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Gráfico: 1 . M.S. – SUPERINTENDÊNCIA DE CAMPANHAS DE SAÚDE PÚBLICA – SUCAM CASOS POSITIVOS DE PESTE HUMANA OCORRIDOS NO BRASIL – 1935/1976

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Gráfico: 1.

M.S. – SUPERINTENDÊNCIA DE CAMPANHAS DE SAÚDE PÚBLICA – SUCAM

CASOS POSITIVOS DE PESTE HUMANA

OCORRIDOS NO BRASIL – 1935/1976

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Gráfico: 2.

M.S.

— SUPERINTENDÊNCIA DE CAMPANHAS DE SAÚDE PÚBLICA – SUCAM

CAMPANHA CONTRA A PESTE

DISTRIBUIÇÃO MENSAL DO NÚMERO DE CASOS POSITIVOS DE PESTE HUMANA OCORRIDOS

NO BRASIL 1973-1976

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F E B R E A M A R E L A

1. PROBLEMÁTICA

Desde 1942 a febre amarela, no país, passou a se confinar às áreas selváticas, enzoótica e epizoótica, alcançando o homem acidentalmente. A erradicação do vetor urbano, durante estes últimos anos, alcançou esse resultado satisfatório.

Erradicado 2 vezes do país, em épocas diferentes, o Aedes aegypti, seu único transmissor urbano, voltou, agora, a reinfestá-lo, pela cidade de Salvador, originário do exterior, mas vêm sendo combatidos os focos detectados pela rede de vigilância.

Resta proteger o homem contra a doença transmitida por vetores silvestres. A vacinação antiamarílica, excelente recurso preventivo, ainda não é suficientemente procurada pela populaçãoexposta, nem mesmo por parte de grupos pioneiros que penetram nas zonas de risco, por turismo ou por negócios, o que, naturalmente, os expõem à infecção. O Ministério da Saúde tem tornado fácil o acesso à vacinação.

2. DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA

A ocorrência da febre amarela silvestre só se pode dar naquelas faixas territoriais em que circula o seu vírus, ou seja, a área enzoótica, dentro da Amazônia e a área epizoótica, em partes das regiões centro-oeste, leste (meridional) e sul. Nesta última, ocorrem surtos epizoóticos cíclicos eo risco humano aumenta então, por se tratar de territórios em franco desenvolvimento agropecuário, com maior densidade demográfica e crescente fluxo migratório.

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3. ESTRATÉGIA E METODOLOGIA

A estratégia da profilaxia da febre amarela é orientada contra a forma urbana e a silvestre, embora seja uma só e única doença, com o mesmo agente etiológico, um arbovirus, sendo apenas diferentes os vetores.

Impedir a reintrodução do Aedes aegypti,vacinar as populações expostas e manter serviço permanente de vigilância anti-aegypti são as medidas estratégicas, vigentes no país.

O Aedes aegypti é um mosquito doméstico ou peri-domiciliar, sendo o único transmissor urbano. Já se o erradicou, por 2 vezes, de Belém e São Luiz, através de longo e laborioso trabalho, em que milhões de criadouros e milhares de prédios e anexos, veículos, embarcações, aviões, receberam tratamento com larvicidas ou inseticidas, até desaparecer o último foco.

Em 1976 detectou-se um foco larvário de Aedes, no porto de Salvador, introduzido do exterior, como anteriormente. As mesmas medidas adotadas com amplo êxito, na última infestação, estão sendo utilizadas no combate ao novo foco.

A aplicação de Abate na água potável e de Baytex e Sumithion no tratamento perifocal dos demais depósitos de água, vão destruindo o mosquito em sua forma larvária.

Grande e profundo trabalho é a inspeção de todos os focos potenciais, constituidos por qualquer recipiente que contenha água, na busca de larvas, para destruí-las, bem como em casas, anexos, meios de transporte, etc., na procura da forma alada, visando à sua eliminação. Recipientes desnecessários (latas, etc.) são logo eliminados.

Contra o risco de transmissão da febre amarela silvestre, ao homem, que entra acidentalmente na cadeia epidemiológica, a vacinação preventiva, de alto poder imunizante,

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por período de 10 anos, é a principal arma utilizada como já o vem sendo em milhões de pessoas, aplicada pela SUCAM.

A vigilância epidemiológica apoia-se, também, na viscerotomia para diagnóstico anatomo-patológico de febre amarela, de pessoas falecidas com diagnóstico suspeito ou que tenham tido, pelo menos, onze dias de doença febril, sem diagnóstico clínico.

4. SITUAÇÃO ATUAL

A partir de janeiro de 1973, quando foi capturado e morto o último exemplar adulto de Aedesaegypti, em Belém do Pará, não mais foi encontrado nas áreas anteriormente por ele infestadas, no Pará, Maranhão e ao longo da Belém-Brasília e outras vias de transporte, da mesma área.

Em junho de 1976, no armazém nº 9 do Portobrás, em Salvador, era detectado um foco larvário de Aedes aegypti, significando infestação, logo comprovada pelos serviços de entomologia. Iniciou-se de imediato, a estruturação de um programa de erradicação, que vem-se expandindo para alcançar integral cobertura.

No Rio, em um dos terminais de caminhões, descobriu-se um foco larvário, com o que reforçou-se a vigilância para maior controle desses terminais e para a destruição de qualquer foco na área delimitada.

Em 1976 registrou-se um só e único caso humano de febre amarela silvestre, ocorrido no Pará.

Na vigilância anti-aegypti foram trabalhados 172 municípios, com 2 positivos (Bahia) e 856 localidades,com 5 positivas. Inspecionaram-se 906.701 prédios, e 8 milhões de depósitos de água (de qualquer natureza). Foram desinsetizados 32.043 prédios e 195.322 depósitos, nos limites das áreas positivas.

Quanto à vacinação, foi aplicada em 1 milhão

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de pessoas na zona urbana e em 973.000 na zona rural.

As reinfestações anteriores embora localizadas em 2 Estados, constituiram grande preocupação a respeito do risco de difusão oferecido pelo vetor urbano da febre amarela.

A mesma caminhada recomeçou, desta vez, em Salvador, trabalhos de erradicação prosseguem, através de suas operações típicas: reconhecimento e destruição de focos atuais ou potenciais, desinsetização de casas, meios de transporte, etc.

De Salvador, partem, em média diária, 12.500 viaturas, de todos os tipos, e em todas as direções, para outras partes do país, o que exige rigorosa vigilância entomológica.

Não se pode, em verdade, esperar que a vigilância venha a controlar, em tempo muito limitado, toda essa movimentação, inclusive marítima ou fluvial, para impedir o aparecimento de focos em outras áreas. As suas atividades vêm sendo fortemente incrementadas e não cessarão em ritmo e intensidade, enquanto não se elimine o último foco do vetor urbano da febre amarela.

O Ministério da Saúde já vem estimulando a vacinação anti-amarílica, para que se amplie a sua cobertura, medida que afastará, ainda mais, o risco de ressurgimento de casos humanos, cada vez mais raros, pois em 1976 só se registrou um caso, que era de febre amarela silvestre. Ver tabela 1.

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Febre Amarela: Tabela 1.

MINISTÉRIO DA SAÚDE

SUPERINTENDÊNCIA DE CAMPANHAS DE SAÚDE PÚBLICA – SUCAM

DIVISÃO TÉCNICA – SERVIÇO DE PLANEJAMENTO, AVALIAÇÃO E ESTATÍSTICA

SÍNTASE DAS ATIVIDADE DA CAMPANHA CONTRA A FEBRE AMARELA NO BRASIL – 1976

(+) – Amostra não Procede de Posto.

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L E I S H M A N I O S E S

1. PROBLEMÁTICA

As leishmanioses estão representadas por duas doenças transmissíveis, etiológica e clinicamente diferenciadas, a visceral ou calazar e a tegumentar americana ou cutâneo-mucosa.

Muito embora os parasitos causadores de ambas pertençam a um só gênero, constituem espécies diferentes.

A endemicidade que essas duas parasitoses configuram, definem o seu interesse como problema de saúde pública, já não fosse a gravidade de que se podem revestir na patologia do indivíduo.

Considerando-se, também, a complexidade da cadeia de transmissão dessas parasitoses, cresce o seu interesse no sentido não só do seu controle, mas também da sua profilaxia.

As leishmanioses estão recebendo equacionamento, nos programas específicos do Ministério da Saúde, com vistas ao controle endêmico, já que é extensa a sua área de transmissão e afetam gravemente a saúde de seus portadores, além de desencadearem surtos epidémicos.

2. DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA

A distribuição das leishmanioses segue naturalmente a de seus vetores, diversos flebótomos, e têm sido assinaladas em diferentes unidades federadas.

O mapa nº 1, apresenta a distribuição já reconhecida de ambas as formas da doença, que têm acentuada pre-

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dominância no nordeste do país.

3. ESTRATÉGIA E METODOLOGIA

A estratégia do combate às leishmanioses baseia-se na dissociação da cadeia de transmissão. Elas são zoonoses envolvendo os agentes etiológicos, os reservatórios animais, os vetores e o homem.

São reservatórios da Leishamania donovani o homem, o cão e a raposa Lycalopex votulus, no maio doméstico e silvestre, respectivamente; o homem, o cão e o gato albergam a Leishmania brasiliensis, o que pode ocorrer, também, em roedores silvestres.

O controle da endemia e a redução da sua incidência apoiam-se na destruição dos vetores, com DDT aplicado nos domicílios, a eliminação dos reservatórios animais (domésticos) e o tratamento específico do homem atingido, visando à eliminação da L.donovani e da L.brasiliensis, mediante a aplicação de antimoniais pentavalentes, como a Glucantime, e recorrendo-se à anfotericina (Fungizone), em casos especiais.

Em situações epidêmicas o uso de inseticidas pela técnica de rociamento ultra-baixo volume (U.L.V.) é medida de alta importância.

4. SITUAÇÃO ATUAL

As diretrizes estratégicas vêm sendo observadas através da aplicação das medidas preconizadas.

O número de casos registrados em 1976 foi sensivelmente superior ao de 1975: 5.654 sobre 2.526, incluindo as duas formas da doença. Relaciona-se essa diferença com a melhoria do registro de casos na zona rural, mas, também, com a

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aproximação do homem de áreas silvestres, por demanda e implantação de projetos agropecuários, aumentando sensívelmente a incidência.

O Ceará, a Bahia e o Amazonas contribuiram com 89% dos casos, configurando claramente o caráter endêmico, com 2.570, 1.823 e 599 casos, respectivamente. Os demais, distribuiram-se principalmente pelo Pará (115), Amapá (32), Piauí (178), Paraíba (81), Espírito Santo (59), Rio de Janeiro (33) e Mato Grosso (40).

Em 1975 foram trabalhados 317 municípios, de 15 unidades federadas, identificando-se 2.664 casos, dos quais, só da forma tegumentar foram 2.526. Aplicaram-se 70.000 ampolas de Glucantime, no tratamento de casos.

Realizaram-se, também, inquéritos caninos em 1.265 localidades, sendo examinados 36.625 cães, dos quais foram positivos 465, procedendo-se à eliminação de 1.006 deles, inclusive os suspeitos, como é norma.

Em 85 inquéritos entomológicos realizados no nordeste foram capturados 2.249 flebótomos, identificados como P.longipalpis.

Em 1976, as atividades cobriram 235 municípios de 14 unidades federadas. Em 491 localidades trabalhadas foram identificados 5.654 casos, dos quais 5.561 da forma tegumentar e 93 de calazar, havendo-se proporcionado o devido tratamento. No Maranhão, em área de projetos com desmatamento, houve um surto com cerca de 200 casos da forma tegumentar.

Na mesma oportunidade examinaram-se 21.807 cães, com 116 positivos (0,5%), sendo eliminados 532 (2,4%) deles.

Os inquéritos entomológicos resultaram na captura e identificação de 1.432 exemplares de Lutzomyalongipalpis.

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5. PERSPECTIVAS

A instalação de projetos de natureza agro-industrial na área selvática ou nas suas proximidades, em faixas endêmicas de leishmaniose tegumentar tende, naturalmente, a elevar a incidência dessa parasitose, e para evitá-lo serão incrementados as operações de ataque.

A presença de serviços de campo na área endêmica, borrifando casas para destruir os vetores, o tratamento do homem doente, fonte de infecção e a educação sanitária, como atividade de apoio, deverão chegar a um resultado de melhor controle da endemia, mesmo porque novas populações tenderão a estabilizar-se, tornando mais fácil a proteção dos moradores.

Está programada a instalação de laboratórios regionais, visando à melhoria e á maior rapidez nos exames para diagnóstico das leishmanioses, com o que o tratamento será mais precoce nos casos cadastrados, ao lado de outras medidas correlatas.

A admissão e treinamento de pessoal de campo em contingentes mais expressivos, já providenciados, constituem importante reforço aos trabalhos em desenvolvimento na área rural, particularmente nas proximidades das áreas silvestres ou de desmatamentos, visando à proteção do homem, em seu domicílio e peri-domicílio.

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T R A C O M A

1. PROBLEMÁTICA

Causado por micro-organismo do grupo de vírus atípicos "PLT" (psitacose-infogranulomatose-tracoma), a "Chlamydia tracomatis" tem características de bactéria e de vírus; é parasita obrigatoriamente intracelular. Apesar de seu baixo poder infectante tem vasta distribuição geográfica, incidindo em áreas de baixo nível sócio-econômico.

Doença das mais antigas da humanidade, o tracoma é uma ceratoconjuntivite transmissível, de evolução lenta, com lesões típicas constituidas por folículos, infiltração linfocitária e néoformação vascular da córnea. Os casos complicados, não tratados, terminam com sequelas cicatriciais invalidantes. Apresentando grande polimorfismo clínico a doença está condicionada a determinadas peculiaridades epidemiológicas que refletem o problema da pobreza e das más condições higiênicas dos grupos populacionais atingidos.

2. SITUAÇÃO ATUAL

Para avaliar-se a situação atual do tracoma no Brasil foi realizado inquérito epidemiológico de âmbito nacional abrangendo 315 micro - regiões homogêneas do país, tendo sido examinada amostra de 370.659 escolares, do grupo etário de 7 a 14 anos, em 383 municípios sorteados para investigações, em períodos letivos de 1974 e 1976. Ver tabela 1 e 2.

Os resultados tabulados registram as seguintes cifras globais: Prevalência de tracoma ativo (TR I, TR II e TR III) de 0,1% a 5,0% em 142 municípios; de 5,1% a 10.0% em 50; de 10,1% a 30,0% em 75; maior de 30,0% em 15 municípios e 101 municípios encontrados negativos. Cotejando-se os dados

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de inquéritos anteriores com os índices atuais observa-se que ocorreu nítida baixa na endemia até mesmo em áreas hiperendêmicas do Nordeste e Vale do São Francisco. A doença atualmente se apresenta clinicamente mais benigna, evoluindo para formas cicatriciais sem complicações potencialmente invalidantes.

Para se conhecer a gravidade relativa do tracoma em seus aspectos clínico e epidemiológico foi realizado inquérito em 52 antigos bolsões hiperendêmicos, fazendo-se o exame de amostra da população global afim de se conhecer a prevalência das formas do tracoma e das sequelas invalidantes por grupo de idade.

3. ESTRATÉGIA E METODOLOGIA

a) inquérito de prevalência; b) tratamento dos casos positivos; c) medidas profiláticas; d) educação sanitária; e) inquérito de avaliação.

As medidas profiláticas baseiam-se no controle das formas exsudativas contagiantes e de práticas de educação sanitária, para fomentar o uso da água e sabão na profilaxia desta doença transmissível. Quanto ao tratamento está limitado, atualmente, ao uso local de pomadas oftálmicas, á base de tetraciclinas, às quais o tracoma responde satisfatoriamente.

Para conhecimento da distribuição geográfica do tracoma, seus níveis de prevalência, são realizados inquéritos na coletividade escolar de novas áreas rurais. Nas regiões que vêm sendo trabalhadas realizam-se inquéritos de avaliação em amostras da população em geral.

A Educação Sanitária neste programa visa a motivar as populações para o problema das doenças oculares transmissíveis, particularmente do complexo tracoma-conjuntivite, incutindo-lhes hábitos de higiene.

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4. A ESTRATÉGIA OBJETIVA

1 - Desenvolver com prioridade o tratamento em massa e atividades de educação sanitária nos bolsões hiperendêmicos, e em outras áreas com Tracoma ativo, particularmente, localizados nos Estados do Pará, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Minas Gerais e Goiás.

2 - Intensificar atividades nas micro-regiões encontradas com índices acima de 30,0% nos Estados do Amazonas (1), Pará (6), Ceará (2), Pernambuco (4), Paraná (1) e Sergipe (1).

3 - Promover a formação de pessoal médico e auxiliar para continuidade das operações.

4 - Executar programa de educação sanitária nas comunidades problema, com ênfase para professores e líderes locais.

5. PERSPECTIVAS

Ao exame dos dados e índices atualmente levantados reconhece-se que a endemia declina, porém se apresenta em algumas áreas com caráter focal as quais ainda exigem atenção e cuidados especiais.

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Tracoma: Tabela 1.

MS/SUCAM

INQUÉRITO EPIDEMIOLÓGICO DE AVALIAÇÃO DE TRACOMA 1974/76

PREVALÊNCIA POR UNIDADES DA FEDERAÇÃO

RESUMO:

MICRO-REGIÕES - Programados: 317 pesquisados 315 (99,4%)

MUNÍCIPIOS – Programados: 380 pesquisados 383 (100,7%)

ESCOLARES - Programados: 344.418

Pesquisados: 370.659 (107,7%)

Positivos : 13.201 (3,6%)

dhm.

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Tracoma: Tabela 2.

MINISTÉRIO DA SAÚDE

SUPERINTENDÊNCIA DE CAMPANHAS DE SAÚDE PÚBLICA - SUCAM

INQUÉRITO EPIDEMIOLÓGICO DE AVALIAÇÃO

DO TRACOMA

NO BRASIL - 1974/76

RENDIMENTO, POR UNIDADES

DA FEDERAÇÃO

, DOS TRABALHOS

REALIZADOS EM RELAÇÃO

AO PROGRAMA ESTABELECIDO

(1) - Exclusivo Fernando de Noronha

(+) - Trabalho realizado em todas as Divisões Regionais de Saúde do Estado.

dhm.

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B A N C R O F T O S E

1. PROBLEMÁTICA

Muito embora tenham sido comprovados vários focos da doença em diversas cidades do litoral brasileiro (inquéritos da década de 50), atualmente as áreas endêmicas estão limitadas a 3 (três) Estados: Pará (Belém, Vigia, Soure e Cametá), Pernambuco (Recife) e Bahia (Salvador e Castro Alves).

Durante a fase aguda da doença é comum a presença de febre, linfangite, linfangectasia, linforragia, orquite, abcessos, etc. Em sua fase avançada pode causar lesões irreversíveis como a elefantíase, a linfocele, que incomodam e limitam a atividade do homem. O número de casos irreversíveis de elefantíase pode alcançar proporções de 2 a 5% e até 20%, segundo referências bibliográficas.

2. EPIDEMIOLOGIA E DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA

No Brasil é doença endêmica, típica de áreas urbanas, sendo o agente causal um verme nematóide a WUCHERERIA BANCROFTI, cujos embriões (microfilárias) apresentam periodicidade noturna na circulação periférica. O homem é o único reservatório conhecido do agente etiológico e o único vetor de importância epidemiológica comprovada é o Culex pipiens fatigans.

Os focos de maior importância eram os seguintes, conforme INQUÉRITOS INICIAIS, realização entre 1951 e 1955:

% POSITIVIDADE % INFES. VETORIALCidade de Belém (PA) 9,8 6,5 Cidade de Recife (PE) 6,9 7,3 Cidade de Castro Alves (BA) 5,9 3,9 Cidade de Florianópolis (SC) 1,4 2,4

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cidade de Barra de Laguna 9,4 – Localidade Ponta Grossa (SC) 13,9 10,8

Observa-se que nos focos com maior prevalência da endemia, a infestação vetorial era altamente significante. Os dados dos mencionados inquéritos inicial revelaram, por exemplo:

ÍNDICE DOMICILIÁRIO DO VETORBelém (PA) 86,7 % Recife (PE) 82,1 % Ponta Grossa (SC) 65,2 % Castro Alves (BA) 89,2 %

Um indicador epidemiológico importante e que foi determinado em todos os inquéritos realizados (1951-1955), foi a microfilaremia média, ou seja, a média de microfilárias (embriões) por amostra de 20 mm3 de sangue capilar das pessoas positivas. Para Belém foi de 18,2%, em Recife 14,9%, em Ponta Grossa 21,7%, em Castro Alves 9,1%, por exemplo:

O quadro nº 1 e o mapa anexo, mostram as áreas afetadas pela doença e sua distribuição geográfica, de acordo com os inquéritos iniciais de 1951/1955.

3. ESTRATÉGIA E METODOLOGIA

O propósito da Campanha Contra a Bancroftose é alcançar o controle da doença, através da redução gradativa da taxa de morbidade, como consequência da diminuição dos índices de transmissão, afetados pelas medidas de profilaxias direta, indireta e a proteção da população sucetível.

O combate está baseado tecnicamente na profilaxia da defesa, combatendo as microfilárias, reduzindo a microfilaremia a níveis inferiores aos de uma infestação útil da população vetorial, pela medicação dos portadores de microfila remia patente.

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Com base a uma revisão completa da estratégia da Campanha, feita pelo Ministério da Saúde no ano de 1975, o combate será complementado com a profilaxia de ataque com inseticidas fosforados empregados com a técnica de ultra-baixo volume e com larvicidas, em áreas focais de elevado índice de transmissão, dentro de cada localidade endêmica. Complementam as medidas de controle, ações gerais de saneamento do meio e de educação para a saúde.

Para a descoberta dos portadores de microfilaremia, são realizados inquéritos hemoscópicos, casa por casa, com o exame do total da população, de cada foco anualmente. Os positivos, recebem tratamento imediato com Filariosam (Hetrazam) e são controlados hemoscopicamente, até alcançar a negatividade. Pretende-se diminuir o ciclo de exame total da população, para semestral, na medida da disponibilidade de recursos.

4. SITUAÇÃO ATUAL

De uma maneira geral, a luta contra a bancroftose tem sido bem sucedida registrando-se uma diminuição gradativa da sua incidência.

Foi realizado em 1976 um novo inquérito em Santa Catarina, que abrangeu os três focos anteriores já conhecidos e outras localidades vizinhas. Com uma amostragem quase total da população, o resultado foi negativo, podendo-se considerar como extintos os focos de bancroftose nesse Estado. No mesmo ano, foi feito também inquérito no território do Amapá, com os resultados negativos para a endemia.

Nos dois principais focos, Belém e Recife, a evolução tem sido favorável. Em Belém, de uma prevalência de 19,9% em 1952, alcançou-se 1,2% em 1975 e 0,8% em 1976, com um volume de exames de 50% da população. A microfilaremia mé-

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dia, por portador, que no inquérito inicial (1951) era de 18,2%, baixou em estudos realizados em 1976 a 4,4%. E o índice geral de infecção do vetor, que era de 6,5% em 1951, baixou a 2,9%, de acordo com as investigações realizadas em 1976.

Em Recife, a evolução tem sido mais lenta, no entanto de uma prevalência de 6,9% em 1955, chegou-se a 2,2% em 1975 e a 1,8% em 1976. A microfilaremia média, que no inquérito inicial (1955) era de 14,9%, por pessoa positiva, baixou, em estudos feitos em 1976, a 9,9%.

Em Castro Alves, na Bahia, a prevalência que era de 5,9% em 1955, vem-se mantendo estacionária, em torno de 1,0%. Os trabalhos deverão ser reiniciados em Salvador e Castro Alves, no ano de 1978.

Em quadros e gráficos anexos, pode ser acompanhada a evolução do problema em Belém e Recife.

No presente ano, estão sendo repetidos os inquéritos em Manaus (AM) e São Luiz (MA).

5. PERSPECTIVAS

Com respeito às metas - num sentido global- visa-se continuar baixando o nível de endemicidade da doença nas populações dos focos existentes, através do tratamento dos portadores, do controle de vetores (diminuir a incidência), até alcançar a possível eliminação ou controle total da doença. Para exames hemoscópicos, a meta anual estima alcançar a 2 milhões de amostras e como meta de controle, aplicar o tratamento com Filariosam a todos os casos positivos, com acompanhamento parasitológico dos mesmos. Os indicadores de epidemiologia, determinarão as áreas focais onde deverão ser aplicadas as medidas de combate ao vetor.

As perspectivas, como os dados, estão indicando, são favoráveis. Pelo decréscimo dos índices de prevalência,

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da microfilaremia média e de infestação do vetor, tudo faz crer, que a estratégia de luta esta adequada e que na dependência da disponibilidade de recursos, o problema pode ser resolvido nos próximos anos.

ONCHOCERCA VOLVULUS – espécie de filária desconhecida no Brasil até 1972. Descobriu-se o primeiro foco, em 1973, na região do Toototobi (AM) e investigações realizadas posteriormente identificaram mais dois focos, o de Auaris e o da Serra dos Surucucus.

Os dos focos de Auaris e Surucucus, estão localizados na região extremo oeste do Território de Roraima, e o do Toototobi, no extremo norte do Estado do Amazonas, na fronteira com Roraima, próximo aos anteriores. É área habitada pelos índios yanomamas, cuja população em Território brasileiro é estimada em 2.5 mil índios. Está situada bem próxima à fronteira com a Venezuela, região também habitada pela mesma tribo de índios e com problema similar de Oncocercose.

O Ministério da Saúde organizou um programa de estudos intensivos e contínuos sobre o problema, visando determinar a melhor conduta para o controle da doença e para evitar a dispersão da endemia a outras áreas.

Participam das investigações as seguintes entidades do Ministério da Saúde: SUCAM e FSESP, e também outras entidades, tais como, a FUNAI, o INPA, e a Secretaria de Saúde do Território de Roraima.

O índice de positividade encontrado em Auaris foi de 24,5%, sendo que existe nessa área infecção também pela Mansonella ozzardi, com pessoas portadoras das duas parasitemias. O vetor que está sendo implicado nessa área é o Simulium pintoi. O foco da serra dos Surucucus, apresentou índice de positividade de 24,0%, ausência de outras espécies de filária e a implicação vetorial do Simulium incrustatum. Este foco está a 830 metros de altura, enquanto que o de Auaris, a 670 metros.

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O foco da região do rio Toototobi, foi o que apresentou a maior prevalência, 92,0% de pessoas parasitadas. Os exames realizados para pesquisa de lesões oftálmicas, não revelou índice significativo de lesões, porém devido à falta de experiência dos nossos especialistas sobre a matéria, os estudos terão que ser repetidos. As investigações feitas já comprovaram a bio-infecção da espécie vetora, porém estão sendo realizados extensos estudos para a classificação taxonômica definitiva de tal espécie. Ver mapa 1.

Um amplo inquérito está sendo realizado para delimitar a distribuição geográfica dessa filariose. Já foram investigadas no Estado do Amazonas, a área do rio Solimões, a do rio Javari, parte do rio Negro, com resultados negativos para Oncocercose. Estes trabalhos continuam e, ao mesmo tempo, está sendo feito um levantamento da fauna de Simulídeos da região.

Já foram realizados estudos e investigações sobre a técnica de tratamento dos doentes com a dietil-carbamazina e com a suramina sódica (Moranil), com completo êxito.

Os estudos e investigações prosseguem, em forma contínua, bem assim, a preparação adequada dos recursos humanos. Médicos da SUCAM/MS, já visitaram os programas similares da Venezuela e do Rio Volta, na África. Outro profissional, encontra-se no México, onde será também treinado na parte de lesões oftálmicas da Oncocercose.

O Brasil espera realizar ao final do presente ano em Boa Vista/Roraima, uma reunião com técnicos da Venezuela, para começar a coordenar com o país vizinho todas as ações possíveis com respeito ao problema.