sociedade dos indivíduos sociologia

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SOCIEDADE DOS INDIVÍDUOS NORBERT ELIAS I. O CONCEITO DE SOCIEDADE Quanto à formação da sociedade têm-se modelos diferentes e distintos entre os cientistas e interessados do assunto. Elias se limita a exemplar dois modelos conceituais: Aquele que aborda a sociedade como formações sócio-históricas concebidas, planejadas e criadas por diversos indivíduos ou organismos. Um modelo conceitual de criação racional e deliberada por pessoas individuais. A sociedade deste ponto de vista foi produzida por pessoas isoladas para fins específicos sendo. Os adeptos deste modelo explicam os fenômenos e as estruturas da sociedade através do indivíduo, mas não apresentam respostas quando questionados sobre o estilo artístico e o processo civilizador, por exemplo. Em contrapartida, existe um outro modelo conceitual (extraído das ciências naturais - biologia) em que o indivíduo não apresenta papel algum. A sociedade, por sua vez, é concebida como uma entidade orgânica supra-individual que avança inelutavelmente para o desaparecimento, atravessando etapas de juventude, maturidade e velhice. Uma abordagem que tenta explicar as formações e processos históricos e sociais pela influencias de forças fora do indivíduo, mas que são anônimas. Este modelo de pensamento mistura-se facilmente com os modos de religião e metafísicos. É comum, assim, uma espécie de panteísmo histórico: um espírito do mundo ou até o próprio Deus que se encarna num mundo histórico em movimento e serve de explicação para a sua ordem, periodicidade e intencionalidade. Na mesma teoria, podem-se também imaginar as formas sociais especificas habitadas por uma espécie de espírito supra-individual comum. Nestes dois modelos conceituais tem-se destacar respectivamente: O centro do interesse e de qualquer fenômeno são as ações individuais, entretanto, existe uma ligação obscura entre os atos e objetivos individuais e as formações socais. Os estilos e as formas culturais, ou as formas e instituições econômicas merecem mais atenção que as ações individuais. Nesta tem-se a dificuldade de vincular as forcas produtivas das formações sociais às metas e atos dos indivíduos. Ou seja, estas forças produtivas surgem de quem? A resposta deste conceito é: surgem como anonimamente mecânicas ou como forças supra-individuais baseadas em modelos panteístas. II. O CONCEITO DE INDIVIDUO Se as teorias para a formação da sociedade apresentam conflitos entre os teóricos, o conceito de indivíduo não escapa a esta regra. Existem dificuldades em sua definição entre alguns teóricos: Existem ramos de pesquisas que tratam o indivíduo como algo singular que pode ser isolado, buscando elucidar suas funções psicológicas como independentes de suas

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sociologia para alunos do ensino médio, ensino superior, conceitos de sociologia

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Page 1: Sociedade Dos Indivíduos sociologia

SOCIEDADE DOS INDIVÍDUOS – NORBERT ELIAS

I. O CONCEITO DE SOCIEDADE

Quanto à formação da sociedade têm-se modelos diferentes e distintos entre os cientistas

e interessados do assunto. Elias se limita a exemplar dois modelos conceituais:

Aquele que aborda a sociedade como formações sócio-históricas concebidas,

planejadas e criadas por diversos indivíduos ou organismos. Um modelo conceitual de

criação racional e deliberada por pessoas individuais. A sociedade deste ponto de vista

foi produzida por pessoas isoladas para fins específicos sendo. Os adeptos deste

modelo explicam os fenômenos e as estruturas da sociedade através do indivíduo, mas

não apresentam respostas quando questionados sobre o estilo artístico e o processo

civilizador, por exemplo.

Em contrapartida, existe um outro modelo conceitual (extraído das ciências naturais -

biologia) em que o indivíduo não apresenta papel algum. A sociedade, por sua vez, é

concebida como uma entidade orgânica supra-individual que avança inelutavelmente

para o desaparecimento, atravessando etapas de juventude, maturidade e velhice. Uma

abordagem que tenta explicar as formações e processos históricos e sociais pela

influencias de forças fora do indivíduo, mas que são anônimas. Este modelo de

pensamento mistura-se facilmente com os modos de religião e metafísicos. É comum,

assim, uma espécie de panteísmo histórico: um espírito do mundo ou até o próprio Deus

que se encarna num mundo histórico em movimento e serve de explicação para a sua

ordem, periodicidade e intencionalidade. Na mesma teoria, podem-se também imaginar

as formas sociais especificas habitadas por uma espécie de espírito supra-individual

comum.

Nestes dois modelos conceituais tem-se destacar respectivamente:

O centro do interesse e de qualquer fenômeno são as ações individuais, entretanto,

existe uma ligação obscura entre os atos e objetivos individuais e as formações socais.

Os estilos e as formas culturais, ou as formas e instituições econômicas merecem mais

atenção que as ações individuais. Nesta tem-se a dificuldade de vincular as forcas

produtivas das formações sociais às metas e atos dos indivíduos. Ou seja, estas forças

produtivas surgem de quem? A resposta deste conceito é: surgem como anonimamente

mecânicas ou como forças supra-individuais baseadas em modelos panteístas.

II. O CONCEITO DE INDIVIDUO

Se as teorias para a formação da sociedade apresentam conflitos entre os teóricos, o

conceito de indivíduo não escapa a esta regra. Existem dificuldades em sua definição

entre alguns teóricos:

Existem ramos de pesquisas que tratam o indivíduo como algo singular que pode ser

isolado, buscando elucidar suas funções psicológicas como independentes de suas

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relações com os demais indivíduos. Isto é, o indivíduo é agente ativo da construção da

sociedade e sua subjetividade é natural, inerente. Individuo como aparato biológico.

Correntes da psicologia social ou de massa - não conferem nenhum lugar apropriado às

funções psicológicas do indivíduo singular, atribui as formações sociais uma

independência dos atos individuais. As estruturas sociais possuem características

próprias e independentes do indivíduo singular, podendo entrar também no conceito de

que a totalidade é o somatório ou acumulação de funções psicológicas dos indivíduos

que a constituem.

Estas diferenças em que ora indivíduo ora sociedade se mostra como importantes um em

relação ao outro, demonstram uma certa separação de indivíduo e sociedade (pelo menos

nos modelos conceituais); mas ao contrario disso não há como negar que os indivíduos

formam a sociedade ou de que a sociedade é uma sociedade de indivíduos, portanto, na

realidade não existe nenhum abismo entre indivíduo e sociedade. O que existe é a falta de

modelos conceituais e de uma visão global para relatar a realidade e para compreender de

que modo um grande número de indivíduos compõe entre si algo que maior, diferente de

uma coleção de indivíduos isolados. Faltam modelos conceituais para informar como os

indivíduos formam um a sociedade e como a sociedade pode se modificar, ter uma história

que segue um curso não pretendido ou planejado por qualquer indivíduo.

III. RELAÇÃO INDIVIDUO E SOCIEDADE

Para iniciar o estudo da relação entre indivíduo e sociedade Norbert Elias usa um simples

modelo dado por Aristóteles (este usa a figura de uma casa e de tijolos) e a teoria da

Gestalt, Desta maneira, Elias propõe seus primeiros argumentos:

Não se pode compreender a estrutura pela contemplação isolada de seus elementos.

Não se pode compreender a estrutura como uma unidade somatória de acumulação de

indivíduos, fazendo uma analise estatística das características de cada indivíduo e

depois calculando a média.

A totalidade é diferente do conjunto de elementos isolados;

A totalidade incorpora leis de tipo especial, também pode criar suas próprias leis,

independentes dos elementos que a compõem;

De acordo, com Elias diferentes exemplos, podem elucidar esta teoria aonde as unidades

de potência menor - dão origem a uma unidade de potência maior que não poder ser

compreendida quando suas partes são consideradas em isolamento, independente de

suas relações, tais como: as notas musicais e a melodia; os sons e as palavras; as

palavras e as frases; as frases e os livros. Se por um lado à problemática estava entre o

indivíduo e sociedade em termos de importância, agora indivíduo e sociedade se vêem

novamente na relação entre meio e finalidade.

Algumas correntes teóricas afirmam que a sociedade e suas manifestações (divisão do

trabalho, organização do Estado) são apenas "meios" para o bem-estar dos indivíduos,

isto é, a sociedade é um meio para as necessidades individuais.

Page 3: Sociedade Dos Indivíduos sociologia

Outras pelo contrario, argumentam que o indivíduo é o "meio" para se atingir a

manutenção da unidade social de que ele faz parte, sendo assim o bem-estar dos

indivíduos é menos importante que as exigências sociais.

Segundo Elias, sociedade e indivíduo são na realidade compatíveis: Uma ordem social

que permite uma harmonia entre as necessidades individuais e as exigências sociais são

possíveis de andar juntas. Uma vez que, só pode haver uma vida comunitária mais livre de

problemas sociais se todos os indivíduos gozarem de satisfação suficiente; e só pode

haver uma existência individual mais satisfatória se a estrutura social for mais livre de

problemas sociais. O autor também aproveita para novamente criticar a falta de modelos

conceituais que expressem a realidade, afirmando que os projetos atualmente oferecidos

para as dificuldades na relação indivíduo e sociedade obscurecem mais do que

esclarecem, quando não são dotados de cargas valorativas e afetivas e geralmente

solucionam um destes elementos em detrimento do outro. Usam uma tomada de posição a

favor de um lado ou de outro. Observando em um nível mais profundo e sem valores vê-se

que a sociedade e indivíduos não existem um sem o outro e ainda que existem de um

modo desprovido de objetivos: o indivíduo na companhia de outros e a sociedade como

uma sociedade de indivíduos. A sociedade não é um fim planejado por indivíduos para o

seu bem-estar ou ainda que os indivíduos são colocados em uma sociedade por uma forca

maior e suprema, com o objetivo de dar manutenção e cumprir as exigências sociais. Em

outras palavras, os indivíduos não se agrupam, planejadamente, com a finalidade de

formar uma sociedade, está se deu através das relações e funções dos indivíduos como

veremos a seguir. A sociedade não é uma estrutura deliberada de indivíduos racionais,

entretanto é o material onde as pessoas estabelecem seus objetivos e não há outros

objetivos senão o que estabelecem. Aqui Elias derruba o argumento de um ser supra-

individual que ordena a sociedade e o comportamento dos indivíduos.

IV. O QUESTIONAMENTO SOBRE O TERMO "TODO" PARA DEFINIR SOCIEDADE