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Supremo Tribunal Federal 18072014 1659 0031976

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MINISTEacuteRIO PuacuteBLICO FEDERAL

Procuradoria-Geral da Repuacuteblica

Nordm 34992014-As]ConstSA]PGR

Accedilatildeo direta de inconstitucionalidade 3270 Relator Ministro Celso de Mello Requerente Confederaccedilatildeo Nacional do Comeacutercio (CNC) Requeridos Presidente da Repuacuteblica Congresso Nacional

Secretaacuterio da Receita Federal Secretaacuterios da Fazenda Financcedilas ou Tributaccedilatildeo do Distrito Federal e de todos os Estados da Federaccedilatildeo

Accedilatildeo direta de inconstitucionalidade Arts 61 caput e sect 2ordm 62 caput e paraacutegrafo uacutenico e 63 da Lei 9532 de 10 de deshyzembro de 1997 e Convecircnio ECF 1 de 25 de fevereiro de 1998 que preveem uso obrigatoacuterio do equipamento emisshysor de cupom fiscal (ECF) em todas as operaccedilotildees com mershycadorias ou prestaccedilatildeo de serviccedilos inclusive mediante uso de cartotildees de creacutedito e deacutebito Preliminares 1) Legitimidade ativa e Pertinecircncia Temaacutetica 2) Ausecircncia de aditamento da inicial em face de alteraccedilotildees posteriores natildeo comprometishymento da essecircncia das normas impugnadas Meacuterito 1) Obrigaccedilatildeo acessoacuteria de emitir documentos fiscais por meio eletrocircnico temaacutetica natildeo reservada agrave lei complementar (art 146111 b da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica) 2) Obrigaccedilatildeo acessoacuteria concernente a tributos federais competecircncia leshygislativa da Uniatildeo 3) Possibilidade de regulamentaccedilatildeo de obrigaccedilatildeo acessoacuteria em convecircnio de cooperaccedilatildeo 4) Princiacuteshypio da proporciona1idade atendimento aos criteacuterios de adeshyquaccedilatildeo e necessidade 5) Direito agrave intimidade e agrave privacidade (art 5ordm X e XII da CR) Ausecircncia de violaccedilatildeo Parecer pelo conhecimento da accedilatildeo e no meacuterito pela imshyprocedecircncia do peruy

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I RELATOacuteRIO

Trata-se de accedilatildeo direta de inconstitucionalidade com pedido

de medida cautelar proposta pela CONFEDERACcedilAtildeO NACIONAL DO

COMEacuteRCIO (CNC) contra os arts 61 caput e sect 2ordm 62 caput e paraacuteshy

grafo uacutenico e 63 da Lei 9532 de 10 de dezembro de 1997 e

contra o Convecircnio ECF 1 de 25 de fevereiro de 19981 Eis o teor

dos dispositivos

Lei 9532 de 10 de dezembro de 1997

Art 61 As empresas que exercem a atividade de venda ou revenda de bens a varejo e as empresas prestadoras de servishyccedilos estatildeo obrigadas ao uso de equipamento Emissor de Cushypom Fiscal - ECE

sect P Para efeito de comprovaccedilatildeo de custos e despesas operashycionais no acircmbito da legislaccedilatildeo do imposto de renda e da contribuiccedilatildeo social sobre o lucro liacutequido os documentos emitidos pelo ECF devem conter em relaccedilatildeo agrave pessoa fiacutesica ou juriacutedica compradora no miacutenimo

a) a sua identificaccedilatildeo mediante a indicaccedilatildeo do nuacutemero de inscriccedilatildeo no Cadastro de Pessoas Fiacutesicas - CPF se pessoa fiacute shysica ou no Cadastro Geral de Contribuintes - CGC se pesshysoa juriacutedica ambos do Ministeacuterio da Fazenda

b) a descriccedilatildeo dos bens ou serviccedilos objeto da operaccedilatildeo ainda que resumida ou por coacutedigos

c) a data e o valor da operaccedilatildeo

sect 2Q Qualquer outro meio de emissatildeo de nota fiscal inclushybull

sive o manual somente poderaacute ser utilizado com autorizaccedilatildeo especiacutefica da unidade da Secretaria de Estado da Fazenda com jurisdiccedilatildeo sobre o domiciacutelio fiscal da empresa interesshy p sada

1 Disponiacutevel em lt httpbitly convecn gt ou lt htmwwwlfazendagovbr confazConfazConveniosECF1998C VECFOOl 98htm gt acesso em 17 jul 2014

2

PGR Accedilatildeo direta de inconstitucionalidade 3270DF

Art 62 A utilizaccedilatildeo no recinto de atendimento ao puacuteblico de equipamento que possibilite o registro ou o processashymento de dados relativos a operaccedilotildees com mercadorias ou com a prestaccedilatildeo de serviccedilos somente seraacute admitida quando estiver autorizada pela unidade da Secretaria de Estado da Fazenda com jurisdiccedilatildeo sobre o domiciacutelio fiscal da empresa a integrar o ECE

Paraacutegrafo uacutenico O equipamento em uso sem a autorizaccedilatildeo a que se refere o caput ou que natildeo satisfaccedila os requisitos desta poderaacute ser apreendido pela Secretaria da Receita Feshyderal ou pela Secretaria de Fazenda da Unidade Federada e utilizado como prova de qualquer infraccedilatildeo agrave legislaccedilatildeo tribushytaacuteria decorrente de seu uso (Redaccedilatildeo original anterior agrave Lei nl 11941 de 27 de maio de 2009 )

Art 63 O disposto nos arts 61 e 62 observaraacute convecircnio a ser celebrado entre a Uniatildeo representada pela Secretaria da Receita Federal e as Unidades Federadas representadas no Conselho de Poliacutetica Fazendaacuteria - CONFAZ pelas respectishyvas Secretarias de Fazenda

Convecircnio ECF 1 de 25 de fevereiro de 1998 (redaccedilatildeo origishynal)

Claacuteusula primeira Os estabelecimentos que exerccedilam a ativishydade de venda ou revenda de mercadorias ou bens ou de prestaccedilatildeo de serviccedilos em que o adquirente ou tomador seja pessoa llsica ou juriacutedica natildeo contribuinte do imposto estashydual estatildeo obrigados ao uso de equipamento emissor de Cupom Fiscal - ECE

[ ] sect 5ordm Somente seraacute permitida a emissatildeo de documento fiscal por qualquer outro meio inclusive o manual por razotildees de forccedila maior ou caso fortuito tais como falta de energia eleacuteshytrica quebra ou furto do equipamento e nas condiccedilotildees preshyvistas no Convecircnio SINIEF SNl de 15 de dezembro de 1970 devendo o usuaacuterio anotar o motivo no livro Registro de Utilizaccedilatildeo de Documentos Fiscais e Termos de Ocorrecircnshycia (RUDFTO) modelo 6

Claacuteusula terceira A utilizaccedilatildeo no recinto de atendimento ao puacuteblico de equipamento que possibilite o registro ou o proshycessamento de dados relativos a operaccedilotildees com mercav

3


ou com a prestaccedilatildeo de serviccedilos somente seraacute admitida quando integrar o ECF de acordo com autorizaccedilatildeo conceshydida pela reparticcedilatildeo fiscal a que estiver vinculado o estabeleshycimento

Paraacutegrafo uacutenico O equipamento em uso sem a autorizaccedilatildeo a que se refere o caput ou que natildeo satisfaccedila os requisitos desta poderaacute ser apreendido pela Secretaria da Receita Feshyderal ou pela Secretaria de Fazenda Financcedilas ou Tributaccedilatildeo das unidades federadas e utilizado como prova de infraccedilatildeo agrave legislaccedilatildeo tributaacuteria

Claacuteusula quarta A partir do uso de ECF pelas empresas a que se refere a claacuteusula primeira a emissatildeo do comprovante de pagamento de operaccedilatildeo ou prestaccedilatildeo efetuado com carshytatildeo de creacutedito ou deacutebito automaacutetico em conta corrente soshymente poderaacute ser feita por meio de ECF devendo o comprovante estar vinculado ao documento fiscal emitido na operaccedilatildeo ou prestaccedilatildeo respectiva conforme disposto na legislaccedilatildeo pertinente

Claacuteusula quinta A partir de 12 de maio de 1999 a utilizaccedilatildeo por empresa natildeo obrigada ao uso de ECF de equipamento eletrocircnico ou natildeo destinado ao registro de operaccedilatildeo finanshyceira com cartatildeo de creacutedito ou equivalente conforme disshyposto na legislaccedilatildeo pertinente somente seraacute permitida se constar no anverso do respectivo comprovante

I - o tipo e o nuacutemero do documento fiscal vinculado agrave opeshyraccedilatildeo ou prestaccedilatildeo seguido se for o caso do nuacutemero seshyquumlencial do equipamento no estabelecimento devendo o tipo do documento fiscal emitido ser indicado por

a) CF para Cupom Fiscal

b) Bp para Bilhete de Passagem

c) NF para Nota Fiscal

d) NC para Nota Fiscal de Venda a Consumidor

11 - a expressatildeo Exija o Documento Fiscal de Nuacutemero Inshydicado Neste Comprovante impressa em caixa alta tiposhygraficamente ou no momento da emissatildeo do comprovante

sect uacutenico O disposto no caput aplicar-se-aacute tambeacutem ao usuaacuteshyrio de equipamento do tipo maacutequina registradora (MR) disciplinado no Convecircnio ICM 2486 de 17 de junho de 1986 e ao usuaacuterio de ECF do tipo n1aacutequina registradora (ECF-MR) sem capacidade de comunicaccedilatildeo a compp

4


e de emissatildeo do respectivo comprovante ateacute a substituiccedilatildeo destes por ECF com essa capacidade

Preliminarmente aduz ter legitimidade ativa para o aJUIzashy

mento da accedilatildeo por ser entidade sindical do grau maacuteximo nos tershy

mos do art 535 da Consolidaccedilatildeo das Leis do Trabalho com

registro no Ministeacuterio do Trabalho condiccedilatildeo reconhecida nas

ADIs 21632435 1763 entre outras

No que se refere agrave pertinecircncia temaacutetica assevera haver liame

entre sua finalidade institucional e o objeto da accedilatildeo a qual tem

por objetivo o reconhecimento da inconstitucionalidade de disposhy

siccedilotildees da legislaccedilatildeo acima apontada que de iniacutecio pretenderam esshy

tabelecer para todo o setor representado pela requerente a

obrigaccedilatildeo de emissatildeo de seus documentos fiscais por meio de

equipamento designado Emissor de Cupom Fiscal (ECF) que

pode ser definido como um equipamento eletrocircnico acoplado a

maacutequinas ou computadores das empresas destinado a fazer com

que toda e qualquer fatura ou registro de operaccedilatildeo mercantil fique

automaacutetica e eletronicamente vinculada ao documento fiscal emishy

tido na mesma operaccedilatildeo (fi 4)

Alega que as providecircncias exigidas pelas normas impugnadas

se mostraram extremamente onerosas e de dificil implementaccedilatildeo

pelas empresas e criaram a necessidade de produccedilatildeo de novos proshy

gramas de computador (scifiwares) e sua contiacutenua atualizaccedilatildeo cujos

custos acabam sendo repassados para os empresaacuterios e para os conshy

sumidores em gera]

5

Informa que o Convecircnio 11998 foi sucessivamente prorroshy

gado por mais de vinte convecircnios ateacute o uacuteltimo deles ICMS-ECF

12004 sem sofrer alteraccedilotildees substanciais

Afirma a autora que

(I) os arts 61 caput e sect 2ordm 62 caput e paraacutegrafo uacutenico da Lei

95321997 afrontam os arts l Q 18 5Q

11 37150 I e 151 IlI 155

lI e 156 IlI da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica por entender que soshy

mente o titular da competecircncia tributaacuteria outorgada constitucioshy

nalmente pode editar a lei respectiva que discipline os elementos

essenciais da obrigaccedilatildeo tributaacuteria acredita que a lei ao instituir

obrigaccedilatildeo tributaacuteria acessoacuteria na esfera de competecircncia tributaacuteria

dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios representa ingeshy

recircncia da Uniatildeo no campo reservado a outras pessoas poliacuteticas

(lI) os arts 61 62 e 63 da Lei 95321997 e o Convecircnio ECF

11998 e suas alteraccedilotildees violam o art 146 IlI aliacutenea b da Carta da

Repuacuteblica pois cabe agrave lei complementar de caraacuteter nacional disshy

por normas gerais em mateacuteria de legislaccedilagraveo tributaacuteria a fim de reshy

velar o alcance dos termos constitucionais conclui que a

harmonizaccedilatildeo de normas relativas agrave obrigaccedilatildeo tributaacuteria do ICMS

nagraveo pode ser veiculada por lei federal nem por convecircnio mas soacute

por lei complementar

(m) o Convecircnio ECF 11998 e suas alteraccedilotildees ofendem os arts

5ordm lI 37 150 I 84 IV 155 sect 2ordm g da Carta Poliacutetica uma vez que

somente a lei em sentido formal e material pode inovar a ordem

juriacutedica pois convecircnios tecircm alcance restrito e podem regular apeshy

6

-PGR Accedilatildeo direta de inconstitucionalidade 3J70DF

nas concessatildeo e revogaccedilatildeo de isenccedilotildees incentivos e beneficios fisshy

cais aleacutem disso compete ao Presidente da Repuacuteblica regulamentar

leis federais

(IV) os dispositivos impugnados contrariam o princiacutepio da proshy

porcionalidade (art 5l1 LlV da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica) pois

seria desarrazoada a imposiccedilatildeo de ocircnus excessivo ao contribuinte

uma vez que lhe incumbe todo o ocircnus de instalaccedilatildeo do aparato

tecnoloacutegico para cumprimento da norma

(V) o art 61 sect 1ll da Lei 95321997 e o Convecircnio 11998

afiontam o direito agrave intimidade e agrave privacidade (art 5deg X e XII da

Constituiccedilatildeo da RepuacutebJica) o art 145 sect 1-ordm da mesma Carta e o

princiacutepio da isonomia (art 5deg caput e inciso I e 37 caput da CF)

pois o intento da Uniatildeo ao editar as normas impugnadas teria

sido obter acesso a informaccedilotildees relativas a pessoas fisicas essa preshy

tensatildeo fere o direito agrave intimidade dos consumidores que optem

por pagar suas compras com cartatildeo de creacutedito

Requer medida cautelar para suspender liminarnlente a efishy

caacutecia dos dispositivos impugnados os quais embora em vigor haacute

mais de seis anos somente ganharam eficaacutecia com a ediccedilatildeo de leis

estaduais e com sucessivas prorrogaccedilotildees do Convecircnio 11998

A relatoria solicitou informaccedilotildees aos requeridos e manifestashy

ccedilatildeo do Advogado-Geral da Uniatildeo e da Procuradoria-Geral da Reshy

puacuteblica

Suscita a Advocacia-Geral da Uniatildeo (fls 272-285) a constitushy

cionalidade das normas impugnadas por entender que natildeo causashy

7

ram invasatildeo de competecircncia legislativa estadual e natildeo se inseriram

entre os temas reservados agrave lei complementar Afastou a alegada

ofensa aos princiacutepios da proporcionalidade e agrave intimidade dos

contribuintes

Haacute informaccedilotildees da Secretaria da Receita Federal (fls 315shy

321) e da Secretaria da Fazenda dos Estados da Bahia (fls 297shy

313) do Rio Grande do Sul (fls 345-389) de Pernambuco (fls

392-410) de Mato Grosso (fls 479-497) do Rio Grande do Sul

(fls 542-586) do Amazonas (fls 588-614) do Paraacute (fls 671-676)

do Rio de Janeiro (fls 698-703) de Sergipe (fls 705-715) de Alashy

goas (fls 749-767) do Tocantins (fls 831-854) de Rondocircnia (fls

1188-1221) do Maranhatildeo (fls 1223-1242) do Amapaacute (fls

1247-1280) do Piauiacute (fls 1314-1335) do Maranhatildeo (fls 1337shy

1356) do Mato Grosso do Sul (fls 1395-1427) de Santa Catashy

rina (fls 1479-1486) de Goiaacutes (fls 1494-1496) de Roraima (fls

1511-1525) do Rio Grande do Norte (fls 1562-1566) e do

Cearaacute (fls 1580-1586) todas no sentido da improcedecircncia do peshy

dido

Jaacute as informaccedilotildees da Secretaria da Fazenda dos Estados do

Paranaacute (fls 412-437) do Acre (fls 500-538) da Paraiacuteba (fls 809shy

825) e de Minas Gerais (fls 1303-1312) posicionaram-se pelo

natildeo conhecimento da accedilatildeo e no meacuterito pela improcedecircncia do

pedido As duas uacuteltimas sustentam natildeo haver pertinecircncia temaacutetica

pois os interesses defendidos na accedilatildeo relacionados ao princiacutepio feshy

derativo e ao direito agrave intimidade dos consumidores natildeo teriam

relaccedilatildeo com os fins estatutaacuterios da autora

8

middot

As informaccedilotildees da Secretaria da Fazenda do Estado do Espiacuteshy

rito Santo (fls 441-467) defendem a extinccedilatildeo parcial do feito no

meacuterito a improcedecircncia do pedido

As informaccedilotildees do Congresso Nacional (fls 679-696) sustenshy

tam improcedecircncia do pedido e acrescentam que convecircnios poshy

dem ser utilizados para outros fins que natildeo aqueles indicados

restritivamente pela autora Aleacutem disso o Convecircnio ECF 11998

natildeo inovou a ordem juriacutedica pois tatildeo somente disciplinou o jaacute

previsto na Lei 95321997 Referido convecircnio ao mencionar

operaccedilotildees com cartatildeo de creacutedito e deacutebito entre as obrigadas agrave

emissatildeo do comprovante por meio de ECF natildeo trouxe nada de

novo uma vez que toda e qualquer operaccedilatildeo negocial deveraacute ser

feita com o uso do ECF (fl 692)

Manifestaccedilatildeo do Advogado-Geral da Uniatildeo (fls 1594-1616)

aduz preliminarmente que o art 62 paraacutegrafo uacutenico da Lei

95321997 e o Convecircnio ECF 11998 foram alterados apoacutes o

ajuizamento da accedilatildeo Quanto a esses dispositivos natildeo tendo havido

aditamento agrave inicial a accedilatildeo natildeo merece conhecimento No meacuterito

afirma que

(I) a quantificaccedilatildeo de receitas e despesas das pessoas juriacutedicas

mediante emissatildeo de cupom fiscal natildeo constitui meio de comproshy

vaccedilatildeo apenas de operaccedilotildees relativas ao ICMS e ao ISS mas de vaacuteshy

rios outros tributos como a contribuiccedilatildeo para financiamento da

Seguridade Social (COFINS) e o Programa de Integraccedilatildeo Social

(PIS) da mesma forma ao estabelecer quais dados os cupons fiscais

9

J

devem conter o art 63 da Lei 95321997 visou a comprovaccedilatildeo

de custos e despesas operacionais para fins de incidecircncia da legislashy

ccedilatildeo do imposto de renda e da contribuiccedilatildeo social sobre o lucro liacute shy

quido (CSLL) o cumprimento da obrigaccedilatildeo acessoacuteria interessa

tanto agrave Uniatildeo quanto aos Estados ao Distrito Federal e aos Munishy

ciacutepios e por esse motivo se estabeleceu a necessidade de celebraccedilatildeo

de convecircnios a fim de harmonizar a legislaccedilatildeo

(rr) o art 146 IlI aliacutenea b da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica natildeo foi

contrariado pois as normas impugnadas nagraveo se inserem no conshy

ceito de normas gerais tributaacuterias uma vez que dispotildeem sobre o

modo de apuraccedilatildeo do creacutedito tributaacuterio (fi 1610) tampouco o

Convecircnio ECF 11998 promoveu inovaccedilotildees na disciplina de

emissatildeo de cupons fiscais a ponto de violar o princiacutepio da legalishy

dade e a competecircncia do Presidente da Repuacuteblica para regulashy

mentar leis federais (art 84 IV da CR)

(rrr) o princiacutepio da proporcionalidade exige afericcedilatildeo da necessishy

dade e da adequaccedilatildeo entre o ocircnus imposto e os fins perseguidos

no caso o objetivo das normas foi evitar sonegaccedilatildeo de receitas aushy

feridas nas operaccedilotildees com cartatildeo de creacutedito e deacutebito por outro

lado diante da constataccedilatildeo de que a praacutetica de emissagraveo eletrocircnica

do cupom fiscal estaacute incorporada agrave rotina dos contribuintes natildeo

procede a alegaccedilatildeo de que os custos dos equipamentos satildeo elevashy

diacutessimos e que mitigariam os pagamentos realizados com cartatildeo

(IV) o acesso a informaccedilotildees de contribuintes pela Receita Federal

notadamente as operaccedilotildees com cartatildeo de creacutedito natildeo viola a inti shy

10

shy


midade e a privacidade dos consumidores pois o sigilo bancaacuterio

foi flexibilizado na Lei Complementar 105 de 10 de janeiro de

2001 que permite agrave administraccedilatildeo tributaacuteria requisitar informashy

ccedilotildees sobre o contribuinte a pessoas nsicas e juriacutedicas a fim de dar

efetividade aos princiacutepios da pessoalidade e da capacidade contri shy

butiva consoante o art 145 sect 1ordm da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica

haveria ofensa agrave intimidade dos consumidores se as normas permishy

tissem a divulgaccedilatildeo dessas informaccedilotildees o que natildeo eacute o caso

Conclui no sentido do conhecimento parcial da accedilatildeo e no

meacuterito pela improcedecircncia do pedido

Adotou-se o rito do art 12 da Lei 9868 de 10 de novembro

de 1999 (n 156) O pedido de medida cautelar natildeo foi apreciado

Eacute o relatoacuterio

II PRELIMINARES

IIl LEGITIMIDADE ATIVA E PERTINEcircNCIA TEMAacuteTICA

A legitimidade ativa da Confederaccedilatildeo Nacional do Comeacutercio

(CNC) para propositura de accedilotildees diretas tem sido amplamente reshy

conhecida pelo Supremo Tribunal Federal desde que atendido o

requisito da pertinecircncia temaacutetica 2 Esta nada mais eacute do que a legishy

timidade manifestada de modo especial no processo objetivo exi shy

2 Entre outros STE Plenaacuterio ADI 4033DF Relator Ministro JOAQUIM

BARBOSA 15912010 maioria Diaacuterio da justiccedila eletrocircnico4 fev 2011 p 1 STE Plenaacuterio ADI 3691MA ReI Min GrLMAR MENDES 29812007 maioria Dje 8 maio 2008 p 87

11


gindo certo viacutenculo de afinidade entre o objeto da accedilatildeo e os inshy

teresses defendidos pela entidade requerente 3

o estatuto social da CNC em seu artigo 1 ordm sect 1ordm conteacutem a

previsatildeo de caber agrave entidade I - representar no plano nacional os

direitos e interesses do comeacutercio brasileiro (Constituiccedilatildeo Federal

art 8ordm III) [ ] VII - a defesa na condiccedilatildeo de postulado filosoacutefico

do direito de propriedade da livre iniciativa da economia de mershy

cado e do Estado Democraacutetico de Direito VIII - a defesa dos

princiacutepios de liberdade para exercer o comeacutercio lealdade na conshy

correcircncia e eacutetica no desempenho da atividade profissional (doe 3

fls 34-35)

As normas objeto dessa accedilao no entender da autora ferem

interesses de seus associados ao impor ocircnus excessivo aos comercishy

antes os quais deveratildeo arcar com o aparato tecnoloacutegico para imshy

plantaccedilatildeo de equipamentos para emissatildeo eletrocircnica de cupons

fiscais (aparelho emissor de cupom fiscal - ECF) Independenteshy

mente da comprovaccedilatildeo de haver severos ocircnus impostos a seus asshy

sociados a alegaccedilatildeo central tem estreito liame com os fins

institucionais da autora constituiacuteda com a finalidade de defender

direitos e interesses dos comerciantes a liberdade de comeacutercio e a

livre iniciativa

Satisfaz-se portanto o requisito da pertinecircncia temaacutetica ~

3 DIDIER JUacuteNIOR Fredie BRAGA Paula Sarno OLIVEIRA Rafael Aspectos processuais da ADln (accedilatildeo direta de inconstitucionalidade) e da ADC (accedilatildeo declaratoacuteria de constitucionalidade) DIDIER JUacuteNIOR Freshydie (organizador) Accedilotildees constitucionais 4 ed Salvador JusPodivrn 2009 p 434

12

shy

II2AusEcircNCIA DE ADITAMENTO DA INICIAL ANTE

ALTERACcedilOtildeES DAS NORMAS IMPUGNADAS

A manifestaccedilatildeo do Advogado-Geral da Uniatildeo postula prelishy

minarmente o conhecimento parcial da accedilatildeo em virtude da aushy

secircncia de aditamento agrave inicial apesar de ter havido mudanccedila da

redaccedilatildeo original da norma impugnada apoacutes ajuizamento da accedilatildeo

De fato o dispositivo do art 62 paraacutegrafo uacutenico da Lei

9532 de 10 dezembro de 1997 sofreu alteraccedilatildeo com o advento da

Lei 11941 de 27 de maio de 2009 e passou a vigorar com o seshy

guinte teor

Art 62 [ ]

Paraacutegrafo uacutenico O equipamento em uso sem a autorizaccedilatildeo a que se refere o caput deste artigo ou que natildeo satisfaccedila os requisitos deste artigo poderaacute ser apreendido pela Secretaria da Receita Federal do Brasil ou pela Secretaria de Fazenda da Unidade Federada e utilizado como prova de qualquer infraccedilatildeo agrave legislaccedilagraveo tributaacuteria decorrente de seu uso

Da anaacutelise do dispositivo originalmente impugnado e da

norma posterior acima transcrita verifica-se natildeo ter havido modishy

ficaccedilatildeo substancial de conteuacutedo Do mesmo modo o Convecircnio

ECF 11998 natildeo foi significamente modificado pelos que o suceshy

deram

A jurisprudecircncia do Supremo Tribunal Federal considerava

imprescindiacutevel aditamento agrave inicial mesmo quando a lei superveshy

niente natildeo houvesse promovido modificaccedilatildeo significativa no conshy

~

13


teuacutedo da norma anterior 4 Todavia no julgamento da ADI

4125TO relatora a Ministra CAacuteRMEN LUacuteCIA esse posicionamento

foi modificado e passou a considerar-se natildeo haver prejudicialidade

da accedilatildeo direta de inconstitucionalidade mesmo ausente aditashy

mento agrave inicial se a modificaccedilatildeo legislativa natildeo gerou comproshy

metimento da essecircncia da norma impugnada 5

No caso a ausecircncia de aditamento natildeo prejudica a accedilatildeo pois

haacute identidade de conteuacutedo entre as normas inicialmente impugnashy

das e a redaccedilatildeo atual Caso Vossa Excelecircncia repute necessaacuterio o

aditamento poderaacute fazer intimar a autora para esse fim

111 MEacuteRITO

III 1 OBRIGACcedilAtildeO ACESSOacuteRIA DE EMITIR DOCUMENTOS

FISCAIS POR MElO ELETROacuteNICO

TEMAacuteTICA NAtildeo RESERVADA A COMPLEMENTAR

A accedilatildeo direta de inconstitucionalidade postula declaraccedilatildeo de

nulidade dos arts 61 caput e sect 262 caput e paraacutegrafo uacutenico e 63

da Lei 9532 de 10 de dezembro de 1997 e do Convecircnio ECF 1

de 25 de fevereiro de 19986 os quais impotildeem agraves empresas de

venda ou revenda a varejo e agraves empresas prestadoras de serviccedilos a

obrigaccedilatildeo acessoacutera de emissatildeo de documentos fiscais por meio d

4 STE PlenaacuterioADI 1922DE ReI MinJoAQUIM BARBOSA 28312007 uno DJe 18 maio 2007p 64

5 STE Plenaacuterio ADI 4125To ReI Min CAacuteRMEN LUacuteCIA 1062010 uno DJe 15 fev 2011 p 68

6 Vide nota 1

14

ti


equipamento designado emissor de cupom fiscal (ECF) relativashy

mente a todas as operaccedilotildees com mercadorias ou prestaccedilatildeo de sershy

viccedilos inclusive mediante utilizaccedilatildeo de cartotildees de creacutedito e deacutebito

Discute-se a possibilidade de a exigecircncia ser veiculada por 1ei

federal pois no entender da autora deveria secirc-lo por lei compleshy

mentar ou pelos entes federados mediante lei estadual ou municishy

pal conforme o caso

No plano nacional a Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica reservou agrave

lei complementar dispor sobre normas gerais em mateacuteria de legisshy

laccedilatildeo tributaacuteria especialmente sobre obrigaccedilatildeo lanccedilamento creacuteshy

dito prescriccedilatildeo e decadecircncia tributaacuterios (art 146 IlI b da CR)

Veja-se o comentaacuterio de SACHA CALMON NAVARRO COEacuteLHO sobre a

importacircncia da lei complementar na articu1accedilatildeo e uniformizaccedilatildeo

das ordens juriacutedicas parciais

[] as normas gerais de direito tributaacuterio veiculadas pelas leis complementares satildeo eficazes em todo territoacuterio nacional acompanhando o acircmbito de validade espacial destas e se enshydereccedilam aos legisladores das trecircs ordens de governo da fedeshyraccedilatildeo em verdade seus destinataacuterios A norma geral articula o sistema tributaacuterio da Constituiccedilatildeo agraves legislaccedilotildees fiscais das pessoas poliacuteticas (ordens juriacutedicas parciais) Satildeo normas sobre como fazer normas em sede de tributaccedilatildeo 7

No julgamento do recurso extraordinaacuterio 562276PR-RG8

a relat~ra Ministra EllEN GRACIE entendeu caber agrave lei comple-~

7 COELHO Sacha Calmon Navarro Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo de 1988 sisshytema tributaacuterio 6 ed Rio de Janeiro Forense 1996 p 132

8 STF Plenaacuterio RE 562276PR-RG ReI Min ELLEN GRACIE 31112010 uno Dje 10 fev 2011 Revista dos Tribunais v 100 n 907 2011 p 428-442

15

middot shyPGR Accedilatildeo direta de inconstitucionalidade 3270DF

mentar assegurar uniformidade de tratamento dos terceiros peshy

rante o Fisco nas diversas esferas federal estadual distrital ou mushy

nicipal

Em outras palavras o que caracteriza uma mateacuteria como reshy

servada agrave lei complementar eacute sua generalidade o fato de estabeleshy

cer regras gerais em mateacuteria de legislaccedilatildeo tributaacuteria de modo a

vincular todas as esferas de governo de modo uniforme

Partindo dessa premissa percebe-se que os dispositivos Imshy

pugnados da Lei 9 5321997 embora tratem de lanccedilamento e

obrigaccedilatildeo tributaacuteria natildeo se inserem no conceito de normas geshy

rais pois satildeo regras especiacuteficas que impotildeem adoccedilatildeo de sistema

eletrocircnico de emissatildeo de cupons fiscais destinado a reduzir a soneshy

gaccedilatildeo de impostos federais (imposto de renda contribuiccedilatildeo social

sobre o lucro liacutequido contribuiccedilatildeo para o financiamento da Segushy

ridade Social e para o Programa de Integraccedilatildeo Social)

Essa obrigaccedilatildeo sem caraacuteter pecuniaacuterio e criada para operacishy

0nalizar a tributaccedilatildeo se insere no rol das obrigaccedilotildees denominadas

acessoacuterias que HUGO DE BRITO MACHADO denomina como sendo

as prestaccedilotildees sem as quais natildeo seria viaacutevel o controle do cumprishy

mento das obrigaccedilotildees tributaacuterias principais 9

Segundo o Coacutedigo Tributaacuterio Nacional - reconhecidamente

recepcionado pela Constituiccedilatildeo de 1988 com status de lei compleshy

mentar - as obrigaccedilotildees acessoacuterias decorrem da legislaccedilatildeo tributaacuteshy

9 MACHADO Hugo de Brito Questotildees a respeito da obrigaccedilatildeo tributaacuteria acessoacuteria TORRES Heleno Taveiacutera (coordenador) Teoria geral da obrigaccedilatildeo tributaacuteria estudos em homenagem ao Professor Joseacute Souto Maior Borges Satildeo Paulo Malheiacuteros 2005 p 301

16


ria (art 113 sect 2gt1)10 expressatildeo que tal como a define o art 96 do

CTNl1 compreende as leis os tratados e as convenccedilotildees internacishy

onais os decretos e as normas complementares

As obrigaccedilotildees acessoacuterias ou deveres instrumentais na exshy

pressatildeo cunhada por PAULO DE BARROS CARVALHO12 natildeo precisam

ser previstas em lei complementar tampouco por lei em sentido

estrito podem ser veiculadas ateacute em normas infralegais

Nessa direccedilatildeo eacute o escoacutelio de LEANDRO PAULSEN 13

o entendimento ainda predominante - e por noacutes adotado durante muito tempo eacute no sentido de que as obrigaccedilotildees acessoacuterias constituem deveres formais inerentes agrave regulashymentaccedilatildeo das questotildees operacionais relativas agrave tributaccedilatildeo e que natildeo haacute assim a necessidade de lei em sentido formal para o estabelecimento de cada obrigaccedilatildeo acessoacuteria Os Deshycretos que regulamentam cada tributo podem dispor sobre as respectivas obrigaccedilotildees acessoacuterias

Nesse panorama a Lei 95321997 constitui marco regulatoacuteshy

rio adequado e suficiente para veiculaccedilatildeo de obrigaccedilatildeo acessoacuteria

shy10 Art l13A obrigaccedilatildeo tributaacuteria eacute principal ou acessoacuteria [ ]

sect 2Jlbull A obrigaccedilatildeo acessoacuteria decorre da legislaccedilatildeo tributaacuteria e tem por obshyjeto as prestaccedilotildees positivas ou negativas nela previstas no interesse da arreshycadaccedilatildeo ou da fiscalizaccedilatildeo dos tributos

11 Art 96 A expressatildeo legislaccedilatildeo tributaacuteria compreende as leis os tratados e as convenccedilotildees internacionais os decretos e as normas complementares que versem no todo ou em parte sobre tributos e relaccedilotildees juriacutedicas a eles pershytinentes

12 CARVALHO Paulo de Barros Curso de Direito Tributaacuterio 25 ed Satildeo Paulo Saraiva 2013 p 288-290

13 PAULSEN Leandro Direito Tributaacuterio Constituiccedilatildeo e Coacutedigo Tributaacuterio agrave luz da doutrina e da jurisprudecircncia 15 ed Porto Alegre Livraria do Advogado ESMAFE 2013 p 916

17


IlI2 COMPETEcircNCIA TRIBUTAacuteRIA DA U NIAacuteO

Conforme se disse a Lei 95321997 ao implantar o sistema

eletrocircnico de emissatildeo de notas fiscais almejou combater a sonegashy

ccedilatildeo de tributos federais Nenhum dos dispositivos contidos na reshy

ferida norma faz menccedilatildeo a impostos estaduais ou municipais Tais

regras satildeo impositivas apenas para a Uniatildeo tanto que o art 63 preshy

viu a celebraccedilatildeo de convecircnios justamente no intuito de somar esshy

forccedilos com Estados e Municiacutepios na implantaccedilatildeo do sistema

A Uniatildeo apenas estabeleceu obrigaccedilatildeo acessoacuteria concernente

a tributo de sua competecircncia e natildeo invadiu esfera de competecircncia

constitucionalmente reservada aos demais entes federados

IIl3 POSSIBILIDADE DE REGULAMENTAR OBRIGACcedilAtildeO ACESSOacuteRIA

POR CONVEcircNIO DE COOPERACcedilAtildeO

O art 113 sect 2ordm combinado com o art 96 do CTN mencioshy

nados alhures prevecirc possibilidade de impor obrigaccedilotildees tributaacuterias

de caraacuteter acessoacuterio por meio de normas infralegais

Hugo de Brito Machado14 observa ser exagero a opiniatildeo de

alguns doutrinadores de que todas as obrigaccedilotildees acessoacuterias decorshy

reriam somente da lei pois ningueacutem estaria obrigado a fazer ou

deixar de fazer alguma coisa senatildeo em virtude de lei E eXPliJ

14 MACHADO Hugo de Brito Questotildees a respeito da obrigaccedilatildeo tributaacuteria acessoacuteria In TORRES Heleno Taveira (coord) Teoria geral da obrigaccedilatildeo trishybutaacuteria Obra citada p 299-230

18

Exagero porque se o ningueacutem estaacute obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa em virtude de lei tivesse caraacuteter absoluto seshyriam totalmente inuacuteteis todas as prescriccedilotildees normativas inshyfralegais de tal sorte que poderiam ser atirados na cesta do lixo todos os regulamentos portarias e tantos outros atos normativos sem que isto qualquer falta fizesse ao ordenashymento juriacutedico

Aspectos do alcance do princiacutepio da legalidade contido no

art 50 lI da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica foram largamente enfrenshy

tados pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento da accedilatildeo direta

de inconstitucionalidade 3367DF ajuizada contra a Emenda

Constitucional 45 de 8 de dezembro de 2004 nos dispositivos em

que criou o Conselho Nacional de Justiccedila e o Conselho Nacional

do Ministeacuterio Puacuteblico O Ministro GILMAR MENDES por exemplo

sustentou a certa altura (fi 71 do acoacuterdatildeo)

A ideacuteia da submissatildeo da Administraccedilatildeo [Puacuteblica] agrave lei eacute hoje quase oacutebvia No entanto como ensina GARCIacuteA DE ENTERRIacuteA eacute preciso ter cuidado para natildeo entender como lei apenas a lei em sentido formal O conceito de legalidade natildeo faz refeshyrecircncia a um tipo de norma especiacutefica mas ao ordenamento juriacutedico como um todo o que [MAURICE] HAURIOU chamava de bloco de legalidade

Portanto quando a Constituiccedilatildeo em seu art 5ordm lI prescreve que ningueacutem seraacute obrigado a fazer ou deixar de fazer alshyguma coisa senatildeo em virtude de lei por lei deve-se enshytender o conjunto do ordenamento juriacutedico cujo fundamento de validade formal e material encontra-se preshycisamente na proacutepria Constituiccedilatildeo Traduzindo em outros termos a Constituiccedilatildeo diz que ningueacutem seraacute obrigado a fashyzer ou deixar de fazer alguma coisa que natildeo esteja previa-~ mente estabelecido [sic] na proacutepria Constituiccedilatildeo e nas normas dela derivadas 15

15 STF Plenaacuterio ADI 3367DF ReI Min CEZAR PELUSO 13 abro 2005 unacircnime nesse ponto e maioria DJ 1 17 mar 2006 p 4 republ DJ 122

19


Dessa forma adotando-se a prenussa de que as obrigaccedilotildees

acessoacuterias natildeo se subordinam ao princiacutepio da legalidade estrita natildeo

haacute empecilho juriacutedico-constitucional a que sejam veiculadas meshy

diante convecircnio cuja natureza eacute de norma complementar agraves leis

aos tratados e agraves convenccedilotildees internacionais consoante o art 100

IV do CTN 16

LEANDRO PAULSEN observa que o Sistema Tributaacuterio Nacional

admite dois niacuteveis de convecircnios convecircnios de cooperaccedilatildeo de cushy

nho meramente administrativo e convecircnios que veiculam mateacuterias

reservadas constitucionalmente os quais tecircm acircmbito restrito (art

155 sect 2ordm XII aliacutenea g da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica)17 A distinshy

ccedilatildeo importa pois enquanto os primeiros se subordinam agrave lei comshy

plementando-a os segundos por autorizaccedilatildeo constitucional

podem disciplinar mateacuteria com forccedila de lei em sentido material

o Convecircnio ECF 11998 caracteriza-se como de cooperashy

ccedilatildeo pois se limita a dispor regras sobre a emissatildeo de cupom fiscal

por meio eletrocircnico que eacute obrigaccedilatildeo acessoacuteria tiacutepica cuja reshy

set 2006 p 29 16 Art 100 Satildeo normas complementares das leis dos tratados e das convenshy

ccedilotildees internacionais e dos decretos I - os atos normativos expedidos pelas autoridades administrativas 11 - as decisotildees dos oacutergatildeos singulares ou coletivos de jurisdiccedilatildeo administrashytiva a que a lei atribua eficaacutecia normativa 111 - as praacuteticas reiteradamente observadas pelas autoridades administratishyvas IV - os convecircnios que entre si celebrem a Uniatildeo os Estados o Distrito Federal e os Municiacutepios

17 PAULSEN Leandro Direito Tributaacuterio Constituiccedilatildeo e Coacutedigo Tributaacuterio agrave luz da doutrina c da jurisprudecircncia Ob cit p 872

20


mentaccedilatildeo natildeo estaacute reservada agrave lei em sentido estrito mas pode ser

prevista em normas infralegais

Ademais o convecircnio natildeo inova a lei pois apenas dispotildee sobre

a utilizaccedilatildeo do denominado equipamento emissor de cupom fiscal

(ECF) e especifica o conteuacutedo obrigatoacuterio das notas fiscais para

efeito de comprovaccedilatildeo de custos e despesas operacionais

Portanto a veiculaccedilatildeo de obrigaccedilatildeo acessoacuteria por melO de

convecircnio de cooperaccedilatildeo natildeo ofende o princiacutepio da legalidade

IH4 PRINCIacutePIO DA PROPORCIONALIDADE ATENDIMENTO

A CRITEacuteRIOS DE ADEQUACcedilAtildeO E NECESSIDADE

De acordo com a doutrina as restriccedilotildees a direitos devem li shy

mitar-se ao estritamente necessaacuterio para preservaccedilatildeo de outros dishy

reitos ou de interesses constitucionalmente protegidos

CANOTILHO18 ao dissertar sobre o princiacutepio da proporcionalidade

em sentido estrito consectaacuterio do princiacutepio da proibiccedilatildeo de excesshy

sos pondera

Meio e fim satildeo colocados em equaccedilatildeo mediante um juiacutezo de ponderaccedilatildeo com o objectivo de se avaliar se o meio utili shyzado eacute ou natildeo desproporcionado em relaccedilatildeo ao fim Trata-se pois de uma questatildeo de medida ou desmedida para se al shycanccedilar um fim pesar as desvantagens dos meios em relaccedilatildeo agraves vantagens do fim

Sendo o princiacutepio da proporcionalidade dirigido ao legislashy

dor deve este sopesar as desvantagens dos meios empregados com

18 CANOTILHO Joseacute Joaquim Gomes Direito Constitucional e teoria da consshytituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almedina p 270

21


os beneficios a serem alcanccedilados ao fim observada a adequaccedilatildeo e a

necessidade da medida a aplicar na extensatildeo e no alcance estritashy

mente necessaacuterios (a justa medida) 19 A restriccedilatildeo de direitos deve

ser apropriada para atingir o fim almejado e o meio deve ser o esshy

tritamente necessaacuterio

HUGO DE BRJTO MACHAD020 entende com razatildeo que o prinshy

ciacutepio da proporcionalidade tambeacutem se aplica agraves obrigaccedilotildees acessoacuteshy

nas

Finalmente eacute de se ressaltar que o legislador estaacute sempre submetido agraves limitaccedilotildees constitucionais de sorte que ao insshytituir deveres administrativos no interesse da fiscalizaccedilatildeo e da arrecadaccedilatildeo de tributos natildeo pode sob pena de invalidade da norma que edita instituir deveres que natildeo sejam razoaacuteveis e proporcionais Assim mesmo quando instituiacutedos por lei esses deveres administrativos somente satildeo exigiacuteveis nos limites da razoabilidade e da proporcionalidade princiacutepios constitucioshynais que limitam a liberdade do legislador

A Lei 95321997 ao prever a implantaccedilatildeo de equipamentos

eletrocircnicos para emissatildeo de cupons fiscais buscou aperfeiccediloar a fisshy

calizaccedilatildeo e a arrecadaccedilatildeo de impostos federais Mas esse natildeo eacute seu

uacutenico objetivo pois a informatizaccedilatildeo aumenta a transparecircncia da

administraccedilatildeo tributaacuteria e melhora o serviccedilo prestado ao contribushy

inte que por sua vez tem sua rotina fiscal simplificada Aleacutem disso

os custos iniciais com tecnologia em todas as aacutereas da economia

costumam ser compensados no longo prazo g 19 SILVAVirgiacutelio Afonso da Direitos fundamentais conteuacutedo essencial restriccedilotildees e

tificaacutecia Satildeo Paulo Malheiros 2010 p 174

20 MACHADO Hugo de Brito Questotildees a respeito da obrigaccedilatildeo tributaacuteria acessoacuteria Ob cit p 301

22


A globalizaccedilatildeo e a concorrecircncia interna impotildeem ao Estado e

aos cidadatildeos constante evoluccedilatildeo tecnoloacutegica Natildeo obstante certa

contrariedade a interesses econocircmicos individuais a exigecircncia das

normas impugnadas eacute compatiacutevel com o beneficio advindo para o

Estado e para a proacutepria sociedade uma vez que com a diminuiccedilatildeo

da sonegaccedilatildeo tende-se a lograr sistema tributaacuterio mais justo

Aliaacutes a inquietaccedilatildeo com a eficiecircncia e a justiccedila dos sistemas

legais de combate agrave evasatildeo fiscal natildeo eacute peculiaridade brasileira

Muito ao contraacuterio o tema tem sido objeto de preocupaccedilatildeo munshy

dial tanto pelas necessidades de arrecadaccedilatildeo quanto pela imporshy

tacircncia de reduzir a injusticcedila e a concorrecircncia desleal que a

sonegaccedilatildeo de tributos gera entre os agentes econocircmicos assim

como a quebra de confianccedila entre os contribuintes O G-20

grupo das vinte maiores economias do planeta que o Brasil inteshy

gra incluiu a justiccedila e a eficiecircncia dos sistemas tributaacuterios entre as

prioridades de sua Agenda 2014 ao declarar

Sistemas tributaacuterios domeacutesticos e internacionais em bom funcionamento satildeo essenciais agraves economias nacionais ao coshymeacutercio global e agrave manutenccedilatildeo da confianccedila da comunidade e do empresariado nos governos

Onde a carga tributaacuteria natildeo eacute distribuiacuteda de forma justa ou onde haacute lacunas nas leis tributaacuterias que permitem a algumas empresas escapar ao pagamento de sua quota de tributos contribuintes e empresas precisam pagar mais tributos ou )_ aceitar niacutevel reduzido de serviccedilos puacuteblicos 21 ~

21 No original Welljunctoning domestc and infemational tax systerns are essental to dornestic ecotlomies global trade and maitltaining commutlity ard bustCss trust in governments Where the tax burdm iacutesn t spread fairly or there are loopholes in tax laws that


Na Organizaccedilatildeo para Cooperaccedilatildeo e Desenvolvimento Ecoshy

nocircmico (OCDE) de que o Brasil natildeo eacute membro mas de cujas inishy

ciativas participa em diversos campos o tema da evasatildeo fiscal eacute

igualmente prioritaacuterio Seu Secretaacuterio Geral recentemente publi shy

cou artigo no qual destacou

Juntamente com a evasatildeo fiscal natildeo podemos mais tolerar a elisatildeo fiscal agressiva que a opiniatildeo puacuteblica maciccedilamente reshyjeita Nenhum paiacutes pode erradicar essa praga por si soacute Accedilatildeo coletiva e coordenada dos governos eacute essencial

Aqui tambeacutem o G20 pediu-nos [atilde OCDE] que revisasse as regras tributaacuterias internacionais a fim de pocircr as pequenas e meacutedias empresas e as multinacionais em um campo de jogo equilibrado Combater a erosatildeo das bases fiscais e o desvio de lucro [ da tributaccedilatildeo] tornou-se prioridade agora que a confianccedila dos contribuintes na efetividade e na justiccedila de seus sistemas tributaacuterios depende disso [ ]22

A preocupaccedilatildeo com a evasatildeo tributaacuteria eacute planetaacuteria e o Brasil

deve aprimorar sua legislaccedilatildeo fiscal inclusive na seara criminal 0

alioU some companies to escape paying their share of tax taxpayers and businesses either have to pay more tax or accept a reduced level of government services Disponiacutevel no siacutetio eletrocircnico do G20 em Home -7 e20 Priorities -7 e20 2014 Agenda -7 Tax laquo httpbitlyg202014tax gt ou lt httpsWWvg20orgg20 prioritiesg20 2014 agendatax raquo acesso em 9 abro 2014

22 GURRIacuteA Angel Iagravex evasion substantial progress but countries 11USt keep up their dforts Disponiacutevel em lt httpzipnetbfm3p] gt ou lt httpwwwoecdorg tax taxevasionsubstantialprogressbutcountriesmus tkeepuptheiretTortshtm gt acesso em 9 abro 2014 No original In addiacutetiacuteon to tax evasion Ue can no longer tolerate aggressive tax avoidance which public opiniacuteon massivc1y rejects No country can stem this global scourge on its OWll Collective and co-ordinated action by govemments is essential Here too the e20 has asked us to relliew irttemational tax mies in order to put SMEs ard multinationals ou a leveI playing field Combatirtg the erosiorl if tax bases and the shifting cif profit has become a priority now that taxpayers trust in the dfectiveness and fairness of their tax systems depends on it [ r

24

PGR

mecanismo previsto nas normas em foco caminha nessa direccedilatildeo de

forma legiacutetima e proporcional

Enfim as normas impugnadas atendem a criteacuterios de adequashy

ccedilatildeo e necessidade portanto compatiacuteveis com o princiacutepio constitushy

cional da proporcionalidade

1115 DIREITO Agrave INTIMIDADE E Agrave PRIVACIDADE

Consoante a autora a integraccedilatildeo do ECF com a maacutequina

para processar pagamentos eletrocircnicos com cartatildeo de creacutedito e deacuteshy

bito permitiria conhecer haacutebitos de consumo dos cidadatildeos o que

ofenderia o direito agrave intimidade e agrave privacidade (art 5ordm X e XII

da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica)

As informaccedilotildees da Secretaria da Receita Federal esclarecem

que a Instruccedilatildeo Normativa 341 de 15 de julho de 200323 detershy

mina que se informem os valores movimentados de maneira gloshy

bal de modo que o fisco federal natildeo teraacute conhecimento do que

foi adquirido pelos consumidores Se entretanto os gastos globais

forem incompatiacuteveis com a renda declarada de um contribuinte~ 23 Para os efeitos desta Instruccedilatildeo Normativa considera-se

I - administradora de cartotildees de creacutedito [] 11 - montante global mensalmente movimentado o somatoacuterio dos a) pagamentos efetuados no mecircs pelos titulares dos cartotildees pessoa fisica ou juriacutedica a qualquer tiacutetulo independente da natureza juriacutedica da operaccedilatildeo inclusive decorrentes de acordos de caraacuteter judicial ou extrajudicial em reshylaccedilatildeo a todos os cartotildees emitidos inclusive adicionais b) repasses efetuados no mecircs a todos os estabelecimentos credenciados pessoa fisica ou juriacutedica deduzindo-se os valores correspondentes a coshymissotildees alugueacuteis taxas e tarifas devidas agrave administradora de cartatildeo de creacuteshydito

25

1 J


essa informaccedilatildeo pode serV1r como base juntamente com outras

para o iniacutecio de fiscalizaccedilatildeo - o que eacute aliaacutes perfeitamente legiacutetimo

do ponto de vista juriacutedico e compatiacutevel com os objetivos institucishy

onais da Receita Federal do Brasil

A implantaccedilatildeo de sistema informatizado possibilita agrave adminisshy

traccedilatildeo tributaacuteria ter acesso a dados relevantes no combate agrave soneshy

gaccedilatildeo fiscal e natildeo representa devassa na vida privada dos

consumidores

De qualquer forma o direito agrave intimidade e agrave privacidade

nao tecircm caraacuteter absoluto podendo ser relativizados para salvashy

guarda de outros valores constitucionalmente protegidos 24

Vale relembrar o voto do Ministro FRANCISCO REZEK no

mandado de seguranccedila 21729DF no qual se debatia sobre o dishy

reito agrave privacidade e agrave intimidade em relaccedilatildeo a dados bancaacuterios 2s

[] Tenho dificuldade extrema de construir sobre o artigo 52 sobre o rol constitucional de direitos a nuacutestica do sigilo banshycaacuterio somente contornaacutevel nos termos de outra regra da proacutepria Carta O inciso X afirma inviolaacuteveis a intimidade a vida privada a honra e a imagem das pessoas valores que natildeo tecircm merecido diga-se de passagem maior respeito por parte da sociedade brasileira da nossa eacutepoca - e dos meios de comunicaccedilatildeo de massa que em uacuteltima anaacutelise atendem agrave de- manda e ao gosto ainda no que tecircm de menos nobre ou construtivo dessa mesma sociedade

24 SARLET Ingo Wolfgang Comentaacuterio ao artigo 52 caput In CANOTILHO J J Gomes MENDES Gilmar SARLET lngo Wolfgang STRECK Lenio L (coords) Comentaacuterios agrave Corlstituiccedilatildeo do Brasil Satildeo Paulo Saraiva Almedina 2013 p 201

25 STF Plenaacuterio MS 21729DF ReI Min MARCO AUREacuteLIO 5101995 maioria DJ 19 out 2001 p 33

26

o inciso X do rol de direitos fala assim numa iacutel1timidade onde a meu ver seria extraordinaacuterio agasalhar a contabilidade mesmo a das pessoas naturais e por melhor razatildeo a das emshypresas

[] Numa reflexatildeo extralegal observo que a vida financeira das empresas e das pessoas naturais natildeo teria mesmo por que enshyc1ausurar-se ao conhecimento da autoridade legiacutetima - natildeo a justiccedila tatildeo soacute mas tambeacutem o parlamento o Ministeacuterio Puacuteshyblico a administraccedilatildeo executiva jaacute que esta uacuteltima reclama pela voz da autoridade fiscal o inteiro conhecimento do pashytrimocircnio dos rendimentos dos creacuteditos e deacutebitos ateacute mesmo do mais discreto dos contribuintes assalariados Natildeo sei a que espeacutecie de interesse serviria a miacutestica do sigilo bancaacuterio a menos que se presumam falsos os dados em registro numa dessas duas oacuterbitas ou em ambas e por iacutesso natildeo coincidentes com o cadastro fiscal e o cadastro bancaacuterio das pessoas e emshypresas

Aleacutem disso a Lei Complementar 105 de 10 de janeiro de

2001 ao outorgar poderes agraves autoridades e agentes ftltcailt tributaacuteshy

rios da Uniatildeo Estados e Municiacutepios para fiscalizaccedilatildeo de registros

de empresas financeiras deixou evidente que as informaccedilotildees obtishy

das natildeo podem ser divulgadas a terceiros sob pena de responsabilishy

dade administrativa do servidor2( o qual tambeacutem natildeo se exime de

responsabilidade criminal nesses casoS 27

26 Art 11 O servidor puacuteblico que utilizar ou viabilizar a utilizaccedilatildeo de qualshyquer informaccedilatildeo obtida em decorrecircncia da quebra de sigilo de que trata esta Lei Complementar responde pessoal e diretamente pelos danos decorshyrentes sem prejuiacutezo da responsabilidade objetiva da entidade puacuteblica quando comprovado que o servidor agiu de acordo com orientaccedilatildeo ofishycial

27 Art 325 Revelar fato de que tem ciecircncia em razatildeo do cargo e que deva permanecer em segredo ou facilitar-lhe a revelaccedilatildeo Pena - detenccedilatildeo de seis meses a dois anos ou multa se o fato natildeo constishytuiacute crime mais grave sect 111

bull Nas mesmas penas deste artigo incorre quem

27

I

t

bull ~

Nessa linha de raciociacutenio ao interpretar o art 5deg incisos X e

XII da Constituiccedilatildeo Federal o Ministro AYRES BRITTO afirma

com propriedade2s

[] Entatildeo me parece que a conjugaccedilatildeo do inciso XII com o inciso X da Constituiccedilatildeo abona a tese de que o que se pro iacutebe natildeo eacute o acesso a dados mas a quebra do sigilo eacute o vaza mento do conteuacutedo de dados Eacute o vazamento eacute a divulgaccedilatildeo E no caso as leis de regecircncia ao falar das transshyferecircncias de dados sigilosos eacute evidente que elas impotildeem ao oacutergatildeo destinataacuterio desses dados a claacuteusula de confidenciali shydade cuja quebra implica a tipificaccedilatildeo ou o cometimento de crime

Nessa perspectiva tudo o que foi dito sobre o sigilo bancaacuterio

tambeacutem se aplica agraves informaccedilotildees relativas a operaccedilotildees com cartatildeo

de creacutedito e deacutebito obtidas pela administraccedilatildeo tributaacuteria porshy

quanto os bens juriacutedicos protegidos satildeo idecircnticos

Em suma as normas impugnadas natildeo ofendem o direito agrave inshy

timidade e agrave privacidade pois os dados postos ao dispor das autori shy

dades tributaacuterias natildeo revelam informaccedilotildees de cunho iacutentimo Aleacutem

disso o resguardo ao sigilo de dados encontra limites na leI e nao

eacute nesse caso oponiacutevel agraves autoridades tributaacuterias

I - permite ou facilita mediante atribuiccedilatildeo fornecimento e empreacutestimo de senha ou qualquer outra forma o acesso de pessoas natildeo autorizadas a sistemas de informaccedilotildees ou banco de dados da Administraccedilatildeo Puacuteblica II - se utiliza indevidamente do acesso restrito sect 2Q Se da accedilatildeo ou omissatildeo resulta dano agrave Administraccedilatildeo Puacuteblica ou a oushybull

trem Pena reclusatildeo de 2 (dois) a 6 (seis) anos e multa

28 STF Plenaacuterio RE 389808PR ReI Min MARCO AUREacuteLIO 15122010 maioria DJe 86 10 maio 2011

28

PGrt Accedilatildeo direta de inconstitucionalidade 3270DF

Iv CONCLUSAtildeO

Em resumo os arts 61 caput e sect 2ordm 62 caput e paraacutegrafo

uacutenico e 63 da Lei 9532 de 10 de dezembro de 1997 e o Convecircshy

nio ECF 1 de 25 de fevereiro de 1998 natildeo padecem de inconsti shy

tucionalidade formal nem material

Ante o exposto o parecer eacute pelo conhecimento da accedilatildeo e no


Brasiacutelia (DF) 18 de julho de 2014

~~t~eIacuterO Barros Procurador-Geral da Repuacuteblica

RJMBWStrlMmiddotParPGRWS80J20l4

29

---

I RELATOacuteRIO

Trata-se de accedilatildeo direta de inconstitucionalidade com pedido

de medida cautelar proposta pela CONFEDERACcedilAtildeO NACIONAL DO

COMEacuteRCIO (CNC) contra os arts 61 caput e sect 2ordm 62 caput e paraacuteshy

grafo uacutenico e 63 da Lei 9532 de 10 de dezembro de 1997 e

contra o Convecircnio ECF 1 de 25 de fevereiro de 19981 Eis o teor

dos dispositivos

Lei 9532 de 10 de dezembro de 1997

Art 61 As empresas que exercem a atividade de venda ou revenda de bens a varejo e as empresas prestadoras de servishyccedilos estatildeo obrigadas ao uso de equipamento Emissor de Cushypom Fiscal - ECE

sect P Para efeito de comprovaccedilatildeo de custos e despesas operashycionais no acircmbito da legislaccedilatildeo do imposto de renda e da contribuiccedilatildeo social sobre o lucro liacutequido os documentos emitidos pelo ECF devem conter em relaccedilatildeo agrave pessoa fiacutesica ou juriacutedica compradora no miacutenimo

a) a sua identificaccedilatildeo mediante a indicaccedilatildeo do nuacutemero de inscriccedilatildeo no Cadastro de Pessoas Fiacutesicas - CPF se pessoa fiacute shysica ou no Cadastro Geral de Contribuintes - CGC se pesshysoa juriacutedica ambos do Ministeacuterio da Fazenda

b) a descriccedilatildeo dos bens ou serviccedilos objeto da operaccedilatildeo ainda que resumida ou por coacutedigos

c) a data e o valor da operaccedilatildeo

sect 2Q Qualquer outro meio de emissatildeo de nota fiscal inclushybull

sive o manual somente poderaacute ser utilizado com autorizaccedilatildeo especiacutefica da unidade da Secretaria de Estado da Fazenda com jurisdiccedilatildeo sobre o domiciacutelio fiscal da empresa interesshy p sada

1 Disponiacutevel em lt httpbitly convecn gt ou lt htmwwwlfazendagovbr confazConfazConveniosECF1998C VECFOOl 98htm gt acesso em 17 jul 2014

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supremo tribunal federal - mpf.mp.br · requeridos: presidente da república, congresso nacional,...

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