subdesenvolvimento nação para nação, mas também dentro de um país, de uma região para outra....

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Professor: Elson Junior Santo Antônio de Pádua, setembro de 2017 SUBDESENVOLVIMENTO

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Professor: Elson Junior

Santo Antônio de Pádua, setembro de 2017

SUBDESENVOLVIMENTO

A América Latina e o subdesenvolvimento. Por que

esta parte do continente ficou para trás? Ficou?

1. As explicações tradicionais até o final do século XIX: clima,

raças

2. As explicações economicistas

3. As explicações culturalistas

4. A criação da CEPAL e as explicações estruturais

5. O desempenho da América Latina a partir de 1945

6. Algumas explicações mais recentes

7. Obstáculos ao desenvolvimento

• “O calor excessivo diminui a força e a coragem dos

homens, ao passo que nos climas frios uma certa força de

corpo e de espírito leva os homens a fazer ações

duradouras, grandes e ousadas. Nota-se isso não apenas

de nação para nação, mas também dentro de um país, de

uma região para outra. Os povos do norte da china são

mais corajosos que os do sul. Não devemos nos espantar

que a covardia dos povos de clima quente os tenha, quase

sempre, tornados escravos, e que a coragem dos povos de

climas frios os tenha mantido livres. É uma conseqüência

que deriva de sua causa natural.”

• (MONTESQUIEU, 1748)

As explicações tradicionais até o final do século

XIX: clima, raças

Explicações anteriores ao final do século XIX (I)

• “A pátria do capital não é o clima tropical com sua

vegetação exuberante, mas a zona temperada. Uma

natureza excessivamente pródiga mantém o homem preso

a ela como uma criança sustentada por andadeiras. Ela

não lhe impõe a necessidade de desenvolver-se.”

(KARL MARX, 1867)

Explicações iniciadas no final do século XIX:

O parasitismo colonial

• Manoel Bonfim foi talvez o primeiro, num livro publicado

em 1905, a criticar as explicações baseadas no clima e nas

“raças inferiores” (ou “mistura de raças”) – uma crítica ao

“darwinismo social” – enfatizando as origens do atraso da

América Latina na colonização ibérica, com base na idéia

de um parasitismo das metrópoles, que se acomodaram

com as suas ricas colônias.

• Com base na biologia (e sua formação como médico), ele

afirma que o parasitismo produz degeneração (“órgãos não

utilizados se atrofiam”) e esse traço do colonizador teria

sido herdado pelas elites coloniais e, mais tarde, pelas

classes dominantes das novas nações independentes.

Explicações iniciadas no final do século XIX:

A colonização mercantilista

• Com base na tipologia de colonização de Marx, autores

latino-americanos (no Brasil, Caio Prado Júnior foi um

pioneiro) distinguem entre colônias de povoamento (NE dos

EUA, Canadá) e colônias de exploração (América Latina),

sendo estas as “verdadeiras colônias” da época

mercantilista, na qual houve a acumulação primitiva do

capital:

• “No seu conjunto, e vista do plano mundial e internacional, a

colonização dos trópicos toma o aspecto de uma vasta

empresa comercial.(...) É este o verdadeiro sentido da

colonização tropical(...) Se vamos à essência da nossa

formação, veremos que na realidade nos constituímos para

fornecer açúcar, tabaco, alguns outros gêneros; mais tarde

mais tarde ouro e diamantes, depois algodão, e em seguida

café, para o comércio europeu. Nada mais que isto. E com

tal objetivo, exterior, voltado para fora do país e sem atenção

a considerações que não fossem aquele comércio, que se

organização a sociedade e a economia brasileiras. “ (Caio

Prado Júnior)

• Essa interpretação marcou uma inovação no marxismo

latino-americano e uma ruptura com a leitura mecanicista

[feudalismo no Brasil e AL, dentro da visão das etapas dos

modos de produção feudalismo, capitalismo...] do PCB,

com o qual Caio Prado Júnior rompeu nos anos 1950.

Explicações iniciadas no final do século XIX: 3. O catolicismo ibérico da contra-reforma

• Max Weber, em 1904, procurou explicar o desenvolvimento

do capitalismo nos EUA com base na “ética protestante” (ou

melhor, calvinista), que seria mais adequada que a moral

católica [que condenava a usura e os empréstimos de

dinheiro, exorcizando ainda o acúmulo de capital ou de

riquezas] para o desenvolvimento econômico devido à

valorização do trabalho com vistas a acumular riquezas.

• Com base nisso vários weberianos procuraram explicar o

atraso da AL com base no predomínio do catolicismo (além

de tudo de dois países culturalmente atrasados na Europa,

Portugal e Espanha, que conheceram uma violenta

inquisição, que não conheceram o Renascimento como a

Itália católica, etc.) no catolicismo, além da não valorização

do trabalho sob o capitalismo, há a necessidade de um

mediador, um intermediário entre Deus e os homens (o padre,

a Igreja), ao contrário do calvinismo (no qual qualquer um

pode legitimamente dialogar com Deus lendo a Bíblia com a

sua consciência) daí a multiplicação de intermediários no

Brasil e na AL, além de uma desconfiança frente ao mercado

e aos que enriqueceram, sempre vistos como “maus”.

As explicações da CEPAL (Comissão Econômica

para a AL e o Caribe) e as teorias da dependência (I)

• A CEPAL, criada em 1948 pela ONU, reuniu economistas e

cientistas sociais em geral marxistas [Raúl Prebish, Celso

Furtado, Osvaldo Sunkel, Maria da C. Tavares, Aníbal Pinto,

FHC e Enzo Falleto...], mas que procuraram usar um

vocabulário mais keynesiano para explicar o atraso [para eles

sinônimo de “ausência de industrialização”] latino-americano.

• Primeiro, criaram as idéias de Periferia (economias centrais

ou desenvolvidas versus as periféricas ou subdesenvolvidas)

com a “deterioração dos termos de troca”, na qual os

produtos primários [da periferia] sempre perdiam valor no

mercado mundial frente aos bens industrializados [do centro].

Continuação...

• A solução seria um planejamento para a industrialização

nacional em cada país da região, uma industrialização

centrada, uma busca de auto-suficiência com integração

regional na AL.

• O planejamento seria também a solução para os

desequilíbrios regionais, para “desenvolver” as regiões

mais atrasadas dentro de um país: por ex. o NE brasileiro

As explicações da CEPAL (Comissão Econômica

para a AL e o Caribe) e as teorias da dependência (II)

• Depois criaram a idéia de Dependência (comercial,

tecnológica, cultural) dos países periféricos, mas uma

dependência possível de ser superada dentro do capitalismo,

ao contrário da visão dos “dependicistas radicais” [A. Gunder

Frank, Teotônio dos Santos, Rui Mauro Marini, Rodolfo

Stavenhagen, Pablo G.Casanova...], que achavam que a

única “solução” para o atraso seria a “revolução socialista”,

isto é, a mudança no modo de produção.

• A partir dos anos 1980 e 90, em face do fracasso do mundo

socialista, do recuo das idéias marxistas e do avanço do

neoliberalismo [e também da falácia das velhas idéias da

CEPAL e da precária situação da AL], os cepalinos começam

a incorporar outras idéias, inclusive neoliberais uma nova

fase da CEPAL, que passa a buscar novas explicações

(culturais, jurídicas, políticas, geográficas)

Obstáculos ao desenvolvimento (?):

• 1. Péssima distribuição social da renda

• 2. Carência de cidadania e liberdades democráticas

• 3. Sistemas educacionais medíocres

• 4. Corrupção, desperdício e desvio de recursos

• 5. Sistema judiciário ruim e demorado, que favorece a

impunidade

• 6. Burocracia e excesso de impostos

• 7. Infra-estrutura precária

• 8. Valores culturais que não enfatizam trabalho, estudo, a

honestidade (?)

Desenvolvimento em relação à quem?

Darcy Ribeiro.

BIBLIOGRAFIA

- BONFIM, M. A américa Latina. Males de origem. 1905.

- FAORO, R. Os donos do Poder. Editora Globo, 1975, 2 vol.

- FURTADO, C. Formação econômica da América Latina, RJ, Lia, 1969.

- GUNDER FRANK, A. Capitalismo y subdesarrollo em America Latina. Buenos

Aires, Signos, 1970.

- LANDES, D.S. Riqueza e pobreza das nações. RJ, Campus, 1998.

- MARX, K. O Capital. 1867.

- MONTESQUIEU. O espírito das Leis. 1748.

- MORSE, Richard. O espelho de Próspero. SP, Cia. das Letras, 1988.

- PRADO JÚNIOR, C. Formação do Brasil contemporâneo, 1942.

- SOTO, Hernando de. O mistério do capital. RJ, Record, 2001.

- WEBER, M. A ética protestante e o espírito do capitalismo, 1904.