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SIWAJU/SP Boletim Informativo do Instituto Nacional da Tradição e Cultura Afro-Brasileira – SP “UNIÃO NA DIVERSIDADE” DESTAQUES Toy Vodunnon Francelino de Shapanan Casa das Minas de Thoya Jarina ÍNDICE II CIAD- Conferência de Intelectuais da África e Diáspora ................................... 12 INTECAB - Coordenações .......................... 14 III Seminário Regional do INTECAB/SP ..... 14 Seminários Regionais do INTECAB/SP ...... 15 CONNEB / Expediente .............................. 16 Ano 0 Número 0 1 dezembro de 2007 15 de novembro III Seminário Regional do INTECAB/SP Ebômi Conceição e Toy Francelino de Shapanan Toy Vodunon Francelino Shapanan Editorial ......................................................... 02 A História do INTECAB .............................. 03 A Estrutura do INTECAB ............................ 05 40Anos Dedicados à Vida Religiosa ............ 06 Entrevista Inédita com Toy Vodunnon Francelino de Shapanan ................................. 10 HOMENAGEM DO INTECAB/SP AO SAUDOSO TOY VODUNNON FRANCELINO DE SHAPANAN

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SIWAJU/SPBoletim Informativo do

Instituto Nacional da Tradição e Cultura Afro-Brasileira – SP“UNIÃO NA DIVERSIDADE”

DESTAQUES

Toy Vodunnon Francelino de Shapanan Casa das Minas de Thoya Jarina

ÍNDICEII CIAD- Conferência de Intelectuaisda África e Diáspora ................................... 12INTECAB - Coordenações .......................... 14III Seminário Regional do INTECAB/SP ..... 14 Seminários Regionais do INTECAB/SP ...... 15CONNEB / Expediente .............................. 16

Ano 0 Número 0 1 dezembro de 2007

15 de novembroIII SeminárioRegional do

INTECAB/SP

Ebômi Conceição e Toy Francelino de Shapanan

Toy Vodunon Francelino Shapanan

Editorial ......................................................... 02A História do INTECAB .............................. 03A Estrutura do INTECAB ............................ 0540Anos Dedicados à Vida Religiosa ............ 06Entrevista Inédita com Toy VodunnonFrancelino de Shapanan ................................. 10

HOMENAGEMDO INTECAB/SP

AO SAUDOSOTOY VODUNNON

FRANCELINODE SHAPANAN

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EDITORIAL

Este é o nosso primeiro BoletimInformativo: SIWAJU/SP,elaborado com muito carinhopara todos os INTECABIANOSe para todo POVO DE SANTO.Ele homenageia todos os seusfundadores, todos aqueles queconstruíram o Instituto.

Faz dez meses que nossoquerido Toy VodunonnFrancelino de Shapanan nosdeixou, tornando-se mais umencantado a nos guiar najornada de construção de nossacidadania, de nossa imagempública e de nossa religião.

Ah, que saudades de seusolhares tão completos, de seustelefonemas, de seu jeitocarismático! Ah, que saudadesdas lições de ética, do exemplode respeito entre os pares epara com os mais velhos!Saudades de seus chamados àspressas, saudades de sua voz...

Nesta edição os Conselheirosescolheram nosso querido PaiFrancelino para homenagem,Nas próximas edições falaremosde cada um de nossosfundadores e continuaremos a

informação do nosso trabalho,através de nossos membros.

Este é o pensamento de nossacoordenação:

Nosso culto é ancestral, porquenão nos esquecemos de nossosantepassados. Lembramos dosmais próximos para cultuarmosos mais distantes. Assim todosserão homenageados ereverenciados. Nossa história,nossa cultura, sempre foitransmitida oralmente.

Agora o INTECAB/SP estádando um primeiro passo paraesta grande proposta que é ade armazenar e informar astradições do povo do santo.Povo de todas as etnias quevieram de todos os cantos domundo; os Orixás, Voduns,Nkices, Deuses, Divindades,Encantados, Mentores e Guiasque fizeram no Brasil um grandeAlá, onde todos nosencontramos.

A história não registrou que nosnavios negreiros que aportaramem toda a costa brasileira vieramgrandes Rainhas e Princesas(Iya Nassó, Iya Detá, Iya Kalá,Nan Agontime, entre outras) queajudaram a construir todas astradições de matriz africana noBrasil.

Neste momento estamoslançando a matriz de umaunidade única para todas asdiferenças de nossas Tradições

Religiosas Afro Brasileiras.Como já disse um de nossosacadêmicos: “não é possívelpensarmos em ética sempensarmos nos valores deética trazidos pelos africanos”.São esses ensinamentos quefundamentam nosso BoletimInformativo e nossasexistências.

O INTECAB completou 20anos e a Coordenação de SãoPaulo cresceu com figuras domais alto padrão acadêmicoque nos ajudam a recontar ahistória viva de cada Casa, decada sacerdotisa ousacerdote. Contamos com osmais ilustres e históricosConselheiros Religiosos deSão Paulo.

Agradeço as mulheres e oshomens das várias etnias, detodos os sons . que acreditamno INTECAB/SP. O de ontem,de hoje e o de amanhã.Boa leitura e até a próximaedição!

Ebômi Conceição Reis do OgunCordenadora do INTECAB/SP

Ebômi Conceição Reis do Ogun -Coordenadora do INTECAB/SP

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A História do INTECAB

Juana Elbein dos SantosA Origem

O Instituto Nacional da Tradição eCultura Afro-Brasileira-INTECAB, éresultado de um longo processo eemergiu como necessidade nacional ,decorrente do intenso movimentointernacional promovido pelaConferência Mundial da Tradição dosOrixá e Cultura -COMTOC. Esseprocesso desenvolveu-se no início dadécada de 1980, quando chefesreligiosos da África , América do Norte,América do Sul (incluindo o Brasil) eCaribe reuniram-se em Nova York , noCaribbean Cultural Center. Estiverampresentes no Encontro DeóscoredesMaximiliano dos Santos , o Mestre Didi,Alapini do Culto aos Eguns (Brasil); oentão Reitor da Universidade de IlêIfé(Nigéria), Vande Abimbolá; o OuganVodun do Haiti Max Bauvoir; oBabalawô Lucumi de Cuba,JulitoCollazo; com a colaboração daPresidente do Caribbean CulturalCenter, Marta Vega(EUA) e aCoordenadora Geral da Sociedade deEstudos das Culturas e da CulturaNegra no Brasil-SECNEB, Juana Elbeindos Santos (Brasil).Nessa ocasião foi discutida apossibilidade de intercâmbio a nívelmundial da tradição dos Orixá e suacultura , assumindo esse Encontro deNova York importância histórica parainiciar o processo contra a fragmentaçãoda religião de origem africana nomundo. Os líderes religiosos decidirampromover Conferências Internacionais, as COMTOCS, para dar continuidadeao processo de intercâmbios. Logo em1981, realizou-se em Ilê Ifé na Nigéria,a 1ª COMTOC, organizada peloDepartamento de Leitura e LínguaAfricana da Universidade de Ifé , comapoio do Caribbean Cultural Center eda Sociedade de Estudos dasCulturas e da Cultura Negra noBrasil-SECNEB.A 2ª COMTOC foi realizada noBrasil em 1983 e trouxe para aBahia os mais expressivos líderesreligiosos e intelectuais do mundo

ligados a tradição religiosaafricana . Essa Conferênciaaconteceu no Centro deConvenções de Salvador. Já a 3ªCOMTOC teve sede em NovaYork, em 1986, no Hunter College,com representantes dosEUA,Caribe,África e umanumerosa e expressiva delegaçãodo Brasil.A participação dadelegação brasileira foi um dospontos altos da 3ª COMTOC,tendo seus integrantes contribuídocom 38 comunicações escritas,ilustrações de dança e músicasacras, concerto de percussão,exposição coletiva de artistasplásticos e uma exposiçãoindividual do Mestre Didi, noSchomburg Center.

A Criação

A criação do INTECAB foiproposta no Brasil após a 3ªCOMTOC, durante o 1º EncontroNacional da Tradição dos Orixá eCultura, realizado em Salvador,em agosto de 1987, coordenadopor Mãe Stella Azevedo e o Alapini,Mestre Didi.O Encontro contoucom a participação de expressivosrepresentantes dos diversosestados brasileiros e suas diversasexpressões afro-brasileiras. Aproposta de criação do Instituto foiencaminhada para discussão,reflexão e sugestões aosrepresentantes dos estadosparticipantes.A discussão centrou-se em se oINTECAB deveria ou não abrangera tradição afro-brasileira comtodos seus desdobramentos,incluindo a Umbanda e outrascorrelatas, desde quemantivessem a preservação deseus princípios originais afro-brasileiros. Essa polêmica geroualegações sobre a legitimidade da

participação das diversidades,ocasionando a saída daqueles quesustentavam que a instituiçãoapenas congregaria a tradição dosorixá. A reunião continuou na sededa Sociedade de Estudos dasCulturas e da Cultura Negra noBrasil -SECNEB, com acoordenação de DeóscoredesMaximiliano dos Santos , MestreDidi, Alapini, contando com asdemais delegações queacordaram com a continuidade daconcretização do INTECAB.Decidiu-se a criação do ConselhoReligioso Nacional, que voltou areunir-se em outubro de 1987, comrepresentantes de cada estado,decidindo-se pela criação doInstituto Nacional da Tradição eCultura Afro-Brasileira -INTECABcom instalação da CoordenaçãoNacional na Bahia. Ao mesmotempo, foram criadasCoordenações Estaduais em cadaum dos estados fundadores:Pernambuco, Rio de Janeiro,Maranhão e Minas Gerais.Posteriormente foram criadas asCoordenações Estaduais de SãoPaulo , Pará, Sergipe e Paraíba.

O Objetivo

O objetivo principal do INTECABé preservar os valores espirituais,culturais e científicos da religiãotradicional africana no Brasil eseus desdobramentos,aprofundando o intercâmbio anível nacional ei n t e r n a c i o n a l m e n t e .A instância superior do INTECABé o Conselho Religioso Nacional,integrado por altos dignatários dascomunidades-terreiro da Bahia,Minas Gerais, Rio de Janeiro,,Maranhão, Pernambuco, SãoPaulo, Pará, Sergipe e Paraíba.OCoordenador do ConselhoReligioso Nacional é o Alapini

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Deóscoredes Maximiliano dosSantos, o mestre Didi, SacerdoteSupremo do Culto aos Ancestrais,e um dos sete membrosfundadores do 1º ComitêInternacional da COMTOC. OConselho Religioso Nacionalcongrega além dos membrofundadores dois representantes decada um dos ConselhosReligiosos Estaduais. A partir dasua organização,outros estadosbrasileiros tiveram seusrepresentantes incorporados aoINTECAB. Para o INTECAB nãocabe , no contexto das Américas,pretender superar ou fragmentaras diversas manifestaçõesreligiosas herdadas ouemergentes da vertente africanasem pretender interferir oumisturar essas variáveis da religiãotradicional africana - resultante dosdiferentes territórios e nações deorigem africana e de posterioreselaborações sócio-históricas.OINTECAB propõe absolutorespeito a essa diversidade,semestabelecimento de hegemonia denenhuma nação ou das diversasexpressões dentro da religiãoafricana. Seu lema: “União naDiversidade”.

O INTECAB não é umainstituição religiosa de caráterlitúrgica, embora composta emsua maioria por integrantes dacomunalidade espiritual africano-brasileira, visa a preservação,continuidade e expansão dosvalores da tradição, propondo-sea atuar através de

litúrgicos, da expansão culturalatravés de intercâmbios e detrocas de experiências. OINTECAB é um Instituto decaráter deliberativo.A estratégia do INTECAB nãopossui caráter punitivo, mas sim,de apoiar os valores genuínosque constituem as culturas ereligiões africano-brasileiras

Os Símbolos doINTECAB

Igbá

Na simbologia nagô, igbà, acabaça, artisticamente trabalhadaem alto relevo magnificando asrepresentações sagradas e rituais,simboliza o universo - IGBÀ NLÀ -grande cabaça.Nas metades do Igbà, observa-sedesenhos de triângulos emsucessão caracterizando umacorrente de expansão do processo do existir.

Oxê Xangô

Símbolo da presença do orixá queemerge da cabaça na logomarcado INTECAB, o Oxê Xangô é umaescultura-emblema, que constituiuma das “armas” ou instrumentodesse Xangô.Ele é usado tanto por suassacerdotisas manifestadas quantonos “assentamentos” do Orixá e secaracteriza pela forma de ummachado duplo, relacionado ‘aspedras de raio.No oxe , Exu está representado,através dos seus olhos gravadosna madeira, garantindo assim aação dinâmica de Xangô.A combinação do Igba com o OxeXangô presentes, na logomarcado INTECAB, é uma feliz sugestãoda representação das origens,continuidade, expansão epresença dinâmica da tradição.

Juana Elbein dos Santosé Titular da Comissão de Ciência e

Cultura do INTECAB Nacional

LEMA DO INTECAB“UNIÃO NA DIVERSIDADE”

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A Estrutura do INTECAB

Mestre Didi

O INTECAB originou-se do processode participação e organização debrasileiros no intuito de criar umainstituição que promovesse os valoresafro-brasileiros a nível nacional einternacional. Expressa, assim, essedesejo de abrigar a todos aquelesinteressados na promoção dasdiferentes formas institucionais datradição afro-brasileira e seus valorescorrespondentes.

Não é uma instituição religiosa decaráter litúrgico, embora composta emsua maioria por integrantes dacomunidade espiritual africano-brasileira, que visam a preservação,continuidade e expansão dos valoresda tradição, propondo-se a atuaratravés de aprofundamentosteológicos e litúrgicos, a expansãocultural através de intercâmbios e detrocas de experiências. O INTECABé um Instituto de caráter deliberativo.

A estratégia do INTECAB não possuicaráter punitivo, mas sim, de apoiaros valores genuínos que constituemas culturas e religiões africano-brasileiras.

“A posição Religiosa e Cultural doINTECAB, não é nada a mais nemmenos daquela posição quetradicionalmente sempre foi vivida eimposta nos grandes Terreiros daReligião Tradicional Africana queforam instalados na Bahia,especialmente em Salvador.

Seus participantes sempre foramjulgados muito fechados,independentes e até mesmo

autoritários, porque não copiavam,não aceitavam, não aceitam modelosde culturas diferentes daquela deorigem dos seus ancestrais que parapoder melhor preservar a sua tradição,tinham e continuam a ter por normarespeitar e honrar as pessoas maisidosas, principalmente aquelas quepossuem títulos importantes nascomunidades, ser leais e sinceros,procurando sempre cumprir com assuas obrigações de acordo com ostítulos que lhe correspondem dentroda comunidade Terreiro.

Aí está porque membros de váriasinstituições, principalmente daquelas

que não têm conhecimento darealidade histórica da Religião eCultura dos Orixás, acham que oINTECAB está sendo uma instituiçãomuito fechada e que as pessoas quecompõem o quadro organizador sãomuito exigentes e autoritárias, porquenão se deixam envolver por aquelesque de acordo com a tradiçãohierárquica, são ainda iniciantes ouabian, como são mais conhecidosdentro dos Terreiros.

Assim sendo, espero que todos osparticipantes do INTECAB, procuremse conscientizar melhor, cada vezmais e assumam condignamente aposição que lhes for conferida peloConselho Religioso para oengrandecimento da Religião eCultura Tradicional Africana trazidaspelos nossos Ancestrais da ÁfricaOcidental, bem como as originárias deoutras regiões que juntos implantarama Religião Afro-Brasileira. QUEXANGÔ O PATRONO DO INTECABNOS PROTEJA E NOS FAÇAFELIZES.”

Mestre Didi - Alapini e Asogbá DeoscóredesMaximiliano dos Santos é o Coordenador

Vitalício Nacional do INTECAB

FOTO

Mestre Didi Almoço de Confraternização com Conselheiros

Religiosos do INTECAB/SP

Juana Elbein dos Santos, Mestre Didi e ConselheirosReligiosos

do INTECAB/SP

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Sua naturalidade, sua formação esua trajetória até chegar em SãoPaulo.Nasci na cidade de Soure, na Ilha deMarajó, estado do Pará e criei-me nacidade de Belém. Vim de uma tradiçãocatólica e que eu tenha conhecimento,ninguém de minha família é dasreligiões afro brasileiras.Em Belém, conheci Mãe Dida deOgum, Raimunda Damasceno Costa,que pertenceu a uma tradicional Casade Tambor de Mina. Através dela fuilevado à Casa de Mãe Joana deShapanan, onde fui iniciado em 1964,quando estava entre 14 para 15 anosde idade. Devido ao sincretismo cresci dentrodessa duplicidade religiosa, acreditandonos encantados, nos voduns e tambémnos santos católicos. Alguns conceitosforam mudando depois que vim para osudeste, em Janeiro de 1974.Eu trabalhava em uma repartiçãopública, na SUDAN, Superintendênciado Desenvolvimento da Amazônia,uma autarquia do Ministério doInterior e pedi transferência para oescritório regional no Rio de Janeiro.Lá conheci Casas de Umbanda edepois de Candomblé que eramtotalmente alheias ao que eu tinhaconhecimento, porque não haviaCandomblé em Belém. Era tudo muitodiferente.Por volta de 1975 fiquei mais entrosadonos movimentos religiosos. Participeide muitos movimentos no Rio deJaneiro. Ajudei a fundar o SupremoConselho Sacerdotal dos Cultos deUmbanda e Nações Africanas.Promovi e ajudei a promover eventose organizar várias Casas, tanto deUmbanda quanto de outros cultosafros descendentes.Minha formação escolar foi até o 2ºgrau e a minha formação religiosa,desde o início foi o Tambor de Mina.Nunca fui de outra tradição.Minha Mãe de Santo faleceu nomesmo ano que vim para o sudeste elevei mais ou menos seis anos paraficar na mão de alguém. Fiz minha

obrigação de 14 anos com Pai JorgeItaci de Oliveira, de São Luiz doMaranhão.Em 1985 paguei minhaúltima obrigação, a de 21 anos e fiqueicom ele até a sua morte em 09 de junhode 2003. Essa é a minha caminhada.- Suas primeiras atividades desacerdócio, a aceitação comrelação à religiosidade e comoocorreu a fundação da Casa dasMinas de Thoya Jarina.As primeiras vezes que vim a SãoPaulo foi trazido pelo meu amigoBabalorixá Luiz da Oxum, do Pari. Eleera da Oxum Opará e muito emborausasse uma terminologia em ioruba eleera da Nação Angola.Ele me conheceu no Rio de Janeiro porvolta de 1976 e me trouxe a São Paulopara fazer a obrigação da esposa dele,Odília de Badé. A partir daí comecei avir várias vezes, até que em abril de1977 abri a minha Casa.As primeiras filhas foram iniciadas doisanos depois, em abril de 1979: Normade Doçu e Oraci de Nave que é a tiada Mãe Pequena, da Sandra deXadantã, que é a mãe do Vítor. Ela é atia avó do Vítor.Quando eu cheguei em São Paulo nãohavia aqui Tambor de Mina. HaviaUmbanda e Candomblé. O grandedestaque era, principalmente, para oculto de Angola. O Keto não sedestacava tanto, mas certospreconceitos que enfrentei veio porparte deles. O povo de Angola achavao Tambor de Mina diferente, masbonito. Algo colocava em certa sintoniacom eles, que era o toque feito com asmãos.A Casa das Minas de Thoya Jarinateve muita aceitação da Umbanda,porque eles viram nos Encantadosalguns de seus Caboclos, Marinheirose outras Entidades. Até as cantigastinham algo em comum.Naquela época,o número de Casas que prevalecia erade Umbanda. A aceitação maior foi poresse lado, depois pela Nação Angola.Recordo-me que em 2 de agosto de1981, quando iniciei Enedina de Ewá,

a avó carnal do Vítor, vários Pais deSanto de Keto e outros se dizendo deJêge Mahi vieram ver, porque achavamimpossível alguém que tocava umaNação que eles não identificavam,saber louvar e cantar para Ewá. Foi omeu primeiro desafio. Eles chegarame viram tudo diferente, talvez nãotivessem aceitado, mas engoliramporque não sabiam o que era.Uma presença muito importante naconsolidação da Casa foi a de DonaMariana, Cabocla Mariana, que seimpôs tanto diante dos umbandistasquanto dos candomblecistas.No meu Convite de 40 anos eucoloquei que fui discriminado,questionado e em algumas horas atéhumilhado, porque infelizmentepermaneceu no Brasil que quem nãose nivelar pela Nação Keto, não énada. Hoje nós sabemos, os que lutampela pluralidade, pela diversidade, quenão é bem assim. O que é válido paraum não é bom para outro. Pensar issoem 27 anos parece pouco, mas é maisde um quarto de século. Foi muito difícile a grande lição é a da persistência, dacontinuidade, de acreditar no que sefaz.- Firmando-se como liderança emSão Paulo.Regionalmente eu diria que minhaprojeção se deu em Diadema. Em 1986eu assumi o Conselho Religioso deÉtica da FUCABRAD – Federação deUmbanda e Cultos Afros Brasileirosde Diadema e comecei a realizareventos na administração. Organizei a1º Feira da Cultura Afro, a Festa deOgum, Festa de Caboclo, Festival deCantigas de Terreiro. Isso me deuvisibilidade porque em todos essesEventos, diferentemente de tudo quehavia em São Paulo, todo o resto veiodepois de mim, eu criei a diversidadereligiosa afro brasileira. A Festa deOgum começou sendo a primeira ondetodas as tradições tocaram para Ogum,foi marcante. Até a 6º Festa, muitosainda não acreditavam que era possívelessa convivência da Umbanda com osAfros, muitos queriam criticar quando

TOY VODUNNON FRANCELINO DE SHAPANAN“MAIS DE 40 ANOS DEDICADOS À VIDA RELIGIOSA”

Mãe Liliana d´Oxum

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viam o povo de Umbanda colocar umacapa, um charuto na boca e dizer queera Ogum Beira Mar ou Ogum RompeMato ou Ogum Matinata e assim pordiante. Eu fiz rever a vinda do negropara o Brasil, ele não escolheu o quê,vieram todos juntos no mesmo navio:Keto, Angola, Jêge, etc. Então nóspodemos cultuar nossas tradições numnavio só, com respeito, com dignidade.Considero esse trabalho como umgrande mérito, colocar todas asNações, até as mais desconhecidasaqui em São Paulo como a Nagô Ebádo Recife ou Oió de Porto Alegre,todas juntas. Possivelmente, tambémpor eu ser minoria, quis mostrar quealém de mim existiam outras e que nãopodemos dizer que tudo que está acimado Rio de Janeiro é baiano. Sãoculturas diferentes e modos de verdiferentes.O INTECAB/SP veio consolidar o meutrabalho feito na Federação. Comeceia participar, ainda ais de Congressos,Seminários e Eventos, untamente comoutros sacerdotes e aprendemos muitouns com os outros. Muitas vezesescutamos o desejo ou o projeto deoutro sacerdote e acabamos usandoaquilo. O mal é que somos egoístas enão dizemos onde se originou.Podemos todos usar os projetos unsdos outros, mas não devemos nosenvergonhar de dizer onde foiinspirado. Isso certamente eu tive como tempo, aprendi muito com os outros.A grande lição é aprender a escutaros outros, com isso vamos crescendo,amadurecendo e colocando em práticao possível.Fui para o INTECAB numa fase difícil,muito desestruturada, mas tive muitosincentivos, principalmente por MãeNamboazaze. Acreditei e assumi comum lema: postura ética sacerdotalevitando falatórios e palavrões. Isso éo que mais contribui para que asreligiões afro brasileiras sejam malvistas. Nós precisamos de pessoas quesaibam brigar sim, masadequadamente, quando estão empúblico ou em grupo devem saber suasposições.- Repercussão do esforço paratrazer a Umbanda para oINTECAB.Além de acreditar no plural, penso que

falar de religiões afro brasileiras semcolocar a Umbanda não é possível.Muitos grandes Congressos quehouveram, principalmente em SãoPaulo, não acertaram em públicoporque esqueceram da Umbanda,quiseram omitir e colocá-la àmargem. Não podemos jamais fazerisso. A Umbanda é uma realidadenacional. O Candomblé nunca tevegrande preocupação com o social, aUmbanda sim e por isso sempre tevemais penetração. No INTECAB veiopara somar, para mostrar o trabalhode pessoas que realmente praticamou fazem a caridade, estão de braçosabertos, sempre prontos a receber. OCandomblé, com algumas exceçõesé muito egocêntrico. Os Pais deSantos acham que são intocáveis, sãodeuses e todos têm que reverenciá-los, beijar-lhes as mãos e nada mais.A Umbanda tem uma visão maisfamília, daquela Mãe ou Pai queabraça seus filhos, seus parentes. Euacho que o Candomblé aprendeu aser mais sociável coma Umbanda, asCasas mudaram. Essa vinda foi muitopositiva, ensinou-nos a conviver como diferente. Aliás, o INTECABNacional surgiu numa defesa daUmbanda, quando Dona Juana Elbaindos Santos defendeu a participaçãoda Umbanda e algumas sacerdotisasde Keto foram contra. Eu acho queisso é intolerância e discriminação. AUmbanda também leva o nome dosOrixás, querendo ou não. Cultuar deforma diferente é uma outra questão.Nenhuma das Nações afro cultua damesma forma. Nunca fui daUmbanda, mas sinceramente,respeito e tenho muito carinho, muitosamigos também.Olhando por outro lado, muitos quecriticam a Umbanda nos Cultos Afrosacabaram dando transe de PretoVelho, de Caboclos, de Marinheiros,de Baianos e outros. Eu nunca deitranse de Entidades que não sejamda Mina, mas não critico e penso queoutros sacerdotes também deveriamabster-se de criticar. O que realmenteacho é que mesmo com diferençaspodemos sentar sacerdotes daTradição de Orixá com sacerdotes doKeto, da Mina, do Jegê, de Angola,da Umbanda, lado a lado, nos darmos

os braços, sermos fortes etrabalharmos pela humanidade. Achoque é isso que as nossas Entidades eDivindades querem.- Diálogo Inter Religioso eCultura de Paz.O diálogo inter religioso, eu reputocomo uma das coisas maisimportantes e São Paulo está à frente,principalmente com relação àsreligiões afro brasileiras. O diálogo, elenos dá uma outra visibilidade, coloca-nos num patamar em igualdade comoutros sacerdotes.Inicialmente, quando houve umcontato da URI – Iniciativa dasReligiões Unidas, através do Mosteirode São Bento com o Profº Dr.Reginaldo Prandi, ele indicou a mim ea Iyá Sandra Epega para comparece.Ela foi e eu não, porque tive algumcompromisso.Outros também foram.Na época eu soube da realização doMomento pela Paz, no Parque daÁgua Branca, com a participação dosMonges e de outros religiosos. Acheimuito positivo e parei para analisar,porque a princípio temi que fosse sómais uma catequese. Vi que não erae que deveríamos aproveitar essasoportunidades para mostrar naverdade o que somos: humanos,pessoas normais, com família eresponsabilidades, que estamos tãopreocupados quanto eles pelo bomdesenvolver da humanidade. Quandoresolvi participar da URI, no primeiromomento fui para um encontro naIgreja Messiânica localizada naRepresa Guarapiranga. Lá observeique as lideranças, por mais distantesque fossem, queriam dialogar e nãotinham tanto preconceito. Opreconceito, possivelmente, vem maispelo leigo que desconhece o trabalhoque nós sacerdotes fazemos.outrasconfissões religiosas. Toda vez que euencontro a Monja Cohen ou o SheikRagip ou o Dom Anselmo ou qualqueroutro religioso, esqueço, pormomentos, que eles são de tradiçõestão diferentes da minha. Sinto comose estivesse encontrando um irmãoquerido. Se isso é possível com eles,também podemos levar para nossosseguidores. Cada um pode continuarno seu caminho, mas todosrespeitando um ao outro.

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A Cultura de Paz, ela tem muitainspiração na URI porque a função dareligião é trazer felicidade para todose quem tem felicidade está em pazconsigo mesmo. A URI ensejou quefosse surgir o Conselho da Paz, ondeo tópico seria reunir vários outros tiposde Entidades para que se construa umacultura de paz e sem esquecer-se dasreligiões. No Conselho da Cultura dePaz, sem nenhum demérito a nada, aparticipação das religiões éfundamental. A religião está acima detudo porque ela forma, ela informa, eladireciona o nosso dia a dia e nos dálimite até onde podemos ir. Essa é umaexperiência que compartilho.Infelizmente muitos de nossosreligiosos não se dispõem a participar,a conhecer outras instituições queestão fazendo um trabalho social. Elespensam e agem diferentes de nós, masno fundo o objetivo é o mesmo. Achoque a religiosidade deve estar acimada pessoa porque um dia eu morro, maso Tambor de Mina permanece. O queeu fizer, o que eu servir de exemplo, oque eu construir durante minhacaminhada vai ser o grande reflexo doTambor de Mina.- Representatividade e trabalhopolítico.Somente há pouco tempoconscientizei-me que também façopolítica. Não a política partidária, massempre reuni e organizei pessoas emtorno de mim.Na política partidária, o que me assustaé a falta de ética porque as pessoashoje estão comigo, falam bem de mim,amanhã trocam de partido e falam mal,depois de algum tampo retornam aoprimeiro e voltam a elogiar. Para osreligiosos isso é muito complicado. Nãopodemos dizer hoje que uma coisa écerta, amanhã errada e depois certade novo. Certamente existem políticoscorretos e bons, por mais radicais quesejam eles acreditam nos seusprincípios, nas suas ideologias emostram trabalho, boas intenções.

Toy Vodunnon Francelino de ShapananDireitos das Tradições Religiosas

Afro-Brasileiras

Toy Vodunnon Francelino deShapanan

na Casa das Minas de Thoya Jarina

Algumas autoridades que às vezes nosprocuram antes das eleições, nemsempre cumprem o que prometem. Porexemplo: a Prefeita Marta Suplicyprometeu muitas coisas para todos nóse até hoje nem deu uma resposta, muitomenos nos recebeu. Para pedir ela se

sentou lado a lado conosco.Fui convidado pela Ministra MatildeRibeiro para participar de um grupo desegmento religioso afro brasileiro queestá dando subsidio as religiões afrobrasileiras de modo geral. Lá temospropostas minhas pelo INTECAB, daComissão de Assuntos Religiosos AfroDescendentes junto ao Conselho deParticipação e Desenvolvimento daComunidade Negra do Estado de SãoPaulo, do SOUESP. São propostas esugestões já comentadas em váriosoutros locais e ocasiões e que são deconsenso geral.A SEPPIR – Secretaria Especial daPromoção de Política de IgualdadeRacial da Presidência da Repúblicaestá criando mecanismos muito bonse temos esperança que a MinistraMatilde possa colocar em prática. Hámuita coisa sendo feita pela aSecretaria Nacional de DireitosParticipo também de um GT junto aSecretaria da Cultura do Estado deSão Paulo que já tem um trabalhopronto que é o de promoção dadiversidade cultural. Temos mostradoa carência, a necessidade que tem asreligiões afro brasileiras em promovercursos de abrangência geral e possíveistombamentos, de valorização, deaproveitar o próprio grupo religiosopara estar ministrando cursos,seminários. No lugar de acadêmicosusar o próprio religioso que vive o diaa dia. Não precisamos de acadêmicospara dar cursos de religião, precisamosé de sacerdotes bem intencionados.- Congresso de Diadema.O Congresso de Diadema foi algo queeu quis muito. A idéia surgiu porquesempre fui convidado a participar devários outros congressos, seminários,encontros, etc. Ajudei a organizar ecoordenar grandes eventos com aparticipação de grandes nomes de todoo Brasil. Pensei que se prestigio a todose eles acham minha presençaimportante está na hora de fazer meuvestibular e ver se sou prestigiadotambém. Quando organizei o primeiroCongresso de Diadema, no final, oProfº Dr. Reginaldo Prandi disse queeu estava aprovado no vestibular comnota máxima e louvor. A realização deum Congresso não é só para dar nomee aparecer, mas sim para discutirmos

coisas da nossa religião, para ensinarem todos os níveis possíveis adiversidade da religião afro-brasileira. Todos nós aprendemos nessasocasiões porque ninguém sabe tudo,precisamos dialogar muito mais. Porexemplo: aquilo que fazemos comfarinha de trigo em São Paulo pode serque seja feito com farinha de mandiocano Maranhão. Temos que ver oresultado, o que de bom tiver.O Congresso de Diadema tem aproposta de reunir não só pessoasilustres, referenciais para se encontrar,mas para ensinar.

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Em primeiro lugar que sejamperseverantes, nunca começar umacoisa hoje e amanhã por qualquermotivo parar. Temos sempre queacreditar no que fazemos e darcontinuidade, ir até o final. Em segundolugar fazer as coisas sempre bemfeitas, da melhor maneira possível.Outra coisa muito importante éaprender muito cedo a ouvir. Nós nãopodemos ser nem muito humildes nemmuito vaidosos. Temos que aprendera dosar, humildade demais atrapalha.Nós temos que ter ceteza de nossospontos de vista, certeza no quefazemos, mas sempre aprendendo aouvir.Também temos que saber conciliar oque é novo com o antigo, pois dessamistura sempre sai algo muito bom.Sempre se aprende com os mais velhose sempre se aprende com os maisnovos. Os mais novos têm pressa equerem tudo para hoje, acham que tudopode. Os mais experientes são maiscautelosos em algumas coisas.Na minha opinião os jovens precisampensar: - É isso o que quero? É essa aminha verdadeira fé? É essa a minhareligião? Porque depois de defender,lutar e daqui a 20 anos dizer: - Eu nãosou mais disso. É muito triste. Quandovocê faz uma opção e ela foi pesada evivida ela é válida Antes de se fazerqualquer coisa tornar realidade épreciso pensar bastante. Os efeitosvirão com o tempo. Só podemos falardaquilo que vivemos, se não vivemosnão temos experiência.Hoje nós aprendemos que existemvárias lideranças e que estamoscomprometidos a somar com elas, emabraçá-las e aplaudi-las. Quando nósaplaudimos os outros certamenteseremos aplaudidos.

Temos cumprido esse objetivo. Tenhorefletido também na proposta dehomenagear, sempre pensando noplural, pois os homenageados não sãosó os amigos meus e nem só aspessoas do INTECAB ou daFUCABRAD. Já homenageamos oPai Jamil Rachid e no ano passadoforam 12 sacerdotes de Xangô.Homenageamos a pluralidade ecriamos laços de carinho e amizade.A homenagem para quem tem umtrabalho é muito importante,principalmente porque ela é feita comcritérios e para que saibamos que nãopassamos em vão, que fomos útil dealguma forma para a Casa ou paraaqueles ao redor.A premiação que o INTECAB/SP fazatravés do Congresso ou mesmo oprêmio União na Diversidade, tudo éfeito com muito critério, nãohomenageamos pessoas que nãotenham um bom trabalho.Normalmente aquelas pessoas que játem um nível de espiritualidade

“UMA LUTA EM DEFESA E EXPANSÃO DOS VALORES

DA RELIGIÃO E DA CULTURAAFRO-BRASILEIRA”

“RESPEITO E DIGNIDADEPARA AS TRADIÇÕES

RELIGIOSASAFRO-BRASILEIRAS”

- Administrar o Templo e outrostrabalhos.É uma correria, mas sempre sobratempo. Quando temos boa vontade,quando fazemos as coisas amparadospelos Voduns, pelos Encantados, elesse encarregam de nos dar não sóapenas tempo, mas energia também.Existem horas que temos vontade deparar, pelas ingratidões, pelas másinterpretações: Se você não vai paraalguma coisa é omisso, se vai éexibido, e os que nada fazem? Seráque vamos ter que criar um prêmiopara os que nada fazem? Eu não.Acredito que as coisas boas é quedevem prevalecer.Minha Casa tem um calendário muitoextenso, muito grande, mas tenho quecumprir com minhas obrigações elevar o Tambor de Mina adiante. Jáestou levando para a terceira geraçãoe espero que vá dar semprecontinuidade e aprender comigo orespeito ao outro, ao diferente. Estarsempre sabendo que somos bons, quesomos importantes, mas que os outrostambém são.

Mãe Liliana d´OxumConselheira Religiosa e Titular da

Comissão de Comunicação eRelações Públicas do INTECAB - SP

- Mensagem para as novaslideranças e aos jovens que seesforçam pela religião.

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Entrevista Inédita com Toy VodunonFrancelino de Shapanan

Realizada em Outubro de 2006Mãe Liliana d´Oxum

Eleito e reeleito por treze anosconsecutivos para a Coordenação doINTECAB – SP, Toy VodunnonFrancelino de Shapanan fala de seutrabalho: respeito, dignidade eseriedade para todas as vertentes dastradições religiosas afro-brasileiras.Trabalhar pelo plural, no sentido debuscar políticas afirmativas paragarantia da liberdade religiosa dentroda ética e da postura sacerdotal,trouxe unanimidade para mantê-lo àfrente da Coordenação do Instituto, noEstado de São Paulo.

Como começou o seu trabalho noINTECAB – SP?

Resposta: Participei da fundaçãocomo representante da Nação Mina-Jêge-Nagô. Tomei posse comoConselheiro Religioso quando oprimeiro Coordenador, BabalorixáJoão Carlos Peracchini – João Carlosde Ogun-Já, também foi empossadopelo Mestre Didi. Estive presenteativamente nas reuniões e decisõesdo Conselho Religioso, até que oBabalorixá João Carlos precisouafastar-se por motivos particulares. OINTECAB – SP ficou um poucoacéfalo. A saudosa e tambémConselheira Religiosa, MametoNamboazaze, procurou-me e insistiupara que eu assumisse aCoordenação. Ela, junto com outraslideranças, como: Pai Rozevaldo deOxumarê, Pai Francisco da Oxum eMãe Jujú da Oxum colocaram que eudevia ser o Coordenador porque tinhauma boa maneira de dialogar. Em1993, dia seis de agosto, o entãoSecretário Administrativo Nacional,Ogãn Carlos Otávio Cardoso, veio, emnome do Instituto, dar-me posse, oquê aconteceu no Terreiro da MametoNamboazaze. Desde então, são trezeanos à frente do INTECAB – SP. Estouno quinto mandato, sendo três anoscada um. Pelo Estatuto, eu já deveriater saído, mas a pedido do Mestre Didie insistência do Conselho Religioso deSão Paulo, continuo.O trabalho maior, nesse tempo todo,

tem sido o de ser interlocutor entrevárias tradições afro-brasileiras e terdefendido a participação das minorias.Inicialmente, não se aceitava que aUmbanda participasse junto com asoutras tradições. Fui um dossacerdotes a valorizar isto e, nãoapenas trouxe o povo de Umbanda,mas criei eventos como o “Toque daUnião” para dar visibilidade e mostrarque todos merecem ser tratados comrespeito, dignidade e seriedade,independente de ser “raspado” ounão. Tenho um trabalho de luta pelorespeito ao plural. O lema doINTECAB tem sido bem representadopelo meu trabalho.

Qual é a posição do INTECAB-SPsobre o ensino religioso nasescolas?

Resposta: Desde que começamos aparticipar do Conselho Estadual deEducação fomos contra. Acreditamosque religião se aprende em casa e nosTemplos religiosos. Não temospessoas preparadas para ministraraulas sobre as religiões afro-brasileiras. Como aplicar ensino sobreuma diversidade tão grande eregional? Muitos dos nossos religiosossó conhecem a religião que praticam.Alguns conhecem Keto, Jêge e Angola,mas são raríssimos os Babalorixás eas Iyalorixás que têm conhecimentogeral. Quem é que vai capacitar osprofessores para essa pluralidadereligiosa?

Será que não vamos cair novamentena nagorização, quando apenas osiorubás ou o culto aos Orixás tinhavalor? No Brasil temos muitas outrasreligiões: as afro-indígena-brasileiras.Não podemos esquecer delas porqueé onde a grande “massa” procuraatendimento. Temos, por exemplo:Almas em Angola (Florianópolis), Jarí(Chapada Diamantina), Xambá eCatimbó (Paraíba, Recife, regiãonordeste), as Encantarias Gentil eCabocla (Maranhão e região norte),Pajelanças Cabocla e Indígena, aCura Maranhense, o Candomblé deCaboclo no interior baiano, o Giro deCaboclo (como a Umbanda éconhecida em Salvador). Temos umabase de mais ou menos dezesseisreligiões, sem mencionar as que sãochamadas de matriz africana. Selutamos pela valorização da igualdadenão podemos esquecer destas outrastradições. Como é que um professorvai poder mostrar para os alunos todaessa pluralidade? Vamos acabarpenalizados. Para ter uma aula deensino precário, mal informada edeturpada é melhor que não tenha!Sou membro do CONER – Conselhode Ensino Religioso do Estado de SãoPaulo. Nas reuniões, sabemos ediscutimos que está sendo ministradoem muitas escolas um ensinoconfessional. Muitos negam, mas éreal. Acredito ser prejudicial, uma novacatequese que cria uma diferençapara os alunos que vivem as religiõesafro-brasileiras nas suas casas. Elesacabam sendo discriminados esofrendo vários tipos de injúrias.Temos que lutar para que essa lei sejarevogada.

Qual é a sua opinião sobreSacerdotes preparados para falarem nome das religiões afro-brasileiras?

Resposta: Temos um projeto noINTECAB-SP que irá preparar sacer-dotes e sacerdotisas para quetenham conhecimento geral de todasas religiões afro-brasileiras.

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A começar pelos três troncosprincipais: o primeiro de etnia bantu,que fala kibundo e kicongo, cultuainkice, abrangendo Nação de Angola,Congo, Cambinda, Kassange,Moçambique e de onde,posteriormente, vai surgir o Omolokô;o segundo de etnia iorubana, que falaiorubá e cultua orixá em Nação Ketúcom algumas variações como Alaketue Boci-Alaketu, Efan, Igexá, Mina-Nagô do Maranhão, Nagô-Egbá doRecife que depois vai gerar o Nagô-Vodun, o Oyó de Porto Alegre. Todoscultuam orixá, mas com forma e visãodiferenciadas; o terceiro tronco deetnia daomeana, que cultua vodun,fala elefô e compreende a NaçãoGêge-Mahi, Gêge-Daomé, Gêge-Savalú e Mina-Gêge. Além destasquase vinte religiões afro-brasileiras,temos outras afro-indígenas-brasileiras já citadas: Umbanda, Jarí,almas de Angola, Catimbó, etc. Existeuma grande necessidade de que ossacerdotes e sacerdotisas tenhamuma visão do que é cada uma delas.O que pensam, como fazem, como seorganizam, quais seus rituais, seucorpo hierárquico. Fazendo umacapacitação, também estaremostrabalhando para acabar com opreconceito entre as Nações. Quandoconhecemos melhor, respeitamosmais. Queremos, antes de partir parao diálogo com as outras religiõescristãs e não cristãs, fazer o diálogocom as nossas religiões afro-brasileiras. Além de ser uma questãocultural é uma questão de respeito àpluralidade. O Instituto que tem comolema “União na diversidade” ele nãoprega a unidade, ele prega a união.Isto quer dizer que temos que sermuitos, diversos, porém unidos e aunião só acontece quando, naverdade, nós nos conhecemos.

Existem comentários sugerindoque o INTECAB privilegia osintelectuais à sabedoria dos maisvelhos. Qual é a sua opinião?

Resposta: Em primeiro lugar, gostariaque essas pessoas pesquisassempara saber o que é um instituto. Qualé o seu objetivo? Qual é a funçãoinstitucional oficial de uma associaçãocultural? Quanto aos mais velhos,nosso Coordenador Nacional, Mestre

Didi é o mais velho no Brasil. Possuio cargo mais antigo do Axé OpóAfonjá. Ele é Alapini e Asogbá, tendoo mais alto posto no culto de Egungune o mais alto posto na Casa de Omolú.A Mãe dele foi uma das mais dignas erespeitadas Iyalorixás: Mãe Senhora,de Oxum Miwá, a terceira sacerdotisado Opó Afonjá. Mestre Didi fala emnome de todos porque ele é umintelectual da religião. Aqui em SãoPaulo o Instituto é Coordenado pormim que tenho quarenta e dois anosde iniciado; no Maranhão, por MãeCeleste de Verekête que é da Casadas Minas, a única do culto gêge e amais velha, com mais de duzentosanos; em Recife, por muito tempo,foi Coordenado por Manoel Papai,sacerdote do Ilê Obá Ogunté. OConselho Religioso em São Pauloestá composto por quarenta e doissacerdotes e sacerdotisas, entre elesos mais velhos: Mãe Jujú da Oxum,Pai Rozevaldo de Oxumarê, PaiPércio de Xangô, Mãe Ana de Ogun,Tata Tauá, Pai Kassamin, entre outros.Eles não são, exclusivamente,intelectuais, porém não posso colocarpara coordenar uma Comissão deCiência e Cultura alguém que não sejaintelectual. O Titular é o Prof. Dr. OgãnReginaldo Prandi. O Titular daComissão de Comunicação eRelações Públicas é o professorEgbomi Gill d´Oxum, neto da CasaBranca e da IntercomunidadesNacional e Internacional o sociólogoEgbomi Rodney, filho de Pai Cidod´Oxum Eiyn. Os grandes sacerdotesestão no INTECAB e tenho muitoorgulho disto. Não faço diferençaporque acho que todos merecemrespeito. Se todos estes Babalorixás,Iyalorixás, Tatas, Mametos, Vodunons,Noches, Dirigentes Espirituais,Padrinhos e Madrinhas fossemintelectuais seria ótimo para a religião.Se muitos de nossos mais velhos nãochegaram à faculdade não foi porquenão quiseram. Estar contra aintelectualidade é estar contra odesenvolvimento, contra a tecnologia.Ogum é o senhor da tecnologia, prefiroestar com ele e estar à frente de tudo“esin waju” do que achar queintelectualidade não vale nada. Valetudo! Acho muito bom que tenhamosintelectuais trabalhando no INTECAB.Recentemente, numa

reportagem da Rede Globo, foimostrado que as religiões que tem,proporcionalmente, pessoas maiscultas, são as religiões afro-brasileiras.Parabéns para nós.

O INTECAB-SP tem mecanismospara o trabalho social e estádisposto a fazer?

Resposta: O objetivo do INTECABnão é a filantropia. Não podemos fazertudo. Existem as definições noestatuto. O objetivo principal épreservar a tradição. Uma faculdadede medicina não tem que ensinar aconstruir casas, compete à faculdadede engenharia No entanto, estouconsciente de que as religiões afro-brasileiras têm que trabalhar o ladosocial. Temos muitos religiosos quepraticam filantropia e fazem trabalhosocial nos seus Terreiros. Estamosinserindo no Instituto estes trabalhos.Também estamos enviando àCoordenação Nacional um projetopara mudar o estatuto e incluir otrabalho social. Não é só de minhacompetência fazer esta mudança.

Encontrou muitas barreiras paracultuar Tambor de Mina na cidadede São Paulo?

Resposta: No presente não, mas nopassado tive dificuldades porque tudoque é novo e desconhecido gerapolêmicas, indagações,questionamentos. Acredito que minhafidelidade com a tradição, ao longo dosanos, deu-me credibilidade e respeito.Hoje vejo que muitas pessoas seinfluenciaram com os voduns. MuitasCasas de Ketu que falavam deboiadeiro e caboclo de penacomeçaram a falar de encantado. Foium grão de areia na praia que passoua ser enxergado. Ganhei respeitoporque tenho participado de muitoseventos, tenho um grande curriculum.São trinta e dois anos de trabalhoreligioso, três décadas. Talvez por euestar aberto ao diálogo, ter umtrabalho político-religioso de destaquee estar na mídia, estes fatos fizeramcom que minha tradição sofressemenos discriminação.

Mãe Liliana d´OxumConselheira Religiosa e Titular da

Comissão de Comunicação e RelaçõesPúblicas do INTECAB - SP

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II CIADSegunda Conferência de Intelectuais da África e Diáspora

Salvador, Brasil, 12 a 14 de julho de2006.Ministério das Relações Exteriores doBrasil e União Africana

Grupo Temático 4 – Religião e herançaculturalRelator: Reginaldo Prandi -Universidade de São Paulo e Intecab/SP (Brasil)Moderador: Babatunde Lawal -Virginia Commonwealth University(Estados Undoes)

Bloco A: “Orixás, voduns e inquices:tradição, pluralismo e diversidade”

Adigun Dazies Ajami - Babalorixá(Nigéria)Beata de Yemanjá- Ialorixá (Brasil)Carline Viergelin - Federação Nacionalde Praticantes de Vodu Haitianos(Haiti)Francelino de Shapanan - ToyVodunoon, Intecab/SP (Brasil)Júlio Santana Braga - UniversidadeFederal da Bahia (Brasil)Max Beauvoir - Federação Nacionaldos Praticantes de Vodu Haitianos(Haiti)Natália Bolívar Aróstegui - Etnóloga(Cuba)Oduniyi Ifagbade - Babalaô (Nigéria)Reginaldo Prandi - Universidade deSão Paulo e Intecab/SP (Brasil)Sangodare Gdadegesin Ajala -Sacerdote de Xangô (Nigéria)Wande Abimbola - Awise Yorubá eBabalaô (Nigéria)

Bloco B: “Religião, arte e cultura”

Adedoyin Talabi Faniyi - Sacerdotisade Oxum (Nigéria)Aderibigde L. Simon - UniversidadeFederal de Lagos (Nigéria)Babatunde Lawal - Virginia Common-wealth University, Richmond (EstadosUnidos)Deoscóredes M. dos Santos, MestreDidi - Artista e Alapini (Brasil)Ezra Chitando - Universidade doZimbabue (Zimbabue)Félix Ayoh’ Omidire – Universidade delIê Ifé (Nigéria)

Juana Elbein dos Santos - Sociedadede Estudos da Cultura Negra no Brasil(Brasil)Mohamed Charfi - ex-Ministro daEducação e Pesquisa Científica(Tunísia)

Resumo do Relator à SessãoPlenária de Encerramento

Embora religião e arte estivessemseparadas em blocos específicos doGT 4, a própria constituição da culturada África e da Diáspora fizeram comque referências cruzadas entre os doistemas estivessem sempre presentesno discurso dos apresentadores e nodebate dos dois blocos. Por essarazão, este relato breve do GT nãosepara os dois blocos, como nãoestiveram de fato separados.Na concepção africana que foipreservada plenamente na cultura dossegmentos africanos em países daAmérica, cultura religiosa e arte estãointrinsecamente ligadas. São planosde uma mesma visão de mundo, maisque isso, são dimensões de ummesmo modo de se viver a vida eentender a realidade. A visão demundo africana se expressa, até osdias de hoje, tanto na África como nadiáspora, através de meios materiaise meios imateriais. Isso inclui as artesplásticas, a música e a dança, aliteratura e a poesia, as artes dossabores e odores - a culinária - aestética do ambiente e do vestuário.E mais que isso: no plano ético, osvalores fundamentais que norteiam aconduta e dão sentido à vida, como aprópria alegria de viver, a importânciado respeito aos mais velhos, e osentimento que reforça a vidacomunitária.Nascida do mesmo arcabouçoconstitutivo da religião, a arte africana,nos dois lados do Atlântico, seexpressa por movimentos, ritmos,cores, pulsares, que são condutoresde energia, o axé, que alimentam opoder, conduzindo a fruição daestética negra revelada através defontes materiais e imateriais damemória ancestral.

As artes produtoras dos objetossagrados e utensílios usados nosrituais religiosos, assim como asexpressões musicais e poéticas,extravasam os limites do culto e sãorecriadas e reelaboradas pelos artistascomo produtos de arte sem fronteira,objetos de arte nacional einternacional, que contribuemdecididamente na constituição daidentidade nacional de nossos países.Basta se pensar na música de paísescomo o Brasil, Cuba, Haiti, Trinidad eTobago. Lembremo-nos do samba edo carnaval do Brasil, da música doCaribe, da feijoada, do acarajé, do usopeculiar das cores que nos vestem nodia a dia. Das artes plásticas, comartistas emblemáticos como MestreDidi, Rubem Valentim, EmanuelAraújo.A religião e a arte são fontes deidentidade de afro-descendentes, masmuito mais que isso. São fontes deidentidade nacional de países como oBrasil, Cuba, Haiti, cuja cultura nãopode ser pensada sem a herança dadiáspora, sem a origem africana. Aorigem familiar, a identidade, o nomesão vitais para o africano. Pois, nadiáspora, o africano escravizado, teveseu nome suprimido e substituído porum outro nome, um nome cristão. NoBrasil, cada nome português dado aum escravo significou a negação dosvínculos de ancestralidade africana e,ao mesmo tempo, uma ruptura com aantiga religião, porque identidade ereligião se juntam numa mesmamedida. Então, do lado de cá doAtlântico, a religião que foi deixada láatrás teve que ser refeita, reinventada.A religião renasceu na diáspora. Foi omomento da resistência por meio dareligião, e o momento da reiteraçãoda origem através do extravasamentoda religião no plano da cultura. Maistarde veio o transbordamento dacultura própria dos segmentos negrospara o plano amplo da culturanacional, assistindo-se a construçãode uma identidade que ligavadefinitivamente a América à África.A religião africana renasceu nadiáspora como resistência. É o mun-

Prof. Dr. Reginaldo Prandi

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mundo africano recriado, a família-de-santo refazendo em âmbito simbólicoa família de sangue que a escravidãonegava ao africano. Depois a religiãose expandiu, como a arte, e se fezreligião de todos, como a arte se fezarte de todos. A religião e a arte, aslínguas e os valores africanosinterpenetram as manifestaçõesnacionais congêneres. Não se podedizer que se é brasileiro ou cubano ouhaitiano etc. etc., sem também serafricano. O mesmo se pode falar dosangue, dos códigos genéticos, davida, enfim, em suas manifestaçõesmateriais e imateriais.O corpo do africano é visto comoobjeto de arte, fruto da criação divina.E por isso também é sagrado. A vidaé, portanto, criação, e ao mesmotempo arte. Viver é criar, é participarda sempre recorrente ampliação dacriação artística. Da arte que não é aarte de um único povo, mas de umapluralidade de nações e povos difícilde se esgotar. Um aspecto essencialda religião e da cultura na África, quese reproduziu na diáspora, é adiversidade, as expressões plurais, asalternativas que concorrem para aconstrução de uma totalidade plena deinterpretações, referências esignificados. Essa pluralidade estápresente no Brasil, em Cuba, no Haitie em todo lugar da diáspora.Muitas religiões da África foramrecriadas na diáspora, cada uma seadaptando ao meio social local,fundindo origens e ressignificandoconteúdos como mecanismo depreservação da herança africana.Religiões diferentes que dialogampermanentemente entre si e comoutras crenças de outras origens.Difícil nomear todas a diversidade dereligiões afro-americanas. Religiõesde orixás iorubanos, voduns jejes,inquices bantos. No Brasil, oscandomblés de nações iorubás, jejese bantas (queto, ijexá, efã, jeje mahi,savalu e dahomé, angola, congo,cabinda); o candomblé de egungum,o candomblé de caboclo; o jarê, oxangô de Pernambuco de naçãoegbá-nagô e o xambá; o tambor-de-mina jeje e nagô; as encantarias, ocatimbó-jurema de tradição afro-indígena, o batuque do Rio Grande doSul, o omolocô do Sudeste. No Brasilinteiro a umbanda, síntese das origensmais fundamentais da cultura e daidentidade brasileiras. Em Cuba, asanteria iorubá, o palo monte banto

com suas quatro versões, o ararat;tantas são as formas e arranjos. NoHaiti não menos que dezesseteformas de vodu organizam o culto dedivindades e espíritos de origensmúltiplas; em Trinidad e Tobago, oxangô, igualmente múltiplo. São,enfim, religiões plurais que desdealguns anos vêm enriquecendotambém, e cada vez mais, outrospaíses das Américas e mesmo daEuropa.Mas, em diferentes momentos, osexpositores do nosso grupo detrabalho se perguntaram sobre ofuturo desses laços que atam a Áfricaà América, que lá e aqui são fontestranscendentais de explicação da vidae fontes seguras de criatividade e deexpressão cultural de identidades depessoas, grupos e nações. Apreocupação com a permanência dastradições dos orixás, voduns einquices esteve presente o tempo todono discurso do grupo que se reuniupara refletir sobre religião e herançacultura.Fala-se hoje em renascimentoafricano — no Brasil em africanização— mas como pode haverrenascimento se na África,especialmente na Nigéria, as criançasjá pouco aprendem suas línguasnativas sofrendo a imposição daslínguas européias. Poucas sãoeducadas nas tradições de seusdeuses originais. Na maior parte dospaíses africanos, a maioria dos jovensnão sabe escrever uma frase inteirana língua nativa. Perguntou-se obabalaô Abimbola: “Cadê a tradiçãoafricana, a pluralidade, as religiões ea línguas nativas que parecem emextinção. Não pode haverrenascimento africano nem na Áfricanem na diáspora sem oreconhecimento da religião, da línguae da cultura originais”.O quadro na América é igualmentepreocupante. No Haiti, a religiãoassistiu a verdadeiros massacres esempre foi vilipendiada pelos que aolham de fora, e a transformam emobjeto de mera fantasia de horror.Também em Cuba a religião teve quesobreviver nas sombras, e sua sortenão é diferente. No Brasil, as religiõesde orixás, voduns, inquices,encantados, mestres e caboclossomente em anos recentes selivraram (infelizmente ainda não detodo) da perseguição policial, masencontraram um outro inimigo pode-

roso disposto a varrê-las do cenárioreligioso. São denominações e igrejaspentecostais e neopentecostais quedemonizam as divindades e espíritosafro-brasileiros, perseguem devotosbuscando sua conversam, travamcontra os fiéis de religião afro-brasileira uma verdadeira guerrasanta.As religiões de origem africana vão sedefendendo como podem, criandoinstituições de defesa, como ocorre noHaiti e no Brasil, mas a iniciativa aindaé frágil. Difícil, no Brasil, defender-sede inimigos tão poderosos, quecontam com canais de rádio etelevisão e têm assentos, em númerocrescente, nas Câmaras Municipais,nas Assembléias Legislativas e noCongresso Nacional. De novo, areligião tem que se fazer resistência,agora, para sobreviver.Algumas recomendações se impõem.É preciso, antes de tudo, manterabertos os canais de comunicaçãoentre intelectuais da África e dadiáspora. Congressos como estedeveriam estar sendo feitos há muitotempo e com regularidade. Este é osegundo, é imperativo que tenhacontinuidade. É preciso que osgovernos dos países envolvidostomem uma posição forte contra aintolerância religiosa, a favor daliberdade plena de crença e em prolda liberdade de expressão religiosa eartística. É decisivo garantir, antes detudo, a capacidade de criação. Porquepara o africano dos dois lados doAtlântico, criação é vida, é a ligaçãocom as origens, é a possibilidade deprosperar sem perder a identidade.

Ogã Prof. Dr. Reginaldo Prandi é Titular daComissão Estadual de Ciência e Cultura

do INTECAB - SP

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INTECAB - Coordenações

A instância superior do INTECAB é oConselho Religioso, integrado poraltos dignatários das comunidades-terreiro da Bahia, Minas Gerais, Riode Janeiro, Maranhão, Pernambuco,São Paulo, Pará, Sergipe e Paraíba.O Coordenador Vitalício do ConselhoReligioso Nacional é o Alapini e AsogbáDeoscóredes Maximiliano dos Santos,o Mestre Didi.O Coordenadore emexercício é o Agbajigãn EveraldoConceição Duarte e seu Vice-Coordenador é o Alagbá GenaldoNovaes. Em São Paulo o INTECAB foidirigido pelo Toy Vodúnnon Francelinode Shapanan, por quatro mandatos (3anos cada). Por força dos estatutos foio Coordenador dos dois Conselhos eda Executiva. Após sua passagem emfevereiro de 2007 assumiu aCoordenação a Ebômi Conceição Reisdo Ogum.

Coordenações Estaduais

São Paulo: Ebômi Conceição Reis doOgun (Keto);Bahia: Ekédi Sinhá de Xangô (Keto);Maranhão: Vodunsi-hê Maria Celestedos Santos (Mãe Celeste de Verekêteda Casa das Minas – Mina Jeje);Pernambuco: Babalorixá GilDomingues Holder (Gil d´Ogum);Minas Gerais: Njinga Sônia Vilela(Omolocô);Pará: Mam’etu Nkisi Oneide Monteiro(Nanjetu – Angola)Rio de Janeiro: Iyalorixá Zeni Pinheiro(Keto)Paraíba: (Em processo eletivo)Sergipe: Mãe Lindinalva Bastos(Umbanda)

Executiva Nacional

Fundador: Alapini Agbá Ipekun Ojé eAsogbá Deoscóredes Maximiliano dosSantos (Mestre Didi),Coordenador: Agbagigãn EveraldoConceição DuarteVice-coordenador : Alagbá GenaldoNovaes

Titular da Comissão de Ciência eCultura: Elefundê Ejidê Profª. Dra.Juana Elbein dos Santos.Representante do ConselhoConsultivo Nacional: Prof° DalmirFrancisco.

Conselheiros Religiososem São Paulo

Ebômi Conceição Reis do Ogun -(Keto) Coordenadora,Babalorixá Rozevaldo de Oxumarê(Efan) – Vice-coordenador,Ialorixá Ada de Omolu ( Efan),Ialorixá Ana de Ogum (Keto),Babalorixá Cido da Oxum Eyin (Keto),Pai Alexandre Meireles da Silva(Umbanda),Babalorixá Tonhão de Ogum (Keto);Babalorixá Carlos da Oxum Bunmi(Keto),Babalorixá Karlito de Oxumarê (Keto),Ialorixá Carmem da Oxum(Keto,Pai Cássio Lopes Ribeiro (Umbanda),Ekédi Dirce de Iyemojá (Keto),Tata Nkisi Inácio de Kafunge –Ugikandê (Angola),Babalorixá José Carlos de Ibualamo(Keto),Babalorixá José de Oxalá – Alabii(Kêtú),Tata Nkisi Joselito de Mutakalambô -Tauá (Angola),Ogã Prof. Dr. Reginaldo Prandi – USP(Keto),Ialorixá Juju da Oxum (Keto),Mãe Liliana d´Oxum (Umbanda),Pai Marcelo de Xangô (Umbanda),Mãe Márcia Pinho de Iemanjá(Umbanda),Toy Hunji Márcio de Boço Jara(Tambor-de-Mina),Mãe Cecília de Iemanjá (Umbanda),Mameto Nkisi Maria Cleuza deMatamba – Buraji (Angola),Iyalorixá Maria de Oyá Mirewá (Keto),

Babalorixá Nivaldo de Logun-Edé(Keto),Axogum Oscar Santini de Ogum(Keto),Babalorixá Pércio de Xangô (Keto),Baba Rita de Cássia (Umbanda),Ialorixá Silvia de Oxalá (Keto),Tata Nkisi Valentino de Nkosi –Tolucinambê (Angola),Ebômi Vera Lúcia de Nanã (Keto),Tata Nkisi Vicente de MutakalambôKassamin (Angola),Babalorixá Washington da Oxum(Keto)Tata Nkisi Weber Nahra deMutakalambô – Cecitaodê (Angola).

Coordenação Executiva doINTECAB - SP

Coordenadora: Ebômi ConceiçãoReis do Ogun;Vice-coordenador : BabalorixáRozevaldo de Oxumarê;Assessoria Jurídica: Alabê Prof. Dr.Hédio Silva Júnior ;Assessoria Especial: Dra. EdnaRoland de Nochê Sogbô;Assessoria Social e Política:Babalorixá José Carlos de Ibualamo;Secretária Administrativa: MãeMárcia Pinho de Iemanjá;Secretário Financeiro: Toy HunjiMárcio de Bocó Jará;Titular da Comissão deComunicações e RelaçõesPúblicas: Mãe Liliana d’OxumTitular da Comissão deIntercomunidades Nacional eInternacional: Babalorixá Rodnei deOxóssi;Titular da Comissão de Ciência eCultura: Ogãn Prof. Dr. ReginaldoPrandi,

Secretária Administrativa: EkédiLuci Lopes,Titular da Comissão deComunicações e RelaçõesPúblicas: Ekédi Celeste Lopes Roda,Titular da Comissão deIntercomunidades Nacional eInternacional: Ialorixá Raidalva SilvaSantos,

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I SEMINÁRIO DAS TRADIÇÕES AFRO BRASILEIRASDE SÃO BERNARDO DO CAMPO

II SEMINÁRIO DAS TRADIÇÕES AFRO-BRASILEIRASZONA LESTE

Aconteceu em 04 de abril de 2004, das 09:00 às 18:00 hs,no Ilê Alaketu Axé Airá, do Babalorixá Pércio de Xangô, ,

Rua Antonio Batistini n° 260 - Batistini - São Bernardo do Campo - SP, oI SEMINÁRIO DAS TRADIÇÕES AFRO-BRASILEIRAS DE SÃO BERNARDO DO CAMPO.

TEMAS DISCUTIDOS: - A Tradição e o Moderno: como conciliá-los nas Religiões Afro-brasileiras

- Porque as Religiões Afro-brasileiras estão perdendo muitos seguidores - As Religiões Afro-brasileiras e a Saúde - A Ética e as Religiões Afro-brasileiras

- O que é o INTECAB

Aconteceu em 17 de outubro de 2004, das 09:00 às 19:00 hs,no Ilê Axé Ibá Faraodé, da Iyalorixá Graça do Oxóssi,

Rua Floco de Neve n 30 - Vila Ramos/SP,o II SEMINÁRIO DAS TRADIÇÕES AFRO-BRASILEIRAS -

ZONA LESTE/SP

TEMAS DISCUTIDOS:- Tradição e Modernidade: convivência e problemas com a perda de seguidores

- Saúde: remédios, medicamentos e o povo do axé- As Religiões Afro-brasileiras e a Ética

- Direitos e Deveres nas Religiões Afro-brasileiras e as ações de combate à discriminação e intolerância religiosa- Propostas Afirmativas para as Religiões Afro-brasileiras

- O que é o INTECAB

Aconteceu em 15 de novembro de 2007, das 08:00 às 18:30 hs,no Axé Alaketú Ilê Odé, do Babalorixá Rodnei de Oxóssi, Titular da Comissão Estadual de

Intercomunidades Nacional e Internacional,Travassa Luiz Carlos Lisboa n° 166 - Bairro Cachoeira - Jardim Tremembé - SP, oIII SEMINÁRIO REGIONAL DAS RELIGIÕES DE MATRIZES AFRICANAS.

TEMAS DISCUTIDOS:- INTECAB - Suas Ações e Perspectivas no Novo Milênio;

- Juventude e as Mulheres nas Religiões de Matrizes Africanas;- Saúde, Direito e Cidadania;

III SEMINÁRIO REGIONAL DAS RELIGIÕES DE MATRIZES AFRICANAS

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Expediente

CONNEBCONGRESSO NACIONAL DE NEGRAS E NEGROS DO BRASIL

CONNEBO grande lançamento do Conneb aconteceu no dia 14 deoutubro, na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo.Lá estavam todos os negros e negras que assumiram ocompromisso de construir um grande Projeto Político do PovoNegro para o Brasil.Ao lado de Ministros, Deputados da Frente Parlamentar daIgualdade Racial, Coordenadores de Prefeitura e Presidentesdos vários Conselhos de Participação e Desenvolvimento daComunidade Negra, representatividade dos mais diferentesEstados brasileiros, homens e mulheres, junto com o Povo doSanto, Povos Cristãos, Muçulmanos e demais religiões eetnias.Zumbi dos Palmares, o grande herói negro, nos reuniu naFaculdade de mesmo nome, com sua identidade e presididospelo reitor Dr. José Vicente, advogado e militante desdeoutrora.A abertura religiosa, realizada pela Ebômi Conceição Reis doOgun (INTECAB-SP) foi de mãos dadas com Frei Leandroda Educafro, Souesp, MNU, Cenarab, Cen,Monabantu,Enjune, Unicid e Unegro, juntos louvando comum espírito único de fortalecimento, união e reparação.Em debate: territorialidade, resistência e valores civilizatóriosde matriz africana.

Ebômi Conceição Reis do Ogum

Ebômi Conceição Reis do Ogune Sr. Milton Barbosa Cordenador de Políticas

Nacionais e Internciaonis do MNU

Edição e Redação: Comissão de Comunicação e Relações Públicas – INTECAB – SP.Titular: Mãe Liliana d´Oxum

Fone: (11) 6783-9517 - E-mail: [email protected]: Babalorixá Rosevaldo de Oxumarê, Tata Matâmoride, Babalorixá Beto de Odé, Olorixá Eduardo

Logunwá Epega, Mãe Sônia de Iemanjá, Pejigãn Bruno de Logun Edé.Jornalista Responsável: Mãe Liliana d´Oxum – Mtb 29.840 Adjunto: Tata Matâmoride - Mtb 32.527

Coordenadora Geral: Ebômi Conceição Reis do OgunEndereço para correspondência: - Rua Heliodora n° 371 - Santana - CEP:02022-051 – São Paulo - SP.

Fone: (11) 6867-8729 - (11) 2099-1154 - E-mail: [email protected]@yahoo.com.br - Site: www.intecab.com.br

SIWAJU/SP - Boletim Informativo do INTECAB/SPP ublicação Mensal - Edição Extra – São Paulo/SP - Distribuição Gratuita. Tiragem: 10.000 exemplares.