamente, contribuíram para a realização deste trabalho.

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Ao Vaqueiro Soledade Estufa o peito, veste uma armadura de couro, um choro seco, inunda a alma e com calma, deixa a mulher e os filhos. Um cheiro de natureza esparge nas veredas distantes. Rompe a caatinga e as suas peculiaridades. As vezes um lamento sublime na expressão. Vence a cada palmo, a dureza do chão e os obstáculos de cada momento. Faz de cada sonho, um atalho para o coração. No cumprimento de sua tarefa, às vezes surpreendido enfrenta a fúria, palmo a palmo, unha a unha. Às vezes tomba exausto, às vezes luxa o braço, o sonho, a fantasia. Na toada da sorte, no rumo da vida, no dom da alegria leva consigo uma alma forte. No alforge, a companheira esperança. No coração, a vontade de rever a família. No fundo do olhar, uma inquietação inexplicável. Mal chegou, a tamanha urgência, tem que retornar. É tempo de renascer, é tempo de partir para uma outra jornada.

Antônio Carlos Luz Montes

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RESUMO

Considerando a importância da cultura do sisal para o semi-árido baiano e tendo

como objetivo analisar a situação atual e a probabilidade de expansão da cultura

do sisal nesta região, efetuou-se uma análise dos dados de produção de sisal,

fitologia do produtor e rentabilidade da cultura. Foram selecionados os municípios

de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, e amostradas 97

propriedades, em três estratos de área, juntamente com estudos de mercado que

apontam um crescimento na demanda por fibras duras nos mercados interno e

externo. A avaliação de parâmetros de produção, área cultivada, renda e tipologia

do produtor permitem a identificação da sustentabilidade desta cultura na principal

região sisaleira da Bahia, apontando uma necessidade de expansão em 18% da

produção, apresentando-se os estratos 20-50, e maior que 50 hectares como

potenciais para o atendimento desta demanda seja pela expansão da área e/ou

pelo incremento na produtividade através do uso de tecnologia. Identifica-se que

avanços tecnológicos e capacitação dos produtores são importantes para aumentar

a produtividade, assim como a necessidade de renovação da lavoura sisaleira visto

que mais de 86% do Agave existente está com idade acima de 8 anos.

Palavras chave: fibra dura, produtividade, produtor rural, receita agrícola, semi-

árido, Bahia.

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ABSTRACT

Possibility of cultivated area expansion and increases on productivity of

agave in Bahia (Northeast of Brazil) are evaluated by using a survey in a sample of

97 farms (three levels less than 19 ha, between 20 and 49 ha and more than 50 ha)

in four Bahia locations (Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz and

Valente). Agave market were estimated by using FAO and SEAGRI data.

Sustainability of agroecological system were observed analysing data from system

production, agave growers, characterization form incomes and soil use.

The results show an increase of 15% in agave production, am only the 20 – 49 ha

level and more than 50 ha have real condition of area expansion. Technological

advances are important to increase productivity because more than 86% of agave

are older than 8 years.

Key-words: natural fibres, producers, productivity, agave interest, gains, Bahia.

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LISTA DE GRÁFICOS

1 Composição do custo de implantação de 1ha de sisal, na região sisaleira do Estado da Bahia, 2003 .............................................................................. 36

2 Composição do custo de desfibramento de 1ha de sisal, na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Santaluz e Valente, setembro de 2003 . 38

3 Composição do custo total de 1ha de sisal, na região sisaleira do Estado da Bahia, setembro de 2003 .......................................................................... 39

4 Classificação dos produtores de sisal quanto ao estado civil, na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003 .......................................... 47

5 Escolaridade (%), dos produtores de sisal, na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003 ......................................................................... 48

6 Densidade demográfica, por propriedade, na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003 ......................................................................... 50

7 Análise das contas bancárias dos produtores de sisal, na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003 .......................................................... 51

8 Situação legal das áreas, na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003 .......................................................................................................... 51

9 Entidades de classe dos produtores de sisal, na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003 ......................................................................... 52

10 Utilização de viveiros no plantio de sisal, na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003 ......................................................................... 54

11 Densidade de plantio de sisal, na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003 .......................................................................................... 54

12 Plantio consorciado de sisal, na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003 .......................................................................................... 55

13 Plantio consorciado de sisal, por estrato, na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003 ......................................................................... 56

14 Tratos culturais de sisal, por estrato, na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003 .......................................................................................... 57

15 Tipo de sisal cultivado, na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003 .......................................................................................................... 57

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16 Idade do sisal, na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003 ........ 58

17 Idade do sisal, por estrato, na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003 ......................................................................... 59

18 Mão-de-obra familiar utilizada na colheita do sisal, na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003 .......................................................... 60

19 Agentes de compra da fibra do sisal, na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003 .......................................................................................... 62

20 Uso da terra para os três estratos, na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003 .......................................................................................... 65

21 Uso da terra em propriedade no estrato <20 ha, na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003 ......................................................................... 65

22 Uso da terra em propriedade no estrato 20-50 ha, na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003 .......................................................... 66

23 Composição do uso da terra em propriedade no estrato >50 ha, na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003 .......................................... 66

24 Plantio de sisal, na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003 ........ 67

25 Rendimento do produtor na venda da fibra seca do sisal, na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003 .......................................................... 70

26 Composição da renda do produtor no estrato <20ha, na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003 .......................................................... 71

27 Composição da renda do produtor no estrato 20-50ha, na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003 .......................................................... 72

28 Composição da renda do produtor no estrato >50ha, na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003 .......................................................... 73

29 Receita da propriedade no estrato <20ha, na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003 ......................................................................... 75

30 Receita da propriedade no estrato 20-50ha, na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003 ......................................................................... 76

31 Receita da propriedade no estrato >50ha, na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003 ......................................................................... 76

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32 Receita agrícola de propriedade no estrato <20ha, na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003 .......................................................... 77

33 Receita agrícola de propriedade no estrato 20-50ha, na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003 .......................................................... 78

34 Receita agrícola em propriedade no estrato >50ha, na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003 .......................................................... 78

35 Receita do sisal x receita total na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003 .......................................................................................... 79

LISTA DE TABELAS 01 Dados da estrutura fundiária, produção de sisal e determinação do tamanho da

amostra a ser estudada, nos municípios da região sisaleira do Estado da Bahia ................................................................................................................ 42

02 Área plantada e colhida, quantidade produzida e rendimento médio da cultura do sisal, na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, 2000 ................................................ 64

03 Análise das ações e incremento obtido ............................................................ 70

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LISTA DE FIGURAS 1 Sistema de comercialização utilizado pelos produtores de sisal, na região

sisaleira do Estado da Bahia, 2003 ............................................................... 35 2 Organograma demonstrativo da cadeia de comercialização do sisal, na região

sisaleira do Estado da Bahia ......................................................................... 37 3 Idade dos produtores de sisal, na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios

de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003 ......................................................................................................................... 49

4 Densidade demográfica por estrato, na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003 .............................................................................................. 50

5 Utilização de viveiros no plantio de bulbilhos, Campo Experimental de Monteiro, Estado da Paraíba ........................................................................................... 53

6 Agave híbrido 11648 consorciado com milho, Campo Experimental de Monteiro, Estado da Paraíba, 1997 ............................................................... 55

7 Plantio de sisal sem tratos culturais na Fazenda Tanque do Alto, na região sisaleira do Estado da Bahia, município de Santaluz, setembro de 2003 ..... 56

8 A idade do sisal por estrato, na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003 .......................................................................................... 59

9 A idade do sisal na Fazenda Tanque do Alto, na região sisaleira do Estado da Bahia, município de Santaluz, setembro de 2003 .................................... 60

10 Trabalho infantil, na região sisaleira do Estado da Bahia, município de Valente, julho de 2002 ................................................................................................. 61

11 Tamanho médio das propriedades por estrato, na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003 ......................................................................... 64

12 Percentual da área de sisal, por estrato, na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003 ......................................................................... 68

13 Receita por residente x produtor por estrato, na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003 ......................................................................... 74

14 Receita do sisal por estrato, na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003 ............................................................................................................... 79

15 Receita do sisal por hectare, na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003 .......................................................................................... 80

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

APAEB - Associação dos Pequenos Agricultores do Município de Valente

CCB – Companhia de Celulose da Bahia

CONAB – Companhia Nacional de Abastecimento

EBDA –Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola S. A.

EMATER-BA – Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural da Bahia -

EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

EMBRATER – Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural

Epaba – Empresa de Pesquisa Agropecuária da Bahia

FAO – Food Agriculture Administration

IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

Renováveis

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

PROMOBA –Promo - Centro Internacional de Negócios da Bahia

SEAGRI – Secretaria da Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária

SEI – Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 16 2 REVISÃO DA LITERATURA ............................................................................. 18 2.1 HISTÓRIA DO SISAL NO BRASIL ................................................................ 18

2.2 ESTUDO DO MERCADO DE SISAL ............................................................. 22

2.2.1 Mercado internacional ............................................................. 22 2.2.2 Mercado nacional .................................................................... 24

2.2.3 Mercado baiano ................................................................................. 25 2.3 SISTEMA DE PRODUÇÃO: ETAPAS DO PROCESSO PRODUTIVO ....... 26 2.3.1 Escolha do terreno e preparo do solo ................................................ 26

2.3.2 Escolha do material genético ..................................................................... 27

2.3.3 Plantio ......................................................................................................... 29

2.3.4 Densidade de plantio .................................................................................. 30

2.3.5. Plantio consorciado ........................................................................................ 31

2.3.6 Tratos culturais: Capinas ou roços ....................................................... 31 2.3.7 Colheita ................................................................................................ 32 2.3.7.1 Corte e transporte da folha ....................................................... 32

2.3.8 Desfibramento ..................................................................................... 33

2.3.9 Lavagem e secagem ........................................................................... 33

2.3.10 Seleção e classificação das fibras ...................................................... 34 2.3.11 Sistema de comercialização do sisal na Bahia ............................................. 35 2.4 CUSTOS DE IMPLANTAÇÃO ....................................................................... 36 2.5 CUSTOS DE DESFIBRAMENTO .................................................................. 37 2.6 CUSTO TOTAL .............................................................................................. 38 2.7 RECEITAS ..................................................................................................... 39 3 OBJETIVOS ........................................................................................................ 41 3.1 GERAL .......................................................................................................... 41

3.2 ESPECÍFICOS .............................................................................................. 41

4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ........................................................... 42 4.1 TAMANHO DA AMOSTRA ............................................................................ 42

4.2 PARÂMETROS AMOSTRADOS ................................................................... 43

5 RESULTADO E DISCUSSÃO ............................................................................. 46

5.1 CARACTERIZAÇÃO DOS PRODUTORES .................................................. 47 5.1.1 Estado civil .......................................................................................... 47

5.1.2 Escolaridade .......................................................................................... 47

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5.1.3 Faixa etária ............................................................................................... 48 5.1.4 Tamanho da família ........................................................................ 49

5.1.5 Acesso a banco .............................................................................. 50

5.1.6 Situação legal das terras ................................................................ 51

5.1.7 Associativismo ................................................................................ 52

5.2 SISTEMA DE PRODUÇÃO – CULTURA DO SISAL .............................. 53 5.2.1 Plantio ............................................................................................. 53

5.2.2 Densidade de plantio ...................................................................... 54

5.2.3 Plantio consorciado ........................................................................ 55

5.2.4 Tratos culturais: Capinas ou roços ................................................. 56

5.2.5 Tipos de sisal .................................................................................. 57

5.2.6 Ciclo vegetativo ............................................................................... 58

5.2.7 Mão-de-obra ................................................................................... 60

5.2.8 Comercialização do sisal ................................................................ 61

5.2.9 Uso do solo .................................................................................... 63

5.3 SUSTENTABILIDADE AGROECOLÓGICA .............................................. 64 5.3.1 Composição do uso da terra ............................................................ 64

5.3.2 Expansão da cultura de sisal sem modificar o meio ambiente ........ 68 5.4 ANÁLISE DA RECEITA ................................................................................. 70 5.4.1 Receita do produtor ............................................................................ 70

5.4.2 Composição da renda ......................................................................... 71

5.4.3 Receita por residente .......................................................................... 73

5.4.4 Receita da propriedade ...................................................................... 74

5.4.5 Receita do sisal .................................................................................. 77

5.4.6 Receita do sisal por hectare .............................................................. 80

6 CONCLUSÕES .................................................................................................. 81 6.1 CARACTERIZAÇÃO DO PRODUTOR .......................................................... 81

6.2 SISTEMA DE PRODUÇÃO ........................................................................... 82

6.3 ANÁLISE DAS RECEITAS ............................................................................ 83

6.4 SISTEMA AGROECOLÓGICO ...................................................................... 84

7 REFERÊNCIAS ................................................................................................... 86 8 APÊNDICE A .................................................................................................... 89

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INTRODUÇÃO

Esse projeto de pesquisa visa atender parte dos requisitos para a obtenção do

título de Mestre Science concedido pela UNEB/UNIBAHIA ao estudante Francisco de

Salles Marques da Silva, aluno do curso de Mestrado, e tem como orientador o

professor Cezar Ernesto Detoni, Ph.D.

Decidiu-se estudar aspectos da cultura do sisal no Estado da Bahia

considerando sua grande importância no sistema econômico da região semi-árida do

nordeste deste Estado, onde ocupou, em 2000, a 10ª posição no ranking de

exportação, com US$ 34,5 milhões e gera, aproximadamente, 560 mil empregos. (SEI,

2002).

Em 2003, as exportações do setor sisaleiro baiano aumentaram 26% em relação

ao ano anterior; já a movimentação econômica do setor de sisal e derivados teve um

aumento de 49,87%, movimentando cerca de US$56 milhões. (SEI, 2002; CARVALHO,

2004).

Dentro do processo de produção, a maioria do sisal colhido tem sua origem em

pequenas propriedades (estrato <20 ha). (SEI, 2002).

Os custos efetuados e a renda obtida nas propriedades, usando-se determinada

tecnologia de produção (emprego de insumos tais como adubos e defensivos

agrícolas) deverão exigir um tamanho mínimo de área cultivada para apresentarem

lucro. Entende-se como parte dos custos, a condição de remunerar os trabalhadores

fixos (mão-de-obra familiar) em, pelo menos, um salário mínimo mensal.

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A identificação dos problemas do agronegócio do sisal, tanto do lado da

demanda, como do lado da oferta, através do estudo de mercado e da análise dos

sistemas de produção, aliado à composição da renda familiar, em três estratos de área

cultivada, nos quatro maiores municípios produtores do Estado da Bahia, deverá

apontar o módulo mínimo para que esta cultura apresente rentabilidade para a região

sisaleira baiana.

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CAPÍTULO 2

REVISÃO DE LITERATURA

2.1 HISTÓRIA DO SISAL NO BRASIL

O sisal (Agave sisalana, Perrine) é uma fibra dura originária do México, mas sua

explosão econômica teve lugar em outros países.

Possuindo o monopólio das fibras duras, o México protegia-o severamente,

proibindo a saída de mudas de Agave do país. Apesar disso, algumas mudas de sisal

foram transferidas para a Flórida, nos Estados Unidos, onde, de 1893 a 1896, a

Companhia Deustch-Ost-Afrikanische Gesellchaft conseguiu dar início às plantações

na África Oriental Alemã, sendo que, em 1913, já era permitida exportação da ordem

de 20,8 mil toneladas.

Após a 1ª Guerra Mundial, a África Oriental Alemã passou ao domínio inglês,

com o nome de Território de Tanganica, e se tornou o maior produtor mundial de sisal.

Este foi, então, introduzido no Quênia, em Moçambique e em Angola, em 1903, 1906 e

1920, respectivamente, sendo logo iniciada a exploração econômica em todos esses

países. (MEDINA, 1954).

Os primeiros bulbilhos1 do Agave sisalana destinados ao Brasil foram trazidos

da Flórida e introduzidos, na Bahia, por Horácio Urpia Júnior, em 1903, através de uma

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firma norte-americana. O Instituto Agronômico de Campinas, em São Paulo, obteve

outros exemplares, por intermédio do Dr. Gustavo Dutra, vindos da França, do Jardim

Botânico de Montpellier ou, de Paris, do Jardin d’Acclimatation, em 1906. O Brasil,

apesar de ter plantado sisal em 1903 e 1906, na Bahia e em São Paulo, pela ordem

cronológica, não possuía tradição como produtor, pois, até antes de 1943, figurava

como importador dessa fibra. (MEDINA, 1954).

Foi bastante lenta a expansão do sisal na Bahia, a partir de 1903, quando aqui

chegaram as primeiras mudas. As poucas informações disponíveis quanto à introdução

do sisal no sertão baiano sugerem que o trabalho de Urpia “ficou circunscrito ao

Recôncavo, às terras próximas à sua propriedade”, segundo relato de Nonato Marques

(1978, p. 17). E continua:

Mas, é certo que algumas mudas chegaram a alguns pontos do nordeste do Estado dispersivamente não com objetivo econômico, pois eram admiradas, apenas, pela sua beleza vegetal. Eram vistas como plantas ornamentais. Em 1910 um velho professor, José de Barros, residente no então distrito de Santa Luzia, município de Queimadas, hoje cidade de Santaluz, recebera de presente de um amigo uma muda que plantara no quintal de sua casa, onde vegetara de maneira admirável a ponto de chamar a atenção de quantos o visitavam. Dos rebentos dessa planta que a todos atraia pelo aspecto imponente, outras exemplares nasceram em outras terras vizinhas, tidas como mera curiosidade botânica e depois aproveitadas como cercas vivas nos valados, tal como fazem com o gravatá com o qual o achavam bastante parecido. (MARQUES, 1978, p.17-18).

Ainda segundo Marques,

...a primeira semente de sisal levada para Valente era procedente da planta do professor José de Barros e lá foi ter pelas mãos de Pacífico José dos Santos que a levara para a fazenda Baixa, a pedido do seu proprietário Norberto Torquato de Oliveira que antes a vira e por ela ficara empolgado. Isso aconteceu lá pelos idos do ano de 1914.

Em 1919, Pacífico, tendo se estabelecido com um sítio vizinho à fazenda Baixa, dela obtém certa quantidade de mudas, que planta para tornar-se, de fato e de direito, um dos pioneiros da cultura do sisal naquela região. (1978, p. 18). […] Foi também Pacífico, juntamente com seu vizinho Catarino Oliveira, quem forneceu as primeiras mudas de que viria a precisar o Estado para a implantação dos primeiros campos oficiais, que marcariam o início da cultura racional. (p. 20)

1 Gemas formadas por tecido merismático, com 6 a 8 folhas e pequenas raízes adventícias utilizadas para propagação.

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Em 1911, as primeiras mudas foram enviadas, pelo Ministério da Agricultura, da

Bahia para o Estado da Paraíba que teve como propagandista da cultura do sisal o

agrônomo J. Viana Júnior. (SILVA; BELTRÃO, 1999).

Até o ano de 1924, o sisal não constituía, verdadeiramente, uma exploração

agrícola. Foi somente em 1937/38, na Paraíba, e em 1939/40, na Bahia, que o

interesse por essa planta se generalizou, passando daí para outros Estados do

Nordeste, graças, principalmente, à grande procura que a fibra teve durante a Segunda

Guerra Mundial. As estatísticas sobre a produção brasileira de sisal revelam que, na

década de 40, a Paraíba se tornou líder, superando a Bahia. (MEDINA, 1954; SILVA;

BELTRÃO, 1999).

Na Bahia, a evolução do processo de cultivo do sisal diferenciou-se, desde o

início, do processo paraibano. A tendência dominante era de cultivar o sisal no

chamado “Sertão do Nordeste”, onde predominava a criação extensiva de gado. Em

1939, a Secretaria de Agricultura da Bahia, estabelecia, em Feira de Santana, o

primeiro campo de distribuição de mudas de sisal e, logo após, em 1940, surgia em

Alagoinhas o “Campo de Sisal”. Ainda em 1940, a mesma Secretaria de Estado

fundava, em Nova Soure, uma grande plantação, introduzindo, no Nordeste da Bahia, a

primeira máquina desfibradeira automática (Irene). Os esforços governamentais,

entretanto, depois de servirem como primeiro incentivo, resultaram menos produtivos,

graças, especialmente, ao fato do campo de Nova Soure ter sido praticamente

abandonado, nos anos subseqüentes, acarretando a interrupção das experiências.

Contudo, aquilo que foi feito tornou-se o bastante para servir de ponto de partida para a

implantação da lavoura sisaleira em bases econômicas, na Bahia. (MEDINA, 1954;

MARQUES, 1978).

Segundo Medina (1954), na Paraíba, a iniciativa particular ressentiu-se de

estímulos oficiais; apesar disso, as culturas de sisal, naquele Estado, experimentaram

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expansão mais rápida na conjuntura de guerra e depois dela. Com essa evolução, o

Brasil, já em 1943, satisfazia seu consumo interno, com uma produção de 2.000

toneladas e, em 1946, tornava-se exportador de fibra. Em 1950, o Estado da Paraíba

produziu cerca de 90% do sisal brasileiro. Nos cinco anos subseqüentes, porém, os

outros estados do Nordeste aumentaram sua produção, caindo a participação da

Paraíba, no cômputo geral da produção brasileira, para 60%, em termos relativos. Esse

desenvolvimento mostrava claramente que a Paraíba poderia perder a liderança dos

Estados produtores. E isso por diversas razões, entre as quais:

• na Paraíba, o aumento da área da cultura do sisal, no litoral e, especialmente,

no brejo, não pode continuar no mesmo ritmo uma vez que, praticamente, tinha

alcançado o ponto máximo da disponibilidade dos fatores terra e mão-de-obra;

• a cultura do sisal, na Paraíba, expandiu-se, apenas, em direção à caatinga,

próximo do litoral e em zonas não propícias, como os sertões e as serras, de forma

que o desenvolvimento da cultura tornou-se lento;

• a queda dos preços, em 1952, trouxe desânimo aos sisaleiros da Paraíba,

principalmente do Sertão, onde a maioria dos novos campos não oferecia os lucros

que os do brejo proporcionavam, já que o menor rendimento de produção por área

acarretou o aumento de custo de produção da fibra. Nos outros estados do

Nordeste, o desenvolvimento da cultura do Agave tomou rumos diferentes;

• na Bahia – as novas plantações de sisal foram feitas em regiões mais

propícias que as dos primeiros campos.

Na atualidade, o Brasil é o maior produtor de sisal do mundo, sendo responsável

por 44% do sisal produzido, tendo como principais produtores os estados da Bahia,

Paraíba e Rio Grande do Norte. A Bahia é o principal produtor do país, contribuindo

com cerca de 97,03% do total. (IBGE, 2002).

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2.2 ESTUDO DO MERCADO DE SISAL

2.2.1 Mercado internacional

De acordo com dados da FAO–Food Agriculture Oganization (2000, p. 97, 98), a

demanda mundial pela fibra de sisal já foi de 823.600 ton/ano. Em 1965, declinou 65%,

atingindo 281.100 ton/ano, em 2000, devido, fundamentalmente, à entrada de fibra

sintética no mercado para fabricação de diversos produtos, tais como cabos marítimos,

cordoarias em geral, estofamento, artigos femininos, passadeiras, sacaria, redes, fios,

tapetes, etc.

O mercado mundial de sisal, que vinha apresentando uma tendência

decrescente nos preços, até a década de 90, se inverte, a partir de 1999, variando de

US$ 400 ton para US$ 540 ton no período 1999/2000. (FAO; CFC, 2000, p. 32,).

Existe a perspectiva de que o comércio internacional de fibras de sisal mantenha

sua tendência de alta, em 2004, devido ao aumento da demanda de importações,

sobretudo da China. Confirmando a expectativa de exportação e ampliando o volume

de produção nos três maiores abastecedores do mundo, Brasil, Kenya e Tanzânia,

ocorrerá um aumento no volume do comércio. (FAO; CFC, 2000).

Ainda, segundo a FAO/CFC (2000), a partir do ano de 1999, a crise do sisal foi

superada e o produto vem ganhando mercado, sobretudo, em decorrência das novas

descobertas de aproveitamento da fibra. Além disso, o mercado mundial de sisal

apresenta, atualmente, perspectivas reais e significativas de crescimento,

principalmente, devido ao fato de, nos últimos anos, ter havido um grande interesse

mundial pelo desenvolvimento de tecnologia que possibilite o uso de produtos que

provoquem menor impacto ambiental. Fato é que, na 32ª Reunião do Grupo

Intergovernamental de Fibras Duras–FAO e 34ª Reunião do Grupo Intergovernamental

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de Juta e Fibras Associadas2 foram apresentadas quatro conferências nas quais foram

destacados os novos mercados para a fibra do sisal, apresentados a seguir:

a) fibras naturais para uso da indústria automotiva – substituindo a fibra de vidro

que tem um consumo de 300 ton/ano. Já fazem uso da fibra natural, as indústrias Fiat,

Ford, BMW, Volvo, Wolkswagen, Mercedes e GM. Atualmente, cada veículo utiliza 13

kg; a meta é chegar a 23 kg. Considerando que são produzidos, anualmente, 58

milhões de veículos, o consumo de fibras naturais nas indústrias automotivas será de 800

ton/ano. (SUDDELL, 2003).

b) fabricação de outros produtos – revestimento de parede, perfil para portas,

laminado para móveis, copos, cabides, cordas, fios, bolsas e, na construção civil,

telhas, fibra cimento. (LEÃO, 2003; SAVASTANO JÚNIOR, 2003).

2.2.2 Mercado nacional

A cultura do sisal é relativamente recente, no Brasil – não mais que 60 anos.

Até 1942, o país figurava como importador dessa fibra, passando a exportá-la, em

1946, até assumir a posição de maior produtor mundial, que mantém até o presente.

(SILVA, 1996; BELTRÃO, 1999).

A crise instalada no mercado internacional, na metade da década de 60,

inviabilizou a indústria periférica do sisal, também no Brasil, sofrendo, a região

sisaleira, conseqüências perversas com a desestruturação da sua base econômica: as

áreas cultivadas foram destruídas e transformadas em pastagem; as famílias de

trabalhadores do sisal ficaram sem a demanda de seu produto e acabaram rendendo-

se à sanha dos atravessadores, como única alternativa de comercializar a fibra. Por

outro lado, com a transferência dos grandes fazendeiros para a pecuária, o sisal

passou a ser cultivado, basicamente, por pequenas propriedades familiares espalhadas

2 Realizadas em Salvador–Ba., no período de 08 a 11 de julho de 2003, com a participação de representantes de 52 países produtores e consumidores de fibras naturais, além de pesquisadores

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pela região, com áreas até 20 ha e entre 20 e 50 ha, mudando o perfil da economia da

região sisaleira, que passou a ser familiar. (NASCIMENTO, 2000).

Observa-se que o Brasil, como maior abastecedor mundial, manteve esta

posição. Enquanto isso, devido a questões climáticas, ocorreu uma diminuição na taxa

de crescimento da produção de fibra de sisal nos países africanos. Este fato ajudou a

reduzir a volatilidade dos preços e a estabilizá-los em níveis superiores, ou seja, US$

540 por tonelada. (FAO; CFC, 2000).

A produção brasileira de sisal, no ano de 2000, está concentrada na região

nordeste, ocupando uma área plantada de 218.771 mil ha, e atingiu 194.463 ton, com

um rendimento médio de 999 kg/ha, dos quais 188.679 ton foram produzidas no Estado

da Bahia (97,03%), e 5.129 ton, no Estado da Paraíba (2,64%), ficando os demais

estados com 0,33%. (IBGE, 2002; GOVERNO DO ESTADO DA PARAÍBA, 2003).

Atualmente, cerca de 700 mil brasileiros dependem da cultura do sisal. (SILVA,

Danniela, 2003).

Empresas como Mercedes, GM e Wolkswagen já utilizam 40 ton/ano de fibras

naturais (LEÃO, 2003) em componentes como: teto do veículo, painéis das portas,

calotas, pára-choque, cobertura do motor, apoio para cabeça, almofadas.

2.2.3 Mercado baiano

O Governo da Bahia está investindo na formação de um pólo sisaleiro que

agregue valor ao sisal e facilite a ampliação do espaço já ocupado nos mercados

internacionais, especialmente o europeu e o americano, onde as fibras naturais, como

o sisal, têm boa aceitação, através do Programa Emergencial de Incentivo à Lavoura

do Sisal que tem como objetivos: recuperar a cultura do sisal; promover assistência

técnica; capacitar os produtores; e aumentar a oferta de fibra de boa qualidade no

mercado.

do Brasil e do exterior.

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Existe a perspectiva de que o comércio baiano de fibras de sisal mantenha sua

tendência de alta, em 2004, devido à ampliação e/ou instalação de novas indústrias:

• a primeira das três unidades industriais da Cordebras–Companhia Industrial Têxtil do Brasil S/A já está na Bahia e irá produzir 6 mil ton/ano de cordoaria de sisal. Num investimento total estimado em R$ 27 milhões, a empresa de origem portuguesa planeja exportar toda a sua produção: cerca de 50% para o mercado europeu, 30% para o norte-americano e 20% para o canadense.

• a empresa portuguesa Cotesi, também, já confirmou presença na Bahia e investirá R$23,5 milhões na instalação de uma indústria de cordas de sisal no município de Conceição do Coité. A produção de cordas será dirigida à exportação. O grupo português espera faturar R$ 59 milhões/ano com o empreendimento.

• além da existência de 18 indústrias transformadoras/exportadoras do setor sisaleiro, já instaladas no Estado da Bahia. (www.promoba.com.br).

Verifica-se a diversificação das áreas de produção e a abertura das fábricas, de

forma descentralizada, buscando-se assim, o desenvolvimento econômico e social em

todas as regiões do Estado. Os setores de fiação e tecelagem estão retomando o seu

crescimento, com investimentos de R$557 milhões, através da implantação da

Brasiltex, Quatro K e Tsuzuki. (www.promoba.com.br).

2.3 SISTEMA DE PRODUÇÃO: ETAPAS DO PROCESSO PRODUTIVO

2.3.1 Escolha do terreno e preparo do solo

A cultura do sisal tem preferência por solos sílico-arenosos, permeáveis, de média fertilidade e relativamente profundos; no entanto, na Região Nordeste, onde o sisal é cultivado, existe uma diversidade muito grande de tipos de solos, podendo ser rasos e pedregosos, arenosos e argilosos. O importante, na escolha do terreno para plantio é evitar áreas compactadas e encharcadas que dificultam seu pleno desenvolvimento. A área escolhida deve ter elevações suaves e, de preferência, com exposição leste-oeste correspondente à maior luminosidade, que é fator preponderante no desenvolvimento do sisal. (SILVA; BELTRÃO, 1999, p. 53).

No preparo do solo, a necessária limpeza do terreno pode realizada através de

diversas operações:

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• desmatamento – em áreas extensas recomenda-se o uso de correntão; para

áreas menores, deve-se usar a tração mecânica ou efetuá-lo manualmente;

• queima – deve ser efetuada de forma criteriosa;

• encoivaramento – consiste no ajuntamento dos restos de vegetais de maior

porte.

• ou ainda: repasse, aração, gradagem (EMBRATER, 1981, p.11).

2.3.2. Escolha do material genético

Os produtores da região têm à sua escolha dois tipos de sisal, segundo Souza

Sobrinho et al. (1985, apud SILVA; BELTRÃO, 1999): a agave sisalana ou o híbrido

11648, conforme se pode ver na citação a seguir:

No Nordeste, os produtores têm duas opções quanto ao tipo de sisal a ser plantado: a Agave sisalana ou sisal comum, que é o material amplamente cultivado na região, e o híbrido 11648, originário da África e introduzido no Brasil logo após a sua criação. A agave híbrido apresenta, nas condições do Nordeste, nítida vantagem com relação à produção de fibra, em comparação à agave sisalana, que constitui a maior parte dos plantios na região dos Estados da Bahia e da Paraíba. (p. 57).

Silva e Beltrão (1999) relatam ainda que, em ensaios realizados, na década de 80, pela

CCB–Companhia de Celulose da Bahia, pode-se observar que a produção de folhas do

híbrido 11648 foi 116,0% superior à do sisal comum – em média, cinco cortes. Essa

superioridade também se revela quanto à percentagem de fibra na folha, superior em

13% ao agave comum, e quanto ao caráter, rendimento de fibra por hectare,

superioridade média de 196% em relação ao material local, indicativo do alto potencial

de produção do híbrido em questão.

Já com relação ao peso da folha, individualmente, as folhas da sisalana

apresentaram superioridade de 18% em relação ao híbrido 11648. (SILVA; BELTRÃO,

1999, p. 57).

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Outros estudos, realizados pela EMBRAPA Algodão, comparando os materiais

híbrido 11648, híbrido do Quênia e híbrido 400 folhas com o sisal tradicional (Agave

sisalana), no Campo Experimental de Monteiro, Paraíba, confirmam essas vantagens

do híbrido 11648, revelando, porém, a superioridade do agave sisalana no

comprimento da folha e rendimento de fibra/ha. (SILVA; BELTRÃO, 1999).

O híbrido foi introduzido no nordeste do Brasil e tem evidenciado a sua alta

capacidade de produção de folhas e resistência à seca, nos locais em que tem sido

plantado; no entanto, não é grande a sua aceitação, tanto porque a sua fibra é mais

curta que a do sisal comum, como também em razão de apresentar folhas duras, o que

dificulta o seu desfibramento nas máquinas Paraibana usadas nessa operação com o

sisal do Nordeste. (SILVA; BELTRÃO, 1999).

Por essas razões, são pouquíssimos os produtores que se ocupam do cultivo do

tipo híbrido na região, a despeito de, como já mencionado, ser muito mais produtivo

quanto à produção de folhas e fibras do que o sisal comumente plantado no Nordeste.

Pelos métodos estatísticos da análise multivariada, constatou-se que o sisalana

foi significativamente superior em relação aos materiais testados quanto ao peso da

folha e da fibra e, mesmo, em relação à percentagem e à resistência; observou-se,

também, que a força desprendida na descortinação foi significativamente menor no

sisalana, em relação aos outros materiais em teste. Os resultados obtidos fortalecem,

assim, o cultivo, nos sisalais do nordeste brasileiro, baseado na espécie sisalana, dada

a sua superioridade em relação aos outros genótipos, especialmente em relação aos

híbridos de origem africana.

2.3.3 Plantio

Preparado o terreno, o próximo passo é a marcação da área para o plantio das

mudas, “que deve ser sempre no sentido cortando as águas sem, no entanto,

acompanhar rigorosamente as curvas de nível” sendo “aconselhável que os talhões

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apresentem dimensões de, aproximadamente 2ha, com o objetivo de facilitar a

operação de colheita e o transporte da produção” (SILVA; BELTRÃO, 1999, p. 54).

O plantio dos bulbilhos deverá ser feito, inicialmente, em viveiros, com espaçamento de 20cm entre plantas e de 50cm entre linhas, devendo a planta permanecer nesse local até atingir a altura média de 40 a 50 cm (12 a 15 folhas), quando então deverá ser transportada para o local definitivo.

A não-observação das recomendações, tanto para os filhotes como para os bulbilhos, poderá implicar na formação de sisalais desuniformes quanto ao tamanho das plantas, à época de corte, à produção e à maturidade das fibras produzidas. (SILVA; BELTRÃO, 1999, p. 55).

Quando do plantio definitivo, o produtor deve “proceder à abertura de sulcos,

com sulcador tratorizado, em solos que permitam o tráfego de máquinas, ou covas,

com enxada ou enxadão, em terrenos com topografia acidentada” (SILVA; BELTRÃO,

1999, p. 55).

A época mais adequada para o plantio, no Nordeste, é antes do início da

estação chuvosa, aproximadamente, de dezembro a fevereiro.

2.3.4 Densidade de plantio

Segundo Medina (1954a), a densidade de plantas por unidade de área é um assunto controvertido. Lock (1969) informa que a melhor densidade de plantas varia conforme as condições de clima e solo. Em experimentos conduzidos durante 20 anos, a densidade de plantio teve influência na produção, na qualidade da fibra e no comprimento da folha. (SILVA; BELTRÃO, 1999, p. 61).

O espaçamento mais utilizado no sistema de plantio em fileiras simples é de 2m

x 1m, com uma população de 5 mil plantas/ha, sendo recomendados, em “cultivos mais

tecnificados”, espaçamentos mais largos, 2,5m x 0,8m ou 2,8m x 0,7m. Estes

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espaçamentos mantêm a mesma densidade de plantas/ha, e possibilitam a

implantação de culturas intercalares nos dois primeiros anos; além disso, permitem o

uso de tratores em algumas operações, como o roço e o transporte de folhas. (SILVA;

BELTRÃO, 1999).

No Brasil, principalmente em grandes áreas onde são utilizadas práticas de

cultivo mais aperfeiçoadas, o sistema de plantio em fileira dupla, adquiriu muitos

adeptos. Segundo Medina, 1954; Lock, 1969, (apud Silva; Beltrão, 1999), este sistema,

desenvolvido em Java, permite maior proteção do solo quanto aos efeitos de erosão;

entretanto, torna os tratos culturais mais dispendiosos, em particular entre as fileiras

duplas.

Os espaçamentos mais recomendados para o plantio em fileiras duplas são: 3m x 1m x

1m, com 5 mil plantas/ha e 4m x 1m x 1m, com 4 mil plantas/ha.

2.3.5 Plantio consorciado

Tradicionalmente, na Região Nordeste, o agricultor consorcia culturas

alimentares com culturas industriais.

Considerando-se os altos custos de produção da cultura, o plantio intercalado com culturas regionais pode ser uma alternativa economicamente viável, capaz de proporcionar, ao produtor, uma renda extra, no período improdutivo do sisal, além de minimizar os custos das capinas, exigidos pelas culturas envolvidas. (SILVA; BELTRÃO, 1999, p.64).

Existem outros produtores que consorciam o sisal com a pecuária bovina,

caprina e ovina. Para o consórcio com bovinos, o espaçamento mais recomendado é o

de 3m x 1,8m, com densidade de 1.850 plantas/ha, o que permite a ampla circulação

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dos animais em volta das plantas, para o pastejo, além de deixar a planta com espaço

suficiente para a produção de folhas mais longas. (SILVA; BELTRÃO,1999).

2.3.6 Tratos Culturais - Capinas ou roço

Como em qualquer cultura, a concorrência das ervas daninhas pode afetar

sensivelmente a produção do sisal, principalmente nos dois primeiros anos.

Alguns autores citados por Silva e Beltrão (1999, p. 69-70), como Serra & Silva

(1952), Medina (1954) e Lock (1969), “todos com experiência na condução de campos

de produção, recomendam duas a três capinas no primeiro ano, dependendo da

incidência das invasoras” e, para o segundo ano, “uma ou duas capinas, podendo ser

uma logo após o início do inverno e outra no final”.

2.3.7 Colheita

2.3.7.1 Corte e transporte da folha

O processo de colheita do sisal começa pelo corte de um determinado número

de folhas da planta, “feito manualmente, com uma pequena foice ou faca, rente ao

tronco”.

“Na A. sisalana é possível realizar o primeiro corte, aproximadamente, aos 36

meses após o plantio, podendo ser colhidas entre 50 e 70 folhas, sendo 30% a 40%

delas curtas e impróprias para a cordoaria” (SILVA; BELTRÃO, 1999, p.71). Após o

primeiro corte, geralmente, a planta é submetida a um corte por ano e são retiradas

cerca de 30 folhas. “Normalmente, a A. sisalana apresenta, nas condições do semi-

árido nordestino, uma produção média de 180 a 250 folhas/ciclo por planta. O ciclo da

planta dura em média 8 a 10 anos. (Id. ibid., p. 73).

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No caso do híbrido 11648, mais tardio, o primeiro corte ocorre, em média, aos 48

meses, permitindo uma colheita de 90 a 110 folhas/planta. (SILVA; BELTRÃO, 1999).

Após o primeiro corte, geralmente, a planta é submetida a um corte por ano, em que

são retiradas cerca de 60 folhas/planta. O híbrido 11648 apresenta produção média de

600 folhas/planta durante o ciclo, que é, também, de, aproximadamente, 8 a 10 anos.

(SILVA; BELTRÃO, 1999).

Para o custo de produção da cultura do sisal, o transporte das folhas cortadas

para o local do desfibramento é um componente importante.

Assim, deve-se buscar, sempre, a menor distância a percorrer, de forma que as folhas cheguem com regularidade, em abundância e no menor tempo possível. No Nordeste, o transporte é feito por asininos (jumentos) utilizando-se cangalhas com cambitos (gancho tipo V de madeira) em seu dorso, onde são colocadas as folhas. O animal pode transportar, aproximadamente, 200 folhas por viagem, que pesam em torno de 100 a 130kg. Um animal e um operário são suficientes para abastecer uma máquina Paraibana. (SILVA; BELTRÃO, 1999, p. 74).

2.3.8 Desfibramento

O desfibramento do sisal é a principal operação pós-colheita, além de ser a mais

complexa e de maior custo. Antes do desfibramento, deve-se selecionar as folhas por

tamanho para melhorar o rendimento e a qualidade da fibra, para, então, proceder à

raspagem.

No Brasil, a extração da fibra era feita, de início, por meio de um instrumento simples, chamado farracho ou alicate, (…) para a retirada da polpa ou da mucilagem que envolve a fibra, por meio de lâminas de ferro. Depois, com o aumento da área plantada, desenvolveram-se rotores-raspadores, de acionamento mecânico, semelhantes aos raspadores mexicanos. Essa máquina, denominada ‘motor de agave’ ou ‘máquina Paraibana’ é, ainda hoje, a principal desfibradora dos campos de sisal; (…) (SILVA; BELTRÃO, 1999, p.75).

Por sua simplicidade, a máquina Paraibana apresenta baixa capacidade

operacional (de 150 a 200kg de fibra seca, em um turno de 10 horas/dia), produz

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grande desperdício de fibra (em média 20% a 30% das fibras contidas na folha) e,

sobretudo, envolve um número elevado de pessoas para a sua operacionalização,

aumentando assim os custos de produção. (SILVA; BELTRÃO, 1999).

2.3.9 Lavagem e secagem

Após o processo do desfibramento, a fibra obtida é transportada, em padiola ou

no dorso de animais, para a limpeza, que consiste no desprendimento dos resíduos da

mucilagem péctica e da seiva clorofiliana agregados à fibra.

Este processo se dá através da imersão da fibra em tanques com água limpa,

por toda a noite (8 a 12 horas).

Concluído o processo de limpeza, ao amanhecer, as fibras deverão ser

novamente transportadas para a secagem, por exposição ao sol, durante 8 a 10 horas

em uma área onde as fibras não absorvam impurezas, “como em varais ou estaleiros

do tipo triângulo ou estrado, ambos feitos com fios de arame galvanizado, ou em área

cimentada, devidamente limpa.” (SILVA; BELTRÃO, 1999, p.82).

Recomenda-se, para melhor secagem, a reviragem da fibra, uma ou duas vezes, até que atinja a umidade média de 13,5% e, a seguir, que as fibras sejam arrumadas em pequenos feixes, amarradas pela parte mais espessa e conduzidas ao depósito para serem armazenadas sem serem dobradas. (SILVA; BELTRÃO, 1999, p. 82).

2.3.10 Seleção e classificação das fibras

As fibras produzidas apresentam variações de tamanho e, para serem comercializadas,

são selecionadas de acordo com os padrões de classificação, vigentes no país

produtor.

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No Brasil, com vistas a homogeneizar a comercialização, o Ministério da Agricultura e Abastecimento aprovou portarias (BRASIL, 1987, 1989) que identificam e qualificam a fibra de sisal, fundamentadas no seguinte critério:

Segundo o comprimento, medido em centímetros, entre as partes extremas da amostra, a fibra de sisal será classificada em quatro classes, não se admitindo sua mistura: Extralonga (EL): fibra de comprimento acima de 1,10m (um metro e dez centímetros); Longa (L): fibra comprida acima de 0,90m (noventa centímetros) até 1,10m (um metro e dez centímetros); Média (M): fibra de comprimento acima de 0,71m (setenta e um centímetros) até 0,90m (noventa centímetros); Curta (C): fibra de comprimento de 0,60m (sessenta centímetros) até 0,70 (setenta centímetros). (SILVA; BELTRÃO, 1999, p.84).

2.3.11 Sistema de comercialização do sisal na Bahia

No sistema de comercialização do sisal, na Bahia (Figura 1), o produtor é

responsável, apenas, pelo cultivo da planta; o dono do motor – máquina Paraibana –

tem a função de cortar a folha do sisal, desfibrar e efetuar a lavagem e secagem da

fibra; e o intermediário faz o transporte da fibra para as batedeiras de sisal, que são

responsáveis pela limpeza, beneficiamento e arrumação de fardos a serem destinados

às indústrias de transformação e/ou empresas comerciais exportadoras.

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EXPORTADORES

PRODUTORES (FOLHA VERDE)

DONOS DE MOTOR (SISAL DESFIBRADO)

MERCADO INTERNO

MERCADO EXTERNO

CONAB (FARDOS)

INTERMEDIÁRIOS (FIBRA SECA)

BATEDEIRAS DE SISAL (FIBRA LIMPA)

INDÚSTRIA DE TRANSFORMAÇÃO

Fonte: Sindifibras, EBDA, Conab, 2003

Figura 1. Sistema de comercialização utilizado pelos produtores de sisal, na região sisaleira do Estado da Bahia, 2003

2.4 CUSTOS DE IMPLANTAÇÃO

O custo de implantação de 1ha de sisal, considerando-se que o solo esteja

desmatado e limpo, de acordo com os coeficientes técnicos, atualizados, obtidos num

sistema de produção, está orçado em R$867,00. (EBDA, 1981).

A manutenção anual da cultura (limpeza da área) é estimada em R$90,00 e a

destoca e replantio de mudas (10% da área) em 1ha, em R$200,00. (EBDA;

SINDICATO dos Trabalhadores Rurais de Conceição do Coité, 2003).

Se considerarmos que a longevidade média da cultura do sisal é de 8 anos, pois

quando emite o pedúnculo floral a planta cessa a produção de folhas, tem-se uma

estimativa de custo por ha/ano (Gráfico 1):

• implantação R$867,00 : 8 = R$108,38

• destoca e replantio R$ 200,00 : 8 = R$25,00

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• manutenção =

R$90,00

• Total implantação-manutenção/ano = R$223,38

• custo de 1kg de fibra seca = R$ 0,25

49%

11%

40%

Implantação

Destoca ereplantioManutenção

Gráfico 1. Composição do custo de implantação de 1ha de sisal, na região sisaleira do Estado da Bahia, 2003

2.5 CUSTOS DE DESFIBRAMENTO

O sistema de produção de fibras a partir da colheita é mostrado pela Figura 2.

COMPRADOR INDÚSTRIA OU EXPORTADOR

PRODUTOR

DONO DE MOTOR

ESTENDEDOR SECAGEM

ENFARDAMENTO ARMAZENAMENTO

INTERMEDIÁRIO

CORTADOR TRANSPORTADOR

DESFIBRADOR

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Figura 2. Organograma demonstrativo da cadeia de comercialização do sisal, na região sisaleira do Estado da Bahia.

Os custos apresentados foram obtidos em levantamento efetuado por Salles

(2003)3, nos municípios de Santaluz e Valente, no qual identificou-se que o sistema de

pagamento utilizado pelos donos das máquinas tipo Paraibana para remunerar os

trabalhadores envolvidos no beneficiamento da fibra e produção – cevador, resideiro,

estendedor, cortador/transportador das folhas e o produtor – tem como parâmetro os

seguintes dados:

• 1ha (10.000m2) que corresponde a 2,3 tarefa (medida de unidade regional)

produz em média 2.000 kg de fibra molhada;

• a fibra seca corresponde a, em média, 45% do peso da fibra molhada, ou

seja, para cada hectare a produção será aproximadamente 922 kg/fibra seca;

• remuneração/2.000 kg de fibra molhada

cevador (50,00 para cada 1.000kg/fibra molhada) R$ 100,00;

resideiro (45,00 para cada 1.000kg/fibra molhada) R$ 90,00

cortador/transportador das folhas (90,00 para cada 1.000kg/fibra molhada) R$ 180,00 estendedor (20,00 p/ cada 1.000kg/fibra molhada) R$ 40,00

• Consumo de óleo combustível 20 litros/ha a R$ 1,40 R$ 28,00;

• Custo da operação de desfibramento e secagem R$ 438,00;

ficando o custo de 1 kg de fibra seca R$ 0,48 (Gráfico 2).

Gráfico 2. Composição do custo de desfibramento de 1ha de sisal, na

23%

21%41%

9%6%

Cevador

Resideiro

Cortador/TransportadorEstendedor

3 Dados não publicados.

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região sisaleira do Estado da Bahia, nos municípios de Santaluz e Valente, setembro de 2003

2.6 CUSTO TOTAL

Os dados apresentados revelam que o custo de implantação e de desfibramento

de um hectare de sisal torna-se uma atividade onerosa em razão da utilização de

meios tradicionais de produção. Para remunerar o capital investido, um quilo de fibra

seca deveria ser vendido por R$0,72; contudo, o produtor recebe, em média, R$0,21

por kg. (Gráfico 3).

Custo total: R$223,38 + R$438,00 = R$661,38/920kg fibra seca/ha

donde: R$0,72/kg de fibra seca.

34%

66%

Implantação Desfibramento

Gráfico 3. Composição do custo total de 1ha de sisal, na região sisaleira do Estado da Bahia, setembro de 2003

2.7 RECEITAS

Na Figura 2, mostrada anteriormente (item 2.5), tem-se um organograma da

cadeia de comercialização do sisal, onde se vê todo o processo, partindo da produção

até a exportação, conforme levantamento efetuado em campo.

Para o produtor, a remuneração é baseada em um percentual previamente

estabelecido, que varia entre 20% a 35% sobre o valor da fibra seca.

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Na seqüência, o intermediário paga ao dono da máquina desfibradora, a depender do

tipo da classificação da fibra – EL, L, M, C (BRASIL, 1987), variando, o preço, entre

R$0,70 e R$1,20/kg da fibra seca; deste valor, deve ser abatido o pagamento feito ao

produtor, que recebe, no máximo, R$0,30/kg da fibra. (SALLES, 2003). O preço mínimo

da fibra bruta na CONAB é de R$0,78/kg.

Já a fibra bruta para exportação é avaliada em U$540 dólares (FAO, 2000).

Considerando-se a conversão do dólar a R$2,80, obter-se-á um valor de

R$1.512,00/ton ou R$ 1,51/kg de fibra seca, indicando que a margem de lucro bruto do

intermediário, batedeira e exportador está em R$0,31/kg de fibra.

O levantamento feito por Salles (2003) demonstra que o intermediário faz um

investimento de, aproximadamente, R$40.000,00 com aquisição de veículos, grande e

médio (caminhão e caminhonete), que são utilizados para fazer o transporte semanal

da fibra seca para as batedeiras de sisal, além de capital de giro para “financiar” a

produção, antecipando valores financeiros ao dono do motor. Segundo Marcel

Magalhães4, as despesas com pessoal (motorista/carregadores), combustível e

manutenção do veículo, corresponde a R$0,04/kg de fibra.

As batedeiras adquirem a fibra (tipo M) do intermediário pelo valor de R$0,80/kg

e após limpeza, beneficiamento e arrumação dos fardos, repassam para a indústria ou

exportador pelo valor aproximado de R$0,95/kg de fibra.

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CAPÍTULO 3

OBJETIVOS

3.1 GERAL

Definir um tamanho mínimo de área rentável para a exploração da cultura do

sisal com o uso de tecnologia acessível aos pequenos produtores da região sisaleira do

Estado da Bahia.

3.2 ESPECÍFICOS

• Caracterizar o perfil do produtor de sisal;

• Demonstrar a composição do Uso da Terra no sistema de produção

agropecuaria , segmentado por estrato, e a representatividade da cultura do

sisal.

• Propor ações de gestão de recursos ambientais para região sisaleira do

Estado da Bahia.

4 Entrevistado em setembro de 2003.

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CAPÍTULO 4

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

4.1 TAMANHO DA AMOSTRA

O tamanho da população a ser amostrada foi de 8.821 propriedades. As

propriedades foram estratificados por tamanho de área, <20ha, 20-50ha e >50

hectares, segundo a classificação em módulos fiscais, por municípios baianos – 1998.

(SEI, 1998).

Procurou-se eliminar as propriedades que não trabalham com a cultura do sisal,

sendo aplicados 100 questionários obedecendo à proporcionalidade da produção de

sisal em cada região. (Tabela 1).

População amostrada: 97 questionários – não foram devolvidos 3 (três)

questionários (estrato <20ha, do município de Campo Formoso).

Tabela 1. Dados da estrutura fundiária, produção de sisal e determinação do tamanho da amostra a ser estudada nos municípios da região sisaleira do Estado da Bahia

MUNICÍPIOS TOTAL DE IMÓVEIS

PRODUÇÃOSISAL (ton)

% TOTAL

% TOTAL

PEQUENA(<20ha)

MÉDIA (20-50ha)

GRANDE (>50 ha) TOTAL

Campo Formoso 3.004 26.006 14 30 15 12 3 30 Conceição do Coité 2.719 22.100 12 25 12 10 3 25

Santaluz 1.473 23.625 13 27 14 11 2 27 Valente 1.625 16.095 9 18 9 7 2 18 TOTAL 8.821 87.826 100 50 40 10 100 TOTAL ESTADO 188.679 48

Fonte: SEI, 1998 e PAM/IBGE, 2000.

4.2 PARÂMETROS AMOSTRADOS

Para atender aos objetivos pretendidos, com apoio da revisão de literatura,

definiu-se uma serie de parâmetros a serem levantados em campo que, para efeito de

análise, foram agrupados em quatro secções:

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a. Caracterização do produtor;

b. Sistema de produção;

c. Análise da receita;

d. Sustentabilidade agroecológica.

a. Caracterização do produtor

Para caracterização do produtor foram analisadas as seguintes variáveis:

Estado civil;

Escolaridade;

Faixa etária;

Tamanho da família;

Acesso a banco;

Situação legal das terras;

Associativismo.

b. Sistema de Produção

O sistema de produção foi avaliado através da análise das principais práticas

agrícolas realizadas.

Plantio;

Densidade do plantio;

Plantio consorciado;

Tratos culturais;

Tipos de sisal;

Ciclo vegetativo;

Mão-de-obra familiar;

Comercialização.

c) Análise da Receita

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Para a análise da receita foram computados todos os valores recebidos pelos

produtores e agrupados nos parâmetros abaixo relacionados:

Receita do produtor;

Composição da renda;

Receita por residente;

Receita da propriedade;

Receita do sisal;

Receita do sisal por hectare.

d) Sustentabilidade agroecológica

A sustentabilidade do sistema de produção do sisal foi analisada através da

avaliação dos parâmetros descritos a seguir:

Uso do solo;

Composição do uso do solo;

Expansão da cultura do sisal.

Os questionários foram aplicados no sistema de entrevista assistida, no período

de 1 a 30 de setembro de 2003, por técnicos agrícolas da EBDA e Sindicato Rural,

treinados e vistoriados pelo pesquisador, os quais, através de visitas à propriedade e

entrevista assistida com o proprietário, preencheram o questionário. (Apêndice A).

Os dados foram analisados pelo programa JMPIN–SAS Institute (SAS

Institueine, 1996). Os losânglos apresentados nos gráficos representa o intervalo de

confiança de 95%.

O programa Excel foi utilizado para a elaboração dos gráficos.

Os estratos de àrea menor que 20 hectares são representados pela letra “a”;

Os estratos de àrea 20-50 hectares são representados pela letra “b”;

Os estratos de àrea maior que 50 hectares são representados pela letra “c”.

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CAPÍTULO 5

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados obtidos na pesquisa de campo, apresentados a seguir, obedeceram aos

parâmetros definidos na metodologia e foram agrupados em quatro tópicos:

1. Caracterização do produtor – com este grupo de variáveis pretende-se ter uma

visão, por estrato, do homem que produz sisal: se existem grandes diferenças entre eles quanto à

sua formação.

2. Sistema de produção – com este grupo, pretende-se observar as diferenças entre

os produtores de sisal, por estrato de áreas, bem como a aplicabilidade das técnicas

recomendadas para o cultivo da cultura do sisal.

3. Sustentabilidade agroecológica – aqui pretende-se analisar a ação destes

produtores, por estrato, suas relações com o ambiente e pelo uso do solo.

4. Rentabilidade da cultura do sisal – com este grupo de variáveis, pretende-se

analisar as relações dos produtores e os rendimentos financeiros obtidos com a cultura do sisal.

5.1 CARACTERIZAÇÃO DOS PRODUTORES

5.1.1 Estado civil

Na pesquisa realizada, na região sisaleira do Estado da Bahia, em setembro de 2003, nos

municípios de Campo Formoso, Conceição de Coité, Santaluz e Valente onde se tem 42% da

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área plantada e 48% da produção baiana (PAM/IBGE, 2000), observou-se que 84% dos

produtores são casados, 7%, viúvos(as), enquanto que solteiros e divorciados perfazem 9 % do

total. (Gráfico 4).

84%

7% 5% 4%

Casados Viúvos Solteiros Divorciados

Gráfico 4. Classificação dos produtores de sisal quanto ao estado civil, na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003

5.1.2 Escolaridade

Quanto à escolaridade, ficou evidenciado, na pesquisa, que o analfabeto representa 30%;

primeiro grau, 57%; e nível médio, 23%.

Quando se observa a distribuição por estrato, verifica-se que, à medida que cresce o

tamanho da área, decresce o percentual de analfabetos, crescendo, conseqüentemente, o nível

médio de escolaridade.

No Gráfico 5, pode-se verificar que no estrato <20ha tem-se o maior número de analfabetos,

46%, enquanto que para o primeiro grau tem-se 25% e para o nível médio, 29%; já no estrato 20-

50ha, o analfabeto representa 36%, o primeiro grau, 52% e o nível médio, 12%; e para o estrato

>50ha o analfabeto, 11%, primeiro grau, 86%, e nível médio, 3%. (Gráfico 5).

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0

5

10

15

20

25

30

35

<20ha 20-50ha >50 ha

analfabetosprimeiro graunivel médio

Gráfico 5. Escolaridade dos produtores de sisal, na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003

Na pesquisa, não foi constatada ocorrência de produtor com escolaridade de nível superior.

5.1.3 Faixa etária

Os produtores pesquisados nas áreas estratificadas têm uma faixa etária média de 51

anos. Esta média é um indicativo de que poucos jovens ingressam na produção de sisal.

Observações não levantadas em questionário sugerem que, à medida que os jovens

crescem, buscam oportunidades de trabalho em centros urbanos, permanecendo, na propriedade,

apenas os genitores e filhos menores.

Figura 3. Idade dos produtores de sisal, na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003.

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A análise de variância dos dados não revela diferenças significativas entre estratos por

população (P > 0,6529) o que mostra uma faixa etária média nas três áreas5. (Figura 3).

5.1.4 Tamanho da família

Na análise dos dados pesquisados, verifica-se que os produtores de sisal têm, em média, 4

filhos.

Quanto à densidade demográfica, fica caracterizado que, no estrato <20ha, a ocupação é

de 0,6 hab/ha; no estrato 20-50ha, 0,1 hab/ha; e o estrato >50ha apresenta uma densidade

demográfica de apenas 0,04 hab/ha, revelando um decréscimo da densidade demográfica à

medida que cresce a área estudada. (Gráfico 6).

0

0,2

0,4

0,6

<20ha 20-50ha >50ha

Gráfico 6. Densidade demográfica, por propriedade, na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003

A análise de variância dos dados revela que não houve diferenças significativas entre

estratos por população (P >0,3451), ou seja, os proprietários possuem o mesmo número de

filhos, independentemente dos estratos de área. (Figura 4).

5 Para a análise de variância dos dados adotou-se, para os estratos, a seguinte nomenclatura: área a= estrato <20ha; área b= estrato20-50ha; área c= estrato >50ha.

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0

5

10

15

a b c

area

Figura 4. Densidade demográfica, por estrato, na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003

5.1.5 Acesso a Banco

Observa-se que os produtores de sisal possuem conta bancária com a finalidade precípua

de recebimentos (aposentadoria e/ou pensão).

Ficou evidenciado que o estrato 20-50ha detém 52% das contas bancárias; os estratos

<20ha e >50ha detém 23% e 25%, respectivamente. (Gráfico 7).

23%

52%

25%

<20ha20-50ha>50ha

Gráfico 7. Análise das contas bancárias dos produtores de sisal, na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003

5.1.6 Situação legal das terras

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Ficou constatado que 99% dos produtores têm a situação legal de suas terras livre e,

apenas 1%, sob o regime de hipoteca. (Gráfico 8). Este fato demonstra que os produtores deste

segmento não fazem uso do crédito agrícola hipotecando suas propriedades. Pode, também,

traduzir falta de crédito, taxa elevada de juros ou problemas com a documentação das terras.

Gráfico 8. Situação legal das áreas, na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003

1%

99%HipotecaLivre

5.1.7 Associativismo

Analisando-se as amostras coletadas, observa-se que 96% dos produtores fazem parte de

uma entidade de classe: 52% são sindicalizados, 31% pertencem a uma Associação, e 13%, a

uma Cooperativa e apenas 4% não participam de nenhum tipo de entidade. (Gráfico 9).

Observou-se que os produtores associados à APAEB–Associação dos Pequenos

Agricultores do Município de Valente gozam de uma melhor qualidade de vida tendo acesso a

financiamentos, capacitação técnica, além de aquisição e instalação de energia solar, TV, antena

parabólica e, ainda, acesso a atividades educativas e de lazer.

A APAEB é uma associação sem fins lucrativos, fundada em 1980, que tem como missão

promover o desenvolvimento social e econômico sustentável, visando a melhoria da qualidade de

vida do pequeno produtor rural da região sisaleira. Como não poderia deixar de ser, a APAEB

exerce também uma função educativa, desenvolvendo inúmeras atividades, tanto para ensinar a

convivência do homem com o semi-árido, quanto para conscientizar a população sobre os seus

direitos e

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sobre os deveres que o poder público tem para com ela. (www.apaeb.com.br).

31%

13%

52%

4%

AssociaçãoCooperativaSindicaroNão assoc.

Gráfico 9. Entidades de classe dos produtores de sisal, na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003

5.2 SISTEMA DE PRODUÇÃO – CULTURA DO SISAL

Na pesquisa realizada nos municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e

Valente, em setembro de 2003, ficou evidenciado que, em razão destes municípios fazerem parte

da região semi-árida, com secas prolongadas e elevadas temperaturas, onde o sisal (agave), uma

planta semixerófila, se adapta bem, e em razão do solo ser propício, exige apenas, que o

produtor evite terrenos de forte inclinação e áreas compactadas e encharcadas por dificultarem o

pleno desenvolvimento da cultura, as diversas fases da exploração da cultura de sisal se

desenvolvem com o mínimo de tecnologia.

5.2.1 Plantio

O modelo do plantio dos bulbilhos na região em estudo é feito sem aplicação das

técnicas, resultando na formação de sisalais desuniformes, quanto ao tamanho das plantas, e na

época do corte, influencia negativamente na produtividade e na qualidade da fibra produzida.

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Figura 5. Utilização de viveiros no plantio de bulbilhos, Campo Experimental de Monteiro, Estado da Paraíba Foto: ORRF da Silva

No universo de 97 amostras, apenas um produtor utiliza o sistema de viveiro durante o

plantio. (Gráfico 10).

1%

99%simnão

Gráfico 10. Utilização de viveiros no plantio de sisal, na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003

5.2.2 Densidade de plantio

Observa-se que os produtores dos municípios pesquisados utilizam o sistema de plantio

em fileiras simples: o espaçamento mais utilizado (44%) é de 2m x 1m, com uma densidade de 5

44%

33%

20%3%

2m x 1m2,5m x 0,8m3m x 1,8moutros

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mil plantas/ha; o espaçamento de 2,5m x 0,8m, com 5.000 plantas/ha é utilizado por 33% dos

produtores; já o espaçamento de 3m x 1,8m, com densidade de 1.850 plantas/ha, representa 20%;

os demais espaçamentos correspondem a 3%. (Gráfico 11).

Gráfico 11. Densidade de plantio de sisal, na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003

Segundo Lock (1969), a densidade da planta depende do clima e do solo. Esta variável

deve ser observada em razão de experimentos que comprovam a sua influência na produção,

qualidade e no comprimento das folhas.

5.2.3 Plantio consorciado

Foto: O R R F Silva

Figura 6. Agave híbrido 11648 consorciado com milho, Campo Experimental de Monteiro, estado da Paraíba, 1997

No levantamento efetuado, constatou-se que o plantio consorciado não é praticado em

87% das áreas plantadas com a cultura de sisal. (Gráfico 12).

13%

87%simnão

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Gráfico 12. Plantio consorciado de sisal, na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003

Observou-se que as áreas onde existe o plantio consorciado apresentam características

específicas para cada estrato: o produtor que detém área no estrato <20ha ocupa 4% da área

plantada com culturas temporárias; já os produtores que detém áreas nos estratos 20-50ha e

>50ha, consorciam o sisal com pecuária bovina, caprina e ovina, respectivamente, 9% e 25%.

(Gráfico 13).

020406080

100120

<20ha 20-50ha >50h

SIMNÃO

Gráfico 13. Plantio consorciado de sisal por estrato, na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003

5.2.4 Tratos culturais. Capinas ou roço

Ficou evidenciado, na pesquisa efetuada em setembro de 2003, na região sisaleira do

Estado da Bahia, nos municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente,

que os produtores pesquisados não aplicam as técnicas recomendadas.

Foto: F Salles

Figura 7. Plantio de sisal sem tratos culturais na Fazenda Tanque do Alto, na região sisaleira do Estado da Bahia, município de Santaluz, setembro de 2003

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Observou-se, a falta de assistência técnica e capacitação dos produtores, como também, o

procedimento de não utilizar os tratos culturais visa reduzir os custos de produção, fato que

reflete em baixa produtividade, e na qualidade da fibra produzida.

Gráfico 14. Tratos culturais de sisal por estrato, na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003

0

20

40

60

80

100

1º ano 2º ano 3º ano

1 capina2 capinas3 capinasnenhumaroço manualroço tratorizado

5.2.5 Tipos de sisal

Identificou-se, na região em estudo, dois tipos de sisal, o Agave sisalana, amplamente

cultivado, e o híbrido 11648, originário da África, com pequeníssima representatividade (1%),

pois os produtores não se ocupam do seu cultivo (Gráfico 15)

1%

99%HíbridoSisalana

Gráfico 15. Tipo de sisal cultivado na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003

Segundo Silva e Beltrão (1999), os motivos da não aceitação do tipo híbrido 11648 se

devem ao comprimento da fibra, que é mais curta que a do sisal comum (sisalana), como

também ao fato desse tipo apresentar folhas duras, o que dificulta o seu desfibramento nas

máquinas Paraibana.

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5.2.6 Ciclo vegetativo

O sisal é um vegetal monocárpico, isto é, floresce uma só vez durante o ciclo de

crescimento e desenvolvimento que é de, em média, 8 a 10 anos; posteriormente, a planta morre.

Para o Agave sisalana o primeiro corte acontece aos 36 meses enquanto que para o híbrido

11648, aos 48 meses.

Na pesquisa realizada nos municípios em estudo, ficou evidenciado que apenas 2% do

sisal existente está com idade até 3 anos, 12% está com idade de 3-8 anos, e 86% com idade

acima de 8 anos (Gráfico 16), o que influencia para uma produtividade decrescente.

2% 12%

86%

até 3 anos3 a 8 anosacima 8 anos

Gráfico 16. Idade do sisal, na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003

Quando a análise é de forma estratificada, observa-se que, no estrato <20ha, o plantio

com idade de 0 a 3 anos corresponde a 4%, de 3 a 8 anos, 18%, e acima

de 9 anos, 79%; no estrato 20-50ha, o plantio com idade acima de 9 anos representa 94%

e de 0 a 3 e 3 a 8 anos corresponde, cada um, a 3%; já no estrato >50ha, de 0 a 3 anos, 0%, de 3

a 8 anos, 17% e acima de 8 anos, 83%. (Gráfico 17).

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0

20

40

60

80

100

<20ha 20-50ha >50ha

0 - 33 - 8> 8

Gráfico 17. Idade do sisal, por estrato, na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003

A análise de variância dos dados revela não haver diferenças significativas de idade dos

cultivos entre estratos o que evidencia a necessidade de renovação em todas as propriedades dos

estratos a, b e c (P >0,2572). (Figura 8).

Figura 8. Idade do sisal por estrato, na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003

Foto: F Salles

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Figura 9. Idade do sisal na Fazenda Tanque do Alto, na região sisaleira do Estado da Bahia, município de Santaluz, setembro de 2003

5.2.7 Mão-de-obra

Na região onde a pesquisa foi aplicada, ficou evidenciado que 20% da mão-de-obra

utilizada na colheita do sisal é familiar. (Gráfico 18).

Ao observar as características do produtor – faixa etária, número de filhos e densidade

demográfica – constata-se que a idade média (51 anos) se deve à ausência de jovens na produção

da fibra de sisal.

Quanto à densidade demográfica, constatou-se como representativa a existência de

genitor e filhos menores, o que leva à conclusão de que parte da mão-de-obra familiar, é

constituída por mão-de-obra infantil.

20%

80%

simnão

Gráfico 18. Mão-de-obra familiar utilizada na colheita do sisal, na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003

Observações não levantadas em questionário revelam a utilização da mão-de-obra

infantil, contudo, em razão dos programas governamentais, estas crianças fogem e/ou negam esta

condição6.

6 No livro-reportagem Crianças de Fibra, de Iolanda Huzak e Jô Azevedo, há graves denúncias sobre menores que se acidentam no trabalho com sisal.

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Foto: Wilson Besnosik/Ag. A Tarde Figura 10. Trabalho Infantil na região sisaleira do estado da Bahia, município de Valente, julho de 2002

5.2.8 Comercialização do sisal

Os produtores de sisal, na região pesquisada, comercializam seu produto na forma bruta,

sem realizar qualquer processo de melhoria da fibra.

O processo de comercialização do sisal é formado por uma cadeia de intermediários,

característica de uma cultura que se desenvolve com baixo índice tecnológico e apresenta grande

deficiência na infra-estrutura básica para o beneficiamento.

O produtor negocia sua lavoura com o proprietário do motor (desfibrador), que utiliza a

mão-de-obra familiar (Gráfico 18) e, como exerce uma atividade itinerante de reduzida

capacidade econômica, faz constante rodízio de pessoal, não assume os encargos sociais.

Normalmente, o desfibrador estabelece uma relação financeira com o intermediário, que financia

todas as despesas com o desfibramento e o transporte, e em contrapartida, obtém o compromisso

de entrega da fibra bruta.

O intermediário é o agente de compra que comercializa com a fibra bruta ou aquele que

faz o beneficiamento em sua batedeira para depois entregá-la à indústria ou ao exportador.

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No Brasil, a evolução do preço mínimo sobre fibra de sisal, nos últimos seis anos

(1997/2003), sofreu uma variação de 144%: os valores para a fibra bruta saíram do patamar de

R$0,32 para R$0,78 por kg, enquanto que a fibra beneficiada saiu de R$0,38 para R$0,86.

(CONAB, 2002).

Contudo, o levantamento efetuado revelou que, na região sisaleira do Estado da Bahia,

quando o produtor utiliza os métodos tradicionais de desfibramento com máquina Paraibana 76%

das vendas envolvem o intermediário, e 24% as batedeiras, o produtor recebe em média R$ 0,21

por kg da fibra seca. (Gráfico 19).

Gráfico 19. Agentes de compra da fibra do sisal na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso,

Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003

76%

0%

24% 0%Intermediário

CONAB

Batedeiras

Indústria detransformação

Observa-se que os produtores não têm acesso às indústrias de transformação ou mesmo à

CONAB, órgão garantidor do preço mínimo, para efetivar suas vendas.

5.2.9 Uso do solo

A região em estudo – municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e

Valente, no Estado da Bahia – tem como predominância o clima semi-árido com secas

prolongadas e elevadas temperaturas. Em razão dessas características, as alternativas da

exploração econômica tornam-se limitadas, exigindo uma cultura resistente e que se adapte bem

às regiões tropicais e subtropicais.

O Sisal ou Agave é uma planta que se adapta bem a este tipo de clima razão pela qual o

seu cultivo foi difundido e passou a ter grande importância no sistema econômico da região

semi-árida do nordeste do Estado da Bahia, registrando-se oficialmente o seu cultivo em 80

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municípios, com uma área plantada de 195.565ha, tendo-se, em apenas quatro municípios,

Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, 42% da área plantada e 47% da

produção (Tabela 2).

Tabela 2. Área plantada e colhida, quantidade produzida e rendimento médio da cultura do sisal na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, 2000

ÁREA PLANTADA

ÁREA COLHIDA

QUANTIDADE PRODUZIDA MUNICÍPIOS

(ha) %total (ha) % total (t) % total TOTAL DO ESTADO 195.565 186.265 188.679 Campo Formoso 29.892 15% 29.892 26.006 14%Conceição do Coité 19.000 10% 17.000 22.100 12%Santaluz 19.500 10% 19.500 23.625 13%Valente 13.000 7% 11.900 16.095 9%TOTAL 81.392 42% 78.292 87.826 47%Fonte: PAM/IBGE

Nos 97 questionários aplicados nos estratos <20ha, 20-50ha, e >50ha, tem-se uma área

média de 10,3ha, 32,5ha, e 127,2ha respectivamente.

A análise de variância dos dados (Figura 11) revela diferenças significativas entre

estratos por tamanho de área da amostra (P > 0,001).

Figura 11. Tamanho médio das propriedades por estrato, na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, segmentado por área a, b e c, respectuvamente, (<20ha, 20-50ha e >50 hectares) os Losanglos representam o intervalo de confiança (0,95), setembro de 2003

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5.3 SUSTENTABILIDADE AGROECOLÓGICA

5.3.1 Composição do uso da terra

Os dados levantados na região sisaleira do Estado da Bahia (Gráfico 20), nos municípios

de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, em setembro de 2003, mostram a

seguinte composição do uso das terras: pastagem, 38%; plantio da cultura de sisal, 22%; área

nativa, 18%; imprópia, 13%; culturas temporárias, 4%; e, finalmente, pousio e permanente 4% e

1%, respectivamente.

Gráfico 20. Uso da terra para os três estratos, na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003

Na análise do Gráfico 21, verifica-se que a distribuição do uso da terra com plantio de

sisal apresenta característica própria para cada um dos estratos.

Gráfico 21. Plantio de sisal, na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003

4%13%

18%

38%

1%4%

22%C TemporaisImpropriaNativaPastagemPermanentePousioSisal

0

50

100

150

<20ha 20-50ha >50ha

Área totalÁrea sisal

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Identifica-se que no estrato <20ha, com área média de 10,3ha, o plantio de sisal ocupa, em

média, 7,3ha (Gráfico 21), o que representa 71% da área total; a área de pastagem representa

19%; culturas permanentes, 5%; culturas temporárias, 3%; e vegetação nativa, 2%. (Gráfico 22).

2%19%

3%

5%

71%

nativa

pastagem

temporária

permanente

sisal

Gráfico 22. Uso da terra, em propriedade no estrato <20ha, na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003

Quando se analisa o estrato 20-50ha (Gráfico 23), verifica-se que a distribuição do uso da

terra apresenta uma área média de 32,6 ha; o plantio de sisal ocupa, em média, 16,8ha (Gráfico

21), o que representa 52% da área total; a área de pastagem representa 34%; culturas

permanentes, 1%; culturas temporárias, 3%; e vegetação nativa, 10%.

52%

3%

34%

10% 1%

sisaltemporáriapastagemnativapermanente

Gráfico 23. Uso da terra, em propriedade no estrato 20-50ha, na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003

Observa-se, no estrato >50ha, que a distribuição do uso da terra apresenta uma área

média de 127,2 ha: desta, o plantio de sisal ocupa, em média, 36,5ha (Gráfico 21), o que

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representa 29% da área total; a área de pastagem, 39%; culturas permanentes, 1%; culturas

temporárias, 4%; vegetação nativa, 21%; imprópria, 1%; e pousio, 5%. (Gráfico 24).

29%

4%

38%

1%

21%

1% 6%

sisal

temporáriapastagempermanentenativaImprópriapousio

Gráfico 24. Uso da terra, em propriedade no estrato >50ha, na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003

Quando se analisa área média por estrato versus área ocupada com plantio de sisal,

verifica-se que, as áreas no estrato <20ha, não têm capacidade de expandir a fronteira agrícola,

pois, somente 2% da área estão em vegetação nativa e, para preservar o meio ambiente, o

IBAMA não recomenda a sua remoção (Gráfico 22).

Verificou-se, na análise do estrato 20-50ha, que o plantio de sisal ocupa 52% da área.

Considerando-se a existência de 10% de vegetação, a expansão da cultura do sisal só poderá

ocorrer, neste estrato, com aumento da produtividade, limpeza, replantio e recuperação das áreas

degradadas. (Gráfico 23).

Já o estrato >50ha, em que o plantio de sisal ocupa 29% da área e a vegetação nativa, 21%,

comporta a expansão do plantio da cultura do sisal. (Gráfico 24).

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Figura 12. Percentual da área de sisal, por estrato, na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003.

A análise de variância do dado tamanho da propriedade por área plantada de sisal

(Figura 12) revela diferenças significativas entre estratos por população (P > 0,0001).

5.3.2 Expansão da cultura de sisal sem impactar o meio ambiente

O estudo de mercado aponta uma necessidade de incremento na produção de sisal na

ordem de 18%, de acordo com os estudos de EBDA (2002), PROMOBA (2002), FAO (2003),

Leão (2003), Savastano Junior (2003), Suddell (2003).

Na condição de maior produtor mundial, a Bahia deverá aumentar a oferta deste produto,

no mercado, com o compromisso de abastecer a indústria sisaleira em implantação na região,

devendo ocorrer um incremento no consumo, da ordem de 33.000 ton/ano a mais do que o

consumo atual.

Para atender à demanda do mercado e manter as pastagens, obedecendo às normas do

IBAMA, de manutenção de 10% de reservas nativas, torna-se necessário um incremento, de

15%, na produtividade (de 922kg/ha para 1.061kg/ha), a capacitação dos produtores, a melhoria

da qualidade da fibra e a expansão da área do plantio de sisal, em 13.990ha, no estrato >50ha;

além disso, é preciso, também, que se efetue a destoca, limpeza e replantio, em 86% da área

plantada, o que corresponde a 168.185ha.

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O investimento será de, aproximadamente, R$58.000.000,00 ou seja: 13.990ha x 661,38

= 9.252.706,00 (expansão do plantio) + 168.185ha x 290,00 = 48.773.650,00 (replantio e

destoca, nas áreas com idade acima de 8 anos).

Pelos dados coletados (Gráficos 21, 22 e 23), constata-se que apenas o estrato >50ha tem

condições de expandir o plantio de sisal, devido à existência de 21% de vegetação nativa e à

ocupação de apenas 29% da área com o plantio do sisal.

Estes ajustes no sistema de produção produzirão um incremento da ordem de 33.730

ton/ano (Tabela 3), o que evidencia a possibilidade de produzir para atender à demanda sem

modificar o ambiente atual, nem os sistemas agropecuários vigentes.

Tabela 3. Análise das ações e incremento obtido

AÇÃO ÁREA (ha)

ÁREA COLHIDA (ha) PRODUÇÃO INCRE-

MENTO

Produção 2000 (PAM/IBGE) 195.565 186.265 186.265 x 1.013 kg/ha = 188.679

Produtividade proposta (922,93 (atual) +15% = 1.061,37) 195.565 195.565 195.565 x 1.061 hg/ha = 207.566 18.887

Destoca, limpeza e replantio 168.186

Estrato maior 50 ha, reduzindo a vegetação nativa para 10% 13.990 13.990 13.990 x 1.061 kg/ha 14.843

TOTAL 33.730

5.4 ANÁLISE DA RECEITA

5.4.1 Receita do produtor

Na região pesquisada, o produtor negocia a colheita do sisal com o proprietário da

máquina desfibradora Paraibana. O rendimento é negociado previamente e varia de 20% a 35%

sobre o valor da venda da fibra de sisal seca. (Gráfico 25). Vale observar que o produtor é

responsável, apenas, pelo cultivo da planta.

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1 6 %

2 6 %4 7 %

1 1 %P a rtic 2 0 %P a rtic 2 5 %P a rtic 3 0 %P a rtic 3 5 %

Gráfico 25. Rendimento do produtor na venda da fibra seca do sisal, na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003

Nos dados levantados, verificou-se que um hectare produz, em média, 2.000kg de fibra

molhada, e 922,93 de fibra seca. Considerando-se o valor de R$ 0,70 kg:

922,93 kg/ha x 0,70 = 646,05.

Deste valor, a participação do produtor é, em média, de 30%, ou seja:

646,05 x 30% = 193,82.

Conclui-se que 1kg de fibra representa para o produtor, em média, R$ 0,21:

(193,82 : 922,93 = 0,21).

Logo, uma área de 14,86ha com uma produtividade de 922,93kg/ha obtém um

rendimento equivalente ao salário mínimo mensal, ou seja:

(14,86ha x 922,93kg/ha = 13.714,74 kg de fibra seca x 0,70 = 9.600,32);

considerando-se o rendimento do produtor, 30%, tem-se:

(9.600,32 x 30% = 2.880,10) receita total

ou (2.880,10 : 12 = 240,00) receita mensal.

5.4.2 Composição da renda

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Observou-se que, na composição da renda do produtor no estrato <20ha, a receita oriunda da

agricultura representa 32%; as demais receitas, que correspondem a 68%, têm como origem

outras atividades. (Gráfico 26).

32%

27%1%

18%

1%

21% AgriculturaAposentadoDoaçõesMão-de-obraPecuariaSalario

Gráfico 26. Composição da renda do produtor no estrato <20ha, na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003

Quando se compara a área ocupada com a cultura de sisal, 71%, (Gráfico 22) com a

composição da renda (Gráfico 26), observa-se que a propriedade rural é responsável por 33%, ou

seja, de R$ 6.315,87 (renda total), a atividade rural gerou R$ 2.084,24.

A possibilidade de incremento da renda com a expansão agrícola é inviável. Os dados

levantados em pesquisa, em setembro de 2003, revelam que somente 2% da área estão em

vegetação nativa (Gráfico 22), cuja remoção não é recomendada pelo IBAMA para a

preservação do meio ambiente. Incremento na produção e renda, dentro deste quadro, só podem

ser obtidos através da adoção de tecnologias mais produtivas e economicamente viáveis.

A substituição da cultura existente por sisal (pastagem, palma, mandioca) fragiliza o

sistema da produção e reduz a renda.

Quando se analisa o estrato 20-50ha, verifica-se que a composição da renda agrícola

representa 54%, aposentadoria, 19%, venda da mão-de-obra, 13%, salário, 10%, pecuária, 4% e

doações, 0%. (Gráfico 27).

A expansão da produção, nesse segmento, só ocorrerá com adoção de tecnologias mais

produtivas, capacitação dos produtores e utilização de técnicas economicamente viáveis.

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54%

4%10%

13%

19%0%

agricultura

pecuária

salário

Venda mão-de-obra

aposentado

doações

Gráfico 27. Composição da renda do produtor no estrato 20-50 ha, na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003

Observa-se, no estrato >50ha, que a receita agrícola representa 65%, salário 17%,

pecuária 12%, aposentadoria 6%, venda mão-de-obra e doações 0%. (Gráfico 28).

Nesse estrato, o plantio de sisal ocupa 29% da área, segundo os dados levantados em

setembro de 2003, que demonstram, ainda, a existência de 21% de vegetação nativa, o que

permite o incremento na produção e renda, com a expansão do plantio da cultura do sisal, através

da adoção de tecnologias mais produtivas e economicamente viáveis, atendendo, assim, parte da

demanda do mercado consumidor. (Gráfico 24).

65%

12%

17%

6%0% 0%

agricultura

pecuária

salário

Venda mão-de-obraaposentado

doações

Gráfico 28. Composição da renda do produtor no estrato >50ha, na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003

5.4.3 Receita por residente

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A distribuição habitacional reflete na renda per capita. Verifica-se que, à medida que

cresce o tamanho da área estudada, decresce o percentual da densidade habitacional.

Figura 13. Receita por residente x produtor estratificado na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003

A média de receita por residente, na propriedade, em cada um dos três estratos, mostram

que, no estrato <20ha, cada residente obtém uma renda mensal de R$162,00 sendo que somente

30% dela provém da cultura do sisal. No estrato 20-50ha, a renda mensal por residente passa

para R$270,00 sendo que, na sua composição, 54% é oriunda da agricultura; já no estrato >50ha,

a renda por residente não cresceu muito em relação ao estrato anterior R$273,00; entretanto, a

participação da agricultura é bem maior: 65%.

A análise de variância dos dados não apresentou diferenças significativas da renda por

residentes, nos três estratos estudados (P > 0,3114). (Figura 13).

5.4.4 Receita da propriedade

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Os dados estatísticos demonstram que, no estrato <20ha, a participação agrícola

corresponde a 32% da receita da propriedade, sendo que, desta, 91% provém do sisal e a

atividade pecuária representa 1% (Gráfico 26), gerando um rendimento anual de R$2.084,24 ou

rendimento mensal de R$173,69.

Observa-se que, pela utilização de meio de produção tradicional, ausência de assistência

técnica e falta de capacitação dos produtores, estas áreas não produzem o suficiente para o

sustento do produtor.

90%

4% 3% 2%1%

sisal

mandioca

milhoxfeijão

bovinocultura

caprino/ovino

Gráfico 29. Receita da propriedade no estrato <20ha, na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003

No estrato 20-50ha, a receita da propriedade é constituída por 54% de origem agrícola e

4%, pecuária (Gráfico 27), perfazendo um rendimento anual de R$4.016,03 ou um rendimento

mensal de R$334,67.

Nesse estrato, a receita produzida na propriedade é capaz de garantir o sustento do

produtor, permitindo, ainda, o incremento da produção e da receita com inovação tecnológica e

capacitação profissional.

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91%

1%1%

1% 6%

sisalmandiocamilho/feijãobovinoculturacaprino/ovino

Gráfico 30. Receita da propriedade no estrato 20-50ha, na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003

Já no estrato >50ha, a receita da propriedade corresponde a 77%, sendo 65% agrícola e

12%, pecuária (Gráfico 28), perfazendo um rendimento anual de R$5.545,89 ou um rendimento

mensal de R$462,16.

Observa-se que, quanto maior a área, o rendimento é crescente, podendo ocorrer o

incremento na produção, tanto com inovação dos meios de produção, como também, com a

expansão da área de plantio da cultura de sisal.

79%

16%3%

1%

1% sisalmandiocamilhoxfeijãobovinoculturacaprino/ovino

Gráfico 31. Receita da propriedade no estrato >50ha, na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003

5.4.5 Receita do sisal

No estrato <20ha, a cultura do sisal é, quantitativamente, bastante representativa, com

uma ocupação de 71% da área (Gráfico 22) correspondente a 93% da renda agrícola (Gráfico

32). Contudo, na composição da renda total representa, apenas, aproximadamente, 29%.

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Observa-se que, na receita total de R$6.315,87, o rendimento do sisal representa R$1.875,82

(anual) ou R$156,32 (mensal). Considerando-se uma área média de 7,3ha e uma produtividade

de 922,93kg/ha, o rendimento mensal seria de R$ 117,90, ficando abaixo de um salário mínimo

mensal, o que demonstra que não é o sisal que sustenta o pequeno produtor.

Gráfico 32. Receita agrícola de propriedade no estrato <20 ha, na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003

93%

7%

SisalOutros

No estrato 20-50ha, a cultura do sisal ocupa 52% da área (Gráfico 23), correspondendo a

91% da receita da propriedade (Gráfico 30) e 99% da renda agrícola (Gráfico 33).

99%

1%

SisalOutros

Gráfico 33. Receita agrícola de propriedade no estrato 20-50ha, na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003

Observa-se que, na receita total de R$6.924,19, o rendimento do sisal representa

R$3.654,59 (anual) ou R$304,55 (mensal); se se considera uma área média de 16,8ha e uma

produtividade de 922,93kg/ha, obter-se-á um rendimento mensal de R$271,34.

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No estrato >50 ha, a cultura do sisal ocupa 29% (Gráfico 24), correspondente a 79% da

receita da propriedade (Gráfico 31) e 99% da renda agrícola (Gráfico 34).

99%

1%

SisalOutros

Gráfico 34. Receita agrícola em propriedade no estrato >50ha, na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003

Observa-se que, na receita total (R$7.202,46), o rendimento do sisal representa

R$4.381,25 anual ou R$365,10 mensal; considerando-se a área média de 36,5ha e uma

produtividade de 922,93kg/ha, obter-se-á um rendimento mensal de R$ 589,52.

-

1.000,00

2.000,00

3.000,00

4.000,00

5.000,00

<20ha 20-50ha >50ha

Receita sisal

Aposentadoria/SalárioOutros

Gráfico 35. Receita do sisal x receita total na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003

Na análise dos dados, ficou evidenciado que a cultura de sisal se caracteriza como

MONOCULTURA, independentemente do estrato: no estudo da receita agrícola, o sisal

representa 93%, 99% e 99% para os estratos <20ha, 20-50ha e >50ha, respectivamente.

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Figura 14. Receita do sisal por estrato, na região sisaleira

do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003

A análise de variância dos dados (Figura 14) revela diferenças não significativas entre

estratos por população (P > 0,0048).

5.4.6 Receita do sisal por hectare

Os dados levantados nos municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e

Valente, em setembro de 2003, demonstram que as diferenças entre a produtividade do sisal, na

amostra, foram estatisticamente significativas.

O estrato <20ha, cuja média foi de 1.117kg, diferiu dos demais estratos: 20-50ha, 755kg;

e >50ha, 896kg. A produtividade será, então:

(1.117 + 755 + 896 = 2.768 : 3 = 922 kg/ha).

Constatou-se, que em razão da idade do sisal, e falta de tratos culturais, a produtividade

está decrescendo a cada ano, conforme abaixo:

ANO PRODUTIVIDADE 1999 1.082 kg / ha 2000 1.013 kg / ha Setembro 2003 922 kg / ha

Fonte: IBGE/PAM, 2002; F. Salles, 2003

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Fonte: IBGE/PAM 2002 F Salles, 2003.

Figura 15. Receita do sisal por hectare, na região sisaleira do Estado da Bahia, municípios de Campo Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, setembro de 2003

A análise de variância dos dados (Figura 13) revela diferenças não significativas entre

estratos por população (P >0,0372).

CAPÍTULO 6

CONCLUSÕES

6.1 CARACTERIZAÇÃO DO PRODUTOR

A classe de produtores de sisal, dos quais 84% são casados e 7%, viúvos, é constituída

por família com uma formação tradicional.

O analfabetismo é predominante no estrato <20ha (46%). Isto indica que a escolaridade é

um fator limitante no processo de produção.

Os produtores entrevistados nos estratos <20ha, 20-50ha e >50ha têm uma faixa etária

média de 51 anos, idade considerada elevada como média, indicando que poucos jovens

ingressam na produção de sisal.

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Observa-se que os produtores de sisal tem, em média, 4 filhos, independente do estrato de

área. Ao calcular-se a densidade demográfica por unidade de área, observa-se que o estrato

<20ha apresenta uma densidade demográfica de 0,6 hab/ha; já no estrato >50ha a densidade é de

0,04 hab/ha.

Verificou-se que 38% dos produtores de sisal têm conta bancária e que 99% das terras

estão com a situação legal “livre”. Estes fatos sugerem que estes produtores não têm acesso a

crédito (juros elevados, situação legal das terras) e que as contas bancárias têm a finalidade de

repassar os créditos dos benefícios de aposentadoria e pensão.

Entre os produtores de sisal há um predomínio dos princípios associativos – apenas 4%

não fazem parte de uma entidade de classe.

A mão-de-obra utilizada pelo produtor de sisal é 20% familiar. Constatou-se que, à

medida que os jovens crescem, buscam oportunidades de trabalho em centros urbanos,

permanecendo na propriedade apenas os genitores e filhos menores o que evidencia a utilização

da mão-de-obra infantil, embora, os dados levantados não permitam quantificar, visto que, em

razão dos programas governamentais, estas crianças, quando questionadas, fogem e/ou negam

esta condição.

6.2 SISTEMA DE PRODUÇÃO

O sistema de plantio dos bulbilhos não obedece às técnicas de enviveiramento, fato que

produz fibras com tamanho irregular, influenciando, negativamente, na qualidade da fibra

produzida.

A região em estudo apresentou um sistema de plantio em fileiras simples, com densidade

até 2,5m x 0,80m em aproximadamente 80% dos produtores. Conclui-se que essa densidade

inviabiliza o plantio consorciado, impossibilitando a diversificação na renda agrícola para os

pequenos produtores.

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Os produtores de sisal da região em estudo não aplicam as técnicas recomendadas para os

tratos culturais, fato que reflete em baixa produtividade e na qualidade da fibra produzida.

Os produtores de sisal comercializam seu produto na forma bruta – venda da folha – ou

sem qualquer processo de melhoria da fibra.

O processo de comercialização do sisal é formado por uma cadeia de intermediários e

apresenta grande deficiência na infra-estrutura básica para o beneficiamento. Observa-se que o

produtor não tem acesso para efetivar suas vendas nas indústrias de transformação ou CONAB

que é o órgão garantidor do preço mínimo. Conclui-se que a falta de acesso do produtor à

CONAB é um dos fatores determinantes do preço da fibra, ficando evidenciado que o produtor

vende seu produto com o valor sempre abaixo do preço mínimo.

6.3 ANÁLISE DAS RECEITAS

Os dados levantados na região sisaleira do Estado da Bahia, nos municípios de Campo

Formoso, Conceição do Coité, Santaluz e Valente, em setembro de 2003, apontam que 86% do

plantio de sisal existente está com idade acima de 8 anos.

Considerando que o ciclo vegetativo da planta é de 8 a 10 anos, conclui-se que não

ocorrendo o replantio e ou recuperação da cultura de sisal, de forma imediata, com base nos

dados estatísticos, podemos afirmar que, nos próximos 3 anos, ocorrerá um declínio na produção

de fibra de sisal na região em estudo.

A implementação do Programa Emergencial de Incentivo à Lavoura do Sisal, emanado

pelo Governo da Bahia, torna-se um fator determinante para a continuidade da cultura do sisal.

Verificou-se que, nos estratos <20ha e 20-50ha, a expansão agrícola sem

alterar o sistema de produção, torna-se inviável visto que, somente 2% e 10% da área,

respectivamente, estão em vegetação nativa.

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Conclui-se que, para atender a demanda do mercado, torna-se necessário:

• adotar medidas que venham a modificar o sistema de produção,

independentemente do estrato;

• utilizar área disponível de vegetação nativa no estrato >50ha;

• capacitar os produtores;

• promover a destoca, limpeza e replantio da área;

• melhorar a qualidade da fibra;

• e aumentar a produtividade.

Estes ajustes no sistema de produção produzirão um incremento para atender à demanda

sem modificar o ambiente atual, assim como não modificará os sistemas agro pecuários vigentes.

6.4 ANÁLISE DAS RECEITAS

Analisando, de forma estratificada, a receita do produtor que detém área de <20ha, área

média de 7,3ha e ocupação de 71% com o plantio de sisal, constatou-se que a renda oriunda da

atividade sisaleira representa 29% da renda total, ou seja, da receita total de R$ 6.315,87, o

rendimento do sisal representou R$ 1.875,82 (renda anual) ou R$ 156,32 (renda mensal) o que

corresponde a 65% do salário mínimo.

Para o produtor que detém área de 20-50ha, área média de 16,8ha, a cultura do sisal

ocupa 52%, e produz 53% da renda total, ou seja, da receita total de R$ 6.924,19, o rendimento

do sisal representou R$ 3.654,59 (renda anual) ou R$ 304,55 (renda mensal).

Já o produtor do estrato >50ha, área média de 36,5ha, ocupa 29% da área com o plantio

de sisal que representa 61% da receita total, ou seja, da receita total de R$ 7.202,46, o

rendimento do sisal representou R$ 4.381,25 (renda anual) ou R$ 365,10 (renda mensal).

Conclui-se que o pequeno produtor não sobrevive desta renda do sisal.

Ficou, também, evidenciado que uma área média de 14,86 hectares gera uma receita

equivalente ao salário mínimo mensal de R$ 240,00.

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Identificou-se o tamanho mínimo de área cultivada para apresentar lucro, ou seja o

MODULO MÍNIMO PRODUTIVO como sendo de 14,86 hectares.

REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6023: informação e documentação: referências: elaboração. Rio de Janeiro, 2002a.

______. NBR 10520:

informação e documentação:

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citações em documentos:

apresentação. Rio de Janeiro,

2002b. ______. NBR 14724: trabalhos acadêmicos: apresentação. Rio de Janeiro, 2002c. BAHIA. Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia. Banco de dados. Disponível em: http://www.sei.ba.gov.br/sei/frametabela.wsp?tmp.tabela= T71&tmp. Acesso em: 28 jun. 2003. BEZERRA, J. E. S; SILVA, R. R. F. da; SANTOS, J. W. dos; MOREIRA, J. de A. N. Estudo comparativo do comportamento de bulbilhos oriundos da Tanzânia, agave híbrido 11648 e Sisalana no cariri paraibano. In: EMBRAPA. Centro de Pesquisa de Algodão (Campina Grande, PB), Relatório técnico anual 1987-1989. Campina Grande, PB. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Companhia Nacional de Abastecimento-CONAB. Sisal: preços mínimos e informações básicas. s/l: 2003. Folheto. BRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. IBGE. Produção agrícola municipal 2000. Tabelas. Disponível em: <www.ibge.gov.br/estatistica/ economia> Acesso em: jun. 2003 CARVALHO, Tatiany. Exportações de sisal têm crescimento de 26%. Jornal Correio da Bahia. 9 abr. 2004. Disponível em: http://www.seagri.ba.gov.br/noticias.asp? qact=view&exibir=clipping&notid=1879. Acesso em 15 abr. 2004. CONAB (Brasília), DF. Produtos regionais: preços mínimos 1995/96. Brasília, 1996. EMBRATER/EMBRAPA. Sistema de produção para sisal. Santaluz, Bahia: EMATER-BA, 1981. 23p. Série: Sistemas de produção, Boletim, 339. EMATER–BA. Diagnóstico da economia sisaleira baiana. Salvador, 1978. p. 59. FAO. Sisal and henequem: summary note on developments in 1995 and 1996. Roma, 1996. Não paginado. FAO-FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS/CFC-COMMON FUND FOR COMMODITIES. Alternative applications for sisal and henequen, 2000, Rome. Proceedings... Rome: CFC/FAO, 2001. Technical Paper nº 14. FAO-FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS. Statistical appendix: FAO data on production and trade of sisal and henequen, 1965 to 2000. Annex B, p. 95-112. In: FAO-FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF

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THE UNITED NATIONS/CFC-COMMON FUND FOR COMMODITIES. Alternative applications for sisal and henequen, 2000, Rome. Proceedings... Rome: CFC/FAO, 2001. Technical Paper nº 14. FAO, ESC. Fibres Consultation nº 03/1. Salvador, Brazil, 8–9 July 2003a. p.6-7 FAO,/ESC. Fibres Consultation nº 03/2. Salvador, Brazil, 8–9 July 2003b. p.8. GOVERNO DA BAHIA. Programa emergencial de incentivo à lavoura do sisal. In: SEMINÁRIO NACIONAL SISAL. Salvador. Sisal - problemas e soluções. Salvador: SINDIFIBRAS, 2003. GOVERNO DO ESTADO DA PARAÍBA. Secretaria de Agricultura, Irrigação e Abastecimento. Tabela. Disponível em: <www.saia.pb.gov.br/Produtos/Culturas/ sisal.shtml>. Acesso em: 29 jun. 2003. LEÃO, Alcides Lopes. Natural fibres for non-textile industrial applications. 32ª Reunion of the Intergovernamental Group on Hard Fibres/34ª of the Intergovernamental Group on Jute, Krnaf and Allied Fibres. Salvador, Brazil, 2003. LOCK, G. W. Sisal. London: Longman, 1969. 365p. MARQUES, Nonato. O sisal na Bahia. Salvador: FAEB/PROSISAL, 1978. 67p. V Convenção Regional do Sisal. MEDINA, Júlio César. O sisal. São Paulo: Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo/Diretoria de Publicidade Agrícola, 1954. 285p. Distribuição gratuita. NASCIMENTO, Humberto M. do. Capital social e desenvolvimento sustentável no sertão baiano. Campinas, SP: Unicamp, 2000. Dissertação de mestrado. Disponível em: <http://www.eco.unicamp.br/nea/rurbano/textos/teses/rurban40. html>. Acesso em: 28 jun. 2003. NOGUEIRA, Luis. Sisal brasileiro terá verba de US$1,25mi. Panorama Brasil/BA, 14 fev. 2003. Disponível em: <www.mail-archive.com/[email protected]/ms g00474.html>. 28 jun. 2003. SALLES, Francisco. Sistema de comercialização do sisal na Bahia. Salvador, 2003. Dados não publicados. SAVASTANO JUNIOR, Holmer. Pirassununga, São Paulo. Brasil. São Paulo: USP, 2003. SEMINÁRIO NACIONAL SISAL, 2003, Salvador. Sisal - problemas e soluções. Salvador: SINDIFIBRAS, 2003. SILVA, Danniela. Demanda cresce e sisal vai empregar. A Tarde, Salvador, 9 jul. 2003. Economia, p.1. SILVA, D. D. da. Agricultura do sisal. In: SEMINÁRIO NACIONAL DO AGRONEGÓCIO DO SISAL, 1996. João Pessoa. Memória... Campina Grande: Embrapa-CNPA, 1996a. p.19-35. SILVA, Odilon Reny Ribeiro da; BELTRÃO, Napoleão Esberard de Macêdo. (Orgs.). O agronegócio do sisal no Brasil. Brasília: Embrapa-SPI; Campina Grande: Embrapa-CNPA, 1999. 205p.

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SOUZA SOBRINHO, J. de; SILVA, D. D. da; SILVA. F. de A. S. Estudo sobre competição das variedades híbrido 11648 e Agave sisalana na zona fisiográfica tabuleiro. Salvador: Companhia de Celulose da Bahia, 1985b. Paginação irregular. SUDDELL, Brett C. The current situation and future outlook for natural fibres within the automotive industry. 32ª Reunion of the Intergovernamental Group on Hard Fibres/34ª of the Intergovernamental Group on Jute, Krnaf and Allied Fibres. Brasil. Salvador, 2003. SITES VISITADOS: www.dataterra.org.br www.ibge.gov.br/estatisticas/economica www.promoba.com.br www.seagri.ba.gov.br;

www.sisalandia.sites.uol.com.br

APÊNDICE A

QUESTIONÁRIO – PESQUISA DE MESTRADO

Gestão Integrada de Organizações 1. IDENTIFICAÇÃO DO PROPRIETÁRIO Nome:

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Estado civil

( ) Solteiro ( ) Casado ( ) Viúvo ( ) Desquitado

Escolaridade

( ) Analfabeto ( ) Primeiro grau ( ) Nível médio ( ) Superior

Idade: Número de filhos: Conta Bancária: ( ) sim ( ) não Associado: ( ) Sindicato ( ) Cooperativa Pratica religião: ( ) sim ( ) não 2. IDENTIFICAÇÃO DA PROPRIEDADE: Nome: ........................................................................................................................................... Localização: .................................................................................................................................. Município: ..................................................................................................................................... Distrito: ......................................................................................................................................... Acesso (referência): .................................................................................................................... Área: ...........................................................................................................................................

Valor venal

: ..................................................................................................................................

Situação Legal: ( ) Livre ( ) Hipotecada

Número de pessoas que residem na

propriedade: .....................................................................

Número de benfeitorias: ( ) Casas ( ) Galpões ( ) Apriscos Outros: ( ) Cercas (em Km) ..................................... ( ) Aguadas 3. SITUAÇÃO DAS TERRAS (em hectare) Vegetação nativa: Pastagem: .............................ha Lavoura temporária: ..............ha Lavoura permanente: Imprópria: ..............................ha Pousio: ..................................ha 4. EXPLORAÇÃO AGRÍCOLA (em hectare)

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Lavoura permanent

e: Sisal: ....................... ha Outras: ..............ha

Sisal:

até 2 anos: ....................ha

2 a 3 anos: .................. ha

3 a 8 anos ...................ha

mais de 9 anos .................. ha

Tipo do sisal: ( ) Híbrido ( ) Sisalana Plantio: Utilizou viveiros? ( ) Sim ( ) Não

Plantio consorciad

o: ( ) Sim ( ) Não

Densidade do plantio:

( ) 2m x 1m ( ) 2.5m x 0,8m ( ) 3m x 1,8m

( ) 3m x 1m x 1m ( ) 4m x 1m x 1m ( ) outros Tratos culturais:

No primeiro

ano:

( ) 2 capinas ( ) 3 capinas ( ) Nenhuma capina

No segundo

ano:

( ) 1 capinas ( ) 2 capinas ( ) Nenhuma capina

Após três anos:

( ) Roço manual ( ) Roço tratorizado ( ) Nenhum

Colheita:

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Mão de obra familiar

( ) Sim ( ) Não

Mão de obra contratada

( ) Sim ( ) Não

É possuidor de máquina para o desfibramento do sisal: ( ) Sim ( ) Não

Rendimento do produtor: ( ) 20% ( ) 25% ( ) 30% ( ) .............. Produtividade: ...................................... ha ...................................... kg A produção de sisal é vendida diretamente: ( ) Intermediário ( ) Batedeiras ( ) Ind. de transformação ( ) CONAB Lavouras Anuais ou Bi anuais: ( ) Mamona ( ) Mandioca ( ) Feijão ( ) Milho ( ) Outras ..................ha ...................ha ...............ha ................ha ..................ha 5. EXPLORAÇÃO PECUÁRIA: Gado ( ) Bovino ( ) Caprino ( ) Asininos ( ) Eqüinos ( ) Outros Quantidade: .................. ..................... ...................... ..................... ................... 6. INDICADORES ECONÔMICOS Principais produtos Agrícolas Cultivados e Comercializados

Produto Área Cultivada

Produção obtida Consumo Vendido Valor

Principais produtos Pecuários Comercializados

Produto Área Cultivada

Produção obtida Consumo Vendido Valor

7. COMPLEMENTAÇÃO DA RENDA

Salário: R$ ........................................... Venda da mão-de-obra: R$ ........................................... Aposentadoria: (nº de pessoas) .................... R$ .......................................... Doações por pessoas da família: R$ .......................................... Venda de artesanato: R$ ........................................... Outros: ................................................................ R$ ........................................... 8. FINANCIAMENTO OBTIDO

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( ) Sim ( ) Não Qual a finalidade? ...............................................................................................................