sofistas1

54
A DEMOCRACIA ATENIENSE Pnyx

Upload: janio-alves

Post on 18-Jan-2015

2.830 views

Category:

Documents


1 download

DESCRIPTION

 

TRANSCRIPT

Page 1: Sofistas1

A DEMOCRACIA ATENIENSE

Pnyx

Page 2: Sofistas1

Vista Geral da Acrópole

Page 3: Sofistas1

ACRÓPOLIS ARCAICA – Templo De Atenas

SÉC. VII / VII a.C

Page 4: Sofistas1

Templo de Atenas Nike

Fortificação Micênica

1.250 a.C

Page 5: Sofistas1

Fortificações da Acrópole da era de Bronze

Page 6: Sofistas1

A plataforma dos oradores Pnyx, o ponto onde se desenrolaram as grandes disputas políticas de Atenas na “Idade de Ouro”. Aqui os atenienses ouviram os discursos de grandes estadistas, como Péricles e Aristides no século V a.C e Demóstentes e Esquino no séc. IV a.C. Ao fundo, no topo da Acrópolis está o Partenon, o templo de Atenas, a protetora da cidade.

Page 7: Sofistas1

SITE Do Prof. VOLTAIREhttp://educaterra.terra.com.br/voltaire/politica/democracia2.htm

A constituição democrática

•Com poderes delegados pelo povo como nomotheta, Clístenes implementou uma profunda reforma política que tinha como objetivo deslocar o poder das mãos dos nobres para as dos demos, palavra que significava não apenas povo, como também os bairros e comunidades habitados.

•A antiga divisão política da cidade de Atenas estava baseada nas quatro tribos (filiai) formadoras originais da região, denominadas de guerreiros (Hoples), cultivadores (Geleôn), pastores (Aegicoros) e artesãos (Argadês), todas filhas de um mítico antepassado, Ion (daí vem a palavra jônico, que denomina o povo que habitava Atenas e as regiões vizinhas).

•Cada uma delas era chefiada por um patriarca, o filobasileus, que mantinha uma relação de domínio sobre seus integrantes, favorecia os membros da nobreza, os quais integravam o sistema das tribos e exerciam sua autoridade baseada na tradição.

Page 8: Sofistas1

•Clístenes, em 502 a.C., desativou a divisão por tribos e reestruturou a cidade em uma outra, baseada em 10 demos que estavam distribuídos pelo interior, na cidade e no litoral.

•Considerava-se cidadão (thetes) qualquer ateniense maior de 18 anos que tivesse prestado serviço militar e que fosse homem livre. Da reforma em diante, os homens da cidade não usariam mais o nome da família, mas, sim, o do demos a que pertenciam.

•Manifestariam sua fidelidade não mais à família (gens) em que haviam nascido, mas à comunidade (demói) em que viviam, transferindo sua afeição de uma instância menor para uma maior.

•O objetivo do sistema era a participação de todos nos assuntos públicos, determinando que a representação popular se fizesse não por eleição, mas por sorteio.

Page 9: Sofistas1

Partenon

Page 10: Sofistas1

Esse foi um dos aspectos da democracia ateniense que mais crítica sofreu por parte dos filósofos, especialmente de Sócrates e Platão. Eles não aceitavam que a nave do estado fosse conduzida aleatoriamente, ao sabor do acaso. Platão afirmava que adotar esse costume era o mesmo que realizar um sorteio entre os marinheiros, num mar escalpelado, para ver qual deles deveria ser o piloto a conduzir o timão para levar o barco a um porto seguro. Parecia-lhe evidente que se exigisse que mesmo as tarefas comuns fossem assumidas por profissionais, hoje diríamos técnicos; o estado só poderia ser dirigido por especialistas, pelos filósofos ou pelo rei-filósofo, como logo abaixo será exposto. O questionamento dele tornou-se, desde então, um tema clássico no debate político sobre quem deve reger o estado, a maioria ou somente os técnicos?

Page 11: Sofistas1

Democratas: Temístocles e Péricles

Page 12: Sofistas1

A base da democracia é a igualdade de todos os cidadãos.

Igualdade perante a lei (isonomia), e igualdade de poder se pronunciar na assembléia (isegoria), quer dizer, direito à palavra.

Essas duas liberdades são os pilares do novo regime, estendidos a ricos e pobres, a nobres e plebeus. O sistema de sorteio evitava, em parte, a formação de uma classe de políticos profissionais que atuassem de uma maneira separada do povo, procurando fazer com que qualquer um se sentisse apto a manejar os assuntos públicos, eliminado-se a alienação política dos indivíduos.

Procurava-se, com o exercício direto da participação, tornar o público coisa privada. Sob o ponto de vista grego, o cidadão que se negasse a participar dos assuntos públicos, em nome da sua privacidade, era moralmente condenado. Criticavam-no por sua apatia ou idiotia. Quem precisava de muros para se proteger era a comunidade, não as casas dos indivíduos.

Page 13: Sofistas1

Instituições da democracia O Conselho dos 500

Uma vez por ano, os demos sorteavam 50 cidadãos para se apresentarem no Conselho (Boulê) que governava a cidade em caráter permanente. Como eram 10 demos, ele denominava-se "Conselho dos 500". Entre estes 500 deputados eram sorteados 50 que formavam a pritania ou presidência do Conselho, responsável pela administração da cidade por 35 ou 36 dias.

Cada demos era chamado, alternadamente, a responder pelos assuntos da pólis, durante um certo período.

O Conselho determinava a pauta das discussões, bem como a convocação das assembléias gerais populares (a Ecclesia), que se realizavam duas vezes por semana.

Page 14: Sofistas1

A Ecclesia

A assembléia geral que reunia o povo inteiro não tinha um lugar fixo.

A palavra ecclesia era utilizada para definir, genericamente, qualquer reunião para debater questões públicas, semelhante ao comício (comitiu) romano em sua forma original.

Entretanto, em Atenas costumou-se fazer esses grandes encontros num lugar chamado Pnix, uma grande pedra que dominava uma colina, a qual comportava parte considerável dos cidadãos.

Quando a ecclesia estava reunida, não só entravam na liça os problemas mais candentes da comunidade, como se escolhiam os magistrados eletivos. As funções executivas estavam divididas entre os magistrados sorteados e os escolhidos por voto popular. Eles eram responsáveis perante a ecclesia por todos os seus atos, podendo ser julgados por ela em caso de falta grave.

Page 15: Sofistas1
Page 16: Sofistas1

Os magistrados

As magistraturas eletivas concentravam maior prestígio. É o caso dos estrategos, que formavam uma espécie de estado-maior que reunia os comandantes militares que chefiavam os soldados de infantaria (hoplitas) em tempos de guerra.

Cada estratego tinha que ser indicado (eleito diretamente) pelo seu demos e aprovado pela ecclesia. O comando supremo era entregue ao arconte-polemarco, chefe das forças armadas e virtual líder político da cidade.

Explica-se a longa liderança de Péricles, por mais de 30 anos, de 460 a 429 a.C., como resultado de suas sucessivas reeleições para o cargo de estratego.

A segunda magistratura em importância era a dos juizes (arcontes) que formavam o Tribunal de Justiça (areópago), em número de nove.

O título de rei (basileus), como já vimos, era mantido para o responsável pelo cerimonial religioso. A diferença entre as magistraturas escolhidas por sorteio das determinadas por voto é de que as primeiras não podiam ser reeleitas

Page 17: Sofistas1

Os excluídos

Quem participava efetivamente da vida democrática da cidade de Atenas?

Estimativas calculam que sua população, no apogeu da cidade, nos séculos V-IV a. C., dificilmente ultrapassava 400 mil habitantes [ 130 mil cidadãos (thètes), 120 mil estrangeiros (métoikion) e 120-130 mil escravos (andrapoda)].

A sociedade ateniense vivia em parte do trabalho dos escravos, sendo esses estrangeiros, visto que, desde os tempos das leis de Sólon (cerca de 594 a.C.), gregos não podiam escravizar gregos. Além dos escravos, tanto os públicos como os domésticos (oikétès) - ex-prisioneiros de guerra ou comprados nos mercados de escravos - excluídos da cidadania, contavam-se os estrangeiros (métoikion) e seus filhos, que igualmente não eram considerados cidadãos.

As mulheres, independentemente da sua classe social ou origem familiar, encontravam-se afastadas da vida política. A grande parte da população, dessa forma, não participava dos destinos públicos, estimando-se que os direitos de cidadania estavam à disposição, no máximo, de 30-40 mil homens, mais ou menos um décimo da população total.

Page 18: Sofistas1

O ostracismo

Uma típica instituição da democracia ateniense foi o ostracismo (ostrakón).

Tratava-se da votação feita anualmente para excluir da vida política aquele indivíduo que fosse considerado uma ameaça às instituições democráticas.

Consta ter sido Clístenes quem por primeiro se utilizou dele para banir da cidade velhos seguidores da tirania. Para o cidadão perder seus direitos políticos por 10 anos era necessário, entretanto, que seu nome fosse apontado, geralmente em pedaços de cerâmica, em eleições secretas por mais de 6.000 votos. Isso evitava que ele fosse vítima do capricho de um líder político que desejasse exilá-lo da comunidade.

Pode-se considerar o ostracismo como uma prática civilizada, pois evitava-se executar o adversário político, sendo aplicado principalmente contra os chefes do partido aristocrático, que sempre conspiravam contra o bom funcionamento da democracia. Além do mais, não se tocava nos bens do atingido, comprometendo-se o estado a não causar nenhum dano a seus familiares, que ficavam sob sua proteção. Cumpridos os dez anos de exílio, ele podia retornar e assumir plenamente os seus direitos de cidadania.

Page 19: Sofistas1
Page 20: Sofistas1

Como qualquer outro regime político, a democracia ateniense foi testada pelas guerras.

Por duas vezes os gregos estiveram ameaçados de perder sua liberdade. A primeira deu-se quando uma expedição naval dos persas tentou desembarcar nas praias de Maratona, sendo derrotada pelo general ateniense Milcíades, em 490 a.C., e a segunda, quando os persas invadiram a Grécia sob o comando do rei Xerxes, em 480 a.C., sendo novamente derrotados nas batalhas de Salamina e Platéias, desta vez por Temístocles.

A vitória de Atenas projetou-a como líder das cidades gregas, formando-se então uma simaquia, ou liga federada entre as polis, denominada de Liga de Delos (formada em 478 a.C. e extinta em 404 a.C.). Durante o trintênio de Péricles, também considerado como o período do seu apogeu, aproveitou-se dessa liderança para lançar mão dos recursos financeiros da Liga para embelezar a cidade, restaurando então o célebre templo do Pártenon (em honra à deusa Atena Pártenos, a protetora) em mármore e ouro. Isso serviu de motivo para que as demais cidades integrantes da Liga de Delos se sentissem lesadas, situação que terminou sendo explorada por Esparta, que liderou uma confederação contra os atenienses, levando-os a uma guerra desastrosa: a Guerra do Peloponeso.

Page 21: Sofistas1

Elfíades e Péricles

Dois líderes do partido democrático se destacam naquela época de esplendor: Elfíades e Péricles. O primeiro conseguiu reduzir o poder do Areópago ateniense (espécie de senado vitalício e símbolo do poder dos aristocratas) e o outro introduziu o pagamento em forma de subsídio a todo cidadão pobre que participasse das tarefas políticas das cidades, denominado de mistoforia (o misthos ecclesiastikós).

Dessa forma, os de origem humilde, podiam ter sua atividade garantida nas assembléias, bem como exercer algumas das magistraturas. Essa prática desagradou profundamente os nobres e os ricos. Sócrates, que não tinha simpatias pela democracia, lamentava que as assembléias estivessem tomadas por sapateiros, carpinteiros, ferreiros, tendeiros e até vendedores ambulantes, o que fazia com que as pessoas de bom gosto e fortuna se afastassem da vida pública, abandonando o campo da política nas mãos dos demagogos e dos sicofantas (delatores profissionais).

Page 22: Sofistas1

Aristogeiton e Harmodius

Page 23: Sofistas1

Guerra do Peloponeso

Mas a verdadeira causa do declínio das instituições democráticas foi o resultado da derrota ateniense, perante as forças espartanas na longa Guerra do Peloponeso (431 - 404 a.C.).

A oligarquia tentou retomar o poder do meio do governo dos "Trinta tiranos", em 404-403 a.C., mas uma rebelião pró-democracia conseguiu restabelecê-la.

Em 338 a.C. os atenienses sofreram um novo revés, dessa vez perante as forças do rei da Macedônia, Felipe II, e seu filho Alexandre, na batalha de Queronéia, fazendo com que a cidade terminasse por ser governada pelos sucessores (diádocos) macedônicos. Seu eclipse final ocorreu durante o domínio romano, quando a Grécia inteira se torna uma província do Império, a partir de 146 a.C.

Page 24: Sofistas1
Page 25: Sofistas1
Page 26: Sofistas1
Page 27: Sofistas1

O mito das virtudes democráticas

Platão, num dos seus diálogos, o Protágoras, ou os Sofistas, reproduz o seguinte mito, narrado pelo filósofo Protágoras a Sócrates, que duvidava ser a política uma atividade ao alcance de todos:

O homem, ao participar das qualidades divinas (a sabedoria das artes úteis e o domínio do fogo), foi primeiramente o único animal que honrou os deuses e se dedicou a construir altares e imagens das deidades: teve, além disso, a arte de emitir sons e palavras articuladas, inventou as habitações, os vestidos, o calçado, os meios de abrigar-se e os alimentos que nascem da terra. Apetrechados dessa maneira para a vida, os seres humanos viviam dispersos, sem que existisse nenhuma cidade; assim, pois, eram destruídos pelos animais, que sempre, em todas as partes, eram mais fortes do que eles, e seu engenho, suficiente para alimentá-los, seguia sendo impotente para a guerra contra os animais; a causa disso residia em que não possuíam a arte da política (Politike techne), da qual a arte da guerra é uma parte. Buscaram, pois, uma maneira de reunir-se e de fundar cidades para defender-se. Mas, uma vez reunidos, feriam-se mutuamente, por carecer da arte da política, de forma que começaram de novo a dispersar-se e a morrer.

Page 28: Sofistas1
Page 29: Sofistas1

Zeus lhes envia o pudor e a justiça

Então Zeus, preocupado ao ver nossa espécie ameaçada de desaparecimento, mandou Hermes trazer para os homens o pudor e a justiça (aidós e dikê), para que nas cidades houvesse harmonia e laços criadores de amizade.

Hermes, pois, perguntou a Zeus de que maneira deveria dar aos humanos o pudor e a justiça: "Deverei distribuí-los como as demais artes? Estas se encontram distribuídas da seguinte forma: um só médico é suficiente para muitos profanos, o mesmo ocorre com os demais artesãos. Será essa a maneira pela qual deverei implantar a justiça e o pudor entre os humanos ou deverei distribuí-los entre todos?“

"Entre todos", disse Zeus, que cada um tenha a sua parte nessas virtudes, já que se somente alguns as tivessem, as cidades não poderiam subsistir, pois neste caso não ocorre como nas demais artes; além disso, estabelecerás em meu nome esta lei, a saber: que todo homem incapaz de ter parte na justiça e no pudor deve ser condenado à morte, como uma praga da cidade." (PLATÃO "Protágoras ou os Sofistas" In: Obras Completas. Madri: Aguilar, 1974, pp. 168/9.)

Page 30: Sofistas1

Physis versus Nomos  

No século V a.C., em Atenas, inicia-se um debate que ainda hoje persiste, entre os que defendem na moral o primado da natureza (naturalismo) e os

que defendem o da convenção (convencionalismo). 

Page 31: Sofistas1

Naturalismo O pressuposto desta corrente filosófica é o de que existem coisas e ações que são em si mesmas belas e boas independentemente das circunstâncias.

Estas características intrínsecas são assumidas como eternas e imutáveis. No plano moral, os enunciados éticos são encarados como fatos naturais verificáveis.

O conceito de natureza (Physis) constituiu o primeiro objeto de reflexão dos filósofos, mas foi Heráclito criou o conceito de Logos como uma Lei imanente aos homens e a natureza .

Page 32: Sofistas1

Platão, embora não tenha afirmado que as leis humanas derivavam da natureza, defendeu contudo a necessidade das mesmas estarem em harmonia com a ordem que nela reinava.O Demiurgo que tudo criou estabeleceu uma hierarquia no cosmos e nos seres que o compõem, que se reflete na alma dos homens. No topo desta hierarquia colocou a idéia de Bem e Belo, ao qual todos os seres aspiram ou deviam desejar ascender. Este primado do Bem e do Belo devia ser o princípio essencial da política e da moral.

Aristóteles partia igualmente do pressuposto da hierarquização do cosmos, mas deu-lhe um conteúdo mais físico (naturalista). Pressupunha que cada coisa tinha uma natureza própria. O que havia de específico na natureza humana residia no uso da Razão.Os homens diferenciavam-se contudo entre si por muitos fatores, principalmente pela sua condição social e origem geográfica. Estas variações predispunham cada ser a certos comportamentos específicos e a aceitar formas de organização política particulares. Neste sentido, todos os homens deviam buscar um equilíbrio entre a sua natureza e as convenções sociais, ou em termos mais gerais entre a justiça natural (eterna) e a justiça legal (mutável).

Em resumo: as sociedades humanas são estão determinadas pela natureza dos homens que as constituem

Page 33: Sofistas1

Os estóicos ( Séneca, Cícero ) foram os primeiros que de uma forma explicita afirmaram que as leis da Physis (natureza) deviam fundamentar as leis dos homens (nomos). Para tanto estes tinham que usar a razão. A natureza possuía leis imanentes que os homens deviam seguir, usando a razão "reta" (sensata). 

O Cristianismo, quer no plano religioso, quer filosófico defende que tudo é uma criação de Deus, o qual é por natureza Bom. O único caminho possível para todas as criaturas é conformarem-se à sua Lei. Tomás de Aquino, dirá que os homens através da Razão ao procurarem o Bem Comum só lhes resta fazerem as leis humanas à semelhança das leis divinas, as únicas que lhes permitirão atingir o Bem e a Felicidade

Page 34: Sofistas1

Convencionalismo O pressuposto desta corrente filosófica é que não existem coisas ou ações que sejam em si mesmas belas ou boas independentemente das circunstâncias.Os sofistas, os primeiros que assumiram estas posições de forma inequívoca, afirmavam que os valores morais são criações dos homens e portanto historicamente determinados, negando desta forma a existência de valores universais  (relativismo moral).

As leis e a cultura são criações especificamente humanas e surgiram por oposição à natureza. Elas permitiram ao homem superar a condição "bárbaros", "selvagens" ascendendo à condição de "civilizados". A única "lei natural" que admitem no comportamento humano é a busca o prazer e o poder dos mais fortes sobre os mais fracos.As leis criadas pelos homens servem para defender os mais fracos dos mais fortes, mas também, segundo alguns sofistas, para protegerem os interesses dos mais fortes. Em todo o caso elas são produtos arbitrários e relativistas dos homens. Protágoras afirmava que a origem das instituições políticas e dos costumes sociais haviam resultado de acordos entre os homens (teoria do Contrato Social).

Page 35: Sofistas1

Estes acordos permitiram superar os conflitos entre eles e estabelecer as regras para a sua convivência e também limitar o poder dos mais fortes sobre os mais fracos. Esta idéia da origem Estado baseada num mítico contrato social inspirou no século XVII filósofos como Hobbes e Locke e depois Jean Jacques Rousseau no século XVIII.

Estas teorias convencionalistas ( e contratualistas) tendem a assentar numa moral de tipo individualista e voluntarista, recusando a existência de normas de validade universal, o que não impede que os homens possam chegar a acordos sobre princípios ético-político que se pretendem de validade universal, como a Declaração Universal dos Direitos dos Homens.

Page 36: Sofistas1

OS SOFISTAS

Templo de Hefaistos na Ágora

Page 37: Sofistas1
Page 38: Sofistas1
Page 39: Sofistas1
Page 40: Sofistas1
Page 41: Sofistas1

No período em que os sofistas ascenderam a primeiro plano, ocorria também uma mudança social de vulto, em que os gregos tornaram-se mais conscientes dos costumes e práticas de outros povos do mundo. O historiador Heródoto deu a volta pela bacia do Mediterrâneo e voltou contando, entre outras coisas, a variedade dos costumes seguidos pelos não-gregos. Tudo isto concentrou a atenção no quanto do mundo é, por assim dizer, obra do homem e não apenas parte da natureza. Surgiu, em conseqüência, ênfase no contraste entre o que é, neste sentido, produto humano, e o que é natural e não-humano, entre nomos (convenção) e phisis (natureza). Não está claro se os sofistas eram unânimes a respeito de tal contraste, mas notava-se certa tendência de parte deles de atribuir mais peso ao nomos em relação à phisis, se ou não por “natureza” era entendida a natureza em geral ou a natureza humana. Estabelecemos esta distinção porque, embora alguns sofistas se preocupassem simplesmente em depreciar a extensão em que o que sabemos sobre o mundo é um fato da natureza, outros, talvez entre eles Antifonte, interessavam-se pelo contraste entre o que os homens são em si, como fatos da natureza, e o que eles naturalmente desejam e se esforçam por conseguir e o que lhes é imposto pela sociedade. Neste último aspecto, despontam como os primeiros sociólogos e, com toda certeza, como os primeiros relativistas sociais. Mas os que viemos a considerar como os mais importantes entre os sofistas, Protágoras e Górgias, por exemplo, pareciam mais preocupados com a distinção entre natureza e convenção, de uma forma geral. Por essa razão, tinham como um de seus principais objetivos depreciar o estudo da natureza e, desta maneira, toda a linha filosófica existente até essa época

Page 42: Sofistas1

Supostamente, Protágoras alegou que o homem é a medida de todas as coisas, tanto das coisas que são o que são como das coisas que não são o que não são. A julgar pelo Teeteto de Platão, onde se encontram estas palavras, isto significa que tudo é como parece ao homem – não apenas aos homens em geral mas a cada indivíduo em particular. Esta tese leva a um relativismo total, sem possibilidade alguma de verdade absoluta. Somos informados também do ceticismo de Protágoras no tocante aos deuses e de sua tendência de enfatizar a possibilidade de se produzirem argumentos opostos para qualquer dos lados em que fosse dividida uma questão.

A despeito de tudo isto, Protágoras nem foi iconoclasta político nem social. Na sua opinião, embora não houvesse verdade absoluta, ainda assim era possível tornar mais forte o melhor logos, ou argumento. Todos os homens possuem senso de justiça, mesmo que seus talentos em outros aspectos não sejam iguais, e constitui tarefa do sofista tirar isto para fora e, ensinando

Page 43: Sofistas1

A Democracia ateniense, devido ao espírito de competição política e judiciária exigia uma preparação intelectual muito completa dos cidadãos. Este fato influenciou decisivamente o desenvolvimento da educação. Vindos de toda a parte do mundo grego, os sofistas (mestres de sabedoria), dedicam-se a fazer conferências  e a dar aulas nas várias cidades-estado, sem se fixarem em nenhuma.

Atenas é todavia a cidade onde mais afluem, onde no século V a. C. adquirem um enorme prestígio. Aproveitam as ocasiões em que existe grandes aglomerações de cidadãos, para exibirem os seus dotes retóricos e saber, ensinando nomeadamente a arte da retórica. O seu ensino é, portanto, itinerante, mas também remunerado. Afirmam saber de tudo.

"Hipias Menor" de Platão, é o melhor exemplo deste saber enciclopédico. Tudo o que leva consigo é obra das suas mãos, desde o anel que cinzelara ao manto que tecera, aos poemas que escreveu e que transporta. É esta educação completa que pretendem transmitir aos jovens, preparando-os para ocuparem altos cargos na cidade (Polís).

Page 44: Sofistas1

Educação. Apesar da diversidade dos métodos de educação dos sofistas, estes podem ser agrupados em dois tipos fundamentais: Cultura Geral. Este ensino compreendia o estudo da Aritmética, Geometria, Astronomia e Música. Estas matérias remontavam a um modelo de educação pitagórico, vindo a constituir mais tarde, na Idade Média, o célebre Quadrivium das sete Artes Liberais.

Formação Política. Este ensino orientava-se para uma visão mais prática, procurando corresponder às exigências estritas da atividade política. Constava das seguintes disciplinas: Gramática, Dialética e Retórica. A arte da dialética, transforma-se numa arte de manipulação de idéias, através da qual o orador procura defender uma dada posição, mesmo que a mesma seja a pior de todas. A retórica era a arte de persuadir, independentemente das razões adotadas. Levado até ao exagero, este tipo de ensino, desacreditará os sofistas na Antiguidade Clássica.

Page 45: Sofistas1

Cultura. Os sofistas defendem abertamente o valor formativo da cultura (Padeia), que não se resume à soma de noções, nem tão pouco ao processo da sua aquisição. A sua educação visa a formação do homem como um ser concreto, membro de um povo e parte de um dado ambiente social. A educação torna-se a segunda natureza do homem. Deste modo, os sofistas afastam-se da tradição aristocrática, ligada à afirmação de fatores inatos. Os sofistas manifestam frequentemente uma visão otimista do homem, segundo a qual este possui uma inclinação natural para o bem. Protágoras foi um defensor desta posição.   

Page 46: Sofistas1

Relativismo.

Constatando a influência dos fatores sociais na formação dos homens e na modelação do seus comportamentos, a existência de uma pluralidade de culturas e modos de pensar, os sofistas acabam por defender a relatividade de todo o conhecimento e dos valores, negando a sua universalidade.

"Protágoras dizia que o homem é a medida de todas as coisas, o que significa que o que parece a cada um também o é para ele com certeza". Aristóteles.Met.XI, 6,1062.

Partindo desta princípio, acabam por afirmar a identidade entre o verdadeiro e o falso. "Sobre cada argumento podem-se adiantar dois discursos em perfeita antítese entre si", Frag.de Protágoras, em Diogénes de Laércio, IX, 50.

"Se todas as opiniões e todas as aparências são verdadeiras, conclui-se necessariamente que cada uma é verdadeira e falsa ao mesmo tempo. Visto que, frequentemente, surgem, entre os homens, opiniões contrárias, e cremos que se engana quem não pensa como nós, é obvio que existe e não existe ao mesmo tempo a mesma coisa. Admitindo isto, deve-se também admitir que todas as opiniões são verdadeiras. (...) Se as coisas são como afirma Protágoras, será verdade o que quer que se diga". Aristóteles. Met.IV,5,1009. 

Page 47: Sofistas1

Convenção. (NOMOS)Partindo de uma concepção relativista do conhecimento, negam igualmente a universalidade da Verdade. Esta não passa para alguns sofistas de uma convenção. "Pois que tais coisas parecem justas e belas a cada cidade, são-no também para ela, enquanto creia em tais". Platão, Teeeto, 167"Afirmo que o justo não é mais do que o útil ao mais forte..., isto é, em todos os Estados o justo é sempre... aquilo que convém ao governo constituído." Platão, República, 338Esta posição traduz-se em muitos sofistas na afirmação do direito do mais forte em governar os mais fracos (cfr. Platão, Górgias, 482-484). Outros ainda, partindo da ideia da Lei como convenção, sustentam que esta provoca desigualdades entre os homens, iguais por natureza:"Ó, homens aqui presentes! Creio-vos a todos unidos parentes e concidadãos, não por lei, porque o semelhante é por natureza parente do seu semelhante. A lei, como tirana dos homens, em muitas coisas emprega a violência contra a natureza". Discurso de Hípias, em Platão, Protágora,337.Antifonte de Atenas (sofista) , formulando uma antinomia entre natureza e lei humana, proclamou a igualdade entre os bárbaros e os gregos (Helenos), sendo mesmo crível que tenha defendido a igualdade entre cidadãos e escravos. "Parece a alguns que... somente por lei (convenção) seria um escravo e o outro livre, mas por natureza não haveria absolutamente diferença de sorte. Por isso não seria justo, pois é obra da violência". Aristóteles, Política, I, 3,1253. 

Page 48: Sofistas1

Retórica.

Alheios às tradições, os sofistas mostram-se dispostos a discutirem todos os assuntos. Atribuem à linguagem uma importância fundamental, mas esta não passa de uma convenção. As palavras são com freqüência destituídas do seu sentido corrente, e são usadas como instrumentos de sugestão e persuasão para convencerem os seus interlocutores. Recorrem à ambigüidade das palavras, exageram na aplicação dos três princípios lógicos, para numa cadeia de deduções e sentidos ambíguos, levarem os seu interlocutores a desdizerem-se.

Page 49: Sofistas1

Raciocínio Justo - Salta para aqui! Se tens tanta coragem, mostra-te aos espectadores.Raciocínio Injusto - Onde quiseres. Com muito gente a assistir, ainda me é mais fácil dar cabo de ti.Raciocínio Justo- Dar cabo de mim, tu? Quem julgas que és?Raciocínio Injusto - Um Raciocínio.Raciocínio Justo - Sim, mas mais fraco.Raciocínio Injusto - Pois venço-te na mesma, lá por te gabares de ser mais forte.Raciocínio Justo - E com que artimanhas ? Raciocínio Injusto - Inventando ideias cá muito minhas, ideias novas (...).Raciocínio Justo - Vou dar cabo de ti, miserável.Raciocínio Injusto - E, como não me dizes?Raciocínio Justo - Expondo o que é justo?Raciocínio Injusto - E eu contradigo-te e mando-te abaixo. Para já afirmo a pés juntos que não existe justiça.Raciocínio Justo - Afirmas que não existe...?!Raciocínio Injusto - Senão vejamos: Onde existe ela?Raciocínio Justo - No seio dos deuses.Raciocínio Injusto - Então como diacho é que, existindo aí justiça, Zeus ainda não pereceu, ele que pôs a ferros o próprio pai ? " Aristófanes, As Núvens, 900-905.

Page 50: Sofistas1

Platão legou-nos uma imagem muito negativa dos sofistas, o que tem contribuído para desvalorizar a sua enorme importância no pensamento ocidental: Antropologia. Foi graças aos sofistas que as questões antropológicas passaram a estar no centro dos debates filosóficos, secundarizando desta formas as anteriores questões cosmológicas.  Pensamento.A forma como raciocinamos torna-se num tema da filosofia. Linguagem. A linguagem, o seu poder e modos de utilização, nomeadamente no discursos retórico, converteu-se também num tema filosófico.  Moral. Ao criticarem os modelos que sustentavam os valores tradicionais, abriram o caminho para a afirmação de uma ética autónoma baseada na razão

Cassin, Barbara - Ensaios Sofísticos. São Paulo, Siciliano, 1990. Guthrie, W.K. C. - Os Sofistas. São Paulo. Paulus. 1993 http://afilosofia.no.sapo.pt/index.html

Page 51: Sofistas1

Protágoras  (480-410 a.C.),cidadão de Abedera, como o Demócrito (atomista).É o mais conhecido entre todos os sofistas. No tempo de Péricles desfrutou de uma enorme influência em Atenas. Ocupou-se da gramática e da linguagem. Duvidava da possibilidade do homem atingir um conhecimento universal, caíndo numa posição relativista (tudo não passam de convenções). Foi expulso de Atenas acusado de ser ateu, e o seu livro- Sobre os Deuses- foi queimado. Conceitos fundamentais da sua filosofia:  1. A relatividade do conhecimento ( O Homem é a medida de todas as coisas); 2.A Identidade do Verdadeiro e do Falso; 3.Valor prático da sabedoria e a importância da educação; 4. Agnosticismo teológico ( a impossibilidade de saberes se os deuses existem ou não, assim como de tudo o que lhes diga respeito).

Page 52: Sofistas1

Górgias (c.485-410 a. C.), cidadão de Leontinos, na Sicília, era para Platão a personificação da Retórica, sendo aliás apontado como o seu criador. Foi um dos membros que a cidade de Leontinos enviou durante a guerra do Poloponeso a Atenas, solicitando que esta se envolvesse na defesa das suas posições (Tucidides, III, 86).Terminada a Guerra viajou de cidade em cidade, acompanhado pelo seus discipulos, ensinando a arte de fazer discursos (Retórica).  Na sua obra - Da Natureza, ou seja do Não-Ser -, defende a inexistência de qualquer critério absoluto para o conhecimento e a comunicação, com base em três princípios fundamentais: 1. Nada Existe; 2. O que existe é inconcebível; 3. O conhecimento é incomunicável. Com estes princípios pretende negar a possibilidade de se encontrar ou nomear um ser objectivo. O homem está a sim condenado a enredado em palavras e opiniões sobre as coisas.

Page 53: Sofistas1

Sofística era originalmente o termo dado às técnicas ensinadas por um grupo altamente respeitado de professores retóricos na Grécia antiga. O uso moderno da palavra, sugestionando um argumento inválido composto de raciocínio especioso, não é necessariamente o representante das convicções do sofistas originais, a não ser daquele que geralmente ensinaram retórica. Os sofistas só são conhecidos hoje pelas escritas de seus oponentes (mais especificamente, Platão e Aristóteles) que dificulta formular uma visão completa das convicções dos sofistas.

While a particular bad and insincere argument is likely to be labeled a sophism the practice of using such arguments is known as sophistry. In its modern meaning, "sophistry" is a derogatory term for rhetoric that is designed to appeal to the listener on grounds other than the strict logical cogency of the statements being made (Wikipédia)

Page 54: Sofistas1

In traditional logical argument, a set of premises are connected together according to the rules of logic and lead therefore to some conclusion. When someone criticizes the argument, they do so by pointing out either falsehoods among the premises or logical fallacies, flaws in the logical scaffolding. These criticisms may be subject to counter-criticisms, which in turn may be subject to counter-counter-criticisms, etc. Generally, some judge or audience eventually either concurs with or rejects the position of one side and thus a consensus opinion of the truth is arrived at.The essential claim of sophistry is that the actual logical validity of an argument is irrelevant (if not non-existent); it is only the ruling of the audience which ultimately determines whether a conclusion is considered "true" or not. By appealing to the prejudices and emotions of the judges, one can garner favorable treatment for one's side of the argument and cause a factually false position to be ruled true.The philosophical Sophist goes one step beyond that and claims that since it was traditionally accepted that the position ruled valid by the judges was literally true, any position ruled true by the judges must be considered literally true, even if it was arrived at by naked pandering to the judges' prejudices — or even by bribery.Critics would argue that this claim relies on a straw man caricature of logical discourse and is, in fact, a self-justifying act of sophistry.