smit_arquivologia biblioteconomia e museologia

Upload: caio-ghirardello

Post on 29-Feb-2016

5 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Museologia

TRANSCRIPT

  • 1

    SMIT, J. W. Arquivologia, Biblioteconomia e Museologia: o que agrega estas atividades profissionais e o que as separa? Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentao. So Paulo, Federao Brasileira de Associaes de Bibliotecrios/FEBAB, Nova Srie, v.1, n.2, 27-36, 1999-2000.

    Resumo: Arquivistas, bibliotecrios, documentalistas, gestores da informao e muselogos, apesar de diferenciados institucional e profissionalmente contribuem de forma complementar para a disponibilizao da informao estocada dentro de objetivos comuns.

    Palavras-chave: Arquivologia. Biblioteconomia. Museologia. Diferenas e Semelhanas. Integrao.

    1. INTRODUO

    O ttulo, como foi formulado, aponta para profisses distintas, exercidas em espaos diferenciados. Intenta-se desenvolver a pergunta: - Em que consistem as semelhanas e diferenas entre estes profissionais e seus respectivos espaos institucionais?

    Pragmaticamente, partamos da distribuio profissional, consolidada pela tradio, e que distingue nitidamente trs categorias profissionais, respectivas formaes e atuaes institucionais: os arquivistas, os bibliotecrios/ documentalistas e os muselogos. De fato, a distribuio aqui proposta no reflete uma distribuio internacional homognea, principalmente se lembrarmos que bibliotecrios e documentalistas podem constituir categorias muito diversas, em maior parte dos pases europeus, ou estarem confundidos na mesma categoria, como no Brasil. Os arquivistas podem distribuir-se em duas categorias: o "record manager" e o arquivista, como acontece nos EUA, ou numa nica categoria.

    Deve-se acrescentar, finalmente, que a mesma categoria pode ter diversas denominaes. A categoria dos documentalistas, em particular, diversificou-se ao longo do tempo para um leque de expresses tais como administradores ou gestores da informao, "analistas" ou especialistas da informao, e assim por diante. A estas trs categorias profissionais, associamos, em 1993, a denominao "3 Marias", numa tentativa de atingir simplificao didtica sem pretender refletir o espectro profissional em todas suas nuances.

    A denominao "3 Marias" visa, portanto, resumir uma situao, identificando cada categoria profissional por um nome simblico: Maria, e reunindo as trs irms (uma loira, uma morena e uma ruiva) numa famlia na qual cada irm ignora em boa parte a atuao profissional, os princpios tericos e as metodologias de trabalho das demais.

    A tradio separa estas categorias profissionais, enfatizando desta maneira as diferenas, ou especificidades ignorando, consequentemente, suas semelhanas. Trata-se, de fato, de um embate entre duas vises distintas, porm complementares. Por um lado: uma viso calcada nas prticas profissionais, ainda muito ancoradas no paradigma do acervo, e por outro lado a funo social de instituies que coletam, estocam e disponibilizam informaes. Em outras palavras, trata-se tanto em constatar as diferenas que se

  • 2

    estabelecem entre os campos de atuao profissional quanto em discutir aquilo que as une, uma vez que se parte do princpio que h "algo" que as aproxima.

    2 As diferenas entre arquivistas, bibliotecrios/ documentalistas e muselogos

    As prticas profissionais esto por demais sedimentadas. Cada profisso vista isoladamente, conta com bibliografia prpria, congressos e associaes particulares, obstruindo o fluxo e a troca de informaes e, principalmente, impedindo que todos se vejam num contexto maior. O isolacionismo, paradigma problemtico da rea, prepondera, tomando esses profissionais muito mais competentes na denominao das diferenas do que na identificao das semelhanas.

    As diferenas se fundamentam em dois grandes eixos complementares: os acervos e as instituies que os abrigam. No imaginrio profissional coletivo estocam-se livros e peridicos em bibliotecas, objetos em museus e documentos gerados pelas administraes em arquivos. Simplifica, pois, de forma caricata o imaginrio, pretendendo resumi-lo ao essencial. Em outros termos, a diferenciao se apoia na distino de tipos e suportes documentais, metodologias de organizao decorrentes desta distino e, finalmente, supe o trabalho de organizao da informao sempre adequado aos objetivos institucionais, fechando o crculo vicioso.

    A ttulo de ilustrao, o crculo vicioso determina: colees de livros que so organizadas nas bibliotecas; organizao esta que deve adequar-se aos objetivos das mesmas, numa ordem, pois de organizao e disponibilizao de materiais bibliogrficos... A tradio de separao das reas existe efetivamente e com certeza responde a determinadas necessidades da sociedade. No entanto, o peso da tradio deve ser reativizado, enfatizando-se a necessidade de proceder a uma anlise da situao que v alm da vivncia profissional.

    As 3 Marias no nasceram separadas. Afastaram-se ao longo do tempo. Ao que tudo indica, as primeiras "bibliotecas" acumulavam tanto materiais bibliogrficos quanto documentos de natureza arquivstica (relaes de propriedades de terras e respectivos impostos) (Martins 1996 e Witty 1973). Somente com a inveno da imprensa e a duplicao mecnica de textos, alm do estabelecimento de formatos de papel e composio de cadernos (in-quarto, in-octavo, etc.), os documentos foram adquirindo sua feio atual. A distino entre bibliotecas e arquivos, em particular, originou-se certamente neste dado momento, baseando-se numa associao automtica e indiscutvel entre os tipos de documentos e a funo da informao neles contida.

    Detecta-se, a partir dessas colocaes, um primeiro ncleo de questionamentos possveis e que podem ser sistematizados ao redor dos termos documento, informao e funo. Entende-se assim a razo de no seio das chamadas "cincias documentais" no terem sido geradas maiores discusses no tocante a esta associao da biblioteconomia, documentao

  • 3

    e arquivologia. Na verdade, apontavam-se suas diferenas (sem explic-las). Porm, com a concordncia de que todas: tinham algo em comum: o trabalho com documentos.

    O prprio nome tem determinado a importncia atribuda ao documento enquanto aglutinador de prticas profissionais e respectivas instituies. A museologia somente ser reconhecida como a outra irm da famlia mais recentemente cuja viso ainda no consensual uma vez que esta rea no trabalha com documentos, no sentido imediato do termo, mas supe a ampliao do conceito de "documento" ou a nfase na informao enquanto insumo e produto de ciclos produtivos.

    Assim como h estudos que estabeleam a proximidade de objetivos entre biblioteconomia, documentao e arquivologia (Bearman 1993, Muller 1984, Tees 1988 e 1991), h outros estudos que, sem negar a proximidade entre a biblioteconomia e a arquivologia e a sua insero Cincia da Informao, incluem tambm a museologia na discusso (Bearman 1994, Homulos 1990, Leonhardt 1989, Mason 1990, Pinheiro 1997 e Smit 1993 e 1994).

    A discusso aqui proposta somente adquire sentido se analisada de um ponto de vista diacrnico, no qual a nfase no documento substituda pela nfase na informao.

    A dupla documento/informao coloca inmeros problemas, estando distante de um dimensionamento satisfatrio da questo. Pode-se afirmar que as 3 Marias convivem em constante tenso entre o documento e a informao, ora priorizando um, ora outro. Como enunciar a tenso? De imediato, nota-se maior apego dos arquivistas e muselogos ao documento e uma facilidade por parte dos documentalistas para abstrair o documento, enfatizando a informao nele presente.

    As discusses atuais sobre as bibliotecas virtuais, redes e sistemas de informao resumem o pice nesta descolagem entre informao e documento:

    = A informao deve ter sido registrada de alguma forma para poder ser estocada =

    Este um postulado to bsico para a rea que geralmente o mesmo esquecido.

    A tecnologia trouxe enormes progressos nas formas de registro e, principalmente, nas formas de organizao e transmisso da informao registrada, mas a mesma sempre ter sido registrada de alguma forma e estocada em algum lugar ou computador. No operacional, portanto, pensar a informao isolada de seu registro, por mais que a questo do registro seja muito menos pertinente para o bibliotecrio/documentalista. fundamental para o arquivista uma vez que este deve disponibilizar, alm da informao, a prova (o documento) ou o muselogo que deve mostrar fisicamente o suporte da informao, ou seja, o objeto.

    Em resumo, documento e informao contm as duas faces da mesma moeda: uns prestam mais ateno a uma face, outros outra, mas no possvel descolar as faces da moeda. As

  • 4

    "cincias documentais" geram tenso entre documento e informao, entretanto, qualquer que seja a nfase dada a um ou a outro, o paradigma que subjaz ainda o do acervo, do estoque. Exiges-se, pois, fortalecimento da argumentao sobre a questo da mudana de paradigma na rea, ou melhor, sobre a mudana da nfase no acervo para a nfase no usurio; do estoque para a funo e para a utilizao da informao. Como toda mudana de paradigma, a mesma muito discutida, muito elogiada, mas ainda no se infiltrou em todas as prticas e todos os raciocnios. O discurso oficial (a nfase no usurio Morris 1994 e Valentim 1995) ainda no provocou a reformulao de nossas distines profissionais. Continuamos formalizando a questo a partir do paradigma do acervo (Jardim e Fonseca 1992), sem nos darmos conta de que estas distines no encontram mais fundamentao, ou ancoragem, no discurso atual.

    Configura-se, pois, uma distino entre a imagem que temos da questo da pratica. A nfase no usurio no desconhece o documento, mas subordina sua importncia funo ou utilizao da informao. Em outros termos, inverteu-se o peso relativo dos dois extremos do processo, da entrada para a sada. Nesse quadro, se a nfase no documento perde espao para a nfase no usurio, a distino das instituies baseada nos documentos deixa de ser procedente.

    possvel chegar mesma concluso elaborando uma outra argumentao, igualmente baseada no usurio e em suas necessidades informacionais. O usurio das 3 Marias , por definio, um indivduo, instituio, grupo social, que manifestam uma necessidade informacional, ou seja, um vazio informacional que deve ser preenchido..

    Dervin e Nilan (1986) acham impossvel que todas as necessidades informacionais possam ser resolvidas num nico ponto do espectro das instituies que tm por objetivo disponibilizar informaes. A necessidade informacional no se enuncia, na maior parte dos casos, em termos exclusivamente "arquivsticos", "biblioteconmicos" ou "museolgicos", mas em termos de uma "informao" que exige buscas.

    Uma pergunta final pode ser enunciada: Em que medida o usurio sairia ganhando se constatado um "vazio informacional" o mesmo encontrasse respostas distribudas por diferentes instituies - arquivos, bibliotecas e museus? Seguramente, nem todas as perguntas se prestam a respostas to multifacetadas, mas ainda assim a ressalva no invalida a pergunta, pois outras demandas informacionais podem ser sobremaneira enriquecidas se respondidas de forma mais abrangente.

    As diferenas entre as instituies, seus respectivos estoques informacionais (ou documentais) e mtodos de trabalho existem e devem ser identificados. No entanto, de acordo com o que j foi aqui mencionado, a proposta de diferenciao no poder ser baseada nos diferentes tipos de documentos por mais que na prtica essa diferenciao ainda constitua a regra. A funo atribuda ao documento parece constituir uma base slida para a discusso, mas ainda embrionria.

  • 5

    Um aprofundamento para a reflexo sobre a funo (ou o uso) das informaes estocadas necessrio e abrir um campo frtil de pesquisas e debates. Este assunto merece ser organizado entre dois extremos: o documento eletrnico/digital e o documento audiovisual. Se o primeiro est presente em todas as instituies, geralmente cumprindo funes diferentes (funes "arquivsticas", biblioteconmicas ou "museolgicas"), o segundo est igualmente, em todas, cumprindo a mesma funo, qual seja o testemunho iconogrfico e/ou sonoro (Smit 1998).

    O muselogo Homulos (1990) sinaliza pistas norteadoras para o debate, ao recusar o estabelecimento de fronteiras rgidas entre museus, arquivos e bibliotecas. Prope urna organizao dessas instituies ao longo de um grande contnuo, tendo as bibliotecas numa extremidade, os museus na outra e os arquivos no meio do contnuo. De acordo com o momento, na acepo do autor, cada instituio colocar-se-ia preponderantemente numa lgica ou noutra. O autor menciona, dentre outros, um critrio que distingue as instituies: o "contedo informacional" de cada uma, seja na biblioteca, cuja coleo dos documentos representa a prpria informao estocada, seja no museu, onde os objetos pouco informam sobre si mesmos mas potencialmente documentam muito sobre a sociedade que os gerou ou utilizou, ao passo que no arquivo os documentos informam sobre a instituio que os acumulou. A funo atribuda aos documentos nas diferentes instituies certamente poder ser determinada a partir da natureza de seu contedo informacional. Supe-se, ainda, que possa melhor descrever o uso que cada contedo informacional propicie.

    Homulos denomina o conjunto formado pelos arquivos, bibliotecas e museus de "Instituies Coletoras de Cultura". Se o texto deste terico significou um grande avano, ao tornar as fronteiras entre as instituies fluidas, a expresso coletor de cultura direciona o sentido novamente para o estoque, ou o acervo.

    Pelo exposto - embora as diferenas entre instituies existam e no possam ser ignoradas - o principal fundamento terico se prende ao paradigma do acervo.

    3. ALM DO ACERVO, O QUE SEPARA AS 3 MARIAS?

    Em trs grandes grupos de processo/atividades, podem ser caracterizados o gerenciamento de estoques informacionais e sua decorrente utilizao:

    Gesto da memria - seleo, coleta e avaliao de documentos/objetos e estoques informacionais;

    Produo de informao documentria - representao da informao estocada e consequente produo de informao documentria (bases de dados, catlogos, resumos etc.);

  • 6

    Mediao da informao - a comunicao de informaes objetivando uma efetiva transferncia da informao, em funo das necessidades informacionais dos usurios.

    Este modelo subentende uma distino entre a informao produzida e registrada pela sociedade (o "input" do sistema) e a informao produzida pelas 3 Marias ("output 1" do sistema), objetivando propiciar o acesso s informaes estocadas ("output 2" do sistema). A informao produzida por arquivos, bibliotecas e museus ser denominada informao documentria, pois produto de um trabalho de natureza documentria, ou representacional, e no deve ser confundido com a informao produzida pelos demais segmentos da sociedade e estocada nas instituies. A distino necessria pelas seguintes razes:

    Distingue as responsabilidades das diferentes informaes gerenciadas ou disponibilizadas pelas instituies (Desantes Guanter 1987);

    Marca a complementaridade entre as duas informaes, assumindo que a informao documentria constitui um elo na cadeia do fluxo e utilizao da informao; em outros termos, a informao documentria um meio para um fim, ou seja, o acesso informao estocada.

    Todas as Marias atuam nas trs atividades. Decidem o que deve ser estocado (gesto da memria). Produzem informao documentria como meio para utilizao da informao estocada. (mediao). No entanto, a partir de caractersticas institucionais e caractersticas intrnsecas aos estoques informacionais, as instituies nomeiam e enfatizam diferentemente as atividades. Se bibliotecas e museus trabalham, em regra geral, com unidades informacionais (ttulos de livros, objetos etc), a unidade de referncia em arquivos a srie, ou seja, "uma sequencia de unidades de um mesmo tipo documental", sendo que o tipo documental a "configurao que assume uma espcie documental, de acordo com a atividade que a gerou" (Camargo e Bellotto 1996, p.69 e 74).

    O princpio norteador da organizao dos documentos igualmente variado, uma vez que na biblioteca o critrio do assunto predomina, enquanto que nos arquivos o critrio o da estrutura organizacional da instituio, acoplado funo administrativa exercida pelos documentos, e nos museus depara-se com critrios bastante variados: suportes, funes, perodos etc.. A ttulo de ilustrao, e sem pretenso de exaustividade, o quadro abaixo ordena algumas atividades realizadas no mbito das 3 Marias:

  • 7

    Arquivologia Biblioteconomia Museologia Gesto da . Produo e . Formao e . Curadoria memria avaliao de desenvolvimento . Introverso documentos de acervos Temporalidade . Gerenciamento das sries de recursos documentais informacionais Produo da . Processamento . Representao e . Documentao informao tcnico recuperao da documentria informao Mediao da . Jurisdio e . Servios ao . Extroverso informao acesso usurio . Comunicao . Programas de . Ao cultural museolgica difuso . Comunicao documentria .

    Alm das diferenas apontadas pelo quadro acima (e que so em parte terminolgicas, e no conceituais), as atividades recebem nfases, ou pesos, diferenciados nas 3 Marias. Correndo o risco da simplificao, parece evidente que a produo da informao documentria ocupa posio de destaque nas 3 Marias. Hoje considerada meio, a mesma j foi associada a um fim em si e certamente explica a nfase (ou quase total predominncia) de matrias de "processamento tcnico" nos currculos tradicionais de formao arquivologia, biblioteconomia e museologia.

    Seguramente, a biblioteconomia alcanou um estgio mais avanado nesta atividade. No mesmo esforo de sntese, observa-se na arquivologia uma preocupao muito grande com a gesto da memria. Neste sentido, a razo recai em que os arquivos devem gerenciar enormes massas documentais e ao longo do tempo foram depurando critrios de avaliao destas massas documentais visando a decidir o destino e a temporalidade das sries documentais. A arquivstica moderna vai alm... Desenvolve uma postura pr-ativa, recusando o papel passivo de "receptculo" de documentos produzidos pela instituio. Tende a influir no processo de gerao dos documentos, estabelecendo neste momento uma evidente interface com a rea de O&M.

    Bibliotecrios e muselogos no desconhecem a importncia da gesto da memria, mas so mais "refns" da sociedade neste quesito, pois no dispem, em geral, de meios eficazes para influir na gerao de documentos. Na mediao da informao, entretanto, foroso constatar que esta atividade foi mais desenvolvida pelos muselogos, que sempre refletiram muito sobre "o que mostrar" e "como mostrar" (Cash, 1988). "Mostrar o acervo", enquanto modalidade de mediao, configura uma rea na qual os muselogos

  • 8

    investiram certamente mais do que os arquivistas e bibliotecrios, perseguindo, em geral, alm de objetivos informacionais, outros, de natureza esttica ou sensorial.

    Estabelecidas, de forma preliminar, as diferenas, tentaremos apontar para as semelhanas entre as instituies, seus respectivos objetivos e profissionais.

    4. O QUE UNE AS 3 MARIAS?

    A rea de conhecimento da Cincia da Informao apresenta um problema de base, gerado pela indefinio de seu objeto: a "informao". Como o termo utilizado em muitos contextos e acepes diferentes, torna-se imprescindvel distinguir a informao estocada pelas 3 Marias de outras "informaes", caracterizando-a pela adoo de duas condies:

    a) aquela que diz respeito aos arquivos e bibliotecas trata-se de informao estocada, sendo intencionalmente registrada, impedindo a adoo de acepes muito amplas e consequentemente inoperantes tais como a informao esttica, a informao gentica, a informao situacional; de outro lado, no que diz respeito aos museus, a informao no foi intencionalmente registrada, mas considerada na sua condio de registro;

    b) a informao estocada pelas 3 Marias em funo de uma utilidade que lhe foi conferida supondo-se, em suma, que determinada informao poder ser til no futuro (enquanto informao, prova, testemunho, etc.) e por esta razo a mesma intencionalmente estocada, valendo dizer que os estoques informacionais so o produto de uma deciso sobre a utilidade conferida a determina da informao (Buckland, 1991): esta deciso obviamente relativa e passvel de mudanas ao longo do tempo ou em funo do espao geogrfico.

    De forma resumida, pode-se, portanto, estabelecer que a informao intencionalmente estocada nas 3 Marias registrada e intencionalmente considerada til. O fruto deste processo a institucionalizao da informao uma vez que decorrente de decises institucionais (ou, por extenso, sociais).

    Independentemente de suportes ou cdigos, a informao institucionalizada pelas 3 Marias: este certamente um produto da rea, que confere "status" a certas informaes e o nega a outras. A informao, ao ser institucionalizada em nome de uma utilidade que lhe foi atribuda, organizada em nome dos objetivos institucionais. A institucionalizao da informao, operada pelas 3 Marias, encontra sua justificativa cultural, social e econmica medida que esta informao disponibilizada para a sociedade, ou comunidade, que financia a manuteno do estoque.

    De forma precisa Mason (1990: 125) resume o objetivo perseguido pelo profissional da informao e suas instituies: disponibilizar a informao certa, da fonte certa, para o

  • 9

    usurio certo, no prazo certo, numa forma considerada adequada para o uso e a um custo justificado pelo uso. Esta frase, em funo do acima exposto, aplica-se perfeitamente aos arquivistas, bibliotecrios e muselogos.

    5 CONCLUSO

    Se h diferenas entre as 3 Marias, ocasionadas pelas funes atribudas a seus estoques informacionais, foroso constatar que a organizao dos estoques fruto de decises institucionais que no recobrem forosamente, na mesma gama de opes, a palheta das necessidades informacionais da sociedade.

    Desenha-se, neste momento, uma acepo possvel para a Cincia da Informao enquanto disciplina cientfica, permitindo que sejam mapeadas as possibilidades de gesto da memria, produo da informao documentria e mediao das informaes, em busca de teorias e princpios comuns s diferentes implementaes particulares das 3 Marias.

    Em outros termos, o estatuto cientfico da rea somente poder ser confirmado quando for abandonada a viso pragmtica das prticas profissionais e quando se dispuser de teorias e princpios gerais, comuns s 3 Marias.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    BEARMAN, T.C., 1993, The education of archivists: future chal1enges for schools of library and information science. Joumal ofEducation forLibrary and Information Science, v.34, n.l, p.6672, '93. BEARMAN, D. Experience delivery services, 1994, In: CONGRESSO NACIONAL DE BIBLIOTECARIOS ARQUIVISTAS E DOCUMENTALISTAS, 5, 1994. Lisboa. Anais. Lisboa: Associao de Bibliotecrios Arquivistas e Documentalistas, 1994. Arquivos, p.153-159, '94. BUCKLAND, M., 1991, Information as thing. Journal of the Americam Society for Infonnation Science, 42, n.5, p.35 I -60,'91. CAMARGO, A.M.deA., BELLOTTO, H.L., 1996, Dicionrio de terminologia arquivstica. So Paulo: Associao dos Arquivistas Brasileiros - Ncleo Region'al de So Paulo/Secretaria de Estado da Cultura. CASH, J., 1988, Picture power: optica1 discs and video.computing come of age. Museum News, p.58-60, jul.lago. '88. DERVIN,: B.; NILAN, 'M., r986~~Df6fffiitin.~' tion needs and uses. Annnal Revlew of Infonnation Science and Tecbnology, . \1.21, p.3-3-3:86. DESANTES GUANTER, J.M., 1987, Teoria y rgimenjurdico de Ia documentacin. Madrid: Eudema, (Eudema Universidad: Manuales). HOMULOS, P., 1990, Museums to libraries: a family of colIecting institutions. Art Libraries Journal, v. 15, n.l, p.11-13,'90. JARDIM, J.M., FONSECA, M.O., 1992, As relaes entre a arquivistica e a cincia da informao. Cadernos DAD, n.2, p.29-45, '92.

  • 10

    LEONHARDT, H.A.', 1989, What is li brary material, what archive material and what museum material: ari attempt at the categorization of documentation materiaIs and institutions. Bibliotheksdienst, v.23, n.8/9, .891-904, '89. MARTINS, W., ]996, A palavra escrita: histria do livro, da imprensa e da biblioteca, com um captulo referente propriedade literria. 2.ed. So Paulo: tica. MASON, R.O., 1990, What is an informtion professional? Joiirnal of Educatioo for Library and Jnformatioo Science, v.31, n.2, p.122-38, '90. MORRIS, R.C.T.,1994,Toward a user-cen-.tered information service. Joumal of the Americsn Society for Information Science, v.45, n.I, p.220-30, '94. MUELLER, S.P.M.,1984, Em busca de uma base comum para formao profissional em biblioteconomia, cincia da infonnao e arquivologia: relato de um sjmpsio promovido pela Unesco. Revista de Bblioteconomia de Brasilia, Bras!ia, v.! 2, n.2, p.157-65. PINHEIRO, L.Y.R., 1995. Em busca de um caminho interdisciplinar: proposta de um ncleo terico e prtico de disciplinas comuns aos cursos de biblioteconomia, museologia e arquivologia. Rio de Janeiro. Trabalho apresentado Y Reunio Brasileira de Ensino de Arquivologia, 1997: So Paulo. SMJT, J. W., 1993, O documento audiovisual ou a proximidade entre as trs Marias. Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentao, So Paulo, v.26, n.1 / 2, p.81-85, '93. SMIT, J.W.', J 994, Eu, bibliotecrio, RG xxx xx e CPF yyyyy, trabalho em arquivo ou museu... algum problema? Palavra-Chave, So Paulo, n.8, p.12-13, '94. SMIT, J.W.,1998, A funo da fotografia e a identificao do contedo de imagem fotogrfica: procedimentos complementares ou auto-excludentes na organizao de arquivos fotogrficos? Joo Pessoa, Trabalho apresentado ao XII Congresso Brasileiro de Arquivologia, 1998, Joo Pessoa. TEES, M., 1988, Harmonization of education and training programmes for library, infonnation and archivalI;>ersonnel: a report of the Colloquillm held in London, 9-15 August 1987. IFLA J9u'rnal, v.14, n.3, p.243-4?:88. TEES, M., 1991, Harmonization of education and trairl1g for information p-rofessionals. IFLA Journal, v.I7, n.3, p.232-34, '91. VALENTIM, M.L.P.,1995, Assumindo um novo paradigma na biblioteconomia. Informao&Informao, Londrina, v.O, n.O, p.2-6, 95. WITTY, EJ., 1973, The beginnings of indexing and abstracting: some notes towards a history ofindexing and abstracting in Antiquity and the Middle Ages. The Indexer, v.8, nA, p.193-198, '73.