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Sumário
1. APRESENTAÇÃO DA EQUIPE ....................................................................... 3
2. APRESENTAÇÃO DO TEMA .......................................................................... 5
2.1 O Contexto de criação do Tribunal ............................................................... 9
2.2 Tribunal de Nuremberg ................................................................................ 11
2.3 Tribunal Militar Internacional de 1945 ......................................................... 13
3. APRESENTAÇÃO DO COMITÊ .................................................................... 14
3.1 Promotoria .................................................................................................... 14
3.2 Réu ................................................................................................................. 15
3.3 Advogado ...................................................................................................... 16
3.4 Crimes ........................................................................................................... 17
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 19
5. QUESTÕES RELEVANTES ........................................................................... 20
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 22
TABELA DAS REPRESENTAÇÕES ........................................................................ 24
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1. APRESENTAÇÃO DA EQUIPE
Diretora – Fernanda Portela
Senhores delegados,
Sejam muito bem-vindos ao Primeiro Tribunal Militar Internacional, que
acontecerá no Palácio da Justiça na cidade de Nuremberg nos dias 28 e 29 de
setembro e 1 de outubro de 1946, um ano após o fim da Segunda Guerra Mundial.
Como é de conhecimento dos senhores, este é um tribunal, portanto, nossas
discussões se centrarão na dinâmica de discussão entre promotoria, defesa e réus,
buscando chegar ao veredicto final dos crimes aos quais os réus foram acusados.
Meu nome é Fernanda Pereira Portela tenho 20 anos e durante o MINIONU
estarei cursando o 8º período de Relações Internacionais na PUC Minas e sou a
diretora do TMI 1945. Minha história no curso está muito ligada ao MINIONU, faço
Relações Internacionais porque me apaixonou quando estive em uma simulação,
desde então, soube que era aquilo que eu queria fazer o resto da vida e ter como
profissão e decidi cursar Relações Internacionais.
Iniciei minha trajetória no MINIONU no ano de 2017 como voluntária do comitê
de logística, retornei no ano seguinte já como diretora assistente do comitê UNODA
2020 e agora em 2019 estou tendo a oportunidade de ser Diretora. O prazer é
enorme pra mim em tratar de uma temática que sempre me interessou e que
considero de extrema importância a necessidade de ser relembrada, com o fim de
que não ocorra nunca mais as atrocidades e atos desumanos ocorridos no período
nazista. Espero que os senhores venham com muita disposição para discutir essa
temática de extrema relevância e de viés delicado. Estou muito ansiosa para
encontra-los em outubro e ver finalmente esse projeto se concretizando. Vamos
juntos fazer desse o melhor comitê do MINIONU 20 Anos. Até outubro!
Diretor Assistente – Bruno Valdez
Olá! Meu nome é Bruno Valdez, tenho 19 anos e serei diretor assistente no
comitê TMI 1945 no MINIONU 20 anos. Atualmente estou cursando o segundo
período, durante o evento estarei no terceiro. O meu contato com o projeto foi ainda
no ensino médio, onde participava de várias simulações em colégios e sonhava em
participar do maior projeto de simulações de todos que era e ainda é o MINIONU.
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Infelizmente não pude participar como delegado na edição de 2018, porém ainda no
primeiro semestre de 2018 me tornei voluntário, sendo assim membro da
organização do 19° MINIONU. Me tornar parte integrante do projeto foi algo
inesquecível que me trouxe muitas lições tanto sobre trabalho em equipe quanto
compreensão do outro.
Com esta bagagem, vou dar meu máximo para o sucesso do projeto e do
comitê em uma edição histórica e um comitê de excelência que aborda questões
que definiram a sociedade e as Relações Internacionais que hoje vivemos e
estudamos. Nos vemos em outubro!
Diretora Assistente – Karina Guimarães
Olá! Meu nome é Karina Guimarães, tenho 19 anos e nessa vigésima edição
do MINIONU, serei diretora assistente no comitê maravilhoso que é o TMI 1945.
Meu contato com o MINIONU vem desde o ensino médio, tendo a oportunidade de
ser delegada duas vezes em comitês de temática militar e me apaixonei
perdidamente pelo projeto e pelo curso. Depois dessa experiência, tomei a decisão
de que cursaria Relações Internacionais e de que jamais deixaria de participar. Ano
passado, na 19ª edição, assumi o cargo de voluntária do comitê de logística e, com
isso, pude vivenciar um MINIONU diferente de tudo que eu poderia imaginar. Ver o
outro lado, participar da construção do projeto, estar tão próxima de vocês foi uma
experiência incrível, de um aprendizado singular. Me encantei de tal forma que,
nessa edição tão importante, assumirei a mesa ao lado de pessoas tão apaixonadas
pelo projeto quanto eu e tenho certeza de que faremos dessa a melhor edição de
todos os tempos! Espero conseguir transmitir a vocês um pouco do meu amor pelo
trabalho que realizamos no MINIONU e que vocês possam aprender, se divertir e
aproveitar ao máximo essa experiência. Espero ansiosamente por vocês, até
outubro!
Diretora Assistente – Maria Luiza Moreira
Olá, meu nome é Maria Luiza Moreira, tenho 21 anos e nessa edição de 20
anos do MINIONU serei diretora assistente desse comitê memorável, TMI 1945. Me
encontro no 3º período de Relações Internacionais e atualmente estou me
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identificando muito com o curso. Pude ter meu primeiro contato com o modelo no
ano de 2018, em sua 19º edição, onde fui voluntária do comitê UNICEF 2015. Fazer
parte desse projeto e também, dessa família, foi uma experiência incrível para mim,
pois observar todos aqueles delegados incorporando e debatendo temas de suma
relevância me fez acreditar que o lema do evento “nosso jeito de mudar o mundo”
estava acontecendo e que se aplicaria, ainda que brandamente na vida desses
adolescentes. Espero na edição de 20 Anos, juntamente, com os meus colegas de
mesa, contribuir ao máximo para perpetuar essa transformação, bem como realizar
um MINIONU histórico, divertido e cheio de aprendizados. Nos vemos em outubro,
aproveitem!
2. APRESENTAÇÃO DO TEMA
Destes, só o último, o crime contra a humanidade, era novo e sem precedentes. A guerra agressiva é pelo menos tão velha quanto à história escrita, e embora denunciada como “criminosa” muitas vezes antes, nunca havia sido reconhecida como tal em nenhum sentido formal”. (ARENDT, 1999).
Com o fim da Primeira Guerra Mundial, conflito que ocorreu entre 1914 e 1918,
seu desfecho é marcado pela derrota da Tríplice Aliança1 e, portanto, com a derrota
da Alemanha no conflito. Assim, como consequência deste, têm-se a assinatura do
Tratado de Versalhes, sendo este um meio de exigir dos perdedores da guerra
“reparações” econômicas, militares e territoriais aos países que sofreram ataques da
Alemanha no período em questão (MATOZO; ZULATO, 2015; HOLOCAUST
ENCYCLOPEDIA, 2019).
Assim, observa-se que as exigências do tratado supramencionado acarretaram
em crises econômicas e sociais na Alemanha, expressa pelas altas taxas de
desemprego, inflação e miséria, bem como pela instabilidade política, devido à
recém instituída República de Weimar. Diante deste cenário de instabilidade,
partidos de cunho de extrema direita e esquerda buscaram alcançar o poder que se
encontrava nas mãos dos sociais democratas. Aliado a isso, no início da década de
1920, insurgiram diversos indivíduos que, devido à insatisfação com a situação da
Alemanha, fomentavam agitações políticas, enquanto simultaneamente, diversos 1 Composto pelo Império Alemão, Império Austro-Húngaro e Itália.
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partidos políticos emergiam propondo diversos planos a fim promover mudanças no
cenário político vigente na Alemanha. Assim surge o Partido dos Trabalhadores
Alemães (PTA), que mais tarde viria a se tornar o Partido Nacional-Socialista dos
Trabalhadores Alemães (NSDAP) (MATOZO; ZULATO, 2015).
O primeiro contate de Adolf Hitler com o PTA se deu quando este fora
designado para analisar e observar as pretensões do partido. Concomitante a isso, a
mudança de Hitler para Áustria para ingressar na Academia de Belas Artes de Viena
determinou de fato a criação de algumas concepções já enraizadas na cultura dos
povos germânicos, tais como o antissemitismo e a ideia de Formação da Grande
Alemanha e a Comunidade do Povo. Diante disso, o futuro líder nazista, se filia ao
PTA em um primeiro momento e começa a traçar sua trajetória política, até alcançar
por fim, a liderança do partido supramencionado. Em 1920, o partido se transforma
no conhecido Partido Nacional dos Trabalhadores Alemães (MATOZO; ZULATO,
2015).
Para tanto, apesar das políticas executadas na República de Weimar que
buscavam estabilizar o governo e realizar uma manutenção da economia alemã,
todos esses esforços vieram à baixo com o crash da Bolsa de Valores de Nova York
em 1929, que influenciaram diretamente no cenário interno alemão, sujeitando
novamente o país a inflações elevadas, desemprego da população, além de fome e
miséria. Tal cenário contribuiu para a ascensão da influência nazista, até que em
1933 o partido finalmente alcança o poder e, com sua chegada, este logo visa a
consolidação das concepções nazistas no território alemão, além de buscar
enfraquecer a esquerda política e fortalecer a aliança com a alta burguesia alemã
(MATOZO; ZULATO, 2015).
Tal posição ocupada por Hitler viabilizou a implementação de um governo
ditatorial de um único partido, tendo como auxilio uma força policial que cooperou
para a implementação de políticas nazistas. Assim, o movimento ganha força
quando Hitler consegue persuadir o gabinete a declarar estado de emergência,
abolindo os direitos individuas, tais como a liberdade de imprensa, de expressão e
de reunião. Dessa maneira, na medida em que a democracia do governo alemão era
substituída pelo regime nazista, todos aqueles que se declaravam opositores, bem
como as etnias em minoria que não eram desejáveis sofriam perseguição
(HOLOCAUST ENCYCLOPEDIA, 2019).
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Consoante a isso, diversos locais antes ocupados por tais opositores e
minorias foram abandonados e transformados nos primeiros campos de
concentração2, ou ainda, os centros de confinamento militar que tinham o objetivo de
aprisionar socialistas, anarquistas, democratas e lideranças sindicais, ou seja,
confinava todo aquele que se demonstrava contrário ao atual regime alemão (idem,
2019).
É importante destacar que em um Estado ditatorial a perda – que se dá de
maneira gradual- de direitos individuais confere ao Governo o controle dos meios de
comunicação, dessa forma, o Estado lia correspondências, escutava conversas
telefônicas e revistava casas sem a necessidade de mandados de busca, além do
controle de informações, realizando a censura e influência de propaganda, assim
diversos livros foram retirados de circulação ou ainda queimados em praça pública.
O ensino e pesquisa foram reestruturados voltando-se para a disseminação de
teorias racistas de teor inquestionável. Para além, novas leis foram aprovadas,
contrariando o antigo regimento alemão e promovendo a segregação de espaços e
determinados grupos sociais (HOLOCAUST ENCYCLOPEDIA, 2019).
Assim, com o avanço da segregação, o Partido Nacional-Socialista passou a
implementar regras mais rígidas, restringindo a participação de judeus a
universidades, ao funcionalismo público, a alguns espaços sociais e passaram até
mesmo a boicotar estabelecimentos de judeus, encorajando a “raça pura”, ou seja,
aqueles que eram puramente alemães a não comprarem da “raça inferior”, os
judeus. Com o avançar dessas medidas, os judeus e outras minorias vistas como
“impuras” passaram a ter bens confiscados pelo governo alemão e profissionais, tais
como médicos, advogados, professores, entre outras profissões, tiveram suas
licenças revogadas, sendo impossibilitados de fornecer atendimento a qualquer
cidadão alemão (Idem, 2019).
Destacam-se duas datas que marcaram o destino final do regime
segregacionista, quando em 1935 em um comício do partido em Nuremberg
apresenta-se as leis que institucionalizaram grande parte das teorias raciais
predominantes na linha ideológica nazista, tais leis, também conhecidas como Leis
2 Mais tarde tais campos de concentração foram destinados para o aprisionamento e morte de
diversas minorias étnicas uma vez que, mais tarde, essas passam a ser vistas como o principal inimigo do Estado Alemão.
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de Nuremberg3 excluíram os judeus alemães da cidadania do Reich e proibiam os
judeus de ter relações sexuais ou de se casar com pessoas de “sangue puro”. Para
além, em 1938, instituições do governo nazista, na chamada “Noite dos Cristais”
destruíram milhares de estabelecimentos comerciais judaicos pelo país, bem como
sinagogas, escolas, hospitais, casa, bem como executaram grande parte da
população judia (HOLOCAUST ENCYCLOPEDIA, 2019).
A intensificação e o progresso da ideologia de ódio aos judeus marcado pela
Noite dos Cristais, ganha ainda mais força na medida em que no âmbito
internacional a Alemanha avança contra os países europeus. Vale-se destacar neste
momento, em especial devido ao comitê que será simulado, que a eclosão da
Segunda Guerra Mundial- devido aos diversos territórios invadidos pelo governo
Alemão - possibilitou a integração dentro do III Reich de milhões de povos que antes
se encontravam sob o governo de Estados democráticos ou ainda sob regimes
ditatoriais fascistas menos rígidos. Assim, devido a essa integração, o governo
alemão toma maior responsabilidade ainda pelos crimes que se aumentaram de
forma significativa neste momento, na medida em que a população sob seu governo
também aumenta. Diante disso, dá-se início à realocação de milhões de minorias
oprimidas como: judeus, negros, eslavos, homossexuais e outros, que são
deslocados para guetos e campos4 de trabalho forçado.
(...), em toda a Europa, muita gente esteve confinada pelo regime nazista, com frequência em condições sub-humanas. Tortura e fome eram quotidianas para os 20 milhões de prisioneiros de muitos campos. Esses campos na Europa desempenhavam funções distintas: 30 mil deles eram destinados a trabalhos forçados. Existiam ainda 1.150 guetos de judeus, 980 campos de concentração, mil campos de prisioneiros de guerra e 500 bordéis de prostituição forçada. Além desses, havia diversos campos voltados para a “germanização” dos prisioneiros, ou seja, sua “educação ariana”. Neles, as mulheres eram forçadas a abortar, doentes psíquicos eram mortos como forma de “eutanásia”, e prisioneiros reunidos para serem transportados para os campos de extermínio. (WHALTER, 2013).
3 Tais leis se estendiam a alemães que tivessem o grau de parentesco de até três ou quatro avós
judeus, assim, estes aos olhos da lei se encaixavam como indivíduos judeus, sofrendo assim, a aplicação da lei. Dessa maneira, mesmo que o individuo em si não seguisse a religião judaica, devido ao histórico familiar, este se encaixava no perfil de aplicação da norma.
Link para acesso deste e demais documentos oficiais: https://www.ushmm.org/information/exhibitions/online-exhibitions/special-focus/nuremberg-race-laws-defining-the-nation/documents
4 A apresentação de provas documentais acerca dos campos de concentração foram um dos grandes
auxílios da promotoria no processo do julgamento.
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Em 1942, foi acordado por Adolf Hitler, H. Himmler, Reinhard Heydrich, H.
Goering, Adolf Eichmann, entre outros oficiais do governo alemão, a conhecida
“solução final” de populações inteiras pela Europa. Este é considerado um dos
piores atos e maiores crimes contra a humanidade já exercido, sendo este, um
marco também do momento em que os nazistas começam a perder a guerra
(HOLOCAUST ENCYCLOPEDIA, 2019).
Não se tem um número certo das vidas tiradas pelo extermínio em massa
promovido pela solução final do governo nazista, contudo, estima-se que foram
assassinados cerca de seis milhões e meio de seres humanos. O número
exorbitante de mortes está relacionado à maneira com que o governo Alemão
tratava essas minorias, tendo em vista a realização de experiências médicas,
torturas e maus tratos, além de submeter tais indivíduos a más condições de vida
como falta de alimentação, doenças e frio intenso. Já num momento final do
processo de arianização da população o governo fez uso intenso de câmaras de gás
e fuzilamentos, a fim de acelerar o andamento do plano. (HOLOCAUST
ENCYCLOPEDIA, 2019).
2.1 O Contexto de criação do Tribunal
Eu ouso prever que, com o passar do tempo, ouviremos mais sobre Nuremberg do que menos, e que, em um sentido muito real, a conclusão dos julgamentos marca o começo, e não o fim, de Nuremberg como uma força de políticas, direito e moral (PRIEMEL; STILLER, 2012. Tradução nossa
5).
Diante disso, no dia 8 de maio de 1945, a Alemanha se rende de maneira
incondicional aos aliados devido à captura de Berlim pelo governo soviético e o
suicídio de Adolf Hitler. Assim, em junho de 1945, as Quatro Potências vencedoras
dissolvem o governo alemão6, por meio da “Declaração Referente à Derrota da
Alemanha e Assunção de Autoridade Suprema pelas Potências Aliadas”, assumindo
dessa forma, autoridade sobre a Alemanha (ZOCOLER, 2013).
A concepção do Tribunal de Nuremberg pode ser entendida a partir das
relações de poder do sistema internacional vigentes no período de 1945, período 5 Traduzido: “I venture to predict that as time goes on we will hear more about Nuremberg rather than
less, and that in a very real sense the conclusion of the trials marks the beginning, and not the end, of Nuremberg as a force of politics, law, and morals.”
6 Chefiado pelo Almirante Karl Doenitz, que foi nomeado por Hitler como seu sucessor em seu
testamento.
10
esse reconhecido pelo fim da Segunda Guerra Mundial e do período totalitarista na
Alemanha (1933-1945). Diversos foram os crimes cometidos durante o período da
Alemanha nazista, tais como a perseguição de judeus, ciganos, eslavos e membros
de outras etnias, além da perseguição de todo aquele que demonstrava oposição ao
plano do Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães (NSDAP) e do
Estado constituído a partir da liderança de Adolf Hitler (ZOCOLER, 2013; COSTA,
1999).
É necessário fazer tal contextualização uma vez que, com o fim da Segunda
Grande Guerra o grupo de nações vencedoras da guerra, sendo estes os Estados
Unidos, Inglaterra, França e a União Soviética (URSS), propuseram a criação de um
tribunal de exceção para julgar uma lista de autoridades nazistas de acordo não
apenas com os diversos crimes que haviam cometido, mas também responderiam
por todo um sistema o qual faziam parte. O tribunal é questionado em diversos
aspectos, principalmente na quebra da ideia vigente até então de que uma pessoa
não poderia ser julgada criminosa ou culpada sem que houvessem leis que
anteriormente criminalizassem tais ações, conforme o princípio legal “nullum crimen
poena sine lege previa”. Nuremberg fora contra esse princípio se dispondo, dessa
forma, a fazer um julgamento aplicando normas jurídicas ex post facto. Diante disso,
o Estatuto de Londres de 1945 infringe tal princípio, tendo em vista a gravidade dos
crimes cometidos pela Alemanha que nunca antes na história da humanidade se
tinha visto (ZOCOLER, 2013; COSTA, 1999).
Contudo, é válido ressaltar que o tribunal recebeu diversas críticas devido à
escolha de juízes que compuseram7 a mesa para julgamento, uma vez que o grupo
de nações que reclamaram a necessidade do julgamento haviam praticado crimes
também contra a população durante o mesmo período, logo fere o princípio da
imparcialidade dos juízes. É importante ressaltar exemplos como o lançamento das
bombas nucleares pelas forças armadas dos Estados Unidos sobre o Japão nas
cidades de Hiroshima e Nagasaki, atrocidade reconhecida pela quantidade de
mortes e pelo incontável número de pessoas que foram afetadas pela radiação
espalhada pelas bombas. Diversos outros exemplos podem ser dados de ataques
7 Portanto, como representante dos Estados Unidos da América tinha-se o juiz Francis Biddle; como
representante do Reino Unido, o juiz Sir Geoffrey Lawrence; da França, Henri Donnedieu de Varbres
e, por fim, como representante da União Soviética, o Major-General Iona Nikitchenko.
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proferidos pelos Estados Unidos que resultaram em inúmeras mortes, como o
bombardeio na cidade alemã de Dresden, que exterminou a população que ali vivia,
além de diversos outros ataques em regiões da Europa. Tais extermínios foram
duramente criticados durante o tribunal pelos réus e seus advogados, bem como
pelos demais participantes do tribunal, questionando a legitimidade do mesmo. Além
destas, o tribunal também recebeu duras críticas quanto ao limitado direito de defesa
dos réus, sendo esta uma característica de tribunais de exceção, além da já
mencionada acusação de sua ilegalidade pela violação da legislação, ao adotar uma
legislação post facto (ZOCOLER, 2013).
Ademais, a ausência de recursos como o duplo grau de jurisdição do tribunal,
que pode ser entendido como a “possibilidade de reexame, de reapreciação da
sentença definitiva proferida [..] por outro órgão de jurisdição que não o prolator da
decisão”. Ou seja, significa a possibilidade de reanalise da sentença determinada
pelos juízes, o que não aconteceu em Nuremberg, sendo este um agravante das
críticas feitas ao tribunal, uma vez que a lei supramencionada faz parte dos
princípios do direito (GUANDALINI apud SÁ, 2018).
Ainda, o descumprimento quanto à irretroatividade da norma penal foi um
ponto observado entre os estudiosos acerca da condução do tribunal aqui relatado,
que se entende pelo fato de as leis nunca retroagirem para prejudicar uma pessoa.
Mediante a criação da Carta de Londres vê-se um claro desrespeito desse princípio
legal, tendo em vista que esta determina a criação do tribunal com toda uma
estrutura moldada especificamente para o caso em questão (PASSOS, 2019).
Contudo, tais questionamentos não inviabilizaram o andamento do julgamento.
2.2 Tribunal de Nuremberg
Com a elaboração e ratificação do Estatuto do Tribunal, compilado pelas
Quatro Potências8 vencedoras, decidiu-se por fim, realizar o julgamento na cidade
de Nuremberg, reconhecida como berço cultural dos “costumes” nazistas, tendo
sediado grandes comícios do período anterior à guerra, assim como fora também
em Nuremberg, aprovada a lei que privava judeus alemães de sua cidadania. O
palácio da Justiça de Nuremberg, por ser um dos únicos edifícios em boas
8 Estados Unidos, França, União Soviética e Inglaterra.
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condições, mediante uma Alemanha devastada pela guerra, foi o lugar escolhido
para sediar o tribunal (ZOCOLER,2013).
No que tange ao procedimento do tribunal de Nuremberg, é necessário
ressaltar, por se tratar de um tribunal anterior à existência do sistema da
Organização das Nações Unidas (ONU), se encaixa na categoria de um comitê ad
hoc, em tradução literal, “para este fim”. Se caracteriza como tribunal de exceção
uma vez que fora desenvolvido post facto, ou seja, após a ocorrência dos atos que
irá se propor a julgar, contendo jurisdição e regras próprias por tempo determinado e
que se opõe à constituição do país em que ocorrera o crime a ser julgado. Assim,
Nuremberg se encaixa no conceito de tribunal de exceção justamente por ter sido
pensado e desenvolvido, com procedimentos e jurisdição próprias, que não seguem
as diretrizes de um tribunal comum. Sendo, anterior ao Direito Internacional Penal9,
portanto não se dispunha de um órgão ou instituição que regulamentasse no âmbito
internacional as punições aos crimes cometidos no interno dos países, aos olhos do
internacional.
Por fim, seguido de semanas de discussões acerca do destino dos
representantes oficiais da Alemanha Nazista, os Aliados em 8 de agosto de 1945,
concluem o Acordo de Londres, que declara a necessidade de um Tribunal Militar a
fim de realizar o julgamento de criminosos de guerra que não dispõem de uma
localidade geográfica em particular, sejam estes acusados pelos crimes de maneira
individual ou ainda por sua capacidade como membros de organizações que
promoveram a realização dos crimes contra a humanidade, a paz e de guerra.
(ZOCOLER, 2013).
Assim como acordado, dá-se início ao Tribunal Militar Internacional que seria
sediado em Nuremberg10, sendo apresentadas acusações a 24 oficiais da frente de
liderança nazista, sendo estes Hermann Goering (herdeiro indicado por Hitler),
Rudolf Hess (vice-líder do Partido Nazista), Joachim von Ribbentrop (ministro das
9 Ramo das ciências jurídicas que trata dos assuntos criminais na ordem mundial, jurisdição e
competência para julgamento e aplicação de sanções por órgão vinculados à justiça internacional devidamente reconhecida.
10 Sendo composto por quatro juízes advindos de cada uma das Quatro potências vencedoras, sendo
estes: Lord Geoffrey Lawrence (Reino Unido), Francis Biddle (Estados Unidos), Henry Donnedieu de Vabres (França) e Iona T. Nikitchenko (União Soviética) ; composto também por quatro promotores principais: Robert H. Jackson (Estados Unidos), Francois de Menthon (França), Roman A. Rudenko (União Soviética) e Hartley Shawcross (Grã- Bretanha).
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relações exteriores), Wilhelm Keitel (chefe das forças armadas), Wilhelm Frick
(ministro do interior), Ernst Kaltenbrunner (chefe das forças de segurança), Hans
Frank (governador-geral da Polônia ocupada), Konstantin von Neurath (governador
da Boêmia e da Morávia), Erich Raeder (chefe das forças navais), Karl Doenitz
(sucessor de Raeder), Alfred Jodl (comando das forças armadas), Alfred Rosenberg
(ministro dos territórios ocupados do leste), Baldur von Schirach (chefe da Juventude
Hitleriana), Julius Streicher (nazista, editor antissemita radical), Fritz Sauckel (chefe
da alocação de trabalhadores escravos), Albert Speer (ministro de armamentos) e
Arthur Seyss-Inquart (comissário para a Holanda ocupada). (HOLOCAUST
ENCYCLOPEDIA, 2019; ZOCOLER, 2013).
O Tribunal de Nuremberg teve cerca de dez meses de duração, foi um dos
julgamentos mais documentos da história e teve seu veredicto anunciado em 1 de
outubro de 1946, na qual decretou a pena de morte para 12 dos réus acusados
(Goering, Ribbentrop, Keitel, Kaltenbrunner, Rosenberg, Frank, Frick, Streicher,
Sauckel, Jodl, SeyssInquart e Bormann); três foram condenados à prisão perpétua
(Hess, o ministro da fazenda Walther Funk, e Raeder); quatro receberam penas de
dez a vinte anos de prisão (Doenitz, Schirach, Speer e Neurath) e por fim, o tribunal
absolveu três do acusados, sendo estes: Hjalmar Schacht (ministro da fazenda),
Franz von Papen (político alemão que desempenhou um papel importante na
nomeação de Hitler como chanceler) e Hans Fritzsche (chefe de imprensa e rádio)
(HOLOCAUST ENCYCLOPEDIA, 2019).
2.3 Tribunal Militar Internacional de 1945
Para tornar possível o encaixe de dez meses de duração do tribunal dentro dos
dias de nossa simulação, faremos algumas modificações no processo de
moderação.
Primeiro, nossa simulação será dividida por crimes, dessa forma, em cada um
dos dias de simulação serão apresentados pela promotoria as acusações diante do
crime que será discutido acerca do réu. Ou seja, no primeiro dia discutiremos as
acusações acerca dos crimes contra a humanidade, portanto, todos se posicionarão
dentro de seus respectivos papéis para a discussão a respeito de tais crimes, e
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assim por diante nos dias seguintes. Ainda, cabe aqui dizer que o comitê irá dispor
de 15 delegações ao todo, sendo 5 promotores, 5 réus e 5 advogados.
Outra relevante mudança se dá na forma de moderação. Este será um comitê
de moderação por lista de chamada, seguindo a ordem na qual primeiro será
concedido a palavra à delegação que for promotor, em seguida ao réu e por fim aos
advogados. Será um sistema rotatorial, na qual se organizará pela ordem dos réus e
seus respectivos promotores e advogados. Além disso, as discussões se passarão
em língua portuguesa e adotaremos o sistema de duplas, a fim de tornar o debate
mais fluido.
É válido ressaltar que o papel de juízes do tribunal caberá à mesa, composta
pela diretora e os respectivos diretores assistentes. Consoante a isso, faz-se
necessário reafirmar que apesar desta ser uma simulação do que ocorreu em
Nuremberg- como já supramencionado, têm-se os veredictos conferidos à época -
os juízes (mesa) buscarão ser imparciais em toda a discussão e principalmente no
momento do resultado. O julgamento será, assim, conforme os documentos e
argumentos desenvolvidos pelas delegações, podendo dessa maneira, chegar a
sentenças divergentes daquelas conferidas em Nuremberg em 1945.
3. APRESENTAÇÃO DO COMITÊ
O comitê contará com 15 delegações ao todo, que serão divididas em 3 blocos,
sendo os promotores, advogados e réus, cabendo à mesa o papel de juízes do
tribunal. Como supramencionado, as delegações serão divididas em duplas,
totalizando 30 delegados e 15 delegações para a realização da simulação.
3.1 Promotoria
O fato é que o depoimento dos acusados removeu qualquer dúvida de culpa que, devido à natureza e magnitude extraordinárias desses crimes, pode ter existido antes de eles terem falado. Eles ajudaram a escrever seu próprio julgamento de condenação. (YALE, 2019)
11.
O papel da promotoria nesta simulação é de acusação contra os réus. Assim
sendo, é dever da delegação preparar os discursos de abertura, uma vez que estes
11
The International Military Tribunal do Germany. Document Collection. Disponível em: <http://avalon.law.yale.edu/imt/07-26-46.asp>.
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explicitarão as principais acusações feitas aos réus perante o tribunal, dando início,
dessa maneira, às discussões a serem desenvolvidas.
Assim, é necessário dizer que os discursos iniciais desta delegação serão
considerados como seu Documento Oficial de Posição (DPO), devendo conter de
maneira sintetizada as acusações mediante os crimes aos quais o réu acusado
cometeu.
Consoante a isso, recomenda-se aos procuradores que utilizem de provas
irrefutáveis, como a utilização de provas documentais explícitas e emotivas, tais
como fotos e filmagens disponíveis, feitas por fotógrafos aliados12; além disso, a
utilização de documentos escritos oficiais, ou seja, que demonstram a culpa de
determinado réu pela assinatura em determinados documentos; é necessário ter
consciência de que os réus somente aqui julgados não possuem as mesmas
responsabilidades, uma vez que com a expansão do III Reich, a responsabilidade
pelos crimes ampliou-se significativamente e organizações também foram
incriminadas no julgamento, tais como a GESTAPO, a SD (Serviço de segurança), a
Organização dos Líderes Políticos do NSDAP, o Alto Comando das Forças armadas
e o próprio governo de Hitler.
3.2 Réu13
Uma das principais diferenças que se tem dentro do Tribunal de Nuremberg,
sendo este um tribunal de exceção, fora a participação/ relato aos olhos do acusado
sobre o que está sofrendo acusação, uma vez que mediante uma Alemanha
devastada e completamente sigilosa acerca do que se passava realmente dentro de
seu território, a participação dos réus para contar a história foi de extrema
importância, além da oportunidade de desenvolver seu próprio argumento acerca do
que estaria sendo incriminado. (ZOCOLER, 2013).
As lideranças nazistas que aqui serão julgadas se dividiam entre a parte
administrativa, empresariado e Forças Armada Alemãs, sendo que em alguns casos
determinada liderança se encaixou em mais de um dos setores do Estado Nazista.
12
Grande parte de fotos e informações se encontram disponíveis no Museu do Holocausto: <https://www.ushmm.org/>.
13 Ver seção dos advogados quanto às recomendações.
16
Muito se especulou acerca daqueles que iriam ocupar os bancos dos réus, sendo o
principal nome, o de Hitler. Contudo, juntamente a diversos outros indivíduos que
ocupavam os postos oficiais do governo nazista, muitos haviam desaparecido
quando ocorreu a derrota da Alemanha, nomes como o de Josef Goebbels e
Heinrich Himmler, respectivamente ministro da propaganda e chefe da SS já haviam
cometido suicídio. Era de costume dos réus acusarem estes entre outros nomes
desaparecidos, os verdadeiros culpados pelo que estavam sendo acusados.
Entretanto, apesar das figuras de destaque, haviam muitos oficiais e ex-membros do
governo nazistas ainda vivos, assim, iniciou-se com uma lista de 100 nomes, até que
se diminui gradativamente para 24 réus indiciados. Por fim, o comitê englobará
apenas 5 réus, de maneira que estes foram acusados de cometerem os 3 crimes a
serem julgados no tribunal. Assim, os réus acusados representam as mais diversas
esferas de organização do governo nazista, desde áreas da política até militares.
3.3 Advogado
Em Nuremberg cada réu do processo recebera uma lista de nomes com
possíveis advogados para compor a defesa, contudo, tais nomes foram de difícil
acesso uma vez que muitos resistiram por medo de sofrer as represarias da mídia e
da opinião pública alemã em si, ainda mais tendo em vista o fim tão recente do
regime. Fora relatado também alguns problemas/ desentendimentos dos advogados
com os réus, complicando ainda mais o andamento do tribunal.
Neste comitê será delegado um advogado a cada réu, sendo assim, somente
5 delegações ocuparão a posição de advogado. Tal medida fora tomada tendo em
vista que seria inaproveitável na simulação a utilização de mais de um advogado
para um único réu.
Assim, recomenda-se tanto aos réus quanto aos advogados que façam uso
dos principais argumentos utilizados pelas lideranças nazistas que foram: o
cumprimento de ordens do Führer, uma vez que estavam inseridos na hierarquia do
governo não poderiam contrariá-la, caso contrário, corriam risco de serem
executados por traição ao governo; a transferência de culpa por diversas acusações
aos mortos ou que não estavam presentes no momento do julgamento por haverem
desaparecido; argumentaram ainda, algumas lideranças dizendo que não sabiam do
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que ocorria de fato dentro do território, devido à complexidade do sistema e o alto
sigilo das operações; ainda, argumentaram que devido ao pouco poder do cargo
ocupado não dispunham de influência suficiente para decidir acerca da morte e vida
de tantos seres humanos e por fim, algumas lideranças buscaram desacreditar os
juízes acerca dos números exorbitantes de mortes, alegando que provavelmente os
dados estavam alterados. (HOLOCAUST ENCYCLOPEDIA, 2019).
Essas são algumas das tentativas de defesa utilizadas durante o processo,
mas várias outras evidências que surtiram grande efeito na decisão dos juízes
também foram utilizadas e que os senhores delegados podem e devem fazer uso,
desde que os apresentem como documentos comprovadamente oficiais.
Por fim, é dever do advogado preparar o detalhamento da defesa, em que, na
nossa simulação serão considerados como Documento de Posição Oficial (DPO),
que devem conter partindo da dinâmica de discussão por crime, a defesa sintetizada
do réu sob a responsabilidade do advogado. É permitido deixar apenas explanações
gerais, podendo aprofundar seus argumentos durante o debate. Ademais, no final do
documento o advogado deverá acrescentar informações sobre o personagem o qual
está representando.
3.4 Crimes
Conforme definido pelos Acordos de Londres assinados em 08 de agosto de
1945 pelos Estados Unidos, União Soviética, França e Inglaterra, têm-se a
concepção do tribunal de Nuremberg e suas diretrizes. Assim, como supracitado,
este se caracteriza por um tribunal ad hoc, dispondo de caráter temporário, que
objetivava julgar crimes cometidos anteriormente à sua concepção, sendo então, ex
post facto. Assim sendo, define-se por meio da Carta do Tribunal Militar
Internacional que o julgamento seria baseado nos crimes previstos em seu artigo 6º:
Art. 6º - O Tribunal (...) será competente para julgar e punir quaisquer pessoas que, agindo por conta dos países europeus do Eixo, tenha cometido, individualmente ou sob o título de membros de organizações, qualquer dos crimes seguintes. Os seguintes atos, ou qualquer um entre eles, são crimes submetidos à jurisdição do Tribunal e elencam uma responsabilidade individual [...]. (ZOCOLER, 2013 apud ESTATUTO DO TRIBUNAL DE NUREMBERG, 1945).
São eles os crimes contra a paz, que se caracterizam pelo “saber, direção,
preparação, desencadeamento ou a persecução de uma guerra de agressão” seja
18
ela violadora de tratados, garantias ou acordos internacionais, ou ainda a
participação em um plano concertado ou em um complô para a realização de
qualquer um dos atos precedentes. Em suma, se caracteriza pelo planejamento,
início, preparação de uma guerra de agressão ou ainda de violação de tratados
internacionais, ou seja, o dispêndio de forças para promover de alguma maneira o
conflito em si.
Já os crimes de guerra se caracterizam pelo conhecimento das violações de
leis e costumes de guerra. Assim:
[...]Tais violações compreendem, sem limitar-se a estes, o assassinato, os maus-tratos e a deportação para trabalhos forçados, ou com qualquer outro objetivo, das populações civis nos territórios ocupados, o assassinato e os maus-tratos dos prisioneiros de guerra ou de pessoas no mar, a execução de reféns, a pilhagem de bens públicos ou privados, a destruição sem motivo de cidades e vilas, bem como a devastação não justificada pelas exigências militares[...]. (ZOCOLER, 2013 apud ESTATUTO DO TRIBUNAL DE NUREMBERG, 1945).
Nota-se significativa semelhança entre os crimes de guerra e os crimes contra
a humanidade que veremos a seguir. É importante destacar que a principal diferença
entre esses se dá, num primeiro momento, a partir da concepção de que diante de
um contexto de guerra existe a preocupação com a população civil e a necessidade
de se estabelecer os limites do trato dos governos para com tais populações, uma
vez que não é somente por ter seu território conquistado, que a população que ali
residia deixa de dispor de dignidade e da necessidade de ser tratado da maneira
respeitosa, como muitas das vezes era por seu governo anterior. A semelhança com
os crimes contra a humanidade se baseia justamente no trato conferido aos
indivíduos, uma vez que este, como veremos abaixo, delimita independente do
contexto a ação do governo para com sua população. Diante disso, se enquadram
como crimes contra a humanidade:
[...] a saber, o assassinato, o extermínio, a escravização, a deportação e qualquer outro ato desumano cometido contra quaisquer populações civis, antes ou durante a guerra; ou ainda as perseguições por motivos políticos, raciais ou religiosos, cometidos em prosseguimento a todos os crimes sob a competência do Tribunal Internacional, ou a eles vinculados, mesmo que tenham tais perseguições constituído ou não uma violação do direito interno do país onde foram perpetradas. (ZOCOLER, 2013 apud ESTATUTO DO TRIBUNAL DE NUREMBERG, 1945).
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Cabe ainda ser dito que, cada réu seria julgado primeiro diante da perspectiva
dos seus atos individuais e, em um segundo momento, de maneira coletiva, ou seja,
seria também julgado pelas condutas das forças alemãs empregadas durante a
Segunda Guerra Mundial.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apesar de esta ser uma temática muito importante de ser discutida, analisada
e, para nossos fins, de ser simulada, creio que é necessário dizer que esse tema é
extremamente delicado, uma vez que trata de um dos maiores crimes já cometidos
na história. Assim, divergindo-se um pouco das outras simulações o desafio aqui
será representar personagens históricos que tiveram ações reconhecidas, bem
como as consequências dessas ações. A proposta dessa simulação não é de
necessariamente imitar tais personagens, mas ter em consciência que este comitê
retoma a um período de grande tensão o qual os senhores delegados não possuem
a certeza de qual resultado trará as decisões tomadas ao longo do processo,
cabendo então aos senhores a responsabilidade de alterar ou não o curso e os
resultados deste julgamento.
Ainda, tendo em vista a delicadeza da temática, sendo este o julgamento de
figuras políticas que participaram de um regime totalitário que assassinou e torturou
milhões de seres humanos, é de suma importância que antes de qualquer coisa os
senhores tenham respeito a esse momento histórico e, por consequência, respeito a
todas as vidas perdidas que farão parte de uma série de argumentos deste tribunal.
Assim, este tribunal além de sua importância histórica, expressa também o respeito
à memória daqueles que se comprometeram a julgar tais representantes na tentativa
de defender a memória dos que sofreram os horrores dos crimes nazistas.
É importante salientar que não serão toleradas referências a símbolos
Nazistas, portanto, é expressamente proibido fazer o uso da Suástica em suas
vestimentas e/ou pertences, de realizar cumprimentos, saudações e outras práticas
relacionadas ao movimento durante os dias de simulação, de maneira a manter o
respeito à memória daqueles que sofreram com as atrocidades do regime Nazista.
Ademais, em especial àqueles que ficarão encarregados de representar as 5
lideranças nazistas, é recomendável que os senhores se mantenham em
concordância ao perfil dos personagens, de maneira que evitem torna-los figuras
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ridicularizadas, ou ainda que tentem torna-los algo além do que foram. De forma
sucinta, a orientação que a mesa lhes confere é a de que mantenham a naturalidade
do comitê, não tentando fazer nem mais nem menos do que aquilo que realmente
aconteceu.
5. QUESTÕES RELEVANTES
Devido à natureza do comitê de ser um tribunal, é pouco provável que ocorra de fato
uma fuga do tema central de discussão, contudo algumas ponderações devem ser
feitas a fim de que caso esta ocorra, esteja de antemão mencionado que os
principais tópicos que devem guiar as discussões são:
Aos Promotores
o Quais os principais argumentos cabíveis de serem utilizados a fim de
comprovar a culpa do réu que estou encarregado de sustentar a
acusação?
o Quais os principais documentos que criam respaldo jurídico para
sustentar minha acusação?
o Diante da posição do réu na distribuição de poder do governo Alemão,
de que maneira posso embasar meu argumento acusatório na medida
em que sua posição influencia diretamente no acesso/conhecimento ou
não da informação?
Aos Réus
o Tendo em vista a pouca rudimentação da organização de poder do
governo Alemão, como posso sustentar meu argumento de defesa
tendo em vista minha posição nessa distribuição?
Aos Advogados
o Em concordância ao ponto de vista apresentada pelo réu que defendo
quais documentos me auxiliarão a sustentar meu argumento?
De fato, não se sabe os rumos que a discussão tomará nos dias de realização
do comitê, apesar disso, é imprescindível saber que o comitê se centra na busca
pela condenação ou absolvição dos réus que passarão pelo julgamento. Diante
disso, não cabe a este comitê o debate acerca do melhor modelo de organização
política para a sociedade e os demais tópicos que perpassam o assunto, mas sim,
21
como este guia de estudos buscou estruturar e explicitar, a culpa ou inocência dos
réus acusados dos crimes supramencionados.
22
REFERÊNCIAS
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23
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WALTHER, Clara. Estudos provam a existência de sete vezes mais campos nazistas. 2013. Disponível em: < http://www.cartacapital.com.br/internacional/estudos-provam-existencia-de-sete-vezes-mais-campos-nazistas/>. Acesso em: 10 de Jan. 2019
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24
TABELA DAS REPRESENTAÇÕES
Alfred Rosenberg François de Menthon Fritz Sauckel
Fritz Sauter Gunther Von Rohrscheidt Hermann Goering
Joachim Von Ribbentrop Otto Stahmer Robert H. Jackson
Robert Servatius Roman Andreyevich Rudenko Rudolf Dix
Rudolf Hess Sir Hartley Shawcross Telford Taylor