desenvolvimento de supputlus cinctlceps … · confusa, tenebrio mol/tor (coleoptera,...

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DESENVOLVIMENTO DE SUPPUTlUS CINCTlCEPS (HETEROPTERA, PENTATOMIDAE) ALIMENTADO COM LARVAS DE ZOPHOBAS CONFUSA, TENEBRIO MOL/TOR (COLEOPTERA, TENEBRIONIDAE) E MUSCA DOMESTICA (DIPTERA, MUSCIDAE) Eduardo B. Beserra 1 Teresinha V. Zanuncio 2 José C. Zanuncio 2 Germi P. Santos 2 ABSTRACT. OI' SIII'PUTIlJS ClNcnCfPS (HEI.EKOPTEKA. PEN·IAlmll· nA!:) FEIl wrm ZOPI/O/lAS ,O,vFUSA. Tf:.W:/lHIO MOUWH (COLEOPTEKA. TENEUKIONIIlA!:) ANil MIISCA DOMfS/7(,! (DflYI.EKA. MI'S('JIlAE) I.ARVAE. Egg viabilily and nymphal dovdop1110nl oI' lho proualory bug SI/PPl/litLl' cincliceps (Slál. 1860) wao ovalualed during Iwo generalions in lho Biological Conlrol Lahoralory oI' the Nlkko ue BioloCllologia Aplicada à Agropocuária (BIOAGKo/UFV) in Viçosa (Minas Gorais. Brazil) ai 24.72·1.10"C anu pholophase oI' 12 hours. Throo Iroalmonts were ropresonleu hy S. cincliceps rod with Zophobas cO/!f"sa Gebion. 1906. Tenebrio fIIolitor Linnaous. 1758 and M'L"ca dOfllestica Linnaeus. 1758 larvao. Higher egg viabilily oI' Ihis predalor was round whon lhe proys wao Z. confllsa and T. mnlilor. 74,46'íf and 80.91 %. Ihan in M. dOlllcslica. 57.02 'íf. hul incuhalion poriod showou no uinCroncos holween preys. Shorlor nymphal uovclopmonl and higha nYll1phal viahilily wore "'unu wilh Z. c0I1{iLl'a and T. IIInlilOrlhan wilh M. c/olllcslico. Highor weighl incroase was tillJllU ror nymphs which originated maios anu r0111ale, in tho seconu generalion specialy wilh lho firsl Iwo proys. KEYS WORDS. Ponlalomiuae. Asopinao. altornativo proys. prouatory bug Insetos predadores são agentes importantes na regulação da população de pragas. Em amhientes naturais e ecossistemas agrícolas. da suhfamJ1ia Asopinae (Pentatomidae) são comumente ohservados alimentando-se de insetos fitófagos, principalmente da ordem Lepidoptera (TOSTOWARYK 1971; RICHMAN & WHmCOMB 1978). J. ZANUNCIO el aI. (1994) cita a ocorrência de Podi.l'u.I' lIigrispillus (Dallas, (851) (= Podisu.I' cOllllexivu.I' Bergroth, 1891), Brolllocoris lahidus (Signoret, 1851) (=Podisu.l' lIigrolilllhalu.I' Spinola. 1852), e SuppUlius cillcficep.l' (Stál, 1860) predando várias de lagartas em surtos de lepidóp- teros desfolhadores em áreas plantadas com eucalipto. São insetos com alto potencial para o controle hiológico, em razão da sua capacidade para se estahelecer e persistir no amhiente em período de escassez de presa (DE CLERCQ & DEGHEELE I) Núcko Conlrole Biológico UO Inselos. Universidade Eslauual ela Paran,a. Praça Anllíjo 13. 58100-000 Campina Granue. Paraíha. Brasil. 2) Departamenlo UO Biologia Animal. Universiuauo Fodoral ue Viçosa. 36571-000 Viçosa. Minas Gerais. Brasil. Revta bras. Zool. 12 13): 725 - 733, 1995

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DESENVOLVIMENTO DE SUPPUTlUS CINCTlCEPS (HETEROPTERA,PENTATOMIDAE) ALIMENTADO COM LARVAS DE ZOPHOBAS

CONFUSA, TENEBRIO MOL/TOR (COLEOPTERA, TENEBRIONIDAE)E MUSCA DOMESTICA (DIPTERA, MUSCIDAE)

Eduardo B. Beserra 1

Teresinha V. Zanuncio 2

José C. Zanuncio 2

Germi P. Santos 2

ABSTRACT. DEVEI.OP~IEI'T OI' SIII'PUTIlJS ClNcnCfPS (HEI.EKOPTEKA. PEN·IAlmll·nA!:) FEIl wrm ZOPI/O/lAS ,O,vFUSA. Tf:.W:/lHIO MOUWH (COLEOPTEKA. TENEUKIONIIlA!:)ANil MIISCA DOMfS/7(,! (DflYI.EKA. MI'S('JIlAE) I.ARVAE. Egg viabilily and nymphaldovdop1110nl oI' lho proualory bug SI/PPl/litLl' cincliceps (Slál. 1860) wao ovalualedduring Iwo generalions in lho Biological Conlrol Lahoralory oI' the Nlkko ueBioloCllologia Aplicada à Agropocuária (BIOAGKo/UFV) in Viçosa (Minas Gorais.Brazil) ai 24.72·1.10"C anu pholophase oI' 12 hours. Throo Iroalmonts wereropresonleu hy S. cincliceps rod with Zophobas cO/!f"sa Gebion. 1906. Tenebrio

fIIolitor Linnaous. 1758 and M'L"ca dOfllestica Linnaeus. 1758 larvao. Higher eggviabilily oI' Ihis predalor was round whon lhe proys wao Z. confllsa and T. mnlilor.

74,46'íf and 80.91 %. Ihan in M. dOlllcslica. 57.02 'íf. hul incuhalion poriod showouno uinCroncos holween preys. Shorlor nymphal uovclopmonl and higha nYll1phalviahilily wore "'unu wilh Z. c0I1{iLl'a and T. IIInlilOrlhan wilh M. c/olllcslico. Highorweighl incroase was tillJllU ror nymphs which originated maios anu r0111ale, in thoseconu generalion specialy wilh lho firsl Iwo proys.KEYS WORDS. Ponlalomiuae. Asopinao. altornativo proys. prouatory bug

Insetos predadores são agentes importantes na regulação da população de

pragas. Em amhientes naturais e ecossistemas agrícolas. percev~iosda suhfamJ1ia

Asopinae (Pentatomidae) são comumente ohservados alimentando-se de insetos

fitófagos, principalmente da ordem Lepidoptera (TOSTOWARYK 1971; RICHMAN

& WHmCOMB 1978). J. ZANUNCIO el aI. (1994) cita a ocorrência de Podi.l'u.I'lIigrispillus (Dallas, (851) (= Podisu.I' cOllllexivu.I' Bergroth, 1891), Brolllocorislahidus (Signoret, 1851) (=Podisu.l' lIigrolilllhalu.I' Spinola. 1852), e SuppUliuscillcficep.l' (Stál, 1860) predando várias esr~cies de lagartas em surtos de lepidóp­

teros desfolhadores em áreas plantadas com eucalipto. São insetos com alto

potencial para o controle hiológico, em razão da sua capacidade para se estahelecer

e persistir no amhiente em período de escassez de presa (DE CLERCQ & DEGHEELE

I) Núcko d~ Conlrole Biológico UO Inselos. Universidade Eslauual ela Paran,a. Praça F~lix Anllíjo 13.58100-000 Campina Granue. Paraíha. Brasil.

2) Departamenlo UO Biologia Animal. Universiuauo Fodoral ue Viçosa. 36571-000 Viçosa. MinasGerais. Brasil.

Revta bras. Zool. 12 13): 725 - 733, 1995

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726 BESERRA et aI.

1990), podemdo serem recomendados para a produção em laboratório e liberaçãoem campo. Em condições de laboratório, diversas presas t~m sido utilizadas paraa criação desses predadores, como larvas de Musca domestica Linnaeus, 17S8 eTenehrio /IIo/itor Linnaeus, 17S8 para a criação de S. cincticeps (T. ZANUNCIO etaI. 1992) e, em muitos casos, t~m havido insucessos, pela não adaptação dopredador às condições estabelecidas ou à da presa, o que pode interferir no seudesempenho em lahoratório e na sua efici~ncia em campo.

Presas adequadas favorecem o desenvolvimento e reduzem a mortalidadede predadores (LANDIS 1937; HAGEN et aI. 1976), enquanto aquelas inadequadaspodem aumentar o período alimentar, a razão de desenvolvimento (STAMP et aI.1991; J. ZANUNCIO et ai. 1993) e conseqüentemente, a mortalidade desses insetos.Dessa fórma, medidas de desenvolvimento e crescimento, poderão indicar ainteração entre o predador e seu recurso alimentar (MCGINNIS & KASTING 1972),fornecendo suhsídios para a produção massal desses insetos em lahoratório.

O ohjetivo desta pesquisa foi avaliar o desenvolvimento de Suppuriu.l'cincticep.\· alimentado com larvas de Zophohm confusa Gebien, 1906, Tenehriomotitor e Musca domestica.

MATERIAL E MÉTODOS

Esta pesquisa foi desenvolvida no Lahoratório de Controle Biológico doNúcleo de Biotecnologia Aplicada à Agropecuária da Universidade Federal deViçosa (BIOAGRO/U FV), a 24,?l±I, 10°C de temperatura e fototase de 12 horas.O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, com tr~s tratamentosconstituídos de larvas de Z. cOf!fil.l'a, T. molitor e M. domestica. Foram coletadasposturas de 22 casais de S. cincticeps por tratamento, acondicionadas em placasde Petri (9x I ,Scm), contendo um chumaço de algodão umedecido para a manu­tenção da umidade. Ninfas recém-eclodidas, de cada tratamento, foram mantidasem grupos de dez por placa de Petri (9x I,Scm) até o terceiro estádio, quando foramindividualizadas em copos plásticos de Sooml. No centro da tampa desses coposfoi acoplado um copo de 40ml, com fundo removido e substituído por tela de náilonde malha fina, onde diariamente eram fornecidas as presas, a partir do segundoestádio do predador, na proporção de uma larva de Z. confusa ou T. molitor paradez de M. domestica. a parte lateral da tampa foi introduzido um tuho de vidro,tipo anestésico odontológico, para tornecimento de água e manutenção da umidade(J. ZANUNCIO et aI. 1994). Cada parcela experimental foi constituída por cincocopos de Sooml, com uma ninfa de S. cincticep.l' em cada um deles, em oitorepetiçôes. Os pesos foram ohtidos de 30 ninfas por tratamento em placas de Petri(9x I,Scm). Aquelas do segundo estádio foram pesadas em grupos de dez e a partirdo terceiro estádio, o peso foi ohtido individualmente, sempre no dia da emer­g~ncia, em halança analítica com precisão de tr~s casas decimais (0,00 Ig). Aoemergirem, procedeu-se a sexagem dos adultos, e os pesos toram agrupados porsexo em cada estádio. Durante duas gerações do predador, foram f~itas avaliaçôesdiárias para se determinar o período de incuhação e viahilidade dos ovos, a duraçãoe a viahilidade dos estádios ninfais e da hlse ninfa!.

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Desenvolvimento de Supputius cincticeps ... 727

Os resultados foram submetidos à análise de variância e as m~dias compa­radas pelo teste de Scotl-Knotl a 5% de significância, para verificação do efeitoda presa sobre as características avaliadas.

A

B

Muscadomestica

TCl1cbrioIllolitor

100 'SignificativoScott-Knott (P<O,OS)

,-.. 80 A*~o'-'~ 60

"'O~

"'O.- 40-.-.c~.- 20>

O

lophobasconfusa

Fig. 1. Viabilidade (%) dos ovos de Supputius cincticeps (Stãl) (Heteroptera, Pentatomidae)

em três presas, a 24,7 2±1, 10°C e fotoperíodo de 12 horas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O período de incubação dos ovos de S. cillcticeps, alimentado com Z.cOllfusa, T. //Io/itor e M. dO//lestica, em duas gerações, foi 5,36; 5,46 e 5,03 dias,respectivamente, não detectando-se efeito do tipo de presa sobre esta característica.Resultados semelhantes foram obtidos por JUSSELINO FILHO et ai. (1993a,b) paraB. tabidus alimentado com larvas de T. //Iolitor (5,2 dias) e M. domestica (5,6dias) e por J. ZANUNCIO et ai. (1990) para P. lIigrispillus alimentado com BOlllbyx//Iori Linnaeus, 1758 (Lepidoptera, Bombycidae) e M. domesrica (5,0 dias). Aviabilidade dos ovos, nos tratamentos com larvas de Z. cOllfusa e T. //Ioliror nãodiferiram entre si, mas foram signiticativamente maiores que com larvas de M.domesrica (Fig. I). Em todos os tratamentos não se detectaram diferençassignificativas entre as duas gerações. Segundo JUSSELlNO FILHO er ai. (1993a,b),a viabilidade dos ovos de B. rllbidus foi de 75,3%, quando as f~meas foramalimentadas com larvas de T. //Ioliror e de 44,7 %, quando foram fornecidas larvasde M. dO//lestica durante o desenvolvimento do predador.

Não detectou-se efeito das presas sobre a duração dos estádios. O primeiroapresentou menor duração (Tab. I) e maior viabilidade (100%), nas duas gerações(Fig. 2). Durante esta fase, as ninfas não apresentam hábito predatório e perma­necem agregadas no algodão umedecido. Esse comportamento, apresentado porS. cillcriceps, tem sido relatado para outros Asopinae como Podisus placidus

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Ulhcr, 1870 e Srirerrus jilllhriatus (Say, 1828) por OETIING & YONKE (1971);Srirerrus a//chorago (Fahricius, 1775) por WADDILL & SHEPARD (1974);Picrolllerus hide//s Linnaeus, 1758 por JAVAHERY (1986) e Podisus lIIaculi\'emris(Say, 1821) por WADDILL & SHEPARD (1975), DRUMMOND er ai. (1984),RUBERSON er ai. (1986) e LEGASPI & ONEIL (1994); P. //igri.\jJi//us por J.ZANUNCIO er a/. (1990) e B. rahidus por T. ZANUNCIO er aI. (1993). A partir doterCeiro estádio detectou-se dit~rença significativa na duração dos mesmos entrea primeira e segunda geração (Tah. 1). A viabilidade diminuiu no terceiro e quartoestádios, voltando a crescer no quinto (Fig. 2), provavelmente em razão da rdaçãotamanho presa-predador, diticultando a predação nessa fase, já que os espécimensforam mantidos individualilildos a partir desse estádio. Seh'llndo GARCIA (1992)ninfas de Ty//aca//rha ft/argi//a{{/ Dallas, 1851 (Heteroptera, Pentatomidae) dosegundo ao quarto estádio predam suas presas em grupo, enquanto a partir doquinto e, na fase adulta, quando há maior proximidade na rdação de tamanhopredador-presa. é comum encontrar-se um predador por presa.

Tabela I. Duração dos estádios (dias) e peso (mg) 1 de ninfas de Supputius cincticeps,

durante duas gerações consecutivas, a 24, 72±1,1 O°C e fotoperíodo de 12 horas.

GeraçãoEstádios Média

Primeira Segunda

DURACÃO (OIAS)

Primeiro 3,51 aD 2 3,29aC 3,400Segundo 5,30aC 5,25aB 5,30CTerceiro 6,54aB 4,78bB 5,66BQuarto 6,80aB 5,01bB 5,90BQuinto 8,36aA 7,07bA 7,71 A

PESO PARA FÊMEAS (mg)

Segundo 0,71aD 0,82aO 0,760Terceiro 2,76bC 4,14aC 3,41CQuarto 8,19aB 8,76aB 8,47BQuinto 19,06bA 25,69aA 22,25A

PESO PARA MACHOS (mglSegundo O,68aO 0,78aO 0,730Terceiro 2,26bC 3,78aC 2,97CQuarto 6,28bB 7,76aB 7,OOBQuinto 14,02bA 19,58aA 16,69A

1. A duração dos estádios e peso médio de ninfas referem-se a dados originais; para a

análise estatística os valores foram transformados em ,---; .2. Médias seguidas pela mesma letra minúscula nas linhas ou maiúsculas nas colunas, nãodiferem entre si pelo teste de Scott-Knott (P<O,051.

A duração da fase ninfal foi de 26.07; 26,32 e 30,00 dias, em duas gcraçôes,para ninfas alimentadas com Z. coI/jitsa, T lIIo/iror e M. dOlllesrica, respecti­vamente. Na segunda geração, a fase ninfal foi significativamente menor nostratamentos constituídos de Z. co//jilsa e T lIIo/iror, do que em larvas de M.

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Desenvolvimento de Supputius cincticeps ... 729

Bco

'S ig n ificativoScolt-Knolt (P<O,OS)

BA*

30

2010

O

100

90

807060

5040.­­.-

..Q~

>

II 111

Estádio

IV V

Fig. 2. Viabilidade de Supputius cincticeps (Stal) (Heteroptera, Pentatomidae) a 24.72±1,10oe e fotoperíodo de 12 horas.

dotllesrica. Essas presas diminuíram ainda, signiticativamente, a duração da faseninfal na segunda geração (Tab. 11). A viabilidade da fase ninfal, em duas gerações,diminuiu em larvas de M. dOl/lesricil, 59,64 %, contra 78,75 e 76,25 %, para nintasalimentadas com Z. confusa e T. tIIoliror, respectivamente. Larvas destas duaspresas proporcionaram, ainda, maior viabilidade na segunda geração, do que naprimeira (Tah. 11). Isso demonstra que larvas uestas duas espo:\cies são maisadequadas para o desenvolvimento ninhtl de S. cincriceps do que aquelas de M.dOl/lesrica, o que concorda com JUSSELlNO FILHO er ai. (1993h) e T. ZANUNCIOer aI. (1993), que vai ticaram que larvas de M. dOl/lesrica prolongaram a faseninta1 e reduziram a taxa de sohreviv~nciade B. rabidus. A adequação do predadorà determinada presa 0:\ importante pois segundo STAMP er aI. (1991), uma presainadequada promoverá aumento do período alimentar, resultando em alta morta­lidade do predador. Outros autores como LANDIS (1937); DRUMMOND er aI. (1984)e LEGASPI & O'NEIL (1994) mostraram que P. tIIaculil'ellfris, alimentado comdiferentes presas, apresentou mortalidade extremamente alta, quando o seu desen­volvimento ninfal foi relativamente lento.

Com relação a ninfas que deram origem a f~meas, não detectou-se diferençasignificativa entre os pesos destas no segundo estádio, de acordo com o tipo depresa fornecida. No terceiro e quarto estádios, ninfas alimentadas com M.domesrica apresentaram pesos menores em comparação àquelas alimentadas comZ. cOfifusa e T. I/loliror, que por sua vez não diferiram entre si. No quinto estádio,detectou-se diferença entre os pesos de ninfas, com maior peso corporal paraaquelas alimentadas com larvas de Z. confusil e de T. tIIoliror (Tab. 111). Estas duaspresas foram mais adequadas ao incremento de peso de ninfas que deram origem

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730 BESERRA et ai.

a fêmeas de S. cillcficeps, o que torna viável sua utilização em lahoratório para amanutenção deste predador pois a alimentação das formas imaturas irá rdlctir nopeso dos adultos. Akm disso, a energia obtida durante as últimas fases dedesenvolvimento, favorece os processos de reprodução e t~cundidade (Ev ANS

1982; O'NEIL& WIEDENMANN 1990; 1. ZANUNCIO ef ai. 1992; LEGASPI& O'NEIL

1994).

Tabela 11. Duração (dias) 1 e viabilidade ninfal de Supputius cincticeps, alimentado com três

presas alternativas, a 24,7 2±1, 1ooe e fotoperíodo de 12 horas.

Presas

DURACÃo DA FASE NINFAL (DIAS)Zophobas confusaTenebrio moNtarMusca domestica

VIABILIDADE DA FASE NINFAL (%)Zophobas confusaTenebrio molitorMusca domestica

Geração

Primeira

28,98a A2

29,92a A31, 12a A

67,50b A65,00b A65,00a A

Segunda

23,45b B23,14b B28,78a A

90,00a A87,50a A54,28a B

Média

26,07 A26,32A30,00A

78,75A76,25A59,64B

1. A duração média da fase ninfal refere-se a dados originais; para a análise estatística osvalores foram transformados em log (x + 1l.2. Médias seguidas pela mesma letra minúscula nas linhas ou maiúsculas nas colunas, nãodiferem entre si pelo teste de Scott-Knott (P<0,05).

Tabela 111. Peso (mg) 1 de ninfas que deram origem a fêmeas e machos de Supputius

cincticeps, em três presas alternativas, à 24,7 2±1,1 ooe e fotoperíodo de 12 horas.

Estádios Presas

Zophobas confusa Tenebrio moNtar Musca domestica

FÊMEASSegundo 0,81aD 2 O,80a D O,67a DTerceiro 3,82a e 3,64a e 2,80b eQuarto 9,34a B 8,81a B 7,33b BQuinto 25,82a A 22,77b A 18,48c A

MACHOS

Segundo 0.80a D 0,78a D O,63a DTerceiro 3,03a e 3,05a e 2,85a eQuarto 7,22a B 7.32a B 6,48b BQuinto 16.51a A 16,77a A 16,78a A

1. O peso médio das ninfas refere-se a dados originais; para a análise estatística os valores

foram transformados em \ex .2. Médias seguidas pela mesma letra minúscula nas linhas ou maiúsculas nas colunas, nãodiferem entre si pelo teste de Scott-Knott (P <0.05).

o peso das nintas aumentou com o seu desenvolvimento (Tabs I, 111). Nasegunda geração, no terceiro e quinto estádios, as f~meas apresentaram maiorespesos, do que na primeira. Contudo, tais diferenças não foram detectadas nosegundo e quarto estádios (Tab. I). Nintas de quarto estádio que deram origem a

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Desenvolvimento de Supputius cincticeps ... 731

machos apresentaram menor peso quando alimentadas com M. dOll/eSlicl/ (Tah.I1I), contudo, tal diferença não foi detectada nos demais estádios em rdação aotipo de presa fornecida. A partir do terceiro estádio, houve aumento significativode peso na segunda geração (Tab. I). Para todas as características avaliadas durantea fase ninfal, houve mdhor desempenho na segunda geração do que na primeira.principalmente em Z. COllfilSl/ e T lIIolilor, demonstrando que S. Cillcliceps podeser mantido por mais de uma geração com hom desempenho nestas presas.

AGRADECIMENTOS. Ao Nücko de Biotecnologia Aplicada à Agropecuária(BIOA(;KO/UFV). CNPq. CAPES/PICD. FAPEMIG e Sociedade de Investiga,i;''' Floreslais (SIF).alr3v~s do Programa Cooperativo de Manejo InkgraUl.l oe Pragas Florestais (peMIP). Al) Dr. S~rgio

A. Vanin. do Instituto de Biol.:i2nl:ias da Universidad~ de São Paulo. pda iuentitica~üo da t.:sp~l:ie

Zophohas cOI/(lIsa.

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