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Súmula n. 185
SÚMULA N. 185
Nos depósitos judiciais, não incide o Imposto sobre Operações Financeiras.
Referências:
CTN, art. 97, I.
Lei n. 8.033/1990, art. 1º.
Precedentes:
AgRg no Ag 86.048-RS (2ª T, 13.12.1995 – DJ 26.02.1996)
REsp 83.150-RS (1ª T, 06.05.1996 – DJ 10.06.1996)
RMS 3.071-RJ (2ª T, 16.03.1994 – DJ 11.04.1994)
Primeira Seção, em 12.03.1997
DJ 31.03.1997, p. 9.667
AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE INSTRUMENTO N. 86.048-RS (95.49966-5)
Relator: Ministro Ari Pargendler
Agravante: Fazenda Nacional
Agravado: Bier Scharlau e Companhia Ltda
Procuradores: Dolizete Fátima Michelin e outros
Advogados: Flávio Osório Marques e outros
EMENTA
Tributário. Imposto sobre Operações Financeiras. Saque de depósito judicial. Lei n. 8.033/1990. O artigo 1° da Lei n. 8.033, de 1990, não prevê o saque de depósito judicial como fato gerador do Imposto sobre Operações Financeiras, incidência criada pela Instrução Normativa n. 62, de 1990, do Diretor do Departamento da Receita Federal, com manifesta afronta ao artigo 97, I do Código Tributário Nacional. Agravo regimental improvido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Segunda
Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, negar provimento ao agravo, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Antônio de Pádua Ribeiro, Hélio Mosimann e Peçanha Martins.
Brasília (DF), 13 de dezembro de 1995 (data do julgamento).
Ministro Helio Mosimann, Presidente
Ministro Ari Pargendler, Relator
DJ 26.12.1996
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Ari Pargendler: - O agravo regimental ataca o seguinte
despacho: “Nego provimento ao agravo; o artigo 1° da Lei n. 8.033, de 1990, não
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autoriza a cobrança do IOF sobre o saque de depósitos judiciais. Intimem-se”
(fl . 39).
A teor das razões do recurso, “a Turma ao afastar a aplicação da Instrução
Normativa n. 62/1990 por ofensa ao princípio da legalidade estrita em sede
tributária, desconsiderou a natureza de norma complementar da citada Instrução
Normativa, ferindo frontalmente o disposto no art. 100, I, do Código Tributário
Nacional”. (fl . 42).
VOTO
O Sr. Ministro Ari Pargendler (Relator): - O artigo 1° da Lei n. 8.033,
de 1990, não prevê o saque de depósito judicial como fato gerador do Imposto
sobre Operações Financeiras. A Instrução Normativa n. 62, de 1990, do Diretor
do Departamento da Receita Federal, criando essa incidência, afrontou o
artigo 97, I, do Código Tributário Nacional. A Instrução Normativa é norma
complementar da lei, não podendo contrariá-la (CTN, artigo 100). Acaso a lei
tivesse instituído o tributo, seria inconstitucional, porque não se compreende
possa a tutela judicial ser diminuída, efeito que resultaria do desfalque de parte
da quantia assegurada pela coisa julgada.
Há precedente da Turma, pela inexigibilidade do tributo na espécie (RMS
n. 3.071-7, RJ, Relator Ministro Pádua Ribeiro, DJU, 11.04.1994).
Voto, por isso, no sentido de negar provimento ao agravo regimental.
RECURSO ESPECIAL N. 83.150-RS (95.0067653-2)
Relator: Ministro Milton Luiz Pereira
Recorrente: Fazenda Nacional
Recorrido: José Alfredo Pessi Parode
Procuradores: Maria da Graça Hahn e outros
Advogado: Mauro Pessi Parode
SÚMULAS - PRECEDENTES
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EMENTA
Tributário. IOF. Incidência sobre depósitos judiciais. Inexigibilidade - Instrução normativa ampliando a imposição fi scal. Artigos 97, I, e 100, I, CTN. Lei n. 8.033/1990 (art. 1°). IN n. 62/1990.
1. Distanciando-se a instrução administrativa das disposições timbradas pelo processo legislativo, ampliada a ordem jurídica originária do poder competente, criando obrigação em matéria tributária, confi gura-se ofensa ao princípio da legalidade estrita.
2. Inexigibilidade do IOF sobre depósitos judiciais estadeado em instrução normativa que não guardou a necessária relação com a lei.
3. Precedentes jurisprudenciais.
4. Recurso improvido.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas: Decide a Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, negar
provimento ao recurso, na forma do relatório e notas taquigráfi cas constantes dos autos, que fi cam fazendo parte integrante do presente julgado. Participaram do julgamento os Senhores Ministros José Delgado, José de Jesus Filho, Demócrito Reinaldo e Humberto Gomes de Barros. Presidiu o julgamento o Senhor Ministro Humberto Gomes de Barros.
Custas, como de lei.
Brasília (DF), 06 de maio de 1996 (data do julgamento).
Ministro Humberto Gomes de Barros, Presidente
Ministro Milton Luiz Pereira, Relator
DJ 10.06.1996
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Milton Luiz Pereira: Cuida-se de Recurso Especial, fulcrado na alínea a, do permissivo constitucional, interposto contra o v. aresto do colendo Tribunal Regional Federal da 4ª Região, abreviado na ementa, a saber:
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Tributário. IOF sobre depósitos judiciais. Lei n. 8.033/1990. Não prevê incidência.
1. O artigo 1° da Lei n. 8.033/1990 não prevê a incidência do IOF sobre os depósitos judiciais efetivados para fi ns de garantir o juízo.
2. A Instrução Normativa n. 62/1990, editada pelo Diretor do Departamento da Receita Federal, estrapolou os limites da Lei ao criar hipótese de incidência nela prevista.
3. Recurso e remessa improvidos (fl . 42).
A via Especial funda-se em alegada violação aos arts. 1°, I, da Lei de n. 8.033/1990 e 100, I, do Código Tributário Nacional, bem como a Instrução Normativa de n. 62/1990.
As contra-razões não foram apresentadas.
O nobre Presidente do colendo Tribunal a quo inadmitiu o recurso, inobstante os autos subiram a esta Corte por força de provimento dado a agravo de instrumento.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Milton Luiz Pereira (Relator): Como ensaiado no relatório, a insurgência confrontou julgado constituído com a afi rmação de que “... o art. 1° da Lei n. 8.033/1990 não prevê o saque de depósito judicial como fato gerador do IOF, sendo ilegal a IN n. 62/1990-RF, que o instituiu”.
O exame das prédicas recursais está assegurado pelo permissivo explicitado no art. 105, III, a, Constituição Federal, para a averiguação de contrariedade àquelas disposições legais.
Bem confi gurado o facies, a questão jurídico-litigiosa cinge-se à legalidade, ou não, da mencionada exigência fi scal aprisionada ao IOF, nesse contexto, de logo, comportando comemorar as disposições da Lei n. 8.033/1990, apontadas como contrariadas, assim redigidas:
Art. 1° - São instituídas as seguintes incidências do imposto sobre operações de crédito, câmbio e seguro ou relativas a títulos ou valores mobiliários:
I - transmissão ou resgate de títulos e valores mobiliários, públicos e privados, inclusive de aplicações de curto prazo, tais como letras de câmbio, depósitos a prazo com ou sem emissão de certifi cado, letras imobiliárias, debêntures e cédulas hipotecárias; ...
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Eis que, à sua vez, estabeleceu a Instrução Normativa n. 62/1990:
... 3. Enquadram-se no conceito de aplicações financeiras para efeitos da incidência do Imposto sobre Operações Financeiras instituído pela Lei n. 8.033, de 12 de abril de 1990:
a) as operações de mútuo de “trava câmbio” e de cessão de crédito entre empresas não ligadas;
b) os depósitos voluntários para garantia de instância e os depósitos judiciais, quando o seu levantamento se dá em favor do depositante.
Feita a leitura das pertinentes disposições contidas na lei, seguindo-se os do texto confi gurado na aludida instrução, sem difi culdades, verifi ca-se que o ato administrativo distanciou-se das estipulações timbradas pelo processo legislativo, ampliando o alcance da malsinada exigência fiscal. Por outras palavras, registra-se que a instrução não guardou a necessária relação com a Lei, inovando a ordem jurídica originária do poder competente e criando direitos e obrigações em matéria tributária, com inescondível gravame no patrimônio das pessoas. No caso, demais, a trato de depósitos judiciais, com natureza jurídica própria e fi nalidade específi ca, invadindo campo onde a instrução normativa executiva não exerce prerrogativa.
Desse modo, confi gura-se ofensa ao princípio da legalidade estrita em sede tributária (arts. 97, I e III, e 100, I, CTN), justapondo-se que, a respeito, a Corte tem precedente, cujo voto condutor, elaborado pelo eminente Ministro Ari Pargendler, lineou:
O artigo 1° da Lei n. 8.033, de 1990, não prevê o saque de depósito judicial como fato gerador do Imposto sobre Operações Financeiras. A Instrução Normativa n. 62, de 1990, do Diretor do Departamento da Receita Federal, criando essa incidência, afrontou o art. 97, I, do Código Tributário Nacional. A Instrução Normativa é norma complementar da lei, não podendo contrariá-la (CTN, artigo 100) ....
O acórdão fi cou resumido na seguinte ementa:
Tributário. Imposto sobre Operações Financeiras. Saque de depósito judicial. Lei n. 8.033/1990.
O artigo 1° da Lei n. 8.033, de 1990, não prevê o saque de depósito judicial como fato gerador do Imposto sobre Operações Financeiras, incidência criada pela Instrução Normativa n. 62, de 1990, do Diretor do Departamento da Receita Federal, como manifesta afronta ao artigo 97, I, do Código Tributário Nacional. Agravo Regimental improvido. (AgReg em Ag. n. 86.048-RS - in DJU de 26.02.1996).
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Outrossim, coloca-se em relevo que no RMS n. 3.071-7-RJ, Relator
Ministro Antônio de Pádua Ribeiro, foi estadeada a inexigibilidade do tributo
em comento (in DJU 04.04.1994).
Confluente à linha de pensar desenvolvida como motivação, voto
improvendo o recurso.
É o voto.
RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA N. 3.071-RJ (93.0014131-7)
Relator: Ministro Antônio de Pádua Ribeiro
Recorrente: Fazenda Nacional
Procuradores: Salvador Cícero Velloso Pinto e outros
Tribunal de Origem: Tribunal Regional Federal da 2ª Região
Impetrado: Juízo Federal da 30ª Vara–RJ
EMENTA
Depósitos judiciais. Cobrança de IOF. Proibição determinada pelo juiz com relação aos depósitos sob a sua tutela. Licitude.
I - O magistrado responsável pela administração dos depósitos confi ados ao seu juízo, apenas mantidos fi sicamente na instituição fi nanceira, tem poder de disciplinar a tramitação daqueles valores, do depósito até o seu levantamento.
II - Recurso ordinário desprovido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas.
Decide a Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráfi cas anexas, por unanimidade, negar provimento ao recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.
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Participaram do julgamento os Srs. Ministros José de Jesus e Américo Luz.
Ausentes, justifi cadamente, os Srs. Ministros Hélio Mosiman e Peçanha
Martins.
Brasília (DF), 16 de março de 1994 (data do julgamento).
Ministro Antônio de Pádua Ribeiro, Presidente e Relator
DJ 04.04.1994, Republicado 11.04.1994
Republicado por haver saído ilegível no DJ de 04.04.1994
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro: - O parecer da douta
Subprocuradoria Geral da República, da lavra do Dr. Eduardo Weaver de
Vasconcellos Barros, ilustre Subprocurador-Geral, assim resumiu a controvérsia
e sobre ela se manifestou (fl s. 55-56):
A decisão recorrida (fl s. 28-38) negou pedido de segurança contra provimento emitido pelo magistrado impetrado determinando aos dirigentes da Caixa Econômica Federal responsáveis pela administração dos depósitos judiciais que se abstivessem de reter qualquer importância a título de IOF incidente sobre os levantamentos efetuados em decorrência de alvarás e mandados expedidos por aquele juízo, assim resumindo seu entendimento:
Mandado de segurança contra ato judicial.
I - A Instrução Normativa n. 62/1990, da Receita Federal, invade a área de competência dos Juízes Federais ao fazer incidir no conceito de aplicações fi nanceiras para efeito de incidência do IOF, o levantamento dos depósitos voluntários para garantia de instância e os depósitos judiciais. Lícito e oportuno, portanto, o provimento emitido pelo Juiz-Diretor do Foro.
II - Segurança denegada.
A ora recorrente insiste em suas razões originais, enfatizando a força legisferante das instruções normativas em contraposição à ausência de poder dos magistrados para a edição de atos da espécie, estranhos à atividade jurisdicional e à administração de seu juízo.
Não parece, todavia, justifi car-se tal inconformismo.
Conforme, aliás, bem observou o órgão do Ministério Público Federal no parecer de fl s. 22-25, “afi gura-se, à míngua de dúvidas, haver a autoridade fi scal se distanciado dos parâmetros fi ncados pelo legislador para assumir ela própria
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mister legisferante e criar ex-novo hipótese de incidência não entrevista pelo órgão competente”.
Por outro lado, sendo o magistrado o responsável pela administração dos depósitos confi ados ao seu juízo, apenas fi sicamente mantidos na instituição fi nanceira, tem evidente poder de disciplinar a tramitação daqueles valores, do depósito até o seu levantamento.
Isto posto, opino no sentido da manutenção de decisão recorrida, por seus próprios fundamentos, negando-se provimento ao recurso.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro (Relator): - Conforme
demonstra o douto voto-condutor do acórdão recorrido, com apoio em parecer
do Ministério Público, a impetrante não está ao amparo de nenhum direito
líquido e certo. Nesse sentido, aduziu (fl s. 32-35):
Em lúcido parecer, assim opinou o Ilustre órgão do Ministério Público Federal:
A Fazenda Nacional impetra mandado de segurança contra ato do Juiz da 30ª Vara Federal pelos motivos assim deduzidos:
I - É ilegal a Portaria n. 17 de 29.04.1992 baixada pela autoridade coatora quando em flagrante abuso de sua competência recomendou ao Superintendente Regional da Caixa Econômica Federal neste Estado se abstivesse de reter e recolher importâncias a título de IOF sobre o levantamento de depósitos voluntários para garantia de instância e dos depósitos judiciais decorrentes de mandados e alvarás de levantamento expedidos pela 30ª Vara.
II - Na hipótese considerou o magistrado indevida a disposição da Instrução Normativa n. 62/1990 da Receita Federal que incluiu no conceito de aplicações fi nanceiras para efeitos de incidência do IOF:
Os depósitos voluntários para garantia de instância e os depósitos judiciais quando seu levantamento se der em favor do depositante.
III - Daí a impetração para que seja anulada a Portaria ora referida editada pela autoridade coatora.
Às fls. 18 prestou informações o Juízo da 30ª Vara a justificar que a Portaria profl igada pelo Impetrante baseia-se na tese sobre não caber a incidência do IOF sobre os depósitos judiciais.
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Primeiro porque na condição de mera depositária judicial faleceria competência à Caixa Econômica para arrecadar tributos sobre os depósitos em referência.
De outro lado a Lei n. 8.033/1990, ao definir novas hipóteses de incidência do IOF, não contemplou os depósitos voluntários para garantia de instância e os depósitos judiciais.
Nesse passo desbordante da previsão legal seria o dispositivo fi xado na Introdução Normativa n. 62/1990 da Receita Federal.
É o relatório.
É bem sinalar, primordialmente, que o writ, ao pugnar contra a determinação judicial exarada na Portaria n. 17, visa prevenir os efeitos concretos do ato impugnado de alcance imediato em detrimento da arrecadação de receita da Fazenda Nacional.
Admitido o cabimento do mandado, ante o teor do pedido deduzido pela Impetrante, o seu exame de mérito diz com a ilegalidade, ou não, da Instrução Normativa n. 62 da Receita Federal, que estatuiu a obrigatoriedade de recolhimento pela Caixa Econômica Federal do Imposto sobre Operações Financeiras, relativo aos depósitos judiciais e ao levantamento de depósitos voluntários para garantia de instância.
De um lado, o magistrado considerou que a providência normativa, na hipótese, desbordaria do conteúdo da Lei n. 8.033/1990, que não previu entre os fatos geradores do IOF as operações com depósitos judiciais.
A seu turno, a autoridade fi scal considerou descabida a edição de uma portaria pelo magistrado, a irrogar a pecha de ilegalidade ao ato normativo emanado do órgão fazendário.
Temos, em princípio, a realçar que, responsável pela condução dos feitos que tramitam em Juízo, lícito é ao seu titular garantir o zelo, no processamento das causas ali instauradas, das regras que integram o ordenamento.
Em outras palavras, censurável fár-se-ia a conduta do julgador quando não procurasse sanar a imposição de procedimento, à evidência desenvolvido ao largo dos ditames legais.
Se a Caixa Econômica Federal é, por imperativo (Dec. Lei n. 1.737/1979), destinatária dos depósitos postos à disposição do Juízo, tão apenas à autoridade judicial caberá dispor e ordenar quaisquer expedientes com relação a esses depósitos, inconfundíveis pelas próprias peculiaridades da sua regência legislativa com operações outras de curso bancário.
Pretender identificar, nos levantamentos, por ordem do Juízo, de depósitos consignados em situações especialíssimas, meras operações fi nanceiras é desconhecer a disciplina específi ca dos depósitos judiciais.
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Reputamos, dessarte, regular a postura do magistrado quando, a prevenir a interferência indevida do Executivo, em matéria afeta à prestação jurisdicional, assegurou a sua integralidade mediante provimento para corrigir intervenção de vícios vários.
A tese das informações, que lastrearam a emissão do ato impugnado, remete ao conteúdo da Lei n. 8.033/1990 e acentua o seu contraste com as disposições da Instrução Normativa n. 62/1990.
A leitura em cotejo dos diplomas em pauta permite aferir a exatidão dos argumentos invocados pela autoridade coatora.
Com efeito diz a Lei n. 8.033/1990 no seu artigo 1° e 3°:
Art. 1° - São instituídas as seguintes incidências do imposto sobre operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos ou valores mobiliários.
I - transmissão ou resgate de títulos e valores mobiliários, públicos e privados, inclusive de aplicações de curto prazo, tais como letras de câmbio, depósitos a prazo com ou sem emissão de certifi cado, letras imobiliárias, debêntures e cédulas hipotecárias;
II - transmissão de ouro definido pela legislação como ativo fi nanceiro;
III - transmissão ou resgate de título representativo de ouro;
IV - transmissão de ações de companhias abertas e das consequentes bonifi cações emitidas;
V - saques efetuados em cadernetas de poupança.
Art. 3° - A base de cálculo do imposto de que trata esta Lei é:
I - nas hipóteses de que trata o inciso I do art. 1°, o valor transmitido ou resgatado;
II - nas hipóteses de que trata os incisos II e III do art. 1°, o valor da operação;
III - nas hipóteses de que trata o inciso IV do art. 1°, o valor da operação, observada a dedução prevista no § 1° do art. 7°;
IV - na hipótese de que trata o inciso V do art. 1°, o valor do saque, observada a dedução prevista no § 1° do art. 7°.
Parágrafo único - No caso de aquisição de ações e ouro, por exercício de opção, a base de cálculo será obtida utilizando-se o preço médio observado em pregão no dia do exercício, assegurada, para as ações, a dedução prevista no § 1° do art. 7°.
Não se enxerga, ainda quando em hermenêutica lata e pouco técnica em seara tributária, onde divisar os depósitos judiciais a dar ansas à cobrança, quais operações fi nanceiras, do tributo em apreço.
SÚMULAS - PRECEDENTES
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A Instrução Normativa n. 62/1990 assim previu:
3. Enquadram-se no conceito de aplicações fi nanceiras para efeitos da incidência do imposto sobre operações fi nanceiras instituído pela Lei n. 8.033, de 12 de abril de 1990:
a) as operações de mútuo, de “trava de câmbio” e de cessão de crédito entre empresas não ligadas.
b) os depósitos voluntários para garantia de instância e os depósitos judiciais, quando o seu levantamento se der em favor do depositante.
Afigura-se-nos, à míngua de dúvidas, haver a autoridade fiscal se distanciado dos parâmetros fincados pelo legislador para assumir ela própria mister legisferante e criar ex novo hipótese de incidência não entrevista pelo órgão competente.
A inovação se distancia do texto legal matriz e por artifício de enquadramento em conceito já estabelecido insere condições e deveres não abrangidos por aquele conceito quer na sua acepção semântica quer na sua defi nição estritamente jurídica.
O magistério do Professor Roque Carrazza sumaria a unanimidade de autorizada doutrina pátria:
O regulamento, em nosso sistema jurídico, deve estar sempre subordinado à lei tributária à qual se refere, devido à proeminência desta sobre ele. Portanto, deve guardar, em cotejo com ela uma relação de absoluta compatibilidade.
Isto nos reconduz à premissa inicial de que o regulamento não inova originalmente na ordem jurídica, isto é, não cria nem direitos, nem obrigações. Destarte, em matéria tributária, lhe é defeso prever tributos, descrever infrações e impor quaisquer encargos que possam vir a repercutir na liberdade ou no patrimônio das pessoas. (“O Regulamento no Direito Tributário Brasileiro”, p. 103, 1981, RT).
Em conclusão, a Instrução Normativa n. 62/1990, ao ostentar os vícios divisados pelo titular do Juízo repercutiu em detrimento das prerrogativas da função judiciária, a ex-surgir lícita e oportuna emissão do provimento, contra o qual nenhum direito líquido e certo apresenta a Impetrante.
Por essas razões, pela denegação da segurança.
Adotando os fundamentos acima expostos, denego a segurança.
Adotando os transcritos fundamentos como razão de decidir, nego
provimento ao recurso.