soldados que vieram de longe

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I Israel Blajberg Os 42 Heróis Brasileiros Judeus da 2ª Guerra Mundial Resende, 2008 Incorporando Retrospecto de Ações de Cidadania e Cerimônias Cívicas Realizadas pela FIERJ Com uma participação especial do General Ruy Leal Campello, Veterano do Regimento Sampaio da FEB e do Batalhão Suez SOLDADOS VIERAM DE LONGE QUE

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Os 42 Heróis Brasileiros Judeus da Segunda Guerra Mundial, na FEB, Defesa do Litoral, Marinha do Brasil, Marinha Mercante e FAB.

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Page 1: SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE

1SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg I

Israel Blajberg

Os 42 Heróis Brasileiros Judeusda 2ª Guerra Mundial

Resende, 2008

Incorporando Retrospecto deAções de Cidadania e Cerimônias

Cívicas Realizadas pela FIERJ

Com uma participação especialdo General Ruy Leal Campello,Veterano do Regimento Sampaioda FEB e do Batalhão Suez

SOLDADOS

VIERAM DE LOngEQUE

Page 2: SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE

2 Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE

Catalogação na fonteBruna Ramos Pereira CRB-7 5670

II

B635 Blajberg, IsraelSoldados que vieram de longe: os 42 heróis brasileirosjudeus da 2ª guerra mundial / Israel Blajberg, Ruy LealCampello – Resende, RJ : AHIMTB, 2008.284 p.

Participação especial de: General Ruy Leal Campello – Veterano do Regimento Sampaio da FEB e do Batalhão Suez.

ISBN: 978-85-60811-08-3 1. Guerra Mundial, 1939 -1945. 2. Judeus . 3. Militares – Brasil.4. Ex- combatentes. I. Campello, Ruy Leal II. Título.

CDD 940.53

Foto da Capa: Após o término da Campanha da Itália, a 2ª Bateria do 4º Grupo de Artilharia 155 da FEB posa para uma fotografia histó-rica, com todo o seu efetivo, sob o comando do Capitão de Artilharia Samuel Kicis, tendo ao fundo as 4 peças da Bateria, obuseiros de 155 mm de fabricação americana, as peças de maior poder de fogo com que contava a Artilharia Divisionária da FEB. (Foto gentilmente cedida por Da. Leda, filha do Gen Div Samuel Kicis, Z”L, em reunião em sua residência no Rio de Janeiro, com o Autor e o Dr. Nelson Menda, aos 19 nov 2004, quando nos cedeu também as alterações militares e ou-tros informes históricos sobre a atuação de seu Pai na FEB.)

Conforme o Cel Ref Germano Seidl Vidal, “...a foto demonstra o nosso grupo perfilado, com os OBUSES da bateria. O original desta foto foi doado ao GRUPO MONTESE, na Vila Militar, na passagem do 45º aniversário da conquista de Montese (Itália) pelos brasileiros... ...é a nossa 2ª bateria do atual 11º Grupo de Artilharia de Campanha (GAC). Vários componentes do grupo assinaram no verso da foto! É o melhor registro em foto que temos desta brilhante corporação militar atuando no teatro de operações na Itália.

Diagramação e Capa: Carlos Eduardo Ferreira Avila.Impressão: Gráfica e Editora Irmãos Drumond Ltda. www.graficadrumond.com.br • (24) 3323.4956

Palavras – Chave: Ex-combatentes judeus, 2ª Guerra Mundial, FEB

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3SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg

Israel Blajberg

Brasileiro nato de 1ª geração

Sócio - Titular do Instituto de Geografiae História Militar do Brasil – IGHMB

Cadeira 73 – Marechal Mascarenhas de Moraes

Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil AHIMTB – Cadeira 24 – Coronel Mário Clementino

E–mail: [email protected] e [email protected]

III

Page 4: SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE

4 Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGEIV

Dedicatória

In Memoriam

Dedicamos este trabalho In Memoriam a nossos saudosos Pais e Avós, emigrantes poloneses para esta Terra Abençoada: Sara e Bernardo Langier, Abram e Perla Blajberg, Aron, Eva Lea e José Rubinsztajn, Jacob e Sara Rubinstein.

À minha querida e dedicada esposa Marlene Rubinszta-jn Blajberg que tanto colabora e incentiva nossas atividades culturais e associativas, enriquecendo-as com suas fantásticas habilidades de desenhista, artista plástica, arquiteta de brilhan-tes idéias.

A nossos filhos Carlos, Silvia, Rosa, Rubens, genros Rony e Henrique, nora Jane, netinhos Daniel, Débora e Gabriel, que nos trazem alegria, carinho e felicidade.

Aos 474 soldados, marinheiros e aviadores brasileiros tombados na 2ª Guerra Mundial. Aos 1441 tripulantes e pas-sageiros dos 35 navios brasileiros afundados. Aos 6 milhões de correligionários assassinados pelos nazistas no Holocausto, mártires pela santificação do Nome (de D_us). Aos avós Salo-mão Blajberg, Ana Frida Keller Minc Blajberg, tios e primos assassinados pelos nazistas em Treblinka, Polônia. Todos so-nhadores e lutadores da mesma causa comum de liberdade e democracia.

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5SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg V

Agradecimentos

À AHIMTB e FIERJ pelo apoio cultural concedido a esta edição, na pessoa dos Presidentes Coronel Cláudio Moreira Bento e Engenheiro Sergio Niskier.

A um anônimo como preconiza o TALMUD que conce-deu relevante patrocínio para esta edição, em homenagem ao Brigadeiro Rui Barbosa Moreira Lima, herói do 1° Grupo de Aviação de Caça, lutando contra o nazismo nos céus da Itália durante a 2ª Guerra Mundial.

À Associação Religiosa Israelita CHEVRA KADISHA do Rio de Janeiro, que tão piedosamente dá continuidade e preserva os valores milenares do judaísmo, pela valiosa contribuição.

Aos Irmãos Marco Jacques e David Jacob, que em nome da Família Cohen concederam importante contribuição, In Memoriam de seu pai Jacob David Cohen, Z”L, 3º Sargento do Exército Brasileiro que participou ativamente do esforço de guerra do Brasil durante a 2ª Guerra Mundial, deslocando-se em comboio marítimo e integrando o dispositivo de Defesa do Litoral do Nordeste.

A Bnei Brith, que nos acolheu como Irmão e integrante da Comissão Organizadora dos eventos Heróis Brasileiros Ju-deus da Segunda Guerra Mundial, realizados em 1º de maio de 2005 no Monumento Nacional aos Mortos da Segunda Guerra Mundial e Grande Templo Israelita do Rio de Janeiro, talvez a primeira, única e última grande homenagem prestada aos Veteranos Brasileiros Judeus. Certamente nem todos foram localizados para o merecido reconhecimento, restando-nos a certeza de que D_us sabe seus nomes.

Ao Memorial Judaico de Vassouras e seu Presidente Dr. Luis Benyosef, Guardião do Acervo e Memória do Casal Egon e Frieda Wolff, pela consulta ao repositório das pesquisas e trabalhos pioneiros sobre os soldados judeus do Brasil, desde os tempos coloniais e o Império até os dias atuais, trazendo a lume relatos pioneiros da participação de militares brasilei-ros judeus nas forças de Terra, Mar e Ar que combateram na

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6 Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGEVI

Segunda Guerra Mundial, conforme descrito em seus livros e na conferência proferida no Instituto de Geografia e História Militar do Brasil, “Judeus nas Forças Armadas”.

Heróis Brasileiros Judeus da II Guerra MundialComissão Organizadora dos Eventos

Bnei BrithCEMBRI - Centro de Mídia Brasil Israel

Conselho SefaradiFIERJ

Grande Templo IsraelitaMuseu Judaico

NaamatVelger Eventos

WIZO

Anna Bentes BlochFanny Lewin

Israel BlajbergJacob Guterman, Z”L

Jayme GersbergJayme Gudel Leila Velger

Michel MeklerNelson Menda

Renato AizenmanRosita Naidin

Ruy Flaks SchneiderSamuel BenolielSylvia Cohn Gali

Vera Lucia Chahon

Ex-combatentes e familiares que colaboraram com

preciosos dados e informações

Page 7: SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE

7SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg VII

Arquivo Histórico do ExércitoDiretor Ten Cel Eng Clayton Pereira Muniz

Maj Elza Cansanção MedeirosChefe do Depto de História Cap Alcemar Ferreira

1° Ten QCO Omar Couto Conde

CMG Carneiro, Sub-Diretor de Ensino do CIAGASra Eduvirgem Orioli, Bibliotecária do CIAGA

Mauro Rodin

Miguel Grinspan

Moshe Waldmann (Kfar Saba)

Gleice MayerAluna da Escola de Museologia da UNIRIO

graças aos quais foi possível levantar o véu do tempoque pesava sobre os ex-combatentes brasileiros judeus

Colaboradores

Page 8: SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE

8 Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE

Indice

VIII

Apresentação ........................................................................................ 11

Prefácio ................................................................................................ 15

Introdução ............................................................................................ 18

Capítulo 1

O Brasil na Guerra ............................................................................ 20

Capítulo 2

Apoio da Comunidade Judaica Brasileiraao Esforço de Guerra ......................................................................... 26

Capítulo 3

Distribuição pelas Forças Singulares e Unidades ............................... 32

Capítulo 4

Grande Homenagem Marechal Waldemar LEVY Cardoso ................. 41

Capítulo 5

HOMENAGEM ESPECIALOs Bravos que Vieram de Longe General Ruy Leal Campello ............ 52

Capítulo 6Homenagens Individuais e NOMINATA ............................................ 64

a) Ex-Combatentes Brasileiros Judeus – 42 Veteranos ........................... 64Abrahão Fainguelernt ........................................................................ 64 Adio Novak ....................................................................................... 66Alberto Chahon ................................................................................. 68Bernardo Stifelman ............................................................................ 69Boris Markenzon ............................................................................... 72 Boris Schnaiderman ........................................................................... 73Carleto Bemerguy .............................................................................. 75Carlos Scliar ...................................................................................... 76David Lavinski ................................................................................... 80David Leon Rodin ............................................................................. 83Edidio Guertzenstein ......................................................................... 87Elias Niremberg ................................................................................. 88

Page 9: SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE

9SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg IX

Guilherme Bessa Filho ...................................................................... 88Heitor Sennes Pinto ........................................................................... 89Henrique Schaladowsky .................................................................... 89Israel Hollmann ................................................................................. 91Israel Rosenthal ................................................................................. 91Jacob Benemond ............................................................................... 98Jacob David Cohen ......................................................................... 104Jacob David Niskier ......................................................................... 107Jacob Gorender ............................................................................... 110Jacob Perelmann ............................................................................. 111Jacob Zveiter ................................................................................... 112José Segal ........................................................................................ 113Leão Stambowsky ............................................................................ 114Marcos Cerkes ................................................................................. 115Marcos Galper ................................................................................. 115Mauricio José Pinkusfeld ................................................................. 119Melchisedech Affonso De Carvalho ................................................. 123Moises Gitz ..................................................................................... 124Moyses Chahon ............................................................................... 125Pedro Kullock .................................................................................. 132Rafael Eshrique ................................................................................ 134Salli Szajnferber ............................................................................... 134Salomão Malina .............................................................................. 137Salomão Naslausky ......................................................................... 140Samuel Kicis .................................................................................... 141Samuel Miller .................................................................................. 155Samuel Safker .................................................................................. 155Samuel Soichet ................................................................................ 155Saul Antelman ................................................................................. 158Waldemar Rozental ......................................................................... 158

b) Figuração Honorária ....................................................................... 161Reynaldo Antonio de Borba............................................................. 161

c) Figuração Preliminar e Provisória(Pendente de Confirmação) – 3 Veteranos ...................................... 162Donald Cohen Marques .................................................................. 162Israel Bona ...................................................................................... 162Jacob Chafier Sobelman................................................................... 162

d) Integrante da Representação do Brasilna Parada da Vitória, Londres - 1946 .............................................. 163Miguel Grinspan ............................................................................. 163

e) Ex-Combatentes Judeus de Nações Amigasno Brasil – 5 Veteranos ................................................................... 165Akiba André Levy ............................................................................ 165Georges Schteinberg ....................................................................... 166

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10 Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGEX

Gerald Goldstein ............................................................................. 168Irmãos Isac e Nathan Kimelblat ....................................................... 169

Capítulo 7

Cerimônia do Dia da Vitória - Monumento Nacional aos Mortosda 2ª Guerra Mundial - Homenagem da FIERJ e Bnei Brithno Túmulo do Soldado Desconhecido - 1º/mai/2005 ...................... 204

Capítulo 8

Cerimônia do Dia da Vitória - Grande Templo Israelita,Rua Tenente Possolo, Centro - RIO - Homenagem da FIERJe Bnei Brith - 1º/mai/2005 ............................................................... 212

Capítulo 9

Dia da Recordação do Holocausto e HeroísmoDomingo - 15/abr/2007 - MNM2GM ............................................... 223

Capítulo 10

Dia da Recordação do Holocausto e HeroísmoSegunda-Feira - 16/abr/2007 - Sinagoga de Copacabana ................. 233

Capítulo 11

Semana da Pátria - 7 set 2007 - C. C. E. R. Monte Sinai ................... 238

Capítulo 12

Tributo à Memória de Oswaldo Aranha27 nov 2007 - Cemitério S. J. Baptista ............................................. 246

Capítulo 13

Dia Internacional de Recordação do Holocausto24/jan/2008 - Itamaraty .................................................................. 260

Posfácio .............................................................................................. 274

Síntese da ACADEMIA DE HISTÓRIA MILITARTERRESTRE DO BRASIL - AHIMTB ..................................................... 277

Delegacia da AHIMTB no Rio de JaneiroMARECHAL JOÃO BAPTISTA DE MATTOS ........................................ 281

Curriculum Vitae Sintético do Autor .................................................. 282

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11SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg

É com muita honra que fui convidado para apresentar o livro Soldados que Vieram de Longe, de autoria do Tenente R/2 de Ar-tilharia Israel Blajberg, dirigente e exemplar acadêmico da Aca-demia de História Militar Terrestre do Brasil, da qual, por mere-cimento é o seu 3º Vice Presidente e seu Delegado na Delegacia Marechal João Baptista de Mattos no Rio de Janeiro, homenagem ao historiador dos monumentos brasileiros.

Obra editada em parceria da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB) com a Federação Israelita do Rio de Janeiro.

Em 1944/1945 o Brasil enviou à Itália a Força Expedicio-nária Brasileira para dar a sua contribuição ao esforço de guerra aliado para defender a Democracia e a Liberdade Mundial, seria-mente ameaçadas pelo Nazismo e o Fascismo que se espalharam ameaçadores sobre extensas áreas da Europa, Ásia e África, na idéia de dominar o mundo, inclusive o Brasil, em especial o Sul por possuir colônias alemãs e italianas em expansão.

E nesta luta dos Aliados, no Brasil se incorporaram as Forças Armadas do Brasil em defesa da Democracia e da Liberdade Mun-dial 42 homens de origem judaica, dos quais 29 do Exército, e dentre eles oficiais R/2, formados como Israel também nos CPORs, do que é muito orgulhoso desta formação, a integrar, na sua ex-pressão, a Reserva Atenta e Forte, cuja memória pesquisa, preserva, cultiva e divulga de forma comovente, não deixando que sejam esquecidos na mídia castrense, participando dos eventos históricos

Apresentação

Cel Cláudio Moreira Bento

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12 Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE

do Exército, em especial na cidade do Rio de Janeiro, registrando os mesmos pela Internet acompanhados de fotos expressivas.

Da Marinha Mercante registra 5 participantes, assuntos que abordamos em conjunto com as demais forças em nossa plaque-ta As Forças Armadas do Brasil e sua Marinha Mercante na 2ª Guerra Mundial, em duas edições em 1995 e 2000, prefaciadas por dois acadêmicos eméritos da AHIMTB, General Plínio Pita-luga e Vet FEB José Conrado de Souza, heróis da FEB na guerra e na paz, por na paz liderarem expressiva parcela de veteranos em defesa de seus interesses.

Registra 3 descendentes de judeus na Força Aérea, força esta cuja atuação evocamos na citada plaqueta.

Sem dúvida além da importante participação de descendentes de judeus filhos de imigrantes vindos de Marrocos, Rússia, Polônia, etc, eles corriam além do risco de perecer em combate, o de serem capturados pelos alemães e executados sumariamente, ou do envio para campos de extermínio, como ocorreu com milhares de solda-dos judeus combatendo nos exércitos da Rússia e Polônia, aumen-tando o expressivo número de milhares de judeus sacrificados bar-baramente nos crematórios e câmaras de gás, no evento sem igual da barbárie humana que passou a História como Holocausto.

E Israel dá visibilidade a estes soldados brasileiros e os coloca em merecido alto relevo entre os bravos brasileiros de várias origens étnicas que integraram a luta contra o nazismo. Providência que tomamos em relação aos sargentos brasileiros do Exército mortos na campanha da FEB em pesquisa solicitada pela Escola de Aperfeiçoamento de Sargentos em Cruz Alta – RS e ESA em Três Corações MG que intitulamos: Os 68 Sargentos heróis da FEB mortos em Operações de Guerra na Força Expedi-cionária Brasileira.

Bravos que segundo Péricles, estratego e dirigente grego no sécu-lo V, A.C., que levou o seu nome, assim também os considero.

“Aquele que morre por sua Pátria serve-a mais em um só dia que os demais em toda a sua vida”.

Lamentavelmente não tivemos um patrocinador para dar uma mais profunda e justa divulgação impressa desses bravos, somente o fazendo com cópias digitadas com apoio do então Di-

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13SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg

retor do Centro de Recuperação do Exército Cel Médico QEMA Flávio Arruda Alves.

Através do ilustre e falecido casal Egon e Frida Wolf nossos con-frades no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, conhecemos através de seus numerosos livros detalhes da colônia judaica no Bra-sil sobre a qual escreviam. E muito deles, seus convidados conhece-mos nas Bodas de Ouro do casal no Hotel Glória no Rio.

E com o Acadêmico Arnaldo Niskier juntos estivemos numa mudança de guarda no Monumento aos Mortos da 2ª Guerra Mundial em 1984, onde representamos o Exército e ele como se-cretário de Educação do Rio de Janeiro.

E ali por certo recordou a participação dos 42 descendentes de Judeus e em especial, os que ali jaziam e que este livro de Israel Blajberg faz justiça na voz da História.

Em 1977 estivemos numa sinagoga em São Paulo, como re-presentante do Gen Ex Dilermando Monteiro comandante do atual Comando Militar do Sudeste e ali sentimos a dimensão do Holo-causto nas exposições em filmes daquela tragédia humana, incluin-do depoimento de sobreviventes do Holocausto.

Exposição em filmes e fotos que foi possível graças a esta histórica decisão do General Eisenhower, comandante dos Alia-dos no Dia D da invasão na Normandia e depois presidente dos Estados Unidos. Ele ordenou que fossem levados para visitar os campos de extermínio todos os moradores de áreas vizinhas para testemunhar o que eles apresentavam e documentar com fotos e filmes aquela barbárie nazista para prevenir que no futuro alguém se apresentasse negando a existência do Holocausto.

Conhecíamos a projeção de Osvaldo Aranha na criação do Estado de Israel por sua atuação neste sentido na ONU, mas desconhecíamos que ele era muito reverenciado pela Colônia Judaica do Rio de Janeiro. E então a pedido de Israel lhe fornece-mos alguns subsídios que ele abordou em homenagem ao ilustre brasileiro que estudou no Colégio Militar do Rio de Janeiro e integrou o Esquadrão de Cavalaria de seus alunos. Mais tarde foi o líder militar civil na Revolução de 1926, participando do combate de Seival próximo a Lavras do Sul onde foi atingido por um tiro de fuzil no calcanhar que provocou intensa hemorragia

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14 Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE

quase o levando a morte. Foi um dos principais articuladores da Revolução de 30 e o primeiro a defender a memória do General Bento Manoel Ribeiro injustamente condenado popularmente, o que foi agravado recentemente por seu linchamento moral in-justo pela novela A casa das sete mulheres. Em realidade Bento Manuel foi o maior general farrapo e para o lado que pendesse levava a vitória. E acompanhamos a interpretação deste grande brasileiro em nosso livro O Exército farrapo e seus chefes, BI-BLIEx, 1992 com apoio em fontes históricas confiáveis sobrepu-jadas pela vitória do mito popular consagrado. Osvaldo Aranha teve um de seus filhos integrando como soldado a FEB, em defe-sa da Liberdade e Democracia.

Israel Blajberg orgulhoso de pertencer a Reserva Atenta e For-te do Exército, enfatiza que dos tenentes que integraram a FEB, a metade era constituída de oficiais oriundos do CPORs e que constituíram a metade dos tenentes mortos em ação na FEB. Por oportuno o primeiro comandante que tivemos no Exército ao in-gressarmos em 1950, como soldado na 3ª Companhia de Comu-nicações em Pelotas foi o Tenente Isaac Clerman que era muito apreciado por todos e formado pelo CPOR/PA.

Israel Blajberg dá especial atenção e muito justo destaque na elaboração dos perfis dos 42 brasileiros descendentes de Judeus, ao oficial brasileiro filho de judeus, a mãe descendente de imigran-tes e o pai convertido ao judaísmo, o atual Marechal Waldemar Levy Cardoso, hoje com 107 anos, o único Marechal vivo e atual detentor do Bastão de Comando da FEB. Como Tenente Coro-nel comandou um Regimento de Artilharia da FEB. E deste modo ele inicia a sua exposição apresentando os feitos dos combatentes descendentes de judeus da FEB que se destacaram na carreira das Armas, das artes, letras, etc. E o Marechal Levy Cardoso deu seu incentivo poderoso ao autor conforme carta que lhe escreveu que figura em destaque na 4ª capa do livro.

Resende, a cidade dos Cadetes, 25 de agosto de 2008, Dia do Soldado.

Cel Cláudio Moreira BentoPresidente da Academia de História Militar Terrestre do Brasil e do

Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul

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15SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg

Prefácio

A obra do prezado amigo, escritor e companheiro, o Enge-nheiro Israel Blajberg, acadêmico do Instituto de Geografia e His-tória Militar do Brasil, graças ao excelente desempenho que vem dando curso no seu novo meio acadêmico - a Academia de Histó-ria Militar Terrestre do Brasil, apresenta um quadro geral e minu-ciosamente pesquisado da participação dos brasileiros de origem judaica no teatro de operações da II Guerra Mundial.

Israel Blajberg mantém até hoje os laços que adquiriu ao servir no CPOR/RJ ainda jovem e em fase de formação profissional, de onde saiu como oficial R/2, e com uma incansável atuação acadêmica e de estudos sociais, culturais e militares. Suas pesquisas desenvolvidas, os estudos e levantamentos sobre a participação dos brasileiros judeus na II Guerra Mundial e sua atividade como pacifista, credenciam-no e fazem quase que obrigatória a leitura desta obra.

Os judeus brasileiros que foram convocados e partiram junto à Força Expedicionária Brasileira – FEB, para a Itália, como qualquer outro brasileiro que lá estava, lutaram na defesa da democracia e da liberdade, paz e harmonia entre os povos e contra o nazi-fascismo.

Quando partiram em 1944 ainda não sabiam que seria criado o Estado de Israel, quando o Brasil teve uma ação fundamental para o reconhecimento internacional na ONU, a partir de uma

Cel Germano Seidl Vidal (ao centro) em Sessão da AHIMTB no Forte de Copacabana, confraternizando com General Moreira e Marechal Levy Cardoso, na posse como Acadêmico do Cel Roberto Mascarenhas de Moraes, na Cadeira que tem por Patrono seu avô o Marechal João Baptista Mascarenhas de Moraes

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16 Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE

atitude diplomática de um brasileiro, numa sessão da ONU em 29 de maio de 1947, presidida pelo Sr. Oswaldo Aranha, e que decidiu pela divisão da Palestina Britânica em dois estados, um judeu e outro árabe, que deveriam formar uma união econômica e aduaneira.

Foram 42 heróis judeus brasileiros, jovens e cheios de esperan-ça que lutaram e voltaram ao Brasil vivos após terem cumprido a missão cívica e heróica de defender a pátria, tornando-se mais tarde bem sucedidos nas suas diversas áreas de atuação.

Fato inusitado foi desses brasileiros de várias origens terem omitido expressamente suas segundas identidades lastreadas em padrões religiosos. Basta lembrar que antes tiveram a participação declinando sua integração na comunidade judaica ainda sujeita as regras de vida comunitária de suas origens. Vale apontar que o soldado judeu, como todos que participaram dos 239 dias lu-tando no “front” italiano estavam sujeitos aos riscos do genocí-dio, condenados pelo mesmo ato. Apesar desse ônus duplo não esmoreceram na sua atuação como qualquer outro incorporado como soldado brasileiro.

Os 42 soldados integrantes da 1ª Divisão de Infantaria, lutaram sob comando exemplar do Mal. Mascarenhas de Moraes.

Talvez tenha sido fraca a divulgação deste fato! Foram todos heróis nacionais que suplantaram todos os riscos envolvidos e me-receram distinções. Levou-se 62 anos para serem reconhecidos no-minalmente.

Vale lembrar que o mundo de hoje está sob permanente con-flito por razões raciais, provocados pela intifada, o esfacelamento da URSS e lutas regionais tratadas com participação ou não de or-ganismos garantidores da paz. Isto vem à conta da existência de comunidades rebeldes a sua integração ou subordinação ao poder local. Na verdade, tais fatos decorrem de muitos anos de convivên-cia violenta bem característica dos respectivos povos.

No Brasil, tal fato não ocorreu a despeito de uma total incom-patibilidade entre o regime ditatorial de Vargas e a expectativa da nossa gente de viver em uma sociedade livre e democrática, ser-vindo como exemplo o propósito das forças aliadas em colaborar para a unidade nacional.

Agradeço ao amigo Israel por nos dar grandes informações sobre mais esta etapa na formação de um Brasil de paz, junto com

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17SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg

Homenagem ao Marechal João Baptista Mascarenhas de Moraesno ano do seu 125° Aniversário de nascimento

13 nov 1883 – 17 set 1968Herói Nacional e Ínclito Comandante da

FEB – Força Expedicionária Brasileira, Desenho a bico de pena pelo General Augusto Fragoso

os nossos irmãos judeus brasileiros, contribuindo para a história e para a cultura militar.

Germano Seidl VidalEscritor e Historiador

Participou como expedicionário Comandante de Linha de Fogo da 2ª Bateria de Obuses do 4º Grupo de Artilharia da FEB na II GM,

atual Grupo Montese - www.guerraproscrita.com

2º Tenente em 15 de maio de 1944 designado Comandante da Linha de Fogo da 2ª Bateria do então I Grupo do 1º Regimento de Artilharia Pesada

Curta (Grupo Escola) - I/1º RAPC (GE), função na qual permaneceu durante toda a Campanha da Itália, somente sendo desligado dessa função quando

transferido, por necessidade do serviço, já no Brasil,em 10 de janeiro de 1946.

Corpo Permanente da ESCOLASUPERIOR DE GUERRA 68/72

MONTOR - Montreal Organização Industrial e Econômica S/A, em 72/73, Editor Técnico do Projeto MATRIZ ENERGÉTICA BRASILEIRA contrata-do pelo MME e IPEA e realizado, durante 30 meses, por 18 Grupos de Traba-

lho em seis das mais conceituadas empresas de consultoria - então capacitadas no mercado nacional para o “metier” - a fim de projetar o balanço energético

do país, para todos os tipos e formas de energia, até o anode 1985, num horizonte de planejamento de um decênio e meio.

Page 18: SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE

18 Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE

Introdução

Coronel Nilton Freixinho, Sócio-Titular do Instituto de Geogra-fia e História Militar do Brasil e Contemporâneo de Oswaldo Ara-nha, tendo servido como Ajudante de Ordens do Ministro da Guerra Gen Eurico Gaspar Dutra. Coronel Freixinho usa da palavra dando o seu testemunho pessoal do relevante papel político de Oswal-do Aranha naqueles tempos difíceis. O Coronel é grande amigo da Comunidade. Em livros e artigos discorre frequentemente sobre a tematica judaica. Ao lado, Dr Jaime Gudel(E), Mentor da Loja Herut da Bnei Brith e o Sr Alberto Nasser (D), ex-presidente da CONIB – Confederação Israelita do Brasil

Pede-me o Professor e Historiador Israel Blajberg para es-crever algumas palavras à guisa de introdução à obra de sua au-toria - “Soldados que Vieram de Longe”, editada sob a égide da Academia de História Militar Terrestre do Brasil, AHIMTB, com apoio da Federação Israelita do Estado do Rio de Janeiro, FJERJ.

Ambos somos membros da AHIMTB, onde contribuímos para cultivar e preservar a memória dos feitos da construção da nacionalidade, por séculos sucessivos.

Sou testemunha de que, desde algum tempo o autor vem se empenhando para projetar e divulgar a atuação de brasileiros vinculados à herança e à fé judaica, que participaram dos acon-tecimentos da Segunda Guerra Mundial, século 20, seja como integrantes da Marinha Mercante, seja como militares vincula-dos às Forças Armadas do Brasil.

Page 19: SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE

19SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg

Neste último aspecto, soldados brasileiros judeus participa-ram da guerra contra o 3° Reich em todas as frentes: na defesa do litoral brasileiro; na campanha anti-submarino e de proteção a comboios no Atlântico Sul; e no Teatro de Operações Euro-peu, integrando a Força Expedicionária do Brasil, a FEB.

O expressivo título escolhido - “Soldados que Vieram de Longe” - de um lado, revela o estofo de historiador de Israel Blajberg, e por outro lado, denota a natureza do combatente brasileiro judeu, cujos antepassados, historicamente, sempre es-tiveram afeitos à luta armada. No meu entender, o título da obra por si só dispensa qualquer tentativa de avaliar a propriedade e a importância da homenagem prestada aos brasileiros judeus que participaram da luta contra o 3º Reich germânico. Vieram de “longe” não no sentido “geográfico”, mas sim na acepção de “tempo histórico” de “permanência”, por séculos a fio, na histó-ria dramática do povo judeu.

A obra, em síntese, registra nominalmente os mencionados brasileiros judeus - cerca de meia centena - especificando para cada um a área de atuação profissional e a hierarquia à época do conflito internacional e ao término da carreira militar. Por fim, apresenta o esboço biográfico de vários deles.

Torna-se necessário mencionar que a vinculação de herança e de fé religiosa dos jovens militares brasileiros judeus, confere à participação dos mesmos na Segunda Guerra Mundial, cono-tação especial ao considerarmos a justa reação as inomináveis atrocidades cometidas pelas hordas nazistas contra a comunida-de judaica residente nos países que foram ocupados, na Europa, pelo 3º Reich. No fundo, aqueles jovens militares lutaram por uma causa que insere motivação complementar aos naturais as-seios de patriotismo.

Não há de se negar a valiosa e oportuna contribuição de Israel Blajberg, como historiador, ao registrar acontecimentos que marcaram a Segunda Guerra Mundial, no contexto da parti-cipação do Brasil, ao lado das nações democrática.

Cel. Nilton FreixinhoSócio Emérito da AHIMTB e do IGHMB

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20 Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE

Capítulo 1

O Brasil na GuerraBreve Resumo da Participação Brasileira

na Segunda Guerra Mundial (1939-1945)

Diversos autores já há muito vem se dedicando a descre-ver a participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial, o que portanto não será objeto deste trabalho.

Entretanto, apenas a título informativo, eis que não se trata do objeto da presente edição, adiantamos a seguir algumas informações alusivas, para suprir o leitor de alguns elementos básicos que auxiliarão a compor o quadro onde se inseriram os combatentes brasileiros judeus.

Razões da Declaração de Guerra

Os submarinos nazistas afundaram a partir de 1942, 36 navios mercantes nacionais, com perda de um milhar de vidas preciosas brasileiras, 549 tripulantes e 502 passageiros.

Somente em um dia, 16 ago 1942, 3 navios foram afunda-dos com perda de quase 600 vidas, o que levou o Presidente Vargas, sob o clamor popular, a declarar em 22 ago 1942 o Estado de Beligerância contra a Alemanha Nazista e o Eixo.

1942 - Cronologia dos Acontecimentos que determina-

ram a entrada do Brasil na Guerra

15.01 (quinta) - A Terceira Reunião de Consulta dos Chance-leres das Repúblicas Americanas acontece no Rio de Janeiro, para assegurar uma resolução unânime e garantida de que as Repúbli-cas Americanas romperiam relações com as potências do Eixo.

28.01 (quarta) - O Governo Brasileiro atende a resolução

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nº 15 da Segunda Reunião de Consulta dos Chanceleres das Repúblicas Americanas e rompe relações diplomáticas com os países do Eixo.

15.02 (domingo) - Torpedeado o navio Buarque. 18.02 (quarta) - Torpedeado o navio Olinda. 25.02 (quarta) - Torpedeado o navio Cabedello. 07.03 (domingo) - Torpedeado o navio Arabutan. 08.03 (segunda) - Torpedeado o navio Cayrú. 07.04 (quarta) - A primeira divisão da VP-83 chega a Natal (RN) 11.04 (domingo) - A primeira divisão da VP-83 inicia sua

atividades de busca e patrulha. 15.04 (quinta) - Instalado um destacamento do exército

em Fernando de Noronha. Abril - Descobertos no Rio de Janeiro centrais de rádio equi-

padas com modernos equipamentos alemães para enviar informes da quinta-coluna e espiões nazistas principalmente as posições dos navios em rota de abastecimento para o Norte da África.

01.05 (sexta) - Torpedeado o navio Parnahyba. 18.05 (quarta) - Torpedeado o navio Comandante Lyra. 22.05 (sexta) - Um B-25 Mitchell operando na Base Aérea

de Fortaleza estava em patrulha próximo à costa onde o navio Com. Lira havia sido torpedeado dias antes pelo submarino Barbarigo. As 14:00h, a tripulação do B-25 comandado pelos Capitães Parreiras Horta e Oswaldo Pamplona encontrou um submarino na tona, que imediatamente começou a atirar no B-25 com metralhadoras. Como o Brasil era neutro, as regras de combate só poderiam ser usadas se o inimigo atacasse pri-meiro. A tripulação do B-25 lançou cargas de profundidade que caíram próximo ao submarino mas não o danificaram.

23.05 (sábado) - É instituída a Comissão Mista de Defesa Brasil-Estados Unidos.

24.05 (domingo) - Torpedeado o navio Gonçalves Dias. 01.06 (segunda) - Torpedeado o navio Alegrete. 05.06 (quarta) - Torpedeados os navios Paracuri e um pes-

queiro. 26.06 (sexta) - Torpedeado o navio Pedrinhas. 25.07 (sábado) - Torpedeado o navio Tamandaré.

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22 Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE

28.07 (terça) - Torpedeados os navios Piave e Barbacena. 15.08 (sábado) - Torpedeados os navios Baependy e Ara-

raquara. 16.08 (domingo) - Torpedeado o navio Annibal Benévolo. 17.08 (segunda) - Torpedeados os navios Itagiba, Arará e

um pesqueiro. 18.08 (terça) - O Departamento de Imprensa e Propagan-

da (DIP) publica nota esclarecendo à população os torpedea-mentos.

19.08 (quarta) - Torpedeado o navio Jacira. 22.08 (sábado) - Face a agressão, o Brasil após reunião do

Ministério reconhece a situação de beligerância contra a Ale-manha e Itália. Fundado o Centro de Preparação de Oficiais da Reserva da Aeronáutica.

24.08 (segunda) - A rádio de Berlim irradia para o Brasil um comentário falso sobre o estado de beligerância.

26.08 (quarta) - A tripulação do Vultee V-11 GB2, ope-rando da Base Aérea de Porto Alegre, comandado por Alfre-do Gonçalves Corrêa atacou um U-boat próximo a Araranguá (SC). O U-Boat foi atingido e adernou bastante, mas a aeronave também foi danificada quando as bombas explodiram. A aero-nave retornou em segurança para o aeroporto de Osório (RS) e não para sua base.

28.08 (sexta) - A tripulação do Vultee V-11 GB2 de Ma-nuel Rogério de Souza Coelho atacou um submarino inimigo próximo a Iguape (SP) sem reportar qualquer dano.

31.08 (segunda) - Através do Decreto Lei 10.358, o gover-no declara o estado de guerra para todo o Brasil.

05.09 (sábado) - Criado o primeiro comboio regular entre portos brasileiros.

07.09 (segunda) – Em grande operação a Polícia descobre no Rio de Janeiro diversas bombas-relógio ocultas em pontos estratégicos no entorno do local do Desfile Militar de 7 de Se-tembro. Alguns sabotadores são presos.

12.09 (sábado) - O Brasil coloca sua força naval sob o controle operacional da Marinha dos EUA, sob o comando do Almirante Jonas Ingram.

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23SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg

27.09 (domingo) - Torpedeados os navios Osório e Lages. 28.09 (segunda) - Torpedeado o navio Antonico. 03.11 (terça) - Torpedeado o navio Porto Alegre. 22.11 (domingo) - Torpedeado o navio Apalóide. 02.12 (quarta) - São estabelecidas no Rio de Janeiro a Base

de Operações Navais e a Base Aérea Naval.

Participação do Brasil na 2ª Guerra Mundial

a) Exército - FEB – Força Expedicionária Brasileira, inicial-mente prevista com três Divisões de Infantaria Expedicionária, entretanto o término do conflito tornou desnecessário o envio de outras tropas além da 1ª DIE, enviada para a Itália com 25 mil homens sob o comando do então General Mascarenhas de Moraes, depois promovido pelo Congresso Nacional a Mare-chal enquanto viveu.

A FEB foi incorporada ao V Exército Americano, lutando em terreno íngreme e montanhoso dos Apeninos, em tempera-turas de até 20 graus negativos, perdendo 457 soldados mor-tos em combate. Teve grandes vitórias em combates famosos como Monte Castelo, Montese, Castelnuovo, Camaiore, Cole-chio, Fornovo e tantos outros.

Derrotou e capturou a 148ª Divisão nazista completa sob o comando do General Otto Freter Pico, com 20.573 homens, dos quais 2 generais e 892 oficiais alemães, 80 canhões, 5 mil viaturas e 4 mil cavalos.

b) Aeronáutica - 1° Grupo de Aviação de Caça, o Senta a Pua foi enviado para a Itália sob o comando do Tenente Coro-nel Aviador Nero Moura.

A FAB organizou o 1° Grupo de Aviação de Caça que foi treinado e recebeu aviões no Panamá e Estados Unidos, incor-porando ao 350° Grupo de Caça americano na Itália. Tinha 458 homens, tendo perdido 8 pilotos e 16 aviões.

c) Marinha - Realizou a proteção dos comboios de navios mercantes no Atlântico Sul, afastando os submarinos nazistas. Escoltou os navios que transportaram a FEB para a Itália.

A Marinha realizou 195 escoltas a comboios, com 1.396

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navios brasileiros e 1.505 de outras nacionalidades, perdendo mais de 500 homens em suas missões durante a guerra.

d) Marinha Mercante – sofreu enormes perdas humanas e em tonelagem de navios, durante a campanha submarina nazista, mantendo ainda assim as linhas de transporte estraté-gico. Com a formação de comboios protegidos por navios de guerra nacionais, as perdas praticamente cessaram.

Dos 25 mil Veteranos da FEB, estima-se que em 2008 exis-tam cerca de 20% de remanescentes, na faixa etária acima de 80 anos. A ANVFEB realiza um trabalho de amparo aos Vete-ranos e descendentes.

Metade dos tenentes da FEB foram formados nos CPORs. Eram estudantes universitários convocados. Prova do apoio da sociedade ao esforço de guerra. Os que assim desejaram, puderam candidatar-se a prosseguir a carreira após a guerra, galgando postos superiores.

Na Itália existem diversos monumentos em homenagem aos pracinhas brasileiros, onde até hoje se realizam atos re-cordatórios. Em 2005, nos 60 anos do Dia da Vitória Aliada na Europa, delegações brasileiras foram a Itália, e delegações italianas vieram ao Brasil marcar a data. Até hoje os italianos das regiões onde a FEB operou manifestam sua gratidão por terem sido libertados pelos brasileiros.

ORGANIZAÇÕES MILITARES FEBIANAS

Infantaria1° BIMTz (ES) – Rio de Janeiro - RJ6° BIL – Caçapava - SP11° BI Mth – São João Del Rei - MG1° BPE – Rio de Janeiro – RJ

Cavalaria1° Esqd C L – Valença - RJ

Artilharia1° GAC Sl – Marabá - PA

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21° GAC – Rio de Janeiro - RJ20° GAC L – Barueri – SP11° GAC – Rio de Janeiro - RJ

Engenharia9° BE Cmb – Aquidauana - MS

ComunicaçõesBEsCom – Rio de Janeiro - RJ

Intendência21° B Log – Rio de Janeiro – RJ

Transporte da FEB para o Teatro de operações da Itália

Com exceção de 111 militares, dos quais 67 enfermeiras que seguiram via aérea, a FEB foi transportada em navios ame-ricanos escoltados por belonaves nacionais entre 02 jul 1944 e 04 fev 1945, em 4 escalões.

O 2º escalão foi transportado no General Mann (1º RI e outras unidades) e General Meigs (11º RI e outras unidades).

Organização da FEB

A FEB ERA CONSTITUÍDA PELA 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária - 1ª DIE, integrando o IV Corpo do V Exército Americano. Sua estrutura básica compreendia:

Quartel General da 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária: Tropa Especial (QG; Destacamento de Saúde; Cia. de Manu-

tenção; 1ª Cia. Intendência; 1º Pel. de sepultamento; Pel. de Polí-cia; 1ª Cia. de Transmissão), 1º Esquadrão de Reconhecimento.

Infantaria Divisionária: 1º Regimento de Infantaria (Regimento Sampaio), Vila Militar6º Regimento de Infantaria, Caçapava,11º Regimento de Infantaria (Regimento Tiradentes), São

João Del Rei, Artilharia Divisionária:

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I Grupo do 1º Regimento de Obuses Auto-Rebocado, ori-ginário do 1º Grupo de Obuses de São Cristóvão.

II Grupo do 1° Regimento de Obuses Auto-Rebocado, ori-ginário do I Grupo de Artilharia de Dorso de Campinho.

I Grupo do 2º Regimento de Obuses Auto-Rebocado, ori-ginário do VI Grupo de Artilharia de Dorso de Quitaúna.

I Grupo do 1º Regimento de Artilharia Pesada Curta, origi-nário do Grupo Escola.

9º Batalhão de Engenharia de Aquidauana - MT.1º Batalhão de Saúde.

Capítulo 2

Apoio da ComunidadeJudaica Brasileira

ao Esforço de Guerra

A participação de dezenas de combatentes judeus brasi-leiros nas forças brasileiras de Terra, Mar e Ar durante a Se-gunda Guerra Mundial é pouco conhecida. Mesmo os que se tornaram heróis, agraciados com medalhas concedidas apenas em casos de bravura excepcional em combate foram quase esquecidos.

Os registros históricos da participação do Brasil na 2ª Guerra Mundial praticamente não explicitam a participação de brasileiros judeus. A razão é simples. Basicamente os cidadãos de fé judaica eram mobilizados normal e regularmente como qualquer outro. Não havia nem há soldados brasileiros judeus, mas tão somente soldados brasileiros, o que honra e orgulha a

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Comunidade Judaica.Entretanto o inimigo nazista enxergava sim uma diferencia-

ção. Os combatentes judeus participantes do conflito além de compartilhar dos riscos normais de uma guerra sujeitavam-se ainda caso fossem capturados a execução sumária ou envio aos campos de extermínio do III Reich. Foi esse lamentavelmente o destino de quase todos os militares judeus russos (85 mil) e poloneses (65 mil) que caíram prisioneiros dos alemães.

No Brasil a Comunidade Judaica se mobilizou, como ve-mos pela notícia de 27 de agosto de 1942 do Correio da Ma-nhã sobre o ato religioso celebrado na A.R.I. provavelmente no dia anterior em memória das vítimas do torpedeamento dos navios brasileiros pelo Eixo.

O rabino Henrique Lemle correlacionando o sofrimen-to e perdas de vidas humanas na comunidade judaica euro-péia e seus parentes, descendentes sobreviventes no Brasil podia emocianadamente ressaltar a convergência de dor e revolta de brasileiros e judeus: (...) seus inimigos são nossos inimigos; seus sofrimentos são nossos sofrimentos; e suas vítimas são nossas vítimas. (Correio da Manhã de 27 de agosto de 1942)

O jornal “O Globo” noticiava em relação à mesma sole-nidade: sob os auspícios da Associação Beneficente Israelita que Paulo Zander e Marc Leitchic da diretoria propuseram e a reunião resolveu contribuir para a coleta patrocinada pela Sra. Oswaldo Aranha com a quantia de 5:000$000; propos-se, idem, a formação de um corpo de voluntarios composto de vitimas do nazi-facismo para servir no momento atual, ao Go-verno e ao Brasil os quais poucos dias depois já começavam a inscrever-se nas listas particulares para tal fim. Nos primeiros dias o número de voluntários que já começavam a inscrever-se nas listas particulares para tal fim ultrapassava de trezentos (“O Globo” 26-08-42).

Em 19 de fevereiro de 1943 realizou-se um leilão da Liga de Defesa Nacional (fundada em 24/3/24) na ARI para os fu-turos pracinhas com uma parte musical a cargo de seu coro ensaiado pelo cantor-mor Fleishman.

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Consta que reuniões foram realizadas pela comunidade, tendo havido alistamento de voluntários para o caso de o Bra-sil entrar em guerra, com mais de 300 assinaturas.

Esta história preciosa foi relativamente esquecida, ao con-trario do que ocorreu com os combatentes judeus das demais nações, recordados no Museu do Veterano Judeu em Israel.

A meio caminho entre Tel-Aviv e Jerusalém uma antiga fortaleza viu de tudo. Por ali passaram de legiões romanas a tropas do Mandato Britânico, e hoje Latrun serve de museu para o Corpo Blindado das Forças de Defesa de Israel.

Tanques sírios e egípcios T-55 Stalin capturados ainda com a pintura branca para o combate na neve... tanques azuis, amarelos, lançadores de pontes, artilharia, canhões imensos, ao lado das silhuetas esguias dos Merkavá quase colados ao solo, escondendo-se atrás de elevações do terreno. É a maior coleção de tanques na face da terra. Mais de 500.

Também ali situa-se o Museu dos Veteranos Judeus, assim considerados em 2 categorias, os que lutaram nos Exércitos Alia-dos durante a II Guerra Mundial, e os que vieram de 44 paises em 1947/48 como voluntários para fortalecer a nascente Tzvah Haganah LeIsrael.(1) Este último era o chamado Machal.

Portanto, a bandeira do Brasil tremula em Latrun, junto com as dos Aliados, como país que participou do esforço para derrotar a Alemanha nazista. Também do Brasil seguiram vo-luntários Machalniks.

O museu eterniza a coragem e valentia de tantos vete-ranos judeus, a maioria americanos, canadenses e soviéticos. Muitos vieram a Latrun para as comemorações dos 60 anos do Dia da Vitória, os peitos cobertos de medalhas.

Uma lacuna porém. Até maio de 2005, o Museu de La-trun desconhecia que existem Veteranos Judeus Brasileiros da II Guerra Mundial.

A Diretora do Centro de Informação de Latrun ficou surpre-sa ao saber que pelos menos 42 judeus brasileiros participaram da luta conta a Alemanha Nazista. E trata-se de uma israelense

1- Forças de Defesa de Israel – união da Haganá e Palmach com o Irgun Tzvai Leumi e dissidências (Lehi e Grupo Stern).

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que fala português, já que casada com um brasileiro...Mas não só ela se surpreendeu. Pouca gente além dos fa-

miliares sabia, até aquele histórico domingo do Rio de Janeiro no Grande Templo, 1º de maio de 2005.

O objetivo desde trabalho é portanto relatar um pouco da história destes valentes soldados que não hesitaram em expor-se ao duplo perigo. Que o relato da sua epopéia fique como exemplo de patriotismo para as futuras gerações.

Esta história aguardou mais de 60 anos para ser contada, relato da atuação durante a 2ª Guerra Mundial de militares brasileiros judeus servindo nas Forças de Terra, Mar e Ar. Pá-ginas de uma epopéia gloriosa que permaneceu quase desco-nhecida por mais de meio século, até que uma homenagem foi prestada a 42 ex-Combatentes judeus no Grande Templo Israelita do Rio de Janeiro, quando o grande público tomou conhecimento de que militares judeus da FEB destacaram-se, tendo sido condecorados por atos de bravura em combate na Itália com importantes medalhas, como a Silver Star do Exérci-to Americano e a Cruz de Combate de 1ª Classe.

Igualmente no mar e no ar, tripulantes judeus a bordo de navios das Marinhas do Brasil e Mercante e nos aviões da FAB em missões de patrulha ao longo do litoral participaram de im-portantes missões no enfrentamento dos submarinos nazistas.

Aqui traçamos breves perfis de alguns destes combatentes, o texto abordando tanto aqueles que seguiram carreira militar, alguns alcançando o generalato, quanto veteranos que ocupa-ram posições de destaque na sociedade civil, nas artes, litera-tura, política, etc.

Dos pelo menos 42 militares brasileiros judeus que inte-graram as forças brasileiras de terra, mar e ar no maior conflito do século XX, ao final de 2008 apenas 13 estão comprovada-mente vivos. Sua participação foi quase ignorada. Mesmo os que se tornaram heróis, agraciados com medalhas concedidas apenas em casos de bravura excepcional em combate foram praticamente esquecidos.

Em geral não se conheciam entre si. Brasileiros natos de primeira geração, seus pais e avós eram imigrantes de países

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como Marrocos, Polônia, Turquia, Rússia.A participação judaica foi grande em termos percentuais,

mas poderia ter sido maior, não fosse o grande numero de imi-grantes que constituía a massa populacional da comunidade, portanto estrangeiros dispensados do Serviço Militar. Com efei-to, da população brasileira em 1942 da ordem de 40 milhões de habitantes, apenas 60 mil se declararam judeus segundo o IBGE. Da ordem de 57 mil imigrantes judeus aportaram no Brasil de 1920 a 1942, dados estes mais confiáveis, visto que coletados nos portos.

Old Soldiers Never Die... A letra de antiga canção da I Guerra Mundial poderá finalmente ser aplicada a militares ju-deus brasileiros. Eles não mais serão recobertos para sempre pela poeira do tempo.

Nas páginas seguintes, teremos o privilégio de revelar quem foram eles, alguns dos Heróis Brasileiros Judeus da Se-gunda Guerra Mundial.

Mensagens Recebidas pela Comissão

Do Coronel R/1 Oly Fischer dos Santos, ex Comandante do Grupo Escola de Artilharia, em Deodoro, Rio de Janeiro.

Ilustre amigo IsraelComungo inteiramente com o justo júbilo dos brasileiros

de origem israelita, que de forma tão patriótica e expressiva se integraram no mais elevado espírito de cidadãos realmente amantes de seu país.

Será sem dúvida uma cerimônia de alto simbolismo de cunho marcante da integração incondicional de gente originária de todas as origens - raças e credos - em nossa pátria.

Muitos países de nosso planeta, mesmo alguns de dimen-sões geográficas expressivamente menores que as do Brasil não tiveram este previlégio.

Vivem um eterno clima de disturbio social, de lutas san-grentas, às vezes, justamente por motivos de intolerâncias re-

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ligiosas ou étnicas.Cumprimento o amigo pelo seu empenho cotidiano e

exaustivo em ressaltar quanto o povo de origem judaica, que aqui vive e labuta representa uma parcela importante em nossa cominidade brasileira, representou e representa, no contexto de nossa nacionalidade.

Um forte abraçoOly Fischer dos Santos

Da Sra Devori Borger, do Museu dos Veteranos Judeus da Segunda Guerra Mundial em Latrun, Israel, à margem da Rodovia Tel-Aviv-Jerusalém.

Dear Mr. Blajberg,It was a great honor to meet you in the National Memorial

Day of the Fallen. Soldiers of the IDF at Yad Lashiryon.I was impressed from your knowledge and your deep mo-

tivation to join our important effort by suppling information for the Museum of the Jewish. Soldier in WWII which is in establishment.

The information that you sent regarding the participation of the Brazilian Jewish soldiers (Incuding the general back-ground) is very essential and useful- the summery and the lists - since we are working on databases, individual stories and the aspects of the Allies forces and, events and combats during the Second Would War.

You generously suggested to send photos and further in-formation regarding the Jewish soldiers as far as you get - that means that we should be in current contact.

I would be very glad to supply for you information you need for your research and use when it would be possible and available.

“Muito obrigado”, “Shavua tov”.Be our guest of honor.

Devori BorgerThe Museum of the Jewish Soldier in WWII treasury officeLatrun Information Center - The IDF Armored Corps Library

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32 Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE

Capítulo 3

Distribuição pelas Forças Singulares e Unidades

Como forma de divulgar, principalmemte para as novas gerações quem foram os bravos soldados brasileiros judeus, seus feitos heróicos e resumos biográficos aqui se oferecem neste livro aos estudiosos e interessados na temática militar e judaica brasileira.

No Capítulo 6 apresentamos em ordem alfabética as mini-biografias dos Heróis Brasileiros Judeus da Segunda Guerra Mundial.

Apesar do esforço desenvolvido em 2005 pela Comissão, e de nossas pesquisas posteriores, dois óbices restaram insanados:

1 - É provável que existam outros nomes a serem recupe-rados para a merecida homenagem.

2- Dos nomes constantes desta obra, alguns não puderam ser localizados, ou seus familiares, assim não foi possível dar o devido destaque as respectivas biografias, que ficaram care-cendo do necessario detalhamento. Em alguns poucos casos ficou faltando inclusive a confirmação final de que realmente eram membros da Comunidade Judaica Brasileira. Optamos por manter estes nomes na esperança de que a divulgação da obra traga a lume novas informações, de possíveis parentes e amigos, a serem incorporados a futuras edições.

Considerou-se neste trabalho para elaboração da Nomi-nata, a definição de ex-combatente preconizada na legislação brasileira, a saber:

I - integrante da Força Expedicionária Brasileira ou de For-ça do Exército que tenha participado ativamente de operações bélicas ou servido em Zona de Guerra.

II - integrante da Marinha de Guerra que tenha participado

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33SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg

ativamente de operações de guerra, em missão de escolta, com-boio ou patrulhamento oceânico ou servido em Zona de Guerra.

III - integrante da Força Aérea que tenha participado ativa-mente de operações de guerra na Itália, ou em missões de es-colta, comboio ou patrulhamento oceânico, a bordo de aero-naves armadas, nacionais ou aliadas, engajadas em missões de proteção às rotas marítimas; ou servido em Zona de Guerra.

IV - tripulantes embarcados a bordo de navios mercantes, pertencentes a Companhias Nacionais e Estrangeiras, navegan-do em águas oceânicas ou costeiras sujeitas ao ataque de sub-marinos inimigos.

Constitui prova de participação ativa em operações de guerra, um dos seguintes documentos:

I - para o ex-combatente do exército: Diploma de Medalha de Campanha, Medalha de Sangue do Brasil, Medalha Cruz de Combate de 1ª ou 2ª Classe, Medalha de Serviços de Guerra.

II - para o ex-combatente da Marinha de Guerra: Diploma de Medalha de Serviços de Guerra com ou sem Estrelas, Me-dalha da Força Naval do Nordeste, Medalha da Força Naval do Sul, Cruz de Guerra Naval ou Medalha de Serviços Relevantes, em ambos os casos, acompanhados da respectiva Certidão do Conselho do Mérito de Guerra;

III - para o ex-combatente da Força Aérea Brasileira: Di-ploma de Medalha de Campanha, Cruz da Aviação ou Meda-lha da Campanha do Atlântico Sul;

IV - para o ex-combatente da Marinha Mercante: Diploma de uma das Medalhas de Serviços de Guerra, acompanhada da respectiva Certidão do Conselho do Mérito de Guerra.

Além dos 42 Heróis Brasileiros Judeus da 2ª, Guerra Mun-dial, optamos por mencionar mais 10 Veteranos, sendo:

1 Veterano – honorário, por sua afinidade com a Comuni-dade Judaica;

3 Veteranos – cuja condição de integrante da Comunida-de Judaica está pendente de confirmação;

1 Veterano – integrante da Parada da Vitória em Londres – 19465 Veteranos – Ex-combatentes Judeus de Nações Amigas re-

sidentes no país, em geral naturalizados e com filhos brasileiros.

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34 Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE

Com base no exposto, consolidamos a seguir a nominata, com os respectivos sub-totais de nomes levantados e sua classificação:

a) Ex-Combatentes Brasileiros Judeus – 42 VeteranosAbrahão Fainguelernt Adio NovakAlberto ChahonBernardo StifelmanBoris Markenzon Boris Schnaiderman Carleto Bemerguy Carlos ScliarDavid Lavinski David Leon RodinEdidio GuertzensteinElias NirembergGuilherme Bessa Filho Heitor Sennes Pinto Henrique SchaladowskyIsrael Hollmann Israel Rosenthal Jacob Benemond Jacob David Cohen Jacob David Niskier Jacob GorenderJacob PerelmannJacob Zveiter José SegalLeão Stambowsky Marcos CerkesMarcos Galper Mauricio José Pinkusfeld Melchisedech Affonso De CarvalhoMoises GitzMoyses Chahon Pedro KullockRafael Eshrique

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35SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg

Salli Szajnferber Salomão Malina Salomão Naslausky Samuel KicisSamuel MillerSamuel SafkerSamuel SoichetSaul AntelmanWaldemar Rozental

b) Figuração Honorária Reynaldo Antônio de Borba

c) Figuração Preliminar e Provisória (Pendente de Confir-mação) – 3 Veteranos

Donald Cohen MarquesIsrael BonaJacob Chafier Sobelman

d) Integrante da Representação do Brasil na Parada da Vitória, Londres - 1946Miguel Grinspan

e) Ex-Combatentes Judeus de Nações Amigas no Brasil – 5 Veteranos

Akiba André LevyGeorges SchteinbergGerald GoldsteinIrmãos Isac e Nathan Kimelblat

Distribuição pelas Forças Singulares

A partir dos levantamentos efetuados pela Comissão Or-ganizadora do evento Heróis Brasileiros Judeus da 2ª Guerra Mundial realizado em 1º maio de 2005 no Grande Templo Israelita do Rio de Janeiro, chegamos aos seguintes números:

Exército Brasileiro – FEB - 25 homens

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36 Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE

Oficiais da Ativa - 5 Oficiais R/2 - 6 Sargentos - 6Cabos e Soldados - 8 Exército Brasileiro – Defesa do Litoral - 4 homensOficiais R/2 - 2 Sargentos - 2

Total Exército Brasileiro - 29 homens

Marinha do Brasil - 4 homensOficiais - 2Marinheiros - 2

FAB - 3 homensSargentos - 3

Marinha Mercante - 6 homensComandantes - 3Comissários e Outros - 3 Total - 42 homens Ao final de 2008, destes 42 veteranos 13 pemanecem

comprovadamente vivos, sendo que dos demais 29, alguns não foram localizados.

A seguir apresenta-se a Nominata dos Veteranos, com o posto que ocupavam à época da guerra, e entre parênteses, se foi o caso, o último posto atingido ao final da carreira.

Marinha do Brasil

Ten Boris Markenzon (Almirante)Capitão Tenente Méd Dr. Edidio Guertzenstein (Almirante)MN Leon Stambowsky MN Melchisedech Afonso de Carvalho (2º Ten)

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37SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg

Exército Brasileiro – F E B

Oficiais da AtivaTem Alberto Chahon (Cel Mat Bel)Tem Moyses Chahon (Gen Div)Ten Salli Szajnferber (Cel Art)Cap Salomão Naslausky (Cel Art)Cap Samuel Kicis (Gen Div)

Oficiais R/22º Ten INF Israel Rosenthal2º Ten INF Marcos Cerkes2º Ten ART Marcos Galper (Major R/2)2º Ten INF Pedro Kullock2º Ten INF Salomão Malina2º Ten Méd Dr Samuel Soichet

Sargentos3º Sgt Adio Novak (Cap)3º Sgt Boris SchnaidermanSgt Heitor Pinto Sennes (Maj)2º Sgt Henrique Schaladowsky3º Sgt Jacob Perelmann (Cap)3º Sgt Rafael Eshrique

Cabos e SoldadosSd Carleto BermeguyCb Carlos ScliarCb David LavinskySd Elias NirembergCb Samuel SafkerCb Saul AntelmanCb Moises GitzSd Jacob Gorender

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Exército Brasileiro – Defesa do Litoral

2° Ten R/2 ART Abrahão Fainghelernt2° Ten R/2 INF José Segal3º Sgt Jacob David CohenSgt Waldemar Rozental (1º Ten)

Força Aérea Brasileira – Veteranos 2ª G M

S3 Bernardo Stifelman (1º Ten)Israel HollmanSO Jacob Zveiter (T Cel)

Marinha Mercante – Veteranos 2ª G M

Capitão-de-Longo-Curso David Leon Rodin Capitão-de-Longo-Curso Jacob BenemondCapitão-de-Longo-Curso Samuel Miller1º Radio-Telegrafista Guilherme Bessa Filho 1º Comissário Jacob David Niskier 2º Comissário Mauricio José Pinkusfeld

Distribuição pelas Armas e Unidades

Aqui classificamos os 42 homens relacionados segundo a Arma, Quadro ou Serviço, com o posto ocupado durante a guerra e a unidade na qual serviram.

Exército Brasileiro – FEB

Oficiais - Infantaria1º Ten Alberto Chahon – I RI – Regimento Sampaio1º Ten Moisés Chahon – I RI – Regimento Sampaio2º Ten R/2 Salomão Malina – 11 RI 2º Ten R/2 Marcos Cherques – CRP/FEB – DP2º Ten R/2 Pedro Kuloc – CRP/FEB – DP 2º Ten R/2 Israel Rosenthal – CRP/FEB – DP

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39SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg

ArtilhariaCap Samuel Kicis – I/I RAPC – 2/4 – II / 4 GO 105 Cap Salomão Nauslausky – I/I ROAuR2º Ten Salli Szajnferber – I/II ROAuR2º Ten R/2 Marcos Galper – II/I ROAuR

Serviço de SaúdeAsp Of R/2 Méd Dr. Samuel Shoichet – I Btl Saúde

SargentosInfantaria

3 Sgt Jacob Perelman – DP/FEB3 Sgt Heitor Sennes Pinto – CRP/FEB - DP3 Sgt Adio Novak – QG/I DIE

Artilharia3 Sgt Boris Schnaiderman – II/I ROAuR3 Sgt Waldemar Rozenthal – 2° GADo3 Sgt Jacob David Cohen – 2°/3º. RAAAe

Engenharia3 Sgt Henrique Chaladowsky, – 9 Btl Eng

Cabos e SoldadosInfantaria

Cb Samuel Safker – QG/I DIESd Jacob Gorender – I RI – Regimento SampaioSd Elias Nirenberg – CRP-FEB – Tropa QGSd Carleto Bemerguy

CavalariaCb Saul Antelman, – QG/Gen FalconieriCb Moises Gits – CRP/FEB – DP/FEB

ArtilhariaCabo David Lavinski – I/II ROAuRCabo Carlos Scliar – I/I ROAuR

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40 Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE

Exército Brasileiro – Defesa do Litoral

OficiaisInfantaria

2º Ten R/2 José Segal, CRP/FEB

ArtilhariaSgt Waldemar Rozental, 2° GADo2º Ten R/2 Abrahão Fainguelernt, 1° BMAC

SargentosArtilharia

3º Sgt Jacob David Cohen 2°/3° RAAAe

Marinha do BrasilCT Méd Dr. Edidio Guertzenstein, CT Boris Markenzon, MN Leon Stambovski, MN Melchisedech Affonso de Carvalho

FAB - Força Aérea BrasileiraSO-FT Bernardo StifelmanIsrael Hollmann, SO Jacob Zveiter

Marinha MercanteCap Longo Curso Jacob Benemond, Cap Longo Curso David Leon Rodin, 2º Comissario Jacob David Niskier, 2º Comissario Mauricio Pinkusfeld, 1º Radio-Telegrafista Guilherme Bessa Filho

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41SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg

Capítulo 4

Grande HomenagemMarechal Waldemar

LEVY CardosoNascido em 04 dez 1900, Dia de Santa Bárbara Padroeira

da Artilharia, homem que viveu em 3 séculos, o único Ma-rechal vivo, Veterano da 2ª Guerra Mundial, atual detentor do Bastão de Comando da Força Expedicionaria Brasileira, um ícone da Nacionalidade, figura querida e admirada por todos.

Há Cardosos de origem judaica, mas não é o caso do Ma-rechal.

Sua raiz judaica provém do sobrenome Levy de sua mãe, com origem provável na Argélia, descendente de judeus fran-ceses.

“Disso me orgulho muito, pode crer”, afirmou o Marechal ao imortal Arnaldo Niskier, por ocasião de uma cerimônia onde estiveram juntos (Jornal do Comércio do Rio de Janeiro, 04/04/2005)

Sua família era toda do Rio, apenas o pai sendo natural do Rio Grande do Sul, Antônio de Almeida Cardoso filho de por-tugueses, falecido quando o menino Waldemar tinha 11 anos, passando então a ser criado por sua mãe, professora. O pai havia se convertido ao Judaísmo para casar-se com Da. Stella Levy, em 1898.

Tiveram 2 filhos, Armando Levy Cardoso, que consta ter sido ativo na comunidade judaica, na época de Capitão. Al-cançou o posto de Coronel, tendo falecido em maio de 1983.

O menino Waldemar foi educado na religião judaica, ten-do se convertido a Religião Católica com 53 anos. Na época comandava o Regimento de Artilharia de Itu – SP, cidade com

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a qual tem fortes laços familiares. Consta que Frei Gilberto, daquela cidade, desempenhou

papel relevante na sua conversão, cuja motivação remonta a um episódio ocorrido durante a guerra na Itália.

Tendo o então Ten Coronel Levy se extraviado, adentrou uma igreja para solicitar informações sobre a posição da tropa brasileira.

O pároco não sabia, mas aproveitou para mostrar uma antiga e valiosa imagem de Santa Barbara, a mártir cristã. Ao retirar-se, Levy percorreu curta distância e avistou o pavilhão nacional hasteado no ponto que procurava.

Ainda conforme relatado ao Prof. Niskier, uma pequena medalha de Santa Bárbara que lhe foi dada pela mulher, na véspera da partida para a guerra, o protegeu: “sou judeu, não nego, mas Santa Bárbara, a quem venero, foi quem salvou a minha vida.”

“Minha mãe era muito religiosa. tinha o sobrenome Levy. não queria que me casasse fora da religião judaica, mas acon-teceu”.

Assim, tendo nascido no Dia de Santa Bárbara, padroeira dos Artilheiros, o jovem Levy Cardoso optou pela Arma de Artilharia, e já adulto pela religião católica.

A vida de Santa Bárbara se relaciona à artilharia porque após ser martirizada ocorreu violento temporal com raios e trovões, semelhantes ao estrondo e clarão dos disparos de ca-nhão. A Santa nasceu em um 4 de dezembro no século III, na Ásia Menor, sob domínio romano. Era filha de pagãos, e seu pai a prendeu numa torre para evitar casamento indesejável ou seduções do cristianismo. A jovem fugiu, é trazida de volta pelo pai e entregue ao governador Marciano que a martiriza. Após sua morte um raio fulmina o pai. A santa tornou-se pa-droeira da boa morte, sendo invocada pelos devotos quando de relâmpagos e trovões.

Sempre a cada 4 de dezembro, uma missa no Forte Copa-cabana celebra o Dia da Padroeira, quando o Marechal mani-festa grande religiosidade e devoção à Santa.

Acompanhado por familiares e amigos, contrito ouve a pa-

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lavra do Capelão Mlitar, e ao final recebe a Hóstia, nos últimos anos em cadeira de rodas, devido a uma queda que sofreu em sua residência.

Já é uma tradição seu comparecimento ao Forte de Copa-cabana no Dia de Santa Bárbara, que coincide com a reunião da Ordem dos Velhos Artilheiros, da qual é o Decano. O Al-moço Festivo reune Artilheiros da Ativa e da Reserva, em torno do carismático e respeitado Marechal, que reside nas proximi-dades, na Rua Toneleros.

Em diversas outras solenidades sua presença confere um clima todo especial ao evento, como no 8 de Maio – Dia da Vitória, e no 10 de junho, Dia da Artilharia, em uma unidade da Arma de Mallet.

Quer seja de noite ou de dia, nas Fortalezas de Santa Cruz ou São João, na Vila Militar ou em São Cristóvão, o Marechal está sempre presente, invariavelmente acompanhado de seu genro, General de Exército Antônio Joaquim Soares Moreira, ex-Chefe do Estado Maior do Exército e ex-Presidente do Supe-rior Tribunal Militar.

A dedicação e carinho do General Moreira para com o Marechal são notáveis. Também ele oriundo da Arma de Arti-lharia, está sempre junto ao Marechal, auxiliando os acompa-nhantes a desloca-lo em cadeira de rodas.

Na reunião de 04 dez 2007 foi inaugurada a imagem de Santa Bárbara junto ao Portão Histórico do Forte de Copaca-bana, entronizada pelo Capelão da 1ª Região Militar Padre Lindenberg, seguindo-se a Missa em homenagem à Santa no auditório do Forte.

Toda unidade de artilharia costuma ter uma imagem da Santa Padroeira em local de destaque.

No Cassino dos Oficiais, o Marechal Levy recebeu o Bas-tão de Comando da FEB, como mais antigo ex-combatente, e da janela comandou uma Salva Festiva disparada por peças do 21º GAC.

Depois do “Parabéns” o Marechal apagou as velas e agra-deceu emocionado, encerrando-se a festa com a Canção da Artilharia.

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Na Homenagem aos Heróis Brasileiros Judeus da 2ª Guer-ra Mundial, o Marechal Levy compareceu ao Grande Templo Israelita, no Centro do Rio, mesmo em cadeira de rodas, em-bora não tivesse sido um dos homenageados, pois a Comissão considerou que a religião atual deveria prevalecer.

Entretanto, mais tarde concluimos que o Marechal deveria ter sido justamente lembrado, ainda que de forma honorífica, por ser o detentor do Bastão de Comando da FEB, o que foi sa-nado no 19 de abril, Dia do Exército, que recorda a Batalha de Guararapes em 1648, quando os holandeses foram expulsos do Brasil, e que marca as origens do Exército Brasileiro.

No Salão Nobre do Palácio Duque de Caixas, sede do Co-mando Militar do Leste, aproveitando a presença do Marechal, o Autor fez a entrega informal do Diploma, homenagem que a rigor deveria ter feito juz na solenidade realizada em maio de 2005 no Grande Templo Israelita. O Marechal, sorridente como sempre, agradeceu e comentou “sou judeu, não nego minha raça, minha mãe era Stella Levy, mas pela religião sou católico”.

Na ocasião o correligionário Melchisedec Affonso de Car-valho, Diretor Cultural da Associação dos Ex-combatentes do Brasil foi agraciado com a Medalha da Ordem do Mérito Mi-litar, mais alta comenda do Exército Brasileiro, pelos relevan-tes serviços prestados à Força Terrestre, na solenidade que foi presidida pelo General de Exército Domingos Curado, Coman-dante Militar do Leste.

Da sua vida familiar judaica quando solteiro o Marechal ainda guarda algumas recordações, embora não possa pre-cisar a data da chegada da família de Da. Stela Levy e seus pais e outros parentes, por nunca ter indagado, como em ge-ral acontece dado que poucos jovens se interessam por estas questões.

Sua mãe formou-se professora na Escola Normal na Praça da República, onde hoje está instalada a Escola Municipal Ri-vadávia Correia. Com ótima classificação, foi convidada pelo seu Profesor Bricio Filho para ser sua Assistente. Terminado esse estágio foi classificada em uma escola no litoral. Para lá

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chegar viajava de bonde de tração animal até a estação Central do Brasil, onde embarcava no trem para Campo Grande. De lá, um pajem contratado pelo marido Armando a conduzia a cavalo até a escola.

Fazia o caminho de volta chegando em casa ao anoitecer. O marido lhe pedia que deixasse de lecionar, mas ela insistia, alegando ser seu dever ENSINAR, o que fez sucessivamente nas escolas do Alto do Morro do Castelo, que subia a pé, Rua do Vianna em São Cristóvão, Rua Mariz e Barros, e finalmente na Escola Teophilo Ottoni da Rua Senador Furtado na Praça da Bandeira, quando se aposentou.

Ao final do séc XIX, quando Stella e Armando se casaram a população judaica do Brasil era pequena, apenas 300 indi-víduos segundo o IBGE, mas diversos autores como o Casal Wolff, AJC e outros estimam que um número mais real seria da ordem de 3 mil almas.

O Marechal recorda que relacionavam-se com seu pai Armando Levy, Wolf Klabin e Horácio Lafer, da Indústria de Papel Klabin, as famílias Azulay, Kanitz (ou Kaminitzer) e a família Abraão, cujo filho Rafael (Rafa) possuía uma fazenda de café em São Paulo.

Havia outros familiares judeus, como Armando Lyndai-mer, casado com uma tia de Da. Stella Levy também chama-da Stella, Henry Levy, Frances da Alsácia que emigrou para o Brasil após a guerra de 1870 e casou com Clara, uma prima de Stella Levy. Tiveram um filho, René, que foi o melhor amigo do Marechal durante a sua vida.

Elias Toruzman, judeu marroquino de Casablanca, emi-grou para o Brasil, casando-se com Rachel, outra prima de Stella Levy.

Isaac Nahon, casou-se com a tia mais velha do Marechal, Maria, tendo uma filha, Fortunée, e um filho também chamado Isaac Nahon, que chegou a General de Exército.

O jovem Waldemar freqüentou uma sinagoga no Centro da cidade do Rio de Janeiro, não se recordando exatamente o local, talvez na Rua do Rezende. Como todo menino judeu, foi circuncidado e fez o Bar Mitzvá, cerimônia que marca a

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maioridade religiosa aos 13 anos, e que ele recorda ser de-signada como Tefilim e sido oficiada por um judeu a quem chamavam de Rabi.

Seus pais foram sepultados no Cemitério do Caju, e con-forme acredita o Marechal, sua genitora o foi no cemitério ju-daico ali existente.

A memória do Marechal é prodigiosa, recordando, em suas próprias palavras, que quando foi fazer o Tefilim, lhe foi entregue uma oração, escrita como se pronuncia em hebraico (que ele não dominava), assim: “Baru, Batai, Adonai, Mitzvá, Achê, Eloeinu, etc ...“

O jovem Waldemar não praticava a religião, mas todos respeitavam o Yom Kippur (Dia do Perdão, o mais sagrado do ano).

Waldemar jejuava durante 24 horas, inclusive sem beber água, indo a pé de casa até a Sinagoga, como preconiza a Lei Mosaica.

Turma de 18 de Janeiro de 1921 da Escola Militardo Realengo a que pertence o Marechal Levy Cardoso

A Turma de Aspirantes-a-Oficial formada em 18 de janeiro de 1921 na Escola Militar do Realengo daria ao Brasil impor-tantes personalidades históricas, diversos Marechais e Gene-rais que viriam a ter papel preponderante em acontecimentos relevantes da história pátria:

Pertenciam à esta Turma: Ministro da Guerra, General Jair Dantas Ribeiro; Chefe do Estado-Maior do Exército, Ge-neral Humberto de Alencar Castello Branco; Comandante do I Exército, General Armando de Moraes Ancora; Co-mandante do II Exército, Gen Amaury Kruel; o Comandan-te do III Exército, General Benjamim Rodrigues Galhardo; Chefe do Departamento Geral do Pessoal, General Arthur da Costa Silva; Chefe do Departamento de Provisão-Geral, General João de Segadas de Viana; Comandante da 4° RM, General Olímpio Mourão Filho, Generais Adhemar de Queiroz, futuro Ministro da Guerra;João Baptista de Mat-

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tos, escritor e historiador militar; Octacílio Terra Ururahy; Nilo Augusto Guerreiro Lima; Estevão Taurino de Rezende Netto; João Batista Rangel; José Theófilo de Arruda; Emílio Maurell Filho; Ignácio de Freitas Rolim e Antônio Accioly Borges.

Por Armas, entre outros, estes foram alguns de seus inte-grantes mais conhecidos:

INFANTARIA: Humberto de Alencar Castello Branco, Olympio Mourão Filho, Aguinaldo Caiado de Castro, Nilo Au-gusto Guerreiro Lima, Jair Dantas Ribeiro, Ignácio de Loyola Daher, João Baptista de Mattos, Armando Levy Cardoso.

CAVALARIA: Armando de Moraes Ancora, Estevão Tauri-no de Rezende Neto, Amaury Kruel.

ARTILHARIA: Waldemar Levy Cardoso, Alcides Gonçal-ves Etchegoyen.

ENGENHARIA: Edmundo Macedo Soares e Silva, Otacílio Terra Ururahy.

WALDEMAR LEVY CARDOSO é o último Marechal vivo do Exército Brasileiro, posto que foi extinto em 1967, e a que chegaram militares como Luís Alves de Lima e Sil-va, o Duque de Caxias, Manuel Luís Osório, Patrono da Arma de Cavalaria, Deodoro da Fonseca, proclamador da República, Cândido Rondon, paladino da causa indígena, Juarez Távora, Cordeiro de Farias, Costa e Silva, Eurico Gaspar Dutra, Floriano Peixoto, Sousa Aguiar, Lott, Hermes da Fonseca, Castello Branco, José Pessoa, Mascarenhas de Moraes, Aguinaldo Caiado de Castro, Ângelo Mendes de Moraes, Carlos Machado Bittencourt, João de Deus Mena Barreto, João de Segadas Viana, José Pessoa, Odílio Denys e outros.

O Marechal Levy assesntou praça aos 09 jan 1918 como voluntário na Escola Militar, passando para a Reserva em 06 out 1966 com 48 anos, 08 meses e 28 dias de tempo de serviço militar.

Cursou o Colégio Militar da Capital Federal, Escola Mili-tar do Realengo – 1918/1921, Escola de Artilharia – 1933 e Escola de Estado Maior – 1935/1937.

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Casou-se com Da. Maria da Glória de Oliveira Levy Cardoso,nascida em 23 de junho de 1907 e falecida em 2006.

Sua carreira militar foi vasta e profícua, servindo em diversa unidades de Artilharia, tendo sido Comandante do 1º Regimento de Obuses Auto Rebocado, unidade da Força Expedicionária Brasileira em campanha na Itália – 1944/45, a convite do General Cordeiro de Farias, Comandante da Artilharia Divisionária. Sua unidade teve desempenho des-tacado na conquista de Monte Castelo, Castelnuovo e Mon-tese.

Em 1951, foi enviado para a Europa como adido militar às embaixadas do Brasil na França e na Espanha.

Retornando ao Brasil em 1953, foi comandar o Segundo Regimento de Obuses 105 em Itu-SP, onde servira como As-pirante tendo permanecido até a promoção a general-de-bri-gada.

Em 1957, foi nomeado para a chefia do gabinete do mi-nistro da Guerra, general Henrique Teixeira Lott, em seguida Diretor da Diretoria de Aperfeiçoamento e Especialização – 1961; Comandante da 2ª Divisão de Infantaria – 1961; Diretor da Diretoria de Serviço Militar – 1963;

Após a revolução de 1964, assumiu a chefia do Departa-mento Geral de Pessoal e Departamento de Provisão Geral.

Passou para a reserva em 1966, com a patente de mare-chal. Em abril de 1967, foi nomeado presidente do Conselho Nacional do Petróleo, cargo que manteve até março de 1969, quando assumiu a presidência da Petrobras. Deixou a presi-dência em novembro de 1969. Entre 1971 e 1985, foi conse-lheiro da Petrobras.

Possui as seguintes Medalhas e Condecorações:Medalha Militar de Prata – 1934Medalha de Guerra – 1945Medalha Militar de Ouro – 1949Medalha Marechal Hermes de Prata com 1 coroa – 1956Medalha do Pacificador – 1957Medalha Mérito de Santos Dumont – 1957

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49SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg

Medalha Militar de Ouro com passadeira de Platina - 1958Cruz de Guerra com Palma – 1945Croce Valore Militare (Itália) – 1945Bronze Star (EUA) – 1946Cruz de Combate de 2ª Classe – 1947Ordem do Mérito Militar – 1955Ordem do Mérito Naval - 1958Promoções:ASPIRANTE: 18/01/19212º TENENTE: 11/05/19211º TENENTE: 07/09/1922CAPITÃO: 26/06/1929MAJOR: 05/03/1940 - merecimentoTENENTE-CORONEL: 24/06/1943 - merecimentoCORONEL: 25/03/1948 - merecimentoGENERAL-DE-BRIGADA: 09/08/1954GENERAL-DE-DIVISÃO: 25/03/1961GENERAL-DE-EXÉRCITO: 25/11/1964MARECHAL-DE-EXÉRCITO: 06/10/1966 - Inatividade

Coronéis Levy Cardoso (esq.) e Isaac Nahon na épocaem que comandaram o Regimento MALLET

de Santa Maria da Boca do Monte - RS

Seria interessante destacar que tanto o Coronel Levy Cardoso quanto o Coronel Isaac Nahon comandaram a mais

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tradicional unidade da Arma de Artilharia do Exército Bra-sileiro, o Regimento MALLET, onde também serviu o neto do segundo, Tenente Coronel Paulo Antônio Nahon Penido Monteiro.

Decano das unidades de Artilharia de Campanha do Exército Brasileiro, foi criado em 4 de maio de 1831, com a denominação de Corpo de Artilharia a Cavalo em Rio Grande de São Pedro (RS).

Sob o comando de Mallet, participou da Campanha con-tra Oribe e Rosas, na qual adquiriu o legendário apelido de “Boi de Botas”, participando da maior batalha da América do Sul, Tuiuti, em 24 de maio de 1866, onde enfrentou mais de vinte cargas da Cavalaria paraguaya: “Eles que venham! Gra-nada e metralha, espoletas a seis segundos!... Por aqui eles não passam!... Por aqui não entram!”.

Em 1925 o 5º RAM instalou-se em Santa Maria (RS), recebendo em 1932 a denominação histórica “Regimento Mallet”. 54 integrantes da unidade integraram a Força Expe-dicionária Brasileira na Itália.

Posteriormente recebeu a denominação 3º Regimento de Artilharia 75mm Auto Rebocado, 3º Regimento de Obuses 105mm e atualmente 3º Grupo de Artilharia de Campanha Autopropulsado, o “Regimento Mallet”, por ter recebido em 1971 obuseiros M 108 105mm autopropulsados.

Abriga o Memorial Mallet, onde repousam os restos mor-tais do Patrono da Artilharia e sua esposa, e o museu, que possui um fragmento de osso de Santa Bárbara. A relíquia é guardada em estojo de prata guarnecido de ouro, protegi-da por uma tampa redonda de cristal atada com um cordão de seda vermelha com o selo do Vaticano, e tem certificado de autenticidade assinado pelo vigário-geral do Vaticano. Ela foi recebida como doação pelo marechal Levy Cardoso, ex-comandante do Regimento Mallet, quando visitou o mosteiro de Monte Casino, na Itália, em 1945.

O grupo de Santa Maria construiu uma capela que abriga o estojo com o fragmento de osso e imagens de Santa Bárbara e Nossa Senhora da Conceição, padroeira do 3º GAC.

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51SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE - Israel Blajberg

Legenda das Fotos:Foto 1 - Marechal Levy e o Autor na solenidade do Dia da Artilharia, 10 jun 2008, no 11° Grupo de Artilharia de Campanha – Grupo Montese, na Vila Militar – Rio de Janeiro.Foto 2 - Diploma concedido ao Autor pela Ordem dos Velhos Artilheiros, assinado pelo Decano Marechal Levy Cardoso.Foto 3 - Brasão de Armas da mais tradicional unidade da Arma de Artilharia do Exército Brasileiro, o Regimento MALLET de Santa Maria - RS.Foto 4 - Marechal Levy e o Presidente da FIERJ Sérgio Niskier na Tribuna de Honra do Desfi le Militar de 7 de Setembro de 2007, na Av. Presidente Vargas, Rio de Janeiro.

Foto 1

Foto 3

Foto 2

Foto 4

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Capítulo 5

HOMENAGEM ESPECIALOs Bravos que Vieram de Longe

Participação Especial do General Ruy Leal Campello,Veterano do Regimento Sampaio

da FEB e do Batalhão Suez

Este é um depoimento precioso, da lavra de um grande Soldado, que aos 92 anos o elaborou especialmente, escreven-do penosamente à mão devido a dores que o acometiam, ao longo de vários meses em 2008, para este livro, em meio as vicissitudes da luta travada pelos últimos remanescentes vivos da gloriosa Força Expedicionária Brasileira para manter acesa a chama que ilumina a memória dos feitos de nossos patrícios na Segunda Guerra Mundial, constituída pela ANVFEB – Asso-ciação Nacional dos Veteranos da FEB.

O General CAMPELLO é Presidente do Conselho Deli-berativo da ANVFEB, e desejou prestar a sua homenagem aos colegas de turma da Escola Militar do Realengo, os Irmãos Chahon e o Ten Pinto Duarte.

I - Introdução

Estamos vivendo novo século. São passados mais de ses-senta anos.

O Brasil foi, então, envolvido em sangrentos acontecimen-tos e obrigado a responder afrontosos atos que feriram sua so-berania. Era a II Grande Guerra que assolava todos os recantos de nossos continentes. Tivemos que preparar representação, isto é, um braço forte - militar - para apoiar os aliados e revidar os ataques sofridos ao longo da costa brasileira, contra unida-des de nossa marinha mercante. Tal foi, sem dúvida, o motivo cruciante que levantou a opinião nacional e acabou por exibir

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o rompimento diplomático e a seguir - o estado de guerra - contra as potências do eixo.

E o Brasil foi à guerra. Na península italiana, no Continen-te Europeu, de onde partiram os navegadores e as caravelas de Dom Manuel, de Sagres; Colombo, o Genovês; Vasco da Gama e aqui aportou Cabral.

Muito se tem escrito - loas e acerbas críticas - que vão do desempenho glorioso, a impiedosas considerações, que abran-gem todos os setores envolvidos políticos e militares - e o mes-mo povo que acudia às ruas exigindo revide aos “ataques do eixo”, passado o tempo, esquece seus mártires e despreza os feitos de seus bravos soldados, aí incluídos aqueles que escre-vem “abalizadas opiniões” para diminuir os êxitos e aumentar as falhas ocorridas e que, em havendo nova feita, ocorrerão certamente.

Tendo vivido os acontecimentos, função da profissão abraçada, com ardor e dedicação labutado toda uma vida, não posso deixar passar sem frustração tal sentimento, quando, no último quartel da existência, assisto, leio ou escuto opiniões, que tocam fundo a alma de velho soldado e combatente da arma de infantaria. Em algum ponto e, ninguém é perfeito, podemos ser apontados por um senão. Assumimos a respon-sabilidade, mas estamos conscientes de havermos procedido visando, sempre e apenas, ao cumprimento do dever.

O devaneio acima surgiu após recentes comemorações do sexagésimo terceiro aniversário da tomada de Monte Caste-lo, a 21 de fevereiro de 1945. Incluo, ainda, recente envol-vimento com o grupo de veteranos congregados na ANVFEB (Associação Nacional de Veteranos da Força Expedicionária Brasileira). A Associação encontra-se em difícil situação, sem recursos financeiros para fazer frente aos encargos administra-tivos e quadros capazes de enfrentar a eventualidade, pois seus associados são cidadãos que já ultrapassaram oitenta anos!

Ao finalizar este intróito devo incluir a razão que me obri-ga recordar fatos e passagens vividas, quando, como jovem tenente, integrei a 5° Cia Fuzileiros do Regimento Sampaio. Decidi atender solicitação de dedicado professor Israel Blaj-

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berg, que planeja editar trabalho exaltando a conduta de jo-vens brasileiros, durante o desenrolar da Campanha da Itália e intitula o trabalho, “SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE”. Examinando a relação apresentada, todos israelitas, retirei dois nomes. Eis que foram colegas de nossa turma de cadetes da saudosa Escola Militar de Realengo, matriculados em 1938, portanto, época em que o fantasma da II Grande Guerra prepa-rava-se para mostrar suas garras avassaladoras.

Tentaremos mostrar o desempenho dos sempre lembrados companheiros Alberto Chahon e Moyses Clahon, dois irmãos que viveram, como todos nós jovens tenentes da arma de in-fantaria todas as agruras da guerra, integrando o Regimento Sampaio. A exposição relativa a Moyses Chahon é mais am-pla, pois participou de todas as operações do II BI (Major Sy-seno), justamente o meu batalhão e daí a decisão de mostrar nossas observações que retratam os embates enfrentados na campanha pelos executantes de 1° escalão de combate. No que respeita ao caro companheiro e amigo Alberto, integrando o 1° BTL (Major Uzeda) do mesmo Regimento citamos, um resumo, mas sua conduta merece toda admiração e é digna de ser apontada.

II - Dois Tenentes

O Tenente Alberto Chahon, mais moço dos citados, comi-go serviu no 2° Regimento de Infantaria, quando se iniciou a organização da FEB. Foi classificado no 1° Batalhão do Regi-mento Sampaio e exerceu função de realce como “oficial de transmissões”, termo usado na época para indicar importante necessidade de combate e chefia, isto é, as comunicações ne-cessárias ao comando, no que respeita o estabelecimento das ligações, transmissão de ordens e informações de combate. No 1° Batalhão de Sampaio permaneceu durante toda a campa-nha. Viveu as dificuldades da entrada em ação no ataque, de 29 de novembro de 1944, a Monte Castelo, a defensiva de inverno no Vale do Reno; o ataque vitorioso a Monte Caste-lo de 21 de fevereiro de 1945; as operações da ofensiva da

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primavera em Montese e a perseguição das colunas inimigas até o Vale do Pó. Em nenhum momento ouvi ou presenciei atos ou reclamações, que atingissem sua atuação profissional, principalmente, no seu Batalhão (Btl Uzeda), cujo comandante não poupava àqueles que apresentassem alguma falha. Alberto Chahon continuou sua carreira, já agora, no posto de Coronel e fazendo parte de quadro especial, pois concluira o curso do instituto Militar de Engenharia (QMB), Material Bélico. Calmo, simples e cortês, compareceu sempre às reuniões de sua turma - “Os cadetes de 1938”. Em setembro de 2001, perdemos o caro companheiro e fomos homenageá-lo em seu sepultamen-to, no Ceminário de São Francisco Xavier (Ala Israelita).

O Tenente Moisés Chahon, irmão mais velho de Alberto, sempre apresentou traços diversos de personalidade. Alegre e comunicativo conosco confraternizou, nos tempos felizes de tenentes solteiros, na Tijuca e em suas reuniões festivas. Inteli-gente e com facilidade no trato de idioma estrangeiro, deixou passar oportunidade e foi ultrapassado por Alberto, que foi declarado. Aspirante a oficial, da arma de Infantaria, um ano antes, a de 3 de dezembro de 1940. A época era de incerte-za e vamos encontrá-lo, vejam o destino, também classificado no Regimento Sampaio, que se preparava para integrar a FEB. Eram os tempos do 2° Batalhão (Major Syseno) e o Ten Chahon fora assumir a sua função de comandante de pelotão da 6° CIA. Em novembro 1944, nosso comandante do Regimento, o sempre lembrado Coronel Aguinaldo Caiado de Castro, em sua “Ordem do Dia” alertava seu Regimento: “Além, nas Al-turas Apeninas, o “Boche” invasor e traiçoeiro vos espera...!” Estávamos ainda acampados na área da Tenuta di S. Rossore (PISA), em final de ajustamentos. Dias antes, final de outubro de 1944, puro acaso, quando nos deslocávamos, vamos en-contrar, em animada conversa, Alberto e Moyses Chahon que estavam “sendo visitados” por outro companheiro de turma - o Tenente José Maria Pinto Duarte, que integrava o 6° RI, em ação no Vale do Serchio, pois seu Regimento fazia parte do 1° escalão da FEB e nos precedera na chegada além-mar. A conversa seguia animada e Pinto Duarte transmitia suas obser-

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vações. O inimigo estava em retirada e seu Regimento, até o momento, não encontrara dificuldades. O 6° RI conseguira os promeiros louros de sua atuação. Anotei as observações. Mas, o destino acabaria por desfazer a facilidade pintada pelo nosso entusiasmado e sempre lembrado companheiro. Ele seria, mais adiante, uma das vítimas a lamentar! O inimigo, na verdade, manobrava em retirada, até a linha de alturas escolhida para quebrar o ímpeto ofensiva do nosso GT (Grupamento Tático) que atuava no Vale do Serchio e, tinha razão, a advertência de nosso Comandante, o Coronel Caiado.

III - Entrada em Ação

Finalizados os reajustamentos necessários, o nosso 2° Bata-lhão (Major Syseno), entra em ação no Vale do Reno, substituin-do tropa do 6° RI. A 6° CIA, do Tenente Moyses Chahon ocupa posição a oeste da 5° CIA, região de Áfrico-Volpara. Tivemos, então, os primeiros contatos com o inimigo. Grande tensão e apreensão. Surgem as primeiras baixas. O frio já mostrava suas dificuldades. A leste do dispositivo do 2° Batalhão sobressaiam às alturas de Torre de Nerone e Soprassaso que tinham amplo do-mínio de observação sobre nossas posições. Ação de artilharia e morteiros. Patrulhas que procuram sondar os pontos sensíveis do dispositivo. A lama e as alturas dificultam o aprovisionamento e remuniciamento. São empregados muares dos alpinos italianos.

Mais adiante, as linhas avançadas aparecem cobertas de panfletos. Eram os tiros de propaganda inimiga que, aquela al-tura, já identificara a nacionalidade da tropa que o enfrentava. Procurava, assim, influir na moral de nossas tropas. Os panfletos poderiam ser utilizados como salvo-condutos.

Nas posições defensivas e, naqueles dias de verdadeira adaptação à vida do infante em campanha, tivemos, todos nós, ocasião de provar nossas condições físicas e morais necessárias aos embates que estavam por acontecer. A 29 de novembro o 1° Batalhão (Uzeda), tomara parte em operação de ataque a Monte Castelo. A notícia chegara ao conhecimento dos 2° e 3° Bata-lhões, em posição, na frente defensiva. Claro que o impacto do

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insucesso foi recebido com preocupação. Logo a seguir, início de dezembro, o inverno já fazia sentir seus efeitos. Os Batalhões (2° e 3°) que estavam em linha são substituídos, colocados em reserva e reajustam seus efetivos. Haverá nova operação de ata-que a Monte Castelo, em data ainda não conhecida em nosso es-calão, mas nos reconhecimentos realizados indicavam que logo estaria para acontecer. A 12 de dezembro, a operação é desen-cadeada. O 2° Batalhão, incluindo a 6° CIA do Tenente Moyses Chahon, torna parte no ataque. As três subunidades, a 4°, 5° e 6° CIA, são engajadas e sofrem pesadas baixas. A visibilidade não permitia o apoio necessário dos fogos de artilharia e dos car-ros de combate americanos. A infantaria não conseguiria e não conseguiu quebrar as resistências alemãs que em suas casama-tas e dominando a observação do compartilhamento de ataque, impede a progressão do escalão de ataque, causando pesadas baixas. A 6° CIA e ai estão os Tenentes Apolo Rezk, Moyses Chahon e Deschamps, assim como os demais integrantes da 4° e 5° CIAS, tiveram papel importante e provaram sua tempera de infantes. O Tenente Apolo foi o mais sacrificado, pois, vencido pelas dificuldades de observação, foi envolvido e seu pelotão é praticamente dizimado pelo fogo ajustado do inimigo. Ao cair da tarde, a operação é encerrada e a tropa atacante retorna às bases de partida. Muitos ali ficaram e seus corpos só foram recupera-dos mais tarde, por ocasião da ofensiva da primavera. A neve, que começara a cair, seria a mortalha daqueles que, sem medo e com denodo, cumpriram o sagrado dever de servir ao seu Exér-cito e a sua Pátria. Devo acrescentar que esta dissertação é difícil de resumir e tudo o mais que ainda falta relatar. Eis que, como o Tenente Moyses Chahon, enfrentamos o inimigo e, na pele e na alma de jovens oficiais, sentimos os efeitos da dolorosa jornada e experimentamos o amargor da derrota e do insuscesso.

V - Ataque a Monte Castelo a 21 de fevereiro

O IV CEx que enquadrava a nossa DIE recebera o reforço de uma divisão: a 10° DIMnth, especialmente preparada para combater em regiões montanhosas e que estava concentrada

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na região de Vididiatico, no limite oeste da zona de ação, ten-do ao Norte, justamente, os conjuntos montanhosos de Mon-te Capel Buzo (1.151) Pizzo di Campiano - Monte Belvedere (1140) - Monte Gorgolesco (1120), cuja posse era essencial para o sucesso da ofensiva. O cenário daquelas alturas, ob-servando a Região Norte e Nordeste da localidade da Gaggio Montano, onde surgia Monte Castelo (977), era menos íngre-me. A observação da topografia deixava ver a dificuldade do ataque, sem anular, em um primeiro lance, o domínio das ele-vações citadas a oeste. Desta vez, porém, Monte Castelo seria atacado pela DIE, após a ação da 10° DI Mnth, e em cobertura de seu flanco leste para permitir a progressão visando às passa-gens que levavam ao Vale do Pó.

Tomaram parte na jornada, o 1° Ten. Alberto Chahon como oficial de transmissões do 1° BI (Major Uzeda) assegu-rando as ligações e transmissões de ordens e o 1° Ten. Moyses Chahon, na 6° CIA, 2° BI (Major Syseno) que seria lançado no prosseguimento da operação de La Serra.

VI - De La Caselina - La Serra

Os dia que se seguiram, após o êxito do ataque a Monte Castelo, exigiram grande atenção e redobrados reforços. Mon-te Castelo era nosso!

Entretanto, os alemães ofereciam séria resistência, ainda em Torracia, dificultando a progressão da 10° DI Mnth. Era necessário anular a obstinação inimiga. O 2° BI (Major Sy-seno) é lançado a Leste, na direção Caselina La Serra, com a missão de conquistar Cota 958 - La Serra, em condições de prosseguir sobre Roncovelio. Operação de grande importân-cia, pois o sucesso tornava difícil a manutenção de Torracia pelo inimigo.

O desempenho dos Tenentes Apolo e Chahon foi me-recedor de destaque, bem assim o Tenente Deschamps e os demais integrantes da 5° Cia, Tenente Bicudo, Segismundo e Moacir. Estão incluído também e com destaques os Tenentes Bordeaux e Acioli do 3° BI (Major Franklin).

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A noite de 24/25 de fevereiro, passada em Caselina, foi enfrentada debaixo de pesados bombardeios desencadeados e destacamos o desempenho dos Cap. Cmt. da 6° e da 5° Cia, pela calma e segura atuação orientando a ação de combate de seus pelotões. O Pelotão Chahon ultrapassa Bela Vista e con-quista 958. O Tenente Apolo sofre leve ferimento e é substituí-do pelo Sargento Schultz, mais tarde promovido a 2° Tenente. O Pelotão Deschamps é lançado em reforço para La Serra. A operação tem sucesso, afinal, e a frente 950 - La Serra - Sene-veglio está em nossas mãos.

VIII - Montese - Ofensiva da Primavera

Recebemos ordens para reconhecimentos de novas posições:

Campo Del Sole - Tamburini - Sassomolare, a sudeste de Montese, onde deveríamos substituir tropa americana da 92° DI, cujos efetivos eram constituídos por homens de cor e so-mente os oficiais superiores brancos. Um tipo de segregação racial, para os brasileiros estranho. Hoje, tal atitude mudou. A conduta dos homens da 92° DI era displicente, inclusive abandonando material.

Diversas proclamações foram distribuídas às tropas atacan-tes: Do Supremo Comandante Aliado do Teatro de Operações do Mediterrâneo, Marechal H.G. Alexandre; Do CMT do V Exército, Tenente Gen. L. K. Truscott Jr e do CMT da DIE, Gen. Mascarenhas de Moraes. Os textos das proclamações mostra-vam, de maneira incisiva, a certeza do êxito e da vitória final que resultaria da ofensiva a desencadear. A operação ganhou o nome de “Ofensiva da Primavera” e teria início a 10 de abril.

Nesse interim, foram realizadas patrulhas à luz do dia. Face a Montese visando 747 e 759, ao comando do Tenente Iporan e Sargento Max Wolf, do 11° RI. O desempenho do Sargento Wolf mostrou sua intrepidez e bravura e sua morte, à frente de seus homens, notável exemplo de abnegação e liderança.

Mais a leste, na frente da 4° Cia, em Creda e Possessione, o Aspirante Amorim e Aspirante Mega, lutam com denodo e

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determinação, resultando o ferimento do Aspirante Amorim e a morte do Aspirante Mega, além do soldado enfermeiro Wil-son Bonfim, vitimado em campo minado.

A 5° Cia recebe ordem de reforçar à 6° Cia, a leste do dispositivo, permanecendo, ainda na defensiva ocupando, 810 - Campo Del Sole. Pouco mais tarde, já na região de Sassomolare, em reforço a 6° Cia, assistimos a chegada do General Mascarenhas acompanhado de um grupo de oficiais de seu estado-maior. O Cmt da Cia, Capitão Wolfango tem, então, oportunidade de apontar os pontos no terreno que estão mais à frente, ocupados por seus pelotões e que encon-tram dificuldades pela reação inimiga de ultrapassar 744, Pe-lotão Chahon e Apolo. O local, de onde observam a frente, Posto de Observação (PO) , é hoje, histórica fotografia e dali foi possível mostrar ao General Mascarenhas, o comporta-mento do ataque em curso. Pouco mais adiante, o General Cmt retira-se.

IX - Perseguição - Final das Operações

A DIE organiza 3 GT (Grupamentos Táticos) ao coman-do dos Gen. Cordeiro, Falconiere, Zenóbio com a missão de continuarem a ofensiva visando o cerco do Exército da Ligúria. A 2 de maio, recebe a DIE ordem de cessar as hos-tilidades tendo em vista a rendição total das forças inimigas. O nosso 2° BI (Major Syseno) ocupa PIACENZA e o Quartel General da DIE é localizado em Alexandria. A missão que nos cabe então, é de ocupação do território italiano, livre agora do jugo nazi-fascista!

A 8 de maio, é divulgada a notícia do término oficial da guerra na Europa!

A operação denominada “ofensiva da primavera” ini-ciada em 14 de abril tivera seu final a 2 de maio, e exigira dos integrantes dos dois Exércitos aliados - o V Exército Americano e o VIII Exército Britânico - determinação e de-nodo nas diversas fases da campanha em que foram envol-vidos.

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X - Considerações Finais

Estamos chegando ao final do nosso trabalho e não foi fácil consegui-lo. O tempo passado e o peso dos anos, têm in-fluência muito grande. Procuramos fazer o possível para satis-fazer ao pedido do professor Blajberg. De início, achamos que ficaria mais apropriado intitular a nossa resposta: “OS BRAVOS QUE VIERAM DE LONGE”

A FEB foi organizada, mobilizada para a guerra, lançando mão do sistema de mobilização vigente, previsto na Lei do Serviço Militar - convocando reservistas das diversas classes e categorias para completarem os quadros das unidades comba-tentes, agora e então, obedecendo a novos padrões de unida-des, quadro de efetivos e funções, não existentes no Exército em tempo de paz. Evidente, portanto, que as mudanças ne-cessárias exigiam reestruturação dos quadros de organização. Daí, o importante papel da reserva, em particular os oficiais da reserva, que foram integrar os novos quadros de organização.

Os oficiais da ativa, profissionais de carreira, efetuaram o enquadramento e o preparo dos convocados, especialmente, aos destinados às pequenas unidades. O total empenhado foi apreciável. Sua conduta e desempenho atenderam à expecta-tiva. A realidade da campanha enfrentada, a entrada em ação, o combate, mostrou a todos a necessidade e o valor do exem-plo, da disciplina e da iniciativa, fatores importantes para os comandantes e lideres na ação e condução de seus homens.

Julgo que foram bravos, muito em particular, os integran-tes de primeira linha, os nossos soldados que, vindos de todos os recantos do País, enfrentaram as agruras da missão que lhes foi imposta. Não havia preconceito de cor ou religião. Havia, enfatizamos, elementos de credos e religiões diversas. Assim era e é o Brasil. À terras distantes e desconhecidas, foram man-dados em revide ais infaustos e mortais golpes desferidos pelas nações totalitárias e como prova de nosso compromisso com a liberdade e a democracia.

Da relação apresentada pelo professor Blajberg, selecio-namos dois oficiais, por coincidência, irmãos e integrantes de

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nossa turma de aspirantes da saudosa Escola Militar do Realen-go. É oportuno acrescentar que destacamos também um outro companheiro daqueles tempos, o 1° Ten. José Maria Pinto Du-arte, que foi abatido pelo inimigo no VALE DO SERCHIO. Co-locamos, em apêndice, a homenagem de que foi alvo, quando foi organizado o livrinho da TURMA DE ASPIRANTES (cadetes de 1938). Mais de 60 (sessenta) tenentes de nossa turma, inclu-sive da FAB, entraram em ação na CAMPANHA ITÁLIA.

Os tenentes Alberto e Moyses Chahon compartilharam co-nosco em toda a caminhada do glorioso Regimento Sampaio, do RIO ARNO ao VALE DO PÓ, nas operações realizadas, durante a II Grande Guerra. Seu desempenho foi escrito baseado na bi-bliografia existente e na memória do autor. É claro que, em se tra-tando de um resumo, foram deixados de parte muitos detalhes. Os elogios a que fizeram jus sintetizam passagens da atuação de cada um deles e não podem suscitar dúvidas ou considerações.

O calor do combate e a emoção ao recordar os quadros e as situações que vivemos permanecem gravados e íntegros nas minhas lembranças de velho combatente da FEB.

A figura inolvidável do nosso Comandante de Regimento, o Coronel Aguinaldo Caiado de Castro, que preparou a uni-dade moral e profissionalmente; o Major Syseno Sarmento, Comandante do 2° BI, figura ímpar de soldado e chefe que exerceu o comando do Batalhão, durante toda a campanha, transmitindo a seus comandados, carinho e solidariedade, em todas as agruras enfrentadas; o nosso Comandante da 5ª Cia Fzos, Capitão Valdir Moreira Sampaio, um exemplo de Ca-pitão de Infantaria, digno de ser apontado e seus subalternos (Tenentes Segismundos, Darcídio, Bicudo, Gilson, Moacir e Evilásio), não podem ser esquecidos. Hoje, não estão mais pre-sentes, mas o seu trabalho e convivência permanecem através o passar inexorável dos tempos. Nossos bravos graduados e soldados que suportaram as dificuldades surgidas e os esforços dispendidos para que as missões fossem cumpridas, mostraram o valor dos soldados brasileiros. Muitos tombaram ou foram vítimas de seqüela durante o desenrolar da campanha, mas souberam elevar bem alto o conceito do Exército e do Brasil!

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Homenagem Póstuma1° Ten. Inf. José Maria Pinto Duarte

8 fev 1920 (Rio de Janeiro – DF)31 out 1944 (S. Quirico, Itália)

Cadete do Realengo, 1938Apirante de Infantaria, 1940

Comandante do Pelotão de MetralhadorasTombou em Combate

Promovido Post-Mortem ao Posto de CapitãoMedalha de Campanha

Medalha de SangueCruz de Combate de 1ª Classe

“Os Bravos Camaradas do 6°RI”

Fonte de Consulta: Um Capitão de Infantaria da FEB - Biblioteca do Exército Editora - Ruy Leal Campello - 1999

Gen Ruy Leal Campello, Presidente do Conselho Deliberativo da ANVFEB – Associação Nacional dos Veteranos da FEB, faz um pronuncia-mento por ocasião do almoço em 16 jul 2008, comemorativo dos 45 anos da fundação da ANVFEB.

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Capítulo 6

HomenagensIndividuais e Nominata

a) Ex-Combatentes Brasileiros Judeus – 42 Veteranos

Abrahão Fainguelernt

Filho de Bella e Jacob, Abrahão nasceu no Paraná aos 23 set 1923.

Como tantos estudantes da tradicional Escola Polytechni-ca, Alma Mater da Engenharia Nacional, apresentou-se como voluntário para cursar o CPOR/RJ, no quartel de São Cristóvão, ao lado da Quinta da Boa Vista.

Sentou praça como Aluno do CPOR/RJ em 16 mar 1942, tendo sido declarado Aspirante a Oficial da Reserva de Artilha-ria em 29 set 1943, em 12° Lugar na turma de 81 alunos, com média 7,329.

Aos 06 jan 1944 foi reincluido ao serviço ativo do Exérci-to, para fins de Estágio de Instrução no 3° Grupo de Artilharia de Costa e Forte Copacabana.

Terminado o Estágio no Forte Copacabana, por Decreto de 17 abr 1944 o Presidente da Republica o promoveu ao pos-to de 2° Tenente.

Abrahão foi convocado para o Serviço Ativo e mandado realizar o Curso de Especialização em Artilharia de Costa para Oficiais da Reserva na EsACos, Fortaleza de São João, tendo sido diplomado em 03 ago 1944 com média 9,7 em 2° Lugar numa turma de 25 alunos. Na sua Folha de Alterações o Co-mandante da Escola o conceitua como Oficial calmo, pontual, inteligente, um dos melhores da turma, podendo ser aprovei-tado para Instrutor, revelando na parte prática boa aptidão para

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os comandos de seu posto e superiores.Em 07 ago 1944 Abrahão foi incluído no 1° Grupo de

Artilharia de Costa e Fortaleza de Santa Cruz, em Jurujuba – Niterói, onde foi Oficial Subalterno da 1ª Bateria.

O Comandante, Tenente Coronel Henrique Sadok de Sá o elogiou pela sua conduta e colaboração ao Grupo no curto período em que serviu, mostrando primar por excelente edu-cação civil e militar.

Aos 14 dez 1944 foi transferido por necessidade do ser-viço para a 1ª Baterial Móvel de Artilharia de Costa, na Vila do Mosqueiro, Estado do Pará, onde desempenhou as funções de Comandante das 1ª e 2ª Seções, Oficial de Tiro e Trans-missões, Encarregado da Escola Regimental, Encarregado dos Paióis e Oficial de Educação Física.

O Comandante da Bateria o elogiou em Boletim como “ ... Oficial de escol, disciplinado, estudioso e inteligente, bas-tante competente em qualquer assunto, principalmente na parte referente a eletrotécnica, deixando uma lacuna difícil de ser preenchida. Lamentando o seu afastamento, formulo os melhores votos de felicidades ao Ten Abrahão para que na vida civil, e na nobre profissão que abraçou, cujos estu-dos interompeu para prestar seu concurso a defesa da Pátria durante os dias negros da maior conflagração mundial, con-tinue empregando os maiores esforços para ver brilhante-mente coroado seu ideal.

No Pará, serviu até ser licenciado do Serviço Ativo aos 04 jan 1946, tendo participado efetivamente de operações bélicas durante o conflito mundial, cumprindo missões de Vigilância e Segurança do Litoral com a sua Bateria no período de 03 nov 1944 a 08 mai 1945, o Dia da Vitória Aliada na Europa.

Seu tempo total de serviço militar foi de 03 anos, 06 me-ses e 13 dias, o que lhe deu o direito a pensão especial con-cedida em 18 out 96, nos termos do Art 53, inc. II do ADCT (Constituição Federal de 1988) e Lei 8059/90.

Retornando a vida civil, Abrahão retomou os estudos na Escola Nacional de Engenharia da Universidade do Brasil, onde recebeu o Prêmio ENG ADOLPHO MURTINHO, do CONFEA

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– Conselho Federal de Engenharia e Arquitetura, como melhor aluno em 1947 das cadeiras de Eletrotécnica Geral, Medidas Elétricas e Magnéticas, Estações Geradoras, Transmissão de Energia Elétrica e Aplicações Industrias da Eletricidade.

Distinto Oficial da Reserva de Artilharia, que honrou as tradições da Arma de Mallet na Defesa da Costa brasileira con-tra uma possível invasão nazista, deixou-nos aos 06 dez 2000, deixando a viúva, Sra Miriam Fainguelernt.

Adio Novak

Adio Novak nasceu em 12 ago 1920 no Rio de Janeiro, filho de Motta e Vera Novak, tendo sido 3º Sgt da FEB, e trans-ferido para a reserva no posto de Capitão R/1 de Infantaria. Foi condecorado com as Medalhas de Guerra e de Campanha.

Era filho de Motta e Vera Novak. Frequentava a Sinagoga Beith Yacov de Copacabana na Rua Capelao Alvares da Silva.

Seu filho Markus Novak e esposa Ana Lúcia Novak toma-ram a si a honrosa tarefa de preservar a memória deste dedica-do ex-combatente, pela organização de um minucioso arquivo, que inclui fotos, DVDs das suas apresentações no Rockefeller Center, recortes de jornais, quadros com medalhas, enfim uma pleiade de valiosos documentos que ficam assim para a pos-teridade, alguns inclusive doados em vida por ADIO para o Museu da FEB na Rua das Marrecas, a casa da FEB que Adio tanto prestigiava tendo sido um dos primeiros sócios.

Adio embarcou para a Itália em 22 set 1944, integrando a tropa do QG do Gen Olympio Falconiere da Cunha.

Na Itália foi incorporado ao QG / I DIE. Foi ao Front para combate na Itália, mas dadas as suas habilidade de fama in-ternacional, foi requisitado para desempenhar atividades es-peciais tais como servir de Intérprete oficial entre os exércitos americano e brasileiro e atuar no Serviço Especial da FEB para entretenimento dos soldados brasileiros.

Formou o primeiro time de futebol da FEB que teve como participantes os jogadores Perácio, Jeninho e o goleiro Gilmar que se tornaram não só campeões do seu próprio time, mas

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também foram importantes jogadores do Botafogo.Convidado a fazer parte do Serviço Especial da FEB para

entretenimento dos soldados, o fato de ter vivido no exterior e a fluência em inglês e outras línguas o credenciaram a servir de intérprete oficial entre oficiais dos exércitos americano e brasileiro.

Os judeus tem grande tradição nas artes, no teatro, na música, mas no que concerne a outras especialidades, como as que Adio praticava, a história já registra menor participação relativa.

Na área dos grandes circos, houve importantes nomes judeus, principalmente na Europa Central, como inigualável Harry Houdini.

Malabarista, contorcionista e mágico, conhecido como o rei das escapadas, na verdade era o judeu hungaro Erik Welaz, que deveria ter sido rabino, assim como seu pai, que morreu pouco depois de emigrarem para Nova Iorque.

Nascido em 1874 em Budapeste – Hungria, com 9 anos já montava e desmontava que tipo de fechadura, indo trabalhar num circo. Abria algemas, escapava de baús trancados no fundo do Rio Hudson e de jaulas, e se libertava de camisas de força pendurado nos arranha-céus de NYC. Morreu em 1926. Sua habilidade para escapar era enorme, graças as fechaduras da infância.

Adio Novak foi o nosso Houdini, e recebeu como prêmio pela sua participação ativa e importante no Exército Brasileiro uma viagem à Europa.

Em suas alterações militares oficiais consta um elogio do comandante da FEB, General Mascarenhas de Morais pela sua participação especial na Campanha da Itália, documento hoje incorporado ao acervo do Museu da FEB.

O Cap Adio retornou ao Brasil em 28/jul/1945. Foi dos primeiros sócios da ANVFEB, sob nº 813, e identidade militar 1G 258.731. Morava na Rua Raul Pompéia em Copacabana.

Este bravo soldado brasileiro faleceu em 7 de junho de 1988, e sua memória ficará eternizada como uma das glórias da comu-nidade judaica brasileira na sua contribuição a derrota do nazis-mo e restabelecimento das liberdades na Europa e no Mundo.

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Alberto Chahon

Alberto Chahon, nascido em 12 dez 1919 no Rio de Janei-ro, sentou praça como Cadete da Escola Militar do Realengo aos 28 abr 1938, sendo declarado Aspirante a Oficial da Arma de Infantaria aos 3 dez 1940.

Em sua rica e extensa carreira militar ao longo de 39 anos, serviu em diversificadas Organizações Militares, como 14° Batalhão de Caçadores em Florianópolis, 2° Regimento de Infantaria, Rio de Janeiro, 1° Regimento de Infantaria, Regi-mento Sampaio, da Vila Militar no Rio de Janeiro, quando participou da Campanha da Itália, tendo embarcado em 22 set 1944 no posto de 1° Tenente, ao qual fora promovido aos 15 abr 1943.

Na guerra era comandante do Pelotão de Transmissões do Regimento Sampaio, encarregado das comunicações do comando com as subunidades no front, o que o levou a expor-se inúmera vezes ao perigo nas primeiras linhas de combate, para garantir a chegada das ordens a tempo e a hora, as vezes sob a inclemência de tempestades de chuva e neve e sob fogo inimigo. Participou de ações importantes empreendidas pelo Regimento, como as batalhas de Monte Castelo.

Foi a guerra junto com o irmão Moyses, do mesmo Regi-mento, fato que foi noticiado na imprensa da época.

Por sua atuação foi agraciado pelo Presidente da Repúbli-ca com a Cruz de Combate de 2ª Classe, concedida aqueles que demonstraram heroísmo em combate em ações coletivas.

Retornou da guerra em 22 ago 1945. Após a promoção a Capitão aos 25 dez 1945 veio a ser matriculado na Escola Técnica do Exército, atual IME, formando-se em Engenharia Industrial de Armamento, sendo transferido para a Arma de Comunicações do Quadro de Engenheiros Militares.

Serviu durante 6 anos no Arsenal de Guerra do Rio, e duran-te quase 5 anos como Diretor Técnico do Corpo de Bombeiros do então Distrito Federal, de onde foi para o DEPT – Departa-mento de Estudos e Pesquisas Tecnológicas do Exército, de onde saiu para tornar-se Diretor do Arsenal de Guerra de São Paulo.

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Foi promovido a Coronel do Quadro de Material Bélico aos 25 dez 1966, tendo passado para a Reserva em 08 abr 1974.

Foi agraciado com as seguintes Medalhas: Cruz de Com-bate de 2ª Classe, Medalha de Campanha, Cavaleiro da Ordem do Merito Militar de 1ª Classe, Medalha Militar com Passador de Ouro (30 anos), Medalha de Guerra, Pacificador, Mérito do Engenheiro Militar, Marechal Mascarenhas de Moraes, Con-quista de Monte Castelo, Centenário do CBDF.

Na vida civil foi Chefe da Assessoria de Planejamento e Coordenação da ECT e Engenheiro da Itaipu Binacional. Fale-ceu aos 11 set 2001.

Bernardo Stifelman

Nascido aos 20 mar 1914, Bernardo era natural da Colo-nia Philipson, em Santa Maria da Boca do Monte, Rio Grande do Sul, filho de Guilherme Stifelman e Rosa Goldenberg Sti-felman. Seria interessante recordar um pouco da incrivel his-tória de como judeus foram parar no interior do Rio Grande, transformando-se em autênticos gauchos…

O anti-semitismo grassava na Rússia Czarista e na Polônia, ela mesma durante anos subjugada pelos russos.

Entre os que também tentaram amenizar o sofrimento de seus irmãos, destacou-se o Barão Maurice de Hirsch. Descen-dente de uma antiga família de banqueiros e industriais da Ba-viera, destacou-se como financista em Bruxelas, e fez fortuna construindo ferrovias para o então poderoso Império Otomano.

Nas suas andanças pelas obras, viu como seu povo sofria, castigado pelo isolamento e pela miséria que lhes impunham as autoridades religiosas. Era igual ou pior que na Polônia e Rússia. D_eus, em sua infinita sabedoria, submetia Seu povo a provações, enquanto dele saiam nomes como Jesus Cristo, Moises, Freud, Einstein, Marx, e por que não, Steven Spielberg e Madonna...

As guerras russo-turcas pioraram a situação, e se de um lado os maltratavam, de outro sadicamente não os deixavam sair. Era

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caro vencer a burocracia e partir. Os judeus eram pobres, e Hirs-ch, junto com sua esposa Clara de Bischoffsheim tentou minorar a calamidade criando centros educativos e de ajuda.

A perda do único filho determinou o lançamento de todas as energias e fortuna do casal num dos esquemas filantrópicos mais extraordinários da história. A Tzedaka, milenar palavra hebráica que significa caridade, a que o judaísmo obriga seus fieis, passou a ser o centro das suas vidas, ainda que estivessem longe de serem religiosos, muito menos ortodoxos.

O barão fundou a Jewish Colonization Agency, que com-prava terras no interior do Brasil, Argentina, Estados Unidos e Canadá, e pagava as passagens dos judeus que quisessem sair da Europa sofrida e se transformarem em agricultores naque-las terras abençoadas, carentes de povoação e mão-de-obra, onde prosperariam e conservariam sua ricas tradições, como relatado amplamente em Los Gaúchos Judios, Gerchunoff, e El Moises de Las Américas, Dominique Frischer, Ateneo.

Os Stifelman poderiam ter escolhido Moiseville no Pampa argentino, Erechim ou Quatro irmãos, onde ate hoje existem judeus descendentes daqueles trazidos pelo barão. Mas por alguma razão preferiram Santa Maria, passando a desfrutar da vida rural com que sonharam na Rússia.

Maurice e Clara continuaram salvando seus irmãos, cria-vam escolas, serviços públicos, entidades assistenciais.

Mas, ao contrario das ferrovias, o barão nunca visitou as terras que comprou. E sem a sua presença, problemas diver-sos acabaram arquivando os sonhos grandiosos de instalar mi-lhões de judeus. Ainda assim, milhares foram trazidos, e sua descendência hoje se multiplicou. O grande publico nem so-nha quem são eles. Muitos se surpreenderiam em saber quanta gente importante descende daqueles que um dia perambula-ram de pés descalços, com seus pais e avos, pelo solo poeiren-to dos Pampas, gaúchos ou argentinos

... Ministros, médicos, generais, advogados, escritores, e ate revolucionários,

Em sua luta, o barão se tornou amigo do Príncipe de Ga-les, que viria a ser Eduardo VII, passando longos períodos em

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Londres. Cosmopolita, com passaporte austríaco (a família vi-veu por gerações na Baviera), morava em enorme complexo de mansões em Paris, sua primeira base de operações foi Bru-xelas, e fez fortuna na Turquia.

Em 1955, a JCA se transformou na ICA - Israel Colonization Agency, que ate hoje perpétua a memória do barão, ajudando kibutzim, instituições agronômicas e concedendo bolsas para estudo e pesquisa agropecuários.

Como tantos de seus correligionários, o jovem Bernardo deixou o interior, atraido pela cidade grande, onde foi ser au-xiliar de escritorio na Cooperativa dos Funcionários da Viação Férrea do Rio Grande do Sul, nas horas vagas frequentando o Circulo Social Isralelita em Porto Alegre.

Gostava de aviões, que observava aterrisando e decolan-do no então longinquo aeroporto, depois Salgado Filho. Dai para alistar-se na Aeronautica foi um passo.

Mandado servir na Base Aérea de Recife, foi Sargento e Sub Oficial, Fotógrafo de Voo, Metralhador e Bombardeador.

Eram tempos difíceis, a Alemanha já dominava meia Eu-ropa, Polônia, França, estendia seus tentáculos malignos para a Africa, e os submarinos ameaçavam a navegação atacando nossos navios em plena costa brasileira.

Bernardo passava longas horas a bordo de aeronaves pa-trulhando o Atlântico. Mas felizmente a ameaça nazista ao Brasil se desvaneceu, assim como os sonhos malévolos do III Reich de dominar a América Latina, em seus pretensos mil anos que foram apenas 12.

Assim, em razão de sus dedicada atuação, o 1° Sargen-to Q-FT Bernardo foi condecorado com a Medalha Militar da Campanha do Atlântico Sul, pelo Ministro da Aeronáutica, e promovido a Sub-Oficial, em 07 dez 1945, pelo Ministro da Aeronautica Armando Trompowski.

Em 23 jul 1953 o Presidente da República decretou a sua passagem para a Reserva, no posto de 1° Tenente, por ter rea-lizado missõe de patrulhamento no Atlantio Sul, garantindo a livre navegacao dos comboios ao longo da costa barsileira.

Na vida civil Bernardo dedicou-se ao plantio de café e

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depois ao comércio, residindo hoje em Lauro de Freitas, muni-cípio próximo a Salvador, Bahia, onde nas tardes calmas cos-tuma observer o mar azul e o céu a sua frente, recordando os tempos da juventude em que observava os antigos aviões em Porto Alegre, e as missões que cumpriu ali mesmo sobrevoan-do aquele mesmo mar hoje a sua frente.

Boris Markenzon

Nascido no Rio de Janeiro em 28/05/1915, era filho de Adolfo Markenson e Anna Markenson, imigrantes russos que se fixaram no Rio de Janeiro. Tinha um irmão, Samuel, médico e professor.

Boris cursou o Colégio Militar na Rua São Francisco Xa-vier na Tijuca, e a Escola Naval, na Ilha de Villegaignon, Rio de Janeiro, onde foi praça de Aspirante de 26 abr 1934, sendo declarado Guarda-Marinha do Corpo da Armada na Turma de 23 dez 1938.

Como jovem Tenente esteve embarcado até o final da Guerra, participando de operações de escolta a comboios de navios mercantes. Sonbre aquela época, seus filhos Ricardo e Roberto não recordam a presenca do pai em casa, apenas as chegadas e partidas, e a apreensão da mãe, Da. Amália.

Os filhos tambem cursaram a Escola Naval, tornando-se Oficiais de Marinha.

Havia o risco da presença de submarinos alemães, respon-sáveis por dezenas de torpedeamentos de navios mercantes nacionais. Em um destes navios, o Anibal Benévolo, estava o cunhado de Boris, Mauricio Pinkusfeld, irmão caçula da espo-sa, lamentavelmente desaparecido no mar no afundamento.

Foi promovido a Capitão Tenente aos 10 dez 1951, sendo nomeado Capitão dos Portos da Paraíba, e promovido a Capi-tão de Corveta aos 17 mar 1952.

Em 1957 serviu na Força de Transporte da Marinha, a bor-do do Navio Transporte Ary Parreiras.

Realizou o Curso de Submarinos e de Comando da Escola de Guerra Naval.

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Em 1958 foi Imediato do Navio Transporte de Tropas Bar-roso Pereira, que transportou o Batalhão Suez para a região de Gaza, onde atuou como Força de Paz da ONU no período 1957-1967.

Em 1959 tirou o CEMCFA – Curso de Estado Maior e Co-mando das Forças Amadas, na ESG – Escola Superior de Guerra.

Em 1960 era Chefe da 4ª Seção do EMFA – Estado Maior da Forças Armadas, no Palácio Monroe, na Cinelândia, Rio.

Em 1961 comandou o contra-torpedeiro Greenhalg.Em 1964 foi Capitão dos Portos do Pará e Amapá, e Dele-

gado do Trabalho Marítimo. Por diversas vezes exerceu interi-namente o comando do 4° Distrito Naval.

Recebeu a Medalha de Serviços de Guerra, Medalha da Força Naval do Nordeste, Mérito Tamandaré, Medalha Militar em Ouro – 30 anos de Bons Serviços, Ordem Nacional do Mérito da República do Paraguay.

No posto de Capitão-de-Mar-e-Guerra, passou para a Re-serva em 16 out 1964, e por ter servido em Zona de Guerra e com mais de 35 anos de serviço, elevado na inatividade ao posto de Vice-Almirante.

Falecido em 07/08/1988.

Boris Schnaiderman

A FEB era um verdadeiro microcosmo da Sociedade Bra-sileira, com homens de diversos estados do Brasil, tanto é que até hoje existem associações de ex-combatentes em mais de vinte cidades brasileiras.

Havia nordestinos, sulistas, nortistas, pretos, brancos, en-fim, era o Brasil que ali estava. Consequentemente, o grau de instrução dos pracinhas variava bastante, encontrando-se nas fileiras desde aqueles pouco afeitos as letras até artistas e inte-lectuais de elevada expressão, alguns dos quais integrantes da Nominata deste volume, como Boris Schnaiderman.

Jornalista e Escritor consagrado, gentilmente nos enviou suas informações, que reproduzimos ao final. Ficou conhecido como tradutor, ensaísta e maior autoridade em literatura russa

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no Brasil, ele que nasceu na Rússia justamente em 1917, ano da Revolução de Outubro. Desde os anos 40 traduziu direta-mente do russo grandes autores como Dostoievski, Tchekov, Tolstoi e Gorki, entre outros.

Autor de Guerra em Surdina, livro autobiográfico e semi-ficcional que relata sua experiência como Pracinha da FEB, onde serviu no 2° Grupo do 1° Regimento de Obuses Auto Rebocado, tendo embarcado aos 02 jul 1944 e retornado aos 18 jul 1945. Boris era 3° Sargento e foi destacado para a Cen-tral de Tiro como controlador vertical, pelos seus conhecimen-tos matemáticos de engenheiro, formado pela Escola Nacional de Agronomia na então Universidade Rural do km 47 da anti-ga Rio-São Paulo em Seropédica, Estado do Rio.

Boris não pôde fazer o CPOR, privativo de brasileiros na-tos, mas como engenheiro agrônomo deveria se naturalizar e prestar o Serviço Militar, para poder exercer a profissão. Era a norma do Estado Novo.

Em 1960 foi o primeiro professor do Curso de Língua e Literatura Russa da USP.

Atualmente reside em Higienópolis, uma cidade de São Paulo.

Informações sobre Boris Schnaiderman (Chnaiderman, nos registros oficiais)

Nasci em Úman, Ucrânia, em 1917, mas fui levado para Odessa quando tinha cerca de um ano. Tive formação russa.

A família emigrou para o Brasil em fins de 1925. Residi-mos uns seis meses no Rio de Janeiro e, depois, em São Paulo, onde cursei o primário e o secundário.

Meu pai estabeleceu-se no Rio de Janeiro em 1934, quan-do o ajudei numa lojinha de perfumes. Ingressei em 1937 na Escola Nacional de Agronomia, pela qual me diplomei como engenheiro-agrônomo.

Devido à legislação do Estado Novo, só poderia registrar meu diploma depois de me naturalizar e obter o certificado de reservista. Minha naturalização saiu em 1941, e em 1942 cumpri o serviço militar no Segundo Grupo do 1º Regimento de Obuses Auto-Rebocado (nome dado à unidade, depois que

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foi incorporada à FEB), onde fiz curso de sargento. De posse da documentação exigida, tornei-me funcioná-

rio do Ministério da Agricultura, lotado no Instituto de Ecolo-gia Agrícola, na Baixada Fluminense.

Convocado nas vésperas do embarque do Primeiro Esca-lão da FEB para a Itália, fui designado para a função de calcu-lador de tiro, na qual permaneci no decorrer da campanha. De regresso ao Rio de Janeiro, reassumi o meu cargo no Ministério da Agricultura, do qual me demiti pouco depois.

Tendo residido ora no Rio ora em São Paulo, reingressei em 1948 na carreira de agrônomo do Ministério da Agricultu-ra, sendo designado para a Escola Agrotécnica de Barbacena (Minas Gerais), onde permaneci até 1953, quando me demiti novamente, passando a residir em São Paulo.

Trabalhei como redator de uma enciclopédia e, em 1960, tornei-me professor da Universidade de São Paulo, onde fun-dei o Curso de Russo. Paralelamente, fui tradutor de obras li-terárias russas (atividade a que me dediquei durante muitos anos, pois minha primeira tradução de livro saiu em 1944). Publiquei também artigos e livros de literatura, que incluem Guerra em Surdina (ficção-documento sobre os brasileiros na guerra) e algumas coletâneas de ensaios.

Aposentado da USP em 1979, continuo minhas atividades literárias até hoje.

Sou casado com Jerusa Pires Ferreira e tenho dois filhos de minha primeira esposa, Regina Schenkman Schnaiderman, já falecida.

B.S.

Carleto Bemerguy

Não foi possível fazer contacto ou identificar familiares ou pessoas que pudessem falar sobre Carleto Bemerguy. As pesqui-sas também não revelaram maiores detalhes. Entretanto, outros membros da Comunidade Judaica o identificaram como tal, in-formando ter ido a guerra, ignorando seu paradeiro atual.

Os registros da Associação Nacional de Veteranos da FEB

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dele dizem ter dido Soldado, tendo embarcado aos 08 fev 1945 integrando o CRP – Centro de Recompletamento de Pessoal e retornado em 22 ago 1945 no 1° Regimento de Infantaria, Re-gimento Sampaio.

Isto significa que após algum tempo na retaguarda rece-bendo instrução foi mandado a linha de frente para suprir uma baixa, incorporando-se ao 1° RI.

Carlos Scliar

Carlos Scliar nasceu em Santa Maria da Boca do Monte aos 21 jun 1920. Foi um dos grandes mestres brasileiros da gravura e da pintura.

Embarcou para a Itália aos 22 set 1944, integrando o 1° Grupo do 1° Regimento de Obuses Auto Rebocados, retornan-do em 28 jul 1945 com a Tropa do QG.

Mais adiante reproduzimos trechos de uma entrevista ao VERDE OLIVA, onde o artista fez reminiscências sobre o seu período na FEB.

Em 1950, após voltar da Europa, Scliar recebeu convites para a realização de murais, sobre o levante do Gueto de Var-sóvia (SP), teve projetos aprovados por Oscar Niemeyer, para Brasília e ainda para os Estados Unidos, através do Itamaraty.

Em 1966, Carlos Scliar realiza o mural para o Banco Alian-ça, em edifício projetado por Lúcio Costa, em 1973 para a Manchete, onde surgiria o primeiro grande painel sobre Ouro Preto.

Carlos Scliar realizou inúmeras mostras individuais de pintura, desenho e gravura, trabalhos criados em seus ateliês de cabo Frio e Ouro Preto.

Também integrou centenas de coletivas no Brasil e exte-rior. Suas obras estão em Museus e coleções nacionais e es-trangeiras.

Sobre Scliar, escreveu o mestre Oscar Niemeyer:“Um dia, em Paris, André Malraux me falou do seu “mu-

seu imaginário” e comentou: “Cada um de nós tem o seu mu-seu. Coisas que leu e viu emocionado, guardando-as cuidado-

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samente no seu subconsciente”.No meu pequeno museu, guardo com especial carinho a

obra de Scliar.Obra feita de amor e beleza; de coerência e personali-

dade. E quando dela me lembro, nela adiciono, sem querer, sua figura generosa, entregue à sua pintura, é claro, mas sem esquecer o mundo em que vive, com suas misérias revoltan-tes. E, como também não me alheio de tais problemas, esse aspecto humano do nosso amigo assume para mim um peso maior. Não é apenas um grande artista, mas um homem que preza a vida e seus semelhantes, pronto a com eles dividir e participar.”

(Oscar Niemeyer, texto para exposição “Scliar: Obras Re-centes”, Galeria AM Niemeyer, março de 1981).

Em entrevista para Verde-Oliva, Setembro/Outubro 1997 - Ano XXV Nº 157 Scliar menciona que mudou sua percepção da vida após integrar a Força Expedicionária Brasileira (FEB) na 2ª Guerra:

“Nasci em Santa Maria (RS) em 1920. Por acaso, meu pai passou por lá a caminho de Porto Alegre. Ele trabalhava em Buenos Aires. Em Santa Maria, encontrou uma organização especialista em roupas e lá conheceu minha mãe, uma ope-rária.

Hoje sou “Honoris Causa” na Universidade. Acho curiosa a minha cidade. Tenho muito orgulho em dizer que sou de Santa Maria da Boca do Monte, pois fui levado para Porto Alegre e só voltei em 1950.

A FEB foi decisiva para a pessoa e para o artista. Como artista, era muito menor.

É a miscigenação, que tem uma formação peculia-ríssima. O índio, o ibérico, o negro, cada um deles trouxe a sua con-tribuição. Isso nada mais é do que a origem do Exército em Guararapes.

Essa experiência toda que tenho acumulada me faz dizer que o problema social era muito importante e a FEB foi uma ruptura nesse sentido. Foi uma experiência densa e marcante porque eu tinha a sensação de que todo dia seria o último lá

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na FEB. A guerra é isso. “Sinto que foram esses desenhos, quase um mil, não

sei exatamente quantos, tantos rasguei, quase tantos quantos guardei...”

Fui do Grupo Levi Cardoso – I Grupo – I/1º RO/AuR, atu-ando na central de tiro na função de controlador horizontal.

Na primeira vez em que se organizou a Unidade de Ar-tilharia, sediada em São Cristóvão, o Cel Levi Cardoso me consultou se aceitaria fazer um curso. Aceitei, fui aprovado e promovido a cabo. Na Itália, com a experiência de artista gráfico, fui trabalhar no serviço especial para a imprensa, na confecção do “Cruzeiro do Sul”.

Eu, que até então pintava só o lado social em torno de mim, achei que tinha de mostrar que a vida poderia ser bela. Nós tínhamos de lutar para que o mundo fosse melhor do que era. Tinha de mostrar que o mundo dependeria da gente. A guerra me ensinara isso. A guerra me deu a sensação de quan-to a vida é uma coisa precária. A guerra a gente controla até um certo ponto.

A FEB, no meu ponto de vista, significa para o Brasil real-mente a consciência de que o Estado Novo, nascido da influ-ência do fascismo, não tinha mais razão de ser e que a vonta-de do povo, daqueles que fazem a grandeza do País, tem de ser respeitada.

Para nós, o nazismo, com seus campos de concentra-ção, onde milhões de pessoas foram exterminadas por razões ideológicas, raciais e religiosas, foi uma monstruosidade que não cabe em lugar nenhum. Eu tive com os nossos soldados e superiores uma relação respeitosa, atenciosa, de tal maneira condizente com as expectativas.

Aprendi, mas aprendi na pele porque, para mim, a guerra foi uma lição de que cada dia poderia ser o último e, por isso, era essencial vivê-lo. Hoje, vejo um mundo como algo que precisa ser reformulado e depende de nós.

A experiência da FEB, para mim, foi tremendamente rica. Acho que todos os que passaram pela experiência da FEB devem

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ter aprendido ensina-mentos decisivos para a vida pessoal.Primo de Carlos, o médico e escritor Moacyr Scliar en-

viou um texto que foi lido em 1º de maio de 2005 no Grande Templo Israelita, no Rio de Janeiro, durante a homenagem aos Heróis Brasileiros Judeus da Segunda Guerra Mundial, e que aqui segue:

“Ser primo do Carlos Scliar era para mim motivo de or-gulho. Aliás não só para mim, para toda a família. Que não era pequena. Nove filhos a minha avó Ana trouxera da Rússia e todos eles também tiveram um número razoável de filhos. Resultado: uma grande tribo de gente voltada sobretudo para a cultura: vários músicos, um fotógrafo e cineasta, vários profis-sionais liberais... Mas em Carlos eu via um modelo, sobretudo por causa da coerência e da dignidade com que sempre se dedicou à sua arte.

Mais que isto, desde cedo revelou-se um militante que acreditava em um mundo melhor, sonho que partilhava com numerosas pessoas, entre elas Jorge Amado e Zelia Gattai. Foram os primeiros escritores que conheci, e isto graças ao Carlos, que lhes servia de anfitrião cada vez que vinham a Porto Alegre.

Eu admirava o talento de Carlos. Um talento que ele, generosamente, tratou de me transmitir. Um dia, eu ainda garoto, resolveu me ensinar a desenhar. Deu-me um lápis, uma folha de papel, e pediu que eu o retratasse. Desenhei um círculo com vários pontinhos dentro. Ele olhou aquilo, meio espantado, e perguntou o que era o círculo. A tua cara, respondi. E esses pontinhos, ele indagou. A barba, foi minha resposta. Ele não disse nada, mas não voltou ao assunto. Em compensação, quando comecei a escrever minhas primeiras historinhas, era a ele que mostrava. Lia, anotava, dava suges-tões. E indicava-me autores para ler; foi graças a ele que des-cobri Clarice Lispector. Até hoje lembro Carlos lendo em voz alta o belíssimo conto “Uma galinha”, que tinha publicado na revista Senhor.

Antes disso, porém, ele foi para a guerra. De novo, aquilo me encheu de orgulho. Mas seus pais sofriam muito. Pior ain-

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da, a mãe, Cecília, faleceu quando ele estava na Itália. Meu tio Henrique, desnorteado, não sabia como dar a notícia ao filho, numa época em que as comunicações eram precárias. Entrou em contato com Rubem Braga, que era então correspondente de guerra junto aos pracinhas e pediu que o fizesse. Numa crô-nica notável, Braga conta que procurou Carlos e encontrou-o felicíssimo: era sua primeira folga no fronte e ele ia aproveitar para visitar Florença. Braga adiou a revelação: “Não se pode estragar a primeira visita de um jovem artista a Florença.”

No fronte e na vida Carlos Scliar foi um lutador admirável e humano. Faz falta. Faz muita falta.”

Junto ao Canal de Itajuru, em Cabo Frio no Rio de Janeiro está instalado um extenso repositório de sua obra, o Instituto Cultural Carlos Scliar, que dispõe de um acervo de 150 obras do próprio Carlos e de outros renomados artistas e que foram doados pelo pintor para a instituição, juntamente com a be-líssima casa, um sobrado do final do sec. XVIII adquirido em ruínas em 1960, dos herdeiros do Marechal Candido Rondon, onde o artista residiu por 40 anos.

Scliar faleceu em 28 de abril de 2001 no Rio de Janeiro, onde foi cremado, e as cinzas, atendendo a seu pedido, lança-das no mar de Cabo Frio.

David Lavinski

Em 1944, David estava acantonado no Forte de Campi-nho, subúrbio do Rio de Janeiro, com o seu Grupo de Artilha-ria. Embarcou em 22 de setembro com o 2º e 3º dos 5 escalões da FEB, integrando o Grupamento General Cordeiro de Farias, Comandante da Artilharia Divisionária da FEB. Era véspera de Yom Kippur. A bordo do navio da Marinha Americana, U.S.S. General W. A. Meenor, de transporte de tropas, o gaúcho de 4 Irmãos David Lavinsky ouviu pelo fonoclama um Rabino Ca-pelão Naval americano convocando os judeus que estivessem a bordo para o Kol Nidrei.

Compareceram trinta militares da fé mosaica, entre brasi-leiros e americanos. A cerimônia teve de ser interrompida pela

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ameaça de ataque de submarinos nazistas e o navio começou a navegar em zigue-zague, o que provocou enjôo em muitos expedicionários, inclusive David, que se julga um homem va-lente, tendo sido a única ocasião em toda a sua vida que sentiu medo, muito medo.

David era cabo, servindo no I Grupo do 2º Regimento de Obuses Autorebocado (I/2º ROAuR). Pertence a uma família de agricultores judeus que até hoje se dedica ao plantio de soja e trigo no Rio Grande do Sul. Nasceu na antiga Erechim, hoje município de Getulio Vargas, aos 5 de março de 1920, filho de Gregório e Sara.

Como outros Veteranos judeus, David descende de imi-grantes que vieram da Rússia no projeto financiado pelo Barão Maurice de Hirsch, que fundou a Jewish Colonization Agency, que comprava terras no interior do Brasil, Argentina, Estados Unidos e Canadá, e pagava as passagens dos judeus que quises-sem sair da Europa sofrida e se transformarem em agricultores naquelas terras abençoadas, carentes de povoação e mão-de-obra, onde prosperariam e conservariam sua ricas tradições.

David Lavinsky, gaúcho de Quatro Irmãos reside atual-mente em Belo Horizonte.

Havia acabado de prestar o serviço militar e dado baixa como cabo telegrafista e motorista quando o Brasil declarou guerra aos países do Eixo. Era reservista de 1ª categoria quan-do, aos 14 de fevereiro de 1944 foi incorporado como vo-luntário ao estado efetivo do grupo, sendo promovido a Cabo Metralhador.

Alistou-se como voluntário e aceitou a função de soldado “para evitar a extinção do povo judeu”, segundo suas próprias palavras. Até o dia em que, já embarcado no navio norte-ame-ricano que transportava o contingente militar brasileiro para a Itália, foi chamado pelo alto-falante para a cerimônia do Iom Ki-pur, não conhecia outro judeu que tivesse participado da FEB.

A tripulação era toda norte-americana e como houvesse muitos judeus a bordo, havia um rabino-capelão, que oficiou parte da celebração, que teve de ser interrompida pelas mano-bras que o navio precisou fazer para fugir dos torpedos dispa-

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rados pelos submarinos alemães. Já no front, Lavinsky participou de toda a campanha da

Itália dirigindo caminhões que transportavam munição para as unidades de artilharia. Trata-se do Grupo Bandeirante, antigo I Grupo do II Regimento de Obuses 105mm de Quitauna, hoje transformado no 21 Grupo de Artilharia de Campanha Leve de Barueri, a unidade que até hoje comemora a última missão de tiro na Itália, a 01:45 da madrugada do dia 29 de abril de 1945, coincidindo com a rendição da 148 DI alemã.

David foi elogiado pelo Capitão Comandante da 2ª Ba-teria, Walmicki Ericsson, nos seguintes termos: “Agradeço e louvo o Cabo David Lavinski pela eficiência e cooperação na marcha e ocupação de posição na noite de 13 para 14 de no-vembro de 1944.”

A 15 de junho de 1945, recebeu mais um elogio individu-al do Cmt Bia: “O Cabo David Lavinski, metralhador durante toda a Campanha da Europa, mostrou ser um subordinado dis-ciplinado, zeloso com o material que lhe foi distribuído, sem-pre pronto para atender as ordens e de eficiente manejo da sua metralhadora. Apesar dos rigores do inverno, sempre esteve alerta de sentinela. É um cabo cioso de suas funções dotado de espírito militar e sobretudo de boa educação.

A 20 de junho foi novamente elogiado individualmente pelo Cmt Bia nos seguintes termos: “O Cabo 456 David La-vinski, metralhador, pela atuação que teve no desempenho das suas funções na ofensiva da primavera que começou com o ataque ao triangulo Montese - Montelo – Monte de Bufani, e culminou com o ataque as rotas do inimigo na Itália. Sempre que necessário estava a postos, conservando em bom funcio-namento as metralhadoras que lhe foram confiadas, disciplina-do, honesto, trabalhador e tem perfeita consciência do cumpri-mento do dever.”

A 5 de julho, o Exmo. Sr Major General U. S. Army Willis D. Crittenberg conferiu-lhe o título de MEMBRO HONORÁ-RIO do IV U. S. Army Corps.

Aos 15 de agosto, já no Brasil, foi licenciado do serviço ativo do Exército, indo residir na Estação de Erebango – RS.

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Por ter participado das operações de guerra na Itália, Da-vid foi condecorado pelo Presidente da República com a Me-dalha de Campanha pelos relevantes serviços prestados ao es-forço de guerra, em diploma assinado pelo Ministro da Guerra, General Pedro Aurélio de Góis Monteiro.

DAVID LEON RODIN (*)

David Leon Rodin nasceu aos 05/10/1912 no Rio de Janei-ro, filho de Isaak e Elisa Rodin.

Seus pais eram da Rússia, o pai de Odessa e a mãe de Dubessá na Bessarabia. Quando jovens, no início do século XX, emigraram para a Argentina onde se conheceram e se ca-saram.

Viveram alguns anos na Argentina e depois vieram para a cidade de Santos, no Brasil, onde montaram um pequeno ho-tel. Mais tarde se mudaram para o Rio de Janeiro e se estabele-ceram na Praça Onze, onde Isaak montou uma loja de antigui-dades, próxima à Rua de Santana, e Elisa, exímia cozinheira, uma pensão. Lá, tantos judeus como não judeus se deliciavam com sua culinária tipicamente judaica.

Foi em um sobrado na Rua Benedito Hipólito 65, na Praça Onze, bairro em que naquela época se concentrava a maioria da comunidade judaica do Rio de Janeiro, que David Leon Rodin nasceu e passou grande parte de sua vida.

Desde cedo, manifestou aos pais seu sonho de viajar e conhecer lugares distantes e remotos e lhes disse que queria entrar para a Marinha, o que, então, não foi levado em conta por julgarem ser um sonho efêmero. Diziam-lhe que ele seria médico, engenheiro ou advogado, como seus colegas.

David cursou o primário na Escola Pública Clementino da Silva, na Rua do Senado, próxima a sua residência. Prestou concurso para o Colégio Pedro II, na antiga Rua Larga e atual Av. Marechal Floriano, tendo passado em 1º lugar, e onde cur-sou o ginásio e o científico.

(*) A partir de texto original fornecido pelo seu filho, Eng°. Naval Mauro Rodin.

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Em busca da realização de seus sonhos, prestou concurso, em 1927, para a Escola de Formação de Oficiais da Marinha Mercante do Brasil, obtendo a 1ª colocação, onde formou-se como Praticante de Piloto, em 13 de novembro de 1929, aos 17 anos.

Por ser filho único, David teve sérias rusgas com seu pai que era radicalmente contrário a carreira que ele pretendia se-guir e que o sujeitaria a ausências prolongadas e fora do conví-vio familiar. Mas quem tem sonhos e ideais deve persegui-los, assim o fez David, vindo a tornar-se o primeiro Comandante brasileiro judeu da Marinha Mercante Brasileira.

Por isto e por ser rígido e exigente com seus comanda-dos, e consigo mesmo no cumprimento de suas obrigações, era conhecido como o “Comandante Judeu”, o que muito o orgulhava.

Em 1935, aos 23 anos, já embarcado como Piloto em na-vios do LLOYD BRASILEIRO, conheceu numa festividade ju-daica Cecilia Sintob, também da Praça Onze, que viria tornar-se sua mulher.

Por ser da Marinha Mercante, ocorreu um fato pitoresco neste relacionamento: David apaixonado por Cecilia, por di-versas vezes tentou pedi-la em casamento aos seus pais, como era o costume da época, mas o pai de Cecília, Isaac Sintob, opunha-se terminantemente ao casamento pois achava que ele, David, sendo da Marinha, deveria ter uma mulher em cada porto.

David, desanimado, achando que ia perder a noiva, ape-lou para um amigo que era delegado de polícia, pedindo-lhe que intimasse Isaac Sintob. Este muito assustado compareceu à delegacia e, após saber do que se tratava, explicou ao de-legado porque não queria o casamento. O delegado, muito paciente, conversou com Isaac e explicou-lhe a sincera inten-ção de David. Depois de muita conversa e persuasão, Isaac concordou com o casamento, que ocorreu com grande pompa em 20/03/1937, na casa dos pais de David.

Por força das constantes e ininterruptas viagens, David pouco participou da vida comunitária, porém fazia questão

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que seus filhos tivessem uma tradicional educação judaica, co-mandada por Cecília, oriunda de família seguidora de precei-tos judaicos ortodoxos. Quando aportava no Rio, freqüentava a Sinagoga da Rua de Santana; em outras cidades, procurava Sinagogas mais próximas do porto.

O primeiro embarque de David ocorreu em 29/11/1929 no navio “Barbacena” na categoria de Praticante de Piloto.

Cada categoria exigia um período mínimo de prática, quando então David retornava aos estudos na Escola de Ma-rinha Mercante para galgar nova categoria, e assim sucessiva-mente.

Desta forma, foram muitos os navios de embarque e as funções desempenhadas por David, inclusive durante a 2ª Guerra Mundial.

ANTES DA 2ª GUERRA• Praticante de Piloto – navios “Barbacena” e “Alegrete”,

de 20/11/1929 a 09/02/1931;• 2º Piloto – navios “Ayuroca”, “Rodrigues Alves”, “Parna-

íba”, “Mantiqueira” e “Comandante Alcídio”, de 12/03/1932 a 17/02/1937;

• 1º Piloto – navios “Rodrigues Alves”, “Comandante Capela”, “Annibal Benévolo” e “Aracajú”, de 19/03/1937 a 31/01/1941.

DURANTE A 2ª GUERRA• Como Capitão de Cabotagem ou Imediato, fez parte do

comando dos navios “Murtinho” e “Pirineus”, no período de 01/02/1941 a 22/12/1945, realizando 65 viagens em “Zona de Risco Agravado” para assegurar o abastecimento e o transporte de materiais necessários à obtenção da vitória, sob a orien-tação das autoridades navais brasileiras, ao lado das Nações Unidas.

Foi agraciado pelo Presidente da República com a “ME-DALHA DE SERVIÇOS DE GUERRA COM 3 ESTRELAS”, ou-torgada pelo CONSELHO DO MÉRITO DE GUERRA DA MA-RINHA DO BRASIL, em 02/07/1948. Como reza o Diploma assinado pelo Ministro da Marinha, Almirante Sylvio de Noro-nha, “pelos serviços prestados durante a II Guerra Mundial ao

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lado das Nações Unidas contra os países do Eixo, a bordo de navios mercantes nacionais ou estrangeiros, empregados em assegurar o abastecimento e o transporte de materiais necessá-rios a obtenção da Vitória, tornou-se merecedor da MEDALHA NAVAL DE SERVIÇOS DE GUERRA, COM 3 ESTRELAS”.

APÓS A 2ª GUERRA• Capitão de Cabotagem, no navio “Sabará”, de 02/01/1946

a 09/10/1946;• Capitão de Longo Curso, nos navios “Comandante Ca-

pela”, “Sabará”, “D. Pedro II”, “Duque de Caxias”, “Joazeiro”, “Rio Tocantins”, “Rio Guaiba”, “Carioca”, “Loide Equador”, “Goiasloide”, “Ascanio Coelho”, “Comandante Ripper”, “Jan-gadeiro”, “Rodrigues Alves” e mais tantos outros navios de 09/10/1946 a 10/04/1967.

David era membro da ASSOCIAÇÃO DOS EX-COMBA-TENTES DO BRASIL, seção do então Distrito Federal, sob a matrícula 12.720 e ident. 15.068.

Ainda como Capitão de Longo Curso, foi nomeado para chefiar a representação do LLOYD BRASILEIRO na Holanda, com a missão de fiscalizar a construção de 8 navios para aque-la autarquia. Lá ficou durante 26 meses.

Foi também o responsável pela chefia da fiscalização da construção de 6 navios na Polônia para o LLOYD BRASILEI-RO, bem como de, no comando, trazê-los ao Brasil.

Foi professor da Escola de Marinha Mercante e incentivava jovens brasileiros judeus seguir carreira na Marinha Mercante.

Enquanto navegava, como Capitão de Longo Curso, tinha por norma convocar judeus para fazerem parte de sua tripulação e dentre os mais assíduos se destacavam o 1º Comissário Jacob Niskier Z”L e o Assistente de Comissaria David Blinder Z”L.

No início de abril de 1964, David, por ser dirigente do Sindicato dos Oficiais de Náutica da Marinha Mercante, per-maneceu recluso durante 92 dias, em regime de incomunica-bilidade, em Belém do Pará.

No final de 1967, por força da grave diabetes que lhe aco-metia, deixou de navegar e assumiu a chefia da Área Técnica do LLOYD BRASILEIRO, exercendo o cargo de SUPERINTEN-

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DENTE TÉCNICO DA FROTA, que era constituída por mais de 60 navios, e considerada, então, uma das maiores frotas do mundo. Ocupou este cargo até dezembro de 1972 quando de sua aposentadoria.

David falava correntemente idish, russo, inglês, francês, alemão e um pouco de japonês.

David faleceu em 20/03/1974, data em que completava 37 anos de casamento com Cecília Rodin, deixando 6 filhos: Sara, Rachel, Alberto, Mauro, Jane e Aiza.

Com certeza, David Leon Rodin, realizou todos os seus sonhos de criança de vir a conhecer o mundo inteiro.

Edidio Guertzenstein

Nascido em São Paulo em 21 de Junho de 1918 era filho caçula do reverenciado Rabino Marcos Guertzenstein e Sara Guertzenstein.

Formou-se em Medicina com 21 anos de idade e prestou concurso para o Quadro de Saúde da Marinha do Brasil, na qual ingressou no posto de 1º Tenente.

Ao longo da II Guerra Mundial permaneceu embarcado, tendo cumprido cerca de 180 dias de mar em missões de es-colta a comboios na costa brasileira e nas rotas do Caribe e em operações com as forças da IV Esquadra norte-americana. Seu Tempo em Campanha na Segunda Guerra foi de 15 mar 1944 a 16 mai 1945.

Pela sua participação na II Guerra foi agraciado pelo Pre-sidente da Republica com a Medalha Naval de Serviços de Guerra com 2 Estrelas, que premia os que participaram das operações visando assegurar as comunicações marítimas ne-cessária a vitoria, sendo o Diploma assinado pelo Ministro da Marinha Almirante Sylvio de Noronha.

Fato marcante no período foi o nascimento de sua primeira filha, Solange, em 19 de Abril de 1944, quando encontrava-se embarcado, a familia não tendo como participar-lhe a notícia.

Após o término do conflito teve uma carreira destacada, sendo um dos primeiros Oficiais-Médicos da Marinha do Bra-

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sil designados para cursar nos Estados Unidos. Especializou-se em Cirurgia Pulmonar no Saint Albans Naval Hospital, em Nova York, e fez curso de cirurgia torácica em Boston, onde foi assistente do renomado cirurgião Professor Overholt.

Foi Diretor do Sanatório Naval de Nova Friburgo e implan-tou a Clínica de Cirurgia Torácica do Hospital Naval Marcilio Dias, a qual na época constituiu-se em referência no tocante à cirurgia pulmonar.

Recebeu diversas condecorações, nacionais e estrangei-ras, incluindo-se a Ordem do Mérito Naval.

Promovido a Capitão-de-Mar-e-Guerra, solicitou transfe-rência para a Reserva, no posto de Contra-Almirante.

Autor de livros sobre cirurgia pulmonar, Edidio Guert-zenstein foi Presidente da FIERJ – Federação Israelita do Rio de Janeiro, no período de 1965 a 1968.

Faleceu em 28/06/1978.

Elias Niremberg

Elias nasceu a 14 set 1919, tendo embarcado aos 08 fev 1945 integrando o CRP – Centro de Recompletamento de Pes-soal, e retornado em 18 jul 1945 integrando a Tropa do QG.

Consta que, por dominar a lingua inglesa, atuou como interprete junto aos Altos Comandos da FEB e do V Exército Americano.

Elias teria sido motorista do Marechal Mascarenhas de Moraes.

Reside em Porto Alegre – RS, e teria sido um dos introdu-tores do Synteko no Brasil, gozando de boa situação financeira, o que lhe teria permitido auxiliar a Regional de Porto Alegre da Associação de Veteranos, sendo bastante ativo e comparecen-do assiduamente aos Encontros Nacionais.

Guilherme Bessa Filho

Nascido aos 08 jan 1922 em Guajará-Mirim, Rondônia, era filho de Guilherme Bessa e Cecilia Pereira Lopes. Foi casa-

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do com a Sra. Guita Litwack Bessa.Era Primeiro Rádio-Telegrafista da Marinha Mercante, ten-

do sido tripulante de navios navegando em Zona de Guerra, fazendo jus a Medalha de Serviços de Guerra com 3 Estrelas, outorgada pelo Presidente da República, sendo o Diploma assi-nado pelo Ministro da Marinha Almirante Sylvio de Noronha.

Falecido aos 15 dez 89, foi sepultado no Cemitério Comu-nal Israelita, no Caju, Rio de Janeiro.

Heitor Sennes Pinto

Heitor é outro ex-combatente oriundo das Colônias esta-belecidas no Rio Grande do Sul pelo Barão Hirsch.

Como 3° Sargento embarcou com o Centro de Recomple-tamento de Pessoal da FEB aos 08 fev 1945, retornando em 17 set 1945 com o DP – Depósito de Pessoal.

Foi transferido para a Reserva de 1ª Classe aos 03 ago 1966.

Sua mãe, Dona Maria Zilberstein, já falecida, era conheci-da na Colônia de Quatro Irmãos como uma pessoa de grande coração. Adotou diversas crianças pobres, a quem transmitiu seu nome.

Henrique Schaladowsky

Henrique nasceu aos 26 abr 1919 no Rio de Janeiro, filho de Samuel e Ana.

Na juventude freqüentou o Cabiras e o Clube Azul e Branco.Embarcou para a Itália como 2° Sargento do 9° Batalhão

de Engenharia aos 22 set 1944, retornando com a mesma uni-dade aos 13 ago 1945.

Sua unidade desemenho relevante papel, como primei-ra tropa de Engenharia a atravessar o Oceano Atlântico para combater em outro continente, tendo Henrique pertencido a Companhia de Comando e Serviços, o primeiro elemento do 9° BE e da FEB a entrar em ação aos 06 set 1944 no Teatro de Operações da Itália.

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O 9º Batalhão de Engenharia de Combate foi criado pelo decreto nº 4.799, de 06 de outubro de 1942, e organizado no quartel do 1º Batalhão de Engenharia (atual BEsEng) na cidade do Rio de Janeiro, com efetivos locais, e do 2º Batalhão de Engenharia, da cidade mineira de Itajubá.

Deslocou-se para Aquidauana, no então Estado de Mato Grosso, no dia 1º de dezembro de 1942, ocupando ao chegar, o aquartelamento já existente desde 1922, e que no momento era ocupado por um Grupo de Artilharia.

Em agosto de 1943 foi designado para compor a 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária da Força Expedicionária Brasileira (FEB), que lutaria na 2ª Grande Guerra Mundial (1939-1945). Posteriormente à designação, seguiu para a cidade fluminense de Três Rios, a fim de realizar os treinamentos, visando o em-barque para o Teatro de Operações da Europa.

Incorporado à 1ª DIE/FEB, o 9º Batalhão de Engenharia participou da Campanha da Itália (1944-1945), durante a 2ª Guerra Mundial, realizando importantes trabalhos de enge-nharia e cooperando eficazmente nas conquistas de Monte Castelo, CastelNuovo, Camaiore e Montese, além da manobra divisionária que culminou com a rendição incondicional da 148ª Divisão de Infantaria Alemã.

O livro “A FEB por Seu Comandante”, do Comandante das Tropas Brasileiras na Itália, Marechal Mascarenhas de Moraes (1960), descreve a participação brasileira na 2ª Guerra Mun-dial, durante a Campanha da Itália: “A Primeira tropa brasileira a cumprir missão de combate em território italiano foi a 1ª Cia do 9º BE Comb (9º Batalhão de Engenharia de Combate), co-mandada pelo capitão Floriano Möller...”.

Naquela oportunidade uma das pontes construídas foi de-nominada “Aquidauana”.

Por seus gloriosos feitos na Campanha da Itália, a Ban-deira Nacional do 9º Batalhão de Engenharia de Combate foi agraciada com as seguintes condecorações: Cruz de Combate 1ª Classe, Ordem do Mérito Militar e Medalha Italiana “Valore Militare”.

Após a Chegada ao Brasil, o 9º Batalhão de Engenharia de

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Combate foi desmobilizado, e reduzido a uma companhia. Durante a desmobilização, em 1945, o comandante do

Batalhão na Campanha da Itália, Coronel Machado Lopes, per-cebeu a importância histórica da participação do 9º BE Cmb na 2ª Guerra Mundial, guardando consigo parte dos arquivos históricos da Campanha na Itália, que serviram posteriormente para a criação do Museu do 9º BE Cmb, hoje denominado Museu Marechal José Machado Lopes, em homenagem ao seu insigne comandante.

Em 1956, o então Presidente da República, Juscelino Ku-bitschek, restabelece o 9º Batalhão de Engenharia de Comba-te, com a designação histórica de “Batalhão Carlos Camisão”, homenagem ao insigne comandante da “Retirada da Laguna”.

Em 06 de outubro de 2007 o 9º Batalhão de Engenharia de Combate - Batalhão Carlos Camisão, comemorou seu 65º Aniversário, unidade de grande importância para a Engenharia Militar Brasileira

Henrique recebeu a Medalha de Guerra e a Medalha de Campanha.

Na vida civil Henrique dedicou-se ao comércio, tendo sido empresário de uma cadeia de lojas de eletrodomésticos.

Falecido em 13 mar 1967.

Israel Hollmann

Israel era mecânico de vôo da FAB, também de Quatro Irmãos e já falecido.

Era primo dos também ex-combatentes Heitor Sennes Pin-to e Moisés Gitz, os três originários da Colônia Agrícola de Quatro Irmãos, criada pelo Barão Hirsch no interior do Rio Grande do Sul.

Israel Rosenthal

Israel nasceu no Rio de Janeiro aos 7/fev/21. Seus pais Ru-bin e Clara emigraram da Bessarábia, hoje Moldávia, no come-ço do século XX, indo morar na Praça XI. Israel estudou no Co-

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légio Nacional e apresentou-se como voluntário para prestar o Serviço Militar. Prestou exame de admissão para o Centro de Preparação de Oficiais da Reserva do Rio de Janeiro, CPOR/RJ, tendo sido aprovado e matriculado no Curso de Infantaria.

Entre seus contemporâneos, havia vários rapazes judeus, que simultaneamente cursavam faculdades e o CPOR, entre os quais Marcos Cerkes, Pedro Kullock e Salomão Malina, que in-tegraram a FEB, e os médicos Isac Faerchtein e Jacob Kleiman, que não foram a guerra, bem como Reuven Josef Rosental, Aluno do 2° Ano do Curso de Artilharia falecido em 15 set 1944, em decorrência de um acidente quando montava um cavalo que disparou durante exercício na Barreira do Vasco, indo de encontro a um bonde.

Israel formou-se Cirurgião-Dentista pela Faculdade Nacio-nal de Odontologia da Universidade do Brasil em 1943, tendo obtido um dos primeiros registros no CRO-RJ sob nº 196.

Em concorrida cerimônia no Estádio do Vasco da Gama em São Januário, Israel foi declarado Aspirante a Oficial da Arma de Infantaria, na Turma de 1944.

A 19 de dezembro de 1944, o Aspirante a Oficial R/2 Is-rael foi convocado para o serviço ativo, apresentando-se no Centro de Recompletamento de Pessoal – CRP/FEB, tendo sido classificado no 2º RI e designado subalterno da Companhia de Metralhadoras do III Btl.

Aos 8 de fevereiro de 1945 embarcou no transporte de tropas americano USS General Meighs, com destino ao Teatro de Operações da Itália.

Naquela época, o Brasil era ainda um país essencialmente agrícola, com a população carente de serviços de saúde, parti-cularmente dentários.

Um soldado com dor de dente ou um canal infeccionado era um soldado fora de combate, assim, dada a carência de profissionais no Brasil em geral, e na FEB em particular, Israel dada a sua condição de cirurgião dentista formado foi logo requisitado pelo Comando.

Ele seria tão útil ao esforço de guerra em um Gabinete Odontológico, empunhando brocas e boticões, quanto no

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front à frente de um Pelotão de Infantaria. Assim, Israel foi reforçar o atendimento aos soldados que

sofriam, e não eram poucos, já que para 25 mil homens, havia apenas 25 dentistas, uma relação extremamente baixa.

Como resultado, Israel e seus colegas do Serviços Odonto-lógico trabalhavam quase sem parar 7 dias por semana, saindo do Gabinete praticamente apenas para dormir. O horário era de 7 as 12 e 13 as 17, mas frequentemente ultrapassado, com as refeições feitas também no Gabinete. Como agravante não havia energia elétrica no Deposito de Pessoal, que enquadrava o Gabinete.

Era um dos 4 únicos oficiais combatentes formados em Odontologia, já que os demais pertenciam ao Serviços de Saú-de do Exército, e pela sua atuação exemplar, Israel foi elogiado em Boletim pelo Major Virgilio, Chefe do Serviço de saúde do Deposito de Pessoal da FEB.

“... apesar de pertencer aos Quadros das Armas, pelos inestimáveis serviços profissionais prestados, cooperando para o bom êxito e eficiência do Serviço de saúde, demonstrando conhecimentos amplos e amor a profissão, a par de esmerada educação civil e militar. Disciplinado, possuidor de espírito de camaradagem, muito tem contribuído para o bom andamento do Serviço Odontológico.”

O Boletim estava assinado pelo Coronel Mario Travassos, Comandante do DP/FEB.

Em 4 de agosto de 1945, por Decreto do Presidente da República, foi promovido ao posto de 2º Tenente da Reserva, tendo aos 28 de agosto de 1945 se deslocado juntamente com o III Btl Inf em caminhão de Francolise para Nápoles, onde ocorreu o embarque no Navio de Transporte de Tropas Duque de Caxias, com destino ao Brasil via Lisboa.

Em 3 de setembro, tropa desembarcou em Lisboa, desfi-lando diante do Presidente da República Portuguesa, quando este condecorou todos os elementos do III Btl Inf com a Meda-lha de Ouro do Valor Militar.

Por ter participado das operações de guerra na Itália, Israel foi condecorado pelo Presidente da República com a Medalha

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de Guerra e Medalha de Campanha pelo relevantes serviços prestados ao esforço de guerra, em diplomas assinados pelo Ministro da Guerra, General Pedro Aurélio de Góis Monteiro.

Retornando ao Brasil, Israel continuou praticando os va-lores morais militares, como Conselheiro Nato da associação Nacional dos Veteranos da FEB, aonde chegou a Presidente do Conselho Fiscal, dividindo um gabinete com o falecido eminente General César Montagna de Souza, Presidente do Conselho Deliberativo, e ex-Presidente do Clube Militar, no prédio da Rua das Marrecas que abriga o Museu da FEB e serve de sustentáculo para as ultimas poucas centenas de Veteranos, todos já na casa dos 80 anos.

Israel atuou também como voluntario na Policlínica da Sociedade Beneficiente Israelita, fundada em 06 abr 1920, na Rua Joaquim Palhares 595, Praça da Bandeira, conforme o Di-retor Médico Dr Bernardo Grabois, em delaração datada de 29 jul 1947.

Israel aposentou-se no Serviço Público Estadual, e vem atuando na ANVFEB durante décadas ajudando a defender os interesses dos veteranos, nem sempre lembrados em sua ne-cessidades mais elementares.

Pela sua valiosa atuação, foi agraciado com diversas con-decorações, entre as quais:

Membro Efetivo do I Congresso Brasileiro de Medicina Militar – São Paulo, 1954.

Medalha da Vitória, Ass. Dos Ex-Combatentes do Brasil, Seção Rio – 1985.

Medalha da Conquista de Monte Castelo – Regimento Sampaio, 21/fev/1990.

Medalha Marechal Mascarenhas de Moraes – 1992.Diploma Colaborador Emérito do Exército – 2003.Diploma da Ass. dos ex-Combatentes do Brasil – Seção

Nova Iguaçu.Este dedicado Soldado Brasileiro de fé judaica, após tantos

anos de bons serviços prestados ao Exército e aos Veteranos da FEB em uma carreira exemplar seguiu para a Itália no mês de abril de 2005, como membro da Delegação Oficial do Exército

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Brasileiro as comemorações dos 60 anos da Vitória Aliada na Europa.

A seguir transcrevemos reportagem Os garotos que vieram do Brasil para lutar pela liberação da Itália de Alberto Riva, su-plemento “II Venerdì” do jornal “La Repubblica” - 01/04/2005 (traduzido do italiano), realizda na sede da ANVFEB na Rua das Marrecas 35, Lapa, Rio de Janeiro, com depoimentos pretados por Israel e seu grande amigo e irmão de armas Cel Sérgio Gomes Pereira, Presidente da ANVFEB, também ele oriundo do CPOR/RJ.

Eram os 25 mil homens da Força Expedicionária Brasilei-ra, que chegaram após o General Clark. Sessenta anos depois, retornam em peregrinação em Roma, Nápoles, Livorno. E nos Apeninos, onde os uniformes de inverno lhes foram fornecidos pelos norte-americanos. Porque eles, a neve, nunca tinham visto.

Do Pão de Açúcar aos Apeninos. Existe um pedaço de me-mória italiana no centro do Rio de Janeiro. Um prédio de cin-co andares, apertado por edifícios de cimento e vidro na Rua das Marrecas, antiga estrada do bairro da Lapa. Sérgio Gomes Pereira, 81 anos, coronel reformado, sobe todos os dias até o quinto andar e senta atrás da sua mesa. É o Presidente da Asso-ciação Nacional dos Veteranos da FEB, a Força Expedicionária Brasileira, que de julho de 1944 até maio de 1945, teve seus homens junto às tropas norte-americanas do General Clark em território italiano. Para o Exército Brasileiro, sob o comando do General Mascarenhas de Moraes, era a primeira missão além das fronteiras nacionais. Para muitos daqueles homens, a pri-meira neve, jamais vista, e a primeira viagem, talvez a única, fora do Brasil. Dos 25 mil soldados, 457 nunca mais voltaram a ver a Baia de Guanabara, e quase 2.000 voltaram feridos e mutilados.

Agora, depois de exatamente sessenta anos daquela expe-dição, Sérgio prepara-se para atravessar novamente o oceano: no final de abril estará chefiando uma delegação na Itália, em-penhado em um tour nos lugares da memória: Roma, Staffoli, Pistoia, Montese, Collecchio, Gaggio Montano... Nomes de

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pequenas cidades que, no português claro do Coronel Gomes Pereira, soam familiares. Nomes de batalhas. No térreo de Rua das Marrecas 35, onde se encontra o Museu da expedição, aqueles nomes são fotografias em preto e branco, ou velhos uniformes colocadas nas paredes, armas enferrujadas seqües-tradas às SS, medalhas, cartas, recordos. “A sede da FEB é aqui” explica Sérgio Gomes “porque todos partimos do Rio. O porto era protegido, enquanto os outros eram ameaçados pe-los submarinos alemães e italianos. Muitos navios tinham sido atacados e ocorreram mortes entre civis. Entramos em guerra por este motivo”.

Para a guerra os tinha levado Getúlio Vargas, o Presidente-ditador, que governava sem interrupções desde a Revolução dos anos trinta. Até 1941, o Brasil tinha se mantido neutro. Mas, após Pearl Harbour, tinha declarado sua solidariedade aos Estados Unidos, portanto tinha cortado suas relações di-plomáticas com o Eixo. A Alemaha de Hitler não tinha gosta-do - mesmo porque deste modo o Brasil tornava-se uma base preciosa para as missões Aliadas na África do Norte - e tinha começado torpedear os navios da marinha mercante ao longo da costa do nordeste do País.

Assim, em 22 de agosto de 1942, após outro afundamen-to, Vargas reuniu seus ministros e declarou guerra aos inimigos da democracia. Ele que não era exatamente um democrata. “Tornou-se um ditador somente em um segundo tempo” lem-bra Sérgio Gomes. “Não era fascista nem comunista, queria somente o poder. Mas não havia liberdade. As cartas que en-viávamos do front, e aquelas que recebíamos, eram abertas e censuradas”.

Antes, porém, ocorreu a viagem: “angústia” admite o co-ronel “e também medo. Não sabíamos aonde iríamos desem-barcar. Somente no final descobrimos de estar em Nápoles. Mas a viagem não tinha terminado. O golfo era cheio de na-vios afundados. Assim, muitos foram transferidos para Livorno, com lanchas de desembarque que os norte-americanos tinham já usado na Normandia”. A Itália, para Sérgio Gomes, nascido no Rio mas por motivos familiares criado em São Paulo, apre-

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sentava-se de modo inesperado: “Pobreza” é a palavra que lhe saí da boca. “Fome absoluta. Eu não fui para Livorno, desem-barquei em Nápoles para acompanhar um soldado em hospital e aquilo que pude ver impressionou-me.

A Itália estava pagando seus pecados”. E por falar nisto, Sérgio olha para um antigo companheiro que ainda hoje está com ele, na associação. O Tenente dentista Israel Rosenthal, aqui, confirmando aquelas lembranças como se fossem suas próprias.

“Eu, ao invés, fui para Livorno”, conta Rosenthal “e che-gar lá foi um pesadelo. O mar revolto, ninguém ficou de pé. Assumi logo o serviço junto à um hospital de campanha em Staffoli. Acredito de ter feito mais de cinco mil cirurgias. Não tínhamos energia elétrica nem água. Lembro que daquela lo-calidade vinha um médico italiano que me pedia o anestésico porque ele não tinha mais”. Continua Sérgio: “Naqueles dias fizemos muitas amizades.

Nossos mortos foram sepultados em Pistóia, onde hoje há um monumento. Do meu pelotão morreram dezessete. Subi-mos para o norte e as batalhas foram duras: Monte Castello, Montese, Vignola. Não era fácil se orientar. Em cada um de nossos pelotões, tinha pelo menos um “partigiano” com a fun-ção de apoio. Eles conheciam bem as trilhas. Nos acompanha-vam e logo após desapareciam para não serem presos pelos alemães”.

Uma página de história que ficou, não sabemos porque, às margens do conflito. Mesmo se entre os brasileiros desem-barcados na Itália houvesse pessoas que, posteriormente, tor-nariam-se famosas. Aquele que muitos consideram o maior cronista brasileiro, Ruben Braga (1913-1990), correspondente do Diário Carioca. Ou o pintor Carlos Scliar (1920-2001), que trouxe de volta uma agenda cheia de desenhos. Tinha Celso Furtado (1920-2004), que depois se tornou o maior economis-ta brasileiro. “Partimos juntos e fizemos a viagem na mesma cabine” conta Rosenthal. “Estudava direito e falava um perfeito inglês, era o interprete”.

As lembranças, nas palavras dos veteranos, se acumulam.

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Nas velhas fotografias, irreais paisagens geladas e soldados enfiados em uma espécie de saco branco com capuz: “Os uniformes para o inverno, tinham sido fornecidas pelos norte-americanos. Nos partimos como se tivéssemos que combater na África...”.

E a saudade do Rio de Janeiro? Sérgio Gomes tem um flash: “Era um sábado de carnaval, acredito, no final de janei-ro. Posicionamos-nos nas proximidades de Gaggio Montano, na neve. Do nosso rádio, ao invés das ordens da base, em um determinado momento ouvimos uma música. Era a festa que estava se desenvolvendo no Cassino da Urca, no Rio, o cas-sino onde se apresentavam todos os grandes da época, como Carmen Miranda. Não lembro o que fosse, mas era um samba, disto estou certo”.

Jacob Benemond

Jacob Benemond, Capitão-de-Longo-Curso, comandava o Olinda, segundo navio nacional a ser torpedeado por submari-no nazista. Conseguiu salvar toda a tripulação, a deriva no mar gelado durante 36 horas.

Jacob Benemond nasceu em Belém do Pará aos 05 agosto de 1881 e faleceu em 23 out 1960 no Rio de Janeiro.

Era filho de Abraham Benemond e Emilia Benemond, Fre-qüentava a Sinagoga Shell Guemilut Hassadim.

Pelo heroísmo demonstrado no episódio do afundamento do Olinda, o Comandante Benemond foi condecorado pelo Presidente da República com as medalhas:

Medalha de Serviços de Guerra, tendo em consideração os valiosos serviços prestados ao país.

Medalha do Mérito Naval com 3 Estrelas como recompen-sa aos valiosos serviços prestados em 18 de fevereiro de 1942 ao ser o Olinda torpedeado por um submarino alemão, quan-do com risco da própria vida corajosamente efetuou em meio ao pânico geral o salvamento dos 46 homens da guarnição, reunindo-os em duas baleeiras abastecidas que permaneceram à espera de socorro durante 30 horas consecutivas.

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Ordem do Mérito NavalDurante as comemorações da Semana da Marinha, várias

personalidades foram condecoradas com a Ordem do Mérito Naval, entre outras, o Sr. Cornélio Verolme, General Pantaleão Pessoa, Dr. Daniel Carvalho e a filha do Sr. Jacob Benemond, homenageado “post mortem”.

Medalha Mérito TamandaréSegundo Arthur Oscar Saldanha da Gama, em A Marinha

do Brasil na Segunda Guerra Mundial p.112:O Olinda navegava às 12h30min do dia 18 de fevereiro de

1942, na posição de 36 56’N e 37 30’W, na costa da Virgínia, Estados Unidos, sendo denunciado por aeronave espiã, que deu a sua rota, velocidade e posição ao U-432, do Capitão-Tenente Heinz-Otto Schultze, o mesmo que havia torpeado o Buarque.

A nave veio, antes, à superfície, mandando o mercante parar. Em seguida, limpo e bem manobrado, como havia bom tempo, atracou no costado, chamando ao seu convés o Co-mandante do mercante, Sr. Jacob Benemond, que se fez acom-panhar do 2° Telegrafista com os papéis de bordo.

Os oficiais do submarino, polidamente, interrogaram-nos em inglês fluente e fotografaram os papéis do navio. O coman-dante, que dava ordens aos seus homens em alemão, mandou de volta os brasileiros com a ordem de abandonar o navio e, depois, desatracou com facilidade.

Esperou que todos embarcassem nas baleeiras, que foram arriadas e, a tiros de canhão, pôs a pique o Olinda. A tripula-ção de 46 homens, foi salva pelo USS Dallas. O Olinda era o ex-Kanemer-land e ex-Cara, inglês, agora da Carbonífera Rio-Grandense, afretado à CIA. Comércio e Navegação. Levava para Nova-Iorque 53.400 sacos de cacau, sacas de café e de mamona. Deslocava 4.086 t brutas e 2.532 líquidas, compri-mento 109,7 m boca 15,31 m, pontal 7,62 m, calado 6,30 m e velocidade 9 nós. Salvaram-se os 46 homens da tripulação.

Compilado de O Brasil e a Segunda Guerra Mundial, Ministério das Relações Exteriores.

Três dias depois, nas proximidades da mesma área, ou-

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tro navio nosso foi atacado, em pleno dia, às 12h30min de 18 de fevereiro, por um submarino nazista, do tipo de bolso, sem prévio aviso; a vítima fôra o vapor do Olinda, de 4.085 toneladas brutas de deslocamento, da companhia Comércio e Navegação, fretado a Companhia Carbonífera Rio-grandense, que navegava para Nova-Iorque, procedente de Santa Lúcia, prossessão britânica, nas Pequenas Antilhas, de onde havia partida na tarde do dia 9, sob o comando do Capitão Jacob Benemond.

O submarino, usando um canhão de pequeno calibre, fez 14 disparos contra o navio, sendo que apenas três projéteis atingiram o alvo, desmantelando a antena e a estação radiote-legráfica.

Duas baleeiras foram arriadas ao mar com os 46 homens da tripulação. Quando essas estavam razoavelmente afastadas do navio, o submarino aproximou-se das baleeiras e homens de sua guarnição exigiram a presença do comandante e do ra-diotelegrafista, aos quais os oficiais alemães inquiriram sobre os documentos de bordo, a natureza da carga, bem como, por segurança própria, se haviam, tido tempo de emitir pedido de SOS. Tiraram duas fotografias, uma dos náufragos nas baleeiras e outra do Comandante e do radiografista a bordo do submari-no, quando da entrevista.

Em seguida, após o retorno às baleeiras, foi novamente o Olinda alvejado pelo submarino, de uma distância de um quarto de milha, que disparou cerca de 20 tiros contra o navio, que, embora bastante adernado, levou aproximadamente uma hora para ir ao fundo.

A nacionalidade alemã do submarino agressor foi perfeita-mente identificada, não só pelo comandante do Olinda, como por diversos de seus homens. Ao sangue-frio, a habilidade e energia do comandante, deveu-se o salvamento de todos os 46 homens da tripulação nesta triste conjuntura.

Aparecendo no local 4 aviões norte-americanos da defesa coteira, o agressor submergiu e desapareceu; um dos aviões comunicou aos náufragos help on way, nessa ocasião deviam estar cerca de 40 milhas da costa do Estado de Virgínia, nos

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Estados Unidos. Vinte horas após o desastre, mais ou menos às 8h do dia seguinte, apontou no horizonte do destróier norte-americano Dallas, que recolheu os tripulantes e os transportou para a base naval de Newport, na Virgínia.

No dia 20, o Governo brasileiro, devidamente informado de ambas as ocorrências, enviou uma nota ao Governo ale-mão, por intermédio de Portugal, protestando contra os tor-pedeamentos dos navios Buarque e Olinda, que navegavam fora da zona de bloqueio, fartamente iluminados, permitindo serem facilmente reconhecidas as bandeiras que traziam.

Em março, duas outras ocorrências vieram aumentar as nossas perdas. Na primeira foi vítima o cargueiro Arabutan, ex-Caprera, com 7.874 toneladas de registro, de propriedade de Pedro Brando, a serviço do Lóide Nacional S.A. e sob o co-mando do Capitão de longo-curso Aníbal Alfredo do Prado.

Havia partido às 16 horas do dia 6 de março de Norfolk para o Rio de Janeiro, com escala em Port Of Spain, Trini-dad, transportando 9.613 toneladas de carvão para a Estrada de Ferro Central do Brasil. Às 15h10min do dia seguinte, este, nas proximidades do Cabo Hatteras, foi inopinadamente tor-pedeado por um submarino nazista, sendo atingido na altura do porão número cinco do lado boreste, afundando por água aberta, em vinte minutos, a 81 milhas da costa, no ponto de coordenadas 35 15’N e 73 50’W, de Gr. Na emergência, o comandante determinou a expedição dos sinais de socorro e deu-se início à faina de salvamento.

O submarino, segundo o primeiro-piloto, devia ter 800 toneladas de deslocamento, com cerca de 60 metros de com-primento, estava armado com um canhão de 75 mm na proa e uma metralhadora antiaérea à ré; tinha o casco pintado de ver-de-garrafa e, pelas fotografias exibidas em Norfolk, por acasião do inquérito, foi reconhecido como de nacionalidade alemã.

O atacante, que não fora pressentido pela tripulação, só veio à tona quando o pessoal já se encontrava nas baleeiras e o navio havia soçobrado completamente; sem hostilizar os náufragos nem procurar obter qualquer informação, descreveu um círculo em torno do ponto de afundamento e submergiu,

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possivelmente em face da aproximação de aviões da Marinha norte-americana, que atendiam ao pedido de socorro, lança-do...

História Naval Brasileira, p. 342, editado pelo Serviço de Documentação Geral da Marinha.

No torpedeamento desse navio, aconteceu um fato es-tranho, segundo relato do comandante: às 19h30min um avião sobrevoou o navio para iluminá-lo. Hoje, sabe-se que os alemães tinham uma aeronave espiã, com base em terri-tório norte-americano para guiar os submarinos.

Quinze minutos antes de 1h do dia 16, Buarque rece-beu o primeiro torpeado.

Em seguida e após o regresso às suas respectivas ba-leeiras do Comandante e do 2º telegrafista foi o Olinda novamente alvejado. Cerca de 20 projéteis foram então disparados contra o navio, que adernou e rapidamente sub-mergiu.

Nem o comandante, que já havia servido na linha de Hamburgo, nem o 2º telegrafista, nem os demais telegra-fistas do Olinda ofereceram dúvidas quanto à nacionalida-de do submarino, unânimamente reconhecido como sendo alemão.

Há divergências, entretanto, com relação à posição do navio no momento do ataque, o que se deve certamente à inexperiência do 2º piloto que se encontrava de quarto.

Segundo os seus cálculos a posição seria: Latitude, 36 56’N e Longitude 74 02’ W. De acordo com o Comandan-te, entretando, a posição deveria ser, aproximadamente 37 30’N de latitude 75 00’W de longitude, posição corrobora-da pelo 1º piloto e pelas estimativas das autoridades ame-ricanas.

Mais ou menos 20 horas depois do ataque, ou cerca das 8 horas do dia seguinte, foi a tripulação do navio brasileiro socorrida pelo destróier americano Dallas, que a levou para a Base Naval de Newport News, Norfolk, Virgínia.

Washington, em 24 de Fevereiro de 1942J. Carneiro Leão

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Correspondência recebida do Consulado do Brasilem Nolfolk - 28 de Fevereiro de 1942

Senhor Ministro,Em obediência às ordens contidas no telegrama nº 4 dessa

Secretaria de Estado, tenho a honra de passar as mãos de Vossa Excelência, cópias fiéis das declarações prestadas pelos senho-res, Comandante Jacob Benemond: Imediato, Manuel Pereira Gonçalves; Chefe de Máquinas Abílio Paulo de Azevedo; Pilo-to Rosauro de Almeida; Piloto de quarto, José da Costa Dutra; Radiotelegrafista de quarto, Francisco Lustosa Nogueira; Mari-nheiro Álvaro Gustavo dos Santos e Marinheiro Manuel Bispo da Cruz, do vapor brasileiro Olinda, afundado no dia 18 do corrente, na Costa da Virgínia.

Das declarações em questão, depreende-se ter sido o re-ferido vapor atacado por um submarino alemão, sem prévio aviso; na posição estimada de latitude 36 30’00’’ Norte e lon-gitide 75 00’00’’ Oeste, às 12,30 horas do dia 18 de fevereiro de 1942, e posto a pique com cerca de vibte tiros de peça.

Ao sangue frio, habilidade e energia do Comandante e Imediato, deve-se o salvamento das quarenta e seis pessoas que compunham a tripulação do Olinda.

Aproveito o ensejo para reiterar a Vossa Excelência os pro-testos da minha respeitosa consideração.

J. A. Rodrigues Martins

Anexo 1:Eu, abaixo assinado, Comandante do Vapor Olinda, brasi-

leiro, de propriedade da Companhia Carbonífera Rio Granden-se, fretado à Companhia Comércio e Navegação, sinistrado no dia dezoito do corrente mês, às doze horas e trinta minutos, na Coata da Virgínia, Estados Unidos da América do Norte, de-claro ao cônsul do Brasil, em Norfolk o seguinte: Que o vapor partiu do último porto de Santa Lúcia, na tarde do dia 9, do corrente mês, com destino ao porto de Nova York; a essa hora acima ouví um tiro de canhão, sendo em seguida verificado pela popa do navio, um submarino que continuava atirando,

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cerca de quatorze tiros, tendo atingido o navio três tiros, sen-do um na altura da radiotelegrafia, outro no alojamento da guarnição de proa e outro no costado. Imediatamente parei o navio e dei sinal para a salvatagem, isto é, o acidente deu-se na latitude 37 graus, trinta minutos norte, e longitude, sesenta e cinco graus, (o) zero minutos, oeste de Greewinch. Às doze horas e quarenta minutos, arriou-se a baleeira número dois (2), com 23 tripulantes e as doze horas e cinquenta minutos, a de número um (1), com a mesma quantidade de tripulantes. Fo-mos intimados pelo Capitão do submarino para atracar ao cos-tado do mesmo, sendo eu interrogado pelo dito Capitão, sobre o manifesto da carga, porém eu respondi que o manifesto se achava a bordo. O 2º Rádio também surgiu e foi interrogado. Depois de curto tempo, voltamos para as baleeiras, tendo em seguida o submarino dado marcha até que se aproximou do Olinda, cerca de um quarto de milha, tendo disparado cerca de vinte tiros, adernando em seguida e posto a pique. Tenho a declarar mais que o submarino e sua guarnição, são alemães. Passamos nas baleeiras, vinte horas, quando fomos salvos por um destroier Americano, e logo que chegamos, em Norfolk, fomos hospitalizados no Hospital da Marinha.

Jacob Benemond - Comandante.

Jacob David Cohen

Jacob nasceu aos 25 abr 1921, filho de David e Jamile Cohen.

Freqüentava o Templo Sidon, tradicional sinagoga da rua Conde Bonfim na Tijuca , Rio, que congrega os descendentes dos judeus de Sidon, no Líbano, que emigraram há cerca de 1 século para o Brasil.

O bairro reune boa parte da comunidade sefaradi carioca, ou seja, descendentes dos judeus de Espanha (Sefarad em he-braico).

No ano de 1492 Madrid era ainda um pequeno povoado desconhecido. na corte de Toledo, os reis catolicos Fernando de Aragon e Isabel de Castilla haviam resolvido expulsar os

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judeus de Espanha. numa última tentativa, o conselheiro real Isac Abravanel tenta reverter o decreto, sem o conseguir.

Tangidos pela intolerância, os judeus de Sefarad se es-palharam pelos quatro cantos do mundo civilizado de então, abandonaram penosamente a patria em direção ao exílio, dei-xando para tras uma efervescentte vida judaica, uma época incrível quando judeus e mouros conviveram lado a lado com os cristãos.

Em 1992, Juan Carlos I, de Bourbon e Battenberg, aden-traria em Madrid a primeira sinagoga erguida em Espanha nos últimos cinco séculos, e diante da sua Reina Sofia, do General Chaim Herzog, presidente do Estado de Israel, e de um punha-do de descendentes daqueles mesmos judeus expulsos pelo reis católicos, declararia ao mundo seu desejo real de que a paz viesse para todos os povos...

No alto daquela casa de orações, as mesmas inscrições da Sinagoga del Transito de Toledo foram reproduzidas, como que a simbolizar a continuidade judaica.

A humanidade tanto deve aos que partiram da Sefarad, e seus descendentes, que importante papel desempenhariam nos nas ciências, artes, cultura, negócios, etc.

A sua busca por um lugar onde pudessem acreditar em seu D_us sem ter que prestar contas ao rei, em que pudes-sem praticar sua religião livremente os levaram a descobrir um novo mundo, e assim muito ajudaram a lançar as bases da nossa sociedade civilizada.

E dentre tantos que tiveram que partir de Sefarad, estava um remoto antepassado do Sargento Jacob David Cohen, que via Sidon acabou chegando ao Brasil.

Várias sinagogas sefaradis se situam num raio de alguns quarteirões tijucanos, como a Beyruthense, União Israel, Ma-ghen David, e o Templo Sidon, este herdeiro das ricas tradi-ções sidonenses, quase centenárias no Rio de Janeiro, a prin-cípio instalado no centro da cidade, que reunia a comunidade oriunda daquela cidade libanesa.

Mais tarde, com a abertura da Avenida Presidente Vargas, houve a mudanca para a atual sede na Tijuca.

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Em 1938 Jacob cursava a Escola Superior de Comércio, realizando a Linha de Tiro na Vila Militar, onde teve como Instrutor o Sargento Torreão, e como colega de farda o jovem Mair Credman.

Em 1942 foi transferido para Olinda – PE, ao 2° Grupo do 3° Regimento de Artilharia Anti-aérea, onde era sargento da Bateria de Metralhadoras.

A Bateria contava com um grande efetivo, de 200 solda-dos e 10 oficiais. Na época temia-se por uma invasão alemã, e eram constantes os torpedeamento de navios mercantes nacio-nais, que determinaram a entrada o Brasil na guerra.

Em seus deslocamentos do Rio para o Nordeste, Jacob na-vegou em águas sujeitas a ação submarina alemã, mas teve sorte, nada lhe acontecendo.

Lamentavelmente, outra foi a sorte de seus camaradas do 7º Grupo de Artilharia de Dorso, que deslocava-se com toda a guarnição e material para o Cais do Porto, onde embarcaria para Olinda.

Era preciso defender a nossa costa, para o que não hesi-taram um só minuto, navegando pelo mar onde se escondia o submarino nazista traiçoeiro. Não haveriam de alcançar seu destino.

A viagem não teve retorno para 150 dos 243 artilheiros, comandados pelo Major Landerico de Albuquerque Lima.

Corria o mês de agosto de 1942. Navios mercantes que transportavam as tropas, o Itagiba e o Baependy não poderiam se defender do ataque cruel, ordenado por aquele cujo nome e sua memória sejam esquecidos.

Diante da imensidão da tragédia, o povo foi às ruas a exigir uma resposta à tamanha covardia. Em apenas 5 dias, o U-507 torpedeou 6 navios nacionais, com a perda de 600 vidas pre-ciosas de brasileiros.

Ao todo, com o afundamento de 35 navios mercantes, o mar foi o túmulo de 1.050 patrícios inocentes.

O Presidente Vargas declarou guerra ao Eixo, dando uma resposta a torpe agressão que vitimou os heróis do 7º GADo, na viagem que não chegaria ao destino.

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Passados 2 anos do repulsivo ataque, desta vez o resultado seria diferente. Os 5 escalões da FEB desembarcaram em segu-rança no solo europeu, onde haveriam de derrotar os mesmos nazistas que tantas vidas brasileiras haviam ceifado.

Ainda em Recife Jacob serviu no Estabelecimento de Ma-terial de Intendência, onde ajudou a suprir a logística neces-sária ao esforço de guerra, sendo em 25 mai 1945 transferido para a Sub-Diretoria de Subsistência no Rio de Janeiro.

Era sócio efetivo da Associação dos Ex-Combatenttes do Brasil, Seção Rio de Janeiro, por ter se deslocado em comboio marítimo e integrado o dispositivo de Defesa do Litoral, e Pen-sionista do Ministério do Exército, por ter sido convocado e ficado a disposição da Força Expedicionária Brasileira, não ten-do embarcado para a Itália em função do término do conflito.

Jacob foi agraciado com a Medalha da Vitória, da Associa-ção dos Ex-Combatentes do Brasil, pelo seu trabalho de união dos veteranos, gozando de grande consideração e estima na-quela casa, como relata seu filho Marco Jacques Cohen.

Jacob faleceu no Rio de Janeiro aos 72 anos, em 16 fev 1994.

Jacob David Niskier

Jacob David Niskier nasceu aos 18–6–1901 em Irati - PR. No final do séc. XX, seus pais emigraram de Ostrowiec, cidade na Polônia, 160 km a sudeste de Varsóvia.

Era uma cidade judaica, aonde a população chegou a ter 90% de judeus. Esta importante comunidade poucas décadas depois seria exterminada pelo ódio.

A Família Niskier era grande e bem situada em Ostrowiec. Muitos se salvaram do Holocausto, emigrando para diversas partes do mundo, para onde se conseguisse o visto salvador, como Toronto no Canadá, Estados Unidos, Israel e Brasil.

Aqui as novas gerações dos Niskier deram ao Brasil im-portantes nomes na Educação e Cultura, Direito, Medicina, Engenharia e outras atividades, alguns de projeção nacional e internacional. É uma família bastante extensa.

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Jacob, como muitos brasileiros natos de primeira geração na época, teve uma infância e juventude pobre. A regra geral era se dirigir para o comércio. Jacob era o irmão mais velho, mas não tinha nenhuma queda para o ramo. Chegou a ser ma-ta-mosquitos para poder estudar.

Mas a história corre por caminhos que só o Grande Ar-quiteto do Universo conhece, e um dia Jacob viria a ser um Comandante da Marinha Mercante do Brasil. Suas lides o le-variam de volta a Polônia, desta vez para buscar navios que o Brasil encomendara naquele pais, trocando-os pelo bom café brasileiro, o que renderia anos depois o episódio que ficou conhecido como “as polonetas”, títulos obscuros alvo de ne-gociatas, conforme noticiavam os jornais.

Nesta ocasião Jacob teve a oportunidade de visitar Ostro-wiec. As casas e propriedades de seus pais e familiares, de onde foram tangidos pelos nazistas para o Campo de Concen-tração de Treblinka em 1942 / 43, ainda estavam lá.

Pouquíssimos se salvaram, e ao tentarem retornar tiveram negado o acesso as antigas propriedades, já ocupadas por in-vasores.

Antes do Holocausto (1939-1945), na véspera do Shabbat o Rynek, a praça do mercado de Ostrowiec, efervescia de car-roças carregadas e donas de casa fazendo as últimas compras para o jantar festivo. O burburinho gerado pelo palavreado em yiddish cortando os ares em todas as direções aumentava à medida que o anoitecer se aproximava, para de repente cessar de vez, como por milagre. De lá, onde um dia floresceu uma comunidade temente a D_us seguidora da Lei de Moisés e guiada por sábios rabinos, pode se ver ao longe as Montanhas. Reza a lenda que lá vivem as bruxas, e elas ainda estão por ali. Mas os judeus se foram, para nunca mais retornar ...

As sementinhas daquela árvore outrora pujante do Judaís-mo Europeu vieram germinar em terras abençoadas, renascen-do após atravessar os 7 Mares, como Jacob o fazia nos navios do Lloyd Brasileiro. E aqui deram frutos, sob o calor tropical acolhedor.

Em 14 de Maio de 1948, poucas horas após a Declaração

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de Independência do Estado de Israel, o que ocorreu graças a uma Assembleia-Geral da ONU presidida pelo grande brasilei-ro Oswaldo Aranha, Jacob viveu uma experiência marcante.

Em alto mar, avistou um navio já com as insígnias do nas-cente Estado de Israel, o que motivou a oportunidade de enviar uma saudação naval, a primeira recebida oficialmente por um navio israelense. Era a primeira manifestação em águas inter-nacionais ligada à Independência do Estado de Israel.

Jacob serviu em diversos navios que navegaram em águas costeiras e internacionais sujeitas a ataques de submarinos na-zistas.

O Brasil foi o 15º país do mundo em tonelagem de navios afundados pelo Eixo nazi-fascista. Centenas de brasileiros ino-centes foram vitimados. Mesmo na condição de país neutro, navios brasileiros foram afundados, o que levou o Presidente Getulio Vargas a decretar guerra ao Eixo em agosto de 1942.

Portanto, tendo navegado extensivamente em Zona de Guerra, Jacob esteve exposto aos mesmos perigos, tendo a Lei o reconhecido como Ex-combatente por ter sido tripulante de navio mercante que participou de comboio de transporte de tropas ou de abastecimentos, navegando em Zona de Guerra sob a orientação das Autoridades Navais Brasileiras, no perío-do mar/1941 a mar/1945, nos seguintes navios:

Santos, Cayru, Raul Soares, Afonso Pena, Guaraloide, Cubatão, Aspirante Nascimento.

Jacob foi agraciado pelo Presidente da República com a Medalha de Serviços de Guerra com 3 Estrelas. Como reza o Diploma, assinado em 25/jun/1948 pelo Ministro da Marinha, Almirante Sylvio de Noronha, “pelos serviços prestados du-rante a II Guerra Mundial ao lado das Nações Unidas contra os paises do Eixo, a bordo de navios mercantes nacionais ou estrangeiros, empregados em assegurar o abastecimento e o transporte de materiais necessários a obtenção da Vitória, tor-nou-se merecedor da Medalha Naval de Serviços de Guerra, com 3 Estrelas”.

A exemplo de todo antigo Lobo do Mar, Jacob tinha mui-tas histórias para contar, como o salvamento de náufragos hin-

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dus ao largo da costa nordestina, o resgate de correligionários de portos europeus, chegando até a correr risco de prisão pela Gestapo.

Jacob era Maçom da Loja Estrela do Norte, a qual muitos Oficiais das Marinhas do Brasil e Mercante estavam afiliados. Felizmente foi avisado a tempo por Membros da Maçonaria local que não desembarcasse, sob pena de ser enviado a um campo de concentração.

Jacob, Valente Navegador, dedicado Marinheiro Brasilei-ro de fé judaica, nos deixou em 1973 aos 72 anos.

Jacob Gorender

Jacob Gorender, renomado escritor, jornalista e historia-dor, nasceu em 20 de janeiro de 1923, em Salvador,

Filho de Ana e Nathan Gorender, seu pai, judeu ucrania-no socialista, não sendo sionista, emigrou em 1905 para a Ar-gentina, e de lá seguiu para a Bahia, onde como tantos correli-gionários naquela época, ganhava o sustento como vendedor a prestação.

Gorender estudou na Escola Israelita Brasileira Jacob Di-nenzon e posteriormente no Ginásio da Bahia, renomada es-cola pública onde estudava a elite baiana.

Cursou a Faculdade de Direito onde teve contacto com estudantes comunistas, que participaram ativamente da mobi-lização pela entrada do Brasil na II Guerra, após os torpedea-mentos em 1942.

Em 1943, Gorender, Ariston Andrade e Mário Alves apre-sentaram-se como voluntários a FEB, este último não tendo sido aprovado no exame médico.

Gorender foi soldado da FEB, tendo servido no 1° Regi-mento de Infantaria, o Regimento Sampaio, da Vila Militar, Rio de Janeiro, onde integrou o Pelotão de Transmissões, partici-pando das batalhas da Tomada de Monte Castelo, Montese, Campanha dos Apeninos e a ofensiva até Piacenza.

Embarcou para a Itália com o 1° Regimento de Infantaria aos 22 set 1944, retornando com a mesma unidade em 22 ago

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1945. Contou tempo no Teatro de Operações da Itália de 06 out 1944 a 11 ago 1945, sendo licenciado do serviço ativo aos 15 set 1945, como Reservista de 1ª Categoria, tendo sido agraciado com a Medalha de Campanha.

Seu Comandante foi o Capitão Castello Branco, e o Co-mandante do Regimento o Coronel Caiado de Castro.

Em Pistóia, na Toscana, freqüentou a sede do Partido Co-munista Italiano, presenciando discurso de Palmiro Togliatti [1893 – 1964], secretário–geral do PCI e homem de confiança de Josef Stalin na Itália.

De volta ao Brasil militou no PCB, legalizado em 1945. Foi sócio-fundador da Associação dos Ex-Combatentes do Brasil.

Jacob, um dos grandes vultos intelectuais da FEB, reside atualmente em São Paulo, sendo Professor Visitante do Institu-to de Estudos Avançados da USP.

Jacob Perelmann

Jacob nasceu aos 29 jun 1920, filho de Marcos e Sabina Perelman.

Embarcou para a Itália aos 23 nov 1944 com o Depósito de Pessoal da FEB, retornando em 17 set 1945 com a mesma unidade. Era 3° Sargento.

Jacob Perelman, sargento de Niterói, falando em yiddish quando estava de guarda a prisioneiros alemães da 148ª Di-visão de Infantaria, que se rendeu a FEB, disse-lhes que era judeu e que poderia matá-los, mas que não o faria porque não era como eles:

“Se fossem vocês que tivessem me aprisionado, teriam me matado aqui ou em um campo de concentração, pois eu sou brasileiro e judeu. E é exatamente por ser brasileiro e judeu que eu não vou fazer isso com vocês”.

Em 15 mai 1945, gozando de licença em Florença, en-controu casualmente soldados da Brigada Judaica da Palestina, Moiche Lerner e H. Bana, com quem confraternizou na oca-sião, juntamente com o Soldado Nilton, da sua unidade.

Uma Brigada Judaica participou da II Guerra Mundial,

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junto aos ingleses no leste da Itália, perto de Riccione, onde há um Cemitério que reune todos os mortos.

Integrava os chamados “Exércitos menores” (havia tam-bém os canadenses e malteses lutando naquela área), que par-ticiparam da libertação da Itália.

Em 06 jun 1945 foi elogiado individualmente pelo Co-mandante do 2° Batalhão, Major Walter da Silva Torres.

Jacob era de Niterói – RJ, e no seu retorno o Círculo Is-raelita de Niterói promoveu uma festa de boas-vindas em sua homenagem, em ago 1945, onde ele aprece na foto com mais 2 militares, não tendo sido possível esclarecer se eram também da FEB e judeus ou não.

Foi licenciado do serviço ativo aos 02 set 1947.Na vida civil foi Assessor Parlamentar do Senador e Ma-

rechal Caiado de Castro, no Palácio Monroe, antiga sede do Senado no Rio de Janeiro, no período 1957-1960.

Era Sócio Fundador da Associação Nacional dos Veteranos da FEB, matrícula 295. Recebeu a Medalha Marechal Masca-renhas de Moraes, concedida pela ANVFEB. Era bastante ativo junto a associação.

Faleceu prematuramente em 02 abr 1973 aos 53 anos, de doença incurável.

Jacob Zveiter

Jacob Zveiter nasceu no Rio de Janeiro – RJ no dia 15/01/1924, filho de Moysés Zveiter e Geny Zveiter, é irmão do Ministro Waldemar Zveiter.

Serviu na Base Aérea do Galeão e em Brasília, onde e reformou-se em 08/10/1969 no posto de tenente coronel.

Serviu em zona de guerra de 27 jan 1944 a 08 mai 1945, como especialista em Controle de Trafego Aéreo.

Estudava medicina no Rio de Janeiro, quando foi convo-cado na classe de 1924 para guerra. Foi transferido do Exército para Aeronáutica. Dentre outras missões realizou o patrulha-mento do litoral brasileiro nos aviões Foch Volff e PBM Prol Bout Marine, na época em que submarinos alemães faziam

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reabastecimento clandestinos nas praias de Atafona e Grussaí (Campos – RJ) e roubavam areias monazíticas no litoral do Es-pírito Santo.

De tenente a tenente coronel obteve elogios e citações no curso da carreira,

Casou-se com Violet Radcliff Zveiter que trabalhou como voluntária em fábrica de pólvoras e foguetes dos Feuu, no es-forço de guerra americano.

Finda a guerra, seguiu a carreira militar.Tem três filhos (Geny, Clara e Spencer).Reside em Brasília com esposa, filhos, netos e bisnetos.Serviu com os brigadeiros Eduardo Gomes, Inácio de Loio-

la Daher e Anísio Botelho

José Segal

Segal nasceu na cidade do Rio de Janeiro aos 25 mar 1925, filho de Moyses Segal e Fany Segal. Sua familia originalmente radicou-se em Nova Friburgo – RJ.

Em 26 out 1944 concluiu o Curso de Infantaria no CPOR/RJ com a media 5,75, em 205° lugar em uma turma de 370 alu-nos, sendo declarado Aspirante a Oficial da Reserva da Arma de Infantaria, e incorporado ao Centro de Recompletamento da FEB – CRP/FEB na Vila Militar,

Sua unidade embarcou no navio de transporte de tropas americano Gen Meiggs com destino ao Teatro de Operações da Itália.

Segal e outros colegas permaneceram no Brasil guarne-cendo o acervo da unidade para futuro emprego em caso de necessidade, o que acabou não acontecendo devido ao térmi-no do conflito.

Aos 19 mai 1952, o Presidente da República concedeu ao Ten Segal a Medalha de Guerra, por ter cooperado no esforço de Guerra do Brasil.

Segal reside no Rio de Janeiro, tendo exercido a Odonto-logia durante várias décadas, no Serviço Publico Municipal e em consultório particular no Largo do Machado.

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Leão Stambowsky

Leão nasceu em 30 jan 1923 em Salvador-BA , tendo sido incorporado a Marinha do Brasil, como Aprendiz de Mari-nheiro e mais tarde Marinheiro (Maquinas) MN-EL 2 Cl, tendo servido em operações de guerra embarcado no Cruzador Rio Grande do Sul, no Tender Belmonte e no Encouraçado Minas Gerais.

Era filho de Neiman e Rachel Lanis Stambowsky. Frequen-tava a Hebraica do Rio de Janeiro, na Rua das Laranjeiras.

Os judeus tem uma grande tradição naval. Como se sabe o cristão novo Gaspar da Gama aqui chegou nas caravelas de Cabral, e Abraham Ibn Ezra, um dos primeiros integrantes da Escola de Sagres, estabelecida pelo Infante Dom Henrique, de-senvolveu os primeiros instrumentos para navegação que pos-sibilitaram a descoberta do caminho marítimo para as Indias e as grandes navegações portuguesas, como a descoberta do nosso Brasil.

Assim, seu filho Eduardo Stambowski tomou a si a honro-sa tarefa de preservar a memória deste dedicado ex-combaten-te, que cumpriu inúmeras missões embarcado em comboios de escolta a navios mercantes nacionais, assegurando as co-municações marítimas vitais, tendo participado de operações conjuntas com a IV Esquadra Americana, tudo isso no período de 1/set/1942 a 31/jul/1945.

Lembra ele que seu pai nunca transigiu quando como ju-deu sofreu alguma discriminação, reagindo ainda que isso lhe custasse eventualmete alguma punição. Jamais ocultou a sua identidade religiosa, exemplo de coragem e diginidade.

Leão passou para a reserva no posto de 2º tenente aos 21/maio/1949, após 9 anos, 2 meses e 14 dias de serviço em unidades navais.

Este bravo marinheiro do Brasil faleceu aos 20 de novem-bro de 1971, e sua memória ficará eternizada como uma das glórias da comunidade judaica brasileira na sua contribuição a derrota do nazismo e restabelecimento das liberdades na Eu-ropa e no Mundo.

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Leão nunca se afastou do cumprimento do dever, como bem o atesta o diploma recebido ao ser agraciado com a Meda-lha de Serviços de Guerra com 2 Estrelas, concedida pelo Presi-dente da República dos Estados Unidos do Brasil em 21 de abril de 1949, pelos valiosos serviços prestados ao pais, e assinado pelo Ministro da Marinha Almirante Sylvio de Noronha.

Apenas em passant não devemos esquecer que o cristão-novo Fernando de Noronha foi um dos primeiros arrendatários de terra do Brasil.

Assim talvez quem assinou aquele diploma de serviços relevantes, até sem o saber, tivesse correndo em suas veias alguns infinitésimos do precioso sangue judaico...

Leão honrou a sua imaculada farda branca, como vemos em antigos retratos, fazendo jus a memória do Imperial Mari-nheiro Marcílio Dias, e tendo sempre em mente os imortais Sinais de Barroso alçados ao mastro principal da Fragata Ama-zonas no Rio Paraguay.

– O Brasil Espera que Cada Um Cumpra o seu Dever – Máquinas à Frente a Toda Força que a Vitória e Nossa.

Marcos Cerkes

Marcos nasceu aos 10 mar 1925, filho de Isaac e Raquel Cerkes.

Cursou o CPOR/RJ, sendo declarado Aspirante a Oficial da Arma de Infantaria.

Foi 1° Tenente na FEB.Faleceu aos 06 abr 2003.

Marcos Galper

Marcos Galper, filho de Samuel Galper e Ana Galper nas-ceu no Rio de Janeiro em 10 de outubro de 1921. Casado com Dona Paulina Galper, Reside em Copacabana

Seu pai era sobrinho de Jacob Scheineider, grande ativista da Comunidade Judaica e ativo no teatro iídiche da época.

Em 1926, a família saiu do Rio fixando-se em Sorocaba

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onde o pequeno Marcos frequentou a Escola de Freiras, por falta de outras.

Em 1930, mudaram-se para Campinas voltando depois para o Rio de Janeiro onde Marcos entrou no Colégio Pedro II, segundo colocado no exame de admissão, com média de 93 pontos, um ponto só menos do que o primeiro colocado.

Prestou exame, em 1938, na Escola Naval obtendo o pri-meiro lugar em matemática, mas preferiu cursar a Faculdade de Filosofia da Universidade do Brasil (hoje UFRJ), na área de matemática.

Concluiu o Curso de Humanidades no Colégio Pedro II sendo declarado apto para o serviço do Exército, ingressando no CPOR/RJ como Aluno do Curso de Artilharia aos 16 dez 1940.

Em 22 jan 1943 foi declarado Aspirante a Oficial da Reser-va da Arma de Artilharia, em 47. lugar na turma de 49 alunos. Na época o curso do CPOR tinha a duração de 3 anos.

Entre seus colegas de turma de Artilharia, podemos citar Ma-noel Jairo Bezerra, professor de Matemática que se notabilizou por ser um dos “4 Autores” do livro famoso adotado nas melho-res escolas do Brasil, Mauro Thibau, Jayme Jakubovicz, Carlos José Tuttman e os irmãos Antônio e Mário Raphael Vannutelli.

Mário Raphael Vannutelli reside em Brasília, tendo comple-tado 90 anos em 27 jul 2008. Serviu junto com Galper na FEB.

As Unidades de Artilharia – o 2° Grupo do 1° Regimento de Obuses Auto Rebocados, o 1° Grupo de São Cristóvão, co-mandado pelo Coronel Levi Cardoso e o 3° Grupo, do Coro-nel Souza Carvalho, que veio de São Paulo, faziam manobras na região de Campo Grande e Barra da Tijuca.

Galper era Oficial de Motores da Bateria de Comando e Serviços, do 2°/1° ROAuR, e depois Observador Avançado da 3ª Bateria, missão de alto risco junto as primeiras linhas do avanço da Infantaria, quando escapou da morte por ocasião de rajada de fogo amigo que atingiu a cota 911 onde estava posicionado.

Chegando a Itália o 2°.Grupo de Galper e Vannutelli se deslocou para região de Vecchiano, recebendo ordem, assim como o 6º RI, de engajar-se na frente, em área já determinada

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pelo Comandante do IV Corpo. O II Grupo, comandado pelo Coronel da Camino, ocupou

posição vizinha ao Monte Bastione – depois da guerra, essa Unidade foi denominada Grupo Monte Bastione.

Lá disparou o primeiro tiro, com a Primeira Bateria do Ca-pitão Mário Lobato Vale. Coube à Primeira Bateria dar o pri-meiro tiro, no Vale do Sercchio, fato glorioso para a Artilharia brasileira, a fim de apoiar as ações do 6º RI na captura de vá-rias localidades importantes como Barga, Massarosa, Galicano e tantas outras.

No I Grupo de Artilharia, comandado pelo Tenente-Coro-nel Valdemar Levi Cardoso, estava seu irmão, 2º Tenente Antô-nio Vanutelli. Era subalterno da Bateria Comando do I Grupo, oficial de manutenção da subunidade e recebia muitos elogios nessa função. O Comandante da Bateria Comando era o Capi-tão Odemar Ferreira Garcia, que mais tarde, chegaria a Gene-ral. Os dois, únicos filhos, sairam de casa, no Rio de Janeiro, deixando os pais, e seguiram para Itália, para a guerra, no 1º e no 2º Escalão. Antônio, o irmão mais novo, é falecido.

Na ofensiva de abril, a Unidade prosseguiu rumo ao Vale do Pó, sabendo que vinha do sul, a 148ª Divisão do Exército Alemão, com remanescentes da 90ª Divisão Panzer e da Divi-são Italiana Monterosa no propósito de atravessar os rios Pó e Panaro e prosseguir para o Norte. Houve, no início, uma refre-ga, porquanto os brasileiros perceberam, através da ação do 1º Esquadrão de Reconhecimento, que o inimigo pretendia furar o cerco. Houve tiro de Artilharia e ação da Infantaria. Como estavam com muitos feridos, resolveram prosseguir com os en-tendimentos junto ao Comando da FEB para que se procedesse a rendição.

Vannutelli esteve presente ao evento. Perto de 20 mil ho-mens foram feitos prisioneiros. O comandante dessa Divisão Alemã era o General Otto Fretter Pico e seu Chefe de Estado-Maior era o Major W. Kuhn, considerado um oficial de elite, naquela época.

Coincidentemente, na FEB estava o Coronel Franco Fer-reira, um oficial de Estado-Maior, de Cavalaria, que tinha sido

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adido militar na Alemanha antes da guerra, falava muito bem alemão.

Para ir a guerra, Galper havia conseguido a intervenção do general Cordeiro de Farias. Foi observador avançado da FEB, regulando os tiros da artilharia junto à infantaria participando também de patrulhas e tomando parte na batalha de Monte Castelo, sempre como observador avançado. Possui a Meda-lha de Guerra e a de Campanha e é muitas vezes elogiado na sua Folha de Alterações.

Desembarcou no Rio de Janeiro um dia antes do primeiro escalão trazendo material de guerra capturado e também bra-sileiro para apresentá-lo, no dia seguinte, na parada dos praci-nhas na Avenida Rio Branco.

No Rio de Janeiro, participou de curso no CPOR (COR) para oficiais, de volta da Itália, para ficar na ativa, durante dois anos, tirando o primeiro lugar em matemática.

Um mês antes do curso terminar pediu demissão por ter sido nomeado professor na Universidade, cadeira de Comple-mento de Matemática.

Saiu do Exército 1° Tenente, mais tarde promovido a Ca-pitão e em seguida a major da reserva.

Na Itália, tinha visitado a Brigada Judaica, perto de Nápo-les. Após a fundação do Estado de Israel, vieram oficiais da-quele país para o Rio convidando Marcos para ser instrutor do exército da nova nação. Recusou o honroso convite; não queria voltar a vida militar.

Após a guerra, tanto Galper quanto Vannutteli cursaram o COR – Curso de Oficiais da Reserva no CPOR/RJ, que possibi-litava aos Oficiais R/2 ingressarem na ativa.

Vannutelli chegou a Tenente Coronel, e Galper a Major, sendo a sua Carta Patente de 15 mai 1969 assinada pelo Gene-ral Aurélio de Lyra Tavares.

Aos 11 jun 1997, as peças de 105 mm do Curso de Arti-lharia do CPOR/RJ receberam as denominações históricas de Ten Marcos Galper, Ten Mário Vannutelli, Ten Antônio Vanut-telli e Ten Alfredo Nicolau.

Gaper após o término da guerra esteve no famoso cemi-

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tério de Anzio, onde viu centenas de Estrelas de David nos túmulos dos soldados judeus que tombaram no famoso desem-barque naquela localidade italiana.

Formou-se Bacharel e Licenciado em Matemática pela FNFi, e Engenheiro Civil e Eletrotécnico pela UFMG.

Na vida civil foi Professor do Colégio Pedro II, Matemá-tica e Física, Professor do DASP, Professor da Escola Técni-ca Nacional,Professor Adjunto do Instituto de Matemática da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Meteorologista do Es-critório de Meteorologia do Ministério da Agricultura-Assessor técnico do Ministro do Interior, Membro do Conselho Consul-tivo da SIDESC (Cia Siderúrgica de Santa Catarina), Membro da Comissão de Expedições Científicas do Conselho Nacional de Pesquisas.

Com tamanha experiência, Galper colabora ativamente até hoje com a ANVFEB, onde é o Vice-Presidente, já há mui-tos anos integrando a Diretoria.

Recebeu as Medalhas de Guerra, de Campanha e Mare-chal Mascarenhas de Moraes.

Mauricio José Pinkusfeld

2º Comissário da Marinha Mercante.O único Herói Brasileiro Judeu da II Guerra Mundial que

se sabe desaparecido em decorrência de operações bélicas.O Mar foi o Túmulo de um Jovem Sonhador

In Memoriam2 nov 1924 - 16 ago 1942

“... Por te cruzarmos, quantas mães choraram,Quantos filhos em vão rezaram!

Quantas noivas ficaram por casarPara que fosses nosso, ó mar.

Valeu a pena? Tudo vale a penase a alma não é pequena...”Fernando Pessoa, cristão-novo

e o maior dos poetas portugueses

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Os Hebreus possuem tradição de grandes navegadores, desde os marinheiros do Rei Salomão, que chegou a um lugar nas costas da África onde hoje fica a Etiópia, encantando-se pela Rainha de Sabbah, daí viverem hoje em Israel tantos de seus descendentes diretos, de lá saídos como refugiados.

Possivelmente um gene remoto de um daqueles tripu-lantes que conduziram a Corte do Rei Salomão, adormecido per secula seculorum, despertou em pleno Séc XX naquele garoto sonhador da Tijuca, que secretamente admirava o garboso uniforme branco do cunhado, marido da sua irmã Amália, e pensava um dia vir a ser também um Oficial de Marinha.

Mas quando uma criança nasce, o seu destino já foi traça-do, e nada poderá mudá-lo. Para o cunhado Boris Markenson, o Grande Arquiteto do Universo reservara uma carreira que o levaria ao posto de Almirante.

Entretanto, para o jovem Pinkusfeld a primeira dificuldade vi-ria no exame médico, ainda que aprovado nas provas para a Escola Naval. Posteriormente, incentivado pelo cunhado Boris, ingressou na Marinha Mercante, classificado em 4º lugar, em fev/1941, mas a sua carreira lamentavelmente viria ser muito curta.

Em dez/1941 conclui o curso e em jan/42 o Estágio a Bor-do, recebendo a Carta de 2º Comissário.

Já na segunda viagem, 16/ago/1942, o Aníbal Benévolo, do Lloyd Brasileiro, foi alcançado na popa e na casa de máqui-nas por dois torpedos do submarino nazista U-507, quando na-vegava de Salvador rumo a Sergipe; atacado sem prévio aviso as 4h15min da madrugada, foi ao fundo com incrível rapidez em menos de 2 minutos. Morreram afogadas 150 pessoas, sen-do 83 passageiros e 67 tripulantes, quase todos ainda recolhi-dos a seus camarotes, onde encontraram a morte.

Apenas o Comandante, o cozinheiro e mais outro tripulante se salvaram. O mundo desabou sobre o Pai, Sam Pinkusfeld, e a Professora Bertha Abramant Pinkusfeld. Ela jamais se recuperou do golpe sofrido, a perda do caçula de 5 irmãos, o Buby.

Dizia que quando um dedo dói, a mão toda dói. Somen-te encontrava algum consolo indo ao túmulo do Pai, Mauricio

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Abramant, no Cemitério do Caju, onde fora enterrado em 1902. Ainda não havia cemitério judeu, e sim a ala dos judeus e protes-tantes. Ali buscava conforto chorando a morte do filho querido, que nem túmulo tivera, tendo que ser quase carregada de volta.

Vindo da Prússia nas primeiras levas de imigrantes judeus do séc XIX, o patriarca Mauricio foi sempre lembrado, pois a tradição conservou seu nome nos netos, bisnetos, trinetos, tetranetos, gerando vários homônimos ao longo das décadas, inclusive conhecido Deputado pelo Rio de Janeiro.

Não só de Portugal eram as lágrimas de que falava Fernan-do Pessoa. Um milhar de mães do Brasil também as verteram, pranteando filhos covardemente assassinados em nossos navios afundados pelos nazistas, chorando junto com a Professora Ber-tha, que ensinava piano no Conservatório de Villa Lobos.

Mauricio se fora na flor dos seus 18 anos. A irmã Elza pou-co depois do naufrágio o reviu em um sonho. Dizia estar em um lugar chamado Baia Negra, na costa de Sergipe. Próximo ao local do naufrágio.

Por incrível, o lugar existia mesmo. Constava das cartas náuticas. A família esperançada se desdobrou enviando fotos e pedidos de informação para o lugar, ajudada pelo cunhado Boris, à época Capitão-Tenente.

Mas de nada adiantou. Mauricio se fora para sempre. O cozinheiro que se salvara milagrosamente visitou a família, relatando como os nazistas metralharam impiedosamente os sobreviventes nos botes salva-vidas.

O U-507 maldito afundou 7 navios brasileiros em 4 dias com perda de 607 vidas preciosas, de 15 a 19 de agosto de 1942, ao longo da costa de Salvador a Maceió, num total de 14.795 TDW.

Diante do clamor popular, aos 22 de agosto de 1942, o Presidente Getulio Vargas reconheceu o estado de beligerân-cia entre o Brasil e os estados agressores do Eixo, a Alemanha e a Itália.

Pode-se inferir portanto que foram estes atos de barbárie nazista de um submarino que determinaram a final o ingresso do Brasil na guerra.

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Em 13 de janeiro de 1943, um Catalina da F.A. America-na afundou o U-507 com bombas de profundidade a NE de Natal-RN. Todos os seus 54 tripulantes pagaram com a vida os crimes praticados contra navios mercantes indefesos.

A Marinha Mercante arcou com as maiores perdas huma-nas brasileiras na Guerra, 975 mortos em 31 navios afundados. A Marinha do Brasil perdeu 468 homens em 3 navios afunda-dos. A FEB teve 463 mortos, e a FAB, dado o contingente, um número comparativamente menor, 8 pilotos.

A família nunca recebeu nada das Autoridades, nem da Comunidade Judaica, diante da enorme perda de seu filho querido, aventurando-se nos mares infestados de submarinos, para que o Brasil pudesse estar ligado de Norte a Sul, numa época em que não havia as estradas que temos hoje.

Mas os verdadeiros bravos não temem, e sabem honrar o juramento que pronunciam com destemor ao graduar-se nas cerimônias de formatura:

“... prometo cumprir rigorosamente...”.as ordens das autoridades a que estiver subordinado ...... respeitar os superiores hierárquicos, ...... dedicar-me inteiramente ao serviço da Pátria; cuja honra, integridade e Instituições,defenderei, com o sacrifício da própria vida !“

Mauricio foi o único caso até agora conhecido dos 42 Ex-combatentes judeus que deu a vida pela Pátria em decorrência de operações bélicas, como tripulante de navio mercante a serviço do progresso do Brasil.

Possivelmente uma pensão especial e uma medalha post-mortem aguardaram todo este tempo em alguma repartição. Mas nada nunca foi requerido.

Durante 63 anos sua história foi esquecida. Mas em 1º de maio de 2005, a memória daquele jovem brasileiro foi ho-menageada diante do Túmulo do Soldado Desconhecido, no Monumento aos Mortos da II Guerra Mundial no Aterro do

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Flamengo, Rio de Janeiro.A irmã Doroteia Lola Pinkusfeld Grossman, que tinha 11

anos quando Mauricio partiu para a viagem sem volta, última remanescente, conduziu a tradicional coroa de flores aposta diante da Chama Eterna, sob uma chuva de pétalas de flores . Sem ter tido sequer uma matzeivá (pedra tumular), o nome de Mauricio está eternizado no mármore do Monumento dos Pra-cinhas, junto com centenas de outros brasileiros sacrificados no Altar da Pátria, entre os quais também um Moisés, como a lembrar o nosso grande Patriarca.

Melchisedech Affonso de Carvalho

Nascido 16 nov 1928 em Fortaleza – Ceará, filho de Da. Dalila M. de Carvalho, descendente de índios tabajaras e do capitão do exército e pastor presbiteriano, Manoel Afonso de Carvalho.

Fez o curso de grumete na E.A.M Almirante Batista das Neves em Angra dos Reis.

Prestou serviços efetivos de operações de guerra em missão de comboio e patrulhamento, durante o período da 2° Guerra Mundial, quando embarcado a bordo do Destroier Bracui.

Prestou ainda, serviços embarcando no Tender Ceará, Contra Torpedeiro Mariz e Barros e Destroier Bebebribe, Força de Contratopedeiros, e 1° Flotilha de Contra Torpedeiros.

É Diretor Cultural da Associação dos Ex Combatentes do Bra-sil Seção do Rio de Janeiro, Diretor de Patrimônio da Associação de Amigos da Marinha e Membro da The Royal British Legion e The British & Commonwealth Society of Rio de Janeiro.

Tenente reformado, Melchisedech Afonso de Carvalho dedica-se ativamente a causa dos Veteranos, sendo assiduo nos eventos promovidos pela Marinha alusivos a memória dos ex-combatentes.

É ainda Assistente da Presidente da Fundação Cultural, Educacional e Artística Maestro Eleazar de Carvalho, onde co-labora para divulgar a memória e obra do seu saudoso irmão, que também serviu à Marinha do Brasil, tocando tuba em di-

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versas corporações e em 1928, já no Rio de Janeiro, estudando solfejo e harmonia e integrando a Banda dos Fuzileiros Navais. No ano seguinte, fez concurso para a Orquestra do Teatro Mu-nicipal do Rio de Janeiro. Para prestar o concurso teve que sair da Marinha, que perdeu um músico, mas o Brasil ganhou o Grande Maestro Eleazar de Carvalho, a quem a música erudita no Brasil tanto deve. Regeu as principais orquestras do mundo e ensinou em grandes escolas americanas. Sempre voltou. Di-zia: “meu lugar é aqui!”

Melchisededch participou do 5° vôo de apoio da FAB à Ope-ração Antártica - XXI PROANTAR, realizado em maio de 2003.

Possui diversas condecorações, entre as quais Serviço de Guerra,Força Naval do Nordeste, Ordem Mérito Naval, Me-dalha Mérito Tamandaré, Medalha Mérito do Pacificador, Me-dalha de Mérito do Ex-Combatente do Conselho Nacional da Associação dos Ex- Combatentes, Medalha da Vitória da Asso-ciação dos Ex-Combatentes do Brasil Seção do Rio de Janeiro, Medalha de Mérito Mascarenhas de Moraes, Medalha Amigo da Marinha, Honra ao Mérito Maçônico, Medalha Tenente Max Wolff Filho.

Moises Gitz

Moises nasceu em Cruz Alta – RS, aos 25 out 1925, filho de Firmina Silverston Gitz e Salomão Gitz.

Moises estudou no Heder (escola judaica) e atualmene fre-quenta o Círculo Israelita de Porto Alegre, onde reside.

Na juventude era vendedor, até ser incorporado a FEB, como Cabo, tendo embarcado aos 08 fev 1945 integrando o CRP – Centro de Recompletamento de Pessoal e retornado em 17 set 1945 com o DP/FEB, Depósito de Pessoal da FEB, tendo sido licenciado em 02 out 1945.

Seu Comandante foi o Coronel Arquimino de Carvalho.Pelo lado materno Moises descende de escoceses e ingle-

ses, sendo seus avós Moritz e Rachel Silverston. Seu bisavô era o Rabino Jacob Silverston, que no começo do século passado planejou o arruamento da cidade de Petach Tikva em Israel.

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Moritz trabalhava como gerente de uma fábrica, Water-Pool, cujo proprietário era seu irmão. Moritz tinha idéias so-cialistas, e desentendimentos com o irmão em função de uma greve determinaram seu afastamento, tendo emigrado para a Argentina em 1880 e de lá para o Brasil em 1912.

Moises reside atualmente em Porto Alegre.

Moyses Chahon

Moyses Chahon nasceu aos 27/08/1918 no Rio de Janeiro, filho de José Ascher Chahon e Mathilde Gammal. Em princí-pios do séc. XX, seus pais emigraram de Izmir, Turquia, país onde florescia importante comunidade judaica, há poucos anos vítima do ódio que dinamitou uma sinagoga.

Após longa viagem de navio, a família foi morar na Rua do Rezende. Preferiram o Brasil, País do Futuro no dizer do correligionário Stefan Zweig, seguindo os passos de outros que haviam partido mais cedo em busca dos ares mais amenos do Novo Mundo.

Ali perto, Moyses estudou no Colégio Anglo-Americano na Praia de Botafogo, e depois no Colégio Pedro II (Internato). Cursou a Escola Militar do Realengo, praça de 28 abr 1939, tendo sido declarado Aspirante a Oficial da Arma de Infantaria aos 3 dez 1941.

Promovido a 1º Tenente, foi transferido para o Rio, onde foi servir no Sampaio, o I Regimento de Infantaria, na Vila Mili-tar. Os jornais de Florianópolis em jan/1944 noticiavam os atos de promoção e transferência do Ministro da Guerra, já naque-la época destacando suas qualidades promissoras, lamentando a sua ausência e referindo-se em termos bastante elogiosos.

Embarcou para a Itália no 2º Escalão, aos 22 / set /1944. Na FEB foi incorporado a 6ª Companhia do Regimento, hoje o 1º Batalhão de Infantaria Motorizada do Grupamento de Unida-des Escola. Comandou um pelotão de fuzileiros, nos ataques a Monte Castelo em 12/12/1944 e em 21/02/1945; Conquistou as posições inimigas em La Serra - 24/02/1945.

De amarelecidos recortes de jornais zelosamente preser-

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vados pela Família pode-se reviver uma história recoberta pela poeira do tempo. A emoção de ler hoje estes relatos é a mesma de exatos 60 anos, aos 24 de fevereiro de 1945, 3 dias após a Tomada do Monte Castelo.

Segundo despacho do correspondente de guerra Joel da Silveira, enviado especial da Agencia Meridional de algum ponto da Itália, ao cair da tarde os pelotões comandados pe-los Tenentes Moises Chahon e Apolo Miguel Rezk receberam ordem de avançar sobre os morros de La Serra. Após 6 horas de combate, a posição foi tomada, ficando feridos os Tenentes Apolo e Moyses.

A valente conduta dos soldados sob pesado fogo alemão, tomando 2 pontos fortemente defendidos foi elogiada pelo Comandante do V Exército Americano, devido a sua grande importância para as operações futuras.

O Correio da Manhã sob a manchete É Carioca o Tenente Chahon divulga que ele tem 26 anos, filho de Matilde Chahon Gammal, o endereço na Av N. Sa. de Fátima, 86/501, e que esta senhora, alem do Ten Moyses, tem outro filho lutando pelo Brasil, o qual se chama Alberto e é tenente do Corpo de Transmissões.

Ao final da guerra, em 23 de maio de 1945, ainda na Itá-lia, na cidade de Alessandria, o Comandante do V Exército Americano, Tenente General Lucian Truscott agraciou os sol-dados brasileiros da FEB e da FAB que mais se destacaram com as seguintes medalhas:

1 - Citação de Combate - Medalha “Distinguished Service Cross” (Cruz de Serviços Distintos) – APOLLO MIGUEL REZK (1G - 153466) – Primeiro Tenente R/2 de Infantaria.

2 - Citação de Combate - Medalha “Silver Star” (Estrela de Prata) – MOYSES CHAHON (1G-163.603) - Primeiro Tenente de Infantaria.

GERVAZIO DESCHAMPS PINTO (1G-149.061) - Segundo Tenente de Infantaria.

JOÃO GUILHERME SCHULTZ MARQUES (1G-243.180) - Primeiro Sargento de Infantaria.

AFONSO DE MELLO(1G-267.486) – Soldado de Infantaria.

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3 - Citação de Combate - Medalha “Bronze Star” (Estrela de Bronze) – concedida a 11 militares brasileiros, entre os quais os Tenente Coronéis Humberto de Alencar Castello Branco e Amaury Kruel, que um dia se tornariam Marechais do Exército Brasileiro.

4 - Citação de Combate - Medalha “Air Medal” (Medalha de Aeronáutica) – concedida a 20 pilotos de caça brasileiros,

Portanto, apenas 4 brasileiros receberam a Silver Star, en-tre os quais Moyses.

A única Medalha de Serviços Distintos, mais alta condecora-ção americana, foi concedida a apenas um brasileiro, o Ten R/2 Apolo, conhecido justamente como o maior herói da FEB, e que comandava o outro pelotão da mesma 6ª Cia do Regimento Sam-paio, junto com o pelotão de Moyses na Tomada de La Serra.

A citação expedida em Boletim do Quartel General do V Exército, traduzida do inglês, concede a Silver Star a Moy-ses por atos de bravura em combate aos 23 de fevereiro de 1945, na conquista do importante objetivo de La Serra, onde sob pesado e constante fogo de artilharia e morteiros condu-ziu seu pelotão no avanço sobre o ponto cotado 958, expul-sando os alemães de posições extremamente bem fortificadas. Confrontando intenso fogo inimigo e repetidos contra-ataques, organizou e manteve a defesa da posição recém-conquistada, ainda que penosamente, dado ter sido ferido ao início do en-gajamento. O Primeiro Tenente Moyses brava e heroicamente liderou os seus soldados na derrota do inimigo. Ingressou no Serviço Militar no Brasil.

Moyses recebeu ainda a Medalha Sangue do Brasil, por ter sido ferido em ação, a Cruz de Combate de 2ª Classe, Medalha de Campanha, Medalha de Guerra, e uma Citação de Combate do General de Divisão João Baptista Mascarenhas de Moraes, Comandante da FEB, expedida aos 23 de fevereiro de 1945, onde se pode ler ao final:

“A combatividade, o espírito de sacrifício, a decisão in-quebrantável, a elevada compreensão que tem da honra mi-litar, a capacidade de comando reveladas pelo Ten Chahon, são exemplos dignificantes que desejo por em relevo, para os

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brasileiros que combatem na Itália.”Recebeu ainda a Ordem do Mérito Militar de 1ª Classe,

Medalha Militar com Passador de Ouro (30 anos), Medalha do Pacificador, e a Carta Patente de Cavaleiro de mérito da Or-dem Militar e Hospitalar de são Lazaro de Jerusalém.

Moyses foi agraciado com a Cruz de Combate de 2ª Clas-se outorgada pelo Presidente da República; Em extensa cita-ção no diploma, Moyses é louvado pela coragem com que comandou seu pelotão, mantendo-se por 4 dias em em face de sucessivos e violentos contra-ataques inimigos, sendo ata-cado a granadas de mão, desabrigado e sob fogo de artilharia e morteiros. Nos dia seguintes melhorou as posições e repeliu diversos contra-ataques, fazendo prisioneiros, tendo seu pelo-tão sofrido as maiores baixas da companhia.

Moyses retornou da Itália em 22 / ago / 1945. Transferido para reserva no posto de General de Divisao aos 25 dez 1969, e reformado em 22/set/1971.

Moyes Chahon, este bravo Soldado Brasileiro de fé judai-ca, Herói de La Serra, nos combates da Itália honrou a memó-ria do valente cearense de Tamboril, Brigadeiro Antônio de Sampaio, Patrono da Arma de Infantaria que dá nome ao seu Regimento. Deixou nosso convívio em 1981 aos 63 anos.

Depoimento da Dra. Vera Chahon, filha do General Moy-ses Chahon e sobrinha do Coronel Alberto Chahon.

Dra. Vera Chahon é psicóloga no Rio de Janeiro, e gentil-mente elaborou o relato que reproduzimos abaixo.

Julgamos oportuno preservar o estilo coloquial apenas com ligeiras alterações, permitindo ao leitor conhecer o lado familiar dos Irmãos Chahon, emotivo e tocante.

“Um pouquinho da história dos irmãos Chahon “A FAMÍLIA

PAI - José Ascher Chahon - nascido em Rodes- Grécia (ele se dizia turco na época, devido à guerras permanentes)

Chegou ao Brasil com seu irmão mais velho David. MÃE - Mathilde Cohen (de solteira) - nascida em Smirna-

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Turquia, se dizia grega pelas mesmas razões. Falava ladino. Faleceu em 1984.

Antes de chegar ao Brasil, minha avó Mathilde esteve an-tes na Argentina.

Meu avô José morreu jovem, aos 39 anos, deixando três filhos, Rebecca, a mais velha e os dois meninos.

Papai ficou órfão aos 9 anos de idade e tio Alberto aos 7. Vovô sofria de uma doença renal hereditária - rim policís-

tico, que infelizmente meu pai herdou e que aos 62 anos foi a causa de sua morte.

Muito pouco se falava desse avô, pois antes de falecer o casal havia se separado - acredito que muito em função das alterações da doença, que viemos mais tarde a conhecer em nosso próprio pai.

Sempre que ele sentia dores nos rins, nos pedia para sentar sobre suas costas fazendo peso, e lembrava-se que o pai lhe pedia o mesmo, já separado da mãe e morando em um quarto de hotel.

Devido à situação financeira muito precária, minha avó Mathilde passou a costurar para fora, e conseguiu bolsa de internato para os dois meninos, no Colégio Anglo Americano. Posteriormente tornou-se da alta costura, o que lhe garantiu uma freguesia da “alta”. Digo isto, porque este fato teve in-fluência na entrada dos meninos para as Forças Armadas. Ini-cialmente ao prestarem exames, foram barrados pelo fato de serem judeus. Uma freguesa de vovó, esposa de um general (Gen. Pondé) ao saber relatou ao marido, que então enviou uma carta de recomendação, o que lhes abriu as portas.

Uma estrela de David no peito! Quanta diferença fez! Contavam eles que foram muito discriminados no Interna-

to, e até mesmo sofreram maus tratos por parte de uma diretora - Miss Dayse, pois eram pobres, mal vestidos. Papai contava do solado de seu sapato, formando uma língua, das camisetas surradas... Muito diferente dos outros meninos.

Interessante que nunca transpareceu nenhuma queixa, ressentimento ou mágoa. Acho que nos contava estas passa-gens muito no sentido de nos ensinar a valorizar as conquistas e o esforço necessário para se vencer na vida.

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Os estudos acima de tudo!!! Ele foi exigente neste ponto, mas a gente nunca se sentiu pressionado, era muito suave a forma como exerceu sua função paterna. Minha mãe às vezes se dirigia a ele como sendo “pai-mãe”, pois era ele que nos le-vava ao colégio (prá que ela pudesse dormir um pouco mais), preparava merenda, comprava livros e encapava os cadernos, ajudava nos trabalhos de escola. E sempre fazendo amizade com nossos mestres. Só mais tarde percebi que era uma forma de controlar nosso “andamento”, mas também era tão sutil e natural, que nunca nos sentimos perseguidos ou envergonha-dos por sua presença constante.

Lembro uma vez - meu tio Alberto já em idade avançada comentando o fato, e tomado de tanta emoção que me como-veu, pois não sabia que tinham sofrido a tal ponto.

Depois estudaram no Pedro II e de lá direto para a Escola de Cadetes, após vencerem as provas dificílimas, inclusive de esforço físico, e com a carta de recomendação do Gen. Pondé.

Seguiram carreira, papai serviu inicialmente em Florianó-plolis.

Parênteses: (Nossa, Israel, ao escrever estas linhas acabei me emocionando tanto! Fico a pensar como deve ter sido di-fícil a vida para eles ainda tão pequenos, vivendo a separação dos pais, em uma época em que isto não era nada comum. Em seguida órfãos de um pai muito querido, e separados da mãe ao viverem no internato... Acho que para quem conse-guiu vencer essas batalhas da vida e da alma, a guerra foi... não dá para saber !).

Na época da guerra, minha avó foi chamada ao Quartel General, pois tendo dois filhos militares, e sendo viúva, so-mente um deveria ir para a Itália. Escolha de Sofia! Ela retrucou que iriam os 2, ou nenhum.

Daí em diante você já conhece parte da história.Tio Alberto ocupou função nas telecomunicações, e fica-

mos sabendo das “ordens” que eram dadas, quando havia pro-blemas nos fios, sei lá.

Na época pode-se imaginar a precariedade de tudo. Ao voltarem da guerra, fizeram de imediato exame para

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a Escola Técnica Militar (atual IME). Loucos! Passaram, mas tiveram que esperar o ano seguinte para que fossem então pro-movidos a Capitão (houve alteração impedindo que 1º Ten. ingressassem no IME).

Meus pais se casaram no Grande Templo, em 26 de janei-ro de 1950.

Ambos foram grandes chefes de família, pais amorosíssi-mos, maridos maravilhosos, segundo as esposas.Também filhos gratos e generosos, pois com as economias que fizeram durante a guerra, vovó comprou uma casa geminada em Botafogo, cujo aluguel sempre foi revertido para o casal (ela e o padrasto, um verdadeiro e amadíssimo pai postiço e avô - Selim Gammal- nascido em Alexandria, Egito). Os dois sempre se ocuparam do bem-estar do casal, mesmo morando fora do Rio.

Papai Moyses após concluir Engenharia Mecânica de Au-tomóveis e Industrial, fez arquitetura na Universidade do Brasil (atual UFRJ). Mas ele era um compositor, fazia músicas, canta-va e sua grande frustração era não tocar nenhum instrumento. Isto nunca lhe impediu de cantar nos bailes, o que me surpre-endia, porque apesar de muito expansivo e dado, ele era um tímido lá no seu interior. Uma figura! Amava esportes, e ao receber um trote da turma de Cavalaria, passou a se dedicar à montaria. Tenho seu uniforme completo de equitação - menos o quepe.

Aos 36 anos de idade foi diagnosticado como portador da doença paterna, e lhe deram de 6 meses a um ano de vida, devido à falta de recursos da medicina.

Outra batalha a enfrentar - dietas absolutas, privações de toda ordem - inclusive de praticar esportes.

Ele cumpriu rigorosamente tudo que lhe favorecesse uma melhor qualidade de vida, e assim foi! Trabalhava normalmen-te, sem nunca faltar, enfim, levou vida normal e controlada. Gostava muito de viver! Fazia tudo pela família.

Saímos do Rio para Itajubá, sul de Minas (muito distante na época) e lá ele serviu na Fábrica de Armas de Itajubá.

Em Juiz de Fora, serviu no Quartel sede da 4ª Região Mili-tar, tendo chefiado o setor de moto-mecanização de toda a Re-

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gião Militar, em especial em março de 1964, quando apoiou a Revolução juntamente com o Gen. Olímpio Mourão Filho, sendo o responsável pela mobilização das tropas para o famo-so encontro no rio Paraibuna.

Nunca, porém, rompeu com seu ideal de democracia, en-tendendo que os Presidentes militares deveriam ter realizado a transição de poder aos civis, muito antes do ocorrido.

Mesmo morando fora , e não tendo sinagoga nem famílias judias onde morávamos, sempre vínhamos ao Rio para todas os festejos judaicos.

Tínhamos a sorte de comemorar com ambas as famílias, pois moravam no mesmo prédio em Copacabana. Embora te-nhamos tido na juventude pouco contato com a comunidade, nossos avós maternos e paternos, eram muito religiosos e zelo-sos quanto aos princípios judaicos, mas não diria propriamen-te ortodoxos. Presunto, camarão, nem pensar.

Frequentávamos a Sinagoga Beth-El, do CIB - Centro Israe-lita Brasileiro, na Rua Barata Ribeiro em Copacabana.

Com o agravamento da doença, Papai Moysés sofreu um transplante de rim, passando para reserva, isso após ter feito o curso de Direito juntamento com o filho, Jose Alberto Chahon, engenheiro do BNDES. Tio Alberto mudou-se para Barueri.

Pedro Kullock

Pedro nasceu aos 12 dez 1922 na cidade do Rio de Janei-ro, filho de Manoel e Sara Kullock.

Na FEB foi Aspirante a Oficial de Infantaria tendo embar-cado aos 08 fev 1945 com o CRP/FEB – Centro de Recomple-tamento de Pessoal, e retornado em 03 out 1945 com o DP/FEB – Depósito de Pessoal.

Embora jovem ainda, já era um homem com grande expe-riência de vida e viajado, conhecia a Argentina, tinha residido nos Estados Unidos, e por dominar o inglês ocupou a função de intérprete junto ao V Exército.

Oriundo do CPOR/RJ, esteve sediado em Florença, o que resultou em forte ligação emocional com esta magnífica cidade

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italiana, o berço do Renascimento italiano, e uma das cidades mais belas do mundo, terra natal de Dante Alighieri, autor da “Divina Comédia”, marco da literatura universal.

O pessoal da FEB costuma gozar licenças nesta cidade, go-vernada pela família Médici desde o início do século XV até meados do século XVIII. O primeiro líder da cidade pertencente à família Médici foi Cosme, o Velho, chegou ao poder em 1437. Foi um protetor dos judeus na cidade, iniciando uma longa re-lação da família com a comunidade judaica, uma relação tensa, que se tornaria comprometedora com a Inquisição italiana.

Florença teve antes e durante o período de governo dos Médici uma influente comunidade judaica, que deteve um pa-pel proeminente na arte, finanças e negócios da cidade até que os judeus passaram a ser perseguidos mais fortemente pela Inquisição italiana.

A Grande Sinagoga de Florença, também conhecida como Tempio Maggiore, Templo Principal, é considerada uma das mais belas da Europa.

Destacam-se as diversas e belíssimas catedrais de épocas e estilos diferentes. A cidade também é cenário de obras de artistas do Renascimento, como Michelangelo, Leonardo da Vinci, Giotto, entre outros.

Em Florença nasceram os papas Leão X, Clemente VII, Clemente VIII, Leão XI, Urbano VIII, Clemente XII

Por alguns dias Pedro teve sob sua responsabilidade pri-sioneiros da 148ª Divisão de Infantaria alemã, que se rendeu a FEB em abril de 1945, com cerca de 20 mil homens e farto ma-terial de combate. Os prisioneiros foram entregues ao V Exérci-to Americano que os relocou para o campo de prisioneiros de Modena, já que a FEB não dispunha de local nem meios para exercer a guarda.

Em dada oportunidade mandou que entrassem em forma e se perfilassem, apresentando-se como o comandante da uni-dade a que estavam prisioneiros, falando em yiddish, língua bastante parecida com o alemão, finalizando com “Ich bin Jude” (Sou Judeu), ao que nenhum deles da suposta “raça su-perior” ousou responder.

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Na vida civil Pedro foi industrial e sócio e diretor da Cons-trutora Servenco e da Rio Som. Tinha um hobby de projetar e construir moto-homes com os quais viajou pelo mundo.

Era artista amador no Colégio Israelita Eliezer Steinbarg, na Rua das Laranjeiras, do qual foi um dos fundadores. A filha Eline herdou seus dotes artisticos, atuando mas tarde no mesmo palco.

Pedro pertencia a casta sacerdotal dos Sacerdotes do Tem-plo de Salomão em Jerusalém. Pela tradição oral passada de pai para filho, Pedro descendia de Aharon haCohen, irmão do Gran-de Patriarca Moises,e que foi o primeiro Grande Sacerdote.

Isso lhe dava certos direitos e deveres na tradição judaica, como ser o primeiro a ser chamado na sinagoga para a leitura da Torá (Bíblia), e não poder ter proximidade com mortos, as-sim não podia entrar em cemitérios.

Tansmitiu aos filhos seus valores judaicos, como relata Paulo César. Era um empreendedor, desbravador, montando a Rio Som, empresa que respondia por 90% dos anúncios de radio ao início dos anos 60. Ajudou a consolidar a Servenco no começo, junto com o pai e irmãos.

Já com mais de 70 anos aprendeu informática e fazia ma-pas astrológicos. No final da vida, já incapacitado ainda estu-dava a possibiliddade de criar avestruzes.

Faleceu em 11 de agoto de 2001.

Rafael Eshrique

Rafael era 1° Sargento, tendo embarcado aos 22 set 1944 integrando o QG do General Olympio Falconiere da Cunha, e retornado em 22 ago 1945 integrando a Tropa do QG da 1ª DIE - Divisão de Infantaria Expedicionária.

Há uma foto de Rafael na Itália onde faz uma dedicatoria ao Ten Moyses Chahon.

Salli Szajnferber

Salli Szajnferber nasceu aos 04/10/1923 no Rio de Ja-neiro, filho de Abram e Berta. Em princípios do séc. XX, seus

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pais emigraram da Polônia. Abram era um ex-combatente da I Guerra Mundial.

Apos longa viagem de navio, a família foi morar em Gua-ratinguetá – SP, onde em 1932 Salli teve sua primeira experi-ência de “combate”, quando durante a Revolução Constitucio-nalista de 1932 um avião bombardeou a cidade.

Mudando-se mais tarde para o Rio, na Rua Carlos Vascon-cellos, ao lado da Praça Saens Peña, na Tijuca, o menino Salli de 11 anos prestou o Exame de Admissão para o prestigioso Instituto La-Fayette, na Rua Haddock Lobo, que existe até hoje como Fundação BRADESCO. Tirou 100 em todas as matérias, nas 9 provas, escrita, oral e final.

Cursou em seguida o Colégio Militar, após o que prestou concurso para a Escola Militar do Realengo, quando teve de enfrentar certas dificuldades inerentes à época.

Dois itens da ficha de inscrição constituiam-se em obstá-culo por vezes intransponível. Cor e Religião. Mas felizmente haviam pessoas justas e sensíveis a quem se podia recorrer, e Salli encontrou na pessoa do Ten Cel Inf Walfredo Reis o ins-trumento que materializou a vontade divina.

Sim, pois quando uma criança nasce o seu destino já foi traçado e nada poderá mudá-lo. Salli haveria de se classificar em terceiro lugar no concurso e aos 08/jan/1944, para orgu-lho dos pais, obteve o segundo lugar da turma e foi declara-do Aspirante a Oficial, do Exército de Caxias, da Artilharia de Mallet, a cujas tradições iria honrar ao longo de uma carreira exemplar.

Logo escolheu por vontade própria servir em uma unida-de expedicionária, o Grupo de Artilharia de São Paulo, I/2º Regimento de Obuses Auto Rebocado, integrante da FEB que estava sendo formada. Foi deslocado para a Vila Militar e daí para o Forte do Campinho, embarcando em 22/set/1944 para a Itália no navio americano de transporte de tropas General Mann, 2º Escalão.

Salli combateu em 2 grandes momentos da FEB, a Tomada de Monte Castelo e Montese. Exerceu a principio as funções de Oficial de Motores, e em seguida de Comandante de Linha

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de Fogo – CLF, e Observador Avançado da Artilharia. Somen-te a sua bateria deu 3.700 tiros de obus 105 mm sobre Monte Castelo, que sumia em meio a fumaça dos bombardeios de artilharia e de aviação.

Em Montese foi levemente ferido, quando Observador avançado junto a 9ª Companhia do III Batalhão do 11º Re-gimento de Infantaria. Foi o mais sangrento combate da FEB, com 574 baixas entre mortos e feridos. O III Grupo de Artilha-ria deu em Montese 9 mil tiros.

Em 28 de abril de 1945 a Bateria de Salli recebeu como missão apoiar o 6º Regimento de Infantaria no cerco ao inimi-go na Ofensiva da Primavera, o qual terminou por se render. Era a 148ª Divisão alemã, com todo seu material, canhões, tropa a cavalo e remanescentes da divisão Panzer Grenadier e Bersaglieri italiana. O General Otto Fretter Pico se rendeu com outro General italiano, 892 oficiais, 19.689 soldados, 80 canhões, 5 mil viaturas e 4 mil cavalos.

Nessa noite, a Bateria teve que fazer a guarda de 900 pri-sioneiros, quando foi apreendida uma enorme bandeira nazista, que hoje se encontra no museu do 20º Grupo de Artilharia de Campanha Leve em Barueri-SP, o Grupo Bandeirante e que jus-tamente a cada 29 de abril a 01:45 da madrugada comemora a última missão de tiro da Artilharia Divisionária da FEB na Itália.

Pela sua bravura em ação na tomada de Montese, foi agra-ciado pelo Presidente da República com a Cruz de Comba-te de 1ª Classe. O diploma assinado pelo Ministro da Guerra General Pedro Aurélio de Góis Monteiro destaca sua grande coragem, sangue frio e capacidade de ação, durante os encar-niçados combates de 14 e 15 de abril de 1945. Progredindo em terreno minado severamente batido por fogo de artilharia, morteiro e armas automáticas, o Ten Salli cumpriu galharda-mente a sua missão de Observador Avançado ajustando com precisão os tiros da nossa artilharia.

Foi ainda elogiado em Boletim pelo Comandante do Regi-mento Tiradentes, 11º RI de São João Del Rei, Cel Inf Delmiro Pereira de Andrade, pela bravura e espírito de sacrifício nas duras jornadas de 14 e 15 de abril, junto aos pelotões terrivel-

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mente hostilizados pelo inimigo. A sua calma, a sua compe-tência e a sua bravura pessoal o fizeram credor da admiração de toda a Companhia.

Após retornar da Itália, em 22/ago/1945, Salli cursou a Escola de Educação Física do Exército, onde foi aprovado no Curso de Instrutor de Educação física em 1º Lugar com grau 8,568, menção MB. Em 1955 fez o curso de Comando e Esta-do Maior na ECEME, com menção MB, e dela foi Instrutor por 3 anos.

Integrou a equipe brasileira de Pentatlo Militar na Argen-tina e Suécia, comandou o 6º Grupo de Artilharia de Dorso em Castro – PR, foi membro da missão Militar Brasileira no Paraguay, conselheiro do CND por 10 anos, e representante do Estado Maior do Exército no EMFA.

Salli passou para a Reserva em 01/ago/1966, quando ser-via na 4ª Seção do Estado Maior do Exército. Por ocasião da sua despedida, foi saudado pelo orador como um privilegiado, por ter integrado no mais alto grau todas as capacidades do Homem, como disse um filosofo, físicas, intelectuais e morais, exaltando suas qualidades que o colocaram sempre nos pri-meiros lugares.

Salli Szajnferber, bravo Soldado Brasileiro de fé judaica, Herói de Montese, nos combates da Itália honrou a memória de Mallet, Patrono da Arma de Artilharia.

Salomão Malina

Salomão Malina nasceu aos 16–5–1922 no Rio de Janeiro. Em princípios do séc. XX, seus pais emigraram de Lodz, cidade industrial na Polônia, onde florescia importante comunidade judaica, que poucos anos depois seria exterminada pelo ódio.

Na longa viagem de navio jamais poderiam eles sequer imaginar, mas um dia a chegada de um menino viria alegrar a casa simples, e estava escrito que este menino seria um pen-sador, e mais que isso, unindo a ação às palavras e fazendo o caminho inverso dos imigrantes, por vontade própria iria lutar de arma na mão contra aqueles mesmos nazi-fascistas inimigos

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da Humanidade que tentavam destruir as raízes do seu povo. A família foi morar na Praça XI, a rua judaica humilde da

época. Ali perto, Salomão estudou no Colégio Pedro II e cur-sou o CPOR - Centro de Preparação de Oficiais da Reserva do Rio de Janeiro, de onde saiu Aspirante-a-Oficial da Arma de Infantaria.

Na FEB foi incorporado ao 11º Regimento de Infantaria de São João Del Rei, hoje o 11º Batalhão de Infantaria de Mon-tanha, tendo comandado o Pelotão de Minas, função natural para quem havia sido mandado fazer um curso de especializa-ção nos Estados Unidos antes da Guerra nesta área. Embarcou para a Itália em 12/nov/1944.

As minas alemãs custaram a FEB um grande número de vítimas, entre mortos e mutilados. Em atividade extremamen-te perigosa, detectando e desativando artefatos e booby-traps, Salomão Malina e seus comandados contribuíram para evitar maior perda de preciosas vidas brasileiras. Em reconhecimen-to, o Presidente da República outorgou-lhe a Cruz de Comba-te de 1ª Classe, medalha com a qual apenas poucos integran-tes da FEB foram agraciados, por atos individuais de bravura. Malina recebeu ainda a Medalha de Guerra e a Medalha de Campanha.

Em extensa citação no diploma, Malina é louvado pela co-ragem com que comandou seu pelotão, abrindo caminho para a passagem da Infantaria no eixo de ataque através de terreno minado, sob pesado fogo da artilharia e de morteiros alemães, durante o avanço do Regimento para a conquista de Montese, uma das maiores glórias da FEB.

Malina retornou da Itália em 17/09/45, tendo sido refor-mado em 04/nov/1983.

Salomão Malina estudou na então Escola Politécnica do Largo de São Francisco, depois Escola Nacional de Engenharia da Universidade do Brasil, transferida para a Ilha do Fundão.

Na época, trabalhava em uma das maiores indústrias ele-trônicas brasileiras, a SESA - Standard Electric S. A., subsidiária da multinacional americana ITT – International Telephone & Telegraph, que fabricava televisores e outros aparelhos no su-

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búrbio carioca de Vicente de Carvalho. Planta que chegou a empregar milhares, esteve fechada durante 2 décadas até dar lugar a um moderno centro de compras, o Carioca Shopping próximo a estação do metrô.

A Associação dos Antigos Alunos da Politécnica inaugu-rou em dez/2004 em sua sede, no mesmo tradicional e cente-nário prédio da Politécnica no Largo de São Francisco, Alma Mater da Engenharia Brasileira, uma estatueta representando os expedicionários alunos da casa, de autoria de Da. Silvia Vaccani, antiga Professora da Casa, e esposa do eminente e também Professor Ernani da Motta Rezende.

Na singela peça escultórica, um soldado de arma na mão representa os nobres ideais daqueles estudantes, que em pas-seatas pediam ao Governo de Getulio Vargas que declarasse guerra ao Eixo, após o torpedeamento de tantos navios com perda de centenas de vidas de brasileiros inocentes.

Uma placa na parede recorda os nomes de 9 bravos, onde figura Salomão Malina.

Os desígnios da vida impediram que Malina terminas-se o curso de Engenharia. Ativista político, ele e sua família levaram uma vida atribulada, onde não raro foi perseguido, tendo que mudar de bairro, de cidade, ocultar-se, mudar de identidade.

Não fosse os inúmeros recortes de jornais que descrevem a sua trajetória, e cópias de documentos das autoridades po-liciais da época, judiciosamente colecionados pelo Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro, teria sido difícil obter de-talhes ou fotos da sua vida militar, de vez que as circunstâncias exigiam que fotos e documentos seus não ficassem guardados em casa.

Salomão Malina foi militante histórico, último Secretário-Geral do PCB e ao final da vida Presidente Honorário do PPS.

Antes de partir, vitimado por doença incurável de que pa-decia há longos anos, manifestou a vontade de ser enterrado como judeu. Toda vida conservou o Talit (Manto Ritual) com que cumpriu a cerimônia do Bar mitzvah (maioridade religiosa aos 13 anos). A tradicional foto de Kipá (solidéu) e Talit que

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todo menino judeu tira neste dia consta do livro de memórias, lançado às vésperas de seu passamento.

Teve enterro judaico com velório na Assembléia Legislati-va de São Paulo, onde compareceram inumeros representantes dos setores políticos e culturais da sociedade. Frisava que suas raízes eram autênticas, e não uma volta às origens, de vez que sempre viveu como israelita, jamais ocultando sua fé.

Este bravo Soldado Brasileiro de fé judaica, incompreendi-do por uns, enaltecido por outros, mas sem dúvida um homem fiel as suas ideias, nos deixou em 2002 aos 80 anos.

Salomão Naslausky

Salomão nasceu no Rio de Janeiro aos 20 jun 1915, filho de Marcos e Annita.

Serviu na Itália no 1º Grupo do 1º Regimento de Obuses Auto Rebocados, 1/1 ROAuR, sob o comando do Tenente Co-ronel Waldemar Levy Cardoso, tendo embarcado aos 22 set 1944 e retornado com a mesma unidade aos 22 ago 1945. Comandou a 2ª Bateria de Obuses 105 mm.

Desempenhou importantes comissões ao longo de uma bri-lhante carreira militar com mais de 30 anos, como a de Comandan-te da Escola de Artilharia de Costa e Anti Aérea – EsACos AAe.

Foi agraciado com diversas medalhas, das quais desta-cam-se:

a) Concedidas pelo Presidente da RepúblicaCruz de Combate de Segunda Classe, por ter, como Capi-

tão Comandante da 2ª Bateria do 1º Grupo de Artilharia 105 mm da FEB, revelado capacidade profissional, sangue frio e coragem nos combates em que tomou parte sua Unidade du-rante a Campanha da Itália.

Medalha de Guerra, por ter prestado relevantes serviços no preparo e instrução de sua Unidade, concorrendo com seu esforço para que a mesma quando empregada em combate se apresentasse nas melhores condições de eficiência.

Medalha de Campanha, por ter como integrante da Força Expe-dicionária Brasileira, participado de operações de guerra na Itália.

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b) Concedidas pelo Ministro de Estado dos Negócios da GuerraMedalha do Pacificador: Medalha Militar de Ouro, por ter

completado mais de 30 Anos de Bons Serviços Militares.Transferido para a Reserva em 30 jul 1970, na inatividade

escreveu diversos artigos com base na sua experiência de com-bate tendo 2 deles sido publicados na Revista Militar Brasilei-ra, número comemorativo do 30º Aniversário da Organização da FEB.

Barga, págs 154 – 156.Cota 747, págs 175 – 177, onde relata seu último encon-

tro com o Sargento Max Wolff Filho, quando o maior herói da FEB partia para sua última patrulha, poucos minutos antes da morte gloriosa em combate.

Conforme relata, “... – posso contar com sua artilharia, Capitão? Perguntou ele ao passar pelo observatório, ponto obrigatório de passagem para se atingir as posições inimigas daquela frente...”

Depreende-se do texto que o Capitão Naslausky encon-trava-se no PO do Grupo (Posto de Observação), junto as pri-meiras linhas de ataque da infantaria, uma atitude corajosa e voluntária, já que o PO é guarnecido por tenentes, e ele como Comandante da Bateria deveria estar no PC – Posto de Co-mando na retaguarda, junto a Central de Tiro que fica a alguns kilometros, orientando a unidade.

Ao final do texto, o Cap Salomão presta uma homenagem ao Sargento Wolff:

“ ... não havia mais dúvidas... morrera o herói. E ao certificar-se da verdade, procurou o artilheiro seu abrigo individual, único lugar em que poderia naquele momento ficar só. E lá não se conteve. Chorou. Chorou o Artilheiro a morte do seu herói da Infantaria... “

Salomão Naslauski faleceu no Rio de Janeiro aos 11 de junho de 1984.

Samuel Kicis

A Carreira Exemplar de um Soldado Brasileiro de Fé Mosaica (*)

(*) – Palestra apresentada no evento de 1°. de maio de 2005 no Grande Templo Israelita

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142 Israel Blajberg - SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE

Corria o ano de 1944. Leda, uma menina de 7 anos no colo da mãe assistia da

varanda da sua casa em Deodoro, a beira da linha da Central do Brasil, o lento e constante desfilar do imenso comboio de vagões rolando sobre os trilhos, carregando as tropas prontas para o embarque no Cais do Porto, onde os navios america-nos de transporte aguardavam, junto com a nossa Marinha de Guerra que faria a escolta até Gibraltar.

As tropas vinham da Vila Militar e de Minas. Mesmo no inverno, o sol do Rio de Janeiro já era quente

de manhanzinha, bem diferente da Itália gelada para onde o pai de Leda estava iniciando uma longa viagem naquele trem, a viagem que não para todos teria retorno.

Com seus olhinhos de menina esperta, Ledinha conseguiu divisar o pai a distância, na janela do trem.

Assim, com as bençãos infantis da filha, o jovem Capitão de Artilharia Samuel Kicis, Comandante da 2ª Bateria do 4º. Regimento de Obuses 155, seguiu para o front, junto com os seus soldados.

Samuel vinha de longe. Seus pais, Isaac e Bertha Kicis nas-ceram e cresceram na Bessarabia, hoje Moldávia, região entre a Rumania e a Russia.

Havia dezenas, centenas de pequenas cidades onde flo-resciam pequenas, medias e grandes comunidades judaicas. Um mundo que acabou...

Uma terra que amargava séculos de dominação estrangei-ra, pelos russos, pelos prussianos, e onde a minoria judaica alternava periodos de tranquilidade com a perseguição injus-tificada.

Pogrom... palavra russa que significa chacina... de ju-deus.

Em 1903, ali mesmo, em Kishinev, uma cidade central da Bessarabia, houve um pogrom.

Um jovem poeta estava ali, viu e escreveu “A Cidade do Massacre” em homenagem às vítimas inocentes.

Haim Nahman Bialik (1873-1934). Poeta. Judeu nascido na Rússia. Falecido em Tel Aviv, que mais trade viria a ser co-

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nhecido como o Poeta Nacional de Israel.A profunda e emotiva descrição do poeta Bialik do so-

frimento inimaginável torna-o extraordinariamente apropriado para recordar Auschwitz.

“Que fazes aqui, filho do homem?Levanta-te, foge para o deserto!Leva para lá contigo o cálice de desgosto!Levai a sua alma, rasga-a em mil retalhos!Com raiva impotente, com coração deformado!Verte a tua lágrima sobre rochas áridase manda o seu grito amargo à tempestade!Era um prenuncio do Holocausto, que estava por vir. Não

surpreende portanto que tantos tenham decidido partir.Os Kicis descendem do Rabino Ze’ev Wolf Kitzes, que

viveu no séc. XVIII. A grafia experimentou evoluções ao longo dos séculos, bem como novos ramos se incorporaram: Kitces, Keces, Keses, Kitzes, Ketzis, Kitzis, Kicis, Kitsis, Kitses, CHA-REST, PEARSON, GORDON, WESTHEIMER, GREENWALD, SIMON, ROHR, DUNSKY.

Os Kicis ouviram falar do Brasil. Um pais de onde diziam haver tantas riquezas, até pedras preciosas restavam pendura-das nas árvores.

Uma Terra Abençoada, onde vivia um povo alegre, lu-dico e musical, com fartura de terra e água, o sol brilhan-do o ano todo, onde seriam bem recebidos por um povo hospitaleiro, descendente dos índios, dos negros escravos e dos portugueses, e que por isso mesmo não discriminava ninguém. Todos tinham uma oportunidade, e o sol nascia para todos.

A viagem foi penosa. Reunindo os poucos pertences que podiam levar, despediram-se dos familiares, que jamais iriam rever, iniciando a viagem para a nova Terra Prometida. Como a maioria dos imigrantes, iam de terceira classe, porque não havia a quarta...

Não era raro que criancas e idosos não resistissem a bor-do. Os pais se desesperavam ao ver o pequeno corpinho sendo lançado ao mar. Queriam ir juntos, quase enlouquecidos, era

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preciso que os amigos os segurassem para que não pulassem a amurada.

Mas o futuro iria sorrir para aquela gente, apesar de tudo com o coração cheio de esperança.

Ao atravessar a entrada da barra na Baia da Guanabara, só de olhar a paisagem já gostaram daquela terra, e entre lá-grimas de saudade da família distante, prometiam a D_us e a si mesmos que tudo fariam para honrar a confiança que a nova patria lhes depositava, tudo fazendo para serem bons brasileiros, criando os filhos, trabalhando e estudando por um Brasil melhor.

Do convés, os passageiros se admiravam com o cordão de fortalezas em volta da barra. Copacabana, Duque de Caxias, Santa Cruz, São José, São João, São Luiz, Pico, e a última, já numa pequena ilha dentro da baia, a Fortaleza da Lage, que seria a última barreira a repelir o inimigo invasor.

Era sinal de que o povo era hospitaleiro, mas desde a épo-ca das caravelas saberia defender-se, se necessário fosse. O jovem casal Kicis talvez não acreditasse se lhe dissessem que o primeiro filho um dia estaria a postos numa daquelas fortale-zas, como Oficial da Artilharia de Costa...

E foi isso que aconteceu. Bertha e Isaac tiveram 4 filhos, Fany, Olga, Mauricio e Samuel.

Ao desembarcarem no mesmo Cais do Porto jamais imagi-nariam que um dia o Todo Poderoso haveria de lhes conceder a graça de ter dois filhos homens, e que eles seriam Soldados Brasileiros, um deles haverndo de embarcar ali mesmo, para navegando pelos mesmos mares mas no caminho de volta, lu-tar pela liberdade e pela democracia.

E o outro, Mauricio, também artilheiro, viria a ser admiti-do ao Magistério Militar, por muitos anos lecionando Frances no Colégio Militar.

Os primeiros tempos foram duros. Trabalho arduo, de sol a sol, fazendo jus ao ditame bíblico, de ganhar o sustento com o suor do próprio rosto.

A família morava em São Cristóvão, onde Samuel nasceu na vespera de Pessach, em 15 de abril de 1913 e estudou no

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Colégio Pedro II. O menino Samuel era estudioso e morando no subúrbio, cresceu observando a movimentacao das tropas dos quarteis próximos, os comboios, o tropel da Cavalaria, os canhões ainda de tração hipomóvel.

Daí para a Escola Militar foi um passo. Aprovado no difícil concurso de seleção, Samuel tornou-se um Cadete do Realen-go, usando com orgulho a cintura o espadim, a miniatura do sabre invicto de Caxias.

Praça de 8 de abril de 1930, como aluno do 3º Ano do Curso Anexo a Escola Militar do Realengo.

Optou pela Arma dos fogos largos, profundos e podero-sos, tendo sido declarado Aspirante a Oficial de Artilharia em 25/jan/1934. Os velhos retratos amarelecidos demonstram a alegria dos pais imigrantes.

Seu filho Samuel, um Oficial, do Exército de Caxias, da Ar-tilharia de Mallet, envergando com garbo o Primeiro Uniforme, na cerimônia a que compareceu o Presidente da República.

Ali começava a carreira exemplar de um Soldado Brasilei-ro de fé mosáica, e que duraria quase 33 anos.

Designado para a Guarnição do Distrito Federal, foi man-dado servir no histórico quartel do Forte de Campinho, que naqueles tempos sediava o 1º Grupo de Artilharia de Dorso, foi logo promovido a 2º Tenente aos 30 ago 1934.

Naquela época a Artilharia era hipomóvel, ou seja, as pe-ças eram tracionadas por muares. Assim, as unidades de ar-tilharia muito se assemelhavam as da Nobre Arma Ligeira, a Cavalaria. Tinham baias, veterinarios, enfim, tudo que fosse necessário.

Os canhões Krupp 75 eram as peças mais utilizadas, des-locando-se nos exercicios e nos desfiles lenta e seguramente, daí a tropa de artilharia seguir uma cadencia diferente das de-mais, como o demonstra o rítmo peculiar da Canção da Arti-lharia.

Aos 29 de novembro de 35, Kicis teve de interromper as férias devido aos acontecimentos que se desenrolavam na ca-pital, tendo participado do contra-ataque aos rebeldes da Esco-la de Aviação Militar.

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Em 25 jan 1936 Samuel casou-se em Nictheroy com Da. Ruth do Couto Pfeil, a filha do Gen João Eduardo Pfeil. O pa-drinho de casamento foi o Gen Alcio Souto, que era amigo do Gen Pfeil.

Promovido a 1º Tenente aos 7 set 1936, foi transferido para o I Regimento de Artilharia Montada, na Vila Militar.

Entre diversos elogios que constam da sua filha funcional, destacamos aquele lavrado aos 19 de janeiro de 1937, pelo General de Divisao Eurico Gaspar Dutra, ao deixar o Coman-do da I Regiao Militar:

“... apraz-me manifestar meus agradecimentos ao 1º Ten Kicis, que foi meu collaborador, pela capacidade de trabalho e inteligência.

Outras comissões se seguiram, em João Pessoa no 4º G A Do, 3ª Bia AC Forte do Imbuhy em Nictheroy, 3º G A Do de Campo Grande – MT,

Em 10 de novembro de 37 foi decretado o Estado Novo, sem a participação da AIB no governo. Integralistas como Ol-biano de Melo, Belmiro Valverde e Gustavo Barroso, ao lado de oficiais da Marinha, no dia 11 de maio de 1938, promove-ram uma tentativa insurrecional. Sob o comando do tenente Severo Fournier, um grupo atacou o Palácio Guanabara, resi-dência presidencial, com a finalidade de depor Vargas.

O General Dutra, ministro da Guerra, soube por telefone, e como morava no Leme, dirigiu-se ao Forte Duque de Caxias, onde requisitou uma tropa de 12 homens, comandada por um jovem tenente, dirigindo-se ao Palacio, onde salvou o Presi-dente.

Quis o destino que naquele dia estivesse de serviço o Te-nente Samuel Kicis. É fácil supor o que teria acontecido se ou-tro oficial, de idéias integralistas, ali estivesse. Possivelmente a História do Brasil não tivesse sido a mesma.

O Grande Arquiteto do Universo nos conduz por cami-nhos nem sempre claros. Não seria a primeira vez que um brasileiro judeu entrava na história de Getúlio.

Plínio Salgado acabou seguindo em 1939 para um exílio de seis anos em Portugal, e Kicis foi promovido a Capitão aos

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25 ago 1941.No ano seguinte, o Brasil haveria de declarar guerra aos

paises do Eixo. Era a resposta aos torpedeamentos de navios mercantes inocentes ao longo da nossa costa.

Hitler havia decidido se vingar da ajuda brasileira ao esfor-ço de guerra, mandando aqui seus submarinos U-boat. Mas a nascente Aviação de Patrulha da FAB contra-atacou, conseguin-do afundar alguns submarinos, e quando a Marinha do Brasil passou a escoltar os combois, já não houve mais perdas.

O Brasil era um país eminentemente agrícola. Nem se so-nhava com a infraestrura e o parque industrial que temos hoje, as quais ainda iriam ser planejadas e construidas anos mais tarde.

Mesmo assim, um esforço nacional supremo nos capaci-tou a enviar para a Itália a primeira de 3 Divisões de Infantaria Expedionária, formando a FEB – Força Expedicionária Brasilei-ra, um Grupo de Aviação de Caça, e guarnecer o nosso litoral com a Marinha do Brasil. Foram so na FEB 25 mil homens, dos quais quase 500 não voltaram, além de outros milhares nas tripulações dos navios de guerra e mercantes, e centenas de aviadores e pessoal de terra.

Segundo o Mein Kampf, o III Reich deveria durar 1000 anos. As populações polonesas, russas e outros eslavos seria transformadas em escravos dos arianos, sem nenhum direito a nao ser trabalhar para a Alemanha. Os judeus, ciganos, comu-nistas, homossexuais e deficientes físicos e mentais nem esta sorte teriam. Deveriam ser impiedosamente exterminados nas câmaras de gás, a fim de que só restasse a “raça pura”.

Os brasileiros, também considerados uma raça inferior de mestiços, e os africanos, seriam explorados quando chegasse a sua vez, apenas fornecendo materias primas e deixados a propria sorte para morrerem como moscas.

Dentro deste quadro tenebroso, custa a crer que houvesse, e lamentávelmente ainda há no Brasil, embora microscópicas, ideologias pro-nazistas, grupelhos minusculos.

Se o Afrika Korps não tivesse sido destroçado em El Ala-mein, e a Alemanha conseguisse estender seus tentáculos para o outro lado do Atlântico, iriamos ter aqui no Brasil a desgraça

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de conviver com traidores. Infelizmente surgiriam novos Cala-bares, novos Joaquim Silvério dos Reis.

Mas não foi isso que aconteceu, neste pais que o grande escritor Stefan Zweig, também ele vítima do nazismo, definiu profeticamente em 1942, como o País do Futuro, raciocínio este que agora é ratificado pela CIA, ao prever que o Brasil junto com China, India e Indonésia podem vir a tornarem-se potências mundiais em 15 anos.

ItáliaSamuel embarcou para a Itália em 19 set 1944, desembar-

cou na Itália já sob o frio inclemente do inverno europeu.Logo sua Bateria foi enviada para a frente de combate. A

Artilharia da FEB era comandada pelo General Cordeiro de Farias, e receberam diretamente na Itália vindo dos Estados Unidos os obuseiros de 105 e 155 mm aquela época os mais modernos, de que ainda não dispunhamos no Brasil.

O Comandante do IV Grupo era o então Ten Cel Hugo Panasco Alvim.

Conforme Germano Seidl Vidal, 2º Tenente:“... em 15 de maio de 1944, fui designado Comandante

da Linha de Fogo da 2ª Bateria do então I Grupo do 1º Regi-mento de Artilharia Pesada Curta (Grupo Escola) - I/1º RAPC (GE), função na qual permaneci durante toda a participação do IV Grupo de Artilharia 155mm na Campanha da Itália, somente sendo desligado dessa função quando transferido, por necessidade do serviço, já no Brasil, em 10 de janeiro de 1946. [...]

O primeiro tiro da Artilharia brasileira jamais disparado fora do continente americano ocorreu as 1423 de 15 jul 1944.

Samuel comandou cerca de 200 homens, e ocupou por inúmeras vezes os observatórios avançados do Grupo, junto as primeiras linhas da Infantaria, em pontos considerdos ex-tremamente perigosos. Sua bateria se destacou em qualidade nas operações e nos objetivos alcançados .

Da sua folha de serviços constam inúmeros elogios indi-viduais e coletivos, destacando especialmente sua inteligência privilegiada e a capacidade de comando e organização com

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que se houve a frente da 2ª Baterias de Obuse 155.Suas promoções ocorreram sempre por merecimento:Major – 25 set 1948Ten Cel 25 abr 1953Cel – 25 ago 1961Realizou diversos cursos sempre com excelente aprovei-

tamento, a saber:1941 - Escola de Artilharia de Costa, menção Excelente

(grau 9,6);1947 - Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais, conceito

Muito Bem (grau 9,9);1948 - Curso de Guerra Química na Chemical Corps Scho-

ol (USA), nota 10,0;1952 – ECEME, menção B;1957 – Escola de Guerra NavalDa sua folha de serviços neste período, verificamos ser ple-

na de elogios, inclusive de superiores que um dia se tornariam Presidentes da República, como o na época Comandante do Nú-cleo da Divisão Blindada, o General Arthur da Costa e Silva.

“....elogio o Ten Cel Kicis que integrou o meu Estado Maior, pela capacidade de ação, inteligência, dinamismo e garbo, destacado oficial de Estado Maior ...”

A 21 de set 1953 seu pai deixa este mundo, tendo labuta-do anos e anos a fio, deixando 3 filhos.

Samuel serviu em segida no EME com outras destacados oficiais, como os então Cel Ademar de Queiroz, que viria no futuro a ser Presidente da Petrobras, e Cel Aurélio de Lyra Tavares, que veio a ser Ministro da Guerra e imortal da ABL, Coronel Adalberto Pereira dos Santos, futuro VP da República.

Aos 7 jan 56 casamento de sua filha Leda Pfeil Kicis.Em 1957 foi mandado a Pouso Alegre – MG onde exerceu

o sub-comando do 8 R A 75 MontMedalhas

Pelo seu comportamento exemplar durante a Campanha da Itália, foi condcorado com a Cruz de Combate de 2ª Classe.

No Diploma, assinado aos 6 de março de 1961 pelo Mi-

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nistro da Guerra Marechal Odilio Denys pode se verificar que ele esteve exposto ao fogo inimigo por muitas vezes ao situar-se nos posto de observação avancada que acompanha-vam o tiro da artilharia, conquistando elogios pelo seu espíri-to de sacrificio, pela assistência que dava a seus comandados, conduzindo a sua bateria em todas as situações com calma e coragem.

A Medalha de Campanha lhe foi concedida pelo Diploma assinado aos 25 de março de 1949 pelo Ministro da Guerra Gen Canronert Pereira da Costa, por ter participado de opera-ções de guerra na Itália.

Foi também concecorado com a Medalha do Pacificador, e com a Medalha de Ouro aos 30 anos de serviço.

EpílogoPor decreto de 20 out 1961, o Presidente da República

promoveu o Coronel Samuel Kicis ao posto de General de Bri-gada, e na inatividade, elevou-o ao posto de General de Divi-são, contando 32 anos, oito meses e 3 dias de efetivo serviço, dos quais 7 meses e 20 dias de Campanha na Itália e 6 meses de licença especial não gozada.

Samuel faleceu no Rio de Janeiro em 1984, ao 71 anos.Este breve relato não poderia terminar sem que ressaltassemos o importante papel das Forças Armadas, instituição nacional única e integradora da alma brasileira, onde se funde a nossa nacionalidade multi-racial.

Nas Forças Armadas, convivem lado a lado o filho do rico e o filho do pobre, o negro, o índio, e o branco, o católico, o espírita e o judeu.

No momento em que vestem a honrosa farda verde oliva tornam-se todos iguais, companheiros, irmãos de armas, com as mesmas oportunidades que teve um jovem filho de emi-grantes de terras remotas, a quem ora prestamos a maior ho-menagem que poderia receber pela sua carreira exemplar, o melhor elogio que poderia merecer:

General Samuel Kicis: Foi um soldado brasileiro.

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Sala General KICIS na EsAO

A Semana da Pátria de 2008 começou auspiciosamente para a Comunidade. Já na segunda feira dia 1° a Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais na Vila Militar inaugurou uma placa e retrato dando o nome do General de Divisão Samuel Kicis a sala de aula do Curso de Artilharia, em homenagem ao herói da FEB que como capitão comandou uma Bateria no front italiano. Estiveram presentes a filha e neta, Da. Leda Kicis e Da.Lucia Kicis, o General Abreu, comandante da EsAO e o Diretor de Cidadania Israel Blajberg.

Na tradicional escola fundada em 1919 ao tempo da Mis-sao Militar Francesa, a Casa do Capitão, por onde anualmente passam 500 capitães-alunos como pré-requisito para promo-ção aos postos superiores, a Sala de Aula do Curso de Artilha-ria passa a ostentar a denominação histórica de Sala General de Divisão SAMUEL KICIS.

Na parede, o texto em moldura, ao lado do retrato do jo-vem Cap KICIS, alusivo à inauguração da denominação histó-rica, é motivo de orgulho para a Comunidade Judaica.

Em 1943, o entao Cap KICIS servia em uma unidade que nao iria para a guerra. Solicitou então transferência para uma unidade prevista para embarcar para a Italia integrando a FEB - Força Expedicionaria Brasileira. Fez isso por estar determinado a lutar contra o nazismo.

Na ocasião o Comandante da EsAO, General de Brigada José Alberto da Costa ABREU, que aniversariava neste dia, recordou seu pai, também ex-combatente da FEB onde foi Cabo Chefe de Peça, familar com os fogos da Artilharia pesada que tanto sobres-saltavam a tropa. o General assim se referiu ao Cap KICIS:

“Figura insigne da nossa Artilharia, deixou seu nome gra-vado na História. Nome bem escolhido pelos Curso, muito pertinente, por tudo que realizou.”

O Comandante do Curso de Artilharia, Tenente Coronel Clau-dio Vasconcellos Santos saudou os familiares com uma bela oração.

Foi uma singela e tocante homenagem a um dos mais destacados integrantes da Comunidade Judaica, Gen SAMUEL

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KICIS, magnífico exemplo de Patriota e Soldado Brasileiro, da Artilharia de MALLET, do Exército de CAXIAS.

Seguem-se o texto do pronunciamento do Comandante do Curso de Artilharia da EsAO, Ten Cel Claudio Vasconcellos Santos, e o texto da Placa Alusiva a Denominação Histórica da Sala de Aula do Curso de Artilharia, Sala General de Divisão SAMUEL KICIS.

SOLENIDADE DE INAUGURAÇÃODA SALA 01 – 01 SET 08

EXMO SR GEN BDA JOSÉ ALBERTO DA COSTA ABREU, COMANDANTE DA ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFI-CIAIS.

SR CORONEL VILEMAR , SUB CMT ESAO.SR CEL VIANNA PERES, CHEFE DA DIVISÃO DE ENSINO

DA ESAO.SENHORA LEDA, FILHA DISTINTA DO NOSSO HOMENA-

GEADO.TEN ISRAEL BLAJBERG, OFICIAL DA RESERVA, E BIÓGRA-

FO DO HOMENAGEADO. SENHORES OFICIAIS INSTRUTORES. MEUS PREZADOS OFICIAIS ALUNOS DO CURSO DE AR-

TILHARIA 2008.BOM DIA!MINHAS PALAVRAS INICIAIS NÃO PODERIAM DEIXAR DE

SER DE AGRADECIMENTO. AGRADECIMENTO SIM A DEUS QUE NOS CONCEDEU A OPORTUNIDADE E A LUZ PARA QUE VIÉSSEMOS A HOMENAGEAR O GEN DIV SAMUEL KI-CIS, ATRIBUINDO O SEU NOME A SALA 01 DO CURSO DE ARTILHARIA DA ESAO. / NO CORRENTE ANO, OS ESTABELE-CIMENTOS DE ENSINO DO EXÉRCITO RECEBERAM A INCUM-BÊNCIA DO DEPARTAMENTO DE ENSINO E PESQUISA PARA QUE HOMENAGEASSEM VULTOS HISTÓRICOS DE NOSSO PAÍS, CONCEDENDO A DENOMINAÇÃO ÀS RESPECTIVAS SA-LAS DE AULA. / DESSA FORMA, NO ÂMBITO DO CURSO DE ARTILHARIA DA ESAO, EXPEDIDOS A DIRETRIZ DE HOMENA-

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GEAR EMINENTES ARTILHEIROS QUE TENHAM SE DESTACA-DO NOS POSTOS DE CAPITÃO, APRESENTANDO EXEMPLOS DE HEROÍSMO, DEDICAÇÃO AO EXÉRCITO E INTENSO PA-TRIOTISMO. / APÓS UMA PESQUISA REALIZADA POR OFI-CIAIS ALUNOS E INSTRUTORES, FORAM SELECIONADOS PARA A SALA 01, O NOME DO GEN KICIS, E PARA A SALA 02, O DO MARECHAL JOÃO THOMAZ DE CANTUÁRIA.

NESSE INSTANTE EM QUE REALIZAMOS A SOLENIDADE OFICIAL DE ATRIBUIÇÃO DO NOME DO GEN KICIS À SALA 01, PERMITAM-ME COMPLEMENTAR AS PALAVRAS DO NOS-SO OFICIAL – ALUNO, NO TOCANTE AOS FEITOS DO HOME-NAGEADO. CONFORME AS PALAVRAS DO TEN BLAJBERG, O ENTÃO CAPITÃO KICIS, COMANDANTE DA 2ª BATERIA DE OBUSES ORGÃNICA DO ATUAL 11º GAC – GRUPO MONTE-SE, DURANTE A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL,“ ...OCUPOU POR INÚMERAS VEZES OS OBSERVATÓRIOS AVANÇADOS DO GRUPO, JUNTO ÀS PRIMEIRAS LINHAS DA INFANTA-RIA, EM PONTOS CONSIDERADOS EXTREMAMENTE PERI-GOSOS...” APÓS A GUERRA, EM RAZÃO DE SUA ELEVADA CAPACIDADE PROFISSIONAL, O GEN KICIS VEIO A RECEBER REFERÊNCIAS ELOGIOSAS DE EMINENTES PERSONAGENS HIS-TÓRICOS DO PAÍS, PODENDO SER CITADOS OS MARECHAIS ODILIO DENYS, EX-MINISTRO DA GUERRA E O MARECHAL ARTHUR DA COSTA E SILVA, EX-PRESIDENTE DA REPÚBLICA.

DISTINTA SENHORA LEDA: SAIBA, NESSE MOMENTO, QUE TODOS NÓS AQUI NA ESAO ESTAMOS COMPARTI-LHANDO COM A SENHORA A EMOÇÃO E O ORGULHO DE VER NOME DO SEU TÃO ILUSTRE GENITOR ATRIBUÍDO A NOSSA SALA 01 DO CURSO DE ARTILHARIA. A PARTIR DE AGORA, NOSSOS OFICIAIS ALUNOS E INSTRUTORES PASSA-RÃO TER, NA MEMÓRIA DO GEN KICIS, UM EXEMPLO CON-CRETO DE AMOR À NOSSA PÁTRIA E UM MODELO PLENO DE OFICIAL DE ARTILHARIA, DIGNO REPRESENTANTE DAS MAIS CARAS TRADIÇÕES DA NOSSA ARMA.

ASSIM, NESSE MOMENTO TÃO REPRESENTATIVO PARA NÓS NO DIA DE HOJE, AGRADEÇO A PRESENÇA DE TODOS, E CONCITO-OS A MEDITAR EM TODOS OS FEITOS DO NOS-

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SO HOMENAGEADO.HOJE TAMBÉM, POR UMA FELIZ COINCIDÊNCIA DE DA-

TAS, ESTAMOS COMEMORANDO O ANIVERSÁRIO DE NOSSO COMANDANTE DA ESCOLA, GEN ABREU, PORTANTO, COMO COMANDANTE DO CURSO DE ARTILHARIA, EM NOME DE TODOS OS INTEGRANTES DO CURSO, DESEJO À VOSSA EX-CELÊNCIA MUITAS FELICIDADES PESSOAIS E PROFISSIONAIS, E QUE DEUS POSSA LHE CONCEDER SAÚDE, PAZ DE ESPÍRI-TO E INTELIGÊNCIA PARA PODER CONTINUAR A CONDUZIR OS DESTINOS DA NOSSA TÃO QUERIDA ESCOLA.

E ELES QUE VENHAM! POR AQUI NÃO ENTRAM!MALLET ! BRASIL!MUITO OBRIGADO.

Texto da Placa

Filho de imigrantes judeus da Bessarábia (hoje Moldávia), o General Samuel Kicis nasceu em 1913 na cidade do Rio de Janeiro e concluiu o Curso de Artilharia da Escola Militar do Realengo em 1934. Fruto de seu excelente desempenho aca-dêmico foi designado para servir no histórico quartel do Forte de Campinho, sede do 1º Grupo de Artilharia de Dorso. Ao longo de sua brilhante carreira, realizou os seguintes cursos: Escola de Artilharia de Costa, Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais, Curso de Guerra Química na Chemical Corps School (USA), ECEME e Escola de Guerra Naval.

Sua brilhante carreira militar é exemplo de uma trajetória marcada por heroísmo, patriotismo e dedicação ao Exército. Ain-da como tenente participou do contra-ataque aos rebeldes da Escola de Aviação Militar, em 1935 na capital federal. Em 1937, comandou uma tropa de 12 homens no combate aos integralistas que atacaram o Palácio Guanabara para depor Getúlio Vargas.

O então Capitão Samuel Kicis embarcou para a Itália em 19 de setembro de 1944, para juntar-se aos aliados contra o eixo. Na Força Expedicionária Brasileira comandou, como Ca-pitão, a 2ª Bateria do IV Grupo de Obuses 155mm, tendo em suas mãos cerca de 200 homens e o maior poder de fogo com

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que contava a Artilharia Divisionária da FEB. Exerceu a função de Observador Avançado em Torre di Nerone e no quarto e bem-sucedido ataque a Monte Castelo.

Foi condecorado com a Cruz de Combate de 2ª Classe, Medalha de Campanha, Medalha de Guerra, Medalha do Paci-ficador e Medalha Militar de Ouro.

Dos 32 anos, oito meses e 3 dias de efetivo serviço pres-tado pelo General-de-Divisão Samuel Kicis, 7 meses e 20 dias foram de campanha na Itália, durante a 2ª Guerra Mundial.

O General Samuel Kicis faleceu no Rio de Janeiro em 1984, aos 71 anos.

Samuel Miller

Capitão de Longo Curso da Marinha Mercante, participan-do da 2ª Guerra Mundial, foi companheiro de viagem de JA-COB NISKIER e DAVID LEON RODIN, por ocasião do conflito mundial, e primo em segundo grau de ADIO NOVAK.

Reside em Brasília, onde colabora como Diretor Jurídico da Associação dos Ex-Combatentes do Brasil.

Possui a Medalha de Serviços de Guerra com 3 Estrelas, outorgada pelo Presidente da República.

Samuel Safker

Samuel foi Cabo da FEB tendo embarcado aos 22 set 1944 integrando o QG do General Olympio Falconiere da Cunha, e retornado em 22 ago 1945 integrando a Tropa do QG da 1ª DIE - Divisão de Infantaria Expedicionária.

Residia no Rio de Janeiro, onde faleceu aos 81 anos em 27 dez 2001.

Samuel Soichet

Samuel era Aspirante a Oficial R/2 formado pelo CPOR/RJ.Médico de Niterói, levou seu violino, e entre um e outro

atendimento empunhava o instrumento em pleno front.

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Consta ter sido médico da FEB. Quando dos acontecimen-tos que marcaram a Declaração da Independência do Estado de Israel, em 14 de maio de 1948, Samuel teria se incorporado ao nascente Exército de Israel, a Haganhá, onde teria atingido a patente de Major durante a Guerra da Independência.

Foi realizar uma bolsa de residência médica nos Estados Unidos, e acabou radicando-se naquele pais, onde faleceu.

Como tantos universitário da década de 40, Samuel cur-sou o CPOR – Centro de Preparação de Oficiais da Reserva.

Nos idos da década de 20 O bravo Coronel Correia Lima teve ele uma idéia avançada para o Brasil da época, que iria se provar acertada até hoje, revelando-se em toda a sua magni-tude durante a Segunda Guerra Mundial, quando metade dos 800 tenentes da FEB era R/2, a mocidade do CPOR.

Lançou a ideia pioneira, de convocar os aunos das facul-dades para cursar um centro de preparação, dos quais sairiam como oficiais da reserva.

Desde logo obteve a adesão dos alunos da Escola Politécnica, não fora ela a precursora do ensino militar no Brasil, já que naquele mesmo prédio do Largo de São Francisco fora instalada por D João VI em 1810 a Academia Real Militar, da qual descendem hoje em linha direta o IME, a AMAN e a atual Escola Politécnica na Ilha do Fundão. Com efeito, a mesma placa comemorativa mandada fundir pelo Exército em 1960 ano do sesquicentenario, situa-se no Realengo, no IME, na AMAN e no Largo de São Francisco.

E daquele prédio, ao lado da Cruz de São Francisco, sai-riam nove expedicionarios para a FEB, fato até hoje ali lembra-do pela estatueta do Estudante de Engenharia Expedicionário, ao lado da Bandeira Nacional na sede da Associação dos Anti-gos Alunos da Politécnica.

No histórico quartel da Quinta da Boa Vista, onde hoje está instalado o belíssimo Museu Militar Conde de Linhares, ao longo de 35 anos, de 1931 a 1966, o Exército Brasileiro formou a sua Reserva Atenta e Forte, no CPOR do RJ.

“Da Universidade à Linha de Frente” dali saíram os Bra-vos Discípulos de Correia Lima, no dizer da Canção do CPOR o nosso fundador, patrono e guia,

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Seu descortino para a época era incrível. A idéia de reunir estudantes das faculdades para construir uma reserva de alto nível para o Exército trouxe importante aporte para a Força Ter-restre, como se confirmou por ocasião da II Guerra Mundial, quando os Oficiais R/2 foram chamados a compor expressiva-mente os efetivos da gloriosa FEB - Força Expedicionária Brasi-leira, como líderes de fração de tropa nos combates na Itália.

Deste quartel, somando-se aos oriundos de São Paulo, Reci-fe, BH e SSA partiram mais de 400 tenentes para integrar a FEB.

Nos campos da Itália, entre tantos soldados brasileiros tombados no cumprimento do dever, 12 jovens tenentes hon-raram o juramento de defender a Pátria se necessário com o sacrifício da própria vida, dos quais meia dúzia eram oriundos dos quadros dos CPORs, os Tenentes:

Amaro Felicíssimo da Silveira;Ari Rauen;José Belfort de Arantes Filho;José Jerônimo de Mesquita;Márcio Pinto;Rui Lopes Ribeiro;que repousam no Monumento aos Mortos da II Guerra

Mundial, tendo seguido os passos do patrono, honrando o le-gado deixado por Correia Lima.

Muitos mais se destacaram mercê de bravura excepcional demonstrada em combate,como o legendário Major Apolo Mi-guel Rezk, herói maior dentre os ex-alunos do CPOR, outros felizmente ainda se encontram entre nós.

Dia de glória para o histórico quartel da QBV, um ícone da nossa comunidade R/2, prédio neoclássico construído em 1920, no Governo Epitácio Pessoa pelo então General Rondon, Diretor de Engenharia do EB, onde tantos cursaram, e de onde alguns em um dia já distante do ano de 1944 partiram rumo ao desconhecido, para sob a bandeira brasileira, defender a demo-cracia e a liberdade mundial nas montanhas geladas da Itália.

E entre eles estavam Samuel e mais um punhado de corre-ligionários, que com garra e patriotismo seguiram para a Itália, a enfrentar o duplo perigo.

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Saul Antelman

Saul nasceu no Rio de Janeiro aos 03 dez 1921, filho de Isaac e Maria Antelman. Moravam na Rua 24 de Maio, estação do Riachuelo, onde Saul se alistou no Tiro de Guerra nº 140, da 1ª Região Militar, conertendo-se no Atirador numero 123 da classe de 1939.

A guerra iria estourar em 1º de setembro do mesmo ano.Como reservista pelo TG 140, turma de 1939, Saul foi

convocado em 1943. Serviu no I RCD, II RMM, QG da I DIE, atingindo a graduação de Cabo QMG 02 Cavalaria, QMP 001 – Combatente, durante a Campanha da Itália no período de 06 out 1944 a 11 ago 1945, com 2 anos 5 meses e 29 dias de tempo de serviço militar de 02 mar 1943 a 31 ago 1945.

Saul embarcou para a Itália no navio americano de trans-porte de tropas MARIPOSA, em 22 de setembro de 1944, in-tegrando o QG do General Falconieri, retornando em 22 ago 1945 com a mesma unidade.

Por ter participado das operações de guerra na Itália, Da-vid foi condecorado pelo Presidente da República com a Me-dalha de Campanha pelos relevantes serviços prestados ao es-forço de guerra.

Saul trabalhou na Cia T. Janer, foi o seu segundo empre-go após retornar da Itália, e onde se apresentou como conta-dor, formado pelo Instituto Comercial do Rio de Janeiro, em fev/1943.

Tradicional empresa, Saul aparece no ambiente contábil que hoje não existe mais, onde inumeros profissionais dedi-cavam a escriturar a vida das empresas, nas antiga máquinas mecânicas de contabilidade.

Saul foi reformado em 17 jul 1979, e residia na Barra da Tijuca, no Rio, onde faleceu aos 21 / ago / 1999, aos 77 anos.

Waldemar Rosenthal

Waldemar nasceu no Rio de Janeiro aos 20 ago 1921, fi-lho de Julio e Rebeca Rosental.

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Durante a guerra integrou a 1ª Bateria do 2º Grupo de Artilharia de Dorso, a qual em 1942, após a declaração de guerra do Brasil aos países do Exio deslocou-se de sua sede em Jundiaí – SP para São Sebastião, no litoral paulista, formando com o 2º Batalhão do 5º Regimento de Infantaria de Lorena - SP o Destacamento Militar de Defesa da Área Litorânea do Estado de São Paulo, área de alto risco como valor estratégico nacional, protegendo São Paulo, o mais pujante estado da fe-deração.

O QG estava sediado no porto de São Sebastião, de onde coordenava as operações de patrulhamento, vigilância e defe-sa da soberania nacional.

O Destacamento estava subordinado ao Comandante da Segunda Região Militar, General Mauricio José Cardoso. Como Comandante da Guarda do Porto, o Sargento Waldemar pres-tou honras militares por ocasião de uma visita de inspeção do General.

Relata ainda ter conhecido o Major Severino Sombra de Albuquerque, que lhe indagou se era judeu. Foi um breve con-tacto, que impressionou Waldemar pelo olhar firme e simpatia afável do Major, que declarou ele mesmo ter ancestralidade judaica, acreditando descender de cristãos-novos.

No mesmo ano, o Major Severino Sombra iria ser nomea-do membro da Comissão Mista de Defesa Brasil -Estados Uni-dos no Pentágono em Washington, composta de delegados brasileiros e americanos das três forças singulares, estabele-cida em 1942 para executar o planejamento de Estado Maior para defesa mutua do Hemisfério Ocidental.

Anos depois o General Severino Sombra iria ser presidente do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil, e criaria uma Universidade em Vassouras, que hoje leva seu nome.

Nesta cidade o casal de historiadores Egon e Frieda Wolff em suas andanças pelo Brasil em pesquisas históricas sobre judeus e cristão novos descobriu um terreno vazio nos fundos da Santa Casa, atual Asilo Barão do Amparo, onde estavam sepultados dois judeus falecidos em meados do século XIX.

Com apoio da Prefeitura e diversos entusiastas entre os

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quais o paisagista Burle Marx, que elaborou o projeto, e o Ge-neral Professor Severino Sombra de Albuquerque, então presi-dente da Fundação Universitária Severino Sombra, foi erguido o Memorial Judaico de Vassouras onde repousam Morluf Levy e Benjamim Benatar, ambos de origem marroquina falecidos em 1879 e 1852, hoje um monumento histórico integrante do circuito turístico da cidade.

Foi então formado o Memorial Judaico de Vassouras, sob a presidência de Luiz Benyosef, que até hoje cuida da manu-tenção e preservação do Memorial.

A fase em que Waldemar serviu na 1ª Bateria era de tem-pos incertos, em que a ameaça nazista ainda era significativa, antes que as derrotas na frente russa e na África afastassem do horizonte uma possível invasão nazista na costa brasileira, não indo além dos cruéis torpedeamentos de nossos navios mer-cantes na guerra submarina que Hitler mandou desencadear conta o Brasil, nação pacífica e neutra.

A quinta-coluna alemã estava ativa no Brasil, informando secretamente aos submarinos a posição de nossos navios. A espionagem nazi-fascista foi responsável inclusive por afunda-mentos de navios brasileiros em mares do Caribe.

O imenso Teatro de Operações em solo pátrio, correspon-dendo ao extenso litoral e as ilhas oceânicas foi guarnecido desde 1942, muito antes portanto da FEB iniciar operações na Itália.

Waldemar serviu em áreas virgens e inóspitas do litoral paulista, àquela época zona endêmica de malária, infestada de protozoários e anofelinos, sem infra-estrutura e sem material adequado. Apenas pouco antes da FEB partir os Estados Uni-dos passaram a fornecer material moderno, inclusive uma par-te sendo levada diretamente para a Itália onde nossos soldados tomaram contacto pela primeira vez com aquele armamento.

Poranto, a unidade defrontava-se fora de sede com ma-terial precário, barracas envelhecidas e sem serviço médico-veterinario para a cavalhada, (a unidade era hipo-móvel), o material tracionado penosamente por muares em terrreno en-charcado de difícil locomoção.

As comunicações eram antiquadas, apenas telegrafo Mor-

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se e sinalização manual. Não existia posto médico já que o mais próximo era em Caraguatatuba.

Entretanto, reinava na tropa elevado nível moral, cívico, pa-triótico, espírito de renuncia, abnegação e altruísmo, nas pala-vras de Waldemar deixadas em diário conservado pela família.

O Presidente da República concedeu ao 2º Sargento Wal-demar Rosenthal a Medalha de Guerra, por ter cooperado no esforço de guerra do Brasil.

Passou para a Reserva como 1º Tenente, falecendo no Rio de Janeiro em 2003.

b) Figuração Honorária

Reynaldo Antonio de Borba

Reynaldo não era judeu, mas um ex-combatente de Ere-chim solicitou que seu nome fosse incluído na relação dos homenageados no Grande Templo, pos seus pais foram arren-datários de uma colônia da ICA (Jewish Colonization Associa-tion) em Quatro Irmãos – RS, que era uma colônia agrícola judaica. Sua viúva Da. Iracema Barrozo de Borba concordou, enviando os dados para esta justa homenagem.

Reynaldo nasceu em 07 jul 1918 em Getulio Vargas – RS, filho de Jacintho Antonio de Borba e Maria Cristina de Borba.

Foi incorporado no 2º Regimento de Cavalaria Motoriza-da, tendo seguido para a FEB como Cabo. Era telegrafista. Ser-viu no Tetaro de Operações da Itália de 22 fev 1945 a 20 set 1945, incorporado ao Depóstio de Pessoal da FEB.

Foi licenciado do Serviço Ativo como 3º Sargento aos 15 out 1945. Recebeu a Medalha de Campanha, por ter como in-tegrante da FEB participado de operações de guerra na Itália.

Na vida civil trabalhou como motorista da ICA em 4 Ir-mãos – RS, depois como motorista autônomo e na CEEE – Cia Estadual de Energia Elétrica.

Participava da Associação dos Ex-Combatentes do Brasil, Seção de Passo Fundo – RS.

Faleceu em Erechim – RS em 07 jun 1992.

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c) Figuração Preliminar e Provisória (Pendente de Confirmação) – 3 Veteranos

Donald Cohen Marques

Era Oficial da Arma de Infantaria, formado na Escola Militar do Realengo. Consta que teria deixado o Exercito após a guerra, e se radicado em São Paulo, onde exerceria a atividade de Corretor.

Não foi possível fazer contacto ou identificar familiares ou pessoas que pudessem agregar informações. As pesquisas tam-bém não revelaram maiores detalhes, nem houve identificação positiva de que o mesmo possa ser ou ter sido um membro da Comunidade Judaica, a não ser o nome, que sugere uma forte correlação, pois a palavra Cohen designa em hebraico a casta sacerdotal do Templo de Salomão.

Os portadores deste nome em geral são ou possuem des-cedência judaica.

Israel Bona

Não foi possível fazer contacto ou identificar familiares ou pes-soas que pudessem falar sobre Israel Bona. As pesquisas também não revelaram maiores detalhes, nem houve identificação positiva de que o mesmo possa ser ou ter sido um membro da Comunidade Judaica, a não ser o nome, que sugere uma certa correlação.

Nos registros da Associação Nacional de Veteranos da FEB verificamos ter sido Soldado, oriundo do Sul do Brasil, tendo embarcado aos 08 fev 1945 integrando o CRP – Centro de Recompletamento de Pessoal e retornado em 17 set 1945 no DP – Depósito de Pessoal.

Consta ter sido reformado em 06 de março de 1978.

Jacob Chafier Sobelman

Não foi possível fazer contacto ou identificar familiares ou pessoas que pudessem falar sobre Jacob Chafier Sobelman. As pesquisas também não revelaram maiores detalhes, nem hou-

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ve identificação positiva de que o mesmo possa ser ou ter sido um membro da Comunidade Judaica, a não ser o nome, que sugere uma certa correlação.

Nos registros da Associação Nacional de Veteranos da FEB veri-ficamos ter sido 1° Sargento, tendo embarcado aos 02 jul 1944 inte-grando o 6° Regimento de Infantaria e retornado em 18 jul 1945.

d) Integrante da Representação do Brasil na Parada da Vitória, Londres - 1946

Miguel GrinspanSoldado do 1° Batalhão de Guardas (Batalhão do Imperador);

1° Aniversário da Vitória Aliada na Europa,V – E Day - 8 de maio de 1946;

Desfile em Londres da Representação do Brasil;Soldado do BG viaja para Londres

e desfila na Parada da Vitória.O sonho do jovem Miguel Grinspan era alistar-se para

prestar o Serviço Militar, mas a Guerra acabou antes, impedin-do que ele se tornasse um Soldado da FEB.

Porém estava escrito que seu destino o levaria também a cruzar o oceano envergando o uniforme do Exercito Brasileiro, para uma missão igualmente gloriosa.

Miguel servia no Batalhão de Guardas, tradicional unidade de elite sediada na Av Pedro II em São Cristóvão, sempre con-vocada para prestar as honras militares a autoridades nacionais e estrangeiras. Nas fileiras do BG, Miguel prestou continência ao Presidente da República, Ministros e Generais.

Em 1946, ao realizar-se em Londres a Parada da Vitória, todos os Aliados mandaram representações, sendo o BG a tropa naturalmente escolhida para representar o Exército Brasileiro.

A representação incluía 8 homens da Marinha, 8 da Aero-náutica e 8 do Exército.

A viagem ocorreu em maio/junho de 1946, sendo a dele-gação transportada no Navio Transporte de Tropas Duque de Caxias da Marinha do Brasil.

Chegando em Lisboa permaneceram três dias, em seguida

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deslocando-se para Bordeaux na França, onde deixaram o na-vio, embarcando de trem para Paris.

Em Paris pernoitaram na École Militaire e no dia seguinte seguiram para Londres, atravessando o Canal da Mancha.

O comandante do navio ficara preocupado com a alimen-tação em Londres, fornecendo a cada um 5 quilos de açúcar, 5 quilos de feijão, 5 quilos de arroz e 5 quilos de café, mas em todo o período que lá estiveram nada faltou à Delegação.

Como não houve necessidade de utilização, a reserva de alimento gentilmente cedida pelo comandante do navio foi re-passada a família Kruel, que durante o período da guerra não recebera nenhum alimento típico brasileiro.

Em Londres a Delegação foi recepcionada pela Embaixada brasileira, cujo adido militar era o General José Pessoa.

Instalados no Hyde Park em barracas, cada qual recebeu cinco cobertores, pois apesar de ser primavera fazia muito frio.

Tiveram a honra de receber a visita do grande estadista Winston Churchil no acampamento, com charuto e chapéu o qual trocou um aperto de mão com o comandante.

Miguel desfilou em continência a Família Real Britânica, Chefes de Estado como Churchil e Attlee, Marechal Sir Moun-tbaten, o Herói de El Alamiem, Marechais Alexander e Smuts, e ainda na aposição de uma coroa de flores diante do Tumulo do Soldado Desconhecido, na Abadia de Westminster.

Nas históricas fotos do Correio da Manha e A Noite, Mi-guel aparece envergando o uniforme verde escuro da época, com cinturão e bíbico, e orgulha-se até hoje de ter também representado a Comunidade Israelita Brasileira naquela signi-ficativa parada, assim como tantos outros correligionários que envergaram os gloriosos uniformes da FEB, Marinha do Brasil, Marinha Mercante e FAB.

Findo o desfile da Vitória, o retorno se deu em uma aerona-ve da Força Aérea Inglesa (RAF) até Gibraltar, onde o Duque de Caxias os aguardava. Houve uma parada em Recife e finalmente o desembarque no Rio de Janeiro, a querida cidade maravilhosa.

Miguel aparece desfilando diante do Palanque, na Abadia de Westminster, com soldados gregos de saiote e em passeio

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com colegas por Londres.Síntese biográfica de MIGUEL GRINSPAN

NASCIDO EM 31/12/1924, RIO GRANDE DO SUL, SAN-TA MARIA DA BOCA DO MONTE.

DE 1930 A 1940 VIVEU EM NILOPÓLIS ONDE CURSOU O PRIMÁRIO E POSTERIORMENTE A ESCOLA TÉCNICA PRO-FISSIONAL VISCONDE DE MAUÁ,EM MARECHAL HERMES.

1946 - SERVIÇO MILITAR NO BATALHÃO DE GUAR-DAS, EM SÃO CRISTÓVÃO. POR OCASIÃO DO DESFILE DOS ALIADOS DA 2ª GUERRA MUNDIAL, REPRESENTOU O EXÉRCITO BRASILEIRO EM LONDRES PRESTANDO CON-TINÊNCIA A RAINHA DA INGLATERRA.

1970 FORMOU-SE BACHAREL EM DIREITO. MONTE SINAI – SOCIO FUNDADOR. 1998- ELEITO PARA O CONSELHO DELIBERATIVO DA

FIERJ (FEDERAÇÃO ISRAELITA DO RIO DE JANEIRO).PARTICIPOU DO GRUPO DE TRABALHO DE PEQUENAS

COMUNIDADES da FIERJ: FRIBURGO, CAMPOS DE GOYTACA-SES ,PETROPOLIS,NITERÓI E TERESÓPOLIS, TENDO ORGANI-ZADO EXPOSIÇÃO DE FOTOS, DOCUMENTOS E OBJETOS.

2007- ELEITO 1º VICE PRESIDENTE DO MEMORIAL DE VASSOURAS.

DIRETOR DA CRISPUN MAT. DE CONSTRUÇÃO S/A EM 05.11.2007 APRESENTOU PALESTRA SOBRE A SE-

GUNDA GUERRA MUNDIAL COM PRESENÇA DE VETERA-NOS DA FEB E HISTORIADORES MILITARES, UMA PARCE-RIA DO MEMORIAL JUDAICO COM A UNI RIO ̈ - PRESENÇA JUDAICA NA CULTURA BRASILEIRA¨ NO AUDITÓRIO DA UNIRIO A AV.PASTEUR,458 URCA.

e) Ex-Combatentes Judeus de Nações Amigas no Brasil5 Veteranos

Akiba André Levy

Natural de Sidi – bel – Abbès, Argélia, Akiba nasceu a 05 fev 1927, engajando-se voluntariamente na Marinha Nacional

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Francesa como Marinheiro de 2ª Classe Mecânico, durante toda a duração do conflito mais 3 meses.

Inicialmente serviu no Aviso “La Boudeuse” baseado em Casablanca, e posteriormente no Cruzador “Jean Bart” de 06 jun 1944 a 10 fev 1945.

Possui a Medaille Comemorative Francais de La Guerre 1939-1945, com barreta “Engage Volontaire”, Croix Du Com-batant Volontaire avec Barrette “Guerre 1939-1945” e o Di-ploma de Reconhecimento pelos Serviços Prestados a França, concedido pelo Secretaire d’Etat a La Defense Charge dês An-cies Combattants.

Na vida civil trabalhou na Cables de Lyon, uma empresa do Grupo Alcatel. Em 1949 emigrou para o Brasil, onde hoje possui uma indústria eletrônica em Pouso Alegre – MG.

É membro da Association Francaise dés Anciens Com-battants a Rio de Janeiro, tendo participado do último Desfile Militar de 7 de Setembro no Rio de Janeiro, onde ele e outro veterano Frances, Jean Wittmer, foram os dois únicos represen-tantes de Nações Amigas a participarem.

Georges Schteinberg

Sargento da Armée de l’Air (Força Aérea da França Livre).Morto em Combate aos 22 out 1943.Georges Schteinberg era Sargento do Groupe Lorraine de

Aviação.Sua família emigrou da Russia para a França, onde Geor-

ges nasceu. Posteriormente a família foi para o Brasil, de onde Geor-

ges se alistou nas Forças Armadas da França Livre, sediadas na Inglaterra.

Sargento Georges Schteinberg, da Força Aérea da França Livre, condecorado post-mortem com a Croix de Guerre avec Palme, por Decreto de 12 de janeiro de 1945, assinado em Paris pelo General De Gaulle.

A citação da Medaille Militaire descreve Georges como excelente metralhador, alistado desde a primeira hora na Ar-

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mée de l’Air, no 1º Esquadrão do 20º Grupo de Aviação - Lorraine.

Seu avião foi atingido por pesado fogo de artilharia antiaé-rea na costa holandesa, quando excutava uma missão de bom-bardeio a baixa altitude sobre a Holanda ocupada. Após efetuar uma missão de bombardeio rasante sobre uma fábrica de aviões próxima a Roterdam em território ocupado, a 22 de outubro de 1943, com um motor em chamas, projetou-se ao solo.

Agraciado post-mortem com a Medaille Militaire avec Pal-me, o diploma está assinado de próprio punho pelo Gen De Gaulle. O documento cita George como tendo uma morte glo-riosa frente ao inimigo.

Durante décadas uma cruz esteve sobre a sua tumba no cemitério militar frances na Holanda, até que o irmão pode providenciar a troca pela Estrela de David.

Sua sepultura no cemitério militar frances na Holanda exibiu durante 4 decadas uma cruz (reportagem de 7 / maio / 1976 na revista israelense 7 Iamim: “Cruz na Sepultura de Herói Judeu”, quando Sr Octave Schteinberg, 75 anos, resi-dente na Tijuca, visitou um outro irmão que mora em Israel), até ser substituída pela Estrela de David na decada de 80. Em volta, pode se ver inúmeras cruzes com a placa “Français non-identifié”.

Do Brasil cerca de 140 franceses, dos quais 20 a 30 exi-bem nomes judaicos seguiram de fev / 41 a set / 44 para lutar na II Guerra Mundial. Uma placa no terceiro andar da Maison de France homenageia os que morreram em combate, onde figura o nome de Georges Schteinberg, Z”L.

Os nomes constam do livreto Action des Comites France Libre au Brésil, 1940-1945.

Um retrato do General Charles De Gaule abre o livreto, com uma dedicatória de próprio punho:

Au Comite des Francaises du Brésil,(ilegível)

C. De Gaulle 25/06/42O irmão de Georges, Octave Schteinberg, viveu algum

tempo na Colônia da ICA em Resende, abandonada por bai-

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xa produtividde agrícola. As terras foram desapropriadas pelo Pres. Getulio Vargas, juntamente com outras fazendas da re-gião, para que nelas fosse erguida a Escola Militar de Resende, atual AMAN – Academia Militar das Agulhas Negras. Como na colônia existiu uma sinagoga, pode-se concluir que uma terra sagrada permeia de bons eflúvios aquele estabeleceimento de ensino militar que forma Oficiais para o Exército Brasileiro.

Octave Schteinberg residia na Tijuca tendo falecido em 2007, mas os documentos que colocou a disposição da Comis-são permitiram recuperar a memória do irmão junto a AFAC – Asociation Francaise dês Anciens Combatants de Rio de Janei-ro, identificando assim quem foi Georges, cujo nome figurava em placas no Consulado na Maison de France e no MAUSO-LÉU dos Franceses no Cemitério São João Baptista, sem que o seu sacrifício fosse conhecido.

Muitos outros nomes, vários judaicos, aguardam nas pla-cas e no Mausoléu que deles venha a ser removida a pátina do tempo, que a tudo recobre.

No 11 de novembro, data do Armistício da I Guerra Mun-dial, a AFAC promove uma visita ao MAUSOLÉU, com honras militares prestadas por uma Guarnição da Marinha do Brasil.

Gerald Goldstein

Gerald era estudante em Nova Iorque, quando resolveu se apresentar como voluntário para a Marinha Mercante americana.

Durante a guerra serviu como Oficial Rádio-Telegrafista a bordo de navios mercantes navegando em zona de guerra no Atlântico Norte e Mediterrâneo, em águas sujeitas a ataques aéreos, navais e submarinos.

Logo após a guerra imigrou para o Brasil, onde trabalhou muitos anos na área bancária.

Aposentou-se mas continuou a prestar serviços voluntários como Presidente dos Ex-Combatentes USA, e nas associações que congregam cidadãos americanos e ingleses no Brasil.

Reside com a esposa Betty em Copacabana, e possui di-versas condecorações nacionais e estrangeiras.

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Irmãos Nathan e Isac Kimelblat

Nascidos na Rússia, foram dos poucos a escapar do massa-cre dos judeus perpetrado pelas SS em sua cidade natal, escon-dendo-se nas florestas vizinhas, onde se uniram a grupos de partisans (guerrilheiros judeus), cuja história está contada em seu livro lançado em 2007 no CIB – Centro Israelita Brasileiro, com grande afluência de público, e presença de representantes diplomáticos russos.

Os irmãos emigraram para o Brasil depois da guerra, onde constituíram família e se naturalizaram.

Álbum de Fotos do Capítulo 6

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Fotos pelo Autor, e Álbuns de Família

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Legenda das Fotos do Capítulo 6

( nominatas da esquerda para a direita )

FOTO 1 - Exposição da Semana da Pátria no Clube Monte Sinai: Veterano Frances Akiba Andre Levy, Capitão Laurino, da Diretoria de Assuntos Culturais do Exército Brasileiro e o Autor.

FOTO 2 - Capa do livro dos partisans Irmãos Kimelblat, lançado em 2007 no Rio de Janeiro.

FOTO 3 - Tenente R/2 de Artilharia Abrahão Fainguelernt ao tempo em que cursava o CPOR/RJ.

FOTO 4 - Retrato do Tenente R/2 de Infantaria Pedro Kullock com a dedicatória “Para Rosa, uma lembrança do mano Pedro”.

FOTO 5 - Capitão de Longo Curso da Marinha Mercante Jacob Be-nemond.

FOTO 6 - Sargento da FAB Bernardo Stifelman, Especialista em Fo-tografia Aérea.

FOTO 7 - Marinheiro Leão Stambovski.

FOTO 8 - Radiotelegrafista da Marinha Mercante Guilherme Bessa.

FOTO 9 - 1° Tenente de Artilharia Waldemar Rosenthal e sua noiva.

FOTO 10 - Soldado Miguel Grinspan, do 1° Batalhão de Guardas em solenidade na Abadia de Westminster.

FOTO 11 - Aspecto do escritório da T. Janér, onde trabalhou Saul Antelman (assinalado pela seta).

FOTO 12 - Cabo de Cavalaria Saul Antelman.

FOTO 13 - Apresentação para os pracinhas na Itália. Adio realizou

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brilhante carreira artística, integrando a dupla de acrobatas Adio & Joe, de fama nacional e internacional, não a interrompendo nem quando servia ao exército e particularmente no Front na Itália.

FOTO 14 - Tenente R/2 de Infantaria Pedro Kullock.

FOTO 15 - Quadro de Medalhas trazidas da Itália por Adio Novak. As de baixo são alemãs.

FOTO 16 - Sargento Adio Novak na Itália.

FOTO 17 - Tenente Alberto Chahon e sua noiva baixo o palio nup-cial na Sinagoga.

FOTO 18 - 1° Tenente de Infantaria Alberto Chahon.

FOTO 19 - Alberto Chahon, Cadete da Escola Militar do Realengo, Rio de Janeiro.

FOTO 20 - Irmãos Chahon, ambos Tenentes na Itália.

FOTO 21 - Tenente Alberto Chahon na Itália.

FOTO 22 - Da. Matilde Chahon Gammal, mãe dos tenentes Chahon entrevistada pela imprensa carioca.

FOTOS 23 e 26 - Jacob David Cohen (círculo) com os colegas do Tiro de Guerra.

FOTO 24 - Soldados Jacob David Cohen com o correligionário Mair Credman e outro não identificado.

FOTO 25 - Identidade de ex-combatente do Veterano Jacob David Cohen.

FOTO 27 - Bateria de Metralhadoras onde serviu o Sargento Jacob David Cohen, orgânica do 2°/3° Regimento de Artilharia Anti-Aérea de Olinda – PE, 1942.

FOTO 28 - 3° Sargento de Artilharia da FEB Boris Schnaiderman.

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FOTO 29 - Gerald Goldstein, Presidente dos Veteranos USA no Rio de Janeiro, na missa recordatória do Armistício da 1ª Guerra Mun-dial, Igreja dos Ingleses, Rua da Matriz, Botafogo, Rio de Janeiro, em 11 nov 2007.

FOTOS 30 e 31 - Casal Betty e Gerald Goldstein com as meda-lhas nacionais e estrangeiras que recebeu. Gerald ainda veste hoje o mesmo uniforme de Oficial Radiotelegrafista que usou a bordo durante a guerra.

FOTO 32 - Gerald Goldstein reúne Veteranos em sua residência: Allain Mirabet Viallon (França), Ignacy Felczak (Polônia), Gerald Gol-dstein, Moyses Graziani (França), Melchisedech Affonso de Carvalho, Charles van Hoombeck (Bélgica) e Brigadeiro Rui Moreira Lima.

FOTO 33 - Soldado Miguel Grinspan, do 1° Batalhão de Guardas em solenidade na Abadia de Westminster.

FOTOS 34 e 37 - Soldado Miguel Grinspan, do 1° Batalhão de Guar-das em passeios por Londres.

FOTO 35 - Soldado Miguel Grinspan, do 1° Batalhão de Guardas, quando do Desfile do Dia da Vitória de 08 mai 1946 em Londres, passagem do Contingente Brasileiro diante da Tribuna de Honra.

FOTO 36 - Soldado Miguel Grinspan, do 1° Batalhão de Guardas, em confraternização com soldados gregos de saiote, em Londres, 1946.

FOTOS 38 e 40 - Tenente de Artilharia Samuel Kicis, antes de in-gressar na FEB.

FOTOS 39 e 44 – Brasão de Armas da EsAO e a Bomba em Chamas, símbolo da Arma de Artilharia, apostos na placa afixada na Sala Gen KICIS.

FOTO 41 - O mapa mostra a Bessarábia, de onde vieram os pais de Samuel Kicis, atual Moldávia, entre a Rússia e a Romênia.

Foto 42 – Placa afixada na Sala de Instrução do Curso de Artilharia

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em 01 set 2008 na Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais na Vila Militar, Rio de Janeiro, oficializando a sua denominação como - Sala General Kicis.

FOTOS 45, 46, 47, 49 E 54 - Aspectos da Sala Gen KICIS, e Turma de Artilharia do CAO 2008 da EsAO composta de 37 capitães-alunos, entre os quais 05 de Nações Amigas, Angola, Paraguay, Cabo Ver-de, São Thomé e Príncipe, quando da Inauguração em 1º set 2008 da Sala General Kicis na EsAO, presentes Da Leda Kicis, filha e Da Lucia Kicis, neta, GEN BDA JOSÉ ALBERTO DA COSTA ABREU, comandante DA ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS, o Autor E BIÓGRAFO DO HOMENAGEADO, OFICIAIS INSTRUTO-RES Maj Paiva, Cap Aquilles, Cap Brito Jr, Cap Bianco, Maj Amorim, Coord Ensino, Cap De Paula (leu o texto da placa), Tenente Coronel Claudio, Comandante do Curso de Artilharia da EsAO.

FOTO 48 - Convite para a dedicação da sala de aula do Curso de Artilharia - Sala General Kicis - em 1º set 2008 na Escola de Aperfei-çoamento de Oficiais na Vila Militar, Rio de Janeiro.

FOTOS 43, 50, 51 e 53 - Unidades onde serviu o Tenente Samuel Kicis, antes de seguir para a Itália.

FOTO 52 - Diploma do Curso de Artilharia de Costa realizado pelo Tenente Samuel Kicis.

FOTOS 55 e 56 - Tenente R/2 de Infantaria Salomão Malina.

FOTO 57 - Comandante Rodin a bordo.

FOTO 58 - Comandante Rodin durante Inspeção a bordo.

FOTOS 59 e 60 - Comandante Rodin e esposa embarcados.

FOTO 61 - O menino David Leon Rodin, futuro Comandante da Marinha Mercante.

FOTO 62 - Comandante Rodin e noiva.

FOTO 63 - Marechal Levy Cardoso e o Maj R2 Galper junto com o

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Autor no Dia da Artilharia na Vila Militar 10 jun 2008, 11° Grupo de Artilharia de Campanha, unidade FEBiana, o Grupo Montese.

FOTOS 65 e 67 - Uma as peças de 105mm integrante da Bateria de Obuses di Curso de Artilharia do CPOR/RJ leva a denominação histórica de Tem Marcos Gal per. A foto foi tirada ainda no antigo quartel da Av Pedro II que hoje abriga o 1° Batalhão de Guardas, Batalhão do Imperador.

FOTOS 64, 66, 69, 70, 72, 73 e 74 - Em sua residência de Copaca-bana, o Major R/2 de Artilharia Marcos Galper guarda recordações da guerra, junto com a esposa.

FOTO 68 - Major R/2 de Artilharia Marcos Galper na residência em Copacabana recebe o Autor para discorrer sobre a sua atuação na FEB, em 2005.

FOTO 71 - O Ten R/2 de Artilharia Marcos Galper desembarcou no Rio na véspera do Desfile da FEB na Av Rio Branco, trazendo mate-rial capturado aos alemães a bordo de um navio de transporte.

FOTOS 75 a 77 - O Veterano Melchisedec Affonso de Carvalho no Desfile Militar de 7 de Setembro em 2006 no Rio, e sendo entre-vistado pelo Programa Comunidade na TV da FIERJ, em 2007 na sede da Associação dos Ex-Combatentes do Brasil, da qual é Diretor Cultural.

FOTOS 78 e 85 - Fotos de Chahon com tocante dedicatória no ver-so. Moyses é o 1º à direita, onde escreveu no verso, em 11 de janei-ro de 1945: “se os pensamentos transportassem os seres para onde estivessem voltados, estaria agora ai para beijar carinhosamente tuas faces, querida mãe.”Moises

FOTO 79 - O menino Moyses Chahon.

Foto 80 - Moyses, 4º em pé da esquerda para a direita aparece jun-to com outros oficiais. Sentado à esquerda, o futuro Presidente da Republica, o então Tenente Coronel Humberto de Alencar Castello Branco.

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FOTOS 81 e 83 - Tenente R/2 Apolo Miguel Rezk, o maior herói da FEB, e companheiro de Chahon recebe do General Lucian Truscott, Comandante do V Exercito americano a Silver Star e a única Distin-guished Service Cross recebida por um militar brasileiro (30.03.45 Lizano de Belvedere e 19.05.45 Alessandria – Itália)

FOTO 82 - Veterano General Moyses Chahon e esposa no Monu-mento Nacional aos Mortos da 2ª Guerra Mundial.

FOTO 84 - Flâmula do Regimento Sampaio, 1° Regimento de Infan-taria da FEB, onde serviram os Irmãos Chahon.

FOTOS 87 e 90 - Fotos de Chahon na Itália, 1944.

FOTO 86 - Tenente Chahon conduzindo a Bandeira Nacional na Guarda de Honra. Em 1942 estava servindo em Florianópolis. Des-fila na Parada de 7 de Setembro. Como oficial mais moderno, coube-lhe ser o porta-bandeira na Guarda de Honra.

FOTO 88 - Cadete Chahon com sua Turma da Escola Militar do Rea-lengo, onde aparece na primeira fila, primeiro à esquerda.

FOTO 89 - Tenente Chahon e noiva no dia do casamento.

FOTO 91 - 2ª Bateria de Obuses 105mm, o Comandante Capitão Salomão Nauslausy assinalado ao centro.

FOTO 92 - Coronel de Artilharia Salomão Nauslausky quando coman-dante da EsACosAAe – Escola de Artilharia de Costa e Anti Aérea.

FOTO 93 - Salomão Nauslausky como Capitão de Artilharia Coman-dante de Bateria na FEB.

FOTO 94 - A Bateria de Salomão lançou projéteis por sobre as linhas alemães contendo folhetos em alemão e português, para contraba-lançar a propaganda nazista.

FOTOS 95 a 97 - Comissário Jacob David Niskier em fotos da época, com a Medalha de Serviços de Guerra com 3 Estrelas e identidade de Veterano.

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FOTOS 98 a 101 - No Monumento Nacional aos Mortos da 2ª. Guerra Mundial no Rio de Janeiro, o nome de Mauricio Pinkusfeld é um dos mais de 1.500 gravados mármore.

FOTO 103 - Sargento Jacob Perelmann, de Niterói-RJ e soldado da FEB confraternizam com integrantes da Brigada Judaica do Exercito Inglês, durante folga em Florenza, Itália.- Sargento Jacob Perelmann, em foto no dia que deu baixa do Exér-cito, com dedicatória para seu cunhado.- Envelope com carimbos da FEB de censura em tempo de guerra.- Uma festa de boas-vindas recebeu o Sargento Jacob e outros solda-dos no Centro Israelita de Niterói.

FOTO 104 - A ficha de Mauricio Pinkusfeld na Escola de Marinha Mercante registra que deveria concluir o Estagio a bordo, o que la-mentavelmente jamais viria a ocorrer. Ficha escolar até hoje arqui-vada no CIAGA - Centro de Instrução Almirante Graça Aranha, na Av. Brasil, Penha – RIO.

FOTO 105 – Retrato de Mauricio Pinkusfeld em sua ficha na Escola de Marinha Mercante.

FOTOS 106 e 107 - Estas são algumas das poucas fotos que lembram o jovem Comissário Mauricio Pinkusfeld, com um grupo de amigos aparentemente em excursão ao ar livre. Desaparecido com menos de 18 anos no torpedeamento do Aníbal Benévolo, em 1942.

FOTO 108 - Samuel Safker na juventude.

FOTO 109 - Jovem estudante Samuel Safker Samuel. O uniforme lembra o do Colégio Militar.

FOTO 110 - Cabo da FEB Samuel Safker com pais e irmãos, um dos quais também prestava serviço militar na ocasião.

FOTO 111 - Homenagem aos Cirurgiões Dentistas que integraram a FEB: Placa aposta na OCEx – Ocontoclinica Central do Exercito, na Rua Moncorvo Filho, próxima ao Campo de Santa, Rio de Janeiro. Uma replica encontra-se no Museu da FEB, na Casa da FEB a Rua das Marrecas 35 – Lapa – Rio.

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FOTOS 112 e 113 - Tenentes Homero Ramos Ribeiro, Ítalo Castoldi e Israel Rosenthal na Itália, 1944.

FOTO 114 - 2° Tenente R/2 de Infantaria Israel Rosenthal, na Itália em Maio / 1944.

FOTO 115 - Veterano Rosenthal em solenidade no Monumento Na-cional aos Mortos da 2ª Guerra Mundial, Rio de Janeiro, 60º Aniver-sário da Tomada de Monte Castelo em 21/02/2005.

FOTO 116 - Um jornal italiano entrevistou o então Presidente da ANVFEB Coronel Sergio Gomes Pereira e o Ten Israel Rosenthal, que posam para uma foto em frente à Casa da FEB, Rua das Marre-cas, 35 – Lapa, Rio de Janeiro.

FOTOS 117 e 118 - Tenente de Artilharia Salli Szajnferber, Itália 6/12/1944.

FOTO 119 - Diplomada da Cruz de Combate de Primeira Classe, concedida ao Tem Salli Szajnferber por ato de bravura individual.

FOTO 120 - Broni - Bandeira da 148ª. Divisão alemã capturada por ocasião da rendição em Collechio. À esquerda o Ten Salli.

FOTO 121 - Comandante de Companhia da 148ª Divisão alemã se entrega escoltado pelo Ten Salli, de sabre em punho, e 3º Sgt Luiz Albuquerque Guillardecci do 6º RI.

FOTOS 122 e 124 - Manchete em hebraico: Uma Cruz sobre o Tú-mulo do Herói Judeu.

FOTO 123 - Livreto editado pelo Comitê da França Livre relacionan-do franceses que partiram do Brasil para lutar na 2ª Guerra Mundial, entre os quais diversos judeus.

FOTO 125 - Diploma da Cruz de Guerra concedida post-mortem ao Sargento Georges Schteinberg.

FOTO 126 - Sargento George Schteinberg, integrante da tripulação do Groupe Lourraine, Força Aérea da França Livre.

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FOTO 127 - Diploma da Medalha da Cruz de Guerra com Palma, assinado de próprio punho pelo Gen De Gaulle, relatando a carrei-ra do Sargento George Schteinberg, o ataque de bombardeiros do Groupe Lorraine sobre território ocupado e sua morte gloriosa frente ao inimigo.

FOTO 128 - Erro reparado: em lugar da Cruz, a Estrela de David sobre a sepultura do Sargento Georges Schteinberg.

FOTOS 129 e 130 - Cadernos de Guerra – desenhos de Carlos Scliar, Cabo de Artilharia da FEB, sobre os 11 últimos meses da Segunda Guerra na Itália, quando registrou em desenhos “aqueles momentos terríveis que não saem da lembrança”.

FOTOS 131 a 138 - Tenente Samuel Soichet, um dos mais de 400 Tenentes R/2 oriundos dos CPORs que integraram a FEB. A história desses bravos soldados, oriundos do meio universitário, ainda hoje é pouco conhecida, encontrando-se perpetuada no Museu do Oficial R/2 no atual aquartelamento do CPOR/RJ, Av. Brasil - Bonsucesso.

FOTOS 139 a 142 - Jacob Zveiter foi Controlador de Trafego Aéreo em tempo de guerra, em bases da FAB no Brasil. Passou para a Re-serva como Tenente Coronel Especialista. O vemos em retrato de 2005, em Brasília-DF.

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Capítulo 7

Cerimônia do Dia da VitóriaMonumento Nacional aos Mortos da 2ª Guerra Mundial

Homenagem da FIERJ e Bnei Brith no Túmulo do Soldado Desconhecido - 1º de maio de 2005

Num histórico domingo do Rio de Janeiro, 1º de maio de 2005, procedeu-se ao resgate de uma memorável pági-na de nossa história comunitária que durante 60 anos, por incrível que pareça, passou em brancas nuvens. A partici-pação de judeus brasileiros nas forças de terra, mar e ar, especialmente Força Expedicionária Brasileira (FEB) duran-te a II Guerra Mundial.

Aconteceram duas emocionantes cerimônias em ho-menagem aos judeus brasileiros que participaram da II Guerra Mundial. De manhã no Monumento aos Praci-nhas, e à noite no Grande Templo Israelita, que estava lotado.

2005 foi um ano jubilar para o mundo, marcando 60 anos do Dia V-E (Vitória Aliada na Europa). No Brasil, entre muitas solenidades em 1º de maio uma homenagem no Grande Templo Israelita do Rio de Janeiro recordou os Heróis Brasileiros Judeus da II Guerra Mundial.

Foi uma concorrida Cerimônia Cívica em que a Co-munidade Judaica homenageou os brasileiros de todas as fés que tombaram no esforço de guerra contra o nazi-fas-cismo, realizada no domingo 1º de maio, às 10h da ma-nhã, no Monumento aos Mortos da 2ª Guerra, no Aterro do Flamengo, coincidindo com a belíssima cerimônia da troca da guarda realizada no primeiro domingo de cada mês, quando no rodízio entre as Forças Singulares, uma tropa da Aeronáutica passou simbolicamente a Guarda ao

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Túmulo do Soldado Desconhecido para o Exército, que durante o mes de maio assume aquela honrosa missão.

Durante a cerimônia a Banda Militar executou mar-chas alusivas e honras de estilo foram prestadas pela tro-pa diante do Túmulo do Soldado Desconhecido, tombado em todas as guerras, do qual D_us sabe o nome.

O Pavilhão Nacional foi hasteado pelo Coronel de Artilharia Salli Szajnferber, Veterano da FEB condecora-do com a Cruz de Combate de 1ª Classe, seguindo-se o toque do silêncio pelo Cabo-corneteiro Demétrio, do 3º COMAR, toque do Shofar pelo Hazan Nelson Zeitune e o acendimento das velas de uma Menorá.

Torpedeamento do Anibal Benevolo.Foi prestada uma tocante homenagem ao 2º Comis-

sário Mauricio José Pinkusfeld, desaparecido aos 19 anos no torpedeamento do navio mercante Anibal Benevolo pelo submarino nazista U-507 ao largo de Sergipe, em 1942 e cujo nome encontra-se inscrito na lápide do sub-solo do Monumento, que homenageia os cerca de 1.000 brasileiros, tripulantes e passageiros de navios mercan-tes, torpedeados por submarinos nazistas, e que tiveram o mar como túmulo, com a aposição de flores ao Túmulo do Soldado Desconhecido, sob uma chuva de pétalas de flores.

Justa homenagem prestada pela coletividade israelita, que participou ombro a ombro com seus soldados, cabos, sargentos e oficiais das Marinha de Guerra e Mercante, Exército e Aeronáutica na luta sem trégua contra a barbá-rie nazista.

É desnecessário dizer o que essa luta representou para os israelitas, e seu significado a todos os brasileiros judeus e não judeus que perderam suas vidas no front ita-liano e nos navios covardemente torpedeados em nosso litoral.

Essa grande festa cívica foi parte integrante das come-morações do 60º aniversário da Vitória Aliada na Europa. ocorridas no Brasil e no Mundo.

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Imaginário virtual AuschwitzMonumento dos Pracinhas

Artista Plástica Marlene Rubinsztajn Blajberg

O Quadro “Salve Nossos Heróis – Pracinhas do Brasil”

Como parte das comemorações dos 60 Anos do Dia da Vi-tória, a Diretoria de Assuntos Culturais do Exército promoveu Concurso de Pintura sobre temas alusivos a Força Expedicio-nária Brasileira.

A Artista Plástica Marlene Rubinsztajn Blajberg concorreu com um quadro o qual foi selecionado para exposição, cujo embasamento incorporamos a esta obra, agradecendo a genti-leza da autora.

Salve Nossos Heróis – Pracinhas do Brasil - 60 anosdo Dia da Vitória - 1945 - 8 de maio - 2005.

A artista tira partido do imaginário virtual, conectando o portão do famigerado Campo de Concentração de Auschwitz na Polônia ocupada pelos nazistas, abrindo-se a uma imagem de libertação passada pela luta dos Pracinhas pela Democra-cia, simbolizada no belo Monumento Nacional dos Mortos da II Guerra Mundial, enaltecendo a contribuição da FEB e do Brasil, com luta e vidas, para a derrota da Alemanha Nazista e libertação dos inomináveis campos de extermínio.

O distico “Arbeit Macht Frei” significa em alemão “O Tra-balho Liberta”.

Assim os nazistas iludiam os que iam morrer nas câmaras de gás, tendo seus corpos cremados em seguida depois de des-pojados de todos os pertences.

Ainda hoje pode se ver no Museu estabelecido sobre as instalações de Auschwitz as salas que guardavam tais despo-jos. Cada sala abarrotada de um determinado item.

Aproveitavam os dentes de ouro, os óculos, as pernas mecani-cas, os cabelos, a pele para abajures, a gordura para sabão humano.

Inconcebível, mas verdadeiro. Era como se fosse um mata-douro. Só que, como no poema de Drummond, “... não eram bichos... ... eram homens ...”

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Cerimônia dos 60 Anos do Dia da Vitória(Fotos de Jayme Finkel e do Autor)

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Legenda das Fotos do Capítulo 7

60 Anos do Dia da Vitória - Monumento Nacional aos Mortosda 2ª Guerra Mundial - Homenagem da FIERJ e Bnei Brith

no Túmulo do Soldado Desconhecido, em 1° De maio de 2005

FOTO 1 - Eng José Alberto Chahon, filho do Gen Chahon, Veterano David LAvinski, de Nova Lima – MG, Dra Vera Lucia Chahon, filha do Gen Chahon, o Autor e a esposa, Marlene Rubinsztajn Blajberg, Arquiteta e Artista Plástica.

FOTO 2 - Integrantes da Comissão: o Autor, Jayme Gersberg, Leila Velger, Fanny Lewin, Rosita Naidin, Eng Ruy Flaks Schneider, Presi-dente do Grande Templo Israelita, Anna Bentes Bloch.

FOTO 3 - Aspecto parcial do publico presente no domingo 1° de maio de 2005 no MNM2GM.

FOTO 4 - Cabo Corneteiro Demétrio, do 3°. COMAR, e Dr Nelson Menda, da Comissão Organizadora.

FOTO 5 - O Autor e Dr Miguel Grinspan.

FOTO 6 - Acenderam as velas do candelabro ritual: Veterano David LAvinski, de Nova Lima – MG, Sr Alexandre Henrique Laks, Presi-dene da Associação dos Sobrevivents do Holocausto, Eng Samuel Benoliel, Presidente da Bnei Brith, Ministro Waldemar Zveiter, Ruy Flaks Schneider, Presidente do Grande Templo Israelita, Sr. Henri El Mann, Presidente da Sinagoga Beth El do CIB – Centro Israelita Brasileiro, e o Autor.

FOTO 7 - Veterano Melchisedec executa a continência durante o toque do Shofar.

FOTO 8 - Maj Galper e Cel Frazão executam a continência durante o toque do Shofar.

FOTO 9 - Dr Miguel Grinspan assina o Livro de Honra do Monumento.

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FOTO 10 - Veteranos Melchisedech e Galper ladeando Cel Frazao, Administrador do MNM2GM.

FOTO 11 - Cantor litúrgico Nelson Zeitune, que pronunciou a ora-ção e o toque da corneta ritual (Shofar) de chifre de carneiro, entre um membro da equiep de filamegem e o Cabo Demétrio.

FOTO 12 - Veterano Israel Rosenthal, Presidente do Conselho Fiscal da ANVFEB, entrevistado pela TV GLOBO.

FOTO 13 - O Autor entrevistado pela TV GLOBO.

FOTO 14 - Major Marcos Galper entrevistado pela TV GLOBO. Cel Frazao e Anna Bentes Bloch.

FOTO 15 - Veterano Melchisedec Affonso de Carvalho assina o Li-vro de Honra do Monumento.

FOTO 16 - Quadro da Artista Plástica Marlene Rubinsztajn Blajberg, tirando partido do virtual imaginário Auschwitz – Monumento Na-cional aos Mortos da Segunda Guerra Munidal, exposto no Con-curso dos 6º Anos do Dia da Vitória, promovido pela Diretoria de Assuntos Culturais do Exército Brasileiro.

FOTO 17 - Toque de Silêncio pelo Corneteiro do 3° COMAR. Co-ronel de Cavalaria José Roberto Marques Frazão (4°) e Dr. Miguel Grinspan (9°).

FOTO 18 - Tenente R/2 de Artilharia Ney, da Associação dos Ex-Alu-nos do CPOR/RJ, – Profª Dorotea Lola Grossman Pinkusfeld, irmã do 2º Comissário Maurício José Pinkusfeld e neto, o Autor e Dr. Miguel Grinspan, Veterano do 1° Batalhão de Guardas.

FOTO 19 - Integrantes da Comissão Organizadora junto a exposição do CVMARJ – Clube de Viaturas Militares Antigas do Rio de Janei-ro: Jaime Gersberg, Fanny Lewin, Rosita Naidin, Eng Ruy Schnei-der, Anna Bentes Bloch, o Autor, Eng Samuel Benoliel, Sylvia Cohn GAlli, Leila Velger, Dr Jacob Guterman, Z”L.

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Capítulo 8

Cerimônia do Dia da VitóriaGrande Templo Israelita - 1º de maio de 2005

Rua Tenente Possolo, Centro - RIOHomenagem da FIERJ e Bnei Brith

No dia 8 de maio de 2005 comemorou-se em todo o mundo o Dia da Vitória Aliada na Europa. Em Israel, uma ce-rimônia no Yad VaShem reuniu cenenas de Veteranos Judeus que integraram os Exércitos Aliados, especialmente america-nos, soviéticos, britânicos, franceses, canadenses, poloneses livres.

O primeiro-ministro Ariel Sharon e o Chefe do Estado Maior, General Moshe Yaalom, único general de 2 estrelas das Forças de Defesa de Israel enalteceram os veteranos ju-deus.

O Ministro da Defesa da Polônia, em visita a Israel na ocasião, devolveu para um antigo oficial polonês judeu o posto de tenente, do qual fora destituído em 1967, sob a alegação de ser judeu. Coincidentemente, este oficial é um funcionário da Israel Aircraft Industries, que o Ministro es-tava visitando no âmbito de um acordo com Israel, que irá modernizar aviões da Força Aérea Polonesa.

No Brasil também aconteceram cerimônias, no âmbito da comunidade maior, bem como uma que se destacou pela grandiosidade e ineditismo, a homenagem prestada por uma Comissão formada pela Bnei Brith, que teve também partici-pação de outras entidades, a qual levantou os nomes ate então quase desconhecidos de 42 Veteranos Judeus Brasileiros da II Guerra Mundial.

Tudo foi realizado também nos devidos lugares: O Gran-de Templo, hoje sem público e clientela mas o maior monu-

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mento físico e bela presença Judaica nesta cidade, completa-mente tomado e resplandescente em seus dois andares, e o Monumento Nacional aos Mortos da II Guerra Mundial, no Aterro do Flamengo.

A participação dos veteranos brasileiros judeus siquer está registrada no Jewish War Veterans Museum de Latrun, Israel, lacuna esta que agora poderá ser suprida.

Antecipada de uma semana, para não coincidir com as comemorações oficiais no Monumento aos Mortos da Segun-da Guerra Mundial, ocorreu no dia 1º de maio de 2005 a solenidade alusiva ao Dia da Vitória, no Grande Templo Isra-elita do Rio de Janeiro, homenagenado os Heróis Brasileiros Judeus da II Guerra Mundial.

Provavelmente o número exato jamais será conhecido. D_us sabe os seus nomes. A Comissão pesquisou as listas dos soldados que participaram das operações bélicas contra a Alemanha Nazista, conseguindo levantar o número de 42 soldados, muitos já falecidos e mesmo após a solenidade en-cerrada tomaram conhecimento de outros não levantados nas listas prévias.

Os 42 nomes arrolados representam um percentual eleva-do para a comunidade judaica da época, nucleada em imigran-tes, portanto dispensados do Serviço Militar; assim, foram os filhos desta geração de imigrantes que voluntariamente acor-reram ao chamado da Pátria que acolhera seus pais e avós.

Foi emocionante a cerimônia em homenagem aos judeus brasileiros que participaram da II Guerra Mundial, à noite, no Grande Templo Israelita. O evento foi uma iniciativa conjunta da FIERJ, B’nai B’rith, Grande Templo, Museu Judaico, Conse-lho Sefaradi e organizações femininas.

A Cerimônia inicou-se com o Templo lotado, com a en-trada das Bandeiras e Estandartes Históricos da Associação Nacional dos Veteranos da FEB, Associação dos Ex-Comba-tentes do Brasil, Associação de Ex-Alunos do CPOR, Conselho Nacional dos Oficiais da Reserva, e Associações de Ex-Com-batentes das Nações Amigas, Polonia, USA, França, Bélgica e Reino Unido, ao som da Canção do Expedicionário.

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Presentes o Marechal Waldemar Levy Cardoso, 104 anos, único Marechal vivo do Exército Brasileiro, e filho de Da. Stella Levy. Atual detentor do Bastão de Comando da FEB, General de Brigada Helio Macedo, Chefe do Estado Maior do Comando Militar do Leste, General de Divisão Roberto Viana Maciel dos Santos, Diretor de Assuntos Culturais do Exército e ex-Adido Militar em Israel (de kipá), Almirante Castro Leal, Comandante do I Distrito Naval, Brigadeiro Paulo Hortênsio, Comandante do III Comar, Adido Naval Adjunto americano Cap de Fraga-ta Glenn Rosen, Secretário de Segurança Marcelo Itagiba re-presentando a Governadora Rosinha Garotinho, Secretário de Cultura Arnaldo Niskier, e o Ministro Waldemar Zveiter.

Houve 2 Mesas sobre “A Participação do Brasil na 2ª Guerra Mundial” e “Brasileiros Judeus Que se Destacaram no Front”, com palestras do embaixador e acadêmico Sér-gio Correa da Costa, pesquisador Luiz Benyosef, Coronel Sérgio Gomes Pereira e o engenheiro e professor Israel Bla-jberg, seguindo-se exibição de trechos do Documentário “A Cobra Fumou“ O escritor Moacyr Scliar não pode com-parecer, enviando um depoimento sobre seu primo Carlos Scliar, que foi lido na ocasião.

A Banda do Regimento Avaí encantou o público, assim como a Ala de Lanceiros do Regimento Andrade Neves em seus uniformes históricos, e a entrada dos Estandartes Histó-ricos de unidades FEBianas e Associações de Ex-Combatentes Nacionais e Estrangeiras, ao longo da Guarda de Honra da Marinha do Brasil em uniformes brancos.

A apresentação de Anna Bentes Bloch e a nominata com entrega dos diplomas a Veteranos e Familiares, ao som da Canção do Expedicionário emocionou a todos os presentes.

Por iniciativa da comisão que se formou através da Bnei Brith e outras, após a tomada de decisão de se levar adiante o empreendimento a comissão teve que levar a efeito verda-deiro trabalho de pesquisa para levantar os nomes pela inexis-tência de um cadastro comunitário a respeito. Foram e eram até então um contingente de anônimos na comunidade, não reconhecidos publicamente.

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Durante a cerimônia no Grande Templo houve a no-minata de todos os ex-combatentes judeus, com entrega de placas comemorativas aos presentes ou seus familiares ao som da Canção do Expedicionário, brilhantemente execu-tada pela Banda de Música do Regimento Avai, o 2 de Ouro da Vila Militar, diante dos Comandantes Militares de Área, 1º DN, 3º COMAR e o Chefe do Estado Maior do CML – Comando Militar do Leste.

O Kadish, Oração fúnebre em hebraico, foi pronunciado pelo Rabino Henry Sobel em memória dos Brasileiros de to-das as fés que tombaram nos campos de batalha, dos inocen-tes que morreram nos navios torpedeados em nosso litoral e dos 6.000.000 de judeus assassinados pelos nazistas.

O Hazan (Cantor litúrgico) Nelson Zeitune realizou o to-que do Shofar (Chifre de carneiro utilizado como instrumento de sopro em rituais judaicos), seguido do Toque de Silêncio pelo Corneteiro da Aeronáutica, Cabo Demétrio.

Há muito não via tanta sintonia fina entre o desejo since-ro de reverenciar uma bela história do engajamento libertário no Brasil e a realização de um evento a respeito.

A Interpretação do Hino Nacional Brasileiro pela cantora Itha-mara Koorax emocionou os presentes, bem como as falas tocan-tes do Cel Salli Szanferberr representando os Veteranos presentes, e da Dra Vera Lucia Chahon, representando os familiares.

Ao final ocorreu a Abertura da Exposição “Cadernos de Guerra”, 40 desenhos de Carlos Scliar elaborados durante o conflito, no salão de festas do Grande Templo.

O impacto que o evento teve sobre a opinião pública em geral e a comunidde judaica em particular foi bastante signi-ficativo.

A Rede Globo promoveu extensa divulgação. As home-nagens prestadas no Monumento foram transmitidas pela Globonews durante todo o domingo e na segunda-feira foram destaque no Bom-Dia Rio e RJ-TV.

O Programa da FIERJ Comunidade na TV do domingo se-guinte as 9h da manhã pela TV Record foi totalmente dedica-do aos eventos, com grande audiência.

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Cerimônia do Dia da Vitória Homenagem da FIERJ e Bnei Brith(Fotos de Jayme Finkel e do Autor)

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Legenda das Fotos do Capítulo 8

A Cerimônia do Dia da Vitória foi realizada em um localhistórico, o Grande Templo Israelita, Rua Tenente Possolo, Centro do RIO, hoje um monumento tombado. A Homenagem da FIERJ e

Bnei Brith reuniu dezenas de Veteranos e familiares.

FOTO 1 - Dr Marcelo Itagiba, Prof Arnaldo Niskier, Eng Osias Wur-man, Ministro Waldemar Zveiter, General de Exército Antônio Joaquim Soares Moreira, ex-Chefe do Estado Maior do Exército e ex-Presidente do STM - Superior Trinbunal Militar, ao lado do seu sogro, Marechal Waldemar Levy Cardoso, Detentor do Bastão de Comando da FEB, à época com 104 anos.

FOTO 2 - Ministro Waldemar Zveiter ao receber o diploma do seu irmão, Tenente Coronel da FAB Jacob Zveiter, ladeado por dois Ve-teranos polneses.

FOTO 3 - Presidente da FIERJ Eng Osias Wurman dirige-se ao públi-co presente.

FOTO 4 - Dr Ruy Flaks Schneider, Presidente do Grande Templo Israelita, que sediou o evento.

FOTO 5 - Dr Samuel Benoliel, Presidente da Bnei Brith dirigindo-se ao público presente.

FOTO 6 - Dr Osias Wurman Presidente da FIERJ saúda as Autorida-des Civis e Militares presentes.

FOTO 7 - Parte do público estimado em mil pessoas que lotou o Grande Templo. Em primeiro plano o Veterano Cabo de Artilharia David Lavinski, vindo de Nova Lima – MG para o evento, Chico Scliar, filho do ex-combatente e Pintor Carlos Scliar e Curador da Fundação Carlos Scliar, e o filho de Salomão Malina.

FOTO 8 - Dr. Osias Wurman, Presidente da FIERJ, em vibrante pro-nunciamento.

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FOTO 9 - O Autro com o General Helio Chagas de Macedo Ju-niro, Chefe do Estado Maior, representando o General Domin-gos Curado, Comandante Militar do Leste, que se encontrava em Brasília.

FOTO 10 - Anna Bentes Bloch foi a apresentadora deste histórico e inesquecivle evento.

FOTO 11 - Presidente da Bnei Brith Eng Samuel Benoliel recebe o Rabino Sobel, com uma Ala de Lanceiros do Regimento Andrade Neves em uniformes históricos guarnecendo a entrada do Grande Templo.

FOTO 12 - Brigadeiro Rui Moreira Lima, herói do 1° Grupo de Aviação de Caça, o Senta-a-Pua (3° Da esquerda); Visão geral do recinto, com público estimado em mil pessoas que lotou o Grande Templo.

FOTO 13 - Veteranos Moyses Graziani (França) Jonh Mason e espo-sa (Inglaterra).

FOTO 14 - Bandeira Nacional portada por um Tenente do Regimen-to Sampaio, Estandartes da Associação dos Ex-Alunos do CPOR/RJ, portado pelo Tenente R/2 de Infantaria Clovis Benchaia Cardoso, e da ANVFEB pelo Tem R/2 de Engenharia Roberto Eduardo Albino Brandão.

FOTO 15 - Ten R/2 Israel Zuckerman conduz o Estandarte do CNOR.

FOTO 16 - Veterano Frances Akiba Andre Levy.

FOTO 17 - Chegada ao Templo dos Veteranos Franceses (bibico azul) Akiba Andre Levy e Moyses Graziani (com o estandarte da AFAC), e poloneses (boina preta) Cap Ignacy Felcszak, Presidente da Associacao dos Ex-Combatentes Poloneses (com bracaeira).

FOTO 18 - Apresentadora Anna Bentes Bloch, Tenente R/2 de In-fantaria Israel Zuckerman, portando o Estandarte do CNOR – Con-selho Nacional de Oficiais da Reserva, homenageando os 8 Oficiais R/2 judeus formados nos CPORs.

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FOTO 19 - O Autor proferindo a palestra “General de Divisão Sa-muel Kicis – Veterano da FEB – A Carreira Exemplar de um Soldado Brasileiro de Fé Mosaica”.

FOTO 20 - Dr. Jayme Gudel, Dr. Marcelo Itagiba, Secretário de Se-gurnaca representando o Governador, Dr. Israel Klabin, Rabio Henry Sobel, o Autor, Marechal Levy Cardoso, Embaixador Sérgio Correia da Costa.

FOTO 21 - Major R/2 Marcos Galper e esposa, ladeado pelo sobri-nho Eng Johnny Galper, membro da ADESG de Uberlândia - MG.

FOTO 22 - A Bandeira Nacional dá entrada no recinto ao longo da Guarda de Honra formada por alas de Marinheiros do 1° Distrito Naval, ao som do Hino a Bandeira.

FOTOS 23 e 24 - O material promocional do evento utilizou como marca a foto histórica da Bateria comandada pelo Capitão Samuel Kicis, graças a sua filha, Dona Leda Kicis, que cuidadosamente pre-servou o acervo histórico de seu pai.

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Capítulo 9

Dia da Recordaçãodos Heróis e Mártires

do HolocaustoDomingo 15 de Abril de 2007 às 10 h

MNM2GM - Monumento Nacional aos Mortosda 2ª Guerra Mundial

Homenagem ao Soldado Desconhecido

A FIERJ – Federação Israelita do Estado do Rio de Ja-neiro, em nome da comunidade judaica fluminense, com a colaboração da Administração do MNM2GM celebrou cerimônia recordatória e Ato Cívico com a Participação de Civis e Militares em Homenagem ao Soldado Desco-nhecido Brasileiro e aos Heróis que tombaram no Levan-te do Gueto de Varsóvia, no exato local onde aos 22 de dezembro de 1960, o Presidente Juscelino Kubistchek de Oliveira recebeu das mãos do Marechal João Batisa Mas-carenhas de Moraes, Comandante da Força Expedicionária Brasileira, uma urna com os restos mortais de um soldado brasileiro desconhecido, morto em combate durante a 2ª Guerra Mundial.

A partir de então, naquele local passaram a ser presta-das as homenagens aos bravos que sacrificaram suas vidas no Holocausto da Pátria por ocasião da segunda Guerra Mundial.

Tal ato recordatório visou que a data tivesse maior al-cance junto a Sociedade Fluminense, marcando efeméride tão significativa, colaborando para que principalmente as

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novas gerações sejam educadas a lutar contra o racismo, preconceito, ódio e intolerância, com os valores humanos e morais desta ação imprimindo marcante efeito positivo junto ao grande público.

Durante a Segunda Guerra Mundial, tanto o Brasil quanto a Polônia, ainda que ocupada, combateram um ini-migo comum: o Nazismo.

No caso da Polônia, as forças que defrontaram os na-zistas eram semi-regulares, ou seja, a Resistência Polone-sa, cuja expressão máxima se deu no Levante de Varsóvia (1944), e a Organização Judaica Combatente, que lutou bra-vamente no Levante do Gueto de Varsóvia (abril de 1943).

Portanto o Dia do Soldado Polonês, também come-morado em agosto no MNM2GM e o Dia da Recordação dos Heróis e Mártires do Holocausto guardam estreita cor-relação com a homenagem aos Soldados Desconhecidos Brasileiros: estas 3 forças lutaram pelos mesmos ideais de democracia e liberdade, contra o mesmo inimigo.

Dia 15 de abril de 1943 marcou o início do Levante do Gueto de Varsóvia. Nesta data rende-se uma homenagem aos Mártires, vítimas indefesas do Holocausto, e aos Heróis que tombaram resistindo em luta desigual.

Após 27 dias a batalha final ocorreu na Rua Mila 18, o bunker que abrigava o Posto de Comando da ZOB – Orga-nização Judaica Combatente.

O Levante do Gueto foi o primeiro na Europa domina-da pelos nazistas, e inspirou o grande Levante de Varsóvia de 1944, desta vez de toda a população da cidade.

Em tributo a revolta, 19 de abril foi escolhido para sim-bolizar o Dia do Holocausto e do Heroísmo.

É também um dia de orações em memória aos 6 mi-lhões de vítimas civis do Holocausto.

Assim, neste Monumento que homenageia os brasilei-ros mortos na Segunda Guerra, a FIERJ prestou homenagem a estes bravos, associando-a também às vítimas e heróis do Holocausto, lutadores contra o mesmo inimigo nazista, apondo uma coroa de flores junto ao Túmulo do Soldado

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Desconhecido, com a finalidade de homenagear e manter viva a imagem dos heróis que, no anonimato, lutaram até o sacrifício da própria vida.

Participaram Autoridades Militares, Veteranos da AN-VFEB e Conselho, Veteranos das Nações Amigas (Polônia, Inglaterra, França, EUA e Bélgica).

Representações Militares, Representações Governa-mentais, Diretoria da FIERJ, Entidades da Comunidade Ju-daica e um grande público de mais de 200 pessoas.

A emoção tomou conta de todos, quando o Corneteiro executou o Toque de Presença de Ex-Combatentes, já que encontravam-se presentes nesta solenidade ex-combatentes da FEB, prestando assim a merecida homenagem àqueles que com sacrifício, bravura e glória, souberam defender a honra da Pátria e os ideais de liberdade e democracia.

Em homenagem ao soldado desconhecido a banda exe-cutou o refrão do monumento, de autoria do ten Paulo de Paula Pimentel, quando todos os militares presentes presta-ram a continência individual.

Foi aposta uma coroa de flores junto ao túmulo do sol-dado desconhecido brasileiro, simbolizando com este gesto o reconhecimento ao soldado brasileiro que como os heróis do levante do Gueto de Varsóvia sacrificou a sua vida em prol da liberdade, enquanto a banda executava a canção do expedicionário.

Foi acendido o candelabro com 6 velas em respeito à memória das vítimas, simbolizando os 6 milhões de desapa-recidos no holocausto.

O corneteiro executou em seguida o toque de silêncio, enquanto uma chuva de pétalas de rosas caia sobre a pla-taforma do monumento, sendo prestada a continência ao soldado desconhecido simbolizando o respeito e o reconhe-cimento a todos os que morreram em combate na Segunda Guerra Mundial, pela restauração da liberdade e da demo-cracia no mundo.

A banda de música executou brilhantemente o o hino dos partisans, relembrando o sacrifício daqueles heróis que

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tombaram pela liberdade. Foi a primeira vez que uma ban-da militar execcutou o Hino dos Partisans, no Brasil.

O Encerramento com o Hino Nacional Brasileiro galva-nizou os presentes a esta histórica cerimônia, que marcou época e que doravante deverá ser realizada anualmente, sempre recordando o heroísmo e o martírio tanto das víti-mas e heróis do Holocausto quanto das vítimas civis nacio-nais e bravos militares brasileiros.

Ao final as Autoridades Presentes assinaram o Livro de Honra do Monumento e os presentes visitaram o Museu e Mausoléu.

Alexandre Henrique Laks

Uma das figuras mais carismáticas presentes foi umSobrevivente do Holocausto, Sr. Alexandre Henrique Laks.

Natural de Lodz na Polônia, o Senhor Laks foi prisioneiro do Gueto durante quase toda a II Guerra Mundial, executando trabalho escravo infantil. Em agosto de 1944 com 17 anos foi deportado para o Campo de Extermínio de Auschwitz, tendo sobrevivido milagrosamente até 27 de janeiro de 1945, data em que o Campo foi libertado. Esta data foi designada pela ONU como o Dia Mundial da Lembrança do Holocausto.

O Senhor Laks imigrou para o Brasil após a guerra. Hoje é naturalizado, com filhos e netos brasileiros, sendo Presidente da Associação Brasileira dos Sobreviventes do Holocausto – Seção Rio de Janeiro. (Sherit Hapleitá em hebraico)

Aos 80 anos, dedica-se a ministrar palestras em escolas, universidades e eventos. É autor do livro “O Sobrevivente – Memórias de um Brasileiro que Escapou de Auschwitz”, edita-do pela Record em 2000, com várias re-edições e prefaciado pelo Pe. Jesus Hortal Sanches, SJ, Reitor da PUC-RIO. O Se-nhor Laks costuma autografar o livro com a mensagem “Que o meu passado não seja o futuro de ninguém”.

Especialmente nos dias que correm, quando lamentavel-mente retornam as mesmas ameaças de fanatismo e intolerân-

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cia, é fundamental manter viva a memória do Holocausto. A pretexto de uma pseudoteoria racista que discriminava mino-rias, pretendendo-as inferiores, foram exterminados ignominio-samente milhões de seres humanos inocentes, entre judeus, ciganos, deficientes físicos, homossexuais, doentes mentais, dissidentes políticos.

As palestras do Sr. Laks enfatizam valores humanísticos e morais, mostrando a importância da defesa dos direitos hu-manos, negação do preconceito, racismo e intolerância, temas fundamentais para professores e estudantes em geral.

São mensagens de alerta e esperança em tempos melho-res, a fim de evitar que tais fatos possam se repetir, que via de regra muito sensibiliza os que a assistem.

Hino dos Partisans(Combatentes da Resistência Judaica)

Letra: Hersh Glick (1920-1944)Musica: Dimitri Pokras (1889-1978)

(Tradução livre do yiddish pelo Autor)

A execução do Hino dos Partisans por uma Banda Militar foi um acontecimento único não so no Brasil, mas queremos crer, em todo o mundo. Apenas em Israel temos conhecimento de que o Hino é executado por bandas militares em cerimônias realizadas no Yad Vashem em Jerusalém, o instituto e museu que preserva a memória do Holocausto.

Nunca digas que este é o último caminho...Ainda que nuvens de chumbo toldem o azul do ceu.

Chegou a hora que tanto esperávamos.Marchando ao som dos tambores - aqui estamos!

Da terra de verdes palmeiras ou coberta pela branca neve,viemos com dor, mas determinação.Onde quer que nosso sangue seja derramado,

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há de brotar nossa fé e valor.Um dia o sol brilhará sobre nós,enquanto o inimigo desaparece no passado.

Mas se a alvorada tardar demais a chegar,que esta canção seja uma bandeira, de geração em geração.

Ela não foi escrita com tinta, mas a sangue.Não é o canto de um pássaro em liberdade.

Um povo entre muralhas que tombam,cantou esta canção de armas na mão!

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Dia da Recordação do Holocausto e HeroísmoDomingo 15 de abril de 2007 no MNM2GM

(Fotos de Jayme Finkel e do Autor)

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Legenda das Fotos do Capítulo 9

Dia da Recordação dos Heróis e Mártires do Holocausto,domingo 15 de abril de 2007 às 10 h no MNM2GM

Monumento Nacional aos Mortos da 2ª Guerra MundialHomenagem ao Soldado Desconhecido

FOTO 1 - Sr Laks ladeado por dois jovens do Movimento Juvenil Hasho-mer Hatzair,Sergio Niskier, Presidente, o Autor, Sra Helena Honigman, Diretora de Eventos, Claudia Grabois, Diretora de Inclusão Social, e Da. Lea Lozinsky e Eng Jayme Salim Salomão, Vice- Presidentes da FIERJ.

FOTO 2 - A flor branca emergindo do arame farpado simboliza a esperança em dias melhores para a Humanidade.

FOTO 3 - General Beraldo, Major Elza Cansanção Medeiros, Enfer-meira da FEB, o Autor e o Tenente R/2 de Artilharia Luiz Eugenio Bezerra Mergulhão, da Associação de Ex-Alunos do CPOR/RJ e Grão Mestre do Esquadrão Tenente Vaz.

FOTO 4 - Em segundo plano, entre os já citados, de paletó branco o Veterano da FAB Sandoval Alvarenga.

FOTO 5 - Continência ao Soldado Desconhecido.

FOTO 6 - Sr Alexander Henryk Laks sobrevivente do Holocausto, acende uma das 6 velas evocativas dos 6 milhões de mártires do Holocausto. Ao fundo a representação da Associação dos Veterans do Corpo de Fuzileiros Navais.

FOTO 7 - Veteranos Gerald Goldtein, Akiba André Levy, Sr Alexan-dre Laks, o Autor e Sergio Nislier.

FOTO 8 - Grupo de jovens de movimentos juvenis com Sr Laks e Diretores da FIERJ.

FOTO 9 - Cel Amauri agrdece pela palestra e entrega um Diploma ao Sr Laks.

FOTO 10 - Tem Rosenthal, Eng Niskier, Sr Laks e o Autor.

FOTO 11 - Homenagem diante da Chama Etena e Túmulo doSolda-

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do Desconhecido: o Autor, Eng Sergio Niskier, Presidente da FIERJ, General de Divisão Roberto Viana Maciel dos Santos, Diretor de Assuntos Culturais do Exército Brasileiro, e ex-Adido de Defesa em Tel-Aviv, Tem Israel Rosenthal, Presidente do Conselho Deliberativo da ANVFEB e Ten Melchisedec Affonso de Carvalho.

FOTO 12 - Parte do público presente. Em primeiro plano, Capitão Ignacy Felczak, Capitão Osias Machado da Silva, herói do 1° Grupo de Aviação de Caça, o Senta-a-Pua, Vet Allain Mirabet-Viallon, Prsi-dente da Association rancaise dês Anciens Combattants, do Rio de Janeiro, e o Autor.

FOTO 13 - Vista parcial do público presente.

FOTO 14 - Veteranos John Mason, Presidente da Royal British Legion no Rio de Janeiro e esposa, Vet Charles van Hombeeck, Presidente da Sociedade Belga de Beneficiencia, o Autor e netinho Daniel, de 4 anos, Capitão Ignacy Felczak, Presidente da SPK – Veteranos Polo-neses e Tem Melchisedech Affonso de Carvalho, Diretor Cultural da Associação dos Ex-combatentes do Brasil.

FOTO 15 - Coroa aposta junto a Chama Eterna: “AO SOLDADO DESCONHECIDO BRASILEIRO E AOS HERÓIS DO LEVANTE DO GUETO DE VARSÓVIA”.

FOTO 16 - Autoridades presentes formam o dispositivo para abertu-ra da cerimônia.

FOTO 17 - Eng Sergio Niskier, General de Divisão Roberto Viana Maciel dos Santos, Vice-Chefe do DEP – Departamento de Ensino e Pesquisa do Exército Brasileiro, e ex-Adido de Defesa em Tel-Aviv, General João Tranquilo Beraldo, Diretor de Assuntos Culturais do Exército Brasileiro, Tenente Israel Rosenthal e o Sr Alexander Henryk Laks, Presidente da Associação dos Sobreviventes do Holocausto – Rio de Janeiro.

FOTO 18 - Eng Sergio Niskier, Presidente da FIERJ, traça um paralelo recordando os ex-combatentes brasileiros da 2ª Guerra Mundial e do Levante do Gueto de Varsóvia, todos lutadores pela mesma causa.

FOTO 19 - No Auditório do Monumento, o Sr Alexandre Henrik Laks, sobrevivente do holocausto, deu o seu emocionante testemunho. Pre-sentes Eng Sergio Niskier, Presidente da FIERJ, o Autor e o Administra-dor do Monumento, Coronel de Artilharia Amauri Santos de Oliveira.

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Capítulo 10

Dia da Recordaçãodos Heróis e Mártires

do HolocaustoSegunda 16 de Abril de 2007 às 19 h

Sinagoga de Copacabana

No dia seguinte, segunda-feira 16 de abril às 19 h realizou-se o Ato Religioso do Dia da Recordação, na Sinagoga de Copacaba-na - Rua Capelao Alvares da Silva 15, Copacabana - Transversal a Figueiredo Magalhaes após Toneleros e Metro Siqueira Campos.

O Dia da Recordação dos Heróis e Mártires do Holocausto (Yom Hashoá veha Gvurá em hebraico) lotou completamente a Sinagoga Kehilat Yacov (Copacabana), reeditando as grandes reuniões que no passado congregavam a comunidade judaica nesta data tão significativa.

O presidente da sinagoga, Dr. Salomão Binesztok, abriu o ato solene convidando a Banda Sinfônica da Guarda Municipal a executar o Hino Nacional Brasileiro.

Seguiu-se a leitura pelo jovem José Mauricio Uris, do Kiruv (organização juvenil religiosa), da proclamação anunciada pela rádio clandestina para o Mundo Livre, pelo Comandante da Re-volta, o jovem de 24 anos Marcos Anilevitch, transmitida do Pos-to de Comando da ZOB - Organização Judaica Combatente na Rua Mila 18, na noite de 19 de abril de 1943, em que se iniciou o Levante do Gueto de Varsóvia, ouvida com grande emoção pelos presentes.

Sobreviventes acenderam as seis velas: Miriam Glat (repre-sentando seu pai Freddy Glat), Alfred Sobotka, Simon Moskal,

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Zalman Grossman, Bela e Yosef Luftman, e Samuel Rosemberg, que relatou a sua vivência na Bélgica ocupada quando, com ape-nas 12 anos, passou por duras provas.

O rabino Eliezer Stauber pronunciou as orações do Kadish, Yzkor e El Malé Rachamim, alternados com pronunciamentos de Aleksander Laks, Sergio Niskier, da FIERJ, e Flavio Segalis, do Conselho Juvenil Judaico.

O ex-partisan Isac Kimelblat fez um tocante relato da epo-péia que ele e seu irmão Natan viveram junto com mais 28 jo-vens que escaparam do massacre de três mil judeus da sua cidade natal, e que se uniram a tropas russas para combater os nazistas de dia, escondendo-se a noite na floresta.

Encerrando a cerimônia, e a Banda Sinfônica da Guarda Muni-cipal interpretou o “Hino dos Partisans” (“Zog Nit Kein Mol”) e foi feita uma homenagem a quatro ex-combatentes: tenente Melchise-dech Affonso de Carvalho, da Marinha do Brasil; veterano Sando-val Alvarenga, do 1° Grupo de Aviação de Caça (Senta a Pua); Ofi-cial de Radio da Marinha Mercante Americana Gerald Goldstein, presidente dos veteranos EUA; e Krzysztof Gluchowski, da Armya Krajowa polonesa, que combateu no Levante de Varsóvia.

O evento foi organizado pela FIERJ, com apoio do rabino Elie-zer Stauber e Aleksander Henrik Laks, presidente da Sherit Hapleitá.

Foto 1

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Legenda das Fotos do Capítulo 10

FOTO 1 - Pronunciamento do Eng Sergio Niskier, Presidente da FIERJ. Na Mesa: Eng Jayme Salim Salomão, VP da FIERJ, Sr Laks, Rabino Stauber, Dr Binensztok, Dra Lea Lozinsky, VP da FIERJ, Dr Gerson Hochmann, Presidente do Conselho Deliberativo da FIERJ.

FOTO 2 - O MONTESE de ago 2008, informativo da Associação Nacional dos Veteranos da FEB – ANVFEB – Seção Mato Grosso do Sul, recorda que a luta da FEB também era contra o Holocausto.

FOTO 3 - Sobrevivente acende uma vela.

FOTO 4 - Pronunciamento Sr Alexander Henryk Laks, Presidente da Organização dos Sobreviventes do Holocausto, Seção Rio de Janeiro.

FOTO 5 - Sr Alexander Henryk Laks, sobrevivente do Holocausto, Rabino Eliezer Stauber, Eng Sergio Niskier, Presiente da FIERJ.

FOTO 6 - Dia da Recordação dos Heróis e Mártires do Holocausto, 16 de abril de 2007 na Sinagoga de Copacabana - Dr Salomão Bi-nensztok, Presidente da Sinagoga, Sr Alexander Henryk Laks, sobre-vivente do Holocausto, Rabino Eliezer Stauber, Eng Sergio Niskier, Presiente da FIERJ.

FOTO 7 - Banda Sinfônica da Guarda Municipal da Cidade do Rio de Janeiro executa o Hino Nacional Brasileiro e o Hino dos Partisans (Guerrilheiros Judeus).

Dia da Recordação do Holocausto e Heroísmo14 de abril de 2007 na Sinagoga de Copacabana

(Fotos de Jayme Finkel e do Autor)

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Capítulo 11

Semana da Pátria7 de Setembro de 2007

Centro Cultural Esportivo e Recreativo MONTE SINAI

Brasil – 185 anos de Independência no MONTE SINAI

A Comunidade Judaica Fluminense através da Federação Israelita do Rio de Janeiro – FIERJ e Centro Cultural Esportivo e Recreativo MONTE SINAI da Tijuca comemorou a Semana da Pátria com Cerimônia Cívica, Exposição Alusiva aos Feitos Heróicos da FEB no domingo 2 de setembro, Mesa Redonda Conversando com os Veteranos e Ato Religioso na Sinagoga do Monte Sinai. A programação foi a seguinte:

SEMANA DA PÁTRIA

Promovida pela FEDERAÇÃO ISRAELITA do RIO DE JANEIROe COMUNIDADE JUDAICA FLUMINENSE no CENTROCULTURAL ESPORTIVO e RECREATIVO MONTE SINAI

Rua São Francisco Xavier 104 – Tijuca(fte Estação Metrô São Francisco Xavier)

Domingo 02 set 2007 às 11h30• Cerimônia Cívica – Abertura da Semana da Pátria• Formatura e Hasteamento da Bandeira Nacional• Canto do Hino Nacional Brasileiro• Abertura da Exposição Temática das Forças Armadas e

Auxiliares (aberta ao público de domingo a quinta das 10 às 20 h)• Saudação do Presidente da FIERJ as Autoridades Civis e

Militares por ocasião da Semana da Pátria• Coquetel Comemorativo

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Quarta 05 set 2007 às 19h30• Mesa Redonda: Conversando com Veteranos da FEB,

Marinha e 1º Grupo de Aviação de Caça (Senta a Pua) - Vete-ranos respondem perguntas do público.

• Coquetel de Confraternização

Os acordes do Hino Nacional Brasileiro executado pela Banda da PMERJ emocionaram o público presente à abertura da Semana da Pátria no Monte Sinai, ao ser o Pavilhão Nacional hasteado pelo Coronel Leonardo de Andrade, Diretor do Museu Militar Conde de Linhares, de São Cristóvão, com o Ginásio colorido pelo garance do uniforme de gala com penacho verde amarelo do Colégio Militar, azul do uniforme histórico da Artilharia Divisionária da Fortaleza de Santa Cruz, em Niterói, alvos uniformes brancos do Batalhão Naval dos Fuzileiros, da Fortaleza de São José, verde-oliva dos Alunos do CPOR/RJ, o caqui operacional dos Bombeiros Militares do DBM 3/11 – Tijuca, e as boinas azuis dos Veteranos da FEB e do Batalhão Suez.

O Presidente Sergio Niskier homenageou as Forças Armadas com a entrega de um distintivo da FIERJ a Major Elza Cansanção Medeiros, primeira enfermeira voluntária da FEB, que agradeceu em tocante oração. Foi lida mensagem do Ministro Waldemar Zveiter, Sereníssimo Grão Mestre sobre a contribuição da Maço-naria a Independência, e o Coronel Amauri Santos de Oliveira, Administrador do Monumento Nacional aos Mortos da Segunda Guerra Mundial dirigiu uma saudação a Comunidade Judaica.

Na quarta dia 5 a Mesa Redonda Conversando com os Vete-ranos despertou grande interesse dos associados e tijucanos para ouvir o Capitão Osias Machado da Silva, do 1° Grupo de Avia-ção de Caça (Senta-a-Pua) representando o lendário Brigadeiro Moreira Lima, em viagem ao Maranhão, a Major ELZA, e ao Te-nente R/2 de Infantaria Israel Rosenthal, Veterano da FEB, ao som da Banda da Escola de Instrução Especializada do Exército.

Encerrando a Semana da Pátria, em todas as 29 sinagogas do Estado do Rio os Rabinos pronunciaram predicas alusivas à data, invocando as bênçãos do Todo Poderoso para o Povo Brasileiro, por ocasião das preces que abriram o Sábado Judaico na noite de sexta feira, 7 de Setembro.

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Ao serviço religioso na sinagoga do Monte Sinai compare-ceu uma representação da Diretoria de Assuntos Culturais do Exército, para honra e orgulho da Comunidade Judaica, e o Vete-rano André Akiba Levy, ex-combatente da Marinha Francesa na 2ª Guerra Mundial.

A presença marcante de nossa Comunidade foi uma bela demonstração de nossa cidadania e nos insere de forma relevan-te na vida nacional, pelo sucesso de todos os eventos.

A FIERJ recebeu a seguinte mensagem dos alunos do Colé-gio Militar que abrilhantaram as solenidades com sua presença:

“Em nome da Sociedade Literária do CMRJ, felicitamo-os por este período de união, data em que todas as querelas e de-sentendimentos são perdoados, tornando-o significante para a manutenção de um convívio interpessoal pleno, mostrando quão sábios são os ensinamentos da Torá.

Desejamos que a vinda deste novo ano seja consagrada com a doçura do mel mais pura e pacífica, como o equilíbrio da natureza.

Shana Tová”

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Semana da Pátria – 7 de setembro de 2007no C.C.E.R. Monte Sinai

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Legenda das Fotos do Capítulo 11

Semana da Pátria – 7 set 2007 no Centro Cultural Esportivo e Recreativo Monte Sinai, comemorada com uma Solenidade Cívica

na Quadra de Esporte no domingo de manhã. Inaugiração da Expoisção e Mesa Redonda com Veteranos da FEB.

FOTOS 1, 15 e 17 - Na Cerimônia Cívica em homenagem a Semana da PÁTRIA, uma formatura abrilhantou a solenidade, com alunos do Colégio Militar, representação da Marinha do Brasil, soldados da Fortaleza de Santa Cruz em Uniforme Histórico, Bombeiros e Policiais Militares.

FOTO 2 - Cel Santos Oliveira, Administrador do Monumento dos Pracinhas saúda o público presente, vendo-se o Autor, o Veterano Israel de Oliveira Costa Wangler, da associação Integrantes Tropas de Paz da OEA, um Veterano do Batalhão Suez, Tenente Coronel Claudio Ricardo Hehl Forjaz, da Diretoria de Assuntos Culturais e Tem Rosenthal.

FOTO 3 - Representação de Alunos do CPOR/RJ compareceu a Mesa Redonda.

FOTO 4 - Capitão Osias Machado da Silva dá seu depoimento sobre a atuação do 1° Grupo de Aviação de Caça na Itália, sob as vistas da Major Elza Cansanção Medeiros.

FOTO 6 - Sara Salomão, Diretora da FIERJ, entrega uma lembrança a Major Elza pela sua participação na Mesa Redonda.

FOTOS 5 e 7 - Aspectos da Mesa Redonda com Veteranos da Segun-da Guerra Mundial.

FOTO 9 - Major Elza Cansanção Medeiros faz entusiastico pronun-ciamento, ao lado do Presidente Niskier e do Autor.

(Fotos D’Nigris Eventos Sociais - “Marimbondo” e do Autor)

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FOTOS 8 e 10 - Bolinhos de gefilte fish, prato típico da culinária judaica ganham um toque verde e amarelo combinando com a Semana da Pátria.FOTO 11 - Parte do público presente.

FOTO 12 - O Autor apesenta a Mesa Redonda com ex-combatentes, Capitão Osias, Major Elza e Tenente Rosenthal, vendo-se ao fundo Sara Salomção, Diretora da FIERJ.

FOTO 13 - Peças integrantes da Exposição da Semana da Pátria.

FOTO 14 - Dr Altamiro Zymerfogel, Presidente do MONTE SINAI com o Coronel Leonardo Andrade, Diretor do Museu Militar Conde de Linhares, em São Cristóvão, e esposa.

FOTO 16 - um dos jipes da exposição, pertencente ao CVMARJ – Clube de Veículos Militares Antigos do Rio de Janeiro.

FOTO 18 - No local reservado as autoridades, Major Elza, Presidne-te Altamiro, Coronel Leonardo, Coronel Amauri, Tenente José Can-dido da Silva (Candinho), Veterano do Regimento Sampaio e Tem Melchisedech.

FOTO 19 - Presidente Sérgio Niskier homenageia a Major Elza Can-sanção Medeiros com a aposição do broche da FIERJ.

FOTO 20 - Corte da fita inaugural da Exposição: Maj Elza, Ten Ro-senthal, Cel Santos Oliveira, José Alberto e Vera Lúcia, filhos do General Chahon e o Presidene Altamiro.

FOTO 21 - Major Galper, Tem Rosenthal, Maj Elza e Sergio Niskier.

FOTO 22 - Dr Altamiro Zymerfogel e o Autor na Exposição da Se-mana da Pátria.

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Capítulo 12

Tributo à Memória de Oswaldo Aranha

Dia 27 de Novembro de 2007Cemitério São João Baptista

Os 60 anos da Resolução 181 - Partilha da Palestina, 29 de novembro de 1947 - 29 de novembro de 2007, com a criação de um País para os Árabes e outro para os Judeus, na Histórica Sessão da Assembléia-Geral da ONU presidida pelo Grande Brasileiro Chanceler Oswaldo Aranha (1894 – 1960) foram comemorados no Cemitério São João Batista na Quinta-feira 29/11/2007 às 10h, com a Presença de dez Fa-miliares do Chanceler e Aposição de Coroas de Flores no Jazigo Perpétuo da Família, enviadas pela FIERJ, ORGANIZA-ÇÃO SIONISTA DO BRASIL, LOJA HERUT DA BNEI BRITH E AMIGOS DO MEMORIAL JUDAICO DE VASSOURAS, com os seguintes dizeres:

A Oswaldo AranhaEterna Gratidão do

Memorial Judaico de Vassouras

Homenagem da FIERJ e Comunidade JudaicaAo Grande Chanceler Oswaldo Aranha

1947 – 2007

Como Mestre de Cerimônias atuou o Diretor de Cidadania da FIERJ, e autor deste livro.

O evento contou com a presença maciça de Familiares do

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Chanceler Oswaldo Aranha, a saber:Embaixatriz Delminda Aranha Correa do Lago (Dedei), fi-

lha, Sra Taís Aranha Varnieri Ribeiro, sobrinha; Embaixatriz Maria Ignez Barbosa, Sr Manoel Aranha Correa do Lago, Sr Eduardo Oswaldo Terra Lopes Aranha, Sra Luciana Aranha Hoffmann, Professor Luiz Aranha Correa do Lago, Sr Pedro Aranha Correa do Lago, netos, e Sr Oswaldo Aranha e Srta Ana Correia do Lago, bisnetos.

Entre as Autoridades presentes, o Cap Joaquim CAETANO da Silva, Presidente do Conselho Nacional dos Ex-Combaten-tes, que participou da 2ª Guerra Mundial, servindo juntamen-te com Oswaldo Gudolle Aranha, filho do homenageado, e que também ocupou o mesmo cargo; Cel Nilton Freixinho, membro do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil, contemporâneo de Aranha e que à época serviu no Gabinete do Ministro da Guerra, General Dutra, Veterano Melchisedec Afonso de Carvalho, Diretor Cultural da Associação dos Ex-Combatentes do Brasil, Seção RJ, e Gerald Goldstein, Presi-dente dos Veteranos USA.

Uma representação dos Veteranos do Batalhão Suez es-tava presente, capitaneada pelo Diretor Antonio WALTER dos Santos, como a primeira Força de Paz brasileira, estacionada de 1956 a 1967 na Faixa de Gaza sob os auspícios da ONU, tendo sido enviados 20 contingentes.

A Banda de Música do 7º Batalhão da PMERJ sob a re-gência do Mestre 1º Sgt Mus Milton Mothe Pereira executou o Hino Nacional Brasileiro, após o que foram lidas mensagens da Diretora do Museu Oswaldo Aranha, em Alegrete, e de ou-tras autoridades.

Fizeram uso da palavra o Coronel Nilton Freixinho, do IGHMB e contemporâneo de Oswaldo Aranha, o Presidente da FIERJ Sergio Niskier, Alberto Nasser, Presidente do Conselho Sefaradi, Dr Gerson Hochmann, Presidente do Conselho Deli-berativo da FIERJ, e o Diretor de Cidadania, Israel Blajberg, que dirigiu uma mensagem aos presentes em nome da FIERJ.

Foram tocantes pronunciamentos, ao longo dos quais al-guns dos presentes, mormente familiares do Chanceler mal pu-

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deram conter as lágrimas. O neto Professor Luiz Aranha Correa do Lago usou da pa-

lavra fazendo um retrospecto histórico e expressando a emo-ção da Família pela homenagem.

Encerrando a cerimônia, Familiares e representantes da FIERJ, Organização Sionista do Brasil, Loja Herut da Bnei Brith e Amigos do Memorial Judaico de Vassouras apuseram coroas de flores verde-amarelas e azul-e-branco ao som da Canção do Expedicionário, executada pela Banda do 7º Batalhão da PMERJ, em homenagem a Oswaldo Gudolle Aranha, que foi pracinha da FEB e está sepultado no mesmo Jazigo, e a seus companheiros Veteranos presentes.

O evento marcou a singela expressão de eterna gratidão da Comunidade Judaica Fluminense, simbolizada em ato tão significativo para os familiares.

A seguir, reproduzidmos os pronunciamentos feitos na ocasião:

Prof. Luiz Aranha Correia do Lago,em nome da Família Aranha

Prezados Amigas e Amigos, Senhoras e Senhores.É com profunda emoção e gratidão que a família Aranha

recebe as homenagens prestadas a Oswaldo Aranha, ontem, na Assembléia Legislativa e hoje, aqui diante do seu túmulo, por iniciativa da Federação Israelita do Estado do Rio de Ja-neiro. Ao longo de toda a sua história, o povo judeu sempre soube identificar claramente os seus inimigos, e mostrar reco-nhecimento e gratidão eternos para com seus amigos.

Nessas duas ocasiões foi destacado por vários oradores que o sentimento de justiça e a busca da conciliação guiaram sempre os passos de Oswaldo Aranha.

Sem incorrer em repetições das detalhadas evocações que ouvimos dos eventos que levaram à histórica decisão da Parti-lha da Palestina há exatamente 60 anos, gostaria de partir da-queles dois traços de personalidade de Oswaldo Aranha, para recordar alguns eventos que mostram como Oswaldo Aranha buscou sempre lutar por seus ideais, se necessário de armas

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nas mãos, mas tendo como objetivo final a paz e a concórdia.Entre 1923 e 1926, Oswaldo Aranha participou de 4 cam-

panhas militares em seu estado natal, sendo ferido em combate 2 vezes. Se ficou famoso por suas cargas de cavalaria, seu pres-tígio aumentou particularmente em função da sua conciliadora gestão como intendente - hoje se diria prefeito – do Alegrete, sua cidade natal, reduto tradicional da oposição federalista, onde conseguiu de forma duradoura a colaboração de republi-canos e federalistas para a modernização da cidade.

Foi também seu trabalho de conciliação, amplamente reco-nhecido como essencial durante o Congresso das Municipali-dades, que permitiu o surgimento da Frente Única Gaúcha, em que pela primeira vez, republicanos e federalistas – estes agora com a denominação de libertadores - apoiaram a candidatura única gaúcha de Getúlio Vargas à presidência da república.

Grande defensor da Aliança Liberal, Aranha em paralelo foi o principal articulador e líder civil da Revolução de 1930. No dia da revolta, não hesitou em tornar novamente as armas, comandando o ataque ao quartel general em Porto Alegre.

Ministro da Justiça no governo provisório, Oswaldo Ara-nha não permitiu a perseguição dos vencidos, como deseja-vam vários revolucionários.

Logo sua luta se voltaria para outras direções: no Ministé-rio da Fazenda, renegociou a dívida externa brasileira com fir-meza e participou ativamente da Constituinte de 1934, como líder da maioria, contribuindo para alguns de seus traços mais democráticos.

Embaixador em Washington de 1934-1937, destacou-se pela sua habilidade, que resultou em importante tratado co-mercial entre Brasil e Estados Unidos. Renunciou à embaixada por ocasião da promulgação da Constituição do Estado Novo, com a qual não concordava.

De retorno ao Brasil, instado por amigos temerosos da crescente influência de elementos pró-fascistas no governo Vargas, Aranha aceitou o Ministério das Relações Exteriores.

Já foi evocada ontem a sua atuação no sentido de alinhar o Brasil com os aliados. Sua atuação durante a Conferência dos

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Chanceleres, sentado à mesa ontem ocupada pelo nosso que-rido deputado Gerson Bergher, foi fundamental para o rompi-mento das relações do Brasil e de vários países latino america-nos com o Eixo, e a partir da entrada do Brasil na Guerra assim como o envio à Itália do Corpo Expedicionário Brasileiro, do qual participou seu filho Oswaldo, tão amigo de muitos aqui presentes.

Acredito que a liderança civil da Revolução de 1930 e a decisiva atuação para a entrada do Brasil na Guerra contra o Eixo, cruciais para o desenvolvimento do Brasil por vários décadas, já reservariam um lugar de destaque para Oswaldo Aranha na História do Brasil.

Mas caberia ainda a Oswaldo Aranha desempenhar papel internacional de grande relevância, já longamente tratado ontem e hoje, na Presidência da Assembléia Geral das Nações Unidas.

A Partilha da Palestina foi a primeira decisão de grande importância das Nações Unidas. O seu objetivo, defendido firmemente por Oswaldo Aranha, era a criação de um Estado Judaico e de um Estado Árabe-palestino.

Após 60 anos, o Estado de Israel é uma realidade tangível como almejavam os defensores da Partilha. Esperamos que a recentíssima Conferência de Anápolis resulte finalmente em um acordo para a formação de um Estado Palestino, que ga-ranta a segurança definitiva do Estado de Israel e a sua convi-vência pacífica com seus vizinhos, como deseja ardentemente o povo judeu em todo o mundo. Estarão assim alcançados os ideais de paz que guiaram Oswaldo Aranha e homens e países norteados por um sentimento de justiça na inesquecível sessão da ONU de 29 de Novembro de 1947.

Oswaldo Aranha - Cidadão do Mundo, Herói Nacional

Pronunciamento do Diretor de Cidadania Israel Blajberg em nome da FIERJ e da Comunidade Judaica Fluminense dian-te do Jazigo Perpétuo da Família.

O dia 29 de novembro de 2007 marca a data do quase mi-

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lagre que possibilitou a criação do Estado de Israel, pela ação pessoal e o descortino do grande brasileiro Oswaldo Aranha.

Momento de grande simbolismo, dias que antecedem Ha-nuká, a Festa das Luzes, quando há 2 mil anos um outro mila-gre também ocorreu.

E quem sabe, um terceiro milagre esteja a ponto de acon-tecer, quando nesta semana em Anápolis tantos paises entre eles o nosso querido Brasil lá se reúnem em busca da tão so-nhada paz entre as nações.

Quis o destino que Oswaldo Aranha encontrasse a sua última morada aos pés do Cristo Redentor.

Do alto do Corcovado ele também nos envia as suas bên-çãos, assim como abençoou as gerações de imigrantes que nos antecederam, ao ingressarem na Baia de Guanabara sendo re-cebidos de braços abertos nesta Cidade Maravilhosa.

O Brasil e os judeus da Europa sofreram a brutal agressão da Alemanha nazista e da Quinta-Coluna, mas os povos e os brasileiros se uniram como nunca se havia visto.

O Mundo assistia horrorizado a invasão nazista da Euro-pa. Oswaldo Aranha, tomou posse como Ministro das Rela-ções Exteriores, vindo dos Estados Unidos onde servira antes, encontrando o Presidente, Ministros, Ministro da Guerra e ge-nerais impressionados pelo poderio do Exército alemão. Iria reverter esta situação.

Em 1942, ao final da Conferência dos Chanceleres das Américas presidida por Oswaldo Aranha o Brasil cortou rela-ções com os países do Eixo.

Foi da sua lavra o discurso onde o Brasil declarou guerra ao Eixo. E foi a sua pena corajosa que lançou a assinatura na resolução que permitiu acolher aqui em terras brasileiras os judeus que escapavam do Holocausto.

Se no alto daquela montanha tantos emigrantes enxerga-ram a salvação, bem perto o mausoléu da FEB nos recorda que neste mesmo Jazigo Perpétuo da Família Aranha também repousa seu filho, Oswaldo Gudolle Aranha, um dedicado e valoroso ex-combatente.

Aquele jovem, na época o filho do Ministro das RE não

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hesitou em envergar voluntariamente o uniforme de pracinha da FEB, honrando o nome de seu pai.

A FEB vitoriosa trouxe conseqüências extraordinárias, mu-dou o País, depois dela tivemos a volta da Democracia. A FEB representou um momento fundamental na vida brasileira, na história do Brasil, que também a Oswaldo Aranha devemos.

Oswaldo Aranha era filho do Alegrete, na planície do pam-pa riograndense, antiga capital farroupilha da fronteira oeste, berço de grandes combates históricos.

Estudou no Colégio Militar tendo integrado seu Esquadrão de Cavalaria.

Defendeu o governo no Rio Grande do Sul como líder militar civil, tendo sido ferido gravemente em combate, com um tiro de fuzil no combate de Seivalzinho, próximo a Lavras do Sul, por pouco não tendo perecido. Liderou no Rio Grande do Sul a Revolução de 30, tendo participado do ataque ao QG da 3ª. Região Militar.

Foi o primeiro a defender de forma notável em 1946 a memória do grande líder farroupilha Marechal Bento Mano-el Ribeiro, conforme abordado no livro O Exército Farrapos e seus Chefes, do Cel Cláudio Moreira Bento.

Oswaldo Aranha, Cidadão do Mundo e grande herói na-cional.

A ele, como Presidente da Assembléia-Geral da ONU, o Povo de Israel deve o seu Estado.

Os judeus do mundo inteiro, e do Brasil em especial, jamais olvidaram Aranha, uma das mais significativas home-nagens sendo a praça que leva seu nome ilustre, em singelo bloco no coração da Cidade Santa de Jerusalém, bem próxi-mo da Muralha Ocidental do Templo de Salomão, onde nos caracteres dos alfabetos hebraico e da língua portuguesa, está indelevelmente gravado seu nome.

Passados quase 2 mil anos, aquele Muro santificado pon-tifica novamente sobre uma pátria judaica, graças a este ilustre brasileiro.

Em nome da FIERJ e da Comunidade Judaica Fluminense, em comunhão com seus estimados descendentes, reverencia-

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mos a memória do Chanceler Oswaldo Aranha, grande brasi-leiro, expressando o nossa reconhecimento, o nosso agradeci-mento e a eterna admiração dos seus compatriotas.

Mensagens recebidas pela FIERJ

Do Prof Luiz Aranha Corrêa do Lago Prezado Israel,conforme combinado encaminho-lhe a minha breve fala

no cemitério ontem. Gostaria de aproveitar a oportunidade para agradecer a forma como voce conduziu a cerimônia, que muito emocionou a família. Foi um prazer conhecê-lo. Um abraço, Luiz Aranha Corrêa do Lago.

Profª Andréa de Oliveira, Diretora do Museu OswaldoAranha de Alegrete, saudação lida pelo Dr Nelson Menda

O Museu Oswaldo Aranha, nessa data tão significativa presta homenagem junto à comunidade Judaica ao “Cidadão do Mundo”, aquele que nasceu para servir o seu país, não para se sevir dele.

Homem que escreveu a história do Rio Grande, do Brasil e da ONU. Que teve o seu berço aquecido no fogo das revolu-ções e bravamente atravessou rincões ao soar dos cascos dos cavalos gaúchos, da mesma forma que atravessou mares em busca da paz.

Andréa Oliveira - Diretora MOA

Mensagem do Cel Cláudio Moreira BentoPresidente da Academia de História Militar Terrestre

do Brasil (AHIMTB) e Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS), lida na Solenidade de Home-nagem ao Chanceler Oswaldo Aranha - Cemitério São João Baptista.

Osvaldo Aranha estudou no Colégio Militar tendo integra-do seu Esquadrão de Cavalaria.

Defendeu o governo no Rio Grande do Sul como líder militar civil, tendo sido ferido gravemente em combate com

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um tiro de fuzil no combate de Seivalzinho próximo a Lavras do Sul e por pouco não perecido.

Liderou no Rio Grande do Sul a Revolução de 30 tendo participado do ataque ao QG da 3ª Região Militar.

Foi o primeiro a defender a memória do General Bento Manoel Ribeiro conforme abordado no meu livro O Exército Farrapos e os seus chefes.

Natural de Alegrete, foi um grande herói nacional, e a ele, como Presidente da Assembléia-Geral da ONU, Israel deve o seu Estado.

(a) Cel Cláudio Moreira Bento

Do Tenente R/2 de ComunicaçõesElizio Damião Gonçalves de Araújo

Bravo e Caro Israel Obrigado por transmitir um pouco da memória do belo e

singelo acontecimento. Fiquei emocionado ao ler no seu texto, a referência às plagas da fronteira oeste, o Alegrete, vizinha à minha saudosa Uruguaiana, onde nasceu Oswaldo Aranha.

Abração Elizio

Do Gen Eng. BUENO,da Turma de 1937 da Escola Militar do Realengo

Caro amigo,Gostaria de estar presente a justa homenagem ao ilustre

Brasileiro Oswaldo Aranha.Tenho só boas lembranças do Político honrado que é um

exemplo para nos.Um cordial abraço

Gen Bueno

A solenidade da FIERJ inseriu-se nas amplas homena-gens a Oswaldo Aranha, iniciativa vitoriosa do Conselho Sefaradi que encontrou eco junto às mais importantes lideranças da coletividade, da família Aranha, da mídia e da sociedade maior. A idéia de lembrar o papel funda-

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mental desempenhado por Aranha na Partilha da Palesti-na, partiu de uma deliberação do Conselho Sefaradi.

Em agosto e setembro de 2007 foi lançada, no Rio Grande do Sul, a campanha em prol da construção do Memorial Oswaldo Aranha, belíssimo projeto de Oscar Niemeyer que obteve amplo respaldo da sociedade e das mais altas autoridades estaduais e federais.

A Revista Shalom publicou textos de grande relevân-cia sobre “Oswaldo Aranha e a Partilha da Palestina”. O Jornal “O Globo” publicou esclarecedor artigo do Jor-nalista Osias Wurman sobre o tema. O Alef de 23/11 e 25/11 veiculou matérias sobre Aranha, a Partilha da Palestina e a criação do Estado de Israel. O Programa de Teresa e Gerson Bergher e o “Comunidade na TV”, da Fierj, destacaram as solenidades homenageando um es-tadista que, apesar de não judeu, mais ajudou os judeus nos últimos 2.000 anos.

Essas comemorações são um privilégio nosso, de brasileiros e de mais ninguém, porque nenhuma outra nação do mundo pode compartilhar da honra e do orgu-lho de ter tido uma figura pública do quilate de Oswaldo Aranha.

No Dia 28/11, quarta-feira, às 18:30h ocorreu Ceri-mônia Cívica no Palácio Tiradentes, na Rua Primeiro de Março, com a presença de familiares de Oswaldo Ara-nha, no mesmo Plenário onde Aranha pronunciou seu famoso discurso de apoio do Brasil às forças aliadas, em janeiro de 42, que mudou o próprio rumo da guerra.

No Dia 29/11, quinta-feira, às 16:00h. de Israel e 11:00h do Brasil houve Sessão Solene no Knesset, em Je-rusalém, com a presença de vários familiares de Oswaldo Aranha especialmente convidados para esse ato cívico.

Dia 13/12, quinta-feira, às 16:00h houve uma Ses-são Especial na Câmara Federal em Brasília. Iniciativa da Federação Israelita do Rio Grande do Sul, com apoio da Conib e de suas federadas. O orador foi o Deputado Ibsen Pinheiro.

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Tributo à Memória de Oswaldo Aranha29 de novembro de 2007 no Cemitério S. J. Baptista

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Legenda das Fotos do Capítulo 12

Tributo à Memória de Oswaldo Aranha, Presidente da Assem-bléia Geral da ONU que deliberou sobre a Partilha da Palestina, nos 60 anos da data, em 29 nov 2007 no Cemitério S. J. Baptista.

(Fotos do Autor)

FOTO 1 - Coroas enviadas pela FIERJ, ORGANIZAÇÃO SIONISTA DO BRASIL, LOJA HERUT DA BNEI BRITH E AMIGOS DO MEMO-RIAL JUDAICO DE VASSOURAS, formadas com flores nas cores verde-e-amarela e azul-e-branca, vendo-se na lateral os nomes de 10 membros que repousam eternamente no Jazigo Perpétuo da FA-MILIA ARANHA.

FOTO 2 - Sérgio Niskier, Presidente da FIERJ saúda a Familia ARA-NHA, vendo-se a a bisneta Ana de Ouro Preto Correa do Lago (E), o Autor Eng Israel Blajberg, Diretor de Cidadania da FIERJ, a neta Em-baixatriz Maria Ignez Barbosa (D) e ao fundo o Sr B. Herzog, sobre-vivente da Segunda Guerra Mundial, um dos personagens descritos no Livro Sobreviver de Sofia Débora Levi.

FOTO 3 - Neto do Chanceler, Professor Luiz Aranha Correa do Lago pronuncia palavras de agradecimento pela homenagem da FIERJ, recordando o caráter conciliador de seu avô e passagens históricas. Em primeiro plano a neta Embaixatriz Maria Ignez Barbosa (E) e a filha Embaixatriz Delminda (Dedei) Aranha Correa do Lago (D).

FOTO 4 - Neta do Chanceler, Luciana Aranha Hoffmann e Bisnetos Oswaldo Aranha e Ana de Ouro Preto Correa do Lago.

FOTO 5 - Dr Nelson MENDA, Coordenador do Conselho Sefaradi no Rio de Janeiro, colaborador na organização dos eventos que marcaram os 60 anos da Partilha da Palestina, transmitindo a men-sagem enviada especialmente pela Profª Andréa de Oliveira, Dire-tora do Museu Oswaldo Aranha de Alegrete.

FOTO 6 - Veterano Melchisedec Afonso de Carvalho, Diretor Cul-tural da Associação dos Ex-Combatentes do Brasil, o Autor Israel Blajberg, Diretor de Cidadania da FIERJ, 1° Sargento Milton Mo-the Pereira, Mestre da Banda de Música do 7° Batalhão da PM de

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Alcântara, Veterano Gerald Goldstein, Oficial Radiotelegrafista da Marinha e Presidente dos Veteranos USA do Rio de Janeiro.

FOTO 7 - Veterano Melchisedec Afonso de Carvalho, Diretor Cul-tural da Associação dos Ex-Combatentes do Brasil (E), o Autor Isra-el Blajberg, Diretor de Cidadania da FIERJ (D) ladeiam 2 netos do Chanceler.

FOTO 8 - Veterano Melchisedec Afonso de Carvalho, Diretor Cul-tural da Associação dos Ex-Combatentes do Brasil, o Autor Israel Blajberg, Diretor de Cidadania da FIERJ, Capitao Joaquim CAETA-NO da Silva, Presidente do Conselho Nacional dos Ex-Combaten-tes, que participou da 2ª Guerra Mundial, servindo juntamente com Oswaldo Gudolle Aranha, filho do homenageado, e que também ocupou o mesmo cargo.

FOTO 9 - O Sr Alberto Nasser, ex-presidente da CONIB saúda a fa-mília Aranha, recordando a inauguração da Praça Oswaldo Aranha no coração de Jerusalém durante a sua gestão, vendo-se os bisnetos Oswaldo Aranha e Ana de Ouro Preto Correa do Lago e o Autor, Eng Israel Blajberg, Diretor de Cidadania da FIERJ.

FOTO 10 - O Autor com Veterano Gerald Goldstein, Sergio Niskier, Presidente da FIERJ, Vitoria Saul Sulam, do Conjunto Angeles y Ma-lahines e Nelson Menda, do Conselho Sefaradi.

FOTO 11 - Ao final da solenidade, familiares do Chanceler com alguns dos presentes, e Veteranos da 2ª Guerra Mundial.

FOTO 12 - Neto do Chanceler, Eduardo Oswaldo Terra Lopes Ara-nha, Raphael Hallacke da Equipe de Som da FIERJ, o Autor Israel Blajberg, Diretor de Cidadania pronunciando uma mensagem da FIERJ em nome da Comunidade Judaica Fluminense aos descen-dentes de Oswaldo Aranha, diante do Jazigo Perpétuo da Família ARANHA, Sergio Niskier, Presidente da FIERJ e o neto Professor Luiz Aranha Correa do Lago.

FOTO 13 - A expressão de familiares e demais pessoas presentes demonstra o forte impacto emocional da cerimônia. Durante os to-cantes pronunciamentos, alguns dos presentes, mormente familia-res do Chanceler mal puderam conter as lágrimas. Vê-se na foto Da. Lucy Wegner (4ª Da D), coordenadora do Grupo Chai da ARI. Ain-da criança, emigrou da Alemanha poço depois da Noite de Cristal, graças a intervenção pessoal do Chancler Oswaldo Aranha.

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Capítulo 13

Dia Internacional deRecordação do Holocausto

24 de Janeiro de 2008 - Itamaraty

A FIERJ-Federação Israelita do Estado do Rio de Janeiro e o Centro de Informação da ONU no Rio de Janeiro, a exemplo do ocorrido em 2007 realizaram em 25 de janeiro de 2008, sexta-feira, das 10:30h às 12:00h, uma cerimônia referente ao DIA INTERNACIONAL DA ONU DE LEMBRANÇA ÀS VÍTI-MAS DO HOLOCAUSTO, no Salão Nobre do Palácio Itama-raty, na Rua Marechal Floriano, 196, Centro, Rio de Janeiro, onde se situa o Centro de Informação da ONU.

O evento inclui a inauguração da exposição HOLOCAUS-TO NUNCA MAIS, organizada pelo Museu Judaico do Rio de Janeiro, e um ato cívico com a manifestação das autoridades presentes.

Dia 25 de Janeiro, data fixada pela ONU para marcar o Dia de Libertação do Campo de Extermínio de Auschwitz, foi criada com a recomendação para que sejam promovidas ações políticas e educacionais em todos os países membros da ONU.

Desde 2007 a FIERJ e a ONU vem marcarando a data, sendo que neste ano de 2008 tivemos a honrosa presença do Exmo. Sr. Presidente da República Luis Inácio Lula da Silva, do Exmo. Sr. Governador do Estado do Rio de Janeiro Sérgio Cabral, do Exmo. Sr. Governador do Estado da Bahia Jaques Wagner, diversas autoridades de todos os escalões, militares, ex-combatentes brasileiros e de nações amigas, partisans, líde-res comunitários e religiosos.

O simbolismo desta data é muito claro, pela memória dos

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que tombaram, e pelo alto significado da luta contra o precon-ceito, o racismo, a discriminação, o anti-semitismo, e todas as demais formas de intolerância correlata, e principalmente contra o esquecimento e a tentativa de apagar o Holocausto da história, perpetrado pelo idólatras do fascismo e do nazismo.

Ter em mente um mundo melhor para todos, é a lição a ser tirada do Holocausto. Foi assim que nasceu o Estado de Israel, das cinzas do Holocausto, chegando a ser o que é hoje. Nunca esquecer o imenso sofrido causado pelo Holocausto ao Povo Judeu, e cuidar que isto nunca mais se repita contra quem quer que seja.

Em 2005 a Assembléia Geral das Nações Unidas reuniu-se em sessão especial para marcar o 60º aniversário da liber-tação dos campos de concentração nazistas e, mais à frente, reafirmando a DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS adotou por consenso a resolução 60/7 intitulada “Recordação do Holocausto”.

Segundo a resolução, co-patrocinada pelo Brasil, “o Ho-locausto, que resultou no assassinato de um terço do povo ju-deu, juntamente com inúmeros membros de outras minorias, será sempre uma advertência para todo o mundo dos perigos do ódio, fanatismo, racismo e preconceitos”. A resolução tam-bém fala na necessidade de que sejam absorvidas as lições do Holocausto com o objetivo de ajudar a prevenir atos futuros de genocídio.

Em janeiro de 2007, a ONU adotou nova resolução con-denando as declarações que negarem a ocorrência do Holo-causto. O Brasil foi co-patrocinador dessa resolução, aprovada por consenso por mais de 100 países.

Esta foi a terceira vez que o Presidente Lula compareceu à cerimônia, sendo que nos dois anos anteriores, 2006 e 2007, participou dos eventos realizados em São Paulo.

Segundo o presidente Lula, “o Holocausto deve ser lem-brado com indignação por nós, pelos nossos filhos, pelos fi-lhos dos nossos filhos e por todas as gerações futuras”. Para o Presidente, “nós devemos promover os valores mais elevados da solidariedade: paz e tolerância. E transformar esses valo-

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res em ações concretas contra o anti-semitismo, os preconcei-tos de raça, religião e classe”. Durante as cerimônias de que participou, o presidente Lula enfatizou os investimentos do governo federal para aprimorar os mecanismos de combate à discriminação, à intolerância e ao preconceito, por meio da atuação das Secretarias dos Direitos Humanos e de Promoção da Igualdade Racial e do Ministério da Justiça.

O Veterano da FEB Major Joaquim Thiago participou da Cerimônia, na ocasiao obteve do Presidente LULA e do Go-vernador Sérgio Cabral a promessa de que intercederão para reverter o grave quadro em que se encontra a ANVFEB, por falta de recursos para se manter em funcionamento.

O General de Divisão Moyses Chahon foi retratado na Ex-posição ao lado do então Ten Cel Castello Branco, durante a Campanha da Itália em 1945.

O então Tenente Chahon foi um dos poucos brasileiros agraciados com a Silver Star concedida pelo Exército America-no, por heroísmo em combate na Tomada de La Serra.

Seu filho, Engenheiro José Alberto Chahon do BNDES es-tava presente e foi retratado ao lado do painel da exposição onde aparece o pai. um jovem tenente na ocasião.

A Banda da Cia Independente de Músicos da PMERJ foi convidadada pela FIERJ para participar da Cerimônia, quando executou com brilhantismo o Exórdio Presidencial à chegada do Presidente Lula ao Salão Nobre, e o Hino Nacional Brasilei-ro à abertura do Ato Solene.

Trechos do Discurso do Presidente LULA

Ao iniciar seu pronunciamento, assim se expressou o Pre-sidente LULA:

Meus amigos, minhas amigas, Eu acho que se nós tivéssemos encerrado este ato na fala

do brigadeiro Ruy Moreira Lima, já estaria de bom tamanho o ato, porque é a testemunha viva do que aconteceu lá. Eu ainda não tinha nascido.

Portanto, Deus o preserve por mais algumas décadas para

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contar essas histórias em outros dias 25 de janeiro. Minhas amigas, meus amigos, jornalistas aqui presentes. Agradeço o honroso convite da comunidade judaica do

Rio de Janeiro para participar deste ato. ... o Presidente prossegue seu pronunciamento ...O Brigadeiro Ruy Moreira Lima do Senta a Pua - 1° Gru-

po de Aviação de Caça participou como um dos oradores da Cerimônia, contando aos presentes que um piloto brasileiro abatido em combate foi capturado pelos nazistas e mandado para o campo de concentração de Sztetin na Polônia, onde testemunhou as barbaridades cometidas contra os judeus. A seguir reproduzimos as suas palavras, por transcrição.

Pronunciamento do MAJOR-BRIGADEIRO-DO-AR RUI BARBOSA MOREIRA LIMA

Locutor: Representando todos os combatentes brasileiros e dos

exércitos amigos convidamos a fazer uso da palavra ao Bri-gadeiro Ruy Moreira Lima, piloto com mais de 90 missões de combate pela Força Aérea Brasileira.

( Palmas )Brigadeiro Moreira Lima: Quando entrei aqui na casa, um repórter me perguntou se

era necessário uma reunião desse tipo para relembrar.Agora mesmo tivemos aqui um palestrante que fez um

discurso muito bonito, em que ressaltou não se poder esque-cer um fato dessa natureza, porque não se compreende que a vida humana haja sido tratada dessa maneira, com tamanho desprezo, com deboche, com raiva.

Judeus, poloneses, russos, prisioneiros, eslavos, ciganos, essa gente toda foi morta, morta friamente, com vontade de matar.

Criaram uma palavra nova, que aprendi noutro dia, cha-ma-se despovoação; matar, porque a Alemanha precisa de es-paço, para lá colocar os nazistas.

Não era a Alemanha, eram os nazistas, é preciso que se

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preste muita atenção, os nazistas, esses bandidos, insensíveis, matadores profissionais, matavam de uma maneira terrível, fo-ram escolhendo, foram matando aos poucos, matavam nas va-las, depois criaram salas de biometria, medindo peso, altura.

Assassinavam com um tiro na cabeça, na nuca, a vítima caía sobre um lençol; mas estava se gastando muito lençol, muita lentidão, passaram a matar pela fome, tirando a comida.

Estou falando como membro de um esquadrão da Força Aérea que combateu na Itália, que combateu contra o nazi-fascismo.

Tínhamos aqui uma ditadura forte, horrível como todas, a do Presidente Vargas, terrível, terrível, porque as ditaduras não respeitam nada, não respeitam as leis, não respeitam coisa nenhuma.

( Palmas )Nesse meu esquadrão éramos 49 pilotos, 9 morreram

em combate, 5 caíram prisioneiros, 3 foram recolhidos pelos partisans, pelos guerrilheiros, e ficaram até o fim da guerra, 6 voltaram por doença, estafa aérea, pneumonia, problemas de coluna, infelizmente um, por covardia; não se pode apontar, porque nasceu assim, geneticamente; essa pessoa nem poderia estar ali, mas foi, e voltou.

Esse grupo não teve recompletamento, não se pensou, sabe Presidente, e foi a cúpula que não pensou em recomple-tamento.

Ao final da guerra, na primavera restavam 22 pilotos, o co-mandante americano, (N.: o Brig. Pergunta pelo Embaixador), o comandante americano chamou o nosso comandante: vocês já deram a sua parte, vocês agora vão descansar, eu tenho 90 pilotos lá em Nápoles e vou substituí-los porque vocês já che-garam ao limite de vocês.

Não, não chegamos, quando se defende a pátria, quando se defende o ideal o limite é sempre o final, até para morrer, por isso é que fazemos o juramento, de defender a pátria até a morte.

Não senhor, ninguém vai ceder o lugar para ninguém, nem nossos aviões vão ser emprestados para ninguém, nem

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nosso sargentos vão voar para ninguém, nos vamos voar quan-tas missões forem necessárias.

Não teríamos chances de operar mais de 15 dias; se a guerra durasse mais de quinze dias o Grupo parava, seria uma vergonha para o Brasil. É bom porque foi a história que vive-mos, e aqui no Brasil se esconde a história.

Por isso é que vocês, judeus estão aqui, reunidos e eu es-tou aqui com vocês, batendo palmas, e gritando, por que;

EU VI !!!EU VI !!!( Palmas intensas )Nós tivemos um colega que foi prisioneiro em Sztetin (*).

Ninguém sabe por que que ele caiu na Itália, atravessou a Ale-manha e foi parar na fronteira da Polônia, Prússia Oriental. Permaneceu preso até a ocupação, perdeu 12 kg esse rapaz. A comida eram 3 batatas por dia, um pedacinho de pão, um chá de ersatz, uma sopa no fim da noite que também não era sopa, era alguma coisa rala qualquer.

Eu até não digo nada contra os alemães, porque também estavam passando fome, eles estavam passando mal.

Mas esse homem, neste campo de prisioneiros, eram 10 mil prisioneiros, lá em Sztetin ele reclamava por falta de comida: mas não estão dando comida, vamos morrer, cada dia morria alguém, inanição, entrava em avitaminose, caiam os dentes.

1º de maio os russos entraram, libertaram todo mundo, o comandante era Gabreski, um grande ás americano, ainda vivo.

Gabreski proibiu saídas do campo, não havia segurança. Alguns, mais jovens, mais afoitos saíram e morreram. Foi mon-tada uma ponte aérea de B-17 para transporte dos prisioneiros libertados.

Esse colega meu estava no campo, um dia saiu e foi visitar um campo de judeus. Ele era mineiro, sabe Dornellles (**), era mineiro, e me dizia: Rui você nunca me viu chorar, seu apelido era “Moita Paes”, falava pouco. Quando escrevi um

(*) - Notas do Transcr.: (*) - Sztetin, Prússia, hoje na Polônia, fronteira com a Alemanha. (**) - Ex-Ministro e Deputado Francisco Dornelles

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livro, “Senta a Pua”, contando a história do Grupo de Caça, ele disse o seguinte:

Quando vi o quadro, fiquei com vergonha, com ver-gonha de ter reclamado, por ter sido maltratado nesse campo...

Por aí vocês têm uma idéia...É uma pena que só tenha esse tempo para falar....( Palmas intensas )O Brigadeiro retorna ao seu lugar intensamente ovacio-

nado, sendo cumprimentado de pé pelo Ministro e Deputado Francisco Dornelles e pelos Vice-Presidentes da FIERJ Jayme Salim Salomão e Lea Lozinski.

Em 09 de fevereiro de 2008, eram as seguintes as conta-gens das visualizações dos vídeos do evento, divididos em 5 segmentos no YouTube:

Brig. Moreira Lima – 3153Pres. Lula – 720Abertura – 363Outros Oradores – 221Clipe Holocausto – 564Total – 5021

Curriculum VitaeMAJOR-BRIGADEIRO-DO-AR RUI BARBOSA MOREIRA LIMA

Nascido aos 12 jun 1919 em Colinas, Estado do Ma-ranhão, filho do Desembargador Bento Moreira Lima e Sra. Heloísa Barbosa Moreira Lima. Casado com D. Juli-nha.

Ingressou na Escola Militar do Realengo, como Cade-te, em 31 de março de 1939, onde cursou os dois primei-ros anos, escolhendo a Arma de Aviação.

Com a criação do Ministério da Aeronáutica em 20 de janeiro de 1941, foi transferido em março daquele ano, para a Escola de Aeronáutica dos Afonsos. Concluiu o Curso em 30 de setembro de 1942, sendo promovido ao posto de Aspirante Aviador.

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Como 2° Tenente Aviador, servindo na Base Aérea de Salvador, inscreveu-se como voluntário para servir no 1º Grupo de Aviação de Caça. Neste período, cumpriu 19 missões de Patrulha e Cobertura de Comboio.

Realizou o treinamento de Piloto de Caça em Agua-dulce, Panamá, em aeronave P-40, repetindo o treina-mento na Base Aérea de Suffolk, Nova York, agora no avião que iria combater na Itália, o P-47 – Thunderbolt.

Piloto de combate da Esquadrilha Verde, sua primeira missão foi em 06 NOV 44 e a última em 01 MAI 45. Em 18 Jun 45, partiu de Pisa para os EUA para levar novos aviões P-47 para o Brasil. Na Campanha da Itália, realizou 94 missões de guerra, sendo atingido pela Artilharia An-tiaérea alemã em nove destas.

Obteve todas as promoções, a partir de Capitão-Aviador, pelo critério de merecimento. Durante os anos em que permaneceu na Aviação de Caça, exerceu todos os cargos exigidos para um Piloto de Caça, desde Ala de Esquadrilha até Comandante do 1º Grupo de Aviação de Caça.

Desempenhou o cargo de Comandante do Grupo de Transportes Especial e da Base Aérea de Santa Cruz entre 14 AGO 1962 e 02 ABR 1964, quando teve então seus direitos políticos cassados. Pertenceu ao Conselho Na-cional de Segurança e à Comissão Aeronáutica Brasileira em Washington, EUA.

Autor de vários textos sobre aviação e sobre os inte-grantes do Grupo de Caça, o mais destacado deles o livro “Senta a Pua!”.

Recebeu as seguintes condecorações como Piloto de Caça em combate: Cruz de Aviação, Fita A, com três Estrelas; Medalha da Campanha da Itália; Cruz de Aviação, Fita B; Distinguished Flying Cross (Cruz de Bravura dos EUA); Air Medal com quatro estrelas; Croix de Guerre Avec Palme, da França; Medalha da Confederação de Ex-Combatentes da Europa, Presi-dential Unit Citation (USA).

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Proclamação de Mordechai Anielewicz,Comandante da Resistência do Gueto na Noite do Levante do Gueto de Varsóvia

- 19 de abril de 1943 -

(Adaptação do Autor)

Nós, Combatentes do único reduto livre da Europa neste momento, apelamos ao Mundo para que se lembre de nós.

Que nos ajudem.Sabemos que vamos morrer - não importa.Hoje, véspera da Páscoa Judaica, começamos a percorrer

mais uma vez o Caminho da Liberdade.Vamos morrer - estamos conscientes disso.O sangue judeu não mais será derramado em vão.Lutando contra o nazismo neste gueto de Varsóvia, inicia-

mos um novo porvir para o Povo Judeu.Aqui tremula a bandeira azul-e-branca do Povo de Israel.Aqui, com a nossa morte, nasce a semente do futuro Estado.Não nos esqueçais...Viva a Liberdade e a Fraternidade dos Povos! Viva o Povo de Israel!

Mordechai Anielewicz Comandante da ZOB – Organização Combatente Judaica

A FIERJ recebeu diveras mensagens alusivas a data, das quais transcrevemos duas:

Do General Aureliano Pinto de Moura, Presidente do IGHMB, Instituto de Geografia e História Militar do Brasil.

Prezado IsraelNão poderia deixar de comparecer a tão significativo

evento. Lá estarei junto aos amigos relembrar as vítimas desse triste e trágico episódio da História para à Humanidade.

Um abraçoAureliano

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Do Tenente R/2 Moacir Torres, Presidente da AORAAssociação dos Oficiais da Reserva da Amazônia

Prezado Companheiro,Agradeço enormemente o convite enviado.Apresento retratação formal por não ter podido me fazer

presente.No entanto, apresento em meu nome e em nome dos Ofi-

ciais da Amazônia, todo o respeito pelo Povo Judeu, por todos os aspectos que o constituem, principalmente pela vossa histó-ria e contribuição para toda humanidade.

Nossas orações são para que não mais aconteçam atroci-dades como no holocausto. Mas saibam todos que em caso alguém tente façanha semelhante, encontrará no Soldado Bra-sileiro, um forte opositor; e, nós, Soldados da Amazônia, esta-remos prontos para garantir a Liberdade e os Direitos Huma-nos mesmo que custe nossa própria vida.

SHALOM! SELVA!Ten Torres - Pres. AORA.

Foto 1

Dia Internacional de Recordação do Holocausto24 de janeiro de 2008 no Itamaraty

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Legenda das Fotos do Capítulo 13

Dia Internacional de Recordação do Holocausto24/jan/2008 no Itamaraty

FOTO 1 - Brigadeiro Ruy Moreira Lima, do Senta a Pua - 1° Grupo de Aviação de Caça usa da palvra em vibrante pronunciamento na Cerimônia alusiva ao Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto no Salão Nobre do Palácio Itamaraty. Sentados: Sérgio Cabral, governador do estado do Rio de Janeiro, e sua senhora Adria-na Ancelmo Cabral, Jaques Wagner, governador do estado da Bahia, e sua companheira Maria de Fátima Carneiro de Mendonça, Paulo Vannuchi, secretário Especial dos Direitos Humanos, Da. Marisa, es-posa do Presidente, Dr Cláudio Lottemberg, presidente da Conib.

FOTO 2 - Segundo o presidente Lula, “o holocausto deve ser lem-brado com indignação por nós, pelos nossos filhos, pelos filhos dos nossos filhos e por todas as gerações futuras”. Para o Presidente, “nós devemos promover os valores mais elevados da solidariedade: paz e tolerância. E transformar esses valores em ações concretas con-tra o anti-semitismo, os preconceitos de raça, religião e classe”. Du-rante as cerimônias de que participou, o presidente Lula enfatizou os investimentos do governo federal para aprimorar os mecanismos de combate à discriminação, à intolerância e ao preconceito, por meio da atuação das Secretarias dos Direitos Humanos e de Promoção da Igualdade Racial e do Ministério da Justiça.

FOTO 3 - Pronunciamento do Governador do Estado do Rio de Ja-neiro, Sérgio Cabral.

FOTO 4 - Pronunciamento da Embaixadora de Israel, Tzipora Ri-mon.

FOTOS 5 e 6 - O grande público que lotou o Salão Nobre do Itama-

(Fotos de Isaac Markman e do Autor)

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raty, na Rua Marechal Floriano, no centro do Rio de Janeiro, vendo-se Veteranos Boina Azuis do Batalhão Suez.Em primeiro plano, o Vice-Presidente da CONIB conversa com a Dra. Clara Ant, Assessora Especial do Presidente Lula.

FOTO 7 - Eng José Alberto Chahon, filho do General Chahon, junto ao retrato em que aparece seu pai.

FOTO 8 - O 1º Grupo de Aviação de Caça da Força Aérea Bra-sileira que lutou nos céus da Itália durante a 2ª Guerra Mundial tinha como símbolo e grito de guerra o Senta a Pua, idéia do então Capitão Aviador Fortunato Câmara de Oliveira, Comandante da Es-quadrilha Azul.

FOTO 9 - Símbolo da ONU para o Dia Internacional de Recordação das Vítimas do Holocausto.

FOTO 10 - Presidente LULA inaugurou a Exposição Holocausto Nunca Mais no Saguão do Museu Histórico e Diplomático, deixan-do a sua assinatura no Livro de Visitantes.

FOTO 11 - Uma exposção organizda pelo Museu Judaico marcou a data, celebrada oficialmente em 27 de janeiro, estabelecida pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2005, para lembrar o dia da libertação dos prisioneiros do campo de concentração nazista de Auschwitz-Birkenau, no sul da Polônia, em 1945. Em janeiro de 2007, a ONU adotou nova resolução condenando as declarações que negarem a ocorrência do Holocausto. O Brasil foi co-patrocinador dessa resolução, aprovada por consenso por mais de 100 países.

FOTO 12 - Tenente Chahon com a FEB na Itália, em grupo lnde se incluía o futuro Presidente da República, então Tenente Coronel Humnberto de Alencar Castello Branco.

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PosfácioFoi com um grande sentimento de realização que par-

ticipei dos trabalhos que levaram a final a redação des-te volume. Trata-se de um esforço que praticamente dá continuidade a obra pioneira de Da. Frieda Wolff, que em seu fantástico labor historiográfico sobre os judeus no Bra-sil, abordou aqueles que seguiram carreira nas Forças Ar-madas, temática geralmente pouco conhecida, mesmo na comunidade judaica, que trouxe a lume diversos nomes, alguns dos quais constando deste livro, e que citamos a seguir:

Tenente-coronel Francisco Leão Cohn, da Guarda Na-cional, com atuação brilhante como Ajudante de Ordens, Quartel-mestre Geral e comandante do 6° Batalhão de Ca-çadores. Para a Guerra do Paraguai, levou um dos bata-lhões do primeiro contingente do Rio de Janeiro, em 1865, recebendo a bandeira das mãos do Imperador Dom Pedro II, ao embarcar.

Leão Zagury, de Macapá, também da Guarda Nacio-nal, cujo diploma com data de 13 de agosto de 1906 está exposto no Museu daquela cidade.

Irmãos Aarão e Elias Isaac Benchimol, de Belém. Aa-rão ingressou na Escola Militar do Realengo em 1930 na Arma de Cavalaria, e com a modernização do Exército to-mou parte em diversos cursos de especialização nos Es-tados Unidos, servindo durante a Guerra no Recife e em Fernando de Noronha, promovido a General-de-Divisão por merecimento em 1962. Seu filho Isaac é Capitão-de-Mar-e-Guerra.

Irmãos General Samuel Kicis e General Maurício Kicis, ambos de Artilharia. Maurício se dinstinguiu durante a In-tentona Comunista em 1935.

General Abraham Ramiro Bentes, também de Arti-lharia, era membro de comissões tratando da recupe-ração de antigas fortalezas em Mato Grosso e a Santa Cruz, RJ, servindo em diversos estados como Paraíba e

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São Paulo.Irmãos Levy Cardoso, filhos de Antônio de Almeida

Cardoso que se converteu ao judaísmo por amor à dona Estella Levy. Armando, filho mais velho, foi reformado no posto de Coronel. Waldemar, como tenente-coronel de Ar-tilharia, participou da campanha da Itália.

Na Marinha, Leão Amzalak, o primeiro de que se tem conhecimentno, filho de Isaac Amzalak, da Bahia, e irmão das três beldades - Simy, Esther e Mary Roberta - que Cas-tro Alves imortalizou em alguns de seus poemas. Leão sen-tou praça como Aspirante em 1879; acompanhou o prín-cipe Augusto na visita à Portugal, a bordo do encouraçado “Solimões”. Segundo-Tenente em 1886, primeiro-tenente em 1889, foi transferido para a Reserva em 1894, devido a sua participação na Revolta da Marinha. Em 1900 era Capitão-Tenente servindo na Biblioteca e no Museu Naval ingressando depois na Marinha Mercante.

Capitães-de-Mar-e-Guerra Edidio Guertzenstein a Boris Chigris, entre outros, que serviram como médicos da Ma-rinha. Boris trabalhou num navio socorro, um rebocador de Alto Mar assistindo os navios na costa brasileira do Es-pírito Santo até o Rio Grande do Sul e, mais tarde, cardio-logista, no Hospital Marcílio Dias, servindo com Amihay Burlá depois Almirante e Diretor do Hospital Central da Marinha onde também serviram Marcus Blank, urologista, Luís Blank, anestesista, drs. Mink e Brenner, cardiologistas como Boris que foi, no final da carreira, transferido para Brasília fundando na então nova capital o primeiro hospi-tal da Marinha e convidado a ser médico cardiologista do presidente Médici.

Na Aeronáutica, Milton Castro, carioca que já nos idos de 1935 era aviador da Marinha de Guerra, depois, ins-trutor de pilotos de caça. Em 1942, a época do novel Mi-nistério da Aeronáutica foi cedido para a Panair do Brasil, na falta de pilotos civis. Lá pilotou o pequeno mas seguro Lodstar e mais tarde os Constellation, tendo realizado o primeiro vôo da Panair para o Oriente Médio.

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Mais recentemente o Brigadeiro Médico Dr Waldemar Kichinewsky, que foi Diretor do Hospital Central da Ae-ronáutica no Rio Comprido, Rio de Janeiro e Presiente da Sociedade Brasileira de Radiologia.

A lista é extensa e continua sendo aumentada até hoje, nas Forças Singulares e Auxiliares.

Enfim, sentado ao computador, extraindo dados de antigas folhas de alterações e diplomas de medalhas des-crevendo tantos atos de heroísmo, desprendimento, patrio-tismo, aflorava um grande orgulho por ser brasileiro, um patrício daqueles bravos soldados, e também um correli-gionário da fé judaica.

Lembrava que se tivesse nascido 20 anos antes, eu po-deria ter sido um deles. Mas o destino não quis assim, e vim ao mundo como dizia meu saudoso pai, Abram Bla-jberg, Z”L, no mês da vitória, em 31 de maio de 1945, portanto 23 dias após o término da guerra na Europa aos 8 de maio...

Somos da tribo de Levy. Num passado remoto, dis-tante antepassado em meio ao deserto não se deixou ilu-dir pelo bezerro de ouro, aguardando que nosso Grande Patriarca Moises descesse do Monte Sinai trazendo as Tábuas da Lei, o que nos chegou até hoje em dia por tradição oral.

Assim, fomos sagrados como Guardiães do Tabernácu-lo, tendo a honra da Leitura da Torah nas Sinagogas logo após os descendentes dos Cohanim (Cohen = Sacerdote do Templo de Salomão).

Sob outros sobre-nomes, mas com o mesmo descorti-no e esperança continuamos a trilhar a estrada da vida, sa-tisfazendo-nos em ter nosso sustento, poder recordar nosso passado, esperando do futuro somente alegrias.

Somos tementes a D_us, o Grande Arquiteto do Uni-verso, fiéis a Lei de Moises, e apesar dos nomes às vezes complicados, que se repetem ad aeternum honrando a me-mória de nossos pais e avós, somos tão brasileiros quanto qualquer brasileiro.

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Síntese daACADEMIA DE HISTÓRIA MILITAR TERRESTRE

DO BRASIL - AHIMTBFundada em 1º de março de 1996

Fundada em Resende, A Cidade dos Cadetes do Exército, há 12 anos, em 1º de março de 1996, aniversário do término da Guerra do Paraguai e do início do ensino militar na AMAN.

A Academia de História Militar Terrestre do Brasil, ou sim-plesmente AHIMTB, desenvolve a História das Forças Terres-tres do Brasil: Exército, Fuzileiros Navais, Infantaria da Aero-náutica, Polícias, Bombeiros, Auxiliares e outras forças que as antecederam.

Possui sede e foro em Resende, mas de amplitude nacio-nal, tem como patrono o Duque de Caxias e como patronos de cadeiras historiadores militares terrestres assinalados, por ve-zes também ilustres chefes militares, como os marechais José Bernadino Bormann, José Pessoa, Leitão de Carvalho, Masca-renhas de Moraes, Castelo Branco e generais Tasso Fragoso, Alfredo Souto Malan e Aurélio de Lyra Tavares, Valentim Be-nício. Foram consagrados em vida como patronos de cadeiras, em razão de notáveis serviços à História Militar Terrestre do Brasil, os generais A. de Lyra Tavares, Jonas de Moraes Cor-reia, Francisco de Paula Azevedo Pondé, (*) Severino Sombra e Umberto Peregrino, o Almirante Hélio Leôncio Martins e os coronéis Francisco Ruas Santos recém falecido, Jarbas Passari-nho e Helio Moro Mariante da Brigada Militar RGS.

Figuram como patronos civis Barão do Rio Branco, Dr Eu-

(*) Vide Biografia do Gen Moyses Chahon

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gênio Vilhena de Morais, Gustavo Barroso, Pedro Calmon e José Antônio de Mello pelas contribuições à História Militar Terrestre do Brasil.

Entre os fatores da escolha de Resende ressalta ser a AMAN a maior consumidora de assuntos de História Militar que hoje ministra a seus cadetes no 2º, 3º e 4º anos, através de sua ca-deira de História Militar, o único núcleo contínuo e dinâmico de estudo e ensino de História Militar no Brasil. A Academia possui como órgão de divulgação o jornal O GUARARAPES já no seu número 58 que é dirigido a especialistas no assunto e à autoridades com responsabilidade de Estado pelo desenvol-vimento deste assunto de importância estratégica. Divulgação que potencializa através de sua Home page - já com mais de 700 mil visitas www.ahimtb.org.br.

A Academia desenvolve seu trabalho em duas dimen-sões: 1ª a clássica como instrumento de aprendizagem em Arte Militar com vistas ao melhor desempenho constitucional das Forças Terrestres, com apoio em suas experiências passa-das etc. A 2ª com vistas a isolar os mecanismos geradores de confrontos bélicos externos e internos para que colocados à disposição das lideranças civis estas evitem futuros confrontos bélicos com todo o seu rosário de graves conseqüências para a Sociedade Civil Brasileira.

A Academia dá especial atenção à juventude masculina e feminina estudando nos sistemas de ensino das Forças Terres-tres Brasileiras, com vistas a promover encontro dela com as velhas gerações e as atuais de historiadores militares terrestres e soldados terrestres e, além, tentar despertar no turbilhão da hora presente, de ingresso no insondável 3º milênio, novas ge-rações de historiadores militares terrestres, especialidade hoje em vias de extinção por falta de apoio e sobretudo estímulo editorial. Constatar é obra de simples raciocínio e verificação! É assunto que merece, salvo melhor juízo, séria reflexão de parte de lideranças das Forças Terrestres com responsabilidade funcional de desenvolver a identidade e as perspectivas histó-ricas das mesmas e, além, as suas doutrinas militares expressi-vamente nacionalizadas calcadas na criatividade de seus qua-

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dros e em suas experiências históricas bem sucedidas o que se impõe a uma grande nação, potência, ou grande potência do 3º Milênio.

No desempenho de sua proposta ela vem realizando ses-sões junto à juventude militar terrestre brasileira, a par de posses de novos acadêmicos do Exército, Fuzileiros Navais, Infantaria da Aeronáutica e Polícias e Bombeiros Militares que vêm pro-gressivamente mobilizando e integrando em sua cruzada cultu-ral e centralizando subsídios em seu Centro de Informações de História Militar Terrestre do Brasil em Resende, junto a AMAN.

Outra finalidade da Academia é enfatizar para os jovens com os quais contata a importância da História do Brasil e a de sua subdivisão - A História Militar Terrestre do Brasil. A primeira como a mãe da identidade e perspectiva históricas do Brasil e, a segunda como mãe da identidade e perspectivas históricas das forças terrestres brasileiras no contexto das do Brasil e, como em todas as grandes nações, potências e gran-des potências mundiais, Isto por ser subsidiária de soluções táticas, logísticas e estratégicas militares brasileiras que nos últimos 500 anos foram responsáveis, em grande parte, pelo delineamento, conquista, definição e manutenção de um Bra-sil de dimensões continentais.

Soluções capazes de contribuírem para o desenvolvimento da doutrina militar terrestre brasileira, com progressivos índices de nacionalização, como a sonharam o Duque de Caxias e os marechais Floriano Peixoto e Humberto Castello Branco.

Complementarmente procura a Academia apontar aos jovens, seu público alvo, os homens e instituições que lutam patrioticamente, a maioria das vezes sem nenhum apoio, para manter acesas e vivas as chamas dos estudos de História do Bra-sil e seus desdobramentos com o apoio na análise racional e não passional de fontes históricas, íntegras, autênticas e fidedignas, que com grandes esforços garimpam, ao invés das manipulações históricas predominantes entre nós feitas por historicidas, fruto das mais variadas paixões, fantasias e interesses, o que Rui Bar-bosa já denunciava em seu tempo. Confirmar é obra de simples verificação e raciocínio. E se os jovens disto se convencerem e

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exercerem o seu espírito crítico será meia batalha ganha.A Academia vem atuando em escala nacional com repre-

sentantes em todo o Brasil em suas várias categorias de sócios e já possui em Brasília, junto ao Colégio Militar, funcionando a sua Delegacia Marechal José Pessoa e instalou no Colégio Militar de Porto Alegre a Delegacia General Rinaldo Pereira Câmara e, em Fortaleza a delegacia Cel José Aurélio Câmara. E no Rio de Janeiro no IME, a Delegacia Marechal João Batista de Matos e em Curitiba a Delegacia Gen Luiz Carlos Pereira Tourinho. E em São Paulo as delegacia Cel Pedro Dias de Cam-pos voltada para a História da PMSP e ao abrigo da Associação de Oficiais da Reserva da Polícia Militar de São Paulo cujos quadros contam com dois acadêmicos e mais a Delegacia Gen Bertholdo Klinger abrigada no QG da 2ª DE.

Em Pelotas possui a Delegacia Fernado Luis Osório home-nagem ao grande historiador militar neto do General Osório. Em Caxias do Sul a Delegacia Gen Morivalde Calvet Fagundes, grande historiador da Revolução Farroupilha e ao abrigo do Grupo Conde de Caxias. Este é em síntese o perfil da Acade-mia de História Militar Terrestre do Brasil que pretende ser um fórum cultural para o debate de assuntos históricos de natureza doutrinária e em especial para militares da Reserva das For-ças Terrestres do Brasil para aproveitar as valiosas experiências que colheram em suas vidas na caserna. A Academia comple-tou 12 anos, e já orgulha de haver muito realizado. Seu suces-so continuado depende do empenho, solidariedade e vontade cultural de seus membros e da sensibilidade das lideranças de nossas Forças Terrestres em apoiar e estimular a iniciativa de grande benefício e insignificante custo para as mesmas a servi-ço do objetivo atual 1º do Exército que a Academia estendeu as outras forças terrestres do Brasil.

“Pesquisar, preservar, cultuar e divulgar a memória histó-rica, as tradições e os valores morais culturais e históricos do Exército Brasileiro.

Claudio Moreira BentoPresidente da AHIMTB

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Delegacia da AHIMTB no Rio de JaneiroMARECHAL JOÃO BAPTISTA DE MATTOS

Nascido no alvorecer do século, neto e bisneto de escra-vos.

Em 1918, poucos anos decorridos da Abolição torna-se um Cadete do Realengo, ingressando no Exército que acolhe e irmana a juventude, independente do berço, de qualquer origem, transformando a todos em soldados brasileiros.

Declarado aspirante a oficial da arma de infantaria, sua turma de 1921 da antiga Escola Militar daria ao Brasil outros Marechais, como Castello, Costa e Silva, Kruel, Maurell, e Levy Cardoso, o último ainda vivo.

Esteve à frente de tropa em combate, tornou-se o Histo-riador dos monumentos.

Presidiu o IGHMB, IHGB, SBG.A Delegacia RIO desta Academia tem o pivilégio de os-

tentar o seu nome honrado, de soldado exemplar, educador dedicado e historiador eminente, Marechal João Baptista de Matos.

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Curriculum Vitae Sintético do AutorIsrael Blajberg

Brasileiro nato de 1ª geração. Nasceu no Hospital da Cruz Vermelha no Rio de Janeiro aos 31 de maio de 1945.

Engenheiro Eletrônico pela Escola Nacional de Engenharia da Universidade do Brasil, Turma Povo Brasileiro de 1968.

Engenheiro da ITT Standard Electric, Westec e Ecodata, de 1968 a 1973.

Engenheiro Chefe de consultoria na MONTOR S. A. Proje-tos e Sistemas (Montreal Engenharia) e BELL CANADA de 1973 a 1975.

Em 1975 prestou Concurso Público para o BNDES. Exerceu cargos executivos nas Áreas de Planejamento e Social, atual-mente Engenheiro da Área de Planejamento no último nível da carreira.

Especialização em Engenharia Econômica. Realizou cursos no Brasil e no exterior em informática e tecnologia: Universidade de Ohio, Instituto Politécnico Nacional do México, como Bolsis-ta da OEA, estágios na EPA em Washington e Boston e no Depar-tamento de Proteção Ambiental do Estado de Massachussets.

Admitido em 1969 no Quadro do Magistério Público Fede-ral. Lecionou nas Escolas de Engenharia e Química e no Institu-to de Eletrotécnica da Universidade do Brasil até 1975.

Desde 1972 Professor Adjunto IV da Escola de Engenharia da Universidade Federal Fluminense. Presidiu as Comissões do Prêmio Acadêmico Walder Moreira e dos 40 Anos de Teleco-municações da UFF.

Ex-aluno do CPOR/RJ, Turma Marechal Rondon, Artilharia

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1965. Assessor Cultural da Associação dos Ex-Alunos e colabo-rador do Museu do Oficial R/2.

Indicado pelo BNDES para cursar a ESG - Escola Superior de Guerra em 2004, CAEPE – Curso de Altos Estudos de Polí-tica e Estratégia, Turma Vontade Nacional e 2007 pelo CLMN – Curso de Logística e Mobilização Nacional, Turma Cinqüen-tenário do CLMN.

Sócio da ADESG, Clube de Engenharia, Associação dos Antigos Alunos da Politécnica (Vice-Diretor Técnico-Cultural), Arquivo Histórico Judaico Brasileiro e Sociedade Brasileira de Genealogia Judaica.

Diretor de Cidadania da FIERJ – Federação Israelita do Esta-do do Rio de Janeiro, gestão Sergio Niksier 2007-2008.

Diretor Acadêmico do Memorial Judaico de Vassouras. Gestão Luiz Benyosef 2007-2008.

Diretor de Relações Públicas da Associação Nacional dos Veteranos da FEB, e Editor do Boletim Informativo. Gestão Cel. Helio Mendes 2008-2009.

Sócio Titular do IGHMB, Cadeira 79 – Marechal Mascare-nhas de Moraes.

Membro da Comissão Organizadora do Conselho Interna-cional de História Militar - Rio 2011.

Membro da Academia de História Militar Terrestre do Bra-sil – Cadeira 24 – Cel. Mário Clementino.

3º Vice-Presidente e Delegado da Delegacia Rio de Janeiro - Marechal João Baptista de Mattos.

Em 2005 participou da Delegação Brasileira para a Marcha da Vida na Polônia e Israel.

Em 2006 participou da Delegação Mundial dos Descen-dentes de Ilza, Polônia, na re-inauguração do antigo Cemitério Israelita daquela cidade.

Em 2007 participou do Seminário Latino-Americano Ensi-nando o Holocausto, no Yad Vashem, Jerusalém.

Agraciado com diversos diplomas e condecorações do Mi-nistério da Defesa, Exército, Aeronáutica e Associações de ex-combatentes nacionais e estrangeiras, e admitido na Ordem dos Velhos Artilheiros.

Tem diversos trabalhos publicados e apresentados em con-

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gressos nacionais e internacionais no âmbito da sua atuação no BNDES, como Educação Ambiental, Resíduos Sólidos, Ciência e Tecnologia e Telecomunicações.

Realizou trabalhos voltados para Genealogia, História Oral da Imigração e Histórias Familiares, reais e semificcionais, al-guns premiados em concursos literários.

Concurso BNDES 50 anos. Obteve premiação com o traba-lho 24 Horas na Vida de um Brasileiro, onde mostra a presença do BNDES no dia a dia dos brasileiros.

Recebeu o Prêmio UFF de Literatura com o trabalho Adeus à UFF em dez/2007.

BNDES – Jornal VÍNCULO da Associação de Funcionários, colaborador permanente, escrevendo sobre a contribuição dos funcionários da Casa ao Desenvolvimento Econômico e Social do Brasil, tendo sido homenageado nos 40 Anos do Vínculo em 2008.

O ADESGUIANO – dez 2004 – publicou o texto “Aven-tura Amazônica”, que relata as Viagens de Estudo realizadas pela Turma Vontade Nacional, também publicado em Revista Verde-Oliva, editada pelo CComSEx, edição de dez/2004.

Autor de trabalhos sobre a Real Academia Militar de Arti-lharia, Fortificação e Desenho, onde se graduou, e suas sucesso-ras. Pesquisador do prédio do Largo de São Francisco.

Seus estudos propiciaram inúmeros textos originais apre-sentados em eventos científicos e publicações civis e militares, especialmente sobre a atuação das forças brasileiras na II GM, na preservação da memória dos feitos das armas nacionais, as-sociado a eventos alusivos em cuja organização participou.

Colaborou com artigos para A DEFESA NACIONAL, RE-VISTA DO EXÉRCITO BRASILEIRO, Revistas do Clube Militar, Naval e da Aeronáutica, Revista Shalom, Jornal ALEF, Visão Judaica, O NOSSO JORNAL, Jornal do Clube dos Oficiais da PMERJ e outros.

Israel BlajbergRua Visconde de Cabo Frio, 25 - apto. 201

Tijuca – Rio de Janeiro / RJ – Cep: [email protected] - [email protected]

Tels.: (21) 2268-3078 e 9483-8045