somos o que comemos

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Grande Reportagem Interativa "Somos o que comemos" Com a Grande Reportagem SIC estreamos um formato interativo onde pode encontrar mais conteúdos . Guiados pela pediatra Júlia Galhardo mostramos-lhe, por exemplo, como preparar pequenos almoços equilibrados ou como convencer crianças e adolescentes a comer peixe e legumes. Com o contributo de alguns dos maiores especialistas de cada área, pode aprofundar questões como o papel da alimentação na prevenção do cancro desde a infância ou as dependências alimentares. Textos, vídeos, entrevistas e gráficos que poderá explorar, ao seu ritmo. O próximo conteúdo interativo vai acontecer aos 4 minutos e 29 segundos. Quanto açúcar consomem os seus filhos por dia? RECOMENDAÇÕES PARA ADULTOS SAUDÁVEIS: 25 gramas de açúcar por dia 2000 Kcal por dia de 1 18 !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

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  • Grande Reportagem Interativa "Somos o que comemos"Com a Grande Reportagem SIC estreamos um formato interativo onde pode encontrar mais contedos . Guiados pela pediatra Jlia Galhardo mostramos-lhe, por exemplo, como p r e p a r a r p e q u e n o s a l m o o s equilibrados ou como convencer crianas e adolescentes a comer peixe e legumes. Com o contributo de alguns dos maiores especialistas de cada rea, pode aprofundar questes como o papel da alimentao na preveno do cancro desde a infncia ou as dependncias alimentares. Textos, vdeos, entrevistas e grficos que

    poder explorar, ao seu ritmo. O prximo contedo interativo vai acontecer aos 4 minutos e 29 segundos.

    Quanto acar consomem os seus filhos por dia?RECOMENDAES PARA ADULTOS SAUDVEIS: 25 gramas de acar por dia 2000 Kcal por dia

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  • Como sobreviver leitura de um rtuloPedro Carvalho nutricionista. D aulas na Faculdade de Cincias da Nutrio e da Alimentao da Universidade do Porto. Assina as rubricas Dicionrio dos Alimentos e Mitos que Comemos , no jornal Pblico, e co-autor do livro 50 super alimentos portugueses. Escreve para a Grande Reportagem SIC sobre o que precisamos de saber para ler um rtulo.

    Ponto prvio: se est a comprar um alimento que possui um rtulo, j de si pode ser mau sinal. No estamos, logicamente, a falar das verses embaladas / congeladas de carne, peixe, fruta e legumes e de alguns tipos de leite, iogurtes, po, conservas ou queijo e fiambre, mas sim de snacks fritos, bolos, bolachas, refrigerantes e afins.

    Comeando pela listagem de ingredientes, importante saber que ela est disposta por ordem decrescente. Ou seja, os ingredientes que aparem em primeiro lugar so aqueles que existem em maior quantidade no alimento em causa. Como tal, importante evitar alimentos (ou melhor dizendo, em alguns casos, produtos alimentares) que possuem, no topo da lista, os acares nas suas variadas designaes (acar, mel, xarope de glicose ou glicose-frutose ou acar invertido, dextrose, maltose). Bem como as gorduras (leo vegetal, leo de palma, creme vegetal, etc.), particularmente quando consegue identificar o termo hidrogenada. Tambm o chocolate, sal e alguns aditivos so presenas indesejveis nas primeiras posies.

    Ser ento mais fcil evitar os alimentos que certo possurem estes ingredientes (cereais aucarados, bolos, bolachas, refrigerantes, batatas fritas e snacks semelhantes) do que levar uma lupa para o hipermercado.

    J quando falamos da informao nutricional, a primeira designao que salta vista o valor energtico, vulgo calorias. Convencionalmente estipula-se que quanto menos calorias melhor, mas nem sempre assim, de modo que o ideal olhar um pouco mais abaixo de modo a ver a sua provenincia. Algumas cadeias de hipermercados j implementaram sistemas coloridos de sinalizao que nos permitem identificar as melhores opes. Em todo o caso os nutrientes aos quais deve estar mais atento so as gorduras totais (particularmente as saturadas) e, principalmente, os acares (que por norma aparecem por baixo dos hidratos de carbono com a designao dos quais acares) e o sdio/sal.

    Mesmo que no tenha referncias da quantidade destes nutrientes que deve ingerir, um exerccio simples e eficaz no momento da compra passa sempre por comparar vrias marcas (e at sabores) de um determinado alimento de modo a ver qual o mais equilibrado, passando por cima de muitas das alegaes nutricionais que possam existir na embalagem do mesmo.

    Num exemplo prtico, quando procurar cereais de pequeno-almoo privilegie aqueles com maior quantidade de protena e fibra e menor quantidade de acar (a aveia uma excelente opo, mas tenha ateno ao teor de acar que muitos muesli podem apresentar).

    No queijo, fiambre e conservas procure igualmente as opes com maior teor de protena e menor quantidade de gordura e sdio. Nos iogurtes escolha aqueles que possuem menos acares e menos gordura (importante sobretudo no caso dos iogurtes gregos).

    Os refrigerantes, sumos e gelatinas light/zero apresentam sempre um menor teor calrico e de acares, uma vez que estes so substitudos por adoante. No entanto, no deve esta ser uma razo para que o seu consumo seja indiscriminado devido grande quantidade de aditivos alimentares que podem igualmente apresentar.

    Existem, no entanto, alguns produtos light com os quais se deve ter ateno. A denominao light pode ser utilizada no rtulo do alimento a partir do momento em que se reduz, no mnimo, 30% do teor de um nutriente em questo (gordura e acar so os mais comuns) em relao ao alimento original.

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  • Ou seja, podemos estar diante de um iogurte light que reduziu, de facto, o teor de gordura em relao ao produto original, mas que manteve (ou at aumentou!) a quantidade de acar.

    De igual modo, muitos produtos ricos em fibra como cereais e bolachas, conseguem legalmente ostentar essa alegao nutricional ao aumentarem a quantidade desse nutriente na receita do produto, mas por vezes aumentam igualmente o teor de acar e de gordura, de modo a tornar o mesmo mais saboroso e melhorar a sua textura.

    Como tal, mais do que comer com os olhos e comprar um produto pela alegao nutricional que ostenta, importante analisar a informao nutricional presente no rtulo e evitar algumas destas armadilhas com que muitas vezes nos deparamos.

    E terminamos como comeamos: um alimento de verdade no costuma ter rtulo!

    Alimentao e preveno do cancro ao longo da vidaTeresa F. Amaral nutricionista, investigadora e professora na Faculdade de Cincias da Nutrio e Alimentao da Universidade do Porto. Daniela Arajo estagiria na FCNA. Escrevem para a Grande Reportagem SIC sobre o papel da alimentao na preveno do cancro desde a gravidez.

    O cancro uma das principais causas de doena e de morte no mundo. Segundo a Organizao Mundial de Sade (OMS), o nmero total de casos de cancro aumentou mais de 20% em menos de uma dcada, atingindo atualmente 14 milhes de indivduos em cada ano. S no ano de 2012 foi responsvel por 8,2 milhes de mortes

    Todos os dias em Portugal so diagnosticados novos casos de cancro que poderiam ter sido evitados. A International Agency for Research on Cancer da OMS (Globocan) apresenta estimativas referentes ao ano de 2012, para o nosso pas, de 49,2 milhares de novos casos de cancro e de um risco muito elevado de desenvolver um cancro antes dos 75 anos de idade, de 24,4%

    Este panorama piorar dramaticamente em todo o mundo e a OMS prev que o nmero de novos casos aumente cerca de 70% nos prximos 20 anos.

    O World Cancer Research Fund (WCRF) estima, para os 13 tipos de cancro mais comuns, que aproximadamente 30% dos casos nos pases de alto rendimento, 25% nos pases de rendimento mdio e 24% nos de baixo rendimento, esto relacionados com a alimentao desadequada, com baixos nveis de atividade fsica, com o elevado peso corporal. Estes casos de cancro podero ser evitados com a adoo de estilos de vida saudveis.

    Assim, pelo menos um tero de todos os casos de cancro ser evitvel e temos atualmente uma oportunidade nica nesta gerao para evitar um desastre de sade pblica.

    Segundo a OMS, a preveno representa a estratgia para o controlo do cancro a longo prazo, que apresenta melhor relao custo/benefcio. O mesmo foi reconhecido h j trs anos pela cimeira das Naes Unidas sobre as doenas crnicas no transmissveis.

    Um estudo levado a cabo recentemente com o objetivo de descrever o conhecimento dos Portugueses sobre o cancro, incluindo a perceo do risco, a conscincia das causas de cancro e os comportamentos preventivos, revelou que 72% dos participantes nomeou o estilo de vida como principal causa de cancro e 40,2% selecionaram o no fumar como sendo o comportamento preventivo mais importante. Apesar de estes dados indicarem algum conhecimento e consciencializao sobre esta problemtica no nosso pas, esto certamente aqum do desejvel.

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  • Os escassos dados disponveis sobre consumos alimentares em Portugal (Inqurito Nacional de Sade e Estudo sobre o Consumo Alimentar no Porto) tm demonstrado tambm que a maioria dos indivduos inquiridos parece no ter adotado as estratgias preventivas recomendadas internacionalmente, nomeadamente a prtica de uma alimentao saudvel.

    Assim, de extrema importncia informar os Portugueses sobre o papel da alimentao na preveno do cancro, relao esta que se inicia logo durante a gravidez. Quando a futura me tem uma alimentao em que prevalece o consumo de carnes vermelhas, especialmente quando cozinhadas a altas temperaturas, de carnes processadas e de alimentos fritos, o feto poder ser exposto a compostos carcinogneos, o que poder aumentar a suscetibilidade da criana para o cancro. Pelo contrrio, se a alimentao da me for baseada no consumo de frutos e hortcolas, ricos em antioxidantes, o feto ser exposto a fatores protetores o que reduzir o risco de desenvolvimento de cancro .

    A gordura corporal tambm de extrema importncia no desenvolvimento de cancro. Um consumo energtico elevado provoca um aumento da gordura corporal, o que eleva os nveis de numerosas hormonas como a leptina, insulina e fatores de crescimento, que promovem a multiplicao das clulas cancergenas.

    Por outro lado, a alimentao o principal veculo de consumo de alguns compostos qumicos, nomeadamente as micotoxinas e os pesticidas, denominados disruptores endcrinos pois interferem com o sistema endcrino, levando tambm ao desenvolvimento de cancro.

    Fica assim demonstrado que a alimentao tem grande influncia nesta problemtica. Deste modo, o WCRF apresenta dez recomendaes para a preveno do cancro que esto relacionadas com a alimentao e com o estilo de vida:

    1. Gordura corporal deve ser-se o mais magro possvel, sem se atingir o baixo peso.

    2. Atividade fsica deve ser-se fisicamente ativo como parte da vida quotidiana.

    3. Alimentos e bebidas que promovam o ganho de peso o consumo de alimentos com alta densidade energtica deve ser limitado e as bebidas aucaradas evitadas.

    4. Alimentos de origem vegetal devem ser estes os alimentos preferencialmente consumidos.

    5. Alimentos de origem animal a ingesto de carnes vermelhas deve ser limitada e as carnes processadas devem ser evitadas.

    6. Bebidas alcolicas o seu consumo deve ser limitado.

    7. Preservao, processamento e preparao o consumo de sal deve ser limitado; evitar cereais e leguminosas que possam conter algum vestgio de bolores.

    8. Suplementos dietticos deve preferir-se atingir as necessidades nutricionais atravs da dieta e no de suplementos.

    9. Amamentao as mes devem amamentar; as crianas devem ser amamentadas.

    10. Sobreviventes de cancro devem seguir estas recomendaes para a preveno do cancro.

    Em sintonia com o Plano Nacional para a Alimentao Saudvel e com as recomendaes atuais do WCRF, baseadas em evidncia cientfica, ser muito importante implementar estas estratgias de preveno primria no nosso pas. Desta forma poderemos evitar a ocorrncia de um grande nmero de novos casos de cancro em Portugal, cerca de 16 mil por ano.

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  • A implementao de estratgias de preveno primria do cancro possibilitar tambm a reduo da exposio a conhecidos fatores de risco para as patologias mais prevalentes no nosso pas, nomeadamente a obesidade e as doenas cardiovasculares, com a traduo em ganhos inequvocos na sade dos Portugueses.

    Tambm importante referir que estas estratgias contribuiro, de forma poderosa e a baixo custo, para atingir uma economia sustentvel.

    Das cries ao cancro: as amarguras do acarA pediatra Jlia Galhardo responsvel pela Consulta de Obesidade da Unidade de Diabetes e Endocrinologia Peditrica do Hospital D. Estefnia, em Lisboa. Escreve para a Grande Reportagem SIC sobre os efeitos na sade do consumo excessivo de acar.

    Na alimentao atual, a sacarose o acar adicionado no s o ingrediente mais utilizado, mas tambm o mais nefasto. Alm de constituir uma fonte de calorias vazias (sem protenas, cidos gordos essenciais, vitaminas, minerais ou fibras) com consequente risco de carncias nutricionais, contribui ainda para o aparecimento de cries dentrias e de inmeras doenas associadas a desregulao metablica que, nas ltimas dcadas, tm vindo a aumentar exponencialmente e a surgir em idades cada vez mais precoces, prejudicando gravemente a sade:

    1. Resistncia insulina e diabetes tipo 2

    O pncreas produz uma hormona, a insulina, que funciona como uma chave para abrir as nossas clulas entrada do acar presente no sangue (glicose). As alteraes provocadas pelo excesso contnuo de acar na alimentao obrigam produo de uma maior quantidade desta hormona, de forma a manter a glicose em nveis normais. Esta adaptao temporria designada por resistncia insulina, ou pr-diabetes. Contudo, com a continuao dos excessos alimentares e do aumento do peso, a quantidade de acar no sangue comea a subir porque a insulina produzida no pncreas, que se vai esgotando, torna-se insuficiente para a remover da circulao, passando aquela pessoa a ter diabetes tipo 2. Este excesso constante de acar resulta num processo de caramelizao dos vasos sanguneos, que ficam mais rgidos e rugosos, lesando-os e conduzindo progressivamente a doena renal, oftalmolgica e cardiovascular.

    2. Hipertenso arterial, aumento do cido rico e do mau colesterol, fgado gordo e cirrose

    O acar adicionado (sacarose) constitudo por duas partes: a glicose (fonte primria de energia para todas as clulas) e a frutose (um acar presente nos vegetais como a cana de acar que no produzimos e de que no necessitamos). Enquanto a glicose armazenada naturalmente no fgado, de forma a estar disponvel em situaes de carncia, a frutose tem de ser modificada (metabolizao) para poder ser aproveitada. Durante este processo, a frutose transformada em gordura, sendo ainda produzido cido rico e substncias que promovem o aumento da tenso arterial. Parte desta gordura acumula-se no fgado, inflamando-o e dando origem ao chamado fgado gordo. Esta agresso, se persistente, pode originar cicatrizes que culminam em cirrose, tal como acontece com o consumo excessivo de lcool. Paralelamente, a restante gordura libertada na corrente sangunea, depositando-se nos vasos e contribuindo para o aparecimento de aterosclerose e doena cardiovascular.

    Importa salientar que a quantidade de frutose presente na fruta, alm de ser muito inferior existente no acar adicionado, acompanhada por fibras que diminuem a quantidade que absorvida no intestino. Desta forma, praticamente impossvel serem atingidos nveis de frutose no organismo capazes de provocar as alteraes nefastas descritas acima.

    3. Desregulao da saciedade, doenas do comportamento alimentar e obesidade

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  • Recentemente, vrios estudos tm demonstrado que a frutose contida no acar adicionado no s pouco saciante (ou seja, no elimina o nosso apetite), como desregula mesmo as hormonas que controlam o apetite (designadamente a grelina), promovendo o aumento da ingesto e, consequentemente, o indesejvel aumento de peso.

    Por outro lado, os acares atuam ainda nos centros cerebrais relacionados com a sensao de prazer e bem-estar, tornando-se viciantes, como se fossem drogas de adio, e perpetuando o consumo compulsivo de alimentos hipercalricos e ricos em sal, particularmente em situaes de stress emocional.

    4. Doenas vasculares

    O consumo crnico excessivo de acar, devido s alteraes metablicas que produz (obesidade, diabetes, aumento das gorduras no sangue essencialmente triglicerdeos mas tambm colesterol - e hipertenso arterial), um dos principais factores que esto na origem de doenas do corao (enfartes do miocrdio), acidentes vasculares cerebrais, doena vascular perifrica (com amputao dos ps e pernas) e morte sbita.

    5. Cancro

    Existe uma clara associao entre o consumo excessivo de sacarose e o aparecimento de diversos tipos de cancro, nomeadamente da mama, da prstata e do intestino grosso (clon). Se, por um lado, o aumento generalizado da inflamao estimula a multiplicao desregulada das clulas anormais, por outro, a disponibilidade de acar e de insulina alimenta-as, potenciando o seu crescimento.

    Em suma, o acar amplamente adicionado aos alimentos, no mais do que um veneno cujos minutos de doura e prazer na boca no compensam os de amargura e de anos de sade perdidos ao longo da vida.

    O Futebol como meio no farmacolgico no combate obesidade peditricaCarla Rgo pediatra no hospital CUF Porto e professora e investigadora da Universidade do Porto e da Universidade Catlica. Andr Seabra professor e investigador na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto e coordenador do projecto Futebol Sade. Escrevem para a Grande Reportagem SIC sobre os resultados do futebol no tratamento da obesidade peditrica.

    De acordo com a Organizao Mundial de Sade, a obesidade a maior epidemia do sculo XXI.

    Embora a susceptibilidade gentica desempenhe um papel facilitador, determinante para a expresso clnica da obesidade a aco de um ambiente obesognico, caracterstico no apenas das sociedades desenvolvidas mas, cada vez mais, das economias emergentes.

    A obesidade hoje uma doena transversal s sociedades, s culturas e aos estratos sociais.

    O aumento exponencial da prevalncia da obesidade, nomeadamente da obesidade peditrica, torna esta doena crnica um problema major de sade pblica, escala planetria.

    A International Obesity Task Force (IOTF) estima que aproximadamente uma em cada 5 crianas tem excesso ponderal, existindo na Europa cerca de 3 milhes de crianas obesas.

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  • Em Portugal, a situao merece particular ateno. semelhana de outros pases mediterrnicos (Grcia, Itlia e Espanha), regista uma das maiores prevalncias europeias. De acordo com os dados da OMS e da Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade, para o perodo de 2009 - 2012 a prevalncia de excesso de peso e obesidade de cerca 30% e de 12% respectivamente, transversal idade peditrica (3-15 anos).

    Recentemente, o EPACI Portugal2012 (Estudo do Padro Alimentar e do Crescimento na Infncia) alertou para o incio precoce, nos primeiros anos de vida, do excesso de peso nas crianas portuguesas. Registou, aos 12-36 meses de idade, prevalncias de 31,4% e 6,5%, respetivamente, de excesso de peso e obesidade.

    Caracterizada pela elevada plasticidade biolgica e comportamental, a idade peditrica determinante na criao de hbitos e padres.

    Os estmulos externos, como o ambiente nutricional, desencadeiam mecanismos de adaptao aguda e apresentam uma no desprezvel capacidade de modelar a expresso do fentipo biolgico e tambm do fentipo comportamental. A este fenmeno se denomina de programao.

    evidente na literatura a demonstrao de uma elevada estabilidade das adaptaes precoces, bem como das suas consequncias, ao longo da vida. Como exemplos podem referir-se a estabilidade, ao longo da vida, quer da obesidade quer da sua comorbilidade quando estas ocorrem em idade peditrica ou, ainda, a estabilidade do gosto pela prtica desportiva, quando iniciada e mantida desde cedo.

    Pertinncia do tema

    A gentica humana, como caadores recolectores que originalmente somos, est programada para oscilaes de oferta alimentar, para o consumo de alimentos pouco densos sob o ponto de vista energtico e sobretudo para um estilo de vida activo.

    Basta olhar a oferta alimentar e as rotinas dirias das crianas/adolescentes da actualidade, para se constatar a notria desadaptao da nossa programao gentica.

    No que respeita actividade fsica e sua relao com a obesidade peditrica, e embora a literatura documente resultados pouco consensuais (na maioria das vezes por diferenas metodolgicas entre estudos ou pelo uso de marcadores somticos pouco sensveis para avaliar o efeito do exerccio), ela reconhecida como um componente fundamental no apenas na preveno, mas tambm no tratamento da obesidade e da sua comorbilidade (cardiometablica e comportamental).

    Precisamente tendo em conta a mudana do paradigma de vida da humanidade, as recomendaes actuais apontam para a necessidade de crianas e jovens realizarem pelo menos 60 minutos dirios de uma atividade fsica aerbica, de intensidade moderada a vigorosa. E de participarem, trs vezes por semana, em exerccios de fora que provoquem algum impacto no sistema musculo-esqueltico.

    Os programas propostos a crianas e jovens com excesso de peso e obesidade centram-se, essencialmente, em actividades individuais (natao, marcha, corrida, remo, actividades em circuito), sendo escassos os programas de interveno com enfoque em actividades e desportos de equipa.

    Em Portugal, mais de 60% das crianas e dos jovens no cumpre estas linhas de recomendao, podendo a causa ser a dificuldade da implementao desses programas em escolas/comunidades ou o facto de as actividades serem sentidas como impostas, pouco agradveis e pouco motivantes.

    A criana, e particularmente o adolescente obeso, no gil nem veloz, apresenta pouca resistncia solicitao fsica e tem uma forte inibio em expor o seu corpo.

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  • expectvel que no exista prazer e at se associe algum desconforto prtica de atividade fsica, gerando consequentemente desmotivao e abandono.

    Se associarmos a estes sentimentos uma no rara atitude de bullying psicolgico por parte dos colegas de equipa e at dos treinadores, fcil compreender o ciclo vicioso que torna cada experincia negativa numa barreira a qualquer outra futura tentativa de reaproximao da atividade fsica, suportada numa quebra progressiva da auto-estima e da autoconfiana e num agravamento da frustrao.

    precisamente na promoo de dois destes conceitos prazer e motivao que se centra o projecto Futebol sade O Futebol como meio no farmacolgico no combate obesidade peditrica, recentemente patrocinado pela UEFA e que envolve uma equipa multidisciplinar de profissionais das reas do desporto, da medicina, da nutrio, da farmcia e da psicologia.

    O Projecto

    O Futebol um dos desportos mais populares, praticado no mundo inteiro, acessvel a todas as classes sociais e econmicas e tem sido recentemente apontado como uma actividade eficaz na melhoria de diversos indicadores de sade em adultos.

    Tradicionalmente praticado na sua estrutura formal (11x11), mas tambm em estruturas de jogo mais reduzidas (3x3, 5x5, 7x7), exige dos seus praticantes um elevado dispndio de energia, uma enorme participao da componente aerbica e, em muitos momentos da sua prtica, frequncias cardacas (FC) mdias superiores a 75% da FC mxima.

    O Futebol recreativo envolve tambm um conjunto variado de aces com elevada intensidade (sprints, saltos, remates) que estimulam o sistema muscular e esqueltico dos seus praticantes.

    Em Portugal, o Futebol a actividade desportiva com maior popularidade em todas as idades, classes sociais e econmicas.

    um desporto capaz de oferecer s crianas e jovens, independentemente do seu peso corporal, oportunidades de diverso, recreao e sucesso, particularmente quando praticado de uma forma recreativa e treinado por profissionais motivados e sensibilizados.

    Este projecto-piloto envolveu crianas e adolescentes com idades entre 8 e 13 anos e consistiu num treino de 7,5 horas de Futebol distribudas por 3 dias da semana durante 6 meses, num ambiente altamente motivante em que cada adolescente era activamente incentivado e sistematicamente confrontado com o seu progresso.

    Os resultados demonstraram uma reduo significativa do ndice de Massa Corporal, da gordura corporal total, da gordura intra-abdominal, e um aumento da massa muscular, do contedo mineral sseo e da densidade mineral ssea.

    Mas a vantagem da prtica recreativa e bem orientada de Futebol, segundo protocolos de programao de treino e objectivos bem definidos, no se esgota na melhoria de marcadores somticos associados a sade.

    Efectivamente, e no que respeita aos marcadores de risco cardiometablico, observou-se uma reduo significativa no valor do colesterol total (CT), colesterol das LDL, triglicerdeos e presso arterial diastlica e um aumento do colesterol das HDL.

    Registou-se ainda uma reduo significativa nos marcadores de inflamao e de stress oxidativo (resistina, leptina e fraco oxidada das LDL).

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  • Tambm na vertente comportamental se registaram mudanas significativas com a aplicao deste programa piloto de interveno na obesidade peditrica, particularmente nas variveis de auto-percepo psicolgica.

    Uma melhoria da imagem corporal, da auto-estima, da qualidade de vida e da percepo de sucesso pessoal e competncia fsica foi observada em todos os participantes, mas, mais importante ainda, de referir o desenvolvimento de uma atitude de maior motivao intrnseca para a participao em actividade fsica.

    Salienta-se igualmente uma melhoria muito significativa da aptido cardio-respiratria e, consequentemente, uma maior aptido para realizar exerccio prolongado com menos fadiga.

    Consideraes

    A eficcia de programas recreativos de futebol em indicadores de sade, na aptido fsica e no bem-estar psicolgico de crianas e jovens com excesso de peso e obesidade tem sido pouco investigada a nvel mundial.

    Em Portugal, de acordo com o nosso conhecimento, no existe qualquer investigao ou programa de interveno que tenha procurado compreender a eficcia do futebol recreativo na obesidade peditrica e suas comorbilidades, pelo que estamos certos que este projecto permitir equacionar a utilizao deste desporto rei como uma forma eficaz e no dispendiosa, mas particularmente no farmacolgica, de preveno/reduo deste grave problema de sade pblica, cujas consequncias as mdio-longo prazo ainda nos so impossveis de imaginar.

    [Equipa de Investigadores: Susana Vale, Maria Jos Carvalho, Elisa Marques, Sandra Abreu (Faculdade de Desporto da Universidade do Porto; CIAFEL); Sandra Torres (Faculdade de Psicologia, Universidade do Porto); Ana Seabra (Escola EB 2,3 Perafita); Henrique Nascimento, Lus Belo e Alice Santos-Silva [Instituto de Biologia Molecular e Celular (IBMC), Universidade do Porto. Faculdade de Farmcia da Universidade do Porto]

    Nota: por deciso do 1 autor o artigo no escrito ao abrigo do Acordo Ortogrfico

    Obesidade e dependnciasGabriela Ribeiro e Albino Oliveira Maia so investigadores do Centro Clnico e do Programa de Neurocincias da Fundao Champalimaud. Escrevem para a Grande Reportagem SIC sobre dependncias alimentares.

    A prevalncia crescente da obesidade tem motivado grande interesse no estudo dos seus determinantes, ultimamente em particular no papel da ingesto de alimentos de elevada palatibilidade, nomeadamente os alimentos ricos em acar.

    semelhana do que acontece com outras substncias causadoras de dependncias, o consumo de alimentos com o intuito de induzir sensaes de prazer envolve a ativao de neurnios e vias dopaminrgicas, ainda que, possivelmente, atravs de mecanismos distintos.

    As respostas de recompensa pelo consumo de acar tm sido extensamente demonstradas, particularmente em roedores. Nesta espcie, a perceo do sabor doce parece ser suficiente para provocar essas respostas e a libertao de dopamina no crebro.

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  • No entanto, em trabalho que desenvolvemos no passado, foi possvel demonstrar que o valor calrico dos acares tambm ativa o sistema dopaminrgico por mecanismos sensoriais puramente ps-ingestivos, independentemente do sabor doce.

    Estudos em animais sugerem ainda que o consumo excessivo de acar leva a alteraes no sistema dopaminrgico, comparveis s que se verificam em animais expostos a substncias como o lcool.

    De forma similar, em humanos, o estudo de indivduos com obesidade evidenciou semelhanas funcionais em circuitos neurais relacionados com o processamento da recompensa, em relao a indivduos que sofrem de dependncia de substncias.

    semelhana do que acontece com pessoas dependentes de cocana, metanfetaminas, lcool ou herona, verificam-se tambm, em pessoas com obesidade severa, redues significativas de recetores de dopamina em determinadas zonas do crebro, quando comparados com pessoas saudveis.

    Para alm de semelhanas neurobiolgicas, h tambm paralelismos clnicos entre as dependncias qumicas e a obesidade.

    Ao atribuir ingesto excessiva a conotao de comportamento aditivo, no de todo apropriado abranger todos os casos de obesidade. No entanto, em alguns indivduos obesos verificam-se comportamentos classicamente associados dependncia de substncias, tais como a perda de controlo sobre o consumo, dificuldade em diminuir a quantidade ou a frequncia do uso da substncia, e consumo continuado apesar da perceo de consequncias negativas, tais como problemas fsicos ou emocionais.

    Para alm disto, tanto os indivduos dependentes como os indivduos com obesidade so frequentemente mal sucedidos nas tentativas de parar ou reduzir o consumo, o que frequentemente acompanhado de sentimentos de culpa e angstia.

    Com o objetivo de explorar o conceito de dependncia alimentar em humanos, foi desenvolvida a Yale Food Addiction Scale, um questionrio que adaptou ao comportamento alimentar os sete critrios de diagnstico de dependncia definidos na quarta edio do Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders.

    Atravs deste instrumento, que estamos a adaptar para utilizao em Portugal, foi possvel observar uma prevalncia de dependncia alimentar de 5.4 a 24.0% em amostras comunitrias, de 15.2 a 38.0% em indivduos com excesso de peso e de 41.7 a 68.2% em indivduos com obesidade severa. Assim, a dependncia alimentar parece estar claramente associada presena de obesidade, existindo no entanto tambm em pessoas com peso normal. No ainda claro quais as suas consequncias nesse grupo.

    Apesar dos vrios aspetos etiolgicos aparentemente relacionados, existem distines relevantes entre a dependncia de drogas e o conceito de dependncia alimentar. A mais notvel que os alimentos, ao contrrio das drogas, so indispensveis vida. Desta forma, a regulao neurobiolgica da ingesto alimentar bastante mais complexa do que a regulao do abuso de drogas, j que existe uma panplia de regies anatmicas, hormonas e neurotransmissores que modulam a ingesto alimentar, para alm dos mecanismos de recompensa.

    No entanto, em alguns indivduos, possvel que um fentipo de dependncia alimentar se adeque melhor aos seus sintomas e comportamentos, contribuindo para novas perspetivas de interveno farmacolgica e de intervenes teraputicas para o tratamento da obesidade.

    Entrevista com a psicloga Teresa Lobato FariaTeresa Lobato Faria psicloga clnica. D apoio consulta de Endocrinologia e Adolescentes do Hospital D. Estefnia, em Lisboa.

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  • Calendrio de produo nacional de frutas e vegetaisReconhecida pela Organizao Mundial de Sade como um padro alimentar de excelncia, a Dieta Mediterrnica baseia-se no consumo de produtos frescos, de produo local e de acordo com a poca do ano.

    Tem aqui toda a informao de que precisa para escolher, ms a ms, a fruta e os vegetais de produo nacional e sazonal:

    http://www.deco.proteste.pt/alimentacao/produtos-alimentares/dicas/fruta-legumes-epoca-ideal

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  • Receitas para crianas que acham que no gostam de legumes e de peixeA pediatra Jlia Galhardo ensina a fazer lasanha vegetariana e hambrgueres de salmo.

    E garante que nenhuma criana resiste.

    Lasanha vegetariana (4 pessoas)200g de courgette 200g de beringela 150g de cogumelos200g de tomate 1 cebola mdia 1 dente de alho2 colheres de sopa de azeiteErvas aromticas picadas, sal e pimenta250g de requeijo magro1 Ovo mdio50g de queijo parmeso ralado

    Pr-aquea o forno a 170C.

    Lamine finamente as courgettes.

    Coloque as tiras de courgette num tabuleiro, salpique com sal e leve ao forno at perderem um pouco da gua, que dever rejeitar.

    Coloque o azeite, a cebola e o alho num tacho.

    Acrescente o tomate e os cogumelos.

    Deixe refogar.

    Junte a beringela e cozinhe cerca de 5 minutos.

    Tempere com ervas aromticas, sal e pimenta.

    Numa tigela, migue o requeijo com um garfo, misture-lhe o ovo e reserve.

    Forre o fundo de um tabuleiro com parte da mistura de legumes.

    Coloque uma camada de tiras de courgette, seguida da mistura de requeijo.

    Repita at gastar os ingredientes.

    Polvilhe com o queijo ralado.

    Leve ao forno 35 a 45 minutos, para gratinar.

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  • Menos calorias atrasam o envelhecimento. Investigadores da Universidade de Coimbra explicam porqu.Cludia Cavadas investigadora do Centro de Neurocincias e Biologia Celular (CNC) da Universidade de Coimbra, professora na Faculdade de Farmcia da Universidade de Coimbra e coordenadora das atividades de comunicao de cincia do CNC. Escreve para a Grande Reportagem SIC sobre a investigao que a sua equipa acaba de publicar e que revela novos dados sobre a influncia da alimentao no envelhecimento.

    Os resultados da nossa investigao desenvolvida no Centro de Neurocincias e Biologia Celular (CNC) da Universidade de Coimbra, publicados em maro na revista norte-americana Proceedings of the National Academy of Sciences, revelam uma explicao indita que esclarece como o controlo de calorias, sem desnutrio, pode adiar o envelhecimento e aumentar a longevidade.

    Chama-se autofagia ao processo responsvel pela reciclagem de molculas indesejadas nas clulas. O nosso estudo sugere que um aumento do processo de autofagia crucial para o funcionamento dos neurnios no hipotlamo.

    O hipotlamo uma rea cerebral que foi descrita na revista Nature como sendo "o" centro de controlo do envelhecimento de todo o corpo.

    A nossa investigao conseguiu provar que uma molcula - chamada neuropeptdeo Y (NPY) estimula a autofagia quando realizamos uma diminuio de calorias. O que abre caminho a um eventual uso desta molcula, o NPY, para atrasar o envelhecimento no futuro.

    A descoberta foi obtida em ratinhos nos quais aumentamos, geneticamente, a quantidade de NPY nos neurnios do hipotlamo, o que permitiu observar um crescimento nos nveis de autofagia nessa zona cerebral.

    Alm disso, quando colocmos os neurnios do hipotlamo de ratinhos a crescer num meio de cultura (lquido com substncias que fornecem nutrientes para que os neurnios se mantenham funcionais) que imitava o estado de diminuio de calorias, constatmos novamente que os nveis de autofagia eram muito mais elevados do que o normal.

    Contudo, quando bloquemos a produo de NPY, o meio de cultura j no provocava esse aumento da autofagia. Consequentemente, conclumos que o efeito da diminuio de calorias na estimulao da autofagia nos neurnios do hipotlamo parece depender de um aumento de NPY.

    Assim, a restrio calrica aumenta os nveis da molcula NPY nos neurnios do hipotlamo, molcula que, por sua vez, aumenta a autofagia, que atrasa o envelhecimento.

    A prestigiada publicao internacional deste artigo reforou a importncia do estudo que o nosso grupo de investigao Neuroendocrinologia e Envelhecimento tinha em mos, adicionando uma nova pea ao quebra-cabeas do envelhecimento.

    O CNC um exemplo meritrio da importncia do investimento na cincia portuguesa como aposta futura no conhecimento e na qualidade de vida de uma populao cada vez mais envelhecida. A que, no futuro, todos ns pertenceremos.

    A Dieta MediterrnicaO socilogo Jorge Queiroz foi o responsvel tcnico pela candidatura transnacional da Dieta Mediterrnica a Patrimnio Cultural Imaterial da Humanidade da UNESCO. autor do livro Dieta Mediterrnica, uma herana milenar para a humanidade. Dirige atualmente o Museu Municipal de Tavira. Escreve sobre a Dieta Mediterrnica para a Grande Reportagem SIC.

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  • O termo dieta deriva do grego daita, que significa estilo de vida.

    A Dieta Mediterrnica um conjunto de saberes-fazeres dos povos de cultura mediterrnica resultante de vivncias comunitrias ancestrais, de conhecimentos empricos e evoluo tecnolgica, processos de agricultura e pescas, produo e confeo de alimentos, sociabilidades e convivialidades, tradies orais, simbologias e rituais de celebrao.

    A mesa o lugar central para o convvio e transmisso de conhecimentos entre geraes.

    A Dieta Mediterrnica acompanha os ciclos astrais, equincios e solstcios, os trabalhos agrrios, as festividades cclicas, com alimentos e pratos caractersticos para cada poca do ano.

    Est intimamente ligada agricultura de proximidade, proteco da biodiversidade, representando culturas de partilha e entre ajuda, o que induz tambm nveis mais baixos de stress.

    A Dieta Mediterrnica um modelo cultural que integra um padro alimentar de grande riqueza e variedade nutricional, reconhecido como de excelncia pela Organizao Mundial de Sade.

    A histria recente do seu reconhecimento mundial teve origem nas investigaes promovidas na dcada de 50 do sculo XX por uma equipa internacional dirigida pelo fisilogo norte-americano Ancel Keys, sobretudo pelo impacto do estudo Seven Countries a Multivariate Analysis of Death and Coronary Heart Disease , no qual se apresentaram concluses da amostra de um inqurito realizado a mais de doze mil indivduos adultos da Grcia, Itlia, Jugoslvia, Japo, Dinamarca, Holanda, Finlndia e Estados Unidos da Amrica.

    Os resultados revelaram acentuada diferena na incidncia de doenas cardiovasculares e coronrias, bem como na longevidade das populaes, indicadores estes favorveis aos pases mediterrnicos comparativamente com as regies mais ricas e desenvolvidas do norte da Europa, EUA e Japo.

    O consumo excessivo de gorduras animais, a baixa ingesto de vegetais e fibras e o sedentarismo provocam alteraes nos nveis de colesterol e a progresso, at hoje, de uma verdadeira epidemia de doenas da civilizao: doenas cardiovasculares, diabetes, obesidade, vrios tipos de cancro e outras doenas no-transmissveis que, no seu conjunto, so a primeira causa de morte a nvel mundial.

    De acordo com a FAO Organizao das Naes Unidas para Alimentao e a Agricultura 70% das doenas no ser humano tm atualmente origem na alimentao, sobretudo pelo consumo excessivo de produtos de origem animal e de produo industrial e pelas doenas que viajam, distribuindo patognicos.

    A Dieta Mediterrnica caracteriza-se pela frugalidade e simplicidade, pelo consumo de alimentos frescos, de acordo com a poca do ano e produzidos, de preferncia, localmente.

    O vinho, em especial o vinho tinto, que tem propriedades antioxidantes, aconselhado s refeies, com moderao. Ao longo do dia devem ingerir-se gua e infuses.

    No conjunto de pases associados Dieta Mediterrnica, Portugal destaca-se pelo elevado consumo de peixe, apresentando o 3 consumo per capita mundial, e pela riqussima gastronomia, com muitas variantes regionais, que acompanham as estaes do ano com produtos sazonais: os caldos, ensopados e sopas de legumes no inverno. As saladas, gaspachos e pratos frescos no vero.

    A inscrio da Dieta Mediterrnica na Lista Representativa do Patrimnio Cultural Imaterial da Humanidade da UNESCO ocorreu a 4 de Dezembro de 2013 na 8 Conferencia Intergovernamental realizada em Baku no Azerbaijo.

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  • Integra sete Estados e respectivas comunidades representativas.

    Alm de Portugal/Tavira, inclui tambm a Crocia/Hvar e Brac, Chipre/Agros, Espanha/Sria, Grcia/Koroni, Itlia/Cilento e Marrocos/Chefchaouen.

    Tavira a comunidade representativa da Dieta Mediterrnica em Portugal. A cidade foi escolhida pela sua histria milenar, testemunhada nas estruturas arqueolgicas resultantes da presena de civilizaes mediterrnicas fencia, romana e rabe pelo seu hinterland relativamente preservado, pela diversidade de paisagens como o ecossistema da Ria Formosa, o barrocal e a serra pela riqueza da pesca (de atum, bivalves, polvo, entre outros) e pela abundncia de produtos da terra inseridos no padro alimentar mediterrnico, como o caso do figo, da amndoa, da alfarroba, dos primores, dos citrinos, do mel, da vinha, do azeite e do po serrano.

    Comparao po croissant

    Trs propostas de pequeno almooO pequeno almoo deve fornecer 20 a 25% das necessidades calricas dirias.

    Deve ser variado ao longo da semana.

    Os nutricionistas recomendam que inclua trs componentes: fruta, cereal e lacticnios (ou outra forma de protena).

    A pediatra Jlia Galhardo apresenta trs propostas.

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    1. Tosta de ovo mexido e smoothie de laranja (1 pessoa)

    1 fatia de po escuro

    2 ovos pequenos

    20ml de leite meio-gordo

    Salsa, sal e pimenta

    Smoothie de laranja

    1 Laranja

    100 ml de gua

    2. Papas de aveia com canela e banana (1 pessoa)

    30g de flocos de aveia integral

    100ml de gua

    60ml de leite meio-gordo

    Banana

    Canela

    3. Tosta de tomate e queijo fresco

    1 fatia de po escuro

    Tomate

    Queijo ou requeijo

    Azeite

    Oregos

  • Onde encontrar informaoO nutricionista Pedro Graa dirige o Programa Nacional para a Promoo da Alimentao Saudvel, criado pela Direco Geral da Sade em 2011, com carcter de programa de sade prioritrio. No mbito deste programa, foram criados trs sites onde pode encontrar informao fidedigna na rea da alimentao.

    http://www.alimentacaointeligente.dgs.pt/

    http://www.alimentacaosaudavel.dgs.pt/

    http://nutrimento.pt/

    No site http://www.ficanalinha.pt/, da DECO, pode tambm encontrar informao, propostas e receitas.

    Pedro Graa escreve para a Grande Reportagem SIC sobre a evoluo das recomendaes alimentares.

    "As recomendaes alimentares norte-americanas so publicadas a cada 5 anos desde 1980, ou seja, h 35 anos. So consideradas um standard apesar de adequadas a uma populao ocidental com caratersticas distintas de outras populaes.

    As primeiras, publicadas em 1980, faziam 7 recomendaes: Consuma uma grande variedade de alimentos; Mantenha um peso adequado. Evite excesso de gordura. Consuma quantidades adequadas de fibra. Evite o excesso de acar. Evite o excesso de sal. Se consumir lcool, faa-o com moderao.

    Em 2005, as recomendaes j eram 9 mas continuavam a sugerir orientaes relativamente semelhantes: O consumo variado de alimentos com poucas calorias e muitos nutrientes; a manuteno do peso adequado; o consumo de quantidade adequadas de fibra e produtos integrais; o consumo dirio de fruta e hortcolas; a reduo do consumo de sal e o cuidado com excesso de acar e, adicionalmente, (aqui a novidade) a promoo de atividade fsica e o cuidado com a higiene dos alimentos.

    Em 2010, a ltima publicao recomendava no mesmo sentido, com 4 grandes linhas de ao: A manuteno do peso. Os alimentos a reduzir (acar, gordura, sal, lcool) e os a incentivar (fruta e hortcolas de vrias cores, cereais integrais, leguminosas, lacticnios magros) e ainda os cuidados com a higiene e segurana dos alimentos.

    Ou seja, ao longo destes anos, e apesar da investigao continuar ativa e a produzir muita informao de qualidade, as regras base para uma alimentao saudvel tm-se mantido relativamente estveis.

    O que, por vezes, aparenta ser o discurso contraditrio de cientistas e nutricionistas, tem a ver, provavelmente, com o facto da cincia ser hoje bastante mais visvel e tambm competir com muitos interesses que a promovem, apoiam economicamente e, em ultima instncia, a mediatizam.

    Por exemplo, apesar de hoje se saber muito mais sobre algumas compostos com propriedades anti-oxidantes positivas para a sade e presentes no chocolate e de isto ser muito mediatizado e investigados, o chocolate continua a ser grande fornecedor de gordura, acar e calorias. O cacau possui, na sua composio, aproximadamente 50% de gordura. Uma pequena barra de chocolate de leite de 28 g pode fornecer quase um tero da gordura saturada que um adulto deve consumir por dia e possui, na maior parte dos casos quantidades elevadas de acar e calorias.

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  • Outro exemplo pode ser dado com as cebolas. Apesar do vinho tinto ou do chocolate gozarem de uma maior reputao e mediatismo pela presena de substncias anti-oxidantes, as cebolas pertencem ao grupo dos hortcolas desde sempre recomendadas. As cebolas so uma excelente fonte deste tipo de substncias com propriedades anti-inflamatrias como os flavonides. Mas as cebolas no tm uma indstria a promover a divulgao das suas excelentes propriedades.

    Ficha tcnica: Somos o que comemos

    Grande Reportagem disponvel emhttp://sicnoticias.sapo.pt/somosoquecomemos

    Jornalista: Miriam AlvesReprter de Imagem: Filipe FerreiraEdio de Imagem: Marco CarrasqueiraEdio de Imagem contedos interativos: Ricardo TenreiroGrafismo: Alexandre Ferrada Iluminao: Bruno GodinhoAssistente de iluminao: Andr GasparImagens de estdio: Nuno Marques e Filipe FerreiraColorista: Jos DiasPs-produo udio: Octaviano RodriguesProduo Editorial: Diana MatiasCoordenao: Cndida PintoDireo: Rodrigo Guedes de Carvalho; Alcides Vieira

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