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  • 8/16/2019 Subjetividade e PsiquismoREV

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    Subjetividade e psiquismo: acerca de um debate atual (síntese)

    Diana Kordon e Lucila Edelman

    O psiquismo e a subjetividade se constituem no interior de uma relação

    intersubjetiva que será simultaneamente portadora dos enunciados

    sociais. Nesse sentido é que concebemos o vínculo humano como

     fundante.

    O grupo familiar é o primeiro grupo que gera identidade. Nesse processo

    se articulam as expectativas parentais e a transmissão do discurso social

    que dá significado aos desejos parentais. Cada sujeito é diferente a partirdo vínculo no qual está inserido, mas tem uma marca, um selo de

    identidade, uma maneira própria de ser.

    O conceito de subjetividade é polisêmico. Entendemos subjetividade como

    as diferentes maneiras de sentir, pensar, dar significações e sentidos ao

    mundo. Corresponde simultaneamente ao indivíduo e ao contexto, embora

    não haja uma relação linear entre essas dimensões. Tem um caráter

    histórico-social, cada período promove modelos e conteúdos específicos.Cada época gera um tipo de subjetividade que é produto do modo como

    cada sociedade articula as condições materiais de existência, as relações

    sociais, as práticas coletivas, os discursos hegemônicos e contra-

    hegemônicos.

    Tem amplo consenso a concepção de que o contexto social é

    metaforicamente texto da subjetividade, portanto o sujeito é por

    definição um ser social, que se constitui como tal no interior de umvínculo intersubjetivo e na experiência social. Cada sujeito emerge de um

    mundo material, de um discurso, de um sistema ideológico, isto é, de

    enunciados sociais dominantes.

    Piera Aulagnier formulou o conceito de contrato narcisista, por meio do

    qual o sujeito se compromete a ser transmissor desses enunciados que

    caracterizam uma cultura em troca do reconhecimento e pertença social.

    Os avanços tecnológicos se inscrevem no mundo material e social eservem para gerar certas produções de subjetividade.

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    O poder, a ordem social institui determinados modos de subjetividade e

    isto está no centro do controle social,mas, os discursos e as

    representações sociais não são homogêneos dado que existem

     formulações produzidas pelo poder, pela ordem instituída e outras de

    contestação, de caráter contra-hegemônico, instituintes. 

    O modo de produção capitalista dos últimos anos faz com que as

    instituições não garantam a pertença, produzem um desapontamento

    massivo de grandes setores da população, levando a uma fragmentação

    social, queda de ideais coletivos, falta de projetos e perspectivas futuras.

    Por outro lado, não é suficiente considerar esses diferentes discursos para

    dar conta das subjetividades, é importante também considerar quemembros de um grupo compartilham modos de sentir e pensar

    específicos.

    O psiquismo é uma estrutura que se constitui sobre uma base biológica

    no interior de uma relação assimétrica do sujeito, com aqueles dos quais

    depende durante um período prolongado. Possui certa estabilidade, com

    substâncias e funções de diversos graus de desenvolvimento e

    complexidade que respondem a diferentes lógicas. Freud formulouconceitos para representar essas estruturas como “ o eu ideal, os

    mecanismos de defesa,as fantasias”. 

    O aparato psíquico requer para sua formação tanto a função de

    continência, de acolhimento, como de corte. É um sistema aberto a

    diferentes situações da vida, é susceptível de mudanças significativas.

    Consideramos que o psiquismo se constitui a partir de um trabalho que o

    indivíduo deve realizar na dialética entre a falta e o excesso, entre o

    desejo de fusão, de completude de recuperar a relação sim biótica mãe-

     filho e o excesso de estímulos que tem de metabolizar e responder, o

    desejo de viver e reconhecer o novo.   O processo identificatório está

    atravessado por essa contradição. Podemos definir como momento

    fundante do psiquismo aquele no qual se produz a separação entre desejo

    e satisfação da necessidade.

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    No processo de constituição do psiquismo se produzem simultaneamente

    estímulos internos e externos que devem ser metabolizados. Trata-se

    neste caso de um excesso e não de uma falta. Eventualmente o excessopode assumir um caráter traumático. Silvia Bleichmar (2003) em

    consonância com Laplanche sustenta que as vivências traumáticas são ao

    mesmo tempo constitutivas e constituintes do sujeito, o que ele não

    consegue elaborar persiste como trauma. Por outro lado, existe um desejo

    de conhecer o mundo externo, que é o que sustenta a busca da

    autonomia (Margareth Malher).

    Consideramos que o psiquismo como uma produção vincular que se

    desenvolve ao longo da vida, onde se inscreve aquilo que será repetido

     pelas marcas produzidas e o novo produzido pelo encontro com o outro,

    intersubjetivo. Essa é a diferença entre representação que tem relação

    com o passado e apresentação que introduz o novo, aspectos

    imprevisíveis da relação com o outro (Janine Puget). Segundo Luis

    Hornstein (2003), o sujeito está aberto à sua história, não só no passado,mas na atualidade. Está entre a repetição e a criação, o sujeito recria tudo

    aquilo que recebe.

    As mudanças no psiquismo são possíveis a partir de momentos críticos, de

    desestruturações que abrem a possibilidade de novas inscrições. Em

    qualquer momento da vida as crises, que constituem rupturas na vivência

    de continuidade, de si mesmo e mobilizam estruturas instituídas e os

    traumatismos, que desorganizam e podem recuperar estruturas prévias,

    podem gerar condições de mudanças em várias direções.

    Referências

    AULAGNIER,P. La violência de La interpretacion. Buenos Aires:

    Amorrotu,1977.

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    BLEICHMAR,S..Entre La producion de subjetividad y La constituicion Del

    psiquismo.Conferência WWW.silviableichmar.comqarticulos/articuloshtm.

    Buenos Aires,2000

    HORNSTEIN,L. Cuerpo, história, interpretacion.Buenos Aieres:Paidós,1991.

    LAPLANCHE,J.Castracion,simbolizaciones:problematicasII.Buenos

    Aires:Amorrotu,1988.

    MAHLER,M.,PINE,F.,BERGMAN,A.El nacimiento Del infante humano:

    simbiosis e individuación. Buenos Aires:Paidós, 1977.

    PUGET,J. Piera Aulagnier: lo social 27 anos despues. Psicoanalisis AP de

    BA, vol 24, n.3, Buenos Aires,2003.

    http://www.silviableichmar.comqarticulos/articuloshtm.%20Buenoshttp://www.silviableichmar.comqarticulos/articuloshtm.%20Buenoshttp://www.silviableichmar.comqarticulos/articuloshtm.%20Buenoshttp://www.silviableichmar.comqarticulos/articuloshtm.%20Buenoshttp://www.silviableichmar.comqarticulos/articuloshtm.%20Buenoshttp://www.silviableichmar.comqarticulos/articuloshtm.%20Buenos