subdesenvolvimento nação para nação, mas também dentro de um país, de uma região para outra....
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A América Latina e o subdesenvolvimento. Por que
esta parte do continente ficou para trás? Ficou?
1. As explicações tradicionais até o final do século XIX: clima,
raças
2. As explicações economicistas
3. As explicações culturalistas
4. A criação da CEPAL e as explicações estruturais
5. O desempenho da América Latina a partir de 1945
6. Algumas explicações mais recentes
7. Obstáculos ao desenvolvimento
• “O calor excessivo diminui a força e a coragem dos
homens, ao passo que nos climas frios uma certa força de
corpo e de espírito leva os homens a fazer ações
duradouras, grandes e ousadas. Nota-se isso não apenas
de nação para nação, mas também dentro de um país, de
uma região para outra. Os povos do norte da china são
mais corajosos que os do sul. Não devemos nos espantar
que a covardia dos povos de clima quente os tenha, quase
sempre, tornados escravos, e que a coragem dos povos de
climas frios os tenha mantido livres. É uma conseqüência
que deriva de sua causa natural.”
• (MONTESQUIEU, 1748)
As explicações tradicionais até o final do século
XIX: clima, raças
Explicações anteriores ao final do século XIX (I)
• “A pátria do capital não é o clima tropical com sua
vegetação exuberante, mas a zona temperada. Uma
natureza excessivamente pródiga mantém o homem preso
a ela como uma criança sustentada por andadeiras. Ela
não lhe impõe a necessidade de desenvolver-se.”
(KARL MARX, 1867)
Explicações iniciadas no final do século XIX:
O parasitismo colonial
• Manoel Bonfim foi talvez o primeiro, num livro publicado
em 1905, a criticar as explicações baseadas no clima e nas
“raças inferiores” (ou “mistura de raças”) – uma crítica ao
“darwinismo social” – enfatizando as origens do atraso da
América Latina na colonização ibérica, com base na idéia
de um parasitismo das metrópoles, que se acomodaram
com as suas ricas colônias.
• Com base na biologia (e sua formação como médico), ele
afirma que o parasitismo produz degeneração (“órgãos não
utilizados se atrofiam”) e esse traço do colonizador teria
sido herdado pelas elites coloniais e, mais tarde, pelas
classes dominantes das novas nações independentes.
Explicações iniciadas no final do século XIX:
A colonização mercantilista
• Com base na tipologia de colonização de Marx, autores
latino-americanos (no Brasil, Caio Prado Júnior foi um
pioneiro) distinguem entre colônias de povoamento (NE dos
EUA, Canadá) e colônias de exploração (América Latina),
sendo estas as “verdadeiras colônias” da época
mercantilista, na qual houve a acumulação primitiva do
capital:
• “No seu conjunto, e vista do plano mundial e internacional, a
colonização dos trópicos toma o aspecto de uma vasta
empresa comercial.(...) É este o verdadeiro sentido da
colonização tropical(...) Se vamos à essência da nossa
formação, veremos que na realidade nos constituímos para
fornecer açúcar, tabaco, alguns outros gêneros; mais tarde
mais tarde ouro e diamantes, depois algodão, e em seguida
café, para o comércio europeu. Nada mais que isto. E com
tal objetivo, exterior, voltado para fora do país e sem atenção
a considerações que não fossem aquele comércio, que se
organização a sociedade e a economia brasileiras. “ (Caio
Prado Júnior)
• Essa interpretação marcou uma inovação no marxismo
latino-americano e uma ruptura com a leitura mecanicista
[feudalismo no Brasil e AL, dentro da visão das etapas dos
modos de produção feudalismo, capitalismo...] do PCB,
com o qual Caio Prado Júnior rompeu nos anos 1950.
Explicações iniciadas no final do século XIX: 3. O catolicismo ibérico da contra-reforma
• Max Weber, em 1904, procurou explicar o desenvolvimento
do capitalismo nos EUA com base na “ética protestante” (ou
melhor, calvinista), que seria mais adequada que a moral
católica [que condenava a usura e os empréstimos de
dinheiro, exorcizando ainda o acúmulo de capital ou de
riquezas] para o desenvolvimento econômico devido à
valorização do trabalho com vistas a acumular riquezas.
• Com base nisso vários weberianos procuraram explicar o
atraso da AL com base no predomínio do catolicismo (além
de tudo de dois países culturalmente atrasados na Europa,
Portugal e Espanha, que conheceram uma violenta
inquisição, que não conheceram o Renascimento como a
Itália católica, etc.) no catolicismo, além da não valorização
do trabalho sob o capitalismo, há a necessidade de um
mediador, um intermediário entre Deus e os homens (o padre,
a Igreja), ao contrário do calvinismo (no qual qualquer um
pode legitimamente dialogar com Deus lendo a Bíblia com a
sua consciência) daí a multiplicação de intermediários no
Brasil e na AL, além de uma desconfiança frente ao mercado
e aos que enriqueceram, sempre vistos como “maus”.
As explicações da CEPAL (Comissão Econômica
para a AL e o Caribe) e as teorias da dependência (I)
• A CEPAL, criada em 1948 pela ONU, reuniu economistas e
cientistas sociais em geral marxistas [Raúl Prebish, Celso
Furtado, Osvaldo Sunkel, Maria da C. Tavares, Aníbal Pinto,
FHC e Enzo Falleto...], mas que procuraram usar um
vocabulário mais keynesiano para explicar o atraso [para eles
sinônimo de “ausência de industrialização”] latino-americano.
• Primeiro, criaram as idéias de Periferia (economias centrais
ou desenvolvidas versus as periféricas ou subdesenvolvidas)
com a “deterioração dos termos de troca”, na qual os
produtos primários [da periferia] sempre perdiam valor no
mercado mundial frente aos bens industrializados [do centro].
Continuação...
• A solução seria um planejamento para a industrialização
nacional em cada país da região, uma industrialização
centrada, uma busca de auto-suficiência com integração
regional na AL.
• O planejamento seria também a solução para os
desequilíbrios regionais, para “desenvolver” as regiões
mais atrasadas dentro de um país: por ex. o NE brasileiro
As explicações da CEPAL (Comissão Econômica
para a AL e o Caribe) e as teorias da dependência (II)
• Depois criaram a idéia de Dependência (comercial,
tecnológica, cultural) dos países periféricos, mas uma
dependência possível de ser superada dentro do capitalismo,
ao contrário da visão dos “dependicistas radicais” [A. Gunder
Frank, Teotônio dos Santos, Rui Mauro Marini, Rodolfo
Stavenhagen, Pablo G.Casanova...], que achavam que a
única “solução” para o atraso seria a “revolução socialista”,
isto é, a mudança no modo de produção.
• A partir dos anos 1980 e 90, em face do fracasso do mundo
socialista, do recuo das idéias marxistas e do avanço do
neoliberalismo [e também da falácia das velhas idéias da
CEPAL e da precária situação da AL], os cepalinos começam
a incorporar outras idéias, inclusive neoliberais uma nova
fase da CEPAL, que passa a buscar novas explicações
(culturais, jurídicas, políticas, geográficas)
Obstáculos ao desenvolvimento (?):
• 1. Péssima distribuição social da renda
• 2. Carência de cidadania e liberdades democráticas
• 3. Sistemas educacionais medíocres
• 4. Corrupção, desperdício e desvio de recursos
• 5. Sistema judiciário ruim e demorado, que favorece a
impunidade
• 6. Burocracia e excesso de impostos
• 7. Infra-estrutura precária
• 8. Valores culturais que não enfatizam trabalho, estudo, a
honestidade (?)
BIBLIOGRAFIA
- BONFIM, M. A américa Latina. Males de origem. 1905.
- FAORO, R. Os donos do Poder. Editora Globo, 1975, 2 vol.
- FURTADO, C. Formação econômica da América Latina, RJ, Lia, 1969.
- GUNDER FRANK, A. Capitalismo y subdesarrollo em America Latina. Buenos
Aires, Signos, 1970.
- LANDES, D.S. Riqueza e pobreza das nações. RJ, Campus, 1998.
- MARX, K. O Capital. 1867.
- MONTESQUIEU. O espírito das Leis. 1748.
- MORSE, Richard. O espelho de Próspero. SP, Cia. das Letras, 1988.
- PRADO JÚNIOR, C. Formação do Brasil contemporâneo, 1942.
- SOTO, Hernando de. O mistério do capital. RJ, Record, 2001.
- WEBER, M. A ética protestante e o espírito do capitalismo, 1904.