sociedade e justiÇa -...
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ANO 13
# 33
ISS
N 2
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O EQUILÍBRIO ENTRE OS TRÊS PODERES NO BRASIL ESTÁ AMEAÇADO?
SOCIEDADEE JUSTIÇA
O FANTÁSTICO MUNDO DA TRIGONOMETRIA
SAIBA POR QUE ASTRÔNOMOS E QUÍMICOS NÃO ABREM MÃO DELA
REFRIGERADOR DE VACINAS INVENÇÃO DE ESTUDANTE BRITÂNICO PROMETE SALVAR MILHÕES DE VIDAS
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Diretora editorial
Renata Mascarenhas
Coordenação Editorial
Bárbara Muneratti e Renato Luiz Tresolavy
Jornalista responsável
Jayme Brener (Mtb 19.289-78-61-SP)
Produção editorial
Ex Libris Comunicação IntegradaTel. (11) [email protected]
Edição
Cláudio Camargo
Revisão
Hélia de Jesus Gonsaga (ger.), Kátia Scaff Marques (coord.), Rosângela Muricy (coord.), Claudia Virgilio, Gabriela Mace-do de Andrade, Luís Maurício Boa Nova e Raquel A. Taveira
Projeto gráfi co
Buono Disegnowww.buonodisegno.com.br
Diagramação
Regina Beer
Infográfi cos
Área Design
Capa
Mouses Sagiorato
Impressão e acabamento
Divisão de Sistemas de Ensino
Av. das Nações Unidas, 7221Pinheiros - CEP 05425-902São Paulo – SP
Reprodução proibida. Todos os direitos reservados.
Central de Atendimento às Escolas0800 770 1996
Entre nósA clava forte da JustiçaNunca a Justiça esteve tão em evidência no Brasil, da mesma forma que nun-ca as ações da Justiça dividiram tanto o país. Uma parte dos brasileiros acredita que o fundamental é combater a corrup-ção, não importam os meios. Esta parcela da população aplaude qualquer ação contra os corruptos, mesmo que sejam arbitrárias. Outros defendem que o necessário combate à corrupção não pode passar por cima das garan-tias constitucionais e legais dos cidadãos. Além disso, o protagonismo de juízes e do Ministério Público é tanto que já se fala em “judicialização da política”, com o Judiciário ocupando os espa-ços do Executivo e do Legislativo, já que estes poderes, às voltas com de-núncias de corrupção, estão praticamente paralisados. E na política, como se sabe, não existe vácuo.Nossa matéria de capa traz essa polêmica e deixa no ar a pergunta: depois de décadas, tanto na ditadura como na democracia, em que o Judiciário e o Legislativo foram neutralizados pelo Executivo, o poder da toga toma as ré-deas. Seria esse protagonismo um avanço ou uma ameaça ao equilíbrio dos Três Poderes – um dos pilares do Estado democrático de Direito?Os conceitos de “esquerda” e “direita”, que muitos supunham superados, vol-taram com toda a força nos últimos anos, no Brasil e no mundo. Basta ver, por exemplo, o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff e as eleições nos Estados Unidos. A pergunta que se faz é: esses conceitos estão ultrapassados ou ainda conservam o vigor?Polêmica, aliás, é o que não falta nesta edição. Como a discussão sobre a tê-nue fronteira que separa a liberdade de expressão e o bullying: preconceitos e ofensas podem ser pretextos para fazer humor?Na área de Ciências da Natureza, temas impactantes, como: a técnica que utiliza DNA de três pais para gerar bebês sem as doenças dos pais, os avan-ços na luta contra o buraco na camada de ozônio, a disseminação dos drones para uso civil e as mil e uma utilidades da Trigonometria.
Boa leitura!
Gente que fez
FEVEREIRO 2017 | ATUALIZA
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LUIZA VILLAMÉA
Jornalista graduada
pela Universidade
Cásper Líbero e
mestra em História
pela USP. Trabalhou
no jornal O Globo
e nas revistas
IstoÉ e Veja.
Atua como repórter
especial da revista
Brasileiros.
CLÁUDIO CAMARGO
Jornalista e
sociólogo, formado pela
Escola de Sociologia e
Política de São Paulo.
Trabalhou como
redator e subeditor
no jornal Folha de
S.Paulo e como
editor da seção
“Internacional”
na revista IstoÉ.
FERNANDO PORFIRIO
DE LIMA
Jornalista graduado pela
Universidade Federal de
Alagoas, com atuação
nos jornais Gazeta, Jornal
de Alagoas, DCI, Folha da
Tarde e Diário Popular. Foi
assessor de imprensa na
Prefeitura de São Paulo e
no Ministério Público de
São Paulo.
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LUIZ CHAGAS
Jornalista, músico e
tradutor. Autor, com
Mônica Tarantino,
do songbook PretoBrás,
sobre a obra de Itamar
Assumpção, com quem
tocou durante décadas.
Criou trilhas sonoras
para cinema. Atualmente
escreve para a
revista Brasileiros.
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ice TROCANDO
IDEIAS O arquiteto Gilberto Belleza, atual presidente do Conselho Regional de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo (CAU/SP), fala sobre a evolução, as perspectivas e os
horizontes de uma profissão dinâmica num país em
constante transformação.
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DIFÍCIL E FASCINANTE
A Trigonometria é a parte da Matemática que lida com
triângulos, círculos, ondas e oscilações. Do teorema de
Pitágoras ao cálculo diferencial e às aplicações práticas na
Medicina, na Engenharia, na Química e na Biologia, esse
ramo da Matemática evoluiu muito.
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A HORA E A VEZ
DO JUDICIÁRIOO atual protagonismo do Poder Judiciário e do MP cresceu com a Lava Jato. Muitos aplaudem a
ação da Justiça contra a corrupção; outros criticam os abusos de poder e dizem que vivemos um processo de “judicialização da política” em razão
do enfraquecimento do Executivo e do
Legislativo.
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ESQUERDA ×
DIREITAA radicalização política no Brasil trouxe à tona os velhos conceitos
de “esquerda” e “direita”, que muitos julgavam superados depois da Guerra Fria. Contudo, seriam tais conceitos,
forjados no século XVIII, capazes de dar conta de uma realidade
complexa como a de hoje?
HUMOR: LIBERDADE
OU BULLYING?Numa sociedade ideal, o
politicamente correto deveria evitar a disseminação de preconceitos contra
minorias, enquanto o politicamente incorreto deveria garantir a liberdade de expressão. Entretanto, no mundo real, muitas vezes os que se dizem
incorretos são, na verdade, conservadores com um
discurso de ódio.
22ENTENDA A
REVISTAÍcones temáticos
relacionam as matérias às áreas do
conhecimento. A seção “Em foco” contempla as competências e as habilidades do Enem.
LINGUAGENS MATEMÁTICA
CIÊNCIAS DA NATUREZA
CIÊNCIAS HUMANAS
QUÍMICA
FÍSICA
GEOGRAFIA
SOCIOLOGIA
FILOSOFIA
LÍNGUA PORTUGUESA
INGLÊS
ESPANHOL
EDUCAÇÃO FÍSICA
ARTE
MATEMÁTICA
BIOLOGIA
HISTÓRIA
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ESSA!
50DIÁLOGO
COM A ARTE
FEVEREIRO 2017 | ATUALIZA
DNA DE TRÊS PAIS
Cientistas estadunidenses
desenvolveram uma técnica que
permite que bebês, filhos de pais
com doenças genéticas graves, nasçam
saudáveis. Essa técnica utiliza o DNA de
três pessoas: do pai, da mãe e de um
terceiro doador. A descoberta traz muitas
esperanças a milhões de pessoas com
doenças genéticas, porém reabre o
debate sobre os limites éticos da
manipulação genética.
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CADA VEZ MAIS SURDOS?
Segundo a Organização Mundial
da Saúde (OMS), atualmente um
terço dos idosos com mais de
65 anos sofre de surdez, além de
metade daqueles com mais de 75 anos.
No entanto, o que preocupa os
especialistas é o aumento do problema
entre os jovens. A poluição sonora,
sobretudo por equipamentos de
som, é um dos principais
vilões desse mal.
REFRIGERADOR DE VACINAS
O estudante William Broadway,
de 22 anos, da Universidade de
Loughborough (Reino Unido), criou
uma microgeladeira para transportar
vacinas e até órgãos, o que pode
ajudar a salvar cerca de 1,5 milhão
de vidas por ano. A invenção valeu
a Broadway o prêmio James
Dyson Award.
CAMADA DE OZÔNIO
Em 1985, cientistas anunciaram
que um imenso buraco se abria
na camada de ozônio da atmosfera
sobre a Antártida e que ele estava
aumentando cada vez mais.
A gravidade da situação mobilizou
a primeira ação global pelo meio
ambiente. Contudo, apesar
dos avanços, o problema
ainda é extremamente
preocupante.
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38
44
MATA HARIEm 1917, o Exército
francês condenou à morte por
fuzilamento a bailarina e cortesã
holandesa Margaretha Gertruida
Zelle, mais conhecida como Mata Hari.
Na verdade, havia a suspeita de que
ela fosse agente dupla (Alemanha e
França). Hoje, cem anos depois da
execução de Mata Hari, acredita-se
que a acusação de espionagem
pode ter sido falsa.
42
A ESCALADA DOS DRONES
Os drones, ou veículos aéreos não tripulados (Vants),
surgiram com o objetivo de poupar a vida de militares em situação de risco. Hoje, o uso civil dos drones tem
crescido, em áreas como a de monitoramento agrícola e
a de Meteorologia.
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ATUALIZA | FEVEREIRO 2017
A Arquitetura como missão
06 | TROCANDO IDEIASpor mArco pAULo ferreIrA
Gilberto Belleza
O atual presidente do Conselho Regional de Arquitetura e Urbanismo
fala sobre o papel do arquiteto no Brasil de hoje
Ex-integrante do Conselho Regional de
Engenharia e Agronomia de São Pau-
lo (Crea/SP), Gilberto Belleza, atual pre-
sidente do Conselho Regional de Arquite-
tura e Urbanismo de São Paulo (CAU/SP),
acredita que o campo de atuação de arquitetos e ur-
banistas tem mudado e ampliado muito no Brasil.
Para ele, que já foi curador da Bienal Internacional de
Arquitetura de São Paulo, em 2005, existe hoje uma
demanda cada vez maior por profissionais de Arqui-
tetura e Urbanismo em áreas não tradicionais, como
sustentabilidade e patrimônio histórico. “Um dos
aspectos que valorizaram muito nossa profissão é a
grande quantidade de profissionais que estão entran-
do no mercado”, diz Belleza, nascido em São Paulo,
com graduação, mestrado e doutorado pela Faculda-
de de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP e dou-
torado em projetos pela Universidade Presbiteriana
Mackenzie. A seguir, veja alguns trechos da entrevista.
Atualiza: Como você se interessou por Arquitetura e Urbanismo?Gilberto Belleza: Quando eu estava no segundo grau,
já gostava muito de desenhar. Eu estava um pouco em
dúvida entre fazer Engenharia e Arquitetura. Mas
meu dom artístico, de certa maneira, me levou mais
para a Arquitetura do que para a Engenharia. E não te-
nho dúvida nenhuma de que a melhor opção foi essa.
Como está o mercado de trabalho para os jovens formandos nessa área?Estamos num momento muito delicado porque a cri-
se no país atingiu em cheio a nossa área e a área da
construção civil. Esperamos que a crise seja momen-
tânea. Porque, sem dúvida, é uma crise advinda da si-
tuação crítica do país.
Quais são as principais áreas de atuação dos arqui-tetos e urbanistas?Tem mudado e ampliado muito, o campo de atuação
dos arquitetos e urbanistas. O número de profissio-
nais formados tem feito com que a gente amplie con-
sideravelmente nosso campo. Então, as áreas básicas
que a gente tinha de atuação, que eram as de Arqui-
tetura, planejamento e construção, hoje se têm am-
pliado para as áreas de sustentabilidade e patrimônio
histórico, de uma maneira muito mais efetiva, fazen-
do com a que a atuação do arquiteto e urbanista tenha
um papel fundamental dentro da cidade e da socieda-
de brasileira.
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ATUALIZA | FEVEREIRO 2017
08 | TROCANDO IDEIAS
Quem contrata um arquiteto reconhece a importância desse profissional
Quais as principais característi-cas que um arquiteto e urbanis-ta deve ter?Em primeiro lugar, ter bom co-
nhecimento de desenho. Saber
desenhar e saber se expressar por
meio do desenho. Vai ter ainda
que se aprimorar em Informáti-
ca, que é uma área essencial tam-
bém. E aprimorar muito questões
críticas da sociedade, do ponto de
vista ambiental, urbano e de cons-
trução. Nessa fase inicial, princi-
palmente, questões ligadas à His-
tória, desenho e expressão. Tudo
isso é muito importante.
Como escolher a faculdade em que se pretende cursar Arquite-tura e Urbanismo?Precisa primeiro se inteirar de to-
dos os cursos que existem. Nós
temos, hoje em dia, uma grande
quantidade de cursos, dos mais va-
riados níveis de qualidade. Então,
sugiro pesquisar bastante para sa-
ber quais são as melhores opções.
Evidentemente que isso envolve
questões econômicas, de distância.
Pesquisar também a origem desses
cursos, se eles têm uma estrutu-
ra definida de funcionamento, se
têm uma boa biblioteca, a quali-
dade dos professores, etc. Isso vai
ajudar muito o jovem estudante a
escolher qual o melhor curso que
ele pode fazer.
E qual o melhor momento para começar a fazer um estágio?Na medida do possível, desde o se-
gundo ou o terceiro ano já é bom
tentar um estágio. Evidentemen-
te, um estágio que ofereça a possi-
bilidade de aprender, que não seja
simplesmente utilização de mão
de obra barata. E conseguir dosar
isso com o curso. Porque só o es-
tágio também não adianta. Preci-
sa saber tirar do curso as melhores
qualidades que ele te oferece, e ao
aspectos legais da profissão, se o
currículo está sendo obedecido, se
o número de horas/aulas está sen-
do cumprido. E, ao mesmo tempo,
a Comissão tem um papel impor-
tante dentro do Conselho porque
ela é que legaliza todas essas áreas
de formação e ensino, inclusive o
registro de profissionais estrangei-
ros que vêm ao Brasil.
Em sua opinião, hoje a profissão é valorizada como se deve?Cada vez mais. Um dos aspectos
que valorizaram muito nossa pro-
fissão é a grande quantidade de
profissionais no mercado. Ou seja,
tem crescido consideravelmen-
te o número de profissionais for-
mados, e isso tem feito com que
as pessoas tenham próximo à sua
família um profissional arquiteto,
reconhecendo nele a sua capacida-
de. Além disso, uma coisa bastante
importante é que quem contrata
um arquiteto reconhece a impor-
tância desse profissional. Nós te-
mos uma pesquisa do CAU/BR que
diz que entre 80% e 90% das pes-
soas que contrataram um arquite-
to voltariam a contratá-lo. As pes-
soas reconhecem a importância
desses profissionais na socieda-
de, em sua atuação e sua respon-
sabilidade.
mesmo tempo aprimorar seu co-
nhecimento nesses estágios.
Qual a importância da criação do CAU para a profissão?Em primeiro lugar, um reconhe-
cimento da própria sociedade da
importância de se ter um Conse-
lho próprio para os arquitetos e
urbanistas. Em segundo, que foi
uma luta em que os arquitetos e
urbanistas quiseram caracterizar
claramente a importância da sua
profissão para a sociedade, dife-
renciando-se do outro conselho
que existia e que congregava mais
de 130 profissões. Então, a possi-
bilidade de ter um conselho pro-
fissional único valoriza não só o
profissional perante a sociedade,
mas também os profissionais pe-
rante a própria categoria.
Qual o papel da Comissão de En-sino e Formação do CAU/SP, principalmente para os estudan-tes de Arquitetura e Urbanismo?Tem papel fundamental de acom-
panhar o registro das novas insti-
tuições no Conselho, como se dá
esse registro, se estão cumprindo
todas as regras. Da mesma ma-
neira, acompanha o registro dos
novos profissionais, se eles es-
tão conseguindo contemplar os
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FEVEREIRO 2017 | ATUALIZA
Morcegos usam Carotenoide para pigmentar a pele
Plutão, o planeta-anão, pintou
sua lua de vermelho
Veneno contra
esclerose
Caronte, a maior das cinco luas conhecidas de Plutão, tem
uma mancha vermelha em seu polo norte. Os cientistas es-
tão especulando que esta coloração peculiar, descoberta pela
sonda New Horizons, poderia ser causada pela captura de gás
metano emitido por Plutão. As moléculas de metano ficariam
aprisionadas na calota polar da lua durante os longos inver-
nos, de mais 100 anos, que existem lá.
Uma grande equipe, liderada por Will Grundy, do Observatório
Lowell, analisou dados gerados pela New Horizons e criou um
modelo da dinâmica da superfície do satélite, levando em conta
ainda os efeitos do movimento conjunto de Plutão e Caronte em
torno do Sol.
A conclusão é que, além de realmente ser capaz de preservar o
metano liberado por Plutão, a calota polar norte de Caronte, uma
vez exposta à radiação solar, pode ser palco de proces-
sos fotoquímicos que transformam o metano em
moléculas mais complexas, criando a coloração
avermelhada.
Fonte: <www.inovacaotecnologica.com.br>
Acesso em: 22 dez. 2016.
Os animais não podem sintetizar pigmentos carotenoi-
des e, por isso, devem consumi-los em sua dieta. A maioria
dos mamíferos, incluindo os seres humanos, é acumulado-
ra de carotenoides, mas não conseguem distribuí-los para
alguns tecidos e órgãos, tais como a pele. Isso limita a ca-
pacidade potencial desses organismos para se beneficiar
do antioxidante.
Porém, recentemente, biólogos da Espanha e da Costa Rica
publicaram uma nova descoberta na revista Proceedings,
da Academia Nacional de Ciências. O morcego-branco-
-hondurenho forma sua pele na cor amarelo-brilhante com
a deposição da luteína xantofila. A espécie, acreditam os
pesquisadores, poderia ser um modelo de mamífero que
pode ajudar a desenvolver estratégias para melhorar a as-
similação de luteína em seres humanos e, assim, evitar a
degeneração macular.
Fonte: <phys.org/> Acesso em: 22 dez. 2016.
No litoral das regiões Norte, Nor-
deste e parte da região Sudeste do
Brasil vive um peixe venenoso e peço-
nhento, que tem presas e espinhos para
injetar toxinas em suas vítimas: chama-se
niquim (Thalassophryne nattereri), que habita
em zonas de transição entre as águas salgada e
doce, escondido no fundo lodoso de rios e lagoas
costeiras. Na maré vazante, o niquim, que tem
cor de areia, sobrevive enterrado, podendo
viver fora da água por até 18 horas.
No mesmo peixe, cientistas identificaram
um peptídio com atividade anti-inflamatória
comprovada nos casos de esclerose múlti-
pla. De acordo com os pesquisadores, em
camundongos o peptídeo bloqueia o trânsito
e a infiltração de linfócitos patogênicos e ma-
crófagos para o sistema nervoso central, o que
favorece o aumento de células reguladoras.
Em 2008, um grupo de pesquisadores do
Laboratório Especial de Toxinologia do Instituto
Butantan, em São Paulo, desenvolveu um
soro efetivo contra a picada do niquim.
Agora, a mesma equipe, liderada
pelas imunofarmacologistas Mô-
nica Lopes Ferreira e Carla Lima,
descobriu que as fêmeas do
niquim, embora menores,
possuem toxina mais pode-
rosa que a dos machos.
Fonte: <www.sciencedirect.
com/science/
journal/00410101 >
Acesso em:
22 dez. 2016.
www.tecmundo.com.br
www.inovacaotecnologica.com.br/
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ENTRE CIÊNCIA E SOCIEDADE
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Thalassophryne nattereri e
seus espinhos venenosos
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10 | CIÊNCIAS HUMANASpor luiza villaméa
Ao colecionar delações premiadas e vazamentos seletivos e influenciar os rumos políticos do país, integrantes do Ministério Público e do Judiciário são aplaudidos por muitos e criticados por outros, que temem que esse protagonismo ameace um dos pilares do Estado de Direito: o equilíbrio dos Três Poderes
Justiça de vara curta
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Ultimamente, os casosde condução coercitivatêm se repetido no país. O mais famoso aconteceu no ano passado, quandoo juiz Sérgio Moro aplicou a medida ao ex-presidente Lula. Explique em quecondições essa medidapode ser aplicada equando ela constituiabuso de autoridade.
No caso do Mensalão,apenas três dos 38acusados tinham “foroprivilegiado”, o que lhes dava o direito de serem julgados pelo Supremo Tribunal Federal (STF). No entanto, a totalidadedos réus foi julgada por aquela Corte suprema.Explique as razões para essa excepcionalidade.
Ainda no julgamento do Mensalão, o STF adotou um critério inédito na jurisprudência do país,a teoria do domíniodo fato. Segundo essateoria, o chefe, mesmonão estando presentena cena do crime, deveser responsabilizado. Qual a razão da adoção dessa tese?
Procuradores da República que atuam na Lava Jatoelaboraram uma série de medidas contra a corrupção, coletaram mais de 2 milhões de assinaturas e as enviaram à Câmara, que retirou medidas consideradas arbitrárias. Quais foram os pontospolêmicos retirados pelos deputados?
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12 | CIÊNCIAS HUMANAS
aTualiza | FEVEREIRO 2017
Depois do Japonês, veio o Le-
nhador da Federal. O primei-
ro, o agente Newton Ishii,
destacou-se ao aparecer “con-
duzindo” presos da Operação
Lava Jato, sempre de óculos
escuros e roupas pretas. Não
demorou a ganhar marchinha: “Ai, meu Deus,
me dei mal / Bateu na minha porta / O Japonês
da Federal”. Até que, em junho de 2016, o pró-
prio agente foi preso, para terminar de cumprir
condenação por contrabando. Voltou à Polícia
“A justiça inflexível
é frequentemente a
maior das injustiças”
(Públio Terêncio Afro,
dramaturgo e poeta
romano, 186 a.C.-159 a.C.)
Federal poucas semanas depois,
monitorado por tornozeleira ele-
trônica. Logo perdeu espaço para
o Lenhador, que chamou a aten-
ção ao escoltar Eduardo Cunha,
quando o ex-deputado foi preso.
Com barba espessa, coque samu-
rai e roupas despojadas, o agente
Lucas Valença também ganhou
marchinha: “Ai, meu Deus... Pas-
sei mal / Estou na detenção /
Com o Lenhador da Federal”.
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FEVEREIRO 2017 | aTualiza
A repentina fama do Japonês e
do Lenhador incomodou delega-
dos da Polícia Federal. Eles agora
querem que os agentes cubram o
rosto com balaclava (touca ninja)
durante as operações. A federa-
ção dos agentes reclamou, dizendo
que o uso obrigatório da balaclava
“fere os direitos dos policiais fe-
derais”. Aparentemente sem im-
portância, essa fogueira de vaida-
des reflete um momento muito
peculiar da Justiça no Brasil. Sim-
ples executores de ordens de prisão
ou de condução para depoimento,
os agentes federais repetem em
seu universo uma postura espeta-
culosa que começou no Supremo
Tribunal Federal e se popularizou
nas outras instâncias da Justiça,
passando por diferentes escalões
do Ministério Público. Tamanha
proeminência envolve até confli-
to com os outros dois poderes da
República – o Executivo e o Le-
gislativo.
Nunca a Justiça esteve tão em
evidência no país. Da mesma for-
ma, nunca as ações da Justiça di-
vidiram tanto o Brasil.
Uma parte dos brasileiros de-
fende que o importante é comba-
ter a corrupção, não importam os
métodos. Essa parcela da popula-
ção aplaude quando um persona-
gem apontado como corrupto é
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Desde o julgamento do Mensalão, em 2012, o Supremo Tribunal Federal vem ocupando o espaço político
do Legislativo e do Executivo, assolados por graves denúncias de corrupção.
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14 | CIÊNCIAS HUMANAS
aTualiza | FEVEREIRO 2017
levado à força para depor, mesmo
que ele não tenha sido convocado
antes para prestar algum tipo de
esclarecimento. Ou seja, quando é
alvo de uma nova interpretação da
chamada “condução coercitiva”.
Outra parte dos brasileiros tam-
bém defende o combate à corrup-
ção, mas avalia que ele não deve
ser feito comprometendo princí-
pios básicos do Estado de Direito.
No caso da condução coercitiva,
ela não poderia acontecer como
vem ocorrendo no país. “A Consti-
tuição é clara. Só pode haver con-
dução coercitiva após uma intima-
ção feita anteriormente, de forma
regular e depois de a pessoa resis-
tir a essa intimação. E resistência
a uma ordem judicial é resistência
física, violenta. Ou sumir, evadir-
-se”, afirma o jurista Pedro Serra-
no, professor de Direito Constitu-
cional da PUC-SP.
Nos últimos tempos, a condução
coercitiva vem sendo praticada
sem intimações anteriores. A ini-
ciativa começou com a Lava Jato, a
operação deflagrada em março de
2014 para apurar um megaesque-
ma de desvio de dinheiro da Petro-
bras. O recurso, assim como a pri-
são antes do julgamento, faz parte
dos métodos de trabalho da força-
-tarefa responsável pela opera-
ção. Os integrantes da força-tare-
fa não foram, porém, os pioneiros
na espetacularização da Justiça.
O excessivo protagonismo de mi-
nistros, desembargadores, juízes,
procuradores e promotores tem
como marco o ano de 2012 e o jul-
gamento do Mensalão.
Esquema ilegal de financiamen-
to político organizado entre 2003
e 2004, durante o governo Luiz
Inácio Lula da Silva, o Mensalão
marcou época ao chegar ao Supre-
mo Tribunal Federal, a mais alta
corte do país. Com transmissão
ao vivo pela televisão, virou o caso
mais complexo já julgado pelo Su-
premo, que se viu às voltas com um
volume enorme de informações.
Antes mesmo de começarem os
trabalhos, na abertura da primeira
sessão, o processo tinha 50.199 pá-
ginas, 234 volumes e 593 anexos.
Foi um caso excepcional. No
Mensalão, o Supremo fez papel de
primeira instância, embora só três
dos 38 acusados tivessem “foro es-
pecial por prerrogativa de função”.
Trocando em miúdos, só três réus
eram autoridades públicas com di-
reito a julgamento em um tribunal
Historicamente,
o desequilíbrio
dos Três
Poderes no
Brasil
favoreceu
o Executivo,
mas hoje é o
protagonismo
do Judiciário
que ameaça
o equilíbrio
necessário
O agente federal Newton Ishii (à esquerda) e o ex-deputado Eduardo Cunha (à direita) ao ser preso pela
Operação Lava Jato, acompanhado pelo “Lenhador da Federal”.
superior: os ex-deputados federais
João Paulo Cunha (PT-SP), Pedro
Henry (PP-MT) e Valdemar Cos-
ta Neto (PR-SP). Os outros 35 réus
não exerciam naquele momento
nenhuma função que justificasse
julgamento no Supremo.
Para entender esses recentes – e
controversos – movimentos da
Justiça brasileira, é importan-
te lembrar como ela se organiza.
Pelo sistema judiciário do país, o
Supremo Tribunal Federal é o ór-
gão máximo. Cabe a ele zelar pelo
cumprimento da Constituição. Os
11 juízes do Supremo são chama-
dos ministros e, nas infrações pe-
nais comuns, estão encarregados
de julgar o presidente da Repúbli-
ca, o vice-presidente, os integran-
tes do Congresso Nacional e o pro-
curador-geral da República. Eles
também têm a palavra final em
causas envolvendo dispositivos da
Constituição.
Processos como o do Mensalão
e da Lava Jato tramitam na Justi-
ça Federal porque ela julga crimes
cometidos contra a União ou em-
presas públicas federais. Em ge-
ral, esses processos começam na
primeira instância, como é o caso
da 13a Vara da Justiça Federal em
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FEVEREIRO 2017 | aTualiza
A legítima defesa e o salame
Controvérsias não são exclusividade da
Justiça Federal. Na Justiça Estadual, um
dos episódios mais controversos dos úl-
timos tempos envolveu o desembarga-
dor Ivan Sartori, de São Paulo. Em julho de
2016, ele condenou à pena de seis meses
de prisão um homem que tinha roubado
salame de um supermercado da cidade de
Poá, na Grande São Paulo. Dois meses de-
pois, o mesmo desembargador votou pela
absolvição de 74 policiais militares conde-
nados pelos assassinatos de 77 dos 111 pre-
sos mortos no massacre do Carandiru.
Um dos argumentos do desembargador
contraria tudo o que já foi apurado sobre
a ação da Polícia Militar no Carandiru, em
outubro de 1992: “Não houve massacre. Foi
legítima defesa”. Diante das críticas à sua
posição, Sartori afirmou em redes sociais
que a cobertura da imprensa era tenden-
ciosa. Como se não bastasse, o desembar-
gador sugeriu que há dinheiro do crime or-
ganizado financiando parte da mídia e das
organizações de direitos humanos. Não
deu nenhuma palavra sobre a condenação
do homem pego pelo segurança do super-
mercado com salame debaixo da camisa,
que estava desempregado e confessou ter
roubado para matar a fome.
Curitiba, comandada por Sérgio Moro, o juiz da Lava Jato. Se alguma autoridade com “foro especial por prerrogativa de função” aparece como suspeita ou acusada no curso das investigações, o processo é en-viado para o Supremo. Ou desmembrado. Nessa hi-pótese, “sobe” para o Supremo apenas a parte envol-vendo a autoridade.
Acima da primeira instância e antes do Supremo ou do Superior Tribunal de Justiça (responsável por fazer uma interpretação uniforme da legislação fe-deral) há um patamar intermediário. Trata-se da se-gunda instância, na qual os juízes são denominados desembargadores. Eles julgam recursos impetrados por aqueles que não concordam com o decidido pelo juiz de primeira instância. No caso do Mensalão,
presente na cena do crime, mas tem o controle da ação.
Quando soube que a teoria es-tava sendo aplicada no julgamen-to do Mensalão, o jurista afirmou que não fazia sentido. “O mero ter de saber não basta”, argumentou Roxin, durante participação em seminário sobre Direito Penal no Rio de Janeiro. Na época, ele ci-tou como uso adequado da teoria do domínio do fato o julgamento de integrantes do Conselho Na-cional de Segurança da extinta Alemanha Oriental, que davam ordem para atirar em quem ten-tasse atravessar a fronteira e fugir para a Alemanha Ocidental.
“É interessante saber que aqui [no Brasil] também há o clamor por condenações severas, mesmo sem provas suficientes. O proble-ma é que isso não corresponde ao Direito”, ressaltou o jurista
35 réus poderiam ter sido julgados na primeira instância. Eles teriam direito a recorrer mais tarde a ins-tâncias superiores, enquanto o Su-premo se encarregaria apenas dos três ex-deputados federais.
Não foi assim que aconteceu. Por decisão da maioria dos mi-nistros, todos os réus foram jul-gados pelo Supremo. Desacostu-mados a julgar tantos réus de uma só vez, em muitas ocasiões os mi-nistros se atrapalharam na ordem dos votos e na soma das penas. Ao mesmo tempo, firmaram novas interpretações da lei. A mais polê-mica delas dizia respeito à teoria do domínio do fato, desenvolvida nos anos 1960 pelo jurista alemão Claus Roxin. Como muitos crimes do nazismo ficaram impunes, Ro-xin desenvolveu a teoria do do-mínio do fato como forma de en-quadrar uma pessoa que não está
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O juiz federal Sérgio Moro, que conduz a Operação Lava Jato.
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16 | CIÊNCIAS HUMANAS
aTualiza | FEVEREIRO 2017
alemão. “O juiz não tem de ficar ao lado da opinião pública.” Du-rante o julgamento do Mensalão, o ministro Ricardo Lewandowski discordou dos colegas que apoia-vam a aplicação da teoria do do-mínio do fato. Voto vencido, fez um alerta: “O que me preocupa é como os 14 mil juízes vão aplicar a teoria do domínio do fato”.
A preocupação de Lewandowski, que se referiu ao número total de juízes brasileiros, fazia sentido. Na Lava Jato, o juiz de primeira instância Sérgio Moro não cita a teoria de Roxin, mas está fazen-do valer uma interpretação muito própria da lei. Prender o acusado antes do julgamento para pressio-ná-lo a confessar é uma das estra-tégias atribuídas a ele mais ques-tionadas no meio jurídico. Em contrapartida, Moro e os promo-tores do MP contam com o apoio de grande parte da população, embora alguns juristas apontem o caráter de espetáculo midiáti-co e de moralismo messiânico de suas ações.
O interessante é que a cruzada de Moro contra a corrupção co-meçou a ser planejada pelo menos dez anos antes de a Lava Jato ser deflagrada. Isso fica evidente em artigo publicado por ele em 2004 na Revista CEJ (do Conselho de Justiça Federal) sobre a Opera-ção Mãos Limpas, que combateu a corrupção da Itália entre 1992 e 1996. No texto, Moro afirma que diante de uma prisão antes do jul-gamento “não há qualquer óbice moral em tentar-se obter do in-vestigado ou do acusado uma con-fissão ou delação premiada, evi-dentemente sem a utilização de qualquer método interrogatório repudiado pelo Direito”.
No mesmo artigo, Moro comen-ta que a Operação Mãos Limpas
de prática desse tipo de crime. Na época do Império, a situação era tão descarada que o tesourei-ro-mor de dom João VI, Bento Maria Targini, que chegou a ba-rão e depois a visconde, inspirou uma reveladora quadrinha popu-lar: “Quem furta pouco é ladrão. Quem furta muito é barão. Quem mais furta e esconde, passa de ba-rão a visconde”.
De lá para cá, o cenário mu-dou muito, até pela possibilida-de de investigar, julgar e punir. É preciso, no entanto, prosseguir aprimorando as leis e coibindo abusos. Com relação ao primeiro quesito, os procuradores da Re-pública que atuam na Lava Jato elaboraram uma série de medi-das contra a corrupção e coleta-ram mais de 2 milhões de assina-turas para transformá-la em lei. Muito aplaudida pela maioria da população e pouco discutida em profundidade, a série de medidas tem entre seus pontos polêmicos a possibilidade de que provas ilí-citas sejam consideradas válidas se forem colhidas de boa-fé. Além
fez “largo uso da imprensa” e da estratégia de vazar para a mídia aliada informações protegidas por sigilo. Como se sabe, mecanismo similar ocorre no Brasil da Lava Jato. Para o juiz, a lição mais im-portante da Mãos Limpas é que ações contra a corrupção só fun-cionam com o apoio da opinião pú-blica: “É esta [a democracia] quem define os limites e as possibilida-des da ação judicial. Enquanto ela contar com o apoio da opinião pú-blica, tem condições de avançar, e apresentar bons resultados”.
Na condução da Lava Jato, não há dúvida de que Moro conta com a aprovação de boa parte dos bra-sileiros. Outra parte, embora apoie a luta contra a corrupção, questiona os métodos e as infor-mações difundidas pela força-ta-refa. Do jeito que os resultados são apresentados, passa a impressão de que o desvio de dinheiro públi-co e esquemas de propina são pro-blemas recentes do cenário políti-co nacional. Não é bem assim.
Desde que os portugueses apor-taram no país, há informações
Um dos
pressupostos
do Estado
de Direito
é a existência
dos Três
Poderes
independentes
e em
equilíbrio
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O procurador Deltan Dallagnol e o PowerPoint em que acusa o ex-presidente Lula.
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C3 Compreender a produção e o papel histórico das instituições
sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferentes
grupos, conflitos e movimentos sociais.
H14 Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos
analíticos e interpretativos, sobre situação ou fatos de natureza
histórico-geográfica acerca das instituições sociais, políticas e
econômicas.
Há muito tempo há preocupações quanto à legalidade de aspectos da
Lava Jato, não apenas das conduções coercitivas, mas de tópicos como
as delações premiadas, seus vazamentos antes da homologação judicial,
o acesso da defesa a elas e as prerrogativas da Vara Criminal de Curitiba
para julgar todos os casos. O debate sobre a legalidade de pontos da
Lava Jato é salutar, e é compreensível que os procuradores tenham di-
ficuldade em compreender isso. O clamor popular que acreditam preci-
sar para continuar apurando o escândalo de corrupção aparentemente
investiu alguns deles de uma confiança quase entorpecente.
Disponível em: <www.cartacapital.com.br/politica/a-lava-jato-e-a-pressao-
da-opiniao-publica>. Acesso em: 22 nov. 2016.
A reação que manifestam mais uma vez os petistas, agora à prisão de An-
tonio Palocci, é perfeitamente compreensível diante do devastador efei-
to de mais essa ação da Lava Jato sobre a já desmoralizada imagem do
PT. Palocci é um político articulado e competente que prestou relevantes
serviços a seu partido, como a famosa Carta aos Brasileiros, que abriu ca-
minho para a eleição de Lula em 2002, e teve uma atuação eficaz à fren-
te do Ministério da Fazenda, sob Lula, e da Casa Civil, sob Dilma. Mas as
abundantes evidências do tráfico de influência por ele praticado com a
Odebrecht e depois com os clientes de seus serviços de consultoria reve-
lam que seu calcanhar de Aquiles é a irresistível cobiça pelo vil metal. Essa
fraqueza, que não pega bem quando assola homens públicos, tem produ-
zido efeitos devastadores quando dela trata a Lava Jato. Seja um lado ou
seja outro, os delinquentes estão indo para a cadeia, purgar seus crimes.
Disponível em: <http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,a-lava-jato-
-chegando-la,10000078864>. Acesso em: 25 nov. 2016.
A leitura atenta dos dois textos opinativos mostra que os autores:
a) concordam nas críticas à atuação midiática da Justiça brasileira na apu-
ração dos supostos crimes cometidos nos meandros da nossa política.
b) concordam em exaltar a atuação dos responsáveis pela Operação
Lava Jato nas investigações de crimes sem precedentes na história da
política brasileira.
c) discordam quanto à atuação da Justiça: enquanto o segundo texto
valoriza o trabalho realizado, o primeiro critica a forma como as apura-
ções são conduzidas.
d) discordam na forma como as investigações são conduzidas: enquan-
to o primeiro defende a parceria entre mídia e investigadores, o segun-
do pede mais cuidado na apuração dos crimes.
e) discordam na velocidade das investigações: enquanto o primeiro
quer investigações mais céleres, o segundo solicita ritmo mais pausado
nas apurações.
Resposta: c
EM FOCO
FEVEREIRO 2017 | aTualiza
disso, o projeto previa limitação do habeas
corpus e prisão preventiva para localizar
recursos desviados. A Câmara aprovou o
projeto, mas tirou essas medidas, conside-
radas abusivas, e ainda aprovou a possibi-
lidade de juízes e procuradores responde-
rem por crimes de “abuso de autoridade”.
Em Curitiba, 14 procuradores trabalham
em regime de dedicação exclusiva à Lava
Jato. Como Moro, parecem totalmente em-
penhados à causa, mas também são ques-
tionados por extrapolar limites no decorrer
dos processos. Foi o que ocorreu quando
exibiram um PowerPoint apresentando
o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
como “o comandante máximo”, “o grande
maestro” do esquema de corrupção da Pe-
trobras, mas não apresentaram nenhuma
prova nesse sentido. Na prática, sequer de-
nunciaram o ex-presidente pelo “coman-
do” apontado no PowerPoint.
Episódios como esse reforçam as críticas
à interferência da Justiça nos rumos polí-
ticos do país. Outros exemplos de confli-
to entre o Judiciário e os demais poderes
da República foram a demora do STF em
afastar o ex-deputado Eduardo Cunha do
comando da Câmara dos Deputados, a “se-
letividade” dos vazamentos da Lava Jato e
o conflito do presidente do Senado, Renan
Calheiros, com a Polícia Federal e o MPF
quando a Justiça autorizou a prisão de
agentes da polícia do Senado acusados
de atrapalhar a Lava Jato.
Um dos pressupostos do Estado Demo-
crático de Direito é a existência dos Três
Poderes independentes e em equilíbrio.
Historicamente, o desequilíbrio pendeu
em favor do Executivo, como durante o Es-
tado Novo (1937-1945) e a ditadura militar
(1964-1985). Mas hoje é o Judiciário, com
seu protagonismo, que ameaça esse equilí-
brio, já que o Legislativo e o Executivo es-
tão paralisados por denúncias de corrupção.
Como em política não há vácuo, criou-se o
que os analistas chamam de “judicialização
da política”. Pode não ser um bom caminho.
“A pior ditadura é a ditadura do Judiciário.
Contra ela, não há como recorrer”, escreveu
Rui Barbosa.
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18 | CIÊNCIAS HUMANASpor cláudio camargo
aTualiza | FEVEREIRO 2017
Nos últimos anos, a polarização es-
querda × direita, que muitos su-
punham morta e sepultada, vol-
tou com toda a força ao cenário
político brasileiro. Na verdade,
isso foi possível pelo fato de a di-
reita ter saído do armário e se po-
sicionado como tal. No passado, em razão da associa-
ção da direita com os desmandos da ditadura militar,
apenas meia dúzia de gatos pingados, como o deputa-
do Jair Bolsonaro, se assumia claramente como direi-
tista. Era a época em que os movimentos sociais – MST,
MTST, CUT, entre outros – ocupavam a cena política
e assustavam os conservadores.
Hoje, na esteira dos escândalos de corrupção que
envolveram os governos do PT, a direita ganhou não
apenas coragem, mas também as ruas, as redes so-
ciais e os corações e mentes de partes significativas da
juventude. Organizações como o Movimento Brasil
Declaradas
mortas, essas
denominações,
que nasceram
no fim do século
XVIII, ressurgem
agora com força
no Brasil e em
todo o mundo
Esquerda e
direita ainda fazem sentido?
Livre (MBL) e o Vem Pra Rua
disputaram a liderança das gi-
gantescas manifestações pelo
impeachment da então presiden-
te Dilma Rousseff, enquanto por-
ta-vozes da direita, hidrófoba ou
civilizada, pontificam em rádios,
TVs, revistas e jornais.
Se antes era in ser de esquerda,
hoje, ao contrário, esquerdista vi-
rou quase sinônimo de palavrão,
pelo menos em certos círculos;
enquanto ser de direita não ape-
nas não envergonha mais como se
tornou a sinal de distinção. Exem-
plo dessa metamorfose foram as
eleições municipais de 2016, nas
quais os candidatos apoiados pe-
los “coxinhas” (PSDB-DEM-PPS-
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No passado, era in ser
de esquerda, ao passo
que quase ninguém se
declarava de direita.
Hoje, ao contrário, muitos
jovens se assumem
orgulhosamente como
sendo “de direita”. Quais
as razões para essa
mudança?
Explique como
surgiram e como
se desenvolveram
historicamente os
conceitos de esquerda
e direita. É possível
que essas expressões
continuem a fazer
sentido depois do
colapso do comunismo e
da globalização da
sociedade pós-industrial?
Extremistas de direita
e extremistas de
esquerda costumam
defender posições
antagônicas entre si. No
entanto, estes dois lados
desprezam igualmente
a democracia e os
direitos humanos.
O que explica
essa afi nidade?
Esquerda e direita
se defi nem pela
defesa de valores
antitéticos, isto é,
completamente opostos.
A esquerda é igualitária
e a direita é libertária.
É possível conciliar
esses valores em uma
democracia ou
isso não passa de
uma bela ilusão?
FEVEREIRO 2017 | aTualiza
-PMDB, entre outros) ganharam de goleada dos candidatos dos “mortadelas” (PT-PCdoB-PDT--PSol e quejandos).
Apesar dessa polarização, cabe a pergunta: as categorias esquerda e direita, que surgiram no fi m do século XVIII, na passa-gem do feudalismo ao capitalismo, ainda dão conta dos múltiplos con-fl itos da sociedade pós-industrial e globalizada do século XXI? Não se-ria simplista demais reduzir os di-lemas dessa sociedade complexa a uma mera metáfora espacial?
À primeira vista, parece que sim. Alguns críticos apontaram a queda do Muro de Berlim e o colapso do comunismo como prova cabal de que essa divisão
estava ultrapassada há muito tem-po. Filósofos como o estaduniden-se conservador Francis Fukuyama proclamaram o “fi m da História” e a vitória do capitalismo democrá-tico. Dizem que quem proclama o fi m da oposição esquerda × direi-ta é de direita, mas houve também muitos pensadores “progressistas” que sustentaram a mesma tese. Só que não. Duas décadas depois, em meio à persistente crise econômi-ca mundial, essa oposição reapa-receu mais forte do que nunca no crescimento da xenofobia e do neofascismo em todo o mundo, nas lutas de trabalhadores contra políticas de austeridade em vários países da União Europeia, na vitó-ria de Donald Trump à Presidên-
cia dos Estados Unidos, na ocupação de escolas no Brasil, na ofensiva con-servadora contra governos “progres-sistas” da América Latina. É o caso, então, de parafrasear o escritor Mark Twain: as notícias sobre a morte da oposição esquerda/direita foram ma-nifestadamente exageradas.
Filhas da Revolu•‹o
Mas o que são, na verdade, “es-querda” e “direita”? A origem des-sa oposição remonta à Revolução Francesa de 1789. Depois da Queda da Bastilha, a Assembleia Nacional aboliu os direitos feudais e votou a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Logo surgiu a questão de saber se o rei Luís XVI teria direito a vetar as deliberações da Assembleia. Aqueles que acreditavam que nada estava acima da soberania popular (a Assembleia) se posicionaram à esquerda do presidente. Os que, ao contrário, consideravam que o rei simbolizava a nação se posiciona-ram à direita. “Para uns, iniciava-se um novo período na história da hu-manidade, marcadamente diferente do anterior; para outros, não haveria necessidade de operar uma ruptura tão radical e valeria a pena preservar uma continuidade com o Antigo Re-gime. Os primeiros eram a esquerda;
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20 | CIÊNCIAS HUMANAS
aTualiza | FEVEREIRO 2017
os segundos, a direita”, escreve o
historiador Rui Tavares.
Após a restauração, em 1815, as
denominações esquerda e direita
consolidaram-se com o apareci-
mento de um “centro”. Segundo
o filósofo Marcel Gauchet, “para
que existam uma direita e uma
esquerda, necessita-se, ao menos,
de um terceiro termo, o centro.
Mas se existe um centro, cada um
dos partidos laterais está prisio-
neiro de tendências radicais que
fazem com que existam ao menos
duas direitas, uma direita-direita
e uma direita extrema, e, de modo
semelhante, duas esquerdas”.
Na verdade, bem mais que
duas. Pois tivemos esquerdas au-
toritárias ( jacobinos, comunis-
tas), direitas autoritárias (mi-
litaristas, clericais e fascistas),
esquerdas democráticas (socia-
listas, social-democratas), direi-
tas democráticas (liberais, con-
servadores), esquerdas estatistas
(comunistas, trabalhistas), direi-
tas estatistas (fascistas, democra-
tas cristãos), esquerdas anties-
tatistas (anarquistas, socialistas)
e direitas antiestatistas (neoli-
berais, libertários). Assim, con-
tinuamos sem avançar muito na
definição sobre o que seriam “es-
querda” e “direita”.
No livro (Direita e esquerda:
razões e significados de uma
distinção política), o filósofo po-
lítico italiano Norberto Bobbio
(1909-2004) explica que o que
realmente distingue esquerda e
direita é o posicionamento sobre
a questão da igualdade. “De um
lado, estão aqueles [de esquerda]
que consideram que os homens
são mais iguais que desiguais; de
outro, aqueles [de direita] que
consideram que eles são mais de-
siguais que iguais. (...) O iguali-
tário parte da convicção de que
a maior parte das desigualdades
que o indignam, e que gostaria
de fazer desaparecer, são sociais
e, enquanto tais, elimináveis; o
inigualitário, ao contrário, par-
te da convicção oposta, de que as
desigualdades são naturais e, en-
quanto tal, inelimináveis”. Para
Bobbio, a direita está mais dis-
posta a aceitar aquilo que é na-
tural e aquilo que está conforme
a natureza, ou seja, o habitual, a
tradição, a força do passado. Já a
esquerda está propensa a acredi-
tar que o homem é capaz de corri-
gir tanto as desigualdades sociais
quanto as desigualdades naturais.
Além da oposição esquerda ×
direita, continua Bobbio, há a
oposição entre extremistas e mo-
derados de cada espectro político,
que se sobrepõe à primeira. Esta
segunda oposição nada tem a ver
com a natureza dos programas
políticos, mas diz respeito aos
meios para alcançá-los. “Se é ver-
dade que o critério que subjaz à
distinção entre esquerda e direita
é diverso do que subjaz à distin-
ção entre extremistas e modera-
dos, então se deve concluir que a
ideologias opostas podem encon-
trar campos de convergência e de
acordo com suas alas extremas,
ainda que permaneçam distintas
com respeito a programas e fins
últimos”, explica Bobbio.
Em resumo, podemos afirmar,
com Bobbio, que, em termos gerais,
a esquerda privilegia a igualdade,
enquanto a direita dá ênfase à liber-
dade. Isso quer dizer que a busca da
igualdade pode ameaçar a liber-
dade? Depende. No caso do comu-
nismo soviético, sim. No caso do
welfare state, não necessariamen-
te. Exemplificando, mas sem
O que
realmente
distingue a
esquerda da
direita é o
posicionamento
sobre a
questão da
igualdade
Conciliação: o socialista François Mitterrand e o
conservador Helmut Kohl.
Extremismo: Fidel Castro e Augusto Pinochet.
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FEVEREIRO 2017 | aTualiza
esgotar a questão, citamos no-
vamente o filósofo italiano
Bobbio: “Em geral, qualquer
extensão da esfera pública por
razões igualitárias, na medi-
da em que precisa ser impos-
ta, restringe a liberdade de es-
colha na esfera privada”. E esta
é intrinsecamente desigual, pois
a liberdade privada dos ricos é
C3 Compreender a produção
e o papel histórico das
instituições sociais,
políticas e econômicas,
associando-as aos
diferentes grupos,
conflitos e movimentos
sociais.
H15 Avaliar criticamente
conflitos culturais, sociais,
políticos, econômicos ou
ambientais ao longo da
História.
Em pleno século XXI, o debate acer-
ca dos posicionamentos à esquerda
e à direita do espectro político con-
tinua aquecido. Quando a queda do
Muro de Berlim, no final dos anos
1980, preconizou o fim do comu-
nismo na Europa oriental, muito se
falou sobre a morte da esquerda.
No entanto, os governos comunis-
tas sobreviventes se reinventaram,
como o da China, que promoveu
uma guinada capitalista em sua
economia, e o de Cuba, que demo-
rou um pouco mais, mas recente-
mente ensaiou uma reaproximação
com os Estados Unidos. Partidos
com orientação à esquerda perma-
necem ativos em todo o mundo, in-
clusive no Brasil. Como foi visto na
reportagem, historicamente, os ter-
mos “esquerda” e “direita” surgiram
com a Revolução Francesa, no fim
do século XVIII. Quando, no salão da
Assembleia Nacional, os liberais gi-
rondinos posicionaram-se à direita,
e os centralizadores jacobinos fica-
ram à esquerda, não imaginavam
estar criando denominações que
marcariam a História.
No cenário político atual, as cor-
rentes de direita e de esquerda di-
vergem principalmente quanto:
a) à forma como devem ser condu-
zidas as eleições nacionais.
b) ao sistema de governo.
c) à separação entre os poderes.
d) ao grau de intervenção estatal na
economia.
e) à liberdade de imprensa.
EM FOCO
Resposta: d
Esquerdas e direitas
Extremismo Moderação Extremismo
Anarquismo Comunismo Socialismo Liberalismo Conservadorismo Monarquia Nazismo Fascismo
muito mais ampla do que a liber-
dade privada dos pobres. “A perda
de liberdade golpeia naturalmen-
te mais o rico do que o pobre, para
quem a liberdade de escolher o meio
de transporte, o tipo de escola, o
modo de vestir está habitualmente
impedida, não por uma imposição
pública, mas pela situação econô-
mica interna à esfera privada.”
Stalin (à esquerda) e Hitler: totalitarismo à esquerda e à direita.
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22 | LINGUAGENSpor luiz chagas
Liberdade para odiar?
Há mais coisas entre o
politicamente correto, a
liberdade de expressão
e o discurso de ódio do
que imagina nossa
vã filosofia
aTualiza | FEVEREIRO 2017
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Existem limites para a liberdade? (A liberdade guiando o povo, de Eugène Delacroix, 1830).
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Depois dos atentados contra o jornal Charlie Hebdo, acusado pelos
terroristas de ofender o Islã, as autoridades da França pressionam
os muçulmanos para que se adaptem aos costumes do país. Isso é
defesa da laicidade ou intolerância?
No auge do sucesso dos Beatles, John Lennon concedeu uma
entrevista na qual declarou que a banda era mais popular que Jesus.
Por que a declaração provocou um escândalo nos Estados Unidos
mas não teve repercussão no Reino Unido, onde foi publicada
originalmente?
A noção de politicamente correto nasceu com a Inquisição, cujo Index
do Vaticano prescrevia o que podia e o que não podia ser publicado.
Explique como esse posicionamento migrou do conservadorismo
católico para o pensamento progressista.
A liberdade de expressão deve ser absoluta, como nos
Estados Unidos, inclusive para manifestações de racismo, sexismo,
xenofobia, antissemitismo, ou deve estabelecer alguns limites para
proteger grupos social e culturalmente vulneráveis?
FEVEREIRO 2017 | aTualiza
u a n d o d i v i -
dia a banca-
da do noticiá-
rio da semana
( W e e k e n d
u p d a t e ) d o
programa satí-
rico Saturday
night live com
o hoje célebre Jimmy Fallon, a re-
datora e atriz Tina Fey anunciou
a morte da cachorrinha de Bill
Clinton, então presidente, arre-
matando: “como a primeira-dama
Hillary encontra-se em viagem, a
Casa Branca está sem cadelas no
momento”. Em seguida ergueu os
braços comemorando: “consegui!
Falei!” enquanto Fallon se escon-
dia debaixo da mesa. E o mundo
não acabou – em inglês bitch é usa-
do tanto para animais quanto para
designar uma mulher “metida a
besta”, digamos.
O episódio mostra tanto a liber-
dade de expressão em vigor nos
Estados Unidos quanto a cons-
ciência da responsabilidade por
parte de quem a exerce. Por outro
lado, o massacre dos jornalistas
franceses do jornal Charlie Hebdo,
praticado por terroristas islâmi-
cos que supostamente estavam se
vingando de ofensas contra sua
religião, exibe a que ponto a into-
lerância pode chegar. Atualmente,
por exemplo, as autoridades fran-
cesas proíbem que mulheres mu-
çulmanas frequentem as praias do
país cobertas pela burca – criou-se
até um negócio chamado “burkíni”
para fi car no meio-termo.
No auge do sucesso dos Beatles,
John Lennon concedeu uma en-
trevista para Maureen Cleave,
uma jornalista inglesa sua amiga,
durante a qual teceu comentários
sobre o absurdo de sua banda ter
se tornado “mais popular que
Jesus Cristo”. Acrescentou que
a religião sofria uma crise e ele
não sabia “o que ia durar mais,
o cristianismo ou o rock and
roll”. Publicada no jornal London
Evening Standard, tradicional e
com muita infl uência em Artes
e Finanças, a entrevista não pro-
vocou maiores comoções no país;
na verdade, passou despercebi-
da. Meses depois, às vésperas de
uma turnê dos Beatles pelos Es-
tados Unidos, que seria a sua úl-
tima, a Datebook, uma revistinha
para adolescentes que vendia
que nem água como tudo que tra-
zia ídolos na capa, transcreveu
a matéria e colocou a primeira
frase na capa, ao lado de outra de
Paul em que chamava os Estados
Unidos de “país piolhento” (lousy
country) que não respeitava os
negros. Deu a maior confusão e
Lennon, considerado um homem
irreverente, teve de se desculpar
antes de cada show. Em uma das
coletivas, disse: “falei o que pen-
so, não posso me comportar como
um monge. Sem querer ofender
os monges!” E sorry monks! aca-
bou virando uma frase famosa.
Paul chamando o país de racis-
ta passou, mas John “maior que
Cristo” foi demais. E, justamente,
a noção de politicamente cor-
reto ou incorreto vem da reli-
gião católica. O Index Librorum
Prohibitorum do Vaticano estabe-
lecia o que podia e não podia ser
dito e era modifi cado a cada edi-
ção, pois o mundo católico pode
mudar como a sociedade em ge-
ral. Como pode ser visto no caso
do escritor Monteiro Lobato.
Gerações e gerações foram edu-
cadas lendo as aventuras da tur-
ma do Sítio do Pica-Pau-Amarelo.
O problema
do
politicamente
correto e
incorreto
é de ordem
política.
Numa
sociedade
ideal, o
primeiro
evitaria a
infâmia e
o segundo
defenderia a
liberdade de
expressão
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24 | LINGUAGENS
aTualiza | FEVEREIRO 2017
inconveniências. O Sindicato dos
Jornalistas poderia ter reclamado
e não o fez. Ou seja, existem “mal-
-educados”, “racistas”, “antissemi-
tas”, “homofóbicos”, “defensores
do estupro”, “machistas” e “prose-
litistas” e os “sem noção” por si só.
Todos são passíveis de punição. Isso
seria apelar para o bom senso.
Na época da ditatura, palavrão era
um problema. Havia mesa-redonda,
debate, passeata quase todo dia. Uma
frase atribuída a Bernard Shaw era
repetida à exaustão: “palavrão é toda
palavra capaz de chocar um magistra-
do senil e ignorante”. Hoje em dia até
os bichinhos da Disney falam barba-
ridades. O problema do politicamen-
te correto e do incorreto é que incorre
em posição política. Numa sociedade
ideal, o primeiro cuidaria de evitar a
infâmia, a degradação e a improprie-
dade, enquanto os outros defende-
riam a liberdade de expressão. Mas,
no mundo real, há os que se dizem
“incorretos”, mas são conservadores
com um discurso de ódio e que veem
a “correção” como uma “fantasia”
inventada por liberais e marxistas,
além de ser uma atitude “covarde”
e “eufemística”. Ou seja, é o mesmo
que tornar o discurso da boneca Emí-
lia em verdades. E às vezes é.
Sorry monks!
As brigas entre a boneca de pano
Emília e a cozinheira, tia Nastá-
cia, a quem em momentos de fú-
ria chamava de “preta beiçuda”,
entre outras coisas, eram monu-
mentais. Tratava-se assumida-
mente de besteiras e malcriações
ditas por um brinquedo de pano
tido como desbocado, traquinas
e inconsequente, e que acaba-
va sempre pedindo desculpas.
Mas não pode mais. Fala-se até
em se revisar a coleção de livros
para tirar essas “incorreções”.
Não é a primeira vez que Lobato
é censurado. Na versão do Sítio
apresentada pela Globo nos anos
1970-1980, por exemplo, não ha-
via o “pó-de-pirlimpimpim” res-
ponsável pelas viagens no tempo
e espaço da turma. Poderia ser
confundido com cocaína ou coi-
sa pior. Na versão televisiva de
Júlio Gouveia, duas décadas an-
tes, o efeito era introduzido por
espiral girando como a vertigem
era representada no fi lme Um
corpo que cai (Vertigo), de Alfred
Hitchcock.
Delimitar-se a fronteira en-
tre o politicamente incorreto e
o bullying, ao que parece, seria
uma questão de “momento da so-
ciedade” e de bom senso de uma
maneira geral. Rafi nha Bastos e
Danilo Gentili, dois “grandes” hu-
moristas – têm mais de 1,80 m –,
no caso, reclamam de “censura”
e “patrulhamento”. O primeiro,
que ofendeu uma cantora grávi-
da, perdeu o emprego e acabou
sendo processado pelo marido
dela. E daí? Clinton podia per-
feitamente processar Tina Fey,
o que não fez – e ela nem foi des-
pedida. No caso de Gentili, ele
assumiu a postura de “gorilão de
direita” e foi combatido por essa
opção. Está reclamando do quê?
Todos se lembram que ele sur-
giu no CQC fazendo um “repór-
ter mal-informado” que só dizia
C1 Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para sua vida.
H4 Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos sistemas de comunicação e informação.
Este pode ser considerado o século
“politicamente correto”. As piadas, ane-
dotas, causos e gozações entre amigos,
que no passado recente eram vistos
como sinônimos de bom humor, hoje
são tratados como bullying e rendem
processos e condenações na justiça do
Brasil e de outros países. Há uma preo-
cupação generalizada que leva muitos a
revisitar o passado e propor sanções a
obras clássicas. Foi nesse contexto que
a obra de Monteiro Lobato, Caçadas de
Pedrinho, publicada em 1933, foi con-
siderada “racista” e sua distribuição a
escolas públicas foi desestimulada pelo
Conselho Nacional de Educação. Crítica
à excessiva burocracia do Estado brasi-
leiro e ao modo de apresentar aspectos
da vida do campo (retratado no “Sítio
do Pica-Pau-Amarelo”) em meio a mui-
ta fantasia e imaginação, o livro usa,
para a personagem de Tia Nastácia,
tratamentos que os conselheiros consi-
deraram estereotipados e prejudiciais à
educação dos jovens leitores.
A crítica à obra de Lobato deixa de con-
siderar:
a) o fato de a obra ser fruto de um tem-
po no qual as noções politicamente cor-
retas eram distintas das atuais.
b) a formação política do autor, que fez
do racismo um tom constante em suas
obras.
c) a época em que a obra foi escrita,
anos antes da abolição da escravatura.
d) o fato de Lobato ter sido um ferrenho
defensor do Modernismo, que tinha na
liberdade de expressão uma bandeira.
e) que a obra, disfarçada de literatura
infantil, era na verdade destinada ao
público adulto.
Resposta: a
EM FOCO
Capa do jornal Charlie Hebdo, acusado de
blasfêmia e vítima do terrorismo.
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O CHAMADO DO MONSTRO
Patrick Ness
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aTualiza | FEVEREIRO 2017
26 | MATEMÁTICApor fernando porfirio de lima
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FEVEREIRO 2017 | aTualiza
Trigonometria – um mundo fascinante Os astrônomos usam a
Trigonometria para estimar a
distância das estrelas; os químicos
a utilizam para descrever o ângulo
das ligações moleculares A M a t e m á t i c a
amplia o pen-
samento crítico
e as habilidades
para a resolu-
ção de proble-
ma s, p r o p o r-
cionando perspectiva em eventos
da vida real. Já a Trigonometria
é a face dessa ciência que prova a
propriedade dos triângulos, cír-
culos, ondas e oscilações. Do teo-
rema de Pitágoras ao cálculo dife-
rencial e às aplicações práticas na
Medicina, na Engenharia, na Quí-
mica, na Biologia, na Cartografia,
na navegação e até na música, esse
ramo da Matemática evoluiu a
ponto de fazer parte de nosso co-
tidiano.
A Trigonometria tem como ob-
jetivo principal a resolução de
triângulos, determinando seus
seis elementos que são três lados
A Matemática amplia opensamento crítico e as habilidades para a resolução dos problemas reais, com respostas concretas. Pode-se dizer que a Trigonometria, que lida com triângulos, círculos, ondas e oscilações, é uma ciência teórica ou tem aplicaçõesigualmente práticas?
Apesar de ter origensem culturas diversas,os estudos de Trigonometria têm uma relação muito importante com o teorema de Pitágoras, o fi lósofo e matemático grego que viveu no século VI a.C., antes do nascimentoda Trigonometria.Explique o porquê dessa relação com o teorema.
Um dos pais da Trigonometriafoi o grego Hiparco de Niceia, que viveu no século II a.C. ecriou uma técnica que estudou as relações entre os elementosde um triângulo para prever os eclipses e os movimentos dos astros. Dê alguns exemplos de aplicações práticas dessa descoberta que o próprio Hiparco aplicou em sua época.
A Trigonometria tem aplicações na Astronomia, para calcular a distância entre a Terra e outros astros; na Geografi a, para ser utilizada em sistemas de navegação por satélite; na Química, para descrever os ângulos entre os átomos; e na Engenharia, para construir estruturas. Mas qual seria aaplicação da Trigonometriana indústria musical?
e três ângulos. Suas abordagens
envolvem campos da Geometria,
como o estudo da esfera com a Tri-
gonometria esférica. Ela pode ser
usada para, por exemplo, estimar
a distância entre as estrelas e a dis-
tância entre divisas, e os campos que
usam a Trigonometria envolvem a
Astronomia, a navegação, a teo-
ria musical, a óptica, a Eletrônica,
a Biologia, entre muitos outros.
Os estudos trigonométricos
têm uma relação muito importan-
te com o teorema de Pitágoras, já
que, por meio de sua aplicação, de-
terminamos valores de medidas
desconhecidas. O teorema de Pitá-
goras é uma equação que pode ser
aplicada em qualquer triângulo
retângulo (triângulo que tem um
ângulo de 90°).
A palavra Trigonometria teve
origem na resolução de pro-
blemas práticos relacionados à
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aTualiza | FEVEREIRO 2017
28 | MATEMÁTICA
navegação e à Astronomia. Acre-
dita-se que, como ciência, nasceu
com o astrônomo grego Hiparco
de Niceia (190 a.C.-125 a.C.). Este
criou uma matemática aplicada
para prever os eclipses e os mo-
vimentos dos astros, permitindo
a elaboração de calendários mais
precisos e maior segurança na
navegação. Hiparco ficou conhe-
cido como Pai da Trigonometria,
por ter estudado e sistematiza-
do algumas relações entre os ele-
mentos de um triângulo.
A Trigonometria é de grande
utilidade na medição de distân-
cias inacessíveis ao ser humano,
como a altura de montanhas, tor-
res e árvores, ou a largura de rios
e lagos. Por esse motivo foi con-
siderada, em sua origem, como
uma extensão da Geometria.
Há indícios de que os babilô-
nios (habitantes da antiga Meso-
potâmia, hoje região que compre-
ende o Iraque) efetuaram estudos
rudimentares de Trigonometria.
Mais tarde, a Astronomia, estu-
dada por egípcios e gregos, foi a
grande impulsora do desenvolvi-
mento da Trigonometria.
Na Engenharia, a Trigonome-
tria não é somente uma matéria a
ser estudada em sala de aula sem
aplicações práticas no mundo
real. Engenheiros de várias áreas
utilizam seus fundamentos para
construir estruturas, sistemas,
desenhar pontes e solucionar
problemas científicos.
Uma carreira que usa a lei dos
senos é a de Engenharia de dese-
nho e manutenção de aeronaves.
Nela se deve calcular a velocidade
das aeronaves, assim como a do ar,
para fazê-las mais aerodinâmicas.
Uma vez tomadas a velocidade do
vento, o ângulo de rumo e a veloci-
dade relativa da aeronave em rela-
ção ao ar, pode-se encontrar o ân-
gulo que é a diferença da direção
do vento e do ângulo de rumo.
A mesma ciência é usada na in-
dústria musical. O som viaja em
ondas que são utilizadas no de-
senvolvimento de música pelo
computador. Um computador
não entende a música como o ser
humano. A máquina a representa
matematicamente por suas ondas
constituintes.
Na Astronomia, a triangulação,
que aplica um princípio da Trigo-
nometria, é utilizada por astrôno-
mos para calcular a distância en-
tre a Terra e estrelas próximas. Já
na Geografia, ela é utilizada para
medir a distância entre pontos de
referência, além de ser também
utilizada em sistemas de navega-
ção por satélite. Por exemplo, um
piloto decolando do aeroporto de
Guarulhos, em São Paulo, deverá
saber qual o ângulo de decolagem
e quando deve virar a certo ângulo
no céu para chegar até o aeroporto
de Heathrow, em Londres.
Os químicos usam as funções tri-
gonométricas para descrever com
precisão os ângulos que são cria-
dos quando os átomos se ligam
para formar as moléculas. A Quí-
mica é uma ciência que descreve
a interação entre as substâncias, e
as funções trigonométricas, como
o seno, o cosseno e a tangente, são
Apesar de ter
nascido na
Grécia, a
Trigonometria
é resultante
dos esforços
de vários
povos de
épocas
diferentes,
como os
gregos,
egípcios,
indianos
e persas
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Resposta: e
EM FOCO
FEVEREIRO 2017 | aTualiza
C1 Construir significados para os números naturais, inteiros, racionais e reais.
H3 Resolver situação- -problema envolvendo conhecimentos numéricos.
Trigonometria (do grego tri, “três”;
gonos, “ângulos”; metron, “me-
dir”) é o ramo da Matemática cujo
arcabouço conceitual é baseado
no cálculo das medidas dos lados
e ângulos de um triângulo. Permi-
tiu a orientação dos antigos na-
vegadores, possibilitou a medida
da distância entre a Terra e a Lua,
auxilia nos trabalhos de Cartogra-
fia e de Engenharia, entre outras
aplicações.
Um engenheiro, encarregado das
obras de um novo aeroporto, ao
planejar a localização da pista de
pousos e decolagens, ficou mui-
to preocupado com a posição de
uma torre de transmissão de ener-
gia elétrica de 200 m de altura,
situada a 3 km de onde seria po-
sicionada a extremidade da pista.
Sabe-se que, ao decolar, os aviões
sobem formando um ângulo de
30º com a pista (horizontal).
Feitos os cálculos, o engenheiro
concluiu que, nessas condições,
ao decolar, um avião:
a) se chocaria com a torre, pois
estaria a 100 m de altitude ao pas-
sar por ela.
b) se chocaria com a torre, pois
estaria a 200 m de altitude ao pas-
sar por ela.
c) não se chocaria com a torre,
pois estaria a 700 m de altitude ao
passar por ela.
d) não se chocaria com a torre,
pois estaria a 1 200 m de altitude
ao passar por ela.
e) não se chocaria com a torre,
pois estaria a 1 700 m de altitude
ao passar por ela.
essenciais para descrever os com-
postos em suas três dimensões.
Na Medicina, uma das apli-
cações da função trigonométri-
ca é evidenciada na análise e no
estudo da frequência cardíaca,
isto é, do número de batimen-
tos cardíacos num determinado
intervalo de tempo, geralmen-
te medido em bpm (batimen-
tos cardíacos por minuto). Desta
análise, podemos verificar a pres-
são arterial de uma pessoa.
O sangue bombeado pelo cora-
ção é transportado para todos os
tecidos e órgãos do corpo humano
através de vasos chamados de ar-
térias. A pressão arterial ou sanguí-
nea é a força que o sangue exerce so-
bre as paredes das artérias.
Desse modo, a Trigonometria é re-
sultante dos esforços de vários povos
de diversas épocas diferentes. As fun-
ções trigonométricas foram estuda-
das, entre outros, pelo já citado gre-
go Hiparco de Niceia, mas também
pelo egípcio Ptolomeu (90-165),
pelos indianos Aryabhata (476-
-550), Varahamihira (505-587) e
Brahmagupta (598-668) e até pelo
famoso poeta e matemático persa
Omar Khayyam (1048-1131), autor
de Rubaiyat. Pode ser complicada,
mas é fascinante.
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aTualiza | FEVEREIRO 2017
30 |CIÊNCIAS DA NATUREZApor silvia kochen
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A primeira experiência
de um bebê com DNA
de três pais ocorreu
nos Estados Unidos,
com um casal que já
havia perdido dois
filhos por causa de
uma doença genética
rara, a Síndrome de
Leigh, uma anomalia
nas mitocôndrias
que prejudica o
desenvolvimento do
sistema nervoso. Como
foi essa experiência?
O procedimento
adotado pelos
cientistas na nova
técnica foi pegar um
óvulo de uma doadora
sã, retirar o seu núcleo
e implantar no lugar
o núcleo do embrião
fertilizado do casal.
Quanto o bebê
terá de carga genética
dos pais de origem
e da doadora?
A técnica utilizada para
gerar o bebê de três
pais é relativamente
simples e está ao
alcance de qualquer
clínica de fertilização
bem equipada em todo
o mundo. No entanto,
esse procedimento
levanta uma série
de questões éticas.
Quais são as principais
questões?
A técnica de
transplante
de mitocôndrias já foi
amplamente testada
e se mostrou bastante
segura. Por isso o
Parlamento britânico
aprovou uma lei
que permite o uso
dessa técnica como
tratamento para
doenças genéticas.
O que prevê a
legislação brasileira
sobre casos como
esses?
FEVEREIRO 2017 | aTualiza
Nova técnica desenvolvida
nos Estados Unidos pode ser
a esperança para pais que
querem evitar a transmissão
de doenças graves a seus filhos
DNA de
três pais
Biólogos de todo
o mundo en-
frentam desa-
fios a cada dia
em que novas
façanhas se tor-
nam possíveis,
como a eliminação de doenças por
meio de tecnologia genética. Foi o
que aconteceu recentemente com
o nascimento de um bebê com um
pai e duas mães.
Os pais, de origem jordaniana,
vivem nos Estados Unidos e per-
deram dois filhos pequenos por
causa de uma doença genética
muito rara, a Síndrome de Leigh,
uma anomalia nas mitocôndrias
que prejudica o desenvolvimen-
to do sistema nervoso e muscu-
lar. As mitocôndrias são fábricas
de energia de nossas células e seu
mau funcionamento causa vários
problemas de saúde, como ceguei-
ra, epilepsia, retardo mental, fra-
queza muscular e problemas car-
díacos, entre outros.
O casal resolveu, então, bus-
car ajuda da ciência para gerar
um filho saudável. A técnica em-
pregada é relativamente simples,
mas o procedimento ainda levan-
ta questionamentos éticos e, por
essa razão, foi realizado no México,
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aTualiza | FEVEREIRO 2017
32 | CIÊNCIAS DA NATUREZA
onde a lei não tem restrições nesse sentido.
Uma célula tem um núcleo e seu citoplasma, onde ficam as mitocôndrias, à semelhança de um ovo com a gema e a clara, res-pectivamente. Ao ser fertilizado, o óvulo resultante terá DNA de ambos os pais no núcleo, no qual se encontram 3 bilhões de genes. Mas também há no citoplasma as mitocôndrias, que possuem ou-tros 16 mil genes, herança ape-nas da mãe. Para gerar um bebê saudável, ele teria de ficar sem as mitocôndrias defeituosas.
O procedimento adotado foi pegar um óvulo de uma doado-ra sã, retirar o seu núcleo e im-plantar no lugar o núcleo do embrião fertilizado do casal que queria um filho são. Dessa for-ma, o bebê tem 99,998% da car-ga genética dos pais de origem
alcance de qualquer clínica de fer-tilização in vitro bem equipada, diz Lygia Pereira. Mas esse tipo de procedimento levanta uma sé-rie de questões éticas em todo o mundo. A pergunta que todos fa-zem é: em que medida é ética a busca de modificações genéticas?
Afinal, muitas vidas poderiam ser salvas se conseguíssemos eli-minar doenças transmitidas ge-neticamente, como a hemofilia ou a diabetes. Mas a manipulação genética também pode ser usada para o mal, na medida em que po-deria se buscar bebês com carac-terísticas predefinidas (loiros e de olhos azuis, por exemplo), o que resultaria em uma sofisticada eu-genia laboratorial.
Mas há pesquisas ao redor do mundo que buscam alterar a car-ga genética no núcleo de em-briões humanos. Neste caso,
Trata-se
de um
procedimento
bem diferente
da clonagem,
mas, mesmo
assim, a
técnica
levanta
questões
éticas
jordaniana e mais 0,002% de ge-nes da doadora.
“Não se trata de manipulação genética; o que houve foi um caso de transferência nuclear entre óvulos”, afirma Lygia da Veiga Pe-reira, professora titular do Labora-tório Nacional de Células-Tronco Embrionárias (Lance) da Univer-sidade de São Paulo. “É algo que podemos chamar de transplante de mitocôndrias”. Ela ressalta que é importante notar que esse proce-dimento é muito diferente de uma clonagem. No transplante de mi-tocôndrias, usam-se células-tron-co; na clonagem, uma célula adul-ta é utilizada para reproduzir uma carga genética.
Questões éticasA técnica utilizada para ge-
rar o bebê “de três pais” é re-lativamente simples e está ao
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Resposta: d
EM FOCO
FEVEREIRO 2017 | aTualiza
C4 Compreender interações
entre organismos
e ambiente, em
particular aquelas
relacionadas à saúde
humana, relacionando
conhecimentos científicos,
aspectos culturais e
características individuais.
H13 Reconhecer mecanismos
de transmissão da vida,
prevendo ou explicando
a manifestação de
características dos
seres vivos.
O DNA humano é encontrado no
núcleo, formando os cromosso-
mos, e também no interior das
mitocôndrias. O DNA mitocondrial
tem grande aplicação nos estudos
evolutivos que buscam determinar
a ancestralidade da espécie huma-
na, por exemplo, e também no âm-
bito forense, principalmente quan-
do as amostras disponíveis de DNA
estão degradadas ou são escassas.
A principal particularidade do DNA
mitocondrial é que ele:
a) só se manifesta nas mulheres,
embora seja originário de ambos
os pais.
b) é exclusivamente masculino,
não existindo nas células femini-
nas.
c) contém os genes responsáveis
pelas principais atividades ce-
lulares.
d) tem origem exclusivamente ma-
terna, uma vez que o citoplasma do
zigoto é proveniente do ovócito.
e) é exclusivamente feminino, não
existindo nas células masculinas.
normalmente são usados embriões
que seriam descartados em labora-
tórios (por estarem há muito tem-
po estocados, por exemplo, e sem
condições de vingar). Em 2015,
pesquisadores chineses anuncia-
ram o uso de uma nova técnica
para alterar embriões, denomina-
da sistema crispr caspase.
O grande problema em relação
às pesquisas de manipulação gené-
tica desenvolvidas com o objetivo
de se eliminar doenças hereditá-
rias, explica Lygia, é que ainda não
se conseguiu restringir as modifi-
cações ao alvo. Isso significa que,
além de atingir os genes que trans-
mitem alguma doença, como a he-
mofilia, foram afetados vários ou-
tros genes.
A Lei de Biossegurança vigente no Brasil
proíbe pesquisas com esse tipo de manipu-
lação genética e, por esta razão, o país não
consegue realizar pesquisas desta nature-
za. Segundo a geneticista, há um consenso
de que a substituição de mitocôndrias, em-
pregada na geração do bebê “de três pais”, é
algo muito diferente de alterações no geno-
ma nuclear.
A técnica de transplante de mitocôn-
drias já foi amplamente testada em mode-
los animais e se mostrou segura. Por isso,
o Parlamento britânico já aprovou uma
lei que permite o uso dessa técnica no país
como tratamento para doenças genéticas.
No Brasil, há um vácuo na lei em relação ao
transplante de mitocôndrias, o que significa
que não há proibição. Nos Estados Unidos, o
procedimento é proibido, o que fez com que
o caso fosse transferido para o México.
Esse núcleo é inserido
no óvulo sem núcleo
da doadora, com
mitocôndrias normais.
O óvulo reconstituído é
fertilizado com o esper-
matozoide do compa-
nheiro da paciente.
O embrião fertilizado,
com mitocôndrias nor-
mais e genomas materno
e paterno, pode ser
transferido para o útero.
Um óvulo não fertilizado com mitocôndrias anormais
e um com mitocôndrias normais são selecionados.
Os núcleos são removidos e apenas o núcleo da paciente
é mantido, o da doadora é descartado.
1
2
3 4 5
mitocôndrias anormais
núcleo
mitocôndrias normais
núcleo
SAIBA COMO É A TÉCNICA
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34 | CIÊNCIAS DA NATUREZA
aTualiza | FEVEREIRO 2017
por fernando porfirio de lima
Segundo a OMS, um terço das pessoas em
todo o mundo acima de 65 anos e metade
com mais de 75 sofrem com perda auditiva. No
entanto, os médicos agora estão preocupados
com a perda de audição de jovens. Quais as
principais razões para esse fenômeno?
No Brasil, segundo censo do IBGE, 8,6%
da população – cerca de 9 milhões de
pessoas – tem algum problema auditivo e
60% deles são idosos. Em todo o mundo,
segundo a ONU, 360 milhões de pessoas têm
perda auditiva de moderada a profunda. Qual é
a porcentagem de pessoas no país com perda
auditiva devido a exposição diária a ruídos?
A poluição sonora pode afetar seriamente a
audição. Ruídos a partir de 85 decibéis são
prejudiciais e, a partir de 95 decibéis, podem
causar sérios danos à audição. Quais são as
orientações médicas para minorar os danos
quando enfrentamos situações como estas?
Os ruídos do dia a dia entre 80 e 90 decibéis,
como tráfego, buzinas, obras e música alta
direto nos fones de ouvido, já começam a
prejudicar a audição e alteram o estado
emocional das pessoas. Quais são os
problemas adicionais enfrentados pelas
pessoas que sofrem com essa poluição?
A febre do fone
de ouvido vem
ocasionando uma triste
estatística: é cada vez
maior o número de
jovens com problemas
de audição
A surdez é um distúrbio que pode
acometer pessoas de todas as ida-
des. Algumas crianças já nascem
com perdas auditivas que variam
de grau e intensidade, e o decrésci-
mo da audição parece ser regra nas
pessoas que teimam em viver mui-
to tempo. A perda auditiva, assim como ocorre com a
visão, é uma degeneração comum ao corpo humano
e acontece gradualmente durante o envelhecimento.
Entretanto, o modo como vivemos atualmente pode
acelerar drasticamente este processo.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS),
um terço dos idosos com mais de 65 anos sofre do pro-
blema, além de metade daqueles com mais de 75 anos.
Mas o que tem preocupado especialistas recentemen-
te é a perda de audição dos jovens. A poluição sonora,
principalmente por equipamentos de som, está entre
um dos principais vilões, segundo a Academia Brasi-
leira de Otorrinolaringologia e a Sociedade Brasileira
de Otologia.
Estamos fi cando surdos?
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C1 Compreender as ciências naturais e as tecnologias a elas associadas como construções humanas, percebendo seus papéis nos processos de produção e no desenvolvimento econômico e social da humanidade.
H1 Reconhecer características ou propriedades de fenômenos ondulatórios ou oscilatórios, relacionando-os a seus usos em diferentes contextos.
A poluição sonora, decorrente de
toda sorte de ruídos nas cidades
(trânsito de veículos, construções,
manutenção de ruas e calçadas,
etc.) e o uso frequente de fones
de ouvido ajustados em altíssimos
volumes prejudicam severamente
nossos órgãos auditivos. Os danos
começam com sons de 85 decibéis
(dB) e se agravam com intensida-
des maiores e/ou com o tempo de
exposição. Sons intensos e inter-
mitentes não permitem a recupe-
ração auditiva e levam à perda de
sensibilidade. O tempo máximo de
exposição (sem que a orelha sofra
danos) para sons de 85 dB é de
8 horas, valor que cai pela metade a
cada elevação de 5 dB.
Quanto tempo a orelha suporta,
sem sofrer danos, nas proximi-
dades de uma caixa acústica que
emite som com intensidade de
110 dB, tão alto que impede a con-
versa entre duas pessoas?
a) 2 horas
b) 1 hora
c) 30 minutos
d) 15 minutos
e) 7,5 minutos
Resposta: d
EM FOCO
FEVEREIRO 2017 | aTualiza
Alguns estudos internacionais
também apontam para a mesma
direção. Um artigo publicado no
International Journal of Pediatrics
demonstra uma preocupação so-
bre os riscos de traumas auditivos
em crianças pelo uso de sons am-
plificados, com uso de MP3 player,
videogame, etc. Outra pesquisa re-
cente, realizada pelo Departamen-
to de Saúde de Nova York, mostrou
que uma em cada quatro pessoas
entre 18 e 44 anos que costuma-
vam ouvir som alto com fone de
ouvido teve problemas de audição.
No Brasil, segundo o Censo
2010, 8,6% da população, ou 9 mi-
lhões de pessoas, tem algum pro-
blema auditivo. Estima-se que
60% destes sejam idosos. A Asso-
ciação Brasileira de Otorrinola-
ringologia e Cirurgia Cervicofacial
(ABORL-CCF) alerta que até 35%
das perdas de audição ocorrem por
causa da exposição aos sons in-
tensos, como fones de ouvido em
smartphones, celulares, aparelhos
de MP3 e ruídos no ambiente de
trabalho. De acordo com a associa-
ção, a surdez causada pela expo-
sição aos sons intensos vai acumu-
lando ao longo dos anos.
Um estudo da OMS alerta que
360 milhões de pessoas em todo o
mundo sofrem de perda auditiva.
A entidade considera que a perda
de audição relacionada ao ruído
musical é a segunda maior causa
de surdez no mundo. De acordo
com a Sociedade Brasileira de Oto-
logia, 30% a 35% das perdas de au-
dição são consequência da exposi-
ção a ruídos diários.
A fonoaudióloga Isabela Car-
valho, da empresa Telex Soluções
Auditivas, destaca que a prevenção
é a melhor arma para a luta contra
a perda auditiva. Segundo a fono-
audióloga, a audição perdida não
volta mais. “Provavelmente, va-
mos ter mais velhinhos com pro-
blemas de audição na
nossa geração do que
na anterior, dos nos-
sos pais, justamente
por causa da exposi-
ção a ruídos inten-
sos”, ressalta.
Os fones colo-
cados no canal
auditivo levam o som diretamente à membrana
timpânica, sem nenhuma barreira de proteção às
delicadas estruturas que compõem a orelha inter-
na. Os fones tipo concha são os mais indicados pe-
los médicos e especialistas, desde que usados em
uma intensidade sonora adequada, informa a As-
sociação Brasileira de Otorrinolaringologia e Ci-
rurgia Cervicofacial.
A poluição sonora também pode afetar a audição.
De acordo com a especialista da Telex Soluções Au-
ditivas, ruídos a partir de 85 decibéis (nível de pres-
são sonora), intensidade registrada em uma ave-
nida movimentada, são prejudiciais. A orientação
é não permanecer por mais de oito horas em am-
bientes com sons em torno de 85 decibéis. A partir
de 95 decibéis, por exemplo, em um ambiente onde
alguém está tocando piano bem alto, a permanência
recomendada cai para duas horas.
Isabela lembra que os ruídos do dia a dia também
podem alterar o lado emocional das pessoas. “A par-
te emotiva da pessoa vai ficar alterada. Chegando
em casa, isso vai aflorar um pouquinho e pode fa-
zer a pessoa ter diminuição de concentração, ner-
vosismo, estresse, dificuldade para dormir. Tudo
isso pode estar relacionado à poluição sonora que a
gente vive no dia a dia.”
Não só os fones de ouvido, mas também as boates,
muito frequentadas por jovens, são um perigo em
potencial. Deve-se evitar ouvir música muito alta
dentro de casa ou do carro e moderar o volume nos
fones de ouvido.
De acordo com a especialista, um pequeno pro-
blema na audição já é um sinal de alerta. “Quanto
maior a frequência a ambientes barulhentos, maio-
res os riscos. Além disso, à medida que o volume da
música passa dos 100 decibéis, aumenta-se o ris-
co de uma possível lesão na cóclea – órgão dentro
da orelha responsável pela audição. Nestes casos,
o tempo de exposição não deve passar de 30 minu-
tos”, explica a fonoaudióloga da Telex.
Frequências de 80 a 90 decibéis já começam a
prejudicar a audição. No entanto, vivemos em ci-
dades com muitos ruídos de obras,
trânsito, buzinas, metalúrgicas e
ainda a música alta direto nos fo-
nes de ouvido. São fatores que, em
conjunto, podem ser prejudiciais à
audição.
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36 | CIÊNCIAS DA NATUREZA
aTualiza | FEVEREIRO 2017
O estudante britânico William
Broadway, de 22 anos, da
Universidade de Loughborough,
ganhou um prêmio e entrou na lista
do James Award por ter criado
uma microgeladeira de vacinas.
Como foi que ele teve esta ideia e
como ele a pôs em prática?
Segundo o jornal britânico
The Guardian, cerca de 19,5 milhões
de crianças em todo o mundo –
60% delas em países em
desenvolvimento – não conseguiram
receber imunização por vários tipos
de problemas. Cite quais são os
principais obstáculos à vacinação.
No Brasil, o Ministério da Saúde
é o responsável pela vacinação,
oferecendo, por meio do SUS,
17 tipos de vacinas recomendadas
pela OMS, a um custo de
R$ 3,9 bilhões em 2016.
Esses montantes dão conta
das necessidades da população
brasileira?
A microgeladeira de Broadway,
chamada Isobar, permite armazenar
vacinas por até 30 dias em uma
temperatura que varia de 2 a 8 graus
Celsius. Explique quais são e como
funcionam as três partes desse
equipamento, uma delas baseada
em um sistema desenvolvido pelo
físico alemão Albert Einstein.
Um estudante britânico criou uma invenção simples
e barata que pode salvar milhões de pessoas e ainda
evitar o desperdício de vacinas
Por ter criado uma microgeladei-ra de vacinas, o estudante William Broadway, de 22 anos, da Univer-sidade de Loughborough, no Reino Unido, ganhou o prêmio nacional em seu país, e seu invento entrou na lista do James Dyson Award,
um prêmio internacional para distinguir, encorajar e inspirar as próximas gerações de engenheiros e dese-nhistas industriais.
A ideia posta em prática por Broadway começou quando ele fez, em 2012, uma viagem de sete semanas pelo sudeste e sudoeste asiático, em países como Cam-boja, China, Hong Kong e Vietnã. A experiência aconte-ceu mesmo antes de Broadway começar sua graduação em Desenho Industrial e Tecnologia na universidade.
Em regiões muitos pobres da Ásia, o futuro aluno da Universidade de Loughborough viu o grande desper-dício de vacinas valiosas em razão do armazenamento inadequado e de problemas na hora de transportá-las para lugares remotos. Viu e ficou indignado. A partir daí, ele contou, sentiu-se motivado a achar uma solu-ção para esses gargalos.
Refrigerador de
vacinas
por fernando porfirio de lima
O jornal britânico The Guardian aponta que cerca de 19,5 milhões de crianças de todo o mundo não conseguiram receber imunização, e 60% delas vivem em países em desenvolvimento. Até que uma vacina seja administrada em uma pessoa, além da pesquisa e dos tes-tes até sua produção, é preciso que ela passe por um longo e rigoroso processo envolvendo compra, ava-liação, liberação e distribuição.
No caso do Brasil, o Ministé-rio da Saúde é o órgão responsá-vel por esse processo. Os produtos passam ainda por uma avaliação feita pelo Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde e, só então, são enviadas para os
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06_EM17_ATZ33_MIOLO_10a37.indd 36 1/3/17 3:00 PM
C4 Compreender interações entre organismos e ambiente, em particular aquelas ligadas à saúde humana, relacionando conhecimentos científicos, aspectos culturais e características individuais.
H14 Identificar padrões em fenômenos e processos vitais dos organismos, como manutenção do equilíbrio interno, defesa, relações com o ambiente, sexualidade, entre outros.
A terceira dose da vacina contra poliomielite, adminis-
trada aos seis meses, deixa de ser oral e passa a ser inje-
tável. A mudança é uma nova etapa para o uso exclusivo
da vacina inativada (injetável) na prevenção contra a pa-
ralisia infantil, tendo em vista a proximidade da erradica-
ção mundial da doença. No Brasil, o último caso foi em
1989. A partir de agora, a criança recebe as três primei-
ras doses do esquema – aos dois, quatro e seis meses
de vida – com a vacina inativada poliomielite (VIP), de
forma injetável. Já a vacina oral poliomielite (VOP) con-
tinua sendo administrada como reforço aos 15 meses,
quatro anos e anualmente durante a campanha nacio-
nal, para crianças de um a quatro anos.
Adaptado de: <www.brasil.gov.br/saude/2016/01/
calendario-de-vacinacao-atualizado-ja-esta-em-vigor>
Acesso em: 23 nov. 2016.
Algumas vacinas, como a da poliomielite, requerem do-
ses de reforço para:
a) completar a carga de anticorpos recebida na primeira
vacinação.
b) eliminar progressivamente o vírus causador da doença.
c) estimular o organismo a intensificar a produção de
anticorpos.
d) promover alterações no DNA viral que reduzem sua
patogenicidade.
e) incrementar a quantidade de linfócitos recebidos na
primeira vacinação.
Resposta: c
EM FOCO
FEVEREIRO 2017 | aTualiza
estados. O número de doses envia-
das é notificado previamente, le-
vando em conta a situação epide-
miológica, população e estoques.
Hoje, o Ministério da Saúde ofer-
ta, por meio do SUS, 17 tipos de
vacinas recomendadas pela Orga-
nização Mundial da Saúde (OMS).
O investimento dessa oferta che-
gou a R$ 3,9 bilhões em 2016.
Para que este investimento es-
teja seguro, a logística dos produ-
tos precisa ser impecável, pois de-
vem chegar aos seus destinos em
perfeito estado de uso e dentro do
prazo de validade. A rastreabili-
dade e armazenagem em tempe-
raturas e locais apropriados são
fundamentais. O dimensiona-
mento correto para compra tam-
bém é imprescindível, visto que,
muitas vezes, a procura é maior
que a oferta, ocasionando perda.
Essa foi a preocupação do in-
ventor britânico. Mas como resol-
ver isso, na prática? Broadway es-
tava acampando com amigos e, ao
ver que eles haviam trazido quilos
de gelo, pensou que deveria exis-
tir um sistema de refrigeração me-
lhor do que apenas trazer cubos
e esperá-los derreter. O estudan-
te explica qual o problema com o
modo de transporte atual das va-
cinas: a temperatura em que elas
se encontram é instável, e não há
pontos de parada suficientes em
áreas remotas para conservar essa
temperatura.
Vacinas precisam ser man-
tidas entre 2 e 8 graus Celsius
para serem eficazes. E o refrige-
rador criado por Broadway con-
segue manter essa temperatura
de forma constante por 30 dias.
O Isobar também poderia ser usa-
do para proteger órgãos doados,
transplantes de sangue e células-
-tronco. “Nenhum problema é
grande demais, e muitas vezes
as soluções mais simples são as
melhores”, disse certa vez James
Dyson, o engenheiro britânico
que inventou do primeiro aspira-
dor de pó sem saco coletor.
A maioria dos transportadores
de vacinas usa gelo ou compres-
sas para manter as vacinas gela-
das, o que faz com que elas este-
jam em temperatura abaixo da
considerada ideal. Assim, as va-
cinas perdem potência, e a vaci-
nação não é segura. Centenas de
milhares de pessoas morrem to-
dos os anos por conta de tal des-
cuido, segundo Broadway.
Com seu invento, o Isobar, é
possível armazenar vacinas por
até 30 dias em uma tempera-
tura que varia entre 2 e 8 graus
Celsius. Para conseguir tal efeito,
a invenção possui três partes.
A primeira é uma mochila, que
armazena as vacinas; a segunda é
uma unidade de refrigeração; e a
terceira parte é um queimador de
gás propano, fonte de energia tér-
mica presente em alguns fogões.
A unidade de refrigeração foi
baseada em um sistema desen-
volvido por Albert Einstein e com
patente publicada em 1930. Usan-
do água e amônia, é possível gerar
refrigeração por meio da absor-
ção de vapores – um processo que
foi esquecido com a chegada dos
refrigeradores elétricos.
Amônia e água são aquecidos
em uma câmara de baixa pres-
são, por meio de energia térmi-
ca. A amônia é separada da água
por meio desse processo e seu
vapor é capturado dentro de
uma câmara superior à original.
William Broadway.
Uma válvula é acionada quando a unidade precisa
de refrigeração, unindo câmara superior e original.
A amônia em forma de gás mistura-se com a água,
gerando um efeito de resfriamento.
A unidade de refrigeração o Isobar pode ser recar-
regada por eletricidade; o queimador de gás propa-
no é usado em situações emergenciais, quando não
há uma fonte elétrica disponível. Carregando de for-
ma elétrica, a unidade é refrigerada por até seis dias;
as reservas de propano podem ser recarregadas até
chegar a 30 dias possíveis de uso, por padrões de se-
gurança internacionais.
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ATUALIZA | FEVEREIRO 2017
38 | CIÊNCIAS DA NATUREZApor sILvIA kochen
Ação global conjunta
conseguiu reduzir o
crescimento do buraco
na camada de ozônio,
mas o problema ainda
não foi resolvido
A luta continua
Em 1985, cientistas anunciaram que
todos os anos, no início da primave-
ra no hemisfério sul, um imenso bu-
raco se abria na camada de ozônio da
atmosfera sobre a Antártida e que
ele também estava ficando cada vez
maior. A gravidade da situação era
tal que mobilizou a primeira ação conjunta de todas
as nações do globo para a preservação do meio am-
biente. Em setembro de 1987, era assinado o Proto-
colo de Montreal, cujos resultados começam a ser
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observados agora, quase três dé-
cadas depois. Porém, o problema
ainda é grave.
Segundo o pesquisador titular no
Centro de Ciência do Sistema Ter-
restre (CCST) do Instituto Nacio-
nal de Pesquisas Espaciais (INPE),
Plínio Alvalá, o que se verifica atu-
almente é uma variação para
menor no buraco da camada de
ozônio sobre a Antártida. Porém
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FEVEREIRO 2017 | ATUALIZA
também, segundo o pesquisador,
ainda é cedo para concluir que ele
esteja realmente diminuindo.
Somente entre 2030 e 2040 é
que poderemos confi rmar se obu-
raco na camada de ozônio na An-
tártida está encolhendo. Alvalá
alerta, porém, que mais adiante o
problema poderá se agravar, pois
ainda não há uma tecnologia capaz
de efetivamente combatê-lo, já que
Há mais de 30 anos,os cientistas fi caram alarmados com o aumento do buraco na camada de ozônio sobre a Antártida. O Protocolo de Montreal traçou uma ação conjunta para a preservação ambiental. Quais foram os resultadosdesse esforço?
Depois de muitas pesquisas,os cientistas conseguiramdescobrir o “vilão” pelo buraco na camada de ozônio: oclorofl uorcarboneto,mais conhecido como CFC,que tinha uma ampla aplicação industrial desdeos anos 1940. Qual foi a razão pela qual esse gás provocou oburaco na camada de ozônio?
Governos de todo o mundo assinaram um compromisso global para reduzir ou eliminar os riscos à camada de ozônio.Como funciona o fundo que foi instituído por esses países em relação aos paísesdesenvolvidos e ospaíses em desenvolvimento?
Até meados dos anos 1990,o Brasil era o líder na América Latina em consumo de CFC e o segundo maior entre os países emdesenvolvimento,atrás apenas da China. Desde 2010 o Brasil deixou de consumir CFC. Como issofoi possível?
Pesquisas na Antártida mostram
que nos últimos anos o buraco na
camada de ozônio diminuiu.
várias substâncias destruidoras de
ozônio continuam sendo usadas
em larga escala pelas indústrias de
todo o mundo.
Ciclo do CFC
Em 1985, uma equipe de pes-
quisadores britânicos na Antárti-
da observou pela primeira vez, nas
medições que fazia em solo, um de-
créscimo na camada de ozônio. O
fenômeno era intenso e estranho,
o que levou a comunidade científi -
ca a checar informações de satéli-
tes para saber o que acontecia. Foi
assim que se descobriu o buraco
na camada de ozônio na Antárti-
da. Uma grande ameaça ao planeta.
O passo seguinte foi investigar as
causas desse fenômeno.
Depois de muitas pesquisas, os
cientistas apontaram o principal
culpado pelo problema: o cloro-
fl uorcarboneto (CFC), um gás for-
mado por cloro, fl úor e carbono
que foi sintetizado artifi cialmen-
te em 1928 e passou a ter ampla
aplicação industrial a partir das
décadas de 1940 e 1950. O CFC
parecia ser ideal para usos indus-
triais, pois não tem cheiro, não
tem cor, não é infl amável e é ex-
tremamente estável, já que não
reage com outros componentes
químicos e pode fi car intacto por
até cem anos na estratosfera.
O CFC tem inúmeras aplicações, que vão desde uso
como gás para refrigeração em geladeiras e aparelhos
de ar condicionado, até como agente propelente de
aerossóis, espuma de estofados, matéria-prima para
plásticos, espumas de extintores de incêndio, etc. Ele
parecia também não oferecer risco porque o gás que
escapava de uma geladeira velha, por exemplo, fi cava
na atmosfera e, levado pela circulação do ar em todo o
planeta, acabava subindo para as camadas mais altas,
a estratosfera.
Porém, à semelhança das correntes marítimas, a
estratosfera também tem correntes de ar que circu-
lam em direção aos polos, explica Alvalá. Por uma sé-
rie de características meteorológicas únicas na An-
tártida, o ar acaba no interior de um vórtex polar,
um vento em sentido circular que prende os gases at-
mosféricos em seu interior.
As baixas temperaturas do inverno antártico pro-
duzem reações químicas nesses gases, e na primave-
ra, quando a radiação solar começa a quebrar as mo-
léculas de CFC, há uma grande liberação de cloro na
região. De uso industrial amplo como corrosivo, o clo-
ro destrói o ozônio (O3) formando uma molécula de
oxigênio (O2) e uma molécula de óxido de cloro (ClO).
Como a concentração de CFC na atmosfera era cada
vez maior, a quantidade de cloro liberado a cada pri-
mavera na região era crescente e formou um buraco
na camada de ozônio. Esse buraco crescia e ameaçava
a vida na Terra. Afi nal, é a camada de ozônio que fun-
ciona como um cobertor para proteger a superfície do
planeta da radiação solar, altamente danosa à vida.
Protocolo de Montreal
O alerta foi dado. Governos de todo o mundo se
reuniram em Montreal e, pela primeira vez na his-
tória, todos os 197 países do mundo assumiram o
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C3 Associar intervenções que resultam em degradação ou conservação ambiental a processos produtivos e sociais e a instrumentos ou ações científico-tecnológicos.
H10 Analisar perturbações ambientais, identificando fontes, transporte e/ou destino dos poluentes ou prevendo efeitos em sistemas naturais, produtivos ou sociais.
O buraco na camada de ozônio sobre
a Antártida está diminuindo. Um estu-
do revelou que o tamanho foi reduzido
em cerca de quatro milhões de quilô-
metros quadrados – uma área do ta-
manho da Índia – desde 2000. Essa é
uma boa notícia para o meio ambiente,
quase 30 anos após o Protocolo de
Montreal ser assinado para eliminar
progressivamente a emissão de certos
poluentes. O estudo atribuiu a recu-
peração da camada de ozônio ao “de-
clínio contínuo do cloro atmosférico
proveniente de clorofluorcarbonetos
(CFCs)”, ou componentes químicos
que eram emitidos por limpeza a seco,
geladeiras, spray de cabelos e outros
aerossóis.
Adaptado de: <http://g1.globo.com/
natureza/noticia/2016/06/buraco-
-na-camada-de-ozonio-sobre-antarti-
da-esta-diminuindo-diz-estudo.html>
Acesso em: 24 nov. 2016.
A preservação da camada atmosférica
de ozônio é importante porque ela:
a) bloqueia a passagem da radiação
ultravioleta, protegendo os seres vivos
de seus efeitos deletérios.
b) intensifica o efeito estufa, contribuin-
do para aquecer o ambiente e favorecer
a sobrevivência dos seres vivos.
c) causa chuva ácida, necessária para
o bom desenvolvimento das plantas.
d) evita a decomposição da matéria
orgânica, o que mantém o pH do solo.
e) promove a eutrofização das águas,
importante para a floração das algas.
Resposta: a
EM FOCO
40 | CIÊNCIAS DA NATUREZA
ATUALIZA | FEVEREIRO 2017
compromisso global de reduzir ou eliminar os ris-cos à camada de ozônio. Para tornar isso possível, o Protocolo de Montreal instituiu em 1990 um fun-do multilateral para financiar a sua implantação.
O fundo é mantido, principalmente, com a con-tribuição dos países desenvolvidos a fundo perdido (ou seja, em caráter de doação) e serve para finan-ciar a conversão de tecnologia, o treinamento e a capacitação e o fortalecimento institucional para que países em desenvolvimento possam cumprir os compromissos assumidos em Montreal. Isso signi-fica que o dinheiro é empregado na substituição de equipamentos industriais pelos que usem substân-cias que não destruam a camada de ozônio em seus processos, para pesquisas, para o treinamento de pessoal e para financiar serviços que garantirão o cumprimento do acordo, como órgãos de fiscaliza-ção ou de treinamento.
Para ter acesso aos recursos, os países em desen-volvimento devem apresentar programas ou proje-tos que estruturem as ações para se chegar a metas de redução do uso de substâncias destruidoras de ozônio, entre as quais o CFC é uma das principais.
Ações do Brasil
Até meados dos anos 1990, o Brasil era o líder da América Latina em consumo de CFC e o segundo maior entre os países em desenvolvimento, atrás apenas da China. Desde 2010, o Brasil não con-some mais CFC. Alvalá ressalta que o Brasil é um dos pioneiros nas medidas de eliminação do CFC.
“Mas o problema ainda está lon-ge de ser sanado”, alerta.
Hoje, o maior substituto para o CFC é o hidrofluorcarboneto (HCFC), que tem uma molécula maior e que se quebra mais de-vagar, explica Alvalá. Mas, ao ser quebrada a molécula de HCFC, o problema permanece, pois ele também libera cloro na atmos-fera, o que pode destruir o ozô-nio. O HCFC tem outro incon-veniente: ele também produz o efeito estufa.
Os tratados internacionais preveem a descontinuidade do HCFC até 2030 para os países industrializados e 2040 para os países em desenvolvimento. É um longo caminho a percor-rer, pois essa substância ainda é uma das principais matérias--primas na produção de espu-mas sintéticas. Por isso, os jo-vens estudantes de hoje que pretendem se dedicar a carrei-ras científicas já podem come-çar a se preparar para o desa-fio de encontrar um substituto para o HCFC que seja ambien-talmente seguro.
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BACKUPA MEMÓRIA REVISITADA
41
FEVEREIRO 2017 | ATUALIZA
1817(Há 200 anos)
1917(Há 100 anos)
1937(Há 80 anos)
1957 (Há 60 anos)
1967(Há 50 anos)
1977(Há 40 anos)
Revolução Pernambucana Um movimento
de caráter
emancipacionista
e republicano
eclodiu em 6 de
março de 1817 no
Recife, em protesto
contra o aumento
de impostos para
custear os gastos da
Corte portuguesa,
instalada no Rio de
Janeiro desde 1808,
e contra a ocupação
de cargos públicos
por portugueses.
Os principais líderes
foram Domingos
José Martins, José
de Barros Lima
(“Leão Coroado”),
Antônio Cruz e os
padres João Ribeiro
e Miguel Joaquim
de Almeida Castro
(“Miguelinho”).
Influenciados pelas
ideias iluministas
e apoiados pela
maçonaria e por
clérigos e militares,
os revoltosos
depuseram o
governador e
instalaram uma
junta revolucionária
que aboliu os
impostos e
permitiu liberdade
de imprensa e de
culto. Os combates
duraram 75 dias,
resultando na derrota
dos revoltosos e
na execução
dos líderes.
Queda do czarismo na RússiaEm fevereiro de
1917 (março pelo
calendário ocidental),
greves e motins
eclodiram em
Petrogrado (atual
São Petersburgo)
em protesto contra
a participação da
Rússia na Primeira
Guerra Mundial, a
escassez econômica
crônica e a miséria
das massas
trabalhadoras.
O resultado foi a
abdicação do
czar Nicolau II.
O líder menchevique
(socialista moderado)
Alexander
Kerensky assumiu
provisoriamente
o governo, mas o
poder real ficou
dividido entre a Duma
(Parlamento)
e o Soviete
(Conselho) de
Petrogrado.
A manutenção
do país na guerra
reacendeu o
descontentamento
das massas, abrindo
caminho para que
os bolcheviques
(comunistas)
tomassem o poder
em novembro e
instalassem um
Estado socialista.
Pio XI critica o nazismo Em 14 de março
de 1937, o papa
Pio XI divulgou
a encíclica Mit
brennender Sorge
(Com profunda
preocupação),
uma duríssima
crítica ao regime
nacional-socialista
alemão e à sua
ideologia racista.
Na primeira
crítica oficial ao
nazismo feita
por um chefe de
Estado, o papa
referiu-se a Adolf
Hitler como
“profeta louco
de arrogância
repulsiva”. Cópias
da encíclica
foram enviadas
clandestinamente
para a Alemanha
para serem
lidas em todas
as paróquias
alemãs. Em
1933, Pio XI havia
negociado uma
concordata com
a Alemanha, mas
Hitler continuou
a perseguir os
católicos no país.
Tratado de RomaAssinado em
março de 1957 em
Roma, o tratado
congregou França,
Alemanha, Itália e
o Benelux (Bélgica,
Países Baixos e
Luxemburgo), pelo
qual os signatários
renunciaram a
partes de sua
soberania para
criar um mercado
comum. Idealizado
por Jean Monnet e
Robert Schumann,
o tratado objetivava
unir a Europa
ocidental depois
da recuperação
trazida pelo Plano
Marshall, criando
a Comunidade
Econômica
Europeia (CEE)
e a Comunidade
Europeia de
Energia Atômica
(Euratom).
A CEE se expandiu
e em 1992, com
o Tratado de
Maastricht, virou
a União Europeia,
adotando a moeda
única, o euro.
Golpe dos coronéis na Grécia Um grupo de
oficiais direitistas
do Exército, liderado
pelo coronel Georgios
Papadopolus, deu
um golpe de Estado
e obrigou o rei
Constantino II a se
exilar. A justificativa
oficial para o
golpe foi que uma
“conspiração
comunista” havia
se infiltrado na
burocracia estatal,
na academia,
na imprensa e
mesmo no Exército.
O “regime dos
coronéis” isolou a
Grécia da Europa,
prendeu 45 mil
inimigos, fechou o
Parlamento, torturou
e matou civis. Em
1974, incapaz de
controlar a crise
com os turcos em
Chipre, o regime
caiu. A ditadura foi
retratada em 1969
no filme Z, do diretor
grego Constantin
Costa-Gravas.
Pacote de AbrilEm abril de 1977, o
governo do general
Ernesto Geisel
baixou um conjunto
de decretos –
apelidado pela
oposição de
Pacote de
Abril – determinando
o fechamento
temporário do
Congresso e
alterando as regras
para as eleições
de 1978. Entre as
principais mudanças
estava a criação de
senadores indiretos
(“biônicos”) para
1/3 da Câmara
Alta. O pacote
também manteve
a eleição indireta
para presidente,
governadores e
prefeitos de capitais,
estendeu o mandato
presidencial
para seis anos
e aumentou a
representação de
estados menos
populosos.
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42 | CIÊNCIAS HUMANAS
ATUALIZA | FEVEREIRO 2017
por LUIZA vILLAméA
Mata Hari,
o enigma da mais
famosa espiã
A estreia da dançarina Mata Hari
em Paris, em 1905, não poderia
ser mais rumorosa. Com a rotun-
da do primeiro andar do Museu
Guimet transformada em uma
espécie de templo indiano, Mata
Hari encantou pela dança, mas
também pela beleza seminua, envolta em véus. Era
o começo da fama. No palco, ela apresentou o exo-
tismo oriental à Europa. Fora do palco, seduziu uma
série de homens poderosos. Doze anos depois, acu-
sada de espionagem, a dançarina seria fuzilada no
começo de uma manhã de outono em Vincennes,
nos arredores de Paris.
“Preciso usar isso?”, perguntou Mata Hari diante
do pelotão de fuzilamento, referindo-se à venda que
um oficial ofereceu para que ela cobrisse os olhos.
Pela descrição do jornalista Henry Wales, que cobriu
a execução pela agência americana International
News Service, o oficial foi sucinto. “Se madame pre-
fere não usar, não faz diferença”, respondeu, antes
de dar meia-volta. Sem venda nem amarras, Mata
A bailarina que colecionou admiradores acabou
fuzilada há quase 100 anos, acusada pela França,
sem provas contundentes, de espionar para a Alemanha
O que levou a holandesa Margaretha Gertruida
Zelle a se interessar pela cultura hindu que havia
na ilha de Java, mudar o nome para Mata Hari
e se tornar uma dançarina famosa e depois
cortesã, seduzindo muitos homens poderosos no
começo do século XX?
Mata Hari foi presa pelo Exército francês, acusada
de espionar para os alemães e fuzilada em 15
de outubro de 1917, aos 41 anos. Quais foram
as principais lendas, nunca comprovadas, que
correram sobre sua execução pelo pelotão de
fuzilamento em Vincennes?
Hollywood fez poucos filmes sobre Mata Hari.
O mais conhecido deles, de 1931, foi estrelado por
Greta Garbo, então uma das mais prestigiadas
atrizes de cinema. Outra versão, em 1985, foi
estrelada pela holandesa Sylvia Kristel. Em que
outro filme a dançarina holandesa foi citada?
A versão de que Mata Hari era espiã a serviço dos
alemães foi contestada por vários historiadores,
como a antropóloga estadunidense Pat Shipman.
A mais recente tentativa de contestar a versão
oficial ocorreu em 2001, com investigações feitas
por Leon Schirmann. Que fim levaram essas
investigações?
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FEVEREIRO 2017 | ATUALIZA
Hari foi fuzilada no dia 15 de ou-tubro de 1917, em plena Primei-ra Guerra Mundial, depois de um julgamento questionado até hoje.
Mata Hari era, na verdade, Mar-garetha Gertruida Zelle, nascida na cidade de Leeuwarden, nos Paí-ses Baixos. Filha de um comercian-te bem-sucedido, ela perdeu a mãe ainda na adolescência e, antes de se tornar um símbolo da ousadia fe-minina, casou-se com um capitão do Exército holandês. Não hesitou em acompanhar o marido quan-do ele foi destacado para servir em Java, a maior ilha da Indonésia, en-tre o Sudeste Asiático e a Austrália.
Naquela época, Java pertencia ao império holandês e era reple-ta de templos hindus, herança de reinos estabelecidos na região em séculos anteriores. Com dois fi-lhos pequenos e um casamento que caminhava de mal a pior, a ho-landesa Margaretha mergulhou na cultura hindu. Dela tirou a ins-piração para se reinventar como Mata Hari anos mais tarde, depois que voltou para a Europa, divor-ciou-se e partiu para uma vida au-tônoma. O filho mais velho tinha morrido de forma misteriosa em Java, supostamente envenenado por empregados. A menina ficou sob a guarda do pai.
Depois da estreia estrondo-sa no Museu Guimet, Mata Hari cultivou com esmero a imagem de dançarina exótica, vinculan-do-se sempre ao universo que
C3 Compreender a produção e o papel
histórico das instituições sociais,
políticas e econômicas, associando-as
aos diferentes grupos, conflitos e
movimentos sociais.
H15 Avaliar criticamente conflitos culturais,
sociais, políticos, econômicos ou
ambientais ao longo da História.
A Grande Guerra de 1914 foi uma consequência
da remobilização contemporânea dos anciens
régimes da Europa. Embora perdendo terreno
para as forças do capitalismo industrial, as forças
da antiga ordem ainda estavam suficientemente
dispostas e poderosas para resistir e retardar
o curso da história, se necessário recorrendo à
violência. A Grande Guerra foi antes a expressão
da decadência e queda da antiga ordem, lutando
para prolongar sua vida, que do explosivo cresci-
mento do capitalismo industrial, resolvido a im-
por a sua primazia. Por toda a Europa, a partir
de 1917, as pressões de uma guerra prolonga-
da afinal abalaram e romperam os alicerces da
velha ordem entrincheirada, que havia sido sua
incubadora. Mesmo assim, à exceção da Rús-
sia, onde se desmoronou o antigo regime mais
obstinado e tradicional, após 1918–1919, as for-
ças da permanência se recobraram o suficiente
para agravar a crise geral da Europa, promover o
fascismo e contribuir para a retomada da guerra
total em 1939.
Adaptado de: MAYER, A. A força da tradição:
a persistência do Antigo Regime. São Paulo:
Companhia das Letras, 1987.
Segundo o autor, a Primeira Guerra Mundial
resultou:
a) do surgimento do fascismo, derivado da Re-
volução Russa, que exportou seu modelo para
os demais países da Europa.
b) da expansão do capitalismo industrial, que
usou a guerra para consolidar sua primazia.
c) da reação violenta das forças da modernida-
de em sua tentativa de romper os laços com a
antiga ordem.
d) da reação dos antigos regimes à moderniza-
ção econômica e política trazida pelo capitalis-
mo industrial.
e) da tentativa de os comunistas russos propa-
garem seus ideais de liberalismo econômico e
igualdade entre os cidadãos.
EM FOCO
Resposta: d
conhecera em Java. Ao escrever so-bre uma biografia da dançarina/es-piã, o coronel estadunidense Fitzhugh Minnigerode disse que ela insistia mui-to na semelhança entre suas danças e as apresentadas em templos da Índia, onde teria aprendido os movimentos. Insistia tanto que “acreditava, ou quase acredita-va, na versão”, registrou Minnigerode no The New York Times, em maio de 1930.
Naquela altura, 13 anos depois do fu-zilamento de Mata Hari, a fama de espiã recrutada pela Alemanha ou dupla espiã (a serviço da França e da Alemanha) só aumentava, assim como o número de li-vros e filmes a seu respeito. Para a antro-póloga estadunidense Pat Shipman, au-tora do livro Femme Fatale, Mata Hari foi usada como bode expiatório para distrair a opinião pública sobre as perdas sofridas pelo Exército da França no front.
A mais recente tentativa de questio-nar o julgamento que a condenou à mor-te ocorreu em 2001, devido a investiga-ções feitas por Leon Schirmann, um veterano da resistência ao nazismo na França, que se dedicou a pesqui-sas históricas depois de se aposentar como professor de Física. Schirmann, no entanto, não conseguiu reunir pro-vas suficientes para reabrir o caso na Justiça. Restou o mito.
A história de Mata Hari foi vivida no cinema em 1931, no filme homônimo es-trelado por Greta Garbo, então uma das mais prestigiadas estrelas de Hollywood. Uma nova versão foi feita em 1985, estre-lada por Sylvia Kristel. A bailarina tam-bém é citada no filme Cassino Royale (1967), como amante de James Bond.
Greta Garbo vive
Mata Hari em
filme de 1931.
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Para o mal e para o bem
44 | MATEMÁTICA
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por vInícIUs AbbATeA
Surgidos como armas de guerra, os drones são
cada vez mais utilizados para fins pacíficos, mas
sua regulamentação ainda é indefinida no Brasil
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Os drones são qualquer tipo de aeronave que nãoprecisa de pilotos embarcados para ser guiada. Também são conhecidos como Veículos AéreosNão Tripulados (Vants). Apesar de ter suas origens na Segunda Guerra Mundial, o drone sóse popularizou recentemente. Qual a razão para isso?
Os drones foram utilizados inicialmente com objetivos militares, para buscar alvos difíceis e arriscados, poupandoas vidas de pilotos. Os Vants ainda são usados pelos EUA noAfeganistão e no Paquistão, para combater terroristas. Quais são as principais críticas a esse uso militar dos drones?
Hoje os drones são amplamente utilizados na área civil, como na vigilância de fronteiras, identifi cação de pragas agrícolas, monitoramento de rebanho, levantamento de ocupações urbanas e monitoramento de redes de energia. Explique quais são as principais vantagens do uso dos drones para esses fi ns civis.
Os drones já são utilizados,com sucesso, por pesquisadoresda Universidade de Mato Grosso(UFMT) para levantamentoaéreo de áreas devastadas.Os especialistas apontam um futuro promissor para os Vants na área de Biologia. Queoutras áreas são promissoras?
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No início, os drones (‘zangão’, em
inglês), ou Veículos Aéreos Não
Tripulados (Vants), surgiram
para poupar vidas de militares
em situação de risco, economi-
zar recursos e causar o maior
número de danos ao inimigo.
Entretanto, em razão do caráter frequentemente se-
creto das operações em que os drones são emprega-
dos, principalmente pelos Estados Unidos, vem ocor-
rendo um debate sobre esse método sorrateiro de
combate, que está sendo usado em países com os quais
os estadunidenses sequer estão em guerra, como Pa-
quistão, Afeganistão, Iêmen, Líbano e Somália. A Casa
Branca admite que 116 “não combatentes” – eufemis-
mo para civis – foram mortos entre janeiro de 2009 e
dezembro de 2015 pelos drones dos EUA. Entretanto,
para a ONG Bureau of Investigative Journalism, o nú-
mero foi bem maior: 801 pessoas.
A inspiração para o drone foi a temível “bomba voa-
dora” dos nazistas, a V-1 (Vergeltungswaffe-1), usada no
fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) para bom-
bardeios contra a Inglaterra e a Bélgica. Depois de atu-
ar nos teatros de operações da guerra, o Vant ganhou
espaço na área civil, sobretudo em ações que envolvem
alto risco para os seres humanos.
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46 | MATEMÁTICA
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O drone é todo e qualquer tipo
de aeronave que não precisa de pi-
lotos embarcados para ser guiada.
Pode ser controlado a distância
por meios eletrônicos e computa-
cionais, sob a supervisão de huma-
nos, ou sem a sua intervenção, por
meio de Controladores Lógicos
Programáveis (CLP).
Ultimamente, o drone vem ga-
nhando versões mais atualizadas,
feitas de materiais leves e com no-
vas tecnologias para os mais diver-
sos fins.
Na área civil, os Vants são utili-
zados para a vigilância de frontei-
ras rurais e urbanas, identificação
de pragas agrícolas, levantamento
de ocupações urbanas e monitora-
mento de redes de energia, entre
outros usos.
“Os drones não vieram para
substituir o trabalho do ser huma-
no, mas para complementá-lo, evi-
tando sua exposição a situações de
risco, cujo resultado final poderia
ser prejudicial à sua saúde. Em se-
gundo plano está a redução de cus-
tos, onde imagens aéreas de alta
resolução são necessárias, mas os
custos de operação de uma aero-
nave tripulada são muito altos”,
explica Gabriel Klabin, presidente
da Santos Lab, empresa que fabri-
ca drones, entres os quais os mo-
delos Carcará e Libélula.
“Outra vantagem é o ganho em
mobilidade, já que os drones po-
dem atuar em várias áreas, desde
um simples monitoramento de
uma plantação até uma incursão
policial, deixando o profissional
mais preparado para a ação que
terá que desenvolver”, completa.
Imagens geradas em atividades
de monitoramento por Vants apre-
sentam vantagens em relação às
imagens produzidas por satélites.
As imagens feitas por drones con-
seguem captar objetos bem peque-
nos, de até 5 centímetros, sendo su-
periores às imagens dos satélites,
que alcançam, no máximo, resolu-
ção de 30 cm × 30 cm por pixel.
Na área da biologia, por exem-
plo, especialistas apontam para
um futuro promissor para os equi-
pamentos voadores. Ele já é uti-
lizado, com sucesso, por pesqui-
sadores da Universidade Federal
de Mato Grosso (UFMT) para o
levantamento de imagens aéreas
em um projeto que tem o objetivo
de recuperar áreas degradadas.
Alguns modelos são produzidos
com material bastante resistente,
como o Kevlar (utilizado em cole-
tes à prova de balas, por exemplo),
podendo alcançar até mil metros
de altura e voar, sem parar, du-
rante 90 minutos. Em um dia, um
drone pode mapear entre 2 mil e 3
mil hectares.
O primeiro drone de que se tem
registro no Brasil foi o BQM1BR,
fabricado pela extinta CBT (Com-
panhia Brasileira de Tratores), de
propulsão a jato. Esse protótipo
serviria como alvo aéreo e reali-
zou um voo em 1983. Outro drone
de que se tem conhecimento é o
Gralha-Azul, produzido pela Em-
bravant. Os dois primeiros protó-
tipos do Gralha-Azul realizaram
vários ensaios em voo, operando
com radiocontrole.
Os primeiros Vants da empre-
sa Santos Lab, os Carcará, fo-
ram desenvolvidos para atender
ao Corpo de Fuzileiros Navais da
Marinha. Em 2016 foram criadas
versões para uso civil, em especial
voltado para as áreas de agricul-
tura de precisão, meio ambiente e
topografia.
Já o drone Libélula foi desen-
volvido para aplicar larvicidas nos
focos do mosquito Aedes aegypti.
O modelo evoluiu para sua versão
A “bomba voadora” V-1, usada pelos alemães entre 1944 e 1945.
O Carcará, drone brasileiro desenvolvido para
atender os fuzileiros navais.
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militar, cujo foco principal é reconhecimento aproximado.
Uso militar e policial
no Brasil
No Brasil, as Forças Armadas, as polícias e os bombeiros podem adquirir Aeronaves Remotamen-te Pilotadas (ARP), ou drones, de acordo com suas necessida-des. Contudo, o Departamento de Controle do Espaço Aéreo (De-cea), órgão de Comando da Ae-ronáutica, é que estabelece as regras para os voos, assim como ocorre com qualquer outro tipo de aeronave.
A Força Aérea Brasileira (FAB) recebeu em 2011 quatro aerona-ves RQ-450 e uma RQ-900. To-das são operadas pelo Esquadrão Hórus, sediado na Base Aérea de Santa Maria (RS), mas com atuação em todo o território nacio-nal. Seus Vants já foram deslocados para a fronteira em razão das ope-rações Ágata, dentre outras. As ae-ronaves da FAB são utilizadas em missões de vigilância e reconheci-mento, desarmadas, utilizando-se de sensores óticos e eletrônicos.
O Exército brasileiro já empre-gou Vants nas Operações Ágata
e Laçador, utilizando o modelo RQ -450, entre 2011 e 2013, e atualmente está conduzindo um projeto de pesquisa e desenvolvi-mento de um sistema composto de três aeronaves não tripuladas, com o objetivo de verificar a via-bilidade do seu emprego.
Mercado
O mercado de drones no Brasil movimentou em 2016, R$ 200 milhões, segundo a MundoGEO, empresa especiali-zada no setor. Desse montante, grande parte virá da atividade de
Na área civil,
os Vants são
utilizados
para a
vigilância
de fronteiras,
combate a
pragas,
levantamento
de ocupações
urbanas e
monitoramento
de redes de
energia pequenas e médias empresas. Já a empresa de pesquisa Markets and Markets estima que o mercado global de drones vá crescer apro-ximadamente 30% entre 2015 e 2020, com uma indústria de cerca de US$ 5,5 bilhões.
No futuro, o uso dos drones ten-de a aumentar, viabilizando pro-jetos ligados a monitoramento da fauna silvestre e exótica, recursos hídricos, paisagismo, saneamen-to, rodovias e ocorrências de trân-sito, além de evoluir na ampliação da autonomia e da tecnologia em-barcada.
O drone Libélula, desenvolvido para aplicar
larvicidas em focos do Aedes aegypti.
O drone israelense RQ-450, projetado para longas missões de resistência.
O drone militar brasileiro BQM1BR, projetado e construído
pelo Centro Técnico Aeroespacial (CTA).
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ATUALIZA | FEVEREIRO 2017
48 | MATEMÁTICAResposta: b
EM FOCO
Regulamentação Em 2015, a Anac (Agência Nacional de Aviação
Civil) colocou em audiência pública uma propos-
ta de regulamentação para utilização de Vants não
autônomos, também conhecidos como Aeronaves
Remotamente Pilotadas (RPA, sigla do inglês Re-
motely Piloted Aircraft) e aeromodelos.
Como os drones compartilham o espaço aéreo
com aeronaves civis, é preciso que sejam estabele-
cidos os padrões mínimos de segurança operacio-
nal, que permitam o tráfego de ambos.
A Agência aguarda a aprovação de uma Medi-
da Provisória (MP), que está sendo trabalhada no
âmbito da Secretaria de Aviação Civil, do Minis-
tério dos Transportes, Portos e Aviação Civil, que
terá interferência na nova regulação de Vants. Até
que isso ocorra, para qualquer tipo de operação es-
pacial, o proprietário vai precisar de autorização
da Anac.
Atualmente, só é permitido operar RPAs no Bra-
sil quem possui uma autorização expressa da Anac
ou um Certificado de Autorização de Voo Experi-
mental (Cave), emitido segundo a IS n. 21-002A.
No âmbito internacional, a FAA (Federal Aviation
Administration), nos EUA, já emitiu regulamenta-
ção própria, assim como a Organização de Aviação
Civil, que serve de guia para os países-membros.
C8 Apropriar-se de conhecimentos da
Biologia para, em situações-problema,
interpretar, avaliar ou planejar intervenções
científi co-tecnológicas.
H30 Avaliar propostas de alcance individual ou
coletivo, identifi cando aquelas que visam
à preservação e à implementação da saúde
individual, coletiva ou do ambiente.
As áreas verdes de Niterói serão monitoradas pelo
céu. A Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Re-
cursos Hídricos e Sustentabilidade começou a ope-
rar um drone que vai sobrevoar diariamente as áreas
de preservação permanente da cidade. O equipa-
mento será usado em conjunto com a Defesa Civil
na identifi cação de focos de incêndios fl orestais e
no combate à ocupação irregular. Principal causa
da perda de vegetação em Niterói, as queimadas
estão no foco do trabalho que deve ser iniciado ofi -
cialmente nas próximas semanas. Só no primeiro
semestre deste ano, foram registrados 118 incên-
dios na cidade. Em 2015, houve 230. O Corpo de
Bombeiros ainda calcula o quanto isso representa
em área devastada, mas os 776 incêndios registra-
dos em 2014 subtraíram 18% da mata. Na maior
parte dos casos, a origem do fogo está na queda de
balões e pequenas fogueiras feitas por moradores
para queimar lixo.
Disponível em: <http://oglobo.globo.com/rio/
bairros/drone-comeca-ser-usado-no-monito-
ramento-de-queimadas-em-niteroi-19855948>
Acesso em: 24 nov. 2015.
O uso dos drones no monitoramento de incêndios e
de ocupações irregulares:
a) não é recomendável porque compromete a bio-
diversidade representada pelas plantas, animais e
outros tipos de organismos das áreas protegidas.
b) é recomendável porque ocupações irregulares e
incêndios devastam as áreas de preservação e eli-
minam os seres vivos que ali habitam.
c) não é recomendável porque as queimadas pre-
servam os microrganismos do solo, que são res-
ponsáveis por sua fertilidade.
d) não é recomendável porque representa uma in-
vasão à privacidade das pessoas residentes no local.
e) é recomendável porque serve para indicar as áreas
mais adequadas para o desmatamento, evitando a
devastação total do local.
O drone militar estadunidense General Atomics Q1 Predator.
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Assistir a filmes sem legenda é uma forma interessante e divertida
de aprender ou praticar a língua inglesa (ou outro idioma desejável).
Filmes de espiões, como James Bond, o agente 007, atraem
grande público, tanto que são reinventados frequentemente.
Seis atores diferentes interpretaram Bond ao longo de mais
de 50 anos. Nesta atividade, você deve tentar descobrir a
palavra (em inglês) associada a cada definição do universo
da espionagem.
Para testar a capacidade de raciocínio lógico de seus alunos, um professor propôs a eles um desafio.
Solicitou três voluntários; apresentaram-se Roger,
Gabriel e Dudu, que foram colocados em fila.
Em seguida, mostrou a eles cinco bonés,
sendo três brancos e dois verdes. Pediu
que ficassem de olhos fechados e colocou
na cabeça de cada um deles um dos bonés,
de modo que, ao abrirem os olhos, cada aluno
só pudesse visualizar o boné dos colegas que
estivessem à sua frente, mas fosse incapaz
de observar o boné que estivesse usando e
muito menos o dos colegas que estivessem
atrás. Dessa forma, Roger, que era o último
aluno da fila, via os bonés dos outros dois;
Gabriel, o do meio, só via o boné à sua frente; e
Dudu, o primeiro aluno da fila, não via qualquer
boné. O professor, então, pediu a Roger que
dissesse a cor de seu boné; ele não soube dizer.
Repetiu a pergunta a Gabriel e este também não
conseguiu responder. Fez a pergunta a Dudu;
este respondeu corretamente.
Qual foi a resposta de Dudu? Como ele
conseguiu acertar?
Palavra Significado
O que James Bond é
Para quem James Bond trabalha
Equipamento de escuta
Informante ou agente duplo
Vilão
Auxiliar ou capanga do vilão
Bugiganga, traquitana, recurso tecnológico
O desafio dos b nés
I spy! AsAsAssisisstir a filmtir a filmtir a filmtir a filmtir a filmees s
de apde apde apde aprrender ou pender ou pender ou pender ou pender ou pender ou p
FilmFilmFilmees de s de s de s de espiõspiõ
g grande públiande públiande públiande públi
SSeis aeis aeis att
de 50 ande 50 ande 50 ande 50 an
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ENCARE ESSA!DESAFIOS PARA O SEU RACIOCêNIO
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DIÁLOGO COM A ARTEEXPRESSÕES DA SENSIBILIDADE HUMANA
No fim da vida, o pintor, desenhista e gravurista francês Henri-Émile-Benoît Matisse (1869-1954), já bastante debilitado, produziu uma série de papéis recortados pintados a guache, como este, intitulado Nu Azul II (Blue Nude II, 1952, Centro Pompidou, Paris). Inicialmente tido como um dos líderes do fauvismo, Matisse ficou conhecido pelo uso fluido e original que fez da cor, desenvolvendo uma técnica própria e altamente sofisticada.
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ATUALIZA | FEVEREIRO 2017
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Dimensões da obra: 112 x 73,5 cm.
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LINGUAGENS A MESÓCLISE E AS DISPUTAS EM TORNO DA LÍNGUA
CIÊNCIAS HUMANASA CONQUISTA DA AMÉRICA:
ESCRAVIDÃO E RESISTÊNCIA
CIÊNCIAS DA NATUREZADOPING E OLIMPÍADAS
MATEMÁTICAGRANDEZAS PROPORCIONAIS
E ADESTRAMENTO CANINO
REDAÇÃOCOMO LIDAR COM O AUMENTO DA INTOLERÂNCIA?
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#atualize-se
Atualiza Enem é um suplemento da revista Atualiza.
Diretoria editorialRenata Mascarenhas
Coordenação editorialBárbara Muneratti e Renato Tresolavy
AutoresLinguagens e Redação:José Ruy Lozano
Matemática:Rafael Zattoni
Ciências da Natureza:Daniel Nadaleto
Ciências Humanas:Paula Nomelini
EdiçãoRenato Tresolavy
RevisãoHélia de Jesus Gonsaga (ger.), Kátia Scaff
Marques (coord.), Rosângela Muricy (coord.),
Adriana de Rinaldi, Claudia Virgilio, Gabriela
Macedo de Andrade e Luís Maurício Boa Nova
DiagramaçãoDaniela Amaral (coord.), Daniel de Paula Elias
CapaDaniel de Paula Elias
Foto da capaBlend Images/Getty Images
Impressão e acabamento
SER, GEO, MAXI e ÉTICODIVISÃO DE SISTEMAS DE ENSINO
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Ano novo, antigos desafi os
Novo ano, vida nova. Mário Quintana nos relembra que o tempo voa, e disso temos certeza. “Quando se vê, já são seis horas! Quando se vê, já é sexta-feira! Quando se vê, já é Na-tal... Quando se vê, já terminou o ano”, diz o poeta.
Completamos o poema dizendo: e já estamos em 2017.O ano novo começa trazendo-nos antigos problemas; bas-
ta olhar para nossas cidades. Nosso entorno revela a necessidade de criarmos proje-
tos de vida urbana mais sustentáveis, como o que se deu no esforço mundial para banir o CFC. Ações governamentais contra o CFC nos mostram que gestores e cidadãos devem entender as cidades, a natureza e o meio ambiente como partes integrantes de cada um de nós. Essa é uma questão de cidadania.
O exercício da cidadania é outro problema que não está resolvido. Muitos brasileiros estão aplaudindo o protagonis-mo e o ativismo político do Poder Judiciário na luta contra a corrupção, embora sejam os poderes, Executivo e Judiciá-rio, juntamente com a população, os principais responsáveis pela construção de um Brasil mais sustentável. Porém, no vácuo de uma atuação responsável dos poderes Legislativo e Executivo, praticamos a “judicialização” da política, questão sobre a qual precisamos muito refletir.
Sustentabilidade, cidadania e inclusão social são as pala-vras fundamentais para nossos projetos de ano novo. Não é mais tolerável continuarmos excluindo grupos minoritários e ironizando-os em nome do humor e da sátira, já que as fron-teiras entre o cômico e o eticamente correto são muito tê-nues. Por isso, antes de curtirmos e compartilharmos “pia-das” e “memes”, é fundamental fazer uma reflexão sobre a mensagem que trazem, num exercício de alteridade.
Por fim, é necessário lembrar a poluição sonora. Não é possível viver de forma sustentável e com qualidade com tal forma de agressão. Pesquisas revelam que ruídos com mui-tos decibéis, somados à prática de ouvir aparelhos sonoros em alto volume, têm aumentado o número de casos de defi-ciência auditiva entre os jovens. É fundamental evitarmos tal situação!
Desejamos que no ano que se inicia você não perca a au-dição, no sentido denotativo, e que tampouco a perca cono-tativamente: que você ouça os pedidos de socorro de seu entorno e exerça sua cidadania participando, cooperando e propondo intervenções solidárias como resolução de nossos velhos problemas num ano novo.
Francisca ParisPedagoga e mestra em Educação
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LinguagensLLinguagLLinguag
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Em profundidade
No livro Não é errado falar
assim! Em defesa do português
brasileiro (Parábola Editorial,
2009), o linguista e professor
da UnB Marcos Bagno mostra
como algumas construções já
incorporadas aos mais cultos
contextos de escrita no Brasil
ainda são condenadas pela
gramática tradicional. Trata-se
de uma refl exão profunda e bem
informada sobre a variação e a
dinâmica da língua portuguesa.
A mesóclise e as disputas em torno da língua
“Se mais não fosse, sê-lo-ia...”
“Se houver algum erro, corrigi-lo-ei.”
Colocação pronominal frequente nos discursos do presidente Michel Temer, que assu-
miu o cargo após controverso processo de impeachment e intensa crise política, a mesócli-
se gerou grande polêmica nos meios de comunicação.
Os mais conservadores politicamente foram em geral elogiosos ao retorno do que cha-
maram de “verdadeira língua portuguesa”, aquela que obedece aos padrões gramaticais.
Para eles, voltava ao poder o prestígio da norma culta, que teria sido aviltada durante os
governos anteriores.
Já os partidários da mandatária afastada Dilma Rousseff, muitos deles identifi cados à
esquerda do panorama político brasileiro, logo associaram as mesóclises presidenciais ao
suposto atraso de suas ideias, combinando, por exemplo, o uso rebuscado do idioma ao
fato de Temer não ter nomeado mulheres em seu ministério, ou de propor medidas rigi-
damente ortodoxas no campo econômico. Assim, o conservadorismo político do governo
Temer estaria refl etido no uso de formas pretensamente arcaicas da língua portuguesa.
Após meses de debates e brincadeiras nas redes sociais, aos quais você, aluno antenado
de Ensino Médio, deve ter prestado atenção, resta a pergunta: o uso da língua é também
uma questão política?
Gramáticos e especialistas mais tradicionais evitam essa abordagem. Eles costumam investir
na ideia de que a língua é um corpus de normas mais ou menos estáveis, prescritas aos falantes.
Há um uso do idioma considerado bom ou desejável, que todos deveriam respeitar nas mais di-
versas circunstâncias. Tal conjunto de regras seria neutro e aplicável a todos, indistintamente.
Há, no entanto, linguistas e acadêmicos com abordagens bastante distintas. Para eles,
a linguagem é um fenômeno a ser reconhecido cientifi camente, ou seja, com base na ob-
servação e na análise do uso real dos falantes, em contextos diversos e situações reais de
comunicação. Não haveria um “bom uso” da língua, mas sim formas adequadas a con-
textos mais formais e monitorados, e outras próprias de contextos menos formais. Além
disso, há as possíveis variações de registro, de caráter regional, histórico e social.
Em profundidade
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(Enem-2012)
Texto I
Antigamente
Antigamente, os pirralhos dobravam a língua diante dos pais, e se um se esquecia de arear os dentes antes de cair nos braços de Morfeu era capaz de entrar no couro. Não devia também se esquecer de lavar os pés sem tugir nem mugir. Nada de bater na cacunda do padrinho, nem de debicar os mais velhos, pois levava tunda. Ainda cedinho, aguava as plantas, ia ao corte e logo voltava aos penates. Não ficava mangando na rua, nem escapulia do mestre, mesmo que não entendesse patavina da instrução moral e cívica. O verdadeiro smart calçava botina de botões para comparecer todo liró ao copo-d’água, se bem que no convescote apenas lambiscasse, para evitar flatos. Os bilontras é que eram um precipício, jogando com pau de dois bicos, pelo que carecia muita cautela e caldo de galinha. O melhor era pôr as barbas de molho diante de um treteiro de topete, depois de fintar e engambelar os coiós, e antes que se pusesse tudo em pratos limpos, ele abria o arco.
ANDRADE, C. D. Poesia e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1983 (fragmento).
C8 Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da orga-
nização do mundo e da própria identidade.
H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísti-
cas sociais, regionais e de registro.
Em foco
O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) adota esta última visão, mais pluralista e dinâmica, sobre a língua portuguesa e
o fenômeno das linguagens de modo geral. Isso não quer dizer que a prova despreze o registro padronizado e culto, ou que você
esteja liberado para fugir das regularidades gramaticais formalmente autorizadas em sua redação, por exemplo. O Enem, no
entanto, também avalia sua capacidade de reconhecimento das variantes linguísticas e sua compreensão de textos produzi-
dos em diferentes registros de linguagem.
Aliás, há uma competência específica avaliada pelo teste da área de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias e três habilidades
sobre as variantes associadas a ela. Veja:
Competência de área 8 – Compreender e usar a língua portuguesa como língua ma-
terna, geradora de significação e integradora da organização
do mundo e da própria identidade.
H25 – Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singula-
rizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro.
H26 – Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social.
H27 – Reconhecer os usos da norma-padrão da língua portuguesa nas diferentes situações
de comunicação.
Algumas observações cabem aqui. A afirmação de que a língua portuguesa é “integradora da organização do mundo e da pró-
pria identidade” é poderosa! Por meio da língua, manifestamos quem somos, de onde viemos, de que lugar histórico, social e po-
lítico falamos e nos fazemos ouvir. Logo, textos de ensaios acadêmicos, que se expressam por meio do registro-padrão, podem
estar ao lado de uma letra de rap ou de uma canção típica do meio rural. Cada um desses textos demarcará uma visão de mundo,
por meio também de peculiaridades de linguagem. Cada um, em suma, terá um vocabulário próprio, construções sintáticas di-
ferentes, maneiras distintas de manobrar o idioma.
Sem pensar em hierarquias de melhor ou pior, o Enem propõe que pensemos a língua portuguesa em sua diversidade. Singu-
laridades locais ou regionais, adequação da expressão a diferentes contextos – mais ou menos formais – e também as formas de
uso consagradas pela norma gramatical padrão. Por exemplo: na sentença “Tem um problema no sistema”, o que marca a infor-
malidade? O aluno deverá reconhecer que o uso do verbo ter com sentido de haver é um sinal de que a frase é própria de situa-
ções informais. Em contextos mais monitorados, dar-se-ia (olha a mesóclise aí!) preferência ao verbo haver.
Em tempo: mesmo nas gramáticas mais normativas, prescritivas e tradicionais, a mesóclise é considerada uma forma de co-
locação pronominal em desuso.
Em tempo, ainda: propusemos acima uma pergunta: a língua é uma questão política? Sim, é. Acreditamos ter justificado a resposta.
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Linguagens
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GabaritoConfira as resoluções no Portal de seu Sistema de Ensino.
1. d 2. a
O texto a seguir fundamenta as questões 1 e 2.
O rap nasceu como manifestação artística da juventude negra urbana dos Estados Unidos. No Brasil, o estilo musical, marcado pela denúncia social direta em relação à vida nas grandes cidades e suas periferias, tem no grupo paulistano Racionais MC’s uma de suas principais referências. A música “Homem na estrada” é uma das canções mais conhecidas do rap brasileiro. Leia alguns trechos.
Homem na estrada
[...]Amanhece mais um dia e tudo é exatamente igual. Calor insuportável, 28 graus. Faltou água, já é rotina, monotonia, não tem prazo pra voltar, hã!,já fazem cinco dias.
[...]Empapuçado ele sai, vai dar um rolê. Não acredita no que vê, não daquela maneira, crianças, gatos, cachorros disputam palmo a palmo seu café da manhã na lateral da feira. Molecada sem futuro, eu já consigo ver, só vão na escola pra comer [...]
(Vagalume. Disponível em: <www.vagalume.com.br/racionais-mcs/homem-na-estrada.html#ixzz3uf9v2uu7>. Acesso em: 17 nov. 2016.)
1 C5/H16 Sobre as formas utilizadas na composição, afirma-se que:a) a letra se compõe por versos livres e sem rima.b) a canção se estrutura com grande regularidade métrica.c) o desprezo pela rima é característico do gênero composicional.d) a letra apresenta rimas assonantes e aproximativas.e) a proximidade com a linguagem oral impede regularidades
formais.
2 C8/H25 A letra da canção apresenta fortes marcas de oralidade, típicas do gênero musical rap.Tais marcas ficam evidentes no(a):a) composição das rimas, que remetem à linguagem falada.b) flexão verbal em tempo presente, que não se adéqua ao contexto.c) uso de termos coloquiais, como “empapuçado” e “feira”.d) uso constante da primeira pessoa, que aumenta a subjetividade.e) caráter abreviado dos versos e de suas construções sintáticas.
Atividades
Texto II
Palavras do arco-da-velha
Expressão Significado
Cair nos braços de Morfeu Dormir
Debicar Zombar, ridicularizar
Tunda Surra
Mangar Escarnecer, caçoar
Tugir Murmurar
Liró Bem-vestido
Copo-d'água Lanche oferecido pelos amigos
Convescote Piquenique
Bilontra Velhaco
Treteiro de topete Tratante atrevido
Abrir o arco Fugir
FIORIN, J. L. As línguas mudam. In: Revista Língua Portuguesa, n. 24, out. 2007 (adaptado).
Na leitura do fragmento do texto “Antigamente”, constata-se, pelo emprego de palavras obsoletas, que itens lexicais outrora produtivos não mais o são no português brasileiro atual. Este fenômeno revela que:a) a língua portuguesa de antigamente carecia de termos para se
referir a fatos e coisas do cotidiano.b) o português brasileiro se constitui evitando a ampliação do léxico
proveniente do português europeu.c) a heterogeneidade do português leva a uma estabilidade do seu
léxico no eixo temporal.d) o português brasileiro se apoia no léxico inglês para ser
reconhecido como língua independente.e) o léxico do português representa uma realidade linguística
variável e diversificada.
Alternativa: eA questão apresenta alternativas que podem confundir o aluno menos atento ao tema da variação linguística. A alternativa a, por exemplo, chama a atenção ao uso de termos de língua estrangeira presentes no texto I e relaciona-o a uma suposta carência de palavras no português. Além de não abranger todas as diferenças, trata-se de afirmação errada, pois a influência de línguas estrangeiras é um processo que não tem relação necessária com insuficiências da língua materna. A alternativa b é evidentemente errada, pois toda a ampliação lexical constitui um desvio local do português brasileiro perante o original europeu. A alternativa c utiliza termos sofisticados para afirmar exatamente o contrário do que demonstram os textos-base, ou seja, a mudança (ou instabilidade) lexical. A alternativa d reitera o desvio de leitura sugerido pela alternativa a. Já a alternativa e, correta, sintetiza o próprio conceito de variação linguística.
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MatemáticamMatemáticamMatemática
56
Grandezas proporcionais e
adestramento caninoMichele é dona de um pequeno centro de adestramento canino, no interior do estado de
São Paulo. Apesar de não ser uma empresa de grande porte, ela tem tido um bom destaque
no ramo ultimamente, pois seus cães têm vencido três de cada quatro torneios disputados.
Atualmente, em decorrência da atenção que o centro de adestramento ganhou, os ne-
gócios deram uma boa expandida. Assim, Michele já não tem tido o mesmo tempo para
adestrar e tem-se dedicado mais à administração do centro.
Hoje ela estuda a possibilidade de adoção de mais 4 cães, que foram encontrados por
uma amiga e acolhidos temporariamente em sua casa.
O centro conta atualmente com 20 cães adultos, que comem em média a mesma quantidade
de ração. Assim, a ração estocada (120 kg) deve durar mais 16 dias. Como Michele é bem orga-
nizada e cuidadosa, há uma nova entrega de ração programada para daqui a 14 dias. Querendo
acolher os novos cães (também adultos) no prazo de três dias, Michele precisa saber se a quan-
tidade de ração será sufi ciente ou se precisará pedir aos fornecedores que adiantem a entrega.
Para resolver tal situação, vamos retomar alguns conceitos importantes.
Razões entre grandezasTudo aquilo que se pode medir ou contabilizar pode ser chamado de grandeza. E ra-
zão é uma das maneiras de se comparar grandezas.
• Razões entre grandezas do mesmo tipo
Quando indicamos uma razão entre duas grandezas do mesmo tipo, essas grandezas
devem estar na mesma unidade e o resultado será um número puro (sem unidade), como
em escalas de mapas, por exemplo.
Se um mapa for representado em uma escala de 1 : 5 000 (lemos: “1 para 5 000”), signifi -
ca que cada unidade de comprimento medida no mapa corresponde, na realidade, a 5 000
unidades de mesma dimensão, ou seja, cada centímetro medido no mapa corresponde a
5 000 cm = 50 metros.
Os exemplos de aplicações são incontáveis; até mesmo a probabilidade simples de um
evento ocorrer é calculada pela razão entre o número de eventos favoráveis e o número
de eventos possíveis.
• Razões entre grandezas diferentes
Existem inúmeras aplicações, nas mais diversas áreas, deste tipo de razão. Por exem-
plo, a velocidade de um móvel pode ser dada pela razão entre a medida do deslocamento
e o tempo gasto nesse movimento; a densidade de um corpo é a razão entre sua massa e
seu volume; a concorrência de um curso superior pode ser dada na razão de candidatos
por vaga; muitos remédios têm suas dosagens indicadas em mg ou mL, por quilograma de
massa do paciente.
Em profundidade
Para mostrar mais uma
aplicabilidade de grandezas
proporcionais, destacamos
recurso do projeto
M3 Matemática Multimídia,
desenvolvido pela Universidade
Estadual de Campinas
(Unicamp):
A velha história das multidões.
Disponível em: <http://m3.ime.
unicamp.br/recursos/1189>.
Acesso em: 14 out. 2016.
Para ir ainda mais além,
sugerimos o livro A Matemática
e a Monalisa, de Bülent Atalay,
publicado pela Mercuryo
Editora. Nesse livro, o autor nos
conduz a passeios por diversas
épocas e locais, analisando a
presença de uma das constantes
mais famosas e intrigantes
da Matemática em obras de
arte, na Arquitetura e no corpo
humano: a razão áurea.
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ProporçãoEste é o nome que se dá à igualdade entre duas razões.
Assim, ab
cd
= (lemos: “a está para b, assim como c está para
d”), com b ≠ 0 e d ≠ 0, é um exemplo de proporção. Tal proporção
possui diversas propriedades importantes.
Vamos rever as seguintes propriedades da proporção anterior:
=ac
bd
db
ca
= ad = bc
Grandezas proporcionaisLendo a história do centro de adestramento de Michele, per-
cebemos que algumas grandezas, dentro de determinado con-
texto, dependem umas das outras. No texto citado temos quan-
tidades de cães, ração e dias (duração da ração em estoque),
todas grandezas proporcionais.
Para você entender melhor, vamos começar comparando as
duas últimas (quantidades de ração e dias).
De acordo com o texto, o estoque é de 120 kg de ração e deve
ser suficiente para 16 dias. Assim, podemos inferir que a meta-
de dessa quantidade de ração seria suficiente para a metade da
quantidade de dias, o triplo dessa quantidade de ração seria su-
ficiente para o triplo da quantidade de dias, e assim por diante.
Veja a tabela com algumas situações:
Ração (kg)
120 60 240 30 15 45 90
Tempo (dias)
16 8 32 4 2 6 12
As duas grandezas da tabela apresentada comportam-se da
mesma maneira, ou seja, são grandezas diretamente pro-
porcionais. Nesse caso, a razão entre elas é sempre constante.
Observe:12016
=608
=24032
=304
=152
=456
=9012
= L
Logo, utilizando uma proporção entre essas duas grandezas,
podemos calcular quantos quilogramas de ração serão gastos nos
próximos três dias (antes de o centro receber os novos animais):
x
Ração (kg)
120
Tempo (dias)
163
A situação, assim proposta, é chamada de regra de três simples.
Como as grandezas são diretamente proporcionais, podemos
escrever a seguinte proporção:
x120
=163
De acordo com uma das propriedades que destacamos ante-
riormente, temos:
xx x
120=
163
16 = 360 = 22, 5 kg⇒ ⇒
Portanto, nesses três dias, serão gastos 22,5 kg de ração, sobran-
do (120 – 22,5) 97,5 kg, para os (20 + 4) 24 cães, por (12 – 3) 9 dias,
até a entrega do novo carregamento de ração. Contudo, isso será
suficiente?
Assim, ao fazer uma regra de três simples entre grandezas
diretamente proporcionais, basta montar uma proporção
entre essas grandezas.
Agora, continuando nossos estudos, vamos determinar quan-
to tempo duraria a ração do estoque se Michele aceitasse os
4 novos cães no mesmo dia (ou seja, não esperasse 3 dias).
De acordo com o texto, os 20 cães consumiriam toda a ração
em 16 dias. Portanto, podemos inferir que a metade dessa quan-
tidade de cães consumiria essa ração no dobro do tempo, o triplo
da quantidade de cães consumiria toda a ração em um terço do
tempo, e assim por diante. Veja a tabela com algumas situações:
Cães (unidades)
20 10 60 40 5
Tempo (dias)
16 3216Ñ
38 64
As duas grandezas estudadas comportam-se de maneira in-
versa, ou seja, são grandezas inversamente proporcionais.
Em tal caso, o produto entre elas é sempre constante. Repare:
20 · 16 = 10 · 32 = 60 · 163
= 40 · 8 = 5 · 64 = ...
Podemos determinar quanto tempo o estoque de ração dura-
ria para 24 cães também usando uma regra de três simples:
y
Cães (unidades)
2024
Tempo (dias)
16
No entanto, como as grandezas são inversamente proporcio-
nais, só podemos montar uma proporção ao inverter uma das
razões. Assim, temos:
y2420
=16
De acordo com uma das propriedades que destacamos aqui,
temos:
y yy y
2420
=16 6
5=
166 = 80 = 13, 3 dias⇒ ⇒ ⇒
Logo, a ração acabaria antes da nova entrega e Michele fez
bem em esperar.
De modo geral, ao fazer uma regra de três simples entre
grandezas inversamente proporcionais, montamos uma pro-
porção entre tais grandezas invertendo uma das razões.
Regra de três compostaAgora que retomamos todos esses conceitos, vamos fechar
esta edição do Atualiza Enem de Matemática respondendo à
questão inicial: recebendo os novos cães em três dias, a quanti-
dade de ração no estoque será suficiente?
Até agora, sabemos que nos próximos três dias devem ser
consumidos 22,5 kg de ração, sobrando 97,5 kg para 24 cães. Va-
mos ver para quanto tempo tal quantidade será suficiente, fa-
zendo uma regra de três composta para as três grandezas (cães,
ração e tempo):
z
Cães (unidades)
2024
Ração (kg)
12097, 5
Tempo (dias)
16
Para resolver uma regra de três composta, primeiramente
comparamos cada uma das grandezas àquela que tem a incóg-
nita. Em seguida, igualamos a razão da grandeza da incógnita ao
produto das outras razões (ou razão inversa, se as grandezas fo-
rem inversamente proporcionais). Assim, como tempo e ração
são diretamente proporcionais, enquanto tempo e cães são in-
versamente proporcionais, temos:
⋅ ⇒ ⋅ ⇒ ⇒z z z
z16
=2420
12097, 5
16=
65
12097, 5
16=
720487, 5
= 10, 83 dias
Como a nova entrega de ração será feita 11 dias após a recepção
dos novos cães, o estoque será aproximadamente adequado.
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Matemática
58
1. d 2. aGabarito
1 C3/H12 O valor calórico de uma refeição, em kcal, é calculado de acordo com a quantidade de carboidratos, proteínas e gorduras totais. Em média, os carboidratos e as proteínas fornecem 4 kcal/g e as gorduras, 9 kcal/g. A tabela a seguir descreve os componentes nutricionais de uma refeição.
Alimento Carboidrato Proteína Gordura total
Arroz (100 g) 25,8 g 2,6 g 1,0 g
Feijão (80 g) 10,8 g 3,8 g 0,4 g
Carne moída (120 g) 0,0 g 32,0 g 13,0 g
Agrião (50 g) 1,1 g 1,3 g 0,1 g
Goiaba (80 g) 10,4 g 0,9 g 0,3 g
(Enem-MEC) A Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) de São Paulo testou em 2013 novos radares que permitem o cálculo da velocidade média desenvolvida por um veículo em um trecho da via.
As medições de velocidade deixariam de ocorrer de maneira instantânea, ao se passar pelo radar, e seriam feitas a partir da velocidade média no trecho, considerando o tempo gasto no percurso entre um radar e outro. Sabe-se que a velocidade média é calculada como sendo a razão entre a distância percorrida e o tempo gasto para percorrê-la.O teste realizado mostrou que o tempo que permite uma condução segura de deslocamento no percurso entre os dois radares deveria ser de, no mínimo, 1 minuto e 24 segundos. Com isso, a CET precisa instalar uma placa antes do primeiro radar informando a velocidade média máxima permitida nesse trecho da via. O valor a ser exibido na placa deve ser o maior possível, entre os que atendem às condições de condução segura observadas.
Disponível em: <www1.folha.uol.com.br/>. Acesso em: 11 jan. 2014.
C4 Construir noções de variação de grandezas para a compreensão da realidade e a solução de problemas do cotidiano.
H17 Analisar informações envolvendo a variação de grandezas como recurso para a construção de argumentação.
Em foco
Atividades
Com base apenas nas informações aqui apresentadas, sabe-se que o valor calórico dessa refeição é:a) 397,8 kcalb) 414,0 kcalc) 426,6 kcal
d) 488,0 kcale) 512,4 kcal
2 C4/H16 Para a inauguração de duas novas unidades, uma escola de idiomas realizou dois coquetéis com alunos e professores. No primeiro, com 3 horas de duração, o buffet contratado serviu 54 kg de petiscos, 63 garrafas de refrigerante e 36 L de suco. No segundo, com uma hora a menos de duração, foi solicitado ao buffet que a quantidade de alimentos e bebidas continuasse proporcional ao primeiro, por pessoa e por hora. A expectativa da gerência das escolas é que compareçam aos dois eventos, ao todo, 363 pessoas, na razão de 6 para 5, do primeiro para o
segundo. Assim, o buffet deverá servir no segundo coquetel:a) 30 kg de petiscos, 35 garrafas de refrigerante e 20 L de suco.b) 45 kg de petiscos, 50 garrafas de refrigerante e 30 L de suco.c) 36 kg de petiscos, 42 garrafas de refrigerante e 24 L de suco.d) 45 kg de petiscos, 42 garrafas de refrigerante e 36 L de suco.e) 54 kg de petiscos, 50 garrafas de refrigerante e 24 L de suco.
A placa de sinalização que informa a velocidade que atende a essas condições é:
a) 25km/h
b) 69km/h
c) 90km/h
d) 102km/h
e) 110km/h
Alternativa: cEsta atividade verifica a habilidade do aluno na identificação e na análise de grandezas proporcionais, bem como no trabalho com unidades de medida.Como as velocidades apresentadas estão dadas em km/h, vamos começar a resolução convertendo o tempo mínimo do trajeto para hora. 1 minuto e 24 segundos = 84 segundosComo 1 hora = 3 600 segundos, então 84 segundos correspondem
a 84
3 600=
7
300hora.
Assim, como velocidade é uma razão entre a medida de um deslocamento e o tempo gasto nele, temos:
⇒ ⋅ ⇒v v v=2,1
7
300
= 2,1300
7= 90 km/h
Portanto, para que se possa percorrer a distância entre um radar e outro, no mínimo em 1 minuto e 24 segundos, a velocidade máxima deve ser de 90 km/h.
Confira as resoluções no Portal de seu Sistema de Ensino.
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Em profundidade
<www.abcd.gov.br/>Site da Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD) com a lista de substâncias proibidas no esporte, a legislação e outras informações sobre os procedimentos relativos ao controle da dopagem. Acesso em: 23 out. 2016.
<http://abcd.gov.br/arquivos/CodigoMundialAntidopagem/Cdigo_Mundial_Antidopagem_2015_Portugus_-_WEB.pdf>Código Mundial Antidopagem, 2015. Acesso em: 23 out. 2016.
<www.abcd.gov.br/arquivos/lista20150101.pdf>Lista das substâncias proibidas no esporte. Acesso em: 23 out. 2016.
Doping e Olimp’adas
O uso de qualquer droga que possa melhorar o desempenho ou fazer mal à saúde dos
atletas é considerado doping, segundo a AMA (Agência Mundial Antidoping). O termo
"droga" não se refere apenas às substâncias ilícitas, mas a todas aquelas, naturais ou sin-
téticas, que alteram o funcionamento do organismo; portanto, inclui os medicamentos. O
doping está presente desde a Antiguidade nos Jogos Olímpicos. Há relatos do escritor gre-
go Philostratus sobre o uso de chás e cogumelos por atletas em Olímpia, na Grécia antiga.
Mas, em 1968, começaram os primeiros testes antidoping nos Jogos Olímpicos.
Os testes são realizados em amostra de sangue ou urina do atleta, esporadicamente, sem
aviso prévio, antes ou após as competições. O fator surpresa é importante para impedir
que o atleta, com base no calendário de competições, interrompa o uso da droga e limpe o
organismo antes dos jogos, mascarando o doping. Ser fl agrado pode resultar em perda de
medalha, em suspensão e até no fi m de uma carreira. Os principais tipos de substâncias
utilizados, apesar de proibidos, são: anabolizantes, estimulantes, fatores de crescimento,
diuréticos e analgésicos narcóticos.
Anabolizantes, como esteroides androgênicos anabólicos, são hormônios sintéticos que
imitam a testosterona (produzida a partir do colesterol). Apesar de ser conhecida como
um hormônio masculino, a testosterona (produzida nos testículos) também é encontrada
nas mulheres, em menor quantidade (produzida nas glândulas adrenais ou suprarrenais).
Seus efeitos incluem ação andrógena (desenvolvimento de características sexuais mascu-
linas, como voz mais grossa, crescimento do órgão sexual, aumento de pelos nas axilas e
nos genitais, barba e bigode, agressividade, etc.) e ação anabólica (diminuição da gordura
corporal e aumento da massa muscular e da força). Os anabolizantes também aumentam
o número de hemácias e a capacidade respiratória. Porém, podem causar câncer de fígado,
impotência sexual, esterilidade, infarto, etc.
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Alguns hormônios e fatores de crescimento são:
LH, GH, hCG, eritropoetina e insulina. O LH é um
hormônio produzido pela adenoipófise que promo-
ve a ovulação (nas mulheres) e estimula os testículos
(nos homens) a liberarem a testosterona, causando
o aparecimento de características sexuais secundá-
rias, entre elas o desenvolvimento da musculatu-
ra. Assim, o uso de LH pelos homens tem um efeito
anabolizante indireto, por estimular a produção de
testosterona.
O GH, ou hormônio do crescimento, também é
produzido pela adenoipófise e age na epífise dos os-
sos e no aumento muscular (efeito desejado no do-
ping). Sua produção anormal durante a infância
pode causar o gigantismo (excesso de GH) ou o na-
nismo (falta de GH), e seu excesso na vida adulta
causa a acromegalia (crescimento de extremidades,
como mãos, pés e queixo). Já o hCG é um hormônio
placentário identificado na urina, nos testes de gra-
videz comprados em farmácias, mas que também es-
timula a produção de hormônios esteroides; assim,
tem efeito anabolizante indireto.
A insulina, hormônio produzido no pâncreas, di-
minui a glicemia (taxa de glicose no sangue), pois faz
com que a glicose (monossacarídeo) seja armazenada
dentro das células na forma de glicogênio (polissaca-
rídeo). Contudo, a insulina também altera o metabo-
lismo e tem efeito anabolizante. Ela é permitida, po-
rém para os atletas com diabetes melito.
A eritropoetina é um hormônio produzido nos rins
(85%) e no fígado (15%) que estimula a síntese de
hemácias pela medula óssea. Com mais hemácias, há
maior transporte de O2, aumentando, assim, a taxa
de respiração celular e, consequentemente, de gera-
ção de energia para os músculos. Isso permite maior
esforço muscular, utilizando o metabolismo aeróbi-
co para a produção de energia, diminuindo efeitos
de câimbra e dor causados pelo ácido láctico gera-
do pelo metabolismo anaeróbico. A liberação desse
hormônio é naturalmente estimulada em situações
de hipóxia, seja por hemorragia, seja por baixa con-
centração de O2 em altas altitudes. A eritropoetina
pode causar hipertensão e infarto como efeitos cola-
terais do doping.
Os analgésicos narcóticos, como a morfina, dimi-
nuem a dor e são utilizados, principalmente, em es-
portes de alta resistência. Por ocultar a sensação de
dor, eles podem levar ao agravamento das lesões, caso
o atleta aumente o esforço. Estimulantes como anfe-
taminas e efedrina (para emagrecer) agem no sistema
nervoso central, com efeitos análogos aos da adrena-
lina (aumento da frequência respiratória e cardíaca).
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Ciências da Natureza
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Confira as resoluções no Portal de seu Sistema de Ensino. Gabarito 1. d 2. c
1 C4/H14 Um grupo de substâncias proibidas nos Jogos Olímpicos é o dos anabolizantes, como os esteroides androgênicos anabólicos, hormônios sintéticos que mimetizam a testosterona. Esta última é um hormônio sexual sintetizado a partir do colesterol, que pode alterar o funcionamento do organismo. Assim:
a) as mulheres não devem fazer uso de testosterona, pois é um hormônio masculino.b) as mulheres não devem fazer uso de testosterona, pois aumenta o colesterol no organismo devido ao fato de ser um hormônio esteroide
(lipídico).c) as mulheres devem evitar o uso de testosterona, já que é um hormônio sintetizado exclusivamente pelos testículos.d) as mulheres devem evitar o uso de testosterona, pois o excesso desse hormônio já existente em seu corpo pode alterar o funcionamento
do organismo.e) as mulheres podem utilizar esse hormônio, uma vez que é exclusivamente masculino e, portanto, não altera funções no corpo da mulher.
2 C4/H14 Um atleta brasileiro ficou de fora das Olimpíadas do Rio 2016 ao ser flagrado no teste antidoping pelo uso de uma das substâncias proibidas pela AMA (Agência Mundial Antidoping), a EPO, que é semelhante à eritropoetina, hormônio produzido nos rins e que atua na produção de novas hemácias. O hormônio eritropoetina, a versão natural da EPO, é uma substância:
a) produzida por glândulas exócrinas, localizadas em nossos rins.b) que age nas células renais, aumentando a quantidade de hemácias.c) que age na medula óssea, aumentando a taxa de eritrócitos.d) que tem como consequência o aumento do metabolismo anaeróbico, por atuar na produção de novas hemácias.e) que tem sua liberação estimulada naturalmente em locais de baixa altitude.
Atividades
(Enem-MEC) A adaptação dos integrantes da seleção brasileira de futebol à altitude de La Paz foi muito comentada em 1995, por ocasião de um torneio, como pode ser lido no texto a seguir. “A seleção brasileira embarca hoje para La Paz, capital da Bolívia, situada a 3 700 metros de altitude, onde disputará o Torneio Interamérica. A adaptação deverá ocorrer em um prazo de 10 dias, aproximadamente. O organismo humano, em altitudes elevadas, necessita desse tempo para se adaptar, evitando-se, assim, risco de um colapso circulatório.” (Adaptado da revista Placar, edição fev. 1995.)A adaptação da equipe foi necessária principalmente porque a atmosfera de La Paz, quando comparada à das cidades brasileiras, apresenta:
a) menor pressão e menor concentração de oxigênio.b) maior pressão e maior quantidade de oxigênio.c) maior pressão e maior concentração de gás carbônico.d) menor pressão e maior temperatura.e) maior pressão e menor temperatura.
Alternativa: aEm altitudes elevadas há menos ar (ar rarefeito) e consequentemente menos gás oxigênio. Absorvendo menos gás oxigênio pelos pulmões ocorre queda da pressão parcial de oxigênio no sangue, o que estimula os rins a produzirem eritropoetina (hormônio), que age na medula óssea promovendo o aumento de hemácias (células vermelhas do sangue que possuem hemoglobina). A hemoglobina é um pigmento respiratório vermelho que transporta gás oxigênio.
C8 Apropriar-se de conhecimentos de Biologia para, em situações-problema, interpretar, avaliar ou planejar
intervenções científico-tecnológicas.
H28 Associar características adaptativas dos organismos com seu modo de vida ou seus limites de distribuição
em diferentes ambientes, em especial em ambientes brasileiros.
Em foco
Os diuréticos podem ser utilizados para diminuir o peso
do atleta para competir em uma categoria de peso mais leve
do que aquela em que geralmente se enquadra. Isso pode
ocorrer, por exemplo, com boxeadores. Nosso corpo produz
hormônios que evitam a diurese (eliminação de urina pe-
los rins), ou seja, de efeito inverso ao dos diuréticos. O ADH
(hormônio antidiurético), produzido pelo hipotálamo e libe-
rado pela neuroipófise, e a aldosterona (hormônio produzi-
do pelas adrenais) agem nos túbulos renais, promovendo a
reabsorção de água. O ADH faz com que a água volte para o
sangue por osmose; e a aldosterona promove a reabsorção
de sais (por exemplo, o sódio) e, consequentemente, de água.
Também é proibido injetar sangue ou derivados, que
poderiam aumentar o transporte de oxigênio e, por con-
seguinte, o metabolismo aeróbico. Já a dopagem genética,
como a transferência de ácidos nucleicos ou o uso de célu-
las normais ou geneticamente modificadas, ainda não foi
detectada, porém também é proibida.
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Em profundidade
Livro
Dicionário da escravidão
negra no Brasil, de Clóvis Moura. Último livro do cientista social e fundador do Instituto Brasileiro de Estudos Africanistas, Clóvis Moura ( falecido em 2003), o dicionário é uma referência para a compreensão da exclusão (humana, social e cultural) imposta ao negro em nosso país.
Site
<http://censo2010.ibge.gov.br/>
O site apresenta diversos dados detalhados obtidos a partir do Censo 2010, ampliando as informações com material e indicações complementares.
Filme
Uma história de amor e fúria. Direção: Luiz Bolognesi, 2012, Buriti Filmes.
Este fi lme é uma animação que retrata o amor entre um herói imortal e Janaína, a mulher por quem é apaixonado há 600 anos. Como pano de fundo do romance, o longa ressalta quatro fases da história do Brasil: a colonização, a escravidão, o regime militar e o futuro, em 2096, quando haverá guerra pela água.
A conquista da América: escravidão e resistência
A conquista da América pelos portugueses é um episódio da História que causa po-lêmica e grandes discussões. A colonização do continente americano é um processo que resultou da ocupação do território pelos europeus, com o objetivo de dominar e explorar as riquezas naturais e os povos que habitavam a América. A construção de histórias oficiais e nacionalistas ao longo do século XIX pelas nações americanas re-cém-independentes tinha um viés eurocêntrico que transformou a colonização em um processo de “descoberta” do continente pelos europeus, silenciando as tradições, a cultura, o conhecimento e a história dos povos tradicionais que foram mortos, escra-vizados ou aculturados ao longo dos séculos de dominação. Os povos da África que fo-ram escravizados e utilizados como a principal mão de obra no Brasil colônia também foram silenciados na construção dessa história oficial do século XIX.
Chegamos ao século XXI reconhecendo e nos identificando como uma nação ne-gra e indígena. O Censo demográfico 2010 aponta que 50,7% da população se auto-declara preta (7,6%) e parda (43,1%) e que 0,4% se autodeclara indígena (305 etnias
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e 274 línguas indígenas). Reafirmar as identidades africa-na e indígena no Censo, na construção da história pessoal e familiar, nos aspectos culturais e em suas vivências co-tidianas é uma atitude de resistência, que nos possibili-ta problematizar a visão eurocêntrica construída sobre o processo de colonização da América.
A escravidão indígena e africana no Brasil colonial foi uma relação violenta que resultou no controle e na explo-ração da capacidade de trabalho de um ser humano por outro. Na escravidão, diversos aspectos da vida dos indí-genas e dos povos da África foram explorados: os conhe-cimentos sobre o uso de ervas medicinais; as técnicas de cultivo e os saberes sobre a alimentação; o vocabulário, as músicas, as danças e diversas manifestações culturais; as crenças religiosas e as visões de mundo construídas em cada sociedade; a capacidade de produzir e utilizar ferra-mentas, construir objetos; as diferentes formas de orga-nização social, o estabelecimento de hierarquias, as divi-sões de trabalho e as interações sociais; enfim, todos os aspectos mais complexos presentes em seres humanos e na vida em sociedade de indígenas e dos povos da África foram explorados, dominados, apropriados e silenciados pelos europeus durante a colonização da América.
As fugas, as revoltas, a construção de quilombos, a ma-nutenção de aspectos culturais são exemplos de resis-tência das populações indígena e africana e de seus des-cendentes em relação à escravidão durante o período colonial. A luta mais imediata dessas populações escravi-zadas era pela sobrevivência e pela libertação. Os séculos de disputas permitiram a construção de identidades que aproximaram etnias diversas entre si sob uma denomina-ção comum: indígena e africana. Os efeitos que a escravi-dão indígena e africana têm na sociedade brasileira atual e as reivindicações para a conquista da cidadania plena pelos descendentes dessas populações escravizadas dialo-gam diretamente com as experiências históricas que mar-caram o período colonial do Brasil.
Os europeus construíram os termos “indígena” e “afri-cano” como sinônimos de “selvageria”, “barbárie”, “povos atrasados, sem cultura e sem história”. Com o processo de independência do Brasil, a abolição da escravidão e a Pro-clamação da República, esses termos passaram a ser asso-ciados à pobreza, ao alcoolismo, à prostituição, à violência, à marginalidade, ao exotismo, ao feio, àquilo que deve ser eliminado. A escravidão resultou na construção de uma so-ciedade com grande desigualdade econômica e social, uma vez que a libertação dessas pessoas escravizadas não in-cluiu a inserção de tais grupos na cidadania. Os direitos à educação, à moradia, à saúde, ao transporte não estavam destinados a populações que eram vistas a partir de este-reótipos construídos historicamente e que deslegitimavam seus direitos, os desumanizando. A escravidão não foi só
uma relação de violência física para o domínio do corpo de outro ser humano, mas também uma relação de violência psicológica e emocional, que invalidou a identidade, os sa-beres e a cultura dos indígenas e dos povos da África escra-vizados, associando-os à origem de todos os problemas da sociedade.
No Brasil do século XXI, vários movimentos sociais reivindicam a construção de novos significados para os termos “indígena” e “africano”, ressaltando todos os as-pectos silenciados, dominados e explorados ao longo dos períodos colonial e imperial. Os indígenas evidenciam sua diversidade étnica, nomeiam suas culturas, articu-lam-se para a defesa do direito à terra, enfrentam a vio-lência e o projeto de extermínio comandado por latifun-diários, utilizam a literatura, o cinema e a música para enaltecer e divulgar suas tradições e visões de mundo, fortalecem suas identidades a partir dos conhecimentos compartilhados e da presença na universidade. A popu-lação negra brasileira articula-se em diversos movimen-tos sociais que destacam a valorização estética e cultural das tradições africanas, lutam pelos direitos das mulhe-res negras (acesso a creches, fim do estereótipo “mulata ‘tipo exportação’”, igualdade salarial e o próprio direito à vida, uma vez que houve um aumento de mais de 50% no número de mulheres negras assassinadas no país nos úl-timos 10 anos – dados retirados do estudo Mapa da Vio-
lência 2015: Homicídios de Mulheres no Brasil, realizado pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais, a pedido da ONU Mulheres), pelos direitos da juventude negra (acesso à educação e à saúde pública de qualida-de, além de moradia; fim das mortes dos jovens negros no Brasil, especialmente em função das armas de fogo. Dados da Anistia Internacional indicam que, em 2012, 56 000 pessoas foram assassinadas no Brasil. Destas, 30 000 são jovens entre 15 e 29 anos e, desse total, 77% são negros), utilizando a música, a literatura, o cinema e a presença nas faculdades para reafirmar suas tradições, seus saberes, suas identidades e suas manifestações cul-turais (por exemplo, a prática de religiões de matriz afri-cana, como a umbanda e o candomblé, sem que ocorram ataques ou demonstração de qualquer tipo de precon-ceito), a luta para garantir uma ocupação igualitária nos postos de trabalho.
A resistência aos efeitos causados pela prática escravo-crata no Brasil permanece e se torna cada vez mais inten-sa, sobretudo quando há políticas públicas e apoio insti-tucional/midiático a tais comportamentos. Para superar o passado escravocrata e eliminar os efeitos dessa prática na sociedade atual, é necessário dar voz a todos os descen-dentes das populações escravizadas para que suas identi-dades tragam a riqueza, a diversidade e os saberes silen-ciados ao longo de séculos.
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Ciências Humanas
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GabaritoConfira as resoluções no Portal de seu Sistema de Ensino.
1. c 2. d
1 C1/H4 Leia o texto.
Para alguns autores, estudiosos do assunto, a capoeira foi uma invenção do negro na África, onde existia como forma de dança ritualística. Mais tarde, com o processo do colonialismo brasileiro e com a chegada dos negros escravos originários da África, aqui a capoeira apareceu como forma de defesa pessoal dos escravos contra seus opressores do engenho (SANTOS, 1990, p. 19). [...] Em 1890 a capoeira foi considerada “fora da lei” pelo antigo Código Penal da República. No capítulo que tratava dos vadios e capoeiras, o artigo 402 trazia a penalidade de dois a seis meses de prisão a quem ousasse fazer nas ruas e praças públicas exercício de agilidade e destreza corporal conhecida pela denominação capoeiragem: andar em carreiras, com armas ou instrumentos capazes de produzir lesão corporal, promovendo tumulto ou desordens, ameaçando pessoa certa ou incerta, ou incutindo temor de algum mal (REGO, 1968, p. 292).
FONTOURA, A. R. R.; GUIMARÃES, A. C. de A. História da Capoeira, Revista da Educação Física/UEM, Maringá, v. 13, n. 2, p. 141-150, 2o sem. 2002.
Disponível em: <http://eduem.uem.br/ojs/index.php/RevEducFis/article/viewFile/3712/2553>. Acesso em: 2 nov. 2016.
A capoeira é uma manifestação cultural brasileira e, de acordo com o texto, foi interpretada por seus praticantes e pelo governo brasileiro, respectivamente, como:a) uma dança ritualística africana e uma habilidade corporal típica
do brasileiro.b) um ato de resistência e uma manifestação artística pública.c) uma prática de defesa pessoal e um ato criminoso.d) uma estratégia para garantir o porte de armas e um resgate de
tradições africanas.e) uma ameaça ao poder dos senhores de engenho e uma dança
capaz de causar lesões corporais.
2 C3/H15 Texto I
O número de indígenas que moram em áreas urbanas brasileiras está diminuindo, mas crescendo em aldeias e no campo. O percentual de indígenas que falam uma língua nativa é seis vezes maior entre os que moram em terras indígenas do que entre os que vivem em cidades. As conclusões integram o mais detalhado estudo já feito
Atividades
pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) sobre os povos indígenas brasileiros, baseado no Censo de 2010 e lançado nesta semana. Segundo o instituto, há cerca de 900 mil indígenas no Brasil, que se dividem entre 305 etnias e falam ao menos 274 línguas. Os dados fazem do Brasil um dos países com maior diversidade sociocultural do planeta. Em comparação, em todo o continente europeu há cerca de 140 línguas autóctones, segundo um estudo publicado em 2011 pelo Instituto de História Europeia.
Disponível em: <https://educezimbra.wordpress.com/2016/09/26/305-etnias-e-274-linguas-estudo-revela-riqueza-cultural-entre-indios-no-brasil/>.
Acesso em: 2 nov. 2016.
Texto II
“Novo incêndio e ataque a tiros deixam cerca de 40 guaranis e kaiowás desabrigados em Kurusu Ambá” (13 set. 2016).
Este é o quinto ataque em 2016 contra acampamentos do povo em Kurusu Ambá (Coronel Sapucaia – MS). Em janeiro, um outro acampamento também foi incendiado por pistoleiros – na ocasião, porém, o fogo foi ateado pelos próprios pistoleiros nos barracos e pertences indígenas. O último ataque antes desta terça ocorreu em 12 de julho: pistoleiros cercaram um outro acampamento e atiraram contra os indígenas.
Disponível em: <http://odescortinardaamazonia.blogspot.com.br/2016/09/novo-incendio-e-ataque-tiros-deixam.html>. Acesso em: 2 nov. 2016.
Os textos apresentam informações sobre a população indígena brasileira na atualidade, evidenciando:a) a diversidade cultural indígena e as tradições guerreiras entre as
tribos que habitam o Mato Grosso do Sul.b) o aumento da população indígena nos centros urbanos em
consequência dos conflitos violentos pela posse das terras no campo.c) o sucesso das políticas para demarcação das terras indígenas,
que resultaram no retorno dos indígenas para o campo e no convívio pacífico com os fazendeiros.
d) que o reconhecimento da diversidade étnica indígena não implica o fim dos conflitos e das mortes indígenas pela posse da terra.
e) a semelhança cultural entre as diversas etnias e línguas faladas no país, facilitando a demarcação das terras indígenas de acordo com os interesses do agronegócio.
C1 Compreender os elementos culturais que constituem as identidades.
H1 Interpretar histórica e/ou geograficamente fontes documentais acerca de aspectos da cultura.
Em foco
(Enem-MEC) A língua de que usam, por toda a costa, carece de três letras; convém a saber, não se acha nela F, nem L, nem R, coisa digna de espanto, porque assim não têm Fé, nem Lei, nem Rei, e dessa maneira vivem desordenadamente, sem terem além disto conta, nem peso, nem medida.
GÂNDAVO, P. de M. A primeira história do Brasil: história da província de Santa Cruz a que vulgarmente chamamos Brasil. Rio de Janeiro: Zahar, 2004.
(Adaptado).
A observação do cronista português Pero de Magalhães Gândavo, em 1576, sobre a ausência das letras F, L e R na língua mencionada, demonstra a:a) simplicidade da organização social das tribos brasileiras.b) dominação portuguesa imposta aos indígenas no início da
colonização.c) superioridade da sociedade europeia em relação à sociedade
indígena.d) incompreensão dos valores socioculturais indígenas pelos
portugueses.e) dificuldade experimentada pelos portugueses no aprendizado da
língua nativa.
Alternativa: d
a) (F) Não há simplicidade na organização social das tribos indígenas e a observação feita pelo cronista justifica-se a partir do olhar que o europeu construiu sobre as populações indígenas na Idade Moderna.
b) (F) As características ressaltadas pelo cronista foram utilizadas como argumentos para justificar a dominação, mas no documento essas características foram apresentadas como uma constatação feita pelos europeus sobre as sociedades indígenas.
c) (F) Apesar de as sociedades europeias se definirem como “superiores” às sociedades indígenas na Idade Moderna, as características apresentadas pelo cronista resultam de sua observação eurocêntrica a respeito da cultura indígena analisada. Portanto, afirmar que as características ressaltadas pelo cronista demonstram a superioridade europeia é afirmar que a visão eurocêntrica da História é uma verdade absoluta.
d) (V) O cronista utiliza os critérios presentes em sua cultura para analisar e julgar a cultura indígena descrita, apontando “falhas” na cultura indígena por não compreender que cada cultura possui sua própria dinâmica e seus próprios valores.
e) (F) A descrição da falta das letras F, L e R não é alusão à dificuldade para compreender a língua indígena.
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RedaçãoRRRR
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Em profundidade
Para aqueles que leem em inglês, o jornal britânico The
Telegraph reuniu algumas das melhores frases iniciais da literatura. Vale a pena conferir não só este especial, mas todo o site de cultura do periódico, com artigos instigantes sobre arte, cultura e pensamento. O endereço é <www.telegraph.co.uk/books/what-to-read/30-great-opening-lines-in-literature/>. Acesso em: 5 dez. 2016.
“Professor, como eu começo?”Quando se depara com as linhas distribuídas na folha de redação do Enem, o aluno en-
frenta o desafi o de elaborar suas primeiras sentenças. Todos os professores experientes de produção de texto sabem que muitos estudantes têm difi culdade em iniciar seus textos. Na sala de aula, a afi rmação “Ah, eu não sei como começar” é muito ouvida.
É necessário alertar que a elaboração de um plano de texto antes do início da redação propria-mente dita é fundamental. Pensar antes de iniciar a escrita. Assim, o aluno poderá alinhavar em pequenos tópicos ou itens, no espaço destinado ao rascunho, seu posicionamento em relação ao tema, à tese a ser defendida e aos argumentos que utilizará nos parágrafos de desenvolvimento.
Sem dúvida, a difi culdade de começar estará em grande medida superada. Mesmo as-sim, a introdução é um desafi o. Afi nal, ela estabelece a comunicação inicial com o leitor, aciona o ato de dizer. E isso não é fácil mesmo para escritores experientes.
A primeira frase de um grande romance pode tornar-se um marco da história literária. São célebres alguns inícios:
“As famílias felizes são parecidas, as infelizes o são cada uma a sua maneira.” (Anna Kariêninna, Leon Tolstói)
“Foi o melhor dos tempos, foi o pior dos tempos, foi a idade da sabedoria, foi a idade da imbecilidade, foi a época de acreditar, foi a época da descrença, foi a época da Luz, foi a época da Escuridão.” (Conto de duas cidades, Charles Dickens)
Sem a pretensão de escrever grandes romances (pelo menos por enquanto), o estudante que faz o Enem se preocupa em realizar uma introdução inteligente e consistente com a argumentação.
Há no mínimo dois caminhos lógicos para começar um texto argumentativo. Um, mais próximo do que os fi lósofos chama-riam de indução, quando o relato de uma situação particular faz alusão a um tema geral. Outro, denominado dedução, organi-za as principais ideias logo de início para desenvolvê-las depois.
Imagine que você está diante de uma proposta de redação sobre o crescimento da intolerância e dos crimes de ódio no Brasil (na página seguinte, você a encontrará). Uma possibilidade de contextualização do tema seria a seguinte:
A prática de assassinatos por multidões era comum na Antiguidade, com inúmeros relatos de apedrejamento de pecadores, queima de bruxas, entre outros. A origem da palavra “linchamento” é atribuída a Charles Lynch, fazendeiro da Virgínia, nos Estados Unidos, que punia criminosos durante a Guerra da Independência em 1782; e ao capitão William Lynch, que teria mantido um comitê para a manutenção da ordem no mesmo período. Em 1837, surge a Lei de Lynch (bater com pau), baseada nos atos do fazendeiro, usada para pregar o ódio racial contra negros e índios.
(Portal G1. Disponível em: <http://g1.globo.com/politica/dias-de-intolerancia/platb/>. Acesso em: 17 nov. 2016.)
Neste caso, percebe-se que o redator construiu um recuo histórico. Trata-se de maneira criativa de apresentar o tema e en-caminhar o leitor ao percurso que se seguirá. Para tanto, é necessário ter repertório cultural que se relacione à proposta.
Imagine agora o seguinte início para a mesma redação:
É do professor de História André Luiz Ribeiro, 27 anos, o mais recente relato sobre uma onda de violência baseada na intolerância que persiste no Brasil em 2014. Confundido com um ladrão em São Paulo, ele foi espancado e só conseguiu escapar depois de dar aula sobre Revolução Francesa a um dos bombeiros que o resgataram.
(Portal G1. Disponível em: <http://g1.globo.com/politica/dias-de-intolerancia/platb/>. Acesso em: 17 nov. 2016.)
Indutivamente, o relato sobre o caso do professor de História vítima de uma multidão enfurecida após ser confundido com um ladrão ilustra o tema da intolerância e pode permitir a articulação com uma refl exão analítica sobre a questão. Aqui se re-quer fundamentalmente informação, ou seja, o acompanhamento dos fatos por meio de notícias e reportagens.
Vamos a outra alternativa:
Indivíduos enfurecidos dispostos a espancar até a morte indígenas, negros, moradores de rua e homossexuais. Internautas anônimos que manifestam ódio e preconceito pelas redes sociais. Essas e outras manifestações de intolerância são infelizmente comuns nos dias de hoje no Brasil. As profundas mudanças culturais e transformações de valores, bem como a insegurança econômica produzida pela expansão de formas degradantes de exploração econômica, são os elementos que fomentam tais explosões de ódio.
Aqui o caminho é dedutivo. Perceba que os argumentos já foram lançados no primeiro parágrafo e deverão ser desen-volvidos e ampliados nos parágrafos posteriores.
Qualquer que seja o início de seu texto, boa redação!
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Redação
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Confira as resoluções no Portal de seu Sistema de Ensino.
Proposta de redaçãoCom base na leitura dos textos motivadores seguintes e nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija um texto dissertativo-argumentativo em norma-padrão da língua sobre o tema Como lidar com o aumento da intolerância?. Selecione, organize e relacione coerentemente argumentos e fatos para a defesa de seu ponto de vista, respeitando os direitos humanos.
(Enem-MEC – 2a aplicação)Com base na leitura dos textos motivadores seguintes e nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija texto dissertativo- -argumentativo em norma-padrão da língua sobre o tema A família contemporânea e o que ela representa para a sociedade. Selecione, organize e relacione coerentemente argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista, respeitando os direitos humanos.
Texto I
Crimes de ódio são motivados pelo ápice do preconceito de um indivíduo ou grupo contra determinada vítima. Muitas vezes, os envolvidos nunca se cruzaram na rua, mas religiões diferentes, ideologias ultrapassadas dos tempos da Segunda Guerra Mundial ou a abominação contra a cor ou a etnia de alguém pode ser determinante para uma tragédia.
Portal Terra. Disponível em: <https://noticias.terra.com.br/brasil/policia/veja-10-crimes-de-odio-que-chocaram-o-brasil,386d4fc7b94fa310VgnCLD200000
bbcceb0aRCRD.html>. Acesso em: 17 nov. 2016.
Texto II
Disponível em: <http://malvados.com.br/index1573.html>. Acesso em: 17 nov. 2016.
Texto III
O crime de ódio na internet é duplamente perigoso. Além de discriminar e tratar de maneira degradante determinados grupos sociais, também incita o preconceito em outros usuários da rede
social, especialmente crianças e adolescentes. Dessa forma, esse tipo de crime de ódio torna possível uma grave expansão de atos discriminatórios, discursos preconceituosos e atitudes agressivas. O que antes seria um caso individual, no mundo virtual atinge milhares de pessoas e influencia negativamente um enorme grupo de indivíduos. Todavia, é importante ter consciência de que atitudes desrespeitosas na internet também são passíveis de punição e devem ser denunciadas devidamente.Disponível em: <www.guiadedireitos.org/index.php?option=com_content&view
=article&id=1036&Itemid=259>. Acesso em: 17 nov. 2016.
Texto IV
O crime de ódio é uma forma de violência direcionada a um determinado grupo social com características específicas, ou seja, o agressor escolhe suas vítimas de acordo com seus preconceitos e, orientado por estes, coloca-se de maneira hostil contra um particular modo de ser e agir típico de um conjunto de pessoas. Os grupos afetados por esse delito discriminatório são os mais variados possíveis, porém o crime de ódio ocorre com maior frequência com as chamadas minorias sociais. São consideradas minorias sociais aqueles conjuntos de indivíduos que histórica e socialmente sofreram notória discriminação. Como exemplo podemos citar as vítimas de racismo, homofobia, xenofobia, etnocentrismo, intolerância religiosa e preconceito com deficientes.
ORTEGA, F. T. O que são os crimes de ódio? Disponível em: <https://draflaviaortega.jusbrasil.com.br/noticias/309394678/o-que-sao-os-crimes-
de-odio>. Acesso em: 17 nov. 2016.
Texto I
AMARAL, Tarsila do. A família. 1925. Óleo sobre tela, 79 cm × 101,5 cm. Coleção Torquato Saboia
Pessoa, SP.
Texto II
O desenvolvimento de instituições modernas do Estado e do mercado abarca, em parte, as antigas funções da família, restringindo a esfera de atuação desta às dimensões da afetividade e da reprodução da vida, em seus aspectos biológicos e culturais. Por essa razão, é importante refletir sobre como o Estado, por meio de seu papel regulador e de promotor de políticas públicas, deve assumir responsabilidades perante os indivíduos, as famílias e o bem-estar coletivo.
ITABORAÍ, N. R. A proteção social da família brasileira contemporânea: reflexões sobre a
dimensão simbólica das políticas públicas. Disponível em: <www.abep.nepo.unicamp.br>.
Acesso em: 14 ago. 2009.
Texto III
Lidar com as famílias, hoje, é lidar com a diversidade; famílias intactas, famílias em processo de separação, famílias monoparentais, famílias reconstruídas, famílias constituídas de casais homossexuais, famílias constituídas de filhos adotivos, famílias constituídas por meio das novas técnicas de reprodução. A família intacta, tal qual nos acostumamos a pensar como sendo o modelo de família, é, hoje em dia, uma das várias formas de se viver a família. A multiplicidade “ser família”, hoje, cria um hiato na geração que aprendeu o “ser família” de acordo com determinadas características e sua concretização na prática. Talvez só a geração dos filhos saiba desenvolver a maneira de denominar tal realidade.
MOREIRA, B. F. O que há de novo nas novas famílias? Disponível em: <www.tvebrasil.com.
br>. Acesso em: 14 ago. 2009.
ComentárioO desafio do aluno ao redigir o texto argumentativo baseado nesta proposta é o de olhar para a instituição familiar a partir de um viés analítico, sem se deixar levar pela experiência pessoal e subjetiva frequentemente suscitada pela questão.Os textos que fundamentam a proposta induzem à reflexão por dois caminhos. O primeiro é o da distinção entre a esfera pública da vida, regida pela lei e mantida pelo Estado de Direito, e a esfera privada, em que se localizam os vínculos de afetividade e particularidade. O segundo, que dialoga com o primeiro, é a tematização da diversidade que as formas de constituição familiar adquiriram no mundo contemporâneo.Neste sentido, encaixa-se a pintura de Tarsila do Amaral, que nos mostra uma formação familiar ampla, típica da tradição dos meios rurais, diversa portanto dos núcleos monoparentais próprios do meio urbano.Tudo indica ser a expectativa da banca o entendimento da instituição familiar como produto histórico e cultural, variável no tempo e no espaço. Uma reflexão sobre o percurso dessa instituição no mundo contemporâneo conduziria a análise para uma postura de defesa da diversidade e garantia de direitos às famílias que destoem dos modelos consagrados pela civilização ocidental cristã.
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