sobre o descarte sustentável de resíduos sólidos

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Revista Brasil em Código

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Page 1: Sobre o descarte sustentável de resíduos sólidos

28 out/nov/dez 2012 [ BRASIL EM CÓDIGO ]

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O caminhode volta

Por Camila mendonça

A sanção da Política Nacional dos Resíduos Sólidos completou dois anos em agosto, mas só agora diretrizes do descarte sustentável dos resíduos estão sendo definidas

Sessenta e quatro mil toneladas de resíduos. Esta é a quantidade que o Grupo Pão de Açúcar captou de mate-rial, por meio de doações dos consumi-dores, para cooperativas de reciclagem parceiras do Programa Estações de Re-ciclagem Pão de Açúcar Unilever, im-plantado em 2001. Nessa conta, estão incluídos materiais como papel, plásti-co, metal e vidro. No primeiro semestre deste ano, o grupo já coletou cerca de oito mil toneladas nas 241 lojas da rede que possuem as estações.

Em 2008, as estações passaram a aceitar óleo de cozinha usado e em 2010, embalagens de desodorantes do tipo ae-rossol. Ao todo, já foram coletadas cinco toneladas das embalagens e mais de 1,4 milhão de litros de óleo, que são utiliza-dos para a produção de biocombustível. Desde 2010, a rede também recebe pi-lhas e baterias e já arrecadou, até junho deste ano, 17 toneladas desse material.

Hoje, 85% do total dos resíduos pro-duzidos nas lojas desviam da rota dos aterros sanitários e são reaproveitados, de acordo com a rede de varejo. O Grupo Pão de Açúcar implantou a logística re-versa antes mesmo da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PRNS) ser sancio-nada, há dois anos, em agosto de 2010. Pesquisa realizada pelo ILOS (Instituto de Logística e Supply Chain), com cem empresas que estão no ranking das mil maiores empresas do País, mostra que 60% delas já têm ações de logística reversa.

SUSTENTABILIDADE LOGÍSTICA REVERSA

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A Nextel é mais uma de-las. Desde 2005, a empresa promove campanhas para o reco-lhimento de baterias e celulares, afirma Wandreza Ferreira, gerente de responsa-bilidade social. Antes de serem descarta-dos, os aparelhos passam por uma análi-se. Dependendo do diagnóstico, eles são encaminhados para uma empresa que dará uma destinação correta ao aparelho ou são recondicionados. “O recondicio-namento de equipamentos custa em média metade do valor da produção de um novo”, afirma a executiva.

Os componentes dos aparelhos que não são reutilizados são enviados

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para reciclagem fora do Brasil. Os que têm condições de operar entram para o programa de locação da empresa, por meio do qual empresas clientes alugam aparelhos. Com as iniciativas, em 2011, a Nextel recuperou 73% dos 1.342.691 aparelhos recolhidos nas lo-jas. “O objetivo da Nextel é crescer de maneira sustentável e a empresa tem se empenhado em buscar as melhores respostas para esse desafi o, o que pas-sa por seguir caminhos que permitam avançar de maneira constante em três âmbitos-chave: econômico, social e ambiental”, avalia Wandreza.

A Nokia do Brasil e o Grupo Pão de Açúcar fi zeram parceria em 2010 para também coletar celulares, acessórios e baterias. Cerca de 275 lojas da rede varejista participam do programa, que já coletou mais de duas toneladas de materiais, que foram encaminhados para reciclagem. No Pão de Açúcar há também o Ciclo Verde Taeq, pro-grama de logística reversa implantado pela marca do grupo em 2009. Por meio da ação, a empresa transforma embalagens de papel depositadas pe-los clientes para a confecção de novas embalagens destinadas aos produtos Taeq. Essa iniciativa representa 5% do volume das embalagens produzidas, de acordo com a empresa. Até hoje, fo-ram arrecadados cerca de 3,8 milhões de material, sendo 800 mil no primeiro semestre deste ano.

As ações individuais de grandes companhias, afi rma Gisela Mangabeira de Sousa, gerente de projetos do ILOS, ainda representam pouco no cenário ge-ral e geram mais impacto para a imagem da empresa. Ainda assim, essas iniciati-vas são importantes, até porque ajudam a gerar novos negócios em torno das ne-cessidades específi cas dessas empresas. “Com a logística reversa, é preciso que haja empresas que façam determina-das fases do processo. E isso é um fator positivo, pois se cria novos modelos de negócios e de trabalho”, afi rma.

A ORDEM É REAPROVEITAR“A Política Nacional de Resíduos

Sólidos é mais uma direção de regras gerais do modo como temos de direcio-nar as sobras. Ela demorou a sair, mas é um avanço”, explica Gisela. A PNRS institui, em linhas gerais, a forma como o País deve lidar com o lixo que produz e dita as responsabilidades de empresas, sociedade e do poder público. E ressalta que todos os agentes da cadeia de pro-dução de um produto são responsáveis pelo descarte correto desse produto, da indústria ao consumidor.

As principais ações que a PNRS coloca em discussão vão desde a obri-gatoriedade dos municípios de elabo-rarem políticas de descarte de resíduos ao fechamento de lixões. A instituição da logística reversa é parte dessa história e nada mais é que o caminho de volta dos resíduos, ou seja, da parte aprovei-tável dos produtos que já foram usados ou estão vencidos. A ideia, segundo explica Gisela, é aproveitar tudo o que é possível para evitar cada vez mais o uso dos aterros sanitários e desenvolver economicamente regiões que atuem com

Logística reversa: instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adeuada.Resíduos sólidos: material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades humanas, nos estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento no ambiente.Rejeitos: resíduos sólidos que, depois de esgotadas todas as possibilidades de tratamento e recuperação por processos tecnológicos disponíveis e economicamente viáveis, não apresentem outra possibilidade que não a disposição final ambientalmente adequada.Disposição fi nal ambientalmente adequada: distribuição ordenada de rejeitos em aterros, observando normas operacionais específicas de modo a evitar danos ou riscos à saúde pública e à segurança e a minimizar os impactos ambientais adversos.Quem é obrigado a fazer: fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de agrotóxicos, seus resíduos e embalagens; pilhas e baterias; pneus; óleos lubrificantes, seus resíduos e embalagens; lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista; produtos eletroeletrônicos e seus componentes.

Fonte: Política Nacional de Resíduos Sólidos

TUDO SE TRANSFORMA

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[[SUSTENTABILIDADE

o reaproveitamento de materiais. A dis-cussão sobre o retorno dos produtos não é nova. A legislação apenas consolidou consensos de debates que já estavam sendo feitos no âmbito do Ministério do Meio Ambiente.

Por isso, apenas alguns segmentos têm de implantar sistemas de logística reversa, obrigatoriamente, como fabri-cantes, importadores, distribuidores e comerciantes de produtos agrotóxicos, pilhas e baterias, pneus, óleos lubrifican-tes, lâmpadas e de produtos eletroeletrô-nicos. “A partir da lei, o governo, junto com os setores envolvidos, faz estudos para alinhar metas para a implantação dos sistemas”, explica Gisela.

A PNRS não esmiúça a forma como as empresas de cada setor vão descartar os resíduos. Isso está sendo definido aos poucos. O segmento de óleos lubrificantes e agrotóxicos, por exemplo, já têm edital fechado. “Os setores de lâmpadas e eletrô-nicos ainda estão discutindo as diretrizes com o governo”, afirma a executiva. A previsão é que o edital com as regras do segmento de lâmpadas esteja fechado em novembro e o de eletrônicos tem previsão de estar pronto apenas em 2013. As novas regras para o uso, descarte, transporte e re-ciclagem de pilhas e baterias entraram em vigor em setembro deste ano.

Com os editais fechados, o próximo passo é criar a regulamentação para cada segmento, por meio de acordo setorial. A partir daí, cria-se uma entidade que estruturará, organizará e coordenará a logística reversa de todas as empresas do setor que aderiram ao acordo. “Nesse sistema, é possível reduzir os custos da operação, porque com a participação de um conjunto de empresas a coleta ganha escala”, explica Gisela.

RETORNOEmbora muitas empresas já tenham

seus próprios sistemas de reaproveita-mento de material, a maioria tem difi-culdade de implantar as ações, afirma

Wandreza Ferreira, da Nextel“O objetivo da Nextel é crescer de maneira sustentável, desafio que passa por seguir caminhos que permitam avançar em três âmbitos-chave: econômico, social e ambiental”

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Gisela Mangabeira de Sousa, do ILOS. “O Brasil é um país grande e o desafio é atender a todos os pontos de forma adequada”, diz. Outro desafio é fazer parcerias com os importadores, para que todos os agentes da cadeia de su-primentos se envolvam no processo.

Montar um sistema de parcerias e de recolhimento dos materiais não é ta-refa fácil. Mas para ajudar as empresas, a automação se torna uma aliada, se-gundo Karina Rocha, assessora de so-luções de negócios da GS1 Brasil (As-sociação Brasileira de Automação). “É possível rastrear o produto para dar um fim adequado a ele. Para isso, é preciso ter controle. E quanto maior o controle que você tiver sobre o processo, mais efetivo ele é”, afirma Karina.

Foi com o auxílio da tecnologia que a Droga Raia implantou seu sis-tema de logística reversa; neste caso a automação colabora no gerenciamento de todo o processo. Em parceria com a empresa BHS (Brasil Health Service), que desenvolve projetos para o seg-mento de saúde, a rede instalou em suas lojas estações coletoras computa-dorizadas, chamadas de Ecomed, cujo sistema permite registrar quantidade, tipo e a destinação dos medicamentos descartados pelos consumidores, que conseguem acompanhar via internet o destino dos medicamentos descarta-dos, que normalmente é a incineração.

As estações são frutos de pesquisas feitas pela empresa dos sistemas de lo-gística na Espanha, em Portugal e na Ale-manha, afirma José Roxo, presidente da BHS. “Percebemos que o mercado tinha a necessidade de ter um sistema seguro de coleta desses medicamentos”, afirma. O desenvolvimento das estações demo-rou 18 meses e foram investidos cerca de R$ 300 mil. A ideia, segundo Roxo, é dar a destinação correta aos medicamentos (incineração ou aterro para produtos da classe 1 – considerados perigosos), ga-rantindo segurança ao processo.

Para depositar os medicamentos no coletor, os consumidores devem passar o código de barras do medicamento no leitor da máquina, que identificará o remédio. Em seguida, é preciso separar a caixa da pomada ou comprimidos e colocá-los nos locais indicados. Hoje, 219 lojas da Droga Raia nos Estados: São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Ge-rais, Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina possuem as estações e a rede já conseguiu coletar cerca de sete to-neladas de medicamentos. Ao todo, a BHS tem cerca de 300 estações espa-lhadas em redes de todo o País.

As máquinas também estão em algu-mas drogarias da rede Walmart em São Paulo, no Distrito Federal, em Pernambu-co, no Rio Grande do Sul e no Ceará, afir-ma Juberlândia de Sousa e Silva, gerente da área técnica Farmácia Brasil da marca. “Antes de instalarmos as estações, nós tí-nhamos algum movimento para fazermos logística reversa, mas existia um receio de como fazer e o quanto isso impactaria na operação”, afirma a executiva.

No final de 2011, a rede começou a instalar as Ecomeds nas drogarias. Hoje, são dez estações que somente

neste ano recolheram cerca de 500 quilos de medicamentos, sem as em-balagens. A expectativa é de chegar a 20 estações até o final deste ano. “O retorno é positivo. Em algumas lojas, o fluxo de consumidores aumentou”, diz Juberlândia. “O projeto condiz com o conceito de responsabilidade social da empresa, além de oferecer um serviço a mais para os consumidores”, com-pleta a executiva.

Para Ana Paula Vendramini Ma-niero, assessora de soluções de negó-cios da GS1, a tecnologia é fundamen-tal em processos que requerem maior cuidado, como o descarte de medica-mentos. “Quando se identifica o que está sendo descartado, é possível dar um tratamento adequando e um des-tino correto, inclusive dificultando o desvio do medicamento para outros fins”, afirma Ana Paula. “Uma vez que o código de barras do medica-mento é lido, antes de ser descartado, o empresário tem maior controle do processo e acesso a informações que auxiliam na rastreabilidade e tomada de decisão. Por exemplo, é possível saber todos os princípios ativos dos medicamentos descartados e conse-quentemente dar um destino correto a eles”, ressalta a executiva.

Justamente para evitar desvios, afirma José Roxo, é que a segurança ao longo do processo de descarte é necessária. Quando as Ecomeds estão cheias, o farmacêutico apresenta uma identificação com código de barra que é lida pela máquina. “A partir daí a es-tação ‘conversa’ com o farmacêu-tico”. A estação pesa o lote e fornece uma nume-ração de controle. Como ela está co-nectada à internet, uma solicitação de coleta é enviada a BHS, que valida a retirada do lote e envia à transportadora.

Ana Paula Vendramini Maniero, da GS1 Brasil “Quando se

identifica o que está sendo descartado, é possível

dar um tratamento adequado”

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