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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO 28 a Câmara - SEÇÃO DE DIREITO PRIVADO APELAÇÃO S/ REVISÃO N° 1014471- 0/0 Comarca de SOROCABA Processo 1909/00 3.V.CÍVEL APTE FUNDAÇÃO DOM AGUIRRE APDO AÍRTON MANOEL DOS SANTOS (NÃO CITADO) TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SAO PAULO ACÓRDÃO/DECISÃO MONOCRATICA REGISTRADO(A) SOB ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos, os desembargadores desta turma julgadora da Seção de Direito Privado do Tribunal de Justiça, de conformidade com o relatório e o voto do relator, que ficam fazendo parte integrante deste julgado, nesta data, deram provimento ao recurso, por votação unânime. Turma Julgadora da RELATOR 2 o JUIZ 3 o JUIZ Juiz Presidente 28 a Câmara DES. JÚLIO VIDAL DES. CÉSAR LACERDA DES. CARLOS NUNES DES. CARLOS NUNES Data do julgamento : 13/01/09

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TJ SP - Acórdão em Ação Monitória

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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

28a Câmara

- SEÇÃO DE DIREITO PRIVADO

APELAÇÃO S/ REVISÃO N° 1014471- 0/0

Comarca de SOROCABA Processo 1909/00

3.V.CÍVEL

APTE FUNDAÇÃO DOM AGUIRRE

APDO AÍRTON MANOEL DOS SANTOS (NÃO CITADO)

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SAO PAULO ACÓRDÃO/DECISÃO MONOCRATICA

REGISTRADO(A) SOB N°

A C Ó R D Ã O

Vistos, relatados e discutidos estes autos, os desembargadores desta turma julgadora da Seção de Direito Privado do Tribunal de Justiça, de conformidade com o relatório e o voto do relator, que ficam fazendo parte integrante deste julgado, nesta data, deram provimento ao recurso, por votação unânime.

Turma Julgadora da RELATOR 2o JUIZ 3o JUIZ Juiz Presidente

28a Câmara DES. JÚLIO VIDAL DES. CÉSAR LACERDA DES. CARLOS NUNES DES. CARLOS NUNES

Data do julgamento : 13/01/09

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PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

APELAÇÃO SEM REVISÃO N.° 1 . 0 1 4 . 4 7 1 - 0 / 0 2 8 a CÂMARA DE DIREITO PRIVADO

Comarca: SOROCABA - 3 a Vara Cível Processo n°: 1.909/00 Apelante: FUNDAÇÃO DOM AGUIRRE Apelado: AÍRTON MANOEL DOS SANTOS (não citado)

VOTO N.° 12.281

Ação Monitoria. Finalidade da ação monitoria é a formação de um título judicial. Em se tratando de ação monitoria a idoneidade da prova deve se revestir de atributos de certeza, liquidez e exigibilidade do direito invocado. O pedido inicial vem instruído com documentos suficientes a possibilitar o ajuizamento do pedido monitório nos termos da inicial. Nesse ponto não há que se falar em limitação da prova documental imposta pelo artigo 1.102, "a", do CPC ante a natureza do da pretensão deduzida pelo estabelecimento de ensino, afastado, por economia processual, o erro material. Recurso provido para determinar o regular processamento da ação observando as disposições amparadas pelo ordenamento jurídico.

Vistos.

Trata-se de apelação interposta pela Fundação Dom Aguirre contra a decisão (fls. 16) que julgou extinta a ação monitoria sem exame de mérito, ajuizada pela a insti tuição educacional contra Airton Manoel dos Santos , responsável pelo pagamento das mensal idades escolares do aluno Luiz Gustavo Miguel dos Santos (fls. 10).

Fundam-se a s razões do recurso no pedido de reforma da sentença. Sus ten ta a fundação (fls. 20) que a prova produzida é suficiente ao processamento da ação monitoria nos termos do artigo 1.102, "a", do Código de Processo Civil. A existência da via ordinária para obtenção da tutela condenatória não apresenta obstáculo à opção pela via monitoria porque há situações em que o credor, confrontando com a s i tuação de inadimplência do devedor e mesmo dispondo de prova documental , a inda assim, é carente de título executivo, restando-lhe apenas an tes da introdução da ação monitoria a via do processo de cognição plena com todos os percalços que a pontilham. Diz que

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APELAÇÃO SEM REVISÃO N.° 1 . 0 1 4 . 4 7 1 - 0 / 0 2 8 a CÂMARA DE DIREITO PRIVADO

defesa do réu poderá se dar via embargos, que suspenderão a eficácia do mandado judicial, tanto que o entendimento de juizes que exercem s u a s atividades em out ras Varas - Comarca de Sorocaba - recomenda o regular processamento da ação monitoria, nos termos da Lei n° 9 .079 /95 (fls. 25).

É o relatório.

A rigor, o pedido monitório vem amparado na cobrança de mensal idades por ter o menor LUIZ GUSTAVO MIGUEL DOS SANTOS freqüentado o Colégio Dom Aguirre - 2 a

Fase do Curso Infantil Ano letivo de 1999 (fls. 11) amparado no contrato de prestação de serviços educacionais (fls. 9-10) datado de 8 de fevereiro de 1999.

A título de esclarecimento a matéria posta em discussão revela evidente erro material (fls. 21). A promovente afirma expressamente ter proposto ação monitoria em razão do inadimplemento das obrigações assumidas por AÍRTON MANOEL DOS SANTOS (pai do aluno Luiz Gustavo Miguel dos Santos). Entre tanto, nas razões do Recurso de Apelação identifica como aluno Lucas Vinicius Miguel dos Santos como o a luno regularmente matriculado no Estabelecimento de Ensino e que freqüentou a I a Serie do Ensino Fundamenta l do Colégio Dom Aguirre, es tando o pai a dever as parcelas relativas aos números 07, 08 e 10 não pagas no ano de 1999.

Registre-se, a inicial revela quem cursou a Pré II Série do Ensino Infantil foi LUIZ GUSTAVO MIGUEL DOS SANTOS (fls. 02). Não Lucas Vinicius Miguel dos Santos (fls. 22). Feitas essas considerações, passa-se a apreciar a matéria para os devidos fins de direito.

A finalidade da ação monitoria é a formação de um título judicial, com rapidez. De manei ra que, como já se decidiu no AI n° 814.637-2 - 7 a Câmara do Io TACivSP, em que foi relator o Ju iz Carlos Renato de Azevedo Ferreira - Lex 1 7 6 / 4 5 .

No escólio de Eduardo Talamini - Tutela Monitoria - Ação Monitoria - Lei 9 . 0 7 9 / 9 5 , 2 a edição - Coleção Es tudos de Direito de Processo - Enrico Tullio Liebman - vol. 37, Editora Revista dos Tribunais, p.149:

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"ao conceder a tutela monitoria o magistrado formula juízo de verossimilhança em favor do autor. A partir de então e em qualquer caso - considerem-se os embargos "ação ou contestação" -passa a ser ônus do réu destruir o juízo de verossimilhança inicialmente estabelecido. Há entendimento assente em direito probatório de que, quando se forma presunção em favor de uma das partes, cabe à adversária demonstrar o desacerto dessa presunção (conferir, por todos: Barbosa Moreira, As presunções..., p. 60, e Dinamarco, A instrumentalidade..., p. 245)."

"Essa noção igualmente é aplicável aos juízos de probabilidade: é ônus do réu, no procedimento monitório, provar que as coisas não ocorreram como parecem ter ocorrido (o que não exclui que ele se desincumba desse encargo através de "provas indiretas")".

José Rubens Costa - Ação Monitoria, Editora Saraiva, 1995, p. 15, sus ten ta que, defendendo-se o réu através dos embargos (Código de Processo Civil, art. 1102, "c") compete a ele o ônus probatório para desconsti tuir a força monitoria reconhecida pelo juiz ao deferir a ação com base no convencimento proporcionado pela sumár ia cognição representada pela essencial prova escrita do suposto credor, bem como, a teor do disposto no artigo 333 , Inciso II (do Código de Processo Civil). Diz o festejado ju r i s ta - Eduardo Talamini - Tutela Monitoria - Ação Monitoria -Lei 9 . 0 7 9 / 9 5 , 2 a edição, Editora Revista dos Tribunais, páginas 28 e seguintes, que:

"a tutela monitoria foi criada exatamente para aquelas situações em que, embora não exista título executivo (em que haja, abstrata e previamente, indicação de probabilidade do crédito a ponto de o próprio legislador haver autorizado desde logo a execução), há concretamente forte aparência de que aquele que se afirma credor ter razão".

"Através do procedimento monitório busca-se a rápida formação do "título executivo"- um atalho para o processo de execução -naqueles casos em que cumulativamente: a) há concreta e marcante possibilidade de existência do crédito; b) o réu, regulamente citado, não apresenta nenhuma defesa".

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A função essencial do procedimento monitório é a de acelerar o surgimento da autorização para executar.

A Lei 9.079, de 14 de ju lho de 1995, introduziu no Direito Positivo a ação Monitoria a justificar o reconhecimento doutrinário no sentido de que a existência da via ordinária para obtenção da tutela condenatória não apresenta obstáculo à opção pela monitoria, pois esta é a via dotada de aptidão para a concessão da tutela diferenciada por ele almejada como o consignado (fls. 24), porquanto há si tuações em que o credor, confrontando com a situação de inadimplência do devedor e mesmo dispondo de prova documental , a inda assim é carente de título executivo, restando-lhe de fato apenas , antes da introdução da ação monitoria, a via do processo de cognição plena, com todos os percalços que a ponti lham conforme doutr ina predominante em nosso ordenamento jurídico.

Aqui não se identifica tratar-se de ação a recomendar processo de conhecimento ou executivo em face do disposto no artigo 615 do Código de Processo Civil Inciso IV, m a s de ação monitoria pela qual o credor busca a constituição do título executivo judicial amparado na legislação processual.

A princípio, o contrato de prestação de serviço educacional acompanhado de demonstrativo de débito reflete presença de relação jurídica entre credor e devedor e a existência de dívida. Procedimento que se mostra hábil a instruir a ação monitoria. Em relação à liquidez do débito à oportunidade de o devedor discutir os valores, a forma de cálculo e a própria legitimidade da dívida, assegura a lei a via dos embargos previstos no artigo 1.102 "c", que instauram amplo contraditório e levam a causa para o processamento ordinário. Nesse sentido RSTJ 146:424.

Em regra, "suficiente à cobrança, pela via monitoria, das prestações inadimplidas de serviços educacionais prestados pelo autor, a juntada do contrato respectivo, demonstrativo da dívida e prova da freqüência do aluno à Faculdade" (STJ-4a Turma, Resp 341.535, rei Min. Aldir Passarinho jr., j . 25.5.04, deram provimento,, v.u. DJU23.8.04, p. 240.

Não se desconhece que em cer tas c i rcunstâncias , mas , diga-se de passagem, nem sempre, há

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necessidade de se exigir por ocasião do ajuizamento da ação monitoria prova da freqüência do aluno no curso que está matr iculado a possibilitar a cobrança das mensal idades escolares por embasada em contrato de prestação de serviços educacionais por se t ra tar de contrato bilateral e sinalagmático a ensejar debate no processo de conhecimento. Nesse sentido, RT 761:260.

A Súmula 40 do extinto Primeiro Tribunal de Alçada Civil estabelece que o contrato de prestação de serviço educacional, mesmo quando subscrito por duas testemunhas instrumentárias, não é título executivo extrajudicial (Lex-JTA 151:210), ante a incerteza no concernente ao quantum debeatur. Nesse sentido Boi AASP 2.373/3.115. Regras que não revelam no caso concreto natureza absoluta, a não merecer análise mais profunda da matéria.

De modo que o contrato anexo ao processo não vem firmado por d u a s t es temunhas . Os fatos permitem à Fundação Dom Aguirre ajuizar a ação via procedimento monitório, sem fazer uso do processo de conhecimento objetivando, a lcançar os efeitos do título executivo judicial.

Ressalte-se: o documento que aparelha a ação monitoria deve ser escrito e não possuir eficácia de título executivo. Se tiver, o autor será carecedor da ação monitoria, pois tem, desde já, ação de execução contra o devedor inadimplente.

Por documento escrito deve-se entender qualquer documento que mereça fé quanto à sua autent icidade e eficácia probatória. Para demonst rar a aparência do direito, autorizadora do mandado monitório, não se admite prova não escrita, porque a ação monitoria é ação de conhecimento, condenatória, com procedimento especial de cognição sumár ia e de execução, sem título. Sua finalidade é alcançar a formação de título executivo judicial de modo mais rápido do que na ação condenatória convencional.

O contrato de prestação de serviço educacional foi firmado por Airton Manoel dos Santos em 8 de fevereiro de 1999. O requerimento de Matrícula indica como aluno Luis Gustavo Miguel dos Santos , nascido em 18 de março de 1994, filho de Airton Manoel dos Santos com Maria Lúcia Miguel da Silva (fls. 10). A declaração fornecida pelo Colégio Dom Aguirre informa que Luiz Gustavo esteve matriculado no Estabelecimento de Ensino na 2 a Fase do Curso Infantil no ano letivo de 1999 (fls. 11). A planilha

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(fls. 6- 12) refere-se à cobrança de mensal idades correspondentes ao período de janeiro a dezembro de 1999. Fatos mais do que suficientes a prestigiar o pedido deduzido na inicial via ação monitoria.

A ação vem apa rada por documentos suficientes a possibilitar o ajuizamento do pedido monitório nos termos da inicial. Nesse ponto não há que se falar em limitação da prova documental imposta pelo artigo 1.102, "a", em face da na tureza do pedido deduzido pelo promovente na inicial, afastado, por economia processual o erro material para os devidos fins de direito.

A finalidade da ação monitoria é a formação de u m título judicial, em que a idoneidade da prova deve se revestir de a t r ibutos de certeza, liquidez e exigibilidade do direito invocado.

Ante o exposto, dá-se/provimento ao recurso para determinar regular processamentofda ação nos termos da legislação em vigor. Jy

JúUó Vidal de la tor

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