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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE AGRONOMIA, MEDICINA VETERINÁRIA E ZOOTECNIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS VETERINÁRIAS SOROPREVALÊNCIA E FATORES DE RISCO PARA Ehrlichia canis E Rickettsia spp. EM CÃES DA REGIÃO DO PANTANAL DE MATO GROSSO, BRASIL Andréia Lima Tomé Melo CUIABÁ MT 2011

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

FACULDADE DE AGRONOMIA, MEDICINA VETERINÁRIA E

ZOOTECNIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS VETERINÁRIAS

SOROPREVALÊNCIA E FATORES DE RISCO PARA

Ehrlichia canis E Rickettsia spp. EM CÃES DA REGIÃO DO

PANTANAL DE MATO GROSSO, BRASIL

Andréia Lima Tomé Melo

CUIABÁ – MT

2011

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

FACULDADE DE AGRONOMIA, MEDICINA VETERINÁRIA E

ZOOTECNIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS VETERINÁRIAS

SOROPREVALÊNCIA E FATORES DE RISCO PARA

Ehrlichia canis E Rickettsia spp. EM CÃES DA REGIÃO DO

PANTANAL DE MATO GROSSO, BRASIL

Autor (a): Andréia Lima Tomé Melo

Orientador: Prof. Dr. Daniel Moura de Aguiar

Co-Orientador: Prof. Dr. Luciano Nakazato

CUIABÁ – MT

2011

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Ciências Veterinárias, área de concentração: Medicina Veterinária, da Faculdade de Agronomia, Medicina Veterinária e Zootecnia, da Universidade Federal de Mato Grosso para a obtenção do título de Mestre em Ciências Veterinárias.

FICHA CATALOGRÁFICA

M528s Melo, Andréia Lima Tomé

Soroprevalência e fatores de risco para Ehrlichia canis e

Rickettsia spp. em cães da região do Pantanal de Mato Grosso,

Brasil / Andréia Lima Tomé Melo. – 2011.

95 f. : il. ; color. ; 30 cm.

Orientador: Prof. Dr. Daniel Moura de Aguiar.

Co-orientador: Prof. Dr. Luciano Nakazato.

Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Mato

Grosso, Faculdade de Agronomia, Medicina Veterinária e

Zootecnia, Pós-graduação em Ciências Veterinárias, Área de

Concentração: Medicina Veterinária, 2011.

Bibliografia: f. 80-94.

1. Cães – Doenças. 2. Carrapato – Cães. 3. Parasitologia

veterinária. 4. Cães – Parasitos - Soroprevalência. I. Título.

CDU – 619:616.993:636.7(043.3)

Ficha elaborada por: Rosângela Aparecida Vicente Söhn – CRB-1/931

FOLHA DE APROVAÇÃO

AUTOR (A): MELO, Andréia Lima Tomé

TÍTULO: SOROPREVALÊNCIA E FATORES DE RISCO PARA Ehrlichia canis E

Rickettsia spp. EM CÃES DA REGIÃO DO PANTANAL DE MATO GROSSO,

BRASIL

Aprovada em 25 de Fevereiro de 2011.

BANCA EXAMINADORA:

______________________________________________

Prof. Dr. Daniel Moura de Aguiar

(Departamento de Clínica Médica Veterinária/FAMEV/UFMT)

_____________________________________________

Prof. Drª. Valéria Régia Franco Sousa

(Departamento de Clínica Médica Veterinária/FAMEV/UFMT)

_____________________________________________

Prof. Dr. Marcelo Bahia Labruna

(Universidade de São Paulo – USP)

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Ciências Veterinárias, da Universidade Federal de Mato Grosso para a obtenção do título de Mestre em Ciências Veterinárias.

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos meus pais João e

Cristina, que me deram a vida e amor

incondicional, buscando sempre me

proporcionar uma educação exemplar,

constituída de princípios morais e éticos, que

moldaram o meu caráter e transformaram-me

no que sou hoje. Vocês me proporcionaram

todas as oportunidades possíveis para que eu

pudesse galgar novos ideais e realizar todos os

meus sonhos. Perdoem-me pelas ausências,

mas saibam que vocês, estão sempre junto a

mim, dentro do meu coração.

Dedico também à minha irmã Verônica, pelo

carinho e amor fraternal.

AGRADECIMENTO ESPECIAL

Ao meu orientador Daniel Moura de Aguiar, por toda paciência, atenção, incentivo e

amizade. Muito obrigada por sempre acreditar no sucesso desse experimento e por

despertar em mim a instigante vontade de trabalhar na área da pesquisa científica,

pela qual desenvolvi grande afeição. Obrigada também pela transmissão de tantos

ensinamentos, que pela maneira clara e didática com que foram passados,

contribuíram grandemente para a minha formação na pós-graduação.

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, por sempre me iluminar, concedendo a mim perseverança

e saúde para desenvolver esse experimento.

Nesses dois anos de Mestrado, pude conviver com pessoas maravilhosas,

que direta ou indiretamente contribuíram para a realização desse projeto. Foram

momentos inesquecíveis, de muita dedicação, trabalho e disciplina, para conseguir

concluir com êxito esse experimento. Portanto, dedico esses agradecimentos a

todos vocês:

- Professora Valéria Régia, por ceder o microscópio para leitura das lâminas de

imunofluorescência;

- Aos amigos do Laboratório de Microbiologia, em especial aos professores Luciano

Nakazato e Valéria Dutra, por auxiliarem em tudo que foi necessário;

- À professora Adriane e a todos do Laboratório de Patologia Clínica;

- Ao Laboratório de Parasitologia, na pessoa do Professor Richard (Tiozão), por toda

ajuda na identificação dos ectoparasitos e por ceder espaço para a realização das

análises sorológicas;

- Aos amigos do Laboratório de Parasitologia/Setor de Moléstia Infecciosas (MI):

Izabela, Rute, Thábata, Luana;

- Aos funcionários do HOVET: Taislayne, Roseane, Ravi, Ana Rita, Juliano,

colaboradores da limpeza, às enfermeiras Edna, Regina e Marlene, aos residentes;

- Ao funcionário da pós-graduação Jean;

- Aos colegas de pós-graduação (Turma 2009) em Ciências Veterinárias, em

especial ao casal Alison e Jociane, pelo auxílio na confecção dos mapas;

- Aos amigos e funcionários do VPS e dos Laboratórios de Doenças Parasitárias I e

II (Carrapatos) da USP: Jonas, Thiaguinho, João (Gaúcho), Herbert, Iara, Aline,

Aliny, Aline (LEB), Arley, Fernanda, Hilda, Renatinho, Danival, pela hospitalidade,

por todo auxílio e pelos agradáveis momentos de descontração compartilhados. Em

especial, ao professor Marcelo Bahia Labruna, por permitir que freqüentasse o VPS,

por todo apoio no decorrer desse projeto, pelos ensinamentos e também por

acreditar no sucesso do mesmo;

- Aos amigos de Poconé, funcionários da Associação Brasileira de Criadores de

Cavalo Pantaneiro, em especial à Alice (e família), pelo despreendimento em

sempre ajudar no que fosse preciso. Aos cães (urbanos e rurais) do município de

Poconé, bem como seus proprietários, por aceitarem partipar desse experimento;

- Ao CNPq e à CAPES, pelo fomento financeiro e pela concessão da bolsa de pós-

graduação, respectivamente;

Saibam que todos vocês também fazem parte dessa conquista, por isso,

muito obrigada.

RESUMO

SOROPREVALÊNCIA E FATORES DE RISCO PARA Ehrlichia canis E Rickettsia

spp. EM CÃES DA REGIÃO DO PANTANAL DE MATO GROSSO, BRASIL

Durante o ano de 2009, 320 cães das áreas urbana e rural do Pantanal do município

de Poconé/MT foram avaliados para a presença de anticorpos anti-Ehrlichia canis e

anti-Rickettsia spp. e para a presença de ectoparasitos. Fatores de risco para

infecção por E. canis ou Rickettsia spp. também foram determinados. Foi utilizado

como teste sorológico a Reação de Imunofluorescencia Indireta (RIFI). Para

Ehrlichia canis foi utilizado como antígeno a cepa São Paulo e para Rickettsia spp.

foram utilizados seis isolados brasileiros: R. rickettsii, R. parkeri, R. amblyommii, R.

rhipicephali, R. felis e R. bellii. Reações positivas para E. canis foram detectadas em

227 (70,9%) cães, sendo 119 (74,3%) para a área urbana e 108 (67,5%) para a área

rural (P>0,05), com títulos variando entre 40 a 327.680. Para Rickettsia spp., 152

(47,5%) cães foram positivos, sendo 31 (19,3%) da área urbana e 121 (75,6%) da

área rural (P<0.05), com títulos variando entre 64 a 32.768. Um total de 930

carrapatos ixodideos foram coletados dos cães, sendo 708 Rhipicephalus

sanguineus, 209 Amblyomma cajenennse e 13 Amblyomma ovale. Quatrocentos e

cinquenta e oito pulgas Ctenocephalides felis felis e nove piolhos Heterodoxus

spiniger também foram identificados. R. sanguineus foram detectados em 102

(63,7%) cães da área urbana e em 31 (19,3%) cães da área rural (P<0,001). Na área

urbana, ninfas de A. cajennense foram detectadas em apenas um cão (0,6%) sendo

que na área rural, foram identificadas ninfas e adultos dessa espécie de carrapato

em 59 (36,8%) cães. Carrapatos A. ovale foram detectados em cinco (3,1%) cães da

área rural. C. felis felis foram detectadas em 77 (48,1%) cães da area urbana e em

57 (35,6%) da área rural (P<0,05). O piolho H. spiniger foi identificado em seis cães

da cidade. O maior titulo de anticorpo anti-Rickettsia spp. foi observado para R.

amblyommii, sugerindo que cães da área rural têm sido infectados por esse agente.

A infecção por Rickettsia spp. foi significantemente maior em cães da área rural, em

cães com hábito de caça e/ou infestados por A. cajenennse. Implicações na saúde

pública foram discutidas.

Palavras-chaves: Ehrlichia canis, Rickettsia, soroprevalência, carrapato, cão,

Pantanal.

ABSTRACT

SEROPREVALENCE AND RISK FACTORS TO Ehrlichia canis AND Rickettsia

spp. IN DOGS FROM THE PANTANAL REGION OF MATO GROSSO STATE,

BRAZIL

During 2009, 320 dogs from urban and rural areas of a Pantanal region of Mato

Grosso State, Brazil, were evaluate for the prevalence of anti-Ehrlichia canis and

anti-Rickettsia spp. antibodies and for the presence of ectoparasites. Risk factors for

E. canis or Rickttsia spp. infection were also evaluated. Seropositive dogs were

determinate by immunofluorescence assay (IFA). For Ehrlichia canis test São Paulo

strain antigens were used, and for Rickettsia spp. antigens of six Brazilian species

were used: R. rickettsii, R. parkeri, R. amblyommii, R. rhipicephali, R. felis, and R.

bellii. Positive reaction against E. canis were detected in 227 (70.9%) dogs, being

119 (74.3%) from urban area and 108 (67.5%) from rural area (P>0.05), with

endpoint titers ranging from 40 to 327,680. For Rickettsia spp., 152 (47.5%) dogs

were positive, being 31 (19.3%) from urban and 121 (75.6%) from rural area

(P<0.05), with endpoint titers ranging from 64 to 32,768. A total of 930 ixodid ticks

were collected on dogs, being 708 Rhipicephalus sanguineus, 209 Amblyomma

cajennense and 13 Amblyomma ovale. Four hundred and fifty eight Ctenocephalides

felis felis fleas and nine Heterodoxus spiniger lices were also collected. R.

sanguineus ticks were found in 102 (63.7%) dogs in urban area and in 31 (19.3%)

dogs in rural area (P<0.001). While nymphs of the tick A. cajennense were found in a

single dog (0.6%) from the urban area, nymphs and adults of A. cajennense were

found in 59 dogs (36.8%) from rural area (P<0.05). Adults of A. ovale ticks were

detected in 5 (3.1%) dogs from rural area. Fleas C. felis felis, were found in 77

(48.1%) dogs from urban area and in 57 (35.6%) dogs from rural area (P<0.05). The

louse H. spiniger was identified in 6 urban dogs. The highest anti-Rickettsia spp.

endpoint titers were observed for R. amblyommii, suggesting that the rural dogs had

been infected by this agent. Infection Rickettsial infection was significantly higher in

rural dogs, in dogs with hunting practice, or in A. cajennense-infested dogs.

Implications to public health are discussed.

Keywords: Ehrlichia canis, Rickettsia, seroprevalence, ticks, dog, Pantanal.

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Prevalência de anticorpos anti-E. canis em cães provenientes de diversas

regiões do Brasil ......................................................................................... 23

Tabela 2: Número e freqüência de cães parasitados por ectoparasitos no município

de Poconé .................................................................................................. 40

Tabela 3: Ectoparasitos encontrados nos cães da área urbana e rural do município

de Poconé .................................................................................................. 42

Tabela 4: Distribuição dos títulos de anticorpos anti-Ehrlichia canis em cães

reagentes a Reação de Imunofluorescência Indireta (≥40) de área urbana e

rural do município de Poconé, MT – Cuiabá - 2011 ................................... 50

Tabela 5: Freqüência de cães reagentes a Reação de Imunofluorescência Indireta (≥

40) contra antígenos de Ehrlichia canis segundo a faixa etária e ambiente

urbano e rural de Poconé, MT .................................................................... 51

Tabela 6: Análise univariada e multivariada para detectar fator de risco associado à

soroprevalência de anticorpos anti-Ehrlichia canis no município de Poconé,

MT .............................................................................................................. 52

Tabela 7: Distribuição de cães soropositivos para Ehrlichia canis e espécies de

carrapatos identificados nos cães por localidade no município de Poconé,

MT .............................................................................................................. 53

Tabela 8: Distribuição dos títulos de anticorpos frente aos 6 antígenos de Rickettsia

spp. utilizados na RIFI (≥64) em cães das áreas urbana e rural do

município de Poconé, MT ........................................................................... 54

Tabela 9: Distribuição dos cães sororeagentes à Rickettsia spp. ............................. 56

Tabela 10: Distribuição dos cães sororeagentes à Rickettsia spp. e parasitismo de

carrapatos em diferentes localidades de Poconé, MT ................................ 64

Tabela 11: Freqüência de cães reagentes a Reação de Imunofluorescência Indireta

(≥ 64) contra antígenos de Rickettsia spp. segundo a faixa etária e

ambiente ..................................................................................................... 65

Tabela 12: Análise univariada e multivariada para detectar fator de risco associado à

soroprevalência de anticorpos anti-Rickettsia spp. no município de Poconé,

MT .............................................................................................................. 66

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Localização do município de Poconé, MT .................................................. 34

Figura 2: Cidade de Poconé, composta de 12 bairros, diferenciados por diferentes

tons de cores ............................................................................................. 35

Figura 3: Mapa da cidade de Poconé e localização dos 12 bairros .......................... 39

Figura 4: Propriedades e comunidades rurais participantes deste estudo no

município de Poconé ................................................................................. 40

Figura 5: Prevalência de ectoparasitos na cidade de Poconé ................................... 43

Figura 6: Prevalência de Rhipicephalus sanguineus na área rural de Poconé ......... 44

Figura 7: Prevalência de Amblyomma cajennense na área rural de Poconé ............ 45

Figura 8: Prevalência de Amblyomma ovale na área rural de Poconé ...................... 46

Figura 9: Prevalência de Ctenocephalides felis felis área rural de Poconé ............... 47

Figura 10: Distribuição dos cães sororeagentes para Ehlichia canis na cidade de

Poconé, MT ................................................................................................ 48

Figura 11: Distribuição dos cães sororeagentes para Ehlichia canis na área rural do

município de Poconé, MT ........................................................................... 49

Figura 12: Distribuição dos cães sororeagentes para Rickettsia spp. na cidade de

Poconé, MT ................................................................................................ 57

Figura 13: Prevalência das espécies do gênero Rickettsia spp. na área rural de

Poconé, MT ................................................................................................ 58

Figura 14: Prevalência de Rickettsia amblyommii na área rural de Poconé, MT....... 59

Figura 15: Prevalência de Rickettsia bellii na área rural de Poconé, MT .................. 60

Figura 16: Prevalência de Rickettsia parkeri na área rural de Poconé, MT ............... 61

Figura 17: Prevalência de Rickettsia rickettsii na área rural de Poconé, MT ............. 62

Figura 18: Prevalência de Rickettsia rhipicephali na área rural de Poconé, MT........ 63

SUMÁRIO

RESUMO

ABSTRACT

LISTA DE TABELAS

LISTA DE FIGURAS

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 16

2. REVISÃO DE LITERATURA ................................................................................ 20

2.1 Ehrlichia canis ............................................................................................. 20

2. Rickettsia spp. ............................................................................................... 26

2. MATERIAL E MÉTODOS ..................................................................................... 33

3.1 Local de estudo ........................................................................................... 33

3.2 Amostragem e questionário epidemiológico ............................................ 34

3.3 Colheita e identificação de ectoparasitos ................................................. 35

3.4 Reação de Imunofluorescência Indireta .................................................... 36

3.4.1 Ehrlichia canis ...................................................................................... 36

3.4.2 Rickettsia spp. ...................................................................................... 37

3.5 Análise estatística ....................................................................................... 38

4. RESULTADOS ...................................................................................................... 38

4.1 Ectoparasitos ............................................................................................... 41

4.2 Detecção de anticorpos anti-Ehrlichia canis ............................................ 48

4.3 Detecção de anticorpos anti-Rickettsia spp ............................................. 54

5. DISCUSSÃO ......................................................................................................... 67

6. CONCLUSÃO ....................................................................................................... 79

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 80

APÊNDICE A...............................................................................................................95

16

1 Introdução

Dentro do filo artrópode, os carrapatos são considerados vetores de um

grande número de agentes infecciosos (HOOGSTRAAL, 1967). Das

aproximadamente 825 espécies de carrapatos descritas no mundo, apenas 10%

assumem uma maior importância direta em saúde pública, devido às possibilidades

desses carrapatos parasitarem humanos (OLIVER, 1989). Obviamente, várias outras

espécies que nunca foram descritas parasitando humanos, assumem papel

importante indireto na saúde pública, pois contribuem para a manutenção enzoótica

de agentes infecciosos na natureza (HOOGSTRAAL, 1967).

As riquetsioses são enfermidades infecciosas transmitidas por artrópodes,

causadas por bactérias gram-negativas, parasitas intracelulares obrigatórios. Essas

doenças têm sido associadas a carrapatos desde o inicio do século 20, quando

foram confirmados como hospedeiros e transmissores das riquétsias aos seres

humanos (SANTOS, 2007). Desde então, as pesquisas sobre os carrapatos, como

fonte de patógenos para seres humanos, aumentaram em diversas partes do

mundo.

As riquétsias pertencem à ordem Rickettsiales, que estão divididas em duas

grandes famílias: Rickettsiaceae e Anaplasmataceae. As espécies da família

Rickettsiaceae patogênicas pertencem ao Grupo da Febre Maculosa (GFM), as

quais têm sido isoladas e/ou detectadas por ensaios moleculares e sorológicos em

artrópodes e animais, respectivamente, em várias regiões do Brasil. Aqui, a doença

causada por riquétsias do GFM é denominada Febre Maculosa Brasileira (FMB),

tendo sido notificada em todos os estados da região Sudeste do país (DIAS e

MARTINS, 1939; SEXTON et al., 1993; LABRUNA et al., 2009a). A espécie

envolvida na FMB é a Rickettsia rickettsii (RICKETTS, 1909), e sua transmissão tem

sido associada aos carrapatos Amblyomma cajenennse, A. aureolatum e

Rhipicephalus sanguineus (DIAS e MARTINS, 1939; PINTER e LABRUNA, 2006;

PACHECO et al., 2010; PIRANDA et al., 2011).

Contudo, com o avanço das pesquisas, principalmente no âmbito da biologia

molecular, outras riquétsias foram caracterizadas nos últimos anos na região

Sudeste, como R. bellii e R. parkeri em carrapatos A. dubitatum (LABRUNA et al.,

2004a); R. bellii em A. aureolatum (PINTER e LABRUNA, 2006), R. parkeri em A.

17

triste (SILVEIRA et al., 2007); e R. felis, em pulgas Ctenocephalides felis felis

(HORTA et al., 2005) e em carrapatos Amblyomma spp. (CARDOSO et al., 2006).

Na região Norte do país, R. bellii e R. amblyommii foram caracterizadas em

carrapatos do gênero Amblyomma (LABRUNA et al., 2004b) e R. rhipicephali em

carrapatos Haemaphysalis juxtakochi (LABRUNA et al., 2005a). Mais tarde, R.

amblyommii foi isolada em A. longirostre provenientes de aves silvestres da Mata

Atlântica do Estado de São Paulo (OGRZEWALSKA et al., 2008). Também já foi

relatada detecção molecular desta espécie em A. longirostre e A. geayi coletados de

aves silvestres da Amazônia (OGRZEWALSKA et al., 2010). Em humanos, a

espécie R. rickettsii já foi isolada e caracterizada, oriunda de pacientes de diferentes

localidades do Estado de São Paulo (NASCIMENTO et al., 2005; GEHRKE et al.,

2006). Recentemente, foi relatado um caso clínico de riquetsiose no interior de São

Paulo. A análise molecular do agente etiológico detectado pertence ao GFM,

apresentando-se intimamente relacionado com R. parkeri, R. africae e R. sibirica,

sendo denominado por cepa Mata Atlântica (SPOLIDORIO et al., 2010).

Além dos agentes correspondentes à família Rickettsiaceae, a família

Anaplasmataceae agrupa também importantes patógenos de importância em

medicina veterinária e saúde pública. No Brasil, a E. canis é a espécie responsável

pela Erliquiose Monocítica Canina (EMC), isolada in vitro a partir de cães

experimentalmente e naturalmente infectados (TORRES et al., 2002; AGUIAR et al.,

2008). A EMC é uma doença infecciosa severa, transmitida pelo carrapato R.

sanguineus, e responsável nos cães por transtornos hematológicos como anemia e

trombocitopenia. Os cães, em determinado estágio de infecção, se comportam como

portadores assintomáticos, pois são capazes de manter viáveis a E. canis por longo

período, sem apresentarem sinais clínicos (COHN, 2003). No carrapato é observado

apenas transmissão transestadial, fazendo do cão o principal reservatório (GROVES

et al., 1975).

Como o R. sanguineus encontra-se distribuído por quase todo território

urbano brasileiro (LABRUNA e PEREIRA, 2001), é provável que a EMC esteja

presente em todas as regiões do Brasil. Estudos epidemiológicos têm demonstrado

que as freqüências de infecção têm variado de 19% a 65%, em cães amostrados de

ambientes urbanos, rurais ou atendidos em clínicas e hospitais veterinários em

diversas regiões do Brasil, seja por testes sorológicos ou moleculares (DAGNONE et

18

al., 2003; LABARTHE et al., 2003; BULLA et al., 2004; TRAPP et al., 2006; AGUIAR

et al., 2007a; COSTA et al., 2007; SAITO et al., 2008).

Apesar da infecção por espécies dos gêneros Rickettsia spp. e Ehrlichia spp.

em animais serem frequentemente estudadas em diferentes regiões do Brasil,

observamos que na região do Pantanal matogrossense, essa informação é

desconhecida. Dados a respeito das doenças transmitidas por carrapatos, que

acometem os animais da região pantaneira são escassos; por outro lado, tem-se

relatado a presença de diferentes espécies de carrapatos nesta região (ITO et al.,

1998; BECHARA et al., 2000; MARTINS et al., 2004).

Espécies do gênero Amblyomma spp. têm sido freqüentemente observadas

em animais silvestres do Pantanal. Na região de Corumbá, MS, Ito et al. (1998)

identificaram A. cajennense e Rhipicephalus (Boophilus) microplus em queixadas

(Tayassu pecari) e capivaras (Hydrochoerus hydrochaeris). Martins et al. (2004)

registraram a ocorrência de carrapatos em Tamanduás-bandeira (Myrmecophaga

tridactyla) e Tamanduás-mirim (Tamandua tetradactyla). As espécies identificadas

foram A. cajennense, A. parvum e A. nodosum.

Bechara et al. (2000), na sub-região da Nhecolândia, identificaram as

espécies R. (Boophilus) microplus, A. cajennense, A. parvum, A. pseudoconcolor, A.

scalpturatum, A. nodosum, A. ovale e A. tigrinum. Segundo os autores, os

carrapatos parasitavam principalmente quatis (Nasua nasua), veados (Mazama

gouazoubira) e tamanduás (M. tridactyla).

De acordo com os trabalhos supracitados, o envolvimento de diferentes

espécies de carrapatos, inclusive R. (Boophilus) microplus, além de evidenciar uma

possível influência da intensa atividade pecuária no Pantanal, sugere que os animais

silvestres podem desempenhar importante papel na epidemiologia das doenças

transmitidas por carrapatos na região.

Localizado no interior da América do Sul, o Pantanal matogrossense é a

maior extensão úmida contínua do planeta. Hidrograficamente, todo o Pantanal faz

parte da bacia do rio Paraguai constituindo-se em uma imensa planície de áreas

alagáveis. O Pantanal é composto por três regiões distintas: amazônica, cerrado e

chaco (paraguaio e argentino). Durante a seca, que coincide com o inverno, a

temperatura pode chegar a 0°C, influenciada pelos ventos que chegam do sul do

continente. A vegetação do Pantanal não é homogênea e há um padrão diferente de

flora de acordo com a altitude. Nas partes mais baixas, predominam as gramíneas,

19

que são áreas de pastagens naturais para o gado. A vegetação de cerrado, com

árvores de porte médio entremeadas de arbustos e plantas rasteiras, aparece nas

alturas intermediárias. A poucos metros acima das áreas inundáveis, ficam os

capões de mato ou cordilheiras. Nas altitudes maiores, o clima árido e seco torna a

paisagem parecida com a da caatinga (ALHO et al., 1987).

Dentro desta imensa diversidade, mais de 80 espécies de mamíferos como

felídeos: onça-pintada (Panthera onca) e suçuarana (Puma concolor); canídeos:

cachorro do mato (Cerdocyon thous) e lobo guará (Crysocyon brachyurus);

cervídeos, veado campeiro (Ozotoceros bezoarticus), veado catingueiro (M.

gouazoupira), cervo do pantanal (Blastocerus dichotomus); suídeos: porco do mato

ou caititu (T. tajacu) e queixada (T. pecari); capivaras (H. hydrochaeris); tamanduás

(M. tridactyla e T. tetradactyla), antas (Tapirus terrestris) entre outras espécies

(ALHO et al., 1987), dividem o mesmo habitat, contribuindo para a manutenção de

diferentes espécies de ixodídeos bem como agentes infecciosos.

Como em toda região do cerrado do Brasil central, o meio ambiente vem

sendo modificado em nome do progresso; as matas nativas derrubadas, queimadas

indiscriminada, cursos d‘águas barrados, desviados ou aterrados, caça e/ou

espécies nativas trocadas pelas domésticas e tudo isso sem qualquer estudo prévio

do impacto que tais ações possam causar sobre as espécies que ali habitavam em

pleno equilíbrio.

Por outro lado, a beleza proporcionada pela paisagem pantaneira fascina

pessoas de todo o mundo, fazendo com que o turismo se desenvolva em vários

municípios da região, ocasionando desenvolvimento de um pensamento

ambientalista e social para o Pantanal matogrossense, o que tem levado vários

pesquisadores a discutirem o impacto da ocupação humana neste ecossistema.

Nesse sentido, o afluxo de turistas para a região pantaneira, aliado a ocupação

humana local susceptível, justifica a realização de pesquisas que enfocam e buscam

dados sobre saúde pública humana e animal.

Diante da estimativa que 75% das doenças infecciosas emergentes são de

ordem zoonótica (TAYLOR et al. 2001), estudos envolvendo animais domésticos

podem complementar ou elucidar estudos epidemiológicos em saúde pública. Como

no Brasil os cães vivem em contato direto com seres humanos, dados obtidos sobre

as doenças transmitidas por carrapatos nesses animais podem fornecer informações

20

a respeito de prevalência, fatores de risco para a exposição e infecção, antes da

ocorrência da doença em humanos.

Face a estes dados, o presente estudo objetiva investigar a prevalência da

infecção por espécies de Rickettsia spp. e E. canis em cães do município de

Poconé, situado no Pantanal do Estado de Mato Grosso, procurando associar

fatores de risco para a infecção, identificando inclusive espécies de ectoparasitos

que ocorrem nos animais estudados.

2 Revisão de Literatura

2.1 Ehrlichia spp.

As riquétsias fazem parte da ordem Rickettsiales, que está dividida em duas

grandes famílias: Rickettsiaceae e Anaplasmataceae. Essa nomenclatura foi

proposta recentemente por Dumler et al. (2001), que, ao utilizarem as descobertas

no campo de biologia molecular à cerca dos genes 16S rRNA e groESL, bem como

as características biológicas e antigênicas existentes nestes agentes, propuseram

uma reclassificação taxonômica dessa ordem. Sendo assim, a família Rickettsiaceae

passou a ter os gêneros Rickettsia e Orientia, enquanto que a família

Anaplasmataceae agrupa os gêneros Ehrlichia, Anaplasma, Wolbachia e

Neorickettsia. As mudanças também envolveram os gêneros Anaplasma, o qual

agora é composto pelas espécies Anaplasma phagocytophilum (originada da

reclassificação da E. equi, E. phagocytophila e do agente da erliquiose granulocitica

humana), A. platys (outrora E. platys) e A. bovis (antes E. bovis). O gênero

Neorickettsia, que agora contempla as espécies Neorickettsia risticii e N. sennetsu,

anteriormente nominadas de E. risticii e E. sennetsu, respectivamente. Além disso, a

espécie outrora denominada por Cowdria ruminantium passou a ser designada por

E. ruminantium.

Desse modo, o gênero Ehrlichia atualmente é composto por seis espécies: E.

canis, E. chaffeensis, E. ewingii, E. muris, E. ruminantium (DUMLER et al., 2001) e

Ehrlichia IOE (Ixodes ovatus Ehrlichia) (SHIBATA et al., 2000). São parasitas

21

intracelulares obrigatórios de diversas células hematopoiéticas animais, tais como

monócitos, macrófagos, neutrófilos e células endoteliais (DUMLER et al., 2001) e de

células do aparelho digestório, da glândula salivar e hemolinfa de carrapatos

(GROVES et al., 1975).

Em se tratando de saúde pública referente à infecção por bactérias do gênero

Ehrlichia, a Erliquiose Monocítica Humana (EMH), doença causada pela E.

chaffeensis tem sido relatada na América do Norte, sendo considerada doença

emergente, transmitida principalmente pelo carrapato A. americanum (OLANO e

WALKER, 2002). Representando também considerável potencial zoonótico, está a

espécie E. canis, que foi isolada pela primeira vez por Perez et al. (1996) a partir de

sangue humano na Venezuela, vindo a ser diagnosticada em 2006, a infecção pela

PCR em seis pacientes com doença clínica compatível com Erliquiose Monocítica

Humana (EMH) (PEREZ et al., 2006). Adicionalmente, no Brasil, dentre os relatos de

detecção molecular do agente, Diniz et al. (2007), demonstraram haver completa

similaridade entre a seqüência de nucleotídeos do gene 16S rRNA (1.434 pb) da E.

canis responsável pela EMH venezuelana e de uma amostra de erliquia proveniente

de sangue canino oriundo do Estado de São Paulo. Nesse sentido, tudo indica que o

mesmo agente causador de infecção humana na Venezuela, vem infectando cães

do Brasil.

Das espécies supracitadas, a única isolada até o momento acometendo cães

no Brasil é a E. canis, responsável por causar a doença denominada de Erliquiose

Monocítica Canina (EMC) (AGUIAR et al., 2008). Seu principal vetor é o carrapato R.

sanguineus, comumente chamado de ―carrapato marrom do cão‖ (KEEFE et al.,

1982; LABRUNA e PEREIRA, 2001). Outras duas espécies, E. chaffeensis,

causadora da Erliquiose Monocítica Humana (EMH) e E. ewingii, agente etiológico

da Erliquiose Granulocítica Humana (EGH) e Canina (EGC); também já foram

relatadas no país através de detecção molecular em cervos-do-pantanal e cães,

respectivamente (MACHADO et al., 2006; OLIVEIRA et al., 2009). Recentemente, foi

descrita a presença de anticorpos anti-E. canis em onças-pintadas do Pantanal de

Mato Grosso do Sul, bem como a detecção molecular de uma possível nova espécie

de Ehrlichia spp. em carrapatos A. cajennense e A. triste que parasitavam estes

carnívoros e, cujo seqüenciamento apontou 98% de similaridade com E.

ruminantium (WIDMER, 2009).

22

A E. canis é classificada como α-proteobactéria e morfologicamente

caracteriza-se como pleomórfica, gram-negativa, com parede celular não protéica,

ausente de lipopolissacarídeo e peptídeoglicano e com capacidade de incorporação

de colesterol de membrana, o que poderia ser um facilitador no processo de

adaptação às células do carrapato vetor e do hospedeiro vertebrado (YU e

WALKER, 2006; RIKIHISA et al., 2006).

Apresenta tropismo pelos monócitos e macrófagos, na qual seu ciclo biológico

inicia com sua inoculação no cão pelo vetor R. sanguineus durante seu repasto

sanguíneo. Então, o agente entra nas células mononucleares por endocitose, em

forma de estruturas conhecidas como corpos elementares (0,2 a 0,6μm de

diâmetro), que realizam multiplicação nos fagolisossomos celulares. Cerca de três a

cinco dias após o início da infecção, os corpos elementares se agrupam, formando

grânulos subesféricos de coloração rósea a púrpura, designada por corpúsculos

iniciais (0,4 a 2,0μm). Na sequência, entre sete a doze dias, ocorre a replicação e

diferenciação dos corpúsculos iniciais em inclusões denominadas de mórulas (2,0 a

4,0 μm). Assim, os corpúsculos elementares podem deixar as células

mononucleares através de exocitose ou lise e com isso, infectar novas células,

disseminando-se pelo hospedeiro vertebrado, principalmente ao que concernem os

órgãos linfóides, nos quais predomina esse tipo celular (POPOV et al., 1998;

SANTARÉM, 2003).

A primeira descrição do agente foi em 1935, na Argélia, por Donatien e

Lestoquard, na qual um cão da raça Pastor Alemão encontrava-se infectado por

essa bactéria (MACHADO, 2004). Mais tarde, a doença recebeu notoriedade

mundial ao levar a óbito vários cães militares dos Estados Unidos que combatiam

durante a Guerra do Vietnã (HUXSOLL et al., 1970; KEEFE et al., 1982). Já seu

primeiro relato no Brasil ocorreu em Minas Gerais, onde foram observadas inclusões

citoplasmáticas compatíveis com mórulas de E. canis em linfócitos de cães (COSTA

et al., 1973).

Atualmente, a doença apresenta distribuição cosmopolita e o crescente

aumento de sua ocorrência nas diferentes regiões do Brasil está relacionado à

significativa presença do vetor R. sanguineus. Em função do seu hábito nidícola (do

latim nidi= ninho; cola= que permanece), esse artrópode encontra-se amplamente

disseminado e adaptado às condições de moradia dos cães domésticos do país

(LABRUNA e PEREIRA, 2001). Estudos demonstram que a presença do vetor

23

representa um fator de risco para a ocorrência da enfermidade (HARRUS et al.,

1997; DAGNONE et al., 2003). Vários estados têm relatado a erliquiose canina,

acometendo tanto animais atendidos em clínicas e hospitais veterinários quanto os

domiciliados nas áreas urbanas e rurais, conforme a Tabela 1 (TRAPP et al., 2002;

DAGNONE et al., 2003; LABARTHE et al., 2003; BULLA et al., 2004; AGUIAR et al.,

2007a; UENO et al., 2009; SOUZA et al., 2010; SILVA et al, 2010).

Tabela 1 – Prevalência de anticorpos anti-E. canis em cães provenientes de diversas

regiões do Brasil – Cuiabá - 2011

Local Ano Cães Referência

Testados Positivos (%)

Região Norte 2007 314 98 (31,2) Aguiar et al.,

2007ª

Região Sudeste 2007 226 101 (44,7) Costa et al., 2007

Região Sul 2008 389 19 (4,8) Saito et al., 2008

Região Centro-Oeste 2010 254 108 (42,5) Silva et al., 2010

Região Nordeste 2010 472 168 (35,6) Souza et al., 2010

A transmissão de E. canis no carrapato R. sanguineus é do tipo transestadial,

onde somente as fases de ninfa e adulto do vetor transmitem o agente. No que se

referem às larvas, elas não têm relevância neste processo porque a transmissão

transovariana não ocorre nos carrapatos. Todavia, novos estudos relatam a

capacidade de machos (adultos) infectados transmitirem (transmissão intraestadial)

a bactéria a diferentes cães de um mesmo lugar, sem que haja a presença da fêmea

(BREMER et al., 2005; STICH et al., 2008). Após infectar o carrapato, a bactéria se

multiplica no intestino e nas glândulas salivares, de onde será inoculada no cão no

momento de seu repasto sanguíneo (GROVES et al., 1975). A transmissão da

bactéria do carrapato para cães susceptíveis pode ser realizada em até 155 dias

após a infecção do carrapato. Outra forma de transmissão descrita é a transfusão

sanguínea (LEWIS et al., 1977).

A enfermidade caracteriza-se por ser multissistêmica, com período de

incubação de 8 a 20 dias, sintomatologia clínica complexa e que se encontra

distribuída entre as fases aguda, subclínica (ou assintomática) e crônica, na qual

24

somente em infecções experimentais é possível diferenciar estes estágios.

(HARRUS et al., 1997; SANTARÉM, 2003).

A patogenia verificada na fase aguda caracteriza-se por multiplicação do

agente em células mononucleares, principalmente dos órgãos do sistema fagocítico

mononuclear, como linfonodos, fígado, baço e medula óssea, causando

organomegalia e hiperplasia dessas células. Clinicamente, os cães nesta fase

apresentam febre, depressão, anorexia, letargia, esplenomegalia, linfoadenopatia e

tendências hemorrágicas. Verifica-se também leucopenia, anemia e

trombocitopenia, resultante da destruição periférica das plaquetas (HARRUS et al.,

1997; CASTRO et al., 2004).

Terminada esta etapa, os animais imunocompetentes podem evoluir para a

cura ou entrar numa fase assintomática (subclínica), que inicia entre 40 a 120 dias

após a infecção, podendo durar de 6 a 9 semanas ou persistir por alguns anos em

áreas consideradas enzoóticas (WANER et al., 1997; HARRUS e WANER, 2011). Já

na fase crônica da doença, é possível observar que a sintomatologia clínica

assemelha-se à observada na fase aguda, porém, com manifestações mais graves,

além de palidez de mucosas, perda de peso, fraqueza, edemas periféricos,

neuropatias, oftalmopatias e nefropatias (HARRUS et al., 1997; NEER, 1998). Nos

casos mais graves, pode haver um quadro hematológico de pancitopenia, associado

à infecções secundárias e hemorragias sistêmicas, podendo apresentar evolução

fatal (COHN, 2003; BOWMAN et al., 2009).

Segundo Harrus et al. (1997), a patogenia da enfermidade envolve

mecanismos imunológicos e inflamatórios, caracterizados muitas vezes por

hemaglutinação, hipergamaglobulinemia, infiltração leucocitária em órgãos

parenquimatosos, manguitos peri-vasculares em diversos locais, como rins, baço,

meninges, pulmões e olhos; além da presença de anticorpos anti-plaquetários em

cães experimentalmente infectados. A extinção da infecção pela E. canis depende

basicamente da resposta imune celular, muito embora a resposta imune humoral

também tenha alguma relevância (GANTA et al., 2004). Atualmente, é sabido que

esse patógeno tem como alvo o sistema imune, onde promove alguns desajustes na

resposta imunológica. Esse tipo de infecção causa redução significativa na

expressão de moléculas do complexo de histocompatibilidade principal de classe II

(MHCII), cuja função compreende a maturação de células T em linfócito T CD4+,

que possui importante atuação na elaboração e potencialização da resposta imune

25

celular e humoral. Neste tipo de infecção, há redução nas concentrações de linfócito

T CD4+, células sintetizadoras de IFN-γ, que atuam na estimulação da atividade

microbicida dos macrófagos, sendo, portanto, imprescindíveis para mecanismo de

proteção e eliminação das infecções causadas por essa bactéria (HASEGAWA,

2005).

O diagnóstico da erliquiose canina envolve vários métodos, tais como: história

clínica e anamnese, análises clínicas e laboratoriais, detecção direta (microscopia)

do agente nas células hematopoiéticas infectadas ou em tecidos, isolamento em

cultura celular, técnicas sorológicas como reação de imunofluorescência indireta

(RIFI), western immunoblot e ensaio de imunoabsorção por ligação enzimática

(ELISA), bem como a técnica molecular de Reação em Cadeia pela Polimerase

(PCR) (HARRUS e WANER, 2011).

A realização da citologia através do esfregaço de sangue periférico baseia-se

na identificação das mórulas nas células mononucleares infectadas. No entanto,

como a presença destas estruturas na corrente sanguínea é observada mais

frequentemente na fase aguda da doença e em pequena quantidade dos casos,

considera-se esse tipo de diagnóstico com baixa sensibilidade (HARRUS et al.,

1997). Outra alternativa para o diagnóstico seria o isolamento do agente em cultura

celular. A E. canis pode ser cultivada in vitro em células DH82 (dog histiocytosis),

provenientes de monócitos caninos a partir de um caso de histiocitoma (WELLMAN

et al., 1988).

Quanto ao uso do ELISA e do western immunoblot, ambos apresentam

elevada sensibilidade, sendo que este último tem sido utilizado para caracterizar e

distinguir os diferentes agentes no caso de reação cruzada entre os patógenos da

família Anaplasmataceae (HARRUS e WANER, 2011). Já a PCR vem se mostrando

um método sensível e específico para o diagnóstico da erliquiose canina,

principalmente nos casos de infecção aguda, haja vista que a detecção da bactéria

pode ser realizada antes da formação de mórulas ou da soroconversão (MCBRIDE

et al., 1996).

Apesar de inúmeros métodos de diagnóstico, a RIFI é considerada o teste

―padrão ouro‖ para identificação e quantificação de anticorpos da classe IgG anti-

E.canis, na qual títulos ≥ 40 indicam soropositividade (AGUIAR et al. 2007b;

HARRUS e WANER, 2011). Ao contrário da PCR, a RIFI é indicada para a detecção

26

de casos mais crônicos, uma vez que a formação de anticorpos inicia somente entre

1 a 3 semanas após a infecção (MCBRIDE et al., 1996).

Quanto ao tratamento, este se baseia na utilização de antimicrobianos, como

principalmente tetraciclinas e cloranfenicol, bem como terapia de suporte. O

prognóstico é considerado favorável quando o tratamento é iniciado o mais cedo

possível (WANER et al., 1997).

Ao que se refere à profilaxia, o controle do carrapato vetor é a medida mais

eficaz e capaz de evitar a infecção pelo agente (HARRUS et al., 1997). Levando em

conta a distribuição de uma população de carrapatos, considera-se que a menor

parte está em parasitose no cão, enquanto que a maioria está nas fases de vida livre

no ambiente, é imprescindível que a terapia carrapaticida atue tanto sobre o

hospedeiro como no ambiente em que ele está inserido (LABRUNA e PEREIRA,

2001).

2.2 Rickettsia spp.

As espécies da família Rickettsiaceae estão divididas em dois grupos,

baseados nos padrões antigênicos, moleculares e ecológicos: i grupo do Tifo (GT),

que inclui as espécies R. prowazekii, causadora do tifo epidêmico, e R. typhi, agente

do tifo endêmico ou tifo murino, ambas transmitidas por piolhos e pulgas

respectivamente (EREMEEVA e DASCH, 2000); ii grupo da Febre Maculosa (GFM),

constituído por mais de 30 espécies, dentre as quais pelo menos 15 causam

diferentes doenças ao homem (R. aeschlimannii, R. africae, R. akari, R. australis, R.

conorii, R. felis, R. helvetica, R. honei, R. japonica, R. marmionii, R.

mongolotimonae, R. parkeri, R. rickettsii, R. sibirica, R. slovaca). Com exceção de R.

akari e R. felis transmitidas por pequenos ácaros e pulgas, respectivamente, todas

as outras representantes desse grupo são veiculadas por carrapatos (BROUQUI et

al., 2004; RAOULT e ROUX, 1997). E sem pertencer a nenhum dos grupos citados,

estão as espécies R. bellii e R. canadensis, ambas de patogenicidade desconhecida

(YU e WALKER, 2006; LABRUNA, 2009a).

A doença causada pela R. rickettsii foi relatada pela primeira vez nos Estados

Unidos, onde foi denominada de Febre Maculosa das Montanhas Rochosas

27

(FMMR), na qual o pesquisador Howard Taylor Ricketts isolou a bactéria em 1909, e

estabeleceu a participação do carrapato da espécie Dermacentor andersoni no

processo de transmissão deste agente (RICKETTS, 1909). Nos Estados Unidos, R.

rickettsii é vetoriada pelo D. variabilis na costa leste, enquanto que na costa oeste o

carrrapato D. andersoni é o responsável por desempenhar essa função (MACDADE

e NEWHOUSE, 1986); entretanto, alguns estudos apontam o carrapato R.

sanguineus como um importante vetor desta riquétsia em algumas áreas (DEMMA et

al., 2005). Outros países, como Canadá, México, Costa Rica, Panamá, Colômbia e

Argentina também relataram a ocorrência deste patógeno, onde primariamente era

transmitida por carrapatos do gênero Amblyomma (MACDADE e NEWHOUSE,

1986; DUMLER e WALKER, 2005).

No Brasil, a doença causada por riquétsias do GFM é denominada Febre

Maculosa Brasileira (FMB), sendo causada principalmente pela bactéria R. rickettsii.

Esta enfermidade tem sido notificada em todos os estados da região Sudeste do

país (DIAS e MARTINS, 1939; SEXTON et al., 1993; LEMOS et al., 2001;

ROZENTAL et al., 2002; GALVÃO et al., 2003).

O carrapato A. cajennense é reconhecido como o principal vetor da R.

rickettsii na América Central e do Sul; e na região metropolitana da cidade de São

Paulo, é o A. aureolatum que desempenha esse papel (PINTER e LABRUNA, 2006;

PINTER et al., 2008; LABRUNA, 2009a). Recentemente, Pacheco et al. (2010)

realizaram o isolamento desta bactéria em R. sanguineus, o que reforça a idéia da

existência, aqui no país, de mais este vetor. Adicionalmente, Piranda et al. (2011)

conseguiram demonstrar, experimentalmente, que o cão pode atuar como

hospedeiro amplificador da R. rickettsiii para o carrapato R. sanguineus. Além disso,

esse estudo relata que ninfas e adultos de R. sanguineus transmitiram com sucesso

a bactéria às cobaias, confirmando a existência de uma competência vetorial, por

parte desse carrapato após aquisição da infecção a partir de cães riquetsêmicos.

Contudo, à medida que se intensificaram as pesquisas, principalmente no

âmbito da biologia molecular, outras riquétsias foram caracterizadas nos últimos

anos na região Sudeste, como R. bellii e R. parkeri em carrapatos A. dubitatum

(LABRUNA et al., 2004a); R. bellii em A. aureolatum (PINTER e LABRUNA, 2006);

R. parkeri em A. triste (SILVEIRA et al., 2007); e R. felis, em pulgas C. felis felis

(HORTA et al., 2005) e em carrapatos Amblyomma spp (CARDOSO et al., 2006). Na

região Norte do país, R. bellii e R. amblyommii foram isoladas em carrapatos do

28

gênero Amblyomma (LABRUNA et al., 2004b) e R. rhipicephali em carrapatos H.

juxtakochi (LABRUNA et al., 2005a). R. amblyommii foi isolada em A. longirostre

provenientes de aves silvestres da Mata Atlântica do estado de São Paulo

(OGRZEWALSKA et al., 2008). Também já foi relatada detecção molecular desta

espécie em A. longirostre e A. geayi coletados de aves silvestres da Amazônia

(OGRZEWALSKA et al., 2010). Em humanos, a espécie R. rickettsii já foi isolada e

caracterizada, oriunda de pacientes de diferentes localidades do Estado de São

Paulo (NASCIMENTO et al., 2005; GEHRKE et al., 2006). Recentemente, foi

relatado um caso clínico de riquetsiose no interior de São Paulo. A análise molecular

de amostras de pele do paciente, indicou que o agente etiológico pertence ao GFM,

apresentando-se intimamente relacionado com R. parkeri, R. africae e R. sibirica,

sendo denominado por cepa Mata Atlântica (SPOLIDORIO et al., 2010). E na

espécie canina, LABRUNA et al. (2009b) relataram pela primeira vez no Brasil

infecção natural nessa espécie animal.

A necessidade de reservatórios para a circulação do agente e a manutenção

do agente na natureza é fundamental. A capivara é um potencial amplificador da

Rickettsia spp. uma vez que foi demonstrada através de infecção experimental, a

sua capacidade de mantê-la circulante em seu organismo, sem apresentar sinais

clínicos da doença (TRAVASSOS e VALLEJO, 1942). Isolamentos do agente foram

realizados também em gambás (Didelphis marsupialis) no estado de Minas Gerais e

São Paulo (DIAS e MARTINS, 1939). Em outro estudo, foi demonstrado

experimentalmente que a R. rickettsii conseguiu infectar gambás, porém sem causar

doença clínica; além disso, observou-se o desenvolvimento riquetsemia capaz de

causar infecção em cobaias e carrapatos (HORTA et al., 2009). Souza et al. (2009)

verificaram que a R. rickettsii foi capaz de infectar capivaras, também sem causar

doença clínica, induzindo riquetsemia capaz de causar infecção em cobaias e

carrapatos. Esses resultados resultados indicam que as capivaras atuam como

hospedeiro amplificador desta bactéria em carrapatos A. cajennense no Brasil.

Os eqüinos assumem importante papel de sentinela da febre maculosa

(HORTA et al., 2004; LEMOS et al., 1996; SANGIONI et al., 2005). Em áreas

endêmicas para FMB nos Estados de Minas Gerais e São Paulo, estes animais se

apresentaram com altos títulos de anticorpos frente a R. rickettsii, possivelmente

correlacionados ao alto parasitismo pelo carrapato vetor A. cajennense (HORTA et

al., 2004; SANGIONI et al., 2005).

29

Os cães apresentam papel importante como hospedeiros de carrapatos e

pulgas, por isso, também podem ser considerados sentinelas da infecção (HORTA

et al., 2004; PINTER et al., 2008). Sangioni et al. (2005) analisando áreas

endêmicas e não endêmicas no estado de São Paulo, observaram presença de

anticorpos em cães oriundos da primeira área, indicando contato prévio com o

agente. Em outro estudo realizado em área endêmica do estado de São Paulo,

verificou-se uma significativa presença de anticorpos anti-R. rickettsii nos cães do

local analisado, os quais apresentavam parasitismos por carrapatos R. sanguineus e

Amblyomma spp. Além disso, recentemente houve também a detecção molecular

desse agente em R. sanguineus na região metropolitana de São Paulo (MORAES-

FILHO et al., 2009); e assim como os seres humanos, os cães também são

susceptíveis à infecção por R. rickettsii (LABRUNA et al., 2009b).

Em se tratando da espécie R. parkeri, atualmente ela é reconhecida por ser

patogênica ao ser humano (WHITMAN et al., 2007), sendo identificada nos Estados

Unidos infectando carrapatos A. maculatum. Na América do Sul, a mesma já foi

isolada em A. triste no Uruguai (VENZAL et al., 2004; PACHECO et al., 2006;

SAMMER et al., 2007). E no Brasil, a R. parkeri também já foi detectada por

isolamento e PCR em carrapatos A. triste (SILVEIRA et al., 2007) e por sorologia em

capivaras do estado de São Paulo (PACHECO et al., 2007) e cães do Rio Grande do

Sul (SAITO et al., 2008). Em A. dubitatum foi identificada uma Rickettsia spp., que é

filogeneticamente muito próxima à R. parkeri e que temporariamente foi denominada

de amostra COOPERI (= R. parkeri) (LABRUNA et al., 2004a). Como a doença

causada por R. parkeri é relativamente mais branda e associada a uma lesão

papular típica no local da picada do carrapato, haveria uma certa dificuldade no

desfecho do seu diagnóstico. Possivelmente as infecções humanas por este agente

na América do Sul não têm sido diagnosticadas ou talvez elas estejam sendo

diagnosticadas como sendo causadas por R. rickettsii. Ademais, há indícios de que

talvez os carrapatos sejam eficientes reservatórios dessa bactéria, já que a mesma

possui uma estreita relação com seus principais vetores, bem como elevadas taxas

de infecção nestes artrópodes (WHITMAN et al., 2007; LABRUNA, 2009a).

No que se refere à R. amblyommii, sabe-se que apresenta uma estreita

relação com carrapatos norte-americanos da espécie A. americanum (―lone star

tick‖), onde se processa transmissão ovariana e transestadial da bactéria e a partir

do qual ela foi inicialmente isolada nos Estados Unidos (BURGDORFER et al.,

30

1981). Na América do Sul, uma estirpe de Rickettsia amblyommii genotipicamente

semelhante já foi relatada na região norte do Brasil em carrapatos A. longirostre

(LABRUNA et al., 2004c). Posteriormente, foi detectada e isolada em carrapatos A.

coelebs e A. cajennense, respectivamente, do estado de Rondônia (LABRUNA et al.,

2004b). Recentemente, houve isolamento da mesma em A. neumanni na Argentina

(LABRUNA et al., 2007a). Apesar de ainda não ter sido isolada em seres humanos,

já foi verificado a maior presença de anticorpos para R. amblyommii do que à R.

rickettsii em pacientes febris oriundos de áreas endêmicas (APPERSON et al.,

2008).

Quanto à R. rhipicephali, seu primeiro relato foi em R. sanguineus, nos

Estados Unidos, onde, mais tarde, foi isolada também em três espécies de carrapato

pertencentes ao gênero Dermacentor, não havendo comprovação de sua

patogenicidade à humanos. No Brasil, a espécie já foi isolada, no estado de São

Paulo, a partir de H. juxtakochi (LABRUNA et al., 2007b)

Outra espécie que tem sido relatada em alguns países da América do Sul é a

R. felis, identificada em pulgas Ctenocephalides spp., considerado seu principal

hospedeiro (LABRUNA et al., 2007c; NAVA et al., 2008). Estudos demonstram que a

transmissão transovariana e transestadial dessa riquétsia nessas pulgas pode ser

possível (WEDINCAMP e FOIL, 2002). Além disso, um trabalho realizado com

pulgas C. felis felis coletadas de cães residentes na região metropolitana de São

Paulo detectou, pela PCR, a presença dessa riquétsia em 13 pulgas (nT= 24),

sugerindo a circulação deste agente nos locais avaliados (HORTA et al., 2005).

Entretanto, apesar do elevado parasitismo por essa espécie de pulgas nos

cães e também nos gatos, e do grande número de pulgas infectadas por essa

bactéria, talvez devesse haver mais casos de riquetsioses do que os relatados

atualmente. O mecanismo de transmissão deste patógeno pela pulga ainda não está

completamente elucidado, uma vez que se desconhece a presença de R. felis na

saliva destas pulgas, apesar de haver sido encontrada na glândula salivar das

mesmas, sugerindo outras possibilidades neste processo de vetoriação sugerindo

outras possibilidades neste processo de vetoriação. Uma hipótese seria o contato

direto de lesões cutâneas e/ou mucosas com fezes frescas contaminadas com este

agente infeccioso ou até mesmo a ingestão de pulgas infectadas (MACALUSO et al.,

2008; LABRUNA, 2009a).

31

R. bellii já foi relatada em diversas espécies de carrapatos na América do

Norte (Dermacentor, Haemaphysalis, Argas e Ornithodoros) (PHILLIP et al., 1983),

no Brasil (A. aureolatum, A. dubitatum, A. humerale, A. rotundatum, A.

oblongoguttatum, A. scalpturatum, A. ovale, Ixodes loricatus e H. juxtakochi)

(LABRUNA et al., 2004a; LABRUNA et al., 2004b; HORTA et al., 2006; PINTER e

LABRUNA, 2006) e na Argentina (A. neumanni) (LABRUNA et al., 2007a). Sua

patogenicidade ao ser humano é desconhecida. Pelo fato deste agente ter sido

relatado em várias espécies de carrapatos, ele pode ser considerado como a

riquétsia com maior número de relatos em diferentes carrapatos pertencentes às

famílias Ixodidae e Argasidae (LABRUNA et al., 2007b).

A transmissão da riquétsia causadora de Febre Maculosa ocorre através da

picada por carrapatos, que devem permanecer fixados à pele do hospedeiro por um

período varíavel de cinco a vinte horas, tempo necessário para uma possível

reativação da bactéria na glândula salivar do carrapato. Dessa forma, a partir da

picada do carrapato infectado, a riquétsia se dissemina pelo organismo através dos

vasos linfáticos e pequenos vasos sanguíneos, atingindo pele, cérebro, pulmões,

coração, fígado, baço, pâncreas e trato gastrointestinal (LABRUNA e PEREIRA,

1998; DANTAS-TORRES, 2007). O período de incubação da bactéria dura em

média 7 dias, seguido por aparecimento de manifestações clínicas de caráter

inespecífico. Os principais sintomas incluem febre alta, mialgias, insuficiência renal

aguda, prejuízos ao sistema nervoso central, como cefaléia, déficit neurológico,

meningite/meningoencefalite, icterícia, exantema, manifestações hemorrágicas, dor

abdominal e problemas respiratórios. As lesões cutâneas caracterizam-se pelo

aparecimento de máculas, além de necrose e gangrena da pele (ANGERAMI et al.,

2006; BRASIL, 2005). Nos cães, a infecção pela bactéria R. rickettsii é caracterizada

por febre, letargia, emese, anorexia, diarréia e comprometimento do sistema nervoso

central (síndrome vestibular e ataxia) (LABRUNA et al., 2009b). Num estudo com

infecção experimental de cães por R. rickettsii, além desses sinais supracitados, foi

observado, lesões oculares, anemia e trombocitopenia (PIRANDA et al., 2008).

Quanto ao diagnóstico da enfermidade, atualmente, a sorologia, é o método

considerado ―padrão ouro‖, e, apesar da elevada sensibilidade, este teste não

consegue distinguir entre uma infecção causada por R. rickettsii de outra causada

por outra espécie do GFM. Por isso, neste teste deve ser utilizado antígenos locais e

considera-se o provável antígeno responsável pela infecção (PARI), como aquele

32

que obteve um título quatro vezes superior ao observado para qualquer outra

espécie de Rickettsia spp. testada. A detecção molecular é outra alternativa para o

diagnóstico, porém, sua realização esbarra no fato de haver baixa quantidade de

riquétsia circulante na corrente sanguínea. A técnica de imunohistoquímica

geralmente é usada em pacientes com lesões cutâneas através de biópsia da pele.

Também é possível realizar o isolamento da bactéria através do cultivo in vitro, que

requer uma boa estrutura laboratorial, haja vista que esse agente é classificado

como nível 3 com relação à biosseguridade (BRASIL, 2005; BROUQUI, et al., 2004).

Quanto ao tratamento, antibióticos como as tetraciclinas e o cloranfenicol são

considerados os mais eficazes. Em relação à profilaxia, há várias medidas que

incluem combate aos carrapatos vetores através da utilização de carrapaticidas

comerciais, capacitação dos profissionais de saúde, alertando para a importância do

diagnóstico precoce e diferencial com outras doenças e esclarecimento da

população sobre a circulação sazonal do carrapato, como forma educativa e

preventiva (respeitando o ano biológico do carrapato e, conseqüentemente, a

ocorrência dos casos). Além disso, é importante também orientar a população

quanto ao uso de barreiras físicas quando houver a exposição principalmente em

áreas consideradas endêmicas para FMB e com possibilidade de existir carrapatos;

e isso consiste em: usar roupas claras e com mangas compridas, para facilitar a

visualização de carrapatos; utilizar calças compridas, inserindo a parte inferior por

dentro de botas, preferencialmente de cano longo e vedadas com fita adesiva de

dupla face, examinar o próprio corpo em intervalos de duas a três horas, a fim de

verificar a presença de carrapatos, pois quanto mais rápido os mesmos forem

retirados, menor a chance de infecção, haja vista que a transmissão é verificada

quando os carrapatos permanecem fixados à pele do hospedeiro por um período

variável de cinco a vinte horas, tempo necessário para uma possível reativação do

agente na glândula salivar do carrapato. A retirada dos carrapatos (caso sejam

encontrados no corpo) deve ser feita, preferencialmente, com o auxílio de uma

pinça. Nos locais públicos conhecidamente infestados por carrapatos devem ser

obrigados (pela vigilância sanitária) a informar seus freqüentadores, por meio de

placas, da presença de carrapatos e das formas de proteção (LABRUNA e

PEREIRA, 1998; BRASIL, 2005).

Para o controle em áreas de ocorrência de foco, a equipe de zoonoses deve

ser acionada para orientar as medidas específicas a serem implementadas, tais

33

como informações quanto ao ciclo do carrapato, transmissão da doença e atividades

que devem ser realizadas. (BRASIL; 2005).

3 MATERIAL E MÉTODOS

3.1 Local de estudo

O município de Poconé (16º15‘24‖ Sul; 56º37‘22‖ Oeste) está localizado no

nordeste da região do Pantanal, 100 Km a sudoeste da cidade de Cuiabá, capital do

estado de Mato Grosso, tendo como vizinhos os municípios de Cáceres (oeste),

Nossa Senhora do Livramento (norte), Barão de Melgaço (leste) e estado de Mato

Grosso do Sul na borda sul (Figura 1).

Poconé tem uma população estimada de 32.162 habitantes e 3.111 cães,

dispostos dentro de uma área total de 17.261 Km2, na qual 81% (~14.000 Km2) ficam

inundados, anualmente, durante a estação chuvosa. (IBGE; 2007). Esta área

apresenta altitude de 142 m, com clima quente e chuvoso nos meses de primavera e

verão, quando a temperatura média varia em torno de 32°C, enquanto que no

outono e no inverno predominam o frio e a seca, com temperatura média de 21°C. A

média da precipitação anual varia entre 1.000 e 1.400 mm, com o período chuvoso

concentrado entre os meses de outubro a maio. O ambiente do Pantanal consiste de

três regiões distintas: amazônia, cerrado e chaco, com uma vegetação heterogênia,

variando de acordo com a altitude: em áreas mais baixas as gramíneas são

predominantes, em altitude intermediária o cerrado é predominante, e em altitudes

mais elevadas, a vegetação torna-se árida e seca, assemelhando-se ao bioma

caatinga (FERNANDES et al., 2010).

34

3.2 Amostragem e questionário epidemiológico

As colheitas de soro dos cães foram realizadas durante os meses de julho a

setembro de 2009. Utilizando o programa EpiInfo versão 6.0 e considerando uma

prevalência estimada de 50%, erro padrão de 10% e intervalo de confiança de 99%,

determinou-se que uma amostra representativa da população canina do local seria

de 160 cães, com idade superior a 2 meses. Para melhor efeito de comparação,

foram amostrados 160 cães da área urbana e 160 do ambiente rural. Na área

urbana, foram colhidas amostras de cães de todos os bairros (Figura 2), localizados

tanto na região central quanto na região peri-urbana; enquanto que na área rural, as

colheitas de amostras sanguíneas contemplaram 25 fazendas e três comunidades

rurais. Durante as visitas no ambiente rural, as coordenadas geográficas de cada

localidade foram obtidas através do eTREX Vista HCx GPS (Garmin®, Kansas,

USA).

Figura 1: Localização do município de Poconé, MT. Cuiabá, 2011.

35

O acesso às fazendas #1 à #16, bem como às comunidades rurais foi feito

pelas rodovias estaduais e federais (BR-070, MT-060, MT-360 e MT-451), ao passo

que as últimas propriedades rurais (#17 a #25) foram acessadas através de barco ao

longo do Rio Cuiabá (fronteira entre os municípios de Poconé e Barão de Melgaço).

As amostras de sangue dos cães foram colhidas por venopunção da jugular

para obtenção do soro. Os proprietários de todos os cães envolvidos nesse estudo

foram submetidos a um questionário que envolveu fatores de risco para erliquiose e

riquetsioses. As informações coletadas incluíam a idade do animal, sexo, hábito de

caça e parasitismo de ectoparasitos.

3.3 Colheita e identificação de ectoparasitos

Durante a visita, os animais foram submetidos à avaliação a partir de inspeção

visual e palpação para a detecção de ectoparasitas. As espécies de ectoparasitas

encontradas foram coletadas e acondicionadas em microtubos de polipropileno

Figura 2: Cidade de Poconé, composta de 12 bairros, diferenciados por diferentes tons de cores. Fonte: Prefeitura Municipal de Poconé, MT. Cuiabá, 2011.

36

contendo álcool isopropílico absoluto, entretanto, algumas ninfas vivas ingurgitadas

de carrapatos foram acondicionadas vivas em tubos de polietileno e transportadas

ao Laboratório a fim de procederem a ecdise para o estágio adulto em incubadora a

25 ºC e umidade relativa (UR) igual a 90%. As ninfas que morreram no laboratório

antes de atingirem a fase adulta foram preservadas em álcool isopropílico absoluto.

Os carrapatos (adultos e ninfas), piolhos e pulgas foram identificadas de acordo

com as chaves taxonômicas de Onofrio et al. (2006), Martins et al. (2010),

Guimarães et al. (2001) e Linardi e Guimarães (2000), respectivamente.

3.4 Reação de Imunofluorescência Indireta

3.4.1 Ehrlichia canis

A Reação de Imunofluorescência Indireta (RIFI) foi realizada a partir da cepa

São Paulo de E. canis. As amostras sorológicas foram utilizadas seguindo uma

diluição inicial de 1:40 (AGUIAR et al. 2007b) em PBS (pH 7,2), com 1% de

soroalbumina bovina, e aplicadas em lâminas contendo antígeno previamente

fixado. Em cada lâmina foram incluídos soros controles não reativo (controle

negativo) e soro reativo (controle positivo). Após aplicação das amostras, as lâminas

foram incubadas por 30 minutos a 37 ºC em câmara úmida, seguida por lavagem em

solução salina tamponada - PBS (pH 7,2). Depois da secagem em temperatura

ambiente, foi adicionado conjugado de coelho anti-IgG de cão (Sigma® Diagnostics,

St. Louis, Mo) com diluição de 1:1000. As lâminas foram novamente incubadas a 37º

C por 30 minutos em câmara úmida, lavadas em PBS (pH 7,2) por 10 minutos e

submetidas a secagem. Posteriormente, adicionou-se glicerina (pH 8,5) nas lâminas

para então, serem examinadas em microscópio (objetiva de 40x) de

epifluorescência. As amostras consideradas positivas passaram por sucessivas

diluições na razão dois com objetivo de obter o título final.

37

3.4.2 Rickettsia spp.

Anticorpos contra Rickettsia spp. foram investigados usando seis antígenos

derivados de isolados de Rickettsia spp. do Brasil: R. bellii cepa Mogi, R.

amblyommii cepa Ac37, R. rhipicephali cepa HJ5, R. rickettsii cepa Taiaçu, R. felis

cepa Pedreira, e R. parkeri cepa At24, como descrito por Labruna et al. (2007d). Em

cada lâmina foram incluídos soros controles não reativo (controle negativo) e soro

reativo (controle positivo). Inicialmente as lâminas contendo antígeno fixado foram

imersas em cuba contendo PBS (pH 7,4), seguidas de secagem em temperatura

ambiente. Os soros dos cães foram diluídos a 1:64 e adicionados às lâminas, que

foram incubadas a 37 ºC por 30 minutos em câmara úmida. Após incubação, as

lâminas foram lavadas duas vezes em ―washing buffer‖ (PBS com Triton a 1%),

seguida por nova secagem. Depois, foi adicionado a elas conjugado de coelho anti-

IgG de cão (Sigma® Diagnostics, St. Louis, Mo) na diluição de 1:1000, sendo

novamente incubadas a 37 ºC por 30 minutos em câmara úmida e lavadas conforme

descrito acima. Após a secagem, aplicou-se glicerina nas lâminas para serem

observadas em microscópio (objetiva de 40x) de epifluorescência.

As amostras consideradas positivas passaram por sucessivas diluições na

razão dois com objetivo de obter o título final. Para determinar o provável antígeno

responsável pela infecção (PARI), considerou-se o resultado cujo título foi quatro

vezes maior do que o observado para qualquer outra espécie de Rickettsia spp.

testada, sendo então o anticorpo considerado homólogo à espécie ou a um genótipo

estreitamente relacionado de maior titulação (SAITO et al., 2008).

38

3.5 Análise estatística

A prevalência de anticorpos anti-E. canis e anti-Rickettsia spp. foi estimada

com intervalo de confiança de 95% (THRUSFIELD, 1995), utilizando o programa

EpiInfo, versão 6.0. As diferenças observadas entre os ectoparasitas encontrados

nas áreas urbana e rural foram avaliadas pelo teste do Qui-Quadrado (2). A

associação entre de anticorpos caninos anti-E. canis e anti-Rickettsia spp. e as

variáveis foi realizada pela regressão logística em duas etapas: análise univariada e

multivariada. Na análise univariada, foi utilizado o teste do Qui-Quadrado (2) ou o

teste exato de Fischer. Na análise multivariada, realizou-se avaliação pela técnica de

regressão logística, com apenas as variáveis que apresentaram valor de p menor

que 20% (P<0,20) na primeira etapa. No modelo final de regressão logística, foram

classificadas como fator de risco as variáveis que apresentaram p<0,05, com

respectivos valores de odds ratio (OR) e intervalo de confiança (IC) de 95%. O 2

(―goodness-of-fit‖) foi utilizado conforme estatística de Hosmer e Lemeshow (1989),

considerado significativo quando P ≤ 0,05. O programa estatístico SPSS, versão 16,

foi utilizado para estas análises. O teste do 2 por tendência foi utilizado para testar a

associação entre a soroprevalência e a faixa etária dos cães com auxilio do

programa EpiInfo 6.04.

4. RESULTADOS

Um total de 320 cães (160 da área urbana e 160 da área rural) foram avaliados

neste estudo. Na área urbana, foram visitados 12 bairros (~13 cães por bairro)

(Figura 3) e no ambiente rural, foram 118 cães de 25 fazendas (~4,7 cães por

fazenda) e 42 de três comunidades rurais (~14 cães por comunidade) (Figura 4). Os

animais amostrados estavam aparentemente saudáveis, com idade variando entre 1

e 72 meses, e abrangendo diferentes raças — embora em sua maioria eram

mestiços, 180 (56,2%) cães eram machos e 140 (43,8%) eram fêmeas.

39

No ambiente urbano 109 (68,1%) cães tinham acesso livre à rua. Em relação

aos aspectos alimentares e sanitários, todos os cães eram alimentados com refeição

de origem caseira, 57 (36,2%) estavam com vermifugação atualizada, 88 (55,0%)

cães recebiam vacinação anti-rábica, e apenas 14 (8,7%) eram vacinados com

vacina múltipla para diversos agentes (cinomose, parvovirose, leptospirose,

adenoviroses, etc...). Em relação ao contato com outras espécies animais, 105

(65,6%) tinham contato com outros cães, 22 (13,7%) com gatos, 29 (18,1%) com

animais de produção e 28 (17,5%) com animais silvestres (aves e roedores

principalmente). Somente 3 (1,8%) cães urbanos tinham hábito de caça.

Figura 3: Mapa da cidade de Poconé e a localização dos bairros. Cuiabá, 2011.

40

Quanto aos cães do ambiente rural, 18 (11,2%) cães tinham acesso à cidade

de Poconé. Todos os cães também tinham a comida caseira como base alimentar.

Noventa e sete (60,6%) cães eram utilizados diretamente na prática da caça no

campo ou na floresta. Do ponto de vista sanitário, 74 (46,2%) estavam com

vermifugação atualizada, 135 (84,3%) cães recebiam vacinação anti-rábica, e 44

(27,5%) eram vacinados com vacina múltipla para diversos agentes. Em relação ao

contato com outras espécies animais, 155 (96,8%) tinham contato com outros cães,

123 (76,8%) com gatos, 156 (97,5%) com animais de produção e todos os cães

(100%) tinham contato com animais silvestres.

Na área rural, quatro localidades estavam localizadas fora do município de

Poconé. Uma grande área das fazendas # 7 e # 8 pertence ao município de Poconé,

estando inclusive registrados no escritório rural do município, porém as respectivas

sedes situam-se no município de Nossa Senhora do Livramento. A fazenda # 21

encontra-se nas margens do rio Cuiabá e apresenta coordenadas geográficas

registradas dentro dos limites do município de Barão de Melgaço; já as áreas de uso

doméstico da comunidade # 3 estão entre Poconé e Nossa Senhora do Livramento

(Figura 4).

Figura 4: Propriedades e comunidades rurais participantes deste estudo no município de

Poconé, MT. Cuiabá, 2011.

41

4.1 Ectoparasitos

Ao que se refere aos ectoparasitos, foram identificados carrapatos da espécie

R. sanguineus em 102 (63,7%) cães de todos os bairros da área urbana (P<0,001).

A. cajennense (7 ninfas) foram detectadas em 1 (0,6%) cão do ambiente urbano.

Além do parasitismo por carrapatos também verificou-se a presença de pulgas C.

felis felis, encontradas em 77 (48,1%) cães da área urbana (P<0,05). E em 6 (3,7%)

cães urbanos foram identificados piolhos da espécie Heterodoxus spiniger (Tabela

2).

Tabela 2 – Número e frequência de cães parasitados por ectoparasitos no

município de Poconé – Cuiabá - 2011

* P<0,01; ** P<0,05

Ao todo, 930 carrapatos foram coletados, sendo 708 (76,1%) R. sanguineus

(100 ninfas e 608 adultos), 209 (22,4%) A. cajennense (200 ninfas e 9 adultos) e 13

(1,3%) adultos de A. ovale. Também foram identificadas 458 pulgas C. felis felis e 9

piolhos H. spiniger (Tabela 3).

Ectoparasitas

Ambiente urbano Ambiente rural

Nº de cães infestados

% Nº de cães infestados

%

R. sanguineus 102 63,7* 31 19,3*

A. cajenennse (ninfas) 1 0,6* 54 33,7

A. cajenennse (adultos) 0 0 08 5.0

A. ovale (adultos) 0 0 05 3,1

C. felis felis 77 48,1** 57 35,6**

H. spiniger 06 3,7 0 0

42

Tabela 3 – Ectoparasitos encontrados nos cães da área urbana e rural do município

de Poconé – Cuiabá - 2011

Ectoparasitos Área urbana Área rural Total

Rhipicephalus sanguineus 97 N; 212 F; 237 M 03 N; 85 F; 74 M 708

Amblyomma cajennense (ninfas) 07 N 193 N 200

Amblyomma cajennense (adultos) - 03 F; 06 M 09

Amblyomma ovale - 09 F; 04 M 13

Ctenocephalides felis felis 185 F; 78 M 139 F; 56 M 458

Heterodoxus spiniger 03 F; 05 M - 09*

F: fêmea; M: macho; N: ninfa. * O sexo de um espécime não foi determinado devido à morfologia deformada

43

A Figura 5 mostra a distribuição dos ectoparasitos na cidade de Poconé.

Já no ambiente rural, a espécie R. sanguineus estava presente 31 (19,3%)

cães de 10 (38,5%) propriedades rurais e em todas as comunidades rurais conforme

a Figura 6.

Figura 5: Prevalência dos ectoparasitos na cidade de Poconé, MT. Cuiabá, 2011.

44

Figura 6: Prevalência de Rhipicephalus sanguineus na área rural de Poconé, MT. Cuiabá,

2011.

45

Ninfas de A. cajennense foram identificadas em 54 (23,7%) cães de 13

fazendas (50,0%) e 2 (66,6%) comunidades, enquanto que os adultos parasitavam 8

(5,0%) cães de 2 fazendas (7,7%) e 1 (33,3%) comunidade (Figura 7).

Figura 7: Prevalência de Amblyomma cajennense na área rural de Poconé, MT. Cuiabá,

2011.

46

Adultos de A. ovale foram detectados em 5 (3,1%) cães de 2 fazendas (7,7%) e

2 comunidades (66,6%) (Figura 8).

Figura 8: Prevalência de Amblyomma ovale na área rural de Poconé, MT. Cuiabá, 2011.

47

C. felis felis foram identificadas em 57 (35,6%) cães de 16 fazendas (64%) e 02

comunidades rurais (66,6%) do município de Poconé, MT. (Figura 9).

Figura 9: Prevalência de Ctenocephalides felis felis na área rural de Poconé, MT. Cuiabá,

2011.

48

4.2 Detecção de anticorpos anti-Ehrlichia canis

Anticorpos contra E. canis foram detectados em 227 (70,9%; IC 95%: 65,7 – 75,7%)

cães, dos quais 119 (74,3%; IC 95%: 67,1 – 80,6%) cães positivos eram da área urbana e

108 (67,5%; IC 95%: 59,9 – 74,4%) da área rural (P>0,05). Na cidade de Poconé, todos os

bairros (100%) apresentaram cães soropositivos (Figura 10).

Figura 10: Distribuição de cães sororeagentes para Ehrlichia canis na cidade de

Poconé, MT. Cuiabá, 2011.

49

Na área rural, os cães sororeagentes estavam presentes em 21 (84%)

fazendas e em todas (100%) as comunidades rurais (Figura 11).

Figura 11: Distribuição dos cães sororeagentes para Ehrlichia canis na área rural do

município de Poconé, MT. Cuiabá, 2011.

50

No ambiente urbano, os títulos variaram entre 40 a 81920, enquanto que no

ambiente rural eles alternaram entre 40 a 327680, conforme a Tabela 4.

Tabela 4 - Distribuição dos títulos de anticorpos anti-Ehrlichia canis em cães

reagentes a Reação de Imunofluorescência Indireta (≥40) de área urbana e rural

do município de Poconé, MT – Cuiabá - 2011.

Títulos Cães de área urbana Cães de área rural Total

Reagentes % Reagentes % Reagentes %

40 1 0,8 9 8,4 10 4,4

80 2 1,7 10 9,3 12 5,3

160 47 39,5 11 10,2 58 25,6

320 0 0 8 7,5 8 3,5

640 2 1,7 3 2,7 5 2,2

1.280 1 0,8 2 1,8 3 1,3

2.560 63 53,0 11 10,2 74 32,6

5.120 0 0 4 3,7 4 1,8

10.240 0 0 13 12,0 13 5,7

20.480 2 1,7 11 10,2 13 5,7

40.960 0 0 14 13,0 14 6,2

81.920 1 0,8 7 6,5 8 3,5

163.840 0 0 2 1,8 2 0,9

327.680 0 0 3 2,7 3 1,3

Total 119 100,0 108 100,0 227 100,0

A frequência de cães reagentes foi comparada entre cinco faixas etárias: 0-12,

12-24, 24-48, 47-72 e > 72 meses de idade. Perante esta avaliação, foi observado

aumento da freqüência de reações positivas conforme o aumento da idade nos cães

de ambas as áreas (P<0,05) (Tabela 5).

51

Tabela 5 - Freqüência de cães reagentes a Reação de Imunofluorescência Indireta

(≥ 40) contra antígenos de Ehrlichia canis segundo a faixa etária e ambiente

urbano e rural de Poconé, MT – Cuiabá - 2011

Faixa etária

(meses)

No de cães

Área urbana Área Rural Total

n Positivo (%)a n Positivo (%)b n Positivo (%)c

0 a 12 53 31 (58,5) 46 20 (43,4) 99 51 (51,5)

>12 a 24 34 29 (85,3) 33 22 (66,6) 67 51 (76,1)

>24 a 48 35 27 (77,1) 37 29 (78,3) 72 56 (77,7)

>48 a 72 15 13 (86,6) 26 22 (84,6) 41 35 (85,3)

>72 21 19 (90,5) 16 14 (87,5) 37 33 (89,1)

Indeterminada 2 0 2 1 (50,0) 4 1 (25,0)

Total 160 119 (74,3) 160 108 320 227

a χ

2 por tendência 7,3 P=0,006; 0 a 12 = odds ratio 1,0; >12 a 24 = odds ratio 4,1;

>24 a 48 = odds ratio 2,4; >48 a 72 = odds ratio 4,6; >72 = odds ratio 4,5

b χ

2 por tendência 18,1 P=0,000; 0 a 12 = odds ratio 1,0; >12 a 24 = odds ratio 2,6;

>24 a 48 = odds ratio 4,7; >48 a 72 = odds ratio 7,1; >72 = odds ratio 9,1

c χ

2 por tendência 25,7 P=0,000; 0 a 12 = odds ratio 1,0; >12 a 24 = odds ratio 3,0;

>24 a 48 = odds ratio 3,2; >48 a 72 = odds ratio 5,5; >72 = odds ratio 7,7

Na análise univariada para E. canis, apenas a variável habitat foi identificada

com P<0,2 (Tabela 6).

52

Tabela 6 - Análise univariada e multivariada para detectar fator de risco associado à

soroprevalência de anticorpos anti-Ehrlichia canis no município de Poconé, MT – Cuiabá

- 2011

Variáveis

analisadas

Número de cães Análise

univariada

Análise

Multivariada

Analisados Positivos (%) χ 2 P P Odds (IC 95%)

Habitat

Urbano

Rural

160

160

119 (74,3)

108 (67,5)

1,80

0,17

-

Hábito de caça

Não

Sim

220

100

158 (71,8)

69

0,26

0,60

-

-

Sexo

Fêmea

Macho

140

180

104 (74,3)

123 (68,3)

1,30

0,24

- -

R. sanguineus

Não

Sim

187

133

128 (68,4)

99 (74,4)

1,30

0,24

- -

A. cajennense

Não

Sim

260

60

186 (71,5)

41 (68,3)

0,20

0,62

- -

A. ovale

Não

Sim

315

05

224 (71,1)

03 (60)

0,50

0,63

- -

Pulgas

Não

Sim

186

134

133 (71,5)

94 (70,1)

0,00

0,79

- -

53

A tabela 7 sumariza os resultados sorológicos para E. canis e os carrapatos

identificados por ambiente.

Tabela 7 – Distribuição de cães soropositivos para Ehrlichia canis e espécies de carrapatos

identificadas nos cães por localidade do município de Poconé, MT – Cuiabá - 2011

Localidades Número de cães

Carrapatos

Testados E. canis (%) Maior título de Ac detectado

Área urbana 160 119 (74,3) 81.920 R. sanguineus, A. cajennense Fazenda 1 6 0 - - Fazenda 2 17 13 (76,4) 640 R. sanguineus, A. cajennense Fazenda 3 10 7 (70,0) 40.960 A. cajennense Fazenda 4 9 8(88,8) 81.920 R. sanguineus, A. cajennense Fazenda 5 7 7(100,0) 327.680 R. sanguineus, A. cajennense Fazenda 6 4 3(75,0) 40.960 R. sanguineus, A. cajennense Fazenda 7 8 7 (87,5) 40.960 R. sanguineus, A. cajennense Fazenda 8 4 4 (100,0) 81.920 - Fazenda 9 4 3 (75,0) 10.240 R. sanguineus, A. cajennense Fazenda 10 6 2 (3,3) 2.560 A. cajennense Fazenda 11 4 2 (50,0) 40.960 - Fazenda 12 4 2 (50,0) 81.920 R. sanguineus Fazenda 13 2 1 (50,0) 40 R. sanguineus Fazenda 14 2 0 - R. sanguineus Fazenda 15 5 5 (100,0) 327.680 R. sanguineus Fazenda 16 5 4 (80,0) 160 A. cajennense Fazenda 17 2 2 (100,0) 160 - Fazenda 18 1 0 - A. cajennense Fazenda 19 3 0 - A. cajennense Fazenda 20 2 2 (100,0) 640 A. cajennense Fazenda 21 3 1 (33,3) 40 A. cajennense Fazenda 22 2 1 (50,0) 160 A. cajennense Fazenda 23 3 1 (33,3) 640 A. cajennense, A. ovale Fazenda 24 3 2 (66,6) 5.120 A. cajennense, A. ovale Fazenda 25 2 1 (50,0) 10.240 A. cajennense

Comunidade 1 22 12 (54,5) 81.920 R. sanguineus, A. cajennense, A. ovale Comunidade 2 9 9 (100,0) 81.920 R. sanguineus, A. cajennense Comunidade 3 11 9 (81,8) 163.840 R. sanguineus, A. cajennense, A. ovale

Total 320 227 (70,9)

54

4.3 Detecção de anticorpos anti-Rickettsia spp.

Ao todo, 152 (47,5%; IC 95%: 42,0 – 52,9%) cães foram sororeagentes a pelo

menos uma espécie de Rickettsia spp., com títulos variando entre 64 a 32.768

(Tabela 8).

Tabela 8 - Distribuição dos títulos de anticorpos frente aos 6 antígenos de Rickettsia

spp. utilizados na RIFI (≥64) em cães das áreas urbana e rural do município de

Poconé, MT – Cuiabá - 2011

Espécies

Ambientes

Urbano Rural

Títulos detectados (n*) Títulos detectados (n*)

R. amblyommii 128 (3), 512 (2), 1.024 (1),

8.192 (1)

512 (3), 1.024 (5), 2.048 (7),

4.096 (10), 8.192 (13), 16.384

(12), 32.768 (6)

R. parkeri 128 (1), 256 (1) 128 (1), 512 (1)

R. rickettsii 512 (1), 8.192 (1) 512 (1)

R. rhipicephali 256 (1), 512 (1) 256 (1)

R. belli 0 128 (1), 256 (1), 512 (1), 1.024

(1)

R. felis 0 0

*n: número de cães

Enquanto 31 (19,3%; 95% IC: 13,8 – 26,0%) cães da área urbana foram

sororeagentes, na área rural 121 (75,6%; 95% IC: 68,5 – 81,8%) cães reagiram

(P<0,05). Ao todo, 127 (39,6%), 108 (33,7%), 108 (33,7%), 62 (19,3%), 43 (13,4%),

e 42 (13,16%) cães foram reagentes a R. amblyommii, R. rhipicephali, R. parkeri, R.

rickettsii, R. bellii e R. felis, respectivamente.

Um total de 63 (41,4%) cães, de 23 localidades apresentaram título final para

R. amblyommii pelo menos quatro vezes maior do que os outros cinco antígenos. Os

títulos de anticorpos observados nestes cães foram considerados como sendo

estimulados pela R. amblyommii ou uma espécie próxima. Com base nesses

55

critérios, somente 3 a 4 soros foram considerados estimulados por R. parkeri, R.

bellii, R. rickettsii ou R. rhipicephali. Para os outros 75 cães sororeagentes, não foi

possível determinar o agente infeccioso, porque eles apresentaram títulos

semelhantes (diferença inferior a 4 vezes) para duas ou mais espécies de Rickettsia

spp. ou tiveram um único título de 64 para somente uma espécie Rickettsia spp.

(Tabela 9).

.

56

Tabela 9 - Distribuição dos cães sororeagentes a Rickettsia spp. – Cuiabá - 2011

*Ver Figura 4 +A reação homóloga foi determinada quando o título final para uma espécie de Rickettsia foi 4 vezes maior do que o observado para qualquer outra espécie de Rickettsia.

Neste caso, a espécie de Rickettsia envolvida com maior título final foi considerada o provável antígeno responsável pela infecção (PARI).

Cães sororeagentes para cada espécie de Rickettsia spp.

(% de sororeatividade por localidade)

Localidades* Nº cães testados

R. rickettsii R. parkeri R. amblyommii R. rhipicephali R. felis R. bellii Nº de cães com reação homóloga

determinada (PARI em parênteses)

+

Área urbana 160 8 (5) 19 (11,8) 22 (13,7) 12 (7,5) 0 (0) 1 (0,6) 13 (7 R. amblyommii, 2 R. rickettsii, 2 R.

parkeri, 2 R. rhipicephali) Fazenda 1 6 6 (100) 6 (100) 6 (100) 6 (100) 5 (83,3) 4 (66,6) 3 (R. amblyommii)

Fazenda 2 17 4 (23,5) 16 (91,1) 17 (100) 10 (58,8) 8 (47,0) 5 (29,4) 14 (R. amblyommii) Fazenda 3 10 3 (30) 6 (60) 6 (60) 7 (70) 3 (30) 3 (30) 5 (4 R. amblyommii, 1 R. bellii) Fazenda 4 9 0 (0) 4 (44,4) 4 (44,4) 5 (55,5) 1 (11,1) 0 (0) 0 Fazenda 5 7 3 (42,8) 2 (28,5) 3 (42,8) 5 (71,4) 1 (14,2) 2 (28,5) 1 (R. amblyommii)

Fazenda 6 4 0 (0) 1 (25) 0 (0) 0 (0) 0 (0) 2 (50) 2 (1 R. parkeri, 1 R. bellii) Fazenda 7 8 0 (0) 2 (25) 4 (50) 4 (50) 3 (37,5) 0 (0) 0 Fazenda 8 4 0 (0) 0 (0) 3 (75) 3 (75) 1 (25) 0 (0) 1 (R. amblyommii) Fazenda 9 4 3 (75) 2 (50) 4 (100) 4 (100) 3 (75) 0 (0) 2 (R. amblyommii)

Fazenda 10 6 1 (16,6) 1 (16,6) 4 (66,6) 2 (33,3) 1 (16,6) 3 (50) 3 (R. amblyommii) Fazenda 11 4 0 (0) 0 (0) 0 (0) 0 (0) 0 (0) 1 (25) 1 (R. bellii) Fazenda 12 4 1 (25) 1 (25) 1 (25) 1 (25) 0 (0) 0 (0) 0 Fazenda 13 2 0 (0) 1 (200) 2 (100) 2 (100) 0 (0) 1 (200) 1 (R. amblyommii)

Fazenda 14 2 2 (100) 2 (100) 2 (100) 2 (100) 2 (100) 2 (100) 1 (R. amblyommii) Fazenda 15 5 1 (20) 2 (40) 2 (40) 2 (40) 0 (0) 1 (20) 0 Fazenda 16 5 2 (66,6) 3 (100) 3 (100) 3 (100) 1 (33,3) 1 (33,3) 2 (1 R. amblyommii, 1 R. bellii) Fazenda 17 2 2 (100) 2 (100) 2 (100) 2 (100) 1 (50) 0 (0) 1 (R. amblyommii)

Fazenda 18 1 1 (100) 1 (100) 1 (100) 1 (100) 1 (100) 0 (0) 1 (R. amblyommii) Fazenda 19 3 3 (100) 3 (100) 3 (100) 3 (100) 2 (66,6) 1 (33,3) 0 Fazenda 20 2 2 (100) 2 (100) 2 (100) 2 (100) 1 (50) 0 (0) 2 (R. amblyommii) Fazenda 21 3 2 (66,6) 3 (100) 3 (100) 3 (100) 3 (100) 3 (100) 2 (R. amblyommii)

Fazenda 22 2 0 (0) 1 (50) 2 (100) 2 (100) 0 (0) 0 (0) 1 (R. amblyommii) Fazenda 23 3 3 (100) 3 (100) 3 (100) 3 (100) 3 (100) 3 (100) 2 (R. amblyommii) Fazenda 24 3 1 (33,3) 3 (100) 3 (100) 3 (100) 0 (0) 2 (66,6) 2 (R. amblyommii) Fazenda 25 2 2 (100) 2 (100) 2 (100) 0 (0) 0 (0) 0 (0) 1 (R. amblyommii)

Comunidade 1 22 6 (27,2) 10 (45,4) 13 (59,0) 11 (50) 2 (9,0) 2 (9,0) 9 (R. amblyommii)

Comunidade 2 9 1 (11,1) 6 (66,6) 4 (44,4) 3 (33,3) 0 (0) 0 (0) 3 (1 R. parkeri, 1 R. amblyommii, 1 R.

rhipicephali) Comunidade 3 11 5 (38,4) 4 (30,7) 6 (46,1) 5 (38,4) 0 (0) 4 (30,7) 4 (3 R. amblyommii, 1 R. rickettsii)

Total 320 62 (19,3) 108 (33,7) 127 (39,6) 108 (33,7) 42 (13,1) 43 (13,4) 77 (63 R. amblyommii, 4 R. parkeri, 4 R.

bellii, 3 R. rickettsii, 3 R. rhipicephali)

57

Na área urbana todos os bairros (100%) apresentaram cães soropositivos a

pelo menos uma espécie de Rickettsia spp. (Figura 12).

Figura 12: Distribuição dos cães sororegaentes para Rickettsia spp. na cidade de Poconé,

MT. Cuiabá, 2011.

58

Na área rural, todas as fazendas e todas as comunidades rurais apresentaram

cães reagentes para Rickettsia spp. (Figura 13).

Figura 13: Prevalência das espécies do gênero Rickettsia na área rural do municcípio de

Poconé, MT. Cuiabá, 2011.

59

No meio rural, 18 fazendas e 3 comunidades apresentaram cães

sororeagentes para R. amblyommii segundo o PARI (Figura14).

Figura 14: Prevalência de R. amblyommii na área rural de Poconé, MT. Cuiabá, 2011.

60

Quatro fazendas apresentaram cães com anticorpos contra R. bellii segundo

o PARI (Figura 15).

Figura 15: Prevalência de R. bellii na área rural de Poconé, MT. Cuiabá, 2011.

61

Contra R. parkeri, 1 fazenda e em 1 comunidade rural apresentaram cães

sororeagentes segundo o PARI (Figura 16).

Figura 16: Prevalência de R. parkeri na área rural de Poconé, MT. Cuiabá, 2011.

62

Anticorpos contra R. rickettsii foram detectados, segundo o PARI, em 1

cão residente em 1 comunidade rural (Figura 17).

Figura 17: Prevalência de R. rickettsii na área rural de Poconé, MT. Cuiabá, 2011.

63

R. rhipicephali também foi detectada em 1 cão de 1 comunidade (Figura 18).

Figura 18: Prevalência de R. rhipicephali na área rural de Poconé, MT. Cuiabá, 2011.

64

Na Tabela 10 estão discriminados os prováveis antígenos do gênero Rickettsia

responsáveis pelas reações sorológicas e o parasitismo por diferentes espécies de

carrapatos.

Tabela 10 - Distribuição dos cães sororeagentes a Ricketttsia spp. e parasitismo de carrapatos

em diferentes localidades de Poconé, MT – Cuiabá - 2011

Localidades Número de cães

Carrapatos Testados Provável Rickettsia detectada (maior título por localidade)

Área urbana 160 7 R. amblyommii (8.192); 2 R. parkeri (256); 2 R. rickettsii (8.192),

2 R. rhipicephali (512); 18 Rickettsia spp. (1.024) R. sanguineus, A. cajennense

Fazenda 1 6 3 R. amblyommii (16.384); 3 Rickettsia spp. (8.192) -

Fazenda 2 17 14 R. amblyommii (16.384); 3 Rickettsia spp. (16.384) R. sanguineus, A. cajennense

Fazenda 3 10 4 R. amblyommii (16.384); 1 R. bellii (1.024); 3 Rickettsia spp.

(4.096) A. cajennense

Fazenda 4 9 5 Rickettsia spp. (4.096) R. sanguineus, A. cajennense

Fazenda 5 7 1 R. amblyommii (512); 5 Rickettsia spp. (2.048) R. sanguineus, A. cajennense

Fazenda 6 4 1 R. parkeri (512); 1 R. bellii (256); 1 Rickettsia spp. (64) R. sanguineus, A. cajennense

Fazenda 7 8 4 Rickettsia spp. (4.096) R. sanguineus, A. cajennense

Fazenda 8 4 1 R. amblyommii (2.048); 2 Rickettsia spp. (2.048) -

Fazenda 9 4 2 R. amblyommii (8.192); 2 Rickettsia spp. (16.384) R. sanguineus, A. cajennense

Fazenda 10 6 3 R. amblyommii (16.384); 1 Rickettsia spp. (512) A. cajennense

Fazenda 11 4 1 R.bellii (512) -

Fazenda 12 4 1 Rickettsia spp. (2.048) R. sanguineus

Fazenda 13 2 1 R. amblyommii (1.024); 1 Rickettsia spp. (1.024) R. sanguineus

Fazenda 14 2 1 R. amblyommii (32.768); 1 Rickettsia spp. (2.048) R. sanguineus

Fazenda 15 5 2 Rickettsia spp. (4.096) R. sanguineus

Fazenda 16 5 1 R. amblyommii (4.096); 1 R. bellii (128);

2 Rickettsia spp. (8,192) A. cajennense

Fazenda 17 2 1 R. amblyommii (4.096); 1 Rickettsia spp. (8.192) -

Fazenda 18 1 1 R. amblyommii (16.384) A. cajennense

Fazenda 19 3 3 Rickettsia spp. (16.384) A. cajennense

Fazenda 20 2 2 R. amblyommii (32.768) A. cajennense

Fazenda 21 3 2 R. amblyommii (16.384); 1 Rickettsia spp. (16.384) A. cajennense

Fazenda 22 2 1 R. amblyommii (16.384); 1 Rickettsia spp. (16.384) A. cajennense

Fazenda 23 3 2 R. amblyommii (32.768); 1 Rickettsia spp. (32.768) A. cajennense, A. ovale

Fazenda 24 3 2 R. amblyommii (32.768);1 Rickettsia spp. (16.384) A. cajennense, A. ovale

Fazenda 25 2 1 R. amblyommii (32.768); 1 Rickettsia spp. (8.192) A. cajennense

Comunidade 1 22 9 R. amblyommii (4.096); 4 Rickettsia spp. (1.024) R. sanguineus, A. cajennense,

A. ovale

Comunidade 2 9 1 R. amblyommii (512); 1 R. parkeri (128); 1 R. rhipicephali (256);

5 Rickettsia spp. (4.096) R. sanguineus, A. cajennense

Comunidade 3 11 1 R. rickettsii (512); 3 R. amblyommii (16.384);

3 Rickettsia spp. (8.192) R. sanguineus, A. cajennense,

A. ovale

Total 320 77 (63 R. amblyommii, 4 R. parkeri, 4 R. bellii, 3 R. rickettsii,

3 R. rhipicephali)

65

A frequência de cães reagentes à Rickettsia spp. também foi comparada entre

cinco grupos de idade (0-12, 12-24, 24-48, 47-72 e > 72 meses de idade) com

diferença estatística (P<0,05) observada somente entre os cães da área rural, com

um aumento da freqüência de reações positivas conforme o aumento da idade

apenas nos cães desse ambiente (2 por tendência= 4,0; P = 0,04) (Tabela 11).

Tabela 11 - Freqüência de cães reagentes a Reação de Imunofluorescência Indireta (≥ 64)

contra antígenos de Rickettsia spp. segundo a faixa etária e ambiente – Cuiabá- 2011

Faixa etária (meses)

No de cães

Área urbana Área Rural Total

N Positivo

(%)a N Positivo (%)b N Positivo (%)c

0 a 12 53 11 (20,7) 46 27 (58,7) 99 38 (38,3)

>12 a 24 34 5 (14,7) 33 30 (90,9) 67 35 (52,2)

>24 a 48 35 5 (14,3) 37 28 (75,6) 72 33 (45,8)

>48 a 72 15 4 (26,6) 26 20 (77,0) 41 24 (58,5)

>72 21 5 (23,8) 16 14 (87,5) 37 19 (51,3)

indeterminada 2 1 (50,0) 2 2 (100,0) 4 3 (75,0)

Total 160 31 (19,3) 160 121 (75,6) 320 152 (47,5)

a χ2 por tendência = 0,1; P=0,68

b χ2 por tendência = 4,0; P=0,04 (Odds Ratio: 0 a 12 meses = 1,0/ >12 a 24 meses = 7,0

>24 a 48 meses = 2,19/ >48 a 72 meses = 2,35/ e > 72 meses = 4,9)

c χ2 por tendência = 3,2; P=0,07

Já os cães sororeagentes a Rickettsia spp. apresentaram variáveis como sexo,

habitat, hábito de caça e presença de carrapatos com P<0,20, na análise univariada.

A análise multivariada demonstrou que os cães rurais estão em maior risco de

infecção, pois a presença do parasitismo por A. cajennnense, habitat rural e hábito

de caça representam 5,9, 5,5 e 2,0 vezes mais chances de estarem infectados por

Rickettsia spp., respectivamente. Resultados das análises univariada e multivariada

estão sumarizados na Tabela 12.

66

Tabela 12 - Análise univariada e multivariada para detectar fator de risco associado à soroprevalência de anticorpos anti-Rickettsia spp. no município de Poconé, MT – Cuiabá - 2011

Variáveis analisadas

Número de cães

Análise

univariada

Análise

Multivariada

Analisados Positivos (%) χ 2 P P Odds (IC 95%)

Habitat

Urbano

Rural

160

160

31 (19,4)

121 (75,6)

101,50

0,00

0,00

5,5 (2,8-10,9)

Hábito de caça

Não

Sim

220

100

72

80 (80,0)

32,70

61,60

0,00

0,05

2,0 (1,0-4,3)

Sexo

Fêmea

Macho

140

180

56 (40,0)

96 (53,3)

5,60

0,01

R. sanguineus

Não

Sim

187

133

113 (60,4)

39 (29,3)

30,10

0,00

0,20

---

A. cajennense

Não

Sim

260

60

97 (37,3)

55 (91,7)

57,70

0,00

0,01

5,9 (2,1-16,3)

A. ovale

Não

Sim

315

5

147 (46,7)

5 (100,0)

0,02

0,31

---

Pulgas

Não

Sim

186

134

88 (47,3)

64 (47,8)

0,00

0,93

- -

67

5 DISCUSSÃO

Este trabalho relata pela primeira vez a prevalência de anticorpos anti-E. canis

e Rickettsia spp., bem como a presença de ectoparasitos em cães da região norte

do Pantanal. De maneira geral, a prevalência (70,9%) de anticorpos anti-E. canis

encontrada neste trabalho é o maior índice detectado no Brasil. Estudos recentes no

país mostram que que a soroprevalência de E. canis nos cães varia conforme a

região estudada.

Em estudo realizado na região Norte do país, Aguiar et al. (2007a)

pesquisaram quanto à presença de anticorpos anti-E. canis em cães urbanos e

rurais do município de Monte Negro, RO, onde a soroprevalência encontrada foi de

31,2%., com diferença estatística significativa entre as prevalências das áreas

urbana (37,9%) e rural (24,8%). Ao passo que nesse estudo essa diferença não foi

observada.

Essa predominância de R. sanguineus no ambiente urbano, conforme

representado na Figura 5 também foi observada nos cães residentes em Cuiabá,

capital de Mato Grosso. O inquérito sorológico realizado com esses animais mostrou

que 42,5% eram reagentes à E. canis, e, igualmente ao nosso estudo, não foi

identificado associação entre a infestação de carrapatos e a presença de anticorpos

frente essa bactéria (SILVA et al., 2010). O resultado da análise sorológica indica

que o cão foi exposto ao agente infeccioso e por isso, desenvolveu anticorpos.

Entretando, o fato dele não apresentar parasitismo pelo carrapato no momento da

colheita da amostra sanguínea, não significa que ele não possa ter sido parasitado e

infectado outrora.

No Nordeste, Souza et al. (2010) detectaram 35,6% dos cães sororeagentes a

E. canis em dois distritos de Salvador, BA. Adicionalmente, foi realizado análise

molecular das amostras sanguíneas e dos carrapatos (todos da espécie R.

sanguineus) que parasitavam esses animais. Como resultado, 34,5% dos cães

foram PCR-positivos para este patógeno; enquanto que a infecção nos carrapatos

foi observada em 21, 9%. Apesar do presente estudo não ter por objetivo a detecção

molecular de E. canis, pode-se supor que existe a circulação dessa bactéria também

entre o carrapato vetor, uma vez que a mesma também foi relatada em R.

68

sanguineus de outras localidades do Brasil, com prevalência mínima de infecção

variando entre 2,3% a 3,7% (AGUIAR et al., 2007a).

Apesar de o ambiente rural apresentar maior infestação por espécies do

gênero Amblyomma spp. (A. cajennense: 38,7% de cães infestados e A. ovale: 3,1%

de cães parasitados) quando comparada ao R. sanguineus (19,3% de cães

infestados), nota-se que nesse local a prevalência de E. canis (67,5%) foi relevante,

superando a relatada em áreas rurais do estado de Minas Gerais, cujo valor ficou

em 44,7%, conforme apresentado por Costa et a. (2007). Com base neste achados,

este mesmo estudo aborda a hipótese do carrapato A. cajennense participar da

epidemiologia na transmissão de Ehrlichia spp., visto que assim como nós, essa foi

a espécie de carrapato mais prevalente nos cães rurais analisados naquela região.

Porém, é preciso levar em consideração que até o presente momento, o único vetor

incriminado na transmissão de E. canis é o R. sanguineus (DUMLER et al., 2001;

LABRUNA e PEREIRA, 2001).

Diferentemente da nossa prevalência, Saito et al. (2008) descreve que apenas

4,8% dos cães, provenientes em sua grande maioria de áreas rurais da região Sul

do Brasil, apresentam anticorpos anti-E. canis. Ao observarmos a distribuição

espacial da soroprevalência nos cães rurais do município de Poconé, fica evidente

no mapa (Figura 11) as 24 localidades (fazendas e comunidades rurais) com

presença de animais positivos, ao passo que somente 3 propriedades no Rio

Grande do Sul continham animais reagentes (SAITO et al., 2008).

A elevada taxa de anticorpos sugere a ocorrência da infecção por outra

possível espécie de Ehrlichia spp. na região, uma vez que os testes sorológicos não

podem distinguir a infecção por E. canis daquela causada por outras espécies deste

gênero, especialmente aquelas pertencentes ao mesmo genogrupo (HARRUS e

WANER, 2011). Analisando as características da região do Pantanal, como por

exemplo, o clima quente e úmido, é possível inferir que elas proporcionam condições

para a manutenção de agentes infecciosos como a Ehrlichia spp., haja vista que

essas características climáticas favorecem a instalação e disseminação de

carrapatos vetores.

Em se tratando da biologia do R. sanguineus, estudos apontam que ele pode

desenvolver-se em ampla faixa de temperatura e umidade relativa, podendo haver

maior rapidez na fixação em humanos e coelhos quando ele está exposto à altas

temperaturas, quando ele é considerado mais ativo, e portanto, apto a propagar a

69

infecção entre os hospedeiros vertebrados susceptíveis (HARRUS e WANER, 2011)

Desse modo, pode-se concluir que a região do Pantanal matogrossense propicia

condições ambientais favoráveis ao desenvolvimento deste carrapato, implicando

assim, na disseminação de patógenos.

Adicionalmente, a existência de uma grande variedade de espécies animais

também contribui para a sobrevivência destes artrópodes. A relevância da presença

desta grande variedade de espécies animais pode estar relacionada ao fato deles

servirem de hospedeiros capazes de manter espécies desconhecidas de Ehrlichia

spp.

Com base nos resultados da área rural, sugere-se que uma espécie

desconhecida de Ehrlichia poderia estar infectando os carrapatos e animais na

região. Nos locais onde o carrapato R. sanguineus está presente, os cães

apresentaram altos títulos (~20.480), que justifica uma reação homóloga à infecção

por E. canis. No entanto, em algumas fazendas, cães jovens (entre 3 e 12 meses)

parasitados somente por espécies de Amblyomma spp. (dados não apresentados)

apresentaram elevados títulos (~ 1.280) de anticorpos contra E. canis, sugerindo ser

conseqüência de um estímulo imunológico contra outras espécies de Ehrlichia,

tendo em vista a ocorrência de reação sorológica cruzada entre espécies do gênero

Ehrlichia (HARRUS E WANER, 2011).

Devido à adaptação da E. canis ao carrapato R. sanguineus, a prevalência de

anticorpos anti-E. canis nos cães urbanos era esperada (74,3%). Entretanto, não foi

observada diferença estatística significativa (P> 0,05) entre os resultados

sorológicos contra E. canis nos dois ambientes, uma vez que 67,5% dos cães rurais

foram soropositivos. Por outro lado, observou-se diferenças entre a prevalência de

R. sanguineus em cães urbanos (63,7%) e rurais (19,3%) (P <0,05). Apesar do R.

sanguineus preferir parasitar os cães em todas as três fases de alimentação, os

cães de áreas rurais do Brasil são parasitados principalmente por espécies do

gênero Amblyomma. É sabido que o gênero Amblyomma parasita naturalmente

várias espécies de mamíferos e aves provenientes de regiões de matas, sendo

considerados seus hospedeiros naturais. Nesse sentido, quando os cães domésticos

invadem esses ecossistemas eles comportam-se como hospedeiros acidentais

desses artrópodes, já que a presença do cão nestes ambientes não é condição

essencial para a manutenção de populações do gênero (LABRUNA e PEREIRA,

70

2001). O parasitismo dos cães por Amblyomma spp. pode estar possibilitando a

transmissão de uma espécie desconhecida de Ehrlichia spp.

Para reforçar, uma possível nova espécie de Ehrlichia spp., foi recentemente

identificada em A. cajennense e A. triste coletados de onças-pintadas (Panthera

onca) na região sul do Pantanal, que também apresentaram anticorpos contra E.

canis (WIDMER, 2009). Trata-se de um achado interessante, uma vez que o

sequenciamento das amostras PCR-positivas indicou 98% de similaridade com E.

ruminantium. Esses resultados instigam a realização de mais estudos a esse

respeito, pois a possibilidade de haver uma nova espécie do gênero Ehrlichia spp.

circulando entre os animais domésticos e silvestres na região pantaneira não pode

ser desconsiderada. Por conseguinte, como se pode observar nos mapas (Figuras 7

e 8), os cães rurais contemplados em nosso estudo estavam mais frequentemente

expostos à infestação por carrapatos Amblyomma spp., tanto aqueles provenientes

de localidades (propriedades e comunidades rurais) mais próximas ou mais

distantes da sede do município; confirmando que, embora o cão não seja

considerado hospedeiro primário desse artrópode, quando ele tem acesso às áreas

de matas, acaba sendo parasitado acidentalmente (LABRUNA e PEREIRA, 2001).

Além disso, é importante ressaltar que algumas espécies de Amblyomma spp. atuam

na epidemiologia de outras espécies de Ehrlichia spp., como, E. chaffeensis e E.

ewingii, ambas transmitidas pelo A. americanum na América do Norte, ou ainda E.

ruminantium, na África e Caribe por outros Amblyomma spp. (DUMLER et al., 2001).

Em estudo realizado na região Sul, o carrapato R. sanguineus foi considerado

um fator de risco para a erliquiose monocítica canina (DAGNONE et al., 2003). No

presente estudo, todos os bairros (100%) da área urbana e apenas 10 (38,5%)

fazendas e todas as comunidades rurais tinham cães parasitados por R. sanguineus;

porém, a existência dessa espécie de carrapato não foi associada à presença de

anticorpos anti-E. canis.

Por outro lado, encontramos associações entre idade e E. canis em ambas as

áreas, o que revela uma maior chance dos cães tornarem-se infestados por

carrapatos com o passar do tempo. Do mesmo modo, Aguiar et al. (2007a) e Silva et

al. (2010) também verificaram um aumento da freqüência de anticorpos conforme o

aumento da idade dos cães. A justificativa para esses resultados estaria no fato dos

cães mais velhos terem mais tempo de exposição ao vetor e consequetemente à E.

canis.

71

Anticorpos contra Rickettsia spp. foram encontrados em 152 (47,5%) cães de

ambas as áreas. Esse resultado retrata a ocorrência sorológica de pelo menos cinco

espécies do gênero Rickettsia no Pantanal de Mato Grosso. Diferença entre área

urbana e rural foram estatisticamente significativas e parece estar associada com

cães de áreas rurais. Segundo a totalidade de cães avaliados, o parasitismo por

Amblyomma spp., o hábito de caça e a origem rural apresentaram-se como fatores

de risco para a infecção por Rickettsia spp.

Esse resultado pode ser explicado pelas características biológicas das

espécies do gênero Amblyomma. É sabido que seus hospedeiros primários são o

eqüino, a anta e a capivara, sendo naturalmente encontrado em áreas de florestas.

Entretanto, o fato do ser humano e/ou o cão invadirem esse território, aliado ao

hábito de tocaia desses carrapatos, acabam tornando-se hospedeiros acidentais

(LABRUNA e PEREIRA, 2001). Nesse sentido, a origem rural e o hábito de caça dos

cães rurais do Pantanal matogrossense contribui, enfaticamente, para a infestação

por Amblyomma spp., o que representa um fator de risco para sororeação à

Rickettsia spp.

A associação de anticorpos contra Rickettsia spp. e a idade foi observada nas

áreas rurais, resultado este que pode ser atribuído à presença de Amblyomma spp.

nos cães, uma vez que essa infestação é considerada fator de risco para

soropositividade. Além disso, deve-se apreciar o fato de haver menor especificidade,

quanto os hospedeiros, pelos estágios imaturos da espécie A. cajennense, o que

também facilitaria maior parasitismo nos cães (ONOFRIO et al., 2006). Nosso estudo

reforça esse comportamento do carrapato, haja vista que de 209 A. cajennense

coletados dos cães, 200 eram ninfas e somente nove eram adultos

As análises sorológicas frente às espécies do gênero Rickettsia resultaram

numa predominância de anticorpos homólogos à R. amblyommii, ou uma espécie

estreitamente relacionada, cujos índices foram os maiores detectados em cães até

então, no país. A espécie foi responsável por 41,1% das reações de

imunofluorescência, na qual 4,3% (7/160) dos cães eram do ambiente urbano e 35%

(56/160) pertenciam à área rural. No Brasil, dois outros trabalhos, provenientes de

regiões geográficas distintas, relataram a presença de anticorpos contra R.

amblyommii em cães domésticos.

O primeiro foi realizado na região Norte, no estado de Rondônia, com cães

urbanos e rurais do município de Monte Negro (LABRUNA et al., 2007d). Ao todo,

72

317 cães foram investigados quanto à presença de anticorpos frente à espécies de

Rickettsia do GFM que ocorrem no Brasil. Destes, em apenas em dois cães do

ambiente rural, R. amblyommii foi considerado o provável antígeno responsável pela

infecção, demonstrando uma diferença considerável com os nossos resultados. Pela

Figura 14, observamos a ampla distribuição dessa espécie na área rural do

município de Poconé, que atingiu 35% dos cães das localidades (fazendas e

comunidades rurais) visitadas. Quanto aos cães urbanos, nosso estudo detectou

que sete cães tinham anticorpos homólogos a essa espécie, ao passo que no estudo

de Monte Negro isso não foi observado. Por outro lado, nessa mesma região

Amazônica, Labruna et al. (2004b) conseguiram isolarar R. amblyommii a partir de A.

cajennense, evidenciando a participação desse artrópode na epidemiologia do

patógeno.

Já em outro trabalho, realizado no estado do Rio Grande do Sul, Saito et al.

(2008), também pesquisaram anticorpos anti-Ricketttsia em cães urbanos e rurais,

onde somente um cão apresentou reação à R. amblyommii O fato de existir

prevalências tão diferentes entre os cães das regiões Norte e Sul, bem como entre

os cães avaliados neste estudo evidenciam que a distribuição desse agente possa

estar relacionada à presença do vetores já conhecidos ou supostamente, de

espécies de carrapatos que ainda não foram implicados no processo de transmissão

desses patógenos.

Aparentemente, R. amblyommii ocorre em todo o continente americano.

Recentemente, na província de Coclé, no Panamá, foi realizado um estudo

sorológico com cães, eqüinos e ectoparasitos coletados dos cães (R. sanguineus, A.

ovale e A. oblongoguttatum, e C. felis) e dos eqüinos (A. cajennense e Dermacentor

nitens). Após análise molecular, detectou-se o DNA de R. amblyommii nos

carrapatos A. cajennense, D. nitens, bem como, a presença de anticorpos nos cães

(6/20) e nos equinos (5/20). Este trabalho conclui afirmando que esses resultados

são indícios de que essa riquétsia possivelmente está circulando entre os carrapatos

e os animais domésticos da área estudada (BERMÚDEZ et al., 2011).

No Brasil, essa espécie já foi detectada em carrapatos A. cajennense e A.

coelebs, provenientes da Floresta Amazônica, em diferentes áreas do estado de

Rondônia (LABRUNA et al., 2004b). Também nesse estado, o agente foi encontrado

em A. longirostre (LABRUNA et al., 2004c). Já no estado de São Paulo, A.

longirostre coletados de aves silvestres da Mata Atlântica continham a bactéria

73

(OGRZEWALSKA et al., 2008). Mais recentemente, Ogrzewalska et al. (2010)

relatou novamente a infecção em A. longirostre e A. geayi que parasitavam aves

silvestres da Amazônia, enquanto que na Argentina, a mesma foi isolada a partir do

carrapato A. neumanni (LABRUNA et al., 2007a).

No centro e no sudeste dos EUA, R. amblyommii foi detectada em altas taxas

em carrapatos A. americanum (JIANG et al., 2010), na qual é suspeita de ser

patogênica para os seres humanos (APPERSON et al., 2008). Casos de pacientes

febris suspeitos de terem FMMR acabaram demonstrando maior reação sorológica

frente à R. amblyommii do que à R. rickettsii (APPERSON et al., 2008). Em nossa

região não há registros de doença em humanos transmitida por carrapatos nem

tampouco sobre alguma enfermidade febril desconhecida. Inegavelmente novos

estudos serão necessários para melhor compreensão a respeito das características

epidemiológicas da R. amblyommii no Pantanal.

Com relação à R. parkeri, ela vem sendo associada à doença em humanos nos

Estados Unidos. Trata-se de uma enfermidade com sintomatologia mais branda,

muitas vezes relacionada à linfoadenopatia e a uma lesão papular típica nos locais

de fixação do carrapato. A sua transmissão é realizada pelo A. maculatum (Estados

Unidos) e A. triste (Uruguai) (VENZAL et al., 2004; PACHECO et al., 2006), e foram

detectados no presente estudo em dois cães da área urbana e rural. No Brasil, a R.

parkeri também já foi detectada por isolamento e PCR em carrapatos A. triste

(SILVEIRA et al., 2007) e por sorologia em capivaras do estado de São Paulo

(PACHECO et al., 2007) e cães do Rio Grande do Sul (SAITO et al., 2008). Em A.

dubitatum foi identificada uma cepa de Rickettsia spp., filogeneticamente muito

próxima à R. parkeri e que temporariamente foi denominada de amostra COOPERI

(= R. parkeri) (LABRUNA et al., 2004a). Nossos resultados reforçam a afirmação de

que esta espécie poderia estar ocorrendo em áreas consideradas não endêmicas

para Febre Maculosa Brasileira (FMB) (HORTA et al., 2007).

No Brasil, a infecção em cães por R. parkeri foi detectada usando os mesmos

critérios do presente trabalho, onde soros de cães apresentaram resposta de

anticorpo predominante para R. parkeri em áreas endêmicas e não endêmicas dos

estados de São Paulo (HORTA et al., 2007). Em Rondônia, anticorpos anti-R.

parkeri foram detectados em cães tanto da área urbana quanto da área rural, assim

como observado em nosso estudo (LABRUNA et al., 2007d). Já no Rio Grande do

Sul, Saito et al. (2008) relataram a presença de cães sororeagentes a esse

74

patógeno, na qual, 39,6% (154/389) dos cães avaliados foram reagentes. Vale

ressaltar que nesse estudo, os cães que tinham acesso às áreas de pastagens ou

florestas tinham mais chances de serem sororeativos à Rickettsia spp..

Adicionalmente, a presença de populações de carrapatos A. triste e A. dubitatum no

Rio Grande do Sul poderia indicar que esses artrópodes seriam os responsáveis

pela transmissão dessa bactéria. Já em outro estudo, detectou-se que carrapatos A.

ovale estavam infectados por Rickettsia sp. cepa Mata Atlântica, uma nova cepa

capaz de provocar uma escara associada à febre maculosa no Estado de São

Paulo; sugerindo iclusive, que a espécie A. ovale possa ser o vetor da Rickettsia sp.

cepa Mata Atlântica no estado de São Paulo (SABATINI et al., 2010).

Anticorpos anti-R. bellii foram detectados em cães de quatro fazendas do

município de Poconé. Esta espécie tem sido relatada e isolada a partir de várias

espécies de carrapatos do gênero Amblyomma na América do Sul. Essa espécie já

foi isolada a partir de A. scalpturatum, A. ovale, A. rotundatum, A. humerale e A.

oblongoguttatum advindos da região Norte do Brasil (LABRUNA et al., 2004b). No

estado de São Paulo a bactéria foi isolada a partir de carrapatos da espécie A.

aureolatum que parasitavam cães provenientes de uma área endêmica para FMB

(PINTER e LABRUNA, 2006). Adicionalmente, a mesma foi identificada em

carrapatos H. juxtakochi provenientes do estado de São Paulo. Pelo fato de ter sido

identificada em tantas espécies de carrapatos, certamente essa espécie ser

considerada como a riquétsia que mais freqüentemente infecta esses artrópodes no

país, apesar de não haver nenhum registro de patogenicidade em animais ou em

seres humanos (LABRUNA et al., 2007b).

Ao que se refere à espécie R. rhipicephali, verificou-se que apenas três cães

foram sororeagentes, sendo 2 cães urbanos e apenas um da área rural. No Brasil,

R. rhipicephali foi detectada no carrapato H. juxtakochi de Rondônia e São Paulo

(LABRUNA et al., 2005a, 2007b), e foi encontrada infectando cães pertencentes ao

ambiente rural na Amazônia (LABRUNA et al., 2007d). Desde seu primeiro

isolamento em R. sanguineus nos Estados Unidos, esse agente nunca foi associado

à infecção humana (LABRUNA et al., 2007b).

R. rickettsii é o principal agente responsável pela FMB no Brasil, enfermidade

caracterizada pela gravidade clínica e elevada letalidade em casos registrados na

região sudeste (ANGERAMI et al., 2006). Em algumas áreas desta região

consideradas endêmicas, a soroprevalência de R. rickettsii nos cães pode atingir

75

cerca de 70% (MORAES-FILHO et al., 2009) ou ainda observa-se a predominância

de cães com elevados títulos de anticorpos nos testes sorológicos (HORTA et al.,

2007; PINTER et al., 2008). Em áreas não-endêmicas a soroprevalência é muito

menor e em geral, alguns cães reagem com títulos menores (SAITO et al., 2008).

Adicionalmente, R. rickettsii é capaz de causar infecção seguida de manifestação

clínica na espécie canina (LABRUNA et al., 2009b).

No presente estudo, a região é considerada não-endêmica, e os valores de

soroprevalência relatados têm similaridade com outros estudos realizados em áreas

onde a endemia não é observada (SANGIONI et al., 2005; SAITO et al., 2008).

Entretanto, os títulos detectados em um cão (8.192 para R. rickettsii, 2.048 para R.

rhipicephali, 1.024 para R. parkeri e 512 para R. amblyommii) foram semelhantes

aos cães positivos provenientes de áreas endêmicas, indicando reação homóloga

contra R. rickettsii ou uma espécie estreitamente relacionada. Esse resultado

desperta atenção pelo fato deste cão ser da área urbana, onde os carrapatos R.

sanguineus são predominantes. Até 2009, a transmissão da FMB estava associada

aos carrapatos A. cajennense (América do Sul) e A. aureolatum (região

metropolitana da cidade de São Paulo), no entanto, novos estudos apontam que a

espécie R. sanguineus participa da epidemiologia da R. rickettsii, onde o DNA da

bactéria foi identificado São Paulo (MORAES-FILHO et al., 2009).

Posteriormente, conseguiu-se isolar este agente a partir de R. sanguineus

provenientes de Minas Gerais (PACHECO et al., 2010). Piranda et al. (2011)

também demonstraram que em condições experimentais, os cães domésticos

podem atuar como hospedeiros amplificadores da R. rickettsii para os carrapatos R.

sanguineus. Nos Estados Unidos, essa espécie de carrapatos foi implicada na

transmissão de R. rickettsii em humanos com FMMR. Esses pacientes descreveram

a presença desse artrópode nos cães com os quais mantinham contato, e alguns

relataram histórico de picada de carrapato antes da ocorrência da enfermidade

(DEMMA et al., 2005). Apesar dos poucos relatos de parasitismo humano por R.

sanguineus na América do Sul (GUGLIELMONE et al., 2006), o fato desta espécie

de carrapato ter sido identificada nos cães urbanos e rurais deste estudo, denota a

ampla distribuição da espécie nos locais de moradia do cão, cuja proximidade do ser

humano apresenta grande notoriedade.

No caso de R. felis, apesar do considerável parasitismo de seu vetor - pulgas

C. felis felis - nenhum dos 320 cães apresentaram indícios de anticorpos homólogos

76

a este agente. Embora nosso objetivo não fosse identificar as bactérias encontradas

em pulgas, existem estudos que mostram, através de técnicas moleculares, a

presença de infecção nestes ectoparasitas. Da mesma forma, um estudo em

diferentes áreas do estado de São Paulo mostrou que não havia nenhuma evidência

sorológica de R. felis em cães, gatos e gambás que estavam parasitados por pulgas

infectadas por essa bactéria (HORTA et al., 2007).

No Brasil, as informações sobre a infecção por R. felis ou mecanismos de

transmissão para uma pulga ou a probabilidade de esse ectoparasita adquirir uma

nova infecção ainda não foi totalmente explicada. Estudos demonstram que a

transmissão transovariana e transestadial dessa riquétsia nos vetores pode ser

possível (WEDINCAMP e FOIL, 2002). Entretanto, apesar do elevado parasitismo

por essa espécie de pulgas nos cães e também nos gatos, e do grande número de

pulgas infectadas por essa bactéria, provenientes inclusive de áreas endêmicas para

FMB (HORTA et al., 2005), talvez devesse haver mais casos de riquetsioses do que

os relatados atualmente.

Diante do exposto, supõe-se que, por motivos desconhecidos, que somente

uma minoria de seres humanos e de animais são susceptíveis à essa infecção, uma

vez que o mecanismo de transmissão pelo vetor deste patógeno ainda não está

completamente elucidado, uma vez que não se conhece a presença de R. felis na

saliva destas pulgas, apesar de haver sido encontrada na glândula salivar das

mesmas, sugerindo outras possibilidades neste processo de vetorização. Uma

hipótese seria o contato direto de lesões cutâneas e/ou mucosas com fezes frescas

contaminadas com este agente infeccioso ou até mesmo a ingestão de pulgas

infectadas (MACALUSO et al., 2008; LABRUNA, 2009a).

Quanto aos carrapatos, a presença e predominância de R. sanguineus na área

urbana (63,7% de prevalência) já era esperada, uma vez que este carrapato

encontra-se disseminado nas áreas de todo o país, onde geralmente mantém ativa

sua capacidade parasitária durante todo ano, desde que a temperatura não se torne

muito baixa (LABRUNA e PEREIRA, 2001). Por outro lado, apenas 19,3% dos cães

rurais de 10 fazendas estavam parasitados por R. sanguineus. O parasitismo por

este carrapato nas áreas rurais geralmente é menor do que nas áreas urbanas, pois

o estabelecimento dele no meio rural está geralmente ligado aos cães que estão

confinados (mesmo que parcialmente) em pequenos locais, que de certo modo

simulam ambientes urbanos, onde se pode empreender um ciclo de vida nidícola,

77

típico dessa espécie de carrapato (LABRUNA e PEREIRA, 2001). Certamente, a

ampla disseminação do R. sanguineus verificada principalmente no ambiente urbano

corrobora com a elevada soroprevalência de anticorpos anti-E. canis, uma vez que

as características climáticas da região e as condições de moradia dos cães

analisados dão suporte ao parasitismo por este vetor, o que garantiria a circulação

do mesmo e quiçá, de outros patógenos entre os hospedeiros susceptíveis.

A baixa prevalência da espécie A. cajennense na área urbana (0,6%) contrasta

com o grande número de carrapatos encontrado na área rural, representado

principalmente por ninfas de A. cajennense e adultos de A. ovale. Um resultado

semelhante também foi descrito por Dantas-Torres (2009), que detectou A.

cajennense e A. ovale em cães de áreas rurais do Nordeste do Brasil. Os cães de

ambiente rural da região do Pantanal muitas vezes são utilizados no pastoreio do

gado ou na prática da caça; hábitos estes que permitem o acesso às pastagens do

gado e aos habitats da vida selvagem.

Como já foi comentado, a presença de cavalos, e de espécies selvagens, como

capivaras (H. hydrochaeris) e antas (T. terrestris) na área rural (dados não

apresentados) pode estar associado a presença de carrapatos do gênero

Amblyomma verificada neste estudo, pois estes animais são considerados os

principais hospedeiros desse artrópode (LABRUNA et al., 2001; SZABÓ et al.,

2001).

Além disso, A. ovale foi considerada uma das espécies de carrapatos mais

comuns parasitando carnívoros silvestres em cães rurais do Brasil, inclusive na

região do Pantanal (SZABÓ et al., 2001; LABRUNA et al., 2005b). Recentemente,

em estudo realizado em Minas gerais, Szabó et al. (2010) também verificou a

presença de A. cajennense e A. ovale em cães pertencentes ao ambiente rural,

reforçando que a distribuição de espécies do gênero Amblyomma possivelmente

esteja relacionada à presença dos seus hospedeiros primários .

C. felis felis foi a única espécie de pulga observada nos cães de ambas as

áreas, porém, a prevalência na área urbana foi maior que na área rural (P <0,05).

Esta espécie tem sido relatada em outras regiões do Brasil, incluindo dentre as

regiões Sul (BELLATTO et al., 2003), Nordeste (DANTAS-TORRES et al., 2004) e o

Sudeste (RODRIGUES et al., 2001; CARDOSO et al., 2006; OLIVEIRA et al., 2008).

H. spiniger foi observado em seis cães de área urbana. Estes piolhos são

comuns em países tropicais e subtropicais (URQUHART et al., 1996). No presente

78

estudo, os cães rurais não foram encontrados parasitados por qualquer espécie de

piolho, contrapondo aos resultados relatados por Dantas-Torres et al. (2009), que

verificou que 22% dos cães de ambiente rural de Pernambuco estavam parasitados

por essa espécie de piolho.

Nossos resultados reforçam a necessidade de novas pesquisas nesta região,

pois a presença de agentes da ordem Rickettsiales e de ectoparasitos nos cães

provenientes desta área de estudo, indubitavelmente, representam uma condição

primária para a presença de patógenos transmitidos por carrapatos. Nesse sentido,

o presente estudo destaca a possibilidade de diversas zoonoses transmitidas por

carrapatos estarem circulando na região norte do Pantanal. Além disso, se

considerarmos que as atividades de pecuária e turismo, ligado principalmente à

pesca e ao safari, estão entre as práticas econômicas mais importantes na área do

Pantanal, no qual, pesquisas sobre as zoonoses transmitidas por carrapatos nesta

região é de grande relevância para a saúde pública.

79

6 CONCLUSÃO

A partir dos resultados do presente estudo concluímos que:

Carrapatos R. sanguineus são mais freqüentes na área urbana do

município de Poconé, MT;

Carrapatos A. cajenennse e A. ovale são mais freqüentes na área rural do

município de Poconé, MT;

Estágios iniciais (ninfas) de Amblyomma cajennnense são mais

frequentemente encontrados nos cães rurais de Poconé, MT, do que as

formas adultas;

Pulgas C. felis felis são mais freqüentes na área urbana do município de

Poconé, MT.

A prevalência de anticorpos anti-Ehrlichia spp. em cães foi idêntica para

ambas áreas estudadas;

A infecção por Ehrlichia spp em cães do município de Poconé, MT não

está associada à infestação por R. sanguineus;

A ocorrência de anticorpos anti-Ehrlichia spp. em cães de ambiente rural

pode ser decorrente da infecção por outra espécie que não E. canis;

Cães mais velhos sofreram maior exposição a Ehrlichia spp;

A prevalência de anticorpos anti-Rickettsia spp. em cães é maior no

ambiente rural, quando comparado ao urbano;

Habitar áreas rurais, o hábito de caça e o parasitismo por A. cajenennse

são fatores de risco para infecção por Rickettsia spp. em cães do

município de Poconé, MT;

A espécie R. amblyommii ou uma mais próxima antigenicamente é a mais

prevalente nos cães do município de Poconé, MT;

O município de Poconé, MT pode ser considerado uma zona silenciosa

para FMB.

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REFERÊNCIAS

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APÊNDICE A – Questionário epidemiológico Sangue n° _____________

DADOS DO PROPRIETÁRIO: Nome: Telefone: Rua: nº: Bairro: Complemento: CEP: Área: ( ) Urbana ( ) Rural DADOS DO ANIMAL: - Nome: Sexo: Idade: Raça: - Ambiente que o animal vive ou frequenta: ( ) Urbano ( ) Peri – urbano ( ) Rural - Tem acesso à rua? ( ) Sim ( ) Não ( ) Esporadicamente ( ) Frequentemente - Tem acesso à área rural? ( ) Sim ( ) Não ( ) Esporadicamente ( ) Frequentemente - Tem contato com animais silvestres? ( ) Sim ( ) Não ( ) Esporadicamente ( ) Frequentemente - Tem contato com animais de produção? ( ) Sim ( ) Não ( ) Esporadicamente ( ) Frequentemente - Tem hábitos de caça ou pastoreio? ( ) Sim ( ) Não ( ) Esporadicamente ( ) Frequentemente - Possui contactante (s): ( ) Sim ( ) Não. Se SIM, de qual espécie? - Vacinação: ( ) Sim, atualizada. ( ) Sim, desatualizada. ( ) Não. - Vermifugação: ( ) Sim, atualizada. ( ) Sim, desatualizada. ( ) Não. - Tipo de alimentação: ( ) Ração comercial ( ) Dieta caseira ( ) Mista - Infestação por ectoparasitos: Carrapatos: Momento da coleta: ( ) Sim ( ) Não Infestação recente (menos de 60 dias): ( ) Sim ( ) Não Pulgas: ( ) Sim ( ) Não - Condição fisiológica do cão (avaliação subjetiva): ( ) Boa ( ) Razoável ( ) Ruim - Animal está em tratamento para alguma doença intercorrente? ( ) Sim ( ) Não. Se SIM, para qual doença? - Já teve erliquiose? ( ) Sim ( ) Não. Se SIM, o animal se recuperou com o tratamento proposto? ( ) Sim (melhora) ( ) Não (recidiva) - Houve, ao final da visita domiciliar, alguma assistência veterinária? ( ) Sim ( ) Não. Se SIM, favor discriminar abaixo: ( ) Orientação sanitária (esquema vacinal e/ou vermifugação) ( ) Prescrição de medicamento (s). Qual(s):