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Súmula n. 237

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Súmula n. 237

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SÚMULA N. 237

Nas operações com cartão de crédito, os encargos relativos ao fi nanciamento

não são considerados no cálculo do ICMS.

Referência:

Decreto-Lei n. 406/1968, arts. 1º, I, e 2º, I.

Precedentes:

REsp 29.307-RS (1ª T, 29.09.1993 – DJ 18.10.1993)

REsp 32.202-SP (2ª T, 20.06.1994 – DJ 1º.08.1994)

REsp 67.947-MG (1ª T, 13.12.1995 – DJ 25.03.1996)

REsp 87.914-ES (2ª T, 06.05.1999 – DJ 23.08.1999)

REsp 144.752-SP (1ª T, 06.10.1997 – DJ 17.11.1997)

REsp 190.318-SP (1ª T, 1º.12.1998 – DJ 08.03.1999)

Primeira Seção, em 10.04.2000

DJ 25.04.2000, p. 44

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RECURSO ESPECIAL N. 29.307-RS

Relator: Ministro Humberto Gomes de Barros

Recorrente: C & A Modas Ltda.

Recorrido: Estado do Rio Grande do Sul

Advogados: José Eduardo Soares de Melo e outros e

Helena Acauan Pizzato

EMENTA

Cartão de crédito. Juros. ICM. Cálculo. Inclusão.

Os encargos relativos ao fi nanciamento do preço, nas compras feitas através de cartão de crédito, não devem ser considerados, no cálculo do ICM.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, dar provimento ao recurso. Votaram com o Ministro Relator os Ministros Milton Pereira, Garcia Vieira e Demócrito Reinaldo. Ausente, justifi cadamente, o Ministro César Rocha.

Brasília (DF), 29 de setembro de 1993 (data do julgamento).

Ministro Garcia Vieira, Presidente

Ministro Humberto Gomes de Barros, Relator

DJ 18.10.1993

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros: No E. Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, a lide foi relatada assim:

C & A - Modas Ltda. promove mandado de segurança contra ato do Superintendente da Administração Financeira e do Auditor de Finanças Públicas da Secretaria da Fazenda do Rio Grande do Sul. Alega a impetrante exercer

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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atividade no comércio lojista com vendas à vista e pelo “cartão de crédito C & A”, modalidade em que o débito é cobrado em um certo prazo, passado este período incidem juros e correção monetária sobre o saldo, e, aí reside a controvérsia porque o Estado quer cobrar ICMS sobre estes juros, o que a autora considera impossível, tolerando apenas a idéia de cobrança do IOF, mas de atribuição federal (fl . 291).

A r. sentença de primeiro grau denegou a segurança, no que foi confi rmada,

pelo v. acórdão ora recorrido.

A recorrente nos traz a controvérsia, mediante recurso especial. Traz a

confronto, acórdãos provenientes do E. Tribunal de Justiça de S. Paulo e do

Supremo Tribunal Federal (fl . 306).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros (Relator): O aresto recorrido

confi rmou a tese de que os encargos fi nanceiros, resultantes de fi nanciamento

do preço, em vendas a prazo, integram o preço das mercadorias. Por isto devem

ser incluídos no cálculo do ICM.

A proposição assentou-se em raciocínio assim desenvolvido:

O principal argumento, deduzido, já no parecer do Ex-Ministro Thompson Flores, segundo o qual a opção do comprador, realizada trinta dias depois da data da compra, seria independente do negócio de compra e venda, não tem, permissa vênia, a relevância vislumbrada por aquele eminente jurista. A possibilidade da opção já está prevista na própria contratação da compra e venda, cujo preço, isto sim, dependerá da forma de pagamento escolhida pelo comprador: à vista ou a prazo. O cartão funciona como mero credenciamento, simples e antecipada aprovação do crédito do comprador para pagamento a prazo. Não há diferença essencial com o sistema tradicional de crediário, fl . 293.

O Supremo Tribunal Federal, no v. acórdão invocado pela Recorrente,

acertou, em suma:

Embora o financiamento do preço da mercadoria, ou de parte dele, seja proporcionado pela própria empresa vendedora, o ICM há de incidir sobre o preço ajustado para a venda, pois esse é que há de ser considerado como o valor da mercadoria e do qual decorre a sua saída do estabelecimento vendedor.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (18): 61-85, abril 2011 67

O valor que o comprador irá pagar a maior, se não quitar o preço nos 30 dias seguintes, como faculta o contrato de cartão especial Mesbla, decorre de opção sua, e o acréscimo se dá em razão do fi nanciamento, pelo custo do dinheiro, e não pelo valor da mercadoria, fl . 345.

No extenso e brilhante voto com que conduziu a formação deste acórdão, o E. Ministro Aldir Passarinho, dissecou os argumentos favoráveis e contrários à inclusão dos juros no cálculo do ICM. O Voto concluiu, observando:

Vale a pena repetir o que diz o § 2º do art. 2º do Dec.-Lei n. 406/1968 que a base de cálculo do imposto é: “I - o valor da operação de que decorrer a saída da mercadoria.”

Ora, o valor da operação de que decorre a saída da mercadoria não é, inquestionavelmente, aquele decorrente do aumento de incerta e futura utilização de fi nanciamento, mas sim aquele estipulado no momento da venda, e pelo qual adquire o titular do cartão de crédito a propriedade do bem adquirida; e tanto isso é certo que no caso de não pagamento do saldo do preço a ação que se promoverá, como aliás está no contrato, não visa a recuperação da mercadoria alienada, mas sim é movida ação executiva para recebimento do débito, fl . 341.

Também a mim, parece evidente a sucessão de dois contratos: o de compra e venda e o de fi nanciamento. Este último, incerto, no momento do negócio comercial, não se pode com ele confundir.

Dou provimento ao recurso.

RECURSO ESPECIAL N. 32.202-SP (93.0003541-0)

Relator: Ministro José de Jesus Filho

Recorrente: Fazenda do Estado de São Paulo

Recorrida: C E A Modas Ltda.

Advogados: Mauro de Medeiros Keller e outros e Geraldo Ataliba e outros

EMENTA

ICM. Cartões de crédito. Juros. Embargos de declaração. Multa.

I - Segundo a jurisprudência do Pretório Excelso e desta colenda Corte, os encargos fi nanceiros relativos ao fi nanciamento do preço

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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nas compras feitas por meio de cartão de crédito, não devem ser considerados no cálculo do ICM.

II - Não podem ser tidos como protelatórios os embargos

declaratórios que visam suprir omissões. Além do mais não foi

justifi cada a cominação imposta.

III - Recurso especial parcialmente provido para afastar a multa.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a

Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, conhecer do

recurso e dar-lhe parcial provimento, na forma do relatório e notas taquigráfi cas

constantes dos autos, que fi cam fazendo parte integrante do presente julgado.

Participaram do julgamento os Srs. Ministros Hélio Mosimann, Peçanha

Martins e Américo Luz. Ausente, ocasionalmente, o Sr. Ministro Antônio de

Pádua Ribeiro.

Custas, como de lei.

Brasília (DF), 20 de junho de 1994 (data do julgamento).

Ministro Hélio Mosimann, Presidente

Ministro José de Jesus Filho, Relator

DJ 1º.08.1994

RELATÓRIO

O Sr. Ministro José de Jesus Filho: O douto Ministério Público Federal,

assim resumiu a espécie:

Fazenda do Estado de São Paulo, irresignada com a r. decisão de fl s. 276-280, interpõe Recurso Extraordinário com argüição de relevância de questão federal, desdobrado em Recurso Especial fundado no art. 105, III, alíneas a e c, na forma das razões de fl s. 432-448.

Objetiva a recorrente a reforma do julgado proferido pela Décima Quinta Câmara Civil do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, que julgando a apelação interposta, concluiu in litteris:

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (18): 61-85, abril 2011 69

Assim, efetuada a compra mediante cartão o pagamento é feito pelo fi nanciador e não pelo comprador; no caso, como esclarecido há um cartão de crédito e não um cartão de credenciamento, já que neste inexiste um fi nanciamento e sim uma simples venda a prazo.

No caso a impetrante consultou a Procuradoria com vista que os juros compensatórios constantes do contrato do cartão de crédito não se incluem na base de cálculo de ICM (fl s. 50-51), referindo-se a resposta à dita consulta ao do credenciamento (fl . 55).

Nos “Cartões de crédito C&A” o emissor e o vendedor são as mesmas pessoas jurídicas, acumulando suas funções, mas que não se confundem. E a venda entre o fornecedor e o vendedor tem a natureza de uma venda à vista, mas como afi rma o Prof. FRAN MARTINS:

Os encargos financeiros de financiamento se referem a essa operação, não à venda em si. A cláusula 4ª do contrato é bastante clara, mostrando que os encargos são do fi nanciamento e que este vem depois de realizada a venda” (fl . 261),

razão porque tais encargos não podem integrar as despesas de operação de venda para efeito de cobrança de ICM. (fl s. 278-279).

Interpostos Embargos declaratórios (fl s. 290-295), foram os mesmos rejeitados nos termos da decisão de fl s. 298-299, aplicando o Tribunal a quo à Embargante multa de 1% sobre o valor da causa, por entender ser a medida interposta meramente protelatória.

Pugnando pela reforma do julgado a quo apresenta a Recorrente suas razões recursais de fl s. 432-448, renovadas às fl s. 469-486, sustentando que o v. acórdão recorrido, além de violar os artigos 3º, 515, 535, I e II, e 538, do CPC; artigos 6º, 97, IV e 114 do CTN; art. 2º do DL n. 406/1966; art. 1º da Lei n. 1.533/1951, e art. 17 § 7º da Lei n. 4.595/1964, divergiu do Enunciado das Súmulas n. 266 e n. 533 da Suprema Corte, bem como dos julgados transcritos às fl s. 441-447.

Restringe-se a irresignação da Recorrente, quanto a aplicação da multa de 1% e a exclusão dos juros na base de cálculo de recolhimento do ICM.

O Ministério Público, oficiando nos autos, manifesta-se pelo não processamento do apelo especial nos termos do parecer de fl s. 453-455.

O apelo especial foi inadmitido (fl . 457) ensejando a interposição de Agravo de Instrumento n. 20.639-1, providos nessa Egrégia Corte (fl . 422). (fl s. 510-512).

Ao fi nal, opinou pelo provimento parcial do apelo.

É o relatório.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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VOTO

O Sr. Ministro José de Jesus Filho (Relator): A ilustrada Subprocuradoria-Geral da República ao emitir seu parecer deu o correto deslinde a controvérsia,

quando assim dispôs:

In casu, merece provimento parcial a irresignação manifestada pela Recorrente.

Com efeito, restou demonstrada a alegada violação ao artigo 538 do CPC.

O julgado a quo aplicou a penalidade da multa, sob o argumento de que a Recorrente se utilizava do remédio processual com objetivo meramente protelatório, sem contudo justifi car a cominação, o que data venia é inadmissível, consoante reiterada jurisprudência desse Egrégio Tribunal (RSTJ 11/415).

O Ilustre Procurador da Fazenda Estadual apenas exercitou os deveres inerentes a sua função, como aliás apropriadamente ressaltou, in litteris:

De se ressaltar, também, além do interesse público emergente da tese da Fazenda, a incoerência do v. acórdão ao reconhecer intuito protelatório nos embargos declaratórios: enquanto não decidida defi nitivamente a questão, a Fazenda está impedida de exigir o ICM integral da ora Recorrida. (fl . 472).

Entretanto, em relação ao fundamento da alínea c, inobstante ter restado caracterizada a divergência jurisprudencial, não assiste razão à recorrente, considerando que o v. acórdão recorrido está em sintonia com a orientação jurisprudencial não só dessa Egrégia Corte, como também do Excelso Supremo Tribunal Federal.

Nesse sentido são as decisões, verbis:

Cartão especial de crédito. Valor do fi nanciamento.

Embora o fi nanciamento do preço da mercadoria, ou de parte dele, seja proporcionado pela própria empresa vendedora, o ICM há de incidir sobre o preço ajustado para a venda, pois esse é que há de ser considerado como o do valor da mercadoria e do qual decorre a sua saída do estabelecimento vendedor.

O valor que o comprador irá pagar a maior, se não quitar o preço nos 30 dias seguintes, como faculta o contrato do cartão especial Mesbla, decorre de opção sua, e o acréscimo se dá em razão do fi nanciamento, pelo custo do dinheiro, e não pelo valor da mercadoria.

(RE n. 101.103, DJ 10.03.1989, p. 3.016, Min. Rel. Aldir Passarinho)

Cartão de crédito. Juros. ICM. Cálculo. Inclusão.

Os encargos relativos ao fi nanciamento do preço, nas compras feitas através de cartão de crédito, não deve ser considerados, no cálculo do ICM.

(RE n. 29.307-1-RS, DJ 18.10.1993, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros).

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (18): 61-85, abril 2011 71

O parecer, diante do exposto, é pelo conhecimento e provimento parcial do recurso, para excluir da condenação a muita imposta. (fl s. 512-514).

Incensurável o pronunciamento supratranscrito, o qual adoto como razão

de decidir, pois assente com a jurisprudência desta Corte.

Isto posto, dou parcial provimento ao recurso tão-somente para afastar a

multa aplicada.

É o meu voto.

RECURSO ESPECIAL N. 67.947-MG (95.0029534-2)

Relator: Ministro Cesar Asfor Rocha

Recorrente: Globex Utilidades S/A

Recorrida: Fazenda Pública do Estado de Minas Gerais

Advogados: Cláudio Penna Lacombe e outros

Ilma Maria Correa Jakitsch e outros

EMENTA

Tributário. ICMS. Base de cálculo. Vendas com cartão de crédito.

Exclusão dos encargos relativos ao fi nanciamento. Operação distinta

da que enseja a cobrança do imposto em tela.

- Consoante proclamado em precedentes da egrégia Primeira

Turma, não se incluem na base de cálculo do ICMS, nas compras

efetuadas com cartão de crédito, os encargos referentes ao

fi nanciamento do preço.

- Recurso provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da

Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e

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das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, dar provimento ao recurso.

Participaram do julgamento os Srs. Ministros José de Jesus Filho, Demócrito

Reinaldo, Humberto Gomes de Barros e Milton Luiz Pereira.

Brasília (DF), 13 de dezembro de 1995 (data do julgamento).

Ministro Demócrito Reinaldo, Presidente

Ministro Cesar Asfor Rocha, Relator

DJ 25.03.1996

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha: - A ora recorrente, Globex Utilidades

S/A, ajuizou ação declaratória contra a Fazenda Pública do Estado de Minas

Gerais, postulando o reconhecimento de seu direito de não ver inclusa, na base

de cálculo do ICMS, a parcela relativa ao encargo fi nanceiro nas operações que

promove com o uso do cartão de crédito.

O juízo monocrático, na sentença de fl s. 174-180, julgou improcedente

a ação, bem como as preliminares de ilegitimidade e de inconstitucionalidade

levantadas pela ré, sustentando “ser única a operação efetuada, havendo tão

somente opção ao cliente, para em 15 dias, optar pelo pagamento à vista ou a

prazo” (fl . 220). Indeferida também a cautelar interposta, vez que não se logrou

demonstrar a ocorrência dos requisitos necessários.

Inconformada, apelou a autora ao eg. Tribunal de Justiça de Minas Gerais,

que exarou acórdão negando provimento aos recursos (fl s. 284-292), oferecidos

tanto na ação declaratória quanto na ação cautelar, entendendo que, em suma,

a venda a prazo não constituiria encargo fi nanceiro tributável pela União (IOF)

e, por conseguinte, não haveria que se falar em bis in idem, e que “a adoção de

um cartão de crédito através do qual se procura camufl ar a típica operação de

venda a prazo, não a desnatura.” (fl s. 289). Alegou ainda que a matéria já estaria

cristalizada na Súmula n. 533-STF.

Rejeitados os aclaratórios (fl . 313), adveio o recurso especial em exame,

fundamentado nas alíneas a e c do permissivo constitucional. A uma, porque

a exigência da inclusão do encargo fi nanceiro na base de cálculo do ICMS

ofenderia o disposto no art. 146, IX, d da Constituição Mineira, que nada teria

de inconstitucional ao determinar que a base de cálculo do ICMS é o valor de

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (18): 61-85, abril 2011 73

saída da mercadoria. A duas, pela contrariedade ao Decreto-Lei n. 406/1968,

que prescreve ser a base de cálculo do ICMS o preço da mercadoria, não tendo

o encargo fi nanceiro nenhuma ligação com o mesmo, mas sim o empréstimo de

dinheiro e, devido a isso, sendo tributável pela União (art. 153, V da CF/1988)

e acarretando, por via de conseqüência, um bis in idem. A três, pela violação ao

art. 97, I e II, do CTN, visto que ainda que o encargo pudesse integrar a base

de cálculo do ICMS, o método utilizado pelo fi sco mineiro seria ilegal, uma

vez que a integração, e conseqüente majoração do tributo, foi posta via mero

decreto. E a quatro, por dissídio jurisprudencial, tendo sido colacionado como

paradigma o julgado proferido no REsp n. 29.307-1-RS.

Em sua resposta, o recorrido levanta que a matéria submetida a exame seria

de fato, e não de direito, além de pugnar pela manutenção do aresto hostilizado.

Admitido na origem pelo despacho de fl . 356, ascenderam os autos a esta

Corte.

Recebidos no meu gabinete em 18.09.1995, foram remetidos para inclusão

em pauta no dia 08 de novembro seguinte.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha (Relator): - A controvérsia emoldurada

no presente feito resume-se a se saber se os encargos referentes ao fi nanciamento

do preço, nas compras efetuadas via cartão de crédito, devem ou não ser incluídos

na base de cálculo do ICMS.

A questão é conhecida desta egrégia Primeira Turma, tendo sido apreciada,

recentemente, quando do julgamento do REsp n. 45.536-7-RS, sob a relatoria

do eminente Ministro Milton Luiz Pereira, autor das seguintes bem tecidas

considerações:

(...) a parte recorrente, nas suas atividades comerciais, no pertencente à compra e venda, recebe à vista o preço registrado na nota fi scal, entregue ao comprador, com sujeição à incidência do ICMS e, quanto ao valor do fi nanciamento junto à instituição fi nanceira, pelos serviços prestados, ocorrendo a tributação do ISS.

Eis, pois, a questão jurídica: o custo de fi nanciamento, parcial ou total, pode ser somado ao preço da mercadoria (preço de venda), sofrendo somente a incidência do ICM ou o custo do dinheiro, apurado do valor da mercadoria, atrairá a imposição do ISS? Enfi m, na operação de venda fi nanciada, para os efeitos de tributação,

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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separa-se, ou não, o preço da mercadoria e as parcelas do custo advindo do fi nanciamento?

A solução depende de serem considerados, ou não, negócios jurídicos distintos a compra e venda e o fi nanciamento.

Nesse toar, calha à fi veleta memorar o RE n. 101.103-0, Rel. Min. Aldir Passarinho, recolhendo-se do substancioso voto do eminente Relator esclarecedoras observações, assim:

Omissis

Estabelece o art. 1º, inc. I, do Decreto-Lei n. 406, de 31.12.1968, que o imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias tem como fator gerador: “- a saída de mercadoria de estabelecimento comercial, industrial ou produtor”.

E dispõe o art. 2° do mesmo diploma legal que a base de cálculo do imposto é: “- o valor da operação de que decorrer a saída da mercadoria”.

Nas operações de venda através de cartões de crédito o valor consignado como o de venda é - como não poderia deixar de ser - o preço dessa mesma mercadoria, sem qualquer outro acréscimo, de vez que este é o valor do qual decorre a saída da mercadoria.

Não resta dúvida - e isso foi posto como argumento no ven. acórdão sob a invocação de ensinamentos de Cunha Gonçalves (fl . 188) - que no contrato de venda comercial o preço pode ser com parte certa e parte incerta, mas não é este o caso, pois o preço fi ca ajustado no exato momento da compra, e a base de tal valor é que adquire o comprador a titularidade do bem e se lhe permite a retirada do estabelecimento vendedor. Se utiliza ele um fi nanciamento - o que fi ca seu inteiro critério mesmo após a aquisição da mercadoria e ultimação da compra e venda - o acréscimo daí decorrente é conseqüência de operação fi nanceira, como compensação pelo custo do dinheiro que o vendedor deixou de receber, mas não em razão do valor da mercadoria e dos encargos que se lhe agregam naturalmente, e em razão da própria operação comercial de compra e venda.

(...)

A meu ver não devem subsistir dúvidas quanto ao valor sobre o qual cabe a incidência do ICM. Vale a pena repetir o que diz o § 2° do art. 2° do Decreto-Lei n. 406/1968 que a base de cálculo do imposto é: “- o valor da operação de que decorrer a saída da mercadoria”.

Ora, o valor da operação de que decorre a saída da mercadoria não é, inquestionavelmente, aquele decorrente do aumento de incerta e futura utilização de fi nanciamento, mas sim aquele estipulado no momento da venda (...) (in Rev. Jurisp. TJRS - vol. 137, p. 27 a 29 - fl s. 216 a 221).

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (18): 61-85, abril 2011 75

No mesmo julgamento, votando, averbou o preclaro Ministro Djaci Falcão:

Também acompanho o voto do eminente Relator, considerando que a legislação específica, ou seja, o Decreto-Lei n. 406, estabelece que a base do cálculo do ICM é o valor da operação de venda da mercadoria. Os encargos do financiamento não podem, evidentemente, integrar as despesas da operação de venda para efeito da cobrança do tributo, no caso do ICM, como também demonstrou, da tribuna, o eminente patrono da recorrente. O tributo é sobre o fato gerador, não sobre o acréscimo decorrente de possível fi nanciamento. Mera operação de fi nanciamento não enseja a incidência do ICM sobre o valor total decorrente desse mesmo fi nanciamento (fl . 221).

Por essa viseira, em que pese, no caso comemorado, cuidar-se de fi nanciamento pela via do cartão especial de crédito, porém contemplando a mesma legislação básica invocada no presente recurso, evidencia-se que, embora ocorra fi nanciamento do preço da mercadoria, ou de parte dele, o ICM há de incidir apenas pelo valor ajustado pela venda descrita na nota fi scal entregue ao comprador, considerado como o valor da mercadoria saída do estabelecimento vendedor. O acréscimo em razão do fi nanciamento, pelo custo do dinheiro, não se soma como valor suplementar, escapando da incidência do ICM.

No mesmo sentido o julgado no REsp n. 29.307-RS, de que foi relator o

eminente Ministro Humberto Gomes de Barros.

Diante de tais pressupostos, dou provimento ao recurso.

RECURSO ESPECIAL N. 87.914-ES (96.0008752-0)

Relator: Ministro Francisco Peçanha Martins

Recorrente: Estado do Espírito Santo

Advogados: Santuzza da Costa Pereira Azeredo e outros

Recorrido: Dadalto S/A

Advogados: Valder Colares Vieira e outro

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EMENTA

Tributário. ICMS. Compras feitas com cartão de crédito. Juros. Não incidência. Divergência jurisprudencial não comprovada. Precedentes STF e STJ.

- Não incide o ICMS sobre os encargos fi nanceiros relativos ao fi nanciamento do preço das mercadorias, nas compras feitas por meio de cartão de crédito.

- A base de cálculo do ICMS é o valor da operação de que decorrer a saída da mercadoria.

- Dissídio pretoriano não confi gurado, por isso que os paradigmas colacionados apreciaram tema distinto da hipótese dos autos.

- Recurso não conhecido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, não conhecer do recurso. Votaram com o Relator os Ministros Aldir Passarinho Júnior e Hélio Mosimann.

Brasília (DF), 06 de maio de 1999 (data do julgamento).

Ministro Francisco Peçanha Martins, Relator

Ministro Aldir Passarinho Junior, Presidente

DJ 23.08.1999

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Francisco Peçanha Martins: Trata-se de recurso especial manifestado pelo Estado do Espírito Santo, com fundamento nas letras a e c do permissivo constitucional, contra acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do Espírito Santo que, por unanimidade, deu provimento à apelação interposta por Dadalto S/A nos autos de embargos à execução promovidos contra o Estado, objetivando o não recolhimento do ICM referente a juros recebidos sobre operações decorrentes de contrato de compra e venda a prazo através de cartão de crédito.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (18): 61-85, abril 2011 77

O v. acórdão não conheceu da preliminar de cerceamento de defesa e, no

mérito, declarou que os juros cobrados pela empresa de seus clientes, quando

da venda a prazo, através de cartão de crédito próprio, não integram a base de

cálculo do ICM.

Daí o apelo especial em que a ora recorrente alega ter o aresto violado o

artigo 2°, I, do DL n. 406/1968, quando decidiu que a base de cálculo do ICM é,

exclusivamente, o valor da venda à vista.

Admitido o recurso pelo Tribunal a quo, subiram os autos a esta Eg. Corte,

onde vieram a mim conclusos.

Dispensei o parecer da Subprocuradoria-Geral da República, nos termos

regimentais.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Francisco Peçanha Martins (Relator): - A questão posta

nos autos resume-se em saber se incide ou não o ICMS sobre juros cobrados

pela empresa contribuinte, nas operações decorrentes de compra e venda a

prazo, através de cartão de crédito.

O Tribunal de Justiça Estadual apreciando apelação interposta por Dadalto

S/A, ora recorrida, decidiu nos termos da ementa que reproduzo (fl s. 91):

Ementa. Embargos a execução. Tributário. Cerceamento de defesa. Preliminar não conhecida. Mérito: inscrição em dívida ativa. Falta de recolhimento do ICMS. Operações através de cartões especiais de crédito. Não incidência. Anulação da decisão de piso. Apelo provido.

Constitui matéria preclusa por isso não conhecida, indeferimento de prova em despacho saneador de que não houve recurso próprio na época. No mérito, em se tratando de venda através de cartão de crédito, emitido pelo próprio vendedor, os acréscimos ou juros relativos ao fi nanciamento não se incluem na base do cálculo do ICMS e tão somente sobre o preço considerado como valor da mercadoria, no momento da saída. O valor a maior, após o prazo concedido pelo cartão, se dá em razão do fi nanciamento pelo próprio vendedor pelo custo do dinheiro.

O voto que conduziu ao acórdão unânime, explicitou (fl . 96):

(...)

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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Para melhor elucidar a questão, pelo que se depreende dos autos, o portador do cartão de crédito Dadalto é um cliente preferencial a quem se permite adquirir mercadorias, em todas as suas lojas, efetuando o pagamento posteriormente sem qualquer acréscimo.

Efetuada a compra, o titular do cartão de crédito torna-se credor da empresa emissora porque a ele se assegurou o direito de adquirir as mercadorias nas condições previstas no contrato de abertura de crédito. Por ser ele - titular do cartão de crédito - cliente preferencial, pode ele adquirir à vista, as mercadorias que entender, nada pagando na oportunidade, mas recebendo quitação integral. Nesse momento, no ato da compra, recebe ele, cliente, a nota fi scal ou cupom de máquina registradora devidamente quitado, autorizando, através de documento próprio, o débito do valor correspondente na sua conta corrente de cartão de crédito.

Assim, conclui-se que ao cliente preferencial é dado o direito de pagar o valor de seu débito em data posterior, sem qualquer acréscimo, desde que o faça integralmente no vencimento. Daí para frente então que passa a correr a obrigação dos juros de mora.

O Tribunal a quo invocou, fundamentando a decisão, julgados do STF

para concluir anulando a decisão de primeiro grau e julgando procedentes os

Embargos à Execução.

Daí o inconformismo do Estado recorrente sustentando violação ao art. 2°,

I do DL n. 406/1968.

Remetendo-se a voto proferido na AC n. 20.188, o acórdão recorrido citou

trecho do mesmo, do qual destaco (fl s. 98):

Em espécie, o direito que rege a matéria é o Decreto-Lei n. 406/1968, que, ao estabelecer normas gerais sobre o ICMS também declara em seu artigo 1º:

O imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias tem como fato gerador: I - a saída de mercadorias de estabelecimento comercial, industrial ou produtor.

O Decreto-Lei suso citado explicitou, assim, de forma bem clara, o fato gerador e, simultaneamente, o seu critério temporal, para efeito de ICMS. Quer dizer, o referido imposto é devido no ato da saída da mercadoria do estabelecimento comercial.

Desta feita, como já foi bem esclarecido anteriormente, a saída da mercadoria, com competente emissão de nota fi scal, nas vendas pelo sistema de cartão de crédito, se dá no momento da apresentação do cartão pelo cliente e retirada da mercadoria pelo mesmo.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (18): 61-85, abril 2011 79

Induvidoso é pois, que o ICMS gerou-se naquele momento, e não no do pagamento do valor da mercadoria, pelo cliente, na data do vencimento do cartão como pretende o Estado do Espírito Santo.

O entendimento deste STJ quanto ao tema está em perfeita harmonia com

a decisão do Tribunal a quo, como demonstram os acórdãos dos quais transcrevo

as ementas:

Tributário. Compra e venda. Financiamento. ICMS. Base de cálculo.

1. A nota fi scal entregue ao comprador é o documento onde demonstra-se a operação de compra e venda, na saída da mercadoria, expressando o valor para a incidência do ICMS. Compra e venda e fi nanciamento são negócios jurídicos distintos. Os encargos fi nanceiros são desconsiderados na base de cálculo do ICMS.

2. Precedentes iterativos (STF e STJ).

3. Recurso provido. (REsp. n. 130.017-SP, DJ 30.11.1998, Rel. Min. Milton Luiz Pereira)

Tributário. Compra e venda. Financiamento. Inclusão dos juros na base de cálculo do ICMS.

1. Sabendo-se que o ICMS incidira sobre a saída de mercadorias de estabelecimento comercial, industrial ou produtor, e que a base de cálculo da citada exação é o valor da operação de que decorrer a saída da mercadoria, óbvio fi ca a impossibilidade de que este imposto venha a incidir sobre o fi nanciamento, até porque este é incerto quando da concretização do negócio comercial.

2. Precedentes.

3. Recurso improvido. (REsp n. 144.752-SP, DJ 17.11.1997, Rel. Min. José Delgado)

ICMS. Compras feitas com cartão de crédito. Encargos. Base de cálculo.

Os encargos relativos ao fi nanciamento do preço, nas compras feitas com cartão de crédito, não devem ser considerados no cálculo do ICMS.

Recurso improvido. (REsp n. 108.813-SP, DJ 09.11.1998, Rel. Min. Garcia Vieira)

Cito, ainda, desta Eg. 2ª Turma, o REsp n. 32.202-SP, não obstante julgado

em 1994, pela clareza de seus termos, resumido na ementa de seguinte teor:

ICM. Cartões de crédito. Juros. Embargos de declaração. Multa.

I - Segundo a jurisprudência do Pretório Excelso e desta Colenda Corte, os encargos fi nanceiros relativos ao fi nanciamento do preço nas compras feitas por meio de cartão de crédito, não devem ser considerados no cálculo do ICM.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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II - Não podem ser tidos como protelatórios os embargos declaratórios que visam suprir omissões. Além do mas não foi justifi cada a cominação imposta.

III - Recurso especial parcialmente provido para afastar a multa. (REsp n. 32.202-SP, DJ 1º.08.1994, Rel. Min. José de Jesus Filho)

Quanto ao dissídio pretoriano invocado, não o tenho por comprovado, por

isso que o paradigma colacionado apreciou tema distinto daquele trazido aos

autos.

Enquanto o aresto recorrido decidiu tema referente à incidência do ICMS

nas vendas através de cartão de crédito, o julgado indicado como divergente

decidiu sobre venda a crédito, o que confi gura hipótese distinta.

Na interposição do recurso especial fundado no dissenso pretoriano

impõe-se que o acórdão recorrido e o aresto confrontado tenham apreciado,

rigorosamente, o mesmo tema, à luz da mesma legislação federal, mas que as

soluções encontradas sejam distintas.

De todo o exposto, não conheço do recurso.

RECURSO ESPECIAL N. 144.752-SP (97.0058250-7)

Relator: Ministro José Delgado

Recorrente: Fazenda do Estado de São Paulo

Recorrido: Arthur Lundgren Tecidos S/A - Casas Pernambucanas

Advogados: José Ramos Nogueira Neto e outros

Alceu Albegard Júnior e outros

EMENTA

Tributário. Compra e venda. Financiamento. Inclusão dos juros

na base de cálculo do ICMS.

1. Sabendo-se que o ICMS incidirá sobre a saída de mercadorias

de estabelecimento comercial, industrial ou produtor, e que a base de

cálculo da citada exação é o valor da operação de que decorrer a saída

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (18): 61-85, abril 2011 81

da mercadoria, óbvio fi ca a impossibilidade de que este imposto venha

a incidir sobre o fi nanciamento, até porque este é incerto quando da

concretização do negócio comercial.

2. Precedentes.

3. Recurso improvido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Exmos. Srs. Ministros

da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos

e notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, negar provimento ao recurso.

Participaram do julgamento os Exmos. Srs. Ministros Garcia Vieira, Demócrito

Reinaldo e Humberto Gomes de Barros.

Ausente, justifi cadamente, o Exmo. Sr. Ministro Milton Luiz Pereira.

Brasília (DF), 06 de outubro 1997 (data do julgamento).

Ministro Humberto Gomes de Barros, Presidente

Ministro José Delgado, Relator

DJ 17.11.1997

RELATÓRIO

O Sr. Ministro José Delgado: A Fazenda do Estado de São Paulo interpõe

o presente recurso especial (fl s. 321-332), com fulcro no artigo 105, inciso III,

alínea a da Constituição Federal, contra acórdão (fl s. 312-318) proferido pela 2ª

Câmara de Férias de Julho/1996 de Direito Público do TJSP, assim ementado

(fl . 313):

Tributário. ICMS. Descontos concedidos por magazine em vendas com cartão de crédito próprio ou mediante fi nanciamento de empresa do grupo. Montante fi nanciado que não integra a base de cálculo do imposto. Embargos não recebidos.

Sustenta a recorrente violação ao artigo 2º, inciso I, do DL n. 406/1968.

A parte recorrida, em contra-razões (fl s. 335-344), pugna pela manutenção

do aresto atacado.

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Admitido o especial por despacho (fls. 346-347) do Exmo. Sr.

Desembargador Silva Leme, subiram os autos a esta Corte.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro José Delgado (Relator): Examina-se especial interposto

contra acórdão que, ao rejeitar embargos infringentes opostos pela ora recorrente,

manteve decisão proferida em autos de apelação cível, o qual entendeu que nas

vendas efetuadas com fi nanciamento ou cartão de crédito, o valor dos encargos

não deve ser considerado na base de cálculo do ICMS.

O presente especial não merece prosperar.

Ao meu julgar, não merece reforma o acórdão ora hostilizado, posto que

in casu afi gura-se cristalina a existência de dois contratos distintos, que se

sucedem, a saber: o de compra e venda e o de fi nanciamento. Sabendo-se que o

ICMS incidirá, ex vi do artigo 1°, inciso I e artigo 2° do DL n. 406/1968, sobre

a saída de mercadorias de estabelecimento comercial, industrial ou produtor,

e que a base de cálculo da citada exação é o valor da operação de que decorre

a saída da mercadoria, óbvio fi ca a inviabilidade de que este imposto (ICM)

venha a incidir sobre o fi nanciamento, até porque este é incerto, quando da

concretização do negócio comercial.

Ademais, tanto o Pretório Excelso, quando do julgamento do RE n.

101.103-0, Relator o eminente Ministro Aldir Passarinho, quanto esta Corte,

vêm entendendo desta forma.

Confi ra-se as ementas dos seguintes julgados:

Tributário. Compra e venda. Financiamento. Operações distintas ICM e ISS. Decreto-Lei n. 406/1968 (art. 1°, I, 2°, I, e 8°).

1. Na operação de compra e venda, o custo do financiamento não pode ser somado suplementarmente ao preço da mercadoria (preço de venda) para o efeito da incidência do ICM. O custo do dinheiro, apartado do valor da mercadoria, atrairá a imposição do ISS. A nota fi scal entregue ao comprador é o documento onde se demonstra a operação de compra e venda, na saída da mercadoria, expressando o valor para a incidência do ICMS. Compra e venda e o fi nanciamento são negócios jurídicos distintos.

2. Precedentes versando o tema.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (18): 61-85, abril 2011 83

3. Recurso provido. (REsp n. 45.536-7-RS, Rel. Min. Milton Luiz Pereira, DJ 11.09.1995)

Cartão de crédito. Juros. ICM. Cálculo. Inclusão.

Os encargos relativos ao fi nanciamento do preço, nas compras feitas através de cartão de crédito, não devem ser considerados, no cálculo do ICM. (REsp n. 29.307-1-RS, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, DJ 18.10.1993)

Por tais fundamentos, nego provimento ao recurso.

É como voto.

RECURSO ESPECIAL N. 190.318-SP (98.0072440-0)

Relator: Ministro Garcia Vieira

Recorrente: Arthur Lundgren Tecidos S/A - Casas Pernambucanas

Recorrida: Fazenda do Estado de São Paulo

Advogados: Alceu Albregard Júnior e outros

Carla Pedroza de Andrade e outros

EMENTA

ICM. Base de cálculo. Cartão de crédito.

A Primeira Seção já fi rmou entendimento no sentido de que os

encargos relativos ao fi nanciamento do preço, nas compras feitas com

cartão de crédito, não devem ser considerados no cálculo do ICMS.

Recurso provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Exmos. Srs. Ministros

da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos

e das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, dar provimento ao recurso,

nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.

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Votaram com o Relator os Ministros Demócrito Reinaldo, Humberto Gomes de Barros, Milton Luiz Pereira e José Delgado.

Brasília (DF), 1º de dezembro de 1998 (data do julgamento).

Ministro Milton Luiz Pereira, Presidente

Ministro Garcia Vieira, Relator

DJ 08.03.1999

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Garcia Vieira: - Arthur Lundgren Tecidos S/A - Casas Pernambucanas, com fundamento na Constituição Federal, artigo 105, inciso III, letras a e c, interpõe Recurso Especial (fl . 153), aduzindo tratar-se de Embargos à Execução fi scal movida contra a ora recorrente ante o não recolhimento do ICM, excluindo de sua base de cálculo parcelas relativas ao chamado “desconto crediário”.

O venerando aresto entendeu que os descontos concedidos pela empresa eram condicionados a um fi nanciamento feito através de empresas do grupo da recorrente. Daí a obrigatoriedade do recolhimento do questionado imposto.

Reclama o Fisco o imposto correspondente a valores deduzidos do valor da saída da mercadoria, a título de descontos concedidos, porque a venda foi feita a prazo.

Afi rma o recorrente que assim que o cliente efetua as compras, o preço é pactuado, computando eventuais descontos e é desse preço que o ICM é recolhido.

Pede provimento para o fi m de reformar o venerando acórdão.

Resposta (fl . 201).

Despacho (fl . 205).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Garcia Vieira (Relator): - Sr. Presidente: - Aponta o

recorrente, como violado o artigo 2º, inciso I do Decreto-Lei n. 406/1968,

versando sobre questões devidamente prequestionadas.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (18): 61-85, abril 2011 85

Conheço do recurso pela letra a.

Estabelece o referido dispositivo legal que a base de cálculo do ICMS

é o valor da operação de que decorre a saída de mercadoria. Este é o valor

líquido, após deduzido o valor do desconto concedido ao comprador. O valor

da operação de saída com desconto concedido ao cliente mesmo sendo para

compensar despesas de fi nanciamento é aquele recebido pelo contribuinte

vendedor, o preço menos o desconto concedido. A questão já é conhecida

desta Egrégia Corte, bastando lembrar os Recursos Especiais n. 29.307-1-RS,

DJ de 29.09.1993, relator, Ministro Gomes de Barros, n. 32.202-2-SP, DJ de

1º.08.1994, relator, Ministro José de Jesus Filho, 2ª Turma e n. 144.752-SP, DJ

de 17.11.1997, relator, Ministro José Delgado. No Recurso Especial n. 29.307-

1-RS, entendeu esta Egrégia Turma que:

Os encargos relativos ao fi nanciamento do preço, nas compras feitas através de cartão de crédito, não devem ser considerados no cálculo do ICM.

A Egrégia Segunda Turma, no Recurso Especial n. 32.202-2-SP, decidiu

que os encargos fi nanceiros relativos ao fi nanciamento do preço nas compras

feitas com cartão de crédito não devem ser considerados no cálculo do ICM.

Como se vê, ambas as Turmas da Colenda Primeira Seção já fi rmaram

entendimento no sentido de que os encargos relativos ao fi nanciamento do

preço, nas compras feitas com cartão de crédito, não devem ser considerados no

cálculo do ICMS.

Dou provimento ao recurso.