sobre o decreto 8135 e sua regulamentação – sugestões

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BRASSCOM Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação Rua Funchal, 263 conjunto 151 Vila Olímpia CEP: 04551-060 - São Paulo SP Tel: +55 11 3053-9100 / Fax: +55 11 3053-9115 www.brasscom.org.br São Paulo, 17 de fevereiro de 2014. À Secretária de Logística e Tecnologia da Informação do MPOG Loreni Foresti Assunto: Sobre o Decreto 8135 e sua regulamentação Sugestões. Prezada Secretária, A segurança de dados é um desafio de todos os governos e empresas no mundo e a indústria de Tecnologia da Informação tem como uma de suas facetas principais a construção de softwares e o desenvolvimento de arquiteturas de sistemas e de redes que forneçam tal proteção. A experiência ao longo de toda a história desta indústria mostra que proteções não são invioláveis, porque os sistemas não são estáticos, mas dinâmicos, sujeitos à intervenção humana, para o bem ou para o mal. A garantia de sistemas robustos é baseada numa arquitetura integrada que leve em consideração os pontos de maior fragilidade do sistema, por meio dos quais se quebra a segurança da informação. A consistência do sistema implica uma solução integrada composta por, entre outros, uma arquitetura adequada, linguagens, processos de desenvolvimento, codificações, qualificações e criptografia. As possibilidades de ataques aos sistemas ocorrem em múltiplas situações e não apenas porque neles sejam inseridos, premeditadamente, recursos lógicos ou físicos para a espionagem. Auditorias podem até ser feitas, mas não são segurança de infalibilidade anti-hackers. A regulamentação do Decreto 8.135 deve levar em conta esses elementos centrais e também considerar que o estabelecimento de padrões não aceitos globalmente podem provocar custos e distúrbios na indústria de Tecnologia da Informação no País, extremamente sensível a regras de Propriedade Intelectual. É forçoso reconhecer que, já no estágio atual, a indústria de TI se ressente em seus negócios das consequências dessa mudança de regra em curso, com paralisia de contratos em andamento e contratações programadas. Isso poderá ser tanto mais danoso quanto maior for a instabilidade por ela causada. Preocupa no decreto a ampliação da dispensa de licitação a título de segurança nacional, porque muito ampla e imprecisa. Também preocupa o alargamento do conceito de redes de telecomunicações, a ponto de poder contaminar Tecnologia da Informação com outros impostos, a exemplo de ICMS, o qual incide sobre Telecom, mas não sobre TI.

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Page 1: Sobre o Decreto 8135 e sua regulamentação – Sugestões

BRASSCOM – Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação Rua Funchal, 263 – conjunto 151 – Vila Olímpia – CEP: 04551-060 - São Paulo – SP

Tel: +55 11 3053-9100 / Fax: +55 11 3053-9115 www.brasscom.org.br

São Paulo, 17 de fevereiro de 2014.

À Secretária de Logística e Tecnologia da Informação do MPOG

Loreni Foresti

Assunto: Sobre o Decreto 8135 e sua regulamentação – Sugestões.

Prezada Secretária,

A segurança de dados é um desafio de todos os governos e empresas no mundo e a

indústria de Tecnologia da Informação tem como uma de suas facetas principais a

construção de softwares e o desenvolvimento de arquiteturas de sistemas e de redes que

forneçam tal proteção.

A experiência ao longo de toda a história desta indústria mostra que proteções não são

invioláveis, porque os sistemas não são estáticos, mas dinâmicos, sujeitos à intervenção

humana, para o bem ou para o mal.

A garantia de sistemas robustos é baseada numa arquitetura integrada que leve em

consideração os pontos de maior fragilidade do sistema, por meio dos quais se quebra a

segurança da informação. A consistência do sistema implica uma solução integrada

composta por, entre outros, uma arquitetura adequada, linguagens, processos de

desenvolvimento, codificações, qualificações e criptografia. As possibilidades de ataques

aos sistemas ocorrem em múltiplas situações e não apenas porque neles sejam inseridos,

premeditadamente, recursos lógicos ou físicos para a espionagem. Auditorias podem até

ser feitas, mas não são segurança de infalibilidade anti-hackers.

A regulamentação do Decreto 8.135 deve levar em conta esses elementos centrais e

também considerar que o estabelecimento de padrões não aceitos globalmente podem

provocar custos e distúrbios na indústria de Tecnologia da Informação no País,

extremamente sensível a regras de Propriedade Intelectual.

É forçoso reconhecer que, já no estágio atual, a indústria de TI se ressente em seus

negócios das consequências dessa mudança de regra em curso, com paralisia de contratos

em andamento e contratações programadas. Isso poderá ser tanto mais danoso quanto

maior for a instabilidade por ela causada.

Preocupa no decreto a ampliação da dispensa de licitação a título de segurança nacional,

porque muito ampla e imprecisa. Também preocupa o alargamento do conceito de redes

de telecomunicações, a ponto de poder contaminar Tecnologia da Informação com outros

impostos, a exemplo de ICMS, o qual incide sobre Telecom, mas não sobre TI.

Page 2: Sobre o Decreto 8135 e sua regulamentação – Sugestões

BRASSCOM – Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação Rua Funchal, 263 – conjunto 151 – Vila Olímpia – CEP: 04551-060 - São Paulo – SP

Tel: +55 11 3053-9100 / Fax: +55 11 3053-9115 www.brasscom.org.br

Como sugestão, a BRASSCOM indica ao governo que a adoção de padrões e

certificações internacionais, a exemplo do Common Criteria, representará o melhor

caminho para dotar o País de critérios de segurança comumente aceitos pela indústria.

Nesse sentido, trabalhar com o estado da arte das tecnologias neste campo coaduna-se

com o papel que o Brasil pretende desempenhar no debate global sobre a governança da

Internet, o qual terá um momento de destaque em abril na Reunião Multissetorial Global

sobre o Futuro da Governança da Internet (NETmundial)

Como sugestões finais, a BRASSCOM propõe, na regulamentação do referido decreto:

a. Não criação de padrões locais de certificação e auditoria de sistemas;

b. Definição de um caminho plausível, em cooperação com a indústria, para

desenvolver os pontos críticos da proteção de dados;

c. Cautela na implementação do § 2º do Art. 1º, de modo que os serviços de correio

eletrônico oferecidos por órgãos e entidades da Administração Pública Federal

não sejam restritivos nem causem, com rupturas desnecessárias, mais turbulências

do que soluções.

d. Para garantir que as soluções sejam adequadas e efetivas, os critérios de

qualificação das mesmas devem ser uniformes, quaisquer que sejam os entes

provedores, público ou privado.

e. Que as mudanças almejadas pelo Decreto tenham o cuidado de não transferir

custos indevidos para a indústria, comprometendo a confiança em investimentos

futuros.

Com esses propósitos e sugestões, continuamos, como sempre, abertos e dispostos a colaborar

com o governo para o melhor entendimento possível.

Respeitosamente,

Edmundo M. Oliveira

Diretor de Relações Institucionais da Brasscom