sociolinguística: teoria, método e objeto em · pdf filesobre a variabilidade...

21
Web-Revista SOCIODIALETO www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras UEMS/Campo Grande Mestrado em Letras UEMS / Campo Grande ISSN: 2178-1486 Volume 4 Número 12 maio 2014 Edição Especial Homenageado F E R N A N D O T A R A L L O Web-Revista SOCIODIALETO: Bach., Linc., Mestrado Letras UEMS/Campo Grande, v. 4, nº 12, mai. 2014 504 SOCIOLINGUÍSTICA: TEORIA, MÉTODO E OBJETO EM PESQUISAS IN LOCO Clarice Nadir von Borstel 1 (UNIOESTE) [email protected] RESUMO: O presente texto reverencia os estudos da diversidade linguística e a importância do tema sobre a variabilidade nas obras de Fernando Tarallo, na década de oitenta, em que se situa a configuração mais significativa da produção intelectual do homenageado, antes de sua morte. De acordo com as leituras introdutórias das obras do autor iniciei o meu conhecimento sobre a sociolinguística. Para tanto, descrevo neste texto, as abordagens de bilinguismo e do bidialetalismo que foram fundamentais em minhas pesquisas nas comunidades de fala de (i)migrantes e de fronteiras geográficas, a partir de várias leituras da sociolinguística: sob bases teóricas, o percurso metodológico, o corpus linguísticos com enfoque nos fatores sócio-históricos, geográficos, culturais e de ensino. Destaco, inicialmente, os princípios introdutórios de Tarallo e de William Labov, sobre a variação, nas variáveis linguísticas e não- linguísticas, na sequência as contribuições teórico-metodológicas de outros pesquisadores sobre estudos de contato linguístico. Para finalizar, apresento um estudo de caso sobre línguas em contato, abordando a mudança de língua, alternância de código e alternância linguística do falar alemão-português de um comunicador de rádio difusão. PALAVRAS-CHAVE; Fernando Tarallo, Sociolinguística, Variabilidade Linguística; Línguas em Contato, Mudança e Alternância de Código. ABSTRACT: This text reverences the studies of the lingusitic diversity and the importance of the theme about the variability in Fernando Tarallo‟s titles, in the eighties decade, in which is situated the most significative configuration of the intellectual production of the honoured, before his death. According to the introducing readings of the authors titles, I started my knowledge about the sociolinguistic. For that, I describe in this text, the approaches of the bilingualism and the bidialetalism that were fundamental in my researches on the language communities of (i)migrants and of geographic frontiers, from the various readings of sociolinguistic: on this theoretical basis, the methodological trajectory, the linguistic corpus focused on socio-historical, geographical, cultural factors and of teaching. I emphasize, first, the introductory principles of Tarallo and of William Labov, about variation, on the linguistic variables and non-linguistic, on the sequence the theoretical and methodological contributions of other researchers about studies of linguistic. To finish, I present a case study about languages in contact, approaching changes in the language, code switching and linguistic alternance of the use of German-Portuguese of a communicator of radio diffusion. KEYWORDS; Fernando Tarallo, Sociolinguistic, Linguistic Variability; Languages in contact, Change and Code Switching. 1 Professora Doutora em Linguística do Programa de Pós-Graduação em Letras nível Mestrado e Doutorado da Universidade Estadual do Oeste do Paraná Unioeste.

Upload: lecong

Post on 12-Feb-2018

259 views

Category:

Documents


7 download

TRANSCRIPT

Page 1: SOCIOLINGUÍSTICA: TEORIA, MÉTODO E OBJETO EM · PDF filesobre a variabilidade nas obras de Fernando Tarallo, ... focused on socio-historical, ... abordando estudos sobre A pesquisa

Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande M e s t r a d o e m L e t r a s • U E M S / C a m p o G r a n d e I SSN : 217 8 -148 6 • Vo l u m e 4 • N úm er o 12 • m a i o 201 4

E d iç ã o E s p ec i a l • Hom e n a g e a d o F E R N A N D O T A R A L L O

Web-Revista SOCIODIALETO: Bach., Linc., Mestrado Letras UEMS/Campo Grande, v. 4, nº 12, mai. 2014 504

SOCIOLINGUÍSTICA: TEORIA, MÉTODO E OBJETO EM

PESQUISAS IN LOCO

Clarice Nadir von Borstel1 (UNIOESTE)

[email protected]

RESUMO: O presente texto reverencia os estudos da diversidade linguística e a importância do tema

sobre a variabilidade nas obras de Fernando Tarallo, na década de oitenta, em que se situa a configuração

mais significativa da produção intelectual do homenageado, antes de sua morte. De acordo com as leituras

introdutórias das obras do autor iniciei o meu conhecimento sobre a sociolinguística. Para tanto, descrevo

neste texto, as abordagens de bilinguismo e do bidialetalismo que foram fundamentais em minhas

pesquisas nas comunidades de fala de (i)migrantes e de fronteiras geográficas, a partir de várias leituras

da sociolinguística: sob bases teóricas, o percurso metodológico, o corpus linguísticos com enfoque nos

fatores sócio-históricos, geográficos, culturais e de ensino. Destaco, inicialmente, os princípios

introdutórios de Tarallo e de William Labov, sobre a variação, nas variáveis linguísticas e não-

linguísticas, na sequência as contribuições teórico-metodológicas de outros pesquisadores sobre estudos

de contato linguístico. Para finalizar, apresento um estudo de caso sobre línguas em contato, abordando a

mudança de língua, alternância de código e alternância linguística do falar alemão-português de um

comunicador de rádio difusão.

PALAVRAS-CHAVE; Fernando Tarallo, Sociolinguística, Variabilidade Linguística; Línguas em

Contato, Mudança e Alternância de Código.

ABSTRACT: This text reverences the studies of the lingusitic diversity and the importance of the theme

about the variability in Fernando Tarallo‟s titles, in the eighties decade, in which is situated the most

significative configuration of the intellectual production of the honoured, before his death. According to

the introducing readings of the authors titles, I started my knowledge about the sociolinguistic. For that, I

describe in this text, the approaches of the bilingualism and the bidialetalism that were fundamental in my

researches on the language communities of (i)migrants and of geographic frontiers, from the various

readings of sociolinguistic: on this theoretical basis, the methodological trajectory, the linguistic corpus

focused on socio-historical, geographical, cultural factors and of teaching. I emphasize, first, the

introductory principles of Tarallo and of William Labov, about variation, on the linguistic variables and

non-linguistic, on the sequence the theoretical and methodological contributions of other researchers

about studies of linguistic. To finish, I present a case study about languages in contact, approaching

changes in the language, code switching and linguistic alternance of the use of German-Portuguese of a

communicator of radio diffusion.

KEYWORDS; Fernando Tarallo, Sociolinguistic, Linguistic Variability; Languages in contact, Change

and Code Switching.

1 Professora Doutora em Linguística do Programa de Pós-Graduação em Letras – nível Mestrado e

Doutorado da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Unioeste.

Page 2: SOCIOLINGUÍSTICA: TEORIA, MÉTODO E OBJETO EM · PDF filesobre a variabilidade nas obras de Fernando Tarallo, ... focused on socio-historical, ... abordando estudos sobre A pesquisa

Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande M e s t r a d o e m L e t r a s • U E M S / C a m p o G r a n d e I SSN : 217 8 -148 6 • Vo l u m e 4 • N úm er o 12 • m a i o 201 4

E d iç ã o E s p ec i a l • Hom e n a g e a d o F E R N A N D O T A R A L L O

Web-Revista SOCIODIALETO: Bach., Linc., Mestrado Letras UEMS/Campo Grande, v. 4, nº 12, mai. 2014 505

INTRODUÇÃO

Quando se homenageia Fernando Tarallo, como se pretende nesta publicação

especialmente a ele dedicada, discorre-se sobre a sua produtiva e importante obra,

acerca do qual muito já foi escrito e referenciado quando se trata de estudos da

Sociolinguística no Brasil, e sob a minha visão de linguística e da sociolinguística a sua

contribuição mais significativa foi a obra Pesquisa Sociolingüística, em 1986, que para

os meus estudos introdutórios bilíngues e bidialetais, quando da pesquisa de línguas em

contato dos falares da língua alemã e do português, na comunidade de fala de Marechal

Cândido Rondon, Paraná, no final da década de oitenta e início de noventa, foi

fundamental, assim como, também foram relevante as obras Falares Crioulos: línguas

em contatos com a contribuição de Tânia Alkmin, em 1987; e a obra organizada pelo

autor Fotografias Sociolinguísticas, em 1989, sobre várias pesquisas sociolinguísticas

que tratavam sobre o bilinguismo de línguas indígenas, de imigrantes e do

bidialetalismo do português.

Essas, três obras, em especial, despertaram em mim um interesse em pesquisar

os conflitos psicolinguísticos existentes e que me incomodavam sobre a minha língua

materna vernácula (os falares dialetais da língua alemã) em contato com o português,

situação tão criticada e estigmatizada pela sociedade brasileira, no período da minha

formação escolar (na adolescência).

Os estudos da variação e das variáveis linguísticas de acordo com Fernando

Tarallo, sobre a língua, distinguia-se de seus contemporâneos por divulgar, no país, um

referencial teórico novo, no país, com base nas pesquisas, da década de sessenta e

setenta, de William Labov, quando da abordagem da relação entre língua e sociedade.

Creio que o mais importante nos estudos de Fernando Tarallo, sobre o processo

histórico dos estudos da Sociolinguística no Brasil é apresentar a sua obra Pesquisa

Sociolingüística em sua própria época, caracterizar-lhes a Teoria, o Método e o Objeto,

depreendendo da contribuição alcançada por cada um dos estudiosos da

sociolinguística, sobre estudos de língua(s). A compreensão de que esses estudos sobre

a heterogeneidade constituem direções ou perspectivas, de igual modo, válidas no qual

Page 3: SOCIOLINGUÍSTICA: TEORIA, MÉTODO E OBJETO EM · PDF filesobre a variabilidade nas obras de Fernando Tarallo, ... focused on socio-historical, ... abordando estudos sobre A pesquisa

Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande M e s t r a d o e m L e t r a s • U E M S / C a m p o G r a n d e I SSN : 217 8 -148 6 • Vo l u m e 4 • N úm er o 12 • m a i o 201 4

E d iç ã o E s p ec i a l • Hom e n a g e a d o F E R N A N D O T A R A L L O

Web-Revista SOCIODIALETO: Bach., Linc., Mestrado Letras UEMS/Campo Grande, v. 4, nº 12, mai. 2014 506

se sucederam e se complementam no estudo de um objeto tão complexo como foi esses

estudos da linguística no país.

Dessa forma, apresento reflexões que surgiram a partir dos estudos de Tarallo

sobre a variabilidade linguística e línguas em contato, discutindo e interpretando dados

investigados com outros estudiosos da sociolinguística e da sociologia sob o enfoque na

diversidade linguística: sócio-histórica, cultural, religiosa e de escolaridade no grupo ou

na sociedade e, por último, uma abordagem da Etnografia da Comunicação Social sob o

enfoque de um Estudo de Caso sobre a mudança de língua, alternância de código e

alternância lingüística do falar alemão-português de um comunicador de rádio difusão,

no Programa Bom Domingo da Emissora de Rádio Educadora de Marechal Cândido

Rondon, Paraná.

O FATO SOCIOLINGUÍSTICO

Ao estudar a língua e sociedade enquanto uso e não sistema linguístico em uma

comunidade ou em um dado grupo de fala, depara-se com a variação linguística,

podendo esta ser de nível fonológico, morfossintático e semântico, podendo ser

conjugados os dados gramaticais de uma língua aos fatores sociais, pragmáticos e

estilísticos da cultura de um dado grupo.

As variantes linguísticas podem manter-se estáveis no sistema ou podem,

também, encontrar-se em mutação. Dessa forma, o objeto da sociolinguística é

investigar o grau de estabilidade ou de mudança da variante linguística de uma

sociedade, comunidade e ou um grupo de fala, descrevendo seu comportamento

preditivo e interpretativo.

É graças aos estudos inovadores de Tarallo, na década de sessenta, que foi

possível tratar objetivamente sobre a Teoria, o Método e o Objeto dos fatos

sociolinguísticos, bem como, sobre a variação e as variantes linguísticas.

Portanto, desde os anos de 1992 até a presente data, trabalho com meus alunos

da Graduação na disciplina de Estudos Linguísticos (sob a abordagem da

Sociolinguística) e na Pós-Graduação com a disciplina Heterogeneidade Linguística, na

Page 4: SOCIOLINGUÍSTICA: TEORIA, MÉTODO E OBJETO EM · PDF filesobre a variabilidade nas obras de Fernando Tarallo, ... focused on socio-historical, ... abordando estudos sobre A pesquisa

Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande M e s t r a d o e m L e t r a s • U E M S / C a m p o G r a n d e I SSN : 217 8 -148 6 • Vo l u m e 4 • N úm er o 12 • m a i o 201 4

E d iç ã o E s p ec i a l • Hom e n a g e a d o F E R N A N D O T A R A L L O

Web-Revista SOCIODIALETO: Bach., Linc., Mestrado Letras UEMS/Campo Grande, v. 4, nº 12, mai. 2014 507

Universidade Estadual do Oeste do Paraná, abordando estudos sobre A pesquisa

Sociolinguística de Tarallo. E, vários, foram os artigos em Periódicos e Anais que

referenciei as obras do autor.

A realidade da heterogeneidade, tanto linguística como cultural no Brasil, torna-

se um ponto de reflexão básico para um contingente significativo de estudos

linguísticos, do português e das línguas em contato de indígenas, de (i)migrantes e de

fronteiras em nosso espaço geográfico no oeste do Paraná, caracterizando uma

realidade linguística atual e presente no contexto brasileiro.

Quando se trata sobre os estudos de Fernando Tarallo, é impossível não falar

sobre William Labov, que foi seu orientador, considerado um dos precursores da

sociolingüística. Através de seus estudos linguísticos e pesquisas sobre a variação, os

autores evidenciaram em suas pesquisas que a variação e, ou a mudança linguística

ocorria não por fatores propriamente linguísticos, mas também, por fatores não-

linguísticos, ou seja, a idade, classe social, sexo/gênero feminino e masculino, tempo e

espaço geográfico, escolaridade, etnia, religião, fatores que influenciavam,

sobremaneira, os elementos linguísticos da língua.

Para tanto, de acordo com a definição proposta por Tarallo, a partir das primeiras

reflexões da Teoria Variacionista de William Labov, a Sociolinguística constitui um

estudo científico que prima pela relação língua e sociedade, mostrando que o fenômeno

linguístico sofre a influência dos aspectos sociais, culturais, identitários, econômicos,

étnicos, religiosos e políticos.

O surgimento dos estudos sociolinguísticos deve-se a uma tentativa de combate

aos estudos puramente estruturalista da linguagem, uma vez que este não levava em

conta as considerações sobre a relação língua e sociedade, mas tão somente à relação

interna da língua, sem observar o contexto: social, cultural, étnico, religioso, político e

econômico em uma sociedade ou comunidade de fala.

Quando se começou a observar os aspectos sociais da língua percebeu-se que a

função comunicativa, de interação dos sujeitos, não ocorria de forma homogênea, mas

pelo contrário, de maneira heterogênea, tão diferente de pessoa para pessoa, de região,

Page 5: SOCIOLINGUÍSTICA: TEORIA, MÉTODO E OBJETO EM · PDF filesobre a variabilidade nas obras de Fernando Tarallo, ... focused on socio-historical, ... abordando estudos sobre A pesquisa

Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande M e s t r a d o e m L e t r a s • U E M S / C a m p o G r a n d e I SSN : 217 8 -148 6 • Vo l u m e 4 • N úm er o 12 • m a i o 201 4

E d iç ã o E s p ec i a l • Hom e n a g e a d o F E R N A N D O T A R A L L O

Web-Revista SOCIODIALETO: Bach., Linc., Mestrado Letras UEMS/Campo Grande, v. 4, nº 12, mai. 2014 508

de idade, de escolaridade entre outros fatores sócio-psicológicos e culturais, adotando o

modelo de análise da Sociolinguística e da Teoria da Variação Linguística.

Os estudos de William Labov, também receberam o nome de Sociolinguística

Quantitativa – quando do levantamento de dados estatísticos; sob o enfoque da teoria de

base sociológica, do método de levantamento de dados por um roteiro de entrevista,

narrativas individuais e a quantificação dos mesmos, objeto de pesquisa de variação

linguística correlacionado com os fatores extralinguísticos.

A partir deste modelo de pesquisa linguística de William Labov várias foram as

pesquisas desenvolvidas no âmbito nacional sobre as línguas de minorias linguísticas, o

português brasileiro, estudos contrastivos e comparativos do português de Portugal com

o português do Brasil.

Quando se fala em variação linguística é preciso esclarecer que essas formas de

variação existentes recebem o nome de variantes linguísticas, ou seja, as diversas

maneiras de dizer as coisas, mas de forma diferente. Por outro lado, o conjunto de

variantes recebe o nome de variável linguística.

Tarallo cita um exemplo morfossintático que esclarece essa diferença entre

variável e variante, por exemplo, a marcação de plural no sintagma nominal constitui-se

em uma variável linguística que possui duas variantes linguísticas: a presença e a

ausência do SN [-s]. Assim, de acordo os estudos de Tarallo (1986, p. 9) no português

falado no Brasil há três variantes de marca de plural do sintagma nominal: (1) As

meninaS bonitaS (2) AS meninaS bonitaØ (3) AS menina Ø bonita Ø.

Para poder chegar a este tipo de variação, o linguista apresenta uma análise que

consiste numa sistematização dos dados investigados, na descrição detalhada, na

interpretação de fatores linguísticos e extralinguísticos ou não-linguístico, na

determinação do nível linguístico e social da comunidade em que a variável pode ser

encaixada, e, por fim, uma projeção histórica da variável no sistema linguístico e, ou

sociolinguístico da comunidade de fala, conjugando a relação entre língua e sociedade

no decorrer do tempo, na história do grupo estudado o percurso de mudança ocorrida,

diacrônica e sincronicamente no processo linguístico desta variável.

Page 6: SOCIOLINGUÍSTICA: TEORIA, MÉTODO E OBJETO EM · PDF filesobre a variabilidade nas obras de Fernando Tarallo, ... focused on socio-historical, ... abordando estudos sobre A pesquisa

Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande M e s t r a d o e m L e t r a s • U E M S / C a m p o G r a n d e I SSN : 217 8 -148 6 • Vo l u m e 4 • N úm er o 12 • m a i o 201 4

E d iç ã o E s p ec i a l • Hom e n a g e a d o F E R N A N D O T A R A L L O

Web-Revista SOCIODIALETO: Bach., Linc., Mestrado Letras UEMS/Campo Grande, v. 4, nº 12, mai. 2014 509

Tarallo (1986) apresenta-nos, ainda, as variantes: padrão/não padrão;

conservadora/inovadora, estigmatizada/de prestígio. Para o autor, as variantes: padrão e

conservadora estão sempre ligadas à determinação da língua que detém o prestígio

social. Ocorrendo, o mesmo com a variante não padrão, pois esta se encontra fora do

contexto da norma socialmente prestigiada, sofrendo estigmatização pela sociedade. As

variantes inovadoras segundo Tarallo, são quase sempre não padrão e, por isso, são

estigmatizadas no meio social da comunidade. No entanto, como observa o autor, nem

sempre os três pares de variantes se dão conjuntamente. Tudo depende da atitude dos

membros da comunidade se aceita ou não a variante estigmatizada e, ou inovadora.

No entender de William Labov os traços linguísticos e seus falares determinam e

identificam os grupos, assim como marcam as diferenças sociais na comunidade. É,

neste sentido, que a Sociolinguística se constitui como uma Teoria da Variação que

observa, analisa, identifica e interpreta como a relação língua e sociedade,

caracterizando a variável e, ou variante linguística constituída por um grupo, se efetiva.

Os fenômenos de uso de variáveis linguísticas podem condicionar positiva ou

negativamente as variantes de uma língua, como também, a natureza dos fatores

atuantes na variação de uma língua: variáveis internas e externas à língua. As variantes

internas encontram-se arroladas e conjugadas com relação aos fatores linguísticos nos

campos: fonológicos, morfológicos, sintáticos, semânticos e lexicais. As variantes

externas à língua encontram-se agrupados aos fatores inerentes ao sujeito da língua:

como gênero feminino e masculino, idade, etnia; aos fatores sócio-geográficos: como

região, escolarização, níveis de renda, classe social, profissão; aos contextuais: como

grau de formalidade e tensão discursiva que apresentam características circunstanciais

que ora envolvem o falante, ora o evento de fala.

Assim, de acordo com a Pesquisa Sociolingüística, quando Tarallo apresenta o

“Fato Sociolinguístico” em sua obra, discute a teoria, método e objeto, essa abordagem

que adaptei para poder desenvolver minhas pesquisas e na orientação de acadêmicos e

pós-graduandos, para poder gerar e levantar dados em comunidades plurilíngues e em

grupos minoritários bidialetais, no qual pode se referenciar a Teoria como um estudo

linguístico sob a abordagem da diversidade linguística.

Page 7: SOCIOLINGUÍSTICA: TEORIA, MÉTODO E OBJETO EM · PDF filesobre a variabilidade nas obras de Fernando Tarallo, ... focused on socio-historical, ... abordando estudos sobre A pesquisa

Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande M e s t r a d o e m L e t r a s • U E M S / C a m p o G r a n d e I SSN : 217 8 -148 6 • Vo l u m e 4 • N úm er o 12 • m a i o 201 4

E d iç ã o E s p ec i a l • Hom e n a g e a d o F E R N A N D O T A R A L L O

Web-Revista SOCIODIALETO: Bach., Linc., Mestrado Letras UEMS/Campo Grande, v. 4, nº 12, mai. 2014 510

A TEORIA PARA UM ESTUDO DA DIVERSIDADE LINGUÍSTICA

Para poder construir uma teoria que permita refletir sobre a língua em sua

diversidade linguística e cultural sob o viés de línguas em contato, tanto em

comunidades de fala bilíngues como também bidialetais, foi preciso buscar referenciais

teóricos que me proporcionassem esse conhecimento, para poder entender a gama de

fenômenos de usos de línguas utilizados por um determinado grupo, correlacionando

com os sistemas de línguas.

Quando descrevo pesquisas sobre contato linguístico, normalmente, procuro

referenciar as contribuições de Uriel Weinreich, de 1953, como precursor de estudos de

fenômenos de línguas em contato de natureza sociolinguística, com o seu estudo

clássico de Languages in Contac. Para o autor, “bilinguismo é a prática de empregar

duas línguas alternadamente” (WEINREICH, 1953, p. 01), para tanto, apresenta estudos

de interferência linguísticas (fonológicas, morfológicas, sintáticas e semânticas), em

contextos bilíngues e de variação social, este texto foi muito importante para as minhas

pesquisas em comunidades de fala de línguas em contato de imigrantes (seus

descendentes) e de fronteiras geográficas.

Os textos que mais utilizei, em meus estudos, tanto teóricos como metodológicos

de William Labov, foram o Estágio na aquisição do inglês standard (LABOV, 1974

[1964]) – abordando os estágios de aquisição da língua alemã e portuguesa nas

comunidades de fala interétnicas; The social stratification of English in New York

city (LABOV, 1966) quando referencie estudos fonológicos, abordando a variação da

vibrante múltipla e simples em comunidades de fala bilíngue sobre o Brasildeutsch

(alemão-português), em Marechal Cândido Rondon e do Talian (italiano-português), em

Palotina, na região oeste do Paraná; os Modelos sociolinguísticos (LABOV, 1983

[1972]) quando descreve a variação linguística fonológica de Martha‟s Vineyar com

grupos nativos e de imigrantes na comunidade. Destaco a abordagem teórico-

metodológica utilizada pelo autor, contribuindo em minhas pesquisas sobre contato

linguísticos nas comunidades de fala de imigrantes e seus descendentes de alemães em

Page 8: SOCIOLINGUÍSTICA: TEORIA, MÉTODO E OBJETO EM · PDF filesobre a variabilidade nas obras de Fernando Tarallo, ... focused on socio-historical, ... abordando estudos sobre A pesquisa

Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande M e s t r a d o e m L e t r a s • U E M S / C a m p o G r a n d e I SSN : 217 8 -148 6 • Vo l u m e 4 • N úm er o 12 • m a i o 201 4

E d iç ã o E s p ec i a l • Hom e n a g e a d o F E R N A N D O T A R A L L O

Web-Revista SOCIODIALETO: Bach., Linc., Mestrado Letras UEMS/Campo Grande, v. 4, nº 12, mai. 2014 511

Marechal Cândido Rondon e Entre Rios-Guarapuava; com os descendentes de

poloneses no distrito de Vila Margarida, também, em Marechal Cândido Rondon; com

imigrantes e descendentes de italianos em Palotina e com os imigrantes fronteiriços

remanescentes do Paraguai, na região de fronteira geográfica em Guaíra, no estado do

Paraná..

Outra contribuição dos estudos de William Labov foi a possibilidade de

descrever traços idiossincráticos, ou seja, o idioleto de um dado entrevistado que pode

diferir, consideravelmente, na fala de outros falantes e, além disso, traços fonéticos na

interlocução do falante pode ser psicolinguísticamente, muito inconsistente. Como por

exemplo, algumas vezes, o falante imigrante ou seu descendente alemão, pode realizar o

falar do termo em alemão klar – [kla:r] (límpido, claro) com o [ r ] final, outras vezes

sem o [ r ] final, ou a utilização da variação do Tepe, ou do uso da vibrante alveolar, ou

fricativa glotal em início, final de sílabas e final de palavras. A esse tipo de variação, os

linguistas denominam, tradicionalmente, de variação livre. Labov demonstrou, porém,

que a variação não é livre, mas, sim é determinada por fatores extralinguísticos e

intralinguísticos de forma predizível e que existe, mesmo no nível do idioleto. O

pesquisador não terá condições de predizer em que ocasião um falante utilizar-se-á desta

ou daquela forma, mas poderá descrever que, dependendo da classe sócio-econômica,

do espaço geográfico, do grupo étnico/cultural, da faixa etária, da escolaridade, o falante

utilizará uma ou outra variante.

De acordo com os estudos de Labov e Tarallo foi possível, em minhas pesquisas

in loco, correlacionar dados linguísticos com fatores históricos, geográficos,

socioculturais, religiosos e de escolaridade, obter, assim, um quadro mais nítido da

diferenciação bilíngue e bidialetal nas comunidades de fala investigadas. Diante disso,

muitas foram as contribuições teóricas utilizadas em minhas reflexões linguísticas,

quando investiguei as duas comunidades de fala alemão-português em Marechal

Cândido Rondon e Entre Rios-Guarapuava, Paraná.

Também referenciei estudos teóricos do artigo Sociolingüística de Jürgen Heye,

de 1986, quando apresenta as variedades da fala de acordo com as características

linguísticas distintas, trazendo discussões sobre comunidades linguísticas: estudar os

Page 9: SOCIOLINGUÍSTICA: TEORIA, MÉTODO E OBJETO EM · PDF filesobre a variabilidade nas obras de Fernando Tarallo, ... focused on socio-historical, ... abordando estudos sobre A pesquisa

Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande M e s t r a d o e m L e t r a s • U E M S / C a m p o G r a n d e I SSN : 217 8 -148 6 • Vo l u m e 4 • N úm er o 12 • m a i o 201 4

E d iç ã o E s p ec i a l • Hom e n a g e a d o F E R N A N D O T A R A L L O

Web-Revista SOCIODIALETO: Bach., Linc., Mestrado Letras UEMS/Campo Grande, v. 4, nº 12, mai. 2014 512

atos linguísticos em universo socialmente definido e referencia estudos de Gumperz

(1998 [1982]), ao enfatizar o caráter negociativo da interação, em relação aos papeis

desenvolvidos pelos participantes na interação comunicativa, partindo da premissa de

que “a língua é constituída da realidade social” (GUMPERZ, 1998, p. 01 [1982]).

Heye, nesse texto, ainda, explica e exemplifica os estudos de Dittmar (1976)

quanto às variedades linguísticas (variedade padrão, regional, social e funcional).

Tratando da importância dos estudos da sociolinguística e da sociologia da linguagem,

referenciando Hymes (1968, 1972), Fishman (1968, 1971), Labov (1972) e as

concepções de bilinguismo e multilinguismo em situação linguística em duas ou mais

línguas coexistem em uma comunidade de fala ou sociedade, referenciando os estudos

de Weinreich (1953) sobre bilinguismo quando trata de interferências quanto ao nível

linguístico fonológico, morfológico, sintático e semântico, como manifestações de

desvio da norma de cada uma das línguas na fala de bilíngues, como resultado de seu

conhecimento de mais de uma língua.

Ainda de acordo com Heye (1983), “o termo „interferência‟ indica, pelo menos

em parte, a causa do fenômeno linguístico, enquanto conceito de „transferência‟

descreve o fenômeno de usos linguísticos de qualquer elemento ou traço de uma língua

numa outra” (HEYE, 1983, p. 13). Jürgen Heye, em seus estudos, preferiu utilizar o

termo transferência linguística, por ser mais neutro, quando trata sobre os traços

bilíngues em comunidades de fala. Se, para estes autores, a interferência ou

transferência linguística foi estudada mais a nível intralinguístico, em meus estudos

sobre o Brasildeutsch (traços do falar alemão e do português padrão com traços

bilíngues regionais da língua de origem étnico-cultural com os traços bidialetais da

língua nacional), houve a necessidade de considerar, também, os elementos

interlinguísticos, para tanto, em meus estudos sobre A linguagem sociocultural do

Brasildeutsch, em 2011, utilizei o termo alternância linguística. Nessa pesquisa,

evidenciaram-se traços bilíngues dialetais intralinguísticos e interlinguísticos, portanto,

“as alternâncias linguísticas ocorreram de forma inconsciente pelo falante bilíngue, por

fatores emocionais e situacionais que podem influenciar em todos os níveis do sistema

Page 10: SOCIOLINGUÍSTICA: TEORIA, MÉTODO E OBJETO EM · PDF filesobre a variabilidade nas obras de Fernando Tarallo, ... focused on socio-historical, ... abordando estudos sobre A pesquisa

Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande M e s t r a d o e m L e t r a s • U E M S / C a m p o G r a n d e I SSN : 217 8 -148 6 • Vo l u m e 4 • N úm er o 12 • m a i o 201 4

E d iç ã o E s p ec i a l • Hom e n a g e a d o F E R N A N D O T A R A L L O

Web-Revista SOCIODIALETO: Bach., Linc., Mestrado Letras UEMS/Campo Grande, v. 4, nº 12, mai. 2014 513

linguístico – fonológico, morfológico, sintático, lexical, semântico e pragmático” (VON

BORSTEL, 2011, p. 90).

Ao abordar estudos bilíngues ou bidialetais referenciei estudos de Ferguson,

quando em 1959, usou o termo diglossie, para caracterizar o uso de “duas ou mais

variantes de uma mesma língua em diferentes condições” (FERGUSON, 1974, 99). De

acordo com o autor, uma comunidade se encontra em situação diglóssica, quando uma

variedade alta (do inglês high, sigla H) em caso extremo de estandardização, superpõe-

se a uma ou mais variedades baixas (do termo low, sigla L), com domínio de uso,

rigidamente determinado para uma e para outra variante. A variedade H é utilizada no

registro escrito e no uso oral formal (escola, sermão de igreja, discurso político,

conferências, noticiários, editoriais de jornais ou revistas, entre outros) – uma variável

prestigiada, já a variedade L é utilizada na comunidade em situações de conversação

informal (conversa em família e com amigos, sátiras, folclore, entre outras) – uma

variável menos prestigiadas na sociedade. Em seus estudos o autor cita e exemplifica

quatro principais comunidades em situação diglóssica: Suíça, Haiti, Grécia e países

árabes.

Fishman, em 1966, retoma o conceito de Charles Ferguson, e amplia a noção de

diglossia, estabelecendo uma delimitação analítica em bilinguismo (perspectiva

individual) e diglossia (perspectiva social), ou seja, o “bilingüismo é essencialmente

uma caracterização da versatilidade linguística individual, enquanto diglossia é uma

caracterização social de funções entre diferentes línguas e variantes” (FISHMAN, 1972,

p. 102).

A partir das discussões introdutórias destes dois autores sobre bilinguismo e

diglossia, vária foram as discussões reflexões sobre esta temática em comunidades

bilíngues ou plurilíngues, por vários estudiosos da área da Linguística, Sociologia e

Sociolinguística no mundo.

Embora, em muitas comunidades bilíngues ou plurilíngues, seja verificado o uso

regular de uma variante para finalidades mais públicas e formais e, outra, para situações

mais informais, a diglossia pode ou não ocorrer, tanto em comunidades monolíngues,

bilíngues ou plurilíngue. Ainda hoje, há sociedades que tem um prestígio maior a

Page 11: SOCIOLINGUÍSTICA: TEORIA, MÉTODO E OBJETO EM · PDF filesobre a variabilidade nas obras de Fernando Tarallo, ... focused on socio-historical, ... abordando estudos sobre A pesquisa

Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande M e s t r a d o e m L e t r a s • U E M S / C a m p o G r a n d e I SSN : 217 8 -148 6 • Vo l u m e 4 • N úm er o 12 • m a i o 201 4

E d iç ã o E s p ec i a l • Hom e n a g e a d o F E R N A N D O T A R A L L O

Web-Revista SOCIODIALETO: Bach., Linc., Mestrado Letras UEMS/Campo Grande, v. 4, nº 12, mai. 2014 514

respeito da variável de uso como é o caso da Suíça, com quatro línguas oficiais: o

alemão, o francês, o italiano, o romanche e o dialeto de pretígio o Schwyzerdütch; e do

nosso país vizinho, o Paraguai, com duas línguas oficiais: o guarani e o espanhol.

Uma excelente contibuição ao estudo do bilinguismo foi o modelo de descrição

proposto por Mackey (1968) que define o “bilinguismo como uma característica

individual que pode ocorrer em graus variáveis, desde a uma competência mínima até

um domínio completo de mais de uma língua” (MACKEY, 1968, p. 555). Para o autor,

o conceito de bilinguismo é relativo e, por isso, defrontamo-nos com um problema que

envolve questões de grau, função, alternância e interferência linguísticas.

Para que eu pudesse analisar os fenômenos de a mudança de língua (language

shift), alternância de código (code switching) e alternância linguística (interferência ou

transferência), foram utilizados, principalmente, os estudos teóricos e metodológicos de

Gal (1979), Gumperz (1964, 1976, 1991,1998 [1982]), Poplack (1980, 1988), Hoffmann

(1991), Myers-Scotton (1991, 1992, 1997).

Ainda, neste meu percurso sobre a pesquisa sociolinguística, não posso deixar

de referenciar a importância dos estudos de Paulino Vandresen sobre bilinguismo, de

Stella Maris Bortoni-Ricardo sobre bidialetalismo e ensino, de Maria Cecília Mollica

tendo com base a sociolinguística e ensino, de Louis–Jean Calvet sobre políticas

linguísticas e educacionais, pesquisas que estão sendo desenvolvidas no momento atual,

de acordo com projetos de pesquisas com orientandas do doutorado.

Para consolidar o meu conhecimento sobre a diversidade linguística, quanto ao

bilinguismo, o bidialetalismo, variação/mudança na fala e na escrita, na área da

linguística, referenciando também, os estudos de Erickson (1989, 2001) e Gumperz

(1991, 1998), sob essa área do plurilinguismo cultural.

O PERCURSO METODOLÓGICO SOBRE A DIVERSIDADE LINGUÍSTICA

O processo teórico-metodológico in loco, inicialmente, foi utilizado em minhas

pesquisasa a partir de um roteiro de entrevistas de acordo com estudos de Mackey

(1968) conjugado com as abordagens teórico-metodológicas de Tarallo (1986), sobre as

Page 12: SOCIOLINGUÍSTICA: TEORIA, MÉTODO E OBJETO EM · PDF filesobre a variabilidade nas obras de Fernando Tarallo, ... focused on socio-historical, ... abordando estudos sobre A pesquisa

Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande M e s t r a d o e m L e t r a s • U E M S / C a m p o G r a n d e I SSN : 217 8 -148 6 • Vo l u m e 4 • N úm er o 12 • m a i o 201 4

E d iç ã o E s p ec i a l • Hom e n a g e a d o F E R N A N D O T A R A L L O

Web-Revista SOCIODIALETO: Bach., Linc., Mestrado Letras UEMS/Campo Grande, v. 4, nº 12, mai. 2014 515

narrativas de experiências pessoais e cotidianas, no qual foi possível manter entre si

uma relação lógica na geração e do levantamento de dados, utilizando tanto o método

quantitativo como qualitativo (interpretativo). E, dos estudos teórico-metodológicos de

John Gumperz quando utilizava em suas pesquisas in loco a observação participante.

Portanto, os instrumentos e as técnicas de pesquisa empírica in loco, foram

descritas, tendo como suporte os métodos utilizados por Mackey (1968), Labov (1983 e

2008 [1972]), Gumperz (1998 [1982]), de Bortoni-Ricardo 2011 ([1985]) e Tarallo

(1986).

Os estudos de Stella Maris Bortoni-Ricardo contribuíram para que eu pudesse

investigar os dados sobre redes de comunicação social, estudos que investigam a relação

de língua e sociedade no grupo, objetivando averiguar o grau de estabilidade ou de

mudança da variedade linguística do falar alemão-português na comunidade de

Marechal Cândido Rondon, Paraná, descrevendo seu comportamento preditivo, com

base em teoria e métodos de estudos sociolinguísticos quantitativos que descrevem os

dados estatísticos tanto nos aspectos linguísticos internos à língua (fonologia,

morfossintaxe, semântica) quanto às variáveis externas à língua (fatores socioculturais,

geográficos, escolaridade, faixa etária, etnias, entre outros) e qualitativos

(interpretativos), contribuindo para a interpretação de uma ou de outra variante das

formas linguísticas do falar alemão em competição com o falar português na

comunidade. Depois, inúmeras foram as contribuições teórico-metodológicas utilizadas

em minhas pesquisas in loco.

A seguir apresento uma análise que envolve a mudança de língua, a alternância

de código e a alternância linguística, na qual utilizei dos métodos acima arrolados, de

acordo com os autores citados, bem como, da observação participante de acordo com

abordagem da Etnografia da Comunicação Social, tendo como enfoque um Estudo de

Caso de um comunicador (radialista). A presente análise tem como objetivo retomar os

estudos de 1992 e contrastar episódios comunicativos do momento, para ver como se

evidencia a comunicação intercultural do radialista nos dois códigos linguísticos em

suas interlocuções com os ouvintes, nesta região do oeste do Paraná.

Page 13: SOCIOLINGUÍSTICA: TEORIA, MÉTODO E OBJETO EM · PDF filesobre a variabilidade nas obras de Fernando Tarallo, ... focused on socio-historical, ... abordando estudos sobre A pesquisa

Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande M e s t r a d o e m L e t r a s • U E M S / C a m p o G r a n d e I SSN : 217 8 -148 6 • Vo l u m e 4 • N úm er o 12 • m a i o 201 4

E d iç ã o E s p ec i a l • Hom e n a g e a d o F E R N A N D O T A R A L L O

Web-Revista SOCIODIALETO: Bach., Linc., Mestrado Letras UEMS/Campo Grande, v. 4, nº 12, mai. 2014 516

A ANÁLISE DE MUDANÇA DE LÍNGUA E ALTERNÂNCIA DE CÓDIGO

CONVERSACIONAL

Passo a apresentar contato linguístico e sociocultural, tendo como objetivo

analisar as situações de mudança de língua, alternância de código e alternância

linguística da língua alemã e portuguesa, com base no instrumento de investigação de

um Estudo de Caso: entrevista e gravação de um radialista da Emissora de Rádio

Educadora de Marechal Cândido Rondon, Paraná, do Programa Bom Domingo ou

Guten Sontag que foi observado durante o mês de outubro/1991 (o radialista na época

tinha 46 anos de idade) e, agora, nos meses de março a abril de 2014 (o entrevistado tem

69 anos de idade), este estudo tem a ver com a rede de comunicação social, de um

descendente de primeira geração – falante do dialeto alemão Hunsrückisch, nascido em

São Paulo das Missões, no Rio Grande do Sul que veio para Marechal Cândido Rondon,

Paraná, na década de setenta. O entrevistado é comunicador desta emissora de rádio

difusão que tem como meios de predição e explanação o comportamento das pessoas

que ouvem todo o domingo este programa que trata sobre a cultura dos (i)migrantes e

seus descendentes germânicos, italianos, poloneses e das pessoas que moram na

fronteira geográfica com o Paraguai, nesta região do oeste paranaense.

A característica da rede social deste falante comunicador se posiciona com

relação a uma rede social. De acordo com Gumperz (1976), a posição em uma rede

social:

[...] é função da experiência comunicativa real e também varia com

educação, ocupação, segmento geracional, valores políticos e aspiração

individual de mobilidade. Dessa forma, membros de uma mesma família e

de um mesmo grupo de vizinhança poderão existir diferentes práticas no seu

uso lingüístico (GUMPERZ, 1976, p. 13-14).

Sem dúvida, língua, cultura, história e experiência comunicativa do radialista

comunicador são compartilhadas e facilitam a interação social e cultural do Programa

que está no ar a mais de quarenta anos nesta região. Na investigação in loco em 1991, o

radialista em sua interlocução no Programa Guten Sontag, fez uso da mudança de língua

Page 14: SOCIOLINGUÍSTICA: TEORIA, MÉTODO E OBJETO EM · PDF filesobre a variabilidade nas obras de Fernando Tarallo, ... focused on socio-historical, ... abordando estudos sobre A pesquisa

Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande M e s t r a d o e m L e t r a s • U E M S / C a m p o G r a n d e I SSN : 217 8 -148 6 • Vo l u m e 4 • N úm er o 12 • m a i o 201 4

E d iç ã o E s p ec i a l • Hom e n a g e a d o F E R N A N D O T A R A L L O

Web-Revista SOCIODIALETO: Bach., Linc., Mestrado Letras UEMS/Campo Grande, v. 4, nº 12, mai. 2014 517

(language shift), da alternância de códico (code switching) e da alternância linguística

da língua alemã e portuguesa.

De acordo com Gal (1979),

[...] a mudança de código e a mudança de língua são funcionalmente muito

similares, pois o mesmo tipo de contexto ou intenção comunicativa levaria

um monolíngue a mudar de um estilo coloquial para outro formal, podendo

também um bilíngüe a mudar de uma língua para a outra (GAL, 1979, p.

11).

Assim, em comunidades de fala bilíngues é possível evidenciar não só a escolha

entre as línguas disponíveis aos falantes, mas também a escolha entre estilos de cada

língua.

Os fenômenos sociais, culturais e linguísticos estão sempre presentes em línguas

em contato, nas interações comunicativas entre falantes e ouvintes, quando utilizam

estes fenômenos de usos em situações enunciativas bilíngues e bidialetais.

Portanto, a alternância de código conversacional pode ser definida como

justaposição ou conjugação de fala pertencente a dois sistemas ou subsistemas

gramaticais diferentes, em um mesmo enunciado do discurso. Desta forma, Gumperz

(1976), aborda que

Com maior freqüência, a alternância de línguas toma a forma de duas

sentenças subseqüentes, isto é, quando um falante usa uma língua, ou para

reiterar sua mensagem, ou para responder à afirmação de alguém

(GUMPERZ, 1976, p. 48).

A relação existente entre o uso linguístico e o contexto social, quando se faz uso

da alternância de código, é bastante complexa, porque os participantes durante a

interação comunicativa selecionam seus códigos de maneira automática e quase

inconsciente.

Gumperz (1976) trata a alternância de código como um recurso comunicativo

imbuído de informações semântico-pragmáticas.

Assim, apresento a análise de dois fragmentos sobre a mudança de língua

(language shift), alternância de código (code switching) e alternância linguística

Page 15: SOCIOLINGUÍSTICA: TEORIA, MÉTODO E OBJETO EM · PDF filesobre a variabilidade nas obras de Fernando Tarallo, ... focused on socio-historical, ... abordando estudos sobre A pesquisa

Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande M e s t r a d o e m L e t r a s • U E M S / C a m p o G r a n d e I SSN : 217 8 -148 6 • Vo l u m e 4 • N úm er o 12 • m a i o 201 4

E d iç ã o E s p ec i a l • Hom e n a g e a d o F E R N A N D O T A R A L L O

Web-Revista SOCIODIALETO: Bach., Linc., Mestrado Letras UEMS/Campo Grande, v. 4, nº 12, mai. 2014 518

(interferência ou transferência), o primeiro que foi abordado nos meus estudos na

Dissertação de Mestrado, em 1992, e, o segundo na pesquisa de março a abril de 2014.

01) (L) – Die Leute von Luzerna, Staat Santa Catarina sind hier auf Besuch

in Marechal Cândido Rondon, um Fuβball zu spielen, sich vergnüchen, mit

dem Heinrich Neumann, há!, há!, há!, Edmund Granisch und der Heitor

Vaslavic, né! Paβ euch die Kanell auf, die verbrechen euch die Kanelle, die

sind pro forsch, viu!? (O pessoal de Luzerna, estado de Santa Catarina está

aqui de visita em Marechal Cândido Rondon, para jogar futebol e, se

divertirem com Heinrich Neumann, há!, há!, há!, Edmund Granisch e

Heitor Vaslavic, né! Cuidem-se com as canelas, eles podem quebrar as

canelas, são muito fortes, viu!?)

(L) – Então pessoal de Luzerna que está aqui de visita, parabéns pra vocês e

sejam bem-vindos a Marechal Cândido Rondon e, também, a Rádio

Educadora está à disposição de vocês. Né! Vamos então trazer uma música

em alemão para homenagear os visitantes. (Fragmento do Episódio 4, do

comunicador do Programa Bom Domingo, em março/1992 – VON

BORSTEL, 1992, p. 161).

Neste fragmento 01, evidencia-se tanto a mudança de língua (language shift), a

alternância de código (code switching), a alternância linguística da língua alemã e

portuguesa, analisando os traços de alternância linguísticas fonético-semânticas de

expressões interlinguísticas da língua alemã nas situações enunciativas da alternância

dos dois códigos.

No primeiro parágrafo (L), o locutor utilizou uma situação enunciativa em

língua alemã com traços bidialetais de alternância linguística. Já no segundo parágrafo

(L), o locutor fez uso em sua comunicação da língua portuguesa, com o objetivo de se

comunicar eficientemente, o comunicador precisa controlar não apenas os códigos

linguísticos, mas a sua escolha, de modo a produzir um discurso coeso e coerente, a fim

de manter ou criar relações sociais. Essa seleção é necessária, pois os ouvintes estão

muito mais interessados no efeito comunicativo do discurso da língua alemã, do que na

forma linguística da mesma.

O comunicador utilizou de alternâncias fonético-semânticas intersentencial com

relação as seguintes expressões lexicais “sich ver’gnüchen” no sentido semântico “de

se divertir”, porém de acordo com a norma linguística da língua alemã tem-se a

expressão linguística “sich ver’gnügen”, ocorrendo na fala do radialista a troca do traço

fonético consonantal fricativo palatoalveolar // pela consoante oculusiva velar /g/,

Page 16: SOCIOLINGUÍSTICA: TEORIA, MÉTODO E OBJETO EM · PDF filesobre a variabilidade nas obras de Fernando Tarallo, ... focused on socio-historical, ... abordando estudos sobre A pesquisa

Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande M e s t r a d o e m L e t r a s • U E M S / C a m p o G r a n d e I SSN : 217 8 -148 6 • Vo l u m e 4 • N úm er o 12 • m a i o 201 4

E d iç ã o E s p ec i a l • Hom e n a g e a d o F E R N A N D O T A R A L L O

Web-Revista SOCIODIALETO: Bach., Linc., Mestrado Letras UEMS/Campo Grande, v. 4, nº 12, mai. 2014 519

neste item lexical. Também utilizou a alternância linguística da expressão "Paβ euch

die Kanell auf” (Cuidem-se com as canelas) – o item lexical Kanell (as canelas), no

sentido de quebrar as pernas, na cultura popular alemã há o termo die Keule e no sentido

formal da língua alemã das Bein (a perna). Como também, fez uso da alternância de

código (code switching) fonético-semântica na expressão linguística “die sind pro

forsch” (die sind sehr stark: eles são muito fortes), na expressão “pro forsch”,

utilizando em sua fala o item lexical “pro”, ou seja, a contração da preposição „para’

mais o artigo definido masculino ‘o’ “pro” do português e o item lexical da língua

alemã Fort (forte), ocorrendo aqui o neologismo “pro forsch” do Brasildeutsch.

Em seguida, a análise do segundo episódio:

02 (L) – Hörer und Hörerinnen do programa Bom Domingo cumprimenta a

todos os ouvintes e vai ao ar todos os domingos das dez às onze e trinta

horas, nós estamos falando em nome da Auto Elétrica do João, troca

baterias, pneus e cuida de qualquer problema elétrico de seu carro, vá visitar

a Auto Elétrica do João na Rua Independência... Homenagemos os

aniversariantes Ruben Hann de Palotina e Arlindo Grass da Linha Concórdia

com a música alemã Schön ist die Jugend... (Hörer und Hörerinnen do

programa..: Senhores e senhoras ouvintes do programa.... Schön ist die

Jugend...: Bela é a juventude...) – (Fragmento de um Episódio do

comunicador do Programa Bom Domingo – Pesquisa de VON BORSTEL,

março/2014 ).

Durante os meses de março e abril de 2014, ouvi e gravei todos os domingos o

Programa Bom Domingo, das dez às onze e trinta horas. O radialista comunicador é o

mesmo da pesquisa de outubro de 1991, porém foram poucas as expressões linguísticas

utilizadas na língua alemã, atualmente interage com os ouvintes praticamente na língua

portuguesa.

Assim, nesta pesquisa, observei que o locutor utilizou as alternâncias de código

tag switching (VON BORSTEL, 1992, 1999, 2011), quando o comunicador faz uso de

expressões idiomáticas ou retóricas da língua alemã em suas interlocuções

comunicativas com os ouvintes, como no caso a alternância de código utilizando o tag

switching: Hörer und Hörerinnen...(Senhores e senhoras ouvintes...). O comunicador

em seu programa de rádio difusão homenageia os ouvintes descendentes de imigrantes

germânicos, italianos, poloneses e os vizinhos paraguaios, sempre com músicas étnico-

Page 17: SOCIOLINGUÍSTICA: TEORIA, MÉTODO E OBJETO EM · PDF filesobre a variabilidade nas obras de Fernando Tarallo, ... focused on socio-historical, ... abordando estudos sobre A pesquisa

Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande M e s t r a d o e m L e t r a s • U E M S / C a m p o G r a n d e I SSN : 217 8 -148 6 • Vo l u m e 4 • N úm er o 12 • m a i o 201 4

E d iç ã o E s p ec i a l • Hom e n a g e a d o F E R N A N D O T A R A L L O

Web-Revista SOCIODIALETO: Bach., Linc., Mestrado Letras UEMS/Campo Grande, v. 4, nº 12, mai. 2014 520

culturais e enuncia a música na língua de origem, como o fez neste fragmento na língua

alemã “[...] com a música alemã Schön ist die Jugend... “, do episódio de março/2014.

A partir destes dois episódios do programa de rádio difusão Bom Domingo,

observei que no primeiro (em 1992), o locutor utiliza e interage nos dois códigos

linguísticos com os seus ouvintes, neste caso, evidenciei um continuum de sequências

enunciativas intercaladas de elementos linguísticos das duas línguas. Porém, no segundo

(de março a abril de 2014) episódio, utilizou-se de expressões idiomáticas de alternância

linguística na língua alemã.

Finalizando esta análise da mudança e alternância de código conversacional do

comunicador nos dois códigos linguísticos, verifiquei nesta pesquisa e nas gravações

deste programa de domingo, que na década de noventa o radialista utilizava os recursos

estratégico-discursivos da mudança de língua, da alternância de código e da alternância

linguística dos dois códigos lingüísticos (alemão-português), porém no presente

momento, o locutor não fez uso destes recursos linguísticos e, poucas vezes, foram

utilizadas expressões idiomáticas e retóricas da língua alemã em seu programa.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para concluir precisamente por onde iniciei este meu texto, sobre os estudos da

Sociolinguística, tendo como base inicial os estudos de Fernando Tarallo, dando

depoimentos misturando com observações bibliográficas de pesquisas muito pessoais,

sendo impossível resumir com precisão os rumos que a pesquisa de Tarallo tomou

nestas três últimas décadas e nos mostrar que não se deve temer e nem negar o passado

quando tratamos sobre teorias Linguísticas, mas nelas mergulhar sempre que pudermos,

não apenas para referenciar o estudo de Fernando Tarallo, mas acima de tudo para

podermos compreender que no momento o antigo e o atual implicam e significam na

dinâmica de estudos e reflexões sobre a Sociolinguística, na determinação e coragem

que Tarallo teve em defender suas posições e ideias sobre a variabilidade linguística

tanto bidialetal como bilíngue, em suas pesquisas no país.

Page 18: SOCIOLINGUÍSTICA: TEORIA, MÉTODO E OBJETO EM · PDF filesobre a variabilidade nas obras de Fernando Tarallo, ... focused on socio-historical, ... abordando estudos sobre A pesquisa

Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande M e s t r a d o e m L e t r a s • U E M S / C a m p o G r a n d e I SSN : 217 8 -148 6 • Vo l u m e 4 • N úm er o 12 • m a i o 201 4

E d iç ã o E s p ec i a l • Hom e n a g e a d o F E R N A N D O T A R A L L O

Web-Revista SOCIODIALETO: Bach., Linc., Mestrado Letras UEMS/Campo Grande, v. 4, nº 12, mai. 2014 521

Para mostrar que os estudos de Tarallo foram importantes para o meu

conhecimento linguístico, ao finalizar o presente texto, apresentei uma análise do objeto

de pesquisa, aqui no caso, a mudança de língua e a alternância conversacional de um

radialista bilíngüe (alemão-português). Situação evidenciada em dois momentos, o

primeiro na pesquisa em outubro de 1991 e o segundo, agora, em março e abril de 2014.

Ou seja, depois de vinte anos, retomei o mesmo objeto de pesquisa do comunicador de

rádio difusão da língua e cultura teuto-brasileira na cidade de Marechal Cândido

Rondon , a partir da audição do Programa Bom Domingo.

Neste estudo comparativo e, ao mesmo tempo, contrastivo, pude verificar que no

momento atual, poucas vezes o locutor utilizou em sua comunicação a língua alemã,

portanto, o que tenho evidenciado é que o uso da língua do imigrante está

desaparecendo aos poucos na comunidade de fala de Marechal Cândido Rondon,

Paraná.

REFERÊNCIAS

BORTONI, Stella M. Educação bidialetal – O que é? É possível? In: SEKI, L. (Org.).

Lingüística indígena e educação na América Latina. Campinas: Editora da Unicamp,

1993.

______. Educação em língua materna: a sociolingüística na sala de aula. São Paulo:

Parábola, 2004.

______. Do campo para a cidade: estudo sociolingüístico de migração e redes sociais.

Trad. Stella M. Bortoni-Ricardo, Maria do R. R. Caxangá. São Paulo: Parábola

Editorial, 2011 , [1985].

CALVET, Louis-Jean. Sociolingüística: uma introdução crítica. São Paulo: Parábola,

2002.

DITTMAR, Norbert. Sociolinguistics. A Critical Survey of Theory and Application.

Londres, Edward Arnold, 1976.

ERICKSON, Frederick. Métodos cualitativos de investigación. La investigación de la

enseñanza, II. Barcelona- Buenos Aires-México: Paidos, 1989.

______. Prefácio. In: COX, M. I. P.; ASSI-PETERSON, A. A. Cenas de sala de aula.

Campinas: Mercado das Letras, 2001, p. 9-17.

FERGUSON, Charles A. Diglossia. In: FONSECA, Maria S. V. da; NEVES, Moema F.

Page 19: SOCIOLINGUÍSTICA: TEORIA, MÉTODO E OBJETO EM · PDF filesobre a variabilidade nas obras de Fernando Tarallo, ... focused on socio-historical, ... abordando estudos sobre A pesquisa

Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande M e s t r a d o e m L e t r a s • U E M S / C a m p o G r a n d e I SSN : 217 8 -148 6 • Vo l u m e 4 • N úm er o 12 • m a i o 201 4

E d iç ã o E s p ec i a l • Hom e n a g e a d o F E R N A N D O T A R A L L O

Web-Revista SOCIODIALETO: Bach., Linc., Mestrado Letras UEMS/Campo Grande, v. 4, nº 12, mai. 2014 522

(Orgs.). Sociolingüística. Rio de Janeiro: Livraria Eldorado Tijuca, 1974. p. 99-118

[1959].

FISHMAN, John. A. The sociology of language. Rowley: Newbury House, 1972.

______. A sociologia da linguagem. In: FONSECA, Maria S. V. da; NEVES, Moema

F. (Orgs.) Sociolingüística. Rio de Janeiro: Livraria Eldorado Tijuca, 1974. p. 25-40.

GAL, Suzan. Language shift: social determinats of linguistic change in bilingual

Áustria. New York, Academic Press, 1979.

GUMPERZ, John. J. Linguistics and social intraction in two communities. In:

GUMPERZ, J. J. & HYMES, D. (Ed.). The ethnography of communication.

Washington: D. C. American Anthropological Association, 1964, p. 137-154.

______. Social Network and Language Shift. Working Paper 46. Berkely: Language

Behavior Laboratory, 1976.

______. Convenções de contextualização. In B. T. Ribeiro, e O. M. Garcez, (Orgs.).

Sociolingüística interacional:antropologia, linguística e sociologia em análise do

discurso. Porto Alegre: AGE Ed., 1998: 98-119 [1982].

______. A sociolingüística interacional no estudo da escolarização. In: COOK-

GUMPERZ, J. (Org.). A construção social da alfabetização. Porto Alegre: Artes

Médicas, 1991, p. 58-82.

HEYE, Jürgen. Sociolingüística. In: PAIS, Cidmar T. et alii. (Orgs.). Manual de

lingüística. 1.ed. Petrópolis, RJ: Vozes, [1978], 2. ed. São Paulo: Global Ed., 1986. p.

203-237.

______. Considerações metodológicas sobre o estudo de bilingüismo. Anais II do

Encontro de bilingüismo e variação lingüística. Florianópolis: UFSC, n. 2. p. 2-15,

1983.

HOFFMANN, Charlotte. An introduction to bilingualism. England: Longman, 1991.

HYMES, Dell. The Ethnography of Speaking. In: FISHMAN, John. (Ed.). Reading in

the Sociology of Language1.Mouton: The Hague, 1968, p. 99-138 [1962].

______. On Communicative Competence. In: PRIDE, J. B.; HOLMES, J.

Sociolinguistics Harmondsworth. England: Penguin Books, 1972, p. 269-294.

LABOV, William. Language in the inner city. Philadelphia: University of

Pennsylvania Press, 1972 [1966].

______. Estágios na aquisição do inglês Standard. In: FONSECA, M.; NEVES, M. f.

(Orgs.). Sociolingüística. Rio de Janeiro, Eldorado, 1974, p. 49-85.

______. Padrões sociolingüísticos. Trad. Marcos Bagno, Maria M. P. Scherre, Caroline

R. Cardoso. São Paulo: Parábola Editorial, 2008 [1972, 1983].

MACKEY, William. The description of bilingualism. In: FISHMAN, J. A. (Ed.).

Readings in the sociology of language. Haia: Mouton, 1968, p. 554-584.

MYERS-SCOTTON, Carol. Intersections between social motivations and structural

Page 20: SOCIOLINGUÍSTICA: TEORIA, MÉTODO E OBJETO EM · PDF filesobre a variabilidade nas obras de Fernando Tarallo, ... focused on socio-historical, ... abordando estudos sobre A pesquisa

Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande M e s t r a d o e m L e t r a s • U E M S / C a m p o G r a n d e I SSN : 217 8 -148 6 • Vo l u m e 4 • N úm er o 12 • m a i o 201 4

E d iç ã o E s p ec i a l • Hom e n a g e a d o F E R N A N D O T A R A L L O

Web-Revista SOCIODIALETO: Bach., Linc., Mestrado Letras UEMS/Campo Grande, v. 4, nº 12, mai. 2014 523

processing in codeswitching. In: LÜDI, G. (Ed.). ESF. v. 2, 1991, p. 57-82.

______. Constructing the frame in intrasentential codeswitching. Multilingua. v. 11,

p.101-127, 1992.

______. Duelling languages: grammatical structure in codeswitching. 2. ed. New

York: Oxford University Press, 1997.

MOLLICA, Maria, C. Influência da fala na alfabetização. Rio de Janeiro: Tempo

Brasileiro, 1998.

______. Da linguagem coloquial à escrita padrão. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2003.

______. Fala, letramento e inclusão social. São Paulo: Contexto, 2011.

MOLLICA, Maria. C.; BRAGA, Maria L. Introdução à sociolingüística: o

tratamento da variação. São Paulo: Contexto, 2003.

POPLACK, Shana. Sometimes I‟ll start a sentence in Spanish Y TERMINO EN

ESPAÑOL. Linguistic. v. 18, p. 581-618, 1980.

______. Constrasting patterns of code-switching in two communities. In: HELLER, M.

(Ed.). Codeswitching: anthropological and sociolinguistic perspectives. Berlin:

Mouton de Gruyter, 1988. p. 215-244.

TARALLO, Fernando. A pesquisa sociolingüística. São Paulo: Ed. Ática S.A., 1986.

______. Fotografias sociolingüísticas (Org.). São Paulo: Pontes Ed., 1989.

______., ALKMIN, T. Falares crioulos: línguas em contato. São Paulo: Ed. Ática S.A.,

1987.

VANDRESEN, Paulino. Fonologia do westfaliano de Rio Fortuna. Rio de Janeiro:

UFRJ, 1968. Dissertação de Mestrado.

VON BORSTEL, Clarice N. Aspectos do bilingüismo: alemão e português em

Marechal Cândido Rondon, Paraná, Brasil. Florianópolis, SC: UFSC, 1992.

(Dissertação de Mestrado).

_______. Contato lingüístico e variação em duas comunidades bilíngües do Paraná.

Universidade do Rio de Janeiro: Rio de Janeiro, 1999. (Tese de doutorado).

_______ Redes de comunicação em situações de línguas em contato. In: Varia

Scientia, Cascavel,: v.2, nº 1, 2002.

______. A linguagem sociocultural do Brasildeutsch. São Carlos: Pedro & Paulo

Editores, 2011.

WEINREICH, Uriel. Languages in contact. New York: Linguistic Circle & The

Hague, Mouton, 1953.

Page 21: SOCIOLINGUÍSTICA: TEORIA, MÉTODO E OBJETO EM · PDF filesobre a variabilidade nas obras de Fernando Tarallo, ... focused on socio-historical, ... abordando estudos sobre A pesquisa

Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande M e s t r a d o e m L e t r a s • U E M S / C a m p o G r a n d e I SSN : 217 8 -148 6 • Vo l u m e 4 • N úm er o 12 • m a i o 201 4

E d iç ã o E s p ec i a l • Hom e n a g e a d o F E R N A N D O T A R A L L O

Web-Revista SOCIODIALETO: Bach., Linc., Mestrado Letras UEMS/Campo Grande, v. 4, nº 12, mai. 2014 524

Recebido Para Publicação em 16 de abril de 2014.

Aprovado Para Publicação em 7 de maio de 2014.