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SUMÁRIO Lista de ilustrações .................................... X Agradecimentos ...................................... XI Agradecimentos pelas ilustrações ......................... XIV Comentário introdutório de Sua Santidade, o 14. º Dalai-Lama ......................... XV Introdução do organizador .............................. XXVII Uma breve história literária de O livro tibetano dos mortos, por Gyurme Dorje .................................... XXXIII O LIVRO TIBETANO DOS MORTOS ....................... 1 Apêndice Um: As Divindades Pacíficas e Furiosas e O livro tibetano dos mortos ............................... 331 Apêndice Dois: O simbolismo da ma . n . dala das divindades pacíficas e furiosas ............................. 337 Lista de abreviações ..................................... 355 Bibliografia ........................................... 357 Glossário de termos fundamentais .......................... 365 Índice temático por capítulos .............................. 477 Livro dos Mortos-iniciais:Layout 1 14.06.10 13:36 Page IX

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SUMÁRIO

Lista de ilustrações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . X

Agradecimentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . XI

Agradecimentos pelas ilustrações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . XIV

Comentário introdutório deSua Santidade, o 14.º Dalai-Lama . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . XV

Introdução do organizador . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . XXVII

Uma breve história literária deO livro tibetano dos mortos,por Gyurme Dorje . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . XXXIII

O LIVRO TIBETANO DOS MORTOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1

Apêndice Um:As Divindades Pacíficas e Furiosase O livro tibetano dos mortos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 331

Apêndice Dois:O simbolismo da ma .n.dala dasdivindades pacíficas e furiosas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 337

Lista de abreviações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 355

Bibliografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 357

Glossário de termos fundamentais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 365

Índice temático por capítulos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 477

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Padmasambhava (Guru Rinpoche) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . VI

Karma Lingpa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . XL

O Mantra Circular das Divindades Pacíficas e Furiosas . . . . . . . . . . 301

Estampas coloridas (no final do volume) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 485

1. A assembleia das Quarenta e Duas Divindades Pacíficas

2. Samantabhadra com Samantabhadrı e as Divindades Pacíficasda Família Buddha

3. As Divindades Pacíficas da Família Vajra

4. As Divindades Pacíficas da Família Ratna

5. As Divindades Pacíficas da Família Padma

6. As Divindades Pacíficas da Família Karma

7. Os Seis Sábios

8. Os Oito Guardiões dos Portais

9. A assembleia das Cinquenta e Oito Divindades Furiosas

10. Mahottara Heruka e Krodhesvarı

11. As Divindades Furiosas da Família Buddha

12. As Divindades Furiosas da Família Vajra

13. As Divindades Furiosas da Família Ratna

14. As Divindades Furiosas da Família Padma

15. As Divindades Furiosas da Família Karma

16. As oito Matara .h e as oito Pisacı

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O LIVRO TIBETANODOS MORTOS

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SUMÁRIO

1. Libertação natural da natureza da mente: O yoga de quatrosessões da prática preliminar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5

2. Uma oração para a união com o mestre espiritual [chamada]libertação natural sem a renúncia aos três venenos . . . . . . . . . . . 21

3. Versos de raiz dos seis estados intermediários . . . . . . . . . . . . . . . 27

4. A introdução à consciência pura: Libertação natural pelapercepção nua . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33

5. A prática espiritual chamada libertação natural das tendênciashabituais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53

6. Libertação natural da negatividade e do obscurecimento pormeio [da realização] da homenagem cêntupla às famílias santase iluminadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83

7. Libertação natural por meio de atos de confissão . . . . . . . . . . . . 101

8. Libertação natural por meio do reconhecimento dos sinaise indicações visuais da morte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 133

9. Libertação natural do temor por meio do ritual de enganara morte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 161

10. Transferência de consciência: Libertação natural pela recordação . . 173

11. A grande libertação pela auscultação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 191

12. Preces de aspiração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 265

13. O teatro de máscaras do renascimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 277

14. A libertação pelo uso junto ao corpo: Libertação naturaldos agregados psicofísicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 299

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Libertação natural danatureza da mente:

O yoga de quatro sessões daprática preliminar

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CONTEXTO

Em seu original tibetano, esta prática preliminar foi primorosamente redigidaem versos. Nos mosteiros e nos lares de praticantes leigos desse ciclo de ensina-mentos, essa prática é normalmente entoada melodicamente de madrugada, antesde começar qualquer outra atividade. É bastante frequente que os jovens mongesentoem os versos de abertura deste poema enquanto se desencumbem de seus de-veres matinais.

Quando um praticante faz um retiro preliminar, é recomendado que pratiqueesta meditação todos os dias em quatro sessões distribuídas nos seguintes períodos:das primeiras horas da madrugada até o nascer do sol, do nascer do sol até antesdo meio-dia, do começo da tarde até antes do pôr do sol e do pôr do sol até as pri-meiras horas da noite.

A prática contém a essência das “quatro preliminares comuns ou externas” e as“cinco preliminares incomuns ou internas”, ambas descritas no Glossário de ter-mos fundamentais (p. 365). Recomenda-se que as práticas preliminares internassejam repetidas cem mil vezes como pré-requisito para a recepção de instruçõessobre as práticas do “estágio de geração” do Veículo da Realidade Indestrutível(Vajrayana).

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Aqui se encontra a Libertação natural da natureza da mente: o yoga de quatro sessõesque é uma prática espiritual do veículo da realidade indestrutível, o caminho dos mantras se-cretos1, proveniente de As Divindades Pacíficas e Furiosas: um profundo ensinamento sa-grado [chamado] libertação natural por meio [do reconhecimento] da intenção iluminada2.

Seria excelente que se efetuasse a preparação do contínuo mental segundo as[seguintes] práticas preliminares, baseadas em As Divindades Pacíficas e Furiosas:um profundo ensinamento sagrado [chamado] libertação natural por meio [do reconhe-cimento] da intenção iluminada.

PRÁTICA PRELIMINAR COMUM

Ai! Ai! Ó Filho Feliz da Natureza de Buda,Não te sintas oprimido pelas forças da ignorância e da ilusão!Ergue-te agora com determinação e valentia!Desde eras sem princípio até agora, estiveste enfeitiçado pela ignorância,Tiveste tempo [mais que] bastante para dormir.Por isso não cochiles mais; antes, busca a virtude com o corpo, a fala e a

mente!

Acaso esqueceste dos sofrimentos de nascimento, velhice, doença e morte?A ti não se pode garantir a continuidade da vida, nem mesmo por um dia

sequer!Chegou[-te] o tempo de criar perseverança na [tua] prática.

Pois, nesta oportunidade singular, podes atingir a beatitude eterna [donirva .na].

Assim, [é certo que] este não é momento para a ociosidade.O momento é para que, começando com [a reflexão sobre] a morte, con-

duzas a bom termo tua prática!3

.....................1. Tib. gSang-sngags rdo-rje theg-pa’i chos-spyod thun-bzhi’i rnal-’byor sems-nyid rang-grol.

2. Tib. Zab-chos zhi-khro dgongs-pa rang-grol.

3. As práticas referentes à morte (’chi-ba) são as meditações analíticas sobre a natureza da impermanência(anitya). Ver, por exemplo, Paltrul Rinpoche, The Words of My Perfect Teacher, pp. 39-59; Sonam T. Kazi (trad.),Kun-zang La-may Zhal-lung, pp. 56-82; e Sgam.po.pa/H. V. Guenther (trad.), The Jewel Ornament of Libera-tion, pp. 41-54. A expressão “começando com” (sogs-la) implica que essa meditação conduzirá às outras me-ditações analíticas, referentes às ações passadas (karma) e aos sofrimentos da existência cíclica (sa .msara). Sobrea aplicação da meditação sobre a morte feita pelos budas anacoretas – os quais frequentam cemitérios parameditar na ordem reversa dos doze elos da originação dependente (pratıtyasamutpada), ver Dudjom Rinpoche,NSTB, pp. 228-9.

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Os momentos de tua vida não são dispensáveis,E as [possíveis] circunstâncias da morte estão além de tua imaginação.Se não alcançares agora uma confiança segura e impávida,De que te serve estar vivo, ó vivente?

Todos os fenômenos, em última análise, são desprovidos de identidade pró-pria, vazios e livres de elaborações conceptuais.

Em sua dinâmica, assemelham-se a ilusões, miragens, sonhos ou imagensrefletidas,

Não passam de uma cidade celestial, um eco, um reflexo da lua sobre a água,uma bolha, uma ilusão de ótica ou uma emanação intangível.

Saibas que todas as coisas da existência cíclica e do nirva .naSão comparáveis [em sua natureza] a essas dez imagens dos fenômenos

ilusórios.

Todos os fenômenos são naturalmente incriados.Não permanecem nem cessam, não vêm nem vão.Não têm referentes objetivos nem marcas distintivas; são inefáveis e livres de

pensamentos4.É chegada a hora de compreender essa verdade!

Renda-se homenagem aos mestres espirituais!Renda-se homenagem às divindades de meditação!Renda-se homenagem às .dakinıs!Ai, ai! Como carecem de vossa compaixão os seres vivos, torturados que

estão por suas ações passadas,[Que se afogam] neste abismo profundo, o oceano insaciável de suas ações

passadas!Tal é a natureza da instável existência cíclica!Dai vossa bênção* para fazer secar esse oceano de sofrimentos!

Como carecem de vossa compaixão os inábeis5,Os que são torturados pela ignorância e pelas ações passadas,Os que se entregam a ações que conduzem ao sofrimento –Muito embora desejem a felicidade!Dai vossa bênção, para que o obscurecimento dos estados mentais disso-

nantes e das ações passadas seja purificado!

8 O livro tibetano dos mortos

.....................4. Essa descrição dos fenômenos está de acordo com a descrição feita por Nagarjuna no começo de seu Asestrofes da raiz do Madhyamaka, chamadas consciência discriminativa (Prajña-nama-mulamadhyamakakarika).Ver a tradução de D. Kalupahana, Mulamadhyamakakarikas, Capítulo 1.

* Esses pedidos se dirigem aos mestres espirituais, às divindades de meditação e às .dakinıs. (N. do T.)

5. Isto é, aqueles a quem faltam os meios hábeis. Sobre estes, ver Glossário (p. 365).

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Como carecem de vossa compaixão os ignorantes e os iludidos,[Presos] nesta masmorra de apegos egoístas e dicotomias entre sujeito e objeto,Os que, como o gamo selvagem, caem vezes sem conta nessa armadilha!Dai vossa bênção, para que a existência cíclica seja abalada até suas

profundezas!

Como carecem de vossa compaixão os seres que incessantemente volteiam[no ciclo das existências],

Como se [girassem] perpetuamente [na] circunferência de uma roda-d’água,Nesta cidade de seis dimensões dos grilhões das ações passadas!Dai vossa bênção, para que se torne estéril o ventre que dá à luz as seis

classes de existência!

Nós, temerários e duros de coração, a despeito de termos visto tantos sofri-mentos ligados ao nascimento, ao envelhecimento, à doença e à morte,

Ainda assim consumimos no caminho da dissipação nossa vida humana,uma vida dotada de liberdade e abençoada pela oportunidade6.

Dai vossa bênção, para que nos recordemos [continuamente] da imperma-nência e da morte!

Porque não admitimos que [as coisas] impermanentes são inconsistentes,Permanecemos até agora apegados, aferrados a este ciclo de existência.Ansiando pela felicidade, passamos nossa vida humana em sofrimento.Dai vossa bênção, para que o apego à existência cíclica se converta em seu

contrário!

Nosso ambiente impermanente será destruído pelo fogo e pela água7,Os seres sencientes impermanentes deste mundo sofrerão a separação de

corpo e mente.As estações do ano: verão, inverno, outono e primavera as próprias estações

[dão exemplo da] impermanência.Dai vossa bênção, para que o desengano [com a existência condicionada]

surja das profundezas [de nossos corações]!

Ano passado, ano novo, lua cheia, lua nova,Dias e noites e indivisíveis instantes, todos são impermanentes.Se refletirmos atentamente, perceberemos que também nós estamos face a

face com a morte.Dai vossa bênção, para que nos tornemos resolutos em nossa prática!

Libertação natural da natureza da mente: O yoga de quatro sessões da prática preliminar 9

.....................6. Para uma descrição das oito liberdades (dal-ba brgyad) e das dez oportunidades (’byor-ba bcu), ver Glossário(p. 365).

7. Sobre a dissolução do ambiente físico (lokadhatu) por fogo e água no final de um éon, ver L. Pruden (trad.),Abhidharmakosabha .sya .m, Capítulo 3, “The World”, pp. 475-7, 489-95.

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Embora este [corpo] dotado de liberdade e abençoado com as oportunida-des seja raríssimo de se encontrar,

Quando se aproximar o Senhor da Morte8 na imagem da doença,Como estarão carecidos de compaixão os que, por não ter recebido os en-

sinamentos [sagrados],Retornarem [desta vida] com as mãos vazias!Dai vossa bênção para que [o sentido da] urgência cresça em nossa mente!

Ai, ai! Ó Joia Preciosa, encarnação da compaixão!Porque tendes, ó Conquistador, um coração amoroso,Dai tua bênção, para que nós e as seis classes de seresSejamos libertos, agora mesmo, dos sofrimentos da existência cíclica!

PRÁTICA PRELIMINAR INCOMUM

Refúgio

(Nesse momento, os refúgios exterior, interior e secreto devem ser tomados daseguinte maneira:)

Refúgio exterior

Eu me prostro diante dos mestres espirituais e neles me refugio,Os mestres cuja intenção iluminada, no passado, no presente e no futuro,Se dirige sem cessar aos seres viventes,Aos inumeráveis seres sencientes das seis classes e nos três sistemas de

mundo.

Eu me prostro diante dos budas [perfeitos] e neles me refugio,Os Seres Transcendentes que Alcançaram a Beatitude nas dez direções e nos

quatro tempos,Os principais entre os seres humanos, adornados pelos sinais maiores e

menores,Cujas atividades iluminadas são inexauríveis, tão vastas como o espaço.

Eu me prostro diante dos ensinamentos sagrados e neles me refugio,Os quais incluem as doutrinas sobre a verdade suprema, serena e impassível,E o caminho irreversível9 dos três veículos,

10 O livro tibetano dos mortos

.....................8. “Senhor da Morte” (’chi-bdag) é um epíteto de Yama Dharmaraja. Ver Glossário (p. 365).

9. A expressão “caminho irreversível” (phyir mi-zlog-pa’i lam) se refere aos sutras do segundo e do terceirogiros da roda dos ensinamentos sagrados, os quais expõem seu sentido definitivo. Ver no Glossário (p. 365),o verbete Sentido definitivo.

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E as tradições, as instruções esotéricas e os tratadosDos tesouros e preceitos transmitidos.

Eu me prostro diante das comunidades [de monges e monjas] e nelas merefugio,

Os que permanecem no caminho reto e constituem um campo de todos osméritos supremos10,

Juntamente com a assembleia dos Seres Sublimes, separados das máculasdos estados mentais dissonantes,

E com os detentores supremos do Ensinamento: os bodhisattvas, os piedo-sos discípulos e os budas anacoretas.

Refúgio interior

Eu me prostro diante dos mestres espirituais e neles me refugio,[Os que encarnam] a natureza essencial dos budas dos três tempos,Os mestres de todas as ma .n.dalas secretas e inigualáveis,Que orientam todos os seres vivos com suas bênçãos e sua compaixão.

Eu me prostro diante das divindades de meditação e nelas me refugio,As quais, embora [permaneçam imutáveis como o] Corpo Búdico de Rea-

lidade,Incriadas e livres dos limites das elaborações conceptuais,Emanam-se em formas pacíficas e furiosas para o benefício dos seres vivosE conferem as consumações supremas e as comuns.

Eu me prostro diante da assembleia das .dakinıs e nela me refugio,As quais, movendo-se com a energia da compaixão em toda a vastidão da

realidade,Concedem a suprema beatitude [ao surgir] de suas moradas purasE despejam consumações sobre aqueles que cumprem seus pactos espi-

rituais.

Refúgio secreto

Num estado livre de desejos e além da razão,Tomo refúgio na natureza da grande vastidão de igualdade e perfeição11,

Libertação natural da natureza da mente: O yoga de quatro sessões da prática preliminar 11

.....................10. Literalmente, “acumulações” (tib. tshogs). Isso se refere à acumulação de mérito (bsod-nams) e não à acu-mulação de cognição pura (ye-shes). Ver Glossário (p. 365).

11. Tib. mnyam-rdzogs klong-yangs chen-po’i rang-bzhin. A vastidão de igualdade e perfeição é o mesmo queo Corpo Búdico de Realidade. Ver Dudjom Rinpoche, NSTB, pp. 251-2.

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Vacuidade atemporal, não condicionada por elaboração conceptual*,Primordialmente pura em essência, expressão natural e energia compassiva.

Em um [estado] não conceptual, naturalmente esplendoroso e nítido,Refugio-me na encarnação primordial dos cinco corpos búdicos,Presentes de modo espontâneo e natural,[Que residem] na ma .n.dala do ponto seminal [único],Que é [a união de] vastidão e consciência pura**, e de luminosidade e

vacuidade,A indestrutível cadeia do esplendor interno que é percepção intrínseca.

Através dos três tempos, sem princípio e sem fim,Refugio-me nos Seres CompassivosIncoercíveis, de expressão natural e que estão em toda parte,Os livres raios de luz que surgem e permanecem,Que emanam pelo poder de expressão da consciência pura,Dissipando de modo não conceptual as trevas que estão nas mentes dos seres

vivos.

A geração de uma intenção altruísta

(Nesse momento, a intenção altruísta do Grande Veículo deve ser geradada seguinte maneira:)

Embora sejam os fenômenos vazios e desprovidos de identidade própria,Os seres sencientes não percebem isso. Ai! Como carecem de compaixão os

seres sencientes!Para que aqueles a quem dirigimos nossa compaixão possam alcançar a

iluminação,Devo inflamar meu corpo, fala e mente na [prática da] virtude!

Para o benefício de todos os seres sencientes das seis classes,Desde este momento até que eu obtenha a iluminação,

12 O livro tibetano dos mortos

.....................* A expressão “não condicionada por elaboração conceptual” tem de ser entendida à luz das concepções budis-tas sobre a realidade. Para o budismo, todo fenômeno real é mente e toda mente é em última análise a própriamente búdica, a mente infinitamente iluminada. Segundo o budismo, o fenômeno que chamamos “nossa men-te” e que experimentamos internamente em nosso cotidiano como uma coisa distinta dos objetos ou conteúdosmentais que a ela se apresentam é um estágio ou, mais propriamente, uma reverberação secundária da menteinfinita; essa reverberação não é realmente distinta da mente búdica, mas é concebida por nós como algo dis-tinto dos outros fenômenos e, ao menos até certo ponto, nós a pensamos como autossubsistente. Para o budis-ta, isto quer dizer que a “nossa mente”, isto é, um sujeito individual realmente distinto dos outros fenômenos eda natureza suprema, só existe na medida em que existe um pensamento que afirma sua existência. Isto querdizer que a “nossa mente” e toda a chamada “realidade convencional” só permanecem existindo em dependên-cia de nossos próprios processos mentais limitados, ou “elaborações conceptuais”. (N. do T.)

** Sobre esse termo, que traduz o inglês awareness, ver a nota do revisor da tradução ao verbete Consciên-cia pura, no Glossário (p. 365). (N. do R. da T.)

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Não somente por mim, mas para o benefício de todos,Devo gerar a mente [que aspira à obtenção] da iluminação suprema!

Como carecem de compaixão os que não receberam os ensinamentos[sagrados],

Os que aprisionaram a si mesmos no insondável oceano de sofrimento.Para que aqueles a quem dirigimos nossa compaixão possam firmar-se na

felicidade,Devo gerar a mente [que aspira à obtenção] da iluminação suprema!

Eu mesmo e todos os inumeráveis seres sencientesSomos primordialmente da natureza do estado búdico.E para que [todos] possamos nos tornar encarnações supremas, conhece-

doras dessa natureza,Devo gerar a mente [que aspira à obtenção] da iluminação suprema!

O oceano da existência cíclica é como uma ilusão.Todas as coisas compostas são impermanentes.Sua essência é vazia e desprovida de identidade própria,Mas os ingênuos seres [deste mundo], que não compreendem isso,Vagueiam pela existência cíclica, [movidos] pelos doze elos da originação

dependente.Para que todos os seres aprisionados neste atoleiro de nome e forma pos-

sam alcançar o estado búdico12,Devo inflamar meu corpo, fala e mente na [prática da] virtude!

Refugio-me [desde agora] até a iluminaçãoNo Buda, nos ensinamentos [sagrados] e na assembleia suprema.Que, pelo mérito da prática da generosidade e das outras [perfeições],Eu atinja o estado búdico para o benefício de [todos] os seres vivos!Que eu me torne um mestre espiritual, [capaz de] guiar incontáveis seres

sencientes,Tantos seres quanto os há, sem exceção!

(Nesse momento, o praticante deve meditar sobre as quatro aspirações imen-suráveis como segue:)

Que todos os seres sencientes sejam dotados de felicidade!

Libertação natural da natureza da mente: O yoga de quatro sessões da prática preliminar 13

.....................12. Juntos, nome e forma (namarupa) compreendem todos os cinco agregados psicofísicos (pañcaskandha)dos quais é formado o composto de mente e corpo, a saber, forma (rupa), consciência (vijñana), sensação(vedana), percepção (sa .mjña) e tendências motivacionais (sa .mskara). Ver no Glossário (p. 365) o verbeteAgregado.

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Que todos eles sejam separados do sofrimento e de suas causas!Que sejam dotados de alegria, livres do sofrimento!Que repousem na equanimidade, livres de apegos e aversões!

Purificação da negatividade e do obscurecimento pela recitação reiteradado Mantra das Cem Sílabas [de Vajrasattva]

(Isto deve ser feito no contexto da seguinte visualização:)

No alto de minha cabeça, em um trono de lótus da lua,Está meu mestre espiritual, [resplandecente] na forma de Vajrasattva.Seu corpo é translúcido como cristal e em seu coração,[Repousando] sobre um disco lunar, está a sílaba HU .M, circundada pelo

Mantra das Cem Sílabas13.Um filete de néctar desce então e penetra pelo orifício no alto de minha

cabeça14,Purificando-me de minhas violações [dos pactos], de minhas negatividades

e de meus obscurecimentos.

Que Vajrasattva, o glorioso e transcendente,Consagre-me neste mesmo momentoCom a corrente de néctar de cognição pura,Para que as negatividades e obscurecimentosDo meu ser e de todos os seres sencientes, sem nenhuma exceção, sejam

purificadas.

O .M VAJRASATTVA SAMAYAMANUPALAYA VAJRASATTVA TVENOPATI.S .THA D.R .DHO ME BHAVA

SUPO.SYO ME BHAVA SUTO.SYO ME BHAVA ANURAKTO ME BHAVA SARVASIDDHI .M ME PRAYACCHA

SARVAKARMASU CA ME CITTA .M SREYA .H KURU HU .M HAHAHAHA HO BHAGAVAN SARVA

TATHAGATA VAJRA MA ME MUÑCA VAJRABHAVA MAHASAMAYASATTVA A .H15

Devido a minha ignorância, ilusão e confusão,Violei os limites dos pactos,Dos pactos que devia guardar.Ó meu protetor e mestre espiritual, sê meu refúgio!

Tu que és o detentor supremo e glorioso do Vajra16,

14 O livro tibetano dos mortos

.....................13. HU .M é a sílaba semente de Vajrasattva e simboliza a mente búdica. Sobre a sua composição, ver PaltrulRinpoche, The Words of My Perfect Teacher, p. 272.

14. Para uma ilustração que represente relação entre o topo da cabeça e os três principais canais de energiae seus vasos auxiliares, ver Tibetan Medical Paintings, p. 34.

15. Ver no Glossário o verbete Mantra das Cem Sílabas.

16. “Detentor do Vajra” (vajradh.rk, tib. rdo-rje ’dzin-pa), aqui aplicado à divindade Vajrasattva, é um títulodado aos expoentes realizados do Veículo da Realidade Indestrutível (Vajrayana).

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Tu que encarnas grande amor e compaixão,Ó primeiro dentre os seres, sê nosso refúgio!Ajuda-nos a purificar e limpar, sem exceção, toda essa massa de imperfeições –Nossas negatividades, obscurecimentos, transgressões e quedas.

Por essa virtuosa atividade,Que eu alcance prontamente [o estado de] Vajrasattva, agora,E que todos os seres sencientes, sem exceção,Se estabeleçam rapidamente no mesmo estado!Que nos tornemos exatamente como tu, Vajrasattva,Perfeitamente semelhantes a ti em corpo, cortejo, duração da vida, domínios,E em teus sinais maiores supremos e riquíssimos17.

A oferenda de ma .n.dala

(Nesse momento se apresenta a ma .n.dala de oferendas do seguinte modo:)

O .M VAJRA BHUMI A .H HU .M18

A base se transforma num poderoso alicerce de ouro19.O .M VAJRA REKHE A .H HU .M20

O perímetro externo se torna uma cerca de montanhas de ferro ornadas dejoias,

E no centro se ergue o Monte Sumeru, Senhor das montanhas,Majestoso, formado das cinco substâncias preciosas,Extraordinariamente belo em sua forma, deliciosamente atraente ao olhar,Circundado por sete cadeias [concêntricas] de montanhas de ouro,

Libertação natural da natureza da mente: O yoga de quatro sessões da prática preliminar 15

.....................17. Essa oração para a união total com a divindade é repetida adiante, na página 19, no final da seção sobrea união com o mestre espiritual (guruyoga). Em relação aos atributos específicos dessa união: o tamanho docorpo (kaya; tib. sku’i tshad) e a duração da vida de Vajrasattva (ayu .h; tib. tshe) são os de um buda (sobreeste assunto, ver P. Williams, Mahayana Buddhism, pp. 181-4); seu cortejo (parivara; tib. ’khor) compreendeos bodhisattvas masculinos e femininos, sobre os quais ver Capítulo 5, p. 60; e seu domínio ou “campo”(k.setra; tib. zhing-khams) é Abhirati, sobre o qual ver Capítulo 11, p. 211-2. Sobre o significado dos 32 si-nais maiores (dvatri .msasanmukhapuru.salak.sa .na; tib. skyes-bu dam-pa’i mtshan-bzang sum-cu rtsa-gnyis), queaparecem no corpo búdico de forma (rupakaya), ver Glossário (p. 365).

18. O mantra inicial da ma .n.dala de oferendas externas – O .M VAJRA BHUMI A .H HU .M – indica que o alicerce oubase da ma .n.dala simbólica é da natureza da realidade indestrutível (vajra; tib. rdo-rje). Ao mesmo tempoque recita o mantra, o praticante asperge substâncias consagradas sobre a ma .n.dala. Ver Paltrul Rinpoche,The Words of My Perfect Teacher, p. 287; e Sonam T. Kazi (trad.), Kun-zang La-may Zhal-lung, p. 400.

19. O alicerce da ma .n .dala é um círculo de ar indestrutível de espessura incalculavelmente grande querepousa no espaço e é dominado por um círculo de água e uma esfera de ouro. Ver L. Pruden (trad.),Abhidharmakosabha .sya .m, Capítulo 3, “The World”, pp. 451-2.

20. O segundo mantra da ma .n.dala de oferendas – O .M VAJRA REKHE A .H HU .M – indica que o cakrava .da ou “mu-ralha exterior” da ma .n.dala é da natureza da realidade indestrutível. Ao mesmo tempo que recita o mantra,o praticante faz com a mão direita um movimento circular no sentido horário e põe uma flor primeiro so-bre a superfície da ma .n.dala e depois sobre o anel exterior da mesma ma .n.dala. Ver Paltrul Rinpoche, TheWords of My Perfect Teacher, p. 287; e Sonam T. Kazi (trad.), Kun-zang La-may Zhal-lung, pp. 400-1.

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E [entre elas] sete oceanos de emanação.A leste está o continente Viratdeha,E para o sul, Jambudvıpa,O oeste é adornado com Aparagodanıya,E ao norte está Uttarakuru.[Em ambos os lados de cada continente estão] os oito subcontinentes:[No leste], Deha e Videha,[No sul], Camara e Aparacamara,Sa.tha e Uttaramantri .na [a oeste],E [no norte] Kurava e Kaurava.Ofereço este [sistema de mundo], junto com o sol, a lua, Rahu, Ketu21,E todos os luxuriantes bens e riquezas dos deuses e dos seres humanos,A vós ofereço, meus preciosos mestres espirituais, a vós e a vossos cortejos.Por vossa compaixão, vos peço que aceiteis essa oferenda para o benefício

de todos os seres!

O .M A .M HU .M22

A meus preciosos mestres espirituais e aos domínios do Corpo Búdico deEmanação,

Ofereço todas as inestimáveis riquezas de deuses e homens,No imensurável palácio do triquiliocosmo* animado e inanimado,[Na forma de] uma densa nuvem de oferendas, tão numerosas quanto os

átomos,Junto com o Monte Sumeru e seus continentes.Peço-vos aceiteis [essas oferendas], com compaixão e amor.Que todos os seres nasçam nos domínios do Corpo Búdico de Emanação!

O .M A .H HU .MA meus preciosos mestres espirituais e aos domínios do Corpo Búdico de

Riqueza Perfeita,Ofereço a perfeita pureza do espectro sensório e dos campos de atividade

sensorial,

16 O livro tibetano dos mortos

.....................21. Sobre a concepção do Abhidharma acerca do sol (surya; tib. nyi-ma) e da lua (candra; tib. zla-ba), verL. Pruden (trad.), Abhidharmakosabha .sya .m, pp. 460-2; e R. Kloetzli, Buddhist Cosmology, pp. 45-6. Rahu(sgra-gcan) e Ketu (dus-me) são identificados como as fases ascendente e descendente da lua.

22. As sílabas O .M A .M HU .M simbolizam respectivamente o corpo, a fala e a mente búdicas; por essa razão, nocontexto da presente obra, essas sílabas aparecerão com bastante frequência no começo dos versos comouma invocação. Ver Capítulo 5, pp. 53 ss. Os três versos seguintes se referem às oferendas de ma .n .dalaexterior, interior e secreta, as quais são oferecidas respectivamente ao Corpo Búdico de Emanação(nirma.nakaya), ao Corpo Búdico de Riqueza Perfeita (sambhogakaya) e ao Corpo Búdico de Realidade(dharmakaya). Sobre a construção dessa ma .n.dala, ver Paltrul Rinpoche, The Words of My Perfect Teacher,pp. 288-95; e Sonam T. Kazi (trad.), Kun-zang La-may Zhal-lung, parte 2, pp. 403-4.

* Um universo formado por mil vezes mil vezes mil mundos, ou seja, um bilhão de mundos, cada um dosquais constituído pelos elementos mencionados há pouco (a montanha central com suas muralhas e ocea-nos, os continentes e subcontinentes e a muralha exterior). (N. do R. da T.)

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Adornados com as cinco faculdades sensoriais, radiantes e brilhantes,No palácio imensurável dos puros canais de energia do meu corpo.Peço-vos aceiteis [essas oferendas], com compaixão e amor.Que todos os seres nasçam nos domínios do Corpo Búdico de Riqueza Per-

feita!

O .M A .H HU .MA meus preciosos mestres espirituais e aos domínios do Corpo Búdico de

Realidade,Ofereço a prístina e inata cognição puraQue reside no imensurável palácio do puro Corpo Búdico de Realidade,

que é a verdadeira natureza da mente23,Livre de referentes objetivos, vazio, luminoso e livre de percepções subjetivas.Peço-vos aceiteis [essas oferendas], com compaixão e amor.Que todos os seres nasçam nos domínios do Corpo Búdico de Realidade!

O .M A .H HU .MQue pela oferenda desta rica e aprazível ma .n.dala,Nenhum obstáculo surja no caminho para a iluminação!Que se realize a intenção iluminada dos que Alcançaram a Beatitude, no

passado, presente e futuro,E eu não me perca na existência cíclica,Nem adormeça na paz solitária [do nirva .na]!Antes, que eu possa libertar todos os seres em toda a vastidão do espaço!

O .M A .H HU .M MAHA GURU DEVA .DAKINI RATNA MA .N.DALA PUJA MEGHA A HU .M24

Oração aos mestres da linhagem

(Nesse momento, para cultivar a união com o mestre espiritual, a oração à li-nhagem deve ser recitada da seguinte maneira:)

Faço minha oração para a linhagem intencional [direta] dos conquistadores:A Samantabhadra, senhor primordial, Corpo Búdico de Realidade,Ao conquistador Vajradhara, encarnação da sexta [família iluminada],E a Vajrasattva, primeiro entre os guias, suprema mente búdica.

Libertação natural da natureza da mente: O yoga de quatro sessões da prática preliminar 17

.....................23. A natureza suprema da mente (sems-nyid) é o mesmo que o Corpo Búdico de Realidade (dharmakaya).Para uma introdução detalhada sobre a natureza da mente no contexto da presente obra, ver Capítulo 4,pp. 33-52.

24. O mantra de conclusão da ma .n.dala de oferendas – O .M A .H HU .M MAHA GURU DEVA .DAKINI RATNA MA .N.DALA PUJA

MEGHA A HU .M – indica que uma nuvem de oferendas é apresentada à preciosa ma .n.dala dos mestres espiri-tuais, divindades de meditação e .dakinıs.

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Faço minha oração à linhagem [simbólica] dos detentores de conhecimento:Ao detentor de conhecimento Prahevajra, supremo dentre as emanações,Ao mestre espiritual Srı Si .mha, supremo filho dos conquistadores,Ao imperecível Padmakara, estabelecido no Corpo Búdico de Realidade

Indestrutível,E à .dakinı [Yeshe] Tshogyalma, digníssima receptora dos mantras secretos.

Faço minha oração à linhagem auricular dos seres [dotados de autoridade]:A Karma Lingpa, mestre dos tesouros profundos,Ao de nome [Nyinda] Choje, supremo filho da mente búdica de Karma

Lingpa,E ao de nome Suryacandra [Nyinda Ozer], senhor dos seres viventes nesta

era degenerada.

Faço minha oração às divindades reunidas das três raízes:A todos os mestres espirituais autênticos da linhagem central,Que formam os elos de ligação [dessa tradição]25,Às divindades de meditação pacíficas e furiosas, em quem são inseparáveis

aparência e vacuidade,E à assembleia oceânica das .dakinıs e dos que por juramento se compro-

meteram a proteger os ensinamentos [sagrados]!

Ó mestres espirituais que sustentais a linhagem de tradição oral26,E educais cada discípulo segundos suas necessidades!Se entrasse em declínio vosso ensinamento,Ficariam [sumamente] desacorçoados os yogins desta era.Vos suplico, então, que continueis a orientar todos os seres deste pântano da

existência cíclica!

Quando a vós clamamos com tristezas e pesares,Recordai-vos, nessa hora, dos estritos votos que assumistes no passado!27

Mostrai vossas faces desde a vastidão do espaço, as faces dotadas dos sinaismaiores e menores!

A vós peço que orienteis todos os seres deste pântano da existência cíclica!

18 O livro tibetano dos mortos

.....................25. Os mestres espirituais da linhagem central que estão ligados a essa tradição (no sentido de “transmis-são”: ’brel-tshad don-ldan rtsa-brgyud bla-ma-rnams) são aqueles que mantiveram a linhagem de nosso textonas sucessivas gerações desde os tempos de Nyinda Ozer até o presente. Ver “Uma breve história literária”,pp. XXXIII a XLIII.

26. As biografias das figuras mais importantes da linhagem de tradição oral (bka’-brgyud) ligada aos ensina-mentos da escola Nyingma estão delineadas em Dudjom Rinpoche, NSTB, pp. 601-739.

27. Os estritos votos assumidos no passado (sngon-gyi dam-bca’ gnyan-po) são os votos feitos pelos budas ebodhisattvas nas vidas passadas referentes à propagação do ensinamento budista e o voto de bodhisattva delibertar os seres de seus sofrimentos. Ver, p. ex., P. Williams, Mahayana Buddhism, pp. 49-54.

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Deixai que vossa voz de Brahma ressoe como o estrépito de mil trovões!28

[Escancarai] os portais do tesouro de vossa mente búdica!Derramai os raios de luz de vossa consciência discriminativa e compaixão!A vós peço que orienteis todos os seres deste pântano da existência cíclica!Libertai agora, sem nenhuma exceção, todos os seres desta era final!29

[A nós] ungi agora com o rio das quatro iniciações puras!Libertai agora os quatro contínuos, embaraçados pelos estados mentais

dissonantes!A vós peço que orienteis todos os seres deste pântano da existência cíclica!Concedei agora a deliciosa realização dos quatro corpos búdicos dos que

Alcançaram a Beatitude!Que eu me torne um mestre espiritual, [capaz de] guiar os inumeráveis se-

res sencientes,Que foram antes meus pais, todos eles, em toda a vastidão do espaço, sem

nenhuma exceção!A vós peço que orienteis todos os seres deste pântano da existência cíclica!

Recebendo as quatro iniciações

(Nesse momento, a meditação a ser adotada durante a recepção das quatro ini-ciações deve ser a seguinte:)30

Do topo da cabeça do mestre espiritual em união com sua consorte,Uma sílaba O.M branca, [a emitir] raios de luz,Desce sobre o ponto entre minhas sobrancelhas,A iniciação do recipiente é assim recebida e são purificados os obscureci-

mentos do corpo.A vós peço, conferi [a mim] as realizações do corpo búdico!

Da garganta do mestre espiritual em união com sua consorte,Uma sílaba A .H vermelha, [a emitir] raios de luz,

Libertação natural da natureza da mente: O yoga de quatro sessões da prática preliminar 19

.....................28. Listada entre os oitenta sinais menores (asıtyanuvyañjana), a voz semelhante à de Brahma (tshangs-pa’igsung) se refere a um dos seis modos de fala búdica. Ver Longchen Rabjampa, GGFTC, pp. 703-4.

29. Sobre o conceito de tempo cíclico, ver L. Pruden (trad.), Abhidharmakosabha.sya .m, Capítulo 3, “TheWorld”,pp. 475-95; R. Kloetzli, Buddhist Cosmology, pp. 73-5. Cada grande éon (mahakalpa) de tempo cíclico com-preende as quatro eras de criação (vivartakalpa), duração (vivartasthayikalpa), dissolução (sa .mvartakalpa) enão duração (sa .mvartasthayikalpa). A expressão “era final” (dus-mtha’) se refere ao período de dissolução.

30. As quatro iniciações são: a iniciação do recipiente (bum-dbang), que confere a realização do corpo búdi-co (sku-yi dngos-grub); a iniciação secreta (gsang-dbang), que confere a realização da fala búdica (gsung-gidngos-grub); a iniciação de cognição pura (shes-rab ye-shes-kyi dbang), que confere a realização da mente bú-dica (thugs-kyi dngos-grub); e a iniciação de coemergência indivisível (dbyer-med lhan-skyes dbang bzhi-pa),que confere a realização combinada de corpo, fala e mente búdicos (sku-gsung-thugs-kyi dngos-grub). Sobreo ato de conferir essas iniciações, ver Paltrul Rinpoche, The Words of My Perfect Teacher, pp. 329-30; e SonamT. Kazi (trad.), Kun-zang La-may Zhal-lung, parte 2, pp. 462-5.

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Desce sobre a faculdade sensorial da minha língua,A iniciação secreta é assim recebida e são purificados os obscurecimentos

da fala.A vós peço, conferi [a mim] as realizações da fala búdica!

Do coração do mestre espiritual em união com sua consorte,Uma sílaba HU .M azul, [a emitir] raios de luz,Desce ao centro de meu coração,A iniciação de cognição pura é assim recebida e são purificados os obscure-

cimentos da mente.A vós peço, conferi [a mim] as realizações da mente búdica!

Do umbigo do mestre espiritual em união com sua consorte,Uma sílaba HRI .H vermelha, [a emitir] raios de luz,Desce sobre o centro do meu umbigo,São purificados os obscurecimentos que [mundanamente] diferenciam corpo,

fala e menteE é recebida a quarta iniciação, a iniciação de coemergência indivisível.

Ó glorioso e precioso mestre espiritual de raiz!Estejas indivisivelmente presente, [entronado] no pistilo dum lótus para

sempre dentro de meu coração!Por tua grande bondade, favorece-me com tua aceitação,E [a mim] confere, te suplico, as realizações de corpo, fala e mente búdicos!

Que nós nos tornemos exatamente semelhantes a ti, glorioso mestre espiritual!Em tudo semelhantes a ti em corpo, cortejo, duração da vida, domínios,E em teus supremos e excelentes sinais maiores.

Estes versos, que formam a prática preliminar de As Divindades Pacíficas e Furio-sas: um profundo ensinamento sagrado [chamado] libertação natural por meio [do reco-nhecimento] da intenção iluminada, devem ser aplicados como método suplementarno contexto da purificação mental.

Esta prática espiritual do inigualável Grande Veículo (Mahayana) é um ensina-mento oral de [Nyinda] Choje Lingpa, o filho mais velho do descobridor de tesourosKarma Lingpa, e foi posto por escrito pelo Guru Suryacandrarasmi [isto é, NyindaOzer].

20 O livro tibetano dos mortos

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