stop! vamos ler! - epe, 1ceb

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Escola Básica 2,3 João da Rosa Departamento do Ensino Pré-Escolar Departamento do 1º CEB Departamento de Línguas Bibliotecas Escolares Outubro de 2010 STOP! Vamos ler!

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Actividade promoção da leitura. Comemoração do Centenário da República

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Page 1: Stop! Vamos ler! - EPE, 1CEB

E s c o l a B á s i c a 2 , 3 J o ã o d a R o s a

Departamento do Ensino Pré-Escolar Departamento do 1º CEB Departamento de Línguas Bibliotecas Escolares

Outubro de 2010

STOP!

Vamos ler!

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Breve nota

A passagem do texto que vais ler enquadra-se nos acontecimentos que antecederam a Revolução

de 5 de Outubro de 1910. Foi escolhida para recordar este marco importante da nossa História e

homenagear aqueles que nele participaram.

A história de Manuel Francisco, miúdo lisboeta, cruza-se com o relato das operações militares na

madrugada de 4 de Outubro, as quais irão conduzir à vitória republicana de 5 de Outubro. Chegava ao fim

a Monarquia e instaurava-se a República.

1 Manuel Francisco era um miúdo lisboeta igual a muitos outros da sua

idade. Era moreno e franzino e tinha um olhar brilhante e inquiridor. Ao alvorecer da manhã do dia 4 de Outubro de 1910, com a sua sacola de caderno e livros a tiracolo, apercebeu-se de que havia uma invulgar agitação nas ruas habitualmente calmas e com pouco movimento. As pessoas encaminhavam-se para os empregos com o passo acelerado e trocando olhares tensos e inquietos. Ouviram-se tiros e alguns dos transeuntes entraram apressadamente em estabelecimentos comerciais em busca de abrigo, porque, como disse uma voz de senhora em momento de esganiçada exaltação: «Parece mesmo que anda o diabo à solta!» Aquele era o caminho que Manuel Francisco percorria todas as manhãs a caminho da escola. Tinha pressa de chegar porque o Sr. Esteves, o carrancudo professor primário, era muito pontual e exigente com os alunos. Quando um deles se atrasava sem justificação aceitável, de preferência escrita pelo punho do pai ou da mãe ou de um médico que tivesse sido chamado de madrugada para uma situação inesperada, era quase certo que levava uma ponteirada certeira numa das orelhas com uma longa e esguia cana da Índia. «Para a próxima sei que vais ter mais cuidadinho com as horas!» — resmungava ele, contente por ter punido exemplarmente o infractor. Em casa, tinha conseguido escutar o pai a dizer à mãe a meia voz, certamente para ele não ouvir e não se pôr depois a cismar naquilo que ouvira: — Já falta pouco, Deolinda, porque a Monarquia está mesmo por um fio. Até a rainha já percebeu que não vai manter muito tempo a coroa na cabeça. Eles ficaram assustados quando viram mais de cinquenta mil pessoas na rua, em Agosto do ano passado, a protestar contra os gastos da família real e a exigir reformas. — Mas isso quer dizer que pode correr muito sangue e haver uma grande desgraça neste país — comentou a mulher, visivelmente assustada.

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— Lá isso é verdade, mas não se fazem mudanças a sério sem grandes sacrifícios. O que nós queremos é um país onde não haja gente a viver na miséria enquanto o rei e a rainha-mãe gastam fortunas em vestidos, jóias, iates, caçadas e banquetes. E o que eu quero é um país onde o nosso filho possa ser uma pessoa importante por aquilo que vale e pelas qualidades que tem e não por ter nascido de «sangue azul». Deolinda concordava com o marido, mas era uma pessoa pacífica e moderada que se assustava com qualquer perturbação da ordem pública, fosse ela qual fosse. Dois anos antes tinha ficado muito perturbada com o assassinato do rei D. Carlos e do príncipe D. Luís Filipe no Terreiro do Paço. «Também não é assim que se resolvem as coisas. O sangue pede mais sangue e a violência mais violência. Pode mudar a política, mas não devem matar-se as pessoas assim a sangue-frio». Manuel Francisco recordava-se de ter ouvido a mãe fazer este comentário na altura do regicídio, (…). António, o pai, era tipógrafo e sempre fora do «contra», ou seja, sempre defendera ideias republicanas. Manuel Francisco não sabia bem a diferença que havia entre Monarquia e República, mas o pai tratou de lhe explicar que , no primeiro caso, quem mandava era o rei ou a rainha, que não eram eleitos, bastando-lhes a origem real para chegarem ao topo da chefia do Estado, mesmo que o regime fosse democrático, e que, no segundo, quem mandava não era o rei nem a nobreza, mas sim o povo, que escolhia quem bem entendia para o representar através de eleições. Desse modo, em vez de um rei a mandar no Estado, havia um Presidente da República, escolhido pelo voto popular. Manuel Francisco, que ainda não tinha idade para ter ideias próprias sobre coisas tão importantes, sonantes e sérias, achava que o pai tinha razão e, uma vez por outra, ia com ele a uns almoços de domingo onde se juntavam muitos tipógrafos e gente de outras profissões que pertenciam ao Partido Republicano. (…) Naquela manhã de 4 de Outubro de 1910, Manuel Francisco, ao passar pela Rotunda, viu umas escassas centenas de homens armados, uns com farda e outros à civil, e sentiu o coração a bater mais depressa que um cavalo a galope. (…) Tentou aproximar-se dos homens armados e entrincheirados, para perceber se o diabo andava mesmo à solta como dizia a senhora exaltada e aflita, mas houve uma voz familiar que lhe travou o passo: — Manuel Francisco, não te aproximes porque o perigo é muito grande. Volta depressa para casa e nem sequer vás para a escola. Corre para junto da tua mãe e deixa-te ficar em casa. Ajuda-a no que puderes que eu depressa me junto a vós. E, por favor, diz à tua mãe que não fique em cuidados, porque nós somos muitos, somos valentes e temos a razão do nosso lado. Ela que não se apoquente, porque eu não tarda estou em casa ao vosso lado e logo vos conto como tudo se passou e como nós saímos vencedores.

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Era o pai quem assim falava, agitando os braços, para evitar que o filho se aproximasse dos republicanos revoltosos, que eram militares e civis e se preparavam para defender aquela posição importante, mesmo no coração da cidade de Lisboa.

in A Minha Primeira República , José Jorge Letria

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AS MINHAS NOTAS:

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