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Súmula n. 202

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Súmula n. 202

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SÚMULA N. 202

A impetração de segurança por terceiro, contra ato judicial, não se

condiciona à interposição de recurso.

Referências:

CF/1988, art. 5º, XXXV.

CPC, art. 499, caput, § 1º.

Lei n. 1.533/1951, art. 5º.

Precedentes:

REsp 2.224-SC (2ª T, 09.12.1992 – DJ 08.02.1993)

RMS 243-RJ (3ª T, 21.08.1990 – DJ 09.10.1990)

RMS 1.114-SP (4ª T, 08.10.1991 – DJ 04.11.1991)

RMS 2.404-SP (5ª T, 26.04.1995 – DJ 19.06.1995)

RMS 4.069-ES (2ª T, 26.10.1994 – DJ 21.11.1994)

RMS 4.315-PE (4ª T, 29.06.1994 – DJ 05.09.1994)

RMS 4.822-RJ (1ª T, 05.12.1994 – DJ 19.12.1994)

RMS 4.982-SP (3ª T, 14.03.1995 – DJ 22.05.1995)

RMS 5.381-SP (3ª T, 25.11.1996 – DJ 03.02.1997)

RMS 6.054-GO (6ª T, 08.10.1996 – DJ 16.12.1996)

RMS 6.317-SP (3ª T, 22.04.1996 – DJ 03.06.1996)

RMS 7.087-MA (4ª T, 24.03.1997 – DJ 09.06.1997)

Corte Especial, em 17.12.1997

DJ 02.02.1998, p. 181

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RECURSO ESPECIAL N. 2.224-SC (90.0001541-3)

Relator: Ministro José de Jesus Filho

Recorrente: Edson Correa

Recorrido: Mauro Wolff

Advogados: Taltibio Del’Valle Y Araújo e outros, Hamilton Plínio Alves

EMENTA

Recurso de terceiro prejudicado. Não sendo parte no feito, pode

o terceiro prejudicado fazer uso do mandado de segurança para

impedir lesão a direito seu, líquido e certo, provocada por decisão

judicial, mesmo quando seja esta passível de recurso. (RTJ 88/890).

E se a pretensão deduzida no writ decorre de lei em vigor, há direito

líquido e certo a proteger. Recurso especial não conhecido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, não conhecer do recurso, na forma do relatório e notas taquigráfi cas constantes dos autos, que fi cam fazendo parte integrante do presente julgado. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Peçanha Martins, Américo Luz e Pádua Ribeiro. Impedido, o Sr. Ministro Hélio Mosimann.

Custas, como de lei.

Brasília (DF), 09 de dezembro de 1992 (data do julgamento).

Ministro Antônio de Pádua Ribeiro, Presidente

Ministro José de Jesus Filho, Relator

DJ 08.02.1993

RELATÓRIO

O Sr. Ministro José de Jesus Filho: - Adoto, como relatório, a parte

expositiva do parecer da douta Subprocuradoria-Geral da República, verbis:

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

368

O Coronel Edson Corrêa, da Polícia Militar de Santa Catarina, pretendendo evitar sua transferência para a reserva remunerada por ato do Governo do Estado, com base na Lei Estadual n. 6.977, de 14.05.1987, que reduziu de dez para seis anos o tempo de sua permanência na ativa por contar mais de trinta anos de efetivo serviço, ajuizou procedimento cautelar inominado, preparatório de ação ordinária de anulação de ato jurídico.

Pediu liminar e arguiu, preliminarmente, a inconstitucionalidade da referida lei.

Deferida a liminar, sustou-se a publicação do ato de aposentadoria.

O Tenente-Coronel Mauro Wolff , sentindo-se prejudicado, impetrou mandado de segurança, para ter garantido o direito líquido e certo de concorrer à vaga que deveria ser aberta com a transferência do Coronel Edson Corrêa para a reserva, pedindo a cassação da liminar concedida.

O Coronel apresentou-se voluntariamente como litisconsorte necessário nos autos desta ação.

Manifestou-se o Ministério Público pela concessão da ordem.

Concedida a segurança, à unanimidade, pela 3ª Câmara Cível do E. Tribunal de Justiça, foi, conseqüentemente, cassada a liminar deferida na ação cautelar.

Opostos Embargos Declaratórios pelo litisconsorte, foram estes rejeitados.

Inconformado, interpôs Recurso Extraordinário, com fundamento no art. 119, alíneas a e d. Com a promulgação da Constituição Federal/1988, o recurso foi convolado em Especial, em obediência ao disposto no art. 105, III, alíneas a e c.

Alega o litisconsorte-recorrente, ter a v. decisão afrontado o art. 1º da Lei n. 1.533/1951, porque reconheceu a existência de direito líquido e certo e, ainda, que faltava legitimidade ao impetrante, para propor a ação. (fl s. 713-715)

O parecer foi no sentido do não conhecimento ou do improvimento do

recurso.

É este o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro José de Jesus Filho (Relator): - A inconformidade do

recorrente tem por pressupostos a ilegitimidade ad causam do recorrido, em

conseqüência a ausência de direito líquido e certo a proteger, assim como a

falta de apreciação pelo Tribunal da argüição de inconstitucionalidade da Lei

Estadual de n. 6.977/1987. Os dois primeiros fundamentos foram considerados

pelo v. aresto recorrido deste modo:

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (14): 363-415, outubro 2010 369

O Colendo Supremo Tribunal Federal em aresto da lavra do Ministro Cunha Peixoto, espancou qualquer dúvida ao decidir: “Não sendo parte no feito, pode o terceiro prejudicado fazer uso do mandado de segurança para impedir lesão a direito seu, líquido e certo, provocada por decisão judicial, mesmo quando seja esta passível de recurso.” (RTJ 88/890).

Da cautelar o impetrante não participou, era, portanto, terceiro, e nesta qualidade e de prejudicada pela liminar, é que tempestivamente requereu o mandado, podendo, à evidência, fazê-lo ainda que não haja atacado a liminar com o recurso próprio: o agravo de instrumento.

A segunda questão, é a alegada ausência de direito líquido e certo.

O ato governamental que transferiu o Cel. Edson Corrêa para a reserva está baseada nas Leis Estaduais n. 6.218 de 10.02.1983, alterada pela Lei Estadual n. 6.977 de 14.05.1987, em pleno vigor, logo, se a pretensão do impetrante está escorada em lei de vigência inconteste, não há que falar em ausência de direito líquido e certo. (fl s. 372-373).

No que tange a inconstitucionalidade suscitada, tal aspecto foi repelido

com propriedade nesta passagem no acórdão hostilizado:

Da inconstitucionalidade não se há de cogitar aqui, eis que esta, conforme se discorreu, é objeto da ação ordinária em curso.

Tratá-la aqui, seria suprimir uma instância, o que nos é vedado, e além disto, o objeto do mandado é, tão-somente, tentar cassar a liminar.

Respondidas todas as objeções, resta, na plenitude da sua vigência, a Lei Estadual n. 6.977 de 14.05.1987 que tangeu para a reserva da Polícia Militar, o litisconsorte.

Enquanto não se decretar sua inconstitucionalidade ela permanece vigorante e produzindo efeitos: legem habemus ... (fl s. 374-375).

Com o decisum concordou a douta Subprocuradoria-Geral da República,

verbis:

Sobre a alegada ilegitimidade do Tenente-Coronel, terceiro prejudicado para propor Mandado de Segurança, o Colendo Supremo Tribunal Federal em aresto da lavra do Ministro Cunha Peixoto, elidiu qualquer dúvida ao decidir:

Não sendo parte do feito, pode o terceiro prejudicado fazer uso do Mandado de Segurança para impedir lesão a direito seu, líquido e certo, provocada por decisão Judicial, mesmo quando seja esta passível de recurso. (RTJ 88/890).

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

370

O entendimento de há muito conferido à matéria é o de ser admissível o Mandado de Segurança contra ato judicial, toda vez que a autoridade agir em desconformidade com a lei ou com abuso de poder ou houver justo receio de sofrer violação de seus direitos por parte de autoridade, seja de que categoria for e sejam quais forem as funções que exerçam (art. 1º, Lei n. 1.533/1951).

A própria Constituição Federal de 1988, no seu artigo 5º, inciso XXXV, estabelece:

A lei não excluirá da apreciação do poder judiciário, lesão ou ameaça a direito.

A alegada afronta ao art. 1º da Lei n. 1.533/1951, que reconheceu a existência de direito líquido e certo do Impetrante, foi bem apreciada pelo E. Tribunal de Justiça (3ª Câmara Civil) de Santa Catarina que, na esteira do Supremo Tribunal Federal, assim se pronunciou:

Mandado de segurança. Ação cautelar inominada. Liminar. Terceiro. Prejuízo. Direito líquido e certo. Inconstitucionalidade.

Não sendo parte do feito, pode o terceiro prejudicado fazer uso do mandado de segurança para impedir lesão a direito seu, líquido e certo, provocada por decisão judicial, mesmo quando seja esta passível de recurso. (RTJ 88/890). Se a pretensão deduzida no writ decorre de lei em vigor, há direito líquido e certo a proteger. (grifos nossos).

O ato governamental que transferiu o Coronel Edson Corrêa para a reserva foi baseado na Lei Estadual n. 6.218/1983, alterada pela n. 6.977/1987, em pleno vigor. Logo, se a pretensão do Impetrante está escorada em lei de vigência inconteste, não há que se falar em ausência de direito líquido e certo.

Está em discussão a legitimidade e a constitucionalidade da transferência para a reserva, na ação ordinária própria para desconstituir o ato administrativo. Enquanto se não o fi zer, o ato é válido e efi caz, produzindo a vaga a que concorre o Impetrante.

Seu interesse, portanto, na impetração existe, por isso que defende o seu direito líquido e certo de concorrer à vaga ocorrida com a aplicação da legislação pertinente e em vigor.

Ademais, esta Corte tem reiteradamente decidido em hipóteses assim ementadas:

Mandado de segurança contra ato judicial.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (14): 363-415, outubro 2010 371

O princípio de que o mandado de segurança não pode ser utilizado como sucedâneo recursal aplica-se entre partes, mas não incide em se cuidando de segurança impetrada por terceiro, prejudicado em seu patrimônio pelo ato judicial.

Ação possessória, com liminar deferida, tendo por objeto a utilização de linha telefônica cuja titularidade todavia induvidosamente toca à impetrante, alheia à demanda, e que não pode ser privada do direito a livre disposição do bem.

Recurso ordinário provido. (ROMS n. 1.114-SP, 4ª Turma, Rel. Min. Athos Carneiro, publ. DJ, Seção I, 04.11.1991, p. 15.686).

Mandado de segurança. Ato judicial. Terceiro prejudicado. Cabe mandado de segurança de terceiro atingido por ato judicial, ainda que não haja interposto o recurso cabível ... (ROMS n. 317-MG, 3ª Turma, Rel. Min. Nilson Naves, publ. DJ, Seção I, 29.10.1990, p. 12.143).

Mandado de segurança. Ato judicial. Impetração de terceiro prejudicado.

O terceiro atingido pelo ato judicial pode impugná-lo por mandado de segurança, mesmo sem que haja interposto o recurso cabível.

Não cabe ao juízo do inventário controlar os atos de disponibilidade dos bens sociais, enquanto perdurar a apuração de haveres dos herdeiros do sócio premorto.

Recurso conhecido e provido. (ROMS n. 150-DF, 3ª Turma, Rel. Min. Gueiros Leite, publ. DJ, Seção I, 07.05.1990, p. 3.828).

Negar a segurança aí sim, seria negar a vigência da lei estadual que levou para a reserva o litisconsorte ora recorrente (fl s. 375).

Enquanto não se decretar sua inconstitucionalidade, a lei permanece vigorante e produzindo efeito: legem habemus. (fl s. 715-718)

Sem dúvida, o Colendo Tribunal de Justiça de Santa Catarina deu a

melhor solução para o desfecho da controvérsia, não havendo por conseguinte

negativa de vigência dos dispositivos citados, e nem dissídio jurisprudencial,

posto que nos julgados trazidos a confronto não se demonstrou que os padrões

foram oriundos de casos nas mesmas circunstâncias específi cas.

Pelo exposto, não conheço do recurso.

É o meu voto.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA N. 243-RJ (90.00005450)

Relator: Ministro Gueiros Leite

Recorrente: Hermano Cabernite

Recorrido: Adalberto Renaux

Impetrado: Juízo de Direito da 33ª Vara Cível do Rio de Janeiro

Tribunal de Origem: Tribunal de Alçada Cível do Rio de Janeiro

Advogados: Hermano Cabernite (em causa própria) e Pedro Velloso

Wanderley e outro

EMENTA

Terceiro. Mandado de Segurança em execução de sentença.

Não investe contra a coisa julgada o Mandado de Segurança

impetrado por quem não foi parte no processo, e está sendo executado e

que poderá, por essa via, opor limites à efi cácia da sentença exeqüenda.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados os autos em que são partes as acima indicadas.

Decide a 3ª Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade,

conhecer e dar provimento ao recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro-

Relator, na forma do relatório e notas taquigráfi cas constantes dos autos, que

fi cam fazendo parte integrante do presente julgado.

Custas, como de lei.

Brasília (DF), 21 de agosto de 1990 (data do julgamento).

Ministro Gueiros Leite, Presidente e Relator

DJ 09.10.1990

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Gueiros Leite: Trata-se de recurso ordinário interposto por

Hermano Cabernite, de acórdão do Tribunal de Alçada Cível, do Rio de Janeiro,

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (14): 363-415, outubro 2010 373

nos autos do mandado de segurança que impetrou contra o Juiz da 33ª Vara

Cível da Capital. O writ visa a impedir que se execute sentença proferida em

ação possessória entre partes Adalberto Renaux versus Arnaldo Renaux e que tem

como objeto imóvel residencial de que é locatário o impetrante. Este sustenta

deter a posse direta do imóvel e que por isso será atingido pela execução da

sentença proferida em processo ao qual não foi chamado.

Eis o voto, corpo do acórdão recorrido:

Rescindido o comodato, através de sentença prolatada em interdito possessório de reintegração, movido pelo litisconsorte contra o comodatário-locador, trânsita em julgado, insurge-se o impetrante contra a execução do decisum, ao fundamento de que não havendo integrado a lide possessória, não esta sujeito aos efeitos do julgado. Vê-se, pois, que a vexata quaestio consiste em saber-se se a rescisão do contrato de comodato, decretada por sentença passada em julgado, tem, ou não, refl exos no contrato de locação ajustado entre o comodatário e o impetrante. A resposta positiva é inafastável. Registra-se, inicialmente, que a impetração investe contra sentença transitada em julgado, proferida em ação de reintegração de posse, na qual o impetrante não foi parte, partindo da premissa, verdadeira, aliás, de que a coisa julgada opera res inter alios, vale dizer, entre as partes do processo em que se formou.

Mas a hipótese não é de coisa julgada, qualidade de que se reveste a sentença após o exaurimento dos recursos a que está sujeita. A questão diz respeito à efi cácia da sentença, como ato de vontade do Estado, à qual se submetem as partes, e também os terceiros que, de qualquer modo, tenham negócios jurídicos conexos à relação defi nida pelo julgado (Omissis).

O diploma processual, em seus arts. 467 e 472, conceituou a coisa julgada e fi xou seus limites subjetivos, sem tocar na efi cácia do ato jurisdicional em relação a terceiros.

O impetrante é terceiro em relação ao autor exitoso da ação possessória, mas terceiro que mantém com o réu da aludida ação uma relação jurídica subordinada àquela que foi desconstituída pela sentença. A locação, ajustada com o comodatário, cessa quando o comodato resulta rescindido pelo decreto jurisdicional, passando o locatário, de titular da posse direta, a mero detentor da res, sujeito, portanto, à constrição decorrente de execução da sentença que despojou o comodatário-locador da posse da coisa emprestada, ou seja, do imóvel alugado por este ao impetrante, dado que a sentença, que reintegrou o litisconsorte na posse da coisa, é efi caz contra qualquer que detenha tal posse, sem título. (Fls. 134-135)

Daí o presente recurso ordinário (fl s. 142v.), em que o recorrente persiste

nos argumentos da impetração. Os autos subiram e aqui no Tribunal a ilustrada

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

374

Subprocuradoria Geral da República opinou pelo não provimento, pois o

recorrente, que recebera em locação imóvel dado em comodato, não poderá

escapar da execução da sentença, de modo a não desocupá-lo, tanto mais porque

o seu caso não se enquadra no art. 47, parágrafo único, do Código de Processo

Civil (fl s. 149 a 150).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Gueiros Leite (Relator): O voto condutor do acórdão

recorrido registra que a extinção do comodato, decretada por sentença transitada

em julgado, tem refl exos no contrato de locação ajustado entre o comodatário

e o impetrante, que investe no writ contra sentença proferida em ação de

reintegração de posse, na qual não foi parte. E que esses refl exos dizem respeito

com a efi cácia da sentença à qual se submetem as partes e também os terceiros

que, de qualquer modo, tenham negócios jurídicos conexos à relação defi nida

pelo julgado. Assim, embora seja verdadeira a premissa de que a coisa julgada

somente opera entre as partes do processo em que se formou, contudo, na lição

de LIEBMAN, todos, sem distinção, encontram-se potencialmente em pé de

igualdade na sujeição aos efeitos da sentença, que se produzirão, efetivamente,

para os que, por sua posição jurídica, tenham qualquer conexão com o objeto

do processo. A natureza dessa sujeição é a mesma para todos, partes e terceiros,

determinando-se a medida dessa sujeição pela relação de cada um com o objeto

da decisão.

Na hipótese dos autos, o impetrante, ora recorrente, é terceiro em relação

ao autor na ação possessória, mas mantém com o réu na aludida ação uma

relação conexa àquela que foi desconstituída pela sentença. A locação ajustada

com o comodatário e réu teria cessado para o acórdão, quando o comodato

resultou rescindido pela sentença, passando o locatário, de titular da posse

direta, a mero detentor da res, sujeito, portanto, à constrição decorrente da

execução da sentença que despojou o comodatário-locador da posse da coisa

emprestada, ou seja, do imóvel alugado ao impetrante, dado que a sentença, que

reintegrou o comodante, é efi caz contra qualquer um que detenha tal posse, sem

título (fl s. 135).

Não aplico ao caso, porém, o postulado jurídico do acórdão, de que a efi cácia

natural da sentença vale para todos, porque tal importaria na desconstituição do

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (14): 363-415, outubro 2010 375

contrato de locação formado entre o comodatário e o impetrante e que não

poderia ser objeto do pedido na ação possessória. Esse contrato, ademais de

constituir o título justifi cador da posse do impetrante no imóvel, é res inter

alios quanto ao comodante e autor na ação. A execução da sentença esbarrará,

pois, na posse que deriva de relação obrigacional estranha ao comodato, sendo

o desfazimento deste o real objetivo da possessória. A locação somente poderá

ser rescindida nos termos da legislação específi ca e não como conseqüência da

sentença na possessória, a exemplo, entre outros, do que ocorre com a extinção

do usufruto. Dispõe o art. 7º, da Lei n. 6.649/1979, que o contrato de locação

ajustado pelo usufrutuário ou fi duciário termina com a extinção do usufruto ou

fi deicomisso, cabendo ao nu-proprietário ou àquele em cujas mãos se consolidou

o domínio o direito de rescindir a locação (art. 51, II).

Sustenta o impetrante no writ ser detentor da posse direta do imóvel por

força do contrato de locação, pactuado há mais de seis anos, não podendo ser

atingido pela sentença proferida em medida judicial “da qual sequer foi parte”,

dela tomando conhecimento apenas na fase executória. Daí porque pede, e com

razão, a concessão da segurança para garantir a não-execução da sentença (fl s. 6),

que, por sinal, determinou a reintegração do autor apenas contra o comodatário-

réu (fl s. 19).

Ante o exposto, conheço e dou provimento ao recurso.

É como voto.

VOTO-VISTA

O Sr. Ministro Nilson Naves: Em caso de comodato por prazo

indeterminado, foi a ação de reintegração de posse do imóvel, ajuizada pelo

comodante e não contestada pelo comodatário, declarada procedente por

sentença, com trânsito em julgado. Expedido o mandado de reintegração, veio

o presente writ, impetrado pelo locatário do imóvel, que o tomara em locação

do comodatário. Indeferido, na origem, o pedido de segurança, o Sr. Ministro

Gueiros Leite, nesta Turma, provê o recurso ordinário, conclusivamente:

Sustenta o impetrante no writ ser detentor da posse direta do imóvel por força do contrato de locação, pactuado há mais de seis anos, não podendo ser atingido pela sentença proferida em medida judicial “da qual sequer foi parte”, dela tomando conhecimento apenas na fase executória. Daí porque pede, e com razão, a concessão da segurança para garantir a não-execução da sentença (fl s. 6),

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

376

que, por sinal, determinou a reintegração do autor apenas contra o comodatário-réu (fl s. 19).

Ante o exposto, conheço e dou provimento ao recurso.

Estou de acordo com S.Exª, provendo o recurso, por igual. Quero crer,

em relação ao impetrante, de duvidosa efi cácia a sentença que reintegrou o

comodante na posse imediata do imóvel em questão. Penso assim, primeiro,

porque o locatário não participou da reintegratória, envolvendo comodante

e comodatário (pai e fi lho, no caso específi co), segundo, porque, ainda que se

tenha por rompida a relação ex locato, em virtude do desfazimento do comodato,

tal há de ser declarado em ação própria, a ação de despejo, à semelhança do art.

7º c.c. o art. 51-II, da Lei n. 6.649, de 16.05.1979. Em suma, verifi co não ter

bom propósito a reintegração, pura e simplesmente, em existindo locação desde

o ano de 1983.

Faço companhia a S.Exª, provendo o recurso ordinário.

VOTO

O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro: Sr. Presidente, manifesto que não há

como negar que a sentença prolatada na possessória faz coisa julgada e que o

locatário não pode desconhecer o fato de que, entre comodante e comodatárío,

existe uma sentença transitada em julgada. Coisa, entretanto, inteiramente

diversa é a efi cácia dessa sentença em relação a ele. E o que se pretende, segundo

depreendi, é executar, contra c, sentença prolatada em processo em que a e b

foram partes.

Acompanho o voto do Sr. Ministro-Relator.

RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA N. 1.114-SP (91.0012757-4)

Relator: Ministro Athos Carneiro

Recorrente: Vivian Feres José

Recorrido: João de Carvalho Júnior

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (14): 363-415, outubro 2010 377

Impetrado: Juízo de Direito da 27ª Vara Cível de São Paulo

Tribunal de Origem: Segundo Tribunal de Alçada Civil do Estado de São

Paulo

Advogados: Frank Pinheiro Lima

João de Carvalho Júnior

EMENTA

Mandado de Segurança contra ato judicial.

O princípio de que o mandado de segurança não pode ser

utilizado como sucedâneo recursal aplica-se entre partes, mas não incide

em se cuidando de segurança impetrada por terceiro, prejudicado em

seu patrimônio pelo ato judicial.

Ação possessória, com liminar deferida, tendo por objeto a

utilização de linha telefônica, cuja titularidade todavia induvidosamente

toca à impetrante, alheia à demanda, e que não pode ser privada do

direito à livre disposição do bem.

Recurso ordinário provido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados os autos em que são partes as acima indicadas.

Decide a 4ª Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, dar

provimento ao recurso, na forma do relatório e notas taquigráfi cas precedentes

que integram o presente julgado. Participaram do julgamento, além do

signatário, os Srs. Ministros Fontes de Alencar, Sálvio de Figueiredo, Barros

Monteiro e Bueno de Souza.

Custas, como de lei.

Brasília (DF), 08 de outubro de 1991 (data do julgamento).

Ministro Athos Carneiro, Presidente e Relator

DJ 04.11.1991

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

378

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Athos Carneiro: Em seu parecer, o ilustre Dr. Vicente de

Paulo Saraiva com excelência sintetizou a espécie, verbis:

Carmem Verena Feres José celebrou contrato de locação de imóvel de sua propriedade ao advogado João de Carvalho Júnior (fl s. 13-14vº), pelo prazo de 12 (doze) meses, de 1º.09.1985 a 30.08.1986, sendo incluído na locação também o uso da linha telefônica 34-2974 (de uso comercial), instalado no dito imóvel, daquela dizendo ter a “propriedade” e assegurando sua permanência “durante a vigência deste contrato” (cláus. 15).

Neste, entretanto, não consta qualquer referência a Vivian Feres José, nem assinatura sua sequer, ao pé da avença.

Argüindo, então, sua titularidade sobre a aludida linha telefônica, impetrou Vivian o presente MS contra liminar do MM. Juiz da 27ª V. Cível-SP (Capital), o qual, inaudita altera parte (fl s. 16-vº), ao 30.05.1990 determinara a religação da linha telefônica no imóvel primitivo, acolhendo pedido formulado na ação de reintegração na posse, proposta por João de Carvalho contra Carmem Verena, calcando-se o autor na cláusula 15 do aludido contrato (fl s. 08-12).

Sustenta a impetrante Vivian que, sendo ela a verdadeira titular de referida linha telefônica, desde 1º.02.1985 (fl s. 18) - antes, portanto, da data inicial do contrato locatício em tela -, transferira seus direitos sobre a mesma em favor de Ary Soares aos 03.04.1990, havendo solicitado à Telesp a transferência daquela para novo endereço - o que se efetivara já aos 23.03.1990 (fl s. 18-19).

O objeto da segurança era, assim, a revogação da liminar concedida na possessória - havendo a Eg. 3ª Câm. 2º TAcisp, em v.u., denegado a ordem (fl s. 52-53 e 58-61).

Os inequívocos do V. acórdão (o qual defi nira a impetrante como “locadora” do imóvel e argüira a inexistência de recurso seu no interdito possessório), levantados que foram nos Embargos Declaratórios de fl s. 65-68, vieram a ser emendados no V. Decisum de fl s. 72-74, o qual, todavia, ratifi cou a denegação da ordem, in verbis:

E o fato de a impetrante não ser parte na lide reintegratória, nem locadora do imóvel, não propicia, pelo que consta dos autos, seja alterada a conclusão do v. acórdão porque, quando entabulado o contrato de locação por Carmem, alugou ela, também, a linha telefônica n. 34-2974, de destinação comercial, conforme constou, expressamente, de cláusula contratual.

Evidentemente tal fato não podia ser do desconhecimento da impetrante Vivian, pois deixou a linha telefônica no imóvel locado por Carmem desde o início da locação, 1º de setembro de 1985 até 3 de abril de 1990, como informou a Telesp, as fl s. 18 dos autos.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (14): 363-415, outubro 2010 379

Assim, permaneceu o telefone integrando o contrato de locação, e efetivamente mantido no imóvel locado durante quase cinco anos, até que Vivian resolveu vendê-lo a terceiro, propiciando a decantada ação de reintegração.

Daí, o r. recurso ordinário de fl s. 76-80 (fl s. 92 a 94).

Nas razões de recurso, sustenta a recorrente, fundamentalmente:

Mas, evidentemente, não sendo parte na relação locatícia, não tendo locado o telefone, a decisão não enfrentou os fundamentos da inicial, seja em relação ao direito legítimo de propriedade da recorrente, seja da precariedade do uso do telefone, limitado a um ano (cláusula 15a.), concluindo por afirmar que de qualquer modo, não podia, nos embargos declaratórios, recebê-los como “extensão infringencial”, reconhecendo julgamento com vício, também aqui na derradeira decisão, de extra et citra petita. (fl s. 78)

E, adiante, alega ser indiscutível, e todos o reconhecem, a propriedade

da impetrante sobre a linha telefônica, não podendo assim Verena, com mera

posse precária do aparelho, dispor da coisa sem autorização da postulante: “A

indisponibilidade da linha telefônica decretada pelo Juízo da 27ª Vara Cível

da Capital, na reintegratória de João de Carvalho Jr. contra Carmem Verena

F. José, ofendeu direito líquido e certo da recorrente, conforme dispositivo

Constitucional e do Código Civil supratranscrito.

Inconformada com as decisões leva a esse Colendo Tribunal o recurso e

suas razões para obter a concessão da ordem pleiteada no pedido de writ, ou seja,

o cancelamento ou cassação da liminar proferida na reintegratória mencionada

para que a recorrente possa dispor de seu bem como lhe aprouver”. (fl s. 80).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Athos Carneiro (Relator): Dou provimento ao recurso,

por haver a decisão judicial impugnada, proferida em lide possessória em que

a impetrante não é parte, ofendido o direito de propriedade desta (ou posse

plena, ou de uso, conforme se entender doutrinariamente sobre o tema em

matéria de linhas telefônicas), ao conceder liminar que retirou à recorrente a

disponibilidade sobre bem incorporado ao seu patrimônio, e, diga-se, bem de

real valor econômico.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

380

Com inteira propriedade manifestou-se o douto signatário do parecer do

Ministério Público Federal:

Acentue-se, desde logo, que o mero fato de a impetrante saber da utilização da linha telefônica pelo locatário, por si só não desfi gurava o caráter de liberalidade mantida por aquela. Ela mesma, aliás, privada que se achava do bem de que tinha titularidade, podia até socorrer-se do interdito possessório apropriado, sem ter que respeitar, sequer, o prazo previsto na dita cláusula 15.

Houvera o MM. Juiz lido com a devida atenção o inteiro teor da mesma cláusula, teria verifi cado rezar ela que a utilização da linha telefônica pelo locatário se limitava à “vigência do contrato” - a saber: até 30.08.1986 -, após cujo término “poderá (a locadora) retirá-la, vendê-la ou fazer o uso que melhor lhe convenha”. Pouco importava a prorrogação da locação ex vi legis, porquanto “locação” e “contrato” não se confundem, à evidência.

E assim S. Exª sequer poderia ter concedido a liminar, máxime sem ouvir a outra parte, devendo, por elementar prudência, ter designado audiência de justifi cação, previamente citada a ré Carmem (CPC, art. 928).

Nessa oportunidade, propiciar-se-ia integração na lide da impetrante Vivian, litisconsorte necessária que era (id., art. 47), além de, inclusive, haver de ser necessariamente denunciada à lide (id., art. 70, II).

Portanto, tal não havendo acontecido, tendo o interdito corrido sem seu conhecimento, não se lhe podia acoimar (como fez o V. Acórdão) de não haver interposto o recurso cabível à concessão da liminar legitimando o mandamus. Isso porque seu direito à disponibilidade do bem de que era titular fora atingido, refl examente pelo menos, em virtude do ato judicial. Não se pode descartar, evidentemente, a Ary, esbulhado que fora em sua posse, acionar a impetrante pela transferência - que teria sido incabível - da dita linha telefônica. (fl s. 94-95)

Pelo exposto, dou provimento ao recurso, para conceder a segurança tal

como impetrada foi.

É o voto.

RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA N. 2.404-SP (92.32237-9)

Relator: Ministro Assis Toledo

Recorrente: Paulo Moretti

Recorrido: Heitor Oswaldo Dupont

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (14): 363-415, outubro 2010 381

Impetrado: Juízo de Direito da 3ª Vara Cível de São Paulo-SP

Tribunal de Origem: Segundo Tribunal de Alçada Civil do Estado de São

Paulo

Advogado: Alexandre da Silva Santos

EMENTA

Mandado de segurança. Ato judicial. Terceiro prejudicado.

Possibilidade de utilização do writ.

Hipótese, contudo, em que o direito do impetrante não se mostra

líquido e certo.

Pedido denegado. Recurso improvido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quinta

Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas

taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, negar provimento ao recurso. Votaram

com o Relator os Ministros Edson Vidigal, Jesus Costa Lima, José Dantas e Cid

Flaquer Scartezzini.

Brasília (DF), 26 de abril de 1995 (data do julgamento).

Ministro Jesus Costa Lima, Presidente

Ministro Assis Toledo, Relator

DJ 19.06.1995

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Assis Toledo: Intitulando-se sublocatário de imóvel com

sentença de despejo transitada em julgado, Paulo Moretti impetrou mandado de

segurança objetivando a sustação da execução da sentença.

Indeferido o writ, vem o recurso.

A douta Subprocuradoria-Geral da República é pelo improvimento.

É o relatório.

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VOTO

O Sr. Ministro Assis Toledo (Relator): O terceiro, que não foi parte na ação, quando prejudicado pelo ato judicial, pode, em tese, utilizar-se do mandado de segurança, se o seu direito apresentar-se cristalino, devidamente apoiado em prova preconstituída.

No caso dos autos, porém, a documentação exibida deixa dúvidas a respeito da verdadeira situação do impetrante (sublocatário ou intruso?), matéria dependente de prova que não comporta deslinde na via sumaríssima do writ.

Nego provimento.

É o voto.

RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA N. 4.069-ES (94.0002000-7)

Relator: Ministro Antônio de Pádua Ribeiro

Recorrentes: Germano Rodrigues de Quevedo e outro

Advogados: Jorge Leal de Oliveira e outros

Tribunal de Origem: Tribunal de Justiça do Estado do Espírito Santo

Impetrado: Juízo de Direito da 1ª Vara Cível de Vitória-ES

Recorridos: Antônio Francisco da Costa e outro

Advogados: Humberto Élio Figueiredo dos Santos e outro

EMENTA

Mandado de segurança. Ato judicial. Impetração pelo terceiro prejudicado.

I - O terceiro atingido pelo ato judicial pode impugná-lo por meio de mandado de segurança, ainda que não haja interposto o recurso cabível. No caso, os impetrantes, na qualidade de litisconsortes passivos necessários, deveriam ter sido citados para ação cautelar inominada anteriormente proposta, em que foi praticado o ato atacado nesta impetração, e não foram. Conseqüências.

II - Recurso ordinário conhecido e provido.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (14): 363-415, outubro 2010 383

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima

indicadas.

Decide a Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade

dos votos e das notas taquigráficas anexas, por unanimidade, conhecer do

recurso e dar-lhe provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.

Participaram do julgamento os Srs. Ministros José de Jesus, Hélio

Mosimann, Peçanha Martins e Américo Luz.

Brasília (DF), 26 de outubro de 1994 (data do julgamento).

Ministro Hélio Mosimann, Presidente

Ministro Antônio de Pádua Ribeiro, Relator

DJ 21.11.1994

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro: Trata-se de recurso ordinário

em mandado de segurança interposto por Germano Rodrigues de Quevedo e outro

contra o v. acórdão da Primeira Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado

do Espírito Santo, assim ementado (fl s. 143):

Mandado de segurança. Ato judicial. Inexistência de recurso próprio. Medida liminar sustada. Segurança denegada.

O Mandado de Segurança não se presta a servir de sucedâneo recursal. Inexistindo impugnação por recurso próprio, a segurança não pode ser concedida sob pena de suprimir uma instância. Segurança denegada à unanimidade. Liminar sustada.

Sustentam os vencidos que o acórdão em comento violou o art. 47 do

Código de Processo Civil, porquanto, segundo entendem, como litisconsortes

passivos necessários, deveriam ter sido citados para a ação cautelar inominada

anteriormente proposta, e, se não o foram, a sentença, a eles, não poderia atingir.

Subindo os autos a esta Corte, a douta Subprocuradoria-Geral da

República, opinou pelo conhecimento e provimento do recurso (fl s. 213-215).

É o relatório.

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VOTO

O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro (Relator): O parecer da douta

Subprocuradoria-Geral da República, da lavra da ilustre Drª Helenita Amélia

G. Caiado de Acioli, bem situou a controvérsia (fl s. 214-215):

4. Trata-se de Mandado de Segurança impetrada por terceiros prejudicados contra o M.M. Juiz de Direito da 1ª Vara Cível que deferiu liminar em Medida Cautelar inominada, anulando as eleições no sindicato dos comerciários, sem a citação dos recorrentes, que se consideram atingidos pelo ato.

5. In casu, inteiramente procedentes as razões do inconformismo.

6. A toda evidência, os recorrentes, na qualidade de litisconsortes passivos necessários, deveriam ter sido citados para integrar a lide, sob pena de nulidade do processo, a teor do parágrafo único, do art. 47, do CPC.

7. Assim, na ausência de indispensável citação, perfeitamente cabível a impugnação do ato através do mandado de segurança para desconstituir o julgado independentemente da interposição do recurso cabível.

8. Nesse sentido tem decidido o Eg. Superior Tribunal de Justiça, em casos do mesmo jaez:

Mandado de Segurança. Ato Judicial. Impetração de terceiro prejudicado.

O terceiro atingido pelo ato judicial pode impugná-lo por mandado de segurança, mesmo sem que haja interposto o recurso cabível.

Não cabe ao juízo do inventário controlar os atos de disponibilidade dos bens sociais, enquanto perdurar a apuração de haveres dos herdeiros do sócio premorto.

Recurso conhecido e provido. (ROMS n. 150-DF, Rel. Min. Gueiros Leite, RSTJ 45/487).

Mandado de Segurança. Ato judicia1. Terceiro prejudicado. Cabe mandado de segurança de terceiro atingido por ato judicial. Ainda que não haja interposto o recurso cabível. Hipótese excepcional. Onde o imperativo da citação de litisconsorte necessário não foi atendido, daí a concessão da segurança, pela turma para anular sentença proferida em ação anulatória. Recurso ordinário provido em parte. (ROMS n. 317-MG, Rel. Min. Nilson Naves, RSTJ 45/487).

O parecer, diante do exposto, é pelo conhecimento e provimento do recurso.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (14): 363-415, outubro 2010 385

No mesmo sentido dos precedentes colacionados no transcrito parecer,

votei como Relator, no Mandado de Segurança n. 100.965-SP, decidido pela

Segunda Seção do extinto Tribunal Federal de Recursos, na assentada de

24.04.1984, na consonância da seguinte ementa (RTFR 114/330):

Mandado de segurança. Ato judicial. Impetração por terceiro atingido pelo ato atacado.

Propriedade industrial. Medida cautelar concedida em ação anulatória de patente. Descabimento, no caso.

I - O terceiro atingido por ato judicial não precisa dele recorrer para fi ns de atacá-lo, através de mandado de segurança, segundo a jurisprudência desta Corte e do Excelso Pretório.

II - A concessão liminar de cautelar em ação anulatória de patente, consistente em sustar os efeitos desta, implicou, no caso, em ofensa a direito subjetivo de terceiro, titular do direito de explorar a patente. Com efeito, o requisito aparência do bom direito (fumus boni juris), em tal hipótese, exsurge em favor daquele que tem o registro da marca e não, como afi rmado no ato atacado, em prol do autor da ação anulatória.

III - Mandado de segurança conhecido e concedido.

Isto posto, conheço do recurso e dou-lhe provimento, a fi m de anular o ato

impugnado nesta impetração, no feito em que foi praticado, bem como os que

lhe são supervenientes, procedendo-se à citação dos impetrantes, na qualidade

de litisconsortes necessários.

RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA N. 4.315-PE (94.11681-0)

Relator: Ministro Barros Monteiro

Recorrente(s): E. Lucena S.A. Indústrias Metalúrgicas

Recorrido(s): Euclides Lucena Filho e outros

Impetrado: Juízo de Direito da 1ª Vara de Órfãos, Interditos e Ausentes de

Recife-PE

Tribunal de Origem: Tribunal de Justiça do Estado de Pernambuco

Advogados: Roberto Borba Gomes de Melo e Juarez Neri Ferreira e outros

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386

EMENTA

Mandado de Segurança contra ato judicial impetrado por terceiro

prejudicado.

O princípio de que o mandado de segurança não pode ser

utilizado como sucedâneo recursal aplica-se entre as partes, não

incidindo quando se tratar de segurança impetrada por terceiro com o

objetivo de impedir lesão a direito seu provocada por decisão judicial.

Precedentes do STF e STJ.

Recurso ordinário provido parcialmente.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas:

Decide a Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade,

dar parcial provimento ao recurso, na forma do relatório e notas taquigráfi cas

precedentes que integram o presente julgado. Votaram com o Relator os Srs.

Ministros Ruy Rosado de Aguiar, Antonio Torreão Braz, Fontes de Alencar e

Sálvio de Figueiredo.

Brasília (DF), 29 de junho de 1994 (data do julgamento, cont. da sessão

inic. em 28.06.1994).

Ministro Fontes de Alencar, Presidente

Ministro Barros Monteiro, Relator

DJ 05.09.1994

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Barros Monteiro: Cuida-se de mandado de segurança

impetrado por “E. Lucena S/A Indústrias Metalúrgicas” contra ato do Juiz

de Direito da 1ª Vara de Órfãos, Interditos e Ausentes de Recife, que deferiu

a realização de perícia nos assentos contábeis da impetrante, em autos de

inventário. Segundo a impetração, tratando-se no caso de sociedade anônima,

dispensável e improdutiva é a apuração de haveres, desde que são objeto do

inventário as ações da empresa.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (14): 363-415, outubro 2010 387

A Seção Cível do Tribunal de Justiça do Estado de Pernambuco, por

maioria, acolheu a preliminar suscitada pela Procuradoria-Geral da Justiça

do Estado, de não conhecimento da segurança, em virtude de não ter a

impetrante interposto o recurso cabível, o de agravo de instrumento. Eis os seus

fundamentos:

O entendimento predominante nos tribunais brasileiros é no sentido de que o mandado de segurança não é sucedâneo do recurso próprio contra decisão judicial, sendo cabível somente em casos especiais e com observação de princípios e normas já defi nidas na jurisprudência pátria, sendo uma delas a interposição do recurso próprio e recebido ou que não tenha efeito suspensivo. (fl s. 134).

Sob a alegação de que não é parte nos autos de inventário e que, assim, não

lhe cabia agravar da decisão, a impetrante opôs embargos declaratórios, os quais,

todavia, não foram conhecidos pela mesma turma julgadora.

Inconformada, a impetrante manifestou o presente recurso ordinário,

aduzindo que a decisão recorrida, ao acolher a preliminar de não conhecimento

dos embargos declaratórios, divergiu da orientação traçada pelo Supremo

Tribunal Federal, que o admite para corrigir erro manifesto. Insistiu na assertiva

de que, não sendo parte no processo, não lhe era permitido recorrer.

A Subprocuradoria-Geral da República opinou pelo não conhecimento do

recurso.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Barros Monteiro (Relator): A jurisprudência dominante

tanto da Suprema Corte como deste Tribunal é no sentido de que “não sendo

parte no feito, pode o terceiro prejudicado fazer uso do mandado de segurança

para impedir lesão a direito seu, líquido e certo, provocada por decisão judicial,

mesmo quando seja esta passível de recurso” (RTJ 88/890). Confi ram-se nesse

sentido os seguintes julgados: RTJ 87/96 e 119/726; RMS n. 150-DF, relator

Ministro Gueiros Leite; RMS n. 1.983-4-SP, relator Ministro Waldemar

Zveiter; RMS n. 317-MG, relator Ministro Nilson Naves; REsp n. 2.224-0-SC,

relator Ministro José de Jesus Filho.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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No Recurso em Mandado de Segurança n. 1.114-SP, de que foi relator o

eminente Ministro Athos Carneiro, esta Quarta Turma deixara assentado:

O princípio de que o mandado de segurança não pode ser utilizado como sucedâneo recursal aplica-se entre partes, mas não incide em se cuidando de segurança impetrada por terceiro, prejudicado em seu patrimônio pelo ato judicial.

Hipótese similar foi apreciada quando do julgamento do RMS n. 99-SP,

por mim relatado, onde a respeito tive ocasião de anotar:

Aliás, a condição de terceiros acentua a nota peculiar que qualifi ca a espécie, à vista de que, não tomando conhecimento da decisão impugnada, não teriam as impetrantes como, a tempo, interpor o recurso de agravo de instrumento, por sinal, desprovido de efeito suspensivo. A propósito, vale lembrar julgado oriundo da Suprema Corte, cuja ementa aduziu in verbis:

O rigor da Súmula n. 267, segundo a qual “não cabe mandado de segurança contra ato judicial passível de recurso ou correição”, tem sido abrandado pela jurisprudência, vindo a ser admitido em casos excepcionais, confi gurando-se a hipótese como um deles, até porque além da irreparabilidade do dano, e necessidade de imediata providência, o impetrante não integrara a relação processual na ação em conseqüência da qual adveio o ato impugnado (RE n. 100.401-RJ, relator Ministro Aldir Passarinho, in RTJ 119/726).

Assim, dada a sua condição de terceira, era permitido à ora recorrente

lançar mão do mandado de segurança desde logo, como o fez.

Ante o exposto, dou provimento parcial ao recurso, a fi m de que, afastada a

extinção do processo, o Eg. Tribunal a quo examine o mérito da impetração.

É o meu voto.

RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA N. 4.822-RJ (94.0028900-6)

Relator: Ministro Demócrito Reinaldo

Recorrente: Município do Rio de Janeiro

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (14): 363-415, outubro 2010 389

Recorrido: Celso Vita Chaves

Tribunal de Origem: Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro

Impetrado: Juízo de Direito da 12ª Vara de Órfãos e Sucessores do Rio de

Janeiro-RJ

Advogados: Kátia Patrícia Gonçalves Silva

José Carlos Ribeiro da Silva

EMENTA

Mandado de Segurança contra decisão judicial. Inexistência de

recurso adequado contra a decisão impugnada. Dispensabilidade por

cuidar-se de mandamus impetrado por terceiro.

Em se tratando de segurança contra decisão judicial, o impetrante

deve, no prazo legal, manifestar o recurso adequado, para evitar a

preclusão da matéria.

In casu, em se tratando de impetração manejada por terceiro

estranho ao processo, qualquer decisão proferida neste, em relação ao

impetrante, é inutiliter datur, não se confi gurando a preclusão.

Não sendo, o impetrante, parte no processo de inventário (em

que se proferiu à decisão impugnada) e não tendo sido citado e nem

intimado na pessoa de seu representante legal, impraticável exigir-se

viesse a manifestar recurso processual, atempadamente.

Recurso provido para afastar a extinção do processo, com a

remessa dos autos ao Tribunal de origem para o julgamento do mérito.

Decisão unânime.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados os autos em que são partes as acima indicadas, decide

a primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, dar

provimento ao recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator, na forma

do relatório e notas taquigráfi cas constantes dos autos, que fi cam fazendo parte

integrante do presente julgado. Participaram do julgamento os Srs. Ministros

Humberto Gomes de Barros, Milton Luiz Pereira, Cesar Asfor Rocha e Garcia

Vieira. Custas, como de lei.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

390

Brasília (DF), 05 de dezembro de 1994 (data do julgamento).

Ministro Demócrito Reinaldo, Presidente e Relator

DJ 19.12.1994

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Demócrito Reinaldo: O Município do Rio de Janeiro

impetrou mandado de segurança contra ato do Juiz de Órfãos e Sucessões, que

determinou, por via de mandado, a transferência de uma automóvel pertencente

ao espólio de Jacira de Almeida Vilar, que era permissionária do serviço de

transportes de passageiros em veículos de aluguel e táxi. O veículo se encontrava

arrolado no inventário, como bem do espólio, e a sua transferência dependeria

da autorização do município para que fosse usado como veículo de transporte.

O Tribunal de Justiça julgou extinto o processo, sob fundamento de que,

em se tratando de segurança contra decisão judicial, o impetrante teria de, antes,

usar do recurso adequado.

Irresignado, o município vencido manifestou o presente recurso ordinário

que, contra-arrazoado, subiu a esta instância.

O Ministério Público Federal opinou pelo provimento do recurso.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Demócrito Reinaldo (Relator): Senhores Ministros:

Trata-se de mandado de segurança impetrado pelo Município do Rio Janeiro

contra ato do Juiz de Órfãos e Sucessões, que determinou a transferência

de um automóvel pertencente ao espólio de Jacira de Almeida Vilar, que era

permissionária do serviço de transportes de passageiros em veículos de aluguel

e táxi. A inventariante arrolou o veículo no inventário e requereu a respectiva

venda judicial, que foi autorizada, mediante alvará expedido pelo juiz indigitado

como autoridade coatora. E, como o Secretário de Transportes Urbanos não

efetivou a transferência, o juiz substituiu a autorização, antes concedida, por um

mandado, a ser cumprido imediatamente, sob pena de desobediência.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (14): 363-415, outubro 2010 391

O Tribunal de Justiça declarou extinto o processo, sob alegação de

incabimento do writ, porquanto, “desde quando ciente do alvará de autorização,

ao qual desatendeu, deveria ter, o impetrante, interposto o recurso cabível contra

a decisão do juiz”.

Recorre o Município do Rio de Janeiro, sob fundamento de que era parte

estranha ao processo.

Estou em que, no caso, tem razão o recorrente. Não me parece razoável,

no caso, a exigência do prévio recurso, para abrir ensanchas ao uso da segurança.

É certo que já se pacifi cou, nesta Corte, que, em se tratando de segurança

contra decisão judicial, o impetrante deve, antes, manifestar o recurso adequado,

para evitar a preclusão da matéria (Súmula n. 268 do STF). Todavia, não é

menos certo, que a jurisprudência condiciona a impetração à prévia manifestação

do recurso prévio, no viso de impedir a formação da coisa julgada - formal ou

material. Mas, no caso, trata-se de impetração manejada por terceiro, estranho

ao processo de inventário e, qualquer decisão proferida neste (inventário), em

relação ao impetrante - é inutiliter datur, é dispicienda de efeito, inexistindo

preclusão.

A jurisprudência predominante nesta e na Corte Suprema, tende a

esse sentido, “desde que, a sentença faz coisa julgada entre as partes entre as

quais é dada, não benefi ciando nem prejudicando terceiros”. São inúmeros

os julgados enumerados por THEOTÔNIO NEGRÃO, em seu código de

Processo Civil: “A Súmula n. 267 não se aplica ao terceiro prejudicado que

não integrou a lide” (STF-Pleno: RTJ, 87/96; 88/890; 119/726; RSTJ, vol.

15/170; STJ, RT 683/174; STJ, 3ª Turma, RMS n. 317-MG). Vale transcrever,

por manifestamente judiciosos, trechos dos argumentos do Dr. Subprocurador

Geral da Justiça:

Por outro lado, não sendo o Município do Rio de Janeiro parte no processo de inventário, cujos limites difi cilmente comportariam a sua intervenção, não tendo sido citado, nem, tampouco, regularmente intimado de seus atos, na pessoa de seu representante processual, difícil seria esperar que o mesmo viesse, atempadamente, manifestar recurso processual, mormente quando atropelado pela ameaça de prisão de suas autoridades. Aliás, nem mesmo cabível seria eventual recurso processual, no caso, uma vez que o Município não parece reclamar propriamente de nenhum ato do inventário, mas, sim, da ordem dada pelo magistrado impetrado, obrigando a Administração a admitir transações comerciais com envolvimento de licenças que expede (folha 105).

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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Não era, pois, jurídico, exigir-se a prévia interposição do recurso, ao caso, desde que o representante legal do Município, que atua em juízo, em face da lei, não teve ciência do ato judicial impugnado.

Dou provimento ao recurso, para que, afastada a extinção do processo, o tribunal de origem julgue o mérito da causa, como entender de direito.

É como voto.

RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA N. 4.982-SP (94.331681)

Relator: Ministro Nilson Naves

Recorrente: Antonio Carlos da Silveira

Recorrida: Cooperativa Agropecuária de Pedrinhas Paulista Ltda

Tribunal de Origem: Primeiro Tribunal de Alçada Civil do Estado de São Paulo

Impetrado: Juízo de Direito de Paraguaçu Paulista-SP

Advogados: Pedro Elias Arcenio e outro e Luiz Gonzaga Lopes de Campos e outros

EMENTA

Mandado de segurança contra ato judicial, impetrado por terceiro prejudicado. É admissível o pedido, ainda que não tenha o terceiro interposto o recurso cabível. Precedentes do STJ. Recurso ordinário constitucional provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da 3ª

Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas

taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso ordinário e lhe

dar provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Participaram do

julgamento os Srs. Ministros Eduardo Ribeiro, Waldemar Zveiter, Cláudio

Santos e Costa Leite.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (14): 363-415, outubro 2010 393

Brasília (DF), 14 de março de 1995 (data do julgamento).

Ministro Waldemar Zveiter, Presidente

Ministro Nilson Naves, Relator

DJ 22.05.1995

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Nilson Naves: Em nome do Ministério Público do Estado

de São Paulo, ofi ciou nestes autos o Procurador Jurandir Norberto Marçura,

com este parecer, de fl s. 98-100:

1. Cuida-se de mandado de segurança impetrado por Antonio Carlos da Silveira contra ato do MM. Juiz de Direito da Comarca de Paraguaçu Paulista, reproduzido a fl s. 56, proferido nos autos do processo de execução por quantia certa que a Cooperativa Agropecuária de Pedrinhas Ltda. moveu em face de Teruo Omura, pelo qual houve por bem a digna Autoridade impetrada deferir requerimento formulado pela exeqüente, constante de fl s. 23-24, reconhecendo em favor da aludida Cooperativa a preferência na arrematação da linha telefônica, em virtude de precedente penhora, implicando tal ato o desfazimento da arrematação levada a efeito pelo Impetrante em outra execução movida perante o Juízo de Direito da vizinha Comarca de Assis contra o mesmo executado Teruo Omura.

Sustenta o impetrante a ilegalidade do indigitado ato judicial, tendo em vista que o desfazimento da arrematação ocorreu por simples despacho, em outro processo, sem que sequer fosse ouvido o arrematante. Pleiteia o deferimento do mandamus para o fi m de anular o despacho guerreado.

O pedido de liminar foi indeferido pelo r. despacho de fl s. 84.

A digna Autoridade impetrada prestou as necessárias informações às fl s. 82-83, manifestando-se o litisconsorte às fl s. 87-89.

2. Assiste razão ao impetrante, data venia.

Ab initio, verifi co que o impetrante não integrou o processo em que proferido o despacho hostilizado, de sorte que não lhe é oponível a coisa julgada (CPC, art. 472).

De resto, o ato judicial impugnado consubstanciou fl agrante violação das normas legais, mormente porque não era lícito à digna Autoridade impetrada ordenar o desfazimento de arrematação levada a efeito em outro processo, reconhecendo pretenso direito de preferência do exeqüente/arrematante, em virtude de precedente penhora, tendo em vista que “Sendo o mesmo bem penhorado em juízos diferentes, deve prevalecer a primeira arrematação

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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efetivada, mesmo que decorrente de ato constritivo que não o primeiro. O produto da arrematação é que há de ser distribuído com observância da anterioridade das penhoras, respeitadas as preferências fundadas no direito material” (RTFR 159/37, apud Theotônio Negrão, nota 2 ao art. 711 do CPC, em “Código de Processo Civil e legislação processual em vigor”, Ed. Malheiros, 24ª edição).

De ver-se, outrossim, que “Depois de consumada a arrematação, com auto assinado e carta expedida e registrada, é inadmissível sua anulação por simples despacho do juiz. Em tal hipótese, só se admite o desfazimento do ato, nos casos do art. 694 do CPC, por provocação dos interessados e mediante ação própria” (RT 641/175).

A última arrematação não prevalece sobre a primeira, mesmo na hipótese de precedente penhora, estabelecendo-se, neste caso, o concurso de credores consoante a ordem das respectivas prelações (CPC, art. 711 c.c. art. 712). Dessarte, cabia à credora Cooperativa Agropecuária de Pedrinhas Paulista Ltda exercitar o seu direito decorrente da anterioridade da penhora nos autos da ação em trâmite perante o Juízo de Direito da Comarca de Assis, no que pertine ao produto da primeira arrematação, requerendo, para tal fi m, a reunião dos processos (cf. RT 493/177).

3. Ante o exposto, opino pela concessão do writ.

Mas o impetrante foi julgado carecedor da segurança, porque

A decisão judicial impugnada foi publicada na imprensa ofi cial em 30.06.1993.

Dela não agravou o impetrante como terceiro prejudicado, na forma do art. 499, caput do Código de Processo Civil.

Inadmissível é o mandado de segurança como substitutivo do recurso próprio, pois por ele não se reforma a decisão impugnada, ...

Daí o recurso ordinário, com parecer, neste Tribunal, do Dr. Roberto

Casali, Subprocurador-Geral da República, pelo desprovimento (lê).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Nilson Naves (Relator): Alega e pede o recorrente:

Vê-se, portanto, que o v. acórdão labora com o impossível, ao exigir que o Recorrente tivesse apresentado recurso de um despacho do qual não tinha conhecimento!

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (14): 363-415, outubro 2010 395

Como já dito mais acima, é até dispensável a constatação dessa evidente impossibilidade de recorrer. Isto porque, acima dessa constatação, está o princípio atualmente consagrado, na jurisprudência, de o terceiro·prejudicado não precisa ofertar recurso, na instância ordinária, para poder impetrar a segurança.

Desse E. Superior Tribunal de Justiça promana esse fi rme entendimento, como se vê em, pelo menos, dois precedentes, que não deixam dúvidas quanto ao tema aqui enfocado:

O terceiro prejudicado pelo ato judicial pode impugná-lo por mandado de segurança, mesmo sem que haja interposto o recurso cabível (RMS n. 150-DF, in DJU de 07.05.1990, p. 3.828, integralmente reproduzido in -“Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça e Tribunais Regionais Federais,” Lex, vol. 12, p. 38 e seguintes).

Cabe mandado de segurança de terceiro atingido por ato judicial ainda que não haja interposto o recurso cabível (RMS n. 317-MG, in DJU de 29.10.1990, p. 12.143).

Mais não será preciso dizer para afastar a carência decretada pelo v. acórdão recorrido!

Não só era impossível que o Recorrente pudesse ter recorrido da decisão impugnada, como é perfeitamente admissível que, terceiro prejudicado, impetre ele o writ sem ter recorrido do ato judicial guerreado.

Vale ressaltar, finalmente, quão absurda foi a decisão impugnada. Basta a leitura da petição inicial deste mandado de segurança e das peças que a acostam para se verifi car que a decisão feriu grosseiramente direito líquido e certo do recorrente, contrariando regras elementares que custa crer tenham sido violadas, tal o seu despropósito.

(...)

Diante do exposto, vem requerer a V. Exª seja recebido e processado o presente recurso ordinário, pleiteando seja conhecido e provido pelo E. Tribunal ad quem para que, cassados o v. acórdão e a carência decretada, seja determinado que se dê julgamento ao writ pelo seu mérito.

Em face da orientação jurisprudencial desta Turma, e diante dos termos do

pedido, dou provimento ao recurso ordinário para afastar o decreto de carência,

prosseguindo-se no Tribunal a quo, como for de direito.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA N. 5.381-SP (95.0003881-1)

Relator: Ministro Waldemar Zveiter

Recorrente: Nossa Caixa - Nosso Banco S/A

Tribunal de Origem: Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo

Impetrado: Juízo de Direito da Quarta Vara Cível de Santos-SP

Recorrido: José Pousa Borja

Advogados: Fernando Neves da Silva e outros

EMENTA

Processual Civil. Segurança impetrada por terceiro prejudicado. Concessão de liminar. Suspensividade em agravo de instrumento.

I - Cabível a impetração de segurança por terceiro prejudicado e caracterizado o dano irreparável a suspensão do ato coator se impõe, mormente quando é pedida para emprestar efeito suspensivo a Agravo de Instrumento interposto por quem alheio à lide.

II - O estabelecimento bancário na qualidade de depositário judicial não tem direito liquido e certo de insurgir-se contra a ordem judicial de efetuar o lançamento das diferenças correspondentes à correção monetária, na forma dos provimentos administrativos expendidos pelo Tribunal de Justiça.

III - Recurso conhecido e improvido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os senhores Ministros

da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos

e das notas taquigráfi cas, a seguir, prosseguindo no julgamento, após o voto-

vista do Sr. Ministro Eduardo Ribeiro, por unanimidade, conhecer do recurso

ordinário, mas lhe negar provimento.

Participaram do julgamento os Srs. Ministros Costa Leite, Nilson Naves e

Eduardo Ribeiro.

Não participou do julgamento o Sr. Ministro Menezes Direito (§ 2°, art.

162, RISTJ).

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (14): 363-415, outubro 2010 397

Brasília (DF), 25 de novembro de 1996 (data do julgamento).

Ministro Waldemar Zveiter, Presidente e Relator

DJ 03.02.1997

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Waldemar Zveiter: Trata-se de Mandado de Segurança

para agregar efeito suspensivo a Agravo de Instrumento.

Insurge-se contra ato judicial que, nos autos de inventário com herdeira

única, menor de idade, determinara, em depósitos sob custódia do juízo, correção

monetária pelo IPC.

O acórdão de fl s. 140 manteve tal entendimento, aduzindo que a recorrente,

ao não aplicar tal indexador, perpetrou usurpação do dinheiro da herdeira, visto

que a diferença, a menor, é enorme.

Na irresignação (fl s. 161-164), argumenta a recorrente:

segundo o art. 139 do CPC, o depositário é auxiliar da justiça. Assim, está

ligado à administração da justiça do Estado, mas a responsabilidade deste é

objetiva e a do depositário, não;

quem tem a disponibilidade dos depósitos judiciais é o juiz do feito, mas

essa está vinculada a um processo e não tem o julgador livre uso e gozo do valor;

o fumus boni juris destaca-se de forma cristalina, posto que a ilegalidade é

patente;

a recorrente, auxiliar da Justiça, está sendo obrigada a completar um

depósito judicial com juros e correção monetária;

o periculum in mora está presente e demonstrado nos autos;

se Agravo de Instrumento for eventualmente julgado procedente, a

agravante corre o risco de não ter meios de cobrar o que pagou;

os dois requisitos previstos no inciso II, do art. 7º da Lei do Writ são

essenciais para deferir a segurança;

por confi gurar ofensa ao art. 126 do CPC e dar ao aresto um entendimento

pessoal, sem respaldo jurídico ao caso, não pode o juiz substituir-se ao legislador

para formular a regra jurídica aplicável.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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O Ministério Público Estadual opina no sentido de que a correção

monetária, na espécie de que se cuida, deve ser discutida em ação própria,

obedecido o devido processo (fl s. 172).

A Subprocuradoria-Geral da República pronuncia-se pelo improvimento

do recurso, ao fundamento de que o ato impetrado não ameaça a impetrante de

dano processual e o agravo dispensa o pretendido efeito suspensivo.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Waldemar Zveiter (Relator): A hipótese vem deduzida,

assim (fl s. 139-140):

A segurança é cabível porque a entidade impetrante, atingida por decisão judicial, não é parte do processo (RT 517/227). Comporta conhecimento pelo mérito, com prejuízo do agravo de instrumento.

A decisão judicial impetrada não dependia de remessa para os meios ordinários: porquanto universal o juízo do inventário, deve o juiz decidir todas as questões que incidirem, tanto as direito como também as de fato comprovadas por documentos. Era o caso. E a regra está explicitada no art. 984 do CPC.

A diferença de correção monetária resultante da aplicação direta do IPC, é, como visto, enorme. O que a Caixa afi nal pretende com as suas promoções, é, na verdade, perpetuar usurpação do dinheiro da herdeira, da mesma forma como o sistema financeiro usurpa fluentemente o dinheiro dos poupadores, pelo menos até que estes recorram à justiça. como se tem confi rmado inúmeras vezes no ambiente jurisdicional, o depositário que restitui depósitos devidamente corrigidos (isto é, pelos índices reais do aviltamento da moeda e não pela indexação falsa dos BTN), não está a fazer mais do que devolver ao depositante o mesmo valor depositado. Dano não há, pois, a considerar; de dano moral, nem há cogitar, data venia. Sobre a aplicação do IPC no período referido, em vez do índice BTN, nossa jurisprudência é abundantíssima e a orientação dos tribunais é pacífi ca. Irrelevante, então, repisar a legislação invocada de 1989/1990.

Diga-se enfi m que a decisão impetrada não carecia de mais fundamentação do que a lançada no requerimento, como tal acolhida.

Impetra-se Segurança para afastar ato judicial que, nos autos de inventário,

determinou ao Banco, depositário judicial, ora recorrente, a correção monetária

por determinado índice, em valores sob custódia.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (14): 363-415, outubro 2010 399

Não sendo parte na lide, entendeu que, como terceiro prejudicado, segundo

a jurisprudência do STF e STJ, está legitimado à propositura do remédio

constitucional, como se vê neste trecho da inicial (fl s. 3-4):

De conformidade com o v. Acórdão incluso, do TRF - 3ª Região, o Pleno do Supremo Tribunal Federal vem entendendo que a Súmula n. 267, que não admite segurança contra ato judicial passível de recurso ou correição, não se aplica ao terceiro prejudicado, que não integrou a lide (RTJ 87/96, 88/890 e RT 517/227). Eis a ementa na íntegra:

Constitucional. Mandado de Segurança. Preliminares. Terceiro prejudicado. Cabimento. Prejuízo.

I - A Súmula STF n. 267, que não admite segurança contra ato judicial passível de recurso ou correição, não se aplica ao terceiro prejudicado. Precedentes do STF e do STJ.

II - A não ser em casos peregrinos, não deve Juiz deferir pedido que implique esvaziamento da lide, ou seja, não deve o magistrado conceder liminar que seja satisfativa do pedido. Precedente desta Segunda Seção.

III - Deve ser concedida a segurança, quando da execução do ato judicial impugnado, puder resultar prejuízo de difícil reparação à parte.

IV - Segurança conhecida e concedida. Preliminares rejeitadas.

No caso dos autos a situação é idêntica, pois, a decisão ora impugnada resolveu questão incidente, com evidente gravame para a impetrante que não integrou a lide. Perfeitamente cabível, na espécie o Mandado de Segurança, ora interposto.

Embora nesta corte houvesse, no passado, controvérsia sobre o ponto, hoje,

todavia, a matéria é pacífi ca no sentido de que terceiro, alheio à lide, sentindo-se

atingido por esta, pode defender seu direito por meio de mandamus.

É ler o RMS n. 4.981-7-SP, onde se ementou:

Pode o terceiro ajuizar mandado de segurança contra ato de juiz proferido em ação na qual não é parte.

É assim para que o interesse econômico lesado não fique sem tutela

jurisdicional.

Justifi cando sua obrigatoriedade na implantação dos índices ofi ciais sobre

todos os depósitos de sua guarda, diz, a impetrante (fl s. 05):

A impetrante é depositária judicial por ser uma instituição fi nanceira, caso contrário não teria respaldo legal e ofenderia, dentre outros, o art. 9° e seguintes

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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da Lei n. 4.595/1964, sujeita às penalidades do Banco Central do Brasil, que pode determinar até seu fechamento, cassando a licença, bem como praticaria agiotagem se recebesse importâncias para aplicação no mercado fi nanceiro sem ser um banco.

Secundando esse entendimento, diz o Ministério Público Estadual (fl s.

130):

Pela concessão da segurança a fim de que seja cassado o r. ato judicial impetrado.

A questão da incidência ou não da correção monetária plena nos depósitos de contas do de cujus deve ser objeto de ação própria entre o Espólio e o banco impetrante, obedecidos os princípios do devido processo legal e do contraditório, não podendo ser objeto de decisão incidental nos autos do inventário no qual o Impetrante sequer é parte. Nesse sentido, cf. Mandado de Segurança n. 175.270.1-8, 2ª Câmara Civil do Eg. TJSP, v.u, julg. 08.09.1992, Rel. Des. Araújo Cintra (fl s. 60/68-69).

Justifi ca-se o exame de mérito da questão, ante a possibilidade de não ser conhecido pelo Eg. Tribunal o agravo de instrumento interposto pelo banco impetrante, o que viabilizaria o levantamento das importâncias pelo Espólio, acarretando dano irreparável àquele.

Inobstante tais considerações a Colenda 4ª Turma, sobre o tema, já tem

decidido como se espelhou na ementa escrita pelo Sr. Min. Relator Ruy Rosado

no RMS n. 4.953-1-SP:

Depósito judicial. Correção Monetária.

O estabelecimento de crédito que aceita a condição de depositário judicial não tem direito liquido e certo de insurgir-se contra a ordem judicial de efetuar o lançamento das diferenças correspondentes à correção monetária dos valores recolhidos, na forma dos provimentos administrativos expedidos pelo Tribunal de Justiça. Voto Vencido.

Bem assim, no REsp n. 60.665-9-SP, cujo trecho do voto condutor do Sr.

Min. Ruy Rosado transcrevo, para melhor compreensão:

1. A respeito do dever de o depositário judicial atender à determinação do juízo para a devolução corrigida dos valores que lhe são confi ados, já assim votei nesta eg. 4ª Turma:

1. O mandado de segurança interposto contra ato judicial, para dar efeito suspensivo ao recurso de agravo, deve ter os requisitos da medida cautelar, de cuja natureza se aproxima, entre eles o de fumus boni juris.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (14): 363-415, outubro 2010 401

Tal não acontece no caso dos autos.

A ordem emanada do juízo para que o depositário consignasse a remuneração da correção monetária dos valores recolhidos está de acordo com os provimentos do Conselho Superior da Magistratura do Estudo e da sua Corregedoria-Geral (Provimento n. 257, do CSM, e Ordem de Serviço n. 1/92, da Corregedoria Geral da Justiça do Estado de São Paulo), que dispõem sobre a correção monetária dos depósitos judiciais. O estabelecimento bancário que aceitou a condição de depositário, passando a atuar como auxiliar do juízo, assumiu o dever processual de cumprir tais determinações. Não há, portanto, ilegalidade na exigência judicial ora impugnada, que é simplesmente a de “fazer o depósito das diferenças da correção monetária” (fl . 27).

Não incide, na hipótese, a regra do artigo 125, I, quanto ao resguardo da igualdade de tratamento devido as partes, porque o depositário não é parte no processo principal, é um auxiliar do juízo que, tendo aceito a sua condição e se beneficiado da disposição do numerário, durante o tempo que lhe foi confi ado (tanto que tais depósitos são disputados no mercado), deve atender as determinações judiciais. Mais pertinentes ao caso, para não sair do âmbito do artigo 125, são as regras dos incisos II e III, que impõem ao juiz o dever de velar pela rápida solução do litígio, que se eternizaria apenas enquanto se discutisse o interesse do depositário, e de impedir que a recalcitrância do auxiliar do juízo ofenda à própria eficácia da prestação jurisdicional, desmoralizando o juízo perante os cidadãos que foram constrangidos pela lei ao depósito judicial.

2. Quanto ao uso do IPC para a atualização de créditos, nos períodos de janeiro de 1989 e durante o ano de 1990, a jurisprudência deste Tribunal é pacífi ca:

Plano Verão. Cálculo de liquidação. IPC.

A adoção do IPC de janeiro de 1989 como fator corretivo da moeda não ofende o art. 15 da Lei n. 7.730/1989.

Dissídio jurisprudencial não comprovado.

Recurso especial de que se não conheceu.

Unânime. (REsp n. 38.234-RJ, 4ª Turma, rel. em. Min. Fontes de Alencar, DJU 17.10.1994)

Conta de liquidação. Lei n. 7.730/1989. IPC.

A decisão que determina a adoção do IPC de janeiro de 1989 como fator corretário da moeda não viola o art. 15 da Lei n. 7.730/1989.

Divergência de Julgados não comprovado.

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402

Recurso especial não conhecido.

Unânime. (REsp 21.892-SP, 4ª Turma, rel. em. Min. Fontes de Alencar, DJU 31.10.1994)

Correção monetária. Plano Verão (janeiro de 1989).

Não causa ofensa a lei o acórdão que autoriza a utilização do IPC para a atualização das dívidas, no mês de janeiro de 1989.

Recurso não conhecido. (REsp n. 37.969-0-SP, 4ª Turma, de minha relatoria, DJU 14.08.1995)

Processual Civil. Liquidação de sentença. Correção monetária. IPC.

A inclusão dos índices de variação do IPC nos meses de março de 1990 a fevereiro de 1991 não ofende a Lei n. 8.177/1991 e harmoniza-se com a pacífi ca orientação consagrada por esta Corte.

Recurso não conhecido. (REsp n. 35.064-SP, 3ª Turma, rel. em. Min. Cláudio Santos, DJU 29.05.1995)

Correção monetária. Liquidação de sentença. IPC março de 1990 a fevereiro de 1991. Aplicação.

Consoante orientação assentada da Corte Especial aplica-se o índice do IPC e não o do BTN, no período de março de 1990 a fevereiro de 1991. (REsp n. 39.784-0-SP, 3ª Turma, rel. em. Min. Cláudio Santos, DJU 15.05.1995)

Infl ação de março, abril e maio de 1990, fevereiro de 1991.

As razões determinantes nos cálculos da infl ação de janeiro de 1989, de 70,28%, índice do IPC, justifi cam a aplicação da infl ação ocorrida a partir de março (84,32%), abril (44,80%) e maio de 1990 e fevereiro de 1991.

Embargos acolhidos. (EREsp n. 46.019-SP, Corte Especial, rel. em. Min. Garcia Vieira, DJU 19.06.1995)

Diz o recorrente que, após a vigência do Plano Collor, não dispunha mais da disponibilidade de tais recursos. Porém, conforme afi rmado no v. acórdão recorrido, as leis mencionadas no recurso não fazem referência aos depósitos judiciais.

Isto posto, não conheço do recurso.

É o voto.

Forte em tais lineamentos, conheço do recurso mas nego-lhe provimento.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (14): 363-415, outubro 2010 403

VOTO-VISTA

O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro: Constitui entendimento assente neste Tribunal o de que o depositário há de devolver o que recebeu, com a atualização decorrente da correção monetária, pena de estar restituindo menos do que foi confi ado à sua guarda. Para isso não é necessária a propositura de ação específi ca. O Juiz há de determinar seja entregue a integralidade do que foi depositado e isso supõe a correção.

Note-se que essa ordem judicial não tem conteúdo jurisdicional, mas administrativo. Desse modo, lícito seja impugnada por mandado de segurança, como o tem sido em outros casos, procedendo-se a ampla a discussão dos temas pertinentes.

Alega-se, no recurso, que não cabe ao juiz fi xar os índices de aplicações fi nanceiras. Não é disso que se trata, entretanto. Cuida-se simplesmente de garantir a devolução da importância depositada, observado o mesmo valor real. E note-se que, no recurso, não se procurou demonstrar que os índices não refl etissem a desvalorização da moeda.

Acompanho o Relator.

RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA N. 6.054-GO (95.0038110-9)

Relator: Ministro Vicente Leal

Recorrente: Tonari Rodrigues Alves

Recorrido: Jose Luis Batista

Tribunal de Origem: Tribunal de Justiça do Estado de Goiás

Impetrado: Primeiro Juiz de Direito da 3ª Vara Cível de Goiânia

Advogada: Aldenora Wanderley Rodrigues

EMENTA

Processual Civil. Civil. Locação. Decreto de despejo. Mandado

de Segurança. Ato judicial. Não interposição do recurso cabível.

Sentença transitada em julgado. Súmula n. 268, c. STF.

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- A jurisprudência pretoriana, amenizando os rigores do

comando expresso na Súmula n. 267 do Supremo Tribunal Federal,

tem admitido a impetração de segurança contra decisão judicial,

passível de recurso sem efeito suspensivo, desde que interposto este a

tempo e modo, ou ainda quando esta apresente natureza teratológica,

fl agrantemente afrontosa ao direito.

- O decreto de despejo questionado não foi impugnado pelo

recurso regularmente previsto na lei processual, conferido a terceiro

prejudicado pelos efeitos da sentença, não consubstanciando, ademais,

ato teratológico, susceptível de causar dano irreparável ou de difícil

reparação ao impetrante.

- Ademais, em sede de ação de despejo, com sentença transitada

em julgado, apresenta-se inviável o emprego do mandado de segurança,

com vistas a obter a suspensão da execução do decisum, de acordo com

o disposto na Súmula n. 268, do C. STF.

- Recurso ordinário desprovido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Sexta

Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, negar provimento

ao recurso, na conformidade dos votos e notas taquigráfi cas a seguir. Votaram

os Srs. Ministros Fernando Gonçalves, Anselmo Santiago e Luiz Vicente

Cernicchiaro. Ausente, por motivo de licença, o Sr. Ministro William Patterson.

Brasília (DF), 08 de outubro de 1996 (data do julgamento).

Ministro Anselmo Santiago, Presidente

Ministro Vicente Leal, Relator

DJ 16.12.1996

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Vicente Leal: Trata-se de mandado de segurança impetrado por ex-esposa de locatário de imóvel residencial, na qualidade de terceira prejudicada, contra ato do MM. Juiz de Direito da 3ª Vara Cível da Comarca

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RSSTJ, a. 4, (14): 363-415, outubro 2010 405

de Goiânia, consubstanciado na decretação da desocupação do imóvel por ela ocupado, em sede de execução de sentença proferida nos autos de ação de despejo proposta contra seu ex-esposo, o que teria resultado em ofensa a decisão judicial anterior que constituíra o imóvel em questão em alimentos provisionais de pensão alimentícia.

O eminente Desembargador relator do mandamus indeferiu liminarmente a inicial, declarando o não cabimento da impetração do remédio constitucional capaz de conferir efeito suspensivo ao ato judicial, de vez que a impetrante dispunha de recurso próprio, previsto em lei, do qual a impetrante, como terceira prejudicada não se utilizou.(fl s. 133-136).

A egrégia 2ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, por unanimidade, negou provimento ao agravo regimental interposto e rejeitou os embargos de declaração, sufragando o entendimento lançado na decisão indeferitória da exordial (fl s. 152-154 e 192-197).

lrresignado, a impetrante interpõe o presente recurso ordinário, repetindo os argumentos deduzidos na inicial e pugnando, em síntese, pela suspensão da execução da sentença, até que o locatário providenciasse outro imóvel de igual acomodação para alojar sua família (fl s. 201-209).

A douta Subprocuradoria-Geral da República, em parecer de fl s. 109-111, opina pelo improvimento do recurso.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Vicente Leal (Relator): Ressalte-se, por primeiro, que a

jurisprudência dos nossos Tribunais, num processo evolutivo, tem amenizado

o rigor do comando expresso na Súmula n. 267, do Supremo Tribunal Federal,

admitindo o uso do mandado de segurança contra decisão judicial. Todavia,

exige-se a presença de certos pressupostos, tais como: (a) tenha sido a decisão

atacada pelo recurso próprio, desprovido de efeito suspensivo, ajuizado a tempo

e modo; ou (b) seja a decisão de natureza teratológica, fl agrantemente afrontosa

ao direito; e (c) seja a decisão susceptível de causar dano irreparável ou de difícil

reparação.

No caso, como salientado no relatório, a decisão - decreto de despejo de

imóvel residencial - não foi atacada pelo recurso próprio e, além do mais, revela-

se em sintonia com o direito pertinente à matéria.

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Com efeito, insurge·se a ora recorrente contra acórdão que confi rmou a

decisão que indeferiu liminarmente a exordial do mandamus por ela impetrado

contra ato judicial que decretou a desocupação do imóvel por ela ocupado, em

virtude de sentença proferida em ação de despejo movida contra seu ex-esposo.

Alega o direito de permanecer no imóvel de propriedade do locador,

até que seu ex-marido, locatário deste, providenciasse novas acomodações

de padrões semelhantes, de vez que o aluguel do referido imóvel constitui

alimentos provisionais de pensão alimentícia, prestando-se, portanto, a ação

mandamental para impedir o desalojamento.

Ocorre, todavia, que a impetrante, na qualidade de terceira juridicamente

interessada, não se valeu do recurso de apelação regularmente previsto na

legislação processual, para impugnar a determinação judicial de retomada.

Ora, segundo o disposto no artigo 472 do Código de Processo Civil, os

efeitos da coisa julgada somente alcançam as partes envolvidas na demanda, não

atingindo terceiros prejudicados que não integraram a relação processual como

parte.

Assim sendo, é certo que o terceiro está legitimado a recorrer, por meio

de apelação, do ato decisório que haja lhe causado prejuízo, nos exatos termos

do comando do artigo 499 do CPC, com observância dos prazos estabelecidos

para as partes, contando-se da data em que teve ciência da sentença, in casu, do

decreto de despejo.

Ademais, em sede de ação de despejo, havendo sentença transitada em

julgado, apresenta-se inviável o emprego do mandado de segurança por terceira

pessoa, com vistas a obter a suspensão da execução do decisum, o que afrontaria

a jurisprudência consolidada no Verbete n. 268 do Pretória Excelso, que dispõe:

Não cabe mandado de segurança contra decisão judicial com trânsito em julgado.

Ressalte-se, por fi m, que diante da situação apresentada, causaria repúdio a

constatação de que o locador, completamente alheio ás questões familiares que

envolvem o locatário e sua ex-esposa, ocupante do imóvel, viesse a sofrer, em seu

patrimônio, as conseqüências dessa relação confl ituosa.

Entendimento contrário confi guraria violação ao disposto no artigo 524

do Código Civil Brasileiro, norma assecuratória do direito de propriedade.

Assim, tratando-se de mandado de segurança impetrado contra ato judicial,

e não tendo sido a decisão impugnada pelo recurso cabível, seja, não objetivando

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (14): 363-415, outubro 2010 407

o presente writ conferir efeito suspensivo a recurso dele desprovido, além de

não se tratar de ato capaz de ferir direito líquido e certo do impetrante, não se

revestindo também de caráter teratológico, nem sendo susceptível de causar

dano irreparável ou de difícil reparação, tenho, destarte, como inadmissível o

emprego do mandamus na presente hipótese.

Isto posto, nego provimento ao recurso.

É o voto.

RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA N. 6.317-SP (95.0053189-5)

Relator: Ministro Eduardo Ribeiro

Recorrente: Telecomunicações de São Paulo S/A Telesp

Tribunal de Origem: Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo

Impetrado: Juízo de Direito da 8ª Vara Cível de São Paulo-SP

Recorrida: Confecções Assan Ltda - massa falida

Advogados: Adriana Maria Barreiro Telles e outros

Alfredo Luiz Kugelmas

EMENTA

Mandado de segurança. Ato judicial. Terceiro.

O terceiro, atingido em seu direito por determinação judicial,

poderá impetrar segurança, reunidos os demais requisitos legais, sem

que haja de, previamente, interpor recurso.

Desnecessidade, também, de que haja risco de dano irreparável

ou que seja teratológica a decisão.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da

Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e

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das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso ordinário

e lhe dar provimento.

Participaram do julgamento os Srs. Ministros Waldemar Zveiter, Costa

Leite e Nilson Naves.

Brasília (DF), 22 de abril de 1996 (data de julgamento).

Ministro Waldemar Zveiter, Presidente

Ministro Eduardo Ribeiro, Relator

DJ 03.06.1996

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro: Telesp - Telecomunicações de São Paulo

requereu segurança, impugnando ato do MM Juiz da Oitava Vara Cível do

Tribunal de Justiça de São Paulo que, na revocatória ajuizada pela massa falida

de Confecções Assan Ltda, determinou fosse colocada, à disposição do Juízo,

em 10 dias, uma linha telefônica de número defi nido, sob penas da lei, apesar

de cancelada a assinatura por falta de pagamento e transferida a linha a outro

cliente.

Nas informações, esclareceu-se que “a r. decisão atacada pela impetrante

simplesmente ordenou o cumprimento do julgado, resguardando os interesses

da massa falida e da universalidade de credores”.

Foi denegada a segurança, proferindo-se acórdão assim ementado:

Mandado de Segurança. Ato judicial impugnado coberto pelo manto da preclusão. Via eleita inadequada. Súmula n. 267 do Supremo Tribunal Federal. Hipótese que não retrata a ocorrência daqueles atos intitulados “teratológicos. Processo extinto sem julgamento do mérito.”

Inconformada, a impetrante apresentou recurso ordinário.

Perante esta Corte, o Ministério Público emitiu parecer no sentido de que

o “writ não é sucedâneo do recurso cabível. Necessário teria sido prévio agravo

de instrumento, cujo efeito suspensivo é que se poderia colimar mediante o

mandamus - tornando destarte preclusa a discussão da matéria”.

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RSSTJ, a. 4, (14): 363-415, outubro 2010 409

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro (Relator): Trata-se de pedido de

segurança formulado por terceiro, atingido por determinação judicial. Em

tal caso, a jurisprudência deste Tribunal fi rmou-se no sentido de que não se

impõe a prévia interposição de recurso. Assim, entre outros, os julgamentos

proferidos nos seguintes recursos em mandado de segurança: n. 150 (rel.

Gueiros Leite, DJ 07.05.1990), n. 1.114 (rel. Athos Carneiro, DJ 04.11.1991) n.

1.983 (rel. Waldemar Zweiter, DJ 13.12.1993), n. 4.315 (rel. Barros Monteiro,

DJ 05.09.1994) e n. 4.982 (rel. Nilson Naves, DJ 22.05.1995). O acórdão

da Terceira Turma, relativo ao RMS n. 333, citado no parecer do Ministério

Público estadual, tem dois fundamentos, embora a ementa apenas a um faça

referência. Proferi, naquele julgamento, o seguinte voto:

Sr. Presidente, peço vênia ao douto Relator para dissentir quanto a um dos fundamentos. Entendo não exigível, para admissibilidade do mandado de segurança contra ato judicial, a interposição do recurso, quando por terceiro. Certo que o terceiro interessado tem legitimidade para recorrer, mas exigir que o faça não me parece razoável, já que não é intimado dos atos processuais.

Entretanto, esclarece o eminente Relator a existência de outro fundamento, pertinente ao próprio mérito do pedido, e também objeto do acórdão. É o que basta para mantê-lo. Com essas observações, acompanho S. Exª.

Justifi ca-se plenamente esse entendimento. A decisão fi ca preclusa em

relação a quem é parte no processo, não quanto ao estranho.

E se dispensável a interposição do recurso, logicamente também o será

a exigência de que a decisão possa causar dano irreparável ou se exponha à

classifi cação de teratológica.

No caso em exame, mais ainda de adotar-se tal doutrina. Trata-

se de determinação dirigida especifi camente a terceiro e de conteúdo não

jurisdicional.

Conheço do recurso e dou-lhe provimento para que, superada a preliminar

que levou à extinção do processo, prossiga a colenda Câmara no exame da

causa.

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RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA N. 7.087-MA (96.0026495-3)

Relator: Ministro Cesar Asfor Rocha

Recorrente: Cerâmica Pinguim Ltda

Recorrida: Cerâmica Santa Fé Ltda

Tribunal de Origem: Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão

Impetrado: Juízo de Direito da 1ª Vara de Caxias-MA

Advogados: Vinícius C. de Berredo Martins

Raimundo Ferreira Marques e outro

EMENTA

Constitucional e Processual Civil. Mandado de segurança. Coisa

julgada. Terceiro não integrante da anterior lide. Despojamento da

posse de titular por justo título.

O terceiro que não integrou anterior processo pode investir, pela

via do mandado de segurança, contra a decisão decorrente de sentença

transitada em julgado, para impedir violação a seu direito líquido e

certo.

Afeta o princípio da ampla defesa o despojamento da posse de

bens adquiridos por justo título, nas circunstâncias da espécie, porque

“ninguém será privado de seus bens sem o devido processo legal”.

Recurso conhecido e provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da

Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e

das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, dar provimento ao recurso.

Votaram com o Relator os Srs. Ministros Ruy Rosado de Aguiar, Fontes

de Alencar e Sálvio de Figueiredo Teixeira. Ausente, justifi cadamente, o Sr.

Ministro Barros Monteiro.

Brasília (DF), 24 de março de 1997 (data do julgamento).

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RSSTJ, a. 4, (14): 363-415, outubro 2010 411

Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, Presidente

Ministro Cesar Asfor Rocha, Relator

DJ 09.06.1997

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha: A recorrente impetrou mandado de

segurança contra ato do MM Juiz de Direito da 1ª Vara de Caxias alegando

que adquirira, por escritura pública de venda e compra, de Reinaldo Paixão

Bezerra e sua mulher, o imóvel que descreve, encontrando-se registrado em seu

nome desde 2 de março de 1993, tendo, antes de fi rmar indicado instrumento,

acautelado-se com as certidões que davam o imóvel como livre e desembaraçado

de quaisquer ônus ou gravames.

Os então vendedores, por seu turno, haviam adquirido referido imóvel

do Banco da Amazônia S/A (Basa), também por escritura pública de venda e

compra, esta datada de 22 de outubro de 1992, que por sua vez o adquirira de

Cerâmica Santa Fé Ltda., mediante Carta de Adjudicação extraída dos autos da

ação de execução movida por aquele contra esta.

Inobstante isso, argumenta a recorrente que foi surpreendida com a visita de

um Ofi cial de Justiça dando cumprimento a uma ordem emanada da autoridade

aqui impetrada naquele já referido e noutros bens, determinando a reintegração

de posse da Cerâmica Santa Fé Ltda., decisão essa que foi proferida na execução

provisória movida por esta contra o Basa, uma vez que o eg. Tribunal de Justiça

do Estado Maranhão havia julgado procedentes os embargos à arrematação

propostos pela dita Cerâmica contra a mencionada instituição fi nanceira.

Dessa decisão de procedência dos embargos, fora interposto recurso

especial, cuja inadmissão ensejou o ingresso de agravo de instrumento pelo Basa.

À época da impetração do mandado de segurança agora apreciado em grau

de recurso ordinário, referido agravo de instrumento pendia de julgamento.

De logo observo, em parênteses, que esse agravo, no curso deste mandado

de segurança, foi provido por decisão do eminente Ministro Torreão Braz, que

então o relatava, o que possibilitou a apreciação do recurso especial que, sob

a minha relatoria e para o que ora interessa, foi provido por esta eg. Quarta

Turma, do que resultou desconstituída aquela referida arrematação, por ter sido

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consumada por preço vil, tendo sido ordenada a realização de nova avaliação e

posterior praceamento.

A segurança foi denegada por maioria pelo eg. Tribunal a quo sob o

fundamento básico de que a anulação da arrematação importou na desvalia das

vendas posteriormente efetuadas.

Daí o recurso ordinário em exame.

Alega a recorrente que ainda é proprietária de referido imóvel pois que o

mesmo está inscrito no registro público imobiliário em seu nome desde o dia 2

de março de 1993.

Demais disso, a ordem de reintegração foi proferida em uma execução

provisória decorrente de uma demanda de embargos à arrematação travada

entre a Cerâmica Santa Fé e o Basa, da qual nunca participara.

Assim, além de a decisão que anulou a arrematação não ter declarado a

nulidade das vendas posteriormente ocorridas, a recorrente não participou da

pendenga dos embargos, razão pela qual não poderia ela se ver privada de seus

bens sem o devido processo legal, pois que lhe é assegurada ampla defesa.

Devidamente respondido, a douta Subprocuradoria-Geral da República

opinou pelo seu provimento.

Recebi o processo em 14 de fevereiro do corrente ano e remeti-o para

pauta no dia 05 do mês seguinte.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha (Relator): 1. Cuida-se de recurso em

mandado de segurança objetivando desconstituir a singela decisão cuja cópia

descansa às fl s. 36, proferida nos autos da execução provisória promovida pela

Cerâmica Santa Fé Ltda. contra o Banco da Amazônia S/A, na parte assim

disposta:

1. Expeça-se mandado de reintegração de posse ao Exequente sobre todos os bens objetos da Carta de Arrematação de fl s., dos autos do Processo de Execução Forçada que lhe propôs o Banco da Amazônia S/A., (Processo n. 2.333/1991 e n. 3.891/1991 - Cartório 2º Ofi cio), arrolando-se todos os bens reintegrados (fl s. 36).

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (14): 363-415, outubro 2010 413

De início cumpre examinar se seria idônea a via eleita do writ para alcançar

o objetivo colimado.

A hipótese é de mandamus impetrado por terceiro estranho à lide de onde

decorreu o ato vergastado que alegadamente lhe fere direito líquido e certo.

A questão, neste aspecto, está pacifi cada nesta Corte, consoante dão conta

os precedentes a seguir elencados.

Esta eg. Quarta Turma tem remansosamente admitido a utilização do

remédio heróico em casos que tais, consoante o decidido, dentre muitos outros,

no RMS n. 4.315-0 (DJU de 05.09.1994), relatado pelo eminente Ministro

Barros Monteiro, assim sumariado:

Mandado de segurança contra ato judicial impetrado por terceiro prejudicado. O princípio de que o mandado de segurança não pode ser utilizado como sucedâneo recursal aplica-se entre as partes, não incidindo quando se tratar de segurança impetrada por terceiro com o objetivo de impedir lesão a direito seu provocada por decisão judicial. Precedentes do STF e STJ. Recurso ordinário provido parcialmente.

No mesmo sentido o julgado pela colenda Terceira Turma, liderada pelo

eminente Ministro Gueiros Leite, no RMS n. 243-RJ, cuja ementa está assim

estampada:

Terceiro. Mandado de Segurança em execução de sentença.

Não investe contra a coisa julgada o Mandado de Segurança impetrado por quem não foi parte no processo, e está sendo executado e que poderá, por essa via, opor limites à efi cácia da sentença exeqüenda. (in RSTJ 15/170).

Destarte, factível é a utilização do mandado de segurança para desconstituir

o ato hostilizado.

2. Passo a examinar agora se a recorrente tem direito líquido e certo a ser

reparado pelo meio escolhido.

A recorrente adquiriu de Reinaldo Paixão Bezerra e sua mulher, por

escritura pública de venda e compra. O imóvel que estes adquiriram do Banco

da Amazônia S/A, sociedade de economia mista federal, que por sua vez o

adquirira, mais de um ano antes, em arrematação procedida nos autos da ação de

execução que promovia contra a Cerâmica Santa Fé Ltda.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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Ora, quem compra de uma idônea instituição financeira pública (em

sentido lato) um imóvel por esta adquirido com o placê de um Órgão do

Poder Judiciário, quando mais tendo anteriormente se precatado com

certidões negativas de ônus ou gravames, evidentemente que o fez movido por

incontestável boa-fé.

Ainda que a presença desse elemento, quando da aquisição do imóvel,

não seja de decisiva relevância para o deslinde da controvérsia - ou possa até

não ter nenhuma importância - não vejo impertinência em destacá-lo como

demonstração do espírito de que estava imbuída a recorrente quando celebrou a

mencionada compra.

Pontificam os incisos LIV e LV, do art. 5°, da Constituição Federal,

respectivamente:

LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal;

LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes.

Ora, no caso, a recorrente detém ainda hoje o domínio do imóvel cogitado,

adquirido mediante justo título, e sobre cujo registro não houve até agora

nenhuma investida por parte de quem quer que seja, nem mesmo pela Cerâmica

Santa Fé Ltda.

A sua titularidade sobre a propriedade continua incólume, até porque a

decisão judicial que decretou o desfazimento da arrematação não fez nenhuma

referência quanto aos efeitos disso decorrentes, vale dizer, se teria ou não o

condão de nulifi car todas as vendas posteriormente efetuadas.

Não estou a cogitar aqui e agora sobre se a desconstituição da arrematação

importou ou não, automaticamente, só e só por ela, na nulifi cação nas alienações

subseqüentes.

Essa não é a questão posta, por isso mesmo que debruçar sobre ela, neste

processo, importaria em desvio de seu enfoque.

O que se deve decidir é se o MM Juiz de Caxias, nos autos de uma

execução provisória de que não participava a recorrente, poderia singelamente

espancar da posse quem nela estava investido pela titularidade do direito de

propriedade do bem, adquirido por justo título, nas condições acima relatadas.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (14): 363-415, outubro 2010 415

Tenho para mim que não.

E não poderia exatamente porque “ninguém será privado de seus bens

sem o devido processo legal”, como também porque “aos acusados em geral

são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela

inerentes”.

Destarte, não poderia a recorrente ser assim tão abruptamente enxotada

do imóvel de que detinha propriedade e posse, e onde exercitava a sua atividade

empresarial.

Ademais, da simples confrontação da “Carta de Arrematação” (fl s. 17-26)

com a “Relação dos Bens” (fl s. 38-40), em cuja posse a Cerâmica Santa Fé Ltda.

foi imitida, verifi ca-se, com muita facilidade, que a recorrente foi despojada de

muito mais do que fora arrematado pelo Basa, o que evidencia ainda mais a

ilegalidade da medida ora atacada.

3. Poder-se-ia redargüir que a medida processual exata para neutralizar a

medida reintegratória cogitada seria a dos embargos de terceiro.

Pode até ser. Nem por isso, contudo, estaria afastada a possibilidade da

utilização do mandado de segurança, como instrumento mais efi caz e mais

célere para a defesa imediata de seus direitos tão arbitrariamente postergados.

Aliás, nessa mesma linha já decidiu a eg. Terceira Turma sob a condução do

eminente Ministro Cláudio Santos quando do julgamento do RMS n. 4.847-0-

MG, conforme informa a seguinte ementa, naquilo que há de útil para a espécie:

O possuidor do bem, cuja situação de fato não padece de qualquer dúvida, tem direito líquido e certo amparável pela via do mandado de segurança, independente do direito à ação de embargos de terceiro não exercitado.

4. Diante do exposto, e por tudo o mais que foi colocado pela douta

Subprocuradoria-Geral da República no seu judicioso Parecer de fl s. 132-143,

conheço do recurso e dou-lhe provimento para o fi m de cassar o ato judicial

atacado na parte que reintegrou a Cerâmica Santa Fé Ltda na posse do imóvel

e dos demais bens postos na “Relação ...” de fl s. 38-40, e, por decorrência,

reintegrar a recorrente na posse desses mesmos bens.

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