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Cartilha sobre Disputa de Guarda e
Subtração Internacional de Menores
Lima
Sumário Introdução ..................................................................................................................................... 2
Seção 1 - Guarda de menores brasileiros ...................................................................................... 6
1. Disputa de guarda pelos pais em meio a separação/divórcio (brasileiros residentes no
exterior e/ou casados com estrangeiros) .................................................................................... 6
1.1 Terminologia utilizada na legislação brasileira ................................................................... 6
1.2 Legislação, jurisprudência e práticas no Brasil ................................................................. 11
1.2.1 Mudança de domicílio e autorização de viagem de menor ........................................ 14
1.3 Cumprimento no exterior de decisão do Judiciário brasileiro sobre guarda e visitação ... 15
1.4 Prevenção de disputas no Brasil: formas de evitar a judicialização da disputa pela guarda
................................................................................................................................................. 17
1.5 Órgãos competentes no Brasil ........................................................................................... 18
1.6. Retirada da guarda ou do poder familiar do menor brasileiro no exterior pelas autoridades
estrangeiras à revelia dos pais ................................................................................................. 29
1.6.1 Terminologia utilizada na legislação brasileira .......................................................... 29
1.6.2 Legislação, Jurisprudência e práticas no Brasil para decisão judicial de extinção do
poder familiar ...................................................................................................................... 30
Seção 2 - Subtração internacional de crianças ............................................................................ 33
2.1 Terminologia utilizada na legislação brasileira ................................................................. 33
2.1.1 Motivos mais comuns da subtração internacional .................................................... 34
2.1.2 Barreiras à subtração internacional de crianças: emissão de passaportes e controles
de fronteira ......................................................................................................................... 36
2.1.3 Consequências jurídicas da subtração – Medidas de cooperação internacional ...... 37
2.2 Subtração entre países-membros da Convenção da Haia de 1980 sobre os Aspectos Civis
do Sequestro Internacional de Crianças .................................................................................. 39
2.2.1 Quem pode requerer restituição da criança: direito de guarda ................................... 40
2.2.2 Como funciona a cooperação entre os países membros da Convenção ..................... 41
2.2.3 Casos de subtração que não ensejarão o retorno da criança: exceções previstas ....... 42
2.2.4 Procedimentos conforme o fluxo da subtração ......................................................... 46
2.3 Subtração envolvendo um país não-membro da Convenção da Haia (de um país membro
para um não membro ou vice versa ou entre dois países não-membros) ................................ 59
2.4 Direito de Visitas à luz da Convenção .............................................................................. 60
Seção 3 - Violência de gênero ..................................................................................................... 64
Seção 4 – Endereços úteis ........................................................................................................... 73
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Lima
Introdução
Em situações de normalidade, cabe aos pais,
independentemente de seu estado civil, exercerem
conjuntamente o poder familiar em relação aos filhos,
tomando as decisões referentes à sua criação conforme
previsto em leis internas e convenções internacionais.
Havendo divergências quanto aos rumos que devem ser
dados à vida dessas crianças e adolescentes, abre-se
espaço para a atuação de órgãos estatais, como Conselhos
Tutelares e o Poder Judiciário.
As divergências entre os pais costumam ser
decorrência de desentendimentos graves, situações de
violência doméstica e separação. Os conflitos assumem,
no entanto, consequências ainda maiores ao envolverem a
disputa pela guarda de filhos menores e quando os
genitores têm nacionalidades diferentes e/ou um deles ou
ambos residem fora de seu país de nacionalidade.
O assunto afeta seriamente parcela significativa das
comunidades brasileiras no exterior. Diferenças culturais,
tensões originadas por fatores diversos e violência
doméstica destroem muitos relacionamentos de imigrantes
brasileiros, seja com outros brasileiros ou com
estrangeiros. Consequências comuns da deterioração do
ambiente doméstico são os efeitos deletérios sobre os
menores e os litígios com relação à sua guarda. À luz da
legislação mais intrusiva de vários países nessa matéria, é
comum que genitores brasileiros se sintam extremamente
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inseguros. Se casados com cidadãos estrangeiros, temem a
possibilidade de que a guarda dos filhos seja atribuída de
forma exclusiva ao genitor que é cidadão do país onde a
questão está sendo arbitrada; mesmo em obtendo guarda
compartilhada, é possível que a mudança de residência
para o Brasil seja obstaculizada (significando que o
genitor brasileiro terá de seguir residindo no exterior,
muitas vezes precariamente, se quiser manter contato
regular com o filho). Em casos mais graves, temem que o
Estado estrangeiro tome a guarda da criança e venha até
mesmo a colocá-la para adoção por outros casais (com
direitos de visitas muito espaçadas que provavelmente
resultarão na perda dos laços parentais e afetivos com o
menor).
O temor se justifica em muitos casos, em razão do
escasso conhecimento das leis locais, da insuficiente
fluência no idioma do país de residência, da inserção
precária no mercado de trabalho local e de outros fatores.
Desconhecimento da cultura local, por sua vez, pode gerar
uma avaliação negativa do genitor brasileiro por parte das
autoridades estrangeiras competentes: muitas vezes, é o
comportamento do genitor brasileiro nos contatos com
assistentes sociais e representantes de conselhos tutelares e
em audiências judiciais, por exemplo (por vezes
interpretado como combativo, desrespeitoso ou
excessivamente emotivo), que decidem as autoridades
estrangeiras a lhe negarem a guarda do menor.
Alguns casos seguem rumo diverso ao da perda da
guarda, porém igualmente grave: pessimistas quanto às
suas efetivas chances de obterem decisão judicial no
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exterior que lhes dê a guarda dos filhos, os genitores
brasileiros decidem trazê-los de volta para o Brasil sem
permissão ou mesmo conhecimento do outro genitor. Esse
ato, que é visto por muitas brasileiras (normalmente
mulheres atribuladas em meio a relacionamentos conjugais
conflituosos e violentos) como uma solução, um retorno
ao porto seguro de seu país natal. Esse ato, aparentemente
inocente e preventivo, poderá ser caracterizado, contudo,
como subtração de menores, permitindo ao genitor que
ficou para trás acionar os mecanismos de cooperação
internacionais existentes e, em muitos casos, obter da
Justiça brasileira a devolução da criança para o exterior.
Ciente desse problema, que atinge muitos brasileiros
envolvidos em relações conjugais com estrangeiros e/ou
desenvolvidas fora do Brasil, a área consular do Ministério
das Relações Exteriores, em coordenação com sua rede
consular, produziu a presente cartilha de orientações
gerais. O texto, redigido em parceria com os demais
órgãos brasileiros competentes (Secretaria de Direitos
Humanos, Secretaria de Políticas para Mulheres,
Defensoria Pública da União e Advocacia Geral da
União), estará complementado, no sítio eletrônico de cada
posto consular localizado em país onde já existem
comunidades brasileiras residentes consolidadas, por
informações específicas sobre a legislação e as práticas
vigentes na respectiva jurisdição. Desse modo, estarão
complementadas as informações sobre a norma
internacional, a legislação brasileira e a dos países onde
residem comunidades brasileiras, com esclarecimento
sobre a aplicação de cada uma. À luz da extrema
interdependência entre si, a cartilha abrange os temas da
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disputa de guarda (Seção 1) e subtração de menores
(Seção 2) e da violência doméstica (Seção 3).
Esta cartilha, redigida de forma mais completa e
pormenorizada, destina-se à capacitação de agentes
multiplicadores – funcionários consulares, advogados e
psicólogos, membros dos conselhos de cidadãos/cidadania
e outras lideranças brasileiras envolvidas no apoio aos co-
nacionais no exterior.
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Seção 1 - Guarda de menores brasileiros
1. Disputa de guarda pelos pais em meio a
separação/divórcio (brasileiros residentes no exterior
e/ou casados com estrangeiros)
1.1 Terminologia utilizada na legislação brasileira
* Poder familiar (chamado, anteriormente, de pátrio
poder): inclui a relação de dever (sustento, cuidados com a
saúde, educação e outras necessidades) e poder que os pais
têm sobre os filhos menores de 18 anos não emancipados.
Ressalte-se que os pais são responsáveis pelo sustento dos
filhos até completarem a maioridade civil (18 anos,
segundo o Código Civil de 2002) ou, se for o caso, até que
concluam o ensino superior.
Artigo 1634 do Código Civil: Compete aos pais, no
exercício do pátrio poder:
I – dirigir-lhes a criação e educação;
II – tê-los em sua companhia e guarda;
III – conceder-lhe, ou negar-lhes consentimento para
casarem;
IV – nomear-lhes tutor, por testamento ou documento
autenticado, se o outro dos pais lhe não sobreviver, ou
sobrevivo não puder exercitar o pátrio poder.
V – representa-los, até 16 anos, nos atos da vida civil,
e assisti-los após essa idade, nos atos em que em que
forem partes, suprindo o consentimento.
VI – reclamá-los de quem ilegalmente os detenham.
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O poder familiar consiste, portanto, em um conjunto
de direitos e obrigações quanto à pessoa e bens do filho
menor, exercido, em igualdade de condições, por ambos
os pais (independentemente de terem ou não a guarda),
para que possam desempenhar os encargos que a norma
jurídica lhes impõe, tendo em vista o interesse e a proteção
do filho.
A igualdade completa no tocante à titularidade e
exercício do poder familiar pelos cônjuges só se
concretizou com advento da Constituição Federal de 1988,
cujo artigo 226, § 5º dispôs: os direitos e deveres
referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente
pelo homem e pela mulher. Em harmonia com aludido
mandamento estabeleceu o Estatuto da Criança e
Adolescente:
Art. 21 O pátrio poder deve ser exercido, em
igualdade de condições, pelo qual pai e pela mãe, na
forma que dispuser a legislação civil, assegurado a
qualquer deles o direito de em caso de discordância
recorrer à autoridade judicial competente para solução
da divergência.
Artigo 1630 do Código Civil: “Os filhos estão sujeitos
ao poder familiar enquanto menores”. O dispositivo
abrange a todos os filhos, reconhecidos ou adotivos,
menores, ou seja, os que não atingirem dezoito anos ou
não forem emancipados.
O poder familiar pode ser suspenso temporariamente
ou perdido definitivamente em decorrência de decisão
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judicial, caso um genitor (ou ambos) seja julgado incapaz
de assumir as responsabilidades pertinentes. O poder
familiar não é, portanto, absoluto, sendo seu exercício
fiscalizado pelo Estado. Caso ambos os genitores da
criança ou adolescente percam o poder familiar, será
necessária a nomeação de um curador especial.
Segundo o Código Civil, a separação ou divórcio dos
pais, a contração de novas núpcias ou estabelecimento de
união estável posterior não modifica em nada a situação
do poder familiar dos dois genitores. Nesse caso, deverá
apenas ser decidida a guarda, a qual será atribuída àquele
que oferecer melhores condições de desenvolvimento ao
menor; em caso de divergência entre os pais, deverá
qualquer deles recorrer ao juiz para solucionar o
desacordo.
* Guarda: consiste no direito de posse de menor. É
considerada como um dos atributos do poder familiar,
concernente à convivência, proteção e satisfação das
necessidades de desenvolvimento do menor. Trata-se, na
prática, de uma guarda "física", embora não se utilize no
Brasil essa expressão ("guarda física"). Pelo Código Civil
brasileiro de 2002, a guarda pode ser unilateral ou
compartilhada:
- guarda unilateral (de caráter exclusivo, embora não se
utilize no Brasil a expressão "guarda exclusiva"): é
atribuída a apenas uma pessoa (um dos genitores ou
terceiro); o genitor sem a guarda costuma manter, contudo,
o poder familiar sobre o menor.
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- guarda compartilhada: é atribuída simultaneamente a
ambos os genitores. Pode ser compreendida como uma
guarda parcial, embora não se utilize no Brasil o termo
"guarda parcial".
* Guarda provisória (ou cautelar): é concedida pela
autoridade judiciária em caráter provisório, geralmente até
que seja proferida uma decisão definitiva. É possível a
concessão de guarda provisória para afastar o menor de
ambiente de violência doméstica.
* Tutela legal: quando não resta ao menor nenhum
genitor responsável legal, o Estado pode nomear um
"tutor" (geralmente parentes ou padrinhos) até que ocorra
a adoção ou até o menor atingir a maioridade. A tutela
ocorre na hipótese de falecimento dos genitores, ausência,
ou de destituição, de ambos, do poder familiar.
* Custódia: a legislação brasileira não utiliza a expressão
"custódia" para se referir às crianças e adolescentes, mas
guarda. Em linguagem corrente, é utilizada como
equivalente à guarda provisória dada pelo próprio
responsável legal a um terceiro, normalmente por fatores
como doença, viagem e outros.
* Abrigamento institucional: trata-se do termo utilizado
para a "guarda" de um menor pelo Estado.
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- Guarda de menores segundo a legislação e prática na
jurisdição
- Definição do poder parental em relação a uma criança.
A legislação peruana utiliza a expressão "pátria
potestad" para definir, em termos gerais, os deveres dos
genitores em relação a seus filhos (Código Civil, art. 418:
"Por la patria potestad los padres tienen el deber y el
derecho de cuidar de la persona y bienes de sus hijos
menores").
O termo "tutela" tem, na legislação peruana (Código
Civil, art. 502 e seguintes), sentido análogo ao do Código
Civil brasileiro (Título IV, Capítulo I - art. 1.728 e
seguintes).
A regra geral é que os dois genitores exercerão
conjuntamente a "patria potestad" durante a vigência do
matrimônio (Código Civil, art. 419). Estão contempladas
na "patria potestad", no Código Civil, as seguintes
obrigações: zelar pelo desenvolvimento integral da
criança; prover seu sustento e educação; dirigir seu
processo educativo e capacitação para o trabalho; dar bons
exemplos de vida e corrigir comportamentos inadequados
da criança, recorrendo, caso necessário, às autoridades
competentes; aproveitar os serviços dos filhos, tendo
presente sua idade e condição e sem que isso prejudique
sua educação; ter os filhos em sua companhia e recolhê-
los em local em que estejam sem sua permissão,
recorrendo à autoridade, caso necessário; representar o
menor nos atos da vida civil, até a assunção de capacidade
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civil; administrar seus bens e deles ter usufruto. O Código
das Crianças e Adolescentes, posterior ao Código Civil,
reafirma o conteúdo da "pátria potestad".
1.2 Legislação, jurisprudência1 e práticas no Brasil
* Formas de decisão sobre a guarda e base legal: No
Brasil, a guarda de menores pode ser decidida por acordo
ou decisão judicial. A mediação para acordo só é
recomendável caso não haja histórico de violência
doméstica. Em se tratando de decisão judicial, a praxe é
utilizar-se a jurisprudência criada no Brasil, com base em
alguns itens da seção sobre Direito de Família do Código
Civil de 2002.
* Objetivo final das decisões judiciais envolvendo
menores: Como regra geral, toda ação movida na Justiça
brasileira referente à guarda, visita e pensão alimentícia,
decorrente de separação de casais, visa a atender ao
melhor interesse dos menores envolvidos.
* Praxe judicial brasileira referente à guarda de
menores: a legislação brasileira estabelece que, não
havendo consenso entre os genitores, estando ambos aptos
a exercerem a guarda, esta será compartilhada. Todavia,
tendo em vista atender ao melhor interesse das crianças ou
adolescentes envolvidos, é comum que a Justiça brasileira
atribua a guarda a apenas um dos genitores, tendo-se como
premissa que, no caso das crianças, o melhor interesse é o
1 Jurisprudência é um conjunto das decisões sobre interpretações das leis feitas pelos
tribunais de cada país. Com base na experiência dos juízes, as decisões dos tribunais
passam a servir em casos seguintes.
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de ficar sob a guarda da mãe, exceto se tal solução
apresente dificuldades específicas. Os motivos para não se
conceder a guarda à mãe se devem, normalmente, ao uso
de drogas, doença mental, desequilíbrio emocional
afetando a educação do menor, atos de violência,
negligência e situação familiar emocionalmente instável.
Já no caso de adolescentes, a decisão judicial sobre sua
guarda costuma levar em conta a vontade manifestada por
aqueles menores.
* Guarda materna: A regra e a prática da Justiça
brasileira é a guarda materna. Todavia deve ser ressaltado
que a legislação estabelece como regra formal a guarda
compartilhada (art. 1584, § 2º, do CC). A Justiça brasileira
não costuma conceder guarda compartilhada a casais que
se separam de forma conflituosa e/ou em ambiente de
violência doméstica; entende-se que a guarda
compartilhada, em tais casos, pode trazer tensão e
instabilidade ao cenário familiar do menor. A regra e a
prática geral da Justiça brasileira é, portanto, de atribuir a
guarda à mãe e direitos de visita ao pai (exceto se este
tenha histórico de perpetrar atos de violência doméstica e
violação de direitos). Em caso de o filho não ser
reconhecido pelo pai juridicamente (estando ausente seu
nome, portanto, na certidão de nascimento), a mãe exerce
o poder familiar exclusivo.
* Direitos de visitação e de manutenção de contato: a
praxe da Justiça brasileira (sujeita a negociações entre os
pais) é de garantir o direito do pai à visitação em finais de
semana alternados, em férias escolares alternadas e Natal
ou Reveillon. Busca-se, com isso, maximizar as relações e
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contatos do menor com ambos os genitores, no
entendimento de que qualquer restrição aos contatos do
menor com o genitor sem a guarda seria abusiva e que o
convívio com ambos os genitores é importante para o
equilíbrio emocional do menor (art. 1.634, § 5 do Código
Civil). A exceção a essa prática ocorre se um dos genitores
apresentar comportamento considerado, pelas autoridades
judiciais, inadequado e pernicioso para o menor, a
exemplo do cometimento de violência física. Também é
frequente o estabelecimento de visitação livre, quando o
casal parental tem bom relacionamento e quando os filhos
são adolescentes.
* Pensão alimentícia: A praxe é que o cônjuge sem a
guarda (normalmente o pai) tenha de contribuir para o
sustento do menor. Os valores dessa contribuição são
estipulados pelo juiz, de acordo com as necessidades
específicas do menor e da capacidade econômica do pai.
Todavia, a guarda compartilhada não exclui a
possibilidade de a fixação de alimentos a ser custeado pelo
genitor com melhores condições financeiras.
* Atribuição de guarda a terceiros (que não os
genitores): ocorre no Brasil apenas em casos excepcionais
(uso de drogas, transtornos psiquiátricos, histórico de
violência doméstica e problemas afins, ou ainda quando os
pais não têm condições para cuidar do filho). Mesmo
nesses casos, os genitores costumam manter o poder
familiar e o direito de visitação.
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1.2.1 Mudança de domicílio e autorização de viagem de
menor
Para que ocorra a mudança da residência permanente
da criança ou adolescente para outro Município é
necessária prévia autorização de ambos os genitores. Na
prática, essa regra pode ser relativizada em situações de
emergência, como, por exemplo, contexto de violência
doméstica experimentada pela genitora da criança ou
adolescente.
Quando um dos genitores residir em outro Município
brasileiro, ou no exterior, há regras específicas para o
exercício do direito de visitas:
- dentro do Brasil: ao se regulamentarem os direitos
do genitor sem a guarda no "acordo de regulamentação de
visitas", estipula-se o cronograma respectivo das visitas,
prevendo viagens interestaduais (não obstante tal previsão,
é possível que esta seja um ponto de conflito entre os
genitores).
- para o exterior: adota-se o mesmo procedimento
acima. Não há regras legais sobre quem tem atribuição de
arcar com o ônus da viagem ao exterior, podendo ser ou o
genitor com melhores condições financeiras, ou o genitor
sem a guarda e que deseja realizar a visita. Acrescenta-se
aqui, contudo, fator complicador referente à necessidade
de se obter a autorização do Judiciário do novo país de
residência do menor. Além disso, a emissão do passaporte
para menor precisará da autorização de ambos os
genitores, substituível apenas por ordem judicial.
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* Regras relativas à autorização de viagem: (i) Em
viagem dentro do território brasileiro, é dispensada a
autorização de ambos os genitores se a criança (menor de
12 anos de idade) estiver acompanhada de um dos
ascendentes (genitores ou avós) ou colateral maior (tios),
até o terceiro grau, comprovado documentalmente o
parentesco. Também é dispensada autorização judicial se a
criança estiver acompanhada de pessoa maior,
expressamente autorizada pelo pai, mãe ou responsável.
Não se exigem tais requisitos para o adolescente (menor
entre 12 e 18 anos). É o que estabelece o art. 83 do ECA.
(ii) Para viagem ao exterior das crianças e adolescentes é
exigida autorização de ambos os genitores ou autorização
judicial (art. 84 do ECA).
1.3 Cumprimento no exterior de decisão do Judiciário
brasileiro sobre guarda e visitação
Para que uma decisão (sentença) judicial brasileira
tenha valor em outro país, deve, como regra, ser
homologada naquele país. O mesmo ocorre com uma
sentença estrangeira no Brasil.[2] Isso significa que um
pai ou mãe brasileiro que pretenda mudar-se para outro
país levando o filho menor – sobre o qual possua guarda
unilateral – poderá obter maior garantia jurídica sobre o
menor homologando naquele país a sentença judicial
brasileira que estipula a guarda e demais condições.
Cumpre ressaltar que, uma vez ingressado o menor em
outro país na condição de residente, os órgãos tutelares
estrangeiros responsáveis passam a ter jurisdição sobre
aquele menor, independentemente de o genitor possuir a
guarda. Recorde-se, a propósito, que é possível que a
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guarda sobre uma criança ou adolescente que tenha dupla
nacionalidade seja revista a qualquer momento caso as
autoridades locais julguem que o genitor está cometendo
alguma violação de seus direitos segundo a lei daquele
país.
De modo a garantir-se o cumprimento das decisões
judiciais obtidas, é importante atentar-se para medidas
acautelatórias:
(i) processo judicial realizado no Brasil: importância
da homologação da sentença de divórcio (e guarda de
menor) no país de residência, de modo a permitir garantias
em caso de desrespeito de uma das partes aos termos
estabelecidos;
(ii) processo judicial realizado no exterior:
importância de fazer constar da sentença estrangeira o
consentimento do ex-cônjuge autorizando a homologação
da sentença no Brasil.
Para homologar a sentença judicial brasileira no
exterior, o genitor brasileiro deverá averiguar quais são os
procedimentos específicos para a homologação naquele
país, uma vez que os procedimentos não são idênticos em
todos os países, sendo necessária, muitas vezes, a
contratação de advogado, tradutor e cobertura de outros
custos.
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1.4 Prevenção de disputas no Brasil: formas de evitar a
judicialização da disputa pela guarda
A legislação brasileira (Lei 13.140/2015, conhecida
como Nova Lei da Mediação) permite a mediação de
conflitos para causas cíveis, incluindo direito de família
(mas não para causas criminais).[3] Tratam-se aqui de
meios alternativos e não-adversariais de soluções de
conflitos. A mediação consiste em atividade técnica
exercida por pessoa imparcial, sem poder de decisão, que
auxilia as partes envolvidas a encontrarem soluções
consensuais. A mediação ajuda na construção de um
acordo entre as partes, sendo mais abrangente do que a
conciliação, que busca fomentar um acordo. A idéia
subjacente é de que a solução construída em conjunto
pelas partes envolvidas é melhor do que uma solução
imposta pelo Judiciário. O novo Código de Processo Civil
(Lei 13.105/2015), que entrará em vigor em março de
2016 (art. 1.045), estabelece a obrigatoriedade de fase de
mediação e conciliação nas ações de família (arts. 693 a
699).
A mediação pode ser judicial (quando as partes
passam pela mediação como uma das etapas do processo
judiciário), extrajudicial (quando as partes resolvem o
conflito sem recorrer à Justiça, optando por serviços
privados especializados em mediação) ou pública (quando
uma das partes envolvidas no conflito é pessoa jurídica de
direito público). Pode ser acionada a partir de petição
inicial feita a um juiz, o qual, uma vez aceito o pedido,
transfere o caso para a mediação. A mediação pode ficar a
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cargo de órgãos de apoio dentro do Judiciário ou órgãos
parceiros, como faculdades de direito.
1.5 Órgãos competentes no Brasil
* Juiz estadual da Vara de Família - decisões referentes
a guarda, direitos de visitação e alimentos.
* Juiz estadual da Vara de Infância e Juventude -
decisões em casos de violações de direitos, incluindo
violência.
* Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a
Mulher - decisões de medidas protetivas de urgência em
favor da mulher, que podem eventualmente alcançar
também a fixação de guarda provisória, alimentos e
proibição de aproximação e contato com os filhos.
* Conselho Tutelar - decisões sobre abrigamento
provisório e custódia provisória. Trata-se de órgão
estadual, vinculado à secretaria de direitos humanos ou
órgão estadual afim, com membros escolhidos por eleição.
Possui a atribuição de acompanhar a situação de crianças e
adolescentes.
* Ministério Público – intervém em todos os processos
judiciais que envolvem menores de idade (crianças e
adolescentes); fiscaliza os direitos dos menores. O MP
federal cuida de causas federais (como a Convenção da
Haia sobre Abdução de Menores) e os estaduais cuidam
das demais causas. Pode ser acionado por qualquer pessoa,
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inclusive mediante denúncia ou ligação para a Central de
Atendimento Disque-100.
* Defensoria Pública da União – assistência ao cidadão,
incluindo orientação e representação jurídica.
* Superior Tribunal de Justiça – é competente para
processar e julgar, originariamente: a homologação de
sentenças estrangeiras e a concessão de exequatur (ordem
de execução) às cartas rogatórias;" (Art. 105 da
Constituição Federal de 1988 e Emenda Constitucional nº
45, de 2004)
Obs: A Justiça Civil decide conflitos relacionados a bens
(móveis e imóveis, transações comerciais e indenizações),
além de questões de família (casamento, divórcio, guarda
e adoção de filhos e herança, entre outros).
- disputa de guarda pelos pais em meio a
separação/divórcio. Terminologia utilizada na
legislação local.
Em caso de separação de corpos, de divórcio ou de
anulação de casamento, a "patria potestad" será exercida
pelo cônjuge ao qual são confiados os filhos. Ficará
temporariamente suspensa a "patria potestad" do outro
cônjuge (Código Civil, Art. 420).
Tanto a separação ou o divórcio, no ordenamento
jurídico local, pode ser "convencional" (consensual, por
mútuo acordo, possível inclusive por trâmite notarial, a
exemplo do que ocorre no direito brasileiro) ou "causal"
(litigiosa, em que é necessário comprovar a ocorrência de
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alguma das causas elencadas no art. 333 do Código Civil).
Em caso de separação convencional, vale o acordado entre
os pais sobre guarda e regime de visitas.
O "Código de Crianças e Adolescentes" (Lei 27.337)
determina, por sua parte, no art. 76, que, nos casos de
separação convencional e divórcio ulterior, nenhum dos
genitores terá suspenso o exercício de sua "pátria
potestad".
O art. 340 do Código Civil peruano versa sobre os
casos de separação litigiosa ("causal"). Determina que os
filhos deverão ser confiados ao cônjuge que obteve a
separação por causa específica, resguardada a prerrogativa
do juiz de determinar, no interesse do bem estar dos
menores, que os menores fiquem com o outro cônjuge ou
com terceira pessoa, caso haja "motivo grave" que
fundamente essa última opção.
Importante registrar esta modalidade de separação ou
divórcio caracteriza um dos cônjuges como "causador" da
separação, penalizando-o, em princípio, com a perda da
guarda dos filhos e também com a suspensão temporária
do pátrio poder ("El padre o madre a quien se haya
confiado los hijos ejerce la patria potestade respecto de
ellos. El otro queda suspendido en el ejercicio”).
Em marcada diferença com o que determina o Direito
brasileiro, o art. 340 do Código Civil estipula ainda que,
caso ambos os cônjuges sejam responsáveis pela
separação, os filhos varões maiores de sete anos ficarão
com o pai, ao passo que os filhos que não tenham atingido
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essa idade e as filhas de qualquer idade permanecerão na
companhia da mãe - podendo o juiz, segundo seu critério,
decidir de forma distinta.
No caso de filho nascido fora de matrimônio, a
"patria potestad" será exercida pelo genitor que o houver
reconhecido. Caso ambos o tenham feito, caberá ao juiz
competente decidir sobre a matéria, tomando em
consideração fatores como idade e sexo da criança e a
circunstância de os pais viverem juntos ou separados,
sempre com base no princípio da preservação dos
interesses do menor.
A "patria potestad" extingue-se, de acordo com o
Código Civil, pela morte dos pais ou do filho; ao cumprir
o filho 18 anos (Código Civil, Art. 461); ou ao cessar a
incapacidade legal do filho por outra razão. A perda da
"patria potestad" decorre de condenação a pena que tenha
como efeito essa perda, ou por abandono do filho por
período corrido de 6 meses ou por períodos que, somados,
excedam esse prazo (Código Civil, Art. 462). São 3 as
causas de perda da "patria potestad" estabelecidas no
Código Civil peruano: a) dar ordens, conselhos, exemplos
corruptos ou utilizar seus filhos para mendicância; b) tratar
os filhos com dureza excessiva; c) negar-se a prestar
alimentos aos filhos (Código Civil, Art. 463). As causas de
extinção e perda da "patria potestad" aparecem, em
formulação algo distinta, no art. 77 da Lei 27.337: "a) por
morte dos pais ou do filho; b) porque o adolescente
adquire a maioridade; c) por declaração judicial de
abandono; d) por haver sido condenado por delito doloso
cometido contra seus filhos ou em prejuízo destes; e) por
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reincidência nas causas constantes dos incisos c), d), e) e
f) do art. 75 (causas de suspensão da "patria potestad"); e
f) por término da incapacidade do filho.
Tanto o Código Civil como o Código de Crianças e
Adolescentes versam sobre as causas de suspensão
(diferente da extinção, objeto do parágrafo precedente) da
"patria potestad". O Código Civil peruano estabelece 4
causas para essa suspensão: a) interdição do pai ou da
mãe; b) ausência judicialmente declarada do pai ou da
mãe; c) comprovação de que o pai ou a mãe encontram-se
impedidos de fato para o exercício do pátrio poder; e d)
situações que se enquadrem no art. 340 do Código Civil,
que regula os efeitos da separação convencional sobre os
filhos. A Lei 27.337 determina, por sua parte, que a "patria
potestad" será suspensa nos seguintes casos: a) interdição
do pai ou da mãe, decorrente de causas de natureza civil;
b) ausência judicialmente declarada do pai ou da mãe; c)
em razão de emissão de ordens, conselhos ou exemplos
que os corrompam; d) por dedicar os menores à
mendicância; e) por maltratar os filhos, física ou
mentalmente; f) pela não prestação de alimentos; g) por
separação ou divórcio dos pais, ou por invalidade do
casamento, conforme os artigos 282 e 340 do Código
Civil.
- Problemas mais frequentes enfrentados por genitores
brasileiros no processo de disputa de guarda e seus
principais motivos.
Os problemas mais frequentes enfrentados por
nacionais brasileiros em disputas de guarda decorrem, em
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regra, da pouca familiaridade com as normas locais; de
dificuldades com a representação legal; e da situação de
vulnerabilidade em que se encontram, em muitos casos.
Este quadro afeta particularmente mulheres que tenham
vindo para o Peru na companhia de nacionais peruanos e
que se vêem distantes de suas redes de proteção social, no
momento em que termina a relação.
O Posto tem registro de casos de disputas de guarda e
de ações relativas a alimentos envolvendo nacionais
brasileiros. Foi prestada aos nacionais a assistência
cabível, mediante, inclusive, acionamento de advogada
contratada pelo Posto.
- Principais dispositivos legais.
Código Civil (Decreto Legislativo 295/1984), Título III -
"Derecho de Familia";
Código de Crianças e Adolescentes (Lei 27.337).
- Diferenças no tocante a requerimento de passaporte e
autorização de viagem internacional de menor.
O Código de Crianças e Adolescentes estabelece dois
tipos de autorização para que menores de idade possam
deixar o território deste país. O primeiro - autorização
notarial - está regulado pelo art. 111 da Lei 27.337, que
determina ser necessário, para que menores possam viajar
para fora do Peru, desacompanhados ou na companhia de
apenas um dos pais, a autorização de ambos os genitores,
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reconhecida em cartório. No caso de viagens no interior do
Peru, basta a autorização de um dos genitores.
Em caso de viagens no interior do país na ausência de
ambos os genitores, ou para fora do Peru nos casos em que
se registre a ausência ou a discordância de um deles, faz-
se necessária a obtenção de autorização judicial (art. 112
da Lei 27.337). O responsável pelo pedido de autorização
de viagem deverá apresentar perante juiz de família a
petição pertinente, juntamente com a documentação que a
fundamenta. O procedimento prevê a realização de
entrevista com o genitor solicitante, que deverá se fazer
acompanhar do menor, que deverá também participar da
audiência judicial.
A autorização para que menor de idade possa deixar
território peruano é requerida nos casos em que a criança
ou o adolescente sejam detentores de nacionalidade ou
residentes no Peru. Não se aplica nos casos em que o
menor se encontre neste país na condição de turista.
- Assessoramento profissional durante o processo de
negociação/disputa de guarda.
A legislação peruana estabelece o direito à assistência
legal gratuita, para pessoas que comprovem não dispor de
recursos para contratação de advogado particular. O órgão
responsável pelo serviço é a Direção-Geral de Defesa
Pública e Acesso à Justiça, do Ministério de Justiça e
Direitos Humanos. A Embaixada recebe, por vezes,
solicitação de serviços de tradução em audiências,
entrevistas e entendimentos com advogado. No caso
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referente ao menor O.H.N.C., de restituição internacional
de criança ao amparo da Convenção da Haia de 1980, o
requerente, nacional brasileiro, teve que arcar com os
custos da tradutora contratada para atuar na audiência.
- Processo de homologação na jurisdição de decisão
judicial brasileira sobre guarda de menor.
A competência sobre o reconhecimento e execução
de sentença estrangeira em matéria de família recai sobre
as "Salas de Família", que integram a estrutura das Cortes
Superiores distritais peruanas - equivalentes, mutatis
mutandis, às turmas dos tribunais estaduais no Brasil.
Pode-se mencionar, a título de ilustração, que a Corte
Superior de Lima possui duas "Salas de Família".
A petição inicial será necessariamente firmada por
advogado e deverá estar acompanhada dos seguintes
documentos: cópias simples dos documentos de identidade
do solicitante e do procurador; certidão de casamento
celebrado no Peru ou inscrito em Repartição consular
peruana; sentença estrangeira, previamente legalizada por
cônsul peruano e pelo Ministério das Relações Exteriores
do Peru; tradução oficial da sentença estrangeira;
procuração, por escritura pública ou passada perante a
secretaria da Sala de Família. Deverá ser fornecida,
igualmente, indicação do domicílio do demandado ou, na
sua ausência, declaração formal de que foram esgotadas as
tentativas de localização.
Faz-se necessário comprovar que a sentença não
versa sobre matéria de competência exclusiva das
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Subtração Internacional de Menores
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autoridades peruanas; que o tribunal estrangeiro tinha
competência sobre o assunto; que a sentença tenha
transitado em julgado, mediante certificação expedida pelo
tribunal competente; em casos de divórcio, que o
domicílio conjugal se encontrava no local em que foi
emitida a sentença estrangeira; que o demandado tenha
sido citado conforme a lei, que lhe tenha sido concedido
prazo para comparecimento e as garantias do devido
processo; que não existe no Peru juízo pendente entre as
partes sobre o mesmo objeto, iniciado com anterioridade à
interposição da ação que originou a sentença, mediante
certificação ou declaração jurada de inexistência,
devidamente legalizada ou certificada perante a secretaria
da Sala; que a sentença, matéria de reconhecimento, não é
incompatível com outra ação.
- Situação de genitor brasileiro com guarda total,
determinada pela Justiça brasileira, sobre o filho
menor no momento em que fixa residência na
jurisdição.
O art. 5º do "Código de Crianças e Adolescentes"
estabelece que seus dispositivos são aplicáveis a todas as
crianças e adolescentes que se encontrem em território
peruano. Dentre outras relações jurídicas, o diploma legal
regula, conjuntamente com o Código Civil, a guarda dos
filhos menores em casos de separação.
- Órgãos locais com poder decisório.
O Ministério da Mulher e das Populações
Vulneráveis desempenha papel central em matéria de
proteção de crianças e adolescentes. O Poder Judiciário,
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mediante juiz especializado - Vara de Família - poderá ser
acionado, em casos de disputa de guarda ou em casos de
abandono.
O Código da Criança e do Adolescente estabelece o
Sistema Nacional de Atenção Integrada à Criança e ao
Adolescente, composto pelos órgãos responsáveis pela
formulação, coordenação, supervisão, avaliação e
execução de programas e ações voltados para a promoção
e proteção dos direitos das crianças e dos adolescentes
(art. 27). O Ministério da Mulher e das Populações
Vulneráveis desempenha a função de organismo reitor do
sistema (art. 28).
Esse diploma legal estabelece, também, que caberá às
"Defensorías del Niño y del Adolescente" atuar nas
instâncias administrativas de instituições públicas e
privadas que trabalhem com a promoção e proteção dos
direitos das crianças e adolescentes. Seus serviços serão
gratuitos e incluem, entre outros, o acompanhamento da
situação de menores que se encontram em instituições
públicas ou privadas; intervenção quando há ameaça ao
menor ou possibilidade de violação de seus direitos; e
realização de conciliações extrajudiciais, relativas a
alimentos, guarda e regime de visitas; e apresentação de
denúncia perante autoridades competentes acerca de
eventuais faltas e delitos cometidos contra crianças e
adolescentes.
A título de ilustração do volume de trabalho
desenvolvido, pode-se registrar que as "defensorías del
niño y del adolescente" atenderam, em 2014, 88.244
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casos. Desses, cerca de 65% diziam respeito a alimentos
(29.718 casos, 34% do total), regime de visitas (13.730
casos, 16% do total) e guarda(12.916 casos, 15% do total).
- Prevenção de disputas e meios não judiciais de
solução de controvérsias relacionados à guarda dos
menores.
As "Defensorías del Niño e del Adolescente" têm
como uma de suas atribuições realizar conciliações
extrajudiciais entre cônjuges, pais e familiares, em temas
como alimentos, guarda e regime de visitas.
Havendo acordo acerca da guarda dos filhos, deverá
ser ele registrado em Centro de Conciliação Extrajudicial,
para que tenha efeitos legais. Recai sobre a Direção de
Conciliação Extrajudicial e Meios Alternativos de Solução
de Conflitos, da Direção-Geral de Defesa Pública e
Acesso à Justiça, do Ministério de Justiça e Direitos
Humanos, a responsabilidade pela administração desses
centros.
- Direitos de visita.
O Código de Crianças e Adolescentes determina que
aos pais que não exerçam a "pátria potestad" é assegurado
o direito de visita a seus filhos. Deverão, para tanto,
comprovar que não estão inadimplentes com obrigações
alimentícias ou, alternativamente, que dispõem de
condições para honrar essas obrigações (art. 88).
Cartilha sobre Disputa de Guarda e
Subtração Internacional de Menores
Lima
O regime de visitas pode ser objeto de acordo entre as
partes, devendo, nesse caso, ser registrado em Centro de
Conciliação Extrajudicial. Em caso de inexistência de
acordo, caberá ao juiz competente determinar as condições
da visita.
1.6. Retirada da guarda ou do poder familiar do menor
brasileiro no exterior pelas autoridades estrangeiras à
revelia dos pais
1.6.1 Terminologia utilizada na legislação brasileira
* Decisão de alteração de guarda: é o termo utilizado
para casos de perda (retirada) de guarda.
* Suspensão do poder familiar: é o impedimento
temporário ao exercício de alguns ou todos os seus
atributos. Pode referir-se unicamente a determinado filho.
Artigo 1637 do Código Civil: Se um dos genitores
abusar de sua autoridade, faltando aos deveres a eles
inerentes ou arruinando os bens dos filhos, cabe ao juiz,
requerendo algum parente, ou Ministério Público adotar a
medida que lhe pareça reclamada pela segurança e seus
haveres, até suspendendo o poder familiar, quando
convenha. Também será suspenso se condenados os pais
por sentença irrecorrível em virtude de crime, desde que a
pena não exceda a dois anos de prisão. A suspensão é
temporária: uma vez cessado o motivo que a originou,
voltarão os pais a exercer o poder familiar. Não existe um
limite de tempo fixado em lei para a suspensão, devendo
ser levado em consideração os interesses do menor.
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* Perda do poder familiar: é a perda definitiva do poder
familiar de um dos genitores sobre os filhos. Ocorre nas
hipóteses do art. 1638 do Código Civil:
Artigo 1638 do Código Civil: Perderá por ato judicial
o poder familiar o pai ou a mãe que:
I - castigar imoderadamente o filho;
II - deixar o filho em abandono;
III - Praticar atos contrários à moral e os bons
costumes;
IV - Incidir, reiteradamente, nas faltas previstas no
artigo.
* Extinção do poder familiar: O poder familiar se
extingue de acordo com art 1635 do Código Civil de 2002,
pela morte dos pais ou do filho, pela emancipação, pela
maioridade e pela adoção ou por decisão judicial. A perda
da guarda não implica necessariamente a extinção do
poder familiar.
1.6.2 Legislação, Jurisprudência e práticas no Brasil
para decisão judicial de extinção do poder familiar
Apenas em casos extremos costumam as autoridades
brasileiras destituir o poder familiar de ambos os
genitores. Hesita-se em retirar o menor de seu ambiente
familiar, com o consequente envio para abrigo e colocação
para eventual adoção.
Mesmo sem a perda do poder familiar, é possível a
alteração da guarda. Se os pais se encontram separados, há
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Subtração Internacional de Menores
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menor dificuldade em se alterar a guarda, passando-a de
um genitor para outro.
- Principais fatores motivadores da perda da guarda na
jurisdição
O procedimento de investigação tutelar está regido
pelo Código da Criança e do Adolescente (art. 245 e
seguinte). O Ministério da Mulher e das Populações
Vulneráveis desempenha papel central na matéria, sendo
responsável, no âmbito administrativo, pela investigação
tutelar e pela adoção de medidas de proteção. O art. 245
determina que o Ministério da Mulher, "ao tomar
conhecimento, mediante informe policial ou denúncia de
parte, que uma criança ou adolescente se encontra em
algumas das causais de abandono, abrirá investigação
tutelar, com conhecimento do Promotor de Família e
determinará de forma provisória as medidas de proteção
pertinentes."
O art. 246 do Código determina sejam elaborados
relatórios sobre aspectos diversos da questão, incluindo,
entre outros, o registro do testemunho da criança ou
adolescente; exame psicossomático, para determinar sua
idade, seu estado de saúde e seu desenvolvimento
psicológico; perícia destinada a estabelecer a identidade
do menor; relatório de equipe multidisciplinar (ou de
quem faça as suas vezes) para identificar as razões que
terão levado o menor à situação de abandono. Uma vez
emitidos esses relatórios, serão realizadas diligências
destinadas à localização dos responsáveis. Caso estes não
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sejam encontrados, o Ministério da Mulher encaminhará o
processo de investigação tutelar ao juiz competente, que
deliberará sobre o estado de abandono.
As medidas de proteção previstas no Código de
Crianças e Adolescentes compreendem o cuidado no
próprio lar, com orientação dos pais e responsáveis sobre
suas obrigações e apoio e acompanhamento temporário de
instituições de proteção; participação em programa oficial
ou comunitário de proteção; incorporação a família
substituta ou realocação familiar; atenção integral em
estabelecimento de proteção especial; entrega em adoção,
após declaração de estado de abandono expedida por juiz
competente (art. 243).
Perguntas frequentes
** O consulado ou governo brasileiro pode interferir
na aplicação da lei de país estrangeiro? Não, de forma
alguma. As normas consulares exigem que seja respeitado
o ordenamento jurídico dos outros países.
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Seção 2 - Subtração internacional de crianças
2.1 Terminologia utilizada na legislação brasileira
* Subtração (também referida como sequestro)
internacional de crianças é o ato cometido por um genitor
(pai ou mãe) de transferir ilicitamente um filho menor de
idade de seu país de residência habitual para outro país,
sem o consentimento do outro genitor. Também é
considerado subtração o ato de um genitor de reter o filho
menor em um país que não seja seu país de residência
habitual sem o consentimento do outro genitor (por
exemplo, após um período de férias, mesmo que o outro
genitor tenha autorizado a viagem).
* Genitor subtrator é aquele que leva a criança de seu
país de residência habitual para outro país (ou o mantém
retido em outro país) sem autorização do outro genitor,
denominado genitor abandonado.
* Criança, para fins de aplicação da Convenção, é a
pessoa com até 16 anos de idade completos.
* Residência Habitual, conforme estipulada na
Convenção da Haia, é o país/estado onde a criança reside,
com intenção de lá permanecer. De modo geral, o país de
residência habitual é aquele de onde a criança foi retirada
e para o qual deverá ser restituída. No caso de crianças,
em especial as mais jovens, o mais comum é considerar
como seu local de residência habitual o mesmo dos seus
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genitores. O requisito temporal pode variar, não existindo
um “prazo mínimo” para sua configuração. A Convenção
se funda na premissa de que é no local de “residência
habitual” que a criança possui seus vínculos mais robustos
e importantes, não somente com seus genitores, mas com
o ambiente escolar, linguístico, social, família estendida e
outros.
Perguntas Frequentes
** Tenho a guarda do meu filho. Posso alterar o país
de sua residência sem autorização do outro genitor? Em geral, a legislação dos países não permite que um dos
pais tome sozinho essa decisão, mesmo que ambos tenham
a guarda compartilhada ou que um deles tenha a guarda
exclusiva. Se ambos os genitores exercem o poder
parental, então os dois deverão decidir sobre o lugar de
residência habitual, exceto se o Poder Judiciário
competente (o da residência habitual) determinar que
quem detém a guarda possa tomar essa decisão
unilateralmente.
** Eu tenho autorização de viagem válida por dois
anos, posso mudar com o meu filho para o Brasil? Não.
A autorização de viagem permite apenas o trânsito
temporário, mas não dá à pessoa que está autorizada a
viajar com a criança poderes para mudança da residência
da criança.
2.1.1 Motivos mais comuns da subtração internacional
De modo geral, o genitor que decide retirar seu filho
do país de residência habitual sem a autorização do outro
genitor toma essa atitude em decorrência de uma crise ou
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Subtração Internacional de Menores
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ruptura no relacionamento conjugal, muitas vezes
acompanhada por abusos e maus tratos, físicos e/ou
psicológicos, sofridos por ele próprio e/ou pela criança.
Isso geralmente ocorre com casais de nacionalidades
diferentes, que residem no país de origem de um deles ou
em um terceiro país. Nada impede, contudo, que ocorra
com casal de brasileiros, residentes no Brasil ou no
exterior.
O genitor que planeja retirar a criança do país de
residência habitual é quase sempre aquele que não nasceu
naquele país, que lá não possui raízes, família, círculo
social sólido e nem emprego estável ou satisfatório, não
goza de autonomia financeira que permita o auto sustento,
não domina inteiramente o idioma do país, desconhece a
legislação local e seus próprios direitos. Em meio à crise
familiar, deseja abandonar aquele país onde, mesmo no
caso de possuir status migratório regular ou de ser
naturalizado, sente-se ainda um estrangeiro, com as
vulnerabilidades inerentes àquela condição.
No contexto acima descrito, aquele genitor estrangeiro
crê que lhe será desfavorável a decisão da justiça local em
caso de disputa da guarda do filho. Acredita (com ou sem
razão) que perderá a guarda ou receberá uma guarda
compartilhada que não lhe permitirá retornar ao seu país
de origem com a criança e lá refazer sua vida. Passa a
acreditar, portanto, que a única solução para seu caso é
mudar-se com a criança para outro país (normalmente seu
país de origem), com ou sem a autorização do outro
genitor. Essa solução configurará, contudo, subtração
internacional de menor e esse genitor se tornará um
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Subtração Internacional de Menores
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genitor subtrator, expondo-se às consequências jurídicas
de seu ato que, nos termos da Convenção, incluem o
retorno da criança.
2.1.2 Barreiras à subtração internacional de crianças:
emissão de passaportes e controles de fronteira
Muitos países possuem legislação determinando a
exigência de autorização de ambos os pais para emissão de
passaporte e para viagem de crianças e adolescentes. O
Brasil está nesse grupo, estipulando o Decreto 5.978/96,
art. 27, I, que o pai e a mãe da criança (ou,
alternativamente, o juiz competente) precisam autorizar a
emissão do passaporte. Em consequência, nem os postos
da Polícia Federal no Brasil e nem os postos consulares no
exterior estão autorizados a abrir exceções àquela regra,
cuja violação poderia, em muitos casos, ser interpretada
como medida de facilitação da subtração.
A lei brasileira exige autorização dos dois genitores ou
autorização judicial para a saída de crianças e adolescentes
até 18 anos do território nacional, sendo a fiscalização
realizada nos postos de fronteira pela Polícia Federal.
Cumpre reconhecer, contudo, que essa prática não impede
totalmente a subtração de crianças do Brasil para o
exterior, havendo registro de saídas pela fronteira seca
com os países vizinhos. Entretanto, a situação mais
corriqueira é a da retenção ilícita, quando a criança sai do
Brasil autorizada pelo outro genitor para passar um curto
período no exterior, mas não retorna.
Cartilha sobre Disputa de Guarda e
Subtração Internacional de Menores
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Nem todos os países adotam igual rigor ao emitirem
passaportes para crianças de sua nacionalidade e tampouco
efetuam controle de saída de crianças (sobretudo
estrangeiros) por seus postos de fronteira. Crianças
brasileiras com dupla nacionalidade podem inclusive, em
determinados casos, obter o seu passaporte estrangeiro
com a autorização de um único genitor.
Perguntas frequentes
** Eu posso receber apoio do Consulado/Governo
brasileiro para conseguir autorização do outro genitor
para emissão de passaporte e autorização de viagem? A autorização para emissão do documento de viagem deve
acontecer na via privada (mediante entendimentos entre os
dois genitores) ou suprida por decisão judicial. Os postos
consulares podem prestar orientações, mas não poderão
interferir nesse processo.
** O Consulado/Governo brasileiro pode pagar taxa
para um pedido de autorização do tribunal estrangeiro
que permita a emissão de passaporte brasileiro ou
permissão de viagem sem a autorização paterna? Os
postos consulares brasileiros não têm previsão
orçamentária de prestação de tal apoio.
2.1.3 Consequências jurídicas da subtração – Medidas
de cooperação internacional
Até os anos 1980, atos de retenção/subtração parental
internacional de crianças permaneciam frequentemente
impunes. Inexistiam mecanismos ágeis para que o genitor
abandonado acionasse o governo de outro país com vistas
à restituição da criança subtraída. O tempo agia em favor
Cartilha sobre Disputa de Guarda e
Subtração Internacional de Menores
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dos subtratores, uma vez que antes de o processo chegar à
conclusão, os filhos menores atingiam a maioridade e o
pedido de restituição perdia a validade.
Preocupados com esse quadro, diversos países se
dispuseram a estabelecer, no âmbito multilateral, regras e
canais para encaminhamento dos pedidos de restituição de
crianças. Foi assim que, em 1980, foi adotada a
Convenção da Haia sobre os Aspectos Civis do
Sequestro Internacional de Crianças, a qual se tornou o
marco de regras de Direito Internacional Privado para a
cooperação entre seus países membros (vide item 2a).
Com a entrada em vigor da Convenção em 1983, a retirada
das crianças dos países de residência habitual sem
autorização do co-detentor do direito de guarda passou a
ser considerada um ilícito internacional, exigindo
reparação pelos Estados partes. O Brasil é membro da
Convenção da Haia.2
São diferentes os procedimentos adotados em casos de
subtração de crianças, conforme ocorra entre países
membros da Convenção da Haia ou não. Mesmo entre
países membros, haverá diferenças nas respectivas
legislações locais. No caso de crianças brasileiras, o
encaminhamento dos casos será diferenciado, portanto,
conforme a subtração ocorra entre dois países-membros3
(item 2a abaixo, incluindo do Brasil para outro país
membro ou vice-versa ou entre dois outros países
membros) ou não (item 2b, incluindo do Brasil para país
2 O Brasil a ratificou em 1999 e a promulgou em 2000. 3 O número de membros é de 93 (dados atualizados em outubro de 2015) e sua lista está
disponível no website da Conferência da Haia de Direito Internacional Privado
(www.hcch.net).
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não-membro ou vice-versa ou entre dois países não-
membros).
2.2 Subtração entre países-membros da Convenção da
Haia de 1980 sobre os Aspectos Civis do Sequestro
Internacional de Crianças
Quando a subtração ocorre entre dois países membros
da Convenção, são seguidos em ambos os territórios os
procedimentos estipulados naquele instrumento.
A Convenção da Haia é a norma-quadro de
cooperação jurídica internacional que estabelece um
mecanismo de obrigações recíprocas entre os Estados-
Partes destinado a proteger os melhores interesses das
crianças, buscando evitar que as dificuldades impostas
pelas fronteiras estatais consolidem situações de
transferência ou retenção ilícita por um de seus genitores.
Elimina, portanto, a garantia de um refúgio além das
fronteiras para pais que tenham subtraído seus filhos.
A Convenção parte do princípio de que o foro
competente mais adequado para apreciação de questões
sobre a guarda de crianças corresponde ao Juízo local do
país/estado de sua residência habitual (ao invés do país de
nascimento, de cidadania dos genitores ou onde se
encontra residindo no momento do acionamento dos
mecanismos da Convenção). Assim, na aplicação da
Convenção, o juiz não levará em consideração a
nacionalidade dos envolvidos.
Cartilha sobre Disputa de Guarda e
Subtração Internacional de Menores
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2.2.1 Quem pode requerer restituição da criança:
direito de guarda
Somente titulares do “direito convencional de
guarda” (direitos relativos aos cuidados com a criança, e,
em particular, o direito de decidir sobre o lugar da sua
residência, segundo o artigo 5º da Convenção) poderão
requerer a restituição da criança ao seu local de residência
habitual. O titular poderá ser pessoa, organismo ou
instituição, devendo provar que, de acordo com o Direito
(legislação, acordo entre as partes ou decisão judicial) do
Estado de residência habitual da criança, detinha (e
exercia efetivamente) no momento da subtração os
“cuidados com a pessoa da criança” ou o “direito de
decidir sobre seu local de residência”. É comum que a lei
do país/estado de residência habitual considere que ambos
os genitores compartilham, em igualdade de condições, os
“cuidados com a pessoa da criança” e “o direito de decidir
sobre seu local de residência.
O efetivo exercício do direito de guarda pode ser
comprovado mediante o envio da legislação nacional
vigente sobre o tema, de uma decisão judicial ou
administrativa nesse sentido ou de um acordo firmado
entre os genitores.
O pedido de restituição é cabível quando houver a
violação do direito de guarda. Esse direito pode advir de
legislação, acordo entre as partes ou decisão judicial .
No caso de genitores que se encontravam separados no
momento da subtração, é comum que a lei do país de
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Subtração Internacional de Menores
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residência habitual determine que, ainda assim, ambos
sigam compartilhando, em igualdade de condições, o
“poder familiar” (ou “responsabilidade parental”,
“autoridade parental”, denominação que dependerá de
cada país) – apenas ocorrendo sua destituição por
intermédio de decisão judicial (vide informação sobre a
legislação e prática brasileira sobre guarda na seção 1).
Perguntas frequentes
** Eu detenho o poder de guarda e o outro genitor, só
o direito de visitas. Posso decidir unilateralmente sobre
o local de residência da criança? Não. Se ambos os
genitores exercem o poder familiar, será preciso obter, do
genitor que tenha apenas o direito de visitas, autorização
para a mudança do local de residência da criança.
2.2.2 Como funciona a cooperação entre os países
membros da Convenção
A Convenção estabelece que os pedidos de cooperação
jurídica internacional sejam tramitados por intermédio de
Autoridades Centrais indicadas por cada Estado-Parte.
Cabe a cada Autoridade Central efetuar o trâmite de
pedidos de auxílio. Esse mecanismo proporciona o
estreitamento das relações entre os países e a simplificação
das comunicações, acelerando a tramitação desses
pedidos. As principais funções das Autoridades Centrais
são:
- localizar uma criança transferida ou retida
ilicitamente;
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- evitar novos danos à criança, ou prejuízos às partes
interessadas, tomando ou fazendo tomar medidas
preventivas;
- assegurar a entrega voluntária da criança ou facilitar
uma solução amigável entre os genitores;
- proceder, quando desejável, à troca de informações
relativas à situação psicossocial da criança;
- fornecer informações de caráter geral sobre a
legislação de seu Estado relativa à aplicação da
Convenção;
- dar início ou favorecer a abertura de processo
judicial ou administrativo que vise ao retorno da criança
ou, quando for o caso, que permita a definição ou o
exercício efetivo do direito de visita;
- acordar ou facilitar, conforme as circunstâncias, a
obtenção de assistência jurídica por advogado;
- assegurar no plano administrativo, quando necessário
e oportuno, o retorno seguro da criança;
- manterem-se mutuamente informadas sobre o
funcionamento da Convenção e, tanto quanto possível,
eliminar os obstáculos à sua aplicação.
2.2.3 Casos de subtração que não ensejarão o retorno
da criança: exceções previstas
Embora a Convenção presuma que o retorno da
criança ilicitamente transferida ou retida em local
diferente daquele de sua residência habitual seja a medida
que melhor atende aos interesses das crianças, seus artigos
12, 13 e 20 preveem algumas exceções à sua aplicação. A
análise dessas exceções se dá de forma restritiva, não
sendo possível uma interpretação ampla desse conceito.
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Cabe a quem se opõe ao retorno provar que uma das
exceções se aplica ao caso concreto.
Artigo 12 - Quando uma criança tiver sido
ilicitamente transferida ou retida nos termos do Artigo 3 e
tenha decorrido um período de menos de 1 ano entre a
data da transferência ou da retenção indevidas e a data
do início do processo perante a autoridade judicial ou
administrativa do Estado Contratante onde a criança se
encontrar, a autoridade respectiva deverá ordenar o
retorno imediato da criança. A autoridade judicial ou
administrativa respectiva, mesmo após expirado o período
de uma ano (...) deverá ordenar o retorno da criança,
salvo quando for provado que a criança já se encontra
integrada no seu novo meio.
O artigo 12 acima é dividido em duas partes. A
primeira delas determina que sempre que o pedido de
cooperação tenha sido recebido em até um ano da
subtração da criança, o retorno deve ser determinado, não
sendo possível arguir sobre a adaptação da criança ao
seu novo meio. A segunda parte, entretanto, determina
que se o pedido foi recebido depois de um ano da
subtração, o retorno ainda assim será a regra, salvo se ficar
provado que a criança se encontra adaptada ao seu novo
meio. É importante observar que a Convenção é muito
clara sobre quando se poderá analisar a adaptação da
criança, que é quando houver demora injustificada para se
formular o pedido de retorno perante as autoridades
competentes. Do contrário, a criança deve ser retornada,
salvo se outra exceção se aplicar ao caso.
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Lima
Artigo 13– (...) a autoridade judicial ou administrativa
do Estado requerido não é obrigada a ordenar o retorno
da criança se a pessoa, instituição ou organismo que se
oponha a seu retomo provar:
a) que a pessoa, instituição ou organismo que tinha a
seu cuidado a pessoa da criança não exercia efetivamente
o direito de guarda na época da transferência ou da
retenção, ou que havia consentido ou concordado
posteriormente com esta transferência ou retenção; ou
b) que existe um risco grave de a criança, no seu
retorno, ficar sujeita a perigos de ordem física ou
psíquica, ou, de qualquer outro modo, ficar numa situação
intolerável.
A autoridade judicial ou administrativa pode também
recusar-se a ordenar o retorno da criança se verificar que
esta se opõe a ele e que a criança atingiu já idade e grau
de maturidade tais que seja apropriado levar em
consideração as suas opiniões sobre o assunto.
O artigo 13 está dividido em três partes. A primeira
delas (item a) diz respeito ao efetivo direito de guarda.
Conforme já explicado acima, o direito de guarda, para
efeitos da Convenção da Haia, é aquele de poder decidir
sobre o local de residência da criança, unilateral ou
conjuntamente. Portanto, se a pessoa que se opõe ao
retorno (o genitor subtrator) provar que o requerente
(genitor abandonado) não detinha o direito de guarda nos
termos da Convenção ou que não o exercia efetivamente, o
juiz poderá negar o retorno. Esse artigo, ainda no item a,
também estabelece que o retorno não será a regra se o
requente consentiu com a mudança da residência (prévia
ou posteriormente). Também recairá sobre a pessoa que
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estiver com a criança o ônus de provar esse
consentimento.
Já o item b do artigo 13 trata de qualquer grave risco
de ordem física ou psíquica a que estará submetida a
criança caso seja retornada. A definição do que seria um
“risco grave”, como já explicado, é sempre restritiva,
sendo que apenas situações extremas, fora da normalidade,
podem ser enquadradas como “risco grave”. É importante
ressaltar que as consequências naturais da restituição
(como o afastamento entre a criança e o genitor subtrator e
a necessária readaptação ao ambiente de origem, por
exemplo) não são interpretadas como risco grave.
Obs: O Governo brasileiro entende que a incidência de
violência doméstica contra a mulher perpetrada por quem
requer o retorno da criança deve ser considerada na
avaliação do risco grave. Entretanto, a aplicação desse
dispositivo nos casos envolvendo a violência doméstica
deve ser devidamente comprovada pela pessoa que se
opõe ao retorno (genitor abandonado). Para tanto, nesses
casos, o Brasil encoraja seus nacionais em situação de
vulnerabilidade que busquem documentar de forma mais
completa possível as agressões sofridas, para que esse
contexto possa ser considerado em juízo. O objetivo nestes
casos é reunir o maior número de provas do ambiente
violento (seja pela violência física ou psicológica). Essas
provas, para efeitos da Convenção, devem ser colhidas
sempre no país de residência habitual da criança. O mais
indicado nesses casos é buscar ajuda das autoridades
locais e dos consulados brasileiros na jurisdição.
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Artigo 20 - O retorno da criança (...) poderá ser
recusado quando não for compatível com os princípios
fundamentais do Estado requerido com relação à
proteção dos direitos humanos e das liberdades
fundamentais.
O artigo 20 também é de aplicação restritiva. Na
verdade a doutrina atual defende que o juiz poderá negar o
retorno, com base nesse artigo, apenas quando ocorrerem
situações excepcionais em que exista incompatibilidade
quanto à proteção dos direitos humanos. São contextos em
que o país de residência habitual permite a mutilação
feminina ou o casamento servil, por exemplo, e quando o
país onde a criança se encontra retida rejeita essas práticas.
Além disso, conforme estabelece o artigo 4º da
Convenção, o tratado deixa de ser aplicado quando a
criança atinge a idade de 16 anos. A tramitação dos
pedidos em andamento é imediatamente extinta quando a
criança atinge essa idade.
2.2.4 Procedimentos conforme o fluxo da subtração
Mesmo entre países membros da Convenção, os
procedimentos podem variar, em razão das diferenças nas
legislações e procedimentos de cada um. Para fins de
orientação a nacionais brasileiros, é necessário diferenciar
os procedimentos referentes à subtração conforme
ocorram: (i) do Brasil para o exterior, (ii) do exterior para
o Brasil e (iii) do exterior para outro país no exterior. Os
casos envolvendo crianças brasileiras terão
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encaminhamentos diversos se a subtração ocorrer em cada
um desses fluxos, conforme segue.
Definições
- Pedido ativo: quando se solicita o retorno do menor
-Pedido passivo: quando se recebe o pedido de retorno do
menor
(i) Subtração do Brasil (país de residência habitual)
para outro país membro da Convenção
Há, no Brasil, rigoroso controle da saída de crianças
nos portos e aeroportos internacionais, cabendo à Polícia
Federal fiscalizar as autorizações necessárias para permitir
a saída. Entretanto, ainda são recorrentes casos em que as
crianças deixam o Brasil devidamente autorizadas, mas
não retornam ao final do período estipulado.
- Retorno da criança ao Brasil (pedido de cooperação
ativo): procedimentos para pedido de restituição pelo
genitor abandonado
O genitor abandonado (no Brasil) deverá levar o caso
à Autoridade Central Administrativa Federal brasileira
(ACAF)4, que verificará se o pedido cumpre os requisitos
estipulados na Convenção. A documentação necessária
para dar início ao pedido de cooperação jurídica varia de
acordo com o caso concreto, costumando incluir:
4 A Autoridade Central brasileira para a Convenção da Haia é o Ministério das
Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos, ente integrante da estrutura do
Poder Executivo Federal (Decreto nº 3.951, de 4 de outubro de 2001).
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- Formulário de requerimento padrão (fornecido pela
ACAF e disponível na página da Internet);
- Informações sobre o local onde a criança residia no
país de origem (residência habitual);
- Endereço onde a criança possivelmente será
localizada no exterior (incluindo o máximo de
informações disponíveis necessárias à localização);
- Documentos que comprovem efetivo exercício do
direito de guarda pelo genitor abandonado;
- Cópia de qualquer decisão judicial ou acordo que dê
origem ao direito de guarda;
- Documentos que confirmem a transferência ou
retenção ilícita da criança (autorização de viagem apenas
para passeio, passagens aéreas de ida e volta para o país de
origem, entre outros);
Importante: todos os documentos devem ser
traduzidos para o idioma do país para onde a criança foi
subtraída. A tradução deve ser realizada por profissional
capacitado, mas não é necessária a tradução juramentada.
Os custos de tradução deverão ser cobertos pelo
requerente (genitor abandonado) que, em caso de dúvidas,
deverá entrar em contato com a ACAF.
Após examinar a documentação, e em entendendo que
o pedido cumpre os requisitos, a ACAF encaminhará o
pedido de restituição da criança à Autoridade Central do
país em que esta se encontrar retida ilicitamente. A
localização da criança no exterior será realizada pela
Interpol.
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Assim que a criança for localizada, a Autoridade
Central estrangeira buscará solucionar a questão de forma
amigável. De modo geral, esta costuma ser a solução
menos traumática para as crianças, recorrendo-se à
negociação ou mediação entre as partes ao invés da via
judicial, sempre litigiosa.
Havendo resistência à restituição amigável da criança,
a Autoridade Central estrangeira tomará as medidas
administrativas ou judiciais visando ao retorno. Cabe
ressaltar que cada país tem sua forma específica de prestar
cooperação com base na Convenção da Haia. Por
exemplo, alguns países fizeram reserva ao artigo do
tratado que prevê a gratuidade da assistência jurídica, o
que significa que algumas despesas devem ser cobertas
pelo genitor abandonado (taxas, custas e honorários, por
exemplo). Nos demais casos, o país que não fez reserva a
esse dispositivo, prestará assistência jurídica para que o
pedido seja protocolado perante o Poder Judiciário
estrangeiro.
O tempo de tramitação dos pedidos varia de país a
país. Embora haja instrumentos de pressão sobre outros
países membros da Convenção (art. 11, por exemplo), não
há como garantir os prazos em que a criança será
devolvida. Quanto mais o caso demorar a ser concluído,
menores serão as chances de restituição da criança. A
ACAF acompanha todo o ciclo da cooperação jurídica.
Entretanto, após encerrada a cooperação, por qualquer
motivo, a autoridade central deixa de realizar o
acompanhamento, passando a responsabilidade para a
esfera privada das partes.
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A Embaixada do Brasil em Lima tem registro de dois
casos, nos últimos anos, em que foram interpostas ações
ao amparo da Convenção da Haia de 1980 sobre Sequestro
Internacional de Crianças, para restituição de menores de
nacionalidade brasileira - casos B.A.C.D.; e O.H.N.C.. Em
ambos os casos a autoridade central peruana para a
Convenção adotou as medidas pertinentes, no âmbito de
suas atribuições.
O Posto acompanhou, também, situação que envolve
os menores brasileiros B.T.F.H. e B.E.F.H., que
ingressaram no Peru em 26/02/2015, provenientes do
México. O assunto foi objeto de diversos expedientes do
Consulado-Geral em Tóquio e desta Embaixada.
Houve situações, em casos de assistência consular, em
que a mãe, após o término de relação com nacional
peruano, indicou tencionar retornar ao Brasil na
companhia de filho menor, sem autorização paterna. O
Posto tem como prática, em situações do gênero, alertar a
pessoa de que se trata de medida que poderá ter
consequências negativas para a mãe e para a criança.
Há também registro de dois casos em que o Posto foi
procurado por nacionais peruanas que requeriam
assistência para restituição de filhos menores, os quais
poderiam ter sido levados ao Brasil por seus genitores.
Foram as interessadas, em ambos os casos, instadas a
procurar o Ministério da Mulher e Populações
Vulneráveis, para a adoção das medidas pertinentes.
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- Prevenção da subtração internacional de menores:
possibilidades, no sistema local, de negociação entre as
partes ou mediação.
Conforme anteriormente registrado, a legislação
peruana estabelece mecanismos de solução negociada de
conflitos familiares.
- Controle de saída fronteiriça de menores e de
expedição de passaportes para menores.
Conforme anteriormente registrado, as autoridades
peruanas exigem, para a saída de menores peruanos ou
estrangeiros residentes do território deste país, a
apresentação de autorização notarial ou judicial.
- Responsabilização criminal do ato de subtrair uma
criança/adolescente.
O art. 147 do Código Penal peruano tipifica o ato de
subtração de criança ou adolescente ("mediando relación
parental, sustrae a un menor de edad o rehúsa entregarlo a
quien ejerce la patria potestade").
Aplica-se ao delito pena privativa de liberdade, não
superior a dois anos.
- Autoridade central peruana.
A Convenção da Haia de 1980 sobre Sequestro
Internacional de Crianças foi ratificada pelo Decreto
Supremo N° 023-200-RE, de 01/08/2000. O Peru é parte,
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também, da Convenção Interamericana sobre Restituição
Internacional de Menores. O Ministério da Mulher e
Populações Vulneráveis exerce, como anteriormente
indicado, a função de autoridade central neste país para as
questões relativas à matéria. A unidade responsável pelo
tema é a "Dirección de Niñas, Niños y Adolescentes".
- Consequências para o genitor subtrator (nesse caso,
geralmente estrangeiro)
Caso o genitor abandonado dê entrada em pedido de
cooperação internacional junto à ACAF, conforme
indicado acima, o genitor subtrator será réu em ação
judicial de restituição da criança ao Brasil. Se o processo
junto à Justiça do país onde se refugiou com a criança lhe
for desfavorável, será determinada a devolução da criança
ao Brasil.
O Brasil não criminaliza a subtração internacional de
crianças realizada por quem detém poder parental sobre a
criança. Entretanto, se o subtrator for terceiro poderá
incorrer nos crimes previstos nos artigos 237 e 239 do
Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei nº 8.069, de 13
de julho de 1990 e no artigo 249 do Código Penal,
Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940.
Em geral, as despesas do retorno da criança devem ser
cobertas por quem cometeu a subtração. Entretanto, como
é de interesse do genitor abandonado, este poderá optar
por arcar com as despesas para garantir o pronto retorno
da criança ao seu país de residência habitual.
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- Possibilidades de apoio governamental (no Brasil e no
exterior) ao genitor abandonado no Brasil
Tanto a ACAF quanto a Defensoria Pública da União
podem prestar orientações iniciais quanto aos pedidos.
Quando se deslocar ao exterior, o genitor abandonado
poderá contar ainda com a rede consular brasileira, que
prestará informações e apoio no âmbito da sua
competência, incluindo esforços para realização de visita
consular à criança.
Nesses casos, quando o genitor subtrator (no exterior)
for nacional brasileiro, o Governo brasileiro não prevê
assistência jurídica. Serão aplicáveis eventuais serviços de
assistência jurídica no país para onde o menor tenha sido
subtraído. A Defensoria Pública da União e outros órgãos
brasileiros não terão atuação nesses casos.
(ii) Subtração de país membro da Convenção para o
Brasil
- Procedimentos para o genitor abandonado para
pedido de restituição da criança para o exterior
(pedido de cooperação passivo para o Governo
brasileiro)
O genitor abandonado deverá procurar a autoridade
central do país de residência habitual da criança para
protocolar o pedido de cooperação jurídica. A
documentação necessária é, em princípio, a mesma listada
no item “ii” acima, podendo haver, contudo, exigências
adicionais em alguns países.
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Se o pedido cumprir os requisitos estipulados pela
Convenção, a autoridade central estrangeira acionará a
ACAF brasileira, que analisará o pedido e, caso julgue
procedente, assegurará as medidas administrativas e
judiciais para o retorno da criança.
Após o recebimento do pedido de cooperação jurídica
internacional pelo Estado brasileiro, estando presentes os
requisitos administrativos para admissão do requerimento,
a ACAF brasileira buscará solucionar a questão de forma
amigável, com o envio de notificação administrativa à
pessoa que mantém a criança retida no Brasil.
Havendo impossibilidade de solução amistosa, a
ACAF encaminhará o caso à Advocacia-Geral da União
para análise e eventual promoção de ação judicial cabível
para retorno da criança ao exterior. O Ministério da Justiça
não terá atuação no caso.
Ressalte-se que, em casos de subtração internacional
de crianças, não é competência da justiça comum
brasileira adentrar as discussões sobre o direito de guarda.
Essa matéria é de conhecimento exclusivo do Poder
Judiciário do lugar de residência habitual da criança. O
Poder Judiciário brasileiro só terá competência para
decidir com quem deve ficar a criança, na Justiça
Estadual, se a Justiça Federal decidir pela não aplicação da
Convenção ao caso.
O texto da Convenção da Haia (art. 16) deixa claro
que questões relacionadas ao direito de guarda de crianças
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transferidas ou retidas ilicitamente em outros países
somente podem ser decididas pela Justiça do Estado em
cujo território a criança possua residência habitual. O
objetivo dessa proibição é impedir que o genitor que
transferiu ilicitamente a criança se beneficie da jurisdição
que lhe é mais favorável, impondo ao outro genitor as
dificuldades que um simples cruzar de fronteiras pode
gerar para adequada defesa do poder familiar.
A Justiça Federal brasileira, diante de pedido de
cooperação jurídica internacional fundamentado na
Convenção da Haia, deverá, primeiramente, verificar se
estão presentes os requisitos para aplicação do tratado.
Analisará a presença ou não de ilicitude na transferência
ou retenção, pela verificação de quem é o detentor do
direito de guarda para os fins da Convenção e se a
permanência da criança no Brasil foi ou não autorizada.
Configurada a transferência e/ou retenção ilícita da
criança, bem como a titularidade do direito de guarda para
os fins da Convenção ao pai ou à mãe que efetuou pedido
no exterior, deverá ser determinado o retorno da criança.
Como já colocado anteriormente, ainda que a Convenção
seja aplicável, é possível que uma das exceções se
justifique, obstando o retorno.
- Consequências para o genitor subtrator (nesse caso,
geralmente brasileiro)
Caso perca a ação de retorno, o genitor subtrator será
obrigado pela Justiça brasileira (com uso da força, se
necessário) a restituir a criança ao país de residência
habitual. Não será alvo de processo criminal no Brasil,
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mas poderá, na hipótese de retornar ao território de onde
subtraiu a criança, ser preso e processado naquele país,
caso a legislação local criminalize a subtração. Além
disso, o país de residência habitual da criança poderá
negar futuros ingressos do subtrator em seu território.
Nesses casos, haverá risco de perda total do convívio com
a criança, ao menos até que atinja a maioridade.
Diversos países criminalizam a subtração internacional
de crianças, mas a Conferência de Haia de Direito
Internacional Privado e as autoridades centrais têm
orientado os genitores abandonados a não se valer dessa
medida. De qualquer forma, cabe exclusivamente ao
Estado estrangeiro definir sobre a persecução e
responsabilização dos genitores subtratores e sobre os
procedimentos migratórios que lhe serão aplicáveis,
procedimentos nos quais o Governo brasileiro não pode
interferir. Os genitores deverão informar-se se a subtração
internacional de crianças é crime no seu país de residência.
A "Dirección de Niñas, Niños Y Adolescentes"
disponibiliza dados sobre o assunto, atualizados até julho
de 2015. Segundo os registros, no período 2006-2015
houve 508 ações referentes a sequestro internacional de
crianças, das quais 474 tratavam de restituição e 34 de
regime de visitas. Os países com maior incidência de casos
são a Argentina (110), Estados Unidos (94), Chile (65),
Espanha (56), Itália (27), Equador (20), Venezuela (15),
Colômbia (13) e México (11). Como anteriormente
indicado, o Posto tem conhecimento de 2 casos, entre
2012 e 2016, em que foi acionado para prestar assistência
a nacionais brasileiros.
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- Existência de serviço de assistência jurídica ilimitado
quanto à defesa da acusação de crime de subtração
internacional e crianças.
A legislação peruana estabelece que aqueles que não
contam com recursos para contratação de advogado
particular poderão recorrer à defensoria pública, a cargo
da Direção- Geral de Defesa Pública e Acesso à Justiça,
do Ministério da Justiça e Direitos Humanos. Essa
Direção-Geral tem respondido positivamente às
solicitações de assistência formuladas pelo Posto. O
trabalho do órgão apresenta, não obstante os esforços
desenvolvidos por seus funcionários, limitações, em vista,
notadamente, do número de demandas que recebe.
- Direitos de visitação: prática local.
Em caso concreto - menor O.H.N.C., o genitor
brasileiro, demandante de restituição, pôde efetuar visita a
seu filho, em condições controladas.
Perguntas Frequentes
** O pai do meu filho não paga pensão alimentícia e
não visita a criança há muito tempo. Posso decidir
unilateralmente mudar o local de residência da
criança? Recomenda-se solicitar autorização a juiz
competente do local de residência habitual.
** Se eu for para o Brasil com meus filhos sem a
autorização, a polícia irá atrás de mim? Em geral não,
uma vez que a subtração não é crime no Brasil. Entretanto,
se a localização da criança for desconhecida, a Autoridade
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Subtração Internacional de Menores
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Central brasileira poderá solicitar o apoio da Polícia
Federal (que exerce a função de Interpol no Brasil) para
realizar diligências para localização da criança.
- Possibilidades de apoio governamental (no Brasil e no
exterior) ao genitor brasileiro (no caso, genitor
subtrator)
No Brasil a pessoa que está com a criança e seja réu
em pedido de retorno poderá solicitar apoio da Defensoria
Pública da União (DPU) ou contratar advogado particular.
A DPU tem prestado assistência jurídica gratuita de
excelência. Para obter auxílio da DPU a pessoa deve
buscar uma unidade na cidade em que se encontrar ou pelo
site da Defensoria (www.dpu.gov.br). Além disso, nos
casos envolvendo violência doméstica contra a mulher, a
genitora subtratora poderá ainda contar com apoio da
Secretaria Especial de Políticas para Mulheres (vide seção
3).
(iii) Subtração de um terceiro país para outro país no
exterior (ambos membros da Convenção)
O genitor abandonado terá de dar entrada no processo
junto à Autoridade Central do país de residência habitual
da criança. Caberá a esse órgão acionar seu congênere no
país para onde a criança foi subtraída. As autoridades
brasileiras não terão papel direto a desempenhar no pedido
de restituição. Os postos consulares estarão, contudo,
disponíveis para prestar a orientação e o apoio possíveis.
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2.3 Subtração envolvendo um país não-membro da
Convenção da Haia (de um país membro para um não
membro ou vice versa ou entre dois países não-
membros)
A Convenção não se aplica, naturalmente, em
nenhum desses casos. Dessa forma, as Autoridades
Centrais (no caso brasileiro, a ACAF) não terão atuação.
Tampouco se aplicarão os conceitos da Convenção da
Haia, tais como o critério de país de residência habitual da
criança.
- Perspectivas de restituição da criança ao genitor
abandonado
Se a subtração tiver ocorrido a partir do Brasil, o
genitor abandonado poderá procurar o Judiciário brasileiro
ou do país para onde a criança foi levada. Se optar por
iniciar o caso recorrendo ao Judiciário brasileiro, e na
eventualidade de receber ganho de causa, as autoridades
brasileiras competentes (a serem indicadas pelo Juiz)
enviarão carta rogatória para o juiz estrangeiro
responsável solicitando o reconhecimento da sentença
brasileira. Para ingresso dessa ação, o genitor abandonado
poderá contar com a assistência jurídica da Defensoria
Pública da União. Será incerto e possivelmente demorado,
contudo, o cumprimento da sentença pelo Juiz estrangeiro,
podendo o caso arrastar-se durante anos, no meio tempo
chegando a criança à maioridade.
Se o genitor optar por dirigir-se diretamente ao
Judiciário do país para onde a criança foi levada, o Juiz
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Subtração Internacional de Menores
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responsável daquele país avaliará o caso de acordo com as
leis locais. O prazo da ação será provavelmente o prazo
padrão da tramitação de casos pelo Judiciário daquele
país. Nesse caso, as autoridades brasileiras não terão papel
a desempenhar (à exceção do apoio e orientações
consulares possíveis).
Se a subtração tiver ocorrido a partir de país não-
membro para o Brasil, o genitor abandonado poderá
procurar o Judiciário brasileiro por meio de advogado
particular ou solicitar auxílio da Defensoria Pública da
União. O juiz brasileiro avaliará o caso de acordo com leis
brasileiras. O prazo da ação será provavelmente o prazo
padrão da tramitação de casos pelo Judiciário brasileiro. O
genitor abandonado poderá buscar o Judiciário local e se
valer dos mecanismos de cooperação internacional.
- Consequências para o genitor subtrator
O genitor subtrator estará sujeito à Justiça local do
país para onde subtraiu a criança. Na eventualidade de o
juiz local dar ganho de causa ao genitor abandonado ou
reconhecer diretamente a sentença judicial brasileira
favorável, o subtrator terá de restituir a criança e perderá a
guarda.
2.4 Direito de Visitas à luz da Convenção
A Convenção, já em seu preâmbulo, também assegura
a proteção ao direito de visita, consignando em seu artigo
1º o objetivo de fazê-lo respeitar de maneira efetiva. Esse
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Subtração Internacional de Menores
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direito é autônomo e independe de prévia subtração
internacional. Ele está regulamentado no artigo 21 da
Convenção e pode ser objeto de pedido de cooperação
jurídica internacional.
O artigo 5º, alínea “b”, conceitua o instituto, aduzindo
que o direito de visita compreenderá o direito de levar uma
criança, por um período limitado de tempo, para um lugar
diferente daquele onde ela habitualmente reside.
Nesse contexto, se insere a possibilidade da criança ser
autorizada a visitar o país do genitor que não detenha a sua
guarda física, sendo esta, não raro, a única forma de
manter os vínculos afetivos e sociais com todos os
membros da família que ficou naquele país.
Não se pode perder de vista que o direito de visita é
principalmente da criança. É ela que tem o direito de
conviver com ambos os genitores, este é o seu verdadeiro
interesse superior. O procedimento para assegurar o direito
de acesso à criança é disciplinado no artigo 21, donde se
extrai que o pedido que tenha por objetivo a organização
ou a proteção do efetivo exercício do direito de visita
poderá ser dirigido à Autoridade Central de um Estado
Contratante nas mesmas condições do pedido que vise o
retorno da criança. Saliente-se que cabe às Autoridades
Centrais a promoção do exercício pacífico do direito de
visita, removendo, tanto quanto possível, todos os
obstáculos ao exercício desse mesmo direito.
Vale destacar que a Convenção das Nações Unidas
sobre os Direitos da Criança (1989) estipula, em seu artigo
Cartilha sobre Disputa de Guarda e
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9(3), que os Estados Partes respeitarão o direito da criança
que esteja separada de um ou de ambos os pais de manter
regularmente relações pessoais e contato direto com
ambos, a menos que isso seja contrário ao interesse maior
da criança. Depreende-se, pois, que a Convenção da Haia
de 1980 e a Convenção das Nações Unidas de 1989
asseguram indubitavelmente a qualquer dos genitores o
direito de visitas, sendo um compromisso assumido pelo
Estado brasileiro, ao ratificar referidos tratados, o de
assegurar o contato regular de qualquer criança com
ambos os genitores.
Perguntas frequentes
** Quero levar meu filho, que reside no exterior,
para conhecer a família no Brasil, mas o outro genitor
se opõe. Como devo proceder? Sugere-se que você
compareça a um posto consular brasileiro ou a um notário,
para assinar declaração de que a residência habitual da
criança é o país onde ele mora. Ao apresentar depois essa
declaração ao genitor – ou ao juiz -, haverá maiores
possibilidades de que, com essa garantia, ele dê a
autorização.
** Vivo no Brasil e meu filho, no exterior. O outro
genitor não me permite exercer meu direito de visita. O
que é possível fazer? Deve-se ingressar com pedido de
cooperação jurídica junto ao país de residência, com base
Cartilha sobre Disputa de Guarda e
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no artigo 21 da Convenção da Haia. Esse procedimento
independe de ter ocorrido subtração prévia do menor.
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Seção 3 - Violência de gênero
A Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e
Erradicar a Violência Contra a Mulher (Convenção de
Belém do Pará, 1994), ratificada no Brasil em 1995, define
a violência contra a mulher como “qualquer ato ou
conduta baseada no gênero, que cause morte, dano ou
sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto na
esfera pública como na esfera privada:
a) ocorrida no âmbito da família ou unidade doméstica
ou em qualquer relação interpessoal, quer o agressor
compartilhe, tenha compartilhado ou não a sua residência,
incluindo-se, entre outras formas, o estupro, maus-tratos e
abuso sexual;
b) ocorrida na comunidade e cometida por qualquer
pessoa, incluindo, entre outras formas, o estupro, abuso
sexual, tortura, tráfico de mulheres, prostituição forçada,
sequestro e assédio sexual no local de trabalho, bem como
em instituições educacionais, serviços de saúde ou
qualquer outro local; e
c) perpetrada ou tolerada pelo Estado ou seus agentes,
onde quer que ocorra.
A violência é um fenômeno complexo, controverso e
de difícil mensuração, tendo em vista que o
reconhecimento de sua ocorrência envolve análises de
valores e práticas culturais, como também em seus
componentes causais sócio-históricos, econômicos e
subjetivos.
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Entre os diversos tipos de violência, deve-se destacar a
violência doméstica e familiar fazendo alusão à violência
ocorrida não somente no âmbito doméstico, mas também
de acordo com as relações entre agressor(a) e vítima,
podendo ser referente ao parentesco ou à relação de afeto.
Desse modo, a OMS reforça que a violência doméstica
praticada por parceiro íntimo ou ex-parceiro configura-se
como tipo mais comum e universal de formas de violência
sofridas por mulheres.
É importante notar que a violência doméstica e
familiar contra a mulher envolve uma série de atos que
muitas vezes se repetem e costumam se agravar, em
frequência e intensidade, ao longo do tempo e envolvem
formas de coerção, cerceamento, humilhação,
desqualificação, ameaças e agressões físicas e sexuais
variadas. Além do medo permanente, esse tipo de
violência pode resultar em danos físicos e psicológicos
duradouros.
São vários os obstáculos enfrentados pela mulher em
situação de violência. Uma delas é a negação social, que
ocorre quando elas se defrontam com pessoas
despreparadas e desinformadas sobre o problema que elas
estão vivendo, especialmente a rede de profissionais que
deveria apoiá-la, como médicos, psicólogos, policiais,
advogados, servidores públicos que, por vezes, tratam-nas
com indiferença, desconfiança ou desprezo, contribuindo
para aumentar a violência. Quando isso acontece, as
vítimas perdem a esperança de encontrar apoio externo.
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Um fator agravante é a distância de seu país de origem
e a falta de conhecimento dos serviços disponíveis no país
de destino. Por isso, é importante que os postos consulares
tenham muita sensibilidade ao receber uma mulher nesta
situação e saiba orientá-la sobre as medidas necessárias e
os riscos envolvidos em deixar o país.
No Peru, como em grande número de países, a
violência doméstica constitui uma das principais
motivações para disputas de guarda e subtração
internacional de crianças. Tendo presente sua importância
e alcance, as autoridades locais desenvolveram diversas
iniciativas voltadas para o enfrentamento do problema.
- Política institucionalizada de enfrentamento à
violência contra a mulher.
O Ministério da Mulher e Populações Vulneráveis
responsabiliza-se pela coordenação do Programa Nacional
contra a Violência Familiar e Sexual. Há um detalhado
Plano Nacional Contra a Violência para com a Mulher,
aprovado pelo Decreto Supremo 003-2009-MIMDES,
relativo ao período 2009-2015. Segundo o Ministério da
Mulher, o plano tem como objetivo a "construção de uma
sociedade que garanta às mulheres, sem distinção de
idade, estado civil, nível socioeconômico, nível
educacional, etnia, capacidade, ocupação, orientação
sexual ou outros, o direito a uma vida livre de violência,
através do estabelecimento de relações de igualdade entre
mulheres e homens e a eliminação de padrões
socioculturais discriminatórios". O plano possui três eixos:
assegurar a implementação de políticas voltadas para o
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enfrentamento da questão da violência; garantir o acesso
das mulheres afetadas pela violência a serviços públicos; e
promover a transformação de padrões socioculturais, de
forma a propiciar novas formas de relacionamento entre
mulheres e homens.
- Órgão central de políticas para as mulheres no país.
O Ministério da Mulher e Populações Vulneráveis
atua, no Peru, como órgão central do sistema de políticas
para mulheres.
- Legislação especializada de enfrentamento à violência
contra a mulher.
O ordenamento jurídico peruano contempla legislação
especializada na matéria. O diploma legal mais relevante é
a Lei 30068, de 18/07/2013, que acrescentou dispositivo
ao Código Penal, alterando versão anterior do feminicídio,
que passou a ter a seguinte tipificação:
"Artículo 108- B: Feminicídio
Será reprimido con pena privativa de libertad no menor de
quince años el que mata a una mujer por su condición de
tal, en cualquiera de los siguientes contextos:
1. Violencia Familiar.
2. Coacción, hostigamiento o acoso sexual;
3. Abuso de poder, confianza o de cualquier outra posición
o relación que le confiera autoridad al agente;
4. Cualquier forma de discriminación contra la mujer,
independientemente de que exista o haya existido una
relación conyugal o de convivencia con el agente.
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La pena privativa de libertad será no menos de veinticinco
años, cuando concurra cualquiera de las siguientes
circunstancias agravantes:
1. Si la víctima era menor de edad;
2. Si la víctima se encontraba em estado de gestión.
3. Si la víctima se encontraba bajo cuidado o
responsabilidad del agente;
4. Si la víctima fue sometida previamente a violación
sexual o actos de mutilación.
5. Si al momento de cometerse el delito, la victima
padeciera cualquier tipo de discapacidad;
6. Si la víctima fue sometida para fines de trata de
personas;
7. Cuando hubiera concurrido cualquiera de las
circunstancias agravantes establecidas en el artículo 108."
- Serviços especializados de atendimento à mulher em
situação de violência.
Existem no Peru diversos serviços de atendimento à
mulher em situação de violência, elencados a seguir:
- Centros de Emergência Mulher (CAM).
Centros nos quais são prestados serviços
multidisciplinares, incluindo orientação legal, assistência
jurídica e aconselhamento psicológico para vítimas de
violência doméstica ou sexual. A Embaixada já recorreu,
em situações de assistência consular, aos serviços
prestados pelos CAM. O Ministério da Mulher e
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Populações Vulneráveis disponibiliza, em sua página
eletrônica, diretório dos centros, com dados de contato.
- Linha 100.
Serviço de atenção psicológica e orientação geral em
matéria de assistência a mulheres vítimas de violência
doméstica ou sexual, análogo ao Ligue 180 brasileiro.
Funciona 24 horas por dia e a ligação é gratuita.
- Lares de Refúgio Temporário.
Locais de abrigo temporário, para vítimas de violência
doméstica.
- Chat 100
Serviço específico, on line, para jovens que requeiram
orientação para evitar o surgimento (ou, se for o caso, de
enfrentamento) de situações de risco de violência física,
emocional ou sexual.
- Serviço para homens sentenciados por violência
doméstica.
Existe um serviço especial (Centro de Atenção
Institucional), voltado para homens adultos que tenham
sido sentenciados por violência doméstica e encaminhados
por autoridade judicial. O participante será atendido por
equipe técnica composta por psicólogo, assistente social e
dois terapeutas/facilitadores, em processo que compreende
três fases (avaliação, intervenção e avaliação posterior).
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Perguntas frequentes
** O que a mulher brasileira deve fazer se sofrer
violência doméstica por parte de seu companheiro/
marido estrangeiro?
A mulher deve buscar todas as possibilidades de apoio
das áreas de assistência social, de assistência psicológica
disponíveis na cidade onde reside e buscar informações
para viabilizar o registro de ocorrência policial na junto à
autoridade policial, e com isso obter ajuda/orientação nos
órgãos de assistência à mulher, assistência social ou
serviços de saúde existentes na localidade.
Os casos de separação necessitarão ser decididos na
justiça local que será a jurisdição competente para o
ingresso do processo de divórcio e para a definição da
guarda do(s) filho(s).
Caso queira voltar para o Brasil com a criança,
independente da situação de violência, faz-se necessária a
obtenção da guarda judicial, bem como da autorização
do(s) pai(s) da criança para sair do País onde reside.
Nestes casos, bem como nos casos em que não haja
condições de arcar com custas processuais, o Consulado
brasileiro pode ser procurado a fim de dar suporte e
informações e orientar sobre os procedimentos para se
recorrer à Justiça brasileira por meio da Defensoria
Pública da União (www.dpu.gov.br / tel 55 61 3319 4380),
de advogado ou de procurador.
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Caso todas essas instituições tenham sido procuradas e
não tenha conseguido a guarda e/ou a autorização para
voltar para o Brasil com a criança, deve-se alertar que a
viagem ao Brasil com a criança poderá incidir em
problemas judiciais referentes às legislações em cada País,
e, especialmente, a Convenção de Haia.
** O que a mulher brasileira que foi vítima de
violência doméstica no exterior e voltou para o Brasil
com a(s) criança(s) sem a autorização do marido/
companheiro deve fazer?
Tendo em vista que o Brasil assinou a Convenção de
Haia, nos casos de viagem de criança sem autorização de
ambos os genitores pode acarretar em denúncia à
Autoridade Central do país onde residia a criança. Isso
significa dizer que, o pai poderá denunciar à Autoridade
Central o sequestro internacional, deste modo a
Autoridade Central no Brasil será comunicada e irá
acionar a Interpol para encontrá-la juntamente com a(s)
criança(s).
Assim, é necessário que a mulher tenha provas
contundentes de que sofreu violência no exterior por parte
de seu marido/companheiro. As provas podem ser: registro
de ocorrência policial, decisões judiciais de medidas
protetivas, atendimento em serviços ou casas-abrigo,
acompanhamento psicossocial, testemunhas-chave, fotos,
documentos, gravações, etc.
Se a mulher tiver condições de fazer esta
comprovação, pode ser acompanhada por advogado
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particular ou pela Defensoria Pública da União para tentar
evitar que a(s) criança(s) seja(m) devolvida(s) ao pai.
Além disso, a mulher pode entrar em contato com a
Secretaria de Políticas para as Mulheres, por meio de sua
ouvidoria.
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Seção 4 – Endereços úteis
Autoridade Central Administrativa Federal
Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos
Direitos Humanos
www.direitoshumanos.gov.br
E-mail [email protected]
Tel (+55 61) 2027-3755
Secretaria de Políticas para as Mulheres
Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos
Direitos Humanos
www.spm.gov.br
E-mail [email protected]
Tel (+55 61) 3313-7100/01
Defensoria Pública da União
www.dpu.gov.br
E-mail [email protected]
Tel (+55 61) 3319-4380
Divisão de Assistência Consular
Ministério das Relações Exteriores
www.portalconsular.mre.gov.br
E-mail [email protected]
Tel (+55 61) 2030 8817/18.
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- Ministério da Mulher e Populações Vulneráveis.
Página eletrônica: http://www.mimp.gob.pe.
Endereço:
Jirón Camaná, 616
Cercado Lima 1, Lima - Perú.
Central telefônica: (51-1) 626-1600
Na página eletrônica do Ministério da mulher é possível
consultar lista de endereço de Centros de Atendimento à
Mulher - CAM em todo o território peruano.
- ONG Centro de la Mujer Peruana Flora Tristan
Página eletrônica: http://www.flora.org.pe/
Endereço:
Parque Hernán Velarde 42
Lima 1, Lima - Perú.
Central telefônica: (51-1) 433-1457.
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Notas