str010 metodologia da pesquisa cientifica
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Pós -Graduação
MBA em Gestão de Projetos
Palavra DigitalMetodologia de Pesquisa Científica
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Palavra DigitalMBA em Gestão de Projetos
Disciplina Metodologia de Pesquisa Científica
Coordenação do CursoValter Oliveira
AutorAndré Glaser
FICHA TÉCNICAEquipe de Gestão Editorial Flávia Mello MagriniAnálise de ProcessosJuliana Cristina e Silva Flávia Lopes
Revisão Textual Alexia Galvão Alves Giovana Valente Ferreira
Ingrid Favoretto Julio Camillo Luana Mercúrio
DiagramaçãoCélula de Inovação e Produção de Conteúdos
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Como citar esse documento:
GLASER, André. Metodologia da Pesquisa Científica. Valinhos, p. 1-88. Disponível em: <http://anhanguera.com>. Acesso em: 30 jul. 2013.
Chanceler Ana Maria Costa de Sousa
Reitora Leocádia Aglaé Petry Leme
Pró-Reitor Administrativo Antonio Fonseca de Carvalho
Pró-Reitor de Graduação Eduardo de Oliveira Elias
Pró-Reitor de Extensão Ivo Arcangêlo Vedrúsculo Busato
Pró-Reitora de Pesquisa e PósGraduação Luciana Paes de Andrade
Realização:
Diretoria de Extensão e Pós-Graduação Pedro Regazzo Vanessa Pancioni Claudia Benedetti Mario Nunes Alves
Gerência de Design EducacionalRodolfo PinelliGabriel Araújo
© 2013 Anhanguera Educacional
Proibida a reprodução final ou parcial por qualquer meio de impressão, em forma idêntica, resumida ou modificada em língua por-tuguesa ou qualquer outro idioma.
Apresentação da disciplinaAs páginas que se seguem dão início aos quatro textos que formam a leitura fundamental deste módulo de metodologia da pesquisa científica. A preocupação central é a de fornecer ferramentas para que os alunos dos cursos de especialização, nas mais diversas áreas da Anhanguera Educacional, possam redigir um trabalho de conclusão de curso satisfatório. Nossa meta, na elaboração deste material, foi a de evitar que o conhecimento teórico, por mais fascinante que seja, não se desprendesse do interesse prático de um curso voltado para a elaboração de um artigo científico. Essa afirmação necessita de alguma especifi-cação, para que não fique a impressão de que este curso se reduza a uma série de dicas para se escrever bem. Evidentemente, as dicas podem ser de grande ajuda no momento da elaboração e escrita de nossos textos, mas de forma alguma ganharão status prioritário. O objetivo deste módulo é o de orientar o aluno, tendo como bases, por um lado, o seu próprio conhecimento e, por outro, formas de expandi-lo, para que possa construir um texto com base na sua própria experiência.Dizer que nossa preocupação é a de possibilitar que o aluno marque seu texto com a sua experiência não implica num reducionismo do conhecimento, como se o que o aluno já soubesse fosse o suficiente. Nossa posição é diametralmente oposta e essa, como também o é da crença de que o acúmulo do conhecimento pelo conhecimento, desvinculado de sua realização na prática, bastaria. A maturidade de um texto científico depende de ao menos três fatores: conhecimento da área específica sobre a qual se debruça a pesquisa; uma clareza quanto aos objetivos prático-teóricos do trabalho a ser realizado; e um domínio, não só da linguagem escrita, mas, sobretudo, do estilo acadêmico. Nosso interesse, dessa for-ma, será o de preparar as atividades deste módulo sobre esse tripé, contribuindo para que o aluno organize, da melhor forma possível, o conhecimento que já possui; tenha condições de realizar uma pesquisa bem fundamentada; e aprimore, se houver necessidade, a sua habilidade escrita. A grande quantidade de áreas profissionais às quais essa leitura é voltada coloca-nos o problema de até que ponto a generalização do que será dito pode responder aos inter-esses de pessoas dos mais diversos círculos profissionais, e de como conseguir o grau de especificação necessário tanto para que o interesse do aluno seja satisfatoriamente des-perto, quanto para que as diferenças entre os estilos dos artigos, de acordo com as áreas de atuação, sejam devidamente abordadas. Para sanar este problema, as leituras e textos comuns a todos buscarão um grau de especificidade que não comprometa o entendimento de seu conteúdo ou o interesse de alunos diversificados, as atividades mais específicas sendo trabalhadas diretamente com o tutor responsável pelo módulo. Muitos alunos, pelos mais diversos motivos, possuem expectativas bastante baixas com relação a cursos de metodologia da pesquisa científica. É nosso interesse reverter esse quadro, concentrando nos aspectos fascinantes da pesquisa e da produção escrita de con-hecimento, bem como da qualidade instrumental desse conhecimento nas mais diversas atividades profissionais. Um curso de especialização estabelece, em geral, um vínculo bastante estreito com a atividade profissional sobre a qual está organizado. Este módulo de metodologia não pretende fugir a esse padrão, mas, em conjunto com os outros nove módulos, contribuir para a formação de um profissional preparado para enfrentar a reali-dade, às vezes bastante exigente, do mercado de trabalho atual.
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Vamos pensar
Aula 01 : Epistemologia
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01
Aula 01 - EpistemologiaObjetivos gerais
Refletir sobre Ciência e Método Científico
Objetivos específicos
Refletir sobre a verdade da ciência
Discorrer sobre os tipos de conhecimento
Definir as características da ciência
1. A Esfera de Ciência: Delimitação de Campo
Tendo em vista que discorreremos sobre “metodologia da pesquisa científica”, devemos
definir inicialmente, mesmo que de maneira breve, o que entendemos por “ciência” e por
“método”. Tratemos de cada conceito separadamente.
1. 1 A ESFERA DA CIÊNCIA
O que é necessário para que possamos dizer que algo é científico? Nossa sociedade está
tão encharcada de verdades “cientificamente provadas” que não raro perdemos a noção de
algumas qualidades intrínsecas do que seria uma ciência séria. Longe de defendermos uma
intenção idealista, capaz de ver a ciência como “esfera autônoma”, não devemos, por outro lado,
aceitar indiscriminadamente a subordinação total do conhecimento científico aos interesses
do mercado. Isso porque, embora grande parte da produção científica esteja vinculada aos
recursos provenientes das grandes empresas, com todas as complicações que daí advém no
que tange aos interesses por lucro que movimentam a esfera privada, a falta de critério no
uso do conceito de “ciência” torna a pesquisa cientifica uma mera intervenção publicitária. O
sucesso deste uso bastante específico do “científico” origina-se em uma certa crença popular
de que o científico é uma Verdade, legitimando como irrefutável, consequentemente, a voz
do cientista ou a do pesquisador. Vejamos um exemplo: o café faz bem ou faz mal à saúde?
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Com certeza todos nós já nos deparamos com argumentos contra, parcialmente contra,
parcialmente a favor e a favor de sua ingestão, muitos deles cientificamente provados. Até
aí, não há nada de novo. Toda a pesquisa científica bem feita possui um objetivo claro que
delimita tanto a pesquisa propriamente dita quanto seus resultados. Uma pesquisa sobre o
poder estimulante da cafeína no cérebro tenderá a apresentar um resultado mais positivo
sobre o café do que um estudo dos efeitos do café no estômago ou na pressão sanguínea.
Contudo, dada a “idealização” da ciência como esfera da Verdade acima comentada, pode-
se generalizar o que é específico com o intuito de se tirar proveito econômico ou político da
pesquisa. Lembremo-nos, por exemplo, de que a supremacia ariana pregada pelo nazismo
foi “cientificamente embasada” por um conjunto de ideias que se autointitulou uma “teoria”,
conhecida como a eugenia nazista. Casos extremos não ditam regras, mas podem mostrar
como certas tendências ideológicas trabalham desde as esferas mais amplas até as mais
restritas.
Dito isso, podemos afirmar que a ciência nunca representa uma “Verdade” com “v” maiúsculo,
tipo de conhecimento que, como veremos a seguir, pertence a outra esfera do conhecimento. A
ciência só pode fornecer uma verdade relativa, uma vez que é uma conquista intrinsecamente
humana. Daí as necessárias e frequentes contestações de teorias científicas por outras mais
recentes que parecem explicar melhor a realidade. Mas se a ciência busca explicar a realidade,
essa explicação tem, como momento seguinte, a sua manipulação. A ciência busca interferir
na realidade, atuando nas mais diversas áreas das atividades humanas. E o faz pela união
bem realizada da investigação científica, a pesquisa propriamente dita, com a lógica racional
que permite a generalização das descobertas e a produção de leis.
Assim, podemos dizer que a ciência tem como características básicas a observação dos
fatos, sua repetição (o experimento) e sua ordenação lógica, de forma a construir teorias que
dêem conta do comportamento dos eventos trabalhados, possibilitando sua utilização racional
nas mais diversas áreas de atuação humana. Mas o que entendemos hoje como científico
é algo relativamente novo. Embora a busca pelo conhecimento empírico tenha existido na
antiguidade, a sua aplicação prática em larga escala teve que esperar condições culturais e
sócioeconômicas favoráveis, o que ocorre já no período de transição da Idade Média para
o mundo moderno. Entre as inúmeras transformações ocorridas neste período, um fator
significativo para a expansão sem precedentes do conhecimento lógico-empírico foi a sua
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separação da filosofia, norteando-se cada vez mais, como veremos a seguir, pelo método
indutivo. O mundo ocidental, a partir do humanismo, produziu uma contínua separação das
esferas de conhecimento, pouco ou não separadas na Idade Média, tornando possível um
grau de especialização surpreendente de um novo pensamento lógico, vinculado à apreensão
empírica do mundo. Neste período, a razão assume o papel de instrumento para a obtenção
da verdade, antes nas mãos do místico religioso. Liberta das concepções religiosas não
racionais e afastando-se do paradigma lógico ditado pelo método dedutivo, a ciência constrói,
em suas teorias, outro mundo, movido por leis quantificáveis.
Este novo tipo de conhecimento pode ser melhor visualizado com uma breve exposição
das quatro grandes esferas, geralmente aceitas como abrangendo os principais tipos de
conhecimento no mundo ocidental: a popular, a filosófica, a religiosa e a científica. Para
efeitos didáticos, as três primeiras esferas do conhecimento, relacionadas acima, serão
discutidas em oposição ao conhecimento científico. Iniciemos pelo conhecimento religioso.
Este conhecimento é fundamentalmente transcendental. Sua base é a fé, pois parte de
evidências não verificáveis. Assim, revela-se como dogmático. Religião e ciência possuíam
uma grande proximidade no mundo medieval, muitas vezes sendo indissociáveis. Tomemos,
por exemplo, a astrologia: na Idade Média, este campo de estudo abrangia tanto a astronomia
quanto a astrologia, que viriam a se separar posteriormente. O homem que estudava os
astros era o mesmo que traçava o destino das grandes nações. Dentre as discussões que
levaram à sua cisão, que foram muitas, podemos citar a descoberta, dados os critérios cada
vez mais empíricos e cuidadosos de observação, do 13º signo, a constelação de ofiúco, que
passa pela eclíptica celeste e localiza-se entre sagitário e escorpião. Dado que essa nova
constelação era “verificável”, a nova tendência pela busca da verdade nos fatos não podia
compartilhar, com os astrólogos tradicionalistas, a não aceitação da inclusão de mais um
signo no zodíaco. Daí temos um novo impulso, entre tantos outros, para a formação de um
campo empírico-científico, a astronomia, e um transcendente, a astrologia moderna.
É evidente que a ciência do humanismo não rompeu definitivamente com toda e qualquer
concepção religiosa do mundo. O que ocorreu, um processo do qual a filosofia também
participou ativamente, foi a mudança da própria concepção de Deus, que se torna ”menos
místico” e “mais racional”. O Deus místico medieval, embora não deixe de existir, perde espaço
no campo filosófico e, sobretudo, no científico, que cada vez mais assume como uma das leis
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fundamentais do universo a lei de causa e efeito. Assim, Deus torna-se um ser absoluto em
sua racionalidade, e o universo, antes sujeito aos seus caprichos, passa a ser regulado por
suas leis, o movimento quantificável e regular dos astros sendo um dos exemplos máximos
de sua obra. O universo, antes criação de um ser místico inacessível à inteligência humana,
torna-se o grande relógio criado pelo relojoeiro divino – uma vez criadas as leis eternas, o
funcionamento do mecanismo não é mais alterado por caprichos do criador.
Comparando filosofia e ciência, detectamos que ambas trabalham com sistemas lógicos. Porém, a filosofia medieval (e boa parte da filosofia moderna) não recorria ao mundo empírico como coração de suas indagações e hipóteses. Trabalhando com grandes questões da humanidade, como o belo, a verdade, a morte, a liberdade etc., construía seus sistemas lógicos sobre hipóteses muitas vezes não verificáveis, voltando-se para critérios valorativos. Fundamentalmente dedutiva, como veremos a seguir, não pode absorver totalmente os novos valores empírico-indutivos do novo conhecimento científico.
Não se trata aqui de um critério valorativo. A ciência, apesar de todas as vantagens da apropriação da realidade pela observação, não pode abarcar o mundo. No que tange à realidade social, histórica e cultural humana, há várias áreas das quais o conhecimento empírico ou não dá conta, ou o faz ao preço de um reducionismo gritante. A liberdade, por exemplo, é um conceito que só com contorcionismos surpreendentes pode ser investigada a partir de critérios empírico-mensuráveis. Quando muito, pesquisas podem mapear o que determinada cultura ou fração de uma cultura entende por “ser livre”, ou criar critérios econômicos para definir qual seria uma renda que tornaria possível algum critério específico de liberdade, mas as conclusões jamais poderão, a não ser de forma bastante ingênua, ser generalizadas em fórmulas ou leis. Isso nos coloca um problema dos mais complexos quando, no séc. XIX, surgem as ciências humanas, obrigando a, em determinadas áreas do saber, uma reaproximação da ciência aos critérios dedutivos da filosofia. Discutiremos este tópico a seguir, ainda nesta aula.
No que tange às semelhanças e diferenças entre o conhecimento científico e o popular, o ponto de contato mais forte está na sua qualidade empírica – embora o conhecimento popular seja muitas vezes marcado pelo místico, tem sempre um objetivo prático a ser alcançado. O que o difere do científico é o seu caráter tradicional (não há conhecimento popular de ponta) e sua pouca preocupação com a reflexão sobre os sistemas de que faz uso. Embora o conhecimento científico pareça estar, à primeira vista, bastante acima do popular, nosso
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dia-a-dia é marcado pela predominância deste conhecimento. Um exemplo típico está na área da educação familiar. Não há pai ou mãe que confie toda a educação, por exemplo, às conquistas e metodologias da psicopedagogia moderna. Em vários momentos o que prevalece é a tradição, o que foi herdado de nossos pais e avós, e que define tanto do que somos hoje.
A separação dessas quatro formas de conhecimento obedece a critérios analítico-pedagógicos, já que não encontramos formas de conhecimento em “estado puro”. O que há são tendências predominantes de uma ou de outra esfera, mas sempre com a presença de outras. A religião, por exemplo, está sempre ligada seja à filosofia, quanto mais “intelectuais” os religiosos nela envolvidos, seja ao popular, que oferece a realidade concreta que será organizada e direcionada por ela. A ciência, por mais que possa julgar-se neutra, está sempre sujeita à visão de mundo do pesquisador, com seus pré-conceitos, suas crenças e sua cultura. Mesmo situações que pareçam partir puramente da observação podem ser entendidas como profundamente culturais. Poderíamos citar a famosa maçã de Newton. A história da queda da maçã como sendo um gatilho para as investigações sobre a gravidade (e a razão da lua não cair sobre nós como a fruta cai do galho da árvore) aponta para um interesse que vai muito além do cientista como “indivíduo”. Pois o fato é que maçãs caem de árvores desde que macieiras existem. Apenas em um mundo que começa a valorizar a observação dos fatos como o local privilegiado do conhecimento faz sentido “estudar” a queda do objeto, buscando extrair do experimento as leis que movem o mundo. Na Idade Média, a queda de objetos faria mais sentido como “vontade divina” do que como lei quantificável a ser investigada.
Poderíamos ainda acrescentar a essas quatro esferas do conhecimento mais duas, geralmente ausentes de manuais de metodologia – o conhecimento jornalístico e o artístico. Quanto ao jornalístico, há um excelente artigo sobre o assunto, de autoria do Prof. Eduardo Meditsch (2005), que discute o lugar específico do jornalístico como um conhecimento que vai além da forma tradicional de vê-lo, como estando entre o popular e o científico. Já o artístico, tem sido bastante reconsiderado nas últimas décadas como recurso importante para a apreensão do mundo e atuação nele pela criatividade e pela fantasia. O espaço artístico parece possibilitar formas de dizer algo sobre o mundo que não poderia ser dito da mesma forma por outros meios. Embora não haja espaço para esta discussão aqui, um autor que defende o conhecimento artístico como fundamental é Edgar Morin. Vale a pena conferir suas ideias em seu livro A
cabeça bem-feita (2003).
Dito isto, falemos um pouco do método científico.
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1. 2 O MÉTODO CIENTÍFICO
Podemos definir “método” como um caminho a ser percorrido. Este caminho está presente
em várias áreas da atividade e do conhecimento humanos. Há certamente a necessidade
de um método de ação no mundo dos negócios, por exemplo, mesmo que os passos a
serem seguidos não sejam teoricamente explicitados, dependendo mais da intuição ou
do conhecimento prático da pessoa envolvida. Em nossas atividades cotidianas, também
fazemos constantemente uso de métodos que, muitas vezes, passam despercebidos por
nosso ser consciente. Basta lembrarmo-nos de quantas vezes alguém nos revelou, para a
nossa surpresa, alguma mania nossa, marcada por um método, ou como percebemos no
outro formas de agir bastante metódicas que lhe são invisíveis, tão invisíveis que, em alguma
situações, podem causar constrangimento se reveladas.
O que caracteriza, então, o método científico? Um elemento que definitivamente o constrói é
a sequência racional das ações que constituem este processo ou caminho. Há, para falar de
outra forma, uma organização lógica entre os vários momentos de uma pesquisa científica,
que é planejada e alterada de acordo com as necessidades impostas pelo próprio processo.
Se devermos desenvolver um trabalho de campo sobre as tendências políticas de determinado
eleitorado, há um processo, ou método, que depende, para o sucesso da pesquisa, de um
estudo detalhado deste eleitorado, que permita a elaboração de questões pertinentes e das
quais possamos extrair material suficiente para possíveis generalizações, sempre limitadas
pelo escopo da pesquisa. Mas também se deve fazer um estudo das metodologias estatísticas
à disposição, para que detenhamos um repertório suficiente para uma escolha adequada às
necessidades do trabalho a ser realizado. O método deverá ainda determinar as formas de
coleta dos dados, sua organização, seleção e classificação, sempre tendo em vista uma
conclusão satisfatória. A razão, então, ou a lógica racional, é um elemento indispensável para
um método científico bem elaborado.
Mas a filosofia também faz uso de um método racional. Então, outro elemento distintivo deve
ser considerado, uma vez que há uma diferença real entre o método filosófico e o científico.
O que torna a ciência “científica” é um método que una a razão à observação dos fatos. A
razão é compartilhada pela ciência e pela filosofia; a observação empírica, por sua vez, é
comum à ciência e ao conhecimento popular. Contudo, razão e observação juntas constituem
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a marca do método científico. Isso não significa que devamos necessariamente fazer uso do método científico (razão + observação) em nossa pesquisa acadêmica. Há áreas de pesquisa acadêmica que trabalham sobre hipóteses não verificáveis, aproximando-se de linhas de um método filosófico. Outras áreas dependem tanto do método científico como do filosófico para desenvolverem seus trabalhos. Seria interessante, agora, discutirmos o que seria o método
indutivo e o dedutivo, para então retomarmos a questão de sua aplicabilidade.
1. 3 DEDUÇÃO E INDUÇÃO
Talvez, de forma genérica, possamos dizer que o método dedutivo seja o coração da filosofia,
e o indutivo, o da ciência. A diferença essencial entre ambos é o movimento do pensamento
lógico que, no primeiro caso, move-se do geral para o específico e, no segundo, do específico
para o geral. O silogismo aristotélico, como formulação básica da dedução, é o exemplo mais
frequente a que recorremos para exemplificar este encadeamento lógico de ideias:
• Todo ser humano é mortal.
• Sou um ser humano.
• Portanto, sou mortal.
As três partes deste raciocínio são nomeadas “premissa maior”, de caráter geral, “premissa menor”, específica, e “conclusão”. Parte-se do que é aceito como verdade geral, de um axioma, para, através de uma premissa intermediária e específica, chegar-se a uma conclusão também verdadeira. O pensamento, movendo-se do geral conhecido à sua concretização, tem como um de seus fundamentos o conhecimento do mundo específico a partir das leis que o regem.
Como o encadeamento dos três momentos do silogismo é fundamentalmente racional, uma
falsa lógica pode causar a impressão de verdade no que é falso ou parcialmente falso:
• Cão que ladra não morde.
• Este cão ladra.
• Portanto, não morde.
O erro, tomar o provérbio, de fundo moral, como axioma, pode levar a uma bela mordida na
perna. Neste caso, a primeira premissa é falsa, por não comportar, em sua generalização,
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uma verdade ou mesmo algo que se aproxime de uma verdade – há muitos cães que ladram e
mordem. Pode acontecer da lógica que articula as premissas não ser correta, ou ser ambígua,
produzindo um raciocínio distorcido da realidade:
• A natureza é movida pela lei do mais forte.
• Eu sou mais forte.
• É natural que eu te domine.
O erro lógico aqui advém do fato do ser humano não ser movido unicamente por forças
instintivas, mas possuir cultura e política. Em sociedades complexas como a nossa, a força,
muitas vezes, provém de privilégios sociais que garantem sua legitimidade institucional. De
outro lado, a mera aplicação da força física para a dominação do outro pode levar o indivíduo
a atos passíveis de penalização, o que não ocorre na natureza.
O pensamento dedutivo foi retomado na modernidade por Descartes. Sua nova estruturação
lógica, mais complexa, parte de uma evidência que é então analisada através de sua
fragmentação. A análise busca localizar e isolar as partes constitutivas do objeto de estudo
para reconstruir o todo através da síntese. Esta é uma forma de conhecimento mais profundo
da evidência. Como a evidência, neste caso, pode ser hipotética, a ser ou não confirmada
pela análise, o método possui grande potencial para a pesquisa. É usado, sobretudo, quando
o estudo parte de formulações gerais já aceitas socialmente ou na comunidade científica.
Também faz parte de toda pesquisa de raiz filosófica, corrente de pensamento construída
a partir da formulação de hipóteses sobre as quais encadeamentos lógicos complexos
das ideias são construídos. Profundamente racional, o método dedutivo pode atingir graus
bastante abstratos, caso o encadeamento lógico não esteja de alguma forma atrelado ao
mundo “vivido” da experiência sensível.
A indução apresenta um movimento oposto de apreensão da realidade ao da dedução e é
parte intrínseca da nova ciência, em sintonia com a proposta humanista do mergulho no real
sensível. O que mudou, entre tantas coisas, foi a própria concepção do real. Como vimos
acima, ao comentarmos o interesse de Newton pelas leis que movem o mundo sensível,
desde que maçãs existem, elas caem das árvores quando maduras. Esta é uma evidência
que poderia criar um silogismo simples: toda a maçã madura, salvo se for antes arrancada
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ou devorada por algum animal, cai da árvore. Esta é uma maçã madura presa a uma árvore.
Portanto, dadas as ressalvas anteriores, cairá. O exemplo é apenas para chamar a atenção
ao fato de que a evidência esteve sempre presente por toda a história do ser humano. Porém,
é num determinado período histórico, denominado humanismo, parte de um movimento mais
amplo de ascensão da classe burguesa, que emerge o interesse por investigar esta evidência,
vista como fenômeno a ser estudado. A diferença em relação ao pensamento dedutivo é que
agora não se parte de uma hipótese pré-estabelecida. É a análise dos elementos constitutivos
do fenômeno que vai tornar possível a indução de hipóteses. A reprodução do fenômeno
em condições controladas – o experimento – permite a contínua verificação das hipóteses
induzidas e sua reformulação constante. Quando a quantidade e a qualidade dos experimentos
permitem a formulação de uma forte tendência, esta é examinada até que alcance o grau de
generalização de uma lei geral. Contudo, esta lei geral, se genuinamente científica, não tem
a pretensão de ser Verdade Eterna, uma vez que novos estudos, realizados pelo mesmo
pesquisador ou por outros na mesma época ou em épocas posteriores, pode mostrar as
limitações ou mesmo os erros desta generalização, produzindo novas leis gerais.
Há pouco espaço para o purismo quando falamos desses métodos. O método indutivo,
quando se estruturou como ciência, foi muitas vezes considerado o único capaz de revelar a
verdade do mundo, como diz Francis Bacon no aforismo XIV de seu Novum Organum:
O silogismo consta de proposições, as proposições de palavras, as palavras são o signo das
noções. Pelo que, se as próprias noções (que constituem a base dos fatos) são confusas e
temerariamente abstraídas das coisas, nada que delas depende pode pretender solidez. Aqui
está por que a única esperança radica na verdadeira indução.
Porém, dizer que devemos ser totalmente indutivos para podermos realizar o ideal de uma
ciência imparcial é uma grande utopia, uma vez que não há pesquisador que possa remover,
de sua pesquisa, seus conhecimentos, interesses e perspectivas de ordem cultural. Como
vimos, o próprio fato de se olhar de forma diversa a maçã caindo de uma árvore não é fruto
da genialidade de um homem, mas de um interesse coletivo gerado por uma nova concepção
de mundo – a verdade não estava mais nos desígnios místicos de Deus, mas na observação
dos fenômenos para o descobrimento das leis que movem o mundo físico. Não se deve
partir do pressuposto de que só a indução é válida – tudo depende da área de atuação da
pesquisa e da corrente crítica que se segue. A arqueologia, por exemplo, tem nas evidências
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encontradas, nos sítios arqueológicos, material para muita pesquisa indutiva, mas não pode
se privar da construção de hipóteses que preencham os espaços vazios entre o que se tem
para observação e formas de vida de uma época histórica inacessível em sua totalidade.
A que tudo isso nos serve? O importante é que tenhamos consciência do que estamos
fazendo. Nossa pesquisa parte do geral ou do específico? O que queremos provar? Há a
necessidade da formulação de hipóteses a serem testadas? Qual o caminho metodológico
que nossa pesquisa percorrerá? Haverá levantamento de dados? Como se realizará a
análise dos dados? De forma quantitativa, qualitativa, ou ambas? Quanto mais claras essas
questões estiverem em nossa mente, mais provável será que produzamos um trabalho de
qualidade. Saber se o argumento percorre o caminho da generalização ou da especificação,
e como o faz, possibilita que mantenhamos clara a espinha dorsal de nosso texto, não criando
monstruosidades em sua forma.
1. 4 TRABALHOS DE DIVULGAÇÃO E TRABALHOS COMPARATIVOS
Mas é necessário que o argumento de um artigo seja sempre dedutivo ou indutivo? Não. Um
artigo científico pode seguir outros modelos. Há bons artigos que funcionam como material de
divulgação. Pega-se um livro importante e difícil, por exemplo, e após uma leitura e análise
atentas do material, escreve-se um artigo explicitando o argumento central do livro, como ele
se insere na obra do autor, como se insere na discussão teorica da qual faz parte, etc. Esse
trabalho, de caráter didático, é relevante e bastante útil, dada a impossibilidade de tempo para
lermos tudo o que nos interessa. Há teses de mestrado, e mesmo de doutorado, que funcionam
nessa linha, situando determinada obra no trabalho do autor e/ou no desenvolvimento de teorias
em determinada época e local. Em uma entrevista para o programa de radio Radioscopie,1
em sete de fevereiro de 1973, Jean-Paul Sartre faz um comentário interessante sobre os
trabalhos de divulgação de seus escritos por outras pessoas.
No entanto, concordo que minhas obras filosóficas não são, na verdade, legíveis a não ser por filósofos. No entanto, pela mediação, elas atingirão o povo, pelos homens que a lerão e darão a ela uma forma mais acessível. Notei muitas vezes,
após escrever, que há pessoas que escrevem melhor. Os professores, por ex-
1 Entrevista realizada em 7 de fevereiro de 1973 por Jacques Chancel em seu programa Radios-
copie. Texto original (em francês) disponível em: http://www.sartre.ch/Radioscopie.pdf
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emplo, que explicaram melhor o existencialismo, que eu não expliquei em O ser e o nada. Simplesmente porque, naquele momento, talvez fosse necessário inventar, compreender as coisas novas.
O trecho esclarece a importância do trabalho de divulgação, tanto para fins pedagógico-escolares quanto para enriquecer a discussão no próprio meio científico-acadêmico. Se o trabalho for sério, certamente será bem recebido.
Outro tipo de artigo que não implica necessariamente na utilização dos métodos de indução e dedução é o trabalho de comparação e enfrentamento entre teorias. Também de grande relevância no meio acadêmico, permite mapeamentos bastante frutíferos de discussões teóricas. Muitas vezes cedemos a um ecletismo vulgar, que aproxima teorias que são, na verdade, diametralmente opostas. Trabalhos comparativos sérios permitem que compreendamos melhor o que está em jogo em teorias as mais diversas, o que está sendo defendido e o que está sendo questionado. Toda teoria é uma intervenção em uma discussão, embora muitas vezes não explicitada. Uma pesquisa desse tipo pode contribuir muito para o
amadurecimento intelectual do pesquisador.
2. AS CIÊNCIAS NATURAIS E AS CIÊNCIAS HUMANAS
Como vimos, a ciência moderna inicia-se no humanismo como fundamentalmente empírica,
atenta aos fatos, ao seu isolamento, à sua repetição e à sua análise com o objetivo de deles
extrair leis gerais que os descrevam. O seu potencial foi e é extraordinário – basta vermos o
desenvolvimento surpreendente das máquinas, que caminharam desde os primeiros relógios
e teares mecânicos até os nossos sofisticados computadores, motores automotivos, etc.
Mas essa forma de ver o mundo encontrou, sobretudo no século XIX, com o surgimento
da sociologia e da psicologia modernas, dificuldades bastante grandes na transposição de
um conhecimento acumulado por meio de um estudo das forças da natureza para o estudo
do comportamento humano. O homem não é apenas natureza, é movido por interesses e
desejos em dinâmica constante, dadas as relações sociais que constroem sua identidade.
Assim, se é possível formular uma lei que descreva com exatidão fenômenos causados pela
gravidade em todo o planeta e mesmo em outros astros, é muito mais difícil criar fórmulas
que dêem conta do comportamento psicológico humano ou que determinem com precisão o
movimento da economia.
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Diante disso, novas construções teóricas foram desenvolvidas, gerando por vezes uma
grande disparidade entre as ciências naturais e as humanas, ou entre as ciências humanas
baseadas nas teorias das ciências naturais e as ciências humanas mais preocupadas em
entender o espaço não-natural (sociológico, histórico, político e cultural) do homem. Deve-
se ter em mente essa diferença, para que não se corra o risco de avaliar erroneamente uma
teoria, exigindo fundamentações que não são parte de seu núcleo duro. Por exemplo, a
história não pode ter a precisão da física mecânica. Se às vezes aspira a essa “exatidão”,
corre o risco de destruir o objeto que estuda – o ser humano – em prol de uma regularidade
que, embora possa responder por certas tendências da história, não pode dar conta de toda a
realidade do ser humano. Um dos grandes avanços na historiografia moderna, por exemplo,
foi o questionamento da visão tradicional da história como uma história construída pela ação
de grandes homens que sucedem uns aos outros em um movimento contínuo em direção ao
futuro. O questionamento desse ideal teleológico (o “telos” do progresso, um caminho que seria
marcado pelo avanço tecnológico e do processo civilizatório) é feito, nessa nova historiografia,
pela constatação de que a história não é um caminho rumo ao progresso, mas uma sequência
de lutas. Os que ganham e marcam seu lugar na história não são necessariamente os
“melhores”, mas os mais fortes, com mais recursos, com mais homens e/ou mais estratégia.
Essas qualidades, tão vinculadas ao ideal de guerra, não são necessariamente as qualidades
que possibilitariam o progresso ético-moral do ser humano, por exemplo. A obra que melhor
ilustra essa nova historiografia é A formação da classe operária inglesa, de E. P. Thompson,
contando a história da classe operária como uma sequência de luta, de vitórias e de perdas,
sempre opondo seus ideais de comunidade aos ideais individualistas burgueses. No caso
em questão, a força da obra está no fato das generalizações não “passarem por cima” do
levantamento de dados, mas serem construídas a partir deles ou como hipóteses a serem
neles testadas.
Dependendo da área de pesquisa em que estamos envolvidos, critérios tanto metodológicos
quanto da exposição dos argumentos mudam. Se, por exemplo, trabalhamos com um tema
que procura articular certa corrente política com as forças culturais de determinada sociedade,
essa relação cultura/política não pode ser transformada em números exatos, nem ser
prevista com grande acuidade, como pode ser prevista a velocidade de um corpo caindo em
condições específicas determinadas. Da mesma forma, com todo o conhecimento exato dos
Aula 01 | Epistemologia
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elementos químicos que agem no nosso corpo, a medicina não pode assegurar a cura total
de uma doença. São tantas as forças determinantes, nas quais entra, inclusive, a disposição
psicológica do doente em se curar, que qualquer afirmação categórica pode se mostrar falsa.
A indução e a dedução, dessa forma, embora marcadas pelo pensamento científico e pelo
filosófico respectivamente, estão ambas presentes, em graus variados, nas pesquisas mais
diversas. As ciências exatas podem ser muito dedutivas, especialmente quando atingem um
alto grau de abstração. A matemática é um bom exemplo de uma área que permite tanto estudos
indutivos quanto estudos altamente dedutivos, quando as relações internas entre os números
ganham autonomia, distanciando-se do mundo empírico. Do mesmo modo, a economia pode
ser estudada indutivamente, colocando à prova teorias existentes e produzindo outras a partir
de pesquisas de campo, ou se fechar em amplos mapeamentos de ciclos históricos que se
baseiam mais em equações matemáticas do que em um conhecimento do comportamento
humano. As ciências humanas enfrentam constantemente essa dificuldade da presença de
concepções bastante diversas, umas se aproximando das ciências naturais, com a produção
de leis mais fixas e quantificáveis, aos poucos se distanciando do ser humano concreto, e
outras procurando entender o ser humano no mundo, com trabalhos de campo mais empíricos
e amarrados ao mundo concreto.
3. PROBLEMAS COMUNS
O artigo de conclusão do nosso curso de especialização, dessa forma, pode percorrer tanto
uma via mais dedutiva quanto uma mais indutiva. Contudo, o que deve estar sempre em pauta
no momento da pesquisa e da escrita é que, independentemente do caminho metodológico
tomado, o argumento tem de ser movido por critérios lógico-racionais. Vimos no início dessa
aula os tipos de conhecimento. Tanto o religioso quanto o popular não podem ser pilares de
sustentação de nosso argumento. Dizer que o líder deve ser persistente, justo e sincero, por
exemplo, é algo de uma generalidade gritante. Uma pesquisa que se proponha a trabalhar
com essas qualidades teria que, por exemplo, examiná-las em situações e momentos
históricos específicos – quais as características de persistência que contribuem para uma
boa gestão em uma empresa familiar? Como fazer com que a empresa X, que implantou uma
gestão estratégica mais arrojada há cinco anos, solucione problemas em sua gestão, ainda
Aula 01 | Epistemologia
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amarrada a ideais de persistência mais funcionais em uma hierarquia vertical? Estes são
problemas específicos que podem ser trabalhados de forma lógico-indutiva.
Mantendo o exemplo do líder, outro problema frequente é o da falta de método. É comum que
alunos venham com uma listagem de qualidades do líder, por exemplo, tiradas de algum livro
sobre o assunto, mas sem organizar o seu trabalho seja dedutivamente, mostrando como
essas qualidades se resolvem na prática, modificando-se em situações específicas diversas,
seja indutivamente, mostrando como a prática pode ser generalizada em certas tendências
mais amplas, os “itens” expostos, mas sempre como generalizações que não podem ser
simplesmente aplicadas como se fossem uma panaceia para todos os males. Temos de ter em
mente que teorias são sempre generalizações e, consequentemente, sempre redutivas. São
traços gerais retirados dos objetos de estudo a partir de um ponto de vista específico, nunca
abarcando o objeto em sua completude. Uma teoria que desse conta de toda a realidade não
seria mais teoria, mas a realidade propriamente dita. Façamos uso de teorias, mas para tal
é preciso que trabalhemos com um método de aplicação; coloquemo-nas em xeque, mas
trabalhando indutivamente ou comparando-as com outras teorias.
Vamos pensar
A partir do que foi apresentado nesta aula, comece a pensar em um tema que gostaria de pesquisar. Pense na importância deste tema e faça uma pergunta de pesquisa para a temática que escolheu.
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Vimos nesta aula os seguintes pontos importantes:
• A Verdade da ciência
• Os tipos de conhecimento
• As características da ciência
Referências
ALVES, Rubem. Filosofia da ciência. São Paulo, Ars Poética, 1996.
BACON, Francis. Ovum Organum. Arquivo eletrônico. Site: TRIPLOV.com.org. Disponível em: http://www.triplov.com/hist_fil_ciencia/francis_bacon/novum_organum/index.htm Acesso em: 23 jun 2013.
CERVO, A. L. & Bervian, P. A. Metodologia Científica. São Paulo: Makron Books, 1996.
DANTON, Gian. Metodologia Científica. MG: Virtual Books, 2002. Disponível em: http://virtualbooks.terra.com.br/osmelhoresautores/Metodologia_cientifica.htm Acesso em: Acesso em: 12 abr 2013.
LAKATOS, E. Maria & MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de Metodologia Científica. São Paulo: Atlas, 1991.
MEDITSCH, E. O jornalismo é uma forma de conhecimento? Media & Jornalismo, Brasil, v. 1, n. 1, 2005. Disponivel em: http://revistas.univerciencia.org/index.php/mediajornalismo/article/view/1084/5273. Acessado em 28 jun 2013.
Edgar MORIN. A cabeça bem-feita. RJ: Ed. Bertrand Brasil LTDA, 2003.
RODRIGUES, André Figueiredo. Como elaborar citações e notas de rodapé. SP: Humanitas, 2007.
______ . Como elaborar e apresentar monografias. SP: Humanitas, 2008.
______ . Como elaborar referência bibliográfica. SP: Humanitas, 2008.
SIMÕES, Darcília. Trabalho acadêmico. O que é? Como se faz? Rio de Janeiro: Dialogarts, 2004.
Pontuando
21
Disponível em: http://www.dialogarts.uerj.br/arquivos/trabalhoacademico2004.pdf Acesso em: 12 abr 2013.
Referências
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Vamos pensar
Aula 02 : Normatização
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02
NormatizaçãoObjetivos
Auxiliar o aluno na formatação e normatização de seu artigo científico.
Expor a formatação e normatização de artigos científicos.
1. O Formato Sare
Os artigos científicos resultantes de sua pesquisa devem seguir alguns padrões e
normatizações vigentes. Veremos nesta aula algumas destas normas.
A primeira forma é a do SARE (Sistema Anhanguera de Revistas Eletrônicas), você deve
seguir esta formatação somente se quiser publicar seu artigo nas revistas da Anhanguera
Educacional. Se não for o que pretende, deve seguir as demais normatizações e a estrutura
descrita em seu Manual de TCC.
O formato SARE está disponível para download. O acesso direto ao documento pode ser
feito pelo link Modelo_Artigo_AESA.doc. O texto desse arquivo é uma explicação detalhada
de como o modelo funciona. Contudo, como a formatação possui seções diversas para o
título, subtítulo e texto, seu uso pode apresentar problemas para pessoas que não estão
muito familiarizadas com os recursos do Word. Algumas dicas podem tornar o seu manuseio
bastante simples. Primeiro trataremos dos textos escritos diretamente no SARE, e depois
discutiremos o problema da importação de documentos para esse formato.
2. Escrevendo no Sare
Como dito acima, o SARE possui estilos diversos para formatações diversas. Todos esses
estilos podem ser selecionados no ícone “estilo” do Word. Essa ferramenta oferece acesso
direto a toda a formatação do texto, como vemos a seguir:
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Figura 1: Tela de Estilos I
Clicando sobre o ícone “subseção”, por exemplo, temos o formato automaticamente
selecionado no texto. Toda a formatação do SARE está lá, incluindo a formatação dos itens,
numeração, legendas, etc. Se o ícone “mostrar visualização” for pressionado, você tem
acesso inclusive ao estilo real da fonte, como na imagem a seguir:
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Figura 2: Tela de Estilos II
Com um pouco de prática, este recurso pode ser usado com muita facilidade.
Contudo, podem permanecer algumas dúvidas quanto à formatação do arquivo. Faremos
então uma descrição de como o SARE funciona, apontando problemas que possam ocorrer
e maneiras de se formatar o texto manualmente.
Comecemos pelo título e pelo subtítulo. O SARE possui formatações específicas para o título
e para o subtítulo. O título, em abóbora (cor personalizada) e fonte arial narrow tamanho
14, não aceita letras minúsculas. O subtítulo, em arial 12, deve ser escrito com as primeiras
letras em maiúsculo, com exceção de artigos, preposições e conjunções. Uma forma de se
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trabalhar com essa formatação é digitar no próprio título disponível no modelo, excluindo o
que está escrito. Quem for utilizar este sistema, deve “guardar” um título e um subtítulo para
que, sempre que necessário, corte-o e cole-o no lugar devido. Abaixo um exemplo de como
isso pode ser feito:
3. Título para Uso Posterior
3. 1 Subtítulo para Uso Posterior
A numeração é automática. Uma vez colado o título ou o subtítulo, a numeração será
reorganizada de acordo com as seções e subseções do texto. Para começar a escrever,
basta pressionar <enter> e a fonte muda para book antiqua tamanho 11. O primeiro parágrafo
não possui paragrafação. A partir do segundo, a paragrafação passa a ser 1,5. Esse ajuste
também é automático:
3. 2 Título
O primeiro parágrafo se inicia colado à margem esquerda.
O segundo parágrafo se inicia com recuo esquerdo de 1,5cm. O mesmo ocorre com o
subtítulo.
Pode-se proceder da mesma forma para o título e subtítulo do artigo – basta selecionar o texto
e escrever sobre ele. No final do modelo, há espaço para agradecimentos e depois para as
referências bibliográficas. Mantenha o formato original – essas seções não são numeradas.
Quanto a tabelas e figuras, o título deve ser colocado acima das tabelas e abaixo da figuras.
Corte e cole as frases abaixo, já com a formatação correta para o SARE (tabela: Times
New Roman tamanho 10, espaçamento simples, 6 pt antes e 3 pt depois; figura: Times New
Roman tamanho 10, espaçamento 1,5 linhas, 3 pt antes e 3 pt depois).
Tabela 1 – Exemplo de um Título para uma Tabela.
Figura 3 – Exemplo de uma imagem inserida no artigo.
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Há no arquivo SARE um modelo de gráfico. Use a formatação indicada, acrescentando ou
eliminando linhas e colunas conforme a necessidade.
Quanto ao cabeçalho, no topo da página pode-se ler, no arquivo do formato SARE, “título
do artigo” nas páginas pares e “nome do autor” nas páginas ímpares. Para modificar o texto,
basta clicar duas vezes sobre o cabeçalho, selecionar o trecho e digitar os dados por cima. O
procedimento deve ser realizado em uma página par (título) e em uma página ímpar (autor).
A formatação é automática (letra arial tamanho 8, espaçamento simples, antes 30 pt, depois
0 pt). Deve-se manter a formatação pedida – no título, somente substantivos próprios devem
vir com a primeira letra em maiúsculo.
Na primeira página, canto esquerdo, há a frase “nome da revista”. Seu preenchimento será
realizado apenas em caso de publicação. Acerte apenas o ano. Na parte “autor”, coloque seu
nome, unidade e email:
autor
afiliação autor
emailautor@dominio
André Luiz Glaser
Anhanguera Educacional –
Unidade Brigadeiro
No caso de mais de um autor, basta repetir o procedimento. Porém, não se deve colocar na
parte “co-autor” o nome do orientador. O orientador não é co-autor! Pode-se colocar o nome
do orientador em nota de rodapé ou na seção “agradecimentos”.
3. 3 Importando Documentos para o SARE
Há várias situações em que essa importação se faz necessária, as mais comuns sendo quando
há textos escritos anteriormente, e no caso de citações diretas. A importação de documentos
para o arquivo do SARE pode ser feita de duas formas: pré-formatando o documento ou o
colando no SARE, selecionando-o e então escolhendo, na seção ‘estilo’, o estilo apropriado.
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Esta última é a forma mais simples, mas, para os que queiram trabalhar manualmente, abaixo
serão explicados os passos para a formatação.
Antes de cortar o documento, devem ser realizados os seguintes procedimentos:
• O texto deve ser justificado e formatado em espaço 1,5 cm com a letra book antiqua
tamanho 11. Em seguida, deve-se entrar na seção “parágrafo” do Word para formatar as
margens. O novo padrão é:
RECUO: esquerda 1, direita 0.
ESPAÇAMENTO: antes 3 pontos, depois 3 pontos (provavelmente os números deverão
ser digitados – o procedimento automático pula de 0 para 6 pontos). Para isso, no Word
2007, o ícone “início” deve ser clicado (barra de ferramentas no topo) e, em seguida, o
ícone “parágrafo”. Na versão antiga, deve-se procurar o ícone “formatar parágrafo”. O
texto, então, deve ser transferido em blocos (subseções), cortando e colando no SARE.
• O resumo e o abstract possuem letra book antiqua tamanho 10 e espaçamento simples
entre as linhas (incluindo as palavras-chave). A formatação é:
RECUO: esquerda 0, direita 0.
ESPAÇAMENTO: antes 0 pontos, depois 12 pontos (No caso das palavras-chave, o
espaçamento é antes 0 pt, depois 0 pt.
• A Bibliografia possui a mesma letra das páginas do texto, mas em fonte tamanho 10 e
espaço simples sem justificação. As margens e espaçamento são:
RECUO: esquerda 1, direita 0.
ESPAÇAMENTO: antes 3 pontos, depois 3 pontos
Se, ao colar o texto, a formatação aparecer como a da seção título ou subtítulo, basta pressionar
o ícone para voltar este passo, digitar qualquer letra no novo parágrafo, colar novamente e
depois apagar a letra. Isso pode ocorrer quando o texto a ser colado vier logo após um título
ou subtítulo. Vamos ao exemplo. Quero importar um parágrafo de um texto sobre tradução.
Ao colar o documento já formatado como especificado acima, logo após o título da seção (“A
tradução hoje”), tenho esse resultado:
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4. A Tradução Hoje
Ao falarmos de tradução, não estamos discutindo uma esfera autôno-ma, capaz de estabelecer sua própria problemática como inerente ao seu campo de ação, excluindo-se, mesmo que parcialmente, a estrutura social mais ampla. Assim, torna-se ingênuo discutir um “grau de objetividade” que permita gerar uma tradução “imparcial”.
Vejam que o parágrafo foi incorporado ao texto com a formatação do título, ou seja, o modelo
SARE não reconheceu que se trata de uma nova seção. A forma mais prática de resolver este
problema seria digitar qualquer letra, ou mesmo espaço, antes da colagem:
4. 1 A Tradução Hoje
Z Ao falarmos de tradução, não estamos discutindo uma esfera autônoma, capaz de
estabelecer sua própria problemática como inerente ao seu campo de ação, excluindo-se,
mesmo que parcialmente, a estrutura social mais ampla. Assim, torna-se ingênuo discutir um
“grau de objetividade” que permita gerar uma tradução “imparcial”.
Após o procedimento, não se esqueça de apagar o caractere ou espaço incluído, neste caso,
a letra Z.
4. 2 Algumas Dicas de Formatação
O artigo deve ser impresso em papel A4, impressão em preto (exceto imagens, gráficos,
etc.) e, ao menos até o momento, em apenas um lado do papel. Não há restrições explícitas
ao uso do papel reciclado, mas vale à pena checar se a instituição permite o seu uso. Como
o artigo será entregue no formato SARE, a sua formatação já está pronta, e não há, para
impressões de arquivos nesse formato, folha de rosto. O artigo final deve ser entregue em
encadernação plástica (frente transparente), em espiral.
No caso de trabalhos de módulo com a formatação tradicional, as margens são: esquerda
3 cm, direita 2 cm, superior 3 cm, e inferior 2 cm. Os parágrafos devem ser justificados e a
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paginação no canto superior direito. Utilize espaço 1,5 e, preferencialmente, as letras Times
New Roman ou Arial. Para a formatação da Falsa Folha de Rosto, da Folha de Rosto e do
Sumário consulte o site Fazendo Acontecer, que apresenta figuras para facilitar o uso das
ferramentas do Word, ou qualquer material similar. O resumo e o abstract devem vir com
espaço simples e devem ser seguidos pelas palavras-chave e keywords (de três a seis).
5. O Problema do Plágio
O plágio merece uma seção à parte, dada a sua frequência nos trabalhos acadêmicos nos
dias de hoje. O uso constante do computador, e, sobretudo, da internet, tem gerado uma
cultura “corta e cola” inaceitável do ponto de vista acadêmico, mas cada vez mais frequente
nas atividades escolares, desde trabalhos de menor porte até monografias, dissertações e
teses. É surpreendente que isso ocorra, visto que o trabalho intelectual não só não é contra
o diálogo com outros textos, mas o recomenda vivamente. Basta que as referências sejam
colocadas para que o plágio deixe de existir. O plágio consiste, basicamente, na apropriação
indevida do texto ou ideias do outro. Como nos lembra o advogado e professor José Augusto
Paz Ximenes Furtado, em artigo publicado no Site Jus Navigandi, em setembro de 2002:
No Código Penal em vigor, no Título que trata dos Crimes Contra a Propriedade Intelectual, nós nos deparamos com a previsão de crime de violação de direito autoral – artigo 184 – que traz o seguinte teor: Violar direito autoral: Pena – de-tenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa. E os seus parágrafos 1º e 2º, consignam, respectivamente:
§1º Se a violação consistir em reprodução, por qualquer meio, com intuito de lu-cro, de obra intelectual, no todo ou em parte, sem autorização expressa do autor ou de quem o represente, (...): Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, (...).
§ 2º Na mesma pena do parágrafo anterior incorre quem vende, expõe à venda, aluga, introduz no País, adquire, oculta, empresta, troca ou tem em depósito, com intuito de lucro, original ou cópia de obra intelectual, (...), produzidos ou re-produzidos com violação de direito autoral.
Um pouco adiante, o Professor Furtado lembra que a Constituição Federal diz, em seu artigo
5º, XVII, que:
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[...] aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publicação ou re-produção de suas obras, (...). E a devida proteção legal em legislação ordinária nós a encontramos na Lei nº 9.610/98, mais precisamente nos seus artigos 7º, 22, 24, I, II e III, e 29, I.
Porém, a citação com as devidas referências não constitui plágio:
Mas, se a própria Lei acima citada, nos informa, no seu artigo 46, III, que não se constitui ofensa aos mencionados direitos, a citação em livros, jornais, revistas ou em qualquer outro meio de comunicação, de trechos de qualquer obra, desde que sejam indicados o nome do autor e a proveniência da obra, aonde consta-taremos a incidência dessa contrafação (reprodução não autorizada) tão grave, especificamente entendida na sua forma conhecida como PLÁGIO? Exatamente no modo como o plagiário se apossa do trabalho intelectual produzido por out-rem.
Ainda no mesmo artigo, o Professor Furtado cita então, como abominável, uma prática muito
comum no meio escolar:
O plagiário recorre dolosamente aos expedientes mais sutis, porém não menos recrimináveis, e não reluta em fazer inserções, alterações, enxertos nas ideias e nos pensamentos alheios, muitas vezes apenas modificando algumas palavras, a construção das frases, a fim de ludibriar intencionalmente e assim prejudicar, de forma covarde, o trabalho original de alguém e ofendendo os direitos morais do seu verdadeiro autor.
O assunto é da maior seriedade, sobretudo pela aparente falta de informação dos alunos
com relação à ilegalidade do plágio. A cultura “corta e cola” mencionada acima, que ganha
cada vez mais espaço com o crescente uso dos computadores pessoais, não é, em si, ilegal.
Cortamos e colamos constantemente material para a nossa leitura diária, enviamos trechos
copiados a amigos por email ou em redes sociais, cortamos e colamos partes de nossos
próprios textos em nossos trabalhos. O uso contínuo desse recurso, contudo, nos induz a
“facilitarmos nossa vida”, inserindo em nosso texto trechos retirados de outras fontes sem
colocarmos as devidas referências. Há casos piores, e infelizmente frequentes, em que, como
comentado na citação acima, o texto plagiado é “levemente modificado”, em uma tentativa
intencional de ludibriar o leitor.
Uma vez detectado o plágio, o aluno terá de responder por ele. Não vale a pena arriscar a
ter um artigo recusado por conta de algumas páginas sem as devidas referências. E mesmo
que o aluno tenha “sorte” e o trabalho seja aprovado sem que o plágio tenha sido detectado,
haverá sempre a possibilidade de um leitor futuro conhecer a fonte original e denunciar o
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autor. Hoje em dia, grande parte dos trabalhos de final de curso, ao invés de ser enviada para
bibliotecas em forma de material impresso, é alojada em bancos de dados de acesso aberto
na internet. Um plágio pode vir a ser detectado mesmo anos após sua publicação, podendo
gerar processos e perda do título adquirido.
Como, então, citar? As citações podem ser literais ou livres (paráfrases). Para as citações
literais, que consistem na importação do texto original sem alterações, as aspas são usadas
apenas se a citação for breve (até três linhas). Se for longa (mais de três linhas), deve-se
usar um tamanho menor da fonte (no SARE, use book antiqua 9) e um espaçamento menor
entre as linhas (em geral, de 1,5 para 1,0). Em ambos os casos, a pontuação antes da citação
é a que melhor se adequar ao contexto. Há duas formas de colocar as referências: em nota
de rodapé e na forma “autor-data”. Embora a ABNT recomende ambas, a tendência atual
tem sido a de utilizar a forma “autor-data”. Nela, coloca-se entre parênteses o sobrenome do
autor em letras maiúsculas, a data da publicação e, se o autor julgar necessário, a página,
sempre separados por vírgula. Se o sobrenome vier no corpo do texto, não se usam letras
maiúsculas. Ex:
a. Assim, define-se um novo gênero como “sempre a transformação de um ou vários gêneros antigos”. (TODOROV, 1980, p. 34)
b. Segundo Todorov (1980, p. 34), um novo gênero “é sempre a transformação de um ou vários gêneros antigos”.
Se houver dois ou três autores, devem ser separados com ponto e vírgula. Se houver mais de
três, usa-se apenas o primeiro sobrenome e, após, a expressão latina et alli, mais comumente
usada de forma abreviada: et al.
Importante: Toda alteração feita em uma citação literal deve vir entre colchetes, seja ela uma
omissão, um acréscimo ou uma alteração. Ex:
a. Omissão: “A visão conservadora, neste caso, está correta. [...] A ambiguidade do discurso mantém-se por toda a obra.” (Aqui as reticências marcam a omissão de uma parte do discurso original.)
b. Acréscimo: “Sua obra [a escrita em sua primeira fase, de 1890 até 1903], ape-sar de coesa, ainda não possuía uma maturidade literária.” (Aqui, o acréscimo clarifica ao leitor informações que só seriam acessíveis lendo trechos anteriores ao citado.)
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c. Alteração: Segundo o autor, “[o] livro se constituiu num marco do pensamento científico.” (Aqui os colchetes marcam a alteração do “o” maiúsculo para o “o” minúsculo).
Se o texto original apresenta erros ortográficos, problemas de coesão ou coerência textuais,
etc., não corrija. Coloque, após a passagem, (sic).
É importante ter em mente que não apenas as citações literais sem referências são plágio,
mas também as paráfrases, que consistem na exposição, com as palavras do escritor, das
ideias do outro. Essas exposições devem necessariamente conter, antes, após ou durante
sua execução, as devidas referências ao texto original. Evidentemente as paráfrases, por não
serem transcrições literais, não virão entre aspas ou destacadas do texto, como no caso das
literais. Mas não basta (e essa é uma dúvida comum dos alunos) citar a obra usada apenas
nas referências finais. Mesmo que o texto esteja nas referências, se houver paráfrase ou
citação literal sem a devida indicação antes, durante ou depois da citação, há plágio. Aqui
não há concessão possível.
A título de ilustração, vejamos como poderíamos construir uma paráfrase da citação do
Professor Furtado já apresentada acima:
O plagiário recorre dolosamente aos expedientes mais sutis, porém não menos recrimináveis, e não reluta em fazer inserções, alterações, enxertos nas ideias e nos pensamentos alheios, muitas vezes apenas modificando algumas palavras, a construção das frases, a fim de ludibriar intencionalmente e assim prejudicar, de forma covarde, o trabalho original de alguém e ofendendo os direitos morais do seu verdadeiro autor.
Uma opção de paráfrase seria (no texto em que a paráfrase for usada, como visto acima, não
há recuo ou mudança no tamanho da fonte, alterados aqui por se tratar de um exemplo):
Dentre os recursos ilícitos utilizados pelos plagiadores, o Professor Furtado (2002) cita as inserções e alterações que modificam o sentido do texto. Tal ati-tude, entendida como recriminá vel e covarde, possui, seguindo o autor, uma intenção de ludibriar o leitor e infringe os direitos do autor.
Outra opção, de leitura bastante agradável se for bem feita, é a mistura de paráfrases e
citações literais breves:
Dentre os recursos ilícitos utilizados pelos plagiadores, o Professor Furtado (2002) cita “inserções, alterações, enxertos nas ideias e nos pensamentos al-heios”, manobras vistas como sutis, “porém não menos recrimináveis”. Tal ati-tude, entendida como recriminável e covarde, possui, segundo o autor, a in-
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tenção de ludibriar o leitor, simultaneamente prejudicando o trabalho original e “ofendendo os direitos morais do seu verdadeiro autor”.
Outro problema bastante frequente que, caso citado incorretamente, também se configura
como plágio, é o da citação da citação, que tem de ser feita com o famoso apud. A citação
da citação pode ocorrer tanto na forma literal quanto na forma de paráfrase. Em ambos os
casos, trata-se de citarmos um texto que já é uma citação no original que lemos. Para que
as referências estejam corretas, é preciso citar primeiro a obra e/ou o autor de onde foi
extraído o texto e, depois, a obra consultada. Vejamos a definição e exemplos fornecidos pela
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS, s/d), que são, eles próprios, citação de
citação (o texto se inicia com a seguinte informação: “’Menção de uma informação extraída
de outra fonte.’ (ABNT, 2002, p.1)”:
Citação de Citação
Transcrição direta ou indireta de um texto em que não se teve acesso ao original, ou seja, retirada de fonte citada pelo autor da obra consultada.
Indicar o autor da citação, seguido da data da obra original, a expressão latina “apud”, o nome do autor consultado, a data da obra consultada e a página onde consta a citação.
Exemplo:
• Citações curtas e inseridas no parágrafo:
“O homem é precisamente o que ainda não é. O homem não se define pelo que é, mas pelo que deseja ser”. (GOMENSORO DE SÁNCHEZ, 1963 apud SALVA-DOR, 1977, p. 160).
Segundo o autor (SILVA, 1983 apud ABREU, 1999, p. 3) diz ser “[...] a educação compreende desde [...]”
• Citações longas e destacadas no recuo de 4 cm.
[...] com realidades como pobreza, menor escolaridade, menor acesso a opor-tunidades laborais, maior chance de sofrer exploração no trabalho, desemprego, alcoolismo, dificuldades na família e/ou na escola entre outras tantas problemáti-cas as quais jovens de classe média. (FERNANDES apud RACOVSCHIK, 2002, p. 2).
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Aula 02 | Normatização
Vejamos um último comentário sobre citação, um problema bastante frequente em trabalhos
universitários. O aluno, ao discutir um tema específico, discorre sobre vários autores e suas
articulações teóricas sem tê-los lido. O conhecimento desses autores foi realizado por meio
de um livro que trata do assunto. Neste caso, não dar crédito para quem de fato realizou o
árduo trabalho de ler obras completas de teóricos para torná-los acessíveis a um público mais
amplo é, no mínimo, muito desonesto. Se não se tratar de uma paráfrase ou citação literal,
informe o leitor que as informações forma extraídas do livro X, entre as páginas 34 e 67, por
exemplo.
6. Referências Bibliográficas
Ao invés de repetirmos o que já foi escrito centenas de vezes, um domínio muito útil para
checarmos a formatação padrão de trabalhos, que merece ser consultado frequentemente,
é o da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que oferece o arquivo em versão
PDF e HTML. Chamemos apenas a atenção para alguns tópicos frequentemente esquecidos
pelos alunos:
http://www.bu.ufsc.br/home982.PDF
http://www.bu.ufsc.br/framerefer.html
• As referências devem ser listadas pelo sobrenome do autor, que vem em letra maiúscula.
Quando há repetição do autor, ao invés de repeti-lo, deve-se usar um traço de seis
caracteres. Na bibliografia deste texto, por exemplo, temos os seguintes exemplos:
DEMO, P. Introdução à metodologia da ciência. São Paulo: Atlas, 1991.
______. Metodologia científica em ciências sociais. São Paulo: Atlas, 1989.
RODRIGUES, André Figueiredo. Como elaborar citações e notas de rodapé. SP: Humanitas,
2007.
______ . Como elaborar e apresentar monografias. SP: Humanitas, 2008.
______ . Como elaborar referências bibliográficas. SP: Humanitas, 2008.
37
Aula 02 | Normatização
• É inadmissível a entrega de uma listagem de “www’s”. Se as referências eletrônicas
possuírem autor, devem ser realizadas da mesma forma que um artigo impresso: nome
do autor, título, data se houver e, se for revista eletrônica, todos os dados pertinentes
disponíveis no site. Após isso, deve-se usar a expressão “Disponível em:” seguida do
endereço eletrônico e a expressão “Acesso em:” seguida da data de acesso.
• Sites como a Wikipédia, embora muito úteis para nossos trabalhos, não são bem vistos
como referências por não haver critério de seleção para a publicação das informações
neles contidas. Se o aluno fizer uso de sites desse tipo, os bons artigos possuem links
para sites mais confiáveis, vinculados a universidades ou a revistas idôneas. Opte
sempre por referências confiáveis.
• As referências impressas e as eletrônicas podem vir juntas ou separadas, à escolha do
autor. Caso deseje separá-las, o autor pode usar termos como “Referências Eletrônicas”
ou “Referências Webgráficas”, por exemplo.
• A formatação do SARE para as referências é fonte book antiqua tamanho 10, espaçamento
simples com três pontos antes e três depois. Não esquecer que, com exceção da primeira
página, o formato SARE possui margem esquerda de 1cm.
Para facilitar a vida do pesquisador, há um aplicativo desenvolvido pela UFSC que cria as
referências a partir da digitação dos dados. O site pode ser usado livremente. Não há mais
razão para a entrega de trabalhos com referências fora dos padrões.
Há uma infinidade de casos específicos que podem gerar dúvidas ao pesquisador na hora da
elaboração das referências. A melhor coisa a fazer é consultar boas referências, como site
aqui sugerido da UFSC, ou outros materiais disponíveis. Para quem gosta de ter bons livros
de consulta em casa, os livros de metodologia de André Figueiredo Rodrigues, professor da
Anhanguera Educacional, são boas opções por um excelente preço.
7. GERENCIAMENTO DO TEMPO
Antes de discutirmos o projeto e o artigo, é importante discorrermos um pouco sobre o
gerenciamento do tempo. Como veremos na próxima aula, o pré-projeto possui uma seção
dedicada ao cronograma. A construção do cronograma, porém, deve ser feita com bastante
VOLTARPARA SEÇÕES
38
Aula 02 | Normatização
cuidado, dando atenção tanto às necessidades da pesquisa propriamente dita quanto ao ritmo
de trabalho do pesquisador. Em outros termos, precisamos nos conhecer. É muito comum
que alunos estabeleçam prazos para ler uma quantidade grande de textos ou apresentar
versões avançadas do trabalho que simplesmente não poderão cumprir, seja por questões
de tempo, seja por questões de disposição e organização. Vamos tratar brevemente delas.
Quanto ao tempo, cada um sabe quanto dele tem disponível para o trabalho acadêmico.
Talvez a maior dificuldade esteja em uma certa “segurança” de que, se deixarmos para
amanhã o que faríamos hoje, ainda haverá tempo o suficiente para o término do trabalho.
Essa segurança é comum no início das atividades, quando temos muitos meses para o
término do artigo. Contudo, essa postura pode nos trazer problemas, porque é praticamente
inevitável que o trabalho tome mais tempo do que o imaginado, principalmente se o aluno não
está familiarizado com o trabalho acadêmico. O resultado, em geral, é muita pressão no final
do processo e um trabalho regular, quando um texto de mais qualidade teria sido possível.
Leituras e fichamentos demandam tempo, e não é uma boa solução deixar de fichar para
economizá-lo, sobretudo em textos que serão, com muita probabilidade, usados, direta ou
indiretamente, no artigo. Após um tempo relativamente longo, tendemos a esquecer o que
lemos (e mesmo onde lemos aquele parágrafo que resolveria muito do nosso problema, o
que é ainda mais frustrante).
Uma boa dica é programarmos o nosso cérebro com um prazo final anterior ao prazo oficial.
Terminar o trabalho um ou dois meses antes é excelente, pois permite que ele seja relido
após duas ou três semanas, período que contribui para que mantenhamos a distância do
texto que, na fase da escrita, é muito difícil de ser alcançada. Horas sem dormir nos últimos
dias antes da entrega contribuem para que nosso rendimento caia drasticamente. Para
retomarmos o tópico discutido anteriormente, fichamentos bem feitos permitem um ganho de
tempo surpreendente na hora da escrita do texto final. Quanto mais material lido e fichado à
disposição, mais rapidamente construiremos nosso texto.
Quanto à disposição, seria ingênuo tentar traçar tendências universais, uma vez que pessoas
diferentes podem apresentar variações imensas neste tópico, ou a mesma pessoa em
momentos diversos de sua vida. Em geral, para os que se sentem rapidamente desmotivados,
um bom recurso é a troca de atividades. Se a leitura não está rendendo, talvez valha à
pena ler outro texto que, embora tratando do mesmo tema, seja mais agradável. Outras
39
Aula 02 | Normatização
opções seriam escrever, rever o que já foi escrito, buscar mais material na internet, assistir
um vídeo sobre o assunto, em suma, fazer algo que permita que o trabalho continue fluindo.
O contato prolongado com o tema é fundamental para que nossa mente possa articular
toda a informação recebida. Só assim escreveremos “como nós mesmos”, a partir de nossa
experiência. Claro que apenas quem faz as coisas com antecedência pode desfrutar desse
privilégio. Sob pressão, há menos escolha.
Uma organização adequada de nossas atividades pode contribuir muito para uma boa
disposição. Façamos uma listagem do que tem que ser feito, classificando as atividades
em longas e curtas, e o que deve ser feito a curto, médio e longo prazo. Uma boa planilha
pode permitir mudanças de atividade que não afetem o andamento do trabalho, garantindo-
nos aquele dia ou semana de folga merecidos, quando adiantamos as nossas tarefas. O
estresse pode ser evitado com uma organização eficiente. Trabalhar muito em um feriado
pode significar um próximo feriado bastante tranquilo. Tenhamos em mente que o que deve
ser buscado é o máximo possível de tranquilidade no último terço de nosso prazo.
Há momentos em que temos que saber parar. Um caso comum é o das leituras. Sempre
haverá centenas, se não milhares, de bons textos sobre o assunto com o qual estamos
lidando. Mas é importante estabelecermos prazos para parar de ler e começar a escrever.
Nunca teremos lido tudo o que gostaríamos. As paradas para a escrita permitem que o
trabalho avance significativamente, com a vantagem de o texto poder ser melhorado com as
novas leituras a serem feitas posteriormente. Tudo o que é escrito com antecedência permite
revisões e acréscimos para melhorá-lo.
Em suma, o trabalho intelectual exige muita atividade mental, de modo que, em geral, se torna
improdutivo se estivermos cansados. Poucas pessoas têm treino para ficarem oito horas por
dia lendo e escrevendo, por exemplo. Há ainda outro problema: uma pesquisa, para ser bem
realizada, necessita de familiaridade com o objeto de estudo e maturidade diante de nossos
textos-base. É muito mais produtivo um contato diário menor, mas frequente, com sua pesquisa
do que dez horas de atividade no domingo. Ou seja, deixar para a última hora é sempre um
problema, com o agravante da tensão emocional gerada pela pressão dos prazos. Não nos
esqueçamos também de um problema prático – o orientador estará mais disponível no início do
prazo do que no final, quando terá de ler muitos artigos em um período curto. Quem quer uma
atenção privilegiada não pode se dar ao luxo de deixar tudo para o último mês.
VOLTARPARA SEÇÕES
40
Realize uma primeira tentativa de estruturação de seu projeto, faça uma pesquisa bibliográfica
sobre o tema escolhido, veja o que você encontrou e inicie as leituras que julga mais importantes.
Pontuando
Nós vimos nesta Aula:
• Exposição da formatação e normatização de artigos científicos.
• A questão de trabalhos plagiados.
• A diferença entre bibliografia e referência bibliográfica.
ReferênciasABNT. NBR 10520. Informação e documentação: citações e, documentos – elaboração. Rio de Ja-neiro: ABNT, 2002 apud “Citações”. UFRGS, documento eletrônico. Disponível em: http://www.ufrgs.br/faced/setores/biblioteca/citacoes.html. Acesso em: 09 jan 2013.
BUENO, Marco. Monografia sem segredo: Algumas dicas importantes (Texto extraído da revista Nova Escola, abril de 2004). GO: CESUC, 2004. Disponível em: http://www.simaodemiranda.com.br/Dicas_Importantes.pdf Acesso em: 12 abr 2013.
CERVO, A. L. & Bervian, P. A. Metodologia Científica. São Paulo: Makron Books, 1996.
COMO FAZER REFERÊNCIAS. Arquivo eletrônico. Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Disponível em: http://www.bu.ufsc.br/home982.PDF (Formato PDF); http://www.bu.ufsc.br/framere-fer.html (Formato html). Acesso em: 09 jan 2013.
DANTON, Gian. Metodologia Científica. MG: Virtual Books, 2002. Disponível em: http://virtualbooks.terra.com.br/osmelhoresautores/Metodologia_cientifica.htm Acesso em: 12 abr 2013.
Vamos pensar
41
FURTADO, José Augusto P. X. Trabalhos acadêmicos em Direito e a violação de direitos auto-rais através de plágio. Site: Jus Navigandi, 09/2002. Disponível em: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3493 Acesso em: 12 abr 2013.
Lakatos, E. Maria & Marconi, Marina de Andrade. Fundamentos de Metodologia Científica. São Paulo: Atlas, 1991.
MECANISMO ONLINE PARA REFERÊNCIAS. Aplicativo eletrônico. UFSC. Disponível em: http://www.rexlab.ufsc.br:8080/more/formulario1 Acesso em: 09 jan 2013.
RODRIGUES, André Figueiredo. Como elaborar citações e notas de rodapé. SP: Humanitas, 2007.
______ . Como elaborar e apresentar monografias. SP: Humanitas, 2008.
______ . Como elaborar referências bibliográficas. SP: Humanitas, 2008.
SIMÕES, Darcília. Trabalho acadêmico. O que é? Como se faz? Rio de Janeiro: Dialogarts, 2004. Disponível em: http://www.dialogarts.uerj.br/arquivos/trabalhoacademico2004.pdf Acesso em: 12 abr 2013.
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Referências
Vamos pensar
Aula 03 : A Importância do Fichamento
VOLTARPARA SEÇÕESAula
44
03
A Importância do FichamentoObjetivos
Discorrer sobre os níveis de leitura.
Exporofichamentocomoinstrumentodepesquisa.
Explicaroscaminhosparaarealizaçãodofichamento.
Abordar a escolha do tema de pesquisa.
Apresentar boas fontes para escolha do tema.
1. O Fichamento
A pesquisa bibliográfica é indispensável para a realização de um bom artigo, contenha ele
trabalho de campo ou não. Mas nem sempre o pesquisador sabe como lidar com os dados lidos
nos mais diversos livros e artigos. O fichamento é um recurso dos mais importantes para que
as paráfrases e citações literais ocorram de forma apropriada no corpo do texto. O fichamento
não deve se reduzir a uma anotação direta das ideias principais do que se está lendo. Este
é um primeiro momento, importante, mas não exaustivo. Após essa primeira leitura, deve-
se fazer um esquema geral do argumento central do texto. Um dos problemas mais comuns
ocorre quando o leitor apreende o texto apenas em sua superfície, “entendendo” as ideias na
medida em que são lidas, mas sem conseguir visualizar a articulação do argumento como um
todo. Neste ponto, a introdução é de suma importância – lá, em um texto bem construído, a
condução inicial das ideias explicita como o argumento central será desenvolvido, e oferece
as informações iniciais para que o leitor possa tirar o máximo proveito da leitura. Discutiremos
mais adiante as implicações da introdução em um texto acadêmico, seja artigo, monografia,
dissertação ou tese (vale lembrar que as quatro categorias mencionadas comportam o
conceito de “monografia”, uma vez que se trata, basicamente, do desenvolvimento de uma
ideia).
Uma leitura apenas não é suficiente, na maioria das vezes, para que um argumento seja
plenamente entendido. Por isso, é didaticamente improdutivo deixar as coisas para a última
45
hora. O tempo de reflexão, tão esquecido nos dias da tecnologia da informação, é fundamental
para que o amadurecimento de uma ideia se realize. Após ler o texto, fichando suas partes
centrais, deve-se relê-lo, do início, com o dobro de atenção da primeira leitura. Agora, sim, o
fichamento das ideias pode ser acompanhado pela reconstrução analítica da espinha dorsal
do texto, entendendo como o argumento se organiza, em quais teorias se baseia, com o que
concorda e do que discorda.
Tomemos como exemplo o resumo e introdução do artigo “O planejamento estratégico
dentro do conceito de administração estratégica” (ALDAY, 2000)1. A título de ilustração, o
resumo será fichado em forma de fluxograma e a introdução em forma de itens e fluxograma.
Tomemos, primeiramente, o resumo:
Resumo
Este texto visa destacar a importância do Planejamento Estratégico na gestão das
organizações, dentro do conceito de Administração Estratégica. Apresenta as principais
etapas para a implantação do processo de administração estratégica e procura esclarecer
os aspectos fundamentais do relacionamento dos conceitos de visão estratégica e gestão
na implantação do planejamento estratégico, bem como destacar algumas opiniões
atuais de como devem ser tratados o planejamento para o presente e o planejamento
para o futuro.
Embora o texto seja curto, as ideias nele presente estão todas articuladas. Reparem como o
fluxograma pode ser de grande utilidade na visualização dessas articulações:
1 Não falaremos do desenvolvimento e da conclusão do artigo, mas a quem interessar, consta nas referências o link de acesso para o texto integral.
Aula 03 | A Importância do Fichamento
VOLTARPARA SEÇÕES
46
Administração Estratégica
Planejamento Estratégica
Visão Estratégica Gestão
Presente PassadoFigura 1 – Fluxograma do resumo
O fluxograma acima é capaz de organizar as ideias do texto com grande eficácia. A prática na
sua construção pode contribuir muito para visualizarmos a espinha dorsal de um argumento.
Lembrando o que falamos acima, o entendimento de um texto não se dá apenas pelo
entendimento dos tópicos elencados nos parágrafos, mas sim pela apreensão de como eles
se articulam no discurso. Vejamos uma possibilidade para o fichamento da introdução do
artigo, agora trabalhando, para compararmos ambas as formas, com itens e com o fluxograma:
Introdução
Muito se fala em Planejamento Estratégico (PE), e nas organizações de maneira geral
ainda se pode encontrar uma série de interpretações em relação a esta ferramenta da
administração.
O Planejamento Estratégico, que se tornou o foco de atenção da alta administração
das empresas, volta-se para as medidas positivas que uma empresa poderá tomar para
enfrentar ameaças e aproveitar as oportunidades encontradas em seu ambiente.
Aula 03 | A Importância do Fichamento
47
Empresas de todos os tipos estão chegando à conclusão de que essa atenção sistemática
à estratégia é uma atividade muito proveitosa. Empresas pequenas, médias e grandes,
distribuidores e fabricantes, bancos e instituições sem finalidade de lucro, todos os
tipos de organizações devem decidir os rumos que sejam mais adequados aos seus
interesses.
As razões dessa atenção crescente à estratégia empresarial são muitas, algumas mais
evidentes que outras. Dentre as causas mais importantes do crescimento recente do
Planejamento Estratégico, pode-se citar que os ambientes de praticamente todas as
empresas mudam com surpreendente rapidez. Essas mudanças ocorrem nos ambientes
econômico, social, tecnológico e político. A empresa somente poderá crescer e progredir
se conseguir ajustar-se à conjuntura, e o Planejamento Estratégico é uma técnica
comprovada para que tais ajustes sejam feitos com inteligência.
Trata-se de um instrumento mais flexível que o conhecido Planejamento a Longo Prazo.
Um elemento-chave da estratégia é a seleção de apenas algumas características e
medidas a serem consideradas tomadas.
É um instrumento que força, ou pelo menos estimula, os administradores a pensar em
termos do que é importante ou relativamente importante, e também a se concentrar
sobre assuntos de relevância.
O mais importante na utilização do Planejamento Estratégico é o seu estreito vínculo
com a administração estratégica nas organizações. Não se pode tratar isoladamente
o planejamento estratégico sem entrar no processo estratégico, contribuindo assim de
forma mais eficaz com a gestão dos administradores na obtenção dos seus resultados.
A introdução, constituída de sete parágrafos, prepara o leitor para o desenvolvimento. O
argumento se desenvolve, em cada parágrafo, da seguinte forma:
• Várias interpretações para o Planejamento estratégico (PE);
• Objetivos do PE;
• Aceitação do PE em empresas de todos os tipos;
Aula 03 | A Importância do Fichamento
VOLTARPARA SEÇÕES
48
• Razões para essa aceitação;
• PE: mais flexível do que o Planejamento a Longo Prazo (PLP);
• PE: concentra-se no importante e no relevante;
• O PE possui vínculo estreito com a Administração Estratégica (AE).
Discutiremos a seguir as partes constitutivas de um artigo. Por ora, vale à a pena focarmos
como cada item emerge do item anterior, construindo o tecido do argumento. Após apresentar
o PE, o autor, no parágrafo cinco, já adianta um dos tópicos centrais a serem tratados no seu
texto, embora apenas superficialmente – o confronto entre o PE e o PLP. Em um fluxograma,
poderíamos representar essa introdução de uma forma mais rica, explicitando as articulações
do argumento (o número do parágrafo aparece entre parênteses):
(4) Razões
Planejamento Estratégico (PE)
(1)Várias interpretações
(2) Objetivos (3) Amplaaceitação
Características
(5) Mais flexível que PLP
(6) Concentra-se no
importante e no relevante
(7) Vínculo estreito
com AE
Figura 2 – Fluxograma da introdução
Uma vez que o fichamento pode vir a ser usado um bom tempo após ser feito, uma boa dica para quem está fichando textos para o artigo final é, após o fichamento, escrever um ou dois
Aula 03 | A Importância do Fichamento
49
parágrafos com as suas impressões e eventuais intuições sobre o texto. Após três ou seis meses essas impressões, se não registradas, terão sido, muito provavelmente, esquecidas. Esses pequenos parágrafos podem então ser de grande valia para o autor.
Claro que há quem não goste de trabalhar nem com itens, nem com fluxograma, preferindo escrever parágrafos coesos. O fichamento é para uso próprio, de modo que não há imposições quanto à forma de sua execução. O pesquisador deve fazê-lo como preferir – escrever em papel, no computador, riscar o próprio texto etc. Contudo, vale a pena praticar um pouco a construção de fluxogramas, pois eles permitem, indubitavelmente, uma ótima visualização do argumento. O mesmo vale para a construção do próprio artigo – construções gráficas anteriores ou paralelas à sua redação colaboram para que criemos um argumento claro e coerente.
2. O PROJETO DE PESQUISA
2. 1 O PROJETO
O projeto de pesquisa pode ser entendido como o planejamento detalhado da pesquisa a
ser realizada. Apesar de ser um passo inicial, com a devida abertura para as descobertas da
pesquisa (o projeto não pode conter a conclusão do trabalho ainda por realizar), seu texto tem
de demonstrar clareza e uma relativa familiaridade com o tema, com uma boa exposição da
proposta de trabalho. Embora possa haver alterações nos planos do trabalho, devido ao ritmo
que a própria pesquisa tende a impor ao pesquisador, a proposta inicial tem de ser viável e
séria. A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) define que o projeto deve ter as
seguintes partes constitutivas:
• Introdução
• Levantamento de Literatura
• Problema
• Hipótese
• Objetivos gerais e específicos
• Justificativa
Aula 03 | A Importância do Fichamento
VOLTARPARA SEÇÕES
50
• Metodologia
• Cronograma (opcional)
• Recursos (opcional)
• Referências
• Anexos (opcional)
A introdução é o momento de maior liberdade no projeto. Nela pode-se discorrer sobre ele de
forma mais geral, trazendo exemplos e dados que contribuam para dar um bom panorama do
tema e de seu futuro desenvolvimento ao leitor. Embora haja uma seção posterior dedicada
à justificativa, a introdução é um bom lugar para reforçar a importância da pesquisa.
O levantamento da literatura não é as referências bibliográficas, mas um comentário sobre as
referências que nortearão o trabalho. Em outros termos, aqui não se trata de discutir todos os
textos relacionados nas referências bibliográficas, mas apenas os que serão a base teórica ou
o objeto da pesquisa. Para escrever o projeto, algumas leituras já devem ter sido feitas. Este
é o momento de falar sobre as mais relevantes. Contudo, devemos sempre manter o foco.
Um livro que achamos fantástico, mas que será usado apenas parcialmente no artigo, não
pode ganhar mais evidencia do que um texto que será uma das sustentações do argumento.
O gosto pessoal não pode prevalecer sobre as exigências da pesquisa.
O aluno que não tem leitura e/ou experiência na área em que pretende trabalhar não terá
condições de discorrer sobre o problema, a hipótese, os objetivos, a justificativa e a metodologia
a ser empregada. Esses tópicos devem ser escritos da forma mais objetiva, sucinta e clara
possível. Não há espaço aqui para generalizações ou comentários. O “problema” é a questão
por nós levantada, em geral algum assunto em uma área específica que não está resolvido. Há,
frequentemente, uma preocupação dos alunos com uma suposta necessidade de ser original.
Porém, os trabalhos acadêmicos, em sua maioria, não são “originais”, mas intervenções
em discussões relevantes. A originalidade está mais no ponto de vista adotado do que no
tema propriamente dito. Não se encontra um tema original para se escrever um artigo de
especialização. Vale mais a pena pensar que estamos contribuindo para uma discussão mais
ampla.
O que seria a “hipótese”? Trata-se de uma proposição inicial que orientará a nossa pesquisa e
Aula 03 | A Importância do Fichamento
51
que será validada ou não. Um estudo de caso sobre a queda nas vendas de uma determinada
empresa, apesar da aparente aceitabilidade do produto no mercado, deverá seguir um certo
caminho investigativo. Esse caminho é norteado pela hipótese inicial. Sem hipótese, a pesquisa
perde o foco. O que teria causado o frio rigoroso na Europa neste ano de 2011? Hipóteses
são lançadas e então investigadas. A investigação pode provar que a hipótese é verdadeira,
parcialmente verdadeira ou falsa, abrindo caminho para novas pesquisas e novas hipóteses.
Alguns artigos possuem um argumento que pode não ser orientado por uma hipótese. Isso
ocorre, sobretudo, em textos de divulgação, discutidos na nossa primeira aula. Salvo esse
caso, hipóteses estão sempre presentes, mesmo que não explicitadas. Mesmo um trabalho
que compare duas teorias sobre o ensino da língua estrangeira, uma teoria behaviorista e uma
comunicativa, por exemplo, tem de possuir um ponto de entrada em ambas as teorias que
justifique a comparação. Uma hipótese inicial poderia ser, por exemplo, que os mecanismos
de ensino da abordagem comunicativa são mais eficientes. O trabalho poderia levar a uma
conclusão de que essa eficiência seria maior para algumas habilidades linguísticas e menor
para outras. Ou mesmo surpreender o pesquisador com um resultado oposto à hipótese
inicial.
Dito isso, temos de enfrentar o problema dos objetivos gerais e específicos. O objetivo não
seria a própria verificação da hipótese, uma vez que o objetivo é a meta a ser alcançada? De
certa forma, sim, uma vez que os dois tópicos estão intimamente relacionados. Mas, nessa
seção, deve-se especificar melhor o que se pretende fazer. Retomando o exemplo do estudo
de caso colocado quando falávamos da hipótese, os objetivos poderiam ser especificados do
seguinte modo:
O objetivo do presente trabalho é detectar as causas das dificuldades enfrenta-das pela empresa “X”. Para tal, tem-se como objetivos específicos: investigar o panorama do mercado atual para o produto “y”, a qualidade dos produtos dos concorrentes e o modo como fazem a publicidade; investigar como a empresa “X” está atuando no mercado, por meio de um exame minucioso de seu depar-tamento de marketing; estabelecer uma comparação entre a empresa “X” e seus concorrentes; realizar uma pesquisa de satisfação com os clientes atuais e os an-tigos clientes que deixaram de comprar os produtos da empresa; e, por fim, bus-car uma estratégia, diante das evidencias encontradas, para reverter o quadro atual a médio prazo.
A justificativa é a razão pela qual vale a pena tratar deste assunto. No caso acima, a justificativa
pode ser a inconsistência entre as expectativas da empresa e o resultado alcançado ou, em
Aula 03 | A Importância do Fichamento
VOLTARPARA SEÇÕES
52
um plano mais geral, o mapeamento de problemas de estratégia que possam atingir também
outras empresas. As possibilidades de justificativa são várias, mas têm de estar sempre
relacionadas à pesquisa. A justificativa não pode ser do tipo “trabalho na empresa e quero
saber o que está acontecendo”. Embora questões pessoais, não raro, motivem a investigação,
o trabalho deve apresentar sempre objetivos fora dessa esfera.
A metodologia refere-se ao modo como a pesquisa será realizada. Será um trabalho
fundamentalmente teórico, baseado na pesquisa bibliográfica e análise de textos? Haverá
pesquisa de campo? Qual será a metodologia empregada para a pesquisa? Será qualitativa
ou quantitativa? Haverá estudo de caso? Como o objeto de estudo será abordado? Haverá
classificação dos dados levantados? Como serão trabalhados? Essas são algumas perguntas
a serem respondidas nessa seção, sempre de acordo com as exigências da pesquisa.
Após a seção de metodologia, temos o cronograma. Embora a ABNT o considere opcional,
ele permite um planejamento das atividades a serem cumpridas. O problema mais evidente
nesse tópico é que há uma forte tendência do aluno desconsiderar os prazos estipulados,
seja porque foram mal planejados, seja por questões de organização pessoal. Uma boa
atitude diante do cronograma pré-estabelecido no projeto é a de tentar, de fato, cumprir as
datas estabelecidas, mas sempre com a possibilidade de alterações no decorrer do trabalho,
conforme as novas necessidades da pesquisa. Em geral, os cronogramas são apresentados
em forma de tabelas como a mostrada a seguir:
Aula 03 | A Importância do Fichamento
53
Aula 03 | A Importância do Fichamento
Tabela 1 – Exemplo de cronograma
A tabela acima é apenas um exemplo. As datas parciais de entrega, por exemplo, serão
decididas pelo orientador. Manter um cronograma atualizado permite uma melhor organização
das atividades a serem realizadas e, consequentemente, um melhor gerenciamento do nosso
tempo.
A seção “recursos” é utilizada quando há auxílio financeiro para a pesquisa. Os gastos são
então relacionados para um ressarcimento futuro ou para prestação de contas de valores
recebidos. Os anexos são, em geral, documentos (textos, fotos, comprovantes etc.) que
venham a ser importantes para o projeto.
2. 2 GERENCIAMENTO DO TEMPO
Vimos que o pré-projeto possui uma seção dedicada ao cronograma. A construção
do cronograma, porém, deve ser feita com bastante cuidado, dando atenção tanto às
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necessidades da pesquisa propriamente dita quanto ao ritmo de trabalho do pesquisador. Em
outros termos, precisamos nos conhecer. É muito comum que alunos estabeleçam prazos
para ler uma quantidade grande de textos ou apresentar versões avançadas do trabalho
que simplesmente não poderão cumprir, seja por questões de tempo, seja por questões de
disposição e organização. Vamos tratar brevemente delas.
Quanto ao tempo, cada um sabe quanto dele tem disponível para o trabalho acadêmico.
Talvez a maior dificuldade esteja em uma certa “segurança” de que, se deixarmos para
amanhã o que faríamos hoje, ainda haverá tempo o suficiente para o término do trabalho.
Essa segurança é comum no início das atividades, quando temos muitos meses para o
término do artigo. Contudo, essa postura pode nos trazer problemas, porque é praticamente
inevitável que o trabalho tome mais tempo do que o imaginado, principalmente se o aluno não
está familiarizado com o trabalho acadêmico. O resultado, em geral, é muita pressão no final
do processo e um trabalho regular, quando um texto de mais qualidade teria sido possível.
Leituras e fichamentos demandam tempo, e não é uma boa solução deixar de fichar para
economizá-lo, sobretudo em textos que serão, com muita probabilidade, usados, direta ou
indiretamente, no artigo. Após um tempo relativamente longo, tendemos a esquecer o que
lemos (e mesmo onde lemos aquele parágrafo que resolveria muito do nosso problema, o
que é ainda mais frustrante).
Uma boa dica é programarmos o nosso cérebro com um prazo final anterior ao prazo oficial.
Terminar o trabalho um ou dois meses antes é excelente, pois permite que ele seja relido
após duas ou três semanas, período que contribui para que mantenhamos a distância do
texto que, na fase da escrita, é muito difícil de ser alcançada. Horas sem dormir nos últimos
dias antes da entrega contribuem para que nosso rendimento caia drasticamente. Para
retomarmos o tópico discutido anteriormente, fichamentos bem feitos permitem um ganho de
tempo surpreendente na hora da escrita do texto final. Quanto mais material lido e fichado à
disposição, mais rapidamente construiremos nosso texto.
Quanto à disposição, seria ingênuo tentar traçar tendências universais, uma vez que pessoas
diferentes podem apresentar variações imensas neste tópico, ou a mesma pessoa em
momentos diversos de sua vida. Em geral, para os que se sentem rapidamente desmotivados,
um bom recurso é a troca de atividades. Se a leitura não está rendendo, talvez valha a
pena ler outro texto que, embora tratando do mesmo tema, seja mais agradável. Outras
Aula 03 | A Importância do Fichamento
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opções seriam escrever, rever o que já foi escrito, buscar mais material na internet, assistir
um vídeo sobre o assunto, em suma, fazer algo que permita que o trabalho continue fluindo.
O contato prolongado com o tema é fundamental para que nossa mente possa articular
toda a informação recebida. Só assim escreveremos “como nós mesmos”, a partir de nossa
experiência. Claro que apenas quem faz as coisas com antecedência pode desfrutar desse
privilégio. Sob pressão, há menos escolha.
Uma organização adequada de nossas atividades pode contribuir muito para uma boa
disposição. Façamos uma listagem do que tem de ser feito, classificando as atividades em
longas e curtas, e o que deve ser feito a curto, médio e longo prazo. Uma boa planilha
pode permitir mudanças de atividade que não afetem o andamento do trabalho, garantindo-
nos aquele dia ou semana de folga merecidos, quando adiantamos as nossas tarefas. O
estresse pode ser evitado com uma organização eficiente. Trabalhar muito em um feriado
pode significar um próximo feriado bastante tranquilo. Tenhamos em mente que o que deve
ser buscado é o máximo possível de tranquilidade no último terço de nosso prazo.
Há momentos em que temos de saber parar. Um caso comum é o das leituras. Sempre haverá
centenas, se não milhares, de bons textos sobre o assunto com o qual estamos lidando. Mas
é importante estabelecermos prazos para parar de ler e começar a escrever. Nunca teremos
lido tudo o que gostaríamos. As paradas para a escrita permitem que o trabalho avance
significativamente, com a vantagem de o texto poder ser melhorado com as novas leituras
a serem feitas posteriormente. Tudo o que é escrito com antecedência permite revisões e
acréscimos para melhorá-lo.
Em suma, o trabalho intelectual exige muita atividade mental, de modo que, em geral, se torna
improdutivo se estivermos cansados. Poucas pessoas têm treino para ficarem oito horas por
dia lendo e escrevendo, por exemplo. Há ainda outro problema: uma pesquisa, para ser bem
realizada, necessita de familiaridade com o objeto de estudo e maturidade diante de nossos
textos-base. É muito mais produtivo um contato diário menor, mas frequente, com sua pesquisa
do que dez horas de atividade no domingo. Ou seja, deixar para a última hora é sempre um
problema, com o agravante da tensão emocional gerada pela pressão dos prazos. Não nos
esqueçamos também de um problema prático – o orientador estará mais disponível no início do
prazo do que no final, quando terá de ler muitos artigos em um período curto. Quem quer uma
atenção privilegiada não pode se dar ao luxo de deixar tudo para o último mês.
Aula 03 | A Importância do Fichamento
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3. AS PARTES CONSTITUTIVAS DE UM ARTIGO
3. 1 A INTRODUÇÃO
A introdução de um artigo científico é um texto que antecede o desenvolvimento da pesquisa
e que tem a função de introduzir o leitor na discussão que se seguirá. Logo, a lógica da
organização de uma pesquisa pressupõe que a introdução seja escrita após a sua realização.
A introdução para a pesquisa é o projeto, que o antecede. Mas a escrita final, que apresenta
o desenvolvimento e conclusão do trabalho, obedece a outra ordem. É comum que o
aluno inicie a escrita da introdução antes de ter a pesquisa terminada ou em um estágio
avançado. O resultado pode ser um texto que não se mostre articulado adequadamente ao
desenvolvimento.
Uma boa introdução é estratégica e conduz o leitor ao texto que se segue. Deve passar
segurança e manter uma clareza só possível quando os resultados já estão concluídos.
Repetindo, a introdução é para o leitor. Mesmo o resultado, em geral, não sendo dado no
início do trabalho, ele deve ser conhecido do escritor, garantindo o conhecimento que tornará
possível um estilo claro e seguro. A introdução de uma monografia ou de um artigo científico
deve conter:
• A definição do tema;
• A delimitação do tema;
• A indicação do problema;
• A indicação do objeto de estudo;
• A apresentação dos objetivos;
• A justificativa;
• A metodologia empregada.
Ao se deparar com esta lista, a tendência do aluno é de enrijecer o seu texto, que tenta a todo
custo se moldar à exigência das partes constitutivas mencionadas. Muitas vezes o resultado
é um texto duro, pouco fluente, que acaba por não realizar uma das funções essenciais da
introdução: cativar o leitor.
Aula 03 | A Importância do Fichamento
57
Ressaltemos que a introdução não é um projeto de pesquisa, de modo que estas partes não
necessitam estar destacadas. É bastante comum que apareçam em um texto único, sem
subseções. A ordem, também, não é rígida, embora exista uma tendência a segui-la. Uma
forma de não perder o “estilo” é, tendo em mente todas as partes da introdução, escrever um
texto único e fluente sem se preocupar, em um primeiro momento, com todos estes itens.
Deve-se escrever um texto interessante que, além de dizer ao leitor a sua importância, mostre
a relevância do trabalho. Para isso, deve-se ir além dos tópicos expostos, trazendo material
que desperte a curiosidade e/ou o interesse do leitor. Feito isso, uma leitura atenta poderá
checar se todos os itens estão presentes. É mais fácil acrescentar um que esteja ausente do
que preocupar-se com todos eles exaustivamente desde o início, o que tende, caso o escritor
não domine a escrita acadêmica, a gerar um texto pouco fluente.
Muitas vezes, tópicos como “tema específico”, “objetivo”, ou “justificativa” não são tão distantes
um do outro. Assim, ao construir um texto único, corre-se um risco menor de exagerar nas
repetições do mesmo assunto para tentar suprir as demandas da introdução. Vamos supor
que estamos trabalhando com Gestão Estratégica para empresas com mudanças na sua
direção. Seguindo o nosso esquema para uma boa introdução, teremos, em nosso exemplo:
• A definição do tema – Problemas da Gestão em casos de mudanças na direção da
empresa;
• A delimitação do tema – As dificuldades com gestão da empresa de embalagens KYK
(fictícia) após ser comprada pela empresa JMMC (fictícia);
• A indicação do objeto de estudo – As estratégias utilizadas pela empresa KYK nos
últimos 12 meses (após a compra);
• A apresentação dos objetivos – análise da raiz da ineficácia das estratégias, detecção
dos erros nas projeções de curto e médio prazo e formulação de uma ação estratégica
de curto prazo, capaz de solucionar problemas imediatos com custo acessível, e de
uma estratégia de médio prazo visando a recuperação do mercado perdido e possível
expansão futura;
• A justificativa – A empresa apresentava resultados positivos antes da compra; apesar da
crise, após a compra sua posição ficou bastante inferior à média;
Aula 03 | A Importância do Fichamento
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58
• A metodologia empregada – revisão bibliográfica sobre gestão estratégica em nosso
caso específico; análise dos dados da empresa antes e depois da venda; análise das
ações estratégicas tomadas; análise do ambiente externo; síntese para a busca de
soluções.
Feito isso, devemos iniciar nossa introdução. Há inúmeras estratégias a serem empregadas,
dependendo da experiência, conhecimento e habilidade do escritor. Podemos, por exemplo,
iniciar trazendo casos de sucesso em situações similares, para então apresentar nosso objeto
de estudo:
Indicadores dos últimos meses têm mostrado uma retomada na expansão das indústrias em São Paulo. Essa tendência geral pode ser verificada se tomarmos, por exemplo, as empresas SSRE e DEEW, voltadas para o mercado de embala-gens, tradicionalmente visto como um dos sinalizadores de expansão ou crise do mercado. De fato, a SSRE teve, após uma queda de 7% em sua produção no primeiro semestre de 2009, uma expansão de 19% nos últimos seis meses, um pouco acima da DEEW, embora, em linhas gerais, a curva decrescente seguida por uma forte alta tenha se mantido. Situação bastante diversa ocorreu com a empresa KYK, objeto de nosso estudo, que tem apresentado queda constante no último ano, após sua compra pela empresa IMMC. Antes concorrente das empre-sas citadas, tem perdido uma fatia considerável do mercado, especialmente nos grandes centros comerciais.
O parágrafo introdutório acima, sem dizer de forma explícita, já aponta para o tema e o objeto
de estudo, bem como para a justificativa – o insucesso da empresa KYK. O texto poderia
prosseguir apresentando mais detalhes da empresa, o conceito de g estão estratégica e a
metodologia a ser usada. Outra estratégia de introdução bastante comum é o movimento do
geral para o particular. Vejamos um exemplo na área odontológica (os dados são fictícios):
Atitudes simples podem gerar efeitos surpreendentes. Tem-se constatado, no Brasil e no mundo, uma redução considerável das cáries nos primeiros anos de vida por conta da mudança na rotina das crianças, mais habituadas à escovação e à melhor qualidade dos produtos odontológicos pediátricos. Outra ação eficaz para a saúde bucal, a fluoretação da água nos sistemas de abastecimento, tem sido alvo de polêmicas constantes. O assunto tem sido amplamente discutido no meio acadêmico, sua possível eficácia sendo contraposta a possíveis malefí-cios do produto no organismo humano. O presente trabalho tem como objeto de estudo a cidade de São João Pedro, região bastante pobre do litoral sul de São Paulo, na qual em torno de 15% da população, predominantemente da região norte, não tem acesso à água encanada. Como a cidade possui uma população grande de pobres com acesso a este serviço na região sul, uma pesquisa foi re-alizada com a população de ambas as regiões para a formulação de um quadro estatístico de frequência da cárie nas suas crianças.
Aula 03 | A Importância do Fichamento
59
Novamente, o tema, o objetivo, a justificativa, e mesmo a metodologia já começam a ser
delineados no primeiro parágrafo do trabalho, sem a necessidade de uma fragmentação do
texto em subseções. A introdução tem de ser muito bem escrita, cativar o leitor desde o
início. A relevância do conteúdo é fundamental, mas se o texto for muito fraco em estilo, há a
possibilidade do leitor desistir da leitura. Um texto acadêmico não tem que ser chato. Não há
critério de objetividade que elimine o prazer da leitura de um texto bem elaborado. Podemos
citar como exemplo Sigmund Freud, que, em vida, recebeu apenas um prêmio – o Prêmio
Goethe de Literatura. Seus textos são claros, didáticos, envolventes... e científicos.
3. 2 O DESENVOLVIMENTO
O desenvolvimento é o coração do artigo, o momento em que a pesquisa propriamente dita
é exposta e discutida. Aqui, o pesquisador deve apresentar ao leitor, de forma mais ampla,
a pesquisa feita, articulando os dados que constroem o argumento defendido. O artigo não
possui um único formato. Há diferenças de acordo com o seu conteúdo e a área da pesquisa.
Após a introdução, artigos mais teóricos tendem a ter uma revisão da literatura sobre o tema
estudado e uma análise posterior ou simultânea do seu objeto de estudo propriamente dito. Já
artigos com pesquisa de campo ou estudo de caso podem apresentar, no desenvolvimento,
seções de revisão da literatura, da metodologia empregada, dos resultados e da discussão. É
o orientador, familiarizado com o formato mais aceito em publicações científicas na sua área,
quem melhor pode orientá-lo quanto ao formato a ser empregado. Uma consulta a artigos em
revistas sérias da área ou no site da SciELO pode também ajudar bastante na escolha das
seções do desenvolvimento.
Com dito acima, em geral, o desenvolvimento inicia-se com a revisão da literatura sobre o
assunto ou com a seção denominada fundamentação teórica. Esta parte tende a apresentar
bastante dificuldade ao aluno, na medida em que o que está sendo discutido deve ter relação
com a pesquisa. Há uma tendência a discutir, nesta seção, muitas obras que não são
retomadas ou não estão vinculadas à pesquisa realizada, criando um problema estrutural
grave no trabalho. O aluno lê vários livros e, preocupado com a quantidade de referências
que o trabalho deveria conter, pode cair na tentação de trazer ao seu texto leituras que
lhe agradam ou que lhe tomaram muito tempo, mesmo que elas acarretem em um desvio
Aula 03 | A Importância do Fichamento
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60
injustificável do núcleo duro do argumento. O erro está na ausência de um critério de seleção
adequado. Incluir o que se leu implica em uma ausência de qualquer seleção, dificultando
a construção de uma perspectiva teórica forte. Para uma pesquisa, deve-se ler muito para
selecionar pouco. Não há sentido em trazer um número muito grande de autores ao texto,
se o preço pago for a dissolução da coerência do argumento. Melhor seria trazer apenas os
autores e textos relevantes, deixando-os falar mais.
A pesquisa pode ter sido realizada com pesquisa de campo ou não. Em áreas mais teóricas,
mas não apenas nelas, há a possibilidade de um trabalho conceitual, no qual teorias são
expostas, defendidas ou rejeitadas em um nível mais abstrato. Muitas vezes, mesmo em
áreas bastante práticas, há a necessidade de um trabalho teórico de elaboração conceitual
que pode constituir o argumento em si. Neste caso, não há pesquisa de campo, trabalho
com dados, estudo de caso, etc. Consequentemente, não haverá as seções de metodologia,
de resultados e de discussão dos resultados. A fundamentação teórica pode se fundir com
a pesquisa ela mesma, uma vez que a movimentação teórica já é, desde o início, o objetivo
último do trabalho. Contudo, é muito comum a pesquisa com estudo de caso e a utilização de
questionários, estudo que pode ser organizado indutiva ou dedutivamente. No primeiro caso,
é a própria pesquisa de campo que levanta as questões centrais a serem desenvolvidas e
que permite possíveis generalizações, sempre parciais, na conclusão. No segundo, trata-se
de uma demonstração da validade de uma teoria definida previamente.
É na seção sobre o método ou metodologia empregada que o pesquisador deixará claro ao
leitor como o objeto de estudo foi abordado. Se a pesquisa for laboratorial, por exemplo, será
preciso definir as substâncias que serão trabalhadas, suas densidades, diluições etc, bem
como os processos de controle e observação dos movimentos, das reações, das respostas a
estímulos, entre outros fatores. O material teórico, exposto na seção de revisão da literatura,
pode ser retomado em sua forma mais prática – descrição das metodologias, fórmulas, etc. Se,
por outro lado, a pesquisa trabalhar com dados, ela deve ser bem elaborada e fundamentada
no que tange à sua qualidade estatística. Trabalhos de cunho muito local dão pouca margem
a generalizações. Deve-se, neste caso, ter claras as limitações da pesquisa que se faz,
mostrando ao leitor a pouca abrangência da pesquisa e a necessidade do cruzamento destes
dados com dados de outros estudos semelhantes. Um trabalho brilhante pode não chegar
a conclusão nenhuma, ou chega à conclusão de que o processo foi “inútil” como gerador de
Aula 03 | A Importância do Fichamento
61
resultados satisfatórios. Se o tema for relevante, este pode ser o um ponto de partida para
trabalhos posteriores, que reconhecerão o valor deste primeiro esforço para a obtenção de
determinado conhecimento.
Se a pesquisa envolver dados estatísticos, não se deve deixar para a última hora a elaboração
de gráficos e tabelas. Utilize recursos diversos de visualização dos resultados, o que facilita
a leitura. O uso de gráficos ou tabelas deve ser acompanhado de textos explicitando-os e
conduzindo, pela análise dos dados, à síntese esperada. Não se deve acrescentar nenhum
dado que não seja produtivo ao argumento, dado este que pode corroborá-lo ou se opor a ele.
O enfrentamento, neste último caso, podendo gerar discussões fecundas.
As seções de resultado e de discussão podem vir juntas ou separadas. A discussão do
resultado pode ser entendida como um movimento além da especificidade da pesquisa. Os
resultados são, grosso modo, vinculados diretamente aos dados trabalhados. A sua discussão
permite que sejam situados em um contexto mais amplo, ganhando aspectos mais gerais. Se
uma pesquisa de campo mercadológica trabalhou com uma amostragem de pessoas de 20 a
25 anos, do sexo feminino, pertencentes à classe C em São Bernardo, a discussão pode, por
exemplo, comparar os resultados com os de outras pesquisas ou apresentar um panorama
mais amplo das classes e suas inter-relações, aprofundando a discussão sobre os resultados
obtidos.
3. 3 A CONCLUSÃO
Terminado o desenvolvimento, segue-se a conclusão. Um bom texto conclusivo deve retomar
os principais tópicos discutidos e explicitar, de forma breve e clara, a lógica que organizou
o desenvolvimento do argumento. Os resultados devem também ser descritos, mesmo que
já tenham sido comentados no desenvolvimento. A conclusão também é o momento ideal
para a indicação de novos rumos que venham a ampliar o escopo da pesquisa realizada. É
importante, também, apontar as limitações do trabalho realizado e dos resultados obtidos,
para não se passar uma ideia falsa de que a pesquisa realizada seria exaustiva (nunca o é).
Não se deve trazer informações novas neste momento do artigo, pois não poderão ser
desenvolvidas. A conclusão tem duas características essenciais. Primeiramente, trata-se das
considerações finais a respeito da pesquisa, que em geral é parte de uma rede de pesquisas
Aula 03 | A Importância do Fichamento
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62
no mesmo campo, e, logo, não é o ponto final da discussão. Mas, também, no que tange
à construção do texto, a conclusão é a finalização de um trabalho específico, mesmo que
parcial, e deve dar ao leitor a sensação de unidade. Os recursos retóricos para se atingir
este objetivo são vários, um dos mais usuais sendo uma breve retomada das questões
levantadas, por exemplo, na introdução. Um bom fechamento causa uma boa impressão ao
leitor, que “aguarda” uma finalização bem construída. Lembremos que estamos na esfera
retórico-textual – o fechamento do texto não implica no fechamento da pesquisa como parte
de um diálogo científico-acadêmico.
Se, em alguns momentos do desenvolvimento do trabalho, parágrafos densos podem ser
necessários, devido à própria complexidade do tema, a conclusão deveria ser mais direta, com
estruturas sintáticas que exigem menos do leitor. A estratégia responde a uma necessidade
inclusive persuasiva, pois é um momento de clarificação de tudo o que foi feito.
3. 4 O RESUMO E O ABSTRACT
Terminemos essa aula discorrendo um pouco sobre o resumo, o último texto a ser escrito.
Não faz sentido escrevê-lo antes do término do trabalho. O resumo deve conter apenas
informações precisas sobre o assunto e como o argumento foi desenvolvido. Nele não
constam exemplos ou comentários. O resumo é seco, e seu objetivo é o de informar ao leitor
muito rapidamente do que o texto trata. A função do resumo é auxiliar o leitor numa primeira
seleção do que ele deve ler. Dada a grande quantidade de textos escritos, quando fazemos
uma pesquisa temos de selecionar o que nos interessa. Em geral, não há tempo para se ler
a introdução de uma grande quantidade de artigos e de livros. Essa primeira seleção é feita
através do resumo.
Este resumo deve também ser apresentado em inglês, o chamado abstract. Caso o autor não
domine o inglês, deve pedir a ajuda a uma pessoa competente no que tange não apenas ao
conhecimento da língua, mas também ao estilo acadêmico. Uma pessoa com conhecimento
do inglês, mas pouco familiarizada com o estilo acadêmico, não será capaz de escrever um
bom texto. E nunca se deve confiar em tradutores eletrônicos. A possibilidade de erros e
frases ininteligíveis é enorme.
O resumo e o abstract são curtos, mas tão importantes, que não há justificativa para não
Aula 03 | A Importância do Fichamento
63
os tratar com a seriedade devida. É comum que o aluno deixe-os para o último minuto,
escrevendo-os um dia antes da entrega final. Neste caso, a probabilidade de ter como
resultado um texto ruim é grande.
Quanto às palavras-chave, evite termos muito gerais. Elas são, como o próprio nome diz,
uma chave de acesso ao texto. Palavras muito gerais vão gerar milhões, senão bilhões de
opções pelos algoritmos dos mecanismos virtuais de busca, tornando-se ineficientes. O leitor
também pode vir a se desinteressar por um texto que possua palavras-chave mal escolhidas.
O número de termos ou expressões deve ser no mínimo três e, no máximo, seis.
O resumo e o abstract são escritos, cada um, em um único parágrafo. O texto deve ter entre
100 e 150 palavras.
Vamos pensar
Elabore um cronograma com o planejamento do desenvolvimento de sua pesquisa.
Pontuando
Vimos nesta aula os seguintes assuntos:
• A escolha do tema de pesquisa.
• Fontes para escolha do tema.
• A leitura: seus níveis e formas de realizar.
• O fichamento como instrumento de pesquisa.
• Elaboração do fichamento.
Aula 03 | A Importância do Fichamento
VOLTARPARA SEÇÕES
64
ALDAY, H. E. C. “O planejamento estratégico dentro do conceito de administração estratégica”. Re-vista FAE. Curitiba: vol. 3, n. 2, p. 9-16, mai/ago 2000. Disponível em: http://docs.google.com/viewer?a=v&q=cache:QbAdfaGxVAsJ:www.fae.edu/publicacoes/pdf/revista_da_fae/fae_v3_n2/o_planeja-mento_estrategico.pdf+o+planejamento+estr Acesso em: 06 jan 2013.
BUENO, Marco. Monografia sem segredo: Algumas dicas importantes (Texto extraído da revista Nova Escola, abril de 2004). GO: CESUC, 2004. Disponível em: http://www.simaodemiranda.com.br/Dicas_Importantes.pdf Acesso em: 12 abr 2013.
CERVO, A. L. & Bervian, P. A. Metodologia Científica. São Paulo: Makron Books, 1996.
DANTON, Gian. Metodologia Científica. MG: Virtual Books, 2002. Disponível em: http://virtualbooks.terra.com.br/osmelhoresautores/Metodologia_cientifica.htm. Acesso em: 12 abr 2013.
FURTADO, José Augusto P. X. Trabalhos acadêmicos em Direito e a violação de direitos autorais através de plágio. Site: Jus Navigandi, 09/2002. Disponível em: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3493 Acesso em: 12 abr 2013.
GÜNTHER, Hartmut. Pesquisa qualitativa versus pesquisa quantitativa: esta é a questão? Psicolo-gia: Teoria e Pesquisa, Mai-Ago 2006, Vol. 22 n. 2, pp. 201-210. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-37722006000200010&script=sci_arttext&tlng=em#nt02 Acesso em: Acesso em: 12 abr 2013.
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RODRIGUES, André Figueiredo. Como elaborar citações e notas de rodapé. SP: Humanitas, 2007.
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Referências
65
seçõesLEGENDA DE ÍCONES
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PontuandoVídeos
Importantes
Referências
Vamos pensar
Aula 04 : A Escrita.
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68
04
A EscritaObjetivos
Apresentar o estilo de escrita, com foco no estilo científico.
Refletir sobre a importância do caráter monográfico do discurso científico.
1. A Escrita como Meio de Comunicação
As pressões por prazo e a necessidade de notas para que cumpramos os quesitos necessários
para a aprovação em nossos exames, embora necessárias, provocam seus efeitos colaterais.
Um deles é uma certa alienação da função fundamental da escrita – comunicar algo. Nesse
tópico, a escrita não se difere muito da comunicação oral. Falamos ou escrevermos a alguém,
para dizermos alguma coisa.
Evidentemente, apesar deste tópico em comum, há diferenças marcantes entre ambas as
formas de comunicação. Ter consciência dessas diferenças pode ser decisivo na hora da
construção de um texto escrito. Como na oralidade, a escrita também possui vários estilos.
Não usamos a mesma linguagem com familiares e colegas, em uma situação mais tensa de
entrevista de emprego ou em uma reunião com nossos superiores. Do mesmo modo, certas
gírias e expressões muito coloquiais, que usamos frequentemente com pessoas próximas,
tendem a ser evitadas com pessoas que ainda não conhecemos bem, e optamos por um
registro mais formal, que oferece maior segurança para evitar constrangimentos ou uma má
impressão inicial. Um bom vendedor é uma pessoa capaz de moldar seu discurso rapidamente,
“pescando” o que o comprador quer ouvir; da mesma forma, pessoas extremamente agradáveis
tendem a possuir um pouco dessa qualidade “camaleônica”, no interesse consciente ou
inconsciente de causar uma boa impressão. Se prestarmos atenção ao modo como usamos
nossa linguagem em diferentes situações, num mesmo dia, notaremos quão variados são
os registrados usados, desde a escolha sintática e vocabular até alterações na entonação e
no ritmo do discurso. Com a escrita, dadas as diferenças entre os meios de comunicação, a
variedade de estilos também é marcante. Antes de prosseguirmos, seria interessante falarmos
um pouco do conceito de estilo.
69
1. 1 Estilo e Variedade no Discurso
Uma dificuldade com este termo advém do fato de ele comportar ideias que, se de uma
perspectiva são semelhantes, de outra podem ser opostas. Se, por um lado, o estilo marca
a recorrência de certas estruturas sintáticas, retóricas, semânticas, sonoras ou rítmicas em
um texto, por outro lado essa recorrência ganha projeções bastante diversas caso estejam se
referindo à obra de um escritor, por exemplo, ou a um gênero. Em ambos os casos, o mesmo
termo pode ser empregado: falamos do estilo de Machado de Assis e do estilo jornalístico ou
acadêmico.
Este uso do mesmo termo para ideias que guardam certa diversidade pode gerar ambiguidades.
Quanto mais “literário” o estilo do texto, mas ele está livre nas convenções de gênero em
que se encontra. Textos acadêmicos, por exemplo, podem ser escritos de formas bastante
variadas, mas não possuem a gama de possibilidades que textos literários possuem,
liberdades que justificam até mesmo desvios da gramática formal em prol da criação de um
efeito estético. O que está por traz disso é o grau de importância da forma na mensagem
comunicada. Um contrato é construído com jargões; qualquer desvio do significado tende a
gerar ambiguidades que podem levar ao prejuízo financeiro. Não há espaço para o “belo”,
para o trabalho sobre a linguagem. Para escrever um bom contrato temos de conhecer o
termo específico para uma determinada operação financeira ou para um determinado
documento, com um espaço bastante reduzido para inovações. No outro extremo, a literatura
trabalha com o manuseio estético da própria forma, o que abre possibilidades infinitas para o
trabalho sobre a linguagem. Um texto acadêmico, entre ambos esses extremos, possui certas
liberdades, mas deve obedecer a critérios por vezes bastante rígidos.
Vejamos alguns exemplos. Se estivermos fechando um contrato para a aquisição de um
imóvel, encontraremos cláusulas que podem ser reproduzidas infinitamente, algumas vezes
apenas com a alteração dos dados dos envolvidos na transação. Um modelo disponível na
internet oferece exemplos bastante evidentes dessas cláusulas fixas:
NOME DO VENDEDOR, nacionalidade, estado civil, profissão, CPF nº ????, cédula de identidade nº ???? expedida por ????, e sua mulher ????????, es-tado civil, profissão, portadora do CPF nº ?????, cédula de identidade de nº ??? expedida por ???, residentes e domiciliados à rua ????, bairro ?????, na cidade de ?????, CEP ?????, , a seguir denominados simplesmente VENDE-DORES, e de outro lado NOME DO COMPRADOR, nacionalidade, estado civil, profissão, CPF nº ????, cédula de identidade nº ???? expedida por ????, e sua
Aula 04 | A Escrita
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mulher ????????, estado civil, profissão, portadora do CPF nº ?????, cédula de identidade de nº ??? expedida por ???, residentes e domiciliados à rua ????, bairro ?????, na cidade de ?????, CEP ?????, a seguir denominados simples-mente COMPRADORES, mediante cláusulas reciprocamente estipuladas, acei-tas e a seguir articuladas:
I. OBJETO DA COMPRA E VENDA
É objeto da presente Promessa de Compra e Venda o imóvel constituído pelo (casa/lotes/apartamento) de número ???, sito à rua ???, no bairro ????, matrícu-la de nº ???, constante do Cartório do ????? Ofício de Registro de Imóveis de Belo Horizonte, livre e desembaraçado de quaisquer ônus ou gravame.1
Neste exemplo, não se justificaria qualquer alteração que tivesse como preocupação a beleza
do texto, uma vez que o que interessa é a mensagem, da qual o texto é apenas um veículo.
Variantes como as seguintes:
André Luiz Glaser, bem casado e nascido neste país jovem e tão contraditório, possui duas profissões e tem interesse em fechar este contrato [...]
O interesse pela compra de um novo imóvel me move a redigir e assinar este contrato. Sou Brasileiro, tendo sempre vivido em São Paulo, mas sempre gostei do interior. Tenho condições de arcar com essa compra [...]
São, no mínimo, ridículas. Contudo, alterações consideráveis na forma não soam mais
estranhas se estamos no campo literário. Tomemos um trecho de um texto de A moreninha,
de Joaquim Manuel de Macedo:
Ao escutar aquele aviso animador que, repetido pela boca de Filipe, tinha chega-do até o gabinete onde conversavam Augusto e Fabrício, raios de alegria brilha-vam em todos os semblantes. Cada cavalheiro deu o braço a uma senhora e, par a par, se dirigiram para a sala de jantar. Eram, entre senhoras e homens, vinte e seis pessoas.
Aqui, podemos realizar uma série de alterações que, se de um lado modificam o texto, de
outro não se tornam “não-literárias” ou esquisitas. Por exemplo, podemos “modernizar” o
texto, trazendo-o para uma linguagem mais próxima a nós:
1 “Modelo de Contrato Particular de Promessa de Compra e Venda de Imóvel”. Disponível em: http://www.consumidorbrasil.com.br/consumidorbrasil/textos/modelos/imoveis/compraevenda.htm
Aula 04 | A Escrita
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Quando escutaram aquelas palavras animadoras que, repetidas por Filipe, tin-ham chegado até o quarto onde conversavam Augusto e Fabrício, todos os sem-blantes adquiriram expressões de alegria. Cada rapaz tomou o braço de uma moça e, pares em fila, se dirigiram para a sala de jantar. Ao todo, eram vinte e seis pessoas.
Ou, ainda, podemos alterar o próprio estilo do discurso, construindo, por exemplo, um texto
em discurso indireto livre, assumindo a perspectiva de alguma personagem fictícia:
Havia escutado aquele aviso animador. Sabia que havia sido proferido pela boca de Filipe, aquela voz que tanto conhecia. Olhar fixo em Augusto e Fabrício, o ritmo de seu corpo se acelerava. Será que Augusto a escolheria? Será que a to-maria como seu par? Todos os semblantes brilhavam, mas apena o dela estava marcado pela preocupação. Os cavalheiros voltaram-se para as damas. Não pode acreditar ao ver Augusto tomar outra garota como par.
Entre esses extremos, tomemos um exemplo de um parágrafo em estilo acadêmico, retirado
de uma Atividade preparada para alunos do Curso de Especialização em Estudos Literários:
Fim do romance tradicional? Mundo digital mimetizando a realidade concreta? Ou uma nova forma convivendo com a antiga – ainda tão presente e, apesar de tantos augúrios, viva? Qual o lugar da hiperficção na literatura? As promessas e realizações pós-modernas, construindo-se ao lado da expansão da tecnologia digital, tornaram possível a prosa da ruptura, prosa da narrativa textual-imagética, formalização do labirinto como arte possível. Dentro desta dialética continuidade/ruptura, perguntas emergem: Quais os limites da abertura para a construção do sentido? Indo além, quais novos sentidos estão sendo criados por essas novas produções culturais que parecem atender à necessidade de representação de um momento específico das relações sociais modernas, cada vez mais depen-dentes da nova tecnologia digital? Como definir esta nova estética digital?
Um dos recursos mais valiosos na escrita acadêmica é o da variedade. No caso, o parágrafo
foi construído com uma série de perguntas em seu início e em seu final. Trata-se de uma
escolha que pode ser alterada, por exemplo, se nos dermos conta que o parágrafo anterior
ou posterior também contém perguntas. A monotonia formal pode destruir o prazer de uma
leitura que, sob outros aspectos, pode se apresentar como bastante interessante. O texto,
sem as perguntas, poderia ficar assim:
A discussão sobre o fim do romance tradicional, cedendo lugar ao mundo digital, ou da coexistência de ambos como formas diversas de mimetizar a realidade, está entre as questões-chave da crítica literária contemporânea. Ao lado das formas do mundo virtual, o estudo da hiperficção como literatura tem sua rele-vância. As promessas e realizações pós-modernas, construindo-se ao lado da expansão da tecnologia digital, tornaram possível a prosa da ruptura, prosa da narrativa textual-imagética, formalização do labirinto como arte possível. Dentro
Aula 04 | A Escrita
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desta dialética continuidade/ruptura, pode-se perguntar quais seriam os limites da abertura para a construção do sentido, bem como quais novos sentidos es-tariam sendo criados por essas novas produções culturais que parecem atender à necessidade de representação de um momento específico das relações sociais modernas, cada vez mais dependentes da nova tecnologia digital. Dentro desta temática, deparamo-nos com a necessidade de definição desta nova estética
digital.
Outro recurso importante para variar o texto é deslocar seu tópico frasal, ou a frase que
contém o centro do argumento do parágrafo. A tendência é que essa frase venha no início
do parágrafo, mas, se isso se repete constantemente, pode-se causar monotonia ao leitor. O
próximo exemplo traz um parágrafo curto, com seu tópico frasal deslocado do início para o
centro e então para o final (o tópico frasal está em itálico):
A habilidade para produzir variedade em um texto acadêmico pode garantir um maior interesse por parte do leitor. Um texto formalmente monótono, mesmo que rico em conteúdo, tende a causar cansaço ao ser lido, mesmo que o leitor não identifique a causa deste aparente desinteresse. Alguns recursos, como inversão do tópico frasal e a alternância de períodos curtos e longos, podem contribuir para a solução deste problema.
Um texto formalmente monótono, mesmo que rico em conteúdo, tende a causar cansaço ao ser lido, mesmo que o leitor não identifique a causa deste aparente desinteresse. O recurso à variedade pode ser decisivo para evitar este problema e garantir um maior interesse por parte do leitor. A inversão do tópico frasal e a alternância de períodos curtos e longos estão entre técnicas para a produção de um texto diversificado em sua forma.
Um texto formalmente monótono, mesmo que rico em conteúdo, tende a causar cansaço ao ser lido, mesmo que o leitor não identifique a causa deste aparente desinteresse. Alguns recursos, como inversão do tópico frasal e a alternância de períodos curtos e longos, podem contribuir para a solução deste problema. Estes recursos produzem variedade em um texto acadêmico, o que pode garantir um maior interesse por parte do leitor.
Essa preocupação com o estilo está relacionada à qualidade comunicativa do texto escrito,
como vimos acima. Em um diálogo, ficamos irritados ou desinteressados quando nosso
interlocutor não articula as ideias ou as palavras de forma compreensível, mesmo que o
que ele tenha a dizer seja relevante. Não cometamos o mesmo erro ao escrevermos nossos
trabalhos. O estilo é uma porta de entrada para conquistarmos nosso leitor. Passemos agora
às características essenciais do discurso científico.
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2. O Discurso Científico
Dentre as características do discurso científico, podemos citar a necessidade de clareza e
de objetividade. Contudo, o discurso científico varia de acordo com a sua área de atuação.
Não há um estilo que seja abrangente o suficiente para abarcar todas as áreas de pesquisa.
Os critérios de objetividade de uma pesquisa de elementos químicos ou de uma pesquisa
desenvolvida para a construção de uma ponte não são os mesmos dos de uma pesquisa
sociológica. Quando entramos na esfera da literatura, da educação ou da política, a escrita
pode tomar rumos bastante divergentes dos de uma pesquisa “exata”, pois interesses políticos
ganham uma dimensão explícita. Digo “explícita” porque sempre há interesses, mesmo
quando o pesquisador se coloca como “neutro”. Toda pesquisa envolve atividades que têm
alguma relevância social e que, desta forma, respondem por interesses, na grande maioria
dos casos, do governo ou do mercado. Nós podemos nos “esquecer” destes interesses, ou
não tomar conhecimento deles, mas os investimentos não são, nunca, despropositados.
2. 1 Clareza
Alguns cuidados podem nos auxiliar muito na construção de um texto claro e objetivo. A clareza
depende de, pelo menos, dois fatores: uma lucidez a respeito do que temos a comunicar e
um bom controle da língua. Quanto ao primeiro, não é possível escrever bem sobre algo que
não está claro em nossa mente. Uma ideia complexa depende de vários articuladores lógicos
no discurso; se essa ideia não estiver madura na mente do escritor, o resultado será bastante
confuso. Vejamos um exemplo com erros típicos no que se refere à organização das ideias:
Mudanças climáticas de grande porte ocorrem com frequência. Há hoje pesqui-sas e esforços por ações políticas que possam minimizar o impacto dos avanços tecnológicos no clima, e essa preocupação com as reservas naturais e com o fu-turo do planeta deixou de ser restrita a especialistas no assunto. Também temos de frear o consumismo, por causar danos em nosso ecossistema global. Mas há opositores à ideia do aquecimento global, pois não há unanimidade quanto às causas reais dessas mudanças. Para a grande mídia, o aquecimento global é considerado inquestionável. Vejamos abaixo alguns exemplos de posições radi-calmente divergentes entre especialistas.
Embora o argumento acima seja relevante, a confusão na sua organização torna a sua leitura
difícil, transparecendo ao leitor a falta de domínio na organização de seu pensamento. O
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argumento se move do geral para o particular, e poderíamos “arrumá-lo” reorganizando a
ordem dos períodos e modificando os articuladores, quando necessário. Uma possibilidade
seria colocarmos, primeiramente, a ideia mais geral – o fato da preocupação com as reservas
naturais e com o futuro do planeta ter deixado de ser assunto de especialistas. Movendo-se
para o particular, o ponto seguinte seria a existência de pesquisas e ações políticas para
diminuir o impacto sobre o planeta. Depois, teríamos a questão da falta de unanimidade
sobre as causas, já apontando para questões acadêmicas a serem tratadas no artigo. O novo
texto ficaria assim:
A preocupação com as reservas naturais e com o futuro do planeta deixou de ser restrita a
especialistas no assunto. Mudanças climáticas de grande porte têm ocorrido com frequência,
levando a pesquisas e esforços por ações políticas que possam minimizar o impacto dos
avanços tecnológicos e, sobretudo, do consumismo no ecossistema global. Contudo, ainda
não há unanimidade quanto às causas reais dessas mudanças. O próprio aquecimento global,
considerado inquestionável pela grande mídia, possui seus opositores no campo científico,
pesquisadores que têm apresentado outras teorias para o fenômeno. Vejamos abaixo alguns
exemplos de posições radicalmente divergentes entre especialistas.
Em muitos casos, textos problemáticos podem ser resolvidos com uma nova disposição dos
períodos ou parágrafos. Organizar os tópicos antes de escrever, em forma de itens ou de
fluxograma, pode ser bastante útil para evitar a construção de textos confusos, como vimos
na aula passada. Uma leitura atenta após a escrita nunca é dispensável, e em geral é mais
produtiva se não for realizada logo após a escrita. Um ou dois dias de intervalo é um tempo
razoável para uma leitura mais distante de um texto produzido por nós. Outro recurso é
pedirmos para outras pessoas lerem o que escrevemos. Uma crítica honesta e bem recebida
pode nos poupar muitos transtornos futuros.
O outro aspecto fundamental para um texto claro, como colocado acima, é o bom controle da
língua. Aqui há uma dificuldade das mais sérias. Quem não possui esse controle precisa ter
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em mente que, quando o que está em jogo é a linguagem, nada acontece de forma rápida. A
maturidade com a escrita vem de anos de leitura e produção de textos, experiência que gera
uma familiaridade com este discurso. Se o aluno apresenta dificuldades muito grandes nessa
área, a leitura e o estudo da língua, embora fundamentais, não surtirão um efeito imediato, às
vezes necessário devido aos prazos para a entrega de trabalhos. Nesse caso, uma revisão
por um colega ou mesmo por um profissional, para TCCs, por exemplo, pode ser de grande
valia.
Podemos discutir a questão da especificidade do texto acadêmico por dois vieses: o primeiro,
mais geral, se refere à diferença entre o discurso escrito e o discurso falado; o segundo
refere-se ao discurso científico dentro do campo da escrita. Quanto ao primeiro tópico, a
interferência do discurso falado no escrito pode gerar um texto bastante pobre. Não se trata
aqui do escrito ser superior ao falado, mas do fato de ambos possuírem especificidades
bastante diversas. No discurso falado, temos o interlocutor à nossa frente, ou do outro lado
da linha telefônica. Se houver algum problema de entendimento, nosso interlocutor poderá
nos interromper e pedir para repetirmos o que foi dito. Da mesma forma, se percebemos que
a pessoa com quem conversamos não nos entendeu, podemos imediatamente reformular o
que foi dito. No texto escrito esse diálogo instantâneo não ocorre. Por outro lado, há tempo
para a elaboração do texto, de forma que podemos refletir sobre eventuais problemas de
entendimento que o leitor venha a ter. A ausência deste tempo de reflexão no discurso falado
gera a presença de repetições e de palavras e sons “desnecessários” do ponto de vista do
que está sendo dito, mas instrumentais para nos dar o tempo necessário para a organização
das ideias. Essas marcas não podem estar presentes em um texto escrito, salvo se for uma
mimetização do falado, como no discurso direto. Vejamos um exemplo:
Então, acontece que, como eu havia falado, o discurso oral difere do escrito. O
discurso oral é mais informal e depende mais da atenção do leitor.
Se esse trecho for “traduzido” para a linguagem escrita, deverá ser “enxugado”. Numa escrita
mais formal, a expressão “então, acontece que” desapareceria. Também poderia ser retirado
o “eu”, do “como eu havia falado”, e o tempo verbal poderia ser substituído pela segunda
pessoa do plural ou pelo impessoal. Outra alteração bem-vinda seria a remoção da repetição
de “discurso oral” no trecho “o discurso oral difere do escrito, o discurso oral é mais informal”.
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Poderíamos, ao invés disso, dizer:
O discurso oral, mais informal, difere do escrito.
O resultado final ficaria assim:
Como havíamos falado, o discurso oral, mais informal, difere do escrito, e de-pende mais da atenção do leitor.
Isso não quer dizer que as marcas apagadas no segundo exemplo estão erradas. Elas são um
erro quando aparecem em um discurso de caráter predominantemente escrito, e, sobretudo,
de caráter mais formal.
Outra interferência bastante comum da oralidade no discurso escrito, embora também faça
parte do discurso escrito informal, mais próximo do registro falado, são os pressupostos que o
emissor da mensagem assume serem conhecidos pelo receptor. Em um texto formal, situações
familiares ou que envolvem círculos pequenos de amigos jamais serão generalizadas como
de conhecimento do leitor. Podemos visualizar nosso leitor como conhecedor do assunto do
qual falamos, mas nunca como alguém que vivencia situações particulares de nossa vida.
Vejamos um exemplo: pode-se escrever um email para um amigo com as seguintes palavras:
Então, aquela festa rolou legal. E ela tava lá! Você acredita? Disse que tinha que estudar para a prova de amanhã, mas no fim acabou indo.
Contudo, se formos escrever sobre o mesmo assunto para uma pessoa que não nos conhece e
que não sabe nada da situação descrita, haverá a necessidade de adicionar mais informações
sobre o evento:
Ontem à noite houve uma festa na casa de uma amiga minha, a Carla. Foi seu aniversário. Eu estava animado para ir porque encontraria a Márcia, uma garota da minha sala que me interessa. Mas naquela manhã, na faculdade, ela me disse que não iria, porque não havia estudado o suficiente para a prova de cálculo que seria realizada no dia seguinte. Qual foi a minha surpresa quando a encontrei na festa!
Há a necessidade, aqui, de explicar o que não precisaria ser explicado para uma pessoa
que conhece a situação. Isso, que parece tão óbvio, é bastante difícil de ser realizado na
prática. Quando escrevemos para alguém que não nos conhece, as informações precisam
ser trabalhadas de forma tão clara que dependem da construção de uma distância com o
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nosso próprio texto, para que o leiamos como se fôssemos este leitor distante.
O assunto ganha uma dimensão ainda mais séria quando o que temos a comunicar é, por si
só, complexo – quando não se trata de ter ido ou não a uma festa, mas dos resultados de uma
pesquisa realizada por todo um ano, ou de uma análise complexa que nos tomou um tempo
imenso para ser realizada. Em casos com esses, não basta dizer apenas os resultados. O
leitor não acompanhou o processo da pesquisa e não sabe o que foi feito. É tão prejudicial
aqui escrever menos do que o mínimo necessário para comunicar a pesquisa quanto escrever
demais, cansando o leitor com informações desnecessárias.
Há vários modos, ou estilos, de escrita. No exemplo do email ao amigo, trata-se de uma
escrita informal, que pressupõe uma intimidade com a pessoa com quem nos comunicamos.
Já o texto acadêmico é construído mais formalmente. Muito do vocabulário e das construções
sintáticas que são comuns em um discurso informal, não cabem no discurso acadêmico.
Tomando o mesmo exemplo, podemos imaginar que ele agora seja parte de um relato em um
estudo de caso. Uma possibilidade para o texto seria:
O adolescente Marcelo havia sido convidado para uma festa que se realizaria na noite do dia 3 de setembro, na residência de uma amiga da faculdade de nome Carla, por conta do aniversário da moça. Marcelo relatou que estava bas-tante animado a ir, pois se encontraria, em um ambiente fora da faculdade, com Márcia, uma estudante de sua classe por quem estava se apaixonando. Mas na manhã do dia da festa, ao perguntar à sua colega se ela estaria lá, Márcia re-spondeu que não, pois teria que estudar para a prova de cálculo a ser realizada no dia seguinte. O adolescente ficou bastante alterado com a notícia, mas foi à festa mesmo assim. Lá, teve a surpresa de encontrar a colega de classe que, de última hora, decidiu distrair-se um pouco antes da prova do dia seguinte.
2. 2 Objetividade
Com relação à objetividade, o problema da definição do conceito é primordial. Estamos
falando do discurso científico ou da ciência propriamente dita, com seus métodos, pesquisas e
resultados? A ciência, sobretudo as ciências naturais, sempre teve como ideal a objetividade.
Contudo, não existe a menor possibilidade da objetividade plena em atividades humanas.
O que há é um cuidado para que haja a menor interferência possível do observador no
fato observado, vinculado ao interesse por uma análise investigativa, a mais exaustiva
possível no campo delimitado de observação. Mas, principalmente com o desenvolvimento
de metodologias próprias às ciências sociais, fica cada vez mais evidente a distância entre a
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aspiração pela objetividade e a sua efetiva concretização.
Não discutiremos essa questão aqui, já de certa maneira abordada na aula I, quando
discutimos as ciências naturais e as ciências humanas. Focaremos no discurso escrito, ou
seja, focaremos na objetividade na escrita. Como no caso anterior, devemos ter em mente
que essa objetividade é sempre parcial. Ela responde por um interesse de isolamento do
objeto, um distanciamento do sujeito observador com relação ao fato descrito. É como se
fosse possível dizer algo sem um envolvimento com o que se diz. Antes de tratarmos do
estilo objetivo, é produtivo discutirmos um pouco essa ilusão da objetividade que, em seu
ideal de apreensão desinteressada de um evento, não se dá conta muitas vezes da própria
mediação da experiência, realizada através da linguagem e da cultura. Como vimos na aula
I, o mero interesse por investigar algo não pode ser entendido como individual, mas parte
de um impulso histórico-cultural que nos faz “ver” certas manifestações humanas e naturais
como de interesse para o estudo, e outras não.
Hoje, por exemplo, há um interesse bastante acentuado, difundido nos Estados Unidos
e exportado para o mundo, em explicar propensões a doenças e ao humor (e mesmo à
felicidade) por meio da genética. Esse interesse vincula-se ao interesse maior por pesquisas
no campo genético, que movimentam bilhões de dólares ao ano na produção e venda de novos
medicamentos. A difusão generalizada de uma concepção que vincula a genética ao humor,
e mesmo ao nosso sucesso ou fracasso na vida, faz com que muitos de nós tomemo-la como
“objetiva”, próxima à realidade dos fatos. No entanto, basta nos distanciarmos um pouco
dessas teorias para nos darmos conta da existência de outras teorias de peso, que trabalham
sobre uma infinidade de outros fatores tão ou mais importantes na determinação de nosso
humor, como condições econômicas, preconceitos sociais ou a construção do consumidor no
mundo moderno (o verdadeiro consumidor é o eterno insatisfeito, uma realidade psicológica
que contribui muito para o estresse e a frustração, por exemplo). Qual teoria seria mais
“objetiva”? Talvez a pergunta seja menos relevante do que a investigação dos interesses
político-econômicos que as movem. Desse ponto de vista, mais importante do que um critério
de “objetividade plena”, seria o desenvolvimento de um olhar crítico e não preconceituoso.
Dito isso, podemos afirmar que, no que tange à escrita, o estilo objetivo é um estilo, uma
forma convencional de dizer algo que pode ser verdadeiro ou não. O estilo acadêmico é um
jeito de dizer algo, e como tal, possui as suas características próprias. Essas características
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devem ser incorporadas à escrita de quem busca escrever um bom texto acadêmico, pois
contribuem tanto para uma melhor exposição das ideias quanto para uma maior aceitação do
trabalho no meio acadêmico. Entre elas podemos citar:
• Economia no uso de adjetivos. Os adjetivos têm grande poder de expressão em nossas
opiniões pessoais. Como o texto acadêmico não é sustentado pela retórica, mas pelo que
é mostrado e logicamente construído, os adjetivos, mesmo que estejam corroborando o
que está sendo dito, tendem a enfraquecer o discurso. Se, por outro lado, os adjetivos
não estiverem nem mesmo expressando algo que esteja sendo provado, seu uso
configura-se como um erro crasso. Uma frase como “A pesquisa a ser discutida neste
trabalho ilustra de forma excelente as terríveis consequências desumanas dos usos
indevidos da tecnologia para fins movidos por uma ética duvidosa” soaria muito melhor
com a remoção de vários adjetivos: “A pesquisa a ser discutida neste trabalho ilustra as
consequências dos usos da tecnologia para fins movidos por uma ética duvidosa.”
• Persuasão pela descrição e por citações, não pela retórica. Aspecto relacionado ao exposto
no item anterior, um problema comum em textos acadêmicos de alunos é estarem mais
próximos de um estilo jornalístico do que de um estilo acadêmico propriamente dito. Não
se trata, evidentemente, de um critério de valor, mas sim de um critério de adequabilidade.
O texto jornalístico possui um forte elemento retórico-persuasivo, baseado na escolha
de palavras fortes ou com forte carga persuasiva. O texto acadêmico, embora deva
também ser persuasivo (afinal, quem escreve está defendendo uma opinião), deve ser
legitimado, não pela força de sua retórica, mas pela qualidade das descrições, pela
fundamentação teórica-prática e pela articulação lógico-racional do argumento. Ao invés
de “dizer”, a prioridade deve estar no “mostrar”; ao invés de tentar persuadir o leitor, a
preocupação deve estar em apresentar um argumento coerente o suficiente para passar
pelo seu crivo. Os dois exemplos abaixo mostram a mesma ideia, em um estilo mais
jornalístico e em um estilo mais acadêmico:
(1) Não podemos mais nos orientar pelas estratégias administrativas anteriores ao mercado
mais agressivo dos últimos vinte anos, baseadas numa burocracia vertical. Embora isso
pareça óbvio, muitas empresas têm encontrado dificuldades sérias de gestão por não terem
se modernizado, mantendo técnicas de planejamento a curto, médio e longo prazo arcaicas e
ações para lidar com a concorrência que não dão conta da dinâmica do mercado atual.
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(2) A insistência na manutenção de técnicas de gestão antigas engessa a burocracia de uma
empresa em uma verticalização que não mais responde pelas necessidades do mercado
atual. A visão sistêmica oferecida pelo planejamento estratégico, sobretudo a baseada na
quinta disciplina de Senger, oferece recursos para uma avaliação crítica da empresa no novo
mercado. As discussões teóricas a seguir, perseguindo os trabalhos de Peter Senge, R. L.
Ackoff e Robert L. Flood, buscam clarificar a ideia desses autores e como podem contribuir
para técnicas eficientes de planejamento a curto, médio e longo prazos, bem como com
ações capazes de lidar com a nova dinâmica da concorrência no mercado atual.
• Marcas linguísticas de formalidade. Vimos que as marcas da oralidade não devem estar
presentes no discurso acadêmico-científico. Pelo mesmo motivo, deve-se evitar trata o
leitor com intimidade. Alguns acadêmicos aproximam-se do leitor em alguns momentos,
para conseguir um efeito persuasivo maior. Isso não é proibido, mas devemos estar
bem cientes dos limites desses recursos estilísticos antes de fazermos uso deles. Uma
dúvida vinculada a este tópico está na exigência ou na proibição da primeira pessoa do
plural e, mesmo, da primeira pessoa do singular no discurso acadêmico. Alguns livros
de metodologia, acompanhando a sugestão da própria ABNT, defendem que somente
o impessoal seja usado. Contudo, livros e artigos de grande alcance são publicados
com o uso da primeira pessoa, tanto do plural como do singular. Vale aqui o bom senso
e o meio em que e pesquisador se encontra. Se a exigência for pelo impessoal, ela
deve ser respeitada. Se há espaço para uma maior liberdade, não há por que se limitar
apenas ao impessoal. Em geral, quanto mais a pesquisa pertence a áreas exatas, mais
se faz uso do impessoal, ao passo que em pesquisas no campo das ciências humanas a
primeira pessoa é mais frequente. O que não devemos ter é uma visão preconceituosa
do uso da primeira pessoa do plural, preconceito que não condiz com a quantidade de
material de excelente qualidade que se utiliza desse recurso. Quanto à primeira pessoa
do singular, mais agressiva, deve ser reservada, quando seu uso não é questionado,
para momentos em que o autor expressa uma opinião bastante clara de suas escolhas
ou quando defende um ponto de vista definitivamente seu (situação bastante rara, pois
depende de uma maturidade e experiência enormes do pesquisador).
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2. 3 O Caráter Monográfico do Discurso Acadêmico
Não só aquela monografia que tivemos que escrever na graduação, mas quase a totalidade
dos textos acadêmicos é monográfica, incluindo aqui dissertações de mestrado e teses de
doutorado. Também será monográfico o artigo a ser escrito como atividade final deste curso
de especialização. Isso significa que o argumento deve restringir-se ao assunto tratado,
que precisa ser específico. Devemos tratar de um único tema que pode, de acordo com a
complexidade e os objetivos do texto, ser abordado a partir de perspectivas diversas.
Ao ler um texto monográfico, o leitor deverá “sentir”, a cada parágrafo, o pulso do tema
do trabalho. Não é que não possam haver digressões, mas elas necessitam de uma razão
para existirem, e devem estar sempre articuladas com o argumento central. Em suma, a
cada momento o texto é preciso responder, implícita ou explicitamente, à questão central –
ao problema – que motivou a pesquisa. Se o autor tiver o cuidado de manter sua linha de
raciocínio bem construída, terá mais chance de sucesso na construção de um bom artigo.
3. REVISÃO DO MATERIAL ESCRITO
O processo de revisão do material escrito não deve ser negligenciado. Ao escrevermos,
como temos uma imagem mental forte sobre o assunto com o qual estamos trabalhando, só
com muita prática conseguiremos a distância necessária do texto para corrigirmos deslizes
em sua execução. Uma primeira revisão deve ser feita no próprio ato da escrita, relendo os
períodos ou parágrafos que acabamos de escrever. Mas outra revisão, mais cuidadosa, se
faz necessária. Para esta, é preciso uma distância do texto, de pelo menos um dia, para que
possamos lê-lo “como leitores”, e não “como autores”.
Discutiremos alguns dos principais itens que devem fazer parte de uma revisão:
O argumento está bem construído? Ao contrário do que muitos pensam, a revisão não é apenas “gramatical”. Às vezes, durante a escrita, achamos que estamos sendo claros. No entanto, uma leitura posterior pode evidenciar problemas na organização do argumento que tornam sua compreensão difícil. Pedir a outras pessoas para lerem ajuda bastante, inclusive pessoas fora da área que, como não têm formação no assunto tratado, dependem da clareza do texto para saber do que ele se trata.
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Ligado ao tópico anterior, podemos citar problemas na ordem do texto. As ideias devem ser amarradas umas às outras e possuem, dentro do argumento, tanto uma posição espacial (início, centro ou finalização do argumento) quanto uma posição hierárquica (ideias centrais ou periféricas). Uma leitura atenta, após a escrita do texto, pode revelar problemas na disposição das ideias, tanto em seu nível espacial quanto em seu nível hierárquico. Em geral, a correção é feita com alterações na organização do texto. Um texto “ilegível” não é, necessariamente, um texto sem conteúdo. Pode ser que o problema esteja na sua organização lógico-racional.
Fiquemos atentos ao registro da língua. A redação final é formal? O registro in-formal não é bem vindo no texto acadêmico. Muitos alunos que dominam bem a escrita informal podem ter problemas com o estilo mais formal. Como vimos acima, devemos remover as marcas de oralidade de nosso texto e verificar se há termos que poderiam ser substituídos por outros mais adequados. A escrita formal não é um sinônimo de artificialismo. Pode-se escrever um texto bastante fluente sem a necessidade de recorrer a marcas de oralidade.
Quanto à revisão gramatical, pode ser feita pelo autor ou, se este julgar ne-cessário, por um profissional da área. Entregar versões ao orientador, e, princi-palmente, a versão final do artigo, com problemas graves de pontuação e de or-tografia pode causar uma péssima impressão, além da perda de pontos na nota final. Os corretores automáticos ajudam, mas se fossem suficientes não haveria tanto problema com textos mal revisados.
Também é importante realizar uma revisão da formatação.
Para que essas revisões tenham sucesso, é necessário que estejamos com “olhos frescos”.
Olhos e mente cansados não podem oferecer a atenção necessária para uma leitura atenta
do texto. Algumas pessoas conseguem um maior grau de atenção ao lerem textos impressos,
sobretudo devido à luminosidade das telas. Neste caso, vale à pena, para versões que serão
entregues, imprimir o material a ser revisado.
Alguns “truques” colaboram para uma boa revisão. Um deles é separar os períodos,
pressionando <enter> após cada ponto final, ou mesmo no meio de períodos longos. O texto
assim “quebrado” desvia um pouco nossa atenção da organização das ideias, ajudando-nos
a concentrar nos problemas de revisão mais pontuais. Ler os períodos do final do texto para
o seu início também traz bons resultados.
Falamos um pouco, na aula passada, sobre gerenciamento do tempo. Terminar as tarefas com
antecedência é fundamental para que tenhamos disponibilidade para realizar uma boa revisão,
oferecendo como artigo final um texto apresentável e digno de um curso de pós-graduação.
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Para esta última aula, prepare a versão final do seu projeto de pesquisa, seguindo as
especificações descritas em seu Desafio.
Pontuando
Você conferiu nesta aula os seguintes tópicos:
• A escrita: estilo e variedade no discurso
• Estilodeescritadodiscursocientífico
• Odiscursocientífico:ocarátermonográfico
Referências
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BUENO, Marco. Monografia sem segredo: Algumas dicas importantes (Texto extraído da revista Nova Escola, abril de 2004). GO: CESUC, 2004. Disponível em: http://www.simaodemiranda.com.br/Dicas_Importantes.pdf Acesso em: 12 abr 2013.
CERVO, A. L. & Bervian, P. A. Metodologia Científica. São Paulo: Makron Books, 1996.
DANTON, Gian. Metodologia Científica. MG: Virtual Books, 2002. Disponível em: http://virtualbooks.terra.com.br/osmelhoresautores/Metodologia_cientifica.htm Acesso em: Acesso em: 12 abr 2013.
FURTADO, José Augusto P. X. Trabalhos acadêmicos em Direito e a violação de direitos autorais através de plágio. Site: Jus Navigandi, 09/2002. Disponível em: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3493 Acesso em: 12 abr 2013.
Vamos pensar
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Referências
GÜNTHER, Hartmut. Pesquisa qualitativa versus pesquisa quantitativa: esta é a questão? Psicolo-gia: Teoria e Pesquisa, Mai-Ago 2006, Vol. 22 n. 2, pp. 201-210. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-37722006000200010&script=sci_arttext&tlng=em#nt02 Acesso em: Acesso em: 12 abr 2013.
Lakatos, E. Maria & Marconi, Marina de Andrade. Fundamentos de Metodologia Científica. São Pau-lo: Atlas, 1991.
RODRIGUES, André Figueiredo. Como elaborar citações e notas de rodapé. SP: Humanitas, 2007.
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