soldados da borracha

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0 CENTRO UNIVERSITÁRIO DO NORTE - UNINORTE CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL E JORNALISMO DULCILENE DOS SANTOS OTERO PARTICIPAÇÃO MILITAR NA GUERRA: SOLDADOS DA BORRACHA

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Page 1: Soldados Da Borracha

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CENTRO UNIVERSITÁRIO DO NORTE - UNINORTE

CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL E JORNALISMO

DULCILENE DOS SANTOS OTERO

PARTICIPAÇÃO MILITAR NA GUERRA: SOLDADOS DA BORRACHA

MANAUS

2013

Page 2: Soldados Da Borracha

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DULCILENE DOS SANTOS OTERO

PARTICIPAÇÃO MILITAR NA GUERRA: SOLDADOS DA BORRACHA

Trabalho apresentado como requisito para a obtenção de nota parcial, Curso de Comunicação Social e Jornalismo do Centro Universitário do Norte – UNINORTE. Turma: CJM02S1.

MANAUS

2013

Page 3: Soldados Da Borracha

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 03

2 SOLDADOS DA BORRACHA ................................................................................... 042.1 OS ACORDOS DE WASHINGTON ......................................................................... 052.2 A BATALHA DA BORRACHA ................................................................................ 062.3 A ILUSÃO DO PARAÍSO ......................................................................................... 072.4 OS CAMINHOS DA GUERRA ................................................................................. 092.5 UMA NOVA FORMA DE ESCRAVIDÃO ............................................................... 112.6 UMA GUERRA QUE NÃO TERMINOU ................................................................. 12

3 CONCLUSÃO ............................................................................................................... 14

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................... 15

Page 4: Soldados Da Borracha

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1 INTRODUÇÃO

Soldados da Borracha foi o nome dados aos brasileiros que entre 1943/1945 foram

alistados e transportados para a Amazônia pelo Semta, com o objetivo de extrair borracha

para os Estados Unidos da América (Acordos de Washington) na II Guerra Mundial. Estes

foram os peões do Segundo Ciclo da Borracha e da expansão demográfica da Amazônia.

Em 1943, durante a Segunda Guerra Mundial, os japoneses cortaram o fornecimento

de borracha para os Estados Unidos. E para obter a borracha necessária à guerra, o Brasil e

aquele país assinaram acordo em que os Estados Unidos fariam investimentos na produção da

borracha amazônica e o Brasil mandaria a mão-de-obra aos seringais. Foram enviados 60 mil

trabalhadores. Cerca de metade deles morreu de malária e outras doenças.

Somente a partir da Constituição de 1988, os soldados da borracha passaram a receber

uma pensão como reconhecimento pelo serviço prestado ao país. Hoje, lutam para ter

garantido os mesmos direitos dos ex-combatentes. Neste trabalho veremos um pouco da

história desses homens que saíram de vários pontos do Brasil para se aventurarem dentro da

selva amazônica.

Page 5: Soldados Da Borracha

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2 SOLDADOS DA BORRACHA

De repente, em plena Segunda Guerra, os japoneses cortaram o fornecimento de

borracha para os Estados Unidos. Como resultado, milhares de brasileiros do Nordeste foram

enviados para os seringais amazônicos, em nome da luta contra o nazismo. Essa foi a Batalha

da Borracha, um capítulo obscuro e sem glória do nosso passado, ainda vivo na memória dos

últimos e ainda abandonados sobreviventes. No final de 1941, os países aliados viam o

esforço de guerra consumir rapidamente seus estoques de matérias-primas estratégicas. E

nenhum caso era mais alarmante do que o da borracha. A entrada do Japão no conflito

determinou o bloqueio definitivo dos produtores asiáticos de borracha. Já no princípio de

1942, o Japão controlava mais de 97% das regiões produtoras do Pacífico, tornando crítica a

disponibilidade do produto para a indústria bélica dos aliados.

A conjunção desses acontecimentos deu origem no Brasil à quase desconhecida

Batalha da Borracha. Uma história de imensos sacrifícios para milhares de trabalhadores que

foram para a Amazônia e que, em função do estado de guerra, receberam inicialmente um

tratamento semelhante ao dos soldados. Mas, ao final, o saldo foi muito diferente: dos 20 mil

combatentes na Itália, morreram apenas 454. Entre os quase 60 mil soldados da borracha,

porém, cerca da metade desapareceu na selva amazônica.

Figura 1 - Propaganda do governo sobre a importância do papel do soldado da borracha

Fonte: http://terranauas.blogspot.com.br/2012_09_01_archive.html

Page 6: Soldados Da Borracha

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2.1 OS ACORDOS DE WASHINGTON

Quando a extensão da guerra ao Pacífico e ao Índico interrompeu o fornecimento da

borracha asiática, as autoridades americanas entraram em pânico. O presidente Roosevelt

nomeou uma comissão para estudar a situação dos estoques de matérias-primas essenciais

para a guerra. E os resultados obtidos por essa comissão foram assustadores:

"De todos os materiais críticos e estratégicos, a borracha é aquele cuja falta representa

a maior ameaça à segurança de nossa nação e ao êxito da causa aliada (...) Consideramos a

situação presente tão perigosa que, se não se tomarem medidas corretivas imediatas, este país

entrará em colapso civil e militar. A crueza dos fatos é advertência que não pode ser

ignorada." (Comissão Baruch).

As atenções do governo americano se voltaram então para a Amazônia, grande

reservatório natural de borracha, com cerca de 300 milhões de seringueiras prontas para a

produção de 800 mil toneladas de borracha anuais, mais que o dobro das necessidades

americanas. Entretanto, naquela época, só havia na região cerca de 35 mil seringueiros em

atividade com uma produção de 16 mil a 17 mil toneladas na safra de 1940-1941. Seriam

necessários, pelo menos, mais 100 mil trabalhadores para reativar a produção amazônica e

elevá-la ao nível de 70 mil toneladas anuais no menor espaço de tempo possível.

Figura 2 - Desfile em homenagem aos soldados da borracha

Fonte: http://fortalezaemfotos.blogspot.com.br/2011/10/os-soldados-da-borracha.html

Para alcançar esse objetivo, iniciaram-se intensas negociações entre as autoridades

brasileiras e americanas, que culminaram com a assinatura dos Acordos de Washington.

Como resultado, ficou estabelecido que o governo americano passaria a investir maciçamente

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no financiamento da produção de borracha amazônica. Em contrapartida, caberia ao governo

brasileiro o encaminhamento de grandes contingentes de trabalhadores para os seringais -

decisão que passou a ser tratada como um heróico esforço de guerra. No papel, o esquema

parece simples, mas a realidade mostrou-se muito mais complicada quando chegou o

momento de colocá-lo em prática.

2.2 A BATALHA DA BORRACHA

Para o governo brasileiro era uma oportunidade para mitigar alguns dos mais graves

problemas sociais brasileiros. Somente em Fortaleza, cerca de 30 mil flagelados da seca de

1941-1942 estavam disponíveis para ser enviados imediatamente para os seringais. Mesmo

que de forma pouco organizada, o DNI (Departamento Nacional de Imigração) ainda

conseguiu enviar quase 15 mil pessoas para a Amazônia, durante o ano de 1942, metade das

quais homens aptos ao trabalho nos seringais.

Aqueles eram os primeiros soldados da borracha. Simples retirantes que se

amontoavam com suas famílias por todo o nordeste, fugindo de uma seca que teimava em não

acabar e os reduzia à miséria. Mas aquele primeiro grupo era, evidentemente, muito pequeno

diante das pretensões americanas.

Figura 3 - Embarque dos soldados da borracha no Acre

Fonte: http://turma.spaceblog.com.br/148174/Acre-Acre-soldados-da-borracha-embarque/

O problema era a baixa capacidade de transporte das empresas de navegação dos rios

amazônicos e a pouca disponibilidade de alojamento para os trabalhadores em trânsito.

Mesmo com o fornecimento de passagens do Lloyd, com a abertura de créditos especiais pelo

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governo brasileiro e com a promessa do governo americano de pagar US$ 100 por um novo

trabalhador instalado no seringal, as dificuldades eram imensas e pareciam intransponíveis.

Isso só começou a ser solucionado em 1943 por meio do investimento maciço que os

americanos realizaram no Snapp (Serviço de Navegação e Administração dos Portos do Pará)

e da construção de alojamentos espalhados ao longo do trajeto percorrido.

Figura 4 - Embarque dos soldados da borracha em Fortaleza

Fonte: http://colunamiolodepote.blogspot.com.br/2012/09/borracha-para-memoria.html

Para acelerar ainda mais a transferência de trabalhadores para a Amazônia e aumentar

significativamente sua produção de borracha os governos americano e brasileiro encarregaram

diversos órgãos do gerenciamento do programa. Pelo lado americano estavam envolvidas a

RDC (Rubber Development Corporation), a Board of Economic Warfare, a RRC (Rubber

Reserve Company), a Reconstrucction Finance Corporation e a Defense Supllies Corporation.

Pelo lado brasileiro, foram criados o Semta (Serviço Especial de Mobilização de

Trabalhadores para a Amazônia), depois substituído pela Caeta (Comissão Administrativa de

Encaminhamento de Trabalhadores para a Amazônia), a Sava (Superintendência do

Abastecimento do Vale Amazônico) e o BCB (Banco de Crédito da Borracha), entre outros.

Esses novos órgãos, em muitos casos, se sobrepunham a outros já existentes, como o

DNI, e não é preciso muito esforço para imaginar o tamanho da confusão oficial que se tornou

o empreendimento.

2.3 A ILUSÃO DO PARAÍSO

Page 9: Soldados Da Borracha

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Em todas as regiões do Brasil, aliciadores tratavam de convencer trabalhadores a se

alistar como soldados da borracha e, assim, auxiliar a causa aliada. Alistamento,

recrutamento, voluntários, esforço de guerra tornaram-se termos comuns no cotidiano

popular. A mobilização de trabalhadores para a Amazônia coordenada pelo Estado Novo foi

revestida por toda a força simbólica e coercitiva que os tempos de guerra possibilitavam.

Figura 5 – Cartaz de convocação do SENTA para ser soldado da borracha na Amazônia

Fonte: http://coisadecearense.blogspot.com.br/2011/09/soldados-da-borracha.html

No Nordeste, de onde deveria sair o maior numero de soldados, o Semta convocou

padres, médicos e professores para o recrutamento de todos os homens aptos ao grande

projeto que precisava ser empreendido nas florestas amazônicas. O artista suíço Chabloz foi

contratado para produzir material de divulgação acerca da "realidade" que os esperava. Nos

cartazes coloridos os seringueiros apareciam recolhendo baldes de látex que escorria como

água de grossas seringueiras. Todo o caminho que levava do sertão nordestino, seco e

amarelo, ao paraíso verde e úmido da Amazônia estava retratado naqueles cartazes repletos de

palavras fortes e otimistas. O slogan "Borracha para a Vitória" tornou-se o emblema da

mobilização realizada por todo o nordeste.

Espalhadas pelas esquinas, nas paredes das casas e nos bares, a colorida propaganda

oficial garantia que todos os trabalhadores teriam passagem grátis e seriam protegidos pelo

Semta. Histórias de enriquecimento fácil circulavam de boca em boca. "Na Amazônia se junta

dinheiro com rodo." Os velhos mitos do Eldorado amazônico voltavam a ganhar força no

imaginário popular. O paraíso perdido, a terra da fartura e da promissão, onde a floresta era

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sempre verde e a seca desconhecida. Os cartazes mostravam caminhões carregando toneladas

de borracha colhidas com fartura pelos trabalhadores. Eram imagens coletadas por Chabloz

nas plantações da Firestone na Malásia, sem nenhuma conexão com a realidade que esperava

os trabalhadores nos seringais amazônicos. Afinal, o que os flagelados teriam a perder?

Quando nenhuma das promessas e quimeras funcionavam, restava o milenar recurso

do recrutamento forçado de jovens. A muitas famílias do sertão nordestino foram oferecidas

somente duas opções: ou seus filhos partiam para os seringais como soldados da borracha ou

então deveriam seguir para o front na Europa, para lutar contra os fascistas italianos e

alemães. É fácil entender que muitos daqueles jovens preferiram a Amazônia.

2.4 OS CAMINHOS DA GUERRA

Ao chegar aos alojamentos organizados pelo Semta, o trabalhador recebia um chapéu,

um par de alpargatas, uma blusa de morim branco, uma calça de mescla azul, uma caneca, um

talher, um prato, uma rede, cigarros, um salário de meio dólar por dia e a expectativa de logo

embarcar para a Amazônia. Os navios do Loyd saíam dos portos nordestinos abarrotados de

homens, mulheres e crianças de todas as partes do Brasil. Primeiro rumo ao Maranhão e

depois para Belém, Manaus, Rio Branco e outras cidades menores nas quais as turmas de

trabalhadores seriam entregues aos "patrões" (seringalistas) que deveriam conduzi-los até os

seringais onde, finalmente, poderiam cumprir seu dever para com a pátria.

Figura 6 – Equipamento oferecido a todos os soldados da borracha

Fonte: http://reporterdaamazonia.blogspot.com.br/2009/08/memoria-revisitada-cartazes-para.html

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Aparentemente, tudo muito organizado. Pelo menos diante dos olhos dos americanos,

que estavam nos fornecendo centenas de embarcações e caminhões, toneladas de suprimentos

e muito, muito dinheiro. Tanto dinheiro que sobrava para desperdiçar ainda em mais

propaganda. E esbanjar em erros administrativos que faziam, por exemplo, uma pequena

cidade do sertão nordestino ser inundada por um enorme carregamento de café solicitado não

se sabe por quem. Ou possibilitar o sumiço de mais de 1.500 mulas entre São Paulo e o Acre.

Na verdade, o caminho até o eldorado amazônico era muito mais longo e difícil do que

poderiam imaginar tanto os americanos quanto os soldados da borracha. A começar pelo

medo do ataque de submarinos alemães que se espalhava entre as famílias amontoadas a

bordo dos navios do Loyd, sempre comboiados por caça-minas e aviões de guerra. A memória

de quem viveu aquela experiência ficou marcada por aqueles momentos em que era proibido

até acender fósforos ou mesmo falar. Tempos de medo que estavam só começando.

A partir do Maranhão, não havia um fluxo organizado de encaminhamento de

trabalhadores para os seringais. Freqüentemente era preciso esperar muito, antes que as

turmas tivessem oportunidade de seguir viagem. A maioria dos alojamentos que recebiam os

imigrantes em trânsito eram verdadeiros campos de concentração, em que as péssimas

condições de alimentação e higiene destruíam a saúde dos trabalhadores, antes mesmo que

tentassem o primeiro corte nas seringueiras.

Havia comida, e muita. Mas era intragável, tão ruim e mal preparada que era comum

ver as lixeiras dos alojamentos cheias enquanto as pessoas adoeciam de fome. Muitos

alojamentos foram construídos em lugares infestados pela malária, febre amarela e icterícia.

Surtos epidêmicos matavam dezenas de soldados da borracha e seus familiares nos pousos de

Belém, Manaus e outros portos amazônicos. Ao contrário do que afirmava a propaganda

oficial, o atendimento médico inexistia, e conflitos e toda sorte se espalhavam.

Figura 7 - Tapera de acampamento de seringueiros divisa Rondônia-acre

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Fonte: http://fortalezaemfotos.blogspot.com.br/2011/10/os-soldados-da-borracha.htmlA desordem era tanta que muitos abandonaram os alojamentos e passaram a

perambular pelas ruas de Manaus e outras cidades, buscando um modo de retornar a sua terra

de origem ou de pelo menos sobreviver. Outras tantas revoltas paralisaram alguns "gaiolas"

(navios fluviais) em plena viagem, diante das notícias alarmantes sobre a insuportável vida

nos seringais. Eram pequenos motins rapidamente abafados pelos funcionários da Snapp ou

da Sava. As viagens apareciam, então, como caminhos sem volta.

2.5 UMA NOVA FORMA DE ESCRAVIDÃO

Os que conseguiam efetivamente chegar aos seringais, depois de três ou mais meses de

viagem, já sabiam que suas dificuldades estavam apenas iniciando. Os recém-chegados eram

tratados como "brabos" - aqueles que ainda não sabiam cortar seringa e cuja produção no

primeiro ano era sempre muito pequena. Só a partir do segundo ano de trabalho o seringueiro

era considerado "manso". Mesmo assim, desde o momento em que era escolhido e embarcado

para o seringal, o brabo já começava a acumular uma dívida com o patrão. O mecanismo de

prender o trabalhador por meio de uma dívida inacabável, chamado "sistema de aviamento".

Essa dívida crescia rapidamente, porque tudo que se recebia no seringal era cobrado.

Mantimentos, ferramentas, tigelas, roupas, armas, munição, remédios, tudo enfim era anotado

na sua conta corrente. Só no fim da safra, a produção de borracha de cada seringueiro era

abatida do valor de sua dívida. Mas o valor de sua produção era, quase sempre, inferior à

quantia devida ao patrão. E não adiantava argumentar que o valor cobrado pelas mercadorias

no barracão do seringalista era cinco ou mais vezes maior do que aquele praticado nas

cidades: os seringueiros eram proibidos de vender ou comprar em qualquer outro lugar. Os

soldados da borracha descobriam que, no seringal, a palavra do patrão era lei.

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Figura 8 - Balsa transportando borracha no Rio Acre

Fonte: http://fortalezaemfotos.blogspot.com.br/2011/10/os-soldados-da-borracha.html

Os financiadores americanos insistiam em não repetir os abusos do sistema de

aviamento que caracterizara o primeiro ciclo da borracha. Na prática, entretanto, o contrato de

trabalho assinado entre seringalista e soldado da borracha quase nunca era respeitado. A não

ser para assegurar os direitos dos seringalistas. Como no caso da cláusula que impedia o

seringueiro de abandonar o seringal enquanto não saldasse sua dívida com o patrão, o que

tornava a maioria dos seringueiros verdadeiros escravos, prisioneiros das "colocações de

seringa" (unidades de produção de látex em que estavam instalados).

Todas as tentativas de implantação de um novo regime de trabalho, bem como o

fornecimento de suprimentos diretamente aos seringueiros, fracassaram diante da pressão e do

poderio das "casas aviadoras" (fornecedores de suprimentos) e dos seringalistas que

dominavam secularmente o processo da produção da borracha na Amazônia.

2.6 UMA GUERRA QUE NÃO TERMINOU

Mesmo com todos os problemas enfrentados (ou provocados) pelos órgãos

encarregados da Batalha da Borracha, cerca de 60 mil pessoas foram enviadas para os

seringais amazônicos entre 1942 e 1945. Desse total, quase a metade acabou morrendo em

razão das péssimas condições de transporte, alojamento e alimentação durante a viagem.

Como também pela absoluta falta de assistência médica, ou mesmo em função dos inúmeros

problemas ou conflitos enfrentados nos seringais.

Ainda assim o crescimento da produção de borracha na Amazônia nesse período foi

infinitamente menor do que o esperado. O que levou o governo americano, já a partir de 1944,

a transferir muitas de suas atribuições para órgãos brasileiros. E tão logo a Guerra Mundial

chegou ao fim, no ano seguinte, os EUA se apressaram em cancelar todos os acordos

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referentes à produção de borracha amazônica. O acesso às regiões produtoras do Sudeste

Asiático se achava novamente aberto e o mercado internacional logo se normalizaria.

Terminava a Batalha da Borracha, mas não a guerra travada pelos seus soldados.

Imersos na solidão de suas colocações no interior da floresta, muitos deles nem sequer foram

avisados de que a guerra tinha terminado, e só viriam a descobrir isso anos depois. Alguns

voltaram para suas regiões de origem exatamente como haviam partido, sem um tostão no

bolso, ou pior, alquebrados e sem saúde. Outros aproveitaram a oportunidade de criar raízes

na floresta e ali construir suas vidas. Poucos, muito poucos, conseguiram tirar algum proveito

econômico daquela batalha incompreensível, aparentemente sem armas, sem tiros e que

produziu tantas vítimas.

Pelo menos uma coisa todos os soldados da borracha, sem exceção, receberam. O

descaso do governo brasileiro, que os abandonou à própria sorte, apesar de todos os acordos e

das promessas repetidas antes e durante a Batalha da Borracha. Só a partir da Constituição de

1988, mais de 40 anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial, os soldados da borracha

ainda vivos passaram a receber uma pensão como reconhecimento pelo serviço prestado ao

país. Uma pensão irrisória, dez vezes menor que a pensão recebida por aqueles que foram

lutar na Itália. Por isso, ainda hoje, em diversas cidades brasileiras, no dia 1º de maio os

soldados da borracha se reúnem para continuar a luta pelo reconhecimento de seus direitos. A

comparação é dramática: dos 20 mil brasileiros que lutaram na Itália, morreram somente 454

combatentes. Entre os quase 60 mil soldados da borracha, porém, cerca da metade morreu

durante a guerra.

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3 CONCLUSÃO

Houve um segundo surto da borracha durante a segunda guerra mundial, quando os

Japoneses, que eram aliados com os Alemães, ocuparam as plantações de Seringas na

Malásia. Os países aliados contra a Alemanha tinham que achar uma outra fonte para adquirir

a borracha, que é indispensável para fazer guerra. Assim aconteceu a segunda vaga de

imigração do nordeste.

Os Soldados da Borracha, depois de alistados, examinados e dados como habilitados

nos alojamentos em Fortaleza (Prado e Alagadiço), recebiam um kit básico de trabalho na

mata, que constitui-se de: uma calça de mescla azul, uma camisa branca de morim, um chapéu

de palha, um par de alpercatas, uma mochila, um prato fundo, um talher (colher-garfo), uma

caneca de folha de flandes, uma rede, e um maço de cigarros Colomy. O ponto de partida para

muitos deles foi a Ponte Metálica (porto de Fortaleza na época). Só na Amazônia estes

receberam o treinamento para a extração da borracha.

Os chamados “soldados da borracha” eram sujeitos ao serviço militar e tinham que

escolher entre lutar na guerra ou trabalhar como seringueiro. Os soldados da borracha já

tinham dívidas antes mesmo de começar a trabalhar. Eles tinham que entregar borracha em

troca do equipamento e dos alimentos que precisavam. Este "Sistema de Aviamento" ditado

pelos seringalistas fez com que eles nunca chegarem a obter dinheiro e assim eles nem

podiam voltar à terra deles depois da guerra. Na prática, a maioria deles morreu de doenças

como malária ou por influência de atrocidades da selva.

Os sobreviventes ficaram na Amazônia por não ter dinheiro para pagar a viagem de

volta, ou porque estavam endividados com os seringalistas (donos de seringais). Ao contrário

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dos Pracinhas, estes só foram reconhecidos como combatentes da II Guerra Mundial em 1988,

e apenas com este reconhecimento tiveram direito a uma pensão vitalícia.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

NECES, Marcus Vinicius. A heróica e desprezada batalha da borracha. Disponível em: <http://www2.uol.com.br/historiaviva/reportagens/a_heroica_e_desprezada_batalha_da_borracha.html> Acesso 30 mar. 2013

SOLDADOS DA BORRACHA. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Soldados_da_Borracha> Acesso 30 mar. 2013

SOLDADOS DA BORRACHA. Disponível em: <http://www.portalamazonia.com.br/secao/amazoniadeaz/interna.php?id=130> Acesso 30 mar. 2013

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