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Sumário

Introdução 7

Alegria 11

Perseverança 33

União 51

Gratidão 71

Possibilidade 95

Deslumbramento 115

Lucidez 139

Poder 163

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Introdução

A história não é nova, mas, pelo menos neste livro, acho que vale a pena contá-la outra vez. O ano era 1998 e eu estava

divulgando o filme Bem-amada em uma entrevista ao vivo na TV com Gene Siskel, o grande e já falecido crítico de cinema do Sun-Times. O papo estava fluindo muito bem, até que chegou a hora de encerrar a entrevista.

– Mas me diga o seguinte – falou ele. – Do que você tem certeza?Bem, eu não era nenhuma novata. Já fiz muitas perguntas ao

longo dos anos – e também já fui alvo de muitas outras –, e não é comum que me faltem palavras, mas devo admitir que dessa vez fiquei sem ação.

– Hã... sobre o filme? – gaguejei, sabendo muito bem que ele se referia a algo maior, mais profundo e mais complexo, mas tentando ganhar tempo para bolar uma resposta que fizesse o mínimo de sentido.

– Não – retrucou ele. – Você sabe o que quero dizer: sobre você, sua vida e tudo o mais...

– Hã... do que tenho certeza... bom, a verdade é que preciso de mais tempo para pensar nisso, Gene.

Bem, dezesseis anos e muitas reflexões depois, esta se tornou a principal questão da minha vida: do que exatamente eu tenho certeza?

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8 O que eu sei de verdade

Venho explorando essa pergunta em cada número da revista O (na realidade, ela é o nome da coluna que escrevo todo mês nesse periódico), e acredite: muitas vezes ainda não é nada fácil encon-trar a resposta. Do que eu tenho certeza? O que eu sei de verdade é que, se mais um editor me telefonar ou mandar um e-mail, ou mesmo um sinal de fumaça, perguntando cadê o texto que preciso mandar, irei trocar de nome e me mudar para Timbuktu!

Mas, justo quando estou prestes a jogar a toalha e gritar “Che-ga! Minha fonte esgotou! Não sei de mais nada!”, eu me vejo passeando com o cachorro, fazendo um chá ou relaxando na ba-nheira e então, do nada, um pequeno momento de lucidez me faz lembrar de algo que na minha mente, no meu coração e no meu íntimo eu simplesmente sei sem sombra de dúvida.

Mesmo assim, admito que fiquei um pouco apreensiva quando chegou a hora de reler as colunas que escrevi durante catorze anos. Será que iria ser como olhar fotos antigas minhas com cortes de cabelo e roupas que deveriam ficar para sempre arquivados na pasta “parecia uma boa ideia na época”? Quero dizer, o que você faz quando o que sabia com certeza no passado se torna “onde eu estava com a cabeça” no presente?

Peguei uma caneta vermelha, uma taça de vinho Sauvignon Blanc, respirei fundo, sentei-me e comecei a ler. Enquanto lia, fui invadida por uma enxurrada de lembranças do que estava fazendo na época e da etapa da vida em que me encontrava ao escrever aqueles textos. Recordei-me imediatamente das ocasiões em que quebrei a cabeça e vasculhei minha alma, de quantas vezes fiquei acordada até tarde e levantei cedo, tudo para descobrir o que tinha compreendido sobre as coisas que importam na vida

– como alegria, perseverança, deslumbramento, união, gratidão e possibilidade. É com alegria que afirmo ter descoberto, nesses catorze anos de colunas, que, quando você tem certeza de alguma coisa, certeza absoluta, ela sobrevive ao teste do tempo.

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Introdução 9

Não me entenda mal: enquanto estiver vivo, e se estiver aberto ao mundo, você irá aprender. Portanto, embora no fundo minhas ideias e crenças permaneçam as mesmas, acabei usando aquela caneta vermelha para corrigir, elaborar e ampliar algumas velhas verdades e o bom senso que consegui adquirir a duras penas. Bem--vindo ao meu livro pessoal de revelações!

Quando você estiver lendo todas as lições com as quais me debati e que me levaram às lágrimas, das quais fugi e às quais retornei depois, que me fizeram rir e das quais, por fim, passei a ter certeza, espero que comece a fazer a si mesmo a pergunta que Gene Siskel me fez há tantos anos. O que você descobrirá ao longo do caminho será fantástico, pois estará descobrindo a si mesmo.

Oprah WinfreySetembro de 2014

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Alegria

“Sente-se e aproveite o banquete da sua vida.”– derek walcott

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N a primeira vez que Tina Turner foi ao meu programa, minha vontade era fugir com ela, me tornar uma de suas bailarinas

e dançar a noite toda em seus shows. Bem, esse sonho se tornou realidade uma noite em Los Angeles, quando The Oprah Winfrey Show saiu em turnê com ela. Após um dia inteiro de ensaios para uma só canção, eu tive a minha chance.

Foi a experiência mais estressante, apavorante e empolgante da minha vida. Durante cinco minutos e 27 segundos, tive a oportu-nidade de saber como é botar para quebrar em um palco. Nunca me senti tão fora do meu elemento, do meu corpo. Lembro-me de como estava insegura, contando os passos de dança na minha cabeça, tentando manter o ritmo, esperando a hora de chutar o ar.

Então, de repente, tive um estalo: Calma, garota, isto vai acabar logo, logo. E, se eu não relaxasse, iria perder toda a diversão. Joguei a cabeça para trás, mandei para o escambau aquilo de passo, passo, giro, chute e simplesmente dancei. URRUUUL!

Muitos meses depois, recebi uma encomenda da minha amiga e mentora Maya Angelou – ela havia dito que iria me enviar um presente que gostaria que qualquer filha sua tivesse. Quando abri o pacote, encontrei um CD com uma canção de Lee Ann Womack que até hoje mal consigo ouvir sem cair no choro. A música, que

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14 O que eu sei de verdade

é um testemunho da vida de Maya, tem o seguinte verso como refrão: When you get the choice to sit it out or dance, I hope you dance – ou seja, quando precisar escolher entre ficar sentado e dançar, espero que você dance.

O que eu sei de verdade é que cada dia nos traz uma chance de respirar fundo, chutar os sapatos para longe, sair e dançar – viver livres de arrependimentos e com o máximo de alegria, diversão e risos. Você pode entrar no palco da vida dançando de cabeça er-guida e viver da maneira que sabe que seu espírito deseja ou pode ficar sentado em silêncio contra a parede, escondido na sombra do medo e da insegurança.

Você tem essa escolha neste exato momento – o único que possui com toda a certeza. Espero que não esteja envolvido demais com coisas que não têm nenhuma importância a ponto de se esquecer de se divertir, pois o instante que vive agora está prestes a acabar. Tomara que no futuro você olhe para trás e se lembre de hoje como o dia em que decidiu fazer cada um de seus momentos valer a pena, aproveitar cada hora como se fosse a última. E, se tiver que escolher entre ficar sentado e dançar, espero que você dance.

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Alegria 15

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Eu levo meus prazeres bastante a sério. Trabalho duro e me divirto um bocado; acredito no conceito de yin e yang da vida.

Não preciso de muito para ser feliz porque encontro satisfação na maioria das coisas que faço. Algumas satisfações têm cotação mais alta que outras, é claro. E, como tento seguir o que prego – viver o momento –, estou durante a maior parte do tempo sintonizada de forma consciente com a quantidade de prazer que recebo.

Quantas vezes ri tanto ao telefone com minha melhor amiga, Gayle King, que minha cabeça chegou a doer? No meio das garga-lhadas, às vezes penso: Não é um privilégio, depois de tantos anos de ligações noturnas, ter alguém que me diga a verdade e me faça rir desse jeito? É um prazer que merece a cotação máxima.

Estar consciente das experiências que valem uma cotação alta e criá-las para si faz com que você se sinta abençoado. Para mim, simplesmente acordar “em sã e plena consciência”, ser capaz de colocar meus pés no chão, andar até o banheiro e fazer o que precisa ser feito vale cinco estrelas. Já ouvi muitas histórias de pessoas que não têm saúde suficiente para isso.

Uma xícara de café forte com um creme de avelã perfeito: quatro estrelas. Uma caminhada pelo bosque com os cães sem coleiras: cinco estrelas. Malhar: uma estrela, ainda. Sentar-me sob a sombra dos meus carvalhos e ler o jornal de domingo: quatro estrelas. Um bom livro: cinco. Jogar conversa fora na cozinha de Quincy Jones, falando sobre tudo e nada em particular: cinco estrelas. Poder fazer coisas boas por outras pessoas: cinco com louvor. O prazer está em saber que aquele que recebe o bem en-tende o espírito do gesto. Tento fazer algo de bom por alguém todos os dias, seja um conhecido ou não.

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16 O que eu sei de verdade

O que eu sei de verdade é que o prazer é uma troca de energia: você recebe de volta o que dá. O seu nível de prazer é determinado pela maneira como você enxerga sua vida.

Mais importante do que uma vista perfeita é a sua visão interna, o seu próprio espírito sussurrando em seu ouvido palavras de orientação e graça – este é o verdadeiro prazer.

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Alegria 17

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A vida é cheia de tesouros maravilhosos quando nos permi-timos um momento para apreciá-los. Eu os chamo de mo-

mentos ahhh, e aprendi como criá-los para mim mesma. Um bom exemplo: a xícara de masala chai que tomo às quatro da tarde, picante, quente, coberto com espuma de leite de amêndoas – é refrescante e me dá aquela energiazinha a mais para o restante do dia. O que eu sei de verdade é que momentos como esse são poderosos. Eles podem ser sua chance de recarregar as baterias, de “respirar” um pouco e de se reconectar consigo mesmo.

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S empre adorei a palavra delicioso. A maneira como ela sai des-lizando da minha língua me encanta. E é mais gostoso ainda

quando comer algo é uma experiência deliciosa, rica e com várias camadas, como um belo bolo de coco. Tive ambos há alguns anos, no meu aniversário – tanto o bolo quanto a expe riência. Foi um daqueles momentos que chamo de uma piscadela de Deus, quan-do de repente tudo entra em perfeita sintonia.

Eu estava com um grupo de amigas em Maui; acabara de voltar da Índia e queria fazer um retiro estilo spa na minha casa para celebrar meus 58 anos.

Como amigas costumam fazer mesmo nessa idade, nos senta-mos e ficamos conversando até altas horas. À meia-noite e meia da véspera do meu aniversário, cinco de nós (éramos oito) ainda estávamos à mesa, exaustas depois de cinco horas de um bate-

-papo que incluiu desde homens até microdermoabrasão. Muitas risadas, algumas lágrimas. O tipo de conversa que as mulheres têm quando se sentem seguras.

Dois dias depois, eu iria entrevistar o famoso guia espiritual Ram Dass e, por coincidência, comecei a cantarolar um trecho de uma canção que invocava seu nome.

De repente, minha amiga Maria perguntou:– O que é isso que você está cantando?– Ah, é só um verso de uma música de que eu gosto.– Eu conheço. Eu a ouço todas as noites – disse ela.– Sério? – falei. – É uma canção quase desconhecida de um álbum

de uma cantora chamada Snatam Kaur.– Isso! – exclamou Maria. – Isso mesmo! Snatam Kaur! Eu a ouço

todas as noites antes de dormir. Como você conhece a música dela?

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– Peggy – mencionei outra amiga que estava conosco – me deu um CD dela há dois anos e eu não parei mais de ouvi-lo. Coloco para tocar todos os dias antes de meditar.

Agora nós duas estávamos gritando e rindo.– Não acredito!– Na verdade eu estava pensando em chamá-la para cantar no

meu aniversário – falei assim que recuperei o fôlego. – Mas então pensei, Deixa pra lá, vai dar muito trabalho. Se soubesse que você também gostava dela, teria feito o esforço.

Mais tarde naquela noite, deitada na cama, pensei: Não é curioso? Eu teria tido esse trabalho por uma amiga, mas não por mim mesma. Certamente preciso seguir o que prego e me dar mais valor. Fui dormir desejando ter convidado Snatam Kaur para cantar.

No dia seguinte, meu aniversário, recebemos a “bênção da ter-ra” do chefe de uma tribo havaiana. No fim da tarde, nos reunimos na varanda para tomar coquetéis enquanto assistíamos ao pôr do sol. Minha amiga Elizabeth se levantou – para ler um poema, imaginei, ou fazer um discurso. Em vez disso, ela falou:

– Seu desejo se tornou realidade. Ela tocou um pequeno sino e de repente uma música começou.A princípio a melodia soou abafada, como se as caixas de som

não estivessem funcionando direito. O que está acontecendo?, pen-sei. E então lá estava ela, entrando na minha varanda... Snatam Kaur, com seu turbante branco. E seus músicos!

– Como foi que isso aconteceu? – perguntei. Então comecei a chorar.Maria, sentada ao meu lado com os olhos marejados, segurou

minha mão e apenas meneou a cabeça.– Você não quis fazer por si mesma, então nós fizemos por você.No dia anterior, depois que fui para a cama, elas deram uma

série de telefonemas para saber onde Snatam Kaur estava e ver

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se conseguiriam levá-la para Maui em doze horas. Por obra do destino e de Deus, ela e seus músicos estavam em uma cidade a meia hora dali, preparando-se para um show. E ficariam “honra-dos” de ir cantar no meu aniversário.

Foi uma das surpresas mais extraordinárias da minha vida. Re-pleta de camadas de sentido que continuo desvendando até hoje. O que eu sei de verdade é que irei saborear esse momento para sempre – por ele ter acontecido, pela maneira como aconteceu e por ter sido no meu aniversário. Foi simplesmente... delicioso!

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Qual foi a última vez que você riu com uma amiga até sua barriga doer, ou deixou as crianças com uma babá e passou

um fim de semana inteiro fora? Falando de forma mais específica, se sua vida acabasse amanhã, o que você se arrependeria de não ter feito? Se hoje fosse o seu último dia de vida, você o passaria como está passando agora?

Uma vez vi um cartaz que chamou minha atenção. Dizia: “Aquele que morre com mais brinquedos que os outros está mor-to do mesmo jeito.” Qualquer um que já tenha estado perto da morte poderá lhe dizer que, no fim da vida, você provavelmente não ficará pensando nas horas extras que fez no trabalho, ou em quanto você possui no seu fundo de investimento. O que estará na sua cabeça serão perguntas do tipo “o que teria acontecido se...”, como Que tipo de pessoa eu teria me tornado se enfim tivesse me dedicado às coisas que sempre quis fazer?.

O maior benefício de decidir encarar a sua mortalidade sem medo está em reconhecer que, como vai morrer, você precisa viver o agora. O fracasso ou o sucesso está sempre em suas mãos – é você quem tem a maior influência sobre a própria vida.

Sua jornada começa com a decisão de se levantar, sair e viver plenamente.

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S e existe algo que eu adore mais do que uma boa refeição? Duvido muito. Uma das melhores que já experimentei foi em

uma viagem a Roma, em um pequeno e maravilhoso restaurante frequentado apenas por italianos, com exceção das pessoas à nossa mesa: meus amigos Reggie, Andre e Gayle, Kirby, filha de Gayle, e eu, comendo exatamente como os romanos comem.

Houve um momento em que os garçons, a pedido de nosso anfitrião italiano, Angelo, nos trouxeram tantas entradas deli-ciosas que eu juro que senti meu coração saltar no peito, como um motor trocando de marcha. Comemos abobrinhas recheadas com prosciutto e fatias de tomates frescos e maduros entremea-das com camadas de mozarela derretida, tão quentes que dava para ver as pequenas bolhas de queijo, tudo acompanhado por uma garrafa de Sassicaia 85, um vinho tinto da Toscana que fora deixado respirando por meia hora, para ser bebido e saboreado como veludo líquido. Ai, ai, esses foram momentos que guardarei comigo para sempre.

Por acaso já disse que complementei tudo isso com um prato de massa e fagioli (feito à perfeição) e tiramisù de sobremesa? Pois é, foi um banquete. Paguei por ele com uma corrida de noventa minutos em volta do Coliseu no dia seguinte – mas valeu cada garfada deliciosa.

Tenho muitas crenças inabaláveis. O valor de se comer bem é uma delas. O que eu sei de verdade é que uma boa refeição, que lhe traga alegria genuína, vai ser melhor para você no longo e no curto prazo do que comer apenas para encher a barriga e depois ficar vagando na cozinha entre a despensa e a geladeira. Chamo isso de “fome indecisa”: você quer comer algo, mas não consegue

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Alegria 23

descobrir o quê. Todos os aipos, cenouras e frangos sem pele do mundo não conseguirão lhe dar o mesmo prazer que um pedaço de chocolate delicioso, se é isso que você realmente quer.

Então eu aprendi a comer um pedaço de chocolate – dois, no máximo – e me obrigar a parar para saboreá-lo, sabendo muito bem, como Scarlett O’Hara, que “amanhã é um novo dia” e que sempre haverá mais no lugar de onde aquele pedaço saiu. Não preciso comer a barra inteira só porque ela está lá. Não é uma noção incrível?

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F az mais de duas décadas que conheci Bob Greene em uma academia em Telluride, no Colorado. Eu pesava 108 quilos

na época, meu maior peso em toda a vida. Já não sabia o que fazer, e estava perdendo as esperanças – tinha tanta vergonha do meu corpo e dos meus hábitos alimentares que mal conseguia olhar nos olhos de Bob. Estava desesperada por uma solução que funcionasse.

Ele elaborou um programa de exercícios para mim e me incen-tivou a adotar um estilo de vida que girasse em torno do consumo de alimentos orgânicos (muito antes de eu ao menos ouvir falar da cadeia de supermercados Whole Foods, que tem por missão promover esse tipo de alimentação).

Eu resisti. Mas, enquanto vários tipos de dieta surgiam e desa-pareciam, seu sábio conselho continuava o mesmo: coma aquilo que lhe faz bem.

Há alguns anos, finalmente a minha ficha caiu e passei a cul-tivar meus próprios legumes e verduras. E o que começou com alguns pés de alface, uns tomates e manjericão (minha erva favo-rita) no meu quintal em Santa Barbara, com o tempo se tornaria uma verdadeira fazenda em Maui. Meu interesse em horticultura virou uma paixão.

Fico pulando de alegria ao ver a chicória roxa que plantamos, a couve que chega à altura dos meus joelhos, os rabanetes tão grandes que os chamo de bunda de babuíno – pois para mim tudo isso representa o fechamento de um ciclo.

Na zona rural do Mississippi, onde eu nasci, ter uma horta era uma questão de sobrevivência. Em Nashville, onde fui morar mais tarde, meu pai sempre abria um “canteiro” do lado da nossa casa, onde plantava repolho, tomate, vagem e feijão-de-lima.

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Hoje, esse é meu tipo de comida preferido. Se tiver um pão de milho para completar, então, fico feliz da vida. Mas, quando era mais nova, eu não dava valor a legumes frescos, recém-colhidos. “Por que não podemos comer comida congelada como as outras pessoas?”, eu reclamava. Queria legumes da marca Green Giant, que viessem do vale do gigante feliz estampado nas embalagens! Ter que comer da nossa própria horta fazia com que eu me sentisse pobre.

O que eu sei de verdade é que fui abençoada por ter tido acesso à alimentação orgânica – algo que nem sempre é fácil para muitas famílias hoje em dia.

Obrigada, Senhor, por tudo o que cresce da terra.Trabalhei duro para plantar as sementes de uma vida que me

permita continuar a expandir meus sonhos. Um deles é que todos possam comer alimentos frescos que venham da fazenda para a mesa, pois uma boa alimentação é a base de uma vida melhor. Sim, Bob, estou colocando sua mensagem no papel: você tinha razão o tempo todo!

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C onheci Gayle King em 1976, quando eu trabalhava como âncora de noticiário em uma emissora de TV em Baltimo-

re e ela era assistente de produção. Vínhamos de círculos que dificilmente interagiam e, sem dúvida, não se davam bem um com o outro. Mas, desde o nosso primeiro contato, Gayle deixou bem claro que estava muito orgulhosa por eu ter conquistado a cobiçada posição de âncora e empolgada por fazer parte da minha equipe. Até hoje é assim.

Não ficamos amigas de imediato – éramos apenas duas mu-lheres que se respeitavam e apoiavam a carreira uma da outra. Então, uma bela noite, graças a uma forte nevasca, Gayle ficou impossibilitada de voltar para casa, e eu a convidei para dormir na minha casa. E qual foi sua maior preocupação? Roupas de baixo. Ela estava decidida a dirigir quase 65 quilômetros sob uma tempestade de neve até Chevy Chase, em Maryland, onde morava com a mãe, porque não estava com calcinhas limpas.

– Eu tenho um monte de calcinhas limpas em casa – falei para ela. – Você pode usar uma das minhas, ou podemos comprar algumas novas.

Quando finalmente a convenci a ir para a minha casa, pas-samos a noite inteira conversando. E, com exceção das poucas vezes que viajei para fora do país nas férias, nos falamos todos os dias desde então.

Gayle e eu rimos muito juntas, sobretudo uma da outra. Ela me ajudou a superar rebaixamentos de cargo, ocasiões em que quase fui demitida, assédios sexuais e os relacionamentos con-turbados e problemáticos que tive aos vinte e poucos anos, quan-do eu não tinha um pingo de amor-próprio. Noite após noite,

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Alegria 27

Gayle ouvia minhas histórias sobre como eu havia levado um bolo, fora enganada e maltratada. Ela sempre queria saber todos os detalhes, então parecia importar-se muito com aquilo, como se tivesse acontecido com ela mesma. Gayle nunca me julgava. Mas, quando eu deixava algum homem se aproveitar de mim, dizia: “Ele está só arrancando pedaços do seu espírito. Um dia, espero que corte fundo o bastante para que você veja a si mesma como quem realmente é: alguém que merece ser feliz.”

Em todos os meus triunfos – todas as coisas boas e extraordi-nárias que me aconteceram –, Gayle foi minha maior torcedora. (É claro que, não importa quanto dinheiro eu ganhe, ela ainda se preocupa que eu esteja gastando demais. “Lembre-se de M.C. Hammer”, alerta ela, como se eu estivesse a uma compra do mes-mo destino que teve o rapper que foi à falência.) E, durante todos os anos de nossa amizade, nunca detectei o menor vestígio de inve-ja nela. Gayle adora sua vida, adora sua família e adora liquidações (a ponto de atravessar a cidade inteira por uma queima de estoque).

Apenas uma vez ela admitiu ter tido vontade de trocar de lugar comigo: na noite em que subi ao palco com Tina Turner. Ela, que não consegue manter a afinação nem no banco da igreja, fanta-sia ser cantora.

Gayle é a pessoa mais gentil que conheço – ela se interessa sinceramente pela história de qualquer um. É o tipo de ser hu-mano que pergunta a um taxista em Nova York se ele tem filhos, e depois quer saber seus nomes. Quando estou desanimada, ela compartilha a minha dor; quando estou feliz, pode ter certeza que ela está em algum lugar nos bastidores, torcendo mais alto e com um sorriso mais largo do que qualquer outro. Às vezes tenho a sensação de que Gayle é a melhor parte de mim, aquela que diz:

“Aconteça o que acontecer, estarei aqui.” O que eu sei de verdade é que Gayle é uma amiga com quem posso contar. Ela me ensinou a alegria de ter, e de ser, uma amiga de verdade.

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A dotar três filhotes de cachorro ao mesmo tempo não foi a decisão mais sensata da minha vida. Agi por impulso, encan-

tada com suas carinhas fofas, inebriada por seu halitozinho doce e pela mordida prognata do Cãozinho no 3 (Layla).

Então passei semanas acordando diversas vezes durante a ma-drugada para tomar conta deles. Catei quilos e quilos de cocô e passei horas ensinando-os boas maneiras.

Deu muito trabalho. Eu mal conseguia dormir, e meus nervos estavam sempre em frangalhos por tentar evitar que os três destruís-sem ao mesmo tempo tudo o que é meu. Mas uma coisa é certa: de-pois disso ganhei muito mais respeito das mães de bebês humanos!

Todo esse amor canino estava começando a me tirar do sé-rio, então eu precisei fazer uma mudança de paradigma. Um dia, quando estava passeando com eles, parei e fiquei olhando os três fazerem farra – e põe farra nisso: rolando, dando cambalhotas, perseguindo uns aos outros, rindo (sim, cães riem) e saltando feito coelhos. Eles estavam se divertindo tanto que vê-los daquela forma fez todo o meu corpo suspirar, relaxar e sorrir. Vida nova descobrindo o prazer de rolar na grama pela primeira vez: que coisa maravilhosa!

Todos temos a oportunidade de nos sentirmos encantados to-dos os dias, mas nos deixamos ficar entorpecidos. Você alguma vez já voltou do trabalho, abriu a porta de casa e se perguntou como chegou a tal ponto?

O que eu sei de verdade é que você não quer viver assim – fe-chado para os próprios sentimentos e para o mundo à sua volta. Quero que todos os dias sejam uma nova chance de expandir as possibilidades. De experimentar a alegria em todos os níveis.

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Alegria 29

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Eu adoro acender a lareira. Sinto-me realizada quando em-pilho perfeitamente os pedaços de madeira em pirâmide e

faço a chama pegar sem precisar de um acendedor! Não sei por que isso é tão recompensador para mim, mas é – quando eu era menina, meu sonho era ser escoteira, mas nunca tivemos dinheiro para o uniforme.

Uma lareira fica ainda mais atraente quando está chovendo lá fora. E não há nada melhor depois que acabei de trabalhar, conferi meus e-mails, me desconectei e estou pronta para ler um livro.

Tudo o que faço o dia inteiro é uma preparação para a minha hora de leitura. O paraíso para mim é ter um bom romance ou um livro de memórias, uma xícara de chá e um cantinho acon-chegante onde me enroscar. Adoro a sensação de estar dentro da cabeça de outra pessoa e conhecer seus pensamentos; fico maravilhada com a conexão que sinto com as personagens que ganham vida nas páginas de um livro, por mais diferentes que suas experiências possam ser das minhas. Tenho a impressão não apenas de que conheço aquelas pessoas, como também de que conheço mais de mim mesma através delas. Compreensão, informação, conhecimento, inspiração, força: tudo isso e muito mais pode ser transmitido por um bom livro.

Não consigo nem imaginar onde estaria e o que seria de mim sem essa ferramenta essencial que é a leitura. Sem dúvida, não teria conseguido meu primeiro emprego no rádio, aos 16 anos. Eu estava fazendo um passeio pela estação de rádio WVOL, em Nashville, quando o DJ me perguntou: “Quer ouvir como é a sua própria voz gravada?”, então me deu a cópia de uma notícia para ler e um microfone. “Você tem que ouvir essa garota!”, exclamou

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30 O que eu sei de verdade

ele para o seu chefe em seguida. Foi o começo da minha carreira de radialista – em pouco tempo, a estação me contratou para ler notícias no ar. Depois de anos recitando poesia para quem quises-se ouvir e lendo tudo o que me aparecesse pela frente, alguém iria me pagar para fazer o que eu mais amava: ler em voz alta.

Os livros, para mim, costumavam ser uma fuga. Agora, con-sidero ler um bom livro um privilégio sagrado, a chance de estar em qualquer lugar que eu queira. É, sem sombra de dúvida, minha maneira preferida de passar o tempo. O que eu sei de verdade é que a leitura abre a sua mente e lhe dá acesso a tudo o que o seu intelecto consiga assimilar. O que eu mais amo na leitura é o se-guinte: ela dá a capacidade de voar mais alto. E continuar subindo.

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Alegria 31

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M eu principal objetivo na vida, o mais importante de todos, é permanecer conectada ao mundo espiritual. O que eu

sei de verdade é que todo o resto se resolverá sozinho. E minha prática espiritual número um é tentar viver no presente... resistir à tentação de planejar o futuro, ou lamentar erros do passado... sentir o verdadeiro poder do agora. Este, meus amigos, é o segredo para uma vida feliz.

Meu versículo preferido da Bíblia, que eu adoro desde os 8 anos, está em Salmos 37:4: “Deleite-se no Senhor, e Ele atenderá aos desejos do seu coração.” Este tem sido meu mantra durante toda a vida. Deleite-se no Senhor – na bondade, na gentileza, na compaixão e no amor – e veja o que acontece.

Este é meu desafio para você.

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A autora

Através do poder da mídia, Oprah Winfrey criou uma ligação inédita com as pessoas ao redor do mundo. Como apresentadora e produtora do campeão de audiência The Oprah Winfrey Show, programa ganhador de diversos prêmios, ela entreteve, inspirou e animou milhões de espectadores por 25 anos. Suas realizações como líder mundial de mídia e filantropa a transformaram em uma das mais respeitadas e admiradas figuras públicas da atualidade.