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SOLENIDADES

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  • SOLENIDADES

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  • Tribunal Pleno

    POSSE DO SR. MIN. WILLIAM PATTERSON

    ATA DA SESSÃO SOLENE REALI-ZADA EM 3 DE AGOSTO DE 1979

    Aos três dias do mês de agosto do ano de mil novecentos e setenta e no-ve, às dezesseis horas, na Sala de Sessões do Tribunal Federal de Re-cursos, presentes os Exm?s Srs. Mi-nistros José Néri da Silveira, Presi-dente do Tribunal, Armando Rollem-berg, Márcio Ribeiro, Peçanha Mar-tins, Moacir Catunda, Aldir G. Pas-sarinho, José Dantas, Lauro Leitão, Carlos Madeira, Gueiros Leite, Was-hington Bolívar, Carlos Mário Vello-SO, Justino Ribeiro, Otto Rocha, Wil-son Gonçalves e Sebastião Reis, pre-sentes, ainda, o Exmo. Sr. Dr. Ge-raldo Andrade Fonteles, I? Subprocurador-Geral da República e o Secretário do Tribunal Pleno, Bel. Ronaldo Rios Albo, foi aberta a Ses-são Solene, especialmente convocada para dar posse ao Doutor William Patterson, nomeado para o Cargo de ministro do Tribunal Federal de Re-cursos pelo Exmo. Sr. Presidente da República Federativa do Brasil. Ao início dos trabalhos, o Exmo Sr. Ministro-Presidente convidou os Exmos Srs. Ministros João de Lima Teixeira, Presidente do Tribunal Su-perior do Trabalho, Ewald Sizenando Pinheiro, Presidente do Tribunal de

    Contas da União, Desembargador José Júlio Leal Fagundes, Presiden-te do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, Doutor Firmino Ferreira Paz, Procurador-Geral da República e o Doutor Clóvis Ramalhete Maia, Consultor-Geral da República, para composição da Mesa. Em seguida, o Exmo. Sr. Ministro-Presidente deSig-nou comissão composta pelos Exmos. Srs. Ministros Armando Rollemberg e Márcio Ribeiro para conduzir o Doutor William Andrade Patterson ao recinto do Plenário. Lido o Termo de posse pelo Secretário do Tribunal Pleno, o empossando prestou o jura-mento regimental e, juntamente com o Exmo. Sr. Ministro-Presidente. as-sinou o Livro de Posse. Em prosse-guimento, o Exmo. Sr. Ministro-Presidente declarou empossado o Exmo. Sr. Ministro William Patter-son, convidando-o a tomar assento na Bancada do Tribunal Pleno. Em seguida, o Exmo. Sr. Ministro-Presidente concedeu a palavra ao Exmo. Sr. Ministro Washington Bolívar para saudar o Exmo. Sr. Mi-nistro William Patterson em nome do Tribunal.

    O Exmo. Sr. Ministro Washington Bolívar: Exmo. Senhor Presidente do Tribunal Federal de Recursos e des-ta Solenidade; Exmo. Senhor Presi-dente do Tribunal Superior do Tra-balho; Exmo. Senhor Presidente do Tribunal de Justiça do Distrito Fede-ral; Exmo. Senhor Presidente do Tri-

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    bunal de Contas da União; Exmo. Se-nhor Procurador-Geral da Repúbli-ca; Exm~. Senhor. Consultor-Geral da República; Exmo. Senhor Repre-sentante do Senado Federal, EXJ:llo. Senhor Procurador-Geral da Repú-blica integrante deste Egrégio Tribu-nal como representante do Ministé-rio Público Federal; Senhores Minis-tros do Supremo Tribunal Federal; Senhores Ministros dos demais Tri-bunais Superiores; Senhores Desem-bargadores; Juízes; Membros do Mi-nistério Público, Advogados, Minhas Senhoras, Meus Senhores, Senhor Ministro William Andrade Patterson:

    Manda a tradição desta Casa que se cumpra a lei da hospitalidade e um de nós seja designado para dese-jar boas-vindas, ainda que em bre-ves palavras, ao companheiro que chega para desempenhar conosco a missão do julgamento colegiado.

    Essa antiga lei do direito das gen-tes, no entanto, aqui é cumprida de forma sui generis, pois os hospedei-ros também são hóspedes e nãó do-nos da Casa:' uns são hóspedes por algum tempo, outros por um tempo mais longo, mas todos por um tempo certo, quer determinado pela apo-sentadoria voluntária, quer pelo li-mite de idade previsto na Lei dos Homens, quer pelo fim comum de to-dos os homens, pela inelutável Lei de Deus. A transitoriedade de nossa passagem, embora paradoxal, so-mente se revela quando aqui chega novo hóspede, para a vaga do antigo, mesclando a alegria com que se re-cebe o novo colega com a saudade daquele que nos deixou.

    Por vontade própria, manifestada em carta memorável, deixou-nos Paulo Távora, um dos mais lúcidos e brilhantes juízes que já passaram por este Tribunal, em largo e gene-roso gesto, por acreditar que maior

    serviço prestaria à Justiça Brasilei-ra não mais decidindo segundo a lei, mas julgando a própria lei.

    Para a nossa companhia vem um dos mais estudiosos, competentes, modestos e sérios juristas da nova geração.

    Interpreto o júbilo próprio e dos demais colegas pelo ingresso de Vos-sa Excelência nesta Casa, Sr. Minis-tro William Andrade Patterson, aon-de chega precedido por atuáção marcante em vários órgãos da Ad-ministração, especialmente no Direi-to Público, culminando com o exercício do alto cargo de Consultor-Geral da República.

    Sinto-me bem em tê-lo de novo co-mo companheiro de estudos e deci-sões, pois a ventura de conhecê-lo vem desde os idos de 1963, precisa-mente na Consultoria-Geral da Re-pública, onde nos reuniu a confiança do Professor Waldir Pires, - a Vos-sa Excelência, a Aldo Ferro, Herme-nito Dourado e a mim.

    Sinto-me bem, como baiano e bra-siliense, pela oportunidade de sau-dar outro baiano e brasiliense' em seu momento de glória. A privação do mar, da gente e das coisas da Ba-hia, da «curva azul de sua enseada», no dizer ensolarado de Ruy, talvez nos tenha sido menos penosa porque ambos somos sertanejos e aos ser-tões, cumprindo destino de origem, um dia nos adentramos, certos de que era preciso deixar as delicias do litoral para ajudar, de alguma for-ma, o Brasil a. crescer por dentro. Por isto foi que, desde a primeira ho-ra, acreditamos em Brasília, onde se encontra o cérebro decindindo e o coração pulsando.

    Eis que estava escrito que, nesta mesma cidade, Vossa Excelência re-cebesse o prêmio do seu patriotismo, da constãncia do seu amor à Ciência do Direito, nesta hora de alegria e de triunfo.

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    No próprio carro daquele que en-trava em triunfo em Roma, era de lei que um escravo, sustendo acima da cabeça do vencedor uma coroa de louros, lembrasse, entretanto, a ca-da instante, que ele era apenas um homem.

    Cabe-me, agora, tarefa idêntica, menos porque Vossa Excelência, modesto e simples como sempre foi, necessite dessa lembrança, mas pa-ra que também se cumpra essa lei antiga e tão sábia, no recordar a to-dos aquela verdade.

    Talvez por isso é que D' Aguesseau assim alertava os Juízes para a tare-fa de cada dia: - «ao entrares no Tribunal, lembra-te de que és ape-nas um homem; ao saíres do Tribu-nal, não te esqueças de que és um juiz».

    Quem se detiver sobre o conteúdo e a natureza do labor de cada um dos três Poderes da República verifi-cará que o Executivo trabalha sobre a realidade palpitante do presente; o Legislativo, mediante previsões ~obre o comportamento humano no fu-turo; e o Judiciário, sobre acontéci-mentos do passado, julgando a con-duta dos homens segundo leis de tempos ainda mais remotos.

    «O erro de cada dia» - declama Cassiano Ricardo - é que.

    «O homem da lei decreta que não haja mais fome que não haja mais frio, que sejamos irmãos uns dos outros, Datilograficamente.»

    Nada mais angélico do que a sua intima convicção de que dirige o acontecimento.»

    Refere Paulo Dourado de Gusmão que éossio ensina haver um plexo de valores jurídicos, integrado por sete v,alores fundamentais: a ordem, a segurança, o poder, a paz, a coope-ração, a solidariedade e a justiça.

    Neste plexo, ocupa a justiça uma po-sição central que acompanha, como uma sombra, os demais valores jurídicos, sobre os quais prevalece, pois exige a realização dos demais valores para realizar-se completa-mente, já que não se pode pensar em justiça senão como ordem, seguran-ça, poder, paz, cooperação e solida-riedade.

    (

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    bre a escravidão. Aplicada em toda a sua inteireza, a velha norma é o símbolo da descaridade, num mundo de espolia dores e espoliados. Porque se a justiça consiste em dar a cada um o que é seu, dê-se ao pobre a po-breza, ao miserável a miséria e ao desgraçado a desgraça, que isso é que é deles. Nem era senão por isso que ao escravo se dava a escravi-dão, que era o seu, no sistema de produção em que aquela fórmula se criou. E, no entanto, já foi assim e, em parte, ainda o é». «(Oração de Paraninfo aos bacharéis de 1944», Rev. da Faculdade de Direito da Ba-hia, vol. XX, pág. 341.

    Assim, já não basta ao jurista o «viver honestamente, não lesar a ninguém e dar a cada um o que é seu' - velhos preceitos do Direito Romano. Nem é por outro motivo que a nossa própria Lei de Introdu-çáo ao Código Civil ordena que o juiz, na aplicação da lei, atente aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum» (art. 5?1.

    Se é certo que o juiz deve cumprir fielmente a lei, se o imperativo é claro; dar-lhe interpretação consentâ-nea com as necessidades sociais, se é dúbia: suprir-lhe a falta, se lhe descobre lacunas, ou negar-lhe auto-ridade, se contrária à Constituição, segundo Mario Guimarães (

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    diástole de sua pungente pulsação. Não é por mera coincidência que tantos de nós sejamos acometidos de moléstias graves, especialmente do coração, o músculo - sede dos senti-mentos humanos.

    Ao examinar um processo crimi-nal, há pouco tempo, encontrei no papel timbrado de um médico o ensi-namento de que.

    «Um homem é tão jovem como a sua

    fé, tão velho como o seu

    temor tão jovem como a con-

    fiança que tem em si mes-

    mo, tão velho como a sua

    dúvida, tão jovem como a sua

    esperança, tão velho como o seu

    desespero». É que a todos os perigos que ron-

    dam a sociedade moderna - desde a insofreável ganância das multinacio-nais ao engodO do consumismo - os juízes da Democracia têm de estar atentos para assegurar, pela preva-lência da Justiça, a fraterna convi-vência humana. «Se o sal perder a sua força, com que se há de salgar?»

    Confiemos todos na inspiração do salmista, na certeza de que o Senhor domina eternamente, julgando o uni-verso com justiça e pronunciando sentença com eqüidade sobre os po-vos. «O Senhor torna-se refúgio para o oprimido, uma defesa oportuna pa-ra os tempos de perigo» (Salmos, 8: 9,10).

    Seja, pois, benvindo, Sr. Ministro, certo de que este Tribunal se tem constituído num alto refúgio para o oprimido, num «alto refúgio em tem-pos de angústia».

    A segUir, o Exmo. Sr. Ministro-Presidente concedeu a palavra ao

    Exmo. Sr. Dr. Geraldo Andrade Fon-teles, I? Subprocurador-Geral da Re-pública, para saudar o Exmo. Sr. Mi-nistro William Patterson, em nome do Ministério Público.

    o Exmo. Sr. Dr. GeraldO Andrade Fonteles, I? Subprocurador-Geral da República: Exmo. Sr. Presidente do Egrégio Tribunal Federal de Recur-sos, Srs. Ministros deste Egrégio Co-legiado, Exm o Sr. Ministro-Presidente do Tribunal Superior do Trabalho, Sr. Presidente do Tribunal de Contas da União, Exmo. Sr. Procurador-Geral da República, Exmo. Sr. Consultor-Geral da Repú' blica: Sr. Representante do Presi-dente do Senado Federal, Exm?s. Srs. Ministros do Supremo Tribunal Federal, Autoridades aqui presentes dos demais Poderes e Orgãos da Ad-ministração Pública, Srs. Advoga-dos, Srs. Funcionários da Casa, Meus Senhores, Minhas Senhoras.

    Ministro William Andrade Patter-son:

    V. Exa. proveio de plagas fecun-das da intelectualidade brasileira. Da-quela unidade da Federação que, ain-da nos nossos dias, alça, às mais ele-vadas culminanças da Nação, o vul-to honroso do grande Rui Barbosa; e que, ainda mais uma vez, fornece a este Egrégio Colegiado nomes da melhor estirpe de sua prOjeção, for-mada no amplo cenário do Judiciá-rio pátrio, tais sejam os dos eminen-tes Ministros Amarílio Benjamin, Al-varo Peçanha Martins e WaShington Bolívar de Brito.

    Isto, por si só, já delinea a auréola luminosa que nos é lícito vislumbrar, no porvir da judicatura de Vossa Ex-celência, Sr. Ministro William Pat-terson.

    Entre o elenco de títulos que or-nam sua brilhante atuação na Admi-nistração Pública, destaquei um dos menores, mas de grande significado para mim, pois, integrante como V.

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    Exa., participei do Grupo de Traba-lho constituído nos termos do Aviso n? 16-c. de 23-2-78, do Gabinete Civil da Pi'esidência da República, com a incumbência de realizar estudos e oferecer proposta legislativa, visan-do a reformular o sistema de remu-neração dos membros do Ministério Público da União e do Serviço Jurídico da União e das Autarquias, infelizmente, não concretizado.

    Precisamente, ao ensejo dos traba-lhos do Grupo, tive oportunidade de conhecê-lo de perto e, bem assim, aquilatar a sua personalidade. De tanto, distingui a sua capacidade, o lastreamento de conhecimentos que o credencia na formulação da me-lhor dialética e no equacionamento dos valores com que arma e sopesa os seus pronunciamentos.

    Se isso não bastasse, eis que per-cebi, nos corredores desta Casa, o sussurro alviçareiro de seus ilustres Pares, ao conhecerem a acertada es-colha do Governo, na eleição de seu honrado nome, para Ministro do Egrégio Tribunal Federal de Recur-sos.

    Aqui, Sr. Ministro , V. Exa. - me relevará a ousadia de afirmar - te-rá oportunidade, creio eu, de repas-sar a sua convicção quanto à respon-sabilidade e o prurido de sutilezas que desnivelam as funções do Minis-tério Público propriamente dito, in-clusive o Federal, das dos serviços Jurídicos da União, confiados aos Assistentes Jurídicos, embora se fri-se com linha dobrada, que não haja prevalência na qualidade dos traba-lhos técnicos de uns e de outros. Afigura-se-me comparar o destaque, tal qual se pretendessemos desnive-lar os juízes das instâncias judiciá-rias.

    Seu espírito de receptividade e franquia ao diálogo, a postura de se-renidade no fragor do debate e amor à análise, são atributos pessoais que lhe outorgam vocação à magistratu-

    ra. Por isso, todos os que militam nas hostes do Judiciário recebem-no com os braços abertos.

    Quero ainda, Sr. Ministro, conside-rando o adestramento de V. Exa. no encaminhamento das sõluções ade-quadas no âmbito da Aãininistração Pública, o que vale dizer, do Gover-no, que se sirva envidar o melhor dos seus esforços no sentido de in-tensificar sua valiosa colaboração com o eminente Ministro-Presidente, José Néri da Silveira, na consecução do seu programa de trabalho. O nos-so Presidente preconizou, com muito acerto, a necessidade do melhor en-trosamento entre o Poder Judiciário e o Executivo, tal como afirmado no seu notável discurso, por ocasião de sua posse na Presidência desta Ca-sa.

    Note-se que aquela incisiva fala já produziu seus efeitos, pelo decreto de anistia dos débitos fiscais inferio-res a mil cruzeiros.

    O Ministério Público Federal, rendendo-lhe justo preito de homena-gem pelo seu auspicioso ingresso na Magistratura, rejubila-se com sua excelentissima família que, como a de nós outros, sempre soube ameni-zar as refregas de nossas lutas pela vida a fora, perfumando com o cari-nho de seu amor e solidariedade pro-fundos, o mal odor de todas as polui-ções hodiernas.

    Auguramos-lhe, também, que a carga de processos não lhe arrefeça o ânimo ou espírito, cuja predisposi-ção à luta encontra melhores evidên-cias noutros trabalhos prestados ao pOder público e órgãos associativos de interesse da coletividade.

    Por fim, numa palavra pessoal e fraterna, William, amigo dileto de meu filho Cláudio Lemos Fonteles, e de meu ilustre colega, Dr. Valim Teixeira, vinculados aos julgamen-tos do Tribunal Desportivo de Brasília, rogo a Deus que o ilumine na prestação jurisdicional de seus

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    votos para o bem de todos e manu-tenção do prestígio deste Tribunal, não esquecendo de arrematar esta pálida oração com os versos sober-bos do grande advogado e inspirado poeta de minha terra, Quintino Cu-nha, no seu tocante poema intitulado «O Poder da Miséria», onde alude o personagem, seu homônimo, e com suas virtudes, e que assim começa:

    «Numa deserta estrada erma e sombria transitava um senhor que a fidalguia o distintivo fez: Era William, um nobre, destes nobres que via os ricos, como via os po-bres. William era um inglês». Dal1do seqüência à solenidade, o

    Exmo. Sr. Ministro-Presidente conce-deu a palavra ao Sr. Dr. Hermenito Dourado, para saudar o Exmo. Sr. Ministro William Patterson, pelo Conselho da Ordem dos Advogados do Brasil, Seção do Distrito Federal.

    O Exmo. Sr. Doutor Hermenito Dourado, i\dvogado: Exm? Sr. Pre-sidente, Egrégios Ministros, Exm?s. Srs. Presidentes dos Tribunais Supe-riores Federais aqui "presentes, Ex-mo. Sr. Desembargador-Presidente do Tribunal de Jus1lça do Distrito Federal, Senhores Ministros, Juízes, Desembargadores, Advogados, Meus Senhores e Minhas Senhoras:

    A ordem dos Advogados do Brasil - Seção do Distrito Federal-tconcedeu-me a subida honra, em ca-ráter excepcional - posto que reser-va a seus ilustres conselheiros - de prestar, representando-a, a homena-gem devida ao Dr. William Andrade Patterson, por sua investidura como Ministro deste Egrégio Tribunal Fe-deral de Recursos.

    Fê-lo, decerto, levando em conta três motivos, para os quais convoco, por um instante, a benevolente aten-ção do Tribunal e de quantos se fa-zem presentes a esta solenidade.

    Primeiro, em razão dos estreitos laços funcionais que, ao longo de quase três lustros, nos mantiveram

    juntos no esforço comum de assesso-ramento jurídico à Consultoria-Geral da República, $ob a condução de Wal-dir Pires, Adroaldo Mesquita da Cos-ta, Romeo AlmeÍda Ramos e Luiz Rafael Mayer;

    Segundo, por causa das vincula-ções profissionais decorrentes do exercício da advocacia, em conjunto, que durou alguns anos;

    Terceiro, tendo em vista o esforço de que partilhamos em favor do espor-te, sobretudo na qualidade 'de Juiz do Tribunal de Justiça Desportiva do Distrito Federal, que tive a honra de ser por algum tempo e, o Dr. Wil-liam, por longo período, reconduzido sempre pela vontade dos clubes que integram a Federação Metropolita-na.

    Desta forma, sinto-me com autori-dade, em virtude do labor diuturna-mente compartilhado na Consultoria Geral da República, ao longo dos anos, para testemunhar, com absolu-to conhecimento de causa, sobre as qualidades pessoais do Dr. William Andrade Patterson que o tornaram uma das mais gratas revelações no exercício das funções de assessora-mento do Serviço Jurídico da União, tanto pelo saber jurídico, quanto pe-lo senso de equilíbrio, honradez e probidade, coadjuvados por sua ex-traordinária dedicação ao trabalho e perseverante busca do ideal de justi-ça.

    Já se disse que a existência do di-reito administrativo «é, em alguma medida, fruto de um milagre» sob a consideração de que é de admirar-se «que o próprio Estado se considere vinculado pelo direito», posto que «está na natureza das coisas que um governante acredite, de boa fé, ser investido do poder de decidir discri-cionariamente acerca do conteúdo e das exigências do interesse geral», devendo-se «considerar pouco nor-mal» que o Estado veja «suas deci-sões submetidas à censura de um

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    juiz», consoante o afirmou na intro-dução de seu «Le Droit Administra-tif», Prosper Weil.

    De conhecimento próprio, estou certo de que, no que depender do Dr. William Andrade Patterson, este Egrégio Tribunal operará tal mila-gre. As qualidades para tanto ele as possui em porção dobrada, como já o demonstrou em sua marcante pas-sagenl pela Consultoria-Geral da Re-pública.

    De outra parte, tive o privilégio de participar do escritório de advocacia que, no início da década de 60, mar-cava o começo do que viria a ser a promissora carrreira de advogado do Dr. Wiliam Andrade Patterson.

    Com efeito, tive, então, a ventura - embora sem a qualidade de con-dômino do imóvel, mas tão-só do das idéias - de integrar aquele escritó-rio em companhia do Dr. Aldo Rauli-no Carneiro da Cunha Ferro, tam-bém condômino das idéias, e, ainda, do imóvel.

    Se na Consultoria-Geral da Repú-blica revelaram-se as qualidades do jurisconsulto que todos reconhece-mos, pelos trabalhos produzidos pelo Dr.William Andrade Patterson co-mo Assistente Jurídico ou Consultor-Geral, repassados de conhecimento doutrinário acumulado pela pesquisa a que se impôs sem desfalecimentos, no exercício da advocacia revelaram-se a grandeza de sua mo-déstia, a dignidade e independência profissionais que o fizeram credor do respeito, consideração e distinto conceito de seus colegas advogados.

    Finalmente, assinalo o esforço que, juntos, desenvolvemos em favor do esporte, quando Brasília mal inicia-va os passos para afirmar-se como centro das grandes decisões nacio-nais, na visão profética de um de nossos maiores.

    Embora a contribuição ama-dorística, como atleta, não mereça

    destaque, é de ressaltar-se, no entan-to, a J inestimável colaboração do Dr. William Andrade Patterson ao Tribunal de Justiça Desportiva do Distrito Federal, a que serviu por longos anos com inexCedível dedica-ção e eficiência,

    Eminente Ministro William Andra-de Patterson, fazendo esses registros· creio que os seus então colegas da Consultoria-Geral, Washington Bolívar de Brito, Gastão dos San-tos, Aldo Ràulino Carneiro da Cunha Ferro, podem todos repetir: bons tempos! fruto da descontração e con-fiança que só o relacionamento em bases sólidas da amizade é capaz de gerar. Bons tempos que se vão esfu-mando na visão do que ficou para trás, deixando um gosto agridoce de saudade, típico da lembrança de que valeu a pena viver.

    A Seção de Brasília da Ordem dos Advogados, Sr. Ministro William An-drade Patterson, sente-se orgulhosa com a investidura de Vossa Excelên-cia, se não por outros motivos, pelo altamente expressivo de ser o pri-meiro advogado com inscrição origi-nária em seu Quadro a ocupar cargo de tamanha relevância no Poder Ju-diciário, fato indicativo, sem dúvida, da maturidade de nossa Secional.

    Por todos os motivos e, em espe-cial, por este, a Ordem dos Advoga-dos do Brasil - Seção do Distrito Federal -espera e confia em que Vossa Excelência, Sr. Ministro Wil-liam Andrade Patterson, prosseguirá no exercício da judicatura com a mesma dedicação ao trabalho, a mesma eficiência e o mesmo brilho, revelados como integrante do Servi-ço Jurídico da União e na banca de advogado.

    Ao Egrégio Tribunal Federal de Recursos, as congratulações da Or-dem, pela investidura do Dr. Wil-liam Andrade Patterson como seu Ministro. Ao Governo Federal e, de

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    modo especial, ao Excelentíssimo Senhor Ministro da Justiça, os para-béns da Secional pela feliz escolha.»

    Em seguida, o Exmo. Sr. Ministro-Presidente concedeu . a palavra ao Exm? Sr. Ministro William Andrade Patterson.

    o Exm? Sr. Ministro William An-drade Patterson: Ao ser investido no honroso cargo de Ministro deste Egrégio Tribunal Federal de Recur-sos, faço ingente esforço para conter a grande emoção que me envolve neste momento, a fim de poder dirigir-me aos ilustres pares, autori-dades e amigos presentes nesta sole-nidade.

    Não poderia deixar de mencionar, em primeiro lugar, e porque impor-tante para mim, o carinho e a frater-nidade com que fui recebido por to-dos, nesta Corte, desde os primeiros contatos.

    Aqui venho sem a pretensão de ombrear-me, em saber jurídico, aos Excelentes Juízes que compõem este excelso Colegiado. Trago, tão-somente, alguma experiência da mi-litância profissional e um mínimo de maturidade no campo dos problemas jurídicos, adquirida em quase vinte anos de exercício contínuo na Consultoria-Geral da República.

    Não sou um erudito. Se alguma virtude possuo, talvez seja a da in-tuição jurídica, assimilada pela vi-vência do Direito.

    Assumo a judicatura numa hora de reformulaçao e de tomada de consciência dos graves problemas que afligem o Poder Judiciário. Fica-rei reconfortado se, além do desem-penho das tarefas precípuas do meu cargo, puder colaborar nesse árduo trabalho que considero de capital importância para os futuros destinos da prestação jurisdicional.

    A desmassificação das demandas judiciais, objetivo primordial dessa

    missão, permitirá, além de outros benefícios aquilo que julgo de maior relevo, a possibilidade de reflexão do juiz, principalmente dos que como eu, se iniciam no sacerdócio da ma-gistratura. A reflexão, repito, do sentido de justiça em todos os seus contornos, com tempo suficiente pa-ra a busca das suas razões filosófi-cas e teÍeológtcas - da justiça como atributo do poder divino, como virtu-de universal, como princípio exclusi-vamente social, como balizaJ7lento dos postulados de igualdade ou, final-mente, da justiça como reaÍidade que não se exaure no fato histórico ou positivo, estando sujeita a evolu-ção ou involução -. Todas as teo-rias, mesmo as que encontram repú-dio no atual estágio da sociedade, contribuíram, estou certo, para a concepção intelectual do juiz.

    A verdade é que estamos estacio-nados no ponto cruciante da imagem de justiça, aquele em que o direito positivo comanda, friamente, os desígnios das suas diretrizes, como realidade social, criando, por sua massificação, empeços ao desenvol-vimento do pensamento construtivo que constitui a beleza intuitiva do Direito. E dessa realidade não pode fugir o magistrado sob pena de, na aplicação da justiça, praticar a in-justiça através do retardo das suas decisões. O tempo, hoje, tem signifi-cativa relevância nas relações so-ciais e econômicas.

    De qualquer sorte, a superação dos problemas estará sempre na de-dicação e na formação pragmática do juiz, porque, como assinalado por Del Velchio: «Quem verdadeiramen-te se consagra ao ideal de justiça, supera-se a si mesmo como indívi-duo, visto identificar-se, universal-mente, com os outros para além da esfera das aparências físicas; e se-guindo aquela vocação íntima que lhe atesta a lei do espírito como ser racional, entra no reino do eterno e do absoluto».

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    Se a todos nós é dificultado, por enquanto, o prazer de refletir filoso-ficamente, é-nos concedido, contudo, o privilégio do exercício dessa sagra-da função - distribuir justiça -.

    Vejo minha responsabilidade au-mentada, não só porque sentarei ao lado de excelsas figuras, cultoras do Direito, como, também, por ter de substituir um juiz de qualidades ex-cepcionais, o Ministro Paulo Távora, a quem rendo minhas homenagens. Deus haverá de iluminar-me para que possa corresponder às expectati-vas, principalmente dos que me ele-varam a esta posição.

    Agradeço, finalmente, aos ilustres oradores que me saudaram. As pala-vras elogiosas do, eminente Ministro Washington Bolívar, nascidas do enorme coração de amigo e conter-râno, do Dr. Geraldo Andrade Fonte-les, preclaro Subprocurador-Geral da República, digno representante do Ministério Público Federal, a quem muito prezo, e as do represen-tante da Ordem dos Advogados do Brasil, Dr. Hermenito Dourado, esti-mado colega e companheiro de tan-tas atividades.

    Muito obrigado a todos.» Antes de declarar encerrada a Ses-

    são, o Exmo. Sr. Ministro José Néri da Silveira, Presidente do Tribunal, proferiu as seguintes palavras:

    «Em nome do Tribunal agradeço a presença das altas autoridades: do Sr. Ministro João de Lima Teixeira, Presidente do Tribunal Superior do Trabalho; do Sr. Desembargador Jo-sé Júlio Leal Fagundes, Presidente do Tribunal de Justiça do Distrito Federal; do Sr. Ministro Ewald Size-nando Pinheiro, Presidente do Tribu-nal de Contas da União; do Doutor Firmino Ferreira Paz, Procurador-Geral da República; do Deputado Homero Santos, I? Vice-Presidente da Câmara dos Deputados; dos Srs. Ministros do Supremo Tribunal Fe-deral dos Tribunais Superiores, do

    Tribunal de Contas da União, dos Srs. Ministros aposentados deste Tri-bunal, dos Srs. Juízes Federais, • dos Srs. Magistrados, dos Srs. Membros do Ministério Público da União, dos Srs. representantes dos Srs. Minis-tros de Estado, dos Srs. Advogados, entre os quais, e acreditando a todos representar, o ilustre Dr. Adroaldo Mesquita da Costa, do Sr. Represen-tante do Escritório do Estado do Rio Grande do Sul, Dr. Júlio Cesar de Rose, bem assim das demais autori-dades presentes, das senhoras e dos senhores, dos funcionários do Tribu-nal, de todos que emprestaram a es-ta solenidade, com suas presenças, alto destaque. Está encerrada a Ses-são.»

    Compareceram à solenidade as se-guintes autoridades: Ministros Décio Miranda e Rafael Mayer, do Supre-mo Tribunal Federal; Ministro Luiz Octávio Gallotti, do Tribunal de Con-tas da União; Dr. Manoel Ignácio Chaves de Mendonça, representante do Exmo. Sr. Vice-Presidente da Re-pública; Deputado Federal Homero Santos, I? Vice-Presidente da Cãma-ra dos Deputados; Doutor Adroaldo Mesquita da Costa; Dr. Walter Ra-mos da Costa Porto, representante do Exmo. Sr. Ministro da Justiça; Dr. Jorge Leovegildo Lopes, repre-sentante do Exmo. Sr. Ministro da Marinha; General-de-Divisão Octá-vio Pereira da Costa: representante do Exmo. Sr. Ministro do Exército; Ministro Alvaro da Costa Franco, re-presentante do Exmo. Sr. Ministro das Relações Exteriores; Dr.Cid He-ráclito de Queiroz, representante do Exmo. Sr. Ministro da Fazenda; Dr. Estevão Santos Pereira, represen-tante do Exmo. Sr. Ministro dos Transportes; Dr. Igor Tenório, re-presentante do Exmo. Sr. Ministro da Agricultura; Dr. João Guilherme Aragão, representante do Exmo. Sr. Ministro do Trabalho; Dr. Tarcísio Carlos de Almeida Cunha, represen-tante do Exmo. Sr. Ministro da In-

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    dústria e do Comércio; Deputados Federais Djalma Marinho, Alberico Cordeiro e Raimundo Diniz; Prof. João Baptista Cascudo Rodrigues, representante do Exmo. Sr. Ministro das Minas e Energia; Dl'. Hélio Es-trela, representante do Exmo. Sr. Ministro das Comunicações; Dl'. Paulo Cesar Cataldo, representante do Exmo. Sr. Ministro-Chefe do Ga-binete Civil da Presidência da Repú-blica; Tenente-Coronel-Aviador Zeir Scherrer, representante do Exmo. Sr. Ministro-Chefe do Serviço Nacio-nal de Informações; Dl'. Antônio Marcos Lobo, representante do Ex-mo. Sr. Ministro Extraordinário pa-ra Execução do Programa Nacional de Desburocratização; Ministros aposentados Moreira Rabello, He-noch Reis, Esdras Gueiros, Oscar Corrêa Pina e Paulo Távora, do Tri-bunal Federal de Recursos; Dl'. Maurício Corrêa, Presidente do Con-selho da Ordem dos Advogados do Brasil, Seção do Distrito Federal; Coronel Moacir Coelho, Diretor-Geral do Departamento de Polícia Federal; Drs. Gildo Corrêa Ferraz, Francisco de Assis Toledo e A. Va-lim Teixeira, Subprocuradores-Gerais da República; Dl'. Luiz Rodri-gues, representante do Sr. Diretor-Geral do Departamento Administra-tivo do Serviço Público; Desembar-gador Raimundo Ferreira de Mace-do; Deputados Federais José Penedo e Jorge Viana, Dl'. Waldir Pires; Drs. Gustavo Teixeira Lages, Fer-nando Américo Veiga Damasceno, Carlos Figueireclo Salazar, Raul Mo-reira Pinto, Bras Henrique de Olivei-ra, Geralda Pedrosa, Sebastião He-nato de Paiva e José Luciano de Castilho Pereira, Juízes do Traba-lho; Dl'. Wilson Egipto Coelho, Con-sultor Jurídico do Banco Central do Brasil, Dl'. Roberto Battendieri, re-presentante do Governo do Estado de São Paulo; Dr. Julio Cesar de Ro-se, representante do Governo do Es-tado do Rio Grande do Sul, Juízes,

    Advogados, membros do Ministério Público e funcionários da Secretaria do Tribunal.

    Encerrou-se a Sessão às 17h 45min ..

    Tribunal Federal de Recursos, 3 de agosto de 1979 - Ministro José Néri da Silveira. Presidente - Bel. Ronaldo Rios Albo, Secretário.

    POSSE DO SR. MIN. ADHEMAR RAIMUNDO DA SILVA

    Palavras de saudação do Sr. Minis-tro Néri da Silveira, Presidente do Tribunal Federal de Recursos, pela ocasião da posse do Sr. Ministro Adhemar Raimundo da Silva.

    Exmo. Sr. Dl'. Petrônio Portella, DD. Ministro de Estado dos Negó-cios da Justiça e representante de Sua Excelência o Sr. Presidente da República. Exmo. Sr. Dl'. Homero Santos, Primeiro Vice-Presidente da Câmara dos Deputados e represen-tante de S. Exa. o Sr. Presidente da mesma casa do Congresso. Exmo. Sr. Ministro João de Lima Teixeira, DD. Presidente do Tribunal Superior do Trabalho. Exmo. Dl'. Antõnio Carlos Magalhães, DD. Governador do Estado da Bahia. Exmo. Sr. Mi-nistro Pedro Gordilho, do Tribunal Eleitoral e representante de S. Exa., o Sr. Ministro Leitão de Abreu, Pre-sidente daquela egrégia Corte. Ex-mo. Sr. Ministro Ruy de Lima Pes-soa, do Superior Tribunal Militar e representante de S. Exa., o Sr. Gene-ral Reinaldo Melo de Almeida, Ministro-Presidente desse mesmo Tribunal.

    O Sr. Ministro Néri da Silveira (Presidente): Srs. Ministros deste Tribunal, Exmo. Sr. Dl'. Geraldo An-drade Fontelles, mui digno Primeiro Subprocurador-Geral da República, Exmo. Sr. Dl'. Firmino Ferreira Paz, DD. Procurador-Geral da Repú-blica, Exmo. Sr. Professor Clóvis

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    Ramalhete, DD. Consultor-Geral da República, Exmos. Srs. Represen-tantes de S. Exas., o Sr. Vice-Presidente da República e Srs. Mi-nistros de Estado dos Negócios da Marinha, do Exército, da Fazenda, dos Transportes, da Agricultura, da Educação -e Cultura, do Trabalho, da Saúde, da Indústria e Comércio, das Minas e Energias, da Secretaria do Planejamento, do Interior e do Sr. Diretor-Geral do DASP, Exmo. Sr. Ministro Luiz Gallotti, do Tribunal de Contas da União e representante de S. Ex~, o Sr. Ministro-Presidente daquela Corte, Exmo. Sr. Desembar-gador Antônio Carlos Sopo, DD. Vice-Presidente do Tribunal de Jus-tiça da Bahia e representante dessa Colenda Corte; Exmo. Sr. Senador Nelson Carneiro, Exmos. Srs. Minis-tros aposentados deste Tribunal, Ex-mos. Srs. Subprocuradores-Gerais da República, Ex~ Reverendíssima Dom Geraldo D'Avila, DD. Bispo-auxiliar de Brasília e representante de S. Exa. Reverendíssimo, Dom Jo-sé Newton de Almeida Batista, DD. Bispo de Brasília; Sr. Conselheiro Heitor Dias, representante do Minis-tro de Contas da Bahia, Sr. Dr. José Paulo Sepúlveda Pertence, Primeiro Vice-Presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil; Sr. Dr. Maurício José Corrêa, Presi-dente da Seção do Distrito Federal da Ordem dos Advogados do Brasil: Sr. Dr. Thomaz Barcellar da Silva, Presidente da Seção Baiana da Or-dem dos Advogados do Brasil; de-mais autoridades presentes ou repre-sentadas, Srs. Parlamentares, Srs. Juizes Federais, Srs. advogados, Srs. membros do Ministério Público da União e do Distrito Federal e dos Territórios e membros dos Serviços Jurídicos da União, minhas Senhoras e meus Senhores: reúne-se o Tribu-nal Federal de Recursos, em sessão solene e especial, para dar posse a seu novo membro, o ilustre Desem-bargador Adhemar Raymundo da Sil-

    va, do Colendo Tribunal de Justiça da Bahia, representante nomeado por S. Ex~ o Sr. Presidente da Repú-blica, na vaga ocorrida com o faleci-mento do saudoso Ministro Amarílio Aroldo Benjamim da Silva.

    Convido os ilustres Ministros Ar-mando Rollemberg e Márcio Ribeiro para, em comissão, introduzirem no recinto deste Plenário o Sr. Desem-bargador Adhemar Raymundo da Sil-va.

    Convido o Sr. Desembargador Adhemar Raymundo da Silva a ler o termo de compromisso deste Tribu-nal.

    O Sr. Secretário lê o Termo de Posse;

    O Sr. Ministro Adhemar Raymun-do da Silva, Assina o Termo de Pos-se;

    O Sr. Ministro Néri da Silveira (Presidente): Declaro empossado no cargo de Ministro do Tribunal Fede-ral de Recursos o Desembargador Adhemar Raymundo da Silva.

    Convido o Sr. Ministro Adhemar Raymundo da Silva a tomar assento na bancada, ao lado do Sr. Ministro Wilson Gonçalves.

    Para falar em nome do Tribunal, concedo a palavra ao eminente Mi-nistro Peçanha Martins.

    O Sr. Ministro Peçanha Martins: Senhor Presidente, Sr. Representan-te da Cãmara dos Deputados, Sr. Go-vernador da Bahia, Sr. Ministro de Estado da Justiça, demais autorida-des, minhas Senhoras e meus Senho-res. Serão breves as minhas pala-vras nesta sessão especial e solene, brevidade que venho adotando em oportunidades semelhantes, princi-palmente depois que Lara de Resen-de, no seu discurso de posse na Aca-demia Brasileira de Letras, contou que Pedro Calmom, um componente do rol dos consagrados oradores da atualidade, definiu o discurso longo

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    como o pior dos discursos. Serei, portanto, repetirei mais uma vez, breve, conciso, cabendo-me apenas apresentar o novo Ministro e expressar-lhe as nossas boas-vindas, uma incumbência que me foi dada, estou certo, porque, além de contem-porâneo de faculdade - sendo eu um pouco menos jovem - nascemos na mesma cidade, a velha, mas sempre airosa Salvador da Bahia, solidária com seus filhos e sempre impulsio-nadora nos embates da vida pública, bastando um simples passar de olhos neste salão com muitos baianos ilus-tres.

    Governador da Bahia, Presidente do Tribunal de Justiça, Senador, Presidente da Seção Baiana da Or-dem dos Advogados, Consultor Jurídico do Ministério da Justiça, Representante da Universidade Fe-deral e advogado dos mais conspícuos, Adhemar Raymundo da Silva, bacharel de 8 de dezembro de 1937 e Pretor de Santana dos Brejos, sete dias após a formatura, come-çou, faz 42 anos dentro de poucos dias, a sua vida de magistrado que nunca abandonou. Juiz de Direito em 1942, através de concurso em que ob-teve a média nove, quase distinta, portanto, ascendeu a todas as en-trâncias por merecimento, inclusive a 4~, a da Capital, como Juiz da sua 3~ Vara Crime.

    Advogados, partes da sociedade baiana, proclamavam as suas quali-dades de juiz criminal de inteligên-cia e arguto, que conseguia extrair da testemunha, por mais obtusa e relutante, qualquer gota preciosa da verdade. Inclusive o Tribunal de Justiça, que indicou o seu nome por quatro vezes sucessivas, para preen-cher, por merecimento, vaga de de-sembargador, o alto cargo que final-mente conquistou em dezembro de 1965, mas pela porta larga da anti-güidade, tal como disse, alguns anos antes, o emérito Desembargador An-tônio Bensabard, também admitido

    em razão do mesmo direi.to adquiri-do naquela Casa centenária, em cujo Plenário relembro sentados nas suas cátedras: Alvaro Clemente de Olivei-ra, Sálvio Martins, Euvaldo Luz, De-métrio Tourinho e Torílio Benjamin, magistrados Circunspectos, cultos e atenciosos, felizmente repetidos nos gestos e atitudes pelos desembarga-dores da sua atual composição, den-tre outros, apenas apontando alguns: Osvaldo Sentecé, Antônio Carlos Sou-to, Renato Mesquita, Pondécio Sobri-nho e Adolfo Leitão Guerra.

    Estudioso desde os tempos da fa-culdade, de temperamento irrequieto e vibrátil, Adhemar Raymundo da Silva não se satisfez com a sua con-dição exclusiva de magistrado. Pre-tendia subir e subiu pela perseveran-ça no estudo, principalmente do Di-refto Penal e do seu processo. Por is-so mesmo, e ainda como juiz no inte-rior do Estado, se não me engano, da Comarca de Vitória da Conquista, com a tese «O Processo Penal como Relação Jurídica», candidatou-se à docência livre na Faculdade de Di-reito e, plenamente aprovado na competição, passou a substituir o professor catedrático da disciplina. Depois, já como Juiz de Direito da Capital, inscreveu-se candidato à cá-tedra e a conquistou através de rui-doso concurso com a tese «Da Exe-cução Penal». TodoS, lembro-me bem, aplaudiram sua indicação pela banca examinadora de que fizeram parte, além de professores baianos, Frederico Marques, Ari Franco e Xavier de Albuquerque.

    Presentemente, um abalisado mes-tre, faz pouco tempo escolhido pela Editora Revista Forense como um dos comentadores da futura Lei Pro-cessual Penal.

    Caso entendesse relacionar os tra-balhos intelectuais de Adhemar Ray-mundo da Silva, aliás, Adhemar Raymundo, como prefere ser tratado e é conhecido, entraria em choque

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    com a brevidade que antes anunciei deste modesto discurso. Mas não re-sisto no dizer, além das duas teses já apontadas, sobem a mais de três de-zenas os estudos que realizou no campo da sua especialização e no âmbito do Processo Civil, muitos pu-blicados na imprensa, outros em re-vistas juridicas do Pais. E merecem destaque especial: «Estudos de Pro-cesso Penal», obra publicada pela Universidade da Bahia; «Denúncia Inepta»; «Competência Originária» e «Liminar em Processo de Habeas CorpUS», estes últimos elaborados no curso deste ano de 1979.

    Para substituir, pois, o nosso sau-doso e eminente colega Amarilio Benjamim, sobre cuja personalidade me coube a honra de falar pelo Tri-bunal, na sua sessão especial de 11 de outubro, o Governo Federal no-meou outro Juiz baiano, do mesmo porte intelectual do substituído.

    E, feita assim, em termos rápidos, a apresentação, dirijo-me a V. Exa., Sr. Ministro Adhemar Raymundo, para desejar-lhe boas-vindas a esta Casa onde impera entre seus mem-bros a concórdia e a paz. Boas-vindas e votos de felicidade extensi-vos à sua Excelentíssima Senhora cuja fisionomia, desde ontem reparo, revela muita alegria por mais esta vitória de seu marido.

    O Sr. Ministro Néri da Silveira (Presidente): Para falar em nome do Ministério Público, concedo a pa-lavra ao Dr. Geraldo Andrade Fonte-les, Subprocurador-Geral da Repú-blica.

    o Sr. Dr. Geraldo Andrade Fonte-les (Subprocurador-Geral da Repú-blica): Exmo. Sr. Presidente do Egrégio Tribunal Federal de Recur-sos, Exmo. Sr. Ministro da Justiça, Exmo. Sr. Governador da Bahia, Ex-mo. Sr. Procurador-Geral da Repú-blica, Exmo. Sr. Representante da Ordem dos Advogados do Brasil,

    Dignissimas autoridades CIVIS, mili-tares e eclesiásticas, Exmos. Srs. Ministros do Tribunal Federal de Recursos, meus Senhores, minhas Senhoras, Srs. Funcionários.

    Exmo. Sr. Ministro Adhemar Ray-mundo da Silva: ao saudar V. Exa., Sr. Ministro, tenho duplo júbilo por sabê-lo inconsumado mestre do Di-reito Processual Penal, o que me dá o ensejo de, também «en passant», re-verenciar o meu querido, admirado e eminente professor e amigol Hélio Tornaghi, a quem coube, no Brasi), o papel pioneiro da renovação científi-ca desse ramo do Direito, lançadO' na sua excelente obra «A Relação Pro-cessual Penal», livro em que iniciei os meus estudos acadêmicos da ma-téria.

    Igualmente V. Exa., Sr. Ministro Adhemar, se ocupou do tema na tese apresentada para concurso de livre docência da Faculdade de Direito da Universidade da Bahia, intitulando-a «O Processo Penal como Relação Juridica», seguindo, assim, as pega-das dos precursores que vieram preencher a grande lacuna nesta parte da nossa literatura jurídica. O acendrado valor dos estudiosos nes-sa área do Direito coloca as letras juridicas, no particular, em posição de destaque, tão quão assimilam e expõem o conteúdo' aas obras dos grandes processualistas mundiais, como Chiovenda, Carnelutti, Cala-mandrei, Goltinick, Hope, Floriam, para citar os mais festejados entre nós. Divulgando as diretrizes que imprimem a nova sistemática científica do Direito Processual Pe-nal, graças aos esforços à cultura, ao amor ao des.envolvimento científi-co, é que se pOde estruturá-la como disciplina autõnoma, libertando-a das amarras vetustas do Direito Pe-nal, de que fora, no início, simples complemento.

    O incremento do gosto pelo estudo e especulação desse ramo de nossa

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    cultura jurídica deve-se, em grande parte, aos integrantes do magistério e da docência 'dos quais V. Exa. se consagrou arauto de notável impor-tância na Universidade Federal da Bahia. Certamente V. Exa. tem pre-sentes os dois princípios históricos que se interpenetraram para constitu-ir a sistemática científica do Proces-so Penal, vale dizer, das concepções germânicas e os da romana: aquele declarando quem deve prover o meio de prova, deixando ao juiz a missâo de prover a prova e a sentença defi-nitiva, um alcance amplo com vistas à coletividade; enquanto esta adota outro rumo, exigindo que a prova se dirija ao juiz para formar a sua con-vicção, figurando este como inte-grante das partes processuais para, afinal, cumprir a jurisdição tutelada pelo Estado nos limites dos vínculos processuais.

    Esta breve digressão, da qual me excuso perante V. Exa. e o Egrégio Tribunal, teve em mira colimar um objetivo de ordem geral. À seme-lhança de como se procedia na Esco-la Germânica, deveria ser facultado ao Poder JUdiciário sugerir aos ou-tros Poderes da Nação o que devem e por que meios fazer a coleta da ex-periência de seus misteres, a fim de bem equacionar as soluções dos in-gentes problemas que afligem o Bra-sil. Eles repousam preponderante-mente no homem, no seu comporta-mento perante a sociedade e o Esta-do e, como na Escola Romana, de-monstram a relevância de seu enga-jamento como parte integrante do processo governamental, face à in-conformidade revelada nas lides fo-renses que dizem seja a melhor captação de causas e efeitos que po-dem modificar a fisionomia do status social, indicando a normativi-dade mais adequada para preservar a paz e a segurança.

    O descaso nacional que alheia o Poder Judiciário da participação nas soluções étnicas e sociológicas dos

    mais graves problemas brasileiros é a prova de nossa inconsciência na emergência de país subdesenvolvido ao processo tumultuário de sua as-censão ao país em desenvolvimento. Esta relegação se projeta no comple-xo da mecânica do judiciário, Poder autônomo e independente, apenas constitucionalmente inscrito, porque as suas carências e deficiências não podem ser independentemente por ele resolvidas, senão que sujeitas às manipulações orçamentárias e às disciplinações de órgãos do Executi-vo, nem sempre bem assessorados e aparelhados para uma análise de vi-são extensiva de conformidade com a ordem .iurídica.

    O Poder Judiciário no Brasil ainda se mantém de pé, tão-somente pelo amor e ciosidade de seus grandes vultos, tanto do passado, como do presente. O órgão representativo dos Três Poderes junto ao judiciário, no processo de equilíbrio dos direitos e garantias individuais - princípio ba-silar dps fins sociais - dia a dia é empurrado para a burocratização e dependência dos órgãos executivos que não compreendem, ou não que-rem compreender, que o Ministério Público, como órgão institucional, não se pode atrelar à subordinação e à vontade de formulações impró-prias, conflitantes com a ordem juridica. No entanto, não é desazado proclamar-se, no momento histórico que atravessamos, que a -Justiça sempre foi, é e será o símbolo e o templo da perpetuidade de todos os valores sociológicos, inclusive da li-berdade que é posta, diuturnamente, ao consenso do Judtciârio. Vemos, assim, em última analise, que a con-cepção estadista, considerando-a apenas no tomo das preciosidades tradicionais, esquece-se de que o enorme fluxo dos desequilíbrios sócio-econômicos é despej ado em vo-lumes tempestuosos, no seu bojo, re-sultando, em conseqüência do poder jurisdicional assegurado na Carta

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    Magna, a transferência de responsa-bilidade e obrigações enormíssimas para o futuro.

    Impõe-se, data venia, a nosso' ver, um amadurecimento desta concep-ção teimosa em não atualizar as suas criatividades normativas com a jurisprudencial que é, também, fonte do direito e, necessariamente, deve atuar como a vontade do Estado. De que vale a preeminência dos valores utilitaristas se, posta na balança do equilíbrio entre os desajustes econô-micos e sociais, há de prevalecer um dia, cedo ou tarde, a unidade huma-na no contexto do problema social?

    Por isso, compenetro-me de ser es-te um momento de profunda reflexão a despedida de um varão da Justi-ça, nobre e altivo, do quilate de Amarílio Benj amin, e a ascendência de seu sucessor. V. Exa., Sr. Minis-tro Adhemar, por certo, responderá com altanaria' as esperanças que to-dos lhe depositam.

    Finalmente, vou encerrar com uma lembrança de leituras antigas, absorvidas de uma das crônicas de Humberto de Campos, intitulada «A dádiva de Licurgo», onde o autor diz, como ora o faço, declarando o meu pesar: só lhe trouxe essas flores, Sr. Ministro, para sua vitoriosa carrei-ra. É que a Licurgo perguntaram um dia, porque só oferecia pequenos sacrifícios aos deuses. - E respon-deu, para que não me acabe a provi-são e me reste sempre, em toda a minha vida, alguma coisa que lhes dê. Eis por que me justifico com o temor de não possuir, amanhã, ou-tras flores do jardim de Licurgo pa-ra enfeitar a consagração de seu porvir e deste Egrégio Tribunal.

    o Sr. Ministro José Néri da Silveira (Presidente): Para falar em nome do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil e da Seção do Distrito Federal da mesma enti-dade, concedo a palavra ao Dr. José Paulo Sepúlveda Pertence.

    o Sr. Dr. José Paulo Sepúlveda Pertence (Advogado): Exmo. Sr. Presidente e eminentes Ministros do Colendo Tribunal Federal de Recur-sos, Exmo. Sr. Ministro da Justiça e representante do Senhor Presidente da República, Exmo. Sr. Vice-Presidente e representante da Câ-mara dos Deputados, Exmo. Sr. Go-vernador da Bahia, eminentes Minis-tros representantes do Tribunal Su-perior Eleitoral, do Tribunal Supe-rior do Trabalho e do Superior Tri-bunal Militar;' Exmo. Sr. Dr. Subprocurador-Geral da República, eminentes autoridades, Sr. Ministro Adhemar Raymundo da Silva:

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    grande parte dos seus trabalhos se tenha confinado, antes e depois da coletânea, às páginas inacessíveis de um jornal da Bahia, em sinal mani-festo de uma modéstia inexplicável. Valeu a pena, porém, o esforço da descoberta, na Revista Forense, de uns poucos estudos seus: «Pressupos-tos Processuais», «Sentença de Pro-núncia», «Atos Processuais Penais», «Execução Penal» e «A Teoria da Relaçâo Processual - Vantagens e Aspectos Práticos», todos eles, mor-mente quando se atenta à época de sua publicaçâo, de 1954 a 1958, per-mitem verificar, embora lamentan-do que se trate de simples amostra, que V. Exa. se situa, por esses tra-balhos, como por suas teses na mes-ma época em que situaram Tornag-hi, Frederico Marques, Xavier de Al-buquerque e uns poucos mais, entre os que deram dignidade científica e visão sistemática ao trato entre nós do direito processual Penal, elevando-o da mediocridade praxísti-ca em que vegetava.

    Dos seus atributos morais, de suas qualidades pessoais de magistrado e professor, dão os testemunhos mais que suficientes a recordaçâo ouvida de ex-alunos seus e o respeito e a amizade que lhe dedicam os advoga-dos da Bahia, bem traduzidos no em-penho posto pela delegaçâo baiana, na presença do Conselho Federal da Ordem, nesta solenidade. Confiantes nessas qualificações do seu passado, nós, advogados, queremos depositar nas mãos honradas de V. Exa., como nas de seus eminentes pares, o pe-nhor de nossa esperança em que es-se Tribunal responderá vitoriosa-mente ao desafio que os reclames da sociedade civil lançam, hoje, ao Po-der Judiciário brasileiro.

    No caminho do estabelecimento de um Estado de direito democrático, a inspiração nacional de que a Ordem se tem feito intérprete e a História próxima do Brasil hão de passar ne-

    cessariamente pela afirmação do Ju-diciário. Por isso, chamada ao diálo-go com o Poder, a entidade dos ad-vogados colocou a restauração das garantias da magistratura junta-mente com o restabelecimento da plenitude do habeas corpus como os passos iniciais, pré-requisitos míni-mos de confiabilidade no proclama-do intento de legitimação do regime e de seu reencontro com a Nação. As garantias estão formalmente revigo-radas. Outras metas parciais foram alcançadas, mas o sistema, intrinse-camente autoritário, continuará a reputá-las meras concessões conjun-turais, enquanto a resistência da so-ciedade civil e a prática das institui-ções democráticas da constituição formal não as afirmarem como liber-dades definitivamente conquistadas. P ara isso é desnecessário insistir no papel insubstituível de uma magis-tratura que se conscientize como po-der legitimado pela Nação, como instrumento de proscrição do arbitriõ. Mas o desafio que o mo-mento histórico impõe aos juízes não é apenas o da reafirmação cotidiana da independência do Poder JUdiciá-rio entre os órgãos do Estado. O crescimento do País, somado, no que diz respeito, em particular, a esta Casa, à onipresença da Administra-ção Pública na vida social e à abso-luta predominância da União deram tons de dramática urgência ao velho reclamo pela modernização eficiente da distribuição da Justiça.

    As sucessivas frustações dos en-saios de reforma vêm tornando ilu-sória a independência formal do Po-der Judiciário. Inibida pela deficiên-cia crônica de sua estrutura e de seus instrumentos, incapaz de aten-der com eficácia à demanda que lhe é endereçada, a magistratura vê-se demitida do seu papel institucional, e, com essa demissão, expande-se a descrença na aspiração de soluções conformes ao Direito para os confli-

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    tos sociais e, de modo singular, para os que opõe o cidadão ao arbítrio dos poderosos do Estado.

    Para os que lidam neste Tribunal, o testemunho do esforço desumano a que se entregam diuturnamente os seus juízes, é a prova maior de que o desafio não será vencido sem solu-ções radicais. Na sua busca con-fiam os advogadosl em que V. Exa., Sr. Ministro Adhemar Raymundo da Silva, há de contribuir com o saber e a esperança que o alçaram à digni-dade desta Corte.

    o Dr. Thomaz Bacellar da Silva (Presidente da Ordem dos Advoga-dos do Brasil, Seção do Estado da Bahia): Exmo. Sr. Ministro-Presidente deste Tribunal; Exmo. Sr. Ministro da Justiça, mui digno representante do Exmo. Sr. Presi-dente da RepÚblica; Exmo. Sr. Re-presentante da Câmàra Federal, eminente Governador Ântônio Carlos Magalhães; Sr. Ministro Rui de Li-ma Pessoa, representante do Tribu-nal Superior Militar; Sr. Ministro João de Lima Teixeira, representan-te do Tribunal S4perior do Trabalho; Sr. Ministro Pedro Gordilho, repre-sentante do Trib'unal Superior Eleito-ral; demais autoridades aqui presen-tes ou representadas, Srs. Ministros deste Tribunal, Sr. Vice-Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Sr. Presidente da Seção local da mesma entidade, Srs. Deputados, Srs. representantes do Ministério Público, Srs. Advogados, Sr. Minis-tro Adhemar Raymundo da Silva.

    Para quem acompanha há mais de duas décadas a laboriosa existência do recém-empossado Ministro, é fá-cil e grata a missão de saudá-lo, de traçar-lhe o perfil, ou de fazer-lhe a síntese da sua vida, sobretudo se quem assim o faz, ou tenta fazê-lo, é um antigo aluno que dele recebeu, diretamente, lições nos bancos aca-dêmicos e depois - na militância

    advocatícia junto à barra dos Tribu-nais, onde atuou - houve melhor reconhecê-lo e testemunhar reações da sua nobre consciência jurídica e do seu indefectível espirito de Justi-ça. E compreensível, assim, que seu discípulo e admirador, ao lhe render as homenagens, em nome da Ordem dos Advogados da Bahia, que, coinci-dente preside, esteja neste momento com enorme carga de afetividade, com sentimentos imperativos de afe-to.

    Costumam, nestas horas emocio-nais, desfilar dadivosos encômios à figura do homenageado que, porém, não necessita, para realçar suas qualidades, de adjetivação roçagan-te. Poderia recatalogar os múltiplos predicados que adornam sua vida; teria motivos, particularmente até, para fazê-lo. Não saberia, nem pode-ria, contudo, melhorar os que aqui foram projetados com admirável maestria. Impossivel seria, entretan-to, furtar-me de mencionar alguns aspectos, entre muitos, que mar-caram, positivamente sua trajetória na Universidade e na Magistratura. Na atividade pública, desenvolvida na Bahia - seja atuando jurisdicio-nalmente, seja no mister docente -deu mostras incompulsas e sobejas de méritos irrecusáveis que galvani-zaram o reconhecimento e admira-ção geral.

    N as árduas tarefas do Magistério, notabilizou-se pelo potencial de seus recursos pessoais, pela metodologia docente, com ínvejáveis dotes de precisão e de clareza expOSitiva ao transmitir os conhecimentos teóricos e de natureza vivencial. Pertence à classe daqueles que comunicam, aos que se amestram na aprendizagem, a sua própria fé, distribuindo parte de sua riqueza amiúnica. Converteu-se, por ísso mesmo, não em um me-ro e rotineiro expositor de uma disci-plina jurídica, mas num autêntico guia da juventude universitária baia-na.

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    Numa época em que não andavam muito em voga os estudos proces-suais penais na Bahia, soube de-monstrar que não era um simples hóspede nos assuntos penais e impri-miu orientação segura e de singular relevo no ensinamento da disciplina. Iniciou o acervo bibliográfico na Fa-culdade de Direito da Universidade Federal da Bahia, onde mais tarde conquistou brilhantemente a Cáte-dra, com aplaudido estudo sobre a relação processual penal, a que se seguiram teses e monografias den-sas enfocando temas de interesse jurídico, mormente nas áreas da execução penal, revisão criminal, nulidades e questões de prejudiciais entre outras.

    E de se louvar, em toda sua repro-dução jurídica, não só o brilho com fulgores próprios, como o esmero ela-borativo, o estilo didático, o conteú-do científico e as premissas filosófico-epistemológicas estabeleci-das.

    Atuando em outro hemisfério - no da função jurisdicional - sua forma-ção cultural não sofreu alteração e se entremostrou um magistrado que tem a intuição da justiça. Levou seus conhecimentos teoréticos à prá-tica judicial sem descolorir a lingua-gem e o tom que mantivera na cáte-dra. A condição de professor, de mentor pedagógico, longe de defor-mar o magistrado, o completa e o aprimora.

    o Sr. Dr. Thomaz Bacellar da Sil-va (Presidente da Ordem dos Advo-gados do Brasil) - A vida real, de ri-queza mais palpável, colocou o ho-mem de estudo em íntimo contato com os mais variados problemas juridicos que escapam, ordinaria-mente, aos teóricos, no silencioso tra-balho dos gabinetes. O direito é, por natureza, uma ciência de aplicação e o obreiro incansável da sublime mis-são de distribuir justiça, de assegu-

    rar a ordem e de manter a paz. Dei-xou, na vida cotidiana, escriturado em autos de processos, em repositó-rios de jurisprudência, nos anais de Forenses e na memória dos assisten-tes, sínteses acabadas de altas virtu-des profissionais. Por via dos seus julgados, vê-se quantas coisas dizem as leis quando se sabe interpretá-las. Não lhe minguaram, também, dotes de polemista, não obstante procurar movimentá-los com aquele cuidado de que falava Juan Luiz Vivus, isto é, com igual cuidado de quem corta as unhas todos os domingos.

    Embora apto a bem ouvir e, conse-qüentemente, a compreender, este jurista de alma limpa é dono de um temperamentó vivaz e impetuoso. Este seu caráter aguerrido e de in-contida franqueza não subverteu, po-rém, nele o espírito escrupuloso, im-parCial, discreto e sereno de verda-deiro magistrado. Habilitou-se aos golpes e aos contragolpes da dialéti-ca advocatícia. É possuidor de tem-peramento ardoroso, de vocação pa-ra a trincheira, de amor ao debate, mostrou desde cedo sua identidade com a classe dos advogados.

    Dele também se pode dizer que, através de seus livros e votos na ju-dicatura, se reconhece alguém que deveria formar conosco - ao lado dos advogados - porque sua voca-ção é muito menos para dizer o di-reito, sentado na coroa do juiz, do que para postulá-lo, de pé, diante dos Tribunais. E, na verdade, nunca pqj-de conter, nunca deixou de ser, de certa forma, um advogado, mesmo no Tribunal. No fogo cruzado dos ar-gumentos e dos contra-argumentos, no entrechoque dos pensamentos di-vergentes, do saber de experiência feito, é que pode surgir o conceito e-xato ou a hipótese feliz, como salta a fagulha no atrito do fuzil com a pe-derneira. Quando se convence do di-reito de um pleiteante, faz-se seu pa-trono sem mandato. A causa fica

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    sendo sua, e, quando não prevalece seu ponto de vista, nota-se que fica a impressão de um insucesso profissio-nal.

    Eminente Ministro Adhemar Ray-mundo da Silva: queremos lhe dizer que festejamos, que incentivamos a exaltação de advogado que carrega dentro de si e que há de trazer para este Tribunal. Advocacia não se ci-menta apenas na lucidez do gênio, mas também na retidão do caráter. Tais qualidades podem existir no juiz e no advogado, por isso que não constituem essências inconciliáveis. São manifestações estas trazidas pa-ra esta Casa por parte de quem as-sistiu sua passagem pela magistra-tura baiana na primeira e na segun-da instãncias, notadamente na Cã-mara Criminal. E pode, por isso mesmo, levantar a voz em louvor da sua carreira, da sua alta competên-cia e do seu elevado padrão de mo-ralidade. E certo que o recrutamen-to de juizes tem, por vezes, dado margem a in quietudes e insatisfa-ções. Observações críticas surgem enderaçadas ao sistema adotado nes-te e em outros países, por derivar a nomeação do Poder Executivo. Diz-se mesmo que, sendo o poder político o que faz a nomeação, pode advir certa confusão entre a política e a Justiça. Confusão que se acentua quando se admite que não faltam ca-sos em que os homens passam por certos elevadores sociais (la política ao Tribunal e do Tribunal à política.

    Com V. Exa., entretanto, razão não há para temores. Bem ao con-trário, a instituição judiciária só po-de estar engrandecida e a certeza de que V. Exa. continuará observando certos rigores que emanam da es-sência da própria função jurisdicio-nal, permite-nos encerrar esta home-nagem, que lhe prestam, por nosso intermédio, os advogados da Bahia, com a advertência velha e um tanto esquecida, saída da pena de Balzac:

    «Desconfiar da magistratura é um princípio de dissolução social. Re-construí a instituição noutras bases, pedi-lhe imensas garantias, mas con-fiai nela».

    O Sr. Ministro Adhemar Raymun-do da Silva: Exmo. Sr. Ministro José Néri da Silveira, DD. Presidente desta Alta Corte de Justiça; Exmo. Sr. Ministro da Justiça, meu precla-ro e eminente amigo, Antônio Carlos Magalhães, cuja presença me enche de muita satisfação nesta hora; ilus-tres Juízes dos Tribunais Superiores que fazem parte desta Mesa; meu preclaro e eminente amigo, desem-bargador Antônio Carlos Souto que representa o Tribunal de Justiça da Bahia onde, durante 14 anos, militei como desembargador; autoridades; meus Senhores; ilustrés Pares, tam-bém serei breve:

    Tivera a grata notícia de que a so-lenidade de posse nesta Casa era simples, sem discursos, e alegre fi-cara com esta grata notícia. Mas, lo-go depois, fui advertido de que o eminente Ministro Peçanha Martins me saudaria, e outras saudações se ouviriam. Palavras generosas, inclu-sive as de Thomaz Bacellar, meu ex-aluno da Faculdade de Direito. E, ao escrever o meu breve discurso, tive em mente, Senhores, dois assuntos que considero palpitantes no momen-to presente, dois assuntos que repre-sentam, sem sombra de dúvidas, um só pensamento, porque eles conver-gem para um estuário comum, a grandeza da função do Juiz, o Juiz na formulação judicial do direito, na frase admirável de Tobenha, e o grande papel do juiz na administra-ção da justiça. Esses dois assuntos, em síntese, serão desdobrados em rápidas e singelas palavras, que re-solvi escrever para ser mais fiel ao meu pensamento (lê): Ao perpassar o olhar por entre os presentes, diviso os meus conterrãneos que, nesta ro-maria do coração - para lembrar o

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    velho Rui - aqui comparecem para, destes cimos, contemplar nos longes do horizonte as figuras estelares da-queles que, em outras peregrinações festivas, elevaram bem alto o nome da Bahia. Rememoro, nesta hora, vi-vos e mortos que, no Pretório Excel-so e nos Tribunais Superiores, com serenidade e grandeza, são e foram os semeadores da Justiça.

    Com a palavra e o exemplo, o juiz se incorpora aos supremos artífices da fecundação divina do universo: o professor, o sacerdote e o lavrador. Na palavra genial de Rui: «ao sacer-dote, cuja fronte se verga para o cá-lice consagrado; ao professor que es-palha o grão de verdade para o sulco que ficou aberto nas consciências no-vas; ao lavrador, cuja fronte se do-bra sobre a terra» - todos sacerdo-tes do Senhor - há de se agregar, de certo, a esses supremos ministérios e do juiz, cuja missão o aproxima da divindade, no dizer do grande pensa-dor.

    Pedro Santos e Eduardo SpÍndola, dentre os mortos, consagrados pelo respeito e pela veneração dos póste-ros dos longes de sua existência fe-cun'da, vertem ainda às fulgurantes missões de um consagrado sacerdó-cio. Aliomar Baleeiro também dei-xou no Supremo as marcas de sua alucinante inteligência, aliada à co-ragem de dizer. Aqui, nesta augusta Casa, rememorar Amarílio é ato de Justiça: espírito ático, que por mais de dez anos espargiu as luzes do seu saber e da sua experiêncía. A mínha sincera homenagem a quem tenho a honra de substituir nesta Corte de Justiça.

    Dentre os vivos, aqui ainda moreja a figura fidalga e brilhante de Peça-nha Martins, velho companheiro do Fórum Rui Barbosa, nos idos de cin-qüenta, a quem sempre me ligaram estreitos laços de estima e elevado apreço.

    o juiz, na formulação judicial do Direito: Se a ordem jurídica é o con-junto de normas e princípios que dis-ciplinam a vida comunitária, à qual se incorpora necessariamente a fun-ção de dizer do Direito, conclui-se que ela é a afirmação de um sistema de proteção.

    Lógica a assertiva de que a contri-buição dos juízes na formação do Di-reito é incontestável. E uma dessas coisas estranhas que a História do Direito registra, qual o fato de terem as decisões jurisdicionais - que no Direito Romano se incorporaram às fontes do Direito - se desvinculado sem razão de direito do ordenamento jurídico, como uma das suas verten-tes. A partir da ascensão do Positi-vismo, criou-se a falsa idéia de que o ordenamento jurídico se esgota na norma abstrata e genérica da lei.

    De outro lado, não aplaudo a idéia de que a jurisprudência seja a única fonte de Direito. Estranhável, pois, a deSfiguração desse extraordinário elemento de formulação do Direito que teve em Roma, com os honorá-rios, o seu verdadeiro fastígio. Antes mesmo da concepção dos romanos, foi o sistema da formulação judicial do Direito que emprestou às soluções dos litígios sentido profundamente humano, mercê da eqüidade, a qual - como disse Tobéias - nas primiti-vas sociedades, era a única forma da atuação do Direito.

    Não foi sem razão que Aristóteles dissera que o juiz é a Justiça viva, ou seja, o órgão que resume em si o espírito do Direito vigente e o ex-pressa em novas formulações.

    O pretor romano, através do uso do honorário, criou o Direito, opulen-tando, com as suas sábias e oportu-nas fórmulas, no eSforço constante do superar o jus scriptum para que triunfasse a eqüidade sobre as con-cepções formalistas do Direito. O si-lêncio da lei era suprido e o excessi-vo rigor do Direito era temperado

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    pelO jus edicendi dos magistrados. O Direito inglês, que recebeu a influên-cia decisiva do Direito Romano, tem no fundo similitude com este, de tal forma que 'Bodenerrain - registra em ambos ÓS sistemas júrídicos as normas rígidas e formais que foram grandemente atenuadas mediante um sistema de jurisprudência miti-gada. Entre o Direito imobilizado no texto e o Direito atuante há uma di-ferença abissal.

    Não foi sem razão que Ihering afirmou que o trabalho do Juiz é conciliação do Direito com as dili-gências da vida, como concebe-ram os romanos, servindo-se da Interpretatio, como a ponte entre o Direito escrito e a eqüidade.

    As sentenças e os arestos consti-tuem um aspecto da realidade jurídi-ca, tanto que Cóssio afirma que elas, - como normas individualizadoras que são - constituem as únicas que refletem de forma direta e imediata essa realidade. Elas se incorporam ao ordenamento jurídico, como ex-pressão prática e dinâmica do Direi-to que existe mercê da sua força, como expressão de atividade estatal necessária à manutenção e atuação daquele, vale dizer, do ordenamento jurídico.

    Quer sej am denominadas normas individuadoras, quer sejam normas judiciárias, não se pode negar o seu papel valioso na prOdução do Direi-to, porque desta partiCipa o Juiz quando valora a conduta humana na sua interferência intersubjetiva, pa-ra usar a expressão cossiana. E que, defendendo o ordenamento jurídico, está o Juiz não só tutelando o Direito objetivo, mas todas as pOSições sub-jetivas que nascem do jus scriptum.

    Deparius sentenciou: «A lei não é a única fonte de Direito». Uma lei che-ga sempre tarde, intervém quando as circunstâncias o exigem e quando os costumes o' impõem. O costume, a

    jurisprudência e a eqüidade são as verdadeiras fontes do Direito. Ade-mais, posto o problema sob o ângulo do mecanismo da atividade cognosci-tiva do Juiz, maiores subsídios va-mos encontrar para a defesa do pon-to de vista exposto. E que muito con-tribuiu para o falso entendimento da não partiCipação da jurisprudência na formação do Direito, a superada concepção de que a operação que o Juiz realiza - quandO decide - obe-dece exclusivamente a um juízo lógi-co, silogístico, sem acrescentar nada - como disse Vasquez - à declara-ção da vontade da lei, abstratamente formulada; ou como ensinou Montes-quieu, ao proclamar que é o Juiz um instrumento mecânico a serviço da lei.

    A decisão judicial é como procla-mar um ato de opção, porque na for-mação do seu convencimento terá o Juiz de escolher uma dentre as teses expostas, ou ainda aquela que não foi objeto de apreCiação pelas par-tes. Mas, necessário se torna que o seu convencimento assente no munto dos fatos, porque o objeto do seu co-nhecimento não é o Direito em tese, mas o Direito em causa, isto é, o fa-to individuado.

    Exatissima a observação de De Luca - já anteriormente entrevista entre nós por João Mendes - quan-do assinala, com propriedade, que se verifica nos dias presentes fenômeno inverso ao do passado: ao interesse pela estrutura silogística do ra-ciocínio do Juiz, sobreleva o entendi-mento contempQrâneo de que a sua atividade cognoscitiva tem as suas implicações como o mundo da expe-riência. O ato jurisdicional é o mo-mento culminante de todo o ciclo de prOdução do Direito e de toda a pro-blemática da certeza do processo, porque através dessa operação é que o Direito perde o seu resíduo de abs-tração e penetra no mundo prático dos fatos, na observação de Caiane.

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    Certeza e verdade fundem-se numa síntese que é o ato jurisdicional, apesar de o conhecimento do julga-dor ter caráter contigente, já que é assentado na realidade que lhe é ofe-recida pelas provas feitas no proces-so, razão por que o ordenamento jurídico criou a rescisória e a revi-são criminal - remédios que justifi-cam e comprovam o fatal limite da relatividade própria da natureza humana.

    Destarte, não se poderá negar o papel do Juiz, o qual, no dizer de Sa-ta, realiza uma contínua e imediata criação. Dele irradia a luz bendita a espelhar a santidade dos justos, luz que é inextinguível, porque vive na imensidade do existir, dando-lhe as fUlgurações do belo e a grandeza da imortalidade. Dele insurge a Justiça que acalenta o regime, sobrepairan-do eternamente a todas as coisas, porque ela - Justiça - é a grande esperança, o suave abrigo.

    Já dizia São Paulo que boa é a lei onde se executa legitimamente. Na exegese de Rui, boa é a lei quando executada com retidão. A verdade que dimana do ensinamento aposto-lar põe em destaque aquilO que os homens de bom senso apregoam. Por mais aprimorado que seja o or-denamento jurídico sob o ângulo da normatividade, não se alcançarão os verdadeiros desideratos da Justiça, se os seus servidores - os Juízes -não se compenetrarem da grande responsabilidade que o Estado lhes outorga como integrantes de um Po-der.

    Ressoará como estupenda e sobre-humana a tarefa dos Juízes que, na esteira do ensinamento apostolar, colocarem a execução legítima da lei como seu supremo ideal, a sua decidida vocação, porque só assim, mercê da moderação, da inteireza e

    da eqüidade - poderá escoimá-Ia da dureza e da maldade na frase imor-tal de Rui: «As reformas só atingirão os seus verdadeiros objetivos nq campo da administração da Justiça! se os Juízes, s.ob a influência única da altíssima dignidade, demonstra-rem os seus sadios propósitos de executarem legitimamente a lei, un-gidos do espirito da humildade, da bondade e da verdade e forem mere-cedores da estima e da admiração de seus jurisdicionados.

    Por maiores que sejam as atribu- . lações que são constantes na vida ~ dos Juízes, há de neles existir uma vontade férrea de alçar a Justiça ao pináculo da glorificação, traduzida na frase genial de Rui: «Justiça mais alta que a coroa dos reis e Jus-tiça tão pura quanto as coroas dos anjos».

    Muito obrigado».

    o Sr. Ministro Néri da Silveira (Presidente): Ao encerrar esta Ses-sãQ. especial de posse do Sr. Ministro Adhemar R. da Silva e agradecer a presença do Senhor Ministro da Justiça, Dr. Petrõnio Portella, que representa também S. Exa. o Se-nhor Presidente da República e do I? Vice-Presidente da Câmara dos Deputados, Dr. Homero Santos, bem assim, dos senhores 'Presiden-tes dos Tribunais superiores, ou dos seus representantes, por igual mem-bros das respectivas Cortes, e, ain-da, das ilustres autoridades civis, militares e eclesiásticas inicialmente mencionadas, das Senhoras e dos Se-nhores, todos contribuindo para o brilho deste ato, não posso, entretan-to, deixar de fazer particular men-ção à presença da Bahia. J!: que, em realidade, a Bahia hoje aqui está a prestigiar seu filho ilustre que as-cende, após brilhante carreira jurídi-

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    ca, a esta Egrégia Suprema Corte Federal na Capital da República, nas presenças significativas de seu eminente Governador, Dr. Antônio Carlos Magalhães; do culto Desem-bargador Antônio Carlos Souto, Vice-Presidente do Colendo Tribunal de Justiça do Estado e seu representan-te; do Sr. Conselheiro Heitor Dias, do Tribunal de Contas da Bahia; dos ilustres Deputados Estaduais, que nessa solenidade compõem a repre-sentação da Assembléia Legislativa baiana, Deputados Murilo Cavalcan-ti, Naomar Alcãntara, Geraldo Ra-mos, Gorgônio Neto e Marco Antu-nes; de Parlamentares Federais baianos e de seus advogados, ora re-presentados pelo Presidente da Se-ção Baiana da Ordem dos Advoga-dos do Brasil, Dr. Thomaz Bacellar da Silva e pelO Dr. Saul Quadros, Presidente da Caixa de Assistência dos Advogados da Bahia; de seus Juízes F edera'i.s , representados pelo ilustre Dr. José"'Cãndido de Carvalho Filho, e demais eminentes baianos radicados em Brasília, ou que vie-ram, col1).o destacou o eminente Mi-nistro Adhemar Raymundo, numa ro-maria festiva.

    Em nome do Tribunal, agradeço a presença de todos, convidando para o coquetel que será servido nas de-pendências contíguas a este salão.

    ATA DA SESSÃO SOLENE REALI-ZADA EM 08 DE ABRIL DE 1980

    Aos oito dias do mês de abril do ano de mil novecentos e oitenta, às dezesseis horas, na sala de Sessões do Tribunal Federal de Recursos, presentes os Exmos. Srs. Ministros José Néri da Silveira, Presidente do Tribunal, Armando Rollemberg, Moacir Catunda, Peçanha Martins, Jarbas Nobre, Aldir G. Passarinho,

    José Dantas, Lauro Leitão, Carlos Madeira, Gueiros Leite, Washington BOlívar, Torreão Braz, Carlos Mário Velloso, Otto Rocha, Wilson Gonçal-ves, William Patterson, Adhemar Raymundo e Sebastião Reis; presen-tes, ainda, o Exmo. Sr. Dr. Hélio Pi-nheiro da Silva, Subprocurador-Geral da República e o Secretário do Tribunal Pleno, Bel. Jaziel Guima-rães de Britto, foi aberta a Sessão Solene, especialmente convocada pa-ra dar posse ao Doutor Romildo Bue-no de Souza, nomeado para o cargo de Ministro do Tribunal Federal de Recursos, pelo Exmo. Sr. Presidente da República Federativa do Brasil. A mesa integrou-se pelo Sr. Ministro-Presidente e pelos Exmos. Srs. Ministros Xavier de Albuquer-que, Vice-Presidente do Supremo Tribunal Federal e representante do Presidente do Excelso Pretório; De-putado Ibrahim Abi Ackel, Ministro da Justiça; Senador Jorge Kalume, representante do Presidente do Se-nado Federal; Deputado Marcelo Li-nhares, representante do Presidente da Cãmara dos Deputados e Cel. Ai-mê Alcebíades Lamaison, Governa-dor do Distrito Federal. Ao início dos trabalhos o Sr. Ministro-Preside~ proferiu as_ seguintes palavras.:

    Sr. Ministro José Néri da Sil-veira (Presidente): Exmo. Sr. Ministro Xavier de Albuquerque, Vice-Presidente do Supremo Tri-bunal Federal e representante de S. Exa. o Sr. Ministro-Presidente do Alto Tribunal; Exmo. Sr. de-putado Ibrahim Abi-Ackel, ilus-tre Ministro da Justiça; Exmo. Sr. Senador Jorge Kalume, represen-tante de S. Exa. o Sr. Senador Luiz Viana Filho, Presidente do Senado Federal; Exmo. Sr. Deputado Mar-celo Linhares, representante de S. Exa. o Sr. Deputado Flávio Marcílio, Presidente da Cãmara dos Deputa-dos; Exmo. Sr. Cel. Aimê Alcebíades Lamaison, eminente Governador do Distrito Federal; Exmos. Srs. Minis-

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    tros deste Tribunal; Exmo. Sr. Dr. Hélio Pinheiro da Silva, ilustre Subprocurador-Geral da República; Srs. representantes de S. Exas. os Srs. Ministros de Estado; Sr. Procurador-Geral da República; Sr. Diretor-Geral do Departamento de Polícia Federal; Sr. Ministro repre-sentante de S. Exa. o Sr. Presidente do Tribunal Superior Eleitoral Sr. Ministro representante de S. Exa. o Sr. Presidente do Superior Tribunal Militar; Sr. Ministro representante do Colendo Tribunal Regional Eleito-ral, do Distrito Federal; Srs. Minis-tros aposentados deste Tribunal; Srs. Subprocuradores-Gerais da Repúbli-ca; Srs. Desembargadores do Tribu-nal de Justiça do Distrito Federal; Sr. representante de S. Exa. Revma. D. José Newton de Almeida Batista, DD. Arcebispo de Brasília; Srs. Par-lamentares; Srs. Juízes Federais; Srs. Juízes de Direito do Distrito Fe-deral; Srs. Membros do Ministério Público e do Serviço Jurídico da União e do Distrito Federal; Srs. Ad-vogados; Senhoras e Senhores.

    Destina-se esta sessão especial e solene do Tribunal Federal de Re-cursos a dar posse ao ilustre Juiz de Direito do Distrito Federal e Profes-sor da Universidade de Brasília, Dr. Romildo Bueno de Souza, recente-mente nomeado por Sua Excelência o Senhor Presidente da República, com aprovação do Senado Federal, para o cargo de Ministro deste Tri-bunal, vago em decorrência da apo-sentadoria, por implemento de ida-de, do ilustre Ministro Márcio Ribei-ro.

    Sua Excelência encontra-se pre-sente. Convido os eminentes Minis-tros Jarbas Nobre, Vice-Presidente da Corte, e Armando Rollemberg, para introduzirem, neste recinto, o ilustre empossando.

    A seguir, prestado o compromisso regimental e lido o Termo de Posse pelo Secretário do Tribunal Pleno, o

    qual foi assinado pelo Exmo. Sr. Ministro-Presidente, pelo Dr. Romil-do Bueno de Souza e pelO Dr. Secre-tário, o Exmo. Sr. Ministro-Presidente declarou empossado o Exmo. Sr. Ministro Romildo Bueno de Souza, convidando-o a tomar as-sento na Bancada do Tribunal Pleno, ao lado do Exmo. Sr. Ministro Wil-liam Patterson. A seguir, o Exmo. Sr. Ministro-Presidente concedeu a palavra ao Exmo. Sr. Ministro Jar-bas Nobre, para saudar o Exmo. Sr. Ministro Romildo Bueno de Souza em nome do Tribunal.

    o Exmo. Sr. Ministro Jarbas Nobre: Sr. Ministro José Néri da Sil-veira, Presidente do Tribunal Fede-ral de Recursos, Sr. Ministro Xavier de Albuquerque, Vice-Presidente do Supremo Tribunal Federal, repre-sentando a Presidência, Sr. Ministro da Justiça, demais autoridades, mi-nhas Senhoras e meus Senhores: É com grande alegria que cumpro com o encargo de, em nome deste Tribu-nal, recepcionar o nosso novo colega, o Ministro Romildo Bueno de Souza que ora se empossa.

    A designação que recebi do nosso Presidente, Ministro José Néri da Silveira, se deve ao fato de eu ter vindo de São Paulo, terra de nosso homenageado, e lá termos cursado a mesma Escola, a velha e querida Faculdade de Direito do Largo de São Francisco que, em certas oportu-nidades, foi também Convento. Quar-tel e Asilo.

    Convento, porque suas famos

    Nos primeiros tempos, a Escola e o Convento constituiam um só todo, pois que estudantes e frades convi-viam juntos, debaixo do mesmo teto.

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    o tempo não conseguiu destruir es-se espírito de união. A FaCUldade e o Mosteiro ainda hoje continuam como nasceram. Ambos franciscanos, em-balados pelos mesmos propósitos de brasilidade, de heroísmo e de inaba-lável fé nos destinos da Pátria.

    E porque isto é exato, a Escola que foi Convento em sua origem, em determinado período tornou-se quar-tel e asilo, como assinalado.

    Quartel em 1932, quando a juventu-de que lá estudava, cansada de rece-ber afrontas por parte da situação política então dominante, com a bên-ção dos monges, guardou os Códigos e, de arma em punho, foi às ruas pa-ra morrer.

    A epopéia mereceu estes belos ver-sos que lá estão gravados junto às Arcadas. a eternizar o gesto heróico:

    «Quando se sente bater No peito heróico pancada Deixa-se a folha dobrada Enquanto se vai morrer».

    Foi Asilo quando, perdida a luta armada, os jovens, inconformados com o Estado Novo, mantinham ati-tude hostil aos dominantes de então, e eram perseguidos.

    Em sua fuga, recorriam à Escola que,continuamente desrespeitada, passou a ser substituída pelo Coven-to.

    Conta-se que certa feita isto viria a acontecer com Roberto Abreu So-dré que, anos depois, seria Governa-dor do Estado.

    Refugiado no Mosteiro e sem dele poder sair porque os perseguidores estavam às suas portas, à aguarda de sua saída, outro caminhp não foi encontrado senão vestir o ,colega de frade que, desse modo disfarç~do, conseguiu ultrapassar as barreIras que impediam a sua fuga.

    Em torno desse fato conta-se mais: Que outro colega, também visado,

    teria se homiziado no Mosteiro e, igualmente, ganhO hábito de frade.

    Não tendo tido a mesma oportuni-dade de fugir, e notando a presença ameaçadora de beleguins no interior do Templo, para melhor aproveitar o seu disfarce de frade, resolveu sentar-se em um confessionário em atitude piedosa, como lhe competia.

    Eis que, para embaraço e cons-trangimento do falso religioso, um penitente dele se acercou e ajoelhando-se a seus pés, implorou-lhe perdão pelos seus pecados.

    A Faculdade do Ministro Romildo Bueno de Souza abriga muito da his-tória de São Paulo, pois que é parte integrante dela.

    Está ela localizada em um Largo, o Largo de São Francisco, que em dado momento perdeu essa denomi-nação para ganhar esta outra: terri-tório livre.

    Nele, na década de 40, teve desta-que um homem chamado Hermene-gildo, guarda de trânsito que lá ser-via, muito ligado aos estudantes e de tal sorte, que até em quadros de for-matura figurou.

    Esse homem ganhou o título de In-terventor e como que perdeu o seu próprio nome.

    Num 10 de novembro, num entre-vero com a Polícia, no território li-vre, foi ferido e virou herói.

    Isto é um pouco de São Paulo e do meu tempo de estudante.

    Romildo Bueno de Souza é de ou-tra geração, pois que saiu da Escola em 1953, onze anos depois de mim.

    Isto entretanto, não impede que traga' enraizado consigo., o mesmo espírito que domina a juventude pau-lista e daqueles que um dia foram moços acadêmicos de São Paulo.

    O Tribunal Federal de Recursos recebe em festa o novo Colega na certeza de que aqui, entre nós, pros-seguirá na sua trajetória vitoriosa de Magistrado iniciada em 1966, au-mentando a bagagem intelectual e

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    científica acumulada nos onze anos em que exerceu a advocacia e o Mi-nistério Público em São Paulo e em Brasília, sem esquecer o longo perío-do em que professa o Magistério, in-clusive o Superior.

    Ministro Romildo Bueno de Souza, seja benvindo.

    Em seguida, o Exmo. Sr. Ministro-Presidente concedeu a palavra ao Exmo. Sr. Dr. Hélio Pinheiro da Sil-va, Subprocurador-Geral da Repúbli-ca, para saudar o Exmo. Sr. Minis-tro Romildo Bueno de Souza em no-me do Ministério Público Federal.

    o Exm,o. Sr. Dr. Hélio Pinheiro da Silva, Subprocurador-Geral da Repú-blica: Exmo. Sr. Ministro José Néri da Silveira, DD. Presidente desta Casa; Exmo. Sr. Ministro Xavier de Albuquerque, Vice-Presidente do Su-premo Tribunal Federal; Exmo. Sr. Deputado Federal Ibrahim Abi-Ackel, DD. Ministro de Estado da Justiça; Exmo. Sr. Aimé Alcebíades Lamaison, ilustre Governador do Distrito Federal; Autoridades pre-sentes; Magistrados; Membros do Ministério Público Federal; Juízes; Senhores e Senhoras:

    Recebí, Sr. Ministro Romildo Bue-no de Souza, com imensa satisfação, a sumamente honrosa incumbência de recepcioná-Io em nome do Minis-tério Público Federal, nesta soleni-dade, quando V. Exa. passa a inte-grar este Egrégio Tribunal, como um dos seus eminentes membros, distinguido que vem de ser, por no-meção do Sr. Presidente da Repúbli-ca, para tão alta investidura.

    Possui V. Exa., para se ter feito merecedor dessa magna distinção, as virtudes que se espera encontrar naqueles aos quais se atribui a quase divina missão de distribuir Justiça, posto que sem esta não pOde uma co-munidade subsistir, nem existir o di-reito onde ela não se faça presente.

    E o Juiz, no dizer de Calamandrei, o direito tornado homem, dele, certa-mente por isso, esperando-se uma vi-da de dedicação ao bem comum, de fidelidade à Justiça, pOis que.. esta, no dizer do mesmo autor, como to-das as divindades, só se manifesta aos que nela crêem.

    E essa crença na Justiça é uma constante na vida de V. Exa., desde cedo por inteiro a ela dedicado, ini-cialmente como advogado no Estado de São Paulo, mais tarde como membro do Ministério Público Fede-ral e, por fim, como juiz de carreira, tendo em 1966 .. ingressado na Justiça do Distrito Federal, onde desde logo se impôs ão respeito e à admiração dos seus pares-;--e de quantos militam na Justiça de Brasília, da qual vem de se afastar para ocupar nesta Co-lenda Corte a vaga deixada pelo ilus-tre Ministro MárCio Ribeiro, recém-aposentado, por limite de idade.

    Em muito coincidem as carreiras de ambos; do que vem de deixar o Tribunal, cercado pela estima, res-peito e veneração de quantos tive-ram a felicidade de com ele convi-ver, e daquele que hoje, nesta soleni-dade vem de ser empossado.

    Assim, antes de ingressarem na magistratura de carreira, foram Promotores, integraram igualmente a Justiça do Direito Federal, o Mi-nistro Márcio Ribeiro - como De-sembargador; como Desembargador convocado tendo participado do mes-mo Tribunal, por longos períodos do mesmo Tribunal, por longos perío-dos, e continuamente, V. Exa., Sr. Ministro Romildo Bueno de Souza, numa atuação que testemunhei, quandO no exercício do cargo de Procurador-Geral da Justiça do Dis-trito Federal e Territórios que, por aproximadamente cinco anos, exer-ci.

    Era com enlevo que ouvia, então, os magistrais votos por S. Exa. pro-feridos, a merecer de todos a maior atenção, mesmo quando vencidos.