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SOCIEDADE DOM BOSCO DE EDUCAÇÃO E CULTURA LTDA FACULDADE DIVINÓPOLIS / FACED CURSO MODA ADRIANA DE FÁTIMA MENDES LARA AMANDA VALERIA DA SILVA PATRÍCIA ASSIS BARBOSA Design de superfície: estudo da pintura corporal da tribo indígena pataxó DIVINÓPOLIS 2017

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SOCIEDADE DOM BOSCO DE EDUCAÇÃO E CULTURA LTDA

FACULDADE DIVINÓPOLIS / FACED

CURSO MODA

ADRIANA DE FÁTIMA MENDES LARA

AMANDA VALERIA DA SILVA

PATRÍCIA ASSIS BARBOSA

Design de superfície: estudo da pintura corporal da tribo indígena pataxó

DIVINÓPOLIS

2017

ADRIANA DE FÁTIMA MENDES LARA

AMANDA VALERIA DA SILVA

PATRÍCIA ASSIS BARBOSA

DESIGN DE SUPERFICIE: ESTUDO DA PINTURA CORPORAL DA TRIBO

INDÍGENA PATAXÓ

Monografia apresentada como requisito parcial do trabalho final para obtenção de nota da disciplina de “Introdução ao trabalho de graduação” do curso Bacharelado em Moda da FAD/FACED. Orientadores: Professor (a). Esp. Dardânia Glayse Carvalho de Almeida e Professor (a). Ms. Rodrigo Bessa. Co-orientador(a): Profa. Esp. Liliane Monteiro

DIVINÓPOLIS

2017

DESIGN DE SUPERFICIE: ESTUDO DA PINTURA CORPORAL DA TRIBO

INDÍGENA PATAXÓ

Trabalho de conclusão de curso apresentado à FACED como requisito parcial à

obtenção do título de bacharel em design de moda.

BANCA EXAMINADORA

______________________________

Prof. Esp. Dardânia G. Carvalho (Orientadora)

________________________________

Prof. Ms. Rodrigo Bessa (Orientador)

________________________________

Prof. Esp. Liliana Monteiro (Co-orientadora)

______________________________

Profa. Esp. Renata Loyola (Co-orientadora)

RESUMO

Este trabalho tem como objetivo analisar e investigar o estudo da pintura corporal da tribo indígena Pataxó, como também estabelecer uma relação entre a pintura corporal e o design de superfície. Desta maneira, busca compreender a arte indígena, a cultura, o design e a moda, a fim de valorizar /a identidade nacional e trazê-la para o contexto do design de superfície. A Metodologia foi realizada por meio de pesquisa bibliográfica e também através de pesquisa de campo.

PALAVRAS – CHAVE: Design de superfície. Pintura corporal. Pataxó. Identidade.

ABSTRACT

This article aims to analyze and investigate the study of body painting of the indigenous Pataxó tribe, as well as to establish a relationship between body painting and surface design. In this way, it seeks to investigate indigenous art, culture, design and fashion in the present work, in order to value the national identity, and bring it into the context of surface design. The Methodology was carried out through bibliographies and references and also through field research.

KEYWORDS: Surface design. Body painting. Pataxó. Identity.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 1

2 DESIGN DE SUPERFÍCIE ................................................................................ 3

2.1 Áreas em que o design de superfície éaplicado.................. ....... . .. .................4

3 OS ÍNDIOS PATAXÓS NO BRASIL ................................................................. 8

3.1 A divisão da tribo e os locais em que as aldeias estão situadas....................11

3.2 Análise da cultura e artesanato da etnia Pataxó...........................................12

4 CORPO COMO FORMA DE EXPRESSÃO .................................................. 15

4.1 O estudo das interferências no corpo .......................................................... 19

4.2 A relação entre o Design de Superfície e a pintura corporal.................... 22

5 CONCLUSÃO ............................................................................................ 25

REFERÊNCIAS ........................................................................................ 27

1

1 INTRODUÇÃO

O Design de Superfície compreende a criação e o projeto de texturaspara

diferentes superfícies. De acordo comRuthschiling (2008), o Design de Superfície

consiste em uma atividade criativa e técnica, desenvolvendo qualidades estéticas,

funcionais e estruturais, que são projetadas para o tratamento de superfícies,

adequadas às diferentes necessidades e processos produtivos.

O processo de desenvolvimento do design de superfície está intimamente

ligado à cultura e à sociedade para os quais será criado. Baseando-se nesse contexto,

com foco na riqueza da cultura indígena brasileira, surge o interesse em aprofundar

os conhecimentos através do estudo das tradições desses povos.

O interesse deste trabalho parte da compreensão de que em diversos

momentos, o corpo é usado como forma de linguagem, o que pode se transmitir

através da pele, fatos, histórias, marcas de algo importante na vida de um indivíduo.

Os índios Pataxós são originários da Bahia, e estão entre as tribos indígenas

mais antigas do país. Foi também uma das primeiras tribos a ter contato com o homem

branco. Além disso, foi em seu território que se celebrou a primeira missa no Brasil.

A Aldeia da Barra Velha, localizada em Porto Seguro, é identificada como seu território de origem: onde a tribo nasceu e desenvolveu suas atividades artesanato em cerâmica.A região de suacaracterísticas de agricultura, caça, pesca, coleta de frutos e mariscos e influência se espalha entre a embocadura dos rios Caraíva e Corumbáu, num território de cerca de 20.000 hectares, no qual o Monte Pascoal constitui um limite territorial com grande valor1

Mesmo com a aculturação sofrida pele invasão portuguesa, os Pataxós

mantêm sua cultura, que nos dias atuais ainda é transmitida através das gerações

para que ela não se acabe. Uma das suas tradições é a pintura corporal, que possui

significados, como proteção, linguagem e embelezamento.

A pintura corporal é uma tradição importante para os Pataxós, através dela

expressam vários sentimentos, sendo que toda pintura é dotada de significados, e, é

elaborada especificamente para cada tipo de situação, seja ela para casamento,

morte, guerra, algum tipo de comemoração ou ritual. Tudo é planejado, a cor que deve

1(http://musicaemtrancoso.org.br/conheca-os-indios-pataxos-da-bahia/ acesso em 12/06/2017)

2

ser utilizada para cada situação, as formas que vão decorar os corpos, cada detalhe

é minuciosamente pensado, com intuito de transmitir uma mensagem.

A partir do conceito do Design de Superfície e do estudo da pintura corporal

indígena, busca-se a correlação entre os mesmos, e quais semelhanças são

encontradas na elaboração de ambos, a fim de avaliar se a pintura corporal da tribo

Pataxó pode ser considerada Design de Superfície.

3

2 DESIGN DE SUPERFÍCIE

O termo Design de superfície ou “Surface design” é utilizado para definir todo

projeto elaborado por um designer, no que diz respeito ao tratamento e cor utilizada

em uma superfície, seja ela industrial ou não (RUBIM, 2005).

É um campo que foi legitimado no Brasil somente em 2005, pelo Conselho

Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), introduzido

inicialmente por Renata Rubim na década de 1980, que apresenta grande potencial

de representação simbólica indenitária (RUTHCHILLING,2008). O design de

superfície em sua maioria é bidimensional, mas pode haver superfícies projetadas

com relevos, que são denominadas de tridimensionais.

O Design de superfície é uma área de conhecimento voltada para o

desenvolvimento dos mais variados tipos de revestimentos, como por exemplo,

plástico, cerâmica, papel além de tecidos. Compreende a criação e projeto de texturas

para diferentes superfícies com o objetivo de encontrar uma solução funcional e

estética de acordo com as necessidades de desenvolvimento dos mais diversos

produtos.

O Design de Superfície abrange o design de tecidos em todas as especialidades, o de papéis, o cerâmico, o de plásticos, de emborrachados, desenhos e/ou cores sobre utilitários (por exemplo, louças). Também pode ser um precioso complemento ao Design Gráfico quando participa de uma ilustração, ou como fundo de uma peça gráfica, ou em web design(RUBIN, 2013, p.22).

No design de superfície, desenvolvem-se projetos de construção, ou

revestimento de superfícies, atribuindo qualidades estéticas, funcionais e estruturais

a um objeto. Esse campo não se limita somente a impressão de desenhos, há projetos

nos quais a própria padronização acaba sendo o objeto.

O processo de desenvolvimento do design de superfície está intimamente

ligado a cultura e sociedade para os quais será criado. Pode ser tratado por meio da

criatividade, funcionalidade ou com fins estéticos, em que se fazem presentes os

métodos produtivos e mercadológicos, que juntos estão envolvidos na criação de

formas, cores, texturas e ritmos, baseados em questões culturais, psicológicas e

sociais com o intuito de atender ao perfil do público para o qual é destinado.

4

O designer tem papel determinante na customização2 das superfícies, afim de

desenvolver produtos que despertem diversas sensações em seu público. Em outras

palavras, o intuito é que cada pessoa tenha a sensação de que o produto foi criado

para ela. Por outro lado, deve-se pensar também nas questões envolvidas no

desenvolvimento dos trabalhos, de forma que o processo não aumente o valor

estipulado para o produto final.

Ruthschilling (2008), reforça a ideia da contextualização sociocultural como um

método necessário para o desenvolvimento de novas possibilidades criativas de

superfícies. Portanto, é possível compreender que o Design de Superfície, enquanto

campo de aplicação física, está ligado a diferentes suportes, tecidos, formas, materiais

e texturas. Assim, pode-se dizer que o Design de superfície tem como objetivo

comunicar através de características exteriores e interiores do objeto, que são

assimiladas através dos sentidos, por meio de texturas, cores e grafismos e que

podem ser aplicados a diversas matérias diferentes e em várias áreas do design.

Ao se observar a conjuntura do mercado atual, percebe-se que este está indo

de encontro para a personalização, tendo em vista o crescente aumento de opções

de escolhas. O design de superfície surge como uma das opções que agregam valor

ao produto e oferecem a ideia de exclusividade, conforme mencionado anteriormente

(RABELO e MATOS, 2011).

2.1 Áreas em que o design de superfície é aplicado

Em um contexto de industrialização e consumo, o design de superfície está

presente na elaboração de diversos produtos, nos tecidos, cerâmicas, tecelagem,

estampas, papeis, plásticos, vidros e emborrachados. As manipulações que são

planejadas e produzidas pelo designer, partem de estudos realizado para se definir o

que será aplicado ou alterado na superfície, como cor, estado físico (solidez), textura

e outros; de acordo com a sensação e conceito que se pretende transmitir para o

usuário.

2Conferir à superfície a capacidade de interagir tanto exteriormente quanto interiormente com o objeto,

possível de fornecer informações que podem ser transmitidas por meio dos sentidos, tais como cores, texturas e grafismos (Freitas, 2012, p. 18).

5

São inúmeras as aplicações possíveis de design de superfície. As mais comuns são: design têxtil, design de cerâmico, design em porcelana, plástico e papel. Temos ainda outras superfícies que podem receber projetos interessantes, tais como vidros e emborrachados e que ainda não foram suficientemente exploradas (RUBIN,2013, p.63).

O setor têxtil abrange todos os tipos de tecidos e não tecidos, gerados com

diferentes tipos de fibras. É a maior área de aplicação do design de superfície e com

maior diversidade de técnicas. (FIGURA 1)

Figura 1 - Design de superfície têxtil

FONTE:<http://www.spinadesigner.com/Web/wpcontent/uploads/2015/06/Walter_Spina_ss16_spinadesigner.jpg>, acesso em 21 de abril de 2017.

[...] a riqueza de aplicações é fascinante. Temos os estampados há uma gama enorme de possibilidades, que vai desde um simples xadrezinho, até os caríssimos e requintados florais utilizados para a ornamentação de ambientes luxuosos. [...] outro ponto que merece destaque diz respeito aos tecidos que são projetados já na sua estrutura, na sua trama. Para esses casos é importante que o design tenha conhecimento especifico, por isso é normal que os profissionais que atuam nestes casos tragam consigo conhecimento adquirido dentro das próprias fábricas (RUBIM, 2013, p.64)

Os revestimentos cerâmicos desempenham uma importante função de

aplicação do design de superfície. No Brasil, existem indústrias nessa área que vão

desde as de grande porte, até as microempresas que produzem materiais como

azulejos, pisos dentre outros. É uma área do mercado muito competitiva, contudo,

mesmo assim, um design com características nacionais ainda é raramente explorado,

sendo comum a maior valorização de características europeias. Na figura 2, é possível

observar a aplicação em cerâmica do design de superfície.

6

Figura 2: Design de superfície aplicado em cerâmica

Fonte: <http://www.moodtopia.com/wp-content/uploads/2013/07/Azulejos-ceramic-wall-tiles.jpg> acesso em 21 de abril de 2017.

Revestimentos cerâmicos para parede e pisos (azulejos, lajotas, etc.) representam um importante campo de aplicação do design de superfície. O parque industrial deste setor tem investido na contratação de designers eficientes para atender ás exigências do mercado consumidor de soluções inovadoras de revestimentos para construção civil e decoração(RÜTHSCHILLING, 2008, p. 39).

Como os tecidos e revestimentos cerâmicos, a tecelagem também representa

um importante campo de aplicação do Design de Superfície. Rüthschilling (2008), em

se tratando da tecelagem3, define que a técnica acompanha o homem desde a Pré-

História. Atualmente, encontra-se altamente refinada com o uso de teares eletrônicos

de alto desempenho. O designer, possuindo o conhecimento da técnica, cria

diferentes padrões variando o tipo de fio, cores e o modo de entrelaçamento, chamado

de ligamentos ou estruturas têxteis (FIGURA 3).

Figura 3 - Design de superfície aplicado na tecelagem

Fonte:<https://s-media-cache-ak0.pinimg.com>. Acesso em 21 de abril de 2017

3Consiste no entrelaçamento de fios dispostos verticalmente (urdume)com fios horizontais

(trama)para se obter um tecido.

7

No design de superfície, a estamparia abrange diferentes técnicas, podendo

ser desde estamparia manual, blocos, estêncil, batique, serigrafia e ou digital. Dessa

forma, a estamparia pode estar presente em diferentes materiais, no qual o designer

ocupa-se com a criação dos desenhos, de acordo com os processos técnicos de

estamparia e de acordo com a proposta solicitada.

Assim como nas áreas citadas, o design de superfície com aplicação em papeis

não é diferente, sendo realizado um planejamento minucioso para a realização dos

projetos, pois a criação para esse segmento é feita em papel de presente, até papel

mesmo para decoração de paredes. A cada dia, a técnica ganha mais espaço,

deixando as decorações com mais identidade e sofisticação (Figura 4).

Figura 4 - Design de superfície aplicada em papel

Fonte <http://www.qcola.com.br/imagens/g/papel-de-parede-colored-birds.jpg> Acesso em 21 de abril de 2017.

O design de superfície atua na área de papelaria, criando estampas para papéis de embrulho, embalagens, produtos descartáveis (guardanapos,pratos,copos e bandejas de papel) e materiais para escritório como capas de agendas, blocos, papéis de parede, dentre outros (RÜTHSCHILLING, 2008, p. 31).

Conforme Rüthschilling (2008), o design de superfície pode estar presente de

maneira especial quando complementa outras áreas do design, como a moda, design

industrial, design de interiores, entre outros. Destaca-se também, a importância dos

suportes e interfaces virtuais, que crescem com os avanços tecnológicos. Exemplo

disso acontece com o design de ambientes virtuais.

8

3 OS ÍNDIOS PATAXÓS NO BRASIL

Segundo Carvalho (2013), registros históricos apontam a presença dos índios

Pataxós no atual estado do Espírito Santo desde o século XVI. Além disso, evidências

apontam que a aldeia de Barra Velha existe há quase dois séculos e meio. Nesse

período, os índios da região litorânea, Pataxós, Tupis, Maxakali, botocudos e outros;

viviam exclusivamente da caça, pesca e de frutas da floresta, utilizavam os próprios

recursos para a realização das armas e armadilhas, não tinham conhecimento de

roupas, alimentos, ou quaisquer outros costumes dos homens brancos (SAMPAIO,

2000).

Hoje, vestimos as roupas que são fabricadas nas fábricas, usamos relógios e sapatos. Hoje, nós estudamos para defender os nossos direitos e encarar o mundo lá fora. Hoje, nós somos minoria, mas antigamente, éramos a maioria e vivíamos felizes nesta terra. Nós, Pataxó, somos fortes e guerreiros, como as outras nações indígenas que vivem por aí, em outros estados (PATAXÓ,2002, p,11).

Sampaio (2000), afirma ainda que, até o início do século XVII, eram frequentes

os ataques dos índios à população local de Ilhéus e Porto Seguro; saqueavam as

casas, ateavam fogo nas plantações, até que o governo imperial resolveu apoiar

expedições militares a fim de atacar os “Aimorés”, assim como eram conhecidos os

índios pelos homens brancos.

Já no início do século XIX, percebe-se a presença da tribo pataxó nas regiões

do país inicialmente ocupadas pelos europeus, onde eram realizadas trocas de

mercadorias com os comerciantes locais. De acordo com Maximiliano (1989), apesar

das relações de trocas existentes, a maioria das vezes os contatos entre homens

brancos e as tribos eram hostis.

Posteriormente, o cultivo do cacau passou a tomar conta da região sul da Bahia

e, em busca de novas terras para cultivo da fruta, os fazendeiros contratavam

jagunços para expulsar os índios daquela região. As fugas constantes em que viviam

[os Pataxós] sofreram violentos ataques desde esta ocasião [século XVII], o que teria

provocado redução violenta da sua população e desarticulação social decorrente das

imposições e pressões sofridas (PARAÍSO, 1982, p.105).

9

Maximiliano de Wied – Neuwied, príncipe alemão, assim descreveu os índios

pataxós, com os quais manteve contato em 1816, no qual, relatou em seu livro

“Viagens ao Brasil”:

[...] alguns são baixos, a maioria é de estatura meã, um tanto delgados, de caras largas e ossudas feições grosseiras. Uns poucos, somente, traziam amarrados em volta do pescoço lenços que lhes deram em ocasiões anteriores; o chefe que não tinha nada de notável [...] usava uma carapuça de lã vermelha e calções azuis obtidos algures. Comida era o principal desejo deles; deram-lhes cocos e um pouco de farinha; abriam aqueles mui destramente com uma machadinha; arrancando em seguida, da casca dura, com os dentes poderosos, a polpa branca: a avidez com que comiam era notável (MAXIMILIANO, 1989, p. 214,215).

Ainda de acordo com Maximiliano (1989), em sua observação, foi possível

constatar elementos externos dos Pataxós que se assemelham aos Puris e aos

Machacaris. Segundo o autor, a diferença é que esses últimos são mais altos que os

primeiros, “os últimos não desfiguram os rostos, usando os cabelos naturalmente

soltos, apenas cortados no pescoço e na testa” (MAXIMILIANO, 1989). Aponta ainda

para o fato da estética e da similaridade dos índios, afirma que havia aqueles que

furavam o lábio inferior a orelha, e mantinham um pequeno pedaço de bambu nestas

aberturas.

O autor compara também certas práticas das tribos, principalmente no que se

refere aos homens, de forma que todas as tribos da costa oriental traziam em seus

pescoços, facas penduradas a um cordel amarrado ao mesmo, como os rosários que

lhes eram dados. Além disso, todos os índios os penduravam do mesmo modo.

Tempos após o contato com o príncipe alemão, os Pataxós foram expulsos de

suas terras. Sampaio (2005), diz que muitos deles passaram a viver junto às vilas

coloniais costeiras de Santa Cruz Cabrália a Porto Alegre (Mucún), onde foram

assimilados como mão-de-obra nas fazendas a serviço dos colonos regionais. Não

obstante.

Sampaio (2005) afirma ainda que, por volta de 1861 o governo da Bahia,

resolveu agrupar toda população indígena regional em uma única aldeia, onde nos

dias de hoje localiza-se a atual Barra Velha, como forma de amenizar os conflitos entre

índios e colonos, e evitar a reivindicação dos primeiros pela posse de terras realizadas

pela população colonial.

10

Instalada na aldeia de Barra Velha, [...] o processo aculturativo foi extremamente rápido, com os índios se adaptando ao sistema de subsistência e pequeno comércio local. Os “caboclos” de Caravas eram os modelos e também agentes dessa aculturação, diferenciando-se, porém dos Pataxó. Iniciada a aldeia com grupos já pacificados, outros bandos, gradativamente teriam sido por ela atraídos, pressionados pela crescente expansão, mesmo que lenta da sociedade regional; nela, ou próximo a ela, buscaram acomodação [...]. Apesar dessa integração intertribal, tais bandos devem ter mantido uma relativa autonomia (ROCHA, Junior, 1987, p. 42).

Sobre o processo de unificação dos indígenas realizado pelo governo da Bahia,

Rocha (1987) descreve que a união das tribos Pataxó, Maxakali, Botocudo, Kamaca

em um único aldeamento, contribuiu para que o nome Pataxó provavelmente

prevalecesse devido ao maior número de índios oriundos desta tribo e também do

território conhecido pelo mesmo nome.

Contudo, em 1951, aconteceu um fato que marcou a vida e a realidade dos

povos Pataxós. Conhecido como massacre de 1951, como disserta Sampaio (2000),

houve um confronto entre os Pataxós e um povoado vizinho que desencadeou uma

violenta repressão policial, bem como a dispersão destes índios na região. Sobre esse

acontecimento Pataxó (2002) relata que:

Numa noite, os policiais de vários municípios se juntaram e cercaram a aldeia, colocaram fogo nas casas, atiraram nos índios que fugiam apavorados. Outros não tinham nem chance de fugir, morriam ali mesmo. Os poucos índios que conseguiram fugir, para sobreviver, tiveram que trabalhar como escravo nas fazendas (PATAXÓ, 2002, p.28).

Rocha (1987) também relatou em suas pesquisas que pouco depois do

Massacre, os índios se espalharam pela região em pequenos núcleos, visando buscar

trabalho em fazendas ou mesmo novos assentamentos nas matas. Alguns índios

ainda retornaram a Barra Velha, após alguns anos, casados com brancos, negros e

mestiços, um processo de miscigenação um tanto quanto forçado, mas não incomum,

tendo em vista o que a história nos conta, ou seja, conforme compreendemos a origem

e os caminhos que levaram a tribos a se dispersarem e a se estabelecerem em outras

regiões. Atualmente “[...] existe Pataxó em dois estados brasileiros, Minas Gerais e

Bahia, e eles continuam lutando pelos seus direitos de ser índios, poder contar sua

história e viver com dignidade” (PATAXÓ, 2002, p.29).

11

Nossa aldeia é localizada no município de Carmésia- Minas gerais. A população da nossa comunidade e de aproximadamente trezentos Pataxós, entre adultos, jovens, velhos e crianças. O nosso território ocupa uma área de 3.278hectares. Aqui trabalhamos nos roçados, caçamos, pescamos e festejamos. Nossa aldeia representa nossa vida, sem ela jamais conseguiremos sobreviver! Aqui nascemos, crescemos, vivemos e morreremos (PATAXÓ, 2002, p.09).

Ainda conforme Pataxó (2002), os índios desta mesma etnia, que atualmente

habitam no estado de Minas Gerais, residem no Posto Indígena Guarani, no município

de Carmésia. Vieram para região e dividiram-se em pequenos grupos em busca de

um meio de sobrevivência, durante a fuga do Massacre de 1951. Na atualidade, a

aldeia MuãMimatxi habitada por eles, conta com aproximadamente 220 índios,

incluindo alguns Krenak.

3.1 A divisão da tribo e os locais em que as aldeias estão situadas

Em 1951, os caciques ainda lutavam para conquista de suas terras, até que um

dia chegou à tribo duas pessoas que se identificaram como demarcadores de terras a

pedido do governo, aos poucos ganharam a confiança dos índios. Pouco tempo após

o contato com a tribo os militantes, convidaram um grupo da tribo para visitar um

lugarejo chamado Corumbau. Ali, os forasteiros passaram por marcadores de terra,

onde na realidade tinham como intenção assaltar o lugar e colocar a culpa nos índios.

A partir de então, o índio foi condenado pela população de Porto Seguro e a aldeia se

transformou em um campo de guerra e massacre. Em uma noite policiais cercaram

as aldeias, colocaram fogo nas casas e atiraram nos índios. Os indígenas que não

morreram ou conseguiram fugir, foram presos, e posteriormente ganharam sua

liberdade com a condição de trabalharem nas fazendas como “escravos”.

[...] Só que eles eram fortes e não desistiam da luta. Essa triste situação do povo Pataxó teve uma longa duração. Um certo dia, felizmente, surgiu a demarcação de um pedaço de terra. Hoje existe Pataxó em dois estados brasileiros, Minas Gerais e Bahia, e eles continuam lutando pelos seus direitos de ser índios, poder contar sua história e viver com dignidade

(PATAXÓ, 2002, p.29).

Os Pataxós de Minas Gerais, têm sua origem no sul da Bahia. Eles vieram para

Minas Gerais em busca de uma vida melhor, ou para garantir sua sobrevivência.

12

Segundo Amâncio (2015), registros históricos apontam que os índios Pataxós foram

um dos primeiros nativos a terem contato com os portugueses.

A história dos Pataxós relata muito sofrimento e constante mudança territorial,

principalmente a partir do contato com os brancos europeus no século XVI.

É possível encontrar no site escola Britannica4 a afirmativa de que, a partir do

século XX, o número de pataxós já era consideravelmente reduzido. Muitos haviam

falecidos por causa de doenças, ou pelo fato das famílias terem se dispersado em

pequenos grupos e levas, fugindo dos incessantes ataques às suas terras. Contudo,

na década de 1960 aproximadamente, foi criado o Parque Nacional de Monte Pascoal.

No entanto, os pataxós ficaram impedidos de cultivar as terras da área como havia

sido previsto por lei, o que fez com que alguns grupos vivessem ali nos arredores.

De acordo com o censo de 2015, os Pataxós estão distribuídos em terras no sul

da Bahia e norte de Minas Gerais. A maioria deles, junto com índios de outras etnias,

estão concentrados na Terra Indígena Barra Velha do Monte Pascoal e é dado a este

grupo o nome de Pataxó hã-hã-hãe. Segundo os dados do Instituto Sócio Ambiental-

ISA, em 2010, os Pataxós somavam 11.833 indivíduos do qual sobrevivem

da agricultura de subsistência, da pesca, criação de gado e do cultivo de cacau, ou

seja, estes elementos são as principais fontes de renda destes grupos.

Os guerreiros Pataxós, símbolos de resistência, têm sua origem no sul da

Bahia, e segundo o site pataxómg5, atualmente vivem em Minas Gerais com mais de

300 indígenas Pataxós divididos em seis aldeias situadas nos municípios de

Carmésia, Açucena, Candonga e Itapecerica.

3.2 Análise da cultura e artesanato da etnia Pataxó

Segundo Cunha (2013), o artesanato produzido pela tribo Pataxó possui

características próprias e diferenciadas. Para a utilização e comercialização dos

enfeites são levados em conta seu uso e comércio, questões de gênero, status social,

idade, entre outros. Há também a diferenciação dos artesanatos utilizados para rituais,

e daqueles que são utilizados no cotidiano. Ainda de acordo com a autora, o

artesanato proporciona trocas culturais entre os índios e os demais povos pelos quais

4PERES, AraldoPataxó.Tribo Pataxó. Disponível em: <http://escola.britannica.com.br/levels/fundamental>. Acesso em 24 de abril de 2017. 5Disponível em:<https://pataxomg.wordpress.com/quem-somos/> Acesso em 24 de abril de 2017.

13

os indígenas circulam. Sendo que os enfeites corporais podem sofrer modificações de

significados e também de matérias primas a partir do contato e convivência com outros

povos bem como interferências e transformações sofridas na própria tribo.

[...] as sociedades indígenas são dinâmicas como qualquer outra sociedade que esteja no mundo e que os indígenas negociam com os ideais de autenticidade de seu artesanato (e de resto de todo registro cultural), estabelecendo, com os não-índios, relações específicas quando o foco recai sobre o autêntico ou sobre noções preconcebidas sobre suas culturas (CUNHA, 2013, p. 14).

Portanto, o que se observa é uma dinamicidade e adaptação na produção

artesanal indígena, que ao longo dos anos tem incorporado materiais não naturais em

sua produção, a fim de aliar-se à comercialização.

Cunha (2013) descreve ainda sobre os materiais utilizados pelas tribos Pataxós

em geral: Sementes de aleluia (também conhecida como olho de boi ou sereia), barba

de barata, buji, café beirão, fava de cobra, fedegoso, flamboyan, juerana, mata passo,

mauí, milagre, olho-de-pombo, ovo de gato, pacari, tento, tinguí, tiririquim, sabão de

macaco, salsa; são alguns exemplos de sementes utilizadas para se produzir colares,

brincos, pulseiras e cintos. Penas de galinha, galinha d‘angola, pato, ganso, pavão,

marreco, papagaio e até arara são utilizadas para a confecção de alguns tipos de

enfeites corporais como brincos, prendedores de cabelo e cocares femininos e

masculinos. Algumas penas usadas atualmente são artificiais, devido à escassez de

matéria prima disponível. A madeira por sua vez, é utilizada para confecção de

bancos, gamelas, anéis de coco e palitos de cabelo, palha, utilizada em bolsas e

chapéus e linha encerada, adquirida na cidade e usada na falta da fibra do tucum são

alguns dos materiais extraídos da fauna e flora local para confecção dos enfeites do

povo Pataxó.

Sobre a importância da produção do artesanato para tribo e de transmitir o

conhecimento e tradição de geração para geração, Gallois (2006) afirma:

14

Nossos objetos não podem sumir, tem que ser passados para os nossos filhos. Os objetos que a gente faz não vão existir se não tivermos o patrimônio imaterial. Porque tudo que a gente tem, devemos incorporar nos nossos conhecimentos [...]. Tudo o que adquirimos de outros não quer dizer que acabou com o nosso modo de preparar nosso artesanato, e sim que esse modo está dentro. [...] E é assim que a cultura dos Tarëno, que é a dos Tiriyó, foi sendo construída ao longo de muitas gerações, e está sendo repassada até hoje (GALLOIS, 2006, citado por Cunha, 2013, p. 20)

De acordo com os autores, fica evidente a importância da preservação e

manutenção dos recursos naturais, para garantir a continuidade do patrimônio

imaterial da cultura indígena, que na atualidade tem realizado adaptações a partir dos

recursos disponíveis.

15

4CORPO COMO FORMA DE EXPRESSÃO

O corpo pode assumir diferentes formas visuais, seja por meio de códigos ou

símbolos. Além de assumir uma função expressiva, também pode ser utilizado para

representar aspectos culturais, manifestar aspectos artísticos bem como as fases da

vida a partir de formas de expressões.

Segundo Castilho (2004), entende-se o corpo humano como uma “estrutura

linguareira” que o ser humano decora e ornamenta, por meio das relações

combinatórias entre significantes diversos. Nessas relações, o corpo pode ser tanto

sujeito da ação, como um objeto. Desta forma, a marca sobre a pele passa a

apresentar um valor, produzir um significado ao sujeito que a possui, e como corpo,

esse sujeito passa a manifestar de forma diferente daqueles outros corpos que não

possuem o mesmo sinal, ou possuem diferentes sinais. Portanto, as marcas ou sinais,

se tornam elementos diferenciais dos corpos, que passam então a abrigar sentidos.

Conforme Castilho (2004, p.72), no universo animista dos primeiros seres

humanos, as pinturas ou incisões são corporais. Isso significa que, o primeiro suporte

para a codificação ou representação usado pelos homens primitivos foi o seu próprio

corpo. Desta forma, as tatuagens e as pinturas corporais trazem consigo uma espécie

de valor, seja voltado pelo sagrado ou até mesmo como forma de representar

determinados momentos marcantes e importantes da vida que merecem destaque.

Deste modo, as marcas corporais, correspondem uma forma de expressar que

assume não só os valores e sentimentos, mas participam do o corpo, sendo esse,

suporte para a realização.

Castilho (2004) afirma ainda, que esses elementos formam e explicam uma

narrativa que nada mais é que a própria história do sujeito, cujo o corpo é suporte das

marcas.

16

Em todas épocas e lugares do mundo, o homem usa o corpo como linguagem. Muitas vezes escrevendo na própria pele uma espécie de diário de sua vida. [...]o corpo se enfeita para ser belo, diferente e mágico [...] o corpo submetido a um castigo que dura para sempre. Tatuagens, pinturas corporais e perfurações como piercings sobrevivem até hoje. Renascem nas ruas como enfeite da moda, novas formas de criar e beleza, talismãs modernos. Emitem sinais de rebeldia, de apego ao passado, e chegam a virar prova de resistência a dor...E o corpo transformado num verdadeiro manifesto de estilo de vida que cada um quer ter(ARAUJO,2005, p.7).

Para Araújo (2013), os maiores artistas da pintura corporal, foram os Índios

Kadiwéus. A comunicação através do corpo ocorre de acordo com a cultura e região.

As formas de se expressar no corpo podem trazer diferentes formas de pensar. Em

algumas sociedades tradicionais, por exemplo, os adornos do corpo como piercing,

tatuagem ou outras atribuições, funcionam como uma carteira de identidade, no qual

apenas por olhar é possível conhecer a origem de um povo e sua posição social. Os

rituais podem vir a representar diferentes passagens, como marcar momentos de

nascimento, adolescência, guerras, castigo, luto, práticas curativas e beleza.

Corpo é representação e, nesse sentido, participa e é mesmo suportado pelo sagrado. O sagrado surge muito cedo como interdições e constrangimentos físicos, que contém a ambiguidade de um limite que possibilita. Ou seja, que as balizas dos contornos corporais precisam ser construídas no conjunto da relação do outro, no estabelecimento recíproco de territórios e geografias (COSTA,2013, p.57)

Segundo Frenda (2013), na arte, o corpo pode ser tratado sob diversos

aspectos, dentre eles: representação, formas de representar visualmente o corpo;

como linguagem cênica, o corpo transmitindo códigos e símbolos, conforme com a

cultura no qual está inserido.

Mas o corpo também pode assumir função expressiva como suporte. E não é de hoje que o corpo é usado como meio de comunicar aspectos culturais, manifestar-se artisticamente ou propor reflexões. As civilizações ancestrais usavam o corpo para expressar aspectos culturais e estéticos e ainda muitos

mantêm essas tradições até os dias de hoje(FRENDA, 2013, p. 206).

As figuras abaixo demonstram a arte corporal em diferentes etnias.

17

Figura 5 - Mulher Karo

Fonte:http://s2.glbimg.com/eYpIybeW3amMlPHlxZu3dkKMy4=/e.glbimg.com/og/ed/f/original/2015/06/16/penteado-mulher-karo.jpg

Figura 6 - Mulher Mursi,Etiópia

Fonte:<http://fscomps.fotosearch.com/compc/AGE/AGE063/x5t-1548691.jpg>

Ainda de acordo com Frenda (2013), o uso do corpo como suporte artístico dá

se o nome de bodyart, a “arte do corpo”. Não existem técnicas especificas nesta arte,

como na escultura e pintura, todas técnicas e formas que se relacionam com o corpo

podem ser reaproveitadas. E, ao utilizar o próprio corpo como expressão, o artista se

remete diretamente ao ser humano:suafragilidade, sua força e suas questões sociais

(FRENDA, 2013). Castilho (2004), reafirma a ideia de que o corpo pode assumir

diferentes funções expressivas:

18

Um outro aspecto a ser destacado consiste no fato de que a pintura corporal contribui também para tornar o ser humano dessemelhante de si mesmo, estabelecendo ritualmente comunicação com o heterogêneo, e que é também utilizada para criar o “terror sagrado”. Podemos considerar que essas manifestações ocorrem por meio de um certo jogo que se articula pelo princípio da utilização de elementos antinaturais, não constituintes de seu próprio corpo, como as linhas retas, triângulos, todas as figuras geométricas rígidas, enfim, traços que levam o corpo a um contraponto espetacular, quando inseridos no contexto de leveza dos traços fisionômicos, da elasticidade da carne, das curvas orgânicas dos músculos.

(CASTILHO,2004, p.77,78).

Para o mesmo autor, a pintura e os adornos podem se substituir com facilidade,

não deixam marcas de seriedade e o compromisso de forma tão rigorosa. Pois isto

acontece a partir do momento em que o suporte plástico, ou seja, o corpo, é

culturalizado e estabelecido. A reação com o sagrado recebe nova dimensão, surge

então novos suportes como paredes das cavernas, pedra, madeira e a cerâmica que

darão possibilidades de elaborar novos significados criando outras manifestações.

Talvez possamos afirma que, com essa nova atribuição de valores e significações organizados e redimensionados a outros suportes, ao corpo fossem destinados, então elementos de decoração de caráter estético e de valor distintivo. Não será mais somente o corpo o suporte ideal para a representação do sagrado, mas esse propiciará cada vez mais a distinção do sujeito no grupo; ele continuará a refletir seu grau de importância e relevância social por meio dos adornos e das marcas. Cada vez mais, o valor estético se faz presente nas configurações corpóreas e, dessa maneira, as manifestações discursivas, que se estabelecem sobre o corpo, adquirem uma possibilidade de oscilar com maior frequência, não necessariamente sendo remetidas aos seus significados originais

(CASTILHO, 2004, p.78).

De acordo com a colocação de Castilho, (2004) é possível entender que o corpo

pode assumir diferentes funções e significados, tornando uma forma de expressão

dos indivíduos ou grupos. Contudo, faz-se necessário averiguar sobre o estudo das

interferências que o corpo sofre e em que medida estas interferências contribuem para

compreender o significado mitológico e físico da pintura corporal.

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[...] deixar de ser pintado para sujeitar-se a decorações definitivas como as provocadas pela tatuagem, escarificações e deformações, que são efetivamente realizadas na própria superfície do corpo, e que se impõem como um pacto frente ao grupo, revelando sua presença, sua permanência e responsabilidade diante do mesmo (CASTILHO,2004, p.77,78).

A partir da análise dos elementos culturais atuais, mais do que reinventar a

moda, existe a necessidade de reinventar o próprio corpo dando novos significados,

exibi-lo de diferentes formas, seja como expressão ou marcas corporais.

4.1 O estudo das interferências no corpo

A tatuagem é a forma de interferência corporal mais conhecida no mundo, essa

técnica consiste em desenhos feitos na pele, na qual a tinta é introduzida com auxílio

de agulhas. Atualmente, as tatuagens são utilizadas principalmente pelo fator estético,

como forma de buscar uma identidade única e se diferenciar em meio a população.

Existem tatuagens feitas como um sinal de ligação entre as pessoas, como as

tatuagens que se completam ou aquelas em que mais de uma pessoa marca o mesmo

símbolo como sinal de afeição e afinidade.

O homem usa o corpo como forma de se expressar e se diferenciar, além da

busca da identidade e da necessidade de pertencer a um grupo social desde seu

surgimento e antes mesmo da linguagem verbal (PEDROSA,2009):

Sabemos que a expressão corporal nasceu com o homem, antecedendo a linguagem verbal; historicamente, a expressão corporal nasce com o homo sapiens, que por sua necessidade de comunicação aprende a gesticular, aprende a exteriorizar suas ideias e seus desejos (PEDROSA, 2009, p.199).

A autora afirma ainda que, a expressão corporal, como é conhecida na

atualidade, de transformações diárias e grandes modificações surgiu em meados do

Século XX, como meio de contestar o sistema estabelecido pela sociedade, regras,

comportamento atitudes e ocasiões. “Nas sociedades tradicionais, a tatuagem, o

piercing os adornos do corpo funcionam como uma carteira de identidade. Só de olhar,

reconhecemos a origem de um povo, a posição que cada membro ocupa dentro da

tribo e do clã (ARAÚJO, 2005 p. 21)”.

Não existe uma data exata para o surgimento da tatuagem; segundo Araújo

(2005), o tatuado mais antigo que se tem notícia é Ötzi, conhecido também como

20

“homem de gelo”, encontrado na região dos Alpes, viveu a cerca de 5200 anos e traz

cinquenta marcas de tatuagens nas costas e atrás dos joelhos.

Araújo (2005) afirma que, tatuagens, pinturas corporais e piercings sobrevivem

até os dias atuais e ressurgem como novas formas de beleza, enfeites de moda e

como talismãs modernos. São emissores de sinais como rebeldia, apego ao passado

e resistência a dor. E o corpo se transforma em um manifesto do estilo de vida que

cada indivíduo pretende ter.

A tatuagem pode ser feita por vários motivos, como por exemplo, mostrar

rebeldia, personalidade, vaidade, marcar um fato importante na vida de uma pessoa,

a busca pela individualidade, a tentativa de pertencer a um determinado grupo social,

e algumas vezes pode ser usada também como forma de castigo.

A tatuagem, desde muito tempo, foi usada também como castigo. Na Grécia antiga, escravos fugidos e recapturados traziam a seguinte mensagem na testa: “Pare-me, sou um fugitivo”. Os romanos seguiram esse costume: os gladiadores prisioneiros entravam na arena exibindo na testa a marca de seus crimes. Durante séculos, prisioneiros continuaram a ser marcados conforme o crime que haviam cometido, e os escravos, com o nome de seus senhores. Muitos tentavam inutilmente arrancar a pele para se livrar do estigma (ARAÚJO, 2005. P. 32).

Os Piercings e a pintura corporal surgiram há muitos anos, como forma de

distinguir grupos, classe social ou mesmo status. Foram usados também como

marcas de uma conquista ou ritos de passagem. Conforme Araújo (2005), o dia de

pintar, furar ou tatuar o corpo marca momentos importantes da vida como o

nascimento, adolescência, luto, festa, guerra. A criança Caiapó ao nascer, por

exemplo, tem as orelhas furadas e nelas são inseridos tocos vermelhos de madeira.

Curiosamente, quando a criança cresce, o grande furo fica vazio.

Para alguns povos, o piercing faz parte de rituais de passagem, representam

status, são usados como lembretes de algum acontecimento e, seu uso, em alguns

casos, concede direitos especiais dentro da sociedade. Araújo (2005) afirma que o

piercing no nariz para a mulher indiana, serve de lembrete para não gastar mais do

que seu marido pode gastar, já para os índios colombiano chibcha, a argola no nariz

dava-lhes o direito de falar com o chefe nas cerimônias. Os Incas usavam agulhas de

ouro para furar a orelha e colocar um botão, marcando a passagem dos meninos para

a idade adulta.

21

O piercing é empregado como forma de oposição, adorno, manifesto corporal,

em sinal de resistência e sonho de liberdade. Usado como propósito de pertencer a

um grupo social, ou de se rebelar contra a sociedade. “Os punks ingleses, no final dos

anos 1970, furavam a pele com alfinetes de fralda ou faziam pequenas escarificações

(cortes na pele para provocar cicatrizes), como se cravassem pregos na imaculada

face conservadora da Inglaterra (ARAÚJO, 2005, p.29). ”

A pintura corporal tem muitas funções e significados. Cada tipo de pintura,

símbolo, cor e parte do corpo no qual são feitas, tem um motivo e um sentido diferente.

Há pinturas usadas como forma de comemoração, luto, proteção e embelezamento.

Araújo (2005) alega que mulheres indianas, nepalesas e de outras regiões da Ásia,

no dia do seu casamento, se enfeitam com desenhos de hena, tinta extraída da flor

de uma árvore. São feitos desenhos nas mãos e nos pés, dessa forma parece que

estão cobertos por uma renda.

Algumas pinturas são usadas também como forma de camuflagem, arma de

guerra, para amedrontar os inimigos, porém são usadas também como forma de

espantar insetos. “[...] as tintas para pintura corporal, quase sempre preparadas com

óleo ou gordura, servem também como repelente...” (ARAÚJO, 2005. p.25).

A pintura corporal é muito valorizada na cultura da etnia Pataxó, sendo que

para cada ritual, fase da vida e tipo de celebração, existe um critério para definir os

símbolos a serem usados. A pintura de homens, mulheres e crianças é diferente,

também há distinção entre os casados e os solteiros na hora de definir o que vai ser

gravado na pele.

Existem pinturas para o rosto, braços, costas e pernas. Usam-se pinturas específicas para os homens, mulheres e crianças. As pinturas têm diversidade de tamanho e significados, servem como meio de comunicação entre os membros da aldeia. Os homens e mulheres casadas usam pinturas simples para não chamar muita atenção, enquanto os solteiros e as solteiras usam pinturas e artefatos que chamem bastante atenção, com intenção de seduzir a pessoa do sexo oposto. Também existem tipos de pintura e tinta que são mais usados quando se está em estado de luta; e outros que são mais usados para simbolizar momentos de luto. Outros ainda servem para definir e mostrar a beleza de quem está pintado(PORTALPATAXO, 2017).6

6Mais informações: http://portalpataxo.com.br/acervo-cultural/pinturas-pataxo/ acesso em 10/06/2017.

22

Ao se realizar um estudo mais aprofundado da pintura corporal dos Pataxós,

pode-se observar aspectos específicos em cada um de seus traços, de modo a

entender o significado de cada um deles e compreender os motivos que os levam a

escolher o que pintar, a cor que deve ser usada para cada momento, e qual objetivo

desse povo ao realizar essas pinturas.

Assim como as tatuagens e os piercings são dotados de significados, o que

levou a busca e análise da pintura corporal dos Pataxós nesse trabalho, foi a

necessidade de compreender o sentido do que é representado nos desenhos

utilizados, conhecer suas características e o que os induzem a fazer essas

representações simbólicas na pele, ou seja, compreender se a pintura corporal dos

Pataxós pode ou não ser considerada como design de superfície.

4.2 A relação entre o design de superfície e a pintura corporal

Considera-se que o Design de superfície ocupa um espaço único dentro do

estudo do Design, por possuir elementos, sintaxe da linguagem visual e ferramentas

projetais próprias. Ele abrange consigo um campo do conhecimento capaz de justificar

e qualificar projetos de tratamentos de superfície do ambiente social (Ruthschilling,

2008). Freitas (2012), afirma que a manipulação da superfície através de cores,

formas, texturas e grafismos que atuam por meio dos sentidos com a finalidade de

transmitir signos, informações verbais e mensagens que são captadas caso tenham

sido importantes: “[...] é capaz de transformar o conceito em seu objeto e pode,

portanto, tornar-se um metapensamento de um modo de pensar conceitual. Até então

os conceitos eram passíveis de ser pensados somente por meio de outros conceitos,

da reflexão”. (FLUSSER apud FREITAS, 2012, p. 18).

Para Melatti, citado por Fabrício Vaz Nunes (1993, p.163) a diferença da arte

indígena das demais artes, é que ela não reproduz objetos somente com finalidade

estética. Ainda segundo o mesmo autor, o “objeto estético”, ou seja; aquele projetado

somente para ser apreciado, surgiu no ocidente e veio se formando a partir do

Renascimento. Nesta formação, a arte tem assumido cada vez mais a estética como

principal papel para ser considerada arte, tornando-se “arte autônoma”,

diferencialmente da arte indígena.

23

Nas sociedades indígenas não existe uma arte “autônoma”, que só serve para ser contemplada, como percebeu o professor Ulpiano: Parece-nos que, nestes casos todos, a deficiência principal esteja em se considerar uma categoria à parte de objetos – definidos precisamente como objetos artísticos. Entre outros inconvenientes, cumpre apontar o estabelecimento de funções unívocas para objetos ou categorias de objetos. Ora, a transposição de significados e usos, detectada pelas relações de contexto, ou a associação frequentemente comprovada, de objetos de “valor estético” a usos não só cerimoniais e ideológicos, mas também econômicos e tecnológicos, invalida tal postura.

(MENESES in ZANINI, apud NUNES, 2011, p 145).

Desse modo, os autores caracterizam que a arte indígena não pode ser

considerada como arte autônoma justamente por ser difícil de atribuí-la à uma

categoria de objetos de cunho somente estético, já que geralmente são dotadas de

significados e contextos.

Cardoso (2012) propõe questionar a relação entres as pinturas corporais

indígenas e o design de superfície. Para este autor,

Muitos podem questionar em cima deste raciocínio as pinturas corporais indígenas. Porém se estudarmos mais sobre elas, veremos a grande finalidade presente. Hoje nossa sociedade pode fazer uma leitura superficial dos pictogramas, mas nelas não só existem funções expressivas como também significados relacionados à adoração das diversas divindades, podendo assim, serem interpretadas funcionalmente, pois foram em sua maioria influência tradicional, tornando-se puramente racional e empírica para eles. (CARDOSO, 2012).7

Portanto, entende- se que a pintura corporal indígena pode assumir a função

de comunicação entre os povos, e também religiosa, na qual assim como o design de

superfície não simboliza somente a estética, como também um objetivo para ser

produzida e acessórios que, através de combinações, produzem diversos significados.

Sobre esse aspecto, pode-se propor através do estudo do corpo como único

suporte plástico das sociedades arcaicas, redimensionados e propostos a novos

suportes e manifestações pela sociedade atual, como as tatuagens, os deformadores

como piercings, alargadores e outros; serem atribuídos também como suportes,

objetos, manifestações e materiais do design de superfície, com suas potencialidades

e limites. Assim como afirma Freitas (2012) “possibilitam a realização de um projeto

carregam em si a possibilidade de exercer sua potencialidade e também apresentam

limites físicos, químicos e estéticos”.

7Disponível em:https://medium.com/a-cultura-ind%C3%ADgena-brasileira-como-objeto-de/5-o-design-

antes-de-ser-design-a05535246ffe

24

Ou seja, assim como o Design de superfície que parte de um projeto na criação

de texturas visuais e táteis, empregadas para caracterização das superfícies, com o

objetivo de propor soluções estéticas, funcionais e simbólicas (Ruthschilling, 2006). O

corpo humano tem sido destinado aos elementos decorativos, de caráter estético e

peculiar como um suporte ideal para representação do sagrado, de relevância social

e importância entre seres e seus grupos, que a cada dia adquire maior valor estético,

e, consequentemente, linguagem discursiva, e comunicação com o heterogêneo.

25

5 CONCLUSÃO

O Design de superfície, introduzido no Brasil incialmente por Renata Rubim na

década de 1980, é uma área de conhecimento voltada para um projeto desenvolvido

por um designer que diz respeito ao tratamento e desenvolvimento de revestimentos

de produtos, como por exemplo: tecidos, cerâmicas, estampas, papéis, plásticos,

vidros e outros. Texturas, cores e interferências em diferentes superfícies, são

projetadas e testadas com o objetivo de descobrir novas funções ou melhoras

estéticas para os produtos baseados nas questões culturais, na sociedade para o qual

será criado, e também nas sensações e desejos que se pretende transmitir.

Um projeto de design utiliza-se de diversos meios criativos para conseguir

chegar a um mesmo propósito. “Os meios materiais e técnicos que possibilitam a

realização de um projeto, carregam em si a possibilidade de exercer sua

potencialidade e também apresentam limites físicos, químicos e estéticos” (FREITAS,

2017, p.43). Portanto, os resultados do design de superfície dependem muito do tipo

de matéria prima a ser utilizada, pois é a partir dela que o projeto se desenvolve.

Com base nos estudos sobre o conceito e aplicabilidade do design de

superfície, e nas pesquisas sobre as pinturas corporais indígenas, mais

especificamente da tribo Pataxó, foi possível estabelecer um elo entre o design de

superfície e a pintura corporal, em que os índios seriam os designers do corpo, e este

último serviria como suporte ou matéria prima.

Habitantes do Brasil desde o século XVI, conforme já mencionado por esse

trabalho, os índios da tribo Pataxó habitavam o litoral sul da Bahia, e lá passaram por

diversas lutas e repreensões durante o governo imperial, o que causou a dispersão

do grupo pelo estado da Bahia e Minas Gerais. Alguns voltaram para região do sul da

Bahia para a chamada Aldeia Mãe, ou aldeia de Barra Velha onde retomaram suas

vidas. Com características culturais próprias, donos de seu próprio calendário,

seguindo as tradições, rituais e épocas de colheita, os Pataxós produzem, colares,

brincos, pulseiras, cintos, cocares, bancos gamelas, anéis e coco, cestos e outros

demais utensílios fabricados em sua maioria matéria prima natural: sementes, palha,

penas, entre outros (CARVALHO, 2013).

26

Ao se estudar os costumes e cultura da tribo Pataxós, outro bem cultural desse

povo, digno de estudo e atenção, é a pintura corporal. Parte da história desse povo

representa sentimentos do cotidiano, os bens e o sagrado. Esse tipo de expressão

artística é utilizado geralmente em festas e rituais, como casamentos, nascimento,

comemorações no dia do índio, apresentações de danças e outras demais

eventualidades. Há pinturas para diversas partes do corpo, com tamanhos diferentes

com significados particulares e momentos certos para serem usadas. A pintura

corporal é um bem cultural de grande valor para os povos indígenas, especialmente

os Pataxós. Elas são parte da história desta etnia e representam sentimentos do

cotidiano, os bens e o sagrado. “Para os Pataxós, em cada tipo de linguagem há um

espírito, cada coisa que fazem é uma homenagem a eles. Tudo o que fazem envolve

muito respeito pois tudo na vida deles é sagrado”

Por um lado, o Design de superfície compreende a elaboração de um projeto para

que ocorra uma interferência, uma criação a partir da matéria prima, dotadas de

significados funcionalidades e estética. A pintura corporal indígena apresenta-se com

suas semelhanças em relação aos significados que carrega consigo. Essa relação

pode vir sugeri-la como aplicação do design de superfície. Pois assim como o design,

a pintura corporal é projetada para ser realizada, através da escolha das partes do

corpo, desenhos, possui significados, e também a funcionalidade, nesse caso de

caráter sagrado, proteção sagrado e também comunicativo.

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REFERÊNCIAS

ARAÚJO, Leusa. Tatuagem, piercing e outras mensagens do corpo. São Paulo. Cosac Naify, 2005, 85 p.

CARDOSO, Rafael. Design para um mundo complexo. São Paulo: Cosac Naify, 2012. Disponível em: https://medium.com/a-cultura-ind%C3%ADgena-brasileira-como-objeto-de/5-o-design-antes-de-ser-design-a05535246ffe. Acesso em 02 de abril, 2016.

CARVALHO, Maria Rosário. Povos indígenas no Brasil. Disponível em:<https://pib.socioambiental.org/pt/povo/pataxo/2304>. Acesso em 02 de julho, 2017.

COSTA, Ana. Tatuagens e marcas corporais: atualizações do Sagrado. São Paulo; Casa do Psicólogo, 2014. (Coleção clínica psicanalítica / dirigida por Flávio Carvalho Ferraz).

FRENDA, Perla; GUSMÃO, Tatiane Cristina; BOZZANO, Hugo Luis Barbosa.Arte e interação. São Paulo: IBEP, 2013. 512 p.

PATAXÓ, et al. O povo pataxó e suas histórias. São Paulo. Global, 2002.

PEDROSA, Mariana dos Reis.Expressão corporal e educação: elos do conhecimento. Revista da Católica, Uberlândia, MG, 2009. Disponível em: <http://catolicaonline.com.br/revistadacatolica2/artigosv1n2/16-PEDAGOGIA-05.pdf>. Acesso em 02 de julho, 2017.

PERES, Araldo Pataxó.Os Pataxós. Disponível em: <http://escola.britannica.com.br/levels/fundamental>. Acesso em 24 de abril de 2017.

Povo Pataxó. Inventário cultural pataxó: tradições do povo Pataxó do Extremo Sul da Bahia. Bahia: Atxohã / Instituto Tribos Jovens (ITJ), 2011.

RUBIM, Linda; BARBALHO, Alexandre; RUBIM, Antônio Canelas [et al.]Organização e produção da cultura. Salvador: EDUFBA; FACOM/CULT, 2005. 186 p.

RÜTHSCHILLING, EveliseAnicet. Design de superfície. Porto Alegre. Editora da UFRGS, 2008. 104 p.

SANTAELLA, Lúcia. O que é semiótica. São Paulo: Brasiliense, 1983.