suspensÃo provisÓria do processo - diretiva 1 de 2014.pdf

Upload: antonio-neto

Post on 02-Jun-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 8/10/2019 SUSPENSO PROVISRIA DO PROCESSO - DIRETIVA 1 DE 2014.pdf

    1/28

    S. R.

    PROCURADORIA-GERAL DA REPBLICA

    DIRETIVA N 1/2014

    Com o Cdigo de Processo Penal de 1987, o legislador nacional manifestou de modo

    inequvoco a inteno poltico-criminal de que no tratamento da pequena criminalidade seprivilegiassem solues de consenso. Esta inteno foi sucessivamente reiterada nas

    alteraes introduzidas ao cdigo, alargando mdia criminalidade o mbito de institutos

    apenas previstos inicialmente para a pequena criminalidade e estreitando margens de

    discricionariedade na sua aplicao, tudo com o desiderato expressamente assumido de

    ampliar a sua utilizao.

    Assim, ao incrementar a resoluo dos factos criminais pelo consenso sempre que se

    verifiquem os pressupostos vertidos na lei, o Ministrio Pblico d curso ao imperativo

    constitucional de participar na execuo da poltica criminal definida pelos rgos de

    soberania.

    Do mesmo passo, mais pragmaticamente, contribui de forma importante para uma

    mais racional utilizao dos meios disponveis no sistema de justia penal, permitindo uma

    maior disponibilidade para o tratamento dos factos criminais que pela sua gravidade

    imponham, no dizer do prembulo do Cdigo de Processo Penal, o reconhecimento e

    clarificao do conflito.

    Tendo-se verificado recentemente, depois de muitos anos de inexpressiva aplicao do

    instituto, um aumento exponencial da suspenso provisria do processo, a presente Diretiva

    visa apoiar e incrementar a sua utilizao e promover uma atuao mais eficaz e homognea

    do Ministrio Pblico.

  • 8/10/2019 SUSPENSO PROVISRIA DO PROCESSO - DIRETIVA 1 DE 2014.pdf

    2/28

    PROCURADORIA-GERAL DA REPBLICA 2

    As orientaes constantes da seco I (Orientaes Gerais) abarcam matrias relativas tramitao processual, aos pressupostos de admissibilidade e ao contedo substancial do

    despacho que a determina, aplicveis a todas as situaes de suspenso provisria do

    processo. As orientaes constantes da Seco II (Orientaes Especficas) abordam aspetos

    respeitantes ao regime de aplicao do instituto a determinados tipos legais de crime,

    selecionados em funo da conjugao da sua importncia prtica com a constatao de

    relevantes discrepncias de entendimento.

    Nos casos em que se entendeu que a divergncia aplicativa constatada na prtica o

    justificava, a Diretiva versa sobre matria de estrita interpretao jurdica, assim se fixando

    entendimento uniforme para o Ministrio Pblico.

    No colocada em causa a plasticidade e a criatividade que a lei manifestamente quis

    conferir ao instituto. Ser sempre o caso concreto, na riqueza das suas circunstncias, nas

    exigncias de preveno que suscitar, como resultado de um esforo de dilogo e consenso

    com os sujeitos processuais sobre as injunes, regras de conduta e prazo da suspenso

    provisria, a ditar a conformao do despacho que a determine em cada situao, respeitadas

    que sejam as orientaes aqui transmitidas.

    Proceder-se- monitorizao e avaliao da aplicao da Diretiva, em termos a

    definir por despacho autnomo.

    Em face do exposto, ao abrigo do disposto na alnea b) do n 2 do art. 12 do Estatuto do

    Ministrio Pblico, os Senhores Magistrados e Agentes do Ministrio Pblico devero

    observar as seguintes determinaes:

  • 8/10/2019 SUSPENSO PROVISRIA DO PROCESSO - DIRETIVA 1 DE 2014.pdf

    3/28

    PROCURADORIA-GERAL DA REPBLICA 3

    Seco IOrientaes Gerais

    Captulo I

    mbito de aplicao da suspenso provisria do processo

    1) Os magistrados do Ministrio Pblico devem optar, no tratamento da pequena e mdia

    criminalidade, pelas solues de consenso previstas na lei, entre as quais assume particularrelevo a suspenso provisria do processo.

    2) A suspenso provisria do processo aplicvel aos casos em que foram obtidos indcios

    suficientes da prtica de crime punvel com pena de priso no superior a 5 anos ou com

    sano diferente da priso.

    3) tambm aplicvel aos casos em que se indicia suficientemente um concurso de crimes

    punvel com pena de priso superior a 5 anos mas em que a pena de cada um deles no excede

    estamedida.

    4) No aplicvel aos crimes punveis com pena de priso de durao superior, salvo nos

    casos expressamente previstos na lei, mesmo que o magistrado entenda que, no caso concreto,

    a pena no deveria exceder os 5 anos de priso.

    Captulo II

    A tramitao do inqurito

    1) Sempre que seja registado um inqurito com suspeito identificado e cujo objeto da

    investigao integre crime a que seja aplicvel a suspenso provisria do processo, dever ser

    apurado de imediato, atravs da consulta do Registo Criminal e da Base de Dados da

  • 8/10/2019 SUSPENSO PROVISRIA DO PROCESSO - DIRETIVA 1 DE 2014.pdf

    4/28

    PROCURADORIA-GERAL DA REPBLICA 4

    Suspenso Provisria do Processo, se aquele tem condenao anterior ou se lhe foi aplicadasuspenso provisria por crime da mesma natureza.

    2) O inqurito por crime a que seja aplicvel a suspenso provisria do processo e em que se

    verifiquem os pressupostos estabelecidos nas alneas b) e c) do n1 do art 281 CPP, deve ser

    orientado, por regra, no sentido da possvel aplicao deste instituto, pelo que o Ministrio

    Pblico deve transmitir orientaes aos rgos de polcia criminal no sentido de as diligncias

    de investigao e recolha da prova incidirem no s sobre a existncia de crime, a

    determinao dos seus agentes e respetiva responsabilidade, mas tambm sobre as motivaes

    e consequncias do crime, valor dos prejuzos provocados, situao socioeconmica dos

    arguidos e pretenses de ressarcimento patrimonial e/ou moral das vtimas.

    3) Quando, analisados os elementos probatrios e a informao recolhidos no decurso do

    inqurito, se concluir pela viabilidade da aplicao da suspenso provisria do processo ao

    caso concreto, as diligncias que visem a definio das condies da suspenso provisria e a

    obteno das necessrias declaraes de concordncia, sero, em regra, realizadas pelo

    Magistrado do Ministrio Pblico. A concordncia do arguido e a concordncia do assistente

    sero reduzidas a escrito e por eles assinadas, com expressa referncia s injunes e regras

    de conduta a que o arguido fica obrigado e durao da suspenso.

    4) A deciso de suspender provisoriamente o processo no depende da concordncia do

    ofendido que no se constituiu assistente, com excepo do crime de violncia domstica, mas

    deve atender s exigncias de reparao patrimonial e moral, conforme o disposto no n 5 do

    Captulo III.

    5) Quando houver assistente constitudo e sempre que a suspenso provisria depender da sua

    concordncia, deve este, por regra, ser auscultado sobre a aplicao do instituto ao caso

    concreto antes de ser apresentada a proposta ao arguido.

  • 8/10/2019 SUSPENSO PROVISRIA DO PROCESSO - DIRETIVA 1 DE 2014.pdf

    5/28

    PROCURADORIA-GERAL DA REPBLICA 5

    6) Nos casos em que, tendo-se obtido indcios suficientes da prtica do crime e dos seusautores, no foi possvel reunir as condies para a aplicao da suspenso provisria do

    processo, deve ponderar-se a deduo de acusao em processo sumarssimo.

    Captulo III

    As injunes e regras de conduta

    1) As injunes, regras de conduta e a durao da suspenso provisria do processo devero

    ser:

    - Adequadas natureza dos factos em questo, s circunstncias e consequncias da

    sua prtica, bem como conduta anterior e posterior e situao socioprofissional do arguido

    (o que determinar a sua espcie);

    -Proporcionais intensidade da concreta conduta criminosa e aos seus efeitos, tendo

    em conta a gravidade da pena com que seria punido o respetivo crime (o que determinar olimite do grau de gravidade das imposies e das restries ao exerccio de direitos que

    podem vir a ser exigidas ao arguido);

    - Suficientes em face das exigncias de preveno do caso concreto (o que determinar

    a sua concretizao e fixao da respetiva durao).

    2) Atendendo natureza, legitimidade para a iniciativa e aos fins visados com este instituto,

    o Ministrio Pblico deve procurar consensualizar as condies da suspenso provisria do

    processo com o arguido e o assistente, aceitando as propostas por estes formuladas que no

    sejam claramente insuficientes satisfao das exigncias de preveno no caso concreto.

    3) As injunes e regras de conduta devem ter a concretizao bastante para constiturem

    obrigaes precisas para o arguido e possibilitarem a efetiva verificao do seu cumprimento.

    4) Quando existirem programas estruturados da DGRSP especialmente orientados para

    responder a determinado comportamento criminal (consultar anexo a esta Diretiva),

  • 8/10/2019 SUSPENSO PROVISRIA DO PROCESSO - DIRETIVA 1 DE 2014.pdf

    6/28

    PROCURADORIA-GERAL DA REPBLICA 6

    ponderar-se-, sempre que, no caso concreto, se verificarem especiais exigncias depreveno, a sua aplicao, nica ou cumulada com outras obrigaes. Nestes casos, a fixao

    da durao do perodo da suspenso deve tomar em considerao o tempo necessrio

    execuo daqueles.

    5)Nos crimes com vtima, as obrigaes impostas ao arguido devero, salvo justificao em

    contrrio, contemplar a reparao dos danos patrimoniais e/ou morais por ela sofridos com a

    prtica do crime, assim como, quando se mostrar pertinente, a prestao de satisfao moral

    adequada. Em regra, a definio da injuno ser precedida de audio da vtima.

    6) Quando se apurar ter o arguido obtido vantagem patrimonial, ser sempre ponderada a

    obrigao da sua reposio a ttulo de injuno cujo beneficirio ser o Estado.

    7) No existe qualquer impedimento legal a que, se se mostrar adequado no caso concreto,

    sejam impostas ao mesmo arguido, no mesmo inqurito, a injuno de entrega de certa

    quantia ao Estado ou a instituio privada de solidariedade social e a de prestao de servio

    de interesse pblico.

    8) As entidades beneficirias da contribuio monetria ou da prestao de servio sero

    selecionadas, preferencialmente, de entre as que desenvolvam atividade relacionada com o

    tipo de factos praticados pelo arguido, com as suas consequncias ou com o apoio s vtimas

    de crimes.

    9)Nos casos de entrega de certa quantia, o arguido ser obrigado a apresentar no processo o

    original do recibo da entidade beneficiria, do qual conste que no se trata de donativo mas

    sim de injuno aplicada em processo criminal.

    10) A prestao de servio de interesse pblico ser fixada em horas de trabalho. Na sua

    execuo tomar-se- em considerao o disposto no n4 do art 58 do Cdigo Penal. Mesmo

    nos casos em que seja o Ministrio Pblico a indicar a entidade beneficiria, ter de sersuscitada a interveno da DGRSP.

  • 8/10/2019 SUSPENSO PROVISRIA DO PROCESSO - DIRETIVA 1 DE 2014.pdf

    7/28

    PROCURADORIA-GERAL DA REPBLICA 7

    11) Antes de ser proferido o despacho que determina a suspenso provisria do processo,

    devem ser garantidasas condies necessrias para que o cumprimento das injunes possa

    ocorrer no perodo de durao fixado para a suspenso.

    Captulo IV

    O despacho de aplicao da suspenso provisria do processo

    1) No caso de crime cujo procedimento criminal depende de acusao particular, se o

    Ministrio Pblico, findo o inqurito, entender que foram recolhidos indcios suficientes e que

    se mostra adequada a aplicao da suspenso provisria do processo, diligenciar pela

    obteno da concordncia do arguido e do assistente, s dando cumprimento ao disposto no

    n1 do art 285 CPP se a suspenso provisria do processo se vier a mostrar invivel.

    Tambm o arguido e o assistente podero requerer a aplicao da suspenso provisria semque tenha sido deduzida acusao particular

    2)A concordncia do assistente dispensada quando estiver em causa a prtica de um crime

    de furto (art 203 CP) cujo procedimento criminal dependa de acusao particular e se

    enquadre na previso do n 9 do art 281 CPP (cf. n2 do art 207 CP).

    3) O despacho que decide a aplicao da suspenso provisria, a apresentar ao Juiz deInstruo nos termos do n1 do art 281 CPP, dever conter uma sntese dos factos

    suficientemente indiciados, a sua qualificao jurdico-penal, a justificao sumria da

    verificao dos pressupostos da suspenso provisria do processo, incluindo os motivos pelos

    quais se entende que no caso se mostram suficientemente satisfeitas as finalidades de

    preveno e de proteo de bens jurdicos, terminando com a fixao das injunes e regras

    de conduta impostas ao arguido e do perodo de durao da suspenso.

  • 8/10/2019 SUSPENSO PROVISRIA DO PROCESSO - DIRETIVA 1 DE 2014.pdf

    8/28

    PROCURADORIA-GERAL DA REPBLICA 8

    Captulo VO cumprimento das condies da suspenso provisria e o

    arquivamento do processo

    1) No decurso do perodo da suspenso provisria do processo, em caso de alterao de

    circunstncias ou de no cumprimento pelo arguido que se considere no por em causa os

    objetivos do instituto no caso concreto, o Ministrio Pblico pode readaptar o plano de

    conduta imposto para que seja garantida a sua execuo.

    2) Se essa readaptao implicar alterao da natureza ou do contedo essencial das injunes

    e regras de conduta fixadas, assim como o prolongamentoda durao da suspenso, ter de

    ser obtida a concordncia do juiz de instruo.

    3) O processo em que foi aplicada a suspenso provisria do processo deve aguardar o

    desfecho de procedimento criminal que se encontre pendente e possa vir a determinar oprosseguimento daquele nos termos da alnea b) do n 4 do art 282.

    3.1.Conhecida a deciso final, ser proferido despacho de arquivamento ou determinado o

    prosseguimento do processo em que teve lugar a suspenso provisria.

    3.2. A prescrio do procedimento criminal s no corre "no decurso do prazo de

    suspenso do processo" fixado na deciso que a aplicou, nos termos do disposto no n 2 do

    art 282 CPP.

    Captulo VI

    A suspenso provisria em processo sumrio

    1)Os magistrados do Ministrio Pblico daro instrues aos rgos de polcia criminal para

    que, nas situaes de deteno em flagrante delito por crimes a que seja aplicvel a suspenso

    provisria do processo, obtenham e faam constar do respetivo auto, para alm da descrio

    dos factos e da identificao do autor, informao sobre motivaes e consequncias do

  • 8/10/2019 SUSPENSO PROVISRIA DO PROCESSO - DIRETIVA 1 DE 2014.pdf

    9/28

    PROCURADORIA-GERAL DA REPBLICA 9

    crime, valor dos prejuzos provocados, vantagens obtidas e situao socioeconmica doarguido.

    2) Registado o expediente para processo sumrio, como processo sumrio fase preliminar,

    ser imediatamente junto o resultado das consultas ao Registo Criminal e Base de Dados da

    Suspenso Provisria do Processo.

    3) Se o arguido no tiver condenao ou suspenso provisria anterior por crime da mesma

    natureza, e no existir outro fator impeditivo da aplicao da suspenso provisria do

    processo, o magistrado do Ministrio Pblico providenciar pela recolha das informaes e

    elementos de prova que no se encontrem ainda nos autos e queconsidere imprescindveis e

    procurar obter a concordncia do arguido com as injunes e/ou regras de conduta e a

    durao da suspenso que considere adequadas.

    4) O auto manter-se- registado nos servios do Ministrio Pblico como processo sumrio

    fase preliminar, mesmo depois de obtida a concordncia do juiz de instruo com a deciso

    do Ministrio Pblico de suspender provisoriamente o processo.

    5) Aplicam-se suspenso provisria do processo decidida na fase preliminar do processo

    sumrio as orientaes constantes dos restantes captulos desta Diretiva, com as adaptaes

    que se mostrarem necessrias.

    Captulo VII

    Base de Dados da PGR sobre a suspenso provisria

    1) O magistrado do Ministrio Pblico titular do inqurito ou de processo sumrio na fase

    preliminar em que for proferido despacho de suspenso provisria do processo procede ou

    determina que se proceda sua insero na Base de Dados da PGR.

  • 8/10/2019 SUSPENSO PROVISRIA DO PROCESSO - DIRETIVA 1 DE 2014.pdf

    10/28

    PROCURADORIA-GERAL DA REPBLICA 10

    2) O magistrado que representa o Ministrio Pblico em instruo, quando se suscitar aaplicao da suspenso provisria do processo, junta aos autos o resultado da consulta Base

    de Dados da PGR e, se for decretada, assegura a sua insero nesta.

    3) O magistrado do Ministrio Pblico, em qualquer das situaes, zelar por que o respetivo

    registo se mantenha atualizado.

    Seco II

    Orientaes Especficas

    Captulo VIII

    Crime de conduo de veculo em estado de embriaguez ou sob a influncia

    de estupefacientes ou substncias psicotrpicas

    (art 292 C.Penal)

    1) Na ponderao sobre a adequao da suspenso provisria do processo s exigncias de

    preveno no caso concreto devero ser tomados em considerao, nomeadamente, a taxa de

    lcool no sangue ou a substncia consumida, a categoria do veculo conduzido, o servio a

    que est destinado, a condio dospassageiros e o tipo de carga transportada, bem como

    eventuais consequncias decorrentes do comportamento do arguido.

    2) A injuno de proibio de conduo de veculo com motor ser aplicada mesmo que o

    arguido no esteja habilitado com ttulo de conduo.

    3) A injuno de proibio de conduzir veculo com motor no ser fixada por perodo

    inferior a 3 meses e o seu cumprimento deve ser contnuo.

    4) O arguido ser notificado para, no prazo de 10 dias a contar da notificao do despacho que

    determina a suspenso provisria do processo, proceder entrega do ttulo de conduo nos

  • 8/10/2019 SUSPENSO PROVISRIA DO PROCESSO - DIRETIVA 1 DE 2014.pdf

    11/28

    PROCURADORIA-GERAL DA REPBLICA 11

    servios do Ministrio Pblico, onde permanecer durante o perodo de proibio deconduo.

    5) A injuno de proibio de conduo de veculo com motor ser comunicada ao Instituto

    de Mobilidade e Transportes (IMT). A comunicao conter os seguintes dados: identificao

    do arguido, nmero do ttulo de conduo, identificao da natureza da proibio (injuno

    aplicada por fora do art. 281 n3 do CPP), nmero do processo, entidade decisria, data da

    infrao, tipo de crime, durao, data do incio e do termo da proibio de conduzir, data da

    deciso.

    Captulo IX

    Crime de conduo sem habilitao legal

    (art 3 do DL 2/98, de 3/19)

    Ao ponderar-se a adequao de injuno que consista na inscrio em escola de conduo e

    frequncia de programa de aprendizagem tendo em vista a obteno de habilitao legal para

    conduzir, devem tomar-se em considerao circunstncias que indiciem no ter sido o

    comportamento do arguido ocasional ou que potenciem a sua repetio, a sua capacidade

    econmica para suportar esse encargo e eventuais razes que o arguido invoque para se lhe

    opor.

    Captulo X

    Crime de Violncia Domstica

    1)No crime de violncia domstica, a aplicao da suspenso provisria do processo depende

    de requerimento livre e esclarecido da vtima.

  • 8/10/2019 SUSPENSO PROVISRIA DO PROCESSO - DIRETIVA 1 DE 2014.pdf

    12/28

    PROCURADORIA-GERAL DA REPBLICA 12

    2) O Ministrio Pblico, quando, em face da prova recolhida nos autos, entender que semostra adequada ao caso concreto a suspenso provisria do processo e a vtima no a tenha

    requerido, deve tomar a iniciativa de a informar pessoalmente de que pode formular aquele

    requerimento, de a esclarecer sobre este instituto, os seus objetivos, as medidas que podem ser

    impostas ao arguido e sobre as consequncias da sua aplicao.

    3) Recebido o requerimento da vtima, o magistrado titular do inqurito certificar-se- de que

    aquele foi por ela apresentado de forma livre e esclarecida, no prescindindo do contacto

    pessoal com a vtima.

    4) O Ministrio Pblico, na adequao das injunes e regras de conduta s caratersticas do

    caso concreto, deve atender s motivaes da vtima ao requerer a suspenso provisria do

    processo, por forma a que se satisfaam as exigncias de preveno no respeito pela sua

    autonomia de vida.

    5) Quando se mostre adequado o afastamento do arguido em relao vtima, o recurso

    vigilncia eletrnica pode ser determinado se se concluir ser imprescindvel para a proteo

    vtima, nos termos do n1 do art 35 da Lei n112/2009, de 16 de Setembro. O Ministrio

    Pblico solicitar DGRSP informao nos termos do art 26 da Lei n 33/2010, de 2 de

    Setembro, e a sua aplicabilidade depende no s da concordncia do arguido e da vtima mas

    tambm do consentimento das pessoas a que se referem o n2 do art 36 da Lei n112/2009 e

    o n4 do art 4 da Lei n 33/2010.

    6)Nos casos em que corram termos procedimentos judiciais ou outros no mbito do direito da

    famlia e das crianas por factos relacionados com os que esto a ser investigados no

    inqurito, a definio das injunes e regras de conduta ser precedida da obteno de

    informao sobre as decises e medidas tomadas naqueles, tendo em vista a harmonizao de

    umas e outras. Com este objetivo, devem o magistrado titular do inqurito e o magistrado que

    representa o Ministrio Pblico naqueles outros procedimentos estabelecer contacto pessoal

    tendo em vista a troca de informaes e a coerncia das intervenes.

  • 8/10/2019 SUSPENSO PROVISRIA DO PROCESSO - DIRETIVA 1 DE 2014.pdf

    13/28

    PROCURADORIA-GERAL DA REPBLICA 13

    7) O Ministrio Pblico deve promover, a nvel de Distrito Judicial, DIAP, crculo judicial oucomarca, o desenvolvimento de parcerias, formas de articulao e canais de comunicao com

    os servios daDireo Geral de Reinsero e Servios Prisionais, do Instituto Nacional de

    Medicina Legal e Cincias Forenses, doInstituto da Segurana Social e do Sistema Nacional

    de Sade, com a Comisso para a Cidadania e Igualdade de Gnero, com as instituies de

    ensino e os centros de investigao cientfica e as instituies de solidariedade social cuja

    atividade incida sobre agressores ou vtimas ou sobre qualquer vertente relevante para a

    compreenso e interveno nas situaes de violncia domstica, tendo em vista o apoio

    definio e execuo das injunes e regras de conduta.

    Captulo XI

    Crimes contra a liberdade e autodeterminao sexual de menor

    no agravados pelo resultado

    1)So pressupostos objetivos da suspenso provisria do processo nos crimes contra a

    liberdade e a autodeterminao sexual de menor no agravados pelo resultado a concordncia

    do arguido, da vtima maior de 16 anos ou, se de idade inferior, do seu representante legal,

    que se tenham constitudo assistentes, e a ausncia de condenao e de suspenso provisria

    anteriores por crime da mesma natureza.

    2) O magistrado do Ministrio Pblico deve decretar a suspenso provisria do processosempre que concluir, e apenas se concluir, que esta forma de resoluo do conflito penal , no

    caso concreto, adequada defesa do interesse da vtima.

    3)Na ponderao sobre o interesse da vtima deve atender-se, nomeadamente, ao que resultar

    da audio da criana, idade desta no momento da deciso, ao tempo decorrido desde a

    prtica dos factos, proximidade e tipo de relaes existentes entre a vtima e o arguido, s

    consequncias dos factos que perdurem para a vtima, sua situao socioeducativa e familiar

  • 8/10/2019 SUSPENSO PROVISRIA DO PROCESSO - DIRETIVA 1 DE 2014.pdf

    14/28

    PROCURADORIA-GERAL DA REPBLICA 14

    actual e ao desenvolvimento de procedimentos judiciais ou outros no mbito do direito dafamlia e crianas e decises que neles tenham sido proferidas.

    4) Com este objetivo, e o de definir as injunes e regras de conduta adequadas, devem o

    magistrado titular do inqurito e o magistrado que representa o Ministrio Pblico naqueles

    outros procedimentos estabelecer contacto pessoal tendo em vista a troca de informaes e a

    coerncia das intervenes.

    Captulo XII

    Revoga-se a Circular 6/2012, de 20.03.2012.

    Publique-se no Dirio da Repblica.

    Divulgue-se no SIMP (mdulosDocumentos hierrquicose Destaques) e nosite da PGR.

    Lisboa, 15 de janeiro de 2014

    A Procuradora-Geral da Repblica

    (Joana Marques Vidal)

  • 8/10/2019 SUSPENSO PROVISRIA DO PROCESSO - DIRETIVA 1 DE 2014.pdf

    15/28

    PROCURADORIA-GERAL DA REPBLICA

    NOTAS COMPLEMENTARES

    Seco I

    Or ientaes Gerais

    Captulo I

    mbito de aplicao da suspenso provisria do processo

    O programa que consta do Cdigo de Processo Penal de 1987, aprofundado nas suas

    sucessivas revises, estabelece uma clara distino entre o tratamento processual da pequena e

    mdia criminalidade, por um lado, e da criminalidade grave, por outro, baseada no

    entendimento de que so realidades claramente distintas quanto sua explicao

    criminolgica, ao grau de danosidade social e ao alarme colectivo que provocam. Na sua

    concretizao, diferencia os crimes punveis com pena de priso no superior a 5 anos

    daqueles cujo limite mximo da pena de priso excede esta medida, instituindo para aquelas

    formas processuais simplificadas que se dividem em solues de conflito e solues de

    consenso. A estas so-lhes apontadas quatro virtualidades essenciais: contribuem de forma

    decisiva para evitar o estrangulamento do sistema de aplicao da justia penal; imprimem

    maior celeridade resoluo dos conflitos; reduzem a estigmatizao social do arguido e

    intensificam a perspetiva da sua reinsero social; e permitem satisfazer mais adequadamente

    os interesses da vtima.

    A opo por uma das formas de tratamento do litgio penal no um ato

    discricionrio, pois as solues de conflito s devero ter lugar quando no se verifiquem os

    pressupostos legais de aplicao das solues de consenso. A redao do n1 do art 281

    resultante da reviso de 2007 do Cdigo de Processo Penal deixou claro, quanto suspenso

    provisria do processo, a obrigatoriedade da sua aplicao quando os respetivos pressupostos

  • 8/10/2019 SUSPENSO PROVISRIA DO PROCESSO - DIRETIVA 1 DE 2014.pdf

    16/28

    PROCURADORIA-GERAL DA REPBLICA 2

    estiverem reunidos, sendo responsabilidade do Ministrio Pblico dirigir o inqurito com esseobjetivo.

    A suspenso provisria aplicvel, em regra, aos crimes punveis com pena de priso

    no superior a 5 anos, mesmo nos casos de concurso de crimes desde que cada um dos que a

    integram no exceda esta previso legal de pena. Como j referido, um meio processual de

    tratamento da pequena e mdia criminalidade, que constituda pelo universo dos crimes

    punveis com pena de priso no superior a 5 anos.

    No aplicvel, salvo nas situaes expressamente previstas na lei, criminalidade

    grave. O disposto no n3 do art 16 do Cdigo de Processo Penal respeita repartio de

    competncia para julgamento entre tribunais em funo da medida da pena concretamente

    aplicvel no processo, mas no altera a distino qualitativa entre pequena e mdia

    criminalidade e criminalidade grave, que se reflete na medida da pena abstratamente aplicvel

    ao crime justificada por razes de proteo do bem jurdico.

    Captulo II

    A tramitao do inqurito

    Ao receber participao por crime a que seja aplicvel a suspenso provisria do

    processo, sempre que o inqurito deva prosseguir, deve a investigao ser orientada no

    sentido da possibilidade da sua concretizao. Para o que importa apurar desde logo se existealgum impedimento legal, concretamente se o arguido j foi condenado ou se lhe foi aplicada

    suspenso provisria por crime da mesma natureza. No existindo, deve garantir-se que as

    diligncias a efetuar visam apurar no s a existncia ou inexistncia de crime mas todas as

    circunstncias que permitam esclarecer a motivao, grau de culpa e consequncias do crime.

    Informao necessria no s verificao dos pressupostos do instituto como

    concretizao das suas concretas condies de aplicao. E que, caso este se mostre invivel,

    podem permitir a deduo de acusao em processo sumarssimo.

  • 8/10/2019 SUSPENSO PROVISRIA DO PROCESSO - DIRETIVA 1 DE 2014.pdf

    17/28

    PROCURADORIA-GERAL DA REPBLICA 3

    Quando o magistrado que dirige o inqurito, em face dos resultados deste, concluirpela viabilidade da suspenso provisria do processo, as diligncias junto do arguido e do

    ofendido/assistente tendo em vista a sua concretizao devem, em regra, ser por si realizadas,

    privilegiando o contacto pessoal, garantindo a adeso esclarecida dos sujeitos processuais e o

    efetivo cumprimento das finalidades de preveno com a aplicao do instituto. Admite-se

    que no tratamento de fenmenos de criminalidade de massa se possam delegar algumas destas

    diligncias, concretamente identificadas, em rgos de polcia criminal e adotar

    procedimentos de comunicao que no exijam o contacto pessoal, desde que se conclua que

    de tal forma ficam igualmente garantidas a adeso esclarecida dos sujeitos processuais e o

    cumprimento das finalidades preventivas do instituto.

    A concordncia do arguido e do assistente refere-se ao contedo concreto da

    suspenso provisria do processo aplicada no inqurito em que so sujeitos processuais. No

    crime de violncia domstica, o legislador f-la depender da iniciativa da vtima, mesmo

    quando no se constitui assistente, e da sua concordncia livre e esclarecida com as condies

    de aplicao ao caso concreto.

    Captulo III

    As injunes e regras de conduta

    O Ministrio Pblico, na construo das condies a que em cada caso fica sujeita a

    suspenso provisria do processo, ter de ter uma atitude de abertura anlise de propostasque lhe sejam apresentadas pelos sujeitos processuais e de dilogo tendo em vista potenciar a

    obteno de um acordo, respeitados os princpios da adequao, proporcionalidade e

    suficincia.

    A vtima que no se constituiu assistente, de cuja concordncia no depende a

    suspenso provisria, no deve ser excluda deste dilogo, impondo-se a sua audio tendo

    em vista, nomeadamente, quando se mostrarem pertinentes, assegurar a reparao de danos

    provocados pelo crime e a prestao de satisfao moral adequada.

  • 8/10/2019 SUSPENSO PROVISRIA DO PROCESSO - DIRETIVA 1 DE 2014.pdf

    18/28

    PROCURADORIA-GERAL DA REPBLICA 4

    As decises proferidas respeitaro os princpios da certeza e da determinao. As

    injunes e regras de conduta tero de ser fixadas com preciso e objetividade, pois a vagueza

    e ambiguidade na sua concretizao perturbam o acompanhamento e fiscalizao do plano de

    conduta, dificultam a avaliao e deciso sobre o seu cumprimento e enfraquecem as

    finalidades do instituto.

    No deve descurar-se, na suspenso provisria do processo, a recuperao de ativos,

    levando prtica o princpio de que o crime no compensa. Com esse desiderato,

    comprovando-se a obteno de vantagem patrimonial pelo arguido, deve este rep-la a ttulo

    de injuno. Se a reposio dever ser feita em numerrio, beneficiar as entidades previstas no

    artigo 17 n 1 da Lei n 45/2011, de 24 de junho, na proporo a fixada; se se tratar de bens

    mveis ou imveis, sero entregues ao Gabinete de Administrao de Bens do Instituto de

    Gesto Financeira e de Infra-Estruturas do Estado, desde que verificados os requisitos da sua

    interveno.

    A imposio ao arguido de uma determinada injuno pressupe a avaliao da sua

    exequibilidade no perodo fixado para a suspenso. Se esta depender da colaborao de

    entidade externa ou da disponibilidade de meios cuja mobilizao seja da responsabilidade da

    autoridade judiciria, o despacho a determinar a suspenso provisria do processo s dever

    ser proferido aps se encontrarem reunidas essas condies.

    Os programas elaborados pela Direo-Geral de Reinsero e Servios Prisionais

    (DGRSP) para serem aplicados no mbito da suspenso provisria do processo, atendendo s

    suas caratersticas e aos recursos disponveis, devero ser aplicados quando se verificarem

    especiais exigncias de preveno, tanto de ressocializao do arguido como de reparao.

    A prestao de servio de interesse pblico pode ocorrer fora do mbito do programa

    da DGRSP re-parar prestao de servio de interesse pblico, sendo beneficiria

  • 8/10/2019 SUSPENSO PROVISRIA DO PROCESSO - DIRETIVA 1 DE 2014.pdf

    19/28

    PROCURADORIA-GERAL DA REPBLICA 5

    entidade indicada pelo magistrado do Ministrio Pblico, que, contudo, ter de fazer intervir aDGRSP.

    Com vista seleo das entidades beneficirias de contribuies monetrias, a efetuar

    em concreto de acordo com os critrios enunciados e as exigncias legais respeitantes sua

    natureza jurdica, importa que os Procuradores Coordenadores, em articulao com os demais

    magistrados, diligenciem pela identificao das entidades ou instituies suscetveis de serem

    beneficirias, e pela divulgao, designadamente atravs do SIMP, das respetivas listas e

    posteriores atualizaes.

    Para que os arguidos que procedam entrega de quantia a ttulo de injuno no

    obtenham, por este facto, benefcio fiscal ilegtimo, declarando-a como donativo, o recibo

    comprovativo do pagamento a apresentar no processo ter de indicar expressamente que se

    trata de injuno aplicada em processo criminal.

    Captulo IV

    O despacho de aplicao da suspenso provisria do processo

    Recolhidos indcios suficientes da prtica do crime e do seu autor e obtida a

    concordncia expressa do arguido e do assistente, ou do ofendido no caso da violncia

    domstica, quanto s injunes e regras de conduta e durao da suspenso provisria do

    processo, proferido o despacho do Ministrio Pblico que a determina, cujo eficciadepende da manifestao de concordncia do juiz de instruo.

    No caso de crimes cujo procedimento criminal depende de acusao particular, a

    legitimidade do Ministrio Pblico para tomar a iniciativa de suspender provisoriamente o

    processo, ou do arguido e do assistente para a requererem, no depende da formulao

    daquela. Tendo-se diligenciado no sentido da possvel aplicao do instituto, s verificado o

    seu insucesso (ou posteriormente em caso de incumprimento) se cumprir a notificao do

    assistente nos termos do n1 do art 285CPP.

  • 8/10/2019 SUSPENSO PROVISRIA DO PROCESSO - DIRETIVA 1 DE 2014.pdf

    20/28

    PROCURADORIA-GERAL DA REPBLICA 6

    A concordncia do assistente dispensada quando estiver em causa a prtica de um crime defurto (art 203 CP) cujo procedimento criminal dependa de acusao particular e se enquadre

    na previso do n 9 do art 281 CPP (cf. n2 do art 207 CP).

    O despacho do Ministrio Pblico dever conter todos os elementos necessrios para

    que possa ser por si compreensvel, apresentando, de forma sinttica e em linguagem clara, a

    narrao dos factos e sua qualificao jurdico-penal, a justificao da verificao no caso

    concreto dos pressupostos de aplicao da suspenso provisria do processo, as obrigaes

    impostas ao arguido e respectiva durao.

    Captulo V

    O cumprimento das condies da suspenso provisria e o arquivamento do

    processo

    Podem ocorrer vicissitudes diversas no decurso da suspenso provisria, impondo-sedistinguir entre o incumprimento culposo das suas condies e que comprometa

    definitivamente a sua finalidade, conduzindo necessariamente aoprosseguimento do processo,

    e o incumprimento que decorre e se justifica com a superveniente alterao de condies

    relevantes ou que, atendendo s circunstncias e grau de importncia no plano de conduta

    imposto ao arguido, no prediz a frustrao dos objetivos do instituto no caso concreto, pelo

    que se deve procurar readapt-lo s novas condies.

    A concordncia do juiz de instruo tem de ser reafirmada, luz do n1 do art

    281CPP, quando a readaptao pelo Ministrio Pblico do plano de conduta implica a

    imposio de injunes e regras de conduta de diferente natureza, uma maior restrio de

    direitos do arguido ou quando o prolongamento do perodo de durao da suspenso excede o

    tempo estritamente necessrio ao cabal cumprimento de injuno j aplicada. Nos restantes

    casos, a concordncia j manifestada pelo juiz de instruo permanece como garantia

    suficiente da proteo dos direitos do arguido e da proporcionalidade das obrigaes que lhe

  • 8/10/2019 SUSPENSO PROVISRIA DO PROCESSO - DIRETIVA 1 DE 2014.pdf

    21/28

    PROCURADORIA-GERAL DA REPBLICA 7

    foram impostas. Tambm s naquelas situaes se coloca a necessidade de reafirmao daconcordncia do assistente.

    Na alnea b) do n4 do art 282CPP, sanciona-se com o prosseguimento do processo o

    arguido que, tendo beneficiado da aplicao da suspenso provisria do processo, no

    adequou o seu comportamento ao respeito pelo bem jurdico que j havia violado,

    demonstrando que o cumprimento das injunes e regras de conduta no se mostrou resposta

    suficiente s exigncias de preveno. Se no termo da durao da suspenso provisria se

    encontrar pendente processo por factos ocorridos nesse perodo em que se investiga crime da

    mesma natureza, aguardar-se- pelo seu desfecho para ento ser proferido despacho de

    arquivamento ou de prosseguimento dos autos, tendo em ateno o disposto no n 2 do art

    282CPP quanto prescrio do procedimento criminal.

    Captulo VI

    A suspenso provisria em processo sumrio

    Os magistrados do Ministrio Pblico devem privilegiar a utilizao da suspenso

    provisria do processo no tratamento da pequena e mdia criminalidade tambm nos casos em

    que se verificam os pressupostos do julgamento em processo sumrio. Para compatibilizar a

    realizao de diligncias e atos processuais necessrios sua concretizao com o prazo

    definido para o incio do eventual julgamento, h que imprimir celeridade recolha dos

    elementos relevantes para a opo pela suspenso provisria, nomeadamente transmitindo aosrgos de polcia criminal instrues no sentido de fazerem acompanhar o auto de notcia do

    mximo de informao que consigam recolher sobre a motivao e consequncias do crime,

    valor dos prejuzos provocados, vantagens obtidas e situao socioeconmica do arguido.

    na criminalidade de massa a que se aplica frequentemente o processo sumrio que maior

    pertinncia assume o recurso a procedimentos de comunicao que no exijam contacto

    pessoal, nomeadamente do magistrado do Ministrio Pblico titular do processo.

  • 8/10/2019 SUSPENSO PROVISRIA DO PROCESSO - DIRETIVA 1 DE 2014.pdf

    22/28

    PROCURADORIA-GERAL DA REPBLICA 8

    O registo dos autos em que o Ministrio Pblico aplicou a suspenso provisria doprocesso na fase preliminar do processo sumrio deve manter-se diferenciado do registo de

    inquritos atendendo s especificidades da sua tramitao previstas no art 384 CPP,

    nomeadamente o curto prazo fixado para o juiz de instruo se pronunciar e a possibilidade

    mais ampla de utilizao da forma abreviada em caso de prosseguimento do processo.

    Captulo VII

    Base de Dados da PGR sobre a suspenso provisria

    A atualizao da Base de Dados da Procuradoria-Geral da Repblica sobre a

    suspenso provisria do processo essencial para a verificao do pressuposto da sua

    aplicao que consta da alnea c) do n1 do art 281CPP ausncia de aplicao anterior de

    suspenso provisria do processo por crime da mesma natureza. Ao magistrado do

    Ministrio Pblico titular do processo em que oinstituto foi aplicado cabe a responsabilidade

    de assegurar que os registos so feitos na Base de Dados e que esta se mantm atualizada.

    Na fase de instruo, o magistrado do Ministrio Pblico que acompanhar o processo

    deve tomar a iniciativa de verificar a eventual existncia na Base de Dados de anterior

    suspenso, assim como de proceder inscrio de suspenso decretada e atualizao do

    respetivo registo, exceto se constatar que tais procedimentos so garantidos pelo juiz de

    instruo e seus servios de apoio.

    Seco II

    Orientaes Especficas

    Captulo VIII

    Crime de conduo de veculo em estado de embriaguez ou sob a influncia

    de estupefacientes ou substncias psicotrpicas

    (art 292 C.Penal)

  • 8/10/2019 SUSPENSO PROVISRIA DO PROCESSO - DIRETIVA 1 DE 2014.pdf

    23/28

    PROCURADORIA-GERAL DA REPBLICA 9

    O crime de conduo de veculo em estado de embriaguez ou sob a influncia de

    estupefacientes ou substncias psicotrpicas, p.p. pelo art. 292 do Cd. Penal, inserindo-se

    criminologicamente na denominada pequena criminalidade ou criminalidade rodoviria

    menos grave,poder revelar, pelas concretas circunstncias do seu cometimento, particular

    censurabilidade e gravidade. Na ponderao sobre a adequao da aplicao da suspenso

    provisria do processo a cada caso concreto e na fixao das injunes e regras de conduta,

    devem tomar-se em considerao, nomeadamente, a taxa de alcoolemia detetada ou asubstncia consumida, a categoria de veculo conduzido, as caratersticas dos passageiros, o

    tipo de carga transportada e as eventuais consequncias que tenham resultado para terceiros.

    O n 3 do art. 281 do CPP omisso quanto aos limites abstratos, mnimo e mximo,

    do tempo de durao da injuno de proibio de conduo de veculos com motor. O limite

    mximo abstrato da durao desta proibio ser naturalmente o tempo fixado para a durao

    da suspenso provisria; quanto ao limite mnimo, atendendo natureza do ilcito a que

    aplicvel a injuno e s exigncias de preveno que o legislador quis sublinhar ao

    determinar a obrigatoriedade da sua aplicao, no dever ser inferior ao disposto no n1 do

    art. 69 do Cd. Penal.

    A injuno de proibio de conduzir veculos com motortem como objetivo garantir,

    de forma reforada, a tutela do bem jurdico violadoe prevenir a prtica de factos da mesma

    natureza. A sua aplicao a arguido que no seja possuidor de ttulo de conduo tem ainda

    consequncias prticas vlidas, designadamente a de impedir a sua obteno face ao que se

    dispe no art. 126 do Cdigo da Estrada.

    A entrega do ttulo de conduo condio de controlo do cumprimento da injuno,

    independentemente da eventual fiscalizao que possa ser efetuada pelas entidades policiais.

    Define-se o prazo de 10 dias, a contar da notificao do despacho ao arguido, para a sua

    entrega nos servios do Ministrio Pblico, onde permanecer, por similitude com o que

    dispem o art. 69 n 3 do CP e os n 2 e 4 do art. 500 do CPP.

  • 8/10/2019 SUSPENSO PROVISRIA DO PROCESSO - DIRETIVA 1 DE 2014.pdf

    24/28

    PROCURADORIA-GERAL DA REPBLICA 10

    A coberto do n. 5 do artigo 281. do CPP, apesar de a matria no estar ainda regulada

    especificamente, deve comunicar-se a aplicao da injuno ao Instituto da Mobilidade e dos

    Transportes (IMT).

    Captulo IX

    Crime de conduo sem habilitao legal

    (art 3 do DL 2/98, de 3/19)

    A aplicao da injuno de inscrio em escola de conduo e frequncia de programa de

    aprendizagem tendo em vista a obteno de habilitao legal para conduzir mostra-se

    adequada aos casos em que se indicia que, embora no tenha condenao anterior por crime

    da mesma natureza, o arguido j ter praticado estes factos noutras ocasies ou, em face das

    circunstncias apuradas, se mostra condio necessria a que tal conduta no seja repetida.

    Captulo X

    Crime de Violncia Domstica

    Ao formular, livre e esclarecidamente, a sua vontade de que o processo seja suspenso,

    a vtima tem subjacentes motivaes eobjetivos que devero ser considerados na definio

    dasconcretas injunes e regras de conduta a aplicar ao arguido. A concretizao do plano de

    conduta imposto ao arguido dever ter a preocupao de conciliar a satisfao das exigncias

    de preveno com o respeito pela autonomia de vidada vtima.

    frequente a pendncia concomitante de processos de inqurito por crime de

    violncia domstica e de procedimentos na reada jurisdio de famlia e menores por factos

    relacionados com os que se investigam naqueles inquritos. Na deciso de suspenso

    provisria do processo essencial o conhecimento da existncia daqueles procedimentos e

    das decises e medidas neles tomadas, fundamentalmente para ponderao das concretas

  • 8/10/2019 SUSPENSO PROVISRIA DO PROCESSO - DIRETIVA 1 DE 2014.pdf

    25/28

    PROCURADORIA-GERAL DA REPBLICA 11

    regras de conduta ou injunes a aplicar. Para isso, ter de haver uma interveno coordenadae articulada entre os magistrados das duas reas, estabelecendo-se canais de comunicao

    pessoal e desburocratizada.

    A comunidade dispe de variadas instituies e redes de apoio dirigidas s vtimas,

    assim como interveno junto dos agressores, de violncia domstica, disponibilizando

    valncias de contedo til ponderao e execuo das injunes e regras de conduta a

    aplicar em sede de suspenso provisria do processo. Entidades e servios pblicos, pelas

    suas funes, assumem particular relevncia no mbito da investigao do crime de violncia

    domstica, bem como na preparao da deciso de suspenso provisria e na execuo das

    medidas que venham a ser aplicadas. Importa continuar a desenvolver e a aprofundar a

    articulao com estas instituies, entidades e servios, que tem vindo a ser implementada por

    diversos setores do Ministrio Pblico, para o que se considera fundamental o

    estabelecimento das necessrias parcerias e canais de comunicao, facilitadores da

    mobilizao dos recursos do Estado e da comunidade.

    Captulo XI

    Crimes contra a liberdade e autodeterminao sexual de menor

    no agravados pelo resultado

    O interesse da vtima condio da suspenso provisria do processo nos crimes

    contra a liberdade e autodeterminao sexual de menores no agravados pelo resultado; deveorientar a deciso e a definio das concretas injunes ou regras de conduta a que o arguido

    ficar sujeito.

    Sendo o interesse da vtima o principal objetivo a salvaguardar com a suspenso

    provisria do processo, a iniciativa do Ministrio Pblico, que aqui age na dupla funo de

    titular do exerccio da ao penal e de defensor do superior interesse da criana, dever ter,

    para se concretizar, a concordncia do assistente, seja o prprio menor de idade seja o seu

    representante legal quando aquele tiver idade inferior a 16 anos, que a pode requerer.

  • 8/10/2019 SUSPENSO PROVISRIA DO PROCESSO - DIRETIVA 1 DE 2014.pdf

    26/28

    1

    Anexo

    Programas e atividades estruturadas da Direo Geral de Reinsero e

    Servios Prisionais (DGRSP)

    IProgramas e atividades

    1- A Direo Geral de Reinsero e Servios Prisionais dispe de atividades

    estruturadas que visam a reparao simblica do dano provocado com o crime, cuja

    aplicao poder ser ponderada, luz do ponto 4. do captulo III da Diretiva,isolada ou

    conjuntamente com outras injunes ou regras de conduta que a situao concreta exija,

    ou como forma de cumprimento de injunes de cariz reparador ou reintegrador.

    Neste mbito a DGRSP disponibiliza as seguintes atividades:

    a) re.compensarprestaes econmicas

    Visa a reparao simblica do dano causado mediante a entrega de quantia

    pecuniria a uma instituio da comunidade. destinada a arguidos que tenham

    nvel scio-econmico compatvel e que se comprometam a fazer prova daentrega da quantia fixada no processo.

    A DGRSP tem disponvel e permanentemente atualizada uma listagem de

    entidades beneficirias, por zona geogrfica de interveno.

    b) re.parar - prestao de servio de interesse pbl icoatividade que visa a

    reparao simblica mediante a prestao de servio de interesse pblico em

    instituio da comunidade.

    Consiste na indicao pela DGRSP de uma entidade beneficiria do trabalho ena articulao com a mesma para monitorizao da execuo da injuno

    aplicada. A DGRSP remeter ao Ministrio Pblico relatrio de eventuais

    anomalias de incumprimento e relatrio final.

    c) impulso.social jovens adultos atividade destinada a jovens adultos sem

    atividade, que visa a frequncia de curso formativo ou a sua insero laboral, a

    comprovar no processo. A DGRSP proceder a uma entrevista inicial e

    articulao com o Instituto de Emprego e Formao Profissional e com asentidades empregadoras.

  • 8/10/2019 SUSPENSO PROVISRIA DO PROCESSO - DIRETIVA 1 DE 2014.pdf

    27/28

    2

    adio.sem - cr ime e adioAtividade que poder ser adequada a arguidos

    indiciados por crimes como por exemplo de furto, cuja prtica esteja relacionada

    com comportamentos aditivos de substncias estupefacientes, constituindo esses

    comportamentos um fator de risco de reincidncia.

    A atividade importa uma entrevista inicial e a articulao com os Servios de

    Interveno nos Comportamentos Aditivos e nas Dependncias (SICAD). O

    arguido deve fazer prova de consulta (s) e/ou tratamento no processo.

    2- A Direo Geral de Reinsero e Servios Prisionais disponibiliza uma atividade e

    um programa especialmente vocacionados e orientados para arguidos indiciados por

    crime de conduo de veculo em estado de embriaguez:

    a)Taxa Zero - Conduo sem lcool

    A atividade composta por uma entrevista inicial, sesso formativa de

    sensibilizao para uma conduo responsvel, com durao de 3 horas e um

    mximo de 12 arguidos por sesso, uma entrevista final e articulao com os rgos

    de polcia e, caso subsistam necessidades de reinsero social, articulao com os

    servios de sade responsveis. No final a DGRSP envia relatrio ao Ministrio

    Pblico.

    O perodo de suspenso no poder ser inferior a pelo menos 6 meses.

    Esta atividade no comporta custos para o arguido.

    b)Programa StopResponsabil idade e Segurana

    Destina-se a arguidos indiciados pela prtica de crime de conduo de veculo em

    estado de embriaguez em circunstncia de consumo de lcool nocivo ou de

    dependncia alcolica.

    Estrutura-se em atividades de acompanhamento do arguido, tratamento ao

    alcoolismo e realizao de dois cursos dirigidos ao tema: um ministrado pelaDGRSP (Conduo de Veculo em Estado de Embriaguez Estratgias de

    Preveno da Reincidncia) e o outro pela Preveno Rodoviria Portuguesa (Preveno e

    Segurana Rodoviria), cuja frequncia implica o pagamento antecipado do montante da

    ao).

    A sua durao de um ano, pelo que o perodo de suspenso do processo nunca dever ser

    inferior quele prazo.

    As atividades podero decorrer em grupo ou individualmente.

    Os cursos so ministrados em perodo normal de funcionamento do servio.

  • 8/10/2019 SUSPENSO PROVISRIA DO PROCESSO - DIRETIVA 1 DE 2014.pdf

    28/28

    3 - Especialmente destinado a arguidos indiciados por crime de conduo sem

    habilitao legal,sobretudo para jovens infratores e para arguidos estrangeiros (com razovel

    domnio da lngua portuguesa) a Direo-Geral de Reinsero e Servios Prisionais

    disponibiliza a atividade L icena.com conduo habi l i tada.

    Estrutura-se numa entrevista inicial, sesso formativa de sensibilizao para uma

    conduo responsvel, com a durao de 3 horas e um mximo de 12 arguidos por

    sesso e articulao com os rgos de polcia. No caso de aplicao da sua frequncia, a

    suspenso provisria do processo dever ter, no mnimo, uma durao de 6 meses.

    No final, a DGRSP remete relatrio final ao Ministrio Pblico.

    A atividadeno comporta custos para o arguido.

    4 - Dirigido ao fenmeno da violncia domstica, e cuja aplicao se mostra tambm

    adequada no domnio da suspenso provisria do processo, a Direo-Geral de

    Reinsero e Servios Prisionais tem disponvel o Programa para Agr essores de

    Violncia Domstica (PAVD) .

    Destinado a agressores de violncia domstica, sem qualquer custo para o arguido,

    uma interveno com a durao de 18 meses. Contempla a aplicao de um conjunto de

    sesses de grupo, de contedo psico-educacional que visa a aquisio de competncias e

    a mudana de atitudes e de comportamentos. Para a integrao no PAVD necessria

    avaliao prvia pela DGRSP, feita em sede de Relatrio Social, com a aplicao de um

    instrumento de avaliao do risco de violncia conjugalSARA (Spousal Assault Risk

    Assessment). Na medida em que depende da constituio de um grupo, a colocao

    pode implicar tempo de espera.

    IIArticulaoNa aplicao destas atividades e programas deve ter-se em considerao o disposto no

    ponto 10. do Captulo III da Diretiva.

    Previamente deciso deve estabelecer-se articulao com a DGRSP para aferio da

    integrao da concreta situao nos critrios tcnicos definidos para cada programa ou

    atividade, da existncia de condies de colocao e do momento em que a mesma

    poder ter lugar. Para tanto, o magistrado do Ministrio Pblico disponibilizar os

    elementos processuais adequados avaliao da situao.